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Descrição da Reunião da IC

1. Apresentação Daniela: 6:44 a 7:30 (46s)


Boa tarde a todas, todes e todos
Eu sou Daniela Gaudino e sou professora da UNEB. Antigamente eu dizia que
eu sou cria da UESC, agora eu não digo mais. Agora eu digo que sou cria do
mundo. Mas eu fiz graduação na UESC, graduação em letras. Trabalhei na
UESC como docente durante 4 anos, professora substituta, desde 2011 sou
professora da UNEB e sou doutorada em estudo étnicos e africanos pela
UFBA, conclui o doutorado ano passado e estou feliz com esse reencontro aqui
com vocês e com o grupo.
2. Fala Daniela 49:05 a 1:09:00 (19min55s)
Quero dizer que eu estou muito emocionada, foi bom começar ouvindo vocês,
porque eu sei que é um lugar comum, o que eu vou falar, mas realmente
passou um filme na minha cabeça, porque vocês falaram do UPT, do PRUNE,
do Bantu-IÊ, do PRODAPE. E aquelas fotos que Danilo mostrou, então eu
fiquei profundamente emocionada e não acho que erramos ao acreditar na
potência das ações afirmativas. Começo dizendo isso. Então... eu já me
apresentei, falei que a minha formação acadêmica inicial foi na UESC. Esqueci
de acrescentar que eu sou uma mulher itabunense, então eu quero destacar
minha fala em dois momentos que não daria para dar conta dessa trajetória,
dessa historicidade (em apenas um momento?).
A primeira parte da fala é destacar os três cursos pré-universitários,
principalmente os daqui de Itabuna, porque são os que acompanhei como
colaborada ou fazendo parte da coordenação. As ações que antecederam
dentro da UESC a aprovação da resolução das cotas. E deixar uma
provocação final sobre o risco da descontinuidade das ações afirmativas. Então
eu quero que fui inserida nesse movimento de cursos pré-universitários quando
eu era graduanda em letras na UESC, eu participei como professora voluntária
do curso João Candido. Acho que o marco desse movimento, pelo menos aqui
em Itabuna, precisa ser o curso João Candido. Em 1999 ele funcionou aqui no
São Caetano, em uma sala emprestada de uma escola privada e ele foi
pensado e tocado por quadros do movimento estudantil da UESC. Bom, pelo
menos na linha histórica que eu faço, acho que a gênese desse movimento
social dos cursos pré-universitários, é o curso joão candido, que não tem esse
nome por acaso, faz referencia ao almirante negro. E lá, nós sofremos uma
descontinuidade, o curso não foi concluído porque faltava uma estrutura que
garantisse o material didático, o deslocamento dos professores que eram todos
e todas estudantes da UESC e não teriam condições de se bancar para uma
ação voluntária. Então já demarco a gênese teve essa interrupção por uma
questão estrutural. E aí em 2002, nós tivemos uma articulação grande em
Itabuna, que desaguou na criação do PRUNE, o Pré-Pniversitário para negros
e excluídos. Onde Rafael Bertoldo estudou e Danilo transitou porque Danilo
veio do Universidade para todos. E foi outro marco nessa trajetória, pois a
primeira vez que um curso pré-universitário articulou a institucionalização da
secretária municipal de Educação de Itabuna, que era onde eu atuava como
profissional e os movimentos sociais, o ação negra, a pastoral da juventude e
tantos outros movimentos que se articularam entorno dessa luta pelo acesso à
universidade. O PRUNE chegou até 400 alunos, o PRUNE já nasceu gerando
polêmica, porque ele não era consenso no âmbito municipal, da
institucionalidade de um governo municipal e na formulação das políticas. Com
PRUNE eu quero dizer que todo esse movimento que desaguou nas cotas da
UESC e que chega até esse grupo de pesquisa do qual estamos discutindo
hoje, é um movimento muito de fora para dentro. De fora das instituições para
dentro e houve o momento de forte embate dentro da gestão municipal, na
formulação das políticas publicas e aos poucos o PRUNE se consolidou como
uma importante política publica pensada, coordenada e desenvolvida com os
movimentos sociais. Então o PRUNE se inspirou muito no EDUCAFRO, na
Rede PVNC da baixada fluminense, no instituto Steve Biko de Salvador e ele
veio para comprovar isso que Rafael falou, que Danilo falou. Danilo disse uma
fala emblemática, que ele enquanto egresso da UPT dialogando no BANTU-IE
com egressos do PRUNE, sentiu a diferença, e essa diferença foi o currículo
que formou esses sujeitos que entraram na universidade. Em 2002, antes da
aprovação da lei 10.639, já havia uma articulação para repensar as bases
monoculturais de um currículo. Lembro que a gente pautava muito isso: que
preparar para o vestibular era algo que a gente não queria, a gente queria uma
formação política para ingresso na universidade pública. Então não é o
“aprovar para o vestibular”, naquela época não existia o ENEM ainda. Pelo
menos já implementado. Mas é pensar o para além da prova. O que esse
estudante vai fazer quando chegar na universidade, que tem essa estrutura
conservadora como é a UESC e que podemos dizer isso pois estamos nela ou
passamos por ela.
A chegada do primeiro grupo de estudantes do PRUNE, encontrei até uma
revista aqui que tem uma foto da primeira turma e relendo essa página hoje, eu
fiquei aqui pensando os embates que a gente viveu dentro da gestão municipal
que não tinha como prioridade a democratização do acesso à universidade
pública, porque o âmbito municipal trata da educação básica, mas a gente fez
essa provocação articular e terminou sendo. São várias páginas sobre as
políticas de educação e o PRUNE tem meio paragrafo e uma foto. Não sei se
vai dar para ver, mas eu reencontrei nessa foto a primeira turma de egresso do
PRUNE, que era bem maior, mas aqui na foto tem 5 estudantes. Lembro que
aqui tem uma foto do nosso querido Gilvan do bairro Maria Pinheiro e ele disse
“graças ao PRUNE realizei o sonho de entrar na universidade, vou retribuir
sendo útil a comunidade onde moro.” Esse é o diferencial, o diferencial é o
currículo! Não é uma aprovação individual, é o ingresso coletivo na
universidade. Sujeitos que veem de família que eles e elas são as primeiras
pessoas a entrar no ensino superior.
Lembro de Egnaldo França que defendeu o mestrado recentemente na UFSB,
eu participei da banca. Egnaldo fez, se eu não me engano, eu não sei se foram
7 ou 10 vestibulares até entrar na universidade. Então é uma história de
exclusão ao sistema educacional. É evadido do ensino superior por ter que
trabalhar cedo, é interromper a trajetória de estudo. Eu lembro que no PRUNE,
os estudantes e as estudantes organizaram a formatura do PRUNE. Aquelas e
aqueles que tinham já três anos de curso e não tinha conseguido ingressar na
UESC porque não era uma concorrência democrática. Se é que existe
concorrência democrática! Não existia posição de igualdade no vestibular. Eles
concorriam com grupos de jovens e pessoas adultas com história de privilégios.
De acesso à internet, a computador, a biblioteca, a livros, à uma regularidade
na educação, que esses estudantes vindos desses bairros periféricos de
Itabuna não tinham.
O PRUNE chegou até 400 estudantes, ele teve financiamento da fundação
Ford, da Unesco. Ele compôs a rede da PPCOR, programa de políticas da Cor,
do laboratório de políticas publicas da UERJ e vocês falando aí eu fiquei
pensando na audácia. Eu não me recordo exatamente o ano, mas em 2002 ou
2003, nós estando fora da UESC, realizamos dentro da UESC um seminário
chamado Desigualdade Raciais na Sociedade Brasileira, com recursos dessa
rede da UERJ, trazendo pesquisadores das relações étnicos-raciais de vários
lugares do Brasil para dentro da UESC, para provocar a UESC a pensar nas
ações afirmativas e fomos execrades, execrados e execradas. Naquele
momento não me recordo o ano, nossa rede foi acusada de inaugurar o
racismo dentro da universidade. Eu quero dizer isso para vocês, não vai dar
tempo de falar as outras coisas, mas eu preciso dizer: o primeiro ponto é o
curso joão candido que sobre uma interrupção por não ter condições
estruturais de garantir a regularidade das aulas. Nós não terminamos o ano de
1999.
O segundo é o PRUNE que acessa dois financiamentos internacionais e chega
com essa potência de dialogar com os movimentos Sociais. Quando o PRUNE
ganha uma visibilidade, até porque ele passa por uma política pública municipal
pensada e desenvolvida com os movimentos sociais, gerou uma polêmica em
Itabuna. Eu lembro de artigos no jornal A Região dizendo que nós estávamos
criando racismo dentro da universidade. Que não era possível que tinha um
grupo fazendo um curso para negros e excluídos. Por que um curso que não
seja para todo mundo, mas só para negros e excluídos. E ali, indiretamente,
porque não era nosso objetivo, mas nós demos visibilidade a discussão sobre a
política de cotas. Aquele limiar de 2002 para 2003, a UERJ, a UNEB já
avançadas nessas discussões, e outras universidades depois. A gente mirou
no curso pré-universitário e acertou na polêmica das cotas aqui na nossa
cidade.
Então quando essa primeira turma chega à universidade, ela encontra na
universidade docentes da UESC que já tinham passado pelo PRUNE, como
formadores dos educadores e das educadoras, nós tínhamos um recurso de
formação continuada e quem fazia eram docentes da UESC, esse grupo que
colaborava com o PRUNE, começou a pensar em uma forma de
acompanhamento dos egressos do PRUNE e aí, nós fomos para o embate da
isenção da taxa do vestibular para os estudantes do PRUNE. O Universidade
Para Todos já tinha isenção depois que o PRUNE conseguiu a isenção. Aqui
estou resumindo, porque foram muitas polêmicas. O acompanhamento que foi
o PRODAPE, um projeto que foi escrito em 2004, a várias mãos, mas a maioria
das mãos de pessoas que estavam fora da universidade, como a professora
Larissa, a professora Gislene, que não eram do quadro institucional da UESC.
Eu mesmo era do quadro transitório porque era uma professora substituta.
Nós pensamos um projeto de permanência dos estudantes egressos, porque
nós sabíamos que a sociedade que nos execrou nos acusando de inaugurar o
racismo, era uma sociedade que também estava institucionalizada na UESC.
Foram vários ataques protagonizados por estudantes e professores da UESC
nos acusando, a primeira que nós fizemos para professores do PRUN,
selecionando estudantes do curso de licenciatura na UESC, pedimos
autorização. Foi um momento tenso, pois espalharam cartazes falando mal.
Nós fizemos cartazes a mão sinalizando os locais das entrevistas,
conseguimos o apoio do departamento de educação da UESC para usar as
salas e fazer as entrevistas. Havia cartazes rasgados, questionamentos sobre
a inauguração do racismo na UESC.
Já falei que a gente enquanto rede de curso pré-universitário e depois quando
o PRUNE se instigue enquanto política no final do ano de 2004, o pré-afro
decide se constituir como um curso independente no bairro maria pinheiro, mas
o encartarte, que eu queria acrescentar, já fazia parte, junto com a ação negra,
pastoral da juventude e o MNU, como membros da coordenação geral do
PRUNE.
Tudo isso que nós fizemos provocou dissidências no campo educacional, na
institucionalidade do ensino superior na região. Só havia UESC naquele
momento, não havia UFSB. As faculdades privadas estavam chegando em
Itabuna, mas a gente não tinha interesse em preparar e promover o ingresso às
instituições privadas.
O que fica dessa história, já para concluir, é que a eficácia das políticas de
ações afirmativas elas só são alcançadas, se essas ações forem pensadas e
desenvolvidas como ações integradas. Não dá para pensar no acesso e
abandonar essas presenças na universidade e não pensar na política de
permanência. Pensar o acesso implica pensar a permanência e nós pensamos
o acesso e permanência na graduação e na pós. Porque o PRODAPE e o
BANTU-IE foram também muito revolucionários. Nós criamos na UESC o
primeiro curso de pós-graduação gratuito, porque até então as especializações
da UESC eram pagas. Uma taxa simbólica, mas havia pagamentos de taxa. E
com o apoio do programa UNE AFRO, nós escrevemos e desenvolvemos,
formamos não sei agora se foram duas ou três turmas, porque nesse processo
eu sai da UESC e fui para UNEB como professora, das especializações da
educação e relações étnicos-raciais. Então precisamos pensar a continuidade e
não sofrer a descontinuidade dessas políticas. E termino fazendo uma reflexão
de Carlos Morre, um intelectual negro, no livro Racismo e Sociedade diz: O
racismo não retrocede nunca e cada vez que nós avançamos, o racismo
avança também. Isso é para nós desistir? Não! Ele diz que o racismo só pode
ser combatido processualmente com ações contundentes e integradas, porque
se a gente alcança uma conquista e recua, o racismo avança, ele se realimenta
e avança com um poder maior sobre as instituições.
Queria falar da constituição antidemocrática da UESC, enquanto uma
instituição que nasceu atrelada a monocultura do cacau e uma mentalidade,
um local que passou por um coronelismo e que se habituou a apropriar na
riqueza e não pensar na mínima de uma justa distribuição dessa riqueza
gerada pelas mãos dos trabalhadores e trabalhadoras rurais dessa região na
sua maioria negros e, não vamos esquecer, indígenas também.
Acho que o PRUNE pautar ações afirmativas, trazer a rede PPCOR para
região, incomodou muito porque entrou em choque com essa mentalidade.
Parecia que estava tudo assentado na universidade e de repente chega um
grupo tresloucado, estou ironizando, de fora da universidade, para dizer que a
universidade não era democrática. Nós cursos de grandes de grande prestígio
social da UESC, historicamente a presença negra e indígena era mínima ou
nula, o que prova que não só a Uesc, mas todas as universidades brasileiras
nascem de projetos antidemocráticos, mas estou falando especificamente dela,
que nasce a partir da FESP que é a congregação das federações de escolas
superiores de Ilhéus e Itabuna. E tem relação, tem uma intencionalidade que
foi registrada em artigos de opinião de formar uma elite pensante para ocupar
espaços nas instituições de poder da região. Isso não sou eu que estou
dizendo, há artigos que depois eu posso passar para vocês. Artigos da década
de 80, artigos da época da estadualização da UESC, dizendo que
precisávamos de uma universidade pública para formamos os futuros A, B e C
ocupantes dos cargos A, B, C da região. Então eu concluo dizendo que é uma
instituição que nasce para migrar do poder do latifúndio para o poder da
institucionalidade e outros campos da vida política, da vida social da região. E
aí, as ações afirmativas realmente vem para desestabilizar essa calmaria.
Segundo bloco
1 parte
Daniela: 1:23:34 a 1:27:41 (4min07s)
Foi um projeto escrito por 5 pessoas que só duas pertenciam ao quadro institucional
da UESC, então ficou a professora Alba sozinha e na verdade o PRODAPE pelo que
se transformou, depois com o BANTU-IE que teve financiamento do programa UNE-
AFRO do MEC, que não existe mais esse programa neste contexto fascista.
O PRODAPE tinha que ter sido institucionalizado, tinha que ter virado uma política da
universidade no campo das ações afirmativas, deveria ter sido transformado em uma
política de permanência, mas ele foi aprovado como um projeto de extensão de autoria
de dois colegas professoras e o restante que se desvinculou da colaboração com a
UESC, e não foi uma política institucionalizada. Venceu o prazo do projeto de
extensão. Esse é o risco da descontinuidade que eu falei a pouco. A gente precisa
pensar as ações afirmativas no caráter transversal e continuo. Eu não posso adotar
uma política de permanência por 4 anos e no quinto ano essa política deixa de existir.
Porque a partir do momento que eu aprovo uma resolução das cotas, todo ano vai
entrar cotistas na universidade.
Eu não sei como está o cenário na UESC hoje, pois tenho dialogado pouco com a
UESC por conta das atividades intensas da UNEB, a UNEB é um mundo! Mas eu
posso falar das experiencias da UNEB. A UNEB tem uma pró-reitora de ações
afirmativas e hoje como docente eu oriento iniciação cientifica voltada para estudantes
cotistas. Neste mês agora de outubro, os estudantes cotistas vão concluir os seus
artigos. Recebem a mesma bolsa no valor do programa de IC da UNEB, a bolsa de
400 reais e desenvolvem pesquisas voltadas para esse campo. Há várias formas de
políticas de permanência.
Chegou um momento que o PRODAPE chegou a trabalhar com assistencialismo, foi
chocante a primeira turma egressa do PRUNE que chega à universidade, a gente
passa a acompanhar fora da universidade e sabe que a menina que passou em
segundo lugar para matemática, não tinha um tênis para ir a UESC, ela só tinha uma
calça jeans que no ano anterior ela usava como farda escolar. Tivemos que atuar
nesse campo, o acompanhamento feito pelo PRUNE antes de virar PRODAPE.
Tivemos que garantir essa condição mínima de dignidade para que estudantes fossem
para universidade com um calçado e com uma calça jeans que não fosse a do
uniforme que durante dois anos ela usou para ir à escola no ensino médio. Chegou um
ano que a dificuldade era gritante. Era não ter o dinheiro do ônibus, Vércio falou sobre
isso, era não ter como se alimentar e passar o dia todo na universidade, o curso era a
tarde, mas tinha que está pela manhã fazendo alguma atividade. Tivemos que atuar lá
no básico para garantir essa estrutura, mas volto a dizer que foi uma falha institucional
da UESC em não institucionalizar a proposta do PRODAPE, a proposta de
acompanhamento e de permanência de estudantes oriundos desses cursos pré-
universitários.
Segunda parte
Daniela: 1:43:20 a 1:44:07 (adendo) (3min47s)
Aproveitando o que Vércio acrescentou porque realmente foram dois nomes que
deveria ter citado, a professora Elis e o professor Carlão. Eu só queria corrigir a minha
fala, pois naquele momento eu estava me referindo ao grupo que escreveu a proposta
inicial, que fez tramitar no conselho, no consepe, então os dois representantes da
UESC foram Wagner e Alba, mas Carlão e Elis tiveram papel fundamental quando
avançou para o BANTU-IE, então agradeço a Vércio pelo lembrete.
Terceiro bloco
Daniela: 1:59:39 a 2:07:16 (7min37s)
Na verdade, nesse debate de hoje a minha narrativa só pode ir até 2006 porque no
final de 2006, eu já estava na transição para a UNEB, então há aspectos do BANTU-IE
na reta final que eu não participei.
Queria destacar uma questão que terminou passando batida que foram as realizações
dos fóruns pro lei 10.639 que foram realizados aqui na região com essa equipe que
criou PRODAPE, BANTU-IE e eu lembro de ter participado em Itacaré, em Ipiau e em
algumas cidades aqui da região e como foi um momento importante, fazer essa
formação sobre o ensino de história e cultura afro-brasileira, dialogando com
educadoras e educadores das escolas públicas nessas cidades. E os estudantes e as
estudantes bolsistas que estavam ligadas a esses projetos que nós citamos aqui e ao
programa PRODAPE, tinham uma atuação muito forte nessas escolas. Desenvolviam
oficinas, atividades formativas.
Por que estou dando exemplo do fórum? Porque vou encerrar minha fala dizendo isso:
a importância de um processo formativo! O Rafael trouxe a informação que a bolsa de
permanência, que eu não sei se ela é especificamente para estudantes ou se abre
para outras categorias, não sei como está funcionando, como já disse, não estou mais
na UESC.
Me chamou atenção a fala de Rafael que a bolsa de permanência mais que não
necessariamente está vinculada a uma formação, a um projeto de extensão, a um
projeto de pesquisa. Acho que a política de permanência deve está atrelada a uma
política de formação dos estudantes cotistas, pois o maior problema enfrentado na
universidade pelos cotistas, é a formação baseada em um currículo monocultural e
epistemicida. E aí não estou falando da UESC, mas nas instituições de ensino superior
que se fundam em currículos silenciadores de tudo que não passa pela europa, uma
filosofia, uma sociologia, uma antropologia, uma teoria literária e por aí vai. Então
inserir estudantes cotistas em políticas de permanência que estejam atreladas a
formação da conta de algumas lacunas desses currículos dos cursos de licenciaturas
e de bacharelado.
Gostaria de elogiar o grupo de pesquisa, elogiar as falas de todo mundo que se
pronunciou. O primeiro passo vocês já estão dando que é recuperar uma historicidade
e recuperar uma linha que se rompeu, mas que pode ser reatada. A segundo é, acho
que merece reativar os ânimos na comunidade acadêmica da UESC a retomar essa
discussão de políticas afirmativas. Não o projeto da professora A, B ou C que na
universidade estão desenvolvendo essas ações, mas políticas de permanência.
Mapear! Aí na universidade temos muitas companheiras, muitos companheiros.
Temos pesquisadoras e pesquisadores negros, quando a gente iniciou essa trajetória
não havia essa presença tão numericamente como agora de pesquisadores e
pesquisadoras negros nos cursos da UESC. Precisamos articular e fazer uma
provocação de pensar uma política de permanência para estudantes ingressos pelo
sistema de cotas, pois a luta não termina no ingresso, outra luta se inicia com o
ingresso!
O que Vércio falou da UNEB, a UNEB aprovou a resolução das cotas no inicio dos
anos 2000, mas ela reformulou e nessa reformulação ela ampliou as categorias.
Colocou cigano, pessoas trans e foi ampliando as categorias. Foi o que eu disse no
inicio da minha fala, não podemos retroceder, tem que ser daqui para frente, ampliar
as políticas de acesso e permanência e sempre pensar nessa junção do acesso
articulado com a permanência. Ainda há na UESC professores e professoras que
atuaram nessa época. A professora Elis que o Vércio lembrou muito bem e outros
nomes que chegaram. Temos professoras no departamento de educação de filosofia e
ciências humanas discutindo essas questões e seria importante se articular.
Queria agradecer por me provocarem a recuperar essa linha do tempo. Alguém
perguntou se houve pesquisa com egressos, mas isso não posso responder, pois
como já disse, em 2006 eu já estava em transição saindo da UESC. Egressos do
PRUNE nós fizemos acompanhamento enquanto existia o PRODAPE, mas sabemos
porque conhecemos esses sujeitos porque tem muita gente como o Danilo, o Rafael
que entraram na pós-graduação, que concluíram a pós-graduação, são docentes da
UNEB, tenho colegas na UNEB que são egressos desse momento. São docentes da
rede publica de ensino, da REDE IFBA, do IFBAIANO, mas eu não sei dizer se o
BANTU-IE fez essa pesquisa, pois eu já não estava na UESC.
Só agradecimentos, estou disponível. e indicaria que vocês conversassem,
convidassem também em um outro dia as professora Larissa Pereira e a Girlene
(professora do IFBA) que está no IFBA e, quem sabe, a professora Elis que está na
UESC.

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