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Acesso em 27/01/2016, disponível em: http://idanca.

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AS DANÇAS URBANAS NAS UNIVERSIDADES BRASILEIRAS


por Vanilton Lakka / 25/01/2016

A primeira graduação em dança no Brasil surgiu na década de 1950. Foi na Bahia que tudo
começou. Depois de um salto de aproximadamente três décadas, surgiram outras
graduações como a da Unicamp, em Campinas, e da FAP em Curitiba. Nos governos FHC, as
universidades públicas sofreram com o sucateamento e com a aplicação de políticas
neoliberais e, como resultado, poucas universidades públicas foram capazes de criar novas
graduações e, muito menos, graduações em dança. Ao mesmo tempo, com o crescimento da
educação privada, esse período marca também o surgimento de algumas graduações em
universidades privadas.
A partir de 2003 o governo Lula implantou o programa Reuni, uma série de medidas que
objetivavam promover a expansão física, acadêmica e pedagógica da rede federal de
educação superior. Foram criadas mais universidades federais, além dos institutos federais
que geraram mais vagas, mais cursos e cursos noturnos, em uma tentativa de promover a
inclusão e diminuir a desigualdade social no país por meio da educação.
A dança, assim como outras áreas do conhecimento, recebeu um grande impulso na
universidade. Hoje existem mais de 30 graduações em dança espalhadas pelo país – mais do
que em todos os outros países da América Latina. A grande maioria ainda está se
consolidando, devido à falta de estrutura e à quantidade de professores, insuficiente para
garantir uma boa formação. Mas é necessário considerar que, no futuro, esse volume de
profissionais saindo da universidade irá impactar diretamente os caminhos que a dança
brasileira irá tomar nos próximos anos, seja como professores, coreógrafos e bailarinos ou
como produtores ou críticos de dança.
Nesse painel, onde ficam as danças urbanas? Que interferências elas podem receber? E que
diálogo é possível estabelecer?
Obviamente a dança não se restringe à universidade. A universidade é um ambiente de
ensino, mas não é o único. As danças urbanas, assim como outras manifestações, são algo
muito complexo para se restringir a uma instituição ou a um grupo de pessoas.
As danças urbanas são uma manifestação recente. Há um relativo consenso quanto a seu
surgimento nas décadas de 1960 e 1970. Isso é só um jeito de abordar a questão, já que
existem pesquisas que consideram as danças urbanas como um desdobramento do jazz, do
soul, do funk ou das danças caribenhas.
Divergências à parte, o que é interessa que são uma manifestação juvenil, com poucos
integrantes acima dos 40 anos. E por que isso interessa? Porque são raros os indivíduos mais
jovens que assumem papeis de destaque na cultura. Na maioria das vezes começam
dançando e, só com o tempo e com a idade, tornam-se professores, produtores ou
coreógrafos. E estas funções são fundamentais para a manutenção, elaboração e renovação
da cultura hip hop.
Bom, se há poucas pessoas acima de 40 de anos no hip hop, e se as graduações em dança no
Brasil apenas recentemente vêm se expandindo, é possível deduzir que existem poucos
professores nas graduações com alguma vivência nas danças urbanas e que, a partir delas,
possam dialogar com jovens alunos das graduações que iniciaram sua trajetória de dança no
universo da cultura hip hop. Isso não é bom nem ruim, é uma informação que devemos
considerar.
Pode ser ruim, se considerarmos que alguns alunos que entraram nas universidades nos
cursos de danças motivados pelo contato com o hip hop, por exemplo, podem mudar o foco
de suas pesquisas, pela falta de professores com informação sobre danças urbanas para
orientá-los. Os professores orientam a partir das referências teóricas e da vivência que eles
têm, e é aí que o foco pode mudar, ou seja, estes alunos podem decidir se dedicar a outras
danças ou outras manifestações artísticas, já que não encontram ressonância nos
professores.
No entanto, sendo o hip hop um fenômeno juvenil, em geral as pessoas entram nas
universidades ainda jovens. As vagas nas universidades foram ampliadas com a política de
expansão da rede pública de ensino e esta nova conjuntura está mudando todo o ambiente
da dança brasileira.
É fundamental e estratégico que as danças urbanas estejam na universidade nesse
momento. Ou seja, se este jovem que entrou na universidade não mudar o foco da sua
pesquisa, no futuro será um praticante e conhecedor mais qualificado do hip hop que irá
contribuir para a manutenção e ampliação da cultura.
Acredito que o potencial de diálogo entre as danças urbanas e as graduações em dança na
universidade é promissor. A universidade tem muito a ganhar com a presença das danças da
cultura hip hop. O hip hop também ganha com a proximidade com o saber acadêmico e a
sociedade ganha com esse diálogo.
[Vanilton Lakka é coreógrafo, intérprete e professor na graduação em dança da UFBA.]

 Tags: academia, dança de rua, hip hop, universidade

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