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Piracicaba
2020
1. INTRODUÇÃO
Chegando à usina, os veículos com cana são pesados, são retiradas amostras da carga de
cana para fins de pagamento de cana pela qualidade e é feito o descarregamento da cana nas
mesas laterais para limpeza via úmida (lavagem com água) ou via seca, visando a redução das
impurezas minerais e vegetais que acompanham a matéria-prima. A seguir a cana é desintegrada
pela ação das facas rotativas e dos desfibradores, visando a aumentar a capacidade e extração, e
conduzidas para extração por moagem (compressão) ou difusão (lixiviação). Da extração
resultam o caldo misto e o bagaço. O bagaço é queimado nas caldeiras com a finalidade de gerar
vapor e energia para a usina.
O caldo misto é encaminhado à purificação: peneiragem para separar impurezas
grosseiras (palha, bagacilho, ..), caleagem, sulfitação e aquecimento, visando a provocar uma
mudança de reação do meio e consequente floculação dos colóides. Após o aquecimento, faz-se
a decantação do caldo para precipitar os colóides floculados, visando à separação das impurezas
no resíduo decantado (lodo). O caldo claro segue para a fase de concentração, realizada em duas
etapas: evaporação (concentração até 55-65o Brix) para obtenção do xarope, e posterior
cozimento até estado de supersaturação para cristalização da sacarose. Ao final do cozimento,
tem-se a massa cozida (mistura de cristais de sacarose e mel), que é colocada em um
cristalizador em movimento para completar o crescimento dos cristais.
A seguir a massa cozida é centrifugada, onde se separa o mel dos cristais. O açúcar
resultante (cristal) é encaminhado para secagem, classificação e acondicionamento, e o mel
retorna ao processo para esgotamento da sacarose. O mel esgotado em sacarose, chamado
melaço ou mel final, é encaminhado à destilaria para a produção de etanol.
Por meio do refino do açúcar cristal são produzidos o açúcar refinado e o açúcar refinado
granulado. As etapas da fabricação do açúcar refinado são: dissolução de açúcar cristal e
purificação, evaporação e solidificação, secagem e resfriamento, e peneiramento. As etapas da
fabricação do açúcar refinado granulado são: evaporação e cristalização, centrifugação e
secagem, e peneiramento.
Lodo Cristalização
complementar
Vinhaça
Retificação Flegmaça Leite de Tratamento ácido com
levedura H2SO4 (pH 2,5 / 2 h)
Óleo de fúsel
ENGLER CRONQUIST
Divisão Angiospermae Magnoliophyta
Classe Monocotyledoneae Liliopsida
Sub Classe - Commelinidae
Ordem Graminales Cyperales
Família Gramineae Poaceae
Tribo Andropogonae Andropogonae
Sub Tribo Saccharininae Saccharininae
Gênero Saccharum Saccharum
A qualidade da cana para a indústria não deve ser avaliada apenas pelo seu teor de
sacarose, embora seja o parâmetro mais importante. Outros fatores são também importantes para
a indústria. Quanto à fibra, altos teores dificultam a extração do caldo, exigindo um melhor
preparo de cana. Baixos teores de fibra diminuem a quantidade de bagaço, ocasionando um
desequilíbrio térmico da fábrica. No princípio, as variedades de cana eram pobres em fibra,
gerando pouco bagaço, porém, com o melhoramento genético, foram selecionadas canas com
maiores teores de fibra visando a produção de energia.
O florescimento causa o “chochamento” do colmo, resultando em um aumento
proporcional do teor de fibra, diminuindo capacidade de moagem e extração, devido ao maior
volume do material fibroso em processo.
No caldo, cuja composição depende da cana, interessa ao tecnologista o teor de sacarose,
de açúcares redutores e de cinzas. A quantidade de sacarose presente no caldo é fundamental
para um bom processamento e rendimento na indústria. O teor de açúcares redutores (glicose e
frutose) varia de 0,2 a 1,0% na cana madura. Teores mais elevados mostram um estágio de cana
imatura, ou, por outro lado, estágio avançado de deterioração. Os açúcares redutores diminuem a
solubilização da sacarose, facilitando assim a cristalização. Os componentes das cinzas do caldo,
com exceção do fósforo, comportam-se como fatores negativos de recuperação da sacarose,
especialmente no processo de cristalização. Estes componentes também são responsáveis pelas
incrustações nos aparelhos. As substâncias proteicas e gelatinosas aumentam a viscosidade do
caldo, dificultando as etapas do processo de fabricação de açúcar e álcool
Uma vez que o rendimento industrial está diretamente relacionado com o teor de sacarose
da cana, a avaliação do estágio de maturação da cana é a análise mais importante dentre as
operações preliminares da fabricação do açúcar ou do álcool.
O período no qual a cana se encontra em condições adequadas de maturação para o
processamento determina a safra da cana. Com o decorrer dos anos foram sendo selecionadas
variedades visando a ampliação da safra que inicialmente era de 60 dias, e atualmente é de cerca
de 7 meses, de maio a novembro.
Durante o seu ciclo, a cana-de-açúcar atravessa dois períodos distintos com relação ao
teor de sacarose da planta. No primeiro, ocorre intenso crescimento vegetativo acompanhado por
uma gradual formação e acúmulo de sacarose; no segundo, ocorre um predominante acúmulo de
sacarose, motivado pela escassez dos principais fatores de desenvolvimento vegetativo.
Para caracterizar o período em que uma cana pode ser processada, foi estabelecido o
“Período Útil de Industrialização” (PUI). Com base neste critério, estabelece-se o mínimo de
13% para a Pol da cana como sendo satisfatório para a industrialização das diferentes variedades
(Figura 5).
Quanto ao teor de sacarose, as variedades podem ser agrupadas em ricas (Brix > 22),
médias (Brix 18-22) e pobres (Brix < 18). Quanto à época do pico de maturação, as variedades se
classificam em precoces (maio-junho), médias (julho-setembro) e tardias (outubro-dezembro).
Quanto ao PUI podem ser divididas em curto (60 dias), médio (90 dias) e longo (120 dias).
Figura 5. Comportamento das variedades de cana com relação ao Período Útil de
Industrialização (PUI).
Via de regra, observa-se que as variedades precoces atingem a linha de base (Pol = 13%)
logo no início da safra, por volta de abril-maio e a sua riqueza em sacarose continua a crescer até
atingir um máximo em agosto-setembro, para depois iniciar o declínio, demonstrando possuir um
PUI longo, acima de 150 dias. As variedades médias irão alcançar o valor de Pol igual a 13%
somente mais tarde, ao redor do mês de julho, atingindo o máximo de maturação em setembro,
sem, contudo, ultrapassar a curva das precoces, e logo entram em declínio, mostrando PUI de
120 a 150 dias. As canas tardias alcançam o valor mínimo para industrialização por volta de
agosto e setembro. O seu PUI é curto, entre 70 a 120 dias e, de um modo geral, a sua riqueza em
sacarose é inferior ao das variedades precoces, de PUI longo. Desta forma, as variedades tardias
têm um menor interesse industrial.
A associação da broca-da-cana (cupim subterrâneo, larva do lepidóptero Diatreae
saccharalis) com a podridão vermelha, causada pelo fungo Colletotrichum falcatum, ocasiona
quedas na produtividade agrícola e no rendimento industrial, pois são formados ácidos
orgânicos, gomas e toxinas (inibidores de fermentação) na matéria-prima.
A associação broca-podridão causa diminuição da Pol e aumentos de açúcares redutores,
fibras e gomas. As galerias abertas no colmo pela broca são portas de entrada para os
microrganismos deterioradores.
A qualidade da cana industrial também é influenciada pela quantidade de matéria
estranha (impurezas mineral e orgânica) carregada para a indústria juntamente com a cana. A
quantidade de impurezas é afetada pelas condições edafo-climáticas, aumentando em períodos
chuvosos pelas condições deficientes de queima e carregamento.
Devido às impurezas na matéria-prima, a cana inteira deve ser lavada na indústria,
operação que acarreta uma perda de sacarose da ordem de 1 a 2%. Além de afetarem a
quantidade e qualidade da cana, as impurezas causam o desgaste dos equipamentos, prejudicam
o processamento e afetam a qualidade do produto final.
A cana picada não deve ser lavada, pois a perda de sacarose seria muito grande devido ao
aumento da área de exposição de colmo. Este tipo de cana carrega maior quantidade de
impurezas à fábrica, da ordem de 5 a 7%, constituídas por impurezas orgânicas (folhas e palha),
reduzindo a capacidade de moagem e a extração.
A deterioração da cana-de-açúcar pode ser fisiológica, tecnológica ou microbiológica,
sendo esta última é mais importante por ser a que mais problemas ocasiona nos processos de
fabricação de açúcar, álcool e aguardente.
A cana-de-açúcar é uma planta com metabolismo C4, sendo que o primeiro composto
formado na fixação do CO2 durante a fotossíntese é o ácido oxalacético.
As folhas da cana-de-açúcar possuem dois tipos distintos de cloroplastos, os localizados
nas células do mesófilo foliar e os localizados nas células da bainha vascular.
O CO2 fixado nas células do mesófilo, como oxalacetato, é reduzido a malato, que por
sua vez é transportado para as células da bainha do feixe vascular, onde é descarboxilado pela
enzima malato-desidrogenase. O CO2 assim transformado entra no ciclo de Calvin e é convertido
em hexose (glicose e frutose).
A glicose, por ação da hexoquinase, é transformada em glicose-6-fosfato, que por sua vez
é transformada em glicose-1-fosfato pela ação da fosfoglucomutase. A glicose-1-fosfato é então
transformada em UDP-glicose pela uridil transferase. A frutose, pela ação da fosfofrutoquinase,
é transformada em frutose-6-fosfato, a qual reage com a UDP-glicose, na presença de sacarose-
fosfato-sintetase, produzindo sacarose-6-fosfato, que é transformada em sacarose pela ação da
sacarose-fosfatase.
A sacarose se armazena principalmente nos entrenós mais velhos, aumentando, portanto,
em acúmulo, do topo para a base da planta. Com a glicose é o inverso, o seu teor decresce em
direção à base da planta. Atualmente, são utilizados reguladores vegetais e produtos químicos
para o controle do florescimento e da maturação da cana-de-açúcar.
Quando o Brix refratométrico médio do talhão for igual ou superior a 18% ou o Índice de
Maturação for maior que 85%, amostras de cana deste talhão são encaminhadas para as
determinações tecnológicas laboratoriais, as quais fornecem dados mais precisos do estágio de
maturação da planta, sendo a rigor uma confirmação dos resultados do refratômetro de campo.
A amostragem de cana, que deve ser representativa do talhão, é feita através da coleta de
10 colmos seguidos na linha de cana, os quais são enfeixados, etiquetados e enviados ao
laboratório logo após serem coletados. Este sistema coleta colmos de diferentes idades (1 o, 2o e
3o perfilhos) e é o sistema que melhor representa o talhão, pois evita a escolha de colmos.
As canas do feixe são desintegradas em forrageira, homogeneizadas, quarteadas e uma
amostra de 500 g é colocada em uma prensa hidráulica onde, sob a ação de uma pressão de 250
Kgf/cm2 durante um minuto, o seu caldo é extraído e, posteriormente, encaminhado às análises
laboratoriais.
No laboratório são realizadas as determinações de Brix através de refratômetro; de Pol
(porcentagem de sacarose aparente, em massa) através de sacarímetro; de açúcares redutores
(expresso em % de açúcar invertido, em massa por volume) através de sacarimetria química
(Método de Lane-Eynon), e é calculada a pureza do caldo, segundo a fórmula:
Pol
P (%) x100
brix
Após a pesagem, faz-se a amostragem da cana de cada caminhão para fins de pagamento
da cana entregue. A remuneração da cana entregue nas indústrias atualmente é feita com base na
qualidade da matéria-prima. O descarregamento é feito mecanicamente, através de guindastes e
basculantes.
Com a liberação dos preços do setor sucroalcooleiro em 1999, foi adotado um sistema
para remunerar a matéria-prima com base no Açúcar Total Recuperável (ATR). A sequência das
etapas do processo de análise de cana, para fins de pagamento baseado no ATR, está mostrada na
Figura 9. Após o caminhão carregado com cana passar pela pesagem na entrada da usina, é feita
uma amostragem da sua carga, que consiste na retirada de 3 amostras em diferentes pontos da
carga do veículo quando se utiliza sonda horizontal. Tais pontos situam-se em 3 diferentes
alturas e 3 diferentes distâncias longitudinais da carga, procurando assim que a amostra seja
representativa da carga de cana. Sondas oblíquas retiram uma única amostra representativa da
carga do caminhão. Em cargas de cana colhida mecanicamente e picada, a amostra pode ser
retirada de um único ponto qualquer da carga.
As amostras retiradas são enviadas ao laboratório para serem analisadas
tecnologicamente. O preparo da amostra retirada consiste na reunião das amostras obtidas em
cada uma das perfurações, se for o caso, com posterior desintegração e homogeneização.
A extração do caldo da amostra é realizada pela prensagem de 500g da amostra, as quais
refletem as condições de operação da moenda. Da extração resultam o caldo extraído e o resíduo
fibroso, denominado bagaço-prensa ou bolo úmido, que é utilizado no cálculo indireto do teor de
fibra da cana. O caldo extraído é enviado às determinações de Brix por refratometria, de Pol por
sacarimetria e de açúcares redutores (AR) por fórmula. Através do teor de fibra e de coeficientes,
os dados de caldo são convertidos em cana. Estas determinações tecnológicas também podem ser
realizadas por Espectrometria de Infravermelho Próximo (NIRS - Near Infra-Red System) após a
definição das curvas de calibração para as condições locais. Este sistema apresenta vantagens
quanto à velocidade de análise, ao número de determinações e à economia de reagentes e mão-
de-obra.
Figura 9. Sequência das etapas do processo de análise de cana para fins de pagamento.
O valor da tonelada de cana é estipulado em função do ATR: ATR (kg/t) = (9,5263 x PC)
+ (9,05 x AR), onde PC = Pol da cana e AR = teor de açúcares redutores da cana.
6. RECEPÇÃO DA CANA
As canas são descarregadas diretamente nas mesas laterais a fim de alimentar o processo.
Estes receptores se destinam a alimentar a esteira principal que conduz aos equipamentos de
preparo e, posteriormente, à moenda ou ao difusor.
A cana-de-açúcar é recebida na indústria nas chamadas mesas laterais (Figura 10),
constituídas de um tablado fixo de chapas de ferro ou de lona de borracha, sustentado por um
pedestal de ferro e com inclinação de 15 a 45o e largura e comprimento de 8 a 10 m.
Figura 10. Guindaste Hilo para descarregamento da cana nas mesas laterais.
Das mesas laterais a cana é conduzida para a esteira principal, pela qual, após sofrer
intensa desintegração por aparelhos preparadores, chega ao sistema de extração. A esteira
principal de cana é constituída por partes fixas (colunas, vigas, chapas e trilhos) e por partes
móveis (lonas de borracha, correntes com taliscas e engrenagens), possuindo comprimento de 35
a 40 m. A parte fixa, que tem por função suportar o lençol de borracha ou talisca e o peso da
cana. A parte móvel é constituída pelo tapete rolante, de lona ou com correntes e taliscas de
ferro.
7. PREPARO DA CANA PARA A EXTRAÇÃO DO CALDO
- da destruição da resistência das partes duras (casca e nós), exigindo menor pressão das
moendas para a extração desejada e, consequentemente, menor desgaste;
- do rompimento dos vasos celulares, para uma maior exposição das células parenquimatosas à
ação das moendas ou dos difusores (índice de open-cell);
- da produção de uma massa fibrosa, densa e homogênea, diminuindo espaços vazios nas
esteiras e no colchão de cana desfibrada, aumentando assim a capacidade de extração.
Com a utilização das facas rotativas e dos desfibradores (Figura 12), tem-se as seguintes
consequências do preparo da cana para extração:
A cana desfibrada chega à primeira moenda, recebendo uma primeira compressão entre o
cilindro anterior e superior e uma segunda compressão entre o cilindro posterior e o superior.
Tem-se, assim, o caldo conhecido como “primário”, que é aquele que sai da primeira moenda e
não recebe embebição, e que deve corresponder a cerca de 70% de todo caldo extraído pelo
conjunto de moagem para uma boa eficiência do processo. O bagaço resultante da primeira
moagem segue pela esteira intermediária, onde passa pelo processo de embebição (Figura 18),
que corresponde à adição de água ou caldo diluído visando a uma maior extração do caldo
residual, e é direcionado para o 2º terno de moagem, recebendo novamente as duas pressões,
como mencionado anteriormente. Os esmagamentos se sucedem para os ternos seguintes. O
bagaço final, que possui uma umidade em torno de 50%, segue para as caldeiras de produção de
vapor que será utilizado nas etapas do processamento e no acionamento das próprias moendas.
A partir do segundo terno, o teor relativo de fibra da cana aumenta devido ao caldo
extraído no primeiro terno. Assim, a embebição permite aumentar a umidade do bagaço entre os
ternos, possibilitando que com a pressão das moendas, mais caldo possa ser extraído. Como um
aumento de 1% no teor de fibra da cana acarreta uma diminuição de cerca de 1,5% na extração,
se não houvesse a embebição, extrair-se-ia no máximo 90% do caldo da cana, pois o bagaço,
passando de uma moenda para a outra, tem o seu teor de fibra aumentado e, consequentemente, a
extração diminuída. Com a embebição chega-se a 94-96% de extração.
O caldo misto é uma solução diluída de sacarose que contém impurezas dissolvidas e em
suspensão, representadas pelas impurezas sólidas (resíduos finos de bagaço) e impurezas
coloidais (sais minerais e não açúcares orgânicos, como proteínas, ceras, etc.). O objetivo da
purificação é obter um líquido claro e límpido, por meio da eliminação das impurezas em
suspensão, dos sais solubilizados e das substâncias solúveis de origem orgânica, sem, no entanto,
afetar o teor de sacarose e dos açúcares redutores.
A purificação do caldo consta de duas operações: peneiragem e clarificação. A primeira
visa retirar as impurezas grosseiras do caldo e a segunda, especialmente a eliminação das
impurezas coloidais. A clarificação engloba as operações de sulfitação, caleagem, aquecimento e
decantação do caldo, e filtração do lodo decantado. A intensidade da clarificação depende do
produto final a ser produzido (açúcar branco, açúcar bruto - VHP ou álcool).
O princípio empregado na clarificação do caldo em processamento fundamenta-se na
coagulação máxima de seus coloides e na formação de um precipitado insolúvel que adsorva e
arraste, por decantação, as impurezas responsáveis pela sua natureza turva e opalescente. A
clarificação considera dois pontos importantes: a mudança de reação do meio, visando
coagulação; e a temperatura, visando floculação.
10.1. PENEIRAGEM
O caldo misto extraído pelas moendas, possuindo entre 13 e 16o Brix, começa a ser
purificado já na saída da moenda, por meio de uma peneiragem, em equipamento denominado
Cush-Cush, que tem a finalidade de remover as impurezas mais grosseiras contidas no caldo,
como pedaços de cana e bagaço. O material retido nesta peneira retorna à extração.
Em seguida, o caldo é enviado por bombas até as peneiras rotativas, vibratórias ou
estáticas (DMS), de malhas mais finas, com a finalidade de remover as impurezas grosseiras que
passaram pela primeira peneiragem, como por exemplo bagacilho. O caldo misto peneirado
segue para os outros tratamentos do processo de clarificação.
O bagacilho, se não retirado do processo, pode causar entupimento de canalizações,
bombas e registros, além de prejudicar a qualidade final do açúcar, por causar problemas na
cristalização.
10.2. CLARIFICAÇÃO
No Brasil são utilizados dois processos de clarificação do caldo, segundo o tipo de açúcar
que se deseja produzir: a defecação simples e a sulfo-defecação. A defecação simples é utilizada
na produção de açúcar demerara (bruto) e na produção do açúcar VHP (“Very High Polarization"
- açúcar de polarização muito alta). A sulfo-defecação é utilizada na fabricação de açúcar cristal
branco.
Este processo é usado para a obtenção do açúcar cristal bruto (VHP). O método baseia-se
no emprego do hidróxido de cálcio [Ca(OH) 2], chamado de leite de cal [CaO + H2O
Ca(OH)2,] visando à mudança da reação do meio (pH passando de 5,2 para 7,5-8,3), com
posterior aquecimento. O íon de cálcio (Ca2+) reage com os compostos fosfatados do caldo
produzindo o fosfato de cálcio, que é o agente agregador e precipitador das impurezas coloidais
do caldo. Assim, com a adição do hidróxido de cálcio e com o aquecimento ocorre a floculação
dos coloides, os quais se adsorvem ao fosfato de cálcio, precipitam e são retirados do processo.
A seguir, o caldo caleado é enviado aos aquecedores, onde atingirá temperatura de 103-105ºC.
2 x( s c )
Vs xg
18 c
Após sofrer os tratamentos químico e térmico, o caldo de cana é deixado em repouso por
certo tempo, para se realizar a remoção das impurezas por coagulação, floculação e posterior
sedimentação das mais densas e flotação das menos densas que o caldo.
O objetivo da decantação é permitir a separação gravimétrica dos coloides, os quais
separam-se em 3 fases:
- fase superior: compreende as impurezas menos densas que o caldo, as quais sofrem flotação;
- fase intermediária: é o caldo clarificado;
- fase inferior: compreende as impurezas mais densas que o caldo, que sofrem decantação.
Figura 22. Esquema geral do tratamento de caldo misto para produção de açúcar cristal branco.
A operação de filtração do lodo visa recuperar o caldo arrastado junto com as borras, que
encerram de 10 a 15% de caldo e representam cerca de 2% da sacarose da cana moída.
Antigamente a filtração era feita em filtros prensa, nos quais as borras eram forçadas
através de um conjunto de superfícies filtrantes, ficando as borras retidas e o caldo claro filtrado
fluía. Atualmente esta operação é feita em filtros rotativos à vácuo (Oliver-Campbell) (Figura
23).
Figura 23. Esquema de funcionamento de um filtro rotativo contínuo à vácuo.
O filtro rotativo é um tambor cilíndrico, acionado por motor elétrico, que gira em torno
do seu eixo horizontal a uma velocidade de rotação de 6 a 20 rph. Este tambor possui paredes
duplas perfuradas, a interna com malha de 2,5 a 3,0 mm de diâmetro e a externa com malha de
0,5 mm de diâmetro. Na parte inferior está a calha de mistura de lodo e bagacinho, que é o
elemento filtrante, pois as borras são gelatinosas e não têm condição de serem filtradas sozinhas.
A quantidade de bagacinho empregada é de 4 a 6 kg/tonelada de cana.
A mistura lodo e bagacinho é admitida na calha e liga-se o vácuo, iniciando a rotação do
filtro. Quando a primeira seção entra no líquido (lodo + bagacinho), o baixo vácuo inicia sua
ação a fim de formar uma camada filtrante uniforme. Logo que a seção emerge do líquido é
lavada duas vezes com água pulverizada aquecida a 60-70o C. A água, juntamente com o vácuo,
farão a extração do caldo do lodo em filtração. Após a segunda lavagem, é feita a secagem do
lodo pela ação do alto vácuo.
O caldo filtrado pelo baixo vácuo, que representa de 30 a 60% do total, é turvo, pois
ainda não está propriamente formada a camada filtrante. Com a camada filtrante formada, o
vácuo é aumentado e obtém-se o caldo claro, que representa de 40 a 70 % do total. O aumento do
vácuo é necessário porque o lodo se espessa, as partículas vão se achatando e a porosidade
diminui, com crescente resistência à filtração. Assim, há uma diferença de 10 a 15% entre o Brix
do caldo turvo e do caldo claro.
O caldo claro é retornado ao processo de clarificação e o caldo turvo é retornado ao lodo.
A torta produzida, aproximadamente 40 kg por tonelada de cana, é enviada ao campo como
adubo orgânico. A torta possui uma umidade entre 65 e 85% e de 0,5 a 1,5 % de açúcar, o que
representa uma perda de açúcar da ordem de 0,1 a 0,4% do total.
11. CONCENTRAÇÃO DO CALDO
O caldo clarificado que flui para os evaporadores é uma solução diluída de sacarose de 13
a 16o Brix e que apresenta uma temperatura variável entre 95 e 98ºC. Por razões de ordem
econômica e técnica, a concentração do caldo clarificado até a fase da cristalização da sacarose
dissolvida é realizada em dois estágios:
11.1. EVAPORAÇÃO
TERCEIRO PRINCÍPIO: “em todo aparelho no qual se condensa vapor, é necessário extrair
continuamente o acúmulo de gases não condensáveis (principalmente gases amoniacais) que, por
via de regra, ficam internamente próximos à superfície superior da calandra”.
O primeiro vaso de evaporação é diferenciado dos demais pelo seu tamanho maior.
Denomina-se pré-evaporador. O caldo entra no pré-evaporador com cerca de 15o Brix
aproximadamente e sai com 20-25o Brix, seguindo daí para o primeiro vaso propriamente dito do
quádruplo-efeito. Na realidade, este conjunto funciona como um quíntuplo-efeito (Figura 25).
O funcionamento deste conjunto obedece ao seguinte esquema: o caldo clarificado flui do
decantador e é encaminhado a uma caixa alimentadora do pré-evaporador. O aquecimento deste
vaso é feito com vapor de escape das turbinas e os vapores resultantes do pré-evaporador seguem
para a alimentação do primeiro vaso do quádruplo-efeito, dos cozedores e dos aquecedores. Os
vapores originados pelo aquecimento deste primeiro vaso do quádruplo-efeito vão, através de um
tubo de grosso diâmetro, para à calandra do segundo vaso, fazendo ferver o caldo nele contido.
Os vapores deste segundo vaso são encaminhados à calandra do terceiro vaso, fervendo o caldo
nele contido. Os vapores originados neste terceiro vaso são aquecer e evaporar o caldo do quarto
vaso. Os vapores deste último vaso vão para os condensadores para serem transformados em
água aquecida a 50-55 °C. Da mesma forma que os vapores, porém por tubulações inferiores, o
caldo passa de um vaso para o outro, tendo a sua concentração de açúcar aumentada
progressivamente.
Os gases do último vaso, sendo condensados, criam uma condição de vácuo neste vaso e,
consequentemente, no sistema. No primeiro vaso não se tem vácuo, pois é fervido com vapor de
escape. Assim, percebe-se que o conjunto trabalha sob condições crescentes de vácuo e,
consequentemente, decrescentes de pressão, considerando-se do primeiro ao último vaso (Figura
26). Com esta diminuição da pressão, consegue-se a diminuição da temperatura de ebulição do
caldo em evaporação, permitindo assim a utilização do vapor vegetal, que possui temperatura
igual ou inferior à 100oC, e ainda permite a menor formação de substâncias corantes. O caldo
passa de um vaso para o outro devido a estas diferenças de pressão, até sair na condição de
xarope no último vaso.
Da mesma forma que ocorre nos aquecedores, nos evaporadores também ocorrem as
incrustações que, por um lado são favoráveis porque retiram impurezas do caldo e melhoram a
purificação e a qualidade final do açúcar, mas por outro lado são desfavoráveis porque diminuem
a transferência de calor. As incrustações nos evaporadores são decorrência de duas condições:
- a condição de saturação do caldo em açúcar precipita os elementos incrustantes,
principalmente nos últimos vasos;
- a condição de temperatura alta pode favorecer a precipitação de sais, principalmente nos
primeiros vasos.
A remoção das incrustações pode ser mecânica através de raspagem ou química através
de soluções ácidas (HCl) ou básicas (NaOH).
11.2. COZIMENTO
a) solução não saturada (diluída ou instável): esta solução pode ainda dissolver mais sacarose.
b) solução saturada (estável): esta solução não tem a propriedade de dissolver mais sacarose.
c) solução supersaturada (instável): solução com concentração de sacarose diluída acima da
saturada, porém sem que haja a formação ou crescimento de cristais. Na prática, esta solução é
conseguida por resfriamento ou evaporação das soluções saturadas.
S'
C. S . S
S"
onde:
C.S.S = coeficiente de supersaturação;
S’ = massa de sacarose dissolvida em 100 partes de água de uma solução supersaturada, de
pureza R e a temperatura t ºC;
S” = massa de sacarose diluída em 100 partes de água de uma solução saturada de pureza 100 e a
temperatura t ºC.
Em uma solução, não se formam e nem crescem cristais de sacarose a menos que se leve
a mesma à uma condição de supersaturação. Na fabricação do açúcar, esta condição de
supersaturação, que permite a nucleação e o crescimento dos cristais de sacarose, ocorre sempre
depois da concentração progressiva de certa quantidade de xarope nos cozedores. Na prática
industrial, a nucleação ocorre quando o CSS está entre 1,2 e 1,5.
As três zonas de supersaturação em que está baseado o andamento de um cozimento são
as seguintes (Figura 28):
b) ZONA INTERMEDIÁRIA: esta zona é contestada por alguns autores e, se existir, é tão
reduzida que não apresenta nenhuma importância prática. Os seus limites são: CSS = 1,2 a 1,3.
Nesta faixa ocorrem:
- formação de novos núcleos, porém somente na presença de cristais existentes;
- crescimento dos cristais existentes;
- tendência para o limite inferior.
c) ZONA LÁBIL: seus limites são: CSS = 1,3 a 1,5. Nesta faixa ocorrem:
- nucleação espontânea;
- crescimento dos cristais existentes;
- tendência para o limite inferior.
480 82,7
40
1.
460 82,0
30
Partes de sacarose por 100 partes de água
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240 70,6
Temperatura ºF
FASE INICIAL: para iniciar o cozimento, o operador põe em funcionamento o sistema de vácuo
do aparelho através do condensador e ejetor à vapor, condensador e bomba de vácuo ou
simplesmente o multijato. Essa diminuição de pressão “aspira” o xarope até cobrir a superfície
superior da calandra. Após a alimentação do aparelho, o operador abre a válvula de vapor e
regula a pressão para 650 mm Hg, o que estabelece uma temperatura em torno de 65ºC. Nestas
condições de pressão e temperatura, há a evaporação de água do xarope, com consequente
concentração em sacarose. Para compensar a saída de água evaporada, filetes contínuos de
xarope são admitidos no cozedor, mantendo assim o nível de trabalho constante.
A formação dos cristais de sacarose pode ser realizada por três métodos:
FASE FINAL: o crescimento dos cristais, também conhecido por levantamento do cozimento, é
realizado em condições normais de vácuo e temperatura, e na zona metaestável para evitar a
formação de novos e pequenos cristais. É feita uma alimentação contínua e lenta com xarope,
mel rico ou mel pobre, dependendo da pureza que se quer obter na massa cozida.
Ao final do cozimento, faz-se o “aperto”, que é uma situação de máxima concentração
antes da massa cozida ser descarregada. É uma operação difícil de ser realizada, pois tem-se que
evaporar água quando a circulação da massa cozida é muito difícil devido à sua alta viscosidade.
Após o “aperto” final da massa cozida, corta-se o vapor, fecha-se o sistema de vácuo,
abre-se a válvula quebra-vácuo e abre-se a válvula de descarga, sendo a massa cozida
encaminhada através de canaletas aos cristalizadores. Após a descarga, lava-se o cozedor e a
água doce resultante desta lavagem é encaminhada ao tanque de mel, onde é novamente aquecida
para dissolver os cristais de sacarose presentes.
Na fabricação do açúcar podem ser empregados vários esquemas de cozimento, os quais
visam, em última análise, a obter um maior ou menor esgotamento do melaço ou mel final, em
função do rendimento industrial desejado. Pela aplicação de um maior número de massas (de 1 a
3, na prática), o mel final é mais pobre em sacarose (Figura 29).
A massa cozida, que é semi-sólida, viscosa e escura, pode ser representada em duas fases:
a fase sólida, representada pelos cristais de sacarose; e a fase líquida, representada pelo mel ou
licor-mãe. Ao sair dos cristalizadores, a massa cozida segue para depósitos localizados sobre as
centrífugas, chamados mexedores.
Os cristais de sacarose são separados do mel pela ação da força centrífuga em centrífugas
de fluxo intermitente ou de fluxo contínuo, dependendo da natureza da massa cozida. As de
fluxo contínuo somente são utilizadas para massas pobres em sacarose, pois ocasionam quebra
de cristais. As centrífugas de fluxo intermitente são conhecidas por separadoras de cesto de
paredes paralelas e as centrífugas de fluxo contínuo são conhecidas por separadoras de cesto
cônico (Figura 31).
O ar de secagem deve ser aquecido, pois a remoção de umidade cresce com o acréscimo
de temperatura do ar. O grau de saturação em umidade do ar de entrada também tem importância
na eficiência da secagem.
O açúcar entra nos secadores com uma temperatura entre 52 e 60ºC e deve deixá-lo com
30 a 35ºC. Para isto, o ar não deve ser aquecido a temperaturas superiores a 95-105ºC. Em geral,
sua temperatura está entre 70 e 90ºC. Temperaturas acima de 110ºC podem caramelizar o açúcar.
Os secadores verticais, também cilíndricos, secam o açúcar em contra corrente com ar
quente. O açúcar desce pelas bandejas metálicas enquanto que o ar quente sobe pelo secador. São
secadores menos comuns nas usinas porque causam maior atrito do açúcar com as superfícies
metálicas, podendo ocasionar perda de brilho e quebra dos cristais.