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TRILHA DE PENSAMENTO
O estudo do INC
A EDUCAÇÃO A educação infantil é a primeira etapa da educação básica no Brasil.
Ela está dividida em duas modalidades de atendimento ou serviço:
FORMAL COMEÇA • Creche, para crianças de até 3 anos de idade (opcional).
COM A CRECHE • Pré-escola, para crianças de 4 a 5 anos de idade (obrigatória). Muito se tem falado sobre a relação entre a oferta e a demanda de creche
no Brasil desde que a Constituição Federal de 1988 reconheceu a educação
infantil como parte do direito fundamental à educação da população brasi-
A demanda por
leira e a tomou para si como um dever do Estado. creche em cada
EM QUE CONSISTE ESTA DIREITO DA
Ainda que a oferta de vagas e a frequência em creche/escola tenham município pode variar
PUBLICAÇÃO? crescido em ritmo acelerado nos últimos anos, esse avanço parece não se
CRIANÇA
refletir no fim das longas listas de espera das prefeituras, principalmente
bastante, sendo
Esta publicação foi construída com base no estudo nas grandes cidades e entre as populações mais vulneráveis. maior ou menor que
Revisão do INC e estimativas de frequência em OPÇÃO DA FAMÍLIA
Em 2014, o Plano Nacional de Educação (PNE), instituído pela Lei no os 50% estipulados
creche conforme critérios do INC, 2018-2020.
A CRECHE 13.005/2014, estipulou como Meta 1 a ampliação da oferta de educação in-
na meta do PNE
Ela apresenta os aprimoramentos metodológicos
feitos no Índice de Necessidade de Creche (INC)
NO BRASIL É DEVER DO ESTADO fantil em creches de modo a atender a no mínimo 50% das crianças de 0 a
e atualiza dados deste índice com base na 3 anos até 2024.
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Todavia, é importante notar que esta meta do PNE corresponde a uma
(Pnad) Contínua 2019. Além disso, como principal ATRIBUIÇÃO DOS média nacional e não representa necessariamente a demanda por creche
novidade, introduz estimativas de frequência em MUNICÍPIOS, COM
em cada município, percentual que pode variar bastante, sendo maior ou
creche para cada grupo considerado prioritário A COLABORAÇÃO
DA UNIÃO menor que 50%, conforme as características da população.
para o cálculo do INC.
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O ESTUDO DO INC
O fato é que, nos diferentes municípios brasileiros, pouco se conhece a – passa a saber mais sobre a necessidade das crianças e das famílias em sua
ESTUDO PREEXISTENTE respeito dos diferentes níveis de necessidade das famílias por uma vaga em localidade, o que o ajuda a planejar melhor a oferta de creche.
A constituição do INC foi creche e sobre o que o acesso a este tipo de serviço representa para cada Mais do que isso, o INC se apresenta como uma ferramenta de apoio
Nos municípios,
um aperfeiçoamento de
criança, cada pai e mãe e cada cidade. Neste sentido, a pedido da Fundação ao gestor no mapeamento e definição de prioridades para suas políticas de pouco se conhece a
uma versão anterior deste
índice, criada em 2015 como Maria Cecilia Souto Vidigal, a Quantis Consultoria Financeira debruçou-se oferta de creche, de modo que possa enfrentar um dos maiores desafios respeito dos diferentes
proposta para aplicação no sobre um estudo preexistente e desenvolveu, em 2019, o Índice de Necessi- da educação brasileira e do desenvolvimento infantil nos tempos atuais:
estado do Rio Grande do Sul.
níveis de necessidade
dade de Creche (INC). combater a desigualdade de oportunidades, focalizando nos segmentos po-
Tal metodologia teve origem
pulacionais que mais precisam. das famílias por uma
na Fundação de Economia
e Estatística (FEE) com um FOCO NOS QUE MAIS PRECISAM vaga em creche
grupo de trabalho imbuído O INC é um índice que permite estimar, nos vários entes federados, a
de calcular a necessidade quantidade de vagas requeridas para atender à necessidade por creche da
de creche nos municípios
do estado no contexto da população brasileira em zona urbana, com base em critérios de priorização Os índices levantados pela nova rodada de estudo do INC podem
aprovação do novo PNE. A para este atendimento. ser consultados na página Primeira Infância Primeiro
modelação da metodologia (www.primeirainfanciaprimeiro.org.br), da Fundação Maria Cecilia Souto
Tais critérios têm como foco as crianças que mais precisam – aquelas em
do INC, para estimar a Vidigal. A plataforma dá suporte aos gestores dos 5.570 municípios brasileiros
situação mais vulnerável, considerando aspectos como pobreza, monopa-
necessidade por creche na elaboração de planos e políticas que atendam às necessidades de apoio,
para todos os municípios do rentalidade e participação/potencial de participação da mãe ou do cuidador proteção e desenvolvimento da primeira infância, que é o período que
Brasil a partir da experiência principal no mercado de trabalho. abrange os primeiros 6 anos completos da criança.
gaúcha, foi realizada mediante A metodologia e os conceitos que definem o INC foram compilados pela
solicitação da Fundação Maria
primeira vez no documento Desafios do acesso à creche no Brasil: subsídios
Cecilia Souto Vidigal.
para o debate, lançado pela Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal em 2020.
O trabalho teve a assinatura de três pesquisadores: Marcos Vinício Wink, AS LEIS BRASILEIRAS E A CRECHE
professor adjunto do Departamento de Ciências Econômicas da Universi-
DESAFIOS DO ACESSO À dade do Estado de Santa Catarina (Udesc); Rafael Bernardini, pesquisador Constituição Federal de 1988 e Estatuto da aos 4 anos de idade da criança e vai até a
CRECHE NO BRASIL estatístico no governo do Estado do Rio Grande do Sul; e Thomas Kang, pro- Criança e do Adolescente (ECA), instituído pela adolescência, aos 17 anos.
Para conhecer esta Lei no 8.069/1990
publicação, clique aqui.
fessor da Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM – Sul e da Escola
Frequentar a creche é um direito da criança e Plano Nacional de Educação 2014-2024 (PNE),
de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (EESP/FGV).
matriculá-la na creche é uma opção dos pais. instituído pela Lei no 13.005/2014
Mas o esforço não parou aí e evoluiu, em 2021, para a realização do Garantir atendimento em creche é dever do poder A Meta 1 do atual PNE assumiu como compromisso
estudo Revisão do INC e estimativas de frequência em creche conforme público, sendo a oferta da educação infantil, universalizar, até 2016, a educação infantil na
critérios do INC, 2018-2020, que agora embasa esta segunda publicação. prioritariamente, uma competência dos municípios. pré-escola para crianças de 4 a 5 anos e ampliar
a oferta de educação infantil em creches de forma
Além da atualização do INC no âmbito do Brasil, dos estados, dos mu- Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional a atender, no mínimo, 50% das crianças de até 3
nicípios e do Distrito Federal, este novo trabalho traz como grande contri- (LDB) – Lei no 9.394/1996 anos até 2024, ano final de vigência do plano.
buição o cálculo de estimativas de frequência em creche para cada grupo A educação infantil, primeira etapa da educação
básica, tem como finalidade o desenvolvimento Marco Legal da Primeira Infância (MLPI),
considerado prioritário no INC. No caso das capitais e do Distrito Federal,
integral da criança de até 5 anos de idade, em instituído pela Lei no 13.257/2016
também foram calculados dados intramunicipais do INC. seus aspectos físico, psicológico, intelectual e A educação infantil constitui uma das áreas
social, complementando a ação da família e da prioritárias das políticas públicas para a primeira
PROJEÇÕES SOBRE FREQUÊNCIA E NÃO FREQUÊNCIA comunidade. Ela será oferecida em creches, ou infância. A expansão da educação infantil deverá
entidades equivalentes, para crianças de até se dar de modo a assegurar a qualidade da oferta,
Em outras palavras, tomando-se como exemplo o grupo sociodemográfico
3 anos, e em pré-escolas, para crianças de abrangendo aspectos de infraestrutura, qualificação
das famílias em situação de pobreza, o mais recente estudo do INC possibilita 4 a 5 anos. É dever do Estado ofertar educação de profissionais, currículo e materiais pedagógicos
estimar a quantidade de crianças nessas famílias que se encontram em idade infantil gratuita às crianças, cabendo aos municípios adequados. No cumprimento da Meta 1 do PNE,
de creche e, portanto, estão aptas a utilizar este tipo de serviço, bem como pro- oferecê-la. A União atua em colaboração com a expansão da educação infantil das crianças de
os municípios, exercendo função normativa, 0 a 3 anos deverá atender aos critérios definidos
jetar quantas dessas crianças frequentam as creches e quantas não frequentam. redistributiva e supletiva.. A creche não faz parte da no território nacional pelo competente sistema de
De posse desses dados, o gestor público – especialmente o gestor mu- educação básica obrigatória, que começa ensino, em articulação com outras políticas sociais.
nicipal, a quem constitucionalmente compete a oferta de educação infantil
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TRILHA DE PENSAMENTO
Conceitos e critérios de
O QUE É ÍNDICE DE NECESSIDADE DE CRECHE (INC)
priorização do INC
Parâmetro criado para medir a NECESSIDADE POR CRECHE nos municípios. Também
pode ser adotado em níveis estadual e federal.
O Índice de Necessidade de Creche (INC) é um parâmetro criado para
medir a necessidade por creche nos municípios, que são os entes federa-
IDENTIFICA A PARCELA DA dos que têm a incumbência da educação infantil. Ele considera apenas as O INC permite
POPULAÇÃO DE 0 A 3 ANOS QUE crianças residentes em zona urbana e pode ser adotado também em ní-
RESIDE EM ZONA URBANA E QUE ZONA URBANA identificar e
veis estadual e federal. O INC permite identificar e dimensionar a parcela
MAIS PRECISA DE CRECHE, SEGUINDO O foco do trabalho são as áreas urbanas, onde a
da população de 0 a 3 anos que mais precisa de creche segundo critérios de dimensionar a
demanda por creches é maior e a distância entre
CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO.
a casa da criança e a creche não é, em tese, um priorização para o atendimento. parcela da
empecilho para o atendimento. Crianças que já frequentam creche e que fazem parte dos grupos de população de 0 a
maior necessidade também são consideradas pelo INC. A essência do índi-
ce é a necessidade que uma criança apresenta por estar na creche, dadas as
3 anos que mais
circunstâncias em que ela vive, e não o fato de ela estar matriculada na cre- precisa de creche
• Crianças provenientes de famílias em situação de pobreza
che ou não. Assim, o INC agrega novos elementos e perspectivas ao debate segundo critérios de
público sobre ampliação de vagas em creche.
• Crianças não pobres de famílias monoparentais priorização para o
São três os critérios de priorização adotados para o cálculo do INC que,
CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO quando combinados, permitem dimensionar a necessidade por creche para atendimento
• Crianças não pobres, de famílias não monoparentais, com
as crianças de 0 a 3 anos de uma localidade:
mães/cuidadores principais economicamente ativos, ou que
seriam economicamente ativos se houvesse creche, e que
apresentam evidências de necessidade CRIANÇAS PROVENIENTES DE FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO DE PO-
BREZA
As crianças provenientes de famílias em situação de pobreza são as
FÓRMULA que apresentam maior vulnerabilidade social. Em geral, elas estão mais
Proporção de crianças de zona urbana de expostas à privação de recursos materiais, à insegurança alimentar e
INC
famílias em situação de pobreza
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CONCEITOS E CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO DO INC
a situações de violência. Em um estudo acerca de programas voltados familiares ou babás, mesmo tendo creches ao alcance e dentro de suas
à primeira infância para crianças vulneráveis, os economistas James possibilidades financeiras. E também é verdade que restrições finan-
As crianças Heckman e Dimitriy Masterov associaram “baixos níveis de recursos ceiras podem impedir que crianças sejam inseridas na creche, mesmo
financeiros” a ambientes adversos para o desenvolvimento das crianças. entre famílias não pobres. A fim de estimar a proporção de crianças
provenientes de
Assim, parte-se do princípio de que todas as crianças pobres se benefi- nessa condição que necessitam de creches, verificou-se a frequência em
famílias em situação ciariam da frequência a uma creche de boa qualidade. creches das crianças provenientes da população de maior renda (os 20%
de pobreza são as No cálculo do INC, foram consideradas pobres as crianças provenientes de
mais ricos). Supõe-se que não haja restrição financeira que impeça essas
que apresentam maior famílias situadas abaixo da linha de pobreza. Como referência para situação
vulnerabilidade social de pobreza, partiu-se de um valor de renda familiar per capita de R$ 140 em
2011. Tal valor correspondia ao dobro da renda familiar per capita de pesso-
as em situação de extrema pobreza, conforme estipulado naquele ano pelo ETAPAS DA METODOLOGIA
A composição do
Plano Brasil sem Miséria, do governo federal. Para o estudo do INC, os valo-
res foram atualizados conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor ESTIMATIVA DA POPULAÇÃO COM IDADE ENTRE 0 E 3 ANOS EM INC dos estados,
CADA MUNICÍPIO
(INPC), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). do Distrito Federal
Foram consultadas, entre outras fontes, as Estimativas Populacionais
do IBGE (versão construída pelo Tribunal de Contas da União) para o
e do Brasil deriva
CRIANÇAS NÃO POBRES DE FAMÍLIAS MONOPARENTAIS
período 2018-2020, as projeções estaduais do IBGE (atualização da Pnad das cifras de INC
Contínua 2019), o Censo Demográfico 2000 e o Censo Demográfico 2010.
São as crianças que não estão na linha de pobreza, pois essas já foram
dos municípios
ESTIMATIVA DA PROPORÇÃO DE CRIANÇAS DE ZONAS URBANAS
incluídas no grupo acima, e que residem em domicílios em que há ape- NOS GRUPOS PRIORITÁRIOS
nas uma pessoa com 18 anos de idade ou mais. Neste caso, as crianças
Em seguida, estimou-se a proporção de crianças de 0 a 3 anos residentes
dessas famílias podem ficar desassistidas se não houver vagas em cre- em zonas urbanas e pertencentes aos três grupos prioritários definidos
che disponíveis, por conta dos compromissos de trabalho de seu único para o estudo, também para o período 2018-2020, conforme os critérios
cuidador, seja ele a mãe, o pai ou outro adulto responsável. já descritos (crianças em situação de pobreza, crianças não pobres
de famílias monoparentais e crianças não pobres de famílias não
Os pesquisadores Heckman e Masterov lembram que a monoparentalida- monoparentais, com mães economicamente ativas ou que poderiam ser).
Neste caso, serviram de subsídio informações do Censo Demográfico 2010
População Economicamente de está associada à maior probabilidade de deterioração do ambiente fami-
Ativa (PEA) e da evolução da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) em
liar, com consequências para o desenvolvimento emocional e cognitivo da nível estadual. Foram adotados parâmetros e procedimentos estatísticos
Na definição do IBGE, a criança. Portanto, da mesma forma que nas famílias em situação de pobre- específicos com a finalidade de minimizar flutuações amostrais, bem
População Economicamente
za, todas as crianças de famílias monoparentais necessitam prioritariamen- como para projetar os dados de 2020, uma vez que o IBGE ainda não
Ativa (PEA) compreende o
disponibilizou a edição correspondente da Pnad Contínua.
potencial de mão de obra te de creche.
com que o setor produtivo
pode contar, a oferta efetiva
ESTIMATIVA DO INC DOS MUNICÍPIOS
de trabalho numa economia. CRIANÇAS NÃO POBRES, DE FAMÍLIAS NÃO MONOPARENTAIS, De posse dos dados descritos, partiu-se para a composição do INC de
Para o cálculo da PEA, são cada município propriamente. Em que pese o fato de que cada localidade
consideradas tanto a população COM MÃES/CUIDADORES PRINCIPAIS ECONOMICAMENTE ATI-
tem o seu próprio INC, o índice é sempre resultado de uma mesma
ocupada – pessoas que, VOS, OU QUE SERIAM ECONOMICAMENTE ATIVOS SE HOUVESSE fórmula: a soma (a) da proporção de crianças de zona urbana de famílias
num determinado período
de referência, tinham um
CRECHE, E QUE APRESENTAM EVIDÊNCIAS DE NECESSIDADE em situação de pobreza com (b) a proporção de crianças de zona urbana
trabalho – quanto a população não pobres de famílias monoparentais e, por último, com (c) uma parcela
Este grupo prioritário é composto por crianças que vivem em duas dife- da proporção de crianças de zona urbana não pobres, de famílias não
desocupada – pessoas que não
tinham trabalho num período rentes condições. A primeira se refere àquelas cujas mães (ou outro cui- monoparentais, cuja mãe/cuidador principal é economicamente ativo ou
de referência, mas estavam dador principal, no caso de não ser a mãe) são economicamente ativas seria economicamente ativo se houvesse creche.
dispostas a trabalhar e que,
para isso, tomaram alguma e que dedicam parte da rotina a atividades de trabalho. Essas crianças COMPOSIÇÃO DO INC DOS ESTADOS E DO PAÍS
providência efetiva nos últimos são fortes candidatas a receber atendimento em creche.
30 dias, como procurar um A composição do INC dos estados, do Distrito Federal e do Brasil deriva
emprego. Porém nem todas as mães economicamente ativas buscam e/ou conse- das cifras de INC dos municípios.
guem atendimento em creche para suas crianças. Algumas recorrem a
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CONCEITOS E CRITÉRIOS DE PRIORIZAÇÃO DO INC
crianças de frequentar creches se este for o desejo e necessidade de suas DEFINIÇÃO DOS GRUPOS PRIORITÁRIOS
famílias. Tem-se aqui, portanto, uma evidência de necessidade.
O estudo da O estudo da frequência em creche versus a renda das famílias demons-
frequência em creche trou que, já a partir dos segmentos de renda superior à média, há uma
versus a renda das tendência de ao menos metade das famílias optar pela creche. Assim,
para o cálculo da necessidade de creche das crianças com mães econo-
famílias demonstrou micamente ativas, usou-se como referência o percentual de crianças de
CRIANÇAS DE
0 A 3 ANOS
que, já a partir dos 0 a 3 anos que frequentam creche entre a população 20% mais rica, que
RESIDENTES NA
ZONA RURAL
RESIDENTES NA
ZONA URBANA
segmentos de renda é de cerca de 50%.
superior à média, A segunda situação de crianças neste grupo prioritário diz respeito às
há uma tendência de mães que não conseguem fazer parte da População Economicamente
Ativa (PEA) justamente porque não há creches disponíveis para elas.
ao menos metade das Essa parcela de mães foi estimada a partir de uma comparação com um NÃO POBRES EM SITUAÇÃO DE
POBREZA
famílias optar outro segmento populacional: as mães que têm filhos com idade de pré-
pela creche -escola, entre 4 e 6 anos, e que são economicamente ativas. É sabido
que a rede de pré-escolas é muito maior que a de creches no Brasil,
chegando a contemplar perto de 95% das crianças na faixa etária cor-
respondente. Se os índices de atividade econômica das mães da pré-es-
cola forem superiores aos das mães de crianças em idade de creche, há GRUPO PRIORITÁRIO
indícios de que a falta de creches esteja tirando algumas dessas mães da FAMÍLIAS NÃO FAMÍLIAS DAS CRIANÇAS
força de trabalho, evidenciando necessidade de creche. MONOPARENTAIS MONOPARENTAIS DE FAMÍLIAS EM
SITUAÇÃO DE
Vale notar que, para efeito de projeção das mães economicamente ativas POBREZA
ou que assim o seriam, optou-se por calcular o INC a partir dos dados
apenas das mães economicamente ativas nas edições 2018 e 2019 da
Pnad Contínua.
GRUPO
EVOLUÇÃO DA METODOLOGIA
Grupo das mães/cuidadores
PRIORITÁRIO
Grupo das mães/cuidadores Grupo das mães/cuidadores
Como já dito na introdução deste documento, os resultados do INC pu- principais economicamente principais não economicamente principais economicamente ativos
DAS CRIANÇAS
blicados no estudo de 2020 foram alterados por dois motivos: a inclusão de ativos com evidências de ativos, que assim o seriam se ou não, para quem a creche não NÃO POBRES DE
necessidade houvesse creche é um ponto de apoio essencial FAMÍLIAS
dados da Pnad Contínua 2019, que estavam indisponíveis no momento da e que podem optar por não MONOPARENTAIS
colocar as crianças na creche
realização do estudo anterior, e mudanças na compatibilização metodológi-
ca entre a Pnad Contínua e o Censo Demográfico 2010. Tal medida buscou
minimizar eventuais distorções de dados, uma vez que o recenseamento de
2010 fica cada vez mais distante e que a nova edição do Censo Demográfico
foi adiada por conta da pandemia de Covid-19.
Como os microdados do suplemento de educação da Pnad Contínua GRUPO PRIORITÁRIO DAS CRIANÇAS
NÃO POBRES, DE FAMÍLIAS NÃO
2020 não estavam disponíveis no período de condução do estudo, as infor- MONOPARENTAIS, COM
mações referentes a 2020 ainda são projeções. Estes dados serão atualiza- MÃES/CUIDADORES PRINCIPAIS
dos após a divulgação dos microdados pelo IBGE. ECONOMICAMENTE ATIVOS, OU
QUE ASSIM O SERIAM SE HOUVESSE
Para maior compreensão do Índice de Necessidade de Creche (INC) e de CRECHE, E QUE APRESENTAM
sua aplicabilidade, no próximo capítulo apresentaremos o caso concreto da EVIDÊNCIAS DE NECESSIDADE
composição do INC Brasil.
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TRILHA DE PENSAMENTO
INC Brasil, regiões e estados
Em 2019, 42,4% das crianças de 0 a 3 anos de idade
enquadravam-se nos critérios de priorização do INC, sendo:
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INC BRASIL, REGIÕES E ESTADOS
COMPONENTES DO ÍNDICE DE NECESSIDADE DE CRECHE Nas regiões Norte e Nordeste, por exemplo, entre 2018 e 2020, a maior
BRASIL E REGIÕES GEOGRÁFICAS – % DA POPULAÇÃO DE 0 A 3 ANOS DE IDADE parte do INC é determinada pela proporção de crianças em situação de po-
O INC Brasil 2018 foi 2018
breza. Em contrapartida, nas regiões Sudeste e Sul, a maior parcela do índi-
ce é atribuída às crianças com mães economicamente ativas ou que seriam
de 40,6%, enquanto BRASIL 16,1% 3,7% 20,7% INC = 40,6%
economicamente ativas se houvesse creche.
o INC Brasil 2019 NORTE 21,9% 2,6% 9,2% INC = 33,7%
A figura a seguir mostra com clareza como essa tendência se manifestou
NORDESTE 23,8% 3,0% 12,9% INC = 39,7%
totalizou 42,4% e o em 2019, o ano escolhido para uma análise mais detida, uma vez que os
SUDESTE 12,7% 4,0% 26,6% INC = 43,2%
INC Brasil 2020 foi dados de 2020 são projeções. A região Sudeste apresentou o maior INC do
SUL 8,8% 4,5% 29,7% INC = 43,0%
país, com 45,4% das crianças de 0 a 3 anos necessitando de creche, seguida
projetado em 42,6%. CENTRO-OESTE 10,7% 5,0% 20,4% INC = 36,1%
pela região Sul (44,0%).
O INC apresenta 2019 Todavia, o componente referente à pobreza das famílias foi significati-
variações significativas, BRASIL 17,3% 3,5% 21,7% INC = 42,4% vamente mais baixo nestas duas regiões – 13,6% no Sudeste e 9,1% no Sul
NORTE 23,7% 2,3% 9,8% INC = 35,8% – do que no Nordeste e Norte do Brasil.
dependendo das
NORDESTE 25,5% 2,7% 13,3% INC = 41,5% Por outro lado, a região Nordeste apresentou um INC de 41,5% –
características de SUDESTE 13,6% 3,9% 28,0% INC = 45,4% portanto, não tão distante dos patamares aferidos no Sul e Sudeste – e
cada território SUL 9,1% 4,2% 30,7% INC = 44,0% revelou um componente de pobreza significativamente maior (25,5%).
CENTRO-OESTE 11,8% 4,6% 21,4% INC = 37,8% A região Norte, por sua vez, apresentou padrão similar ao Nordeste,
embora com INC menor (35,8%, com o componente de pobreza na faixa
2020
BRASIL 17,2% 3,5% 22,0% INC = 42,6%
de 23,7%).
NORTE 23,6% 2,3% 10,0% INC = 35,9%
No Centro-Oeste, o componente de pobreza exibiu índice relativamente
baixo, de 11,8%, enquanto o da monoparentalidade chegou a 4,6%, superior
NORDESTE 25,3% 2,7% 13,5% INC = 41,5%
a todas as outras regiões, para um INC total de 37,8%.
SUDESTE 13,5% 3,9% 28,4% INC = 45,8%
cas do território abordado, e também sugere direcionamentos de políticas FONTE: DADOS DA PESQUISA
NOTAS: POB = CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA; MONO = CRIANÇAS DE FAMÍLIAS MONOPARENTAIS; MEA
bastante distintos conforme o componente/critério de priorização prepon- = NECESSIDADE POR CRECHE DAS CRIANÇAS CUJAS MÃES/CUIDADORES SÃO ECONOMICAMENTE ATIVAS E DE
CRIANÇAS CUJAS MÃES/CUIDADORES SERIAM ECONOMICAMENTE ATIVAS SE HOUVESSE CRECHE; INC = ÍNDICE DE
derante em cada localidade. NECESSIDADE DE CRECHE
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INC BRASIL, REGIÕES E ESTADOS
18 19
O INC NOS MUNICÍPIOS
INC NOS MUNICÍPIOS INC NOS MUNICÍPIOS INC NOS MUNICÍPIOS INC NOS MUNICÍPIOS –
(2019) MONO (2019) CRIANÇAS NÃO POBRES
Considerando-se os três
critérios de priorização DE FAMÍLIAS
que compõem o INC, o MONOPARENTAIS (2019)
índice apresenta expressiva O componente da
variabilidade intraestadual. A monoparentalidade se mostra
observação da figura denota mais forte nas regiões Centro-
ausência de um modelo de Oeste, Sudeste e Sul.
comportamento do ponto de
vista geográfico.
INC NOS MUNICÍPIOS – INC NOS MUNICÍPIOS INC NOS MUNICÍPIOS INC NOS MUNICÍPIOS –
CRIANÇAS PROVENIENTES POB (2019) MEA (2019) CRIANÇAS COM MÃES/
DE FAMÍLIAS EM SITUAÇÃO CUIDADORES PRINCIPAIS
DE POBREZA (2019) ECONOMICAMENTE
ATIVOS OU QUE ASSIM
As regiões Norte e Nordeste
apresentaram índices mais O SERIAM SE HOUVESSE
altos do componente de CRECHE (2019)
pobreza. O componente relacionado
à participação das mães/
cuidador principal no mercado
de trabalho sobressaiu nas
regiões Sudeste e Sul.
20 21
TRILHA DE PENSAMENTO
Estimativas de frequência
O QUE É ESTIMATIVA DE
FREQUÊNCIA EM CRECHE?
FÓRMULAS
Estimativa de frequência em creche
em creche para grupos
=
número de crianças de um grupo de
prioritários
Trata-se do parâmetro que informa
a proporção de crianças que priorização que frequentam creche
frequentam creche em cada grupo ÷
de priorização do INC. número de crianças existentes A criação de um Índice de Necessidade de Creche (INC) calcado em
nesse grupo de priorização* critérios de priorização amplamente reconhecidos possibilita aos mu-
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ESTIMATIVAS DE FREQUÊNCIA EM CRECHE PARA GRUPOS PRIORITÁRIOS
MENOS CRECHE PARA QUEM MAIS PRECISA? situação de pobreza no Brasil frequentavam creches – o que quer dizer que
As informações levantadas expuseram a realidade paradoxal de como 75,6% não frequentavam. Para as crianças de famílias não pobres e monopa-
a população de maior vulnerabilidade social – a mais pobre, representando rentais, a taxa de frequência era de 44,9%, indicando não frequência de 55,1%. Em 2019, o grupo
17,3% das crianças de 0 a 3 anos de idade residentes em zona urbana no Brasil O grupo prioritário com melhor desempenho em termos de inserção
prioritário com melhor
em 2019, e a das famílias monoparentais, totalizando 3,5% das crianças – é na educação infantil foi o das crianças com necessidade de creche filhas
pouco atendida por creches no Brasil. Esta situação ocorre tanto quando se de mães/cuidadores principais economicamente ativos, ou que assim o desempenho em
analisa o contexto nacional quanto quando se analisam as diferentes regiões. seriam se houvesse vaga. Neste grupo, o de menor fragilidade do ponto termos de inserção
Ao utilizarmos os dados de 2019, o ano escolhido pelos pesquisadores de vista socioeconômico, a razão de frequência foi de 81,7%, puxada pelos na educação infantil
para análises mais detidas, observa-se que apenas 24,4% das crianças em comportamentos das regiões Sudeste e Sul. Vale destacar que muitas crian-
ças inseridas no grupo frequentam creches privadas.
no Brasil foi o
Em 2019, as regiões Sudeste e Sul foram as que apresentaram as maiores das crianças com
TAXA DE FREQUÊNCIA EM CRECHE POR GRUPO PRIORITÁRIO taxas de frequência em creche para a população pobre: respectivamente 31,7% necessidade de creche
REGIÕES GEOGRÁFICAS E BRASIL (2018-2020) e 26,1%, consideradas ínfimas em se tratando do grupo prioritário de maior
VALORES EM % filhas de mães/
vulnerabilidade. Na região Nordeste, 24,2% das crianças pobres estavam na
2018 2019 2020
creche, cifra próxima à média nacional de 24,4%. As menores taxas de frequência cuidadores principais
Regiões
POB MONO MEA POB MONO MEA POB MONO MEA à creche para as crianças em situação de pobreza em 2019 estavam nas regiões economicamente ativos
Norte 10,6 20,9 64,5 12,3 24,5 66,9 12,6 25,1 67,3 Centro-Oeste e Norte (16,7% e 12,3% da necessidade, respectivamente).
Entre as crianças de famílias monoparentais, o padrão de comporta-
Nordeste 21,7 35,3 72,3 24,2 36,8 74,2 24,7 37,2 74,4
mento das diferentes regiões não destoou muito do que se viu no atributo
Sudeste 29,0 48,2 85,9 31,7 51,4 85,3 32,4 52,1 85,5 pobreza. Em 2019, a taxa de frequência ultrapassou 50% nas regiões Sul
Sul 24,1 48,7 83,8 26,1 53,0 84,7 26,7 53,8 84,9 (53,0%) e Sudeste (51,4%). As regiões Nordeste e Centro-Oeste apresenta-
Centro-Oeste 15,6 32,7 75,5 16,7 36,6 77,6 17,0 37,1 77,5 ram cifras próximas entre si (36,8% e 36,6%, respectivamente), enquanto
a proporção de crianças em lares monoparentais frequentando creches na
BRASIL 22,2 41,5 81,2 24,4 44,9 81,7 25,0 45,5 81,9
região Norte foi a menor (24,5%).
FONTE: DADOS DA PESQUISA
NOTAS: POB = CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE POBREZA; MONO = CRIANÇAS DE FAMÍLIAS MONOPARENTAIS; MEA = NECESSIDADE POR CRECHE DAS CRIANÇAS CUJAS MÃES/ Finalmente, quando se tomam as crianças de famílias com mães/cui-
CUIDADORES SÃO ECONOMICAMENTE ATIVAS E DE CRIANÇAS CUJAS MÃES/CUIDADORES SERIAM ECONOMICAMENTE ATIVAS SE HOUVESSE CRECHE
dadores principais economicamente ativos e classificados entre os que ne-
cessitam de creche (incluindo os que assim o seriam se houvesse creche),
ISSO SIGNIFICA DIZER QUE, EM 2019, a razão de frequência foi de 85,3% na região Sudeste e de 84,7% na região
CONSIDERANDO A POPULAÇÃO RESIDENTE EM ZONA URBANA NO BRASIL... Sul. As razões de frequência também foram relativamente altas nas demais
regiões: 77,6% no Centro-Oeste, 74,2% no Nordeste e 66,9% no Norte.
+ + =
...75,6% ...55,1% ...18,3% 2,2 milhões O RAIO-X DOS ESTADOS
A análise das estimativas de frequência em creche por estado em 2019
das crianças de das crianças de famílias das crianças com mães/ de crianças para as quais repete a tendência nacional, apontando as crianças em situação de pobreza
famílias em situação monoparentais não cuidadores principais a creche era fundamental,
de pobreza não frequentavam creche economicamente ativos mas que não tiveram como o grupo prioritário que se apresenta, em regra, em maior desvanta-
frequentavam creche – ou que o seriam se a possibilidade de gem (maiores taxas de não frequência).
Aqui, foram mais 226 houvesse creche – e acessá-la
Em números absolutos, mil crianças de famílias O estudo mostra que São Paulo exibiu a maior taxa de frequência para
que necessitam de
1,5 milhão de crianças monoparentais que creche não puderam crianças pobres (37,6%), seguido por Santa Catarina (33,0%), enquanto Es-
para as quais a também não tiveram frequentá-la
frequência à creche a possibilidade de pírito Santo e Ceará tiveram taxa de 30,5%, dividindo a terceira posição. O
era imprescindível frequentar creche Por fim, outras 467 mil estado que ofertou atendimento em creche à menor proporção de crianças
não tiveram essa crianças que também em situação de pobreza foi o Amapá, com 6,6% de taxa de frequência, en-
possibilidade necessitavam de creche
não tiveram acesso a ela quanto o Amazonas contabilizou a segunda menor taxa, com 7,2%.
Já no grupo de crianças de famílias monoparentais, os primeiros colo-
24 25
ESTIMATIVAS DE FREQUÊNCIA EM CRECHE PARA GRUPOS PRIORITÁRIOS
cados em frequência foram Santa Catarina (65,6%) e São Paulo (59,5%). Os Como já se tornara perceptível na análise dos dados por região geográfi-
resultados mais baixos, por sua vez, também foram vistos no Amapá (5,5%) ca, existe uma certa regularidade nos resultados: os estados do Sudeste e do
A análise das e no Amazonas (13,6%). Sul possuem as maiores estimativas, acompanhando as taxas de frequência
Por fim, no grupo prioritário das crianças com mães/cuidadores prin- maiores nestas regiões.
estimativas de
cipais economicamente ativos que necessitam de creche, novamente São No cenário nacional, os estados que apresentam maiores taxas gerais
frequência em creche Paulo (89,3%) e Santa Catarina (88,6%) exibiram as melhores estimativas de frequência em creche são Santa Catarina (50,1%) e São Paulo (47,5%),
por estado em 2019 de frequência em 2019. Já os percentuais mais baixos foram registrados no enquanto Amapá (7,1%) e Amazonas (10,1%) estão, respectivamente, em úl-
repete a tendência Amazonas (56,7%) e em Roraima (61,4%). tima e em penúltima posição.
26 27
ESTIMATIVAS DE FREQUÊNCIA EM CRECHE PARA GRUPOS PRIORITÁRIOS
TAXA DE FREQUÊNCIA EM CRECHE NOS MUNICÍPIOS RAZÃO DE FREQUÊNCIA EM CRECHE NOS MUNICÍPIOS
Como se viu na CRIANÇAS NÃO POBRES DE FAMÍLIAS MONOPARENTAIS (2019) CRIANÇAS COM MÃES/CUIDADORES PRINCIPAIS ECONOMICAMENTE
ATIVOS OU QUE ASSIM O SERIAM SE HOUVESSE CRECHE (2019)
representação
cartográfica do
INC, os mapas de
frequência em creche
também revelam
variabilidade dentro
dos estados
28 29
Análises intramunicipais
DO MACRO AO MICRO
Os indicadores intramunicipais são muito específicos e não caberia nes-
ta publicação tecer conclusões genéricas sobre eles. De todo modo, a fim de
ilustrar a potência das estimativas intramunicipais, buscou-se apresentar
algumas conclusões a que se chegou a partir de um exemplo aleatório.
O município aqui analisado é classificado como uma grande cida-
Como se viu ao longo desta publicação, o Índice de Necessidade de Cre- de, com INC de 52,1% em 2019. O esquema a seguir traz a representa-
che (INC) foi criado para medir a necessidade por creche nos municípios, ção do INC total deste município, bem como o da AP com INC maior
enquanto os índices dos estados e do país foram obtidos por agregação.
Desde que se garanta e da AP com INC menor. As considerações apresentadas na próxima
Há grande variabilidade entre o INC dos estados e o dos municípios, página sobre este município basearam-se em indicadores intramuni-
uma amostragem mesmo em se tratando de estados em uma mesma região ou de cidades numa cipais de 310 AP.
representativa, mesma unidade federativa. Desde que se garanta uma amostragem represen-
quanto menor o tativa, quanto menor o território analisado, mais fiel é o retrato da situação
das crianças de uma localidade em relação à necessidade por creche.
território analisado, Com base neste raciocínio, os pesquisadores que desenvolveram os es- CRIANÇAS DE 0 A 3 ANOS DE IDADE
mais fiel é o retrato da tudos recentes do INC decidiram levantar também parâmetros intramuni-
situação das crianças cipais. Foram calculados o INC e as razões de frequência em creche para as INC DO MUNICÍPIO (2019) 100%
26 capitais brasileiras e o Distrito Federal, cobrindo os anos de 2018, 2019
de uma localidade em 52,1% 1,2%
e 2020 (projeções). Os resultados deste estudo podem ser consultados em
relação à necessidade uma planilha aqui. 13,3% 4,3% 34,6% 46,6%
por creche Para a realização das análises intramunicipais, optou-se por utilizar as ZONA URBANA ZONA RURAL
Áreas de Ponderação (AP) conforme definidas na Amostra do Censo De-
mográfico de 2010 do IBGE. A AP é a menor unidade geográfica com “re-
presentatividade estatística a partir das amostras dos Censos”. INDICADORES INTRAMUNICIPAIS PARA AP COM MAIOR INC (2019) 100%
A fim de estimar o INC e a frequência em creches por grupos priori-
tários, foram empregadas as estruturas dos indicadores intramunicipais, 62,8% 0,2%
segundo a AP, dos grupos prioritários e de frequência à creche observa- 22,2% 5,9% 34,7% 37,0%
das em 2010. Essas proporções foram aplicadas às respectivas estimati-
ZONA URBANA ZONA RURAL
vas municipais, gerando o conjunto de dados necessários à análise. Tal
procedimento garantiu a compatibilidade entre as inferências em nível
intramunicipal e municipal.
INDICADORES INTRAMUNICIPAIS PARA AP COM MENOR INC (2019) 100%
9,5%
5,9% 3,6% 6,3% 84,2%
O INC E AS ESTIMATIVAS DE FREQUÊNCIA EM
CRECHE INTRAMUNICIPAIS FORAM CALCULADOS: ZONA URBANA ZONA RURAL
A PARTIR DAS ÁREAS PARA CADA PARA AS 26 CAPITAIS Crianças provenientes de famílias em situação de pobreza
DE PONDERAÇÃO UM DOS GRUPOS BRASILEIRAS E O Crianças de famílias monoparentais
(AP), CONFORME PRIORITÁRIOS DE DISTRITO FEDERAL. Crianças com mães/cuidadores principais economicamente ativos, ou que seriam economicamente ativos se houvesse creche,
AMOSTRA DO CENSO CRIANÇAS DE 0 A 3 e que apresentam evidências de necessidade
DEMOGRÁFICO ANOS DO ESTUDO. Demais crianças da zona urbana que não fazem parte dos grupos prioritários para atendimento
DE 2010. Crianças residentes em zona rural
30 31
ANÁLISES INTRAMUNICIPAIS
A fim de ilustrar
POLÍTICAS SOB MEDIDA O INC e a plataforma
Primeira Infância Primeiro
A característica de variabilidade do INC mencionada anteriormente para o contexto
dos estados e municípios também aparece nas análises intramunicipais, com
a potência das heterogeneidade de índices mesmo em bairros próximos. Isso denota a importância
estimativas da adoção de políticas públicas de creche diferenciadas por área dentro de uma
mesma cidade.
intramunicipais, eis
algumas conclusões
OLHAR LOCAL
a que se chegou a Um exame mais detalhado dos indicadores intramunicipais exige conhecimento das
Lançada em 2020 pela Fundação Maria Ceci-
lia Souto Vidigal, a plataforma Primeira Infância
partir da análise de realidades locais. Relacionar as características sociodemográficas e culturais de um
local aos respectivos dados intramunicipais levantados amplia o entendimento dos Primeiro foi criada para dar suporte aos gestores
um município aleatório gestores públicos quanto à necessidade por creche das crianças de 0 a 3 anos, o que dos 5.570 municípios brasileiros na elaboração de
favorece a busca de soluções.
com INC de 52,1% planos e políticas que atendam às necessidades de
em 2019 apoio, proteção e desenvolvimento das crianças de
PAISAGEM URBANA 0 a 6 anos.
Em linha com a metodologia Nurturing Care,
O processo de urbanização de um município dialoga de forma direta com as
estimativas de necessidade e frequência em creche, influenciando para que haja estabelecida pela Organização Mundial da Saúde
indicadores maiores em uma área e menores em outra. (OMS), pelo Unicef e pelo Banco Mundial, a pla-
taforma organiza dados, informações e conceitos
> Acesso em www.primeirainfanciaprimeiro.org.br
essenciais para o trabalho dos gestores em cinco
LÓGICA QUE SE CONFIRMA
eixos: saúde, nutrição, segurança e proteção, pa-
O INC relativo às crianças de famílias em situação de pobreza tende a ser maior nas rentalidade e educação infantil.
áreas pobres, chegando a zerar nas áreas mais ricas.
A plataforma reúne 33 indicadores em tor-
no destes eixos. Eles são continuamente com-
ATIVIDADE ECONÔMICA E CRECHE pilados e atualizados a partir de bases de dados
As áreas mais ricas, por sua vez, são as que apresentam os índices intramunicipais
oficiais de fontes públicas. Os indicadores com-
mais altos para as crianças do grupo prioritário das mães/cuidadores principais põem relatórios completos, sobre cada um dos
economicamente ativos, ou que seriam economicamente ativos se houvesse vaga municípios brasileiros, que ficam hospedados
em creche.
na plataforma para download.
> 33 indicadores em cinco eixos: saúde, nutrição, O Índice de Necessidade de Creche (INC) tam-
segurança e proteção, parentalidade e educação infantil
ACESSO DISSEMINADO bém está na plataforma Primeira Infância Primei-
ro. Acesse www.primeirainfanciaprimeiro.org.br
A razão de frequência em creche para as crianças do grupo de mães/cuidadores
principais economicamente ativos, ou com pretensão de retornar ao mercado de
trabalho, chegou a 99,9% no município que ilustra este exemplo. O índice mostra que,
nesta localidade, o acesso a creches está disseminado entre as crianças que integram
esse grupo prioritário.
“Considera-se primeira infância o
período que abrange os primeiros
NOVOS CRUZAMENTOS 6 anos completos ou 72 meses de
Podem-se combinar os dados de frequência por AP, dentro de cada grupo
vida da criança”.
prioritário, com o tamanho da população de 0 a 3 anos e o INC de cada AP, para
se obter um retrato mais fiel da situação do acesso à creche em regiões dentro de Marco Legal da Primeira Infância (MLPI) –
um município. Lei no 13.257/2016
> O INC também está na plataforma Primeira Infância
Primeiro
32 33
Considerações finais
Ao voltar-se para crianças cujo atendimento em creche se mostra indis-
pensável, o estudo do Índice de Necessidade de Creche (INC) adiciona novas
camadas de reflexão ao que significa oferecer este tipo de política às crianças Ao voltar-se para
de 0 a 3 anos no Brasil. Para além da meta do PNE de inserir ao menos me-
crianças cujo
tade desta população na educação infantil, em que medida os grupos con-
siderados prioritários para o atendimento em creche – crianças de famílias atendimento em
As expectativas a cada nova divulgação dos dados de monitoramento do em situação de pobreza, de famílias monoparentais e de mães/cuidadores creche se mostra
Plano Nacional de Educação (PNE) são sempre grandes quando o assunto principais economicamente ativos – estão de fato tendo acesso a este serviço? indispensável, o estudo
O acesso à creche por é acesso à creche. Gestores públicos, ativistas, profissionais da educação O estado de Santa Catarina, por exemplo, é o mais avançado do país
infantil e de outras áreas do desenvolvimento na primeira infância acom- em termos de atendimento, com 52,4% das crianças de 0 a 3 anos já fre-
do INC adiciona novas
parte das crianças de
panham esses indicadores de perto e seguem atentos à pergunta: qual a quentando creche, segundo a Pnad Contínua 2019. O INC calculado para o camadas de reflexão
domicílios mais pobres proporção de crianças de 0 a 3 anos atendidas em creche no Brasil? estado em 2019 foi de 44,1%, composto em 5,9% por crianças pobres, 3,6% ao que significa
é substancialmente Com base na edição 2019 da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios por crianças de famílias monoparentais e 34,6% por crianças com mães/
oferecer este tipo de
menor do que (Pnad) Contínua, a última informação oficial disponível a este respeito, a respos- cuidadores principais economicamente ativos que precisam de creche, ou
ta para esta indagação é 37%. Trata-se de um número ainda distante do patamar que seriam economicamente ativos se houvesse vaga. política às crianças de
daquelas de domicílios
mínimo de 50% a ser alcançado até 2024, conforme estipula a Meta 1 do PNE. A princípio, quando se observa o indicador da Pnad isoladamente, pode- 0 a 3 anos no Brasil
mais ricos Além do acesso à creche, iniciativas de monitoramento do PNE como -se interpretar que estados como Santa Catarina – onde o indicador é supe-
as encabeçadas pelo movimento Todos pela Educação também permitem rior ao INC e também já suplantou a meta do PNE – tenham concluído seu
analisar a idade das crianças atendidas e a classe social. percurso em termos de atendimento à necessidade de creche da sua popu-
A evolução dos dados mostra que a frequência em creche/escola na lação. Todavia, quando se analisam as estimativas de frequência, verifica-se
faixa etária de 2 a 3 anos é quase quatro vezes maior do que entre os bebês que ainda existe um caminho pela frente: apenas 33,0% das crianças em situ-
de até 1 ano. Isso se explica, em parte, pela opção de muitas famílias por não ação de pobreza frequentam creche, patamar que sobe a 65,6% para as crian-
encaminharem seus bebês pequenos à creche. Mas também se sabe que, em ças de famílias monoparentais e a 88,6% às crianças com mães/cuidadores
muitos casos, o problema é a baixa oferta de vagas e de estrutura de creche principais economicamente ativos, ou que assim o seriam se houvesse cre-
adequada para atender às crianças menores. che. Se 77% das crianças em situação de pobreza de Santa Catarina não estão
Do ponto de vista da renda, o acesso à creche por parte das crianças de domi- na creche, estados como Amazonas e Amapá apresentam realidades ainda
cílios mais pobres é substancialmente menor do que daquelas de domicílios mais mais desafiadoras, com mais de 90% das crianças de 0 a 3 anos vinculadas
ricos, revelando um grave problema de desigualdade educacional: entre os mais a famílias de baixa renda também desprovidas desse tipo de atendimento.
ricos, 54,3% das crianças estão na creche; entre os mais pobres, apenas 27,8%. Tomando-se o contexto nacional, os cálculos do INC e as estimativas de fre-
80%
37%
58,4
27,8 %
60% 54,1 56,8
52,3 FREQUÊNCIA ENTRE OS
DOMICÍLIOS 25% MAIS POBRES
40% 34,1 35,7 37,0
29,6 30,4 31,9
25,7 27,9
DAS CRIANÇAS DE
20%
12,2 14,1 13,7 15,6
2 E 3 ANOS
0 A 3 ANOS
0 A 3 ANOS FREQUENTAM
CRECHES NO BRASIL 54,3% FREQUÊNCIA ENTRE OS
DOMICÍLIOS 25% MAIS RICOS
0%
2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 0 A 1 ANO
FONTES: IBGE/PNAD – 2012 A 2015. IBGE/PNAD CONTÍNUA – 2016 A 2019. ELABORAÇÃO: TODOS PELA EDUCAÇÃO FONTE: IBGE/PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS (PNAD) CONTÍNUA. ELABORAÇÃO: TODOS PELA EDUCAÇÃO
34 35
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Referências bibliográficas
quência em creche revelam que, em todas as regiões do Brasil, são justamente
as crianças de famílias pobres, que estão em maior condição de vulnerabilidade,
O estudo do INC e as que menos frequentam creches. Isso denota a urgência da implementação de
políticas públicas focalizadas nessas famílias, uma vez que elas usufruem em
as estimativas de
menor grau do que as demais do direito à educação infantil de suas crianças.
frequência em creche Do ponto de vista cronológico, os primeiros três anos da vida de uma
demonstram a urgência criança passam bem rápido. Entretanto, este curto período a que se costuma BRASIL. Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Brasília:
chamar de “primeiríssima infância” representa muito em termos de oportu- Senado Federal, 1988.
da implementação
nidade de desenvolvimento ao longo de toda a existência de uma pessoa – o
de politicas públicas que engloba, entre outros aspectos, sua capacidade de aprender, de se tornar
. Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e
do Adolescente e dá outras providências. Lei Ordinária, Brasília, DF: Presidência da
focalizadas nas famílias um adulto saudável, amoroso, produtivo, criativo, participativo na vida co- República, Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Disponível em: <https://
bit.ly/3dcTzFJ>. Acesso em: 29 nov. 2021.
que mais precisam munitária, solidário e protetor do meio ambiente.
Iniciativas como a busca ativa de crianças, que já tem sido empregada em
. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB). Lei Federal nº
diversas localidades, são fundamentais. Da mesma forma, é preciso agilidade 9.394, de 26 de dezembro de 1996.
no aumento da oferta de vagas de creche em bairros pobres, com sistemas de
atendimento mais adaptados às necessidades das mães/cuidadores princi- . Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de
Educação (PNE) e dá outras providências. Brasília: Diário Oficial [da] República
pais que trabalham ou precisam trabalhar.
Federativa do Brasil. Brasília, 26 jun. 2014.
ACESSO À CRECHE EM É importante ressaltar, no entanto, que estas políticas só terão bons re-
SANTA CATARINA (2019) sultados se o atendimento em creches, além de alcançar mais crianças, tam- . Lei no 13.257, de 8 de março de 2016 (Marco Legal da Primeira Infância).
52,4%
bém prezar pela qualidade. Para que isso seja possível, o financiamento dessa Brasília, 2016. Disponível em: <https://bit.ly/3yb0h7h>. Acesso em: 29 nov. 2021.
etapa da educação precisa ser revisto no sentido de contemplar equipamen-
CASTILHO, P. C.; GIL, M. O. G.; OGANDO, L.D. (2021). Estudo nº VIII: Educação
tos adequados e bem aparelhados, bem como profissionais capacitados e em Infantil de Qualidade. Núcleo Ciência Pela Infância. Disponível em: <https://bit.
CRIANÇAS DE 0 A 3 número suficiente. Além disso, devem ser implementadas políticas curricu- ly/3ohy254>. Acesso em: 29 nov. 2021.
ANOS ATENDIDAS lares e de avaliação que estejam alinhadas aos princípios da Base Nacional
FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL (2020). Desafios do acesso
Comum Curricular (BNCC). Uma educação infantil de qualidade exerce pa-
EM CRECHE à creche no Brasil: subsídios para o debate. Disponível em: <https://bit.
pel primordial no desenvolvimento integral das crianças e, em comunidades ly/3GcSASm>. Acesso em: 29 nov. 2021.
vulneráveis, é capaz de diminuir desigualdades sociais e educacionais.
FUNDAÇÃO MARIA CECILIA SOUTO VIDIGAL (2020). Plataforma Primeira
Infância Primeiro. Disponível em: <https://bit.ly/3lGmmHr>. Acesso em: 29 nov.
2021.
ESTIMATIVAS DE
3,6% 65,6% QUANTIS (2021). Relatório final: Revisão do INC e estimativas de frequência em
para crianças de famílias monoparentais para crianças de famílias monoparentais creche conforme critérios do INC, 2018-2020, 31/07/2021 (documento interno).
(não frequência de 34,4%)
34,6% TODOS PELA EDUCAÇÃO; EDITORA MODERNA. Anuário Brasileiro da
para crianças com mães/cuidadores 88,6% Educação Básica 2021. São Paulo, 2021. Disponível em: <https://bit.ly/3pNaiXB>.
principais economicamente ativos que para crianças com mães/cuidadores principais economicamente Acesso em: 29 nov. 2021.
precisam de creche, ou que seriam ativos que precisam de creche, ou que seriam economicamente
economicamente ativos se houvesse vaga ativos se houvesse vaga (não frequência de 11,4%) TODOS PELA EDUCAÇÃO. Observatório do PNE. Disponível em: <https://bit.
ly/31u4okF>. Acesso em: 30 nov. 2021.
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www.fmcsv.org.br