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Subj: Tunguska-1 Area: 6-Enigmas

O dia 30 de junho de 1908 amanheceu tranquilo e sem nenhum


prenúncio de chuvas. O povo de Tunguska, na Sibéria, iniciava
suas atividades cotidianas, quando de repente se ouviu violenta
explosão. Alguns caçadores, de passagem pelo posto de trocas de
Vanavara, viram uma coluna de fogo se elevando a grande altura
sobre o horizonte, e em seguida ouviram um estouro sem prece-
dentes. Perto da cidade de Kansk, a novecentos quilômetros de
Vanavara, um maquinista freou o trem certo de que a caldeira da
locomotiva tinha explodido. Instantes após, terrível furacão
varreu as florestas, derrubou árvores e destelhou casas. A onda
de choque circulou a Terra duas vezes e foi registrada em Lon-
dres. Os rios da Sibéria se agitaram e pequenas embarcações
afundaram.

Da Europa ao Extremo Oriente, os sismógrafos acusaram o


abalo e durante uma semana o mundo todo estranhou a extraordi-
nária claridade das noites. Em Paris, lia-se, normalmente, sem
o auxilio de luz artificial. Já em Moscou, puderam dispensar as
lâmpadas de magnésio para fotografias noturnas, tal o brilho do
céu. Gradativamente tudo voltou ao normal e o fenômeno foi es-
quecido. Os estudiosos informaram que um "gigantesco bólido"
tinha caído na Sibéria. Essa e muitas outras explicações têm
sido, até hoje, motivo de controvérsia e discussões. Admitem
alguns que a origem da catástrofe está ligada ao deslocamento
de um bloco de antimatéria. Outros afirmam tratar-se de aerona-
ve oriunda de regiões estranhas que explodiu no ar quando pre-
tendia aterrissar.

A Rússia, por volta de 1921, atravessava uma fase finan-


ceira difícil, em decorrência da Guerra Civil. Nessas condi-
ções, não havia verba para expedições cientificas. Apesar
disso, Leonid Kulik, funcionário do museu mineralógico de Le-
ningrado, conseguiu recursos para tentar a elucidação do mis-
tério siberiano.

O acesso ao ponto onde se acreditava ter caído a "coisa"


era quase impraticável. A região de Tunguska, numa extensão
de milhares de quilômetros, é formada de pântanos gelados e
espessas Florestas. Além disso, Kulik e seus companheiros de-
paravam com a oposição dos camponeses que negavam ajuda, con-
victos de que o deus Ogdy, tendo descido naquele local, des-
truiria pelo fogo quem se aproximasse dele. Todos os homens
levados por Kulik o abandonaram depois de alguns meses de
buscas infrutíferas e se recolheram para Vanavara, doentes e
esgotados. Kulik, auxiliado apenas por um dos mais corajosos
guias da região, continuou a pesquisa. Certa manhã de inverno
de 1927, atingiram o monte Shakhorma e, deslumbrados, avista-
ram a imensa floresta de pinheiros, bétalas e vidoeiros, to-
talmente devastada. Arvores enormes, tombadas inexplicavel-
mente numa mesma direão. Kulik teve certeza de que ali esta-
vam os elementos para complementar seus estudos. Todavia, sua
saúde, bastante abalada, o impedia de prosseguir. E forçado
pelo guia, temeroso da vingança do deus Ogdy, ele regressou a
Vanavara.

Na primavera de 1928, Kulik, seguido por novos companhei-


ros, retornou ao local. Examinando troncos tombados e verifi-
cando que a área arrasada atingia a 9 mil quilômetros quadra-
dos, convenceu-se de que somente a queda de um bólido desco-
munal poderia ter provocado a explosão. Com essa certeza es-
cavou a terra, buscando fragmentos para análise. Não encon-
trou nada. Estranhou o fato de não existir nenhuma cratera No
centro da suposta explosão existiam apenas pântanos cobertos
em parte por várias árvores ainda em pé. Isso não fazia sen-
tido, pois, se tivessem sido atingidas pelo impacto de um bó-
lido, as árvores teriam sido pulverizadas. Embora não houves-
se explicação lógica para detalhes e mesmo não dispondo de
material para análises mais profundas, Kalik, teimosamente,
manteve sua teoria. As primeiras fotos do local só foram con-
seguidas entre 1938 e 1939, mas a Segunda Guerra Mundial pro-
vocou a interrupção das pesquisas e Kulik, sem completar seu
trabalho, morreu em combate.

A revista soviética Vokrug Sveta ( O Mundo ) publicou em


1945 uma história de ficção científica relatando a explosão
de uma astronave de outro planeta, sobre a Sibéria. Segundo a
revista, "o engenho explodiu no ar e volatilizou-se completa-
mente". De certa forma, isso explica a ausência de fragmentos
e justifica a presença de algumas árvores "em pé", provavel-
mente aquelas localizadas sob o ponto da explosão. Essa hipó-
tese, aceita apenas pelo astrônomo Felix Ziegel, foi combati-
da por cientistas de renome, como Vassili Fesenkov e o secre-
tário científico do Comitê de Meteoritos, Yevgeni Krinov. Em
1951, Krinov disse que a explosão do meteoro de Tunguska não
tinha ocorrido a centenas de metros de altitude, mas sim
quando o bólido atingiu o solo. A cratera formada ficou, de-
pois, cheia de água e lama. "Não existe nenhum mistério sobre
a explosão de Tanguska", concluiu Krinov. Quanto à ausência
de detritos e a propósito das árvores "em pé", nada esclare-
ceu.

Após a visita ao local, por diversos grupos de estudantes


de geologia e astronomia, em 1959, a discussão recomeçou. Eles
descobriram novos fatos sobre o fenômeno. Todos, sem exceção,
negaram a origem meteórica. Um dos grupos, chefiado por Ghea-
nadi Plekhanov e Nicolai Vasiliev, falava em "aglomerado de
poeira cósmica", enquanto outro, comandado por Alexei Zolotov,
defendia a idéia de explosão nuclear. Resolvendo pôr fim a
tantas explicações discordantes, o Comitê de Meteoritos da Aca-
demia de Ciências da União Soviética organizou uma expedição
liderada por Kyrill Florensky e a enviou a Tanguska. Depois de
tantos anos de pesquisa, o relatório oficial concluiu: "A me-
lhor explicação é aceitar que o meteoro explodiu no ar". Kri-
nov, que em 1951 refutara a "louca hipótese" de que o meteoro
tinha explodido no ar, agora apoiava tal afirmação. As explica-
ções oficiais aumentavam, e com elas a confusão. Tanto mais
confusos ficaram os meios científicos quando Fesenkov, presi-
dente da Academia de Ciências, em 1953, e lançou a Teoria Co-
metária. Segundo ela "ninguém mais pode duvidar que um cometa
caiu na Sibéria".

Acreditava Fesenkov que um cometa teria penetrado na


atmosfera, com velocidade suficiente para nao se consumir pelo
atrito. O professor Kyrill Stanyakovich, estudando essa hipóte-
se concluiu que para um cometa atingir o solo deveria medir mi-
lhares de metros de diâmetro e desenvolver velocidade de 28
quilômetros por segundo. De outro lado, o mapa elaborado pelo
Comitê de Meteoritos mostrava todas as árvores tombadas em vol-
ta de um ponto central, atestando que a "coisa" explodira ins-
tantaneamente e não linearmente, como aconteceria a um comêta.
Além disso nenhum observatório registrou a aproximação de qual-
quer cometa, na ocasião.

Finalmente, transferidas todas as informações ao computa-


dor, em Moscou, as respostas foram contrárias à Teoria Cometá-
ria, apurando-se que a velocidade desenvolvida pelo corpo es-
tranho, caído na Sibéria, variava entre 750 a 1 800 metros por
segundo, quando penetrou na atmosfera. Qualquer cometa, cami-
nhando tão lentamente, seria desintegrado muito antes de atin-
gir as camadas atmosféricas mais baixas e o solo nem sentiria
os efeitos.

Quase no fim de 1965, os norte-americanos Willard Libby e


Clyde Vowan, detentores do Prémio Nobel, aceitavam como possí-
vel a teoria levantada por outro norte-americano, Milton La
Paz, sobre a antimatéria, encontrada no espaço, ainda que o seu
aparecimento naquela parte do universo pudesse ocorrer raramen-
te. O físico La Paz examinou a possibilidade de um bloco de an-
timatéria, de apenas duzentos gramas, ter explodido ao entrar em
contato com a atmosfera. Consequentemente, a liberação de enorme
quantidade de energia teria causado a destruição em Tunguska. A
revista Nature publicou artigo sobre essa teoria e reativou a
polêmica. Consultado pela revista soviética Nedelya, o geólogo
Kyrill Florenski negou-se a aceitar a opinião dos norte-ameri-
canos e manteve sua Teoria Cometária, deixando assim indefinida
a reportagem intitulada O Fim do Mistério de Tunguska.

Argumentava Florenski que não fora detectada radiação re-


sidual, no local. Nesse argumento foi considerado falho. É sabi-
do que a radiação desaparece rapidamente do solo, decorridos al-
guns anos da explosão nuclear, casos de Hiroshima, Nagasaki e
mesmo o atol de Bikini. Assim, em Tunguska, também, a radiativi-
dade estaria eliminada até 1965. Em reunião realizada no fim de
1965 pelos cientistas do Instituto de Pesquisas Nucleares da
Academia de Ciências da União Soviética, Alexei Zolotov teve
opinião contrária a Florenski e endossou a tese nuclear, firman-
do seu ponto de vista em dois fatos: o florescimento mais rápido
das árvores da região periférica à área atingida, segundo estu-
dos efetuados a partir de 1908 e a semelhança do gráfico regis-
trado pelo sismógrafo do Observatório de Greenwich, na Inglater-
ra, em confronto com outros gráficos obtidos em experiências com
explosões de bombas nucleares a seis quilômetros de altura.

O parecer de Zolotov encontrou apoio do acadêmico Bóris


Konstantinov que escreveu: "Precisamos encarar com seriedade a
hipótese de que a catástrofe de Tunguska tenha sido causada por
explosão artificial, nuclear". A análise das cinzas recolhidas
confirma essa teoria, pois revelam sinais de detonação atômica,
do tipo fusão, idênticos àqueles deixados pelas bombas de hi-
drogênio com força de dez megatons.

É pouco provável que a explosão em Tunguska tenha sido


causada por um bloco de antimatéria, e, se foi nuclear, te-
ve origem artificial e extraterrestre, pois a bomba atômica
só foi testada pela primeira vez em 1943. No verão de 1967,
o Instituto de Pesquisas Nucleares voltou a publicar, na
Rússia, novo relatório oficial, assinado pelo físico Mekhe-
dov que dizia: "... E novamente somos levados a aceitar a
hipótese que nos parecia a mais absurda ! Aparentemente a
explosão de Tunguska foi causada por uma astronave que fun-
cionava com motores de desintegração atômica do tipo maté-
ria/antimatéria". No momento, desse tipo de motor só exis-
tem projetos e, dada a técnica avançada que o envolve, so-
mente daqui a um século, aproximadamente, os países indus-
trialmente mais evoluídos poderão produzí-lo. No entanto, o
fenômeno ocorreu em 1908.

Mekhedov confirmou terem sido encontrados resíduos ra-


diativos nas árvores. Suas conclusões coincidem também com
o resultado das pesquisas anteriores, feitas por Igor Zotkin
e Mikhail Tsikulin, a respeito da trajetória do objeto. A
maneira como caíram as árvores está de acordo com as infor-
mações de algumas testemunhas, quanto à direção leste-oeste.
Outras porém, insistiam em terem observado o rumo sul-norte.
Visando a eliminar a dúvida, os dois cientistas reproduziram
pequeno cilindro de metal dotado de uma bombinha na extremi-
dade e o lançaram sobre miniatura do vale do Tunguska, em
direção leste-oeste, e só assim obtiveram efeito semelhante
ao apresentado pela "coisa". Analisados todos os pontos já
discutidos, pesquisados e comprovados, o astrônomo Felix
Ziegel admite como satisfatória a origem interplanetária do
objeto que causou a explosão na Sibéria.

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