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Aquicultura Ornamental de Água Doce Parte II

Article · November 2017

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Leopoldo Barreto Fabrício Menezes Ramos


Universidade Federal do Recôncavo da Bahia Federal Institute of Bahia
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Aquicultura ornamental
de água doce
Parte II
Prof. Dr. Leopoldo Melo Barreto Prof. Dr. Fabrício Menezes Ramos
Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) Instituto Federal do Pará (IFPA)
leopoldo.barreto@ufrb.edu.br fabricio.ramos@ifpa.edu.br

24 AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2017


Artigo

No artigo anterior provoca-


mos a curiosidade sobre a aquicultura
ornamental, e agora iremos falar um
pouco sobre as estruturas de cultivo
utilizadas, as estratégias reprodutivas
e pincelar sobre qualidade de água,
pois sabemos que os peixes são dire-
tamente influenciados por parâmetros
bióticos e abióticos, os quais devem
estar ajustados para a espécie, assim
levando-os ao ápice biológico, a repro-
dução.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2017 25


Estruturas de cultivo

A produção de peixes ornamentais pode ser re- caixas plásticas ou


alizada em diversos tipos de estruturas (viveiros, tanques de fibra e piscinas Trabalhos re-
e aquários) e diferentes condições de manejo. O valor in- de lonas ou manta. centes, como o
trínseco da espécie alvo é que irá determinar o nível de Essas estruturas su- de Fujimoto e
intensificação. Assim, o bom senso e experiência do pro- portam cultivos mais colaboradores (2014),
dutor (contratar consultoria se necessário) devem orien- intensivos, pois há mostram redução nos
tar na projeção e construção da estrutura, reduzindo os maior controle da custos de produção de
custos de implantação, fornecendo condições de bem-es- qualidade de água e aquários, em torno de
tar aos peixes e facilitando as rotinas operacionais. facilidade na despes- 62%, utilizando o piso
Os viveiros se destacam na produção comercial ca. Até o maior cus-
de peixes ornamentais por serem a estrutura mais utiliza- to inicial, fator que cerâmico nas laterais
da (Vidal Junior, 2006). São depressões naturais no terre- poderia ser levado e fundo do
no, reservatórios escavados ou elevados na terra, possu- em consideração, é aquário.
indo abastecimento e drenagem de água individualizado afiançado pela alta
(Oliveira, 2013). Têm como principal vantagem o baixo produtividade por
custo de construção. Por outro lado, apresentam dificul- área. De forma análoga, havendo melhor controle na
produção, podemos seguramente produzir peixes de
alto valor agregado, como kinguios e guppy’s de alto pa-
drão, Anabantídeos (peixe de briga - Betta splendens) e
Ciclídeos de forma geral.
Os aquários, construídos com placas de vidro
ou acrílicos, são também utilizados como unidades re-
produtivas. Trabalhos recentes, como o de Fujimoto e
colaboradores (2014), mostram redução nos custos de
produção de aquários, em torno de 62%, utilizando o
piso cerâmico nas laterais e fundo do aquário (Figura 1).
Os aquários facilitam a observação do comportamento
reprodutivo dos espécimes e promovem o controle das
condições ambientais. O acará disco (Symphysodon sp.)
é um forte candidato para reprodução em aquários, in-
clusive mantendo-se nessa estrutura na fase de cresci-
mento até o momento da venda.
Quaisquer das estruturas devem fornecer
aos peixes boas condições para sua manutenção, pois
nenhum animal poderá expressar seu desenvolvimen-
to e reprodução em condições estressantes (Galhardo;
© Fabrício Menezes Ramos Oliveira, 2006). Desta forma, conhecer e compreender
os processos que determinam a reprodução dos animais
Figura 1. Aquário residencial confeccionado com piso cerâmico. é parte primordial no sucesso de qualquer cultivo.

dade no manejo da água e dos peixes, assim empregados Estratégias reprodutivas:


mais na produção de peixes de baixo valor comercial, Os peixes desenvolveram diversas formas de
baixo padrão genético e baixa exigência nos cuidados,
como os Poecilídeos (Espada e platy - Xiphophorus spp., reprodução que são divididas basicamente em
guppy e molinesia - Poecilia spp.), Cyprinídeos (Barbos quatro (França, 2007):
- Barbus ssp. / Barbonymus ssp. / Puntius ssp., carpas (1) ovulíparos;
- Cyprinus carpio, kinguios - Carassius auratus e pau-
listinha - Danio rerio) e alguns Ciclídeos, como o acará (2) ovíparos;
bandeira (Pterophyllum scalare). (3) ovovivíparos;
Outras estruturas comumente utilizadas são (4) vivíparos.
tanques, que diferem de viveiros por serem revestidos
e não haver contato com o solo. Exemplo clássico são
26 ARTIGO AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2017
Nos ovulíparos a fecundação é externa, machos e fêmeas soltam seus game-
tas (óvulos e espermatozoides) na água. Após a fecundação os ovos são
levados pela correnteza na maioria das espécies de piracema, como tambaqui
- Colossoma macropomum e piau - Leporinus spp., ou podem ficar aderidos
à superfície sem o cuidado dos pais (cuidado parental), como nas carpas e
kinguios, ou ainda ficarem aderidos à superfícies, como na maioria dos Ciclídeos
(Acará bandeira e disco), os quais praticam o cuidado parental.

Quando as fêmeas liberam ao meio os ovos após fecundação interna,


são denominados de ovíparos. Pode ser observado em algumas es-
pécies de tubarões e raias (Condrictes). Neste os embriões desen-
volvem-se dentro dos ovos, mas fora do corpo da mãe, e se nutrem
das reservas presentes no ovo.

Nos ovovivíparos o desenvolvimento embrionário é realizado dentro do


corpo materno, se alimentando apenas da reserva nutritiva existente no
ovo, sem nenhuma ligação com a progenitora. Após o desenvolvimento
eclodem no oviduto da fêmea e são expelidos ao meio já como alevinos.
Estratégia encontrada comumente nos Poecilídeos (Guppys, Lebistes,
Platis etc).

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Já nos peixes vivíparos os embriões se desenvolvem dentro do corpo
da mãe, dentro de uma placenta com os nutrientes essenciais para
seu desenvolvimento. O representante mais conhecido deste grupo é o
tralhoto (Anableps sp.), porém sem muito interesse para aquicultura
ornamental, a não ser pelo fato de possuir a córnea dividida em duas,
parecendo assim ter quatro olhos.

AQUACULTURE BRASIL - NOVEMBRO/DEZEMBRO 2017 ARTIGO 27


Dimorfismo sexual

Para reprodução é necessário, muitas vezes, cistrus spp. e Peckoltia spp., por exemplo. Nos Ancistrus
reconhecer o macho e a fêmea (dimorfismo sexual), logo spp. o macho apresenta tentáculos próximos aos olhos e
formar casais ou grupos reprodutivos, principalmente boca, em maior quantidade, e mais alongados do que nas
quando se pretende realizar um trabalho de melhora- fêmeas.
mento genético. A observação das características mor- Geralmente os machos em peixes ornamentais
fológicas em exemplares maduros sexualmente geral- são mais coloridos e com padrões corporais mais chama-
mente fornece evidências para este procedimento. Os tivos, como destacado na família Rivulidae (Killifishes).
machos dos ovovivíparos apresentam um órgão copula- Quando o dimorfismo sexual não é evidente, como em
dor denominado gonopódio. Nos Condrictes este órgão acarás bandeiras, discos e peixe folha, a melhor estraté-
é denominado de clasper. Os tetras machos (Ex. mato gia é a disposição de vários exemplares maduros em
grosso - Hyphessobrycon spp., e neon - Paracheirodon aquários ou tanques para a formação de casais e posteri-
spp.) apresentam espículas na nadadeira anal. Já nas car- or separação destes.
pas e kinguios, além da nadadeira anal, os machos apre- Outra questão importante no processo reprodu-
sentam espículas na nadadeira peitoral e nos opérculos, tivo é o conhecimento da biologia da espécie, inclusive
bem destacados na fase reprodutiva. Os Ciclídeos, de sobre os fatores abióticos (temperatura, pH, salinidade,
forma geral, apresentam um aumento na porção frontal condutividade, dureza carbonatada, etc.) que regulam a
da cabeça nos machos por deposição de gordura. Nos maturação sexual, logo a reprodução. Sem a represen-
cascudos ou acaris (Loricarídeos) o dimorfismo sexual é tação fiel desses parâmetros, não importa a estrutura de
realizado pela observação de espículas (odontódeos) na cultivo ou o tipo de alimento, dificilmente haverá repro-
nadadeira peitoral e/ou no opérculo e prolongamentos dução.
de escamas em machos de Baryancistrus spp., Hypan-

© Fabrício Menezes Ramos

Figura 2. Dimorfismo sexual – Machos: aumento na porção frontal da cabeça em Citrinelos - Amphilophus citrinellus (seta amarela) e espículas
no opérculo de kinguios - Carassius auratus, variedade telescópio (seta vermelha).

Aquicultura ornamental, por onde começar?

Se o leitor nos perguntar: Qual a família de peixe é mais fácil para iniciar um cultivo? Com certeza,
respondendo de forma simplificada, proporíamos os Poecilídeos (Lebiste, barrigudinho, etc) por possuírem fácil
dimorfismo sexual, cores vibrantes, desejadas pelos aquaristas, protocolo reprodutivo simples e bem definido e sem
fase larval. Assim, seria a primeira família a indicarmos para o empreendedor iniciante que deseja empregar pouco
capital e, mesmo tendo pequeno retorno, conseguir pagar os custos de produção, escolhendo as variedades corretas
e estudando o mercado consumidor da região.
Para desfechar, no próximo (e último artigo desta série) abordaremos estratégias de alimentação para larvas
e matrizes, citaremos estratégias para o bom crescimento de algumas espécies, levando-as até o momento da comer-
cialização, tema que também será comentado, incluindo as dicas de transporte, do produtor ao consumidor. Até
breve!

Consulte as referências bibliográficas em www.aquaculturebrasil.com/artigos

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