Você está na página 1de 2

A Importância da Dança na Educação Infantil

Por Gabriella Reis

Colaboração de Fábio Paiva

Na última quinta-feira, 7 de abril de 2016, sob a relatoria de Cristovam


Buarque, o Plenário do Senado brasileiro aprovou a lei 7.032/10, proposta pelo
ex-deputado federal Gabriel Chalita, a qual altera o parágrafo 2º do artigo 26 da
LDB de 1996 ao “instituir, como conteúdo obrigatório no ensino de Artes, a
música, as artes plásticas e as artes cênicas” na educação básica. Após
substitutivo da Câmara, em 2015, constaram, no projeto, a modificação de
artes plásticas para artes visuais e também a inclusão da dança. Agora, a lei
aguarda a sanção do governo federal. Caso ocorra a sua implantação, as
escolas devem se programar para as mudanças, bem como as instituições de
ensino superior que formam professores nessas áreas. Essa alteração da LDB
representa um avanço em termos de aprendizado escolar.

Não só do ponto de vista mercadológico, mas sobretudo do ponto de vista


humano e social, precisamos exigir profissionais qualificados. Seja professor de
teatro, dança, música ou artes plásticas, cada um é responsável, a partir de
uma linguagem específica, pela qualidade do ensino elaborado com primor. A
especialização do profissional garante um pequeno passo adiante, já que antes
o professor de “artes” deveria ser um generalista “polivante”, ensinando um
pouco de cada linguagem e, na prática, quase nada de todas.

Colocadas essas questões, entende-se que ensinar arte não consiste


exclusivamente na competência e/ou na habilidade ímpar de um único
professor. Para cada linguagem — como teatro, circo, dança, música, entre
outras formas —, é preciso ser especialista, sendo muito denso para um único
professor dar conta de todos esses universos na educação artística, como foi
chamada a disciplina de arte pela LDB de 1971, sancionada durante a ditadura
empresarial-militar. Muitas vezes, esse ensino resumia-se somente à instrução
de atividades ligadas a artes plásticas e/ou visuais.

Dialeticamente, não se pretende fazer uma crítica à “polivalência” do professor


de artes, pois o conhecimento plural e diverso, capaz de dominar um pouco de
cada linguagem, garante uma versatilidade preciosa para o trabalho diário em
sala de aula porque conjuga vários recursos para se chegar a um mesmo fim: a
potencialização da singularidade do ser humano no mundo por meio da arte. A
arte é uma via de expressão/comunicação do sujeito enquanto ser único e
exclusivo.

A função da arte não é exacerbar o ego, mas, em uma sociedade que nos
classifica cada vez mais por números, rótulos, aparência física, poder
econômico, cor de pele, apelidos etc., torna-se imprescindível problematizar e
repensar “o ser”. Quem sou e como funciono no sistema ao qual estou incluso
definitivamente não é uma questão menor, aliás, de uma perspectiva
existencial, nada poderia ser maior. Outro dia ouvi no rádio o repórter dando o
exemplo de que, na escola, seu filho não era chamado pelo nome, e sim por
um número. Suponhamos que o filho do repórter fosse o número “15” e os
demais colegas fossem os outros números. Que modelo de mundo e de
entendimento dele possibilitam que um pai considere comum que seu filho seja
chamado por um número e não pelo seu nome? Cada vez mais, temos o dever
de nos fazer essas perguntas se pretendemos não nos transformar em robôs
incapazes de exercer o pensamento crítico refratário à coisificação do homem.

No complexo processo de desenvolvimento da identidade pessoal, a


participação do professor de dança na educação infantil significa um imenso
avanço. A integração de profissionais da área no sistema educacional oferece
a oportunidade de crianças de 2 a 6 anos vivenciar a expressão corporal e a
dança como instrumentos de conhecimento e de autoconhecimento para que
desenvolvam seu sistema corporal, motor, cognitivo e socioemocional.

Dependendo da quantidade de alunos e da especificidade de cada turma, a


dança pode ser inserida de modo sensível, alinhada a recursos de teatro —
como histórias e personagens —, dando um sabor especial às aulas, desde
que adequadas a cada público e a cada contexto, observando, portanto, o
funcionamento específico da dinâmica em sala de aula. O foco não é o estilo:
ballet, jazz, contemporâneo, hip-hop etc. O foco é a criança. É importante notar
que cada criança pode se identificar com algum desses estilos. Algumas terão
mais habilidades, outras menos, mas é importante garantir o contato, oferecer
a oportunidade e expandir as possibilidades.

A dança nos permite ser mais sensíveis, estarmos em contato com a nossa
própria escuta interna e externa através do contato e da troca com o outro. Em
síntese, a dança traz inúmeros benefícios para as crianças na fase da
educação infantil, as quais ainda estão completamente abertas, observando o
mundo como um grande espelho, copiando algumas coisas e criando outras
para depois buscar a sua própria identidade.

São Paulo, 13 de abril de 2016.

Gabriella Reis é artista (atriz, bailarina, educadora e produtora cultural),


especialista em Estudos Contemporâneos em Dança pela Universidade
Federal da Bahia – UFBA (2014), formada em Artes Cênicas com habilitação
em Interpretação Teatral pela Universidade Estadual de Londrina UEL (2011) e
técnica em Dança pelo Centro Paula Souza (Escola Técnica de Artes – 2014).
Atua como professora de Dança e Teatro em diversos locais. Atua desde 2012
enquanto mediadora de leitura/contadora de histórias na companhia Circo de
Trapo.

Fábio Paiva é brasileiro, professor, preparador e revisor de textos com atuação


nas áreas educacional e editorial. Formado em Linguística e Português pela
Universidade de São Paulo (FFLCH/USP), lincenciou-se no ensino da língua
portuguesa pela Faculdade de Educação (FE/USP). Publicou o poema
“Unidade”, vencedor do Concurso de Poesias Univap/Cassiano Ricardo.

Você também pode gostar