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Camaçari-BA e sua trajetória urbana

Conference Paper · October 2008

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Rosali Braga Fernandes João Soares Pena

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IV SEMINARIO INTERNACIONAL SOBRE DESENVOLVIMENTO
REGIONAL

TÍTULO DO TRABALHO
CAMAÇARI - BA E SUA TRAJETÓRIA URBANA

TÓPICO TEMÁTICO
Número Descrição
4 Industrialização, transformações socioespaciais e gestão do território

AUTOR PRINCIPAL INSTITUIÇÃO

Rosali Braga Fernandes Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

CO-AUTORES INSTITUIÇÃO

1 João Soares Pena Universidade do Estado da Bahia (UNEB)


2 Andréa Vieira de Santana Universidade do Estado da Bahia (UNEB)

RESUMO DO TRABALHO
Este artigo trata sobre a cidade de Camaçari, abordando sua história que é marcada
pela implantação de indústrias petroquímicas. Este fato gerou a necessidade de se
elaborar planos para orientar seu crescimento urbano e industrial. Foram traçados,
após o advento industrial na localidade, seis planos, os quais não responderam a
contento aos aspectos físicos e sociais locais. Foram detectados três modelos de
desenvolvimento urbano como notórios no local. Problemas foram observados e a
pesquisa levou à proposição de algumas soluções.

PALAVRAS- CHAVE
Cidade de Camaçari; Problemas urbanos; Planejamento urbano.

ABSTRACT
This article discusses about the city of Camaçari, boarding its history that is
characterized by the implantation of petrochemical industries. This fact has generated
the need to draw up plans to guide their urban and industrial growth. There were traces
six plans after the Industrial advent in this town, which did not respond to the
satisfaction of local social and physical aspects. Three models of urban development
were discovered as striking in the spot. Problems were found and the search led to the
proposition of some solutions.

KEYWORDS
City of Camaçari; Urban problems; Urban planning.
2

INTRODUÇÃO

Camaçari é um município do estado da Bahia (Figura 1), mais especificamente


da região metropolitana de Salvador (RMS), de grande importância econômica para o
estado da Bahia por abrigar em seu território um complexo petroquímico. Possui uma
área de 759, 8 km², tendo uma divisão administrativa que envolve o distrito sede –
Camaçari (área deste estudo), além de Vilas de Abrantes e Monte Gordo. (. Encontra-
se a 41 km ao Norte de Salvador, capital do estado. Limita-se ao Norte com os
municípios de Mata de São João e Dias D’Ávila; ao Sul com Lauro de Freitas; a Oeste
com Simões Filho e a Leste com o Oceano Atlântico. (CAMAÇARI, 2005, p. 12)
(Figura 2).

Região Metropolitana de Salvador.

Fonte: http://webcarta.net/carta/mapa.php?id=287&lg=pt, acessado em 26/07/08.


Figura 1 – Estado da Bahia
3

Fonte: www.google.com, acessado em 26/07/08.


Figura 2 – Localização de Camaçari

Camaçari Tem sua história desde os primeiros anos da colonização brasileira.


Todavia, a época mais marcante de sua trajetória foi a segunda metade do século XX,
quando foram instaladas em seu território diversas indústrias do setor petroquímico.
Tal fato causou grandes modificações no espaço urbano de Camaçari, sendo
necessária a elaboração de planos para orientar seu desenvolvimento frente à
realidade industrial. Sua malha urbana denuncia a relação desta com alguns modelos
de desenvolvimento urbano, cujas concepções se dão no traçado, na organização
espacial da cidade.

Apesar de ter ocorrido em dita cidade um processo de planejamento, existem


aí problemas notórios, os quais não foram dirimidos pelos diversos planos elaborados
e implementados. Este texto é finalizado propondo soluções exeqüíveis para tais
problemas.

HISTÓRICO E ASPECTOS GERAIS

Camaçari tem sua história iniciada no século XVI no ano de 1558. Nesse
período os jesuítas fundaram a Aldeia do Divino Espírito Santo e iniciaram um
4

processo de catequização dos índios Tupinambás, criando a Companhia de Jesus. A


sede dessa missão estava localizada nas adjacências do rio Joanes. Entretanto, uma
epidemia ocorrida no referido local motivou a transferência dessa sede para uma área
próxima ao mar, denominada hoje como Vila de Abrantes. (CAMAÇARI, 2005).

O povoado de Abrantes passou à categoria de vila, sendo conhecida pelo


nome de Vila do Espírito Santo da Nova Abrantes no ano de 1758. Em 1920, cria-se o
distrito de Camaçari através de uma lei municipal. Cinco anos mais tarde a lei 1.809
muda a nomenclatura municipal, passando esta a ser Montenegro, sendo a sede o
distrito de Camaçari. (CAMAÇARI, 2005).

Na segunda metade do século XX alguns acontecimentos irão alterar


definitivamente as dinâmicas econômica e urbana de Camaçari e de seu entorno.
Conforme o censo de 1950 a população camaçariense era estimada em 13.800
habitantes, sendo que um percentual de 68% dela estava ligado às atividades do setor
primário. Na mesma década, implanta-se, na atual Região Metropolitana de Salvador
(RMS), a Refinaria Landulfo Alves. Além disso, o início das atividades da Companhia
Hidrelétrica do São Francisco (CHESF), a criação do Banco do Nordeste do Brasil
(BNB) e da Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) foram
primordiais para o que ocorreu posteriormente nas décadas de 60 e 70: a criação do
Centro Industrial de Aratu (CIA) e do Complexo Petroquímico de Camaçari (COPEC).
(PDLU, 1994) (Figura 3).
5

Fonte: Souza (2006, p. 84).


Figura 3 - Vista aérea da cidade de Camaçari nos anos 1960, obras de construção do COPEC
nos anos 1970 e Vista do COPEC no ano 2000 com a cidade de Camaçari ao fundo.

A população de Camaçari cresceu, a partir daí, vertiginosamente devido,


essencialmente, à implantação do COPEC em seu território (Tabela 1).

Tabela 1 – Camaçari, evolução da população de 1940 a 2005

Ano População Crescimento entre os anos


1940 11 118 -
1950 13 800 23,3%
1960 21 849 58,3%
1970 34 281 56,9%
1980 91 315 166,4%
1991 113 639 24,4%
2000 161 727 42,3%
2005* 191 855 18,6%
Fonte: Souza (2006, p. 82).
(*) estimativa do IBGE em 01/07/2005.
6

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),


a população de tal município é de 220. 495 habitantes em 2007.

O município sofreu também mudanças relativas à ocupação espacial,


passando a maior parte das pessoas a concentrarem-se na área urbana (Tabela 2).
Segundo dados do IBGE, a taxa de urbanização desse município é a sexta maior do
estado da Bahia, sobrepujando municípios como Feira de Santana e Vitória da
Conquista. (SOUZA, 2006) (Tabela 3).

Tabela 2 – Camaçari, a evolução da taxa de urbanização, 1950 – 2000

Ano 1950 1960 1970 1980 1991 2000


Taxa 32,2% 45,9% 60,6% 85,4% 95,2% 95,5%
Fonte: Souza (2006, p. 116).

Tabela 3 – Classificação dos dez principais municípios baianos segundo a


taxa de urbanização, 2000

Municípios Taxa de Urbanização (%)


Itaparica 100,0 *
Salvador 99,9
Saubara 98,8
Itabuna 97,2
Madre de Deus 96,4
Camaçari 95,5
Lauro de Freitas 95,4
Itapetinga 95,2
Dias D’Ávila 94,1
Eunápolis 94,1
Fonte: Souza (2006, p. 116).
(*) Ressalte-se que nesse município devido a uma lei municipal toda a população residente é
considerada urbana.

Apesar da existência de um pujante complexo industrial no município, há uma


discrepância no que tange às condições sócio-econômicas de sua população, já que
7

quase metade dela não possui renda (Tabela 4) e o índice de pobreza é crescente
(Tabela 5).

Tabela 4 – Camaçari, rendimento Médio mensal da população com 10 anos ou


mais de idade, 2000

Rendimento Médio Mensal Camaçari Percentual


Até 1 SM 24 377 19,2%
Mais de 1 a 2 SM 18 041 14,2%
Mais de 2 a 5 SM 15 671 12,3%
Mais de 5 a 10 SM 4 702 3,7 %
Mais de 10 a 20 SM 1 417 1,1%
Mais de 20 SM 524 0,4%
Sem rendimento 62 631 49,1%
Total 127 363 100,0%
Fonte: Souza (2006, p. 119).
Nota: SM = Salário Mínimo.

Tabela 5 – Camaçari, indicadores de pobreza, 1991 e 2000

1991 (%) 2000 (%)


Indigentes 18,6 21,3
Pobres 44,5 46,2
Crianças indigentes 23,6 29,0
Crianças pobres 53,1 59,3
Fonte: Souza (2006, p. 120).

INFRA-ESTRUTURA URBANA

No tocante à infra-estrutura, é relevante abordar três aspectos na cidade de


Camaçari: habitação, transporte e saneamento básico. Eles são importantes porque
ajudam a explicar a conjuntura urbana desta cidade.
8

1. Habitação

Com relação à habitação, houve desde a década de 70 um crescimento


bastante significativo devido a programas habitacionais implantados para atender à
demanda criada com a migração decorrente da construção e funcionamento do
COPEC. O Governo do Estado implementou alguns desses programas, a exemplo
das Glebas A, B, C, D, E e H, destinados aos trabalhadores que possuíam rendas de
até três salários mínimos. A Prefeitura também participou desse processo através do
Programa Habitacional Orientado de Camaçari (PHOC) destinado aqueles com rendas
mais baixas. Na mesma época foi criado o conjunto INOCOOP1, com o intuito de
atender aos que tinham uma renda um pouco superior a três salários mínimos.
(CAMAÇARI, 2005, p. 95). Mas esses conjuntos habitacionais ocasionaram problemas
urbanos, já que dito local não apresentava infra-estrutura para comportá-los.

Com a consolidação de todos estes programas, a cidade transformou-


se num conjunto de habitações populares, mas sem infra-estrutura
básica e de lazer, marcada pela ausência de esgoto, fazendo do rio
Camaçari um esgoto a céu aberto e agravando a degradação
ambiental. (CAMACARI, 2005, p. 95).

Depois do desaparecimento do Banco Nacional de Habitação (BNH), o qual


financiava tais empreendimentos, houve uma estagnação no tocante aos programas
habitacionais, sendo iniciados outros projetos semelhantes apenas a partir do ano
2000.

Existe nessa cidade uma questão delicada: o alto número de habitações


subnormais (Figura 3). Existem 44 assentamentos2 dessa tipologia, dos quais 30%
não possuem cozinhas e 37% não são dotadas de sanitários; em cada moradia
residem cerca de 4,2 habitantes. Além disso, ditas áreas têm como característica a
falta de equipamentos públicos urbanos de esporte e lazer. (CAMACARI, 2005)
(Figura 4).

1
O Instituto Nacional de Orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOP) oferecia o aporte técnico,
jurídico e contábil às Cooperativas Habitacionais em todo o Brasil. (FERNANDES, 2003). Assim, o
conjunto habitacional construído nessa lógica em camaçari recebeu o nome de conjunto INOCOOP.
2
Não foram encontradas informações precisas que expliquem o número exato de assentamentos
subnormais presentes na sede do município e nos demais distritos do mesmo.
9

Fonte: PMC/SEPLAN (2008).


Figura 3 – Bairro Nova Vitória

Fonte: PMC/SEPLAN (2008).


Figura 4 – Localização de assentamentos subnormais em Camaçari
10

Vale salientar que neste exato momento as transformações em Camaçari


seguem sendo grandes, acompanhando a tendência nacional de expansão imobiliária.
Um grande exemplo disto é o empreendimento Bairro Novo (Figura 5), situado em um
dos principais vetores de expansão da cidade, nas proximidades do Hospital Geral de
Camaçari (HGC), em um terreno de cerca de 1.100.000 m² com mais de 7.000
unidades habitacionais (Figura 6). Tal empreendimento resulta da união de duas
incorporadoras: Gafisa e Odebrecht. A proposta é construir um bairro planejado na
cidade.

Fonte: http://img.quebarato.com.br/photos/big/D/1/F92D1_2.jpg, acessado em 29/07/08.


Figura 5 – Projeto do Bairro Novo
11

Área onde será implantado o Bairro Novo.


Fonte: PMC/SEPLAN (2008).
Figura 6 – Localização do Bairro Novo

2. Transporte

O serviço de transporte urbano coletivo em Camaçari3 é feito através de


ônibus, táxis, moto-táxi e, micro ônibus e vans. Este sistema de transporte coletivo
possui 38 linhas, estas atendem à sede e à orla; seis empresas são responsáveis por
este serviço (Tabela 6).

3
Informações relativas ao município de Camaçari.
12

Tabela 6 – Serviço de Transporte Urbano – 2005

Empresa/Cooperativa Tipo de veículo Linhas Frota Passageiros/mês


VCI Ônibus e micro 10 81 340 000
LITORÂNEA Ônibus e micro 11 24 44 000
ASTAC Micro e vans 5 38 228 000
ASPROTAC Micro e vans 6 22 192 000
COOPERORLA Micro e vans 4 35 157 500
TRANRODUTOR
COOPERKOMBI Micro e vans 2 25 110 700
Total 38 225 1 072 200
Fonte: Camaçari (2005, p. 101).

Segundo a Prefeitura de Camaçari, “existem 107 abrigos de ônibus no


Município, 12 terminais e 468 paradas localizadas em pontos estratégicos”
(CAMAÇARI, 2005, p. 101) distribuídos entre a sede e a orla do mesmo (Tabela 7).

Tabela 7 – Estrutura para Transporte Urbano

Local Nº. Nº. Nº. Linha Frota Passageiros/mês


abrigos terminais ponto
ônibus
Sede 64 6 198 21 141 760 000
Orla 43 6 270 17 84 312 200
Total 107 12 468 38 225 1 072 200
Fonte: Camaçari (2005, p. 101).

O município de Camaçari tem uma frota de 24.227 automóveis emplacados


(Tabela 8), sendo que deste total 45,89% são veículos de pequeno porte, verifica-se a
predominância do uso de automóveis deste tipo (Tabela 9).
13

Tabela 8 – Frota de veículos - 2005

Tipo de veículo Quantidade


Automóveis 11 117
Motocicletas 3 908
Outros 3 516
Moto-táxi 2 800
Caminhões 1 562
Ônibus Urbano 508
Ônibus Fretamento 350
Táxi 300
Aluguel (Passageiros) 118
Transporte Escolar 48
Total 24 227
Fonte: Camaçari (2005, p. 102).

Tabela 9 – Passageiros transportados por tipo de veículo

Tipo de veículo Percentual


Automóveis 45, 89%
Motocicletas 16,13%
Outros 14,51%
Moto-táxi 11,56%
Caminhões 6,45%
Ônibus Urbano 2,10%
Ônibus Fretamento 1,44%
Táxi 1,24%
Aluguel (Passageiros) 0,49%
Transporte Escolar 0,20%
Total 100%
Fonte: Tabela elaborada pelos autores com base em Camaçari (2005, p. 102).

O número de automóveis nesse lugar, se comparado à população municipal,


não é tão grande, porém verifica-se a predominância do uso do transporte motorizado
individual seguindo a lógica das grandes cidades. Embora a cidade de Camaçari não
14

seja exageradamente extensa, podendo ser, em muitos casos, percorrida a pé, isso
não é muito recorrente. Não há um sistema viário adequado para ciclistas (ciclovias),
apesar de que o número destes seja significativo. Segundo Juan Pedro Moreno
Delgado4, Doutor em Engenharia de Transportes pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro (UFRJ), existem Políticas Nacionais de Mobilidade do Ministério das Cidades
que visam a adoção da mobilidade sustentável como meio de diminuir fluxo de
automóveis particulares de pequeno porte nas cidades, assim poder-se-ia fazer uso de
bicicletas, por exemplo.

3. Saneamento Básico

No ano de 2000 foram registrados no município de Camaçari 4.238 domicílios


permanentes, dos quais 89,9% possuíam abastecimento de água através da rede
geral, 84,8% contavam com coleta de lixo e 40,5% tinham seus banheiros ligados à
rede pluvial. Verifica-se nesse município não existe um sistema de esgotamento
sanitário, o que faz com que a maioria das habitações utilize fossas ou despejem seus
resíduos na rede pluvial. (CAMAÇARI, 2005).

A prefeitura local afirma que “em 2004 foram registrados 52.882 ligações de
água à rede geral, das quais 50.519 residenciais, e 7.048 ligações de esgoto, sendo
6.899 também residenciais” (CAMAÇARI, 2005, p. 103). Todavia, a quantidade de
ligações de esgoto continua a ser ínfima considerando o número de domicílios
permanentes existentes.

No que tange o serviço de limpeza pública, este é feito através da Limpeza


Pública de Camaçari (LIMPEC): “[...] entidade municipal que tem como objetivo
administrar e executar os serviços de coleta de lixo domiciliar, comercial, industrial,
hospitalar, varrição de vias e logradouros, serviços especiais e destinação final”.
(CAMAÇARI, 2005, p. 104).

São coletados cerca de 80 toneladas/dia de resíduos industriais, 0,5


toneladas/dia de resíduos hospitalares, 193,3 toneladas/dia de lixos domésticos e

4
Dr. Juan Pedro Moreno Delgado atualmente é professor e coordenador do curso de Bacharelado em
Urbanismo da Universidade do Estado da Bahia (UNEB), ministrando disciplinas concernentes a
transporte.
15

comerciais (abrangendo sede e orla). Além disso, a produção de lixos domésticos e


comerciais nesse território tem um dos mais altos índices do País. Influenciado pela
produção de grandes empresas, Camaçari produz 5.800 toneladas/mês desse tipo de
resíduo, correspondendo a uma geração per capita de 1,037 kg/hab/dia. (CAMAÇARI,
2005).

PROCESSO DE PLANEJAMENTO

A implantação do COPEC em Camaçari gerou a necessidade imediata da


elaboração de planos que traçassem diretrizes de desenvolvimento para os núcleos
urbanos em sua adjacência e para o próprio Complexo.

1. O Plano Diretor do Complexo Petroquímico de Camaçari

A instalação de um complexo petroquímico no território em questão gerou a


necessidade da elaboração de um plano diretor. Tal plano, publicado em 1974, tinha
como principal objetivo “[...] assegurar melhores condições de produção às atividades
industriais que se instalarão no território considerado” (BAHIA, 1974, P. 60). Além
disso, tenta: criar condições para integrar o COPEC à dinâmica econômica da Bahia e
da RMS; orientar o desenvolvimento dos núcleos urbanos que estão em sua
proximidade (Camaçari é um deles) dotando-os de infra-estrutura urbana e serviços
habitacionais.

A priori o objetivo do plano diretor do Copec, elaborado pelo Governo


do Estado através da Secretaria de Minas e Energia era suprir as
condições mínimas necessárias à geração de economias externas que
assegurassem a competitividade das indústrias que então se
instalavam. (SOUZA, 2006, p. 88).

No que tange à organização espacial, o plano traz propostas visando a reserva


de áreas para abrigar as indústrias futuras, a integração, dos núcleos urbanos com o
COPEC, garantir às áreas residenciais a ausência da perturbação gerada pelas áreas
industriais e adensar os núcleos urbanos. Ainda propõe um zoneamento de acordo
com o uso do solo: Industrial, Urbano, Usos Especiais e Proteção. (BAHIA, 1974).
16

2. Plano Piloto de Camaçari

O Plano Piloto de Camaçari foi publicado em 1975 mediante um convênio entre


a Prefeitura Municipal de Camaçari (PMC) e o COPEC, sendo considerado uma
espécie de detalhamento do Plano Diretor do COPEC.

Conforme Souza (2006), o crescimento de Camaçari sofreria a influência de


uma série de fatores externos: quantidade de empresas do segmento petroquímico
instaladas no COPEC, viabilização de verba de modo a assegurar à PMC recursos
necessários para o provimento dos serviços e infra-estrutura urbanos, atuação das
empresas ligadas à oferta de habitações e um transporte de massa na região
metropolitana de Salvador.

Souza (2006) salienta que o plano previa uma população de 150.000


habitantes para a cidade de Camaçari em até 20 anos e define uma área de 1.000
hectares para a malha urbana desta cidade em crescimento.

A enorme desproporção entre a população atual de Camaçari – 13.000


habitantes na sede – e os pelo menos 80.000 previstos para 1980, as
grandes inversões programadas pelo Governo de Estado para a infra-
estrutura urbana, o caráter estranho à área de decisão municipal do
processo abrangente em que a cidade logo será envolvida, conferem
ao Plano Piloto de Camaçari características de um projeto para uma
cidade nova, mais do que o de um plano para o desenvolvimento de
uma cidade existente em crescimento vegetativo (BAHIA, 1975, p. 8
apud SOUZA, 2006, p. 90).

O Plano Piloto (1980) faz a descrição da cidade de Camaçari de maneira


setorial. Assim, são mencionados 10 Setores Residenciais: caracterizados pela
existência de diversos programas habitacionais; 6 Setores de Atividades Especiais:
destinados às atividades de armazenamento e estabelecimentos comerciais; o Setor
Comercial Central: contém uma oferta de serviços que atende a todos os setores e é
central em relação a eles; o Parque Central: área voltada para o lazer e a recreação;
Setor Hospitalar: caracteriza-se por abrigar os serviços de saúde de grande porte;
Setor de Equipamentos Urbanos: destinado a acolher os equipamentos da
administração pública; Setor das Indústrias Urbanas: reservado às indústrias leves e
de médio porte (Figura 7).
17

Fonte: Bahia (975, p. 13) apud Souza (2006, p. 91).


Figura 7 – Plano Piloto de Camaçari
18

3. I Plano Municipal de Desenvolvimento (I PMD)

Segundo Souza (2006), o I PMD foi a primeira tentativa de planejamento


realizada pela Prefeitura Municipal de Camaçari (PMC), sendo publicado em janeiro de
1975 e considerado uma continuação do Plano Diretor do COPEC. Há a perspectiva
de implementar no âmbito do município as diretrizes deste plano. Para tanto, far-se-ia
necessário dotar a área urbana dos equipamentos mínimos necessários para a
interação de tal local com o complexo industrial.

Souza (2006) afirma que na elaboração do PMD há relevante preocupação


com os aspectos físicos, sendo priorizados itens relativos à infra-estrutura física e
social dos centros urbanos de modo que os mesmos fossem capazes de abrigar os
migrantes que viriam trabalhar na construção e operação do pólo e ao
desenvolvimento municipal “[...] estabelecendo-se reservas de espaços com o
disciplinamento dos usos do solo em todo território municipal.” (SOUZA, 2006, p. 93).

A pretensão dos idealizadores do plano é dirimir os impactos e integrar a


conjuntura do território em questão às políticas de desenvolvimento assumidas pelo
Estado. Para tanto, durante o período de vigência do plano (cinco anos) pretendia-se a
realização de uma série de ações: organizar a administração municipal, construir
equipamentos urbanos e adaptar os existentes para suprir a necessidade da
população emergente, atender à demanda de bens e serviços, a integração da
população migrante e a oferta de cultura, esporte e lazer. (SOUZA, 2006).

Verifica-se nesse plano a preocupação com a infra-estrutura urbana de


Camaçari, já que a mesma necessitava de incrementos nesse aspecto para abrigar e
atender às necessidades da população que se formava na época na referida área
devido às atividades do complexo industrial.

4. II Plano de Municipal de Desenvolvimento (II PMD)

Publicado em 1979, quando acabou o período de vigência do I PMD, o II PMD


tinha como principal objetivo:

[...] criar as condições urbanas necessárias para atração de novas


atividades econômicas e apoio às existentes, de modo a se constituir
19

em fator de desenvolvimento do município, ocupando os espaços


próprios de atuação da Prefeitura Municipal de Camaçari e articulando
com outras esferas de governo no sentido de criar os serviços
essenciais à transformação urbana necessária [...] (CAMAÇARI, 1979,
p.54 apud SOUZA, 2006, p. 98).

A fim de alcançar o objetivo citado, esse plano traça algumas estratégias:


promover uma concentração populacional em Camaçari através da oferta de
habitações e do tratamento desse núcleo nos aspectos ambiental e paisagístico,
fixação das pessoas nas vilas e povoados, desenvolvimento de atividades urbano-
produtivas e integração viária do território.

Conforme Souza (2006), esse plano indica um incentivo às atividades turísticas


na orla do município, com a implantação de equipamentos comerciais e hoteleiros e
ressalta que essas atividades só seriam viáveis com a participação dos Governos
Federal e Estadual e do Município.

5. Plano Diretor de Limpeza Urbana (PDLU)

Os objetivos do Plano Diretor de Limpeza Urbana (PDLU) contemplavam: a


coleta e destinação dos resíduos; uso de tecnologias modernas e viáveis as
características da cidade; a diminuição da geração dos resíduos gradativamente;
instigar à prática educativa ambiental e sanitária; viabilizar soluções para a melhoria
qualitativa do serviço de limpeza urbana. (PDLU, 1994).

Para execução dos objetivos supracitados, foram delineadas diretrizes


imprescindíveis, as quais compreendem: a organização da geração dos resíduos
através da coleta diferenciada; otimização do uso das tecnologias; proposição do
manuseio a acondicionamentos corretos dos resíduos; minimização dos impactos
ambientais por indicar o procedimento adequado para a recuperação das áreas
degradadas; indicação e execução das soluções que reduzam a geração de resíduos
e aumentem a reciclagem na fonte; a elaboração e execução de programas de
educação ambiental e sanitária; e recomendação do aterro sanitário como local
adequado dos resíduos sólidos. (PDLU, 1994).
20

6. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Camaçari

O Plano Diretor, instituído pela Lei Municipal nº. 866/2008 de 11 de janeiro de


2008, “[...] estabelece as exigências fundamentais de ordenação deste município, sua
sede, Zona Rural e Orla Marítima, para o cumprimento da função social da
propriedade [...]” (CAMAÇARI, 2008, p. 2).

O plano afirma no artigo 3º que se deve buscar um equilíbrio entre o


crescimento econômico e a eqüidade social, bem como a preservação do ambiente e
enfatiza a importância da democratização da gestão do município. O aceso à cidade é
um dos princípios balizadores do plano e reconhece o direito à moradia e segurança
como fundamentais.

Dito plano, como instrumento de desenvolvimento urbano, traça diretrizes com


relação a aspectos sócio-econômicos, ambientais, à estrutura urbana e à gestão do
desenvolvimento municipal. Entende-se, então, que o desenvolvimento urbano deverá
acontecer de modo a propiciar à população melhorias nas condições de saúde,
habitabilidade e investimento na infra-estrutura urbana.

Há no Plano Diretor (2008) a determinação dos distritos do município, bem


como define suas respectivas zonas urbanas e rurais. No âmbito urbano há um
zoneamento que é definido levando em consideração as características das áreas. A
Zona Central (ZCEN) compreende a porção central da cidade e é passível de
adensamento e de usos comerciais e de serviços. A Zona de Ocupação Consolidada
(ZCON) abrange os bairros já consolidados, dotados de infra-estrutura e onde pode
haver maior adensamento. A Zona de Expansão Prioritária (ZEP) constitui áreas com
alguma infra-estrutura e em consolidação, nas quais deve haver o estímulo para
ocupação. A Zona de Expansão de Comércio e Serviços (ZECS) compreende os
locais destinados aos empreendimentos de comércio e serviços. A Zona de
Transformação, Comércio e Serviços (ZTCS) comporta indústrias de impacto local
reduzido. A Zona de Expansão Controlada (ZEC) inclui áreas onde a ocupação deve
ser feita criteriosamente de modo a não comprometer o ambiente. A Zona de Interesse
Turístico (ZIT) compreende locais propícios aos usos de lazer e hoteleiro. A Zona de
Importância Ambiental e Paisagística (ZIAP) abrange áreas de média fragilidade dos
21

ecossistemas e a Zona de Proteção e Interesse Paisagístico (ZPIP) as áreas de alta


fragilidade dos ecossistemas (Figura 8).

Fonte: PMC/SEPLAN (2008).


Figura 8 – Zoneamento-sede

Um dos aspectos mais importantes desse plano é a utilização de instrumentos


de política urbana. Entre tantos o plano determina o uso de parcelamento, edificação
ou utilização compulsória, IPTU progressivo no tempo, direito de superfície, direito de
preempção e outros usados no planejamento urbano.
22

MODELOS DE DESENVOLVIMENTO URBANO5

Conforme Souza (2005, p. 71) “um modelo, tem por finalidade apresentar
alguns traços essenciais de uma realidade”. Assim, é uma simplificação da maneira
como a cidade se desenvolve em termos espaciais. Na cidade de Camaçari os
modelos detectados são o funcionalista, o de Harris e Ulmann e principalmente o
progressista.

O modelo de organização desenvolvido por Harris e Ulmann também é


conhecido como “modelo de múltiplos núcleos”, isso devido à descentralização que
propõe no interior da cidade. Nesse modelo destaca-se a presença de áreas de
comercio e serviços, residenciais e outras industriais no entorno do tecido urbano.
(SOUZA, 2005, p. 72)

O modelo funcionalista é caracterizado pela racionalização do espaço urbano,


dispondo as atividades em locais distintos. Tal modelo pode ser encarado como uma
das características do progressista, este mais amplo.6

Segundo Choay (1998, p. 20), “a idéia-chave que subtende o urbanismo


progressista é a idéia de modernidade”. A indústria e a arte são aspectos importantes.
Essa concepção analisa as necessidades humanas separando-as em zonas distintas,
havendo zonas de habitat e zonas de trabalho afastadas dos centros cívicos ou de
lazer. Isso se reflete na maneira como a cidade progressista está organizada. Além
disso, “conforme a seu modernismo, rejeitam qualquer sentimentalismo com respeito
ao legado estético do passado”. (CHOAY, 1998, p. 22). Dessa forma, essa corrente
não considera as características intrínsecas do lugar no processo de planejamento.

O espaço urbano de Camaçari é marcado pela lógica desses modelos,


principalmente do progressista. O aspecto industrial da localidade, devido à presença
do COPEC, faz dela uma cidade tipicamente progressista, já que essa é uma de suas
principais características. A divisão da cidade em setores, cada um com uma função
diferenciada é um traço forte: existem áreas destinadas, exclusivamente, às indústrias,

5
Conteúdo desenvolvido no entendimento da disciplina Modelos de Desenvolvimento Urbano, oferecida
no curso de Urbanismo, ministrada pela Profa. Dra. Rosali Braga Fernandes.
6
Ver Choay (1998).
23

tanto na área urbana quanto em seu entorno, áreas destinadas essencialmente ao


comércio e outras residenciais. Além disso, existem algumas avenidas largas e
espaços abertos.

CONCLUSÃO

É muito importante identificar os modelos que orientam o desenvolvimento


urbano da cidade, neste caso, o progressista, o funcionalista e o de Harris e Ulmann.
Assim, podem-se propor soluções para os problemas locais com base nas próprias
características dos mesmos e nas experiências de outras cidades onde tais modelos
também são detectados. A despeito do crescimento e da lógica progressista, a cidade
não apresenta um desenvolvimento eqüitativo para a maioria da população. Os planos
existentes não dirimiram os problemas antigos e as profundas desigualdades sócio-
econômicas da população de Camaçari, sendo necessárias propostas efetivas para a
resolução desse e de outros aspectos.

Dentre os problemas de Camaçari, no que concerne à sua estrutura física,


destacam-se os relacionados ao sistema viário. Suas principais vias encontram-se
saturadas, devido ao intenso uso dos automóveis individuais. Há a falta de
acessibilidade, tanto nas vias quanto nos ônibus de transporte público, e o transporte
coletivo é ineficiente. Outro aspecto é a não existência de ciclovias. Para resolver tais
questões poder-se-ia: adotar políticas de incentivo ao transporte coletivo de massa
como meio de reduzir o número de automóveis que transitam no interior da cidade;
inserir ônibus adaptados na frota de transporte público; construir ciclovias para atender
ao grande número de usuários de bicicletas.

Outro aspecto crítico são as carências no que tange o esgotamento sanitário.


Para minimizar esta séria problemática apontamos a necessidade de implantação de
um sistema eficiente de esgotamento sanitário na cidade, contemplando o maior
número de habitações possível.

Apesar dos tantos planos elaborados para esta cidade a fim de dirimir seus
problemas, tanto nos aspectos físicos quanto sócio-econômicos, o tão almejado
desenvolvimento urbano não ocorreu de maneira efetiva. Verifica-se que, apesar de
24

um grande complexo industrial, quase metade de sua população não possui renda,
sendo preciso que haja uma distribuição de renda mais eqüitativa, de modo a diminuir
a população marginalizada.

Embora dita cidade tenha uma história antiga, desde o século XVI, não há uma
significante valorização das tradições locais. Além disso, em virtude da proximidade
com a capital, as atividades ligadas ao turismo poderiam ser mais valorizadas. Assim,
a população teria maiores oportunidades para obtenção de renda, já que esse
segmento abriga a um contingente com qualificações diferenciadas, desde as mais
modernas às mais artesanais. É necessário que ações de afirmação da cultura local
sejam efetivamente desenvolvidas juntamente ao fomento do turismo.

REFERÊNCIAS

BAHIA. Secretaria de Minas e Energia. COMCOP. Plano Diretor do Complexo


Petroquímico de Camaçari. Salvador: SME, 1974.

CAMAÇARI. Camaçari, Perfil e diagnóstico: 2000 - 2005. Camaçari: PMC/SEPLAN,


2005.

CAMAÇARI. Prefeitura Municipal de Camaçari (PMC). Plano Diretor de


Desenvolvimento Urbano do Município de Camaçari, 2008.

CHOAY, Françoise. O urbanismo: utopias e realidade, uma antologia. São Paulo:


Perspectiva, 1998.

Companhia de Desenvolvimento da Região Metropolitana de Salvador (BA). Plano


Diretor de Limpeza Urbana (PDLU) Camaçari e Dias D’Ávila. Município de
Camaçari. Salvador: Conder / SEPLANTEC/BIRD, 1994.

FERNANDES, Rosali Braga. Las políticas de vivienda en la ciudad de Salvador y


los processos de urbanización popular em el caso del Cabula. Tese (Doutorado) –
Universidade Estadual de Feira de Santana, 2003.
25

SOUZA, José Gileá de. Camaçari, as duas faces da moeda: crescimento econômico
x desenvolvimento. Dissertação (mestrado) - Universidade Salvador – UNIFACS.
Mestrado em Análise Regional, 2006. Disponível em
<http://tede.unifacs.br/tde_arquivos/1/TDE-2006-11-27T165541Z-
6/Publico/Dissertacao%20Jose%20Gilea%20Souza%202006%20texto%20completo.p
df>. Acessado em 24 abr. 2008.

SOUZA, Marcelo Lopes. ABC do desenvolvimento urbano. Rio de Janeiro: Bertrand


Brasil, 2005.

Disponível em <http://webcarta.net/carta/mapa.php?id=287&lg=p t>. Acessado em 26


jul. 2008.

Disponível em <http://www.google.com>. Acessado em 26 jul. 2008.

Disponível em <http://img.quebarato.com.br/photos/big/D/1/F92D1_2.jpg>. Acessado


em 29 jul. 2008.

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