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Capítulo 1

Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 837

Parte 8

Utilização de resíduos na
agroindústria sucroenergética
838 Parte 8

Capítulo 1

Aproveitamento, tratamento
e disposição de resíduos na
cultura de cana-de-açúcar

Fábio César da Silva


Pedro Henrique Cerqueira Luz
Cassio Hamilton Abreu-Junior
Marco Antonio Azeredo Cesar
Pedro Luiz de Freitas
839

Introdução
O Sistema Agroindustrial (SAG) da cana-de-açúcar vem gerando
divisas desde a colonização portuguesa e representa 18% de toda a
energia consumida pelo País. O  setor sucroenergético tem papel-chave
nesse quadro: a cana-de-açúcar, matéria-prima para a produção de etanol
e bioeletricidade, é a segunda maior fonte de energia do País. O  SAG da
cana-de-açúcar tem grande importância no âmbito social, já que gera,
aproximadamente, 4,5 milhões de empregos diretos e indiretos, cerca de
US$ 1,2 milhão do PIB setorial (US$ 48 bilhões) (UNIÃO DA INDÚSTRIA DE
CANA-DE-AÇÚCAR, 2014).

As exportações do agronegócio perfazem US$ 15 bilhões, em espe-


cial pelo açúcar. O Brasil é o maior produtor de cana-de-açúcar, alcançando
588 milhões de toneladas na safra 2012/2013. Segundo maior produtor e
maior exportador de etanol, com 20% do mercado mundial, é o maior pro-
dutor e exportador de açúcar (UNIÃO DA INDÚSTRIA DE CANA-DE-AÇÚCAR,
2014).

Nos atuais sistemas de produção de cana-de-açúcar, a sustenta-


bilidade ambiental assume um papel estratégico. De  um lado, a política
nacional para a produção de cana-de-açúcar é orientada na expansão da
área com base em critérios econômicos, ambientais e sociais previstos no
Zoneamento Agroecológico da Cana-de-Açúcar, o qual regula o plantio le-
vando em consideração o meio ambiente e a aptidão econômica da região.
No campo, a colheita mecanizada e sem queima promove a manutenção
da palhada sobre o solo, garantindo importante reciclagem de nutrientes,
principalmente de fósforo (P) e nitrogênio (N). De  outro lado, pelo dire-
cionamento adequado de resíduos sólidos e de efluentes e em razão dos
avanços da tecnologia de aproveitamento, o efeito ambiental negativo de
vinhaça e torta de filtro, resíduos importantes da agroindústria canavieira,
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é mínimo, representando importante aporte de matéria orgânica e de nu-


trientes, como potássio (K) e P.

O potencial de reciclagem de nutrientes pelo uso de resíduos sólidos


e efluentes líquidos é muito significativo, mesmo com a combustão do ba-
gaço para a produção de energia. No manejo de colheita mecanizada, sem
queima, a reciclagem representa 34% do N, 62% do P e 100% do K exigidos
pela cultura de cana-de-açúcar. Na safra 2012, a reciclagem corresponderia
a uma economia de cerca de R$ 375,02 por hectare (LUZ; QUINTINO, 2013).

Além de fonte de nutrientes para a cultura, a utilização racional e eco-


nômica da vinhaça proporciona benefícios à qualidade do solo e tem efeito
significativo na produtividade. Outros resíduos sólidos, em especial a torta
de filtro, podem ser utilizados como fertilizantes orgânicos ou, quando mis-
turados a outras fontes de nutrientes, como fertilizantes organominerais.

Outras matérias-primas oriundas da atividade agrossilvipastoril são


utilizadas na composição de fertilizantes, como o esterco de animais, em
especial de aves, associado à cama de frango. Outras fontes externas tam-
bém são utilizadas, como lodo de esgoto e composto de lixo.

Uso agrícola de resíduos e efluentes


da agroindústria sucroenergética

Caracterização e legislação para uso


agrícola de resíduos e efluentes
Segundo a norma 10.004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas
(2004), todo e qualquer resíduo oriundo da cadeia produtiva é classificado
como perigoso (classe I) ou não perigoso (classe II), neste caso, subdivi-
didos em não inerte (IIA) e inerte (IIB). Os resíduos não inertes (classe IIA)
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 841

podem ter propriedades como: biodegradabilidade, combustibilidade ou


solubilidade em água. Quando amostrados de forma representativa ou
submetidos a um contato com água destilada ou deionizada, à temperatura
ambiente, apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados a con-
centrações superiores aos padrões de potabilidade de água, excetuando-se
aspecto, cor, turbidez, dureza e sabor. As classes I e II não inviabilizam o uso
agrícola dos resíduos, apenas requerem cuidados específicos para seu uso.
Torta de filtro, bagaço de cana e águas residuais e fuligem classificam-se
como não inertes (classe IIA). Cinzas e lixo de varredura como inertes (IIB).
Óleos, embalagens de defensivos, lixos hospitalares e de laboratórios são
considerados resíduos perigosos (classe I).

Geração de resíduos e efluentes na


agroindústria sucroenergética
A geração de resíduos e efluentes em destilarias autônomas está
relacionada com a produção de etanol. Cada tonelada de cana-de-açúcar
processada gera 6 m³ de água de lavagem nas usinas que fazem a limpeza
com água. Nas moendas, são gerados 1  t de caldo e 250  kg a 350  kg de
bagaço. Na caldeira, são gerados aproximadamente 25  kg de cinzas por
tonelada de bagaço ou 6 kg a 8 kg de cinza por tonelada de cana (GLÓRIA
et  al., 1993a). O  caldo é tratado, fermentado e destilado e produz 80  L a
100 L de álcool por tonelada de cana e 13 L a 17 L de vinhaça por litro de
álcool, resultando em 1.100 L a 1.300 L de vinhaça por tonelada de cana.
Na clarificação do caldo, são produzidos 25 kg a 30 kg de torta de filtro por
tonelada de cana (PENATTI, 2013).

As usinas de açúcar com destilaria anexa apresentam processos seme-


lhantes às destilarias autônomas. Na clarificação do caldo, no entanto, são
produzidos 40 kg a 50 kg de torta de filtro. O restante do caldo clarificado é
evaporado, cristalizado e turbinado, produzindo 110 kg a 140 kg de açúcar
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e 40 kg a 55 kg de mel final por tonelada de cana-de-açúcar processado.


O  mel é diluído com água ou caldo secundário, fermentado e destilado,
produzindo 9 L a 22 L de álcool e 135 L a 286 L de vinhaça por tonelada
de cana. Indústrias sucroenergéticas, para reutilizarem subprodutos como
água de lavagem, bagaço, torta de filtro, cinzas e vinhaça na agricultura ou
na própria usina, são obrigadas a seguirem diretrizes contidas nas legisla-
ções (GLÓRIA et al., 1993b).

Para a utilização de resíduos e afluentes, deve-se estar atento à


legislação pertinente para cada caso, como: a) norma brasileira ABNT
10.004 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2006), que trata
da classificação de resíduos agroindustriais; b) instrução normativa nº  25
e 64 do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (BRASIL,
2008, 2012); e c) normas das agências estaduais para os subprodutos das
várias agroindústrias, como a norma da Companhia de Tecnologia de
Saneamento Ambiental (Cetesb) P  4.231 (COMPANHIA DE TECNOLOGIA
DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2006) para a utilização de vinhaça na cana-
-de-açúcar e a decisão de diretoria Cetesb nº 338/2010 que dispõe sobre
a responsabilidade do uso dos resíduos sólidos e efluentes. Esses, quando
classificados como fertilizantes, passam a ser responsabilidade do Mapa.

A ciclagem de nutrientes pode ser observada em todo o sistema de


produção da agroindústria sucroenergética. A produção de cana-de-açúcar
requer todos os nutrientes [carbono (C), hidrogênio (H), oxigênio (O), N, P, K,
cálcio (Ca), magnésio (Mg), enxofre (S), boro (B), cloro (Cl), cobre (Cu), ferro
(Fe), manganês (Mn), molibdênio (Mo) e zinco (Zn)] que são absorvidos e
exportados pela cultura. Com o processamento, produzindo açúcar, etanol,
energia e leveduras, ocorre a geração de subprodutos como vinhaça, torta
de filtro, água de lavagem e bagaço, que podem ser reutilizados na produ-
ção de cana-de-açúcar, retornando ao solo parte dos nutrientes absorvidos
pela cultura na safra anterior.
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 843

O manejo da adubação da cultura de cana-de-açúcar utilizando


subprodutos como vinhaça (rica em K, N e S), torta de filtro (P, N e Ca) e
cinza de caldeira (K) resulta na redução do aporte externo de nutrientes,
especialmente na forma de fertilizantes minerais (Tabela 1).
Estima-se que o setor canavieiro produziu, na safra 2012/2013, cerca
de 9,9 milhões de torta de filtro, 353 milhões de m3 de vinhaça e 3,5 milhões
de toneladas de cinzas de caldeira. O valor econômico desses resíduos pode
ser estimado pelo potencial fertilizante equivalente a 578 mil toneladas de
ureia; 207  mil toneladas de monoamônio fosfato (MAP) e 1,7  milhão de
toneladas de KCl, ou seja, cerca de 2,5 milhões de toneladas de fertilizantes
(Tabela 2) (LUZ; QUINTINO, 2013).
Considera-se o uso integral de resíduos e efluentes da agroindústria
na produção de cana-de-açúcar. Todavia, a moderna biorrefinaria baseada
em cana-de-açúcar busca alternativas de diversificação e flexibilização,
como destacado pelo Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados da
Cana-de-Açúcar (INSTITUTO CUBANO DE PESQUISA DOS DERIVADOS DA
CANA-DE-AÇÚCAR, 2009), sintetizadas na Tabela 3.

Utilização racional e
econômica da vinhaça
Quando se produz etanol por via fermentativa, a destilação do vinho
gera um resíduo chamado de vinhaça, vinhoto ou restilo. Segundo Penatti
(2013) e Silva et al. (2007), aplicada nas áreas de produção de cana-de-açú-
car, a vinhaça pode alterar propriedades químicas do solo com o aumento
da disponibilidade de alguns nutrientes para as plantas. A  aplicação de
vinhaça pode também promover modificações nas propriedades físicas do
solo de duas formas: melhorando a agregação e elevando a capacidade de
infiltração de água, que tem como consequência a possibilidade de lixivia-
ção de íons. Quando em concentrações elevadas de íons, pode haver con-
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Tabela 1. Geração de subprodutos da agroindústria sucroenergética, na safra 2012/2013.

N P2O5 K2O N P2O5 K2O


Índice 1 Produção safra: Relação
Cana-de-açúcar
(t) 588.915.700 t C/N
% MS t
Mix álcool (%) 50,3
Álcool (L) 49,7 29.292.420.000
Açúcar (kg) 54,7 32.221.626.000
Bagaço 0,25 147.228.925 0,48 0,05 0,12 117:1 119.587 11.329 28.953
Cinza (kg) 6 3.533.494.200 0,36 0,35 0,79 59:1 3.816 3.657 8.374
Torta de filtro 28 9.893.783.760 1,72 1,72 0,34 22:1 44.225 51.052 10.902
Vinhaça (m3) 0,6 353.349.420 0,015 0,015 0,28 18:1 212.010 53.002 989.378
Equivalente fertilizante
Com bagaço
379.638 119.041 1.036.797
(t nutriente)
Sem bagaço
260.051 107.712 1.007.844
(t nutriente)
Fonte: Conab (2013) e Luz e Quintino (2013).
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Capítulo 1

Tabela 2. Valor econômico, em equivalente fertilizante, dos subprodutos do setor canavieiro.


Valor
Nutriente N P2O5 K2O -1
R$ t R$
Resíduos sem bagaço (t) 260.051 107.712 1.007.844
Ureia 577.891 1.154,00 666.886.442,60
Nitrato de amônio 812.659 1.050,00 853.292.472,19
SPS (Superfosfato simples) – 03:17:00 633.597 708,00 448.586.733,05
SPT (Superfosfato triplo) – 00:46:00 234.155 1.192,00 279.113.287,85
MAP (Fosfato monoamônico) –
207.138 1.435,00 297.242.322,71
11:52:00
KCL (Cloreto de potássio) 1.679.741 1.210,00 2.032.486.240,32
Ureia + MAP + KCL 2.996.615.005,63
Fonte: Luz e Quintino (2013).
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Tabela 3. Alternativas de diversificação e flexibilização para a agroindústria


sucroenergética.
Produto e
Produto derivado e destino
subproduto
Açúcar Diferentes características e apresentação
Alimento animal, produção de carne em sistema de
Méis ricos
engorda
Alimento animal, produção de carne, álcool, levedura,
Caldo diluído
cogeração de energia e fábrica de derivados
Produção de carne, fabricação de derivados (exemplo:
Bagaço
papel, corrugados, entre outros)
Torta de filtro Fertilizante dos solos, composto e alimento animal
Álcool Diferentes características e apresentação, bioplásticos
Vinhaça Fertilização dos solos, biodigestão
Cinzas Fertilizantes dos solos
Água do processo Fertilizantes dos solos
Levedura Alimentação animal
CO2 Indústria química
Óleo fúsel Indústria química e farmacêutica
Resíduos da colheita Matéria orgânica, compostos, alimentação animal
Fonte: adaptado de Instituto Cubano de Pesquisa dos Derivados da Cana-de-Açúcar (2009).

taminação de águas subterrâneas. Outra forma é promovendo a dispersão


de partículas finas do solo – a argila – causando redução da capacidade de
infiltração de água e elevação do escoamento superficial e possível conta-
minação de águas superficiais. Aplicada racionalmente, a vinhaça tem um
valor fertilizante no cultivo da cana-de-açúcar pela concentração de com-
postos minerais como K, Ca, Mg e S, além do alto teor de matéria orgânica.
Por ser um subproduto da agroindústria sucroenergética com alto
potencial poluidor, a vinhaça sofre um rígido controle pelos órgãos am-
bientais, como a Cetesb no Estado de São Paulo. Com essa preocupação,
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tentativas em reduzir a produção de vinhaça na agroindústria têm ocorrido,


seja pela maior concentração de açúcares no mosto, seja pelo aquecimento
indireto das colunas durante a destilação. Esse tema sempre desperta in-
teresse, pois há muitos avanços para uma menor produção desse resíduo.

Outras tentativas consideram a expansão da produção de etanol


como fonte carburante. Na safra 2010/2011, a produção esperada de etanol
chegou a 25 milhões de litros (CONAB, 2013). Considerando-se uma relação
vinhaça/etanol de 1:12, que pode variar de 1:8 a 1:15, temos um volume de
cerca de 300 bilhões de litros de vinhaça.

As principais aplicações de vinhaça são a alimentação de animais,


a produção de proteínas (biomassa), a produção de metano e a aplicação
como fertilizante. Nas condições de campo, no entanto, cabe ao solo absor-
ver a maior parte desse resíduo com alto potencial poluidor, apresentando
demanda biológica de oxigênio (DBO5) entre 7.000 mg L-1 e 75.300 mg L-1
e demanda química de oxigênio (DQO) entre 9.200 mg L-1 e 97.000 mg L-1
(PENATTI, 2013). Torna-se, assim, necessária uma maior conscientização
sobre as implicações do emprego indiscriminado, preocupando pesquisa-
dores, técnicos e administradores sobre a utilização racional e econômica.

Uso agrícola da vinhaça


Os primeiros trabalhos sobre o uso agrícola da vinhaça foram reali-
zados nas décadas de 1940 e 1950 na Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz (ALMEIDA, 1940, 1952, 1953). Estudos realizados mostram a alta
variabilidade na composição da vinhaça em razão da natureza e compo-
sição da matéria-prima (caldo de cana, melaço e/ou mel) e do modo de
operação da agroindústria. Estudos de Almeida (1952) e Glória et al. (1973)
verificaram que características químicas da vinhaça dependem da origem
do mosto a ser fermentado (Tabela  4). Em  decorrência do atual estágio
da produção de etanol, em uma mesma safra, uma destilaria anexa pode
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apresentar vinho dos três tipos, operando só com caldo ou com melaço ou
com uma mistura de caldo e melaço (PENATTI, 2013).
Elia Neto (2016) discute resultados de caracterização da vinhaça,
com base nos trabalhos do Centro de Tecnologia Canavieira (CTC), antigo
Centro de Tecnologia Coopersucar (ELIA NETO; NAKAHODO, 1995; ELIA
NETO et al., 2009), comparando-os com dados clássicos de composição da
vinhaça (Tabela 4), e apresenta as seguintes principais características físico-
químicas médias da vinhaça sob os aspectos de controle de poluição e de
utilização como fertilizante:
• pH - 4,3.
• Temperatura - 90 °C.
• Vazão de vinhaça - 11,5 L L-1 etanol.
• DBO5 - 14.833 mg L-1.
• DQO - 23.801 mg L-1.
• Relação DQO/DBO5 - 1,6.
• Sólidos totais - 32.788 mg L-1.
• N:P:K - 433:34:2.206 mg L-1.
• Carga orgânica - 274 g DQO/L etanol.

Efeitos da vinhaça nas propriedades do solo


A princípio, nas décadas de 1940 e 1950, tinha-se a impressão de que
o uso da vinhaça na agricultura viesse a comprometer a qualidade do solo,
principalmente por ser um resíduo líquido muito ácido. O trabalho pioneiro
de Almeida (1952) revelou que, apesar de ser ácida, a vinhaça corrige a aci-
dez do solo e melhora as propriedades físicas. Após a aplicação, ocorre um
ligeiro aumento da acidez seguido de uma redução gradativa em função
do aumento da atividade microbiológica pela adição de matéria orgânica.
As doses recomendadas eram, no entanto, muito altas – entre 500 m3 ha-1 e
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Tabela 4. Composição química de vinhaça oriunda de diferentes matérias-


-primas na formação do mosto: melaço, caldo de cana e a mistura de caldo
mais melaço.
Concentração
Parâmetro
Melaço Caldo Misto
pH 4,2–5,0 3,7–4,6 4,4–4,6
Temperatura (°C) 80–100 80–100 80–100
DBO5(1) (mg L-1 de O2) 25.000 6.000–16.500 19.800
15.000–
DQO(2) (mg L-1 de O2) 65.000 45.000
33.000
Sólidos totais – SST (mg L-1) 81,500 23.700 52.700
Sólidos suspensos voláteis – SSV
60.000 20.000 40.000
(mg L-1)
Sólidos suspensos fixos – SSF
21.500 3.700 12.700
(mg L-1)
Nitrogênio (mg L-1 de N) 450–1.610 150–700 480–710
Fósforo (mg L de P2O5) -1
100–290 10–210 9–200
Potássio (mg L de K2O) -1
3.740–7.830 1.200–2.100 3.340–4.600
Cálcio (mg L de CaO)
-1
450–5.180 130–1.540 1.330–4.570
Magnésio (mg L de MgO) -1
420–1.520 200–490 580–700
Sulfato (mg L de SO4)
-1
6.400 600–760 3.700–3.730
Manganês (mg dm de MnO) -3
6–11 5–10 5–7
Ferro (mg dm ) -3
52–120 45–110 47–130
Cobre (mg dm ) -3
3–9 1–18 2–57
Zinco (mg dm ) -3
3–4 2–50 3–15
11.200–
Carbono (mg dm-3 deC) 5.700–13.400 8.700–12.100
22.900
Relação C/N 16–16,27 19,7–21,07 16,4–16,43
Matéria orgânica (mg L ) -1
63.400 19.500 3.800
Substâncias redutoras (mg L ) -1
9.500 7.900 8.300
(1)
DBO5: Demanda bioquímica de oxigênio, em 5 dias.
(2)
DQO: Demanda química de oxigênio.
Fonte: adaptado de Orlando Filho e Leme (1984) e Penatti (2013).
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2.000 m3 ha-1. Nos anos 1970, surgiram conceitos mais racionais para uso da
vinhaça como fertilizante, considerando sua composição química e as ca-
racterísticas dos solos e das culturas, chegando à recomendação de doses
de acordo com o teor de K (GLÓRIA, 1975; GLÓRIA; MAGRO, 1977).
Os efeitos da adição de vinhaça no solo foram discutidos por Rodella
et al. (1990), com base nas explicações de Glória (1976) e Glória et al. (1973).
Ao adicionar material orgânico ao solo em condições aeróbias, ocorre a
oxidação do C orgânico, que perde elétrons, que são recebidos pelo O2,
gerando o íon O2-, que apresenta forte característica básica, ou pelo íon H+,
consumindo os íons geradores de acidez, como se observa nas sequências
de reações:

CO → CO2 + 4 e-
O2 + 4 e- → 2 O2-
2 O2 + 2 H+ → 2 OH + 2 H+ → 2 H2O
2 H + 2 e- → 2 H2O

Outra possível reação é a complexidade entre o Al+3 e ânions orgâni-


cos. Em resíduos ricos em compostos nitrogenados, ocorre a multiplicação
de microrganismos, e as transformações da matéria orgânica, principal-
mente do N, por meio da redução do nitrato para nitrito, consomem íons
H+, com consequente elevação do valor de pH do solo (LEAL et al., 1983).
Todavia, Rodella et al. (1990) observaram que o pH do solo deve retornar
aos valores originais depois de um determinado período de tempo após a
aplicação da vinhaça e da torta de filtro.
A matéria orgânica contida na vinhaça é responsável por melhorias
nas características físico-químicas do solo. Pela característica coloidal, a adi-
ção de matéria orgânica confere ao solo uma maior quantidade de cargas
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 851

negativas, aumentando a capacidade de troca catiônica (CTC) e elevando


o patamar de produtividade do solo (GLÓRIA; ORLANDO FILHO, 1984).
Ocorrem, assim, benefícios econômicos da substituição total ou parcial do
adubo mineral por vinhaça. Em doses excessivas, no entanto, a vinhaça tem
efeitos maléficos ao solo e às plantas, causando a lixiviação de nitrato e de
Fe no perfil do solo (CAMARGO et al., 1987; GLÓRIA; ORLANDO FILHO, 1984;
LEME et al., 1987).

Foram constatados os efeitos benéficos da vinhaça sobre as proprie-


dades físicas e químicas dos solos, resultando em modificações no desen-
volvimento do sistema radicular da cana-de-açúcar (KLEIN; LIBARDI, 2002;
MIRANDA, 2009).

Efeitos da aplicação da vinhaça na cana-de-açúcar


A vinhaça é uma importante fonte de K para a cultura da cana-de-
-açúcar. Grandes quantidades de K e N são exportadas nos colmos na co-
lheita (ORLANDO FILHO, 1993), com extração de 1,1 kg t-1 de K e de 0,9 kg t-1
de N (RAIJ et al., 1997). Embora não faça parte de nenhum composto, o K
participa da síntese de açúcares e proteínas, no aumento da clorofila bruta
e na conversão de energia nos cloroplastos e na abertura e no fechamento
de estômatos. É cofator de aproximadamente 60 enzimas, principalmente
ligadas ao metabolismo de açúcares, transformações anabólicas e cata-
bólicas de sacarose e hexose. Baixos níveis de sacarose são associados à
deficiência de K (ALEXANDER, 1965; MARSCHNER, 2012). A cana-de-açúcar,
mais que a maioria das outras plantas, parece ter maior necessidade de
metabolizar glicose em seus primeiros meses de crescimento e desenvolvi-
mento (VIEIRA, 1983).

Na década de 1970, Stupiello et al. (1977) estudaram o efeito da vi-


nhaça sobre a produtividade e a qualidade industrial da cana-de-açúcar em
função da quantidade de vinhaça in natura aplicada em Argissolo Vermelho-
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Amarelo em doses de até 500 m3 ha-1. Observaram que o aumento de peso


do colmo foi proporcional às doses, mas o teor de sacarose aparente (pol%)
da cana-de-açúcar decresceu, e, com isso, o teor de açúcar permaneceu
constante. Desse modo, maiores doses de vinhaça prejudicaram a qualida-
de de cana-de-açúcar, sendo necessário moer maior quantidade de cana-
-de-açúcar para se obter a mesma quantidade de açúcar.

De acordo com Elia Neto (2016), a solução técnica possível encontra-


da foi a disposição da vinhaça na lavoura nas chamadas áreas de “sacrifício”,
isto é, sacrificava-se a área de plantio de cana para disposição e infiltração
da vinhaça, procedimento regulamentado na década de 1970 pelos órgãos
ambientais. Houve o desenvolvimento tecnológico em função de inúmeros
trabalhos que mostram os benefícios agronômicos do uso da vinhaça na
lavoura de cana-de-açúcar (BARBOSA, 2006; FERREIRA; MONTEIRO, 1987;
PENATTI, 2013), permitindo a construção de uma solução técnica e econô-
mica para substituir a utilização racional da vinhaça na lavoura de cana-
-de-açúcar, com dosagens controladas, baseada na porcentagem de K na
saturação por bases para aplicação da vinhaça ao solo canavieiro.

O efeito da vinhaça depende da variedade de cana-de-açúcar.


Trabalho conduzido por César et al. (1978) em Latossolo Vermelho-Amarelo,
fase arenosa, com a aplicação de doses de 30 m3 ha-1, 60 m3 ha-1, 90 m3 ha-1
e 120 m3 ha-1 de vinhaça, complementada com cobertura com 50 kg ha-1 de
N e 40 kg ha-1 de P2O5, mostrou que a resposta da cana-de-açúcar em pro-
dutividade depende da variedade. Constatou também que o pol do caldo
permaneceu sem grandes alterações. As maiores diferenças foram para a
dose acima de 120 m3 ha-1, que reduziu o pol de 1,07 a 0,66 e aumentou o
teor de amido do caldo. Nunes Junior (1987), avaliando o comportamento
de dez variedades com aplicação de vinhaça na cana-planta (1.030 m3 ha-1)
e depois na soqueira (400 m3 ha-1), com adubação fosfatada com termofos-
fato (450 kg ha-1) e 60 kg ha-1 de N, concluíram que a aplicação excessiva
de vinhaça promoveu um vigoroso crescimento vegetativo, com maiores
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 853

teores de sacarose no terceiro corte. Penatti et al. (1988) verificaram que a


vinhaça promoveu aumento de produtividade em doses até 150 m3 ha-1,
sem afetar a concentração de pol da cana, tendo ainda a sinergia com fer-
tilização nitrogenada até 100 m3 ha-1, nos solos Argissolo Roxo e Argissolo
Vermelho-Amarelo.
A aplicação da vinhaça em doses superiores a 600  m3  ha-1 causa
redução de pol na cana (ORLANDO FILHO et al., 1995), uma vez que altas
doses levam ao aumento exagerado de K no caldo, condicionando o au-
mento do ácido transaconítico, pelo incremento de atividade do ciclo de
Krebs na planta. Resultados similares foram obtidos por Penatti et al. (2001)
em Argissolo Vermelho-Amarelo e confirmaram que a aplicação de até
300 m3 ha-1 de vinhaça na soqueira (segundo corte), com complementação
de 100  kg  ha-1 de N, promove aumentos de produtividade ao longo de
quatro safras consecutivas.
As doses preconizadas pelos técnicos para uma vinhaça de mosto
de melaço estão na faixa de 30 m3 ha-1 a 50 m3 ha-1. Para que se tenha um
resultado satisfatório quanto ao fornecimento de nutrientes, é importante
que se avalie a fertilidade do solo e se faça uma complementação da quan-
tidade de nutrientes com fertilizantes químicos. Muitos pesquisadores têm
procurado complementar a vinhaça com N e P para obter melhor equilíbrio
no fornecimento de nutrientes, nem sempre encontrando resposta positiva
na produtividade de cana. Isso resulta na recomendação de que a vinhaça
seja aplicada sem a adição de fertilizantes químicos. Estudos adicionais
sobre a complementação de nutrientes na vinhaça são necessários, pois
as variações de solo e de composição da vinhaça fazem com que não se
possam generalizar as recomendações (BARBOSA, 2006; ORLANDO FILHO
et al., 1995; PEIXOTO et al., 2006; PENATTI, 2013; PENATTI et al., 1988).
Outro elemento importante para a agroindústria sucroalcooleira é o
P. De modo geral, o teor de P no caldo das variedades brasileiras é baixo, o
que dificulta a sua clarificação e a recuperação e a qualidade dos açúcares
854 Parte 8

produzidos. Nas destilarias de produção de etanol de cana, as variedades


deficientes em P proporcionam má fermentação, sendo sempre necessária
a sua complementação. Alguns trabalhos têm sido conduzidos tentando
aumentar o nível de P no caldo por meio da adubação, mas pouco efeito
tem surtido. O emprego da vinhaça como complementação de P na adu-
bação visa, justamente, elevar o teor desse elemento no caldo. Entretanto,
não se observou efeito da matéria orgânica da vinhaça sobre a solubilidade
dos fosfatos.

Legislação ambiental na aplicação de vinhaça


Até a década de 1970, a vinhaça era despejada diretamente em
corpos d’água. Com o Proálcool, cresceu também a produção de etanol e,
consequentemente, uma maior produção de vinhaça. Preocupado com os
efeitos poluidores da descarga da vinhaça nos rios, o extinto Ministério do
Interior baixou as Portarias 323 (29/11/1978) e 158 (3/11/1980) proibindo
o lançamento direto ou indireto de vinhaça em cursos d’água. Após isso, a
vinhaça começou a ser aplicada nas chamadas áreas de sacrifício.

Essa legislação foi o marco inicial da regulamentação nos âmbitos


federal e estaduais e culminou com o estabelecimento da Norma Técnica
Cetesb P4.231 (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL,
2006), que estabelece critérios para a utilização da vinhaça em solos agríco-
las para o Estado de São Paulo. Essa legislação considera as características
químicas do solo, a composição química da vinhaça e a extração de K pela
cultura da cana-de-açúcar.

A norma estabelece, ainda, procedimentos para transporte, armaze-


namento e aplicação da vinhaça e instruções para o plano de aplicação.

A dose máxima de vinhaça a ser aplicada, de acordo com a norma, é


determinada pela equação:
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 855

Volume de vinhaça (m3 ha-1) = [(0,05 × CTC - Ks) × 3.744 + 185]/Kvi

em que

0,05 = 5% da CTC

CTC = capacidade de troca catiônica, expressa em cmolc dm-3, dada pela


análise de fertilidade do solo realizada por laboratório de análise de solo e
utilizando método de análise do solo do Instituto Agronômico (IAC), devi-
damente assinado por responsável técnico.

Ks = concentração de K no solo, expresso em cmolc dm-3, à profundidade de


0 a 0,80 m, dada pela análise de fertilidade do solo realizada por laboratório
de análise de solo utilizando método de análise de solo do IAC, devidamen-
te assinado por responsável técnico.

3.744 = constante para transformar os resultados da análise de fertilidade,


expressos em cmolc dm-3 ou meq 100 cm-3 para kg de K em um volume de
1 ha por 0,80 m de profundidade.

185 = massa, em kg, de K2O extraído pela cultura por hectare, por corte.

Kvi = concentração de K na vinhaça, expressa em kg m-3 de K2O, apresen-


tada em boletim de resultado analítico, assinado por responsável técnico.

Quando usada adequadamente, a vinhaça promove mais ganhos


ambientais do que perdas. Aplicações exageradas em solos arenosos e
com lençol freático superficial devem ser evitadas para que não incorram
em riscos de poluição ambiental, principalmente de nitratos e cloretos
que podem ser carreados/lixiviados com o K, chegando ao lençol freático.
A norma técnica P4.231 (COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO
AMBIENTAL, 2006) representou um grande avanço e deverá, ao longo dos
anos, ser reavaliada e aprimorada.
856 Parte 8

Tecnologia para aplicação da vinhaça


Na década de 1970, Lorenzetti e Freitas (1978) examinaram as dife-
rentes alternativas de distribuição de vinhaça. Em trabalhos realizados na
usina São José em Macatuba, SP, os autores concluíram que:

• A distribuição por infiltração em canais nivelados necessita de uma


infraestrutura muito onerosa para o preparo do solo. A distribuição
é muito irregular, especialmente em solos de elevada capacidade
de absorção de água.
• A distribuição com caminhões, em razão do grande volume trans-
portado, associado ao preço, tem custo elevado da operação pelo
combustível e pela logística de transporte. No transporte diário de
120 mil L de etanol em uma área de raio médio de 10 km por uma
frota movida a etanol, o consumo de combustível corresponde de
1,0% a 1,2% da produção. Adicionado aos custos, o uso de cami-
nhões apresenta inconvenientes como dificuldade de aplicação
nas épocas de chuva, desgaste dos veículos, dificuldade de aplica-
ção à noite, compactação do solo, entre outros.
• A aplicação por aspersão permite aplicar menor volume de vinhaça
com melhor uniformidade, garantindo a melhor distribuição de K.

Dentre os sistemas examinados, a distribuição em canais foi aban-


donada, sendo raramente encontrada. A  aspersão é o que apresenta
menor custo. Dos diferentes equipamentos, o carretel enrolador, embora
represente um menor investimento inicial, é o que apresenta o maior custo
operacional (HERNANDEZ, 2006).

Na década de 1990, surgiram os tanques para vinhaça de até 40 mil


litros, e a distribuição no campo passou a ser com os rolões. Mais recen-
temente, adutoras pressurizadas com tubulação removível estão sendo
instaladas para diminuir a circulação de caminhões pela área ou diminuir
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 857

a quantidade de canais. Por último, a distribuição por aspersão pode ser


realizada por meio de pivô linear.

Atualmente existem diversos sistemas de aplicação de vinhaça na


área de produção de cana-de-açúcar (PEIXOTO et  al., 1986; SILVA, 2009).
Comparando as alternativas quanto às suas vantagens e limitações
(PENATTI, 2013), temos:

• Aspersão convencional (motobombas): a vinhaça é tomada dos


canais principais por meio de moto bombas, que alimentam tubu-
lações principais e laterais, onde se encontram os aspersores. As tu-
bulações laterais são movimentadas ao longo dos canais principais
a fim de cobrir toda a área.

Vantagem: permite melhor controle da quantidade de resíduo,


bem como sua distribuição mais homogênea, em relação aos sul-
cos de infiltração.

Limitações: Necessita de uma rede de canais para colocação de


motobomba.

• Aspersão com canhão hidráulico: a vinhaça é lançada por meio


de um aspersor setorial tipo canhão, montado sobre uma carreta
(ou carretel autopropelido), acionado por uma motobomba que
succiona a vinhaça diretamente do canal principal.

Vantagem: operação fácil e cômoda e de rápida adaptação dos


operadores; necessita de menos manutenção e consome menor
volume do material em razão da distribuição, adaptabilidade do
sistema às condições topográficas e geométricas do terreno, além
de necessitar de uma menor atividade de canhões.

Limitações: alto custo de investimento e operacional, eficiência de


aplicação afetada pela presença do vento.
858 Parte 8

• Sulcos de infiltração: a vinhaça, associada aos demais efluentes


líquidos como água de condensação e água de lavagem da cana, é
retirada de tanques de contenção, lançada em canais principais e
distribuída em sulcos de irrigação nas entrelinhas do canavial.

Vantagem: menor custo (sem consumo de energia).

Limitação: baixa precisão na distribuição e risco de estabelecimen-


to de pontos de encharcamento no campo; problemas ambientais
limitam o uso em canaviais paulistas, podendo ser encontrados em
outros estados.

• Caminhões-tanque: a vinhaça transportada em caminhões é distri-


buída por gravidade ou por meio de bombas, acopladas à tomada
de força ou acionadas por motores independentes.

Vantagem: rápida e simples implantação e de fácil operação.

Limitação: consumo elevado de combustível, além de promover a


compactação do solo e causar danos na soqueira.

Silva et  al. (2007) destacam que a visão ambiental vem sendo en-
fatizada, e, em alguns casos, a aplicação de vinhaça tem sido contestada
pelos seus efeitos no solo e nas águas subterrâneas. Tal cenário restringe
a utilização de sulcos de infiltração e favorece a distribuição de vinhaça
concentrada nas lavouras.

A análise da participação de cada sistema de aplicação de vinhaça no


Estado de São Paulo mostra que o caminhão-tanque participa com 6% e os
sistemas de aspersão com 94%, sendo 10% ainda o canhão, em montagem
direta, 53% com canal mais autopropelido (rolão), e 31% com caminhão
mais autopropelido (rolão) (VERONEZ, 2007).

Entretanto, Elia Neto (2016) ressalta, em uma análise de estado da


arte do uso da vinhaça, que existem vários entraves que dificultam seu
emprego como fertilizante de uma maneira tão eficiente como a adubação
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 859

mineral, o que poderia ser parcialmente contornado na produção de fertili-


zante fluido organomineral com base na vinhaça concentrada (GONÇALVES
et al., 2017). Tal aspecto é atribuído ao alto custo da fertirrigação da vinhaça
in natura, o que limita a sua aplicação em áreas mais próximas da usina, já
que a distância econômica está em torno de 38 km (ELIA NETO et al., 2009),
principalmente em razão do custo de transporte.

Diversos autores alertam para as consequências da aplicação restrita


de vinhaça em áreas mais próximas da usina em razão de uma série de
inconvenientes (ELIA NETO, 2016). Existe um risco de saturação do solo
pela aplicação excessiva agrícola da vinhaça que pode desencadear con-
taminação das águas subterrâneas, odores e atração de vetores, surtos da
mosca-dos-estábulos em áreas tradicionais da pecuária, como registrados
em sete municípios de Mato Grosso do Sul, além de outros observados em
São Paulo (Oeste Paulista), Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. Pesquisas da
Embrapa mostram que a torta de filtro e a palha da cana misturada com a
vinhaça ou vinhoto (resíduo da destilação do caldo fermentado durante a
produção de álcool) são os principais meios de desenvolvimento e multipli-
cação de moscas nas usinas de cana-de-açúcar.

A fim de eliminar os locais de criação de mosca, a Embrapa vem


recomendando estratégias focadas no controle e na prevenção, tais como
remoção e adequado destino dos resíduos alimentares e dejetos de animais
espalhados ao redor dos cochos, leiteiras; compostagem dos resíduos, com
posterior utilização como adubo; etc. Essas estratégias devem ser incorpo-
radas na rotina das fazendas e nas usinas.

Tratamento da vinhaça:
concentração e biodigestão
Há duas alternativas principais para o tratamento da vinhaça: con-
centração ou biodigestão para produção de biogás (LUZ, 2005).
860 Parte 8

A Tabela  5 apresenta a composição da vinhaça in natura, concen-


trada e aplicada em lavouras de cana-de-açúcar (ALBERS, 2007). O uso da
vinhaça concentrada oferece algumas soluções, tais como: a) aproveita seu
condensado com água para embebição de moendas e outros fins; b) evita
a contaminação do lençol freático; e c) facilita o seu transporte a distâncias
maiores com menor custo de deslocamento. Outra vantagem da vinhaça
concentrada é o modo de aplicação no campo, uma vez que permite a
aplicação sobre as leiras de cana-de-açúcar, levando ao aumento da área
de aplicação.

Tabela 5. Composição de vinhaça in natura e concentrada utilizada nas


lavouras de cana-de-açúcar.
In natura
Parâmetro Brix a 35% Brix a 65%
(4% Brix)
pH 4,4–4,6 4,6–5,0 4,6–5,0
Temperatura (°C) 80–100 50–60 50–60
DBO (mg L-1) 19.800 173.250 321.750
DQO (mg L-1) 45.000 393.750 731.250
Sólidos totais (mg L-1) 52.700 461.125 856.375
Sólidos solúveis (mg L-1) 40.000 350.000 650.000
Sólidos insolúveis (mg L-1) 12.700 111.125 206.375
Nitrogênio (N) (mg L-1) 480–710 4.200–6.213 7.800–11.538
Fósforo (P2O5) (mg L-1) 9–200 79–1.750 146–3.250
Potássio (K2O) (mg L-1) 3.340–4.600 29.225–40.250 54.275–74.750
Cálcio (CaO) (mg L-1) 1.330–4.570 11.638–39.988 21.613–74.263
Magnésio (MgO) (mg L-1) 580–700 5.075–6.125 9.425–11.375
Sulfato (SO4) (mg L-1) 3.700–3.730 32.375–32.637 60.125–60.612
Rel. vinhaça/álcool 12 1,4 0,74
DBO: Demanda bioquímica de oxigênio.
DQO: Demanda química de oxigênio.
Fonte: Albers (2007).
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 861

Barbosa et al. (2006), utilizando vinhaça concentrada em doses equi-


valentes de 0, 180 kg ha-1 e 270 kg ha-1 de K e combinando diversas doses e
formulações de adubos minerais em Argissolo Vermelho-Amarelo, concluí-
ram que houve aumento de produtividade sem alteração significativa das
variáveis tecnológicas do caldo. De acordo com Albers (2007), as aplicações
de vinhaça em soqueira de cana-de-açúcar entre 90 m3 ha-1 e 120 m3 ha-1
representam doses médias de 608  kg  ha-1, 417  kg  ha-1 e 175  kg  ha-1 de
K2O para a vinhaça de melaço, misto e caldo de cana respectivamente.
Considerando-se a vinhaça concentrada a 35%, para atingir de 185 kg ha-1
de K2O é necessária a aplicação de 5,3  m3  ha-1, que poderia ser feita por
aspersão.

Para a aplicação da vinhaça concentrada, foi desenvolvido um ca-


minhão com tanque, bomba de pressurização e barra com largura para
aplicação em sete linhas de cana.

A principal restrição da concentração da vinhaça, independente do


processo, é alto custo energético. Elia Neto (2016) ressalta que houve avan-
ços tecnológicos nos processos de concentração da vinhaça, desde o pro-
tótipo instalado na Usina Santa Elisa, em 1978. Considerando-se o processo
de concentração da vinhaça, houve duas rotas tecnológicas: a primeira con-
sagrada pela concentração por evaporação (exemplos das unidades insta-
ladas na usina Iracema, usina Cerradinho, entre outras) e a concentração
por membranas de osmose reversa, sendo esta ainda na fase de pesquisa a
ser desenvolvida no País. Para medir a concentração de vinhaça por evapo-
ração, há aparelhos de diferentes eficiências energéticas. O evaporador de
múltiplo efeito por nevoa turbulenta (Citrotec, baseado na experiência do
setor cítrico) teve evolução consolidada com dezenas de plantas instaladas,
em razão das eficiências energéticas e de menores problemas operacionais
com incrustações; sendo assim, tem potencial para substituir evaporadores
de múltiplo efeito falling film (Dedini-Vogelbush). Há pesquisas em curso
que buscam converter a vinhaça concentrada, adicionando ácido bórico e
862 Parte 8

sulfato de zinco, em um fertilizante fluido organomineral, como se observa


na usina Iracema (GONÇALVES et al., 2017).

Entretanto, para viabilização econômico-energética da concentração


da vinhaça, é fundamental ajustes de processo, como a utilização dos vapo-
res alcoólicos como fonte energética. Por tal processo, chega-se a patamar
bem adequado de concentração, em torno de 10 vezes, e já se mostra pro-
missor energeticamente, mas requer estudos agronômicos aprofundados
de utilização da vinhaça concentrada com e sem adição de outros nutrien-
tes e de suas relações ambientais.

Outra alternativa para utilização da vinhaça é a produção de gás pela


biodigestão, objeto de estudos e tentativas de viabilização comercial há vá-
rias décadas. O interesse tem aumentado recentemente pela alternativa de
geração de energia elétrica e pela produção de biofertilizante. O processo
de biodigestão promove a degradação da matéria orgânica em compostos
mais simples e facilmente disponíveis para a atividade biológica do solo,
com nutrientes parcialmente solubilizados.

Em razão da produção de metano e de dióxido de carbono, há re-


dução da relação C/N, o que favorece sua aplicação como biofertilizante
(CORTEZ et  al., 1998; SZYMANSKI; BALBINOT, 2008), porque o material
resultante é mais facilmente assimilado pela atividade biológica do solo.

O processo de biodigestão da vinhaça e o processamento de sua


carga orgânica utilizando a biodigestão anaeróbica alcançaram elevada
eficiência. Isso permite tratar efluentes em altas vazões, com elevadas
concentrações de carga orgânica e com reduzido tempo de residência,
sem alterações em suas propriedades fertilizantes (SZYMANSKI; BALBINOT,
2008). Uma unidade operacional piloto de biodigestão anaeróbica está em
funcionamento na usina São Martinho em Pradópolis, SP. A não adoção do
processo de biodigestão é atribuída ao seu alto custo de investimento e de
operação (PINTO, 1999).
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 863

Utilização de resíduos
sólidos como fertilizantes
Subprodutos da agroindústria sucroenergética podem ser utilizados
na adubação da cultura de cana-de-açúcar. A reciclagem de nutrientes con-
tidos em subprodutos como vinhaça (rica em K, N e S), torta de filtro (rica
em P, N e Ca) e cinza de caldeira (K razoável) constitui um ótimo substrato
para a formulação de fertilizantes orgânicos e/ou organominerais. Isso re-
duz o aporte externo de nutrientes oriundos de fertilizantes minerais.

Fertilizantes orgânicos e/ou organominerais


Fertilizantes orgânicos e/ou organominerais apresentam nutrientes
associados a compostos orgânicos, conferindo-lhes solubilidade gradual,
ou seja, o teor total é solúvel em ácido fraco (HCl 2%). Isso permite que N,
P e S sejam liberados gradualmente ao longo do tempo com aumento da
disponibilidade durante o desenvolvimento da planta, o que confere uma
maior eficiência, principalmente para o P, que permanece menos exposto
ao processo de fixação pelo solo. No entanto, requer que o manejo de for-
necimento dos nutrientes atenda às necessidades da planta por meio do
conhecimento da marcha de absorção.
Além da utilização exclusiva dos subprodutos orgânicos na agricul-
tura pelo processo da compostagem, pode-se também produzir fertilizante
organomineral, fruto da associação dos fertilizantes orgânicos com os mi-
nerais (Figura 1), o que permite ajustar o balanço N:P:K das formulações.
Para ser considerado fertilizante organomineral, o produto tem que
atender às exigências previstas pelo Mapa [Decreto lei 4.954 de 14/1/2004;
Instrução Normativa 25/2009 (BRASIL, 2009)]. Características como umi-
dade máxima de 30%, teor de C orgânico acima de 8% e CTC mínima de
80 mmolc kg-1 devem ser observadas, além da obrigatoriedade em declarar
864 Parte 8
Fotos: Pedro Henrique Cerqueira Luz

Fertilizante mineral Fertilizante orgânico

Fertilizante
Figura 1. Produção de fertilizante
organomineral
orgânico e organomineral.

e garantir teores de macronutrientes primários (N, P, K) ou soma de misturas


(NP, NK, PK).
Para a utilização dos subprodutos, quer como fertilizante orgânico e/
ou organomineral, deve levar em consideração a legislação pertinente para
cada tipo de resíduo; condições ambientais nos locais de produção do fer-
tilizante bem como nos locais de aplicação; classificação do resíduo como
matéria-prima no que tange ao conteúdo de nutrientes; disponibilidade do
material em termos de quantidade e época de produção ao longo do ano,
logística de transporte e aplicação no campo, e custo do resíduo.
A adição de fertilizantes orgânicos/organominerais promove me-
lhorias nas propriedades biológicas do solo. De forma geral, a microbiota
do solo atua na disponibilização de nutrientes por meio da mineralização.
A matéria orgânica, fonte de C, energia e nutrientes, promove o aumento
da atividade de macrorganismos (formigas, minhocas, besouros e lesmas)
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 865

e de microrganismos (bactérias, vírus, protozoários e actnomicetos), que


promovem a decomposição da matéria orgânica. A mineralização de com-
postos orgânicos depende das relações C/N, C/P e C/S do material de ori-
gem, pois o processo de bioestabilização é realizado por microrganismos
(Tabela 6).

Tabela 6. Generalizações sobre as relações por unidade de N, P e S na ma-


téria orgânica e disponibilidade de nutrientes no solo.
Relação Imobilização (I) Disponibilidade
Substrato C:N C:S
C:P Mineração (M) dos nutrientes
Pobre > 30 > 300 > 400 I>M Diminuída
Intermediário 20–30 200–300 200–400 I=M Não alterada
Rico < 20 > 200 < 200 I<M Aumentada
Fonte: Stevenson (1986).

A relação C/N favorável ao processo de compostagem é de 30:1. Acima


desse valor o N fica temporariamente imobilizado na biomassa microbiana
do solo (Figura 2) e, consequentemente, faltará para as plantas. Para consi-
derar favorável a mineralização, em relação aos elementos orgânicos N-P-S,
o composto deve apresentar as seguintes relações: C/N < 30:1; C/P < 150:1;
e C/S < 200:1 (Tabela 6). Quando as relações forem superiores, o processo
de compostagem necessitará de um tempo mais longo até atingir condição
de mineralização maior que imobilização do nutriente (KIEHL, 1985).
A utilização de fontes de fosfatos parcialmente solúveis para enrique-
cer os compostos orgânicos deve levar em conta o potencial de solubiliza-
ção, pois o processo de compostagem aeróbio conduz a valor de pH maior
que 7,0, o que dificulta a solubilização do P. Comparando as fontes de P
parcialmente solúveis em água, nota-se que o termofosfato magnesiano é
a fonte mais indicada, pois é a que menos reduz a solubilização com o au-
mento do pH, vindo a seguir o fosfato natural reativo. A fosforita poderia ser
também utilizada, porém se mostra com menor potencial de solubilização.
866 Parte 8

Figura 2. Comportamento da relação C/N no processo de compostagem.


Fonte: Kiehl (1985).

Por outro lado, as apatitas não seriam recomendadas, pois a solubilização


ficaria muito prejudicada em valor de pH elevado (Figura  3), associado a
concentrações elevadas de Ca no material (ALCARDE; PONCHIO, 1979).

Produção de fertilizantes orgânicos e/ou organominerais


a partir da compostagem de resíduos

No sistema de produção aeróbico de fertilizantes orgânicos e/ou or-


ganominerais por compostagem, devem-se considerar as seguintes etapas
ou fases.

Seleção de matérias-primas
Matérias-primas utilizadas na compostagem são selecionadas em
função da relação C/N, do fornecimento de nutrientes e do custo. As ma-
térias-primas podem ser divididas em fornecedoras de nutrientes, matrizes
de C e fontes minerais. Matérias-primas classificadas como fornecedoras
de nutrientes são adicionadas em menor quantidade nas leiras, pois apre-
sentam menores relações C/N, maior teor de nutrientes e maiores custos.
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 867

Figura 3. Disponibilidade de fósforo (P) de diversas fontes em função da


variação do pH.
Fonte: Alcarde e Ponchio (1979).

Exemplos são a cama de frango, esterco bovino, torta de filtro, torta de


cacau, palha de café. Em maior quantidade, são adicionadas as matérias-
-primas matrizes de C, que apresentam maior relação C/N, menor teor de
nutrientes e menores custos, como as cinzas de caldeiras, bagaço de cana,
munha de carvão, palhada de cana, restos de capineira, casca de arroz.
Matérias-primas minerais, como fertilizantes minerais e corretivos, podem
ser adicionados segundo a necessidade de se buscar o balanceamento
N:P:K. Podem-se utilizar fertilizantes minerais com solubilidade parcial em
água e corretivos como o gesso. Calcário deve ser evitado a fim de não ele-
var o pH de modo significativo e fornecer doses excessivas de Ca e, dessa
forma, indisponibilizando o P.
868 Parte 8

Matérias-primas utilizadas na compostagem não devem conter


vidros, plásticos, metais, papéis, pedras, gorduras (liberam ácidos graxos
de cadeia curta como o acético, propiônico e butírico, que retardam o pro-
cesso), ou outras substâncias que atrapalhem o processo de compostagem.

A dimensão das partículas contidas nos materiais deve ser consi-


derada. Quanto menor o tamanho das partículas, maior é a sua superfície
específica e mais fácil o ataque microbiano ou a disponibilidade biológica;
mas podem aumentar os riscos de compactação e de falta de O.

Estabelecimento da mistura

Na montagem das leiras de compostagem, é frequente utilizar mis-


tura de materiais ricos em C, que fornecem energia, e materiais ricos em N,
que aceleram o processo de compostagem, em razão de o N ser fundamen-
tal para o crescimento dos microrganismos.

A relação C/N (peso em peso) ideal para a compostagem é de  30.


Dois terços do C são liberados como dióxido de carbono, utilizados pelos
microrganismos para obter energia. O outro terço, em conjunto com o N, é
utilizado para construir as células microbianas.

Fertilizantes minerais nitrogenados podem ser adicionados como


fonte de N, dependendo de fatores tais como custo, disponibilidade do
material orgânico e velocidade de reação. Fertilizantes minerais fosfatados
podem ser utilizados com vantagens para a compostagem, evitando-se as
fontes pouco solúveis.

Pátio de compostagem

As leiras devem ser montadas diretamente sobre o solo, lembrando


que se deve impermeabilizar o solo para evitar a percolação profunda, prin-
cipalmente de NO3-. Dependendo da mistura, podem-se intercalar camadas
de restos vegetais com uma fina camada de material inoculante, tais como
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 869

esterco bovino ou de galinha. As dimensões das leiras podem variar de 3,0 m


a 4,0 m de largura na base inferior por 1,7 m a 2,0 m de altura, com compri-
mento variável em função da disponibilidade do material (VITTI et al., 2011).

O pátio de compostagem deve ter uma declividade mínima de cerca


de 2%, para facilitar a drenagem superficial do chorume e da água da chu-
va, e não deve exceder 5% a 6% de declividade.

Produção do composto

As leiras de composto devem ser revolvidas periodicamente, em fun-


ção da umidade e/ou da relação C/N inicial. A frequência de revolvimento
das leiras para materiais muito úmidos (acima de 70% de umidade) pode
ser feita a cada 3 a 5 dias, aumentando-se o intervalo de dias para o revolvi-
mento à medida que a compostagem avança, podendo chegar a intervalos
de 10 a 15 dias.

O material, para ser considerado estabilizado, poderá levar de 35 a


45 dias, quando a relação C/N inicial estiver entre 20 e 30, de 50 a 70 dias
para materiais com relação C/N entre 30 e 60, e cerca de 80 a 90 dias quan-
do a relação C/N estiver entre 60 e 90. O período de compostagem varia em
função da relação C/N inicial, da umidade do material, da temperatura do
ambiente dentre outros fatores.

O revolvimento das leiras é também fundamental para manter a oxi-


genação e umidade adequadas. Por ser um processo aeróbico, a presença
de O no material empilhado é fundamental devendo o teor de O2 ser manti-
do ao redor de 18% a 20%. Testes realizados em leiras comerciais revelaram,
5 dias após o revolvimento, que o teor de O2 na camada de 0 a 40 cm era de
18%; na camada de 40 cm a 70 cm era de 5% a 10%, e, na camada abaixo de
70 cm, o teor de O2 era inferior a 5%. Quando não há oxigenação adequada,
ocorrem perdas de N, odores desagradáveis e proliferação de moscas.
870 Parte 8

Como o processo de compostagem é aeróbico, há necessidade de


revolvimentos constantes, o que, via de regra, é feito mecanizado pelo
equipamento denominado de compostador que também realiza a homo-
geneização, o condicionamento físico (para facilitar a aplicação), a redução
da umidade e temperatura (Figura 4).
Foto: Pedro Henrique Cerqueira Luz

Figura 4. Compostador Santa Izabel em usina Baldin.

Para a produção em escala de composto, é necessária uma infraestru-


tura mínima composta de caminhão basculante para transporte, aplicador
de corretivo e fertilizante (Figura  5), pá carregadeira para movimentação
do material na formação das leiras e carregamento dos caminhões e o
compostador, que atuará no processo de produção do composto. Segundo
levantamento feito em algumas usinas na safra 2011/2012, o custo de
produção do composto orgânico variou de R$ 5,00 a R$ 9,00 por tonelada,
considerando o frete da usina para o pátio de compostagem, o serviço da
pá carregadeira e o carregamento dos caminhões, o custo do aplicador de
insumos nas leiras, bem como do conjunto trator mais compostador.
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 871

Foto: Pedro Henrique Cerqueira Luz


Figura 5. Aplicador de corretivos e fertilizantes, em usina Catanduva V.

Logística de transporte é necessária também para a distribuição do


composto, uma vez que o produto tem baixa concentração de nutrientes
e baixa densidade. Sistemas de transporte com elevada capacidade de car-
ga, via de regra, apresentam menor custo. A comparação entre diferentes
modais de transporte para torta de filtro mostra que há uma diferença no
custo de 33% entre um caminhão trucado e um rodotorta (Tabela 7).

Monitoramento de temperatura, umidade e pH


A decomposição da matéria orgânica resulta na liberação de calor
pela ação dos microrganismos. A faixa de temperatura adequada fica en-
tre 50  °C e 60  °C, podendo atingir até 70  °C, o que pode contribuir para
a esterilização do material e, por outro lado, provocar a morte de alguns
organismos que causam doenças às plantas, além levar a morte de diversos
materiais propagativos de ervas daninhas.
872 Parte 8

Tabela 7. Variação do frete em função de cada modal de transporte.

Cap. Custo
Modal de Distância Dose Frete
carga R$ R$ t-1 R$ t-1 %
transporte (km) (t ha-1) (R$ ha-1)
(t) km-1 km-1 viagem
Rodotorta 52 6,00 0,115 5,77 25 10 57,69 67
Carreta 24 3,80 0,158 7,92 25 10 79,17 92
Truck 11 1,90 0,173 8,64 25 10 86,36 100
Fonte: Luz e Korndörfer (2011).

O material em decomposição deve permanecer sempre úmido, va-


riando entre 40% e 60% de umidade, principalmente durante a fase inicial.
O adequado suprimento de água é necessário para promover o crescimen-
to dos organismos biológicos e para que ocorram reações bioquímicas.
O valor do pH pode indicar o estado de compostagem dos resíduos
orgânicos. Nas primeiras horas de compostagem, o pH decresce até valo-
res próximos a 5,0 a 5,5 e, posteriormente, aumenta gradualmente com
a evolução do processo de compostagem e estabilização do composto,
alcançando, finalmente, valores entre 7,0 e 8,0. Valores baixos de pH são
indicativos de falta de maturação por causa da curta duração do processo
ou da ocorrência de processo anaeróbico no interior da pilha, o que pode
inclusive provocar danos para as plantas.

Planejamento para utilização de compostos como fertilizante


Ao final do processo de compostagem, o produto estabilizado tem
cor escura, é friável quando apertado entre as mãos, tem cheiro de terra
e temperatura baixa no interior da leira. O  processo de compostagem
encerra quando o material atingir relação C/N favorável, ou seja, entre 10
(humificado) até 14; a umidade pode ser bastante variável, estando entre
30% e 40% para os compostos orgânicos das usinas, e menor que 25% para
os fertilizantes organominerais.
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 873

O composto deve apresentar boas características físicas, visando à


qualidade de aplicação nas adubadoras, quer seja a lanço em área total, em
faixa, ou mesmo em linha.

Quando for produzido fertilizante organomineral, deve-se ter con-


trole por meio de análises químicas dos teores de N:P2O5:K2O visando ao
atendimento à legislação.

Utilização de fertilizante organomineral


em cana-de-açúcar
A adubação com mistura de composto de torta de filtro com ter-
mofosfato magnesiano como fonte de P foi avaliada por Rossetto et  al.
(2008) em experimento implantado em Latossolo Vermelho-Amarelo em
Guarantã, SP. A mistura foi aplicada no plantio de cana-de-açúcar com dife-
rentes proporções de torta de filtro e termofostato, com doses equivalentes
de aplicação de 150 kg ha-1 a 210 kg ha-1 de P2O5 descritos na Tabela 8. Para
efeitos de comparação foram incluídos tratamentos sem adubação (teste-
munha) e exclusivamente com monoamônio fosfato (MAP). As produtivi-
dades obtidas são apresentadas na Tabela 8, em que é possível observar
melhor resposta no tratamento com 300 kg ha-1 ou 54 kg ha-1 de P2O5, na
forma de termofosfato, mais 8,0 t ha-1 de torta, fornecendo 96 kg ha-1 de
P2O5. Esse tratamento atingiu maior produtividade além de possibilitar a
aplicação de torta de filtro em 33% a mais nas áreas agrícolas na usina,
alcançando maiores distâncias. Os autores observaram que a resposta da
cultura em produtividade de colmos para a aplicação de P2O5 foi quadrática
(Figura 6). A produtividade máxima foi estimada em 124,4 t ha-1 para a dose
de 135 kg ha-1 de P2O5 (ROSSETO et al., 2008).

A peletização e granulação de fertilizantes organominerais são


opções para comercialização (Figura 7), além de possibilitar aplicação do
produto localizada em linha por adubadoras. Atualmente, a Embrapa dis-
874 Parte 8

Tabela 8. Produtividade de colmos, em t ha-1, para os tratamentos de fontes


e doses de fósforo (P).
Fonte de P Produtividade
Termofosfato Torta de Monoamônio de colmos
Tratamento
magnesiano(1) filtro fosfato (MAP) (cana-planta)
(kg ha-1 P2O5) (t ha-1)

T1 81 69 122,14a
T2 54 96 126,53a
T3 0 150 123,31a
T4 81 99 117,12ab
T5 54 126 117,72ab
T6 0 180 131,04a
T7 81 129 116,01ab
T8 54 156 115,12ab
T9 0 210 116,16ab
T10 0 0 150 106,01bc
T11 0 0 0 94,94c
(1)
Termofosfato magnesiano Yoorin®.
Fonte: Rosseto et al. (2008).

põe de tecnologia para a construção e implantação de usina de produção


de fertilizante organomineral, desenvolvida a partir de trabalhos da Rede
FertBrasil.

Gestão técnica operacional e econômica da


utilização de fertilizantes organominerais
A gestão de uso de fertilizantes organominerais requer especial
atenção. Luz e Motta (2013) propõem a realização de um Estudo Técnico
Operacional e Econômico, denominado Etopec. Para um produto ser viá-
vel, tem que atender primeiramente o aspecto técnico, pois, se não tiver
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 875

Figura 6. Resposta da cana-de-açúcar às doses de P2O5 fornecidas como


termofosfato ou torta de filtro.
Fonte: Rosseto et al. (2008).

resposta técnica para as plantas, não adianta ser operacional e barato. Se


passar no teste técnico, o próximo passo será a viabilidade operacional, ou
seja, se o produto apresenta boas condições para ser transportado e aplica-
do no campo. Se o produto tiver respostas técnica e operacional positivas,
é necessário verificar os aspectos econômicos.
Um Etopec comparou o manejo da nutrição da cana feito por meio
de fertilizantes organominerais versus minerais para as condições da usi-
na Nardini em Vista Alegre do Alto, SP, para a safra 2011/2012. O  estudo
comparou o fornecimento de 150 kg ha-1 de P2O5 por meio de fertilizante
mineral 05:25:20 (600 kg ha-1) com compostos organominerais em misturas
in natura, compostadas e enriquecidas (Tabela 9). Houve uma redução de
22 t ha1 no composto in natura para 10 t ha-1 para o composto enriquecido
com cama de frango, o que certamente impactou de maneira significativa
876 Parte 8
Foto: Pedro Henrique Cerqueira Luz

Figura 7. Fertilizante organomineral peletizado.

no custo do transporte. Esse fato pode ser observado nas distâncias de


equilíbrio, ou seja, o raio econômico da área agrícola, para a TF (70%) + CZ
(30%) in natura contra o fertilizante mineral, atingiu 11,0 km, ou seja, o cus-
to do manejo in natura é viável economicamente até os 11,0 km. Quando
se composta essa mesma mistura e reduz-se a umidade de 70% para 45%,
a dose cai para 12,0 t ha-1, o que implica numa distância de equilíbrio de
37,0 km, mostrando a importância do transporte de água com o composto
orgânico (Figura 8). Por fim, quando se enriqueceu com cama de frango, a
distância de equilíbrio foi para 40,5  km (Figura  9). Os  resultados ilustram
o potencial de aumento de área aplicada que partiu de 4.600 ha por safra
para o composto in natura para 11.600 ha por safra quando a usina passou
a enriquecer o composto e produzir o organomineral, além de elevar a
distância de equilíbrio de custo com o fertilizante mineral de 21 km para
40 km (Tabela 9). Esse exemplo torna evidente que, com o enriquecimento,
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 877

Figura 8. Comparativo da distância de equilíbrio entre fertilizante mineral sem


enxofre com composto orgânico na usina Nardini.
Fonte: Luz e Korndörfer (2011).

Figura 9. Comparativo da distância de equilíbrio entre fertilizante mineral com


enxofre com composto orgânico enriquecido com cama de frango na usina
Nardini.
Fonte: Luz e Korndörfer (2011).
878 Parte 8

há dois ganhos, ou seja, aumento da área aplicada com o organomineral e,


consequentemente, benefícios na produtividade, além de possibilitar levar
o produto orgânico a maiores distâncias, socializando o manejo orgânico
nas áreas de produção da usina.

Tabela 9. Manejo de subprodutos para safra 2011 na usina Nardini.

Dose N P2O5 K2O Custo Distância Área


Processo
(t ha-1) (kg ha ) -1 (R$ ha-1) (km) (ha)
In natura TF e CZ 22 77 156 46 754,00 11,0 4.600
Compostada 70
12 76 157 45 777,00 37,5 8.460
TF + 30 CZ
Enriquecida (70 TF
12 77 149 48 791,52 37,0 8.714
+ 30 CZ) + gesso
Enriquecida (70 TF
10 80 153 80 793,00 40,5 11.600
+ 30 CZ + G) + CF
TF: Torta de filtro; CZ: cinza; G: gesso; CF: cama de frango.
Fonte: Luz e Korndörfer (2011).

Aproveitamento de resíduos de fontes


exógenas na cultura de cana-de-açúcar

Esterco de animais
O uso de esterco de animais como fertilizante orgânico é uma prática
viável na cultura de cana-de-açúcar. Quanto exposto às condições climá-
ticas de elevada temperatura, a perda de nutrientes por volatização em
esterco de animais é elevada. Perdas de N na faixa de 60% a 80% podem
ocorrer em sistemas aerados ou lagoas de decantação. Essas perdas podem
ser reduzidas para 2% a 3% em caixas de coleta.
Várias formas podem ser utilizadas para evitar perdas de N-NH3, tais
como:
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 879

• Aplicação de superfosfato triplo na dose de 30  kg  t-1 de esterco,


reduzindo a perda de 56% para 3%.
• Aplicação de 70 kg ha-1 a 100 kg ha-1 de gesso.
• Manutenção de cobertura com palhada, reduzindo as perdas de
56% para 19% (KIEHL, 1985).
No caso de subprodutos que apresentem altos teores de N, como a
cama de frango e o esterco de galinha, as perdas de NH3 por volatilização
podem ser reduzidas pela mistura de gesso agrícola (CaSO4 2H2O) no pro-
cesso de compostagem, na proporção de 75 kg t-1 a 100 kg t-1 (VITTI et al.,
2011).
As dejeções animais são excelentes fontes de nutrientes, principal-
mente de N, P e K, pois apresentam relação C/N bastante favorável, via
de regra menor que 20:1. A cama de frango, subproduto da produção de
frangos de corte, teve uma projeção de produção no ano de 2010 de cerca
de 12 milhões de toneladas, considerando-se alojamento de 610 mil aves
por mês e 2,5 lotes por cama. Teores médios de macronutrientes em amos-
tras de cama de frango, coletadas no Estado de São Paulo, em termos de
matéria original, ou seja, considerando-se a umidade, foram de 20 kg t-1 N,
23 kg t-1 P2O5 e 26 kg t-1 K2O (LUZ; KORNDÖRFER, 2011). Esses valores variam
em função do manejo da criação e do número de engordas ou de lotes.
A viabilidade econômica da utilização de cama de frango deve
considerar que a baixa concentração de nutrientes do material e a baixa
densidade fazem com que o manuseio, o transporte e a aplicação apre-
sentem custo significativo. A utilização como fertilizante deve considerar o
equivalente fertilizante mineral. Levantamento realizado em Pirassununga,
SP, em julho de 2011, observou uma quantidade, na matéria original, de
23 kg N, 20 kg P2O5 e 23 kg K2O, que equivalem, com base no custo dos ferti-
lizantes minerais (ureia – MAP e KCl), a R$ 169,64 por t. Com um preço entre
R$ 100,00 e R$ 120,00 por t, praticado na região, torna bastante atrativa a
sua utilização como fertilizante (LUZ; KORNDÖRFER, 2011).
880 Parte 8

A aplicação de fertilizantes orgânicos requer o uso de equipamentos


aplicadores especialmente desenvolvidos, capazes de distribuir materiais
com umidade elevada, características heterogêneas na forma farelada
de difícil escoamento. Isso requer dosadores volumétricos tipo esteira de
taliscas e distribuidores helicoidais para aplicação em linha, além de ter
boa capacidade volumétrica por causa da baixa densidade do material
(Figura 10).
Foto: Pedro Henrique Cerqueira Luz

Figura 10. Equipamento para aplicação da cama de frango pura em usina


Ferrari.

A aplicação de um composto orgânico obtido pela mistura de 66%


de torta de filtro e 33% de cama de frango, com 40% de umidade, no sulco
no plantio de cana-de-açúcar na dose de 10 t ha-1, resultou no fornecimen-
to de 115 kg ha-1 de N, 191 kg ha-1 de P2O5 e 88 kg ha-1 de K2O. Em outra
situação, composto organomineral contendo duas partes de torta e uma
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 881

parte de cinza, com 43% de umidade, enriquecido em 4% com fosfato na-


tural reativo, foi aplicado na dose de 8 t ha-1 na área de produção da usina
Iaco em Chapadão do Sul, MS. Isso proporcionou na aplicação de uma
dose equivalente de 43 kg ha-1 de N, 227 kg ha-1 de P2O5, 249 kg ha-1 de Ca,
24 kg ha-1 de Mg e 11 kg ha-1 de S (LUZ; MOTTA, 2013).

Lodo de esgoto
Além do uso agrícola e florestal, várias são as opções para a disposi-
ção final de lodo de esgoto (LE) como o simples descarte em aterros sani-
tários, a incineração, a conversão em óleo combustível, o reuso industrial, o
tratamento no solo (landfarming) (ABREU JUNIOR et al., 2005; SILVA, 1995).
A utilização de LE na adubação de cana-de-açúcar pode substituir em 100%
o uso do adubo mineral nitrogenado (FRANCO et al., 2010). Além dos bene-
fícios ambientais e ecológicos, a técnica pode aumentar a produtividade e
diminuir custos.

A sustentabilidade da produção da cultura de cana-de-açúcar só


pode ser atingida quando os nutrientes têm balanço nulo ou positivo.
Dentre as possíveis causas de saída de nutrientes do solo, merecem desta-
que as quantidades exportadas pelos colmos que variam, em g t-1, de: 740 a
1.100 de N; 27 a 62 de P; 820 a 3.000 de K; 89 a 213 de Ca; 109 a 220 de Mg;
116 a 359 de S; 0,9 a 2,1 de Zn; 0,5 a 0,9 de Cu; 19 a 36 de Fe; 8 a 21 de Mn;
e 9 a 35 de alumínio (Al) (ORLANDO FILHO, 1978; PRIMAVESI et al., 1992).
A exportação de nutrientes pode ser compensada pela adição de resíduos
como o LE e por técnicas de cultivo que maximizam a atividade biológica e
mantenham a fertilidade do solo.

A composição química do LE é bastante heterogênea em função


das matérias-primas que o constituem (SILVA et al., 2010). Quando prove-
niente de estações de tratamento das águas servidas, com predominância
de esgotos domésticos, os níveis de cádmio (Cd), Cu, Mo, níquel (Ni), Zn e
882 Parte 8

chumbo (Pb), além de Mn, Fe, Al, cromo (Cr) e mercúrio (Hg), entre outros
menos frequentes, permanecem dentro das faixas aceitáveis para o seu uso
agronômico (ABREU JUNIOR et al., 2005, 2008; BETTIOL; CAMARGO, 2006;
GALLOWAY; JACOBS, 1977; TSUTIYA, 2001).

O LE pode ser utilizado com segurança na agricultura se devidamen-


te condicionado biológica e fisicamente, atendendo à Resolução nº 375 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) (BRASIL, 2006). O uso do LE
como fertilizante já foi testado em culturas como soja, milho, arroz, feijão,
cana-de-açúcar e outras (ABREU JUNIOR et al., 2005; BETTIOL; CAMARGO,
2006; BETTIOL; CARVALHO, 1982; FRANCO et al., 2010).

Para a cana-de-açúcar, Marques (1990) avaliou as variáveis tecnoló-


gicas e composição em N, P e K do caldo de cana-de-açúcar adubada com
doses crescentes de LE, aplicado na cana-planta e na cana-soca, compa-
rativamente com o controle e o uso de fertilizante mineral. A  aplicação
de 4 t ha-1 a 8 t ha-1 de LE com 72% de umidade na cana-planta não teve
efeito na concentração de N total no caldo. Aumentando as doses de LE
para 16 t ha-1 e 32 t ha-1, houve redução nos teores de N no caldo em toda
a safra. Silva et al. (2000) destacaram a importância do efeito residual do
LE aplicado no plantio quando o fornecimento de N à cana-soca é baixo,
indicando que essa prática se restringiu à cana-planta, mas pode associar-
-se a ganhos se reaplicado na soqueira. Esse aspecto pode ser comprovado,
pois, quando o LE foi reaplicado ao solo, houve aumento de concentração
de N no caldo da cana-soca, em relação ao tratamento controle. Verificou-se
ainda que o maior acúmulo de P no caldo foi obtido pela aplicação de
8 t ha-1 de LE (MARQUES et al., 2007a). Chiba (2005). Aplicando até 8,2 t ha-1
de LE (base seca) em cana-planta, em combinação com adubo fosfatado,
e 16 t ha-1 de LE em cana-soca, em combinação com adubo nitrogenado,
verificou-se que o LE pode substituir até 25% do adubo fosfatado na cana-
-planta e 100% do adubo nitrogenado na cana-soca.
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 883

Marques et  al. (2007a) verificaram benefícios do aproveitamento


do LE na cana-de-açúcar quando comparado à aplicação de fertilizantes
minerais. Nas condições do experimento, a associação do LE com adubo
mineral permitiu a economia de metade da adubação mineral recomenda-
da sem prejuízo à produtividade, a características químicas do solo, em sua
maioria, e a características tecnológicas da cana-de-açúcar. O LE não é um
eficiente fornecedor de K à cana-de-açúcar (MARQUES, 1990; SILVA et al.,
1996, 1998), assim a aplicação do LE deve ser obrigatoriamente comple-
mentada com uma fonte de K (ABREU JUNIOR et al., 2008).
Franco (2003) observou que aplicação de LE, como fonte de N, em
combinação com vinhaça, como fonte de K, foi tão eficiente quanto às fon-
tes minerais desses dois nutrientes (ureia e KCl) na produtividade e qualida-
de industrial da cana-planta (SP81-3250). No segundo corte (1ª cana-soca),
Tasso Junior et  al. (2007) observaram que as maiores produtividades
foram encontradas quando se empregou LE complementado com KCl
(106,6 t ha-1), sendo esse valor da mesma ordem de grandeza daquele ob-
tido com a fertilização mineral (105,6 t ha-1). Para o terceiro e quarto cortes,
Camilotti et  al. (2006) não encontraram diferenças na produtividade da
cana-de-açúcar adubada com LE + KCL e vinhaça + ureia. No quinto corte,
Nogueira et al. (2007) concluíram que o LE ou a vinhaça complementada
apresentaram desempenho comparáveis à fertilização mineral.
Do ponto de vista tecnológico, Marques (1990), Marques et al. (1994),
e Silva et al. (1996, 1998) verificaram que o uso de LE não causou dificul-
dades adicionais para a cultura, pois não houve efeito do LE na pureza do
caldo, embora tenha havido pequenas diminuições no valor do Brix e do
pol.
Não obstante aos benefícios evidentes, patógenos e compostos
orgânicos e inorgânicos potencialmente tóxicos podem estar presentes
no LE, poluir o ambiente e afetar cadeia alimentar. Além de haver certo
questionamento pelos próprios agricultores, o potencial de poluição do
884 Parte 8

ambiente tem sido alvo constante de críticas e fator de restrição do uso


agrícola do LE por parte dos agentes de controle de poluição ambiental
(ABREU JUNIOR et al., 2005, 2008; BETTIOL; CAMARGO, 2006).

Marques et al. (2007b), estudando a aplicação de 0, 10 t ha-1, 20 t ha-1 e


40 t ha-1 LE (base seca), verificaram aumento nas concentrações de Cr, Ni, Pb
e Zn no solo (linha e entrelinha), sendo a dose de 40 t ha-1 a que promoveu
as maiores concentrações de metais-traços no solo. Os valores encontrados
estão abaixo das concentrações máximas aceitáveis de metais-traços nos
solos tratados com LE, de acordo com as normas da Cetesb (COMPANHIA
DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2005). A baixa ocorrência
ou mesmo a ausência de metais nas partes aéreas de plantas de cana-de-
-açúcar foi relatada por Silva et al. (2000) analisando plantas cultivadas em
solos que receberam, no ano anterior, LE em doses de 20 t ha-1; 40 t ha-1 e
80 t ha-1. Esses autores não detectaram a presença de metais nas partes aé-
reas, porém verificaram o acúmulo desses elementos nas raízes. Camilotti
et al. (2007), estudando a disponibilidade de metais pesados (Cd, Cr, Ni e
Pb) no solo e nas plantas (colmos, folhas e palmitos) de cana-de-açúcar, ve-
rificaram que as doses de LE não apresentaram, após três aplicações anuais
sucessivas, potencial de contaminação do sistema solo-cana.

Os resultados disponíveis na literatura relatam o emprego de LE na


cultura canavieira com enfoque sobre os aspectos agrotecnológicos, haven-
do poucas referências aos seus efeitos na nutrição da planta, à transferência
de metais-traços e à qualidade dos produtos agrícolas. Silva et  al. (2010)
avaliaram, em condições de campo, os efeitos da aplicação do LE no solo,
com e sem complementação com adubo mineral NPK, sobre a nutrição e
produtividade da cana de 18 meses. Caracterizou-se o efeito fertilizante do
resíduo e os possíveis impactos ambientais, os aspectos de equilíbrio ener-
gético e a exportação de metais-traços nos colmos. Os autores concluíram
que o LE atuou como fertilizante e corretivo de acidez para a cultura de
cana-de-açúcar, principalmente como fonte de Ca, P, S e Zn, propiciando
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 885

melhor perfilhamento e aumento da produtividade agrícola. A produtivi-


dade da cana-de-açúcar foi relacionada positivamente com a atividade da
fosfatase ácida, refletindo no equilíbrio energético da cana-planta. Além do
teor de P no solo, a atividade da fosfatase foi influenciada também pela
ação secundária conjunta dos metais Cu, Zn e B.

Franco et al. (2010), para estabelecer modelos de superfície de res-


posta, avaliaram os efeitos da aplicação de LE e de N e P, via fontes minerais,
e suas interações sobre a produtividade da cana-de-açúcar e a qualidade do
ambiente agrícola. Para cana-planta, foi estabelecido experimento de cam-
po, em setembro de 2005, aplicando-se quatro doses de lodo (0; 3,6 t ha-1;
7,2 t ha-1 e 10 t ha-1, base seca), de N (0, 30 kg ha-1, 60 kg ha-1 e 90 kg ha-1
de N, via ureia) e de P (0, 60 kg ha-1, 120 kg ha-1 e 180 kg ha-1 de P205, via
superfosfato triplo), em esquema fatorial 4x4x4, com confundimento e
duas repetições, em blocos casualizados. Os autores verificaram que a pro-
dutividade de colmos da cana-planta (toneladas de cana por hectare - TCH)
pode ser descrita em função das doses de lodo (L), de P e de N.

De acordo com Franco et  al. (2010), a aplicação isolada de lodo


praticamente dobrou a produtividade da cana-planta, ou seja, a produti-
vidade passou de 54,14 t ha-1, no tratamento controle, para 105,91 t ha-1,
com 10,8 t ha-1 de lodo. No tratamento com adubo mineral, a produtividade
foi de 91,10 t ha-1, ou seja, 152% maior que no tratamento controle. A pro-
dutividade máxima foi alcançada com a aplicação de 10,8 t ha-1 de lodo e
de 115 kg ha-1 de P2O5, via fertilizante fosfatado, ou seja, o lodo de esgoto
propiciou uma redução no uso de adubo fosfatado de 63%. Na cana-soca,
para avaliação do efeito residual da aplicação do lodo na cana-planta, após
adubação NPK em área total, a produtividade foi função exclusiva das doses
de lodo (L, em t ha-1):

TCH (t ha-1) = 84,02 L + 0,90 L R2 = 0,55*


886 Parte 8

O trabalho relatado por Franco et  al. (2010) demonstrou que não
houve prejuízo na qualidade tecnológica da cultura, medida pelo Brix, no
pol caldo, no pol cana, na pureza, nos açúcares redutores e nos açúcares
redutores totais, tanto na cana-planta quanto na cana-soca, quando o lodo
de esgoto é aplicado pelo critério do N. Além disso, a pesquisa teve como
caráter inédito a determinação de elementos potencialmente tóxicos em
todo o sistema solo-cana, incluindo o caldo – produto utilizado para a
produção do açúcar e etanol. As amostras de caldo de cana foram subme-
tidas à digestão ácida em ambiente fechado (sistema de micro-ondas) e
analisadas pelas técnicas de ativação neutrônica (Inaa) e de espectrometria
de massa com plasma (ICP-MS). Foram encontradas as seguintes concen-
trações, em µg kg1: prata (Ag) = 0,2–0,3; arsênio (As) = 1,0–3,3; B = 31–60;
berílio (Be) = 0,4–2,4; Cd = 1,7–14,1; cobalto (Co) = 5,6–16,0; Cr = 12,8–25,4;
Cu = 377–610; európio (Eu) = 0,3–2,7; Hg = 0,2–4,3; lantânio (La) = 0,5–1,3;
Mo = 1,0–4,7; Ni = 26–56; Pb = 18,6–39,5; antimônio (Sb) = 0,3–0,9; escân-
dio (Sc)  = 0,5–1,3; selênio (Se) = 0,38–0,17; samário (Sm) = 0,2-9,4; tório
(Th) = 0,5–1,4; tálio (Tl) = 1,9–6,8; vanádio (V) = 4,4–9,3; e, em mg kg1: Al =
1,9–4,2; bário (Ba) = 0,6–1,4; Ca = 86–205; Fe = 5,1–8,0; K = 822–2.239; Mg =
193–316; Mn  = 7,6–14; sódio (Na)  = 0,3–1,2; P  = 58–165; estrôncio (Sr)  =
0,7–2,0; Zn = 1,7–4,3 (ABREU JUNIOR et al., 2008).

Para a maioria dos casos, a concentração dos elementos no caldo


não foi modificada pela adição do LE quando comparada com a fertilização
mineral, exceto para Co, Mo, Se, e, principalmente, Cd e Zn, cujas concen-
trações foram maiores com a aplicação do lodo, porém em concentrações
consideradas normais (NOGUEIRA et al., 2013).

Já recentemente, os trabalhos de pesquisa têm investigado a aplica-


ção de lodo de esgoto associados à utilização de vinhaça de forma conjunta
(CAMILOTTI et al., 2006, 2007).
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 887

Composto de lixo
Um importante efeito da adição de composto de lixo (CL) ao solo
é o de modificar a dinâmica de nutrientes por aumentar a atividade e a
biomassa microbiana (ABREU JUNIOR et al., 2002). Os principais efeitos da
aplicação de CL no solo são aumento na disponibilidade de matéria orgâni-
ca (MO), N, P, K, Ca, Mg e S, elevação dos valores de pH e da CTC e a redução
da acidez total (H+ + Al3+) (ABREU JUNIOR et al., 2000, 2001, 2002; MAZUR
et al., 1983a, 1983b; OLIVEIRA et al., 2002a).
Para a adubação de plantio da cana-de-açúcar, o CL deve ser apli-
cado de uma só vez em área total ou no sulco de plantio, de acordo com
a análise de solo e os teores de N, P e K do CL, conforme Tabelas 10 e 11,
respectivamente (SILVA et al., 2002b). Alternativamente, pode-se estimar a
dose de CL com base no quociente entre a demanda de N pela cultura da
cana, que é em torno de 90 kg ha-1 de N (RAIJ et al., 1997), e a quantidade de
N adicionada pelo composto, considerando-se uma eficiência de aproveita-
mento de 40% a 50% do nutriente, ou seja, o teor de N-total do composto
multiplicado pelo fator de 0,4 a 0,5.
Na cana-soca, a resposta ao CL deve-se mais ao P e, em menor fre-
quência, ao K contido no material. Na prática, o mais usual é a aplicação de
60 t ha-1, sem suplementação de P, ou 30 t ha-1, com complementação da me-
tade da dose de P recomendada para a cultura da cana (SILVA et al., 2002b).
Em algumas situações, observa-se que o CL potencializa a produti-
vidade da cana-de-açúcar, mesmo em área já adubada com N, P e K, por
causa de um efeito positivo na retenção hídrica pela matéria orgânica adi-
cionada ao solo e pelo fornecimento de micronutrientes, proporcionando
produtividade superior àquela causada pelo uso dos fertilizantes minerais
(KIEHL, 1985).
Um dos primeiros trabalhos sobre uso de CL em cana-de-açúcar
no Brasil, em campo, foi o de Silva et  al. (1996, 1998). O  experimento foi
888 Parte 8

Tabela 10. Recomendação de uso de composto de lixo urbano na cultura


de cana-de-açúcar(1), com base na interpretação dos teores de fósforo e de
potássio, obtidos pela análise química de solo, e na composição do com-
posto de lixo para o Estado de São Paulo.
Composição Dose de composto (t ha-1)
do P resina (mg dm-3) K+ trocável (mmolc dm-3)
composto
de lixo 0–6 7–15 16–40 > 40 0–1,5 1,6–3,0 > 3,0
P > 0,6 15 10(2) 5(2) - - - -
0,2 a 0,6 30 20 15 10 (2)
- - -
< 0,2 50 35 25 10 (2)
- - -
K > 1,2 - - - - 15 10 (2)
5(2)
0,4 a 1,2 - - - - 20 15 10(2)
< 0,4 - - - - 50 30 20
(1)
Produtividade esperada de 80 t ha-1 a 120 t ha-1.
(2)
Para doses de composto de 10 t ha-1 ou menos, o efeito do composto se deve mais ao fornecimento de
matéria orgânica e não mais ao suprimento de P e K.
Fonte: Silva et al. (2002b).

Tabela 11. Recomendação de adubação para cana-de-açúcar com base no


nitrogênio do composto de lixo.
Teor de nitrogênio no
Dose de composto (t ha-1)
composto de lixo (%)
> 3,5 20
1,8 a 3,5 30
< 1,8 45
Fonte: Silva et al. (2002b).

realizado em um Argissolo Vermelho Eutrófico, com doses de composto de


0, 30 kg ha-1, 60 kg ha-1 e 90 kg ha-1, combinadas com 120 kg ha-1 de P2O5 e
120 kg ha-1 de K2O, e comparadas com aplicação de 600 kg ha-1 da fórmula
4-20-20, ou seja, 24 kg ha-1 de N, 120 kg ha-1 de P2O5 e 120 kg ha-1 de K2O, res-
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 889

pectivamente. Verificou-se melhoria da fertilidade do solo em função das


doses de composto, com incrementos lineares de P e K no solo e no caldo
da cana. A aplicação do composto aumentou a produtividade de colmos de
modo linear: 70 t ha-1, 78 t ha-1, 98 t ha-1 e 103 t ha-1, respectivamente; não
obstante o tratamento NPK tenha produzido 121 t ha-1. Não houve atraso
na maturação da cana-de-açúcar pela aplicação do composto; entretanto,
a combinação do composto com P e/ou K proporcionou melhor acúmulo
de açúcar nos colmos.
Posteriormente, Oliveira (2000) avaliou o efeito do CL aplicado nas
doses de 0, 20 t ha-1, 40 t ha-1 e 60 t ha-1, na cana-planta, e da reaplicação de
0, 24 t ha-1, 48 t ha-1 e 72 t ha-1, na cana-soca. Foi constatado que a produti-
vidade da cana-planta foi crescente com as doses de composto, variando
de 35 t ha-1 a 64 t ha-1, comparada com 54 t ha-1 em razão da adubação NPK.
A produtividade geral foi baixa em virtude da escassez de chuva durante
o experimento. Já, na cana-soca, em cultivo quando ocorreu boa distribui-
ção de chuvas, não houve diferença entre as doses de 24 t ha-1, 48 t ha-1 e
72 t ha-1 de composto e delas com a adubação NPK, cujas produtividades
foram da ordem de 140 t ha-1 contra 100 t ha-1 no tratamento controle.
Uma das grandes preocupações na aplicação de CL no solo deve ser
a alta mobilidade do íon nitrato, pois doses elevadas do composto podem
contribuir para os problemas de eutrofização de águas de superfície, como
lagos e rios, e de contaminação de águas subterrâneas, as quais muitas ve-
zes são a principal ou a única fonte de água potável de grandes populações
(ABREU JUNIOR et al., 2008).
Oliveira (2000), aplicando, em área total, doses equivalentes a
20 t ha-1, 40 t ha-1 e 60 t ha-1 de composto, base seca, na cana-de-açúcar,
verificou que o composto aumentou a concentração de NNO3- na solução
do solo a 0,3 m, 0,6 m e 0,9 m de profundidade. Nas doses 40 t ha-1 e 60 t ha-1
do resíduo, o teor do nitrato na profundidade de 0,9  m apresentou con-
centrações de 10,51 mg L-1 a 20,93 mg L-1 e de 24,31 mg L-1 a 46,25 mg L-1,
890 Parte 8

respectivamente, acima do limite máximo para a qualidade da água potável


estabelecido pela Organização Mundial de Saúde (10 mg L-1). As perdas de
N determinadas para camada 0 a 0,9 m evidenciaram o potencial poluente
do fertilizante mineral e do composto. Por outro lado, doses anuais de até
24 t ha-1 de composto não ofereceram riscos de contaminação de aquíferos.
Pelo exposto, verifica-se que os riscos por causa da percolação de NNO3-
devem ser considerados no planejamento de aplicações do composto
oriundo de resíduo sólido em áreas agrícolas; e, nesse caso, o monitora-
mento do solo e de sua solução em profundidade é essencial para se evitar
riscos à qualidade das águas subterrâneas. Foi ainda avaliado o efeito das
aplicações sucessivas do CL sobre a movimentação, em profundidade, dos
metais Cd, Cr, Cu, Ni, Pb e Zn em um Latossolo Amarelo Distrófico. Não se
observou nenhuma evidência de movimentação dos metais ao longo do
perfil do solo, exceto para o Zn, que apresentou mobilidade no solo. Para
esse elemento, verificaram-se, ao final do ciclo da cana-soca, incrementos
significativos até a camada de 0,4  m a 0,6  m de profundidade (OLIVEIRA
et al., 2002b).

Rossetto et al. (2002) verificaram o efeito do CL na cultura da cana,


nas doses de 0, 10 t ha-1, 20 t ha-1 e 40 t ha-1, base seca, com quatro doses
de N (0, 25 kg ha-1, 50 kg ha-1 e 75 kg ha-1) e quatro doses de superfosfato
triplo (0, 28 kg ha-1, 56 kg ha-1 e 112 kg ha-1 de P2O5). O N isoladamente não
teve efeito na produtividade, mas as doses de composto e de superfosfato
tiveram efeitos lineares e quadráticos, respectivamente, sobre a produtivi-
dade. Por meio de modelo matemático, estimou-se que a produtividade
máxima foi obtida com a aplicação de 35 t ha-1 do composto, combinado
com 56 kg ha-1 de P2O5 e de 120 kg ha-1 de K2O.

Silva et al. (2002a) estudaram o efeito complementar do composto de


lixo à adubação NPK, com 500 kg ha-1 de 4-20-20 (24 kg ha-1 de N, 120 kg ha-1
de P2O5 e 120 kg ha-1 de K2O, respectivamente), na produção da cana-planta,
variedade 72454. O composto foi aplicado nas doses de 10 t ha-1, 20 t ha-1,
Capítulo 1 Aproveitamento, tratamento e disposição de resíduos na cultura de cana-de-açúcar 891

30 t ha-1, 40 t ha-1e 50 t ha-1. Verificou-se que a maturação da cana-de-açúcar


não foi alterada até a dose de 30 t ha-1 de composto e que a produtividade
de colmos aumentou linearmente com as doses de composto, aproximada-
mente 120 t ha-1 com aplicação do adubo NPK + 50 t ha-1 do composto, o que
refletiu na maior produtividade de açúcar por hectare.

Considerações finais
A utilização de resíduos e efluentes em solo cultivado com cana-de-
-açúcar deve ser conduzida no sentido de não só eliminar a sua nocividade,
mas também tornar atraente o seu uso, isto é, agregar valor ao produto,
quer como fonte de nutrientes para a cultura ou como condicionador do
solo.
De um modo geral, a aplicação de resíduos e efluentes ao solo abre
perspectivas de estudos bastante amplos, e reconhece-se a extrema carên-
cia de dados, em especial com resíduos exógenos à agroindústria canavieira
em condições tropicais.

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900 Parte 8

Capítulo 2

Cana-de-açúcar na
alimentação de rebanhos
leiteiros

Mariana Magalhães Campos


Fernando César Ferraz Lopes
Luiz Gustavo Ribeiro Pereira
Fernanda Samarini Machado
Thierry Ribeiro Tomich
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 901

Introdução
A disponibilidade de alimentos volumosos de qualidade e em quan-
tidade adequada, no período de seca, é um desafio a ser enfrentado pelos
pecuaristas, afetando o sistema de produção animal. Esse fato tem estimu-
lado o estudo de alternativas alimentares que solucione esse problema e
minimize o custo com a alimentação dos rebanhos.
Dentre as opções de volumosos suplementares, a cana-de-açúcar
tem posição consolidada. Simulações comparando fontes de forragem
para o rebanho indicam a cana-de-açúcar como volumoso ideal para a
diminuição dos custos de rações e, consequentemente, do produto animal
(NUSSIO et al., 2002). Contudo, a redução no custo de produção só ocorre
quando a cana-de-açúcar fornecida consegue proporcionar um desem-
penho animal adequado. No Brasil, de acordo com Landell et  al. (2002),
aproximadamente 500 mil hectares de cana-de-açúcar são destinados para
alimentação animal, principalmente rebanhos leiteiros.
O Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar (Saccharum
officinarum), e esse fato é consequência da grande adaptabilidade dessa
cultura em nosso País e do desenvolvimento e do uso de materiais me-
lhorados para nossas condições. A previsão total de produção na safra
2012/2013 é de 595,13 milhões de toneladas, 6,2% superior em relação à de
2011/2012. A produtividade média está estimada em 69.846 kg ha-1, 4,2%
maior que na safra 2011/2012, que foi de 67.060 kg ha-1. A área cultivada
com cana-de-açúcar que deverá ser colhida na safra 2012/2013 está esti-
mada em 8.520,5 mil hectares (CONAB, 2013).
A cana-de-açúcar tem várias características que justificam sua utili-
zação na alimentação de ruminantes, dentre elas: o alto teor de sacarose, o
moderado teor de fibra insolúvel em detergente neutro (FDN) quando com-
parada a outros volumosos, a alta produção de matéria seca por unidade de
área, a simplicidade do cultivo e de tratos culturais, a relativa resistência a
902 Parte 8

pragas e doenças, a facilidade de compra e venda, o caráter semiperene,


além de ser cultura tradicional entre os produtores rurais brasileiros.

O fato de atingir o máximo valor nutritivo durante o período seco do ano,


quando a disponibilidade de pasto é baixa, tem impulsionado sua divulgação
como forrageira para cultivo em fazendas que utilizam pastagens e que visam
minimizar o uso de tempo e capital em práticas de conservação de forrageiras.

A cana-de-açúcar, como alimento básico para ruminantes, apresenta


limitações de ordem nutricional, por causa dos baixos teores de proteína,
minerais (principalmente, enxofre (S), fósforo (P), zinco (Zn) e manganês
(Mn)), do pequeno aporte pós-ruminal de aminoácidos e glicose e da baixa
degradação ruminal da sua fração fibrosa.

Os carboidratos estruturais da cana-de-açúcar são fonte potencial de


energia de baixo custo para ruminantes. No entanto, seu aproveitamento
como fonte de energia é limitado em razão das suas baixas digestibilidade
e taxa de degradação e, consequente, baixo consumo voluntário. Esse fato
está relacionado, principalmente, à estrutura da parede celular que protege
os nutrientes nela contidos da digestão microbiana no rúmen.

Composição bromatológica
da cana-de-açúcar
A cana-de-açúcar, como alimento volumoso para ruminantes,
apresenta limitações de ordem nutricional, por causa dos baixos teores de
proteína, minerais e do alto teor de fibra de baixa degradação ruminal.

Na Tabela 1, encontra-se a composição bromatológica da cana-de-


-açúcar, em porcentagem da matéria seca (MS).

De maneira contrária ao que ocorre com o valor nutritivo das gra-


míneas tropicais, a cana-de-açúcar apresenta incremento na sua qualidade
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 903

Tabela 1. Composição bromatológica da cana-de-açúcar (Saccharum


officinarum), em porcentagem da matéria seca.
Nutriente %
Matéria seca (1)
28,9
Proteína bruta 2,8
Extrato etéreo 1,4
Matéria mineral 3,1
Carboidratos não fibrosos 42,7
Carboidratos totais 92,8
Fibra insolúvel em detergente neutro 54,5
Fibra insolúvel em detergente ácido 33,9
Nutrientes digestíveis totais 61,4
(1)
Porcentagem na matéria natural.
Fonte: CQBAL 3.0 (2013).

nutricional com o avanço da maturidade da planta. Isso ocorre por causa do


acúmulo de açúcares no caule, particularmente, de sacarose. A maior con-
centração de açúcares é observada no período seco do ano, o que indica
sua melhor época de colheita para alimentação de ruminantes na época de
escassez de forragem. Com o avançar da idade da planta, há decréscimo no
teor de proteína bruta (PB) e aumento nos teores de MS e de carboidratos
não fibrosos (CNF), este último, principalmente, decorrente do acúmulo de
sacarose. Também ocorre queda na digestibilidade da fibra insolúvel em
detergente neutro (FDN), como normalmente observado para as demais
gramíneas tropicais. No entanto, na cana-de-açúcar, esse fato é parcialmen-
te compensado pelo concomitante incremento na concentração de CNF
(sacarose), promovendo o aumento na digestibilidade da matéria orgânica
(MO) com o avanço da idade da planta.
Dentre os fatores que afetam a qualidade nutricional da cana-de-açú-
car para alimentação de bovinos podem-se citar: a variedade, a idade da
planta e a precipitação pluviométrica verificada durante o período de pro-
904 Parte 8

dução. Existem variações na composição química da cana-de-açúcar, prin-


cipalmente, quanto aos teores de MS, FDN e lignina. O ideal é utilizar para
alimentação dos rebanhos as variedades com menor relação fibra-açúcar
(LANDELL et al., 2002). A medida de grau Brix normalmente é utilizada para
qualificar a forragem de cana-de-açúcar, corresponde ao teor de sólidos
solúveis presentes no colmo e está correlacionada com o teor de sacarose.
Para utilização da cana-de-açúcar na alimentação de bovinos, os valores
médios de grau Brix devem variar de 17° a 23° (AZEVÊDO et al., 2003).

Sob intervalos de cortes da cana-de-açúcar de 4 meses, Fernandes et al.


(2003) verificaram que as diferenças nos teores de FDN e de fibra insolúvel
em detergente ácido (FDA) foram relativamente pequenas, o que demonstra
a capacidade desse volumoso em manter constante o seu valor nutritivo ao
longo do tempo, contrariamente ao que ocorre com a maioria das gramíneas
forrageiras tropicais. Contudo, a baixa digestibilidade da fração fibrosa pode
limitar o consumo de MS (CMS) e, consequentemente, o desempenho de
animais recebendo dietas baseadas em cana-de-açúcar. As demais deficiên-
cias nutricionais da cana-de-açúcar, como o baixo conteúdo de proteína e de
minerais específicos, podem ser solucionadas com o fornecimento de ureia,
ou um suplemento proteico, e de misturas minerais. Esses recursos viabilizam
a ampla utilização dessa forrageira para os rebanhos leiteiros.

Em regra, considera-se que, para atender às exigências dos micror-


ganismos do rúmen, as dietas ofertadas aos ruminantes devem possuir
a partir de 7% de PB ou 1% de nitrogênio (N) total. Uma das vantagens
competitivas da cana-de-açúcar em relação a outras forrageiras tropicais
consiste no seu alto valor de nutrientes digestíveis totais (NDT), decorrente
do elevado teor de açúcares solúveis e da rapidez com que essa energia fica
disponível dentro do rúmen. Essa característica surgiu como elemento-cha-
ve na possibilidade de utilização de fontes de N não proteico, como a ureia
associada à forragem de cana-de-açúcar. Essa estratégia de alimentação
promove, potencialmente, o sincronismo das elevadas disponibilidades
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 905

de energia, advinda da alta solubilidade da sacarose, e de N não proteico,


decorrente da solubilidade da ureia e sua rápida transformação em amônia
pela microflora ruminal.

Para melhorar a eficiência da mistura de cana e ureia, é necessária a


presença de S, elemento que não está presente nem na cana nem na ureia,
mas que é extremante necessário para que os microrganismos sintetizem
aminoácidos essenciais, como a metionina, cistina e cisteína. Para incluir o S
na mistura cana e ureia, basta substituir 10% ou 20% da ureia a ser usada por
sulfato de amônia ou sulfato de cálcio, respectivamente (TORRES et al., 2010).

Ademais, destaca-se que a suplementação de dietas baseadas em


cana-de-açúcar com uma mistura mineral de boa qualidade é indispensá-
vel para correção das deficiências de minerais como o P, o Zn e o Mn.

A cana inteira só deve ser picada momentos antes de ser enriquecida


com a mistura de ureia e S para ser fornecida aos animais. Como a cana
é rica em açúcares (carboidratos solúveis), caso fique amontoada após ser
picada, poderá fermentar, provocando redução no seu valor nutricional e
no consumo da forragem pelos animais.

Escolha da variedade
Nos últimos anos, as pesquisas com melhoramento genético da
cana-de-açúcar colocaram no mercado mais de 50 variedades de expressi-
vo potencial produtivo. Entretanto, a maioria das propriedades rurais que
utiliza a cana-de-açúcar para alimentação de animais não tem tido acesso
às variedades melhoradas, em razão da pouca disponibilidade desses ma-
teriais e, principalmente, porque essas variedades ainda não foram introdu-
zidas e testadas nesses locais (MACÊDO et al., 2006).

Algumas das variáveis consideradas pela pesquisa como importantes


e passíveis de serem utilizadas como índice de seleção, visando à obtenção
906 Parte 8

de genótipos de cana-de-açúcar com maior valor nutricional para ruminan-


tes são, conforme Rodrigues et al. (2001) e Teixeira (2004), concentrações de
sacarose (POL) e de sólidos solúveis totais (determinados pelo valor do grau
Brix); relação FDN-POL; concentrações de FDN e de FDA, principalmente
nos colmos; digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS); degradabili-
dade ruminal da matéria seca (DEGMS); porcentagem e comprimento dos
colmos. Também são consideradas características importantes para reco-
mendação das variedades produtividade, florescimento nulo ou reduzido,
fácil despalha, reduzido joçal, rebrotação vigorosa, pouco tombamento das
plantas e persistência do canavial.
Em geral, considera-se que as variedades mais promissoras para
alimentação de bovinos são as que apresentam menores teores de FDN,
maiores valores de DIVMS, relações FDN-POL menores que 2,7 e baixos teo-
res de lignina na MS da forragem. Considerando-se que o baixo conteúdo
nitrogenado é característica da espécie vegetal, o teor de PB da forragem
não deve ser critério para escolha de variedades de cana-de-açúcar para
utilização na alimentação de ruminantes (COSTA et al., 2003; RODRIGUES
et al., 2006).
Em estudos que foram avaliadas cinco variedades de cana-de-açú-
car em cinco épocas de colheita (CARVALHO, 1992) ou 18 variedades
(RODRIGUES et al., 2001), foram observadas correlações entre a DIVMS e o
teor de FDN, respectivamente, de -0,88 e -0,90. Costa et al. (2003), avaliando
12 cultivares, verificaram que a concentração de FDN nos colmos variou de
33,6% a 47,8% da MS, e o teor de CNF, de 49,4% a 61,0%, sendo que as canas
com alto teor de FDN apresentavam baixa concentração de CNF (r = -0,96).
Como planta forrageira indicada para uso no período da seca, uma
característica de grande interesse é que essa planta conserve o valor para
alimentação dos animas com o avanço da idade, com pouca queda do seu
valor nutritivo, que, no caso da cana-de-açúcar, depende basicamente do
seu teor de sacarose. Rodrigues et al. (1997), estudando diversas variedades
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 907

de cana-de-açúcar, com vistas à alimentação animal, verificaram, aos 15


meses de crescimento da planta, proporções de colmos de 72,7% a 88,4%
e de folhas de 11,6% a 24,5%. Os teores de FDN nos colmos variaram de
43,2% a 48,9%, e nas folhas de 76,6% a 80,8%. Enquanto Rodrigues et al.
(2006), avaliando dez variedades de cana-de-açúcar, verificaram diferença
nos teores de FDN variando de 41,1% a 48,3%, na planta inteira.
Nesse sentido, considerando-se que a capacidade de ingestão total
de fibra pelo animal é limitada, uma variedade de cana-de-açúcar que apre-
senta teor de FDN elevado poderá impor limites à sua ingestão, e, conse-
quentemente, o consumo de energia poderá ser insuficiente para atender
às exigências nutricionais do animal, afetando seu desempenho produtivo.
Rodrigues et  al. (2006) encontraram diferença entre variedades
quanto ao teor de lignina, que variou de 2,9% a 4,1% da MS. A concentração
de lignina, que está contida na fração de FDN, apresenta alta correlação
negativa com a digestibilidade, além de o aumento no teor de FDN na
planta estar associado ao espessamento da parede celular, o que reduz a
área disponível ao ataque microbiano no rúmen.
Azevêdo et al. (2003), avaliando a divergência nutricional de 15 va-
riedades de cana-de-açúcar, verificaram que os teores de hemicelulose, de
lignina e a taxa de degradação da fração potencialmente degradável da
FDN explicaram 87,8% da variação total do banco de dados utilizados em
seu estudo.
Teixeira (2004) procurou definir quais características da planta seriam
mais correlacionadas ao valor nutritivo da cana-de-açúcar. Dentre as carac-
terísticas agronômicas e bromatológicas avaliadas, a porcentagem de FDA
foi a mais correlacionada com a degradabilidade da MS. Segundo o autor,
a característica mais importante na cana-de-açúcar de alto valor nutritivo
é ter baixa porcentagem de fibra na MS. A segunda mais importante é o
comprimento dos colmos. Canas de alta digestibilidade têm colmos mais
curtos, além de baixa porcentagem de FDA. Entretanto, selecionar canas
908 Parte 8

com colmos curtos para obter ganho em digestibilidade levaria à perda na


produção de MS por hectare, o que faz pouco sentido. A terceira caracte-
rística seria selecionar variedades com maior porcentagem de colmos, ou
seja, baixa proporção de palhas e folhas, uma vez que a sacarose, de alta
digestibilidade, está contida nos colmos, enquanto as folhas são ricas em
fibra de baixa digestibilidade. Ainda no trabalho de Teixeira (2004), entre
as três características mais correlacionadas ao valor nutritivo, a porcenta-
gem de participação de colmos na forragem foi a de maior herdabilidade
(h2 = 63,1%), enquanto as características de comprimento dos colmos e a
porcentagem de FDA apresentaram menores herdabilidades, respectiva-
mente, de 41,4% e 19,5%.

Fernandes et  al. (2003) avaliaram variedades de cana-de-açúcar


com diferentes ciclos de produção (precoce e intermediário) e três idades
de corte. Os autores observaram que variedades com ciclo de produção
intermediário apresentaram produção 8,66% maior que as precoces. As va-
riedades de cana-de-açúcar precoces apresentaram maiores teores de FDN
e FDA do que as de ciclo intermediário, uma vez que as primeiras atingem
a maturidade mais cedo, culminando com mais rápido desenvolvimento
das estruturas de sustentação, que são representadas pelos polissacarídeos
da parede celular vegetal. Esse fato torna as variedades de maturação
intermediária mais apropriadas ao consumo pelos animais, por causa da
relação negativa entre os teores de FDN e de FDA dos alimentos e seu valor
nutricional. Houve aumento linear do percentual do NDT com o avanço na
idade de corte, justificado pelo aumento linear do teor de MS e o aumento
do teor de sólidos solúveis (determinados pelo grau Brix).

Outra característica que deve ser avaliada para escolha das varieda-
des é a maior capacidade de desfolha natural ou facilidade para promoção
dela, pois permite aumentar a eficiência no processo de corte e moagem,
além de reduzir a oferta do material de mais baixo valor nutricional ao re-
banho (MACÊDO et al., 2006).
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 909

Dessa forma, os produtores devem ser orientados a cultivar varieda-


des produtivas, ricas em açúcar e com baixos teores de FDN, adaptadas às
condições locais de fertilidade do solo, relevo e clima. O cultivo de mais de
uma variedade, preferencialmente com ciclos de maturação precoce, mé-
dia e tardia, pode ser indicado, especialmente, se as cultivares em uso não
mantiverem o teor de açúcar elevado durante toda a época seca do ano.

Consumo voluntário
Nos sistemas de alimentação em que os volumosos são os constituin-
tes principais da dieta, a ingestão voluntária de MS é determinante do de-
sempenho animal. O consumo voluntário de cana-de-açúcar por uma vaca
pode ser influenciado por vários fatores. Dentre muitos, pode-se destacar
aqueles inerentes à composição da dieta (relação volumoso:concentrado;
ingredientes volumosos e concentrados utilizados; disponibilidade de fon-
tes nitrogenadas para microbiota ruminal), à qualidade da cana-de-açúcar
(concentrações de CNE e de frações fibrosas; digestibilidade; proporção
de colmos na planta inteira; tamanho de partículas da cana picada), à vaca
(peso corpóreo; estágio fisiológico; nível de produção; composição genéti-
ca), e às condições de manejo e de clima (facilidade de acesso e disponibi-
lidade de cocho; manejo da alimentação; adaptação à dieta; presença de
abelhas; condições climáticas).

Na Tabela 2 foram compilados valores médios de consumo total


de MS apresentados em alguns trabalhos, em que vacas em lactação re-
ceberam dietas baseadas em cana-de-açúcar como volumoso exclusivo.
Os valores de CMS foram expressos em porcentagem do peso corpóreo
(%PV), visando eliminar o efeito do peso corpóreo do animal e ampliar o
leque de possíveis interpretações e comparações entre os resultados de
pesquisa.
Tabela 2. Médias de resultados de consumo total de matéria seca expresso em porcentagem do peso corpóreo
(CMS, %PV) obtidas em experimentos com vacas em lactação, recebendo dietas baseadas em cana-de-açúcar
910

como volumoso exclusivo.


Produção
CMS Composição
de leite Dieta Referência
(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Cana-de-açúcar (50%, base matéria seca – MS) suple-
mentada com concentrado (50% da MS) contendo 0%
3,46 Holandês x Gir 21,8 Souza (2011)
de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base matéria natural
– MN)
Cana-de-açúcar (50%, base MS) suplementada com
3,43 Holandês x Gir 21,8 concentrado (50% da MS) contendo 0,5% de ureia:sul- Souza (2011)
fato de amônio 9:1 (base MN)
Cana-de-açúcar (50%, base MS) suplementada com
3,24 Holandês x Gir 22,1 concentrado (50% da MS) contendo 1,0% de ureia:sul- Souza (2011)
fato de amônio 9:1 (base MN)
Cana-de-açúcar suplementada com fubá de milho
Lopes et al.
2,13 Holandês x Zebu 7,5 ou farelo de trigo (relação volumoso:concentrado =
(2008)
85:15%, base MS)
Holandês e Cana-de-açúcar suplementada com 3,0 kg vaca-1 dia-1 Valvasori et al.
2,69 18,4
Pardo-Suíço de farelo de soja (1995)
Cana-de-açúcar (50%, base MS) suplementada com Pires et al.
2,16(1) Holandês 16,0
concentrado (50% da MS) (2008)
Cana-de-açúcar (43,35%, base MS) suplementada com
Aquino et al.
2,73(1) Holandês 23,38 concentrado contendo 0% de ureia:sulfato de amônio
(2007)
Parte 8

9:1
Continua...
Tabela 2. Continuação.
Produção
CMS Composição
de leite Dieta Referência
Capítulo 2

(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Cana-de-açúcar (41,42%, base MS) suplementada com
Aquino et al.
2,82(1) Holandês 22,56 concentrado contendo 0% de ureia:sulfato de amônio
(2007)
9:1
Cana-de-açúcar (39,50%, base MS) suplementada com
Aquino et al.
2,76(1) Holandês 22,36 concentrado contendo 0% de ureia:sulfato de amônio
(2007)
9:1
Cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com
Mendonça
2,9 Holandês 19,0 concentrado (40% da MS) contendo 0,35% de ureia:-
et al. (2004a)
sulfato de amônio 9:1 (base MN)
Cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com
Mendonça
2,8 Holandês 18,6 concentrado (40% da MS) contendo 1,0% de ureia:sul-
et al. (2004a)
fato de amônio 9:1 (base MN)
Cana-de-açúcar (50%, base MS) suplementada com
Mendonça
3,1 Holandês 20,1 concentrado (50% da MS) contendo 1,0% de ureia:sul-
Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros

et al. (2004a)
fato de amônio 9:1 (base MN)
Cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com
Magalhães
3,27 Holandês 20,36 concentrado (40% da MS) contendo 3,24% de ureia:-
et al. (2004)
sulfato de amônio 9:1 (base MS)
Cana-de-açúcar suplementada com 3 kg vaca-1 dia-1 de
farelo de algodão (relação volumoso:concentrado = Aroeira et al.
2,5 Holandês x Zebu 6 a 10
77,5:22,5%, base MS) e 1,0% de ureia:sulfato de amônio (1995)
9:1 (base MN)
911

Continua...
Tabela 2. Continuação.
912

Produção
CMS Composição
de leite Dieta Referência
(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Dieta com 11,3% de proteína bruta, composta por
cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com Cordeiro et al.
2,35 Mestiça leiteira 10,98
1,0% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e (2007)
concentrado (40% da MS)
Dieta com 13,2% de proteína bruta, composta por
cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com Cordeiro et al.
2,7 Mestiça leiteira 12,11
1,0% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e (2007)
concentrado (40% da MS)
Dieta com 14,6% de proteína bruta, composta por
cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com Cordeiro et al.
2,85 Mestiça leiteira 12,79
1,0% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e (2007)
concentrado (40% da MS)
Dieta com 16,2% de proteína bruta, composta por
cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com Cordeiro et al.
2,99 Mestiça leiteira 13,88
1,0% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e (2007)
concentrado (40% da MS)
Cana-de-açúcar (84,16%, base MS) suplementada
5/8 Holandês x Vilela et al.
1,81 7,35 com 2,18% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MS) e
Zebu (2003)
12,33% de farelo de algodão (base MS)
Cana-de-açúcar (83,12%, base MS) suplementada
5/8 Holandês x Vilela et al.
1,45 7,13 com 3,22% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MS) e
Zebu (2003)
12,33% de milho moído (base MS)
Parte 8

Continua...
Tabela 2. Continuação.
Produção
CMS Composição
Capítulo 2

de leite Dieta Referência


(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Cana-de-açúcar (83,44%, base MS) suplementada
5/8 Holandês x Vilela et al.
1,78 7,71 com 2,90% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MS) e
Zebu (2003)
12,33% de farelo de trigo (base MS)
Cana-de-açúcar suplementada 0,5% de nitrogênio
3/4 Holandês x Lima et al.
3,37 18,65 não proteico (base MN) e com 8 kg vaca-1 dia-1 de
Zebu (2007)
concentrado
Cana-de-açúcar suplementada 0,5% de nitrogênio
3/4 Holandês x
2,89 16,20 não proteico (base MN) e com 4 kg vaca-1 dia-1 de 12
Zebu
concentrado
Cana-de-açúcar suplementada 0,5% de nitrogênio
3/4 Holandês x
2,32 13,96 não proteico (base MN) e com 2 kg vaca-1 dia-1 de 12
Zebu
concentrado
Cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com
Costa et al.
Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros

2,70 Holandês 16,9 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com


(2005)
concentrado (40% da MS)
Cana-de-açúcar (50%, base MS) suplementada com
Costa et al.
3,00 Holandês 18,82 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
(2005)
concentrado (50% da MS)
Cana-de-açúcar (40%, base MS) suplementada com
Costa et al.
3,34 Holandês 19,78 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
(2005)
concentrado (50% da MS)
913

Continua...
Tabela 2. Continuação.
914

Produção
CMS Composição
de leite Dieta Referência
(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Cana-de-açúcar (45,3%, base MS) suplementada com Corrêa et al.
3,48(1) Holandês 31,9
concentrado (54,7% da MS) (2003)
Dieta com balanço de proteína metabolizável (PM)
de -70 g dia-1, composta por cana-de-açúcar (63,93%, Voltolini et al.
2,86 Holandês 18,07
base MS) suplementada com 1,0% de ureia:sulfato de (2008)
amônio 9:1 (base MN) e concentrado (37,18% da MS)
Dieta com balanço de PM de 99 g dia-1, composta por
Voltolini et al.
2,75 Holandês 17,19 cana-de-açúcar (63,92%, base MS) suplementada com
(2008)
concentrado (37,18% da MS)
Dieta com balanço de PM de 210 g dia-1, composta por
Voltolini et al.
2,66 Holandês 17,42 cana-de-açúcar (63,92%, base MS) suplementada com
(2008)
concentrado (37,17% da MS)
Dieta com balanço de PM de 70 g dia-1, composta
por cana-de-açúcar (77,53%, base MS) suplementada Voltolini et al.
2,39 Holandês 10,00
com 1,0% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e (2008)
concentrado (22,47% da MS)
Dieta com balanço de proteína metabolizável (PM)
de 145 g dia-1, composta por cana-de-açúcar (77,53%, Voltolini et al.
2,22 Holandês 10,24
base MS) suplementada com concentrado (22,47% da (2008)
MS)
Continua...
Parte 8
Tabela 2. Continuação.
Produção
CMS Composição
Capítulo 2

de leite Dieta Referência


(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Dieta com balanço de proteína metabolizável (PM)
de 210 g dia-1, composta por cana-de-açúcar (77,53%, Voltolini et al.
2,19 Holandês 10,12
base MS) suplementada com concentrado (22,47% da (2008)
MS)
Cana-de-açúcar (40%, base MS) suplementada com
Oliveira et al.
3,42 Holandês 20,34 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
(2007a)
concentrado (60% da MS)
Cana-de-açúcar (40%, base MS) suplementada com
Oliveira et al.
3,29 Holandês 20,12 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
(2007a)
concentrado (60% da MS) contendo casca de café
Cana-de-açúcar (40%, base MS) suplementada com
Oliveira et al.
3,50 Holandês 19,13 1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
(2007a)
concentrado (60% da MS) contendo casca de soja
Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros

Cana-de-açúcar (60%, base MS) suplementada com


1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
2,91 Holandês 18,64 Sousa (2003)
concentrado (40% da MS) contendo 0% de caroço de
algodão
Cana-de-açúcar (53%, base MS) suplementada com
1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
3,25 Holandês 19,66 Sousa (2003)
concentrado (47% da MS) contendo 7% de caroço de
algodão (base MS da dieta)
915

Continua...
916

Tabela 2. Continuação.
Produção
CMS Composição
de leite Dieta Referência
(%PV) genética
(kg vaca-1 dia-1)
Cana-de-açúcar (46%, base MS) suplementada com
1% de ureia:sulfato de amônio 9:1 (base MN) e com
3,07 Holandês 20,55 Sousa (2003)
concentrado (47% da MS) contendo 14% de caroço de
algodão (base MS da dieta)
½ Holandês x Cana-de-açúcar (59% da MS) suplementada com con-
Peixoto et al.
3,27 Zebu a Holandês 16,73 centrado (41% da MS) contendo 500 g de ácido graxo
(1994)
PC complexado com sal de cálcio
½ Holandês x
Cana-de-açúcar (58% da MS) suplementada com Peixoto et al.
2,98 Zebu a Holandês 16,59
concentrado (42% da MS) (1994)
PC
Holandês,
Mantiqueira, Cana-de-açúcar (62% da MS) suplementada com Biondi et al.
2,125 8,8
Mestiça 5/8 concentrado (38% da MS) (1978)
Tropical
(1)
Valor calculado a partir de dados apresentados no trabalho.
Parte 8
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 917

Costa et  al. (2005), utilizando a mesma relação volumoso:concen-


trado (60:40), compararam cana-de-açúcar contendo 1% de ureia com
a silagem de milho e encontraram maior consumo (+22,51%) das dietas
contendo silagem de milho.
Resultados semelhantes foram encontrados por Magalhães et  al.
(2004) e Sousa (2003) (+15,0%), Corrêa et al. (2003) (+6,52%) e Mendonça
et al. (2004b) (+21,2%). Os últimos autores, entretanto, verificaram que nem
a redução do nível de ureia, de 1,00% para 0,35%, nem a redução da por-
centagem de volumoso, de 60% para 50%, foram suficientes para aumentar
o consumo das dietas à base de cana-de-açúcar. No entanto, Valvasori et al.
(2002) não observaram diferenças, mesmo com o aumento dos níveis de
cana-de-açúcar nas dietas em substituição à silagem de milho.
Costa et al. (2005) compararam o CMS por vacas leiteiras de três dietas
com cana-de-açúcar corrigida com 1% da mistura ureia e sulfato de amônio
(9:1) como volumoso único, nas proporções 60%, 50% e 40% de inclusão
(V:C de 60:40, 50:50, 40:60, respectivamente) e uma dieta com silagem de
milho na proporção de 60%. O consumo foi menor no nível de inclusão de
60% de cana-de-açúcar, intermediário no nível de 50% e maior no nível de
40%. Destaca-se que o CMS do tratamento com 40% de inclusão de cana-
-de-açúcar foi semelhante ao obtido com a dieta à base de silagem de mi-
lho na proporção de 60%.
Mendonça et  al. (2004a) avaliaram o comportamento ingestivo de
vacas leiteiras recebendo dietas contendo silagem de milho (V:C de 60:40)
ou cana-de-açúcar (V:C de 60:40 ou 50:50). As vacas alimentadas com die-
tas à base de cana-de-açúcar apresentaram maior tempo despendido em
ócio, menor CMS, e menor eficiência de ruminação, quando expressa em g
de FDN h-1.
Magalhães et al. (2006) trabalharam com cana-de-açúcar em substi-
tuição à silagem de milho em dietas para vacas em lactação e verificaram
que a cana-de-açúcar apresentou elevada proporção de fibra indigestível
918 Parte 8

em comparação à silagem de milho, uma vez que o coeficiente de digesti-


bilidade da FDN para a dieta com 100% de cana-de-açúcar correspondeu a
apenas 45,4% do valor obtido para aquela com 100% de silagem de milho.
Dessa forma, a baixa digestão da FDN da cana-de-açúcar pode ter feito o
alimento permanecer por mais tempo no rúmen, causando no animal o
efeito de enchimento e, consequentemente, limitando a ingestão de MS.

Digestibilidade
Segundo Andrade (1999), não foi encontrada diferença significativa
na digestibilidade da matéria orgânica (DMO) entre dietas com cana-de-
-açúcar (67,82%) e silagem de milho (67,59%). A baixa digestibilidade da
FDN nas dietas com cana-de-açúcar (22,49%) foi compensada pela alta
DMO da fração não fibrosa (87,58%). A sacarose da cana foi aparentemente
mais digestível que o amido da silagem.
Resultado semelhante foi encontrado por Magalhães (2001), que
também não encontrou diferenças nas digestibilidades aparentes da MS,
MO, PB e carboidratos totais, quando comparou diferentes níveis de subs-
tituição de silagem de milho por cana-de-açúcar. Houve decréscimo linear
na digestibilidade da FDN com o incremento da inclusão de cana-de-açúcar
na dieta. Esse fato pode estar relacionado ao maior teor de lignina presente
nas dietas à base de cana-de-açúcar (MENDONÇA et al., 2004b). Costa et al.
(2005) também não encontraram diferença nas digestibilidades da MS e da
DMO entre dietas com silagem de milho ou cana-de-açúcar.
Vilela et al. (2003) avaliaram diferentes suplementos para vacas mesti-
ças em lactação, alimentadas com cana-de-açúcar. As dietas experimentais
eram isoproteicas, e os tratamentos com maior inclusão de ureia, que foram
o de cana-de-açúcar mais ureia (CAU) e o de cana-de-açúcar, milho grão e
ureia (CMM), apresentaram maiores coeficientes de digestibilidade da FDN
e dos carboidratos. Segundo os autores, os menores consumos nas dietas
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 919

CAU e CMM, provavelmente provocados pelos maiores tempos de retenção


no rúmen, podem ter aumentado a digestão dos nutrientes nesse compar-
timento. As rações CAU e CMM foram as que apresentaram as quantidades
de ureia mais elevadas (3,52% e 3,22% na MS, respectivamente). Também
considera-se que a baixa palatabilidade da ureia pode ter contribuído para
obtenção de menores ingestões de MS nesses tratamentos.

Desempenho animal

Novilhas leiteiras
Andrade (1999) avaliou o fornecimento de dietas isoproteicas con-
tendo 320 g de FDN oriundas de cana-de-açúcar ou de silagem de milho
para novilhas da raça Holandês. O consumo de concentrado foi de 3 kg de
animal por dia. O ganho de peso diário foi 1.175 g por novilha no tratamen-
to com silagem de milho e 1.009 g por novilha naquele com cana-de-açú-
car. Segundo o autor, o menor desempenho das novilhas alimentadas com
cana-de-açúcar foi resultado da menor ingestão diária de energia, em razão
da redução no CMS. Entretanto, mesmo promovendo menor desempenho
animal, a cana-de-açúcar, segundo o autor, foi alternativa viável para a
recria de novilhas da raça Holandês, já que ganhos de peso próximos de
750 g dia-1 seriam suficientes para obtenção de primeiro parto aos 24 me-
ses de idade, com peso corporal de 500 kg a 550 kg.

Gallo (2001) conduziu experimento para determinar o teor máximo


permitido de cana-de-açúcar na dieta de novilhas da raça Holandês, que
não deprimiria o ganho diário de peso dos animais. As dietas eram isopro-
teicas e continham 62%, 70% ou 78% de cana-de-açúcar na MS. O CMS
caiu linearmente com a inclusão de cana-de-açúcar na dieta (7,4 kg; 6,8 kg;
6,6 kg, respectivamente). Não houve diferença significativa nos ganhos de
920 Parte 8

peso diários, que foram de 1.002 g dia-1, 979 g dia-1 e 951 g dia-1, respectiva-


mente, para inclusões dietéticas de 62%, 70% ou 78% de cana-de-açúcar.
Espinoza et al. (2006) avaliaram o ganho de peso, a produção de leite
e o intervalo entre partos de novilhas Holandês x Brahman, suplementadas
ou não com cana-de-açúcar, por 3 meses antes do parto. O tratamento 1 (T1)
era composto de pasto mais 1,5 kg de animal por dia de concentrado, e o
tratamento 2 (T2) pelos mesmos ingredientes do T1 mais 4 kg de cana-de-
-açúcar por dia com a adição de 4% de ureia. A média de produção de leite
por vaca foi de 6 L dia-1 e 8 L dia-1 para T1 e T2, respectivamente, com produ-
ção por lactação superior em 28% (1.269 L e 1.634 L, respectivamente para
T1 e T2) para os animais que receberam cana-de-açúcar. É provável que as
primíparas do T2 obtiveram maior produção de leite como consequência do
maior ganho de peso desde o sétimo mês de gestação até o momento do
parto (669 g por animal por dia versus 956 g por animal por dia). A suplemen-
tação com cana-de-açúcar promoveu melhor condição corporal dos animais
ao parto e diminuição do intervalo entre partos (454 versus 347 dias).

Vacas em lactação
Para se alcançar máxima receita sobre custos com alimentação, de-
vem-se formular dietas que sejam consumidas em grandes quantidades e
que contenham elevados níveis de nutrientes utilizáveis, assegurando, as-
sim, produção e condição corporal satisfatórias (MAGALHÃES et al., 2004).
As limitações nutricionais da cana-de-açúcar fazem com que seu uso
como volumoso exclusivo em dietas promova redução no consumo por
vacas leiteiras, conduzindo a desempenhos inferiores aos obtidos quando
a silagem de milho é utilizada.
Corrêa (2001), trabalhando com vacas de alta produção da raça
Holandês, comparou dietas com silagem de milho ou cana-de-açúcar como
volumoso único e encontrou produção diária de leite 2,5 kg inferior no tra-
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 921

tamento com cana-de-açúcar. Costa et al. (2005), por sua vez, encontraram
redução de 2,79  kg vaca-1. Mendonça et  al. (2004b) também observaram
que a produção de leite das vacas alimentadas com dietas à base de cana-
-de-açúcar como volumoso, independente do nível de ureia ou da relação
V:C, foi 2,77  kg menor que para aquelas que receberam dieta à base de
silagem de milho. A menor produção de leite das vacas alimentadas com as
dietas com maior participação de cana-de-açúcar pode ser explicada pelo
menor CMS e, consequentemente, menor consumo de nutrientes para dar
o suporte necessário à lactação.

Magalhães (2001), avaliando o efeito de quatro níveis de substituição


(0%; 33,3%; 66,6%; 100%) da silagem de milho por cana-de-açúcar em die-
tas para vacas com produção média de 24 kg dia-1 de leite, verificou que a
produção decresceu linearmente com o aumento nos níveis de substituição
da silagem de milho, o que pode ser explicado pela redução nos consumos
de MS, PB e NDT. Os animais que consumiram dietas com 0%, 33,3%, 66,6%
e 100% de cana-de-açúcar como volumoso apresentaram variação de peso
corporal de 0,89 kg dia-1, 0,49 kg dia-1, -0,16 kg dia-1 e -0,53 kg dia-1, respec-
tivamente. Segundo o autor, a resposta à utilização da cana-de-açúcar para
vacas leiteiras não está relacionada apenas à produção de leite, devendo-se
observar também a condição corporal dos animais ao longo da lactação.
Após realizar a análise dos dados produtivos e a análise econômica, o autor
concluiu que o nível de 33,3% de substituição foi técnica e economicamen-
te recomendável.

Rangel et  al. (2005) avaliaram o desempenho produtivo de vacas


leiteiras alimentadas com quatro dietas isoproteicas que utilizaram como
volumoso cana-de-açúcar adicionada de farelo de soja ou 0,4%, 0,8% e
1,2% da mistura ureia e sulfato de amônio (9:1). Não houve diferença para a
produção de leite (média de 20 kg vaca-1 dia-1), quando se comparou farelo
de soja com a ureia nos diferentes níveis de inclusão. No entanto, ocorreu
efeito linear crescente na produção de leite para o aumento dos níveis de
922 Parte 8

ureia. Os autores recomendaram o emprego do nível de 1,2% da mistura


ureia mais sulfato de amônio (9:1) para a correção nitrogenada da cana-
-de-açúcar.

Vilela et  al. (2003) avaliaram os suplementos ureia, milho moído,


farelo de algodão e farelo de trigo para vacas mestiças em lactação, com
produção média de leite de 7  kg dia-1, alimentadas com cana-de-açúcar.
A produção de leite das vacas que receberam o farelo de trigo foi maior que
daquelas alimentadas com as dietas contendo ureia, não havendo diferença
entre os demais tratamentos. Nesse estudo, foi verificada perda de peso de
0,8 kg dia-1, 0,2 kg dia-1 e 0,6 kg dia-1 e ganho de 0,1 kg dia-1, respectivamente,
para as vacas que consumiram as dietas com ureia, farelo de algodão, milho
moído e farelo de trigo. A eficiência alimentar foi superior nas dietas com
ureia e milho moído em relação àquela com farelo de algodão. Isso ocor-
reu devido às maiores perdas de peso corporal das vacas que receberam
as dietas suplementadas com ureia e milho moído. Segundo os autores,
para vacas mestiças de baixo potencial de produção, a suplementação que
apresentou os melhores resultados, baseados na produção e composição
do leite, CMS, digestibilidade dos nutrientes e eficiência alimentar, foi com
farelo de trigo.

Sousa et al. (2009) avaliaram o consumo e a digestibilidade aparente


dos nutrientes, a produção e a composição do leite de vacas 7/8 Holandês/
Gir, com aproximadamente 70 dias em lactação. Os tratamentos consistiram
de silagem de milho ou cana-de-açúcar contendo 0%, 7% ou 14% de caro-
ço de algodão (base MS). Na relação V:C estabelecida, 60:40, o tratamento
com silagem de milho foi superior para a maioria dos parâmetros avaliados.
A inclusão de caroço de algodão nas dietas não proporcionou ingestões
semelhantes às obtidas com silagem de milho, as quais foram 34%, 22% e
25% superiores às determinadas com a cana-de-açúcar contendo 0%, 7%
e 14% de caroço de algodão, respectivamente. As produções de leite com
correção para 3,5% de gordura foram superiores, aproximadamente, 30%
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 923

para a dieta à base de silagem de milho em relação àquela baseada em


cana-de-açúcar.
Pesquisas evidenciam menores produções de leite por vacas de
maior potencial de produção quando alimentadas com cana-de-açúcar em
comparação à silagem de milho (CORRÊA et al., 2003; MAGALHÃES, 2001).
Na literatura, consta que as produções médias obtidas com o fornecimento
de cana-de-açúcar são, aproximadamente, 25% menores que quando sila-
gem de milho é utilizada na dieta. No entanto, como relatado em diversos
trabalhos, à medida que se diminuiu a relação V:C nas dietas com cana-de-
-açúcar para valores menores que 50:50, obtiveram-se produções de leite
semelhantes às obtidas para os animais com dieta baseada na silagem de
milho na relação V:C 60:40 (COSTA et al., 2005; MENDONÇA et al., 2004b;
RODRIGUES, 1999).
Existe atualmente uma preocupação na avaliação dos alimentos para
produção de maiores teores de sólidos do leite em razão da remuneração
diferenciada por teores de gordura e proteína por alguns laticínios brasilei-
ros para o produtor. No entanto, Costa et al. (2005), Magalhães et al. (2004),
Mendonça et al. (2004b) e Sousa (2003), em trabalhos avaliando cana-de
-açúcar em substituição à silagem de milho para vacas em lactação, não
encontraram diferenças na composição de leite.
Revisando diversos trabalhos, Pereira (2006) concluiu que o uso mais
coerente da cana para vacas para leite seria em grupos de animais com
menor produção, normalmente vacas em meio e final de lactação, ou em
inclusões dietéticas mais baixas, associada a outro volumoso. Assim, a utili-
zação da cana-de-açúcar em fazendas que trabalham com bovinos leiteiros
especializados é viável, apesar da possibilidade de depressão do consumo
e da produção de leite de animais com alta demanda nutricional.
O uso estratégico dessa forrageira na recria, em vacas não lactantes, em
vacas em lactação com menor demanda nutricional e em baixas inclusões na
dieta de vacas de maior produção parece ser o mais indicado se a meta é
924 Parte 8

a expressão total do potencial genético produtivo da vaca. Entretanto, em


situações específicas, a menor renda bruta diária por vaca, decorrente da
depressão no desempenho animal em dietas formuladas com cana como
forrageira única, pode ser compensada por vantagens agronômicas e finan-
ceiras decorrentes da substituição da silagem de milho por cana, podendo
aumentar a viabilidade econômica do sistema de produção.

Cana-de-açúcar hidrolisada
Os carboidratos estruturais da cana-de-açúcar são fonte potencial de
energia de baixo custo para ruminantes. No entanto, tal uso como fonte de
energia é limitado por causa das baixas digestibilidade e taxa de degradação
da cana-de-açúcar e consequente baixo consumo voluntário. Esse fato está
relacionado, principalmente, com a estrutura da parede celular da cana-de-
-açúcar que protege os nutrientes da digestão microbiana no rúmen.
Quando a forragem apresenta alto teor de FDN, como das forrageiras
cortadas em idades avançadas, ou quando a fibra apresenta baixa digesti-
bilidade, como a da cana-de-açúcar (BOIN et al., 1987), o tratamento com
substâncias químicas visando melhorar a digestibilidade e a disponibilida-
de de nutrientes torna-se uma opção.
A cal micropulverizada, encontrada nas formas do óxido de cálcio
(CaO) e do hidróxido de cálcio (Ca(OH)2), que apresenta baixos teores de
magnésio (Mg), dioxinas e furanos, surge como alternativa segura e de
baixo custo quando comparada a outros tratamentos químicos. Nesse
sentido, já existem produtos à base de cal certificados pelo Ministério da
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) para alimentação animal.
O tratamento alcalino, quando influencia positivamente a digestibili-
dade das frações fibrosas, proporciona melhor aproveitamento da fibra da
dieta, disponibilizando mais energia para crescimento microbiano, elevan-
do o aporte de proteína para o intestino (EZEQUIEL et al., 2005).
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 925

Tradicionalmente, o uso de cana-de-açúcar baseia-se no corte diário


e no fornecimento imediato da forragem fresca. A utilização de CaO e do
Ca(OH)2 no tratamento da cana-de-açúcar tem o intuito de manter qua-
lidades nutritivas dessa forrageira por alguns dias, sem a necessidade de
cortes diários (OLIVEIRA et  al., 2007b). A utilização dessa técnica diminui
a frequência de cortes da forragem e de emprego de mão de obra, sem a
necessidade de investimento em equipamentos (MOTA et al., 2010).

Quando se adiciona cal à cana-de-açúcar, deve-se esperar aumento


no teor de matéria mineral (MM) e, consequentemente, diminuição no
teor de MO. Por esse aspecto, deve-se atentar para a formulação da ração
a fim de proporcionar uma dieta equilibrada em minerais, especialmente
em relação ao cálcio (Ca) e ao P. É preciso avaliar a biodisponibilidade do
Ca, assim como o próprio teor que a cana-de-açúcar apresenta na sua
composição, além das exigências nutricionais, de acordo com a categoria
animal. A cana-de-açúcar apresenta quantidade considerável de Ca, porém
a concentração de P é, de modo geral, muito baixa (OLIVEIRA et al., 2006).

O tratamento químico de volumosos tem sido objeto de estudos há


muito tempo. Entretanto, até hoje muitas dúvidas são levantadas sobre a
eficiência dos aditivos utilizados no que se refere à variação das respostas,
seja no valor nutritivo dos volumosos tratados, seja no desempenho dos
animais alimentados com essas dietas. Pires et al. (2010) revisaram a litera-
tura abordando os principais e mais utilizados produtos químicos, que são
a amônia anidra, a ureia, o hidróxido de sódio e o óxido de cálcio. Os autores
verificaram que, de modo geral, a amonização (tanto com amônia anidra
quanto ureia) apresenta resultados mais eficientes no desempenho animal
quando comparada ao hidróxido de sódio ou óxido de cálcio. Entretanto,
em relação ao valor nutritivo, tanto o hidróxido de sódio quanto o óxido de
cálcio têm apresentado maior eficiência na redução da parede celular e no
aumento da digestibilidade de volumosos tratados.
926 Parte 8

A justificativa para emprego de álcali reside no fato de as ligações


covalentes do tipo éster entre a lignina e a parede celular das gramíneas se-
rem particularmente susceptíveis ao ataque hidrolítico dessa base (SOEST,
1994).

De acordo com Klopfenstein (1980), o teor de lignina normalmente


não é alterado pelo tratamento químico. Então, o aumento na extensão da
digestão da celulose e das hemiceluloses é, provavelmente, por causa da
quebra das ligações com a lignina, sem atuar na sua remoção, melhorando
a digestibilidade da fibra pelo aumento na solubilidade das hemiceluloses
e na disponibilidade da celulose e das hemiceluloses.

O uso de óxido de cálcio, ou cal virgem, para tratamento hidrolítico de


forragens, tem por base a formação de hidróxido de cálcio, agente alcalino
com moderado poder de hidrólise da fibra (BERGER et al., 1994). Ao se adi-
cionar cal à cana-de-açúcar picada, ocorre alteração imediata de coloração
da cana, que passa de esbranquiçada para uma coloração amarelada. Essa
mudança imediata de coloração auxilia na verificação da homogeneização
da cana-de-açúcar com a cal.

Segundo Schmidt (2006), o objetivo principal da hidrólise da cana-


-de-açúcar não é o de permitir que o animal aproveite melhor a fibra da
cana, mas fazer o animal consumir mais cana-de-açúcar e, consequente-
mente, mais energia.

A maior ou menor ação da cal virgem ou hidratada sobre a digesti-


bilidade in vitro, principalmente da FDN e da FDA, depende de vários fato-
res, como a concentração de óxido de cálcio total, tamanho da partícula,
quantidade utilizada na hidrólise, forma de aplicação, homogeneização da
mistura (solução ou em pó), tempo de hidrólise, maturação e variedade da
cana-de-açúcar, entre outros (MOTA et al., 2010)

Independente da forma de aplicação, solução ou pó, Oliveira et  al.


(2006) verificaram que a hidrólise da cana-de-açúcar, adicionada de 0,5%
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 927

de cal, mostrou-se mais efetiva do ponto de vista da digestibilidade dos


nutrientes. Isso é interessante para o produtor, que não precisa de equi-
pamentos específicos para a mistura da cal com a água. Entretanto, os
autores ressaltaram que a aplicação a seco em grandes quantidades de
cana-de-açúcar picada apresenta limitação de ordem prática, quando feita
manualmente (OLIVEIRA et al., 2006).
Moraes et al. (2007) verificaram que a adição de 1,0% de cal virgem
na cana-de-açúcar fornecida após 24 horas de armazenamento prejudicou
o consumo dos nutrientes, com exceção do consumo de FDN, que não se
alterou. Os autores sugeriram que a queda no CMS pode ser em razão da
alta temperatura da cana com cal virgem e do pH alcalino, que podem ter
prejudicado a palatabilidade e limitado o consumo. Campos (2007), com-
parando a cana-de-açúcar pura ou com adição de 0,6% de cal virgem 24
horas após o tratamento, observou aumento da temperatura de 25 °C para
40 °C e do pH de 5,4 para 6,8.
Apesar dos bons resultados obtidos nas avaliações feitas por técnicas
in vitro, os resultados da literatura de ensaios com animais não vêm repe-
tindo a mesma tendência.
Campos (2007), avaliando dietas com cana-de-açúcar in natura ou
com 0,6% de CaO na matéria natural (MN), com diferentes níveis de inclu-
são de ureia em ovinos machos da raça Santa Inês, não observou diferença
no CMS e nas digestibilidades da MS e da FDN, com a adição da cal virgem.
Porém, em dietas com deficiência de PB, sem adição de ureia, houve redu-
ção do CMS.
Com relação às novilhas, Carvalho (2008) observou que os consumos
de MS, MO, extrato etéreo (EE), FDN, carboidratos totais (CHOT), CNF e NDT
(kg dia-1) não foram afetados pela adição do CaO à cana-de-açúcar, já os
consumos de MO, FDN e NDT diminuíram linearmente com as doses de
CaO. As digestibilidades da MO, fibra em detergente neutro corrigida pra
cinzas e proteína (FDNcp), CHOT e CNF e o teor de NDT das dietas não foram
928 Parte 8

afetados. Entretanto, o tratamento da cana-de-açúcar com CaO provocou


redução nas digestibilidades da MS e PB.

Pancoti (2009) estudou o efeito de diferentes tempos de exposição


(zero, 24, 48 e 72 horas) do CaO adicionado em 1% de MN na cana-de-açúcar
picada corrigida com 1% (MN) da mistura (9:1) de ureia e sulfato de amônio.
Foram utilizadas novilhas Holandês x Zebu, variando de 1/4 a 7/8 de compo-
sição genética. Os diferentes tempos de hidrólise não alteraram os consumos
e as digestibilidades aparentes da MS, MO, FDNcp, FDA, celulose (Cel), CHOT,
carboidrato solúvel em detergente neutro (CSDN), Ca, P, consumo de NDT e
de MS digestível, e o comportamento ingestivo das novilhas.

Em trabalho com novilhas mestiças, avaliou-se o efeito da cana-de-


-açúcar com 0% ou 1,0% de cal virgem na MN com três níveis de oferta
de concentrado (0%, 0,5% e 1,0% do PV). Os resultados mostraram que o
ganho médio diário e o peso vivo final dos animais não foram aumentados
pelo tratamento da cana-de-açúcar com a cal virgem (MORAES et al., 2007).

Carvalho (2008) trabalharam com vacas leiteiras Holandês x Zebu


alimentadas com dietas de 85% de cana-de-açúcar com doses crescentes
de CaO (0%, 0,75%, 1,5% e 2,25% na MN), e a cana tratada foi fornecida
aos animais após 24 horas e corrigida com 1% da mistura ureia/sulfato de
amônio (9:1) e 15% de concentrado. O autor não encontrou diferenças no
consumo dos nutrientes, na produção e na composição do leite pela adição
do CaO à cana-de-açúcar.

Alves et al. (2010) estudaram dietas contendo cana-de-açúcar in na-


tura ou hidrolisada associadas com girassol (semente, farelo ou óleo). Não
houve diferença significativa entre as dietas quanto à composição do leite,
sendo observados teores médios de 3,02% de proteína, 3,64% de gordura,
4,45% de lactose e 12,2% de sólidos totais.

Campos (2010) avaliou a utilização de cana-de-açúcar tratada ou não


com óxido de cálcio (0%, 0,5%, 1,0% e 2,0% na MN de CaO) na alimentação
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 929

de vacas Holandês x Gir em lactação. A adição de CaO, em diferentes níveis


de inclusão, não alterou os teores de EE, FDN, FDNcp, FDA, lignina (Lig), Cel,
hemicelulose (HCel), PB e P nas dietas. Contudo, à medida que os níveis de
inclusão no CaO aumentaram, reduziu-se o consumo da maioria dos nutrien-
tes (MS, MO, FDN, FDA, lignina, celulose, PB, extrato etéreo). Ao contrário,
observou-se aumento do consumo de Ca com o incremento na proporção
de CaO nas dietas. A adição de CaO causou redução da digestibilidade da
MS, da MO e da FDA, mas não alterou a digestibilidade da FDN e da FDNcp. A
adição de óxido de cálcio em dietas à base de cana-de-açúcar reduziu o teor
de proteína, extrato seco total e extrato seco desengordurado no leite; e, no
nível de inclusão de 2,0% de CaO, reduziu a produção de leite.
Baseando-se nessas informações, ainda considera-se que são
necessários estudos para avaliar quais são as melhores condições para o
tratamento da cana-de-açúcar com CaO antes da aplicação nas fazendas
comerciais (CHAUDHRY, 1998).

Silagem de cana
Uma questão recorrente entre técnicos e produtores refere-se ao
valor nutritivo da silagem de cana-de-açúcar comparativamente ao da
cana-de-açúcar in natura. A dificuldade do fornecimento diário de cana-
-de-açúcar picada, associada aos inconvenientes dos tratos culturais esca-
lonados, estimulou o interesse do produtor pelo processo de ensilagem.
A ensilagem da cana-de-açúcar permite a colheita de todo talhão em curto
espaço de tempo, à época do máximo valor nutritivo da forragem, maxi-
mizando manejo agronômico do canavial, além de viabilizar a utilização
de canaviais implantados em áreas distantes do cocho de alimentação
ou mesmo externas à propriedade, ou em casos de incêndios acidentais
ou excedentes de produção. Embora represente elevação dos custos de
produção de matéria seca comparativamente ao manejo diário de cortes,
os possíveis ganhos em produtividade, com a melhora do manejo agronô-
930 Parte 8

mico, poderiam diminuir as diferenças de custo entre a forragem fresca e


a conservada, especialmente por causa do aumento na longevidade do
talhão (NUSSIO; SCHIMIDT, 2005).

Os maiores custos observados na produção da silagem de cana, se


comparada à cana in natura, ocorrem em função de dois fatores principais:
as perdas de matéria seca no processo de ensilagem e os custos com ma-
quinário, lonas e mão de obra para o processo de ensilagem (MARCONDES
et al., 2011).

A cana-de-açúcar, por apresentar grande quantidade de carboidra-


tos solúveis, é altamente susceptível à ação de leveduras. No ambiente
anaeróbio do silo, as leveduras são capazes de gerar perdas significativas
de matéria seca em razão da fermentação alcoólica. O acúmulo de etanol
pode não somente representar perdas do material ensilado, mas também
aquelas decorrentes da recusa dos animais (QUEIROZ et al., 2008).

Segundo Nussio e Schmidt (2005), na ensilagem da cana-de-açúcar,


a obtenção de resultados técnicos e econômicos positivos depende, inva-
riavelmente, da escolha correta do aditivo a ser utilizado. O principal foco
dos estudos é a busca de aditivos que, incluídos na massa de forragem a ser
ensilada, inibam a fermentação alcoólica com vistas à redução de perdas
de MS.

A escolha de um aditivo para ensilagem deve ser baseada em


aspectos como: recuperação de MS, estabilidade após abertura dos silos
e relação custo e beneficio da aplicação, uma vez que, em poucos casos,
o desempenho dos animais é influenciado pela aplicação de aditivos no
momento da ensilagem (KUNG JÚNIOR; MUCK, 1997).

Marcondes et  al. (2011) realizaram meta-análise para verificar a


influência do uso de aditivos sobre a composição química e os parâme-
tros fermentativos de silagens de cana-de-açúcar. Foram utilizados 59
trabalhos, publicados entre 1999 e 2011, sendo avaliados os seguintes
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 931

aditivos: Lactobacillus plantarum, L. buchneri, ureia, CaO e NaOH. O aditivo


L.  plantarum não apresenta efeitos positivos sobre a ensilagem de cana-
de-açúcar, enquanto o L. buchneri, CaO, NaOH e a ureia podem ser reco-
mendados para ensilagem, pois melhoram a qualidade nutricional e os
parâmetros fermentativos da silagem de cana-de-açúcar.

A ensilagem de cana-de-açúcar mostra-se como alternativa estraté-


gica na produção de volumosos. Apesar da grande quantidade de trabalhos
com silagem de cana-de-açúcar desenvolvidos nos últimos anos, poucas
vezes se observa a avaliação do desempenho animal, principalmente de
vacas em lactação, recebendo silagem de cana-de-açúcar (MARCONDES
et al., 2011).

Harris Júnior et al. (2003), Pedroso et al. (2010), Santos et al. (2011) e
Valvasori et al. (1998) observaram redução na produção de leite quando a
silagem de cana-de-açúcar foi comparada com o fornecimento de outros
volumosos. Outros autores não observaram diferenças na produção de
leite quando a silagem de cana-de-açúcar foi comparada com silagem de
gramínea e cana in natura (SUKSOMBAT; JUNPANICHCHAROEN, 2005) e
silagem de milho e cana in natura (QUEIROZ et al., 2008).

Quando avaliado o CMS, os resultados também são contraditórios,


havendo inclusive aumento do consumo quando vacas da raça Holandês
foram alimentadas com silagem de cana-de-açúcar em substituição à de
milho (QUEIROZ et al., 2008).

A silagem de cana-de-açúcar como fonte de volumoso para vacas


pode suportar produções de até 20 kg dia-1 de leite, porém, para tal, é
necessário o suprimento de quantidades adequadas de concentrado com
composição química que atenda às exigências nutricionais desses animais
(MARCONDES et al., 2011). São necessários mais estudos avaliando a utili-
zação de silagem de cana-de-açúcar e o desempenho de bovinos leiteiros.
932 Parte 8

Considerações finais
A cana-de-açúcar pode ser utilizada para a alimentação de bovinos
leiteiros obtendo-se bons resultados de desempenho produtivo.

Para a tomada de decisão de quando utilizar dietas baseadas em


cana-de-açúcar, é necessário avaliar a produtividade de matéria seca por
hectare, desempenho dos animais, categoria animal, consumo de matéria
seca, variação de peso, digestibilidade dos nutrientes, taxa de passagem,
eficiência alimentar e viabilidade econômica.

A cana-de-açúcar pode ser utilizada com sucesso como base da


dieta para animais de recria, para vacas não lactantes ou para aquelas em
lactação com menor demanda nutricional. Sugerem-se baixas inclusões da
cana-de-açúcar na dieta de vacas com produções de leite mais elevadas.
A decisão sobre o nível de inclusão da cana-de-açúcar nas dietas deve ser
baseada nas exigências nutricionais dos animais que serão suplementados,
na sua capacidade de ingestão e na composição dos demais ingredientes
da dieta.

Os trabalhos de pesquisa com animais que avaliaram o uso de cana-


-de-açúcar hidrolisada na alimentação de gado de leite não têm demons-
trado bons resultados quando comparados ao desempenho dos animais
com dietas baseadas em cana-de-açúcar in natura. São necessários mais
estudos para determinar qual o aditivo, o nível de inclusão, o tempo de
hidrólise e a viabilidade econômica da técnica.

Os aditivos L. buchneri, CaO, NaOH e a ureia podem ser recomenda-


dos para ensilagem, pois melhoram a qualidade nutricional e os parâmetros
fermentativos da silagem de cana-de-açúcar. Porém, são necessários mais
estudos avaliando a utilização de silagem de cana-de-açúcar e o desempe-
nho de bovinos leiteiros.
Capítulo 2 Cana-de-açúcar na alimentação de rebanhos leiteiros 933

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Impressão e acabamento
Embrapa Informação Tecnológica

O papel utilizado nesta publicação foi produzido conforme a certificação


do Bureau Veritas Quality International (BVQI) de Manejo Florestal.

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