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Experimento ]101 - Introdução à Física Experimental

Introdução e Guia para um bom aproveitamento nas


aulas de Física Experimental
Esta aula tem o objetivo de orientá-lo como proceder na disciplina de laboratório am
de se obter um melhor aproveitamento dos trabalhos experimentais. Informações mais de-
talhadas podem ser encontradas na referência [1].

Sugestões gerais
• É recomendado que tenha um caderno apenas para a disciplina.

• Antes da cada experiência faça (em casa) um roteiro de procedimentos. Tome nota
dos principais conceitos que serão abordados. Escreva as principais fórmulas que serão
utilizadas (ex. cálculo dos desvios). Preveja as diculdades e as estratégias para
contorná-las.

• Anote todos os dados obtidos. Dados considerados esquisitos ou anômalos devem


ser identicados com uma pequena anotação ao lado (como: "Nesta medida alguém
esbarrou na mesa e a régua se deslocou, podendo ter afetado esta medida.").

• É recomendado que você leve um computador com um programa instalado (de sua
escolha) para tratamento dos dados durante o experimento.

Como fazer um bom relatório


Um relatório deve conter: Título, Autor(es), Data da realização do experimento, Intro-
dução, Objetivos, Procedimento Experimental, Resultados e Discussões, Conclusão, Refer-
ências e Anexos (se necessário).

• A introdução deverá possuir um resumo teórico da experiência. Deverão ser expostos,


sucintamente, os conceitos teóricos utilizados. Descreva o experimento e as motivações
para realizá-lo. Utilize para isso a literatura pertinente (livros texto, livros de referên-
cia, internet, etc.), mas atente-se para evitar o plágio.

• O objetivo deve conter uma descrição sucinta do que se pretende obter da experiência.
• Na seção de procedimento experimental deve-se descrever o procedimento seguido em
aula (escreva o que foi feito, não necessariamente o que foi proposto, justicando e
discutindo a escolha). Cite a estimativa dos erros nos dados devido aos aparelhos,
procedimentos usados e erros de leitura.

• A seção de resultados e discussões deve, em um primeiro momento, apresentar todos


os dados coletados (por meio de tabelas, grácos, esquemas etc.). Em seguida, deve
apresentar o tratamento dos dados brutos (usando algum modelo teórico), junto com
a avaliação nal do erro. Deve car claro como chegou ao resultado. Lembre-se que os
resultados obtidos e seus desvios precisam ser discutidos. Sempre que possível, compare
os resultados com os resultados conhecidos ou esperados teoricamente.

• Na conclusão é necessário apresentar de forma sucinta os principais resultados da ex-


periência, assim como deve ser concluído o que foi encontrado em relação ao que era
esperado segundo a literatura.

• Todos os livros-texto e demais referências utilizados para confeção do relatório e real-


ização do procedimento precisam ser mencionados nas referências formatados segundo
a ABNT.

Observação: Mesmo se o relatório for individual, escreva os nomes dos componentes do


grupo que realizou o experimento com suas respectivas matrículas.
Não esquecer: Coloque as Unidades de medida (no Sistema Internacional - SI) para
cada grandeza. Figuras, grácos, esquemas, etc. referidos no texto devem ser legendados e
enumerados.

Erros
Se medirmos a massa de diferentes objetos com uma balança que não foi devidamente
calibrada, todas as medidas estarão sempre acima ou abaixo do valor real das massas. Nesse
caso, temos um erro sistemático no nosso experimento (veja a Figura 1). Tais erros são causa-
dos por fontes identicáveis e podem ser eliminados ou compensados. Note que se medirmos
a massa de um mesmo objeto várias vezes, as medidas provavelmente terão precisão alta (o
valor medido não será muito diferente a cada nova medida), mas o valor não se aproxima
do valor esperado, mesmo realizando o experimento muitas vezes. Portanto dizemos que
erros sistemáticos prejudicam a exatidão da medida, e é muito importante tentar identicar
e eliminar o maior número possível de fontes de erro sistemático quando realizamos um
experimento.
Por outro lado, mesmo se eliminarmos todos os erros sistemáticos em determinado ex-
perimento, toda medida realizada tem um erro experimental associado. Erros aleatórios são
utuações, que fazem com que cerca de metade dos valores medidos estejam acima e a outra
metade abaixo do valor esperado. Tais erros afetam a precisão da medida (veja a Figura
1). Usualmente, minimizamos os erros aleatórios realizando um mesmo experimento diver-
sas vezes. Apesar de não ser possível eliminá-los, em geral esses erros podem ser tratados
quantitativamente por meio de métodos estatísticos, permitindo determinar seus efeitos na
grandeza física medida.

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Figure 1: Erros sistemáticos interferem na exatidão das medidas (os valores medidos estão
consistentemente acima ou abaixo do valor real) e devem ser evitados. Erros aleatórios
podem ser apenas minimizados, e estão associados a precisão da medida (cerca de metade
dos valores estarão acima e outra metade abaixo do valor esperado). Figura retirada de [1].

Tratamento estatístico de medidas com erros aleatórios


Suponha que você fez N medidas independentes para uma grandeza x. Vamos denominar
xi cada um dos valores obtidos (com i = 1, 2, . . . , N ). A média µ destes valores é denida
por
1 X
µ= xi (1)
N i
Devido aos erros aleatórios, espera-se que os valores medidos estejam distribuídos em
torno da sua média µ. Se as medidas se afastam muito do seu valor médio, a medida tem
baixa precisão e o conjunto das N medidas terá alta dispersão. Quantitativamente essa
dispersão pode ser caracterizada pelo desvio padrão do conjunto de medidas, denido como:

v
u N
u 1 X
∆x = t (xi − µ)2 (2)
N − 1 i=1

O resultado deve ser apresentado com a média e o erro obtido. Convém mencionar que o
número de casas decimais apresentado na média deve ser o mesmo apresentado no erro. Por
2
exemplo, g = (9, 85 ± 0, 05)m/s
À medida que se realiza mais medidas da mesma grandeza sob as mesmas condições, o
efeito dos erros aleatórios vai sendo minimizado e a média do conjunto de medidas, x, vai se
tornando uma grandeza mais precisa. O erro padrão da média é denido como:

∆x
∆x = √ (3)
N
E o erro relativo percentual numa medida x com erro absoluto ∆x será dado por:

∆x
∆xr = × 100% (4)
x

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Se a partir de uma grandeza medida x, calculamos outra grandeza f que depende de x
de acordo com f = f (x), usaremos a convenção de expressar o resultado na forma média de
f : f ± ∆f , ondef = f (x) e  
df
∆f = ∆x. (5)
dx x=x

E se a função depende de duas ou mais variáveis independentes, f = f (x, y), então

s 2  2
∂f ∂f
∆f = (∆x)2 + (∆y)2 (6)
∂x ∂y

em que as derivadas parciais são avaliadas em (x, y).

Faça você mesmo


Suponha que em um experimento medimos o tempo de queda livre de uma partícula,
t, e a distância percorrida na queda, h para calcular a aceleração da gravidade g, usando
g = 2h/t2 . Se conhecemos os valores médios medidos de t e h com os respectivos erros,
t = (1, 20 ± 0, 05)s e h = (3, 38 ± 0, 05)m, obtenha o erro ∆g e expresse o resultado da
medida de g .

Figuras, tabelas, equações e grácos


Figuras e Tabelas
As Figuras e Tabelas devem ser numeradas em sequência e conter uma pequena legenda
descritiva. Os grácos, desenhos, esquemas e fotograas são todas guras, não há razão para
abrir sequências diferentes (ou seja, não escreva Gráco 1, e sim Figura 1).

Equações
As equações (pelo menos as mais relevantes) devem ser numeradas para referenciá-las
mais adiante, quando confrontarmos as previsões do modelo com os resultados experimentais.
Dena, imediatamente antes ou logo após, os símbolos matemáticos novos que aparecerem
em cada equação.

Características dos Grácos


Devem ser claros e conter um título, eixos, escalas, unidades e barras de erro. O tamanho
dos pontos deve ser visível ao leitor, mas não deve sumir com sua barra de erro. Escolha
bem as escalas do seu gráco, coloque o valor mínimo do eixo mais próximo do menor valor
de seus dados e o valor máximo do eixo mais próximo do maior valor se seus dados. (Sempre
que possível comece o seu eixo em 0). Use o espaçamento de dados em cada escala de forma
que não carregue visualmente seu gráco. Nas Figuras 2 e 3 são mostrados exemplos de
grácos bem e mal elaborados, respectivamente.

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Figure 2: Exemplo de um gráco bem elaborado. Figura retirada de [1].

Faça você mesmo


Discuta com seus colegas quais são os erros apresentados nos grácos da Figura 3. O que
poderia ser mudado em cada gráco?

Determinação dos coecientes de uma reta


É muito frequente em física experimental o problema de determinar os estimadores α̂ e β̂
dos coecientes α e β , respectivamente, que melhor representam a relação linear entre duas
variáveis aleatórias x e y:
y = α + βx (7)

a partir de um conjunto de pares de valores medidos (yi , xi ), i = 1, . . . , N .


Os estimadores α̂ e β̂ podem ser obtidos por meio das relações:

PN PN PN PN PN
(xi yi ) − N
PN
x2i
P
i=1 i=1 yi − i=1 (xi yi ) i=1 xi N i=1 i=1 xi , i=1 yi
α̂ = PN 2 PN e β̂ = PN 2 PN . (8)
N x − ( x ) 2 N i=1 xi − ( i=1 xi )2
i=1 i i=1 i

Para que essas fórmulas possam ser aplicadas, certas condições devem ser satisfeitas: os
valores xi devem ser medidos sem erro; todos os yi devem ter a mesma distribuição (mas,
obviamente, com diferente média) e o mesmo desvio padrão σ .
PN PN
Denindo x = i=1 xi /N e y = i=1 yi /N , temos que α̂ e β̂ se relacionam por α̂ = y−β̂x.
Essas expressões podem ser desenvolvidas a partir da denição de quadrados mínimos [2].
Em alguns casos, pode ser conveniente usar o método gráco, que consiste em traçar,
usando lápis e uma régua, uma reta média que se ajuste visualmente aos dados.

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Figure 3: Exemplos de grácos mal elaborados. Figura retirada de [1].

Contudo, na maioria dos casos usaremos algum programa gráco para computadores,
como Excel ou xmgrace, para elaborar os grácos e fazer o ajuste adequado. É importante
que todos os estudantes aprendam a usar no mínimo um programa para elaborar grácos e
fazer ajustes ao longo do curso.

Faça você mesmo


Um aluno durante seu experimento encontrou os seguintes valores para velocidade, repetindo
o experimento por 3 vezes.

Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3


Tempo (s) Velocidade (m/s) Velocidade (m/s) Velocidade (m/s)
2 22,00 22,50 22,00
5 52,00 51,10 50,86
8 82,00 80,50 78,98
11 112,00 100,80 114,86
14 142,00 139,90 146,08
17 172,00 170,00 174,09
20 202,00 200,34 203,76
23 232,00 229,98 234,87
26 262,00 256,70 269,40
29 292,00 289,54 294,82
32 322,00 321,45 324,01
35 352,00 348,90 357,90

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Calcule a média e o desvio padrão de cada velocidade em cada tempo. Faça um gráco
com estes valores usando o software de sua preferência (ou o indicado pelo professor). Inclua
no gráco uma barra de erros com o desvio padrão calculado para cada valor de velocidade.
Faça ajustes lineares, exponenciais e em lei de potência e discuta se algum deles representa
razoavelmente bem seus dados.

Faça você mesmo


Usando uma régua milimetrada, meça a largura e o comprimento de uma folha de papel
A4 e expresse seus resultados. Informe o resultado para o seu professor; ele deverá comparar
e discutir os valores encontrados por todos os alunos. Encontre o valor médio e o respectivo
erro associado à medição. Calcule a área dessa folha de papel, com o respectivo erro (valor
mais provável e seu respectivo desvio).

Linearização de grácos
Se lidamos com fenômenos nos quais as grandezas x e y estão relacionadas por uma
relação linear (y = Ax + B ), podemos obter por regressão linear estimativas para A e
B e tirar informações importantes sobre o experimento. Entretanto, em muitos casos as
grandezas estudadas não obedecem uma relação linear. Para facilitar a análise dos dados
obtidos, podemos linearizar o gráco, ou seja, transformar uma curva que não é uma reta
em uma reta.
Podemos fazer isso por uma troca de variáveis. Por exemplo, suponha que estamos
vericando a Lei de Coulomb medindo força eletrostática em função da distância entre as
−2
cargas. Como a Lei de Coulomb tem a forma F = Cr , onde C é constante, se zermos o
gráco de F ×r ele certamente não será linear. Contudo, se denirmos uma nova variável
x = r−2 , o gráco de F ×x será linear, pois agora F = Cx. Por meio desse novo gráco,
conseguimos estimar o valor da constante C e comparar com a previsão teórica. Note que
para fazermos esse procedimento precisamos saber de antemão a Lei Física que se pretende
investigar.
Também podemos linearizar um gráco por meio de papéis especiais, como o mono-log e
o log-log (ou di-log), que são papéis em que uma ou ambas as escalas são logarítmicas.

References
[1] Guia para Física Experimental - Caderno de Laboratório, Grácos e Erros. Prof. Dr.
Carlos Henrique de Brito Cruz, Prof. Dr. Hugo Luis Fragnito, Ivan Ferreira da Costa,
Bernardo de Assunção Mello. Instituto de Física, Unicamp (1997).

[2] Data analysis recipes: Fitting a model to data, David W. Hogg, Jo Bovy (NYU), Dustin
Lang, 2010. arXiv:1008.4686

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