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Tribunal Superior Eleitoral

PJe - Processo Judicial Eletrônico

29/09/2022

Número: 0601310-17.2022.6.00.0000
Classe: EXCEÇÃO
Órgão julgador colegiado: Colegiado do Tribunal Superior Eleitoral
Órgão julgador: Ministro Ricardo Lewandowski
Última distribuição : 29/09/2022
Valor da causa: R$ 0,00
Processo referência: 0601212-32.2022.6.00.0000
Assuntos: Cargo - Presidente da República, Abuso - De Poder Político/Autoridade, Exceção - De
Suspeição, Ação de Investigação Judicial Eleitoral
Segredo de justiça? NÃO
Justiça gratuita? NÃO
Pedido de liminar ou antecipação de tutela? SIM
Partes Procurador/Terceiro vinculado
JAIR MESSIAS BOLSONARO (EXCIPIENTE) MARCELO LUIZ AVILA DE BESSA (ADVOGADO)
MINISTRO PRESIDENTE DO TRIBUNAL SUPERIOR
ELEITORAL ALEXANDRE DE MORAES (EXCEPTO)
Procurador Geral Eleitoral (FISCAL DA LEI)
Documentos
Id. Data da Documento Tipo
Assinatura
15816 29/09/2022 16:42 PR Bolsonaro - Exceção de Suspeição - Alexandre Petição Inicial Anexa
4151 de Moraes - Gesto Degola
EXCELENTÍSSIMO SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI, D.D. VICE-
PRESIDENTE DO E. TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL – TSE.

REF.: INCIDENTAL AO PROCESSO N.º 0601212-32.2022.6.00.0000

JAIR MESSIAS BOLSONARO, Presidente da República e filiado ao


Partido Liberal – PL, devidamente qualificado nos autos do processo em epígrafe, vem,
respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seus advogados devidamente
constituídos, com fulcro nos arts. 57 a 64 do Regimento Interno desse e. Tribunal Superior
Eleitoral c/c art. 145, IV, do Código de Processo Civil, apresentar

EXCEÇÃO DE SUSPEIÇÃO

em face do i. Presidente desse e. Tribunal Superior Eleitoral, Ministro Alexandre de Moraes,


em decor r ência de gesto associado a “degola” ocor r ido na Sessão Or dinár ia r ealizada em
27.09.2022 (ter ça-feir a), ocasião em que estava em cur so o julgamento da medida liminar
nesta Ação de Investigação J udicial Eleitor al.

Destaque-se, desde logo, que, nos termos do art. 64 do Regimento


Interno dessa Corte, a exceção de suspeição ajuizada incidentalmente em face do i. Presidente
do TSE “será dirigida ao Vice-Presidente, o qual procedera na conformidade do que ficou
disposto em relação ao Presidente”. Destarte, em razão do sistema Processo Judicial eletrônico
– PJe impedir a distribuição incidental diretamente ao i. Vice-Presidente, requer o peticionante
que, recebida a presente Exceção pelo e. Corregedor-Geral Eleitoral, Ministro Bendito
Gonçalves, seja encaminhada ao Ministro regimentalmente competente.

I. TEMPESTIVIDADE

1. Inicialmente, cumpre ressaltar a manifesta tempestividade da presente


exceção de suspeição, porquanto a Sessão Ordinária desse e. Tribunal Superior Eleitoral,

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momento em que ocorreu o ato objeto da presente petição, ocorreu às 19:00 do dia 27/09/2022
(terça-feira).
2. Assim, sendo de 48 (quarenta e oito) horas o prazo regimental (art. 58
do RI/TSE), conclui-se que o prazo para a apresentação exceção de suspeição é, no mínimo,
dia 29/09/2022 (quinta-feira), às 19:00. É tempestiva, portanto, a presente manifestação.

II. BREVE SÚMULA DA DEMANDA

3. No dia 27.09.2022 (terça-feira), durante a Sessão Ordinária do Plenário


do Tribunal Superior Eleitoral, foi referendada decisão, nos autos da ação de investigação
judicial eleitoral – AIJE 0601212-32.2022.6.00.0000, que deferiu o requerimento liminar para,
nos termos do voto do Relator, Ministro Benedito Gonçalves, conceder a tutela inibitória
antecipada e, além de determinar a remoção de vídeo da live de 21/09/2022 dos canais de
propaganda, impor que o Presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, se abstenha
de realizar lives similares em dependências do Palácio da Alvorada, do Planalto, de bens
públicos e utilizando-se de serviços a que tem acesso em função de seu cargo.

4. Na ocasião do julgamento, após o e. Relator, Ministro Benedito


Gonçalves, votar pelo referendo da medida liminar, o Ministro Raul Araújo apresentou voto
divergente, no que foi acompanhado pelo Ministro Carlos Horbach.

5. Naquele momento, formada momentaneamente maioria simples de 2


(dois) votos a (um) pelo não referendo da medida liminar – de forma a permitir a realização de
lives do Presidente da República Jair Bolsonaro de sua residência oficial –, o Excelentíssimo
Senhor Pr esidente da Cor te, Ministr o Alexandr e de Mor aes, condutor dos tr abalhos,
passa a palavr a à Ministr a Mar ia Cláudia Bucchianer i, OCASIÃO EM QUE FAZ
EXPRESSAMENTE UM GESTO DE “DEGOLA”, PASSANDO O DEDO NO
PESCOÇO.

6. Referido gesto de degola foi transmitido ao vivo pela TV Justiça e


pelas páginas de transmissão instantânea do Tribunal Superior Eleitoral, replicadas por
diversos meios de comunicação. Também foi objeto de inúmeras matérias de quase todos

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os canais de comunicação do País, que destacaram: “Moraes faz gesto associado à degola
em sessão que julgava lives de Bolsonaro no TSE” 1234.

Link da Sessão de Julgamento: https://www.youtube.com/watch?v=9UI3ezL4FrE


Trecho: 1 hora, 11 minutos e 43 segundos.
Íntegra disponível no Canal Oficial do TSE no Youtube

7. Após o gesto de “degola” feito pelo Excelentíssimo Senhor Ministro


Alexandre de Moraes, a Excelentíssima Senhora Ministra Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro
acompanhou a divergência, permitindo as lives do Presidente Jair Bolsonaro (3 x 1). Em
sequência, votaram com o Relator os Ministros Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia (3 x 3).

8. O voto decisivo, então, foi prolatado pelo Presidente da Corte,


Ministro Alexandre de Moraes, que – na linha de posicionamento favorável ao
Representante (ou, ao menos, claramente desfavorável ao Representado, Presidente Jair
Bolsonaro), o que já teria sido antecipado com o gesto de degola no curso do julgamento–
ou seja, acompanhou o Relator e proibiu o Presidente da República de realizar, no período

1
https://www.cnnbrasil.com.br/politica/moraes-faz-gesto-associado-a-degola-em-sessao-que-julgava-lives-de-
bolsonaro-no-tse/
2
https://www.metropoles.com/brasil/moraes-faz-gesto-de-degola-em-sessao-e-bolsonaristas-reclamam-na-rede
3
https://politica.estadao.com.br/blogs/fausto-macedo/alexandre-faca-pescoco-julgamento-live-presidente-
bolsonaristas-reagem/
4
https://www.poder360.com.br/justica/moraes-faz-sinal-de-degola-no-tse-e-bolsonaristas-questionam/

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eleitoral, lives nas dependências do Palácio da Alvorada, do Planalto, ou dentro de bens
públicos, utilizando-se de serviços a que tem acesso em função de seu cargo. Confira-se o
placar final do julgamento:

9. Em razão desses fatos, o Representado, Presidente Jair Messias


Bolsonaro, requer o processamento incidental da presente exceção, para que seja declarada a
suspeição do Ministro Alexandre de Moraes para julgar o caso. Consequencialmente, que seja
anulado o julgamento realizado nos autos da AIJE 0601212-32.2022.6.00.0000.

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III. SUSPEIÇÃO DO I. MINISTRO PRESIDENTE,
ALEXANDRE DE MORAES. ATO INCOMPATÍVEL
COM A IMPARCIALIDADE EXIGIDA DO

MAGISTRADO

10. Preliminarmente, é preciso deixar claro, desde o início desta exceção,


que não se pretende desmerecer as qualidades pessoais ou profissionais do Ministro Alexandre
de Moraes, d.d. Presidente desse e. Tribunal Superior Eleitoral. Questiona-se, especificamente,
sua conduta durante a Sessão Ordinária realizada em 27.09.2022 (terça-feira), notadamente
durante o julgamento do referendo em medida liminar na AIJE nº 0601212-32.2022.6.00.0000.

11. Conforme já relatado, por ocasião do referido julgamento, durante a


colheita dos votos dos demais Ministros e antes de proferir seu voto sobre a matéria
controvertida, o e. Ministro Presidente externalizou um gesto de “degola”, passando o dedo em
seu pescoço, em clara manifestação antecipada, refletindo um nítido interesse pessoal na
solução da demanda.

12. Na ocasião, com as mais respeitosas vênias, o Ministro Alexandre de


Moraes praticou ato público e objetivo em flagrante contradição com sua condição imparcial
de magistrado. Ao demonstrar, através do gesto de degola, animosidade e interesse pessoal
em desfavor do então Representado, Presidente Jair Bolsonaro, o excepto afastou-se da
impositiva imparcialidade judicial, consagrada como uma das bases da garantia do devido
processo legal, sujeitando-se à presente arguição.

13. Indubitavelmente, ao externalizar o gesto de degola, passando o dedo


no pescoço, o excepto não só adotou medida que foge à ortodoxia, mas demonstrou o interesse
de, no presente caso, atuar mais em prol dos interesses contrários à Parte, e menos como
julgador, que traz em seus ombros a toga da imparcialidade dos magistrados.

14. Neste ponto específico, não há como negar ser notória a animosidade
existente entre o magistrado excepto e a parte Representada, ora excipiente. Diversos são os

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veículos de comunicação social que divulgam, diuturnamente, conflitos pessoais e de
posicionamentos entre os envolvidos.

15. E a conduta ora hostilizada, ao sair das mídias e externalizar-se em


sessão solene de julgamento jurisdicional, revela comportamento parcial adotado pelo e.
magistrado excepto nos processos que envolvem o atual Presidente da República.

16. Não obstante, na hipótese concreta, a exteriorização de um gesto


negativo – e inequivocamente negativo, desde os tempos medievais (i.e., passar o dedo no
pescoço, significando degola) –, claramente tendencioso, por ocasião de uma sessão oficial
do Tribunal Superior Eleitoral e durante o acirrado julgamento de processo de repercussão
nacional, ultrapassa os limites da postura imparcial e desapaixonada que é exigida do
magistrado julgador.

17. Com efeito, a postura ativa publicamente exteriorizada na referida


Sessão de Julgamentos, ao fazer o gesto de degola no curso de um julgamento no qual, ao final,
prolataria o voto de desempate em desfavor do Presidente Jair Bolsonaro, revela
comportamento processual legalmente inadmissível, notadamente porque exercido por um
Ministro da Corte.

18. De fato, a imparcialidade judicial é consagrada como uma das bases da


garantia do devido processo legal. Embora não prevista expressamente na Constituição Federal,
afirma-se que “a imparcialidade é conditio sine qua non de qualquer juiz, sendo, pois, uma
garantia constitucional implícita”. (BADARÓ, Gustavo H. Processo Penal. 5ª ed. RT, 2018. p.
46).

19. Sem um juiz imparcial – e, aqui, é importante anotar que a


imparcialidade deve presidir a atuação de todos os juízes que participam do processo – não
haveria sequer falar em processo judicial, porquanto “a imparcialidade é princípio nuclear da
prestação jurisdicional, elemento essencial da Justiça” (BACHMAIER WINTER, Lorena.
Imparcialidad Judicial y Libertad de Expresión de Jueces y Magistrados. Thomson, 2008. p. 19,
tradução livre).

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20. Na doutrina do professor Antônio Magalhães Gomes Filhos consta o
ensinamento de que o juiz imparcial é aquele que não é parte e que, principalmente, não adere
aos interesses de qualquer dos envolvidos no processo. Verbis:

“A imparcialidade constitui um valor que se manifesta sobretudo no


âmbito interno do processo, traduzindo a exigência de que na direção
de toda a atividade processual – e especialmente nos momentos de
decisão – o juiz se coloque sempre super partes, conduzindo-se como
um terceiro desinteressado, acima, portanto, dos interesses em
conflito”. (GOMES FILHO, Antonio Magalhães. A motivação das
decisões penais. RT, 2013. p. 32)

21. A imprescindibilidade desse valor inerente à própria atividade


judicante, é essencial, ainda, para se garantir às partes um mínimo e efetivo contraditório. É a
imparcialidade do julgador que assegurará que a tese defensiva seja ao menos considerada –
ainda que não acolhida –, pois em uma situação de aderência anterior do julgador em desfavor
de uma das Partes, não há qualquer possibilidade de defesa efetiva, em clara hipótese violadora
dos princípios da ampla defesa e do contraditório efetivo.

22. Por mais pertinentes e judiciosos que sejam os argumentos defendidos


pelas partes, nenhum deles conseguirá convencer um magistrado que já optou “por um dos
lados”. Nesse exato sentido, é que o Código de Ética da Magistratura prevê, em seu art. 8º, que:
“o magistrado imparcial é aquele que busca nas provas a verdade dos fatos, com objetividade
e fundamento, mantendo ao longo de todo o processo uma distância equivalente das partes, e
evita todo o tipo de comportamento que possa refletir favoritismo, predisposição ou
preconceito”.

23. Não se desconhece que o juiz, como ser humano e cidadão, tem seus
posicionamentos pessoais e suas convicções. O que não se admite, no entanto, é a
externalização desse posicionamento em manifestações públicas e, pior, durante uma sessão
solene de julgamento colegiado.

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24. O julgador não pode sair de sua posição equidistante das partes e se
aproximar dos interesses de algum dos lados, sob pena de clara e inaceitável afronta à
imparcialidade judicial. Conforme ensina Ferrajoli, “esse distanciamento do juiz relativamente
aos escopos perseguidos pelas partes deve ser tanto pessoal como institucional”.
(FERRAJOLI, Luigi. Direito e Razão. 4ª ed. RT, 2014. p. 535). Não é o que verificamos na
hipótese concreta.

25. Deveras, e com todas as vênias ao eminente Ministro Alexandre de


Moraes, inegável que seu favoritismo e sua predisposição restaram, no caso específico,
sobejamente exteriorizadas a partir da realização do gesto de degola no curso de um
importantíssimo julgamento eleitoral envolvendo o Presidente da República e em momento
anterior à própria prolação do voto de Sua Excelência.

26. Tal ato gestual, repita-se, demonstra manifesta parcialidade, ainda que
desconsideradas as regras tácitas de condução formal em um Colegiado. Portanto, o
comportamento do excepto é incompatível com sua permanência entre os julgadores da presente
ação de investigação judicial eleitoral – AIJE 0601212-32.2022.6.00.0000.

27. É nesse sentido que a atuação do e. Ministro Alexandre de Moraes dá


ensejo à incidência de causa de suspeição prevista no Código de Processo Civil, pois “há
suspeição do juiz (...) interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das partes”
(art. 145, IV, CPC/2015). Confira-se a legislação aplicável e o seu regramento interno nessa
Corte:

CPC/2015

Art. 145. Há suspeição do juiz:


I - amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes ou de seus
advogados;
II - que receber presentes de pessoas que tiverem interesse na causa
antes ou depois de iniciado o processo, que aconselhar alguma das
partes acerca do objeto da causa ou que subministrar meios para
atender às despesas do litígio;

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III - quando qualquer das partes for sua credora ou devedora, de seu
cônjuge ou companheiro ou de parentes destes, em linha reta até o
terceiro grau, inclusive;
IV - interessado no julgamento do processo em favor de qualquer das
partes.

Regimento Interno do Tribunal Superior Eleitoral

Capítulo VIIl
Das Exceções de Suspeição
Art. 57 - Qualquer interessado poderá arguir a suspeição dos Juízes
do Tribunal, do Procurador Geral ou dos funcionários na Secretaria
nos casos previstos na lei processual civil e por motivo de parcialidade
partidária. Será ilegítima a suspeição quando o excipiente a provocar
ou depois de manifestada a sua causa, praticar qualquer ato que
importe a aceitação do recusado. (Redação dada pela Resolução nº
4.578/1953)

Art. 58 - A exceção de suspeição de qualquer dos Juízes ou do


Procurador Geral e do Diretor Geral da Secretaria deverá ser oposta
dentro de 48 horas da data em que, distribuído o feito pelo Presidente,
baixar à Secretaria. Quanto aos demais funcionários, o prazo acima se
contará da data de sua intervenção no feito. (Redação dada pela
Resolução nº 4.578/1953)
Parágrafo único - Invocando motivo superveniente, o interessado
poderá opor a excessão depois dos prazos fixados neste artigo.
(Redação dada pela Resolução nº 4.578/1953)

Art. 59 - A suspeição deverá ser dedusida em petição fundamentada,


dirigida ao Presidente, contendo os fatos que a motivaram e
acompanhada de documentos e ról de testemunhas. (Redação dada
pela Resolução nº 4.578/1953)

Art. 60 - O Presidente determinará a autuação e a conclusão da petição


ao relator do processo, salvo se êste fôr o recusado, caso em que será
sorteado um relator para o incidente. (Redação dada pela Resolução
nº 4.578/1953)

Art. 61 - Logo que receber os autos da suspeição, o relator do incidente


determinará, por ofício protocolado, que, em três dias, se pronuncie o
recusado. (Redação dada pela Resolução nº 4.578/1953)

Art. 62 - Reconhecendo o recusado, na resposta, a sua suspeição, o


relator determinará que os autos sejam conclusos ao Presidente.
(Redação dada pela Resolução nº 4.578/1953)
§ 1º - Se o Juiz recusado fôr o relator do feito, o Presidente o
redistribuirá mediante compensação e no caso de ter sido outro Juiz o

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recusado, convocará o substituto respectivo em se tratando de processo
para cujo julgamento deva o Tribunal deliberar com a presença de
todos os seus membros; (Redação dada pela Resolução nº 4.578/1953)
§ 2º - Se o recusado tiver sido o Procurador Geral ou funcionário da
Secretaria, o Presidente designará, para servir no feito, o respectivo
substituto legal. (Redação dada pela Resolução nº 4.578/1953)

Art. 63 - Deixando o recusado de responder ou respondendo sem


reconhecer a sua suspeição, o relator ordenará o processo, inquirindo
as testemunhas arroladas e mandará os autos à Mesa para Julgamento
na primeira sessão, nêle não tomando parte o Juiz recusado. (Redação
dada pela Resolução nº 4.578/1953)

Art. 64 - Se o Juiz recusado fôr o Presidente, a petição de exceção será


dirigida ao Vice-Presidente, o qual procedera na conformidade do que
ficou disposto em relação ao Presidente. (Redação dada pela
Resolução nº 4.578/1953)

28. De fato, esse agir como parte interessada no resultado do julgamento


desvela, com as mais respeitosas vênias, a falta de isenção com que o Ministro Presidente,
Alexandre de Moraes, tratou o caso e a pessoa do Representado, Presidente Jair Bolsonaro. A
imparcialidade, em seus aspectos objetivo e subjetivo, é pressuposto da atividade judicante. Daí
a razão pela qual o Ministro que não se mostra suficientemente distanciado da causa não pode
julgá-la.

29. São essas razões que, com todas as vênias, levam à iniciativa legítima,
oportuna e tempestiva de arguir a suspeição do Ministro Alexandre de Moraes, por seu
comportamento parcial externalizado em plena sessão solene de julgamento.

30. A manifestação pública e objetiva por meio de gesto absolutamente


parcial – como o de degola no curso do julgamento – não é consentânea com o dever de
imparcialidade, impedindo que os fatos pontuados na grave ação de ação de investigação
judicial eleitoral sejam analisados de forma justa, desapaixonada e imparcial.

31. Sobretudo porquanto o referido gesto de “degola” feito pelo


Ministro Alexandre de Moraes foi realizado no momento em que o placar do julgamento
estava 2 (dois) votos a 1 (um) em favor do Presidente Jair Bolsonaro, e

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consequencialmente antes do voto decisivo do Presidente da Corte, Ministro Alexandre
de Moraes, no momento em que o placar estava 3 (três) votos a 3 (três) – na linha do
posicionamento claramente desfavorável ao Representado, Presidente Jair Bolsonaro (já
antecipado com o gesto de degola no curso do julgamento) –, votou por proibir o
Presidente da República de realizar, no período eleitoral, lives nas dependências do
Palácio da Alvorada, do Planalto, ou dentro de bens públicos, utilizando-se de serviços a
que tem acesso em função de seu cargo.

32. Finalmente, é importante destacar que, até o presente momento, não


houve qualquer manifestação OFICIAL do e. Ministro Alexandre de Moraes sobre os reais
motivos que o levaram a externalizar o referido gesto em plena sessão de julgamento. Muito
embora veículos de comunicação tenham compartilhado que “fontes ligadas ao ministro,
porém, que o gesto não tinha nenhuma relação com o julgamento e seria uma espécie de
brincadeira de Moraes com um assessor que demorou a passar uma informação que ele havia
pedido 5”, tal justificativa não se mostra crível pela ausência de demonstração de elementos
objetivos de que o gesto não se relacionava com o julgamento, além de não configurar o
posicionamento pessoal e oficial do excepto.

33. Dito de outra forma, notícias veiculadas pela imprensa não podem
embasar decisões judiciais porquanto não podem ser entendidas como prova do fato noticiado
e, no caso, cabe ao Excepto apresentar suas explicações de maneira oficial e formal, ainda mais
quando se verifica que o inusitado gesto ocorreu durante o julgamento de um caso específico,
onde é notória a animosidade entre ele, Sua Excelência Ministro Alexandre de Moraes, e o ali
representado, Presidente Jair Bolsonaro. Não há, de qualquer forma, como se presumir que o
gesto realizado se referisse a situação diversa do que a tratada naquele julgamento.

34. In casu, dadas as particularidades do processo em julgamento (com


quórum de votação bastante acirrado), da repercussão nacional da matéria em debate, da ampla
disseminação do gesto realizado (segundo a imprensa, as menções ao episódio alcançaram
“assunto do momento” no Twitter, com 97,1 mil postagens até o início da tarde de ontem,

5https://www.metropoles.com/brasil/moraes-faz-gesto-de-degola-em-sessao-e-

bolsonaristas-reclamam-na-rede

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28/09 6) e, principalmente, da notória animosidade existente na relação profissional mantida
entre os envolvidos, caberia ao Excepto se manifestar oficialmente para assegurar aos seus
pares, às partes e à própria sociedade, que o gesto não se referiu àquele caso específico.

35. Em palavras claras: necessária e oportuna seria a manifestação oficial


do e. Ministro Presidente para esclarecer que, ao realizar o gesto de degola, não estaria,
antecipadamente, externalizando sua predisposição de “degolar” o direito do Presidente da
República de realizar lives em redes sociais das dependências do Palácio do Planalto, o que,
coincidentemente, veio a ocorrer momentos depois com o seu decisivo voto.

36. A falta de explicações, com todas as vênias, apenas corrobora a


inconveniência do episódio; e reforça, ademais, a carga de parcialidade e pessoalidade existente
na postura adotado pelo e. Ministro Presidente.

37. Nos precisos dizeres do professor Gustavo Badaró, “o juiz, em relação


ao qual se possa temer legitimamente sua falta de imparcialidade, perde a confiança que os
Tribunais de uma sociedade democrática hão de inspirar em seus jurisdicionados” 7.

38. E, no caso concreto, não há como negar que a atuação do e. Ministro


Alexandre de Moraes, notadamente do que tange ao comportamento de Sua Excelência em
sessão, coloca em xeque a sua imparcialidade para o julgamento em apreço, sendo
absolutamente legítima, portanto, a pretensão de afastá-lo do caso.

39. Portanto, tendo agido de forma parcial na Sessão Or dinár ia r ealizada


em 27.09.2022 (ter ça-feir a), em decor r ência de gesto associado à “degola” quando em
cur so o julgamento da medida liminar nesta Ação de Investigação J udicial Eleitor al
ajuizada em desfavor do Pr esidente da República J air Bolsonar o, o Ministr o Alexandr e
de Mor aes compr ometeu objetivamente sua impar cialidade par a julgar o caso de maneir a
isenta e distanciada, como o or denamento jur ídico impõe a todo e qualquer magistr ado.

6
https://noticias.uol.com.br/colunas/carolina-brigido/2022/09/28/gesto-de-degola-de-alexandre-de-moraes-foi-
brincadeira-para-assessor.htm
7 Processo Penal. 5ª ed. RT, 2018. p. 49.

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Número do documento: 22092916413278700000156850895
40. O acolhimento da presente exceção é medida imprescindível ao válido
e regular desenvolvimento do devido processo legal, máxime por ser nulo, nos termos do
regimento interno e das legislações aplicáveis, o julgamento de AIJE por Ministro que atua de
forma parcial.

IV. PEDIDOS

41. Ante todo o exposto, requer-se a instauração da presente exceção de


suspeição, bem como a suspensão liminar dos efeitos do julgamento da AIJE 0601212-
32.2022.6.00.0000, enquanto a presente arguição não for definitivamente julgada, máxime pelo
resultado de 4x3 enquanto pendente a declaração de parcialidade de um Ministro. Após, a
remessa dos autos deste incidente ao excepto para que se manifeste, caso queira. Ao final, o
reconhecimento da suspeição do Ministro Alexandre de Moraes, bem como a nulidade do
acórdão prolatado na AIJE 0601212-32.2022.6.00.0000 em razão do julgamento ocorrido na
Sessão Ordinária realizada em 27.09.2022, com a inclusão dos autos em nova pauta, ocasião
em que o Ministro Alexandre de Moraes não poderá participar do quórum.

Nestes termos, pede e espera provimento.

Brasília/DF, 29 de setembro de 2022.

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