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Edital 2020
1. Identificação
2. Relato de Experiência
Resumo:
Desenvolvimento
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Símbolo Adinkra dos povos Akan, localizados no continente africano. Sankofa é a imagem de um
pássaro que olha para trás e significa “volte e pegue” trazendo a ideia de olhar para o passado, para
entender o presente e pensar o futuro.
desenvolvimento e a aplicação dos planos de ensino e do PPP pensando que é uma
escola que difere das outras instituições por estar vinculada a universidade, sendo
uma escola pública federal. Falamos sobre nossas trajetórias dentro dos seus
cursos, nossas expectativas e anseios para vivenciar esse momento. O grupo era
bem diverso, alguns chegando, outros no meio da bolsa e eu já finalizando a
participação no programa, mas todos com o desejo grande de estar na escola e
principalmente nessa instituição, por todo o histórico que se tem sobre o Colégio de
Aplicação.
Movida pelo desejo, expectativa e curiosidade dos bolsistas em conhecer o
Colégio, a professora Mônica organizou uma série de encontros convidando os
professores da escola para falar sobre as suas experiências e como tem sido nesse
formato de ensino remoto devido a pandemia, encontros que foram super
importantes para entender o funcionamento da escola, as atividades elaboradas, os
estudos dirigidos, as metodologias e estratégias de ensino.
O Colégio de Aplicação é dividido em cinco projetos de ensino que atendem
determinadas etapas da educação básica, são eles: Unialfas (1º ao 5º ano), Amora
(6º e 7º anos), Pixel (8º e 9º), Ensino médio em redes (atente todas os anos do E.M)
e o EJA (educação de jovens e adultos). No projeto Unialfas as atividades são
trabalhadas pelo bloco das Multilinguagens/Arte envolvendo a música, o teatro e as
artes visuais de forma conjunta. No projeto Amora e Pixel esses três componentes
curriculares são desenvolvidos de forma separada. Já no 1º e 2 º do Ensino Médio
os alunos escolhem uma das quatro linguagens para fazer e no EJA tem o Bloco de
Expressão e Movimento que compõe música, teatro, artes visuais e educação física.
Cada encontro contou com educadores que atendem esses projetos, trazendo
relatos não só desse período de pandemia, mas também como as atividades eram
feitas antes e como foi adaptá-las, ou não, para esse formato online.
Sem dúvidas a dificuldade de acesso dos educandos às plataformas digitais
nesse contexto pandêmico, relato de todos os professores, foi a ponta do iceberg
que na sua base ressaltou todos os problemas de um país desigual como o Brasil.
Essa crise sanitária mundial deixou mais evidente e escancarada as desigualdades
sociais que atingem grupos racializados, pessoas que se encontram à margem,
marcadas pelos estigmas sociais de uma sociedade sustentada pelas perspectivas
de mundo do ocidente e suas violências. Todos os encontros foram marcados por
falas que denunciam a negligência e o descaso que atinge a educação pública e
seus educandos, evidenciando os grupos que mais são lesados por esse sistema
que secularmente destrói nossa subjetividade e mata nossa humanidade, que em
massa são as populações negras e indígenas, expondo a urgência de políticas
públicas que minimizem essa disparidade e proporcionem a essas pessoas o direito
de acesso às esferas públicas de forma digna.
Trago isso porque percebemos que as câmeras nos levaram para dentro da
casa desses alunos, saímos do ambiente físico da escola e adentramos nas suas
residências, diante disso as câmeras também nos mostram os problemas que
atravessam esses núcleos familiares deixando mais visíveis suas dificuldades e
problemas. Problemas como violência doméstica, fome, saúde mental, saneamento
básico, acesso a internet, estrutura física de moradias, analfabetismo digital e tantas
outras dificuldades que assolam essas famílias. A preocupação da comunidade
escolar com o seguimento das atividades de ensino foi muito além do aprender, do
fazer e do entregar, estamos vivendo uma crise histórica onde vemos o direito à
vida sendo negligenciado por um governo negacionista, isso atinge toda a
população, em diferentes proporções, obviamente, mas atinge.
Importante dizer que o Colégio de Aplicação foi criado dentro desse sistema
branco eurocêntrico que atende aos privilégios de um grupo determinado da
população, mas que com o passar dos anos foi democratizando o acesso e hoje a
entrada dos alunos se dá através de um sorteio. Com a democratização do acesso,
o perfil dos alunos ingressantes se tornou diversificado, reunindo sujeitos de
diferentes classes sociais, etnias, espaços geográficos da cidade, experiências e
visões sobre o mundo. Com o distanciamento social e as tentativas de se
estabelecer o ensino remoto, as dificuldades das famílias de baixa renda ficaram
mais expostas, mostrando suas vulnerabilidades e a forma como o sistema é
omisso às suas necessidades. Estamos lidando com a morte diariamente de forma
desumana, desse modo, como dar seguimento no processo de aprendizagem?
Como ajudar o filho a fazer as tarefas da escola em casa? Como fazer com os
alunos que não querem abrir as câmeras no dia das aulas síncronas? Como lidar
com a saúde mental desses sujeitos? E principalmente, como garantir o direito
desses sujeitos à educação em tempos de ensino remoto onde o Apartheid Digital
grita na nossa porta?
Esses e tantos outros questionamentos não são novos, apesar de muitas
pessoas só terem conseguido percebê-los diante da pandemia, mas são problemas
reais que atingem um número significativo da população, visto que a população
preta é maioria nesse território e é a população que junto com os povos indígenas
vem sendo atingida em massa por essa crise sanitária que só realçou as violências
históricas direcionadas a esses corpos.
Outra perspectiva importante de trazer é o quanto os próprios bolsistas
também estão sendo afetados por essas dificuldades e violências do qual eu
mencionei anteriormente e se encontram nas mesmas situações que os alunos das
escolas, onde de novo a dificuldade de acesso às plataformas digitais, seja pelo
pacote de internet que não dá conta das demandas ou a falta dos aparelhos
necessários para efetivar o acesso, são um problema. Em um dos encontros que
tivemos, que não fazia parte dos projetos de ensino, mas sim dos Seminários de
Verão, a professora Suiane Costa Ferreira da UFBA (Universidade Federal da
Bahia), aponta dados estatísticos do IBGE sobre o acesso da população brasileira
a internet e aos aparelhos digitais, trazendo o quando o acesso não é igual para
todos, que muitas pessoas pretas que conseguem alcançar essa rede, muitas vezes
fazem dentro dos espaços de ensino que agora se encontram fechados, o que
impede a realização das atividades remotas e indica novamente que pessoas
brancas ainda assim conseguem acessar.
Esses foram alguns dos apontamentos que faço, a partir desse lugar das
desigualdades sociais que apareceram durante os encontros e que são de extrema
importância pra gente entender o cenário da educação no país e compreender o
quanto ela está relacionada com as outras esferas sociais, políticas e econômicas
que envolvem a educação de um sujeito. Não tem como pensar e planejar
atividades remotas, na minha área, por exemplo, sem pensar na estrutura que essa
criança e esse adolescente se encontra em questão de moradia, onde muitos
dividem o quarto com outros familiares, não tem espaço em casa ´para fazer a aula,
não gosta da sua casa e por isso não quer gravar o vídeo que a professora pediu,
sua moradia se encontra em situações precárias, ou porque está triste e deprimido.
São uma série de fatores que devem ser analisados e que acabam deixando a
realização das atividades pequenas diante da complexidade do momento que
estamos vivendo.
Trazendo um pouco sobre a área da dança no Colégio de Aplicação,
conforme eu trouxe lá no início, ela foi inserida como componente curricular
recentemente, então grande parte dos encontros focou mais nas outras áreas por
estarem há bem mais tempo na escola. Tivemos um encontro com a professora
Débora Allemand, que ingressou no Aplicação em setembro de 2019 como a
primeira professora licenciada em dança. Ela fala sobre esse processo de inserção
da dança dentro da escola, sobre como foi para a comunidade escolar receber a
dança no currículo, relata sobre as dificuldades e anseios desse processo. Aponto
na fala dela a percepção de compreender que apesar da dança estar há pouco
tempo como componente curricular ela já se encontra inserida na escola em outras
instâncias como projetos de extensão, programa de estudo de outras disciplinas,
nos próprios bolsistas e atividades como o OCA.2
Com este edital remoto o acompanhamento dos bolsistas com os alunos se
deu através das atividades entregues pelo moodle da escola e dos relatos dos
professores durante os encontros. A professora Mônica nos inseriu em algumas
turmas para que pudéssemos acompanhar as atividades que estavam sendo
propostas pelos educadores e também poder ver o que que os alunos estavam
fazendo. Eu fiquei em duas turmas de 1º ano do ensino médio, que são as turmas
da professora Débora, mas que devido aos estudos no doutorado teve que se
afastar e foi substituída por outra professora e também contou com as aulas de
estagiárias(os) da licenciatura em dança da UFRGS. Durante o encontro ela
comentou que por ser apenas uma professora, a dança era oferecida apenas para
as turmas de 1º e 2º do Ensino Médio e que em 2021 seria oferecida também para o
3º ano.
As aulas acontecem então em encontros síncronos e assíncronos com
atividades semanais. As atividades foram elaboradas trazendo os recursos que os
alunes tivessem em casa pensando nas diferentes realidades, as professoras
exploraram experimentações com o corpo na sua infinidade de movimento trazendo
movimentos do cotidiano e investigações com o corpo nos espaços da casa,
também usaram o recurso de uma plataforma digital que durante a pandemia
viralizou mais ainda, que foi o Tik Tok, onde as “dancinhas” como são chamadas
são baseadas em pequenas coreografias que viraram febre na internet.
Na ideia de nos aproximarmos das nossas atividades enquanto bolsistas,
relato a elaboração de um plano de aula, que poderia ser tanto para o formato
online, como para o presencial. Como a minha linha de pesquisa na dança está
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Olimpíadas do Colégio de Aplicação
direcionada às estéticas negras, elaborei meu plano com mais duas colegas do
residência, a Aline Centeno e a Karine Guedes, que também são mulheres pretas e
trabalham sob a mesma perspectiva que eu, que são as danças negras. Fizemos
um planejamento voltado para as corp(o)ralidades das danças afro-brasileiras a
partir de três gêneros: Dança Afro-Gaúcha, Funk e Danças Carnavalescas. Cada
uma ficou responsável por um gênero, o meu foi Dança Afro-Gaúcha. Os planos
foram elaborados baseados nas competências e habilidades da BNCC e o público
alvo eram alunos do 2º ano do ensino médio.
Conclusão
Referências
Eu, Natália Proença Dorneles, autorizo a utilização pela Capes do presente relato
de experiência, na qualidade de bolsista residente, sob responsabilidade do(a)
Docente(a) Orientador(a) FLAVIA PILLA DO VALLE vinculado ao Programa de
Residência Pedagógica da UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
(Nome da IES). Meu relato escrito poderá ser incluído nos bancos de dados e nas
plataformas de gestão da Capes, podendo, eventualmente, ser reproduzido,
publicado ou exibido por meio dos canais de divulgação e informação sob
responsabilidade desse órgão.
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Residente Natália Proença Dorneles
(Nome e Assinatura)