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Breve contextualização
Em abril de 2021, ministramos uma oficina intitulada A/R/Tografia como pesquisa viva:
metodologia a partir de experiências artísticas, na Mostra de Arte anual do Departamento de
Arte da Universidade Estadual do Centro-Oeste (Unicentro/PR) a convite do professor da
instituição, Dr. Felipe Caldas. O principal objetivo da oficina foi fomentar ideias sobre novas
maneiras de investigar em/sobre Artes Visuais para o corpo discente. Desta oficina, surgiram
diversos questionamentos sobre a aplicabilidade da a/r/tografia na prática. Neste sentido,
decidimos escrever este artigo como um desdobramento da oficina com o intuito de
exemplificar uma proposta a/r/tográfica.
Em 1999, o termo a/r/tografia foi criado pela a Professora Doutora Rita Irwin da
University of British Columbia em Vancouver, Canadá. É importante enfatizar que trata-se de
mais que um anagrama com a palavra A/R/T (Artist/ Resercher/ Teacher +GRAPH. Que em
tradução livre seria algo como: Artista/Pesquisador/Professor + Grafia ou Escrita). Neste
sentido, a a/r/tografia é uma metodologia de pesquisa educacional baseada em Arte, que
busca refletir como uma escrita de identidades híbridas formadas por cada componente
supracitado. Ademais, a autora considera a a/r/tografia como uma pesquisa viva, logo, “um
encontro constituído através de compreensões, experiências e representações artísticas e
textuais” (IRWIN, 2013, p.28).
Questões de gênero
1
Mestra em Artes Visuais pelo Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da Universidade Federal
da Paraíba; Master em Estudos e Pesquisas da Moda na Unversité de La Mode, Lyon, França (2012);
Graduada em Comunicação Social pela Universidade Federal da Paraíba (2010). Atualmente faz parte
do Grupo de Pesquisa em Arte, Museu e Inclusão (GPAMI). E-mail: atenamiranda@gmail.com
2
Doutorando em Artes Visuais na Universidade de Brasília (UnB); Mestre em Artes Visuais pela
Universidade Federal da Paraíba (UFPB); Especialista em Cinema pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN); Graduado em Licenciatura de Artes Visuais (UFRN). Membro dos grupos de
pesquisa: Metodologias, Educação e Materiais em Artes Visuais (UnB) e Arte, Museus e Inclusão – AMI
(UFPB). E-mail: leandrogarcia.art@gmail.com
Uma representação masculina ou feminina?
Esse polímata deixou uma herança peculiar na questão de genêro: Monalisa, uma das
clássicas representações femininas no renascimento e o homem vitruviano, uma das imagens
mais replicadas desse período. Ao olhar as duas obras, a autora se reconhece na força e
destreza do homem vituriviano. Entretando, não consegue se reconhecer na beleza
harmônica e passiva da Monalisa. Nesta perspectiva, nós que nos reconhecemos enquanto
artistas, professores e pesquisadores, começamos a conjecturar sobre as possíbilidades da
existência de uma mulher vitruviana: onde estaria e como seria esta mulher? Seria possível
pensar nessa possíbilidade durante as aulas de Arte? E como proposição artística, alguém já
teria feito algo neste sentido? Partindo destas questões de pesquisa, encontramos a artista
afro-cubana Harmonia Rosales, também pensou nessa mulher vitruviana.
Para maquiar essa realidade, o renascimento traz à tona um modelo estético além da
permissividade de retratar o corpo feminino nu, uma dicotomia apontada por Clark (1992) que
pode ser observada em algumas obras femininas intituladas venus destacando a novas
nomenclaturas: venus pudica, venus modesta. E, mesmo as Vênus, sendo esquecidas pelos
estudiosos, esse corpo da mulher na arte ficará no imaginário.
O HOMEM VITRUVIANO
O arquiteto romano, em suas obra escrita no sécuulo I a. C., propõe esse cânone tanto
em forma textual, descrevendo cada proporção e suas relações, quanto através de desenhos.
Porém, à medida que os documentos originais perdiam-se e a obra passava a ser copiada
durante a Idade Média, a descrição gráfica se perdeu. Com a redescoberta dos textos
clássicos durante o Renascimento, uma série de artistas, arquitetos e tratadistas dispuseram-
se a interpretar os textos vitruvianos buscando produzir novas representações gráficas.
Dentre elas, a mais difundida é a de Leonardo da Vinci, objeto dessaxproposta.
Imagem 2 : Homem Vitruviano de Leonardo Da Vinci
Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Homem_Vitruviano_(desenho_de_Le
onardo_da_Vinci)#/media/Ficheiro:Da_Vinci_Vitruve_Lur.jpg
Em termos gerais, Vitruviu aponta que em um homem com medidas ideais seus braços
abertos corresponderiam a sua altura, o seu pé seria a exata medida do antebraço, o pescoço
seria o raio da cintura, um rosto ideal deveria ter a largura correspondente ao tamanho de
cinco vezes do olho, para a altura essa medida seria três vezes a altura do nariz e esse
nariz deveria ter sua altura correspondente a mesma largura dos olhos. Ao se apropriar
desses estudos Da Vinci modificou algumas relações de tamanho propostas por Vitruvio a
exemplo do pescoço, que seria 1/15 da altura do corpo ao invés de 1/24 e o pé que consistiria
em 1/7 e não 1/6 daquele. Ainda assim, a razão proposta por Policleto, reafirmada por Vitruvio e
restaurada por Da Vinci da altura do corpo humano que corresponde a 1/7,5 da altura da
cabeça, permanece nos croquis de moda, arredondado a 8 cabeças. Um esquema que
contempla algumas dessas proporções citadas acima pode ser observado abaixo:
A SAIA GODÊ
Cada modelo de saia exige uma modelagem especifica. Assim escolheu-se a saia
godê. Callan (2007, p.276) define a saia godê cortada de um ou dois pedaços de tecido,
sendo a predileta dos anos 1950, costumava ser usada com anáguas e muito associada à
época do rock´n´roll. A saia godê ficou popularizada e marcada na historia com o New Look
(1950) do estilista francês Christian Dior. Essa saia tem como característica marcante o
volume. Atualmente sua modelagem pode ser feita com 1/4, 2/4, 3/4 ou 4/4 do godê, essa
escola ira definir o volume da saia. Callan (2007, p.149) explica que godê é um pedaço
triangular de tecido, mas largo na parte inferior, costurado a uma saia, vestido ou casaco
para aumentar a roda.
Nessa proposta a modelagem selecionada da saia godê foi a de 4/4, ou seja, uma
circunferência completa. A escolha dessa saia deu-se pela sua apresentação na
modelagem, com o uso de frações e do círculo e suas derivações que permitem uma
montagem com base nas proporções apontadas no Homem Vitruviano.
Imagem 4: divisão das frações da saia godê
Fonte: Duarte (2011)
É nesse ato de vestir e transformar dois corpos em um que reflito quando vejo a
duplicidade do homem no desenho do homem vitruviano. Essa duplicidade que, assim como
os outros detalhes da obra servem para colocar em prática e rascunhar ideias, é vista na
roupa. O que é roupa, o que é corpo?
A Mulher Vitruviana
Portanto, como na modelagem tem uma margem para costura e/ou ajuste, nessa
proposta as medidas propostas pelo Homem Vitruviano são baseadas na perspectiva de um
corpo ideal. A parte da cintura ficou difícil de ser produzida devido ao tamanho do pescoço da
boneca o que pode ter ocasionado uma necessidade de ajuste. Esse ajuste foi feito por meio
da costura.
Referências
CLARK, Kenneth. The Nude a study in ideal form. Princeton: PrincetonUniversity Press,
1992.
DIAS, B.; IRWIN, R. (Orgs.). Pesquisa educacional baseada em arte: a/r/tografia. Santa
Maria: Ed. da UFSM, 2013.
DUARTE, Sônia. Modelagem Industrial Brasileira. Rio de Janeiro: ed.Guarda roupa, 2011.
IRWIN, Rita. L. A/r/tografia. In: DIAS, B.; IRWIN, R. (Orgs.). Pesquisa educacional baseada
em arte: a/r/tografia. Santa Maria: Ed. da UFSM, 2013. p. 27-35.
SERRA, Juliana Bononi. Modelagem padrão para o que não poderia serpadronizado,
uma proposta para vestir a mulher brasileira.
Disponível em: http://www.coloquiomoda.com.br/anais/coloquio%20de%20moda%20-
%202012/gt04/comunicacaooral/103472_modelagem_padrao_para_o_que_nao_poderia_
ser_padronizado.pdf. Acesso em: 09 jun. 2021.
LÍVIO, Mario. Razão Áurea: a história de Fi, um número surpreendente. Trad. Marco
Shinobu, Rio de Janeiro: Record, 2008.