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FACULDADE CATÓLICA DE BELÉM

CURSO DE TEOLOGIA

DENIR ROBSON LIMA DE SOUSA


IRLAS SOARES DAS VIRGENS
JARDEL SOARES FARIAS
JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA
SEBASTIÃO ALMEIDA SANTIAGO

RESUMO DAS CONFISSÕES

ANANINDEUA / PA
2017
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DENIR ROBSON LIMA DE SOUSA
IRLAS SOARES DAS VIRGENS
JARDEL SOARES FARIAS
JAVÉ DE OLIVEIRA SILVA
SEBASTIÃO ALMEIDA SANTIAGO

RESUMO DAS CONFISSÕES

Trabalho apresentado a Faculdade


Católica de Belém como requisito
avaliativo da disciplina Seminário
Temático: Agostinho de Hipona,
orientado pela Prof. Pe. André Teles.

ANANINDEUA / PA
2017
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INTRODUÇÃO
Não é difícil percebermos que a obra “Confissões” de Santo Agostinho, é uma
autobiografia de sua vida, no qual, Agostinho a escreve quando já era bispo de Hipona entre
os anos de 397 à 398 d.C. Acredita-se que o objetivo central da obra seja a confissão a Deus e
aos homens, de forma a reconhecer a misericórdia e o perdão de Deus, ressaltando sempre que
Deus, olhando para a sua miséria, lhe concedeu a graça da conversão.
Era filho de Patrício e Monica. O pai, Patrício, era pagão, e segundo a obra, o mesmo
pediu o batismo apenas no momento de sua morte. No entanto, Patrício queria fazer de seu
filho, um grande retórico, e naquela época, isto significaria, um professor de letras e
eloquências. Já a sua Mãe, Monica, era cristã, muito piedosa. Ela ficou muito conhecida como
“a mãe que chorou até a morte pela conversão do filho”, que no caso é agostinho, a mesma o
educou na fé cristã desde de cedo, sendo que Agostinho já mostrara aptidão para a filosofia.
A obra é composta de 13 livros, nos quais, os 10 primeiros livros, de forma apaixonante,
o autor nos permite conhecer a sua vida, relatando fatos e historias vivida. Apresenta-nos
claramente seus anseios, suas dores, suas conquistas, e tudo de forma, ora clara, ora um tanto
confusa, mas que por algum motivo, o quis assim escrever, em forma literária de diálogos,
falando de si mesmo, com profundo conhecimento bíblico, frisando sempre o temor e a
confiança que ele tinha em Deus e na sua misericórdia.
De qualquer maneira, narra a trajetória de um homem que viveu no pecado, mas que em
determinado percurso de sua vida, buscando sempre a verdade, alcança as graças de Deus. Na
busca dessa verdade, Agostinho se encantou e bebeu de algumas fontes de pensamentos e
doutrinas, como a dos maniqueístas, mas por obra de Deus, combate essa doutrina mais tarde,
após sua conversão.
Por fim, nos últimos três livros da obra, Agostinho faz uma menção à criação, ou seja,
ao livro de gênesis.

LIVRO I
A INFÂNCIA
Este livro é dividido em vinte e dois capítulos. O autor faz uma profunda profissão de fé
e louvor a Deus, reconhecendo-o como o Ser Supremo e Misericordioso, exprimindo sua
profunda sede de encontra-lo. Depois, fala de sua primeira infância e dos seus pecados dessa
fase, baseando-se na observação de que ele fez em outras crianças, destacando a finitude
humana e a eternidade de Deus. Seguindo adiante, Agostinho cita os pecados da segunda

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infância, onde ele ressalta os desejos, a inveja e a vaidade, bem como fala também dos
castigos aplicados pelos seus mestres e pela súplica a Deus, para que o livrasse desses
castigos.
Relata sua paixão pelos jogos e pelo teatro, prática estas aprovadas pelos pais dos
jovens da época, uma vez que tais jogos e espetáculos culminavam em prestigio e honra para
aqueles que saiam bem. Narra quando esteve doente, e pensando que iria morrer, implorou o
batismo, mas este foi adiado, uma vez que se recuperou rapidamente da doença. Fala também
de seus estudos, onde se sentia obrigado à cursá-los e de sua dificuldade em entender sua
utilidade, bem como a sua dificuldade em apreender o grego.
Há um reconhecimento da utilidade dos conhecimento adquiridos e oferecimento destes
a Deus. Critica as crenças aos deuses gregos e reconhece que no passado, os ensinamentos a
respeito deles o agradava, e conclui que desperdiçava sua inteligência com tais ensinamentos.
Agostinho, nesse primeiro livro, faz um exame de toda sua infância, seus pecados e sua
postura frente aos pecados dos companheiros, constatando que os pequenos pecados da
infância, serão realizados com gravidade na vida adulta. E finalmente, faz agradecimento a
Deus, considerando-o o grande Criador e Ordenador do Universo, do qual tudo recebemos
para a constituição de nossa existência.

LIVRO II
OS PECADOS DA ADOLESCÊNCIA
Neste segundo livro, composto por dez capítulos, Agostinho faz um relato de sua
adolescência aos dezesseis anos, enfoca a figura de seu pai como homem zeloso na formação
educacional de seus filhos, porém alienado na educação religiosa. Enfoca também a figura de
sua mãe, Mônica, transmissora da palavra e dos cuidados de Deus para com ele. Narra a
dificuldade de um jovem em transformações, cheio de conflitos, e que se deixava levar pelas
paixões e pelos prazeres, guiados pelos companheiros, no entanto, com sua permissão. Fala
ainda, de forma bem clara sobre o livre-arbítrio. Dirigindo-se a Deus, diz que, enquanto ele se
afastava Dele, Este o permitia, e quanto mais ele se entregava às paixões, Deus se calava. Para
Agostinho, o ócio é favorecimento ao pecado, e ainda tenta ir a fundo nesta questão, quando
pergunta, o que o teria levado a furtar as pêras. Vê a influência dos amigos em sua vida. Por
fim, ele reconhece suas misérias humanas como um aprendizado e demonstra seu desejo de
ser perdoado e encontrar a paz interior.

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LIVRO III
OS ESTUDOS
Composto por doze capítulos, Agostinho inicia este livro falando sobre os amores da
juventude, sua ansiedade por ser amado e se entregar às paixões com todas as suas
consequências. Para exemplificar, ele cita a influência das artes cênicas, que mexe com a
sensibilidade das pessoas. Depois fala de sua corrupção e vaidade por ser o primeiro aluno em
retórica. Mostra-se horrorizado com as desordens praticadas por seus companheiros, e um
certo alívio por não acompanhá-los em tais desordens, exprimindo seu contentamento em tê-
los como amigos. Fala ainda de que maneira foi despertado para o amor à Sabedoria, através
do livro “Hortensius” de Cícero, com esta obra, ele se sentiu inclinado a voltar-se para Deus,
porém não se sentia convencido, uma vez que a obra não mencionava o nome de Cristo, nome
que ele afirma ter sorvido com o leite materno.
Por causa disso, Agostinho resolve estudar as Sagradas Escrituras, para conhecê-las,
porém se sente muito culto para tão simples escritos. Adere ao Maquineísmo, e se deixa levar
por esta seita. Então, se sente enganado, pois buscava a Verdade, e vê que mais e mais está se
afastando dela. Faz uma crítica severa ao Maniqueísmo, abordando os fundamentos naturais
da moral, e lançando questionamentos.
Aborda também a difícil tarefa de julgar o que seria condenável ou não por Deus e pelos
homens. Findando este terceiro livro, Agostinho volta a citar o papel de sua mãe em sua vida,
como aquela que padecia em ver o filho por caminhos errôneos de morte. Então, ela buscava
na oração o consolo, e por Deus era tranquilizada em sonho, de que um dia seu filho
retornaria a Deus. Para Agostinho, sua mãe era a porta-voz de Deus para com ele. Ele ressalta
o sofrimento e as lágrimas perseverantes e esperançosas de sua mãe em um dia ver o seu filho
no caminho de Deus. Cita também a grande e famosa “previsão”, feita pelo bispo Ambrósio a
sua mãe, dizendo para que ela ficasse em paz, pois um filho de tantas lágrimas, não poderia se
perder.

LIVRO IV
O PROFESSOR
Composto por dezesseis capítulos, Agostinho inicia este livro falando de suas vaidades
no exercício do magistério, onde ele procurava o louvor e o reconhecimento popular por seus
ensinamentos. Depois, relata superficialmente a vida ao lado de uma mulher, em concubinato
e que lhe afirma ter sido fiel. Fala também de suas superstições, que o levou a se interessar

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pela Astrologia. Ressalta a morte de um grande amigo, o qual ele tinha aprendido a ter um
profundo amor. Essa perda, fez com que ele sofresse muito, bem como adquirisse um grande
medo da morte. Em meio tanta tristeza, ele sai de Tagaste e vai para Cartago. Narra então, o
recomeço de sua vida em Cartago, e o retorno, pouco a pouco aos prazeres. Entretanto, neste
momento da obra, Agostinho faz um interrupção em seu pensamento, para falar sobre a
felicidade dos que amam aos homens sem distinções preferenciais, e a Deus como o Ser
Supremo do amor. Fala ainda da finitude, da instabilidade do homem e da estabilidade de
Deus, pois nada sucede a Ele e, como tal, Ele não passa. Faz uma exortação ao “Deus da
Vida”, que se colocou na condição humana, para viver entre os homens e resgatá-los da
morte. Após esta interrupção, Agostinho volta a narrar, indagando a Deus e a si, tentando
entender a sua admiração pelo orador romano, de nome “Hiério”, concluindo ser motivo dessa
admiração, a sua própria vontade de ser como ele. Neste livro, Agostinho volta a citar o
Maniqueísmo, fazendo um exame em sua doutrina, demonstrando o seu desejo de se livrar
dela, e voltar a se aproximar de Deus, porém, reconhece-se incapaz disto, pois julgava-se
materialista, errante e soberbo. No entanto, se considerava autodidata, mas sem entender de
que servia compreender as obras aristotélicas sobre as dez categorias e todos o livros de arte,
uma vez que tudo isso não lhe era necessário para compreender a Deus, pelo contrário, só
contribuíam para o seu afastamento.

LIVRO V
EM ROMA E EM MILÃO
Neste quinto livro, composto por quatorze capítulos, Agostinho relata sua vida aos
vinte e nove anos de idade, quando se encontra com o maniqueísta Fausto, a quem Agostinho
admirava pelo seu jeito envolvente, e buscava com ele as respostas a respeito da Verdade.
Porém, quando se encontraram, Agostinho ficou profundamente decepcionado, pois ele não
era tão competente como Agostinho pensava. Assim, logo após o encontro com Fausto, sente-
se insatisfeito e pretende se desligar do Maniqueísmo, porém sem uma perspectiva melhor.
Continua narrando que preferiu ir a Roma para lecionar, por ter uma melhor perspectiva
quanto as atitudes dos jovens em relação aos estudos, e aí, faz uma crítica aos jovens de
Cartago, quanto à liberdade dos estudantes. Fala também da contrariedade de sua mãe,
quando ele vai para Roma. Narra sua chegada a Roma, sua doença, sua resistência em se
batizar, sua recuperação, e mais uma vez se mostra impregnado à doutrina maniqueísta,
fazendo alusões à ela. Cita suas amizades com o maniqueístas e as críticas que eles faziam às

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Sagradas Escrituras. Fala também de sua participação nos debates públicos contra os
maniqueístas, nos quais ele participava como ouvinte. Depois, dedicando-se inteiramente ao
ensino da retórica. Através de seus amigos maniqueístas consegue um emprego em Milão, e
ao chegar lá, conhece o bispo católico, chamado Ambrósio, e quem Agostinho começa a
estimar como um homem bom que o acolheu. Com intenção de avaliá-lo, Agostinho começa a
prestar atenção em suas conversas com o povo e a compará-lo com o bispo maniqueísta
Fausto. Ambrósio fazia uma interpretação das Sagradas Escrituras usando um método
alegórico, que muito atraia Agostinho. Embora relutante, esta forma de abordagem tocava de
modo consciente os pensamentos de Agostinho, que começava a tender por aceitar a fé
católica, porém de forma muito tímida.

LIVRO VI
ENTRE AMIGOS
Nesses dezesseis capítulos, Agostinho relata à sua mãe seu afastamento do
Maniqueísmo, e se surpreende pelo fato dela ter reagido de forma bem tranquila. Também
fala da obediência de sua mãe ao bispo Ambrósio, com uma admiração e respeito mútuo. Faz
referência a personalidade deste bispo, e a influência exercida por ele à sua pessoa, para o seu
reconhecimento dos erros cometidos diante do Catolicismo e das Sagradas Escrituras. Fala de
sua amizade com Alípio e Nebrídio, o primeiro, seu ex-aluno e com quem se envolveu nas
superstições dos maniqueístas. Fala ainda de seu fascínio pelos espetáculos circenses, de sua
prisão, onde era inocente, de sua retidão de caráter, da viagem que ambos fizeram a Roma e a
Milão. Sobre Nebrídio, Agostinho fala que era de família abastada, e que abandonou tudo
para se juntar com Alípio e Agostinho, com o objetivo de buscarem a Verdade e a Sabedoria.
Com muitos questionamentos, Agostinho e Alípio debatem sobre vários aspectos, como
casamento, prazer, vida celibatária e outros. Neste contexto, convencido pelas insistências da
mãe, Agostinho se torna noivo de uma jovem que não se encontrava em idade núbil. Neste
mesmo livro, ele fala sobre o seu sofrimento, ao ter sido arrancada de seu lado, a companheira
que ele tanto amava. Em consequência disto, multiplicaram-se os pecados. Fala também de
seu filho Adeodato, que teria ficado com ele. Por fim, fala de seus debates com Alípio e
Nebrídio sobre o problema do mal.

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LIVROS VII, VII E IX
A busca da verdade é um dos principais tormentos que aflige a alma de Agostinho,
esta é a temática discutida mais detalhadamente no livro VII. Nesta procura o envolve a
doutrina dos neoplatônicos, mas com mais ênfase a dos maniqueus, onde por vários anos a
professou, a qual não consegue compreender que Jesus sendo Deus, não poderia ter
encarnado, por conta da condição corruptível, violável e mutável da forma humana que além
de tudo enquanto corpo ele necessita estar situado num espaço, e por isso afirma “meu
pensamento não ia além das coisas que se veem com os olhos do corpo” (VII, 1, 2), no
entanto este ideia também estava alçada na ideia de que Deus se estende por todo o universo e
sua presença em determinado corpo era proporcional a este corpo e só era desta forma, em
forma corpórea que Agostinho conseguia imaginar Deus.
Assim, irá se desencadear numa inquietação que tomará o VII livro: a busca pela
causa do mal e possibilidade de Deus tê-lo criado, já que criou todas as coisas. Isso porque
para os maniqueus havia dois princípios a reger o mundo o bem o mal criados por Deus (VII,
3, 4). Desta inquietação surge o questionamento: “Mas de onde vem o mal, se Deus é bom e
fez todas as criaturas?” (VII, 5, 7). É curioso o fato de Agostinho já ter ouvido sobre a causa
do mal: “Esforçava-me por compreender o significado do que ouvia dizer sobre a livre
determinação da vontade, como causa do mal que praticamos…” (VII, 3, 5).
Para alcançar uma explicação sucinta sobre este questionamento ele “lança-se então
na teoria das duas substâncias” (VII, 14, 20), essa era uma linguagem dos maniqueus sobre as
duas substâncias que governavam a pessoa: o bem e o mal. A questão do mal será analisada
por Agostinho em três níveis: (1) do ponto de vista metafísico-ontológico; (2) do ponto de
vista moral; (3) do ponto de vista físico.
Do ponto de vista metafísico-ontológico, Agostinho nos dirá que na verdade não
existe mal nas coisas criadas, apenas diferença entre elas e, também, uma questão de falta de
harmonia entre essas coisas: “Entre essas criaturas, algumas partes existem que são
consideradas más por não estarem umas em harmonia com as outras” (VII, 13, 19). Do ponto
de vista moral Agostinho dirá que é o mal que nasce da vontade quando esta se vira de costas
para o Bem supremo e volta-se para outros bens inferiores, perceptível quando se lê: “Tinha a
certeza de que, sempre que decidia querer ou não querer um coisa, era eu e não outro quem
queria, e via cada vez melhor que aí estava a causa do meu pecado” (VII, 3, 5) . Agindo assim
esta vontade se torna má vontade. Quanto ao mal físico é por consequência do pecado

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original: “atraído por tua beleza, era logo afastado de ti por meu próprio peso, que me fazia
precipitar gemendo por terra. Esse peso eram os meus hábitos carnais” (VII, 17, 23).
Logo, desdobram-se mais dois questionamentos: Qual é a causa do mal e as coisas
criadas, por serem inferiores, são destituídas da bondade divina? Continuando a analise sobre
o livro VII, constata-se que não pode vir de Deus a causa do mal, uma vez que o mal é a
privação de uma perfeição devida, logo Deus não pode ser seu autor, porque quando Deus faz
as coisas, as fazem boas. (cf. VII, 12, 18). Considerando o mal como substância não
poderíamos dizer que Deus pode ser a causa do ser (todas as coisas boas) e, ao mesmo tempo,
ser a causa do não-ser (aquilo que é mal). Então, Deus é a causa do ser e, decididamente, não
pode ser a causa do não-ser (o mal como substância). Causar o ser e, ao mesmo tempo causar
o não-ser, é proposta que se auto anulam. Como comprovamos nas objeções ao maniqueísmo
utilizadas por Nebrídio: “Se os maniqueus admitem que tu és incorruptível, qualquer que seja
tua substância, então todas as suas teses são falsas e condenáveis. Pelo contrário, se afirmam
que és corruptível, tal afirmação é, por si mesma, falsa e abominável ao simples enunciado.”
(VII, 2, 3).
Agostinho finaliza sua busca da origem do mal afirmando que é “… a perversão da
vontade que, ao afastar-se do Ser supremo, que és tu, ó Deus, se volta para as criaturas
inferiores; e esvaziando-se por dentro, pavoneia-se exteriormente” (VII, 16,22). Quando a
razão humana submete-se à paixão (vontade), desobedece as leis divinas e, afasta-se do Bem
supremo. Quando um homem se afasta do Bem supremo e se volta para um bem particular,
inferior, peca, e nisto consiste o mal. Não que as coisas para as quais a vontade se volta sejam
más em si mesmas. O mal consiste em voltar às costas ao Bem supremo.
Confessando seus próprios limites e imbuído de humildade é que Agostinho
consegue acalmar as dúvidas em seu coração sobre a origem do mal, ajudado pela leitura da
Sagrada Escritura, de modo especial pelas Cartas de Paulo, mas que antes não consegui
compreender o fato de a “haver contradição na Bíblia e incongruência entre o texto dos
discursos dele (Paulo) e os testemunhos da Lei e dos Profetas” (VII, 21, 27). Os escritos de
paulinos foram de tamanha importância, pois “essas reflexões penetravam-me de modo
admirável até as entranhas, quando eu lia o menor de teus apóstolos” (VII, 21, 27), diz aquele
há pouco tempo irá converter.
Começa a cessar a vontade pelas coisas supérfluas, como as paixões e a expectativa
de honras e riquezas, mas ainda hesitava em deixar tudo. Estava visível o receio (cf. VIII, 7,
17) de não repetir o mesmo erro cometido ao aderir o maniqueísmo e resolve que esperará até

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que tivesse completamente seguro que o cristianismo era o melhor caminho a seguir, assim
assolava-lhe “duas vontades, uma antiga, outra nova; uma carnal, outra espiritual, que se
combatiam mutuamente” (VIII, 5, 10). Mas, quanto mais ele conhecia a fé católica, mais tinha
certeza que havia encontrado a verdade. Esse encontro ocorreu por meio dos diversos sermões
de Ambrósio, de história de batizados que antes eram contra a Igreja Católica, como o velho
Vitorino que “não acanhou de tornar-se servo do teu Cristo” (VIII, 2, 3), em seguida
Agostinho sentiu um “imenso desejo de imitá-lo” (VIII, 5, 10). Estava certo que era melhor
entregar-se ao amor de Deus do que ceder às paixões carnais (cf. VIII, 5, 12). O contato com
vida monástica, por intermédio da narração de Ponticiano (VIII, 6), um homem religioso, mas
preso aos desejos da carne, isso se tornou um empecilho para deixar tudo; O testemunho de
Ponticiano incomodava a alma de Agostinho, mas a felicidade mundana o aprisionava por
está muito ligado aos desejos do corpo, a concupiscência.
Não demorou para uma forte agitação tomasse conta de si e deixava-lhe agitadíssimo
e em sã consciência torturava-se fisicamente. (VIII, 8, 19 – 20). Como ainda hesita em
abandonar os desejos carnais, e ao mesmo toma conta de sua alma o ímpeto desejo seguir o
cristianismo, Agostinho reflete sobre a vontade buscando compreender a razão de ser ineficaz,
tenta fundamentar seu pensamento sobre a teoria maniqueísta, dizendo que a vontade “ordena
na proporção do querer. E não é executado o que ela ordena, quando ela mesma não o quer,
pois a vontade é que ordena para que ela mesma seja vontade, e não outra” (VIII, 9, 21). Esse
conceito logo em seguida é descartado, por remeter a doutrina da existência das duas
naturezas a boa e má, situação já resolvida anteriormente, haja vista que não é possível habitar
dentro do homem duas almas, uma com a natureza boa e a outra com a má. Se isso fosse
verdade logo haveria várias vontades que entrariam em conflito, deixaria o espírito dilacerado
na luta por escolher uma opção, um caminho. Não adianta buscar justificar os próprios erros
atribuindo-os as consequências externas, pois somos dotados de liberdade é este fato que irá
determinar nossa escolha.
No entanto, a situação começa a mudar e as trevas da dúvida dissiparam-se e
encontrou-se livre para se doar totalmente a Cristo: “de tal forma me converteste a ti” (VIII,
12, 30). As Epístolas de Paulo lida na fé da Igreja Católica, revelou-lhe plenamente a verdade.
Ele narra que, no tormento das suas reflexões, tendo-se retirado num jardim, ouviu uma voz
infantil que repetia uma cantilena que nunca tinha ouvido: “toma, lê, toma, lê” (VIII, 12, 29).
Decidiu abrir os escritos paulinos e o seu olhar caiu na passagem da epístola aos Romanos
onde o Apóstolo exorta a abandonar as obras da carne e a revestir-se de Cristo (13, 13-14).

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Tinha compreendido que aquela palavra naquele momento se dirigia pessoalmente a ele,
vinha de Deus através do Apóstolo e indicava-lhe o que fazer naquele momento. Sentiu assim
dissipar-se as trevas da dúvida e encontrou-se enfim livre de se doar totalmente a Cristo:
“Tinhas convertido a ti o meu ser”, comenta ele (VIII, 12, 30). Foi esta a primeira e decisiva
conversão. Todos os seus medos e incertezas passaram e ele finalmente resolveu que iria ser
batizado. O batismo levou alguns meses para acontecer, mas durante este tempo Agostinho
aprofundou seus conhecimentos sobre o catolicismo e foi passar um tempo numa propriedade
de seu amigo Verecundo. Pediu que Ambrósio o indicasse algum livro, e este o indicou o
livro de Isaías.
Ele recebeu o batismo no dia 24 de abril de 387, em Milão, pelo bispo desta cidade,
Ambrósio, que foi um dos responsáveis pela a conversão de Agostinho. Mônica ficou muito
feliz ao ver seu filho ser batizado, há muito anos ela rezava para que seu filho se tornasse
católico, e muito ao ver seu filho batizado ficou realizada. Após receber o batismo decidiu
voltar a Tagaste, mas por um contra tempo tiveram que para em Óstia, e neste lugar Mônica e
Agostinho tiveram um encontro místico onde tentaram descobrir a verdade sobre Deus. (IX,
9). Neste dia, enquanto conversavam Mônica revelou a Agostinho que não mais possuía
desejo de viver.
Depois de perder sua mãe Agostinho volta para a sua cidade natal, e vai morar numa
propriedade de sua família, onde funda um monastério, que vive com diversos outros
católicos que desejavam seguir esta vida de abnegação. Depois de um tempo Adeodato
também morre, e Agostinho passa a se dedicar cada vez mais à igreja. Em 391 torna-se
sacerdote na cidade de Hipona e mais tarde torna-se bispo da mesma.

LIVRO X
AGOSTINHO REFLETE NÃO MAIS SOBRE O PASSADO, MAS SOBRE O PRESENTE
Agostinho deseja conhecer a Deus como é conhecido por Ele. Por isso ele confessa o
mal que fez para mostra o desgosto que tem dele mesmo e o desejo de estar com Deus.
Agostinho faz suas confissões também aos homens e afirma que acreditarão serem verdade
suas palavras pela caridade que tudo crê. Ele revela querer que sua confissão desperte naquele
que ler suas páginas, o amor pela misericórdia e pela graça divina, que fortalece e permite
tomar consciência da própria natureza e possam agradeçam a Deus junto com ele.
Agostinho continua falando que só Deus conhece verdadeiramente o homem, pois
neste existe algo que seu próprio espírito desconhece. Contudo afirma ter a certeza de que

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ama a Deus, que foi tocado por sua palavra e passou a amá-lo. Faz, então, uma pergunta:
“Que amo eu quando te amo?” E na contemplação da obra criada busca uma resposta. Mas,
sabendo que, mesmo o homem foi criado por Deus, reconhece que Deus não pode ser
percebido apenas pelos sentidos, pois é na alma – interior – onde Deus pode ser encontrado,
ultrapassando a natureza, de forma que se possa entrar em maior intimidade com aquele que o
criou.
Agostinho começa a falar da memória que, para ele, é um vasto palácio onde se
encontra inúmeros tesouros de imagens captadas pelo diferentes sentido que podem ser
recordados como lhe agrada. Diz ele: “É aí que me encontro a mim mesmo, e recordo as ações
que realizei, quando, onde e sob que sentimentos as pratiquei”. Ele enche-se de admiração e
espanto pelo fato de os homens buscarem conhecer as grandezas, mas que lhes são externas,
deixando de conhecerem a si mesmo. Agostinho continua falando sobre a memória afirmando
que nela se contem os sentimentos da alma e por meio da qual se afirma serem quatro as
perturbações do espírito: o desejo, a alegria, o medo e a tristeza. Em seguida fala do
esquecimento, que pode privar a memória de certas lembranças, mas o fato de terem se
perdido na memória não quer dizer que tenha deixado de estar presente.
Agostinho afirma que, quando busca a Deus, busca a felicidade da vida. Felicidades
que, de certo modo todos conhecem caso contrário não a desejariam e todos a desejam. Ela
não pode ser experimentada pelos sentidos. Para Agostinho esta felicidade só se tem aqueles
que servem, por amor, a Deus. Ele que é a felicidade. Portanto a felicidade consiste em
alegrar-se em Deus e gozar da verdade que é Ele mesmo. Diz Agostinho: “Onde encontrei a
verdade, aí encontrei o meu Deus”.
Em seguida declara que muito tarde amou a Deus. Buscando-O detinha-se longe Dele;
entretendo-se com as criaturas não percebia que dentro dele habitava Deus. Declara que Deus
o chamou e o tocou, então Agostinho passou a deseja-lo ardentemente, baseando sua
esperança, tendo em vista sua condição preso às fraquezas, na misericórdia daquele que
concede todos os dons. Agostinho passa a falar sobre a concupiscência da carne que busca
pelos prazeres, das tentações sentidos, da curiosidade que tudo que conhecer pelos sentidos da
carne, do orgulho que deseja ser amado ou temido por amor a si próprio, do prazer do louvor,
da tentação da vanglória que demonstra o excesso de vaidade e, do amor de si mesmo que
atribui a si por próprios méritos, àquilo que vem de Deus.
Agostinho declara que seu encontro com a Verdade lhe proporcionou a contemplação
de sua vida e ver nela o auxílio de Deus. Diz ainda, que os que buscavam a Deus por meio da

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ciência se encheram de arrogância em vez de contrição. E afirma que o verdadeiro mediador,
enquanto homem, entre o homem e Deus é Jesus Cristo. Ele vencedor e vítima, sacerdote
enquanto sacrifício, fazendo-se servo sendo Filho, transformou-nos a nós servos em filho.

LIVRO XI
MEDITAÇÃO SOBRE O PRIMEIRO VERSÍCULO DO GÊNESIS: “NO PRINCÍPIO
DEUS CRIOU...”
Agostinho esclarece novamente a finalidade de seu livro dizendo que é por amor do
amor de Deus que o escreve. Fazendo a meditação das Escrituras pede que não se engane
quanto à sua verdade e, deste modo não venha a enganar outros com elas; ele pede para que
ouça e compreenda como aconteceu a criação do céu e da terra no princípio. Em sua reflexão
afirma que as mudanças e variações que acontecem no céu e na terra anunciam que sua
existência se dá porque foram criados e aquilo que a criação reflete a beleza e a bondade
consiste na beleza e bondade Daquele que as criou. Agostinho, então faz a seguinte pergunta:
“De que modo criastes o céu e a terra?”. Ele afirma que Deus as criou pela palavra e conclui,
a partir de então que, se foi pela palavra, já existia uma criatura material que as pode dizer e
seu som pode ser transmitido no tempo. A palavra é o Verbo pronunciado eternamente e tudo
o que diz para que se faça, realiza-se. O Verbo, diz Agostinho, no Evangelho, falou com voz
humana aos homens, para que nele cressem, e crendo o buscasse, e buscando-o o encontrasse
na verdade eterna. O Verbo que é Deus, afirma Agostinho, fala no nosso interior.
Agostinho faz a seguinte pergunta: “Que fazia Deus antes de criar o céu e a terra?”
Afirmando que Deus é Criador de toda criatura, diz sem hesitação que: “Antes de criar o céu e
a terra, Deus não fazia nada”. Ele fala da eternidade na qual tudo permanece e é presente,
enquanto o tempo passa e, desse modo, nunca é todo presente. Ele que sendo Deus criador de
tudo criou também o tempo; este passou a existir a partir da criação. Se antes não existia
tempo parece conflitante perguntar o que Deus fazia. Agostinho conclui que não existiu um
tempo em que Deus não fazia nada, pois o próprio tempo foi feito por Ele.
A partir da pergunta sobre o que é realmente o tempo, Agostinho reflete e afirma que
não se pode falar da essência do tempo, senão dizer que ele tende a não existir, pois o tempo
que passa é passado e não existe mais, ao passo que o tempo que vem é futuro, portanto ainda
não existe. Enquanto que o presente está sempre passando ao ponto não ter extensão.
Agostinho explica que, passado e futuro não podem existir senão no presente: o passado na
memória que se tem no presente quando se recorda de algo verdadeiro que já passou e,

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portanto não existe mais e o futuro naquilo que se vê no presente e faz, com certeza, prever o
futuro, mas que ainda não existe. Então Agostinho define o tempo como sendo três da
seguinte forma: o presente dos fatos passados – que é a memória –, o presente dos fatos
presentes – que é a visão –, e o presente dos fatos futuros – que é a espera.
Agostinho diz ter ouvido de um homem instruído, afirmar que o tempo consiste no
movimento dos astros, o que ele diz não acreditar, pois fazendo referência do livro de Josué
(10,12s), lembra que a Escritura diz que o sol parou, contudo o tempo continuava a passar.
Agostinho afirma que se pode medir a duração do movimento dos astros com o tempo e dizer
se foi longo ou curto, mas esse movimento não pode ser o tempo. Agostinho diz, contudo, que
não se pode medir o tempo, nem o passado, nem o futuro, nem o presente, nem o tempo que
passa. A medida que se diz do tempo é o que permanece na memória do que se experimentou
com os sentidos.
Continua dizendo que o presente, por onde passa o futuro, torna-o passado. Assim o
passado “cresce” enquanto se “consome” o futuro. Então, aquilo que a alma espera, do futuro,
torna-se lembrança – passado –, do já foi objeto da atenção no presente. Agostinho fala, então,
do seu desejo pelo eterno e conclui reconhecendo a profundeza dos mistérios divinos, pedindo
para serem curados seus olhos para que possa ter o gozo de contemplar a luz de Deus.

LIVRO XII
A CRIAÇÃO
Agostinho cria seu sistema filosófico a partir das Sagradas Escrituras, sua investigação
consiste em provar racionalmente os conceitos e fundamentos bíblicos. Ao observar a
mutabilidade das coisas do mundo, o Santo Doutor acredita que todas as coisas vieram de
uma matéria informe; criada por Deus é claro. Essa matéria informe se caracterizaria como
uma massa sem figura, “um certo nada, que é e não é”. Mas tinha de existir de qualquer
maneira, para poder tomar estas formas visíveis e complexas.
Deus criou o céu e a terra com substância diferente de sua própria natureza, fez dois
mundos distintos: um perto Dele e outro perto do nada. O mundo visível foi criado a partir da
matéria informe, criada antes do próprio tempo. Há pois dois céus: o do nosso mundo físico e
o céu transcendental divino, que não é coeterno com Deus Trindade, mas que participa da
eternidade imutável, por ser a morada da Divindade.
Sobre a Criação opina Agostinho: — ‘No princípio criou Deus o céu e a terra’. Sobre
estes dois elementos, ‘céu e terra’, o primeiro formado desde o princípio, e o segundo

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inteiramente informe: céu significa o céu do céu; e terra quer dizer a terra invisível e
desorganizada. Por isso a Escritura ajuntou imediatamente a que terra se referia. Já ao narrar
que no segundo dia foi criado o firmamento que se chama céu, dá a entender a que céu se
referia antes, quando não mencionou o dia.
Já naquela época eram muitas e diversas as interpretações que se fazia da criação do
mundo, Agostinho sustentava a tese da matéria informe (terra invisível, desorganizada e
abismo tenebroso). Ele percebe que muitos sustentam opiniões não pela busca da verdade,
mas pelo orgulho e soberba. Ele fundamenta sua teoria na Palavra: “primeiramente criou o
céu e a terra, que quer dizer – ao princípio a matéria era informe e que depois a dotara de uma
forma.

LIVRO XIII
A PAZ
Mesmo não precisando do homem, Deus o protege e enche sua vida de benefícios por
seu imenso amor e bondade; e recompensa cada pelo bem que faz.
A criação na perspectiva da Santíssima Trindade se apresenta da seguinte forma: o Pai
criou o Céu e a terra no princípio de sua Sabedoria, que nasceu Dele, igual e coeterno com
Ele, isto é o seu Filho; o Espírito “pairava sobras as águas”, eis o Criador Uno e Trino de toda
criatura. O Espírito pairava sobre as águas porque não pairava acima do Pai, nem acima do
Filho, nem se poderia dizer que pairava , se não pairasse sobre alguma coisa; é claro que o Pai
e Filho também pairavam com o Espírito (Unidade). Foi escrito dessa forma para designar o
lugar de cada criatura, por exemplo: o fogo tende a ir para o alto, mas a pedra cai; as criaturas
espirituais estão mais próximas de Deus. Este mistério da SS. Trindade é muito difícil e quase
impossível de se entender. Vale observar o seguinte esquema: Espírito Santo, a quem se
atribui o Amor, assim como ao Filho, a Sabedoria e ao Pai, o Poder.
O homem para retornar a Deus deve viver em total união com Cristo, não se deixando
levar pelos instintos (sentidos imperfeitos) comparados com Serpente que enganou Eva.
Apesar de ter sido escrito por homens mortais, a Bíblia é o livro por excelência pois
foi inspirado por Deus, ele aparece-nos não como é, mas em “enigma de nuvens e através dos
espelho do céu”.
Os anjos por estarem mais próximos de Deus o vêem e entendem face a face sem
intermediários. Para os homens há a mediação do Filho. Toda natureza divina é imutável;

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existência, sabedoria e vontade, ao homem é impossível o conhecimento desse mistério pois
ele é um ser mutável.
As boas obras dos homens em favor do outros é fruto da ação de Deus neles, devemos
pois nos abrir a graça divina para praticarmos a verdadeira justiça. São essas obras que darão
testemunho aos outros, Agostinho compara os Cristãos com os astros luminosos: “Vós sois a
luz do mundo e não deveis permanecer sob o alqueire”. O principal alvo desta luz deve ser os
gentios, que por meio do batismo se revestem da graça de Deus e são levados a viver
retamente, tornando-os cristãos. Por ser a imagem e semelhança de Deus o homem deve
procurar a perfeição para si, na vida prática. O poder do homem, enquanto a principal criação
de Deus (tem inteligência), se restringe aos animais e às coisas terrenas sensíveis; mas não
recebeu poder sobre os astros do céu, nem sobre o próprio firmamento misterioso, nem sobre
o dia e a noite.
Se consideramos não alegoricamente, mas no sentido real a natureza das coisas, vemos
que as palavras “crescei e multiplicai-vos” se estendem a tudo o que nasce de semente. Se,
pelo contrário, as interpretarmos em sentido figurado, que é a opinião de Santo Agostinho
com relação ao que a Escritura pretendia, a qual com certeza, não atribui inutilmente esta
bênção só às crias dos peixes ou aos filhos dos homens! — encontraremos uma grande
multidão de criaturas corporais e espirituais, simbolizadas no céu e na terra; as almas dos
justos e perverso, simbolizadas na luza e nas trevas; os santos legisladores por quem Deus nos
deu a Lei, simbolizados no firmamento que foi estabelecida entre as águas superiores e as
águas inferiores; a sociedade dos povos amargurados pelas suas paixões, simbolizada no mar;
as afeições das almas piedosas, simbolizados na “terra enxuta”; as obras de misericórdia
praticadas nesta vida, simbolizadas nas ervas que nascem de sementes e nas árvores frutíferas;
os dons espirituais manifestados para utilidade do próximo, simbolizados nos astros do céu; as
afeições regradas pela temperança, simbolizadas na alma viva. Por isso, crer Agostinho, por
meio desta bênção, “crescei e multiplicai-vos” , Deus nos concedeu o poder e a licença de
enunciar de diversos modos o que o nosso espírito concebe duma maneira simples, e de
perceber sob várias formas o que nos vossos livros lemos enunciado, obscuramente, duma só
maneira.
Agostinho distingue entre dádiva e fruto: a primeira é o próprio objeto oferecido por
quem nos provê nas necessidades, como dinheiro, comida, bebida, roupa, posada e ajuda. O
fruto, porém, é a boa e sincera vontade do doador.

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A Criação é compara ao corpo, diverso mais cada peça é boa e essencial para o bom
funcionamento do conjunto. Deus pensou em tudo, nos mínimos detalhes. Nós somos,
inspirados pelo Espírito Santo, inclinados a praticar o bem. O Descanso de Deus no sétimo
dia simboliza, que também nós, depois dos nossos trabalhos, descansaremos em Deus, no
Sábado da Vida Eterna.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

AGOSTINHO, Santo. Confissões. São Paulo, SP: Paulus, 2002.

AGOSTINHO, Santo. Confissões. Tradução de J. Oliveira Santos, S.J. e A. Ambrósio de


Pina, S, J. São Paulo, SP: Nova Cultura, 1999.

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