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A GABOLA DO BAIRRO

(Francisco, Lidiane e Waneska)

CLAUDECI – (quem tá procurando a família)

NEUZA – (a mentirosa fofoqueira que não tem o que fazer)

JEANNE – (a falsa familiar, conhecida de Neuza.).

ADVOGADA

...

(O palco está às escuras até que entra o Claudeci. Há uma luz focada no personagem
que o segue palco adentro.)

CLAUDECI – (entrando em cena quase em um empurrão) Olha aqui senhora doutora,


você que é figura de excelência,agradeço demais você ter vindo aqui só pra ouvir
minha história de vida. Pois vou contar pra você, num faz nem três meses que
aconteceu e tudo por causa dessa crápula metido a besta (aponta pra um lado).

NEUZA – Oxe! Eu crápula? Pra co-me-çar ele não tá aqui pra ouvir sua história não,
deixe de ser besta viu. Sente lá vá que eu que vou contar a história que tu não sabe
nem perceber a verdade de alguém, imagina a mentira.

CLAUDECI – Não vai não, tá pensando que eu vou deixar?

NEUZA – E tu tem opção?

CLAUDECI – Claro que tenho.

NEUZA – Senta lá, Claudeci!

(Eles batem boca até que uma batida forte soa).

OS DOIS – Tá, vamos começar!!

(o cenário muda e Jeanne aparece em cena em frente a casa de sua vizinha, Neuza
encabulada com um jornal em mãos, a Neuza já está em cena.)

NEUZA – (vendo a Jeanne chegar) Por que é que tu tá toda estranha aí?

JEANNE – Tava vendo o jornal e apareceu um cara procurando a família.

NEUZA – Muito engraçado… e num é que tua mãe vivia falando de um parente teu que
sumiu faz tempo.

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JEANNE – É mesmo!!

NEUZA – Qual o nome desse sujeito?

JEANNE – Claudeci da Silva

NEUZA – Tem teu nome mulher

JEANNE – É mesmo!

NEUZA – Vem cá! Quem ele tá procurando?

JEANNE – Antonio José da Silva

NEUZA – E menina... num é o nome do teu pai que morreu faz ooooito anos?

JEANNE – Minha nossa senhora, ele é um parente nosso?!

NEUZA – Oxe e num é óbvio!

JEANNE – (saindo correndo) Mãiinhaaa!

(Neuza pega o jornal que Jeanne deixou cair no chão)

NEUZA – Deixa eu ver aqui! (Lê a manchete) Procuro meu pai, nome dele é Tonho, ou
Antonio José da Silva... Nasci mais ou menos em 1990 na cidade de Arapiraca e me
perdi quando tinha dez anos e acabei parando São Paulo... e tem um número...
hummm (com ar malicioso)

(A luz do lado do palco onde está Neuza apaga, do outro lado do palco entra o Claudeci
que está com um punhado de papel embaixo do braço até que seu telefone toca e ele
quase derruba os papéis).

CLAUDECI – (atendendo o telefone) Alô, eu não to fazendo corrida hoje não. Ligue pra
outro táxi. (Ele desliga o telefone, mas de novo, volta a tocar quando vai ajeitar os
papéis) Ô meu fi! Você nasceu de 6 mês foi pra ser agoniado assim? Eu não to fazendo
corrida hoje...

NEUZA – (interrompendo) Eu não quero corrida seu Claudeci, é que eu vi sua manchete
e sei o paradeiro da sua família.

CLAUDECI – Então me diga logo homi!

NEUZA – Homi não! O senhor me respeite que eu presto viu.

CLAUDECI – Me diga logo aonde você tá que vou ai agora. Faço questão de conversar
pessoalmente com você.

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NEUZA – Calma! Calma! São Paulo é muito longe, você vem na próxima semana e eu
levo você até sua família.

CLAUDECI – Minha nossa senhora! É muito tempo! Quero logo realizar esse sonho
meu. Mas tudo bem, eu espero. Semana que vem vou tá aí nem que seja indo no
lombo do jumento.

NEUZA – Tá certo. E pode deixar que eu mando foto até da família toda.

CLAUDECI – Parece até que leu meus pensamentos. Já to ansioso pra esse
acontecimento.

NEUZA – Tenho certeza que vai ser digno de novela viu. Vou me embora agora tchau!
Que tenho uma tuia de coisa pra fazer.

CLAUDECI – Pois vá lá! (ele desliga o telefone, a luz do lado da Neuza apaga
novamente) Eu to todo me tremendo, olha só. Vou encontrar meu pai e ainda o resto
da minha família. Vou contar pra minha mulher, pros meus filhinhos... Ah, eles sempre
quiseram ver o Avô deles. Dessa vez eu largo tudo aqui e volto pro nordeste.

(Claudeci sai saltitando de alegria A Luz diminui a ponto de deixar só uma silhueta das
personagens. Na cena em questão é representada a “contra-migração” do Claudeci de
volta para o nordeste. Está em cena ele, a mulher, um filho de colo e outro filho que
segue de mãos dadas com o pai.)

NEUZA – (entrando e batendo palmas) Acorda povo, ô de casa...

JEANNE – Bom dia! Acordada essa hora? Achei que tu dormia até meio dia.

NEUZA – Durmo mesmo, afinal moro sozinha... mas, deixe de coisa hoje é um dia
especial.

JEANNE – Por...?

NEUZA – Não precisam se preocupar que eu liguei pro parente de vocês e agendei
tudo. Ele vem hoje a tarde conhecer todos vocês.

JEANNE – Não sei não! Vai que é um mentiroso, um falso ou um golpista... Ou um


salafrário, um assassino, um pessimista. Mainha tá toda desconfiada.

NEUZA – Acalma o coração, vai dar tudo certo. Vocês vão encontrá-lo e eu vou ficar
conhecida como aquela que uniu uma família. (histérica) Meus quinze minutos de
fama vão chegar. Prepare tudo pra esse acontecimento do ano comadre, hoje vai ser
um dia histórico.

(O cenário retorna para a sala com a advogada.)

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CLAUDECI – (para a advogada) Aquela tarde eu finalmente encontrei a minha família,
foi uma alegria só. Parecia uma festa, criança brincando com criança, todo mundo tava
animado com a minha chegada. Ou quase todo mundo, a única que não parecia feliz
era minha mãe. Imagina só, mais de vinte anos sem ver a minha mãe e ela nem tchum.

NEUZA – (Interrompendo) E tu queria o que? Tu chega no dia errado e queria que


tivesse tudo pronto e ainda pulando de alegria? Dona de casa também cansa, sabia?

CLAUDECI – Cheguei no dia que você disse pra eu chegar.

NEUZA – (ignorando) Não ajudou nem a lavar os pratos...

CLAUDECI – Que mentira mais cabeluda...

NEUZA – Cabeluda é a mãe...

(Acontece outra discussão, mas outra batida a faz cessar).

OS DOIS – Ta bom a gente para

ADVOGADA – (finalmente aparecendo) Vamos aos fatos, o senhor Claudeci procurava


pelo pai, uma pessoa chamada Antonio José da Silva. Correto?

CLAUDECI – Não, senhora doutora excelentíssimo. O nome do anúncio tá errado, o


nome do meu pai é Antonio José de Souza.

NEUZA – O que? Eu acho que não ouvi direito.

CLAUDECI – O que tu não ouviu bobonica?

NEUZA – Repete o nome do teu pai...

CLAUDECI – Antonio José de Souza

NEUZA – Mas esse é o nome do meu pai

(Eles se olham fixamente)

ADVOGADA – Pronto! Resolvi o caso. Esse foi o caso mais fácil que eu resolvi.

FIM

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