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LIÇÕES DE
DIREITO ECONÓMICO
Contém o desenvolvimento do
Programa da Cadeira de Direito
Económico (objecto de revisão e
actualização) apresentado, no
ano lectivo 2022/2023, aos
estudantes do 3.º ano do Curso de
Licenciatura em Direito, pelo
Docente da disciplina José
SAPALO.
H U A M B O, 2022/2023
Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
Compilado por “José Sapalo”
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Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
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SUMÁRIO
SUMÁRIO ............................................................................................................................................ 4
PARTE I - CONSPECTOS GERAIS SOBRE O DIREITO ECONÓMICO .................................................. 7
CAPÍTULO I – FORMAÇÃO E DELIMITAÇÃO DOGMÁTICA DO DIREITO ECONÓMICO .................. 7
1.1. Noções preliminares .................................................................................................................... 7
1.2. Da Política e do Direito ................................................................................................................ 8
1.4. Do Direito Económico ............................................................................................................... 10
1.4.1. Evolução Histórica................................................................................................................... 10
1.4.2. Conceito .................................................................................................................................. 11
1.4.3- Objecto do Direito Económico .............................................................................................. 12
1.4.4- Denominação e Natureza jurídica ......................................................................................... 14
1.4.5- Objectivos ............................................................................................................................... 15
1.4.6- Autonomia .............................................................................................................................. 17
1.4.7- Princípios Gerais ..................................................................................................................... 18
1.5- Fundamentos que justificam a necessidade de se conceber o Direito Económico .............. 20
1.6- Características do Direito Económico ...................................................................................... 22
1.7- Sujeito da Relação Jurídica Económica .................................................................................... 23
1.8- Fontes ......................................................................................................................................... 24
1.8.1- A Ordem Económica e a Ordem Jurídica Económica ........................................................... 24
1.8.2- Fontes Angolanas do Direito Económico ............................................................................. 25
1.8.3- Fontes Tradicionais: Fontes Internas e Internacionais. ....................................................... 25
1.8.4- Fontes não Tradicionais ......................................................................................................... 26
CAPÍTULO II – MODELOS DE INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA .................................. 27
2.1- Direito e Economia .................................................................................................................... 27
2.2- Classificação das Actividades Económicas .............................................................................. 28
2.3- Sistemas Económicos ............................................................................................................... 30
2.4- Formas de Posicionamento Económico do Estado ................................................................ 32
2.4.1- Estado Liberal ......................................................................................................................... 33
2.4.2- Modelo Jurídico do Estado Social: Surgimento Do Estado Providência............................ 35
2.4.3- O Neoliberalismo ................................................................................................................... 37
2.4.4- A Terceira Via ......................................................................................................................... 39
CAPÍTULO III – CONSTITUIÇÃO ECONÓMICA ................................................................................ 41
3.1- Noção de Constituição Económica ........................................................................................... 41
3.2- Concepções da Constituição Económica ................................................................................. 43
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1
Cf. SMITH, Adam. A riqueza das nações, investigação sobre sua natureza e causas. São Paulo: Abril, 1983.
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BILLIER, Jean-Cassien; MARYIOLI, Aglaé. História da filosofia do direito. Trad. Maurício de Andrade. São Paulo:
Manole, 2005.
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Nem todas as relações sociais são objecto de estudo pelo Direito, mas tão-somente as
relações jurídicas lato sensu, isto é, as relações decorrentes de um vínculo jurídico, oriundo
de uma das fontes obrigacionais do próprio Direito (a saber, lei, contratos, usos e
costumes, promessas unilaterais de vontade, etc.).
O Direito, partindo-se de um conceito objectivo, derivado de nossa herança romano-
germânica, é o conjunto de normas coercitivamente impostas pelo Estado com o fim de
promover a pacificação e a harmonização da sociedade.
Por sua vez, no plano subjectivo, o direito é a faculdade que o indivíduo tem de invocar a
seu favor o amparo legal para defender seu patrimônio jurídico, quando violado ou
ameaçado por outrem. Na lição romana é o facultas agendi.
O titular do direito subjectivo exerce-o, via de regra, sobre o patrimônio jurídico de outrem,
isto é, o exercício deste direito implica em dever e obrigação para com terceiro. Já o direito
potestativo trata-se de um direito potencialmente existente, cujo nascimento depende da
manifestação volitiva exclusiva de seu titular.
Diante disso, o direito potestativo não se encontra atrelado ao cumprimento de uma
prestação por parte de outrem. Seus efeitos patrimoniais somente irão acontecer após a
exteriorização de vontade do sujeito, podendo, ou não, ter reflexos sobre terceiros, ou
seja, a contraparte de um direito potestativo está sujeita e não adstrita a um dever como
no direito subjectivo em sentido estrito. Segundo Rudolph Von Jhering, jurisfilósofo
alemão, adoptando-se um conceito de caráter subjectivo, o direito pode ser visto como um
complexo de condições existenciais da sociedade, asseguradas de forma imperativa pelo
Poder Público, a fim de que os indivíduos possam exercê-las quando se fizer necessário.
Em suma, podemos definir o Direito como o conjunto de normas das acções humanas na
vida social, estabelecidas por uma organização soberana e impostas coactivamente à
observância de todos.
Enquanto ciência social aplicada, o Direito é uno per si, não havendo que se falar em
qualquer segregação em seus campos de estudo. Todavia, a clássica separação do Direito
em público e privado é oriunda do modelo de reconfiguração estatal que resultou no
aparecimento do Estado Democrático de Direito, pautado nas ideias de Thomas Hobbes,
somadas ao pensamento de John Locke, dois grandes pensadores que primeiramente
apontaram para a necessidade de contenção da autoridade pública em face do cidadão,
consagrando o regime de protecção do domínio privado e das liberdades individuais.
O Direito privado é aquele que regula as relações jurídicas entre membros da sociedade
civil, sejam pessoas naturais ou jurídicas, tendo em vista o interesse particular dos
indivíduos ou a ordem privada. Por sua vez, Direito público é o que disciplina as relações
jurídicas de cunho transindividual, focando-se nos interesses públicos, difusos e coletivos,
isto é, os interesses sociais e estatais, tratando dos interesses individuais de forma reflexa.
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A Primeira Guerra demonstrou que a vitória não seria obtida somente nas áreas de combate, mas sim nas
indústrias e nos laboratórios, pesquisando, produzindo, e abastecendo todos os envolvidos no combate. No
entanto, não eram todos os produtores que tinham interesse em voltar suas actividades económicas para a
guerra. Para contornar este facto, deu-se início a um processo de "regulamentação abundante, estrita e
minuciosa das actividades económicas, que transformaram em pouco tempo o panorama clássico do direito
patrimonial, abolindo princípios, deformando institutos e confundindo fronteiras" (COMPARATO, Fábio Konder.
O indispensável direito económico. Revista dos Tribunais, São Paulo, v.353, p.15, 1965.).
4
JOÃO, D. F. (2018). Lições de Direito Económico de Angola. Luanda: ZOE Publicações, pp. 31-32
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1.4.2. Conceito
Após a análise de sua evolução histórica, podemos conceituar o Direito Económico que em
termos gerais pode ser entendido como o ramo de Direito público que disciplina as formas
de interferência do Estado no processo de geração de rendas e riquezas da nação, com o
fim de direcionar e conduzir a economia à realização e ao alcance de objectivos e metas
socialmente desejáveis.
Bastante sugestiva é posição sufragada por Vizeu FIGUEIREDO, segundo a qual:
(...) podemos conceituar o Direito Económico como o ramo do Direito público que disciplina
a condução da vida económica da Nação, tendo como finalidade o estudo, o disciplinamento
e a harmonização das relações jurídicas entre os entes públicos e os agentes privados,
detentores dos factores de produção, nos limites estabelecidos para a intervenção do
Estado na ordem económica. Outrossim, podemos conceituar, subjetivamente, o Direito
Económico como o ramo jurídico que disciplina a concentração ou colectivização dos bens
de produção e da organização da economia, intermediando e compondo o ajuste de
interesses entre os detentores do poder económico privado e os entes públicos. Podemos
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definir, ainda, objectivamente o Direito Económico como o conjunto normativo que rege as
medidas de política económica concebidas pelo Estado para disciplinar o uso racional dos
factores de produção5, com o fito de regular a ordem económica interna e externa6.
Num primeiro momento, considerámo-lo um ramo do direito público, uma vez que
disciplina as relações jurídicas travadas pelo Poder Público em face dos agentes
económicos privados que actuam e operam no mercado. Todavia, conforme veremos
adiante, trata-se de ramo eclético do Direito, uma vez que é fortemente permeado de
institutos do Direito privado, por disciplinar actividades típicas do particular.
Para nós, o Direito Económico deverá ser entendido como o conjunto de normas, princípios
e regras, que visam a organização e direcção das actividades económicas, desenvolvidas por
agentes públicos ou privados, desde que para tal estejam habilitados por lei, ou seja, quando
dotados de capacidade de editar e contribuir para a edição de regras com carácter geral,
vinculativos aos agentes económicos.
5
Por factores de produção podemos entender todo o aparato à disposição do homem para criar bens e serviços
necessários e úteis à vida em sociedade.
6
FIGUEIREDO, Leonardo Vizeu, Lições de direito econômico. Rio de Janeiro: Forense, 2006.
7
LAUBADÈRE, André de. Direito Público Económico. Coimbra: Almedina, 1985, p.28.
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Tendo isto em mente, pode-se citar um conceito mais recente de Direito Económico, que
procura dar conta de toda a sua complexidade:
No presente estádio do conhecimento, e de forma aproximativa, define-se o objecto da
disciplina do Direito Económico como o estudo da ordenação (ou regulação) jurídica
específica da organização e direcção da actividade económica pelos poderes públicos se
(ou) pelos poderes privados, quando dotados de capacidade de editar ou contribuir para a
edição de regras com carácter geral, vinculativa dos agentes económicos8.
8
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, 2006, p.13.
9
GORDILLO, Agustin. Tratado de Derecho Administrativo. 5.ed. Belo Horizonte: Del Rey e FDA, 2003. T. 2. p.VIII-
6.
10
Sobre o tema, cf.VILLAR ROJAS, Francisco José. Las instalaciones esenciales para la competencia. Granada:
Comares, 2004; e, no Brasil, NESTER, Alexandre Wagner. Regulação e concorrência: compartilhamento de infra-
estruturas e redes. São Paulo, Dialética, 2007
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11
O Direito Económico Administrativo, é aquele que é constituído pelas normas de Direito Administrativo que
regula as formas de intervenção do Estado na Economia, quando actua sob forma administrativa, dispondo de
poderes especiais de autoridade. - SOUSA FRANCO, citado por FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia,
Lisboa, AAFDL-2003. Pág. 43.
12
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, 2006, p.16.
13
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, loc. cit.
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Não há, portanto, como se definir com certeza a natureza do Direito Económico. Mas, por
outro lado, também não há como negar que ele tem se fixado, cada vez mais, como um
ramo autônomo, com seus próprios desafios e objecto de estudo.
À guisa de conclusão, podemos asseverar que, não obstante as dificuldades em proceder
à classificação do Direito Económico como ramo do Direito Público ou do Direito Privado
de acordo com as habituais distinções tradicionais, porquanto em boa razão, denota-se
que no Direito Privado há manifestação do um princípio de igualdade dos sujeitos e, por
seu turno no Direito Público identifica-se com a realidade da manifestação do Ius Imperi17,
por via da legalidade, é consensual afirmar a qualificação do Direito Económico como
Direito misto com predominância do Direito Público, pois que, abarca no seu seio uma
amálgama de normas de fonte de produção privatística e de fonte de produção pública.
1.4.5- Objectivos
A intervenção do Estado na ordem económica18 somente se legitima na realização do
interesse público. Em outras palavras, somente há que se falar em interferência do Poder
14
Sobre privatizações, ver, dentre outros, OTERO, Paulo. Coordenadas jurídicas da privatização da administração
pública. In: Os caminhosda privatização da administração pública: IV colóquio luso-espanhol de Direito
Administrativo. Studia Iuridica 60. Coimbra: Coimbra ed., 2001. p.31-57.
15
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, op. cit., p.16.
16
Idem.
17
Cfr. Ibid., Pág. 19.
18
No que se refere à classificação das formas de intervenção do Estado na Economia, merecem destaque os
critérios propostos tanto por Luís S. Cabral de Moncada (Op. Cit., p. 33-38) quanto por André de Laubadère (Op.
Cit., p. 28-31) para classificação das formas de intervenção económica do Poder Público, a saber:
a) Quanto à abrangência: intervenções globais, sectoriais e pontuais ou avulsas: a.1) Intervenção global: quando
o Estado fixa uma política macro de planejamento económico, intervindo em carácter conjunto na economia
nacional, através de normas gerais e abstractas; a.2) Intervenção sectorial: quando o Estado fixa políticas
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aplicáveis, tão somente, a sectores determinados da economia, através de normas gerais e abstractas; a.3)
Intervenção pontual (avulsa): ocorre quando o Estado necessita intervir no caso concreto em determinadas
entidades empresariais que actuam no mercado, através de actos concretos e específicos.
b) Quanto aos efeitos: intervenções imediatas e mediatas: b.1) Intervenção imediata: são os casos de intervenção
directa, que produzem efeitos instantâneos, tendo carácter nitidamente econômico; b.2) Intervenção mediata:
são os casos de intervenção indirecta, que produzem efeitos graduais, que só se fazem perceber ao longo do
tempo, uma vez que tal intervenção tem carácter político, com reflexos econômicos.
c) Quanto à manifestação de vontade: intervenções unilaterais e bilaterais: c.1) Intervenção unilateral: quando
o Estado actua no exercício de seu ius imperii proibindo ou autorizando determinadas actividades, intervindo no
mercado econômico através de actos unilaterais (leis, regulamentos ou actos administrativos normativos), nos
quais não há espaço para manifestação volitiva do agente econômico; c.2) Intervenção bilateral: ocorre quando
o Estado, em que pese actuar no exercício de seu ius imperii, condiciona a eficácia do acto de intervenção à
conjugação da manifestação de vontade do agente econômico, subordinada à ratificação do Poder Público.
d) quanto à actuação do Estado: intervenção direta e indirecta: d.1) Intervenção direta: ocorre quando o próprio
Estado assume para si a exploração da atividade econômica, na qualidade de agente empreendedor no mercado;
d.2) Intervenção indireta: ocorre quando o Estado se limita a condicionar o exercício da exploração da actividade
econômica, sem assumir posição de agente econômico activo.
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1.4.6- Autonomia
O Direito enquanto ciência é uno e indivisível. A segregação em ramos jurídicos se dá, tão-
somente, para fins didácticos de estudos científicos. Um ramo jurídico somente é
considerado autónomo quando possui princípios próprios que orientem a sua produção
normativa, legando-lhe um ordenamento jurídico peculiar, independente da produção
legislativa de outros ramos do Direito.
O Direito Económico e a sua autonomia fundam-se na intervenção do Estado na vida
económica. Neste sentido, o Direito Económico vai ganhando características específicas,
normas e princípios próprios construídos de direito que dá autonomia tanto científica e
pedagógica.
Mas, fala-se de uma interdisciplinaridade no estudo do Direito Económico que ultrapassa o
campo jurídico, querendo com isto sublinhar-se o especial peso que os temas económicos
assumem no objecto desta disciplina. Por vezes, chega mesmo a ser visto numa óptica
funcionalista, como mero instrumento da economia, um Direito ao serviço dos ditames
económicos, que apenas vê justificada a sua existência na medida em que cumpre esses
objectivos.
Deste fuste, somos a asseverar que a linha que separa o Direito Económico de outros ramos
de Direito é bastante ténue, uma vez que, tratando-se de um ramo de Direito recente,
muitas das matérias por ele abordadas, já foram tratadas por outros ramos de Direito,
embora o faça normalmente numa perspectiva diferente, ou seja, ramos como o Direito
Administrativo, o Direito Constitucional e tantos outros tratam já de matérias relativas às
actividades económicas, no entanto, apenas o Direito Económico as adopta com primazia,
considerando a regulação dessas, de modo a torna-las numa política económica objecto
exclusivo seu.
A sua finalidade é, dessa forma, regulamentar a actividade económica do mercado,
estabelecendo limites e parâmetros para empresas privadas e públicas. Ele trata de
estabelecer uma política económica19, no sentido de concretização dos ditames e princípios
constitucionais, ou seja, a política económica é definida com base na ideologia existente na
Constituição.
Outro aspecto a se ter em conta no tocante ao assunto em afloramento é o facto de que,
alguns domínios jurídicos que a priori seriam abrangidos pelo Direito Económico foram se
especializando e autonomizando, como é o caso do Direito Agrário e do Direito Bancário.
No entanto, vale aqui ressaltar que o Direito Económico e a sua autonomia fundam-se na
intervenção do Estado na vida económica, tendo como conteúdo específico as actividades
19
Por política económica deve-se entender a reunião das prioridades, medidas e metas económicas traçadas e
executadas, de forma a serem atingidos os objetivos de determinada ideologia vigente. É a superação dos limites
dos interesses privados ou dos conflitos destes com os públicos. (...) e esta política económica é definida com
base a ideologia existente na Constituição. (Helena PRATA, Lições de Direito Económico, Casas das Ideias, Luanda,
2020. P. 25).
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a) Princípio da Economicidade
O princípio da economicidade provém do Direito Financeiro, pelo que, a sua aplicação no
Direito Económico deve ser precedida de um exercício de interpretação com base nos
valores e ideais constitucionalmente consagrados, processo este que exige uma simbiose
de valores muitos deles provenientes do Direito privado, mas que caracterizam,
igualmente, este ramo jurídico.
Deveras, o sentido do termo “economicidade” é muito mais amplo do que simples princípio
económico, ao qual se liga intrinsecamente a ideia de lucro financeiro, ou do custo
benefício (Finanças) visando a satisfação das necessidades da colectividade (Cfr. o art. 88º;
90º, da al. e) e 99º, nº 1, da CRA), ou seja, o Direito Económico busca harmonizar as medidas
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20
Capitalismo ou socialismo.
21
Cfr. SILVEIRA, CLÁUDIA MARIA, - Advogada em Belo Horizonte (Minas Gerais) art. Direito Económico e
Cidadania - fonte internet. http://jus.com.br/946428-claudia-maria-toledo-silveira/publicacoes#ixzz2wfzDdXQK.
Consultada 10/2/2014.
22
Ibidem.
23
Daí que, o Direito Económico tem como característica marcante a efemeridade e a flexibilidade das suas
normas. Efemeridade devido ao facto de que elas são, necessariamente, adstritas à ideologia de determinada
constituição. Revogada ou reformada esta, acrescentando-se palpáveis modificações em termos ideológicos,
consequentemente, muda-se aquela, para que, novamente, se adeque à nova ordem.
24
Ibidem.
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b) Princípio da Eficiência
É oriundo do Direito Administrativo, sendo aplicado no Direito Económico mediante
exegese sistêmica de vários princípios, mormente o da livre-iniciativa e a livre concorrência.
Assim, no campo do Direito, determina que o Estado, ao estabelecer suas políticas públicas,
deve pautar sua conduta com o fim de viabilizar e maximizar a produção de resultados da
actividade económica, conjugando os interesses privados dos agentes económicos com os
interesses da sociedade, permitindo a obtenção de efeitos que melhor atendam ao
interesse público, garantido, assim, o êxito de sua ordem económica.
Através deste princípio, as entidades públicas ficam obrigadas a acomodar a sua gestão
económica a um aproveitamento racional dos meios humanos, económicos e financeiros
de que dispõem, minimizando os custos de produção de distribuição comercialização de
modo a poder responder na maior escala possível às necessidades que se propõe
satisfazer.
É corolário do princípio da economicidade que visa criar as condições para que a
rentabilidade empresarial seja possível25. O que significa dizer que o Estado quando está a
regular ou a intervir na economia visa alcançar a eficiência e não abstruir. A Lei
constitucional de 1992, já consagrava a eficiência no artigo 11º, nº 2, por conseguinte, na
actual Constituição Económica vem consagrada no art. 21º, al. p), da CRA.
c) Princípio da Generalidade
Confere às normas de Direito Económico alto grau de generalidade e abstração, ampliando
seu campo de incidência ao máximo possível, a fim de possibilitar sua aplicação em relação
à grande multiplicidade de organismos económicos, à diversidade de regimes jurídicos de
intervenção estatal, bem como às constantes e dinâmicas mudanças que ocorrem no
mercado. Isto porque o ordenamento de Direito Económico deve ser capaz de se adaptar
às alterações mercadológicas de maneira célere, garantido a eficácia de sua força
normativa, como instrumento disciplinador do facto económico.
25
Cfr. MONCADA, Luís Cabral de, - Direito Económico, 5ª edição, 2007, Pág. 334.
26
SANTOS, António Carlos; GONÇALVES, Maria Eduarda; LEITÃO MARQUES, Maria Manuel. Direito Económico.
5. ed. Coimbra: Almedina, 2006.
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O primeiro fundamento é o de que nem mesmo as economias de mercado mais liberais não
são, actualmente, produto de um funcionamento automático do mercado, regido somente
pelas leis económicas do século XIX. Neste sentido:
Com as transformações da ordem liberal clássica, surgiram, com efeito, formas específicas
de regulação pública da economia, dando origem a um conjunto de normas, princípios e
instituições que regem a organização e direcção da actividade económica nas suas diversas
manifestações (produção, circulação, distribuição e consumo), impondo limites,
condicionando ou incentivando os agentes económicos ou mesmo alterando, de um ponto
de vista estrutural, algumas tendências que resultam do livre funcionamento do mercado 27.
27
Ibid., p.10.
28
Idem.
29
Ibid., p.10-11.
30
Ibid., p.11.
31
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, loc. cit.
21
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32
Ibid., p.22.
33
Sobre a autorregulação, cf. MOREIRA, Vital. Auto-regulação profissional e administração pública. Coimbra:
Almedina, 1997.
34
SANTOS; GONÇALVES; LEITÃO MARQUES, 2006, p.25.
22
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35
Cfr. ANDRADE, MANUEL A. DOMINGUES, – Teoria Geral da Relação Jurídica – vol. I, Sujeito e Objecto, Coimbra
2003, Reimpressão, Pág. 2.
36
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, – Relação Jurídica Administrativa, Coimbra editora 2009, Pág. 13.
37
Definição nossa.
38
Cfr. PRATA, HELENA, – Lições de Direito Económico, casa das ideias Pág. 138.
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1.8- Fontes
1.8.1- A Ordem Económica e a Ordem Jurídica Económica
Num primeiro momento, os conceitos de Ordem Económica e de Ordem Jurídica
Económica ou Ordem Jus-económica são tomadas como conjunto de regras e princípios,
segundo os quais a actividade económica se pauta. No entanto, a presente justaposição
não é inteiramente coincidente: a ordem económica em sentido económico, aquém ou
além das regras e princípios jurídicos vigentes, integra leis ajurídicas que exprimem o
funcionamento da Economia e que cognitivamente relevam da Ciência da Economia,
encerrando uma ideia de um certo determinismo funcional causal.
Deveras, a Ordem Jurídica Económica (OJE) vai mais longe, extensiva e intensivamente,
quando concebida como o conjunto de normas e princípios jurídicos que pautam a
actividade económica41. Gerard FARJAT distingue-nos, adentro desta vasta ordem
económica jurídica, uma ordem pública da economia como conjunto de normas, medidas
tomadas pelos poderes públicos com o fim de organizar as relações económicas que a
opõe a uma ordem privada da economia e a uma ordem mista ou ordem concertada, todas
passíveis de coexistirem num mesmo espaço.
39
A família no Direito Económico como instituição social não é sujeito jus-económico por lhe escapar aquele
substrato jurídico de personalidade e capacidade jurídicas, ou seja, de ser centro de imputação de direitos e
obrigações
40
Helena PRATA, Op. Cit., pág. 112.
41
Conceito de ordem jurídica económica: conjunto de regras jurídicas, institutos e princípios incluídos, que
regulam a actividade económica.
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A) Fontes Internas
✓ A Constituição (naturalmente, é a primeira e a mais importante fonte do Direito,
porque é a Lei fundamental é a carta magna, portanto, fixa as grandes balizas de
toda actividade económica como por exemplo os artigos: 2º, 8º, 12º, 14º, 15º, 16º, 38º,
78º, 89º, e ss da CRA);
B) Fontes Internacionais:
São fontes do Direito Económico Internacional os tratados Internacionais e regionais.
Efectivamente são numerosas as convenções Internacionais que vinculam o Estado em
matéria económica que ingressam na ordem jurídica económica através da transposição
semiplena e plena nos termos densificados no corpo do art. 13º, da CRA. Por outro lado,
confluem para efeitos das fontes do Direito Económico no plano internacional a Lei nº 4/11,
de 14 de Janeiro, Lei sobre os Tratados Internacionais ex.: GATT, SADC, OMA, OMC etc.
42
Cfr. AAVV. – DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS/GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, - Op. Cit., pp. 21-25.
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43
MAXIMILIANO, Carlos, Hermenêutica e aplicação do direito. 6. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1997. p. 157-9.
44
Ver, a respeito da teoria dos jogos: BAIRD, Douglas G.; GERTNER, Robert H.; PICKER, Randal C. Game Theory
and the Law. Cambridge: Harvard University Press, 1998.
45
SAMUELSON, Paul A.; NORDHAUS, William D. Economia. Rio de Janeiro: Mcgraw-Hill, 1999. p. 199
27
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46
Lei n.º 5/02, de 16 de Abril: art.º 1.º São actividades económicas aquelas que se destinam à produção e
distribuição de bens e à prestação de serviços a título oneroso e com finalidade lucrativa.
47
No âmbito das actividades económicas é usual distinguir-se três sectores: o primário, composto pela
agricultura, pesca, caça, pecuária e silvicultura; o secundário, pela indústria, podendo ser esta compreendida
enquanto actividade transformadora; e o terciário, integrado pelas actividades latamente aferidas ao comércio
e aos serviços.
48
Essa é uma filosofia de actuação e missão que tem no moderno Estado Social a sua origem e fundamento.
28
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Todavia, tal facto não se traduz no abandono do mais desfavorecido por parte da
sociedade civil, uma vez que, esta se organiza juridicamente em torno do Estado, a quem
incumbe conduzir o processo de redistribuição de renda e atendimento dos necessitados
(Cfr. art.º 90.º da CRA). Assim, aqueles que, por si, possuem renda e podem adquirir os bens
essenciais à vida, contribuem na arrecadação de receitas do Poder Público (princípio da
capacidade contributiva), para que este disponibilize à parcela desfavorecida da sociedade
os bens necessários à existência digna.
Destarte, podemos conceber que a actividade económica em sentido lato envolve tanto o
atendimento das necessidades da sociedade pelo mercado privado, quanto pelo Poder
Público. Este actua prestando serviços públicos à sociedade como um todo, mormente aos
mais desfavorecidos, ao passo que aquele actua explorando actividades económicas em
sentido estrito. Assim, podemos classificar as actividades económicas em:
a) Actividade económica em sentido estrito
Trata-se de todas as actividades típicas do mercado, que envolvem a produção, circulação
e o consumo de bens e serviços, sendo regidas exclusivamente pelas normas do direito
privado. Assim, as actividades económicas em sentido estrito são exploradas
precipuamente pelo particular e subsidiariamente pelo Poder Público, somente nas
hipóteses e excepções constitucionalmente previstas, devendo o mesmo, para tanto, estar
previamente autorizado por lei, sempre em regime de direito privado e em caráter
concorrencial com o particular49.
b) Serviços Públicos
Por serviços públicos entende-se toda a actividade prestada para atendimento das
necessidades do Estado ou da sociedade, sempre sob regime de Direito Público. Os
serviços públicos são precipuamente prestados pela Administração Pública, cabendo,
todavia, sua delegação aos particulares, seja por via de concessão ou permissão, precedida
obrigatoriamente de concurso. Observe-se que a regência de tais actividades será sempre
por normas de Direito Público, ainda quando prestadas por particular em regime de
concessão50.
49
Observe-se que a oferta e aquisição dos produtos oriundos da exploração de actividade económica em sentido
estrito são restritas, tão somente, à parcela da população com renda própria para tanto. Isto porque a exploração
destas actividades se orienta em princípios de direito privado e nas leis de mercado, não havendo como se impor
aos agentes económicos particulares atendimento caritativo e assistencialista às necessidades dos
desfavorecidos. Estes, quando se fizer necessário, devem valer-se das políticas públicas de redistribuição de
renda, de erradicação da pobreza e da redução das desigualdades sociais a serem implementadas pelo Poder
Público. Tal facto não se traduz na volta ao liberalismo puro, uma vez que ao Estado compete normatizar, regular
e planejar sua ordem económica e seu mercado interno, conduzindo-os ao atingimento de metas socialmente
desejáveis. Some-se a isso que o próprio agente económico tem funções sociais a desempenhar perante o
mercado e a colectividade. Todavia, o fim maior de realização da justiça social, tendo em vista a construção de
uma sociedade livre, justa e solidária, compete precipuamente ao Estado, que nada mais é do que a Nação
juridicamente organizada em torno da Constituição e das leis.
50
Observe-se que, no modelo de Estado Regulador, não compete mais ao Poder Público o atendimento irrestrito
de toda e qualquer necessidade da população, mas sim focar esforços para realização dos objectivos
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A) Capitalismo
É o sistema económico no qual as relações de produção estão assentadas na propriedade
privada dos bens em geral, dos factores de produção, na ampla liberdade de iniciativa e de
concorrência, bem como na livre contratação de mão de obra. Tem no capital um de seus
principais factores de produção, sendo este um dos elementos preponderantes para a
sustentação da vida económica. É, outrossim, denominado sistema da livre empresa.
Este sistema assenta-se basicamente no individualismo próprio do liberalismo económico,
tendo como principais características:
a) Propriedade privada dos meios de produção;
B) Socialismo
É o sistema económico baseado na autoridade estatal, que centraliza e unifica a economia
em torno do Poder Central. É oriundo do processo crítico que apontou as falhas no modelo
capitalista, principalmente no que se refere ao acirramento das desigualdades sociais e
empobrecimento do proletariado, sendo um sistema de cunho social e político, além de
económico.
Tem como principais características:
a) Direito de propriedade limitado e mitigado pela vontade estatal e, não raro,
suprimido;
b) Estatização e controle dos factores de produção e recursos económicos por parte
da classe trabalhadora;
c) Gestão política que visa à redução das desigualdades sociais; e,
d) Remuneração do trabalho mediante a repartição do produto económico que se dá
por decisão do governo central.
Refere-se, portanto, a um sistema de organização económica baseado na propriedade
pública ou colectiva e na administração dos meios de produção e distribuição de bens por
parte de uma única autoridade central. Por sua vez, a sociedade se caracteriza pela
igualdade de oportunidades para todos como um meio mais igualitário de compensação
das diferenças naturais entre os indivíduos.
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Quadro sinóptico das soluções dadas pelos dois sistemas às questões fundamentais da
economia:
Economia de mercado: Economia planificada:
Produzir
Capitalismo Socialismo
O consumo é determinado pelos
Cabe à Direcção Central interpretar as
O quê? consumidores que definem as suas
necessidades dos sujeitos económicos,
necessidades, prioridades e
(consumo) estabelecendo quais são elas e qual a
intensidades, confrontando-as no
prioridade relativa de satisfação.
mercado livre.
A produção é organizada livremente
Como? pelos agentes económicos que Cabe à Direcção Central através da
escolhem as técnicas e os bens a planificação da economia, definir quais os
(Produção) produzir, tendo em conta a lei da bens a produzir e em que quantidades.
procura e da oferta no mercado livre.
A repartição do produto é feita através
A Direcção Central fixa as quotas de
dos mercados de factores de produção
Para quem? resultados de produção que são
(em que uns vendem trabalho, capital,
distribuídas a cada sujeito económico, a
(Repartição) terra ou técnica e outros compram tais
cada factor de produção, a cada região e
bens com as receitas da venda dos seus
sector.
produtos.)
O sistema de economia de mercado é
um modelo económico abstracto O sistema de economia planificada é um
totalmente descentralizado, em que a modelo económico abstracto totalmente
resolução dos problemas económicos centralizado, dependendo de um plano
Síntese
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52
Os primeiros economistas clássicos pensavam que os mercados se auto regulavam, sendo a economia liberal
identificada como economia não regulada, querendo com isto dizer-se, não que funcionava desreguladamente,
pelo contrário, mas sim que para funcionar reguladamente não precisava ser hetero-regulada ou regulada
artificialmente. Eles argumentavam que as tentativas para aliviar a pobreza através das intervenções
governamentais na economia eram esforços inglórios que acabariam simplesmente por reduzir o rendimento
nacional total. Esta perspectiva foi contestada pelo economista inglês John Stuart Mill, o qual, embora alertando
contra as interferências no mecanismo de mercado, argumentou que as políticas governamentais podiam reduzir
a desigualdade.
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Por meio do devido processo competitivo, os agentes mais aptos iriam se sobressair sobre
os menos eficientes, sendo estes naturalmente eliminados. Desta feita, em um mercado,
cujos participantes estão em constante disputa para atrair maior número de consumidores,
estes experimentam os benefícios da competição, tendo à disposição produtos e bens
qualitativamente diferenciados, por preços cada vez menores, garantindo, assim, a
maximização de seu nível de bem-estar socioeconómico. Tal teoria económica é a
denominada “Mão Invisível”.
No campo do Direito Constitucional comparado, merece destaque o Estado Liberal Norte-
Americano, inaugurado com a Constituição de 1787, emendada aditivamente pelo Bill of
Rights de 1791, bem como o francês, inaugurado pela Carta de 1789. Neste sentido, cabe
citar o magistério de Manoel Afonso Vaz:
Laissez-faire, laissez-passer; le monde va de lui-même – eis o lema apontado por Adam Smith
que, na sua “Investigação sobre a Natureza e as Causas da Riqueza das Nações” (1776),
preconizava: cessem todas as medidas de limitação e surgirá por si próprio o sistema claro
e simples da liberdade natural. (...) De acordo com o sistema da liberdade natural só restam
ao Estado três funções para desempenhar: a) a obrigação de defender a nação contra as
violações e ataques de outras nações independentes; b) a obrigação de salvaguardar todo
o membro da própria nação contra ataques, mesmo legais, de todos os outros, ou seja,
manter uma legislação imparcial; c) criar e manter certas instituições públicas cuja criação e
manutenção não possam ser esperadas da iniciativa privada53.
Conforme bem observado por Nagib Slaibi Filho, o Estado Liberal caracteriza-se por uma
postura abstencionista, uma vez que actua de forma neutra e imparcial no que tange à
actividade económica. Na lição do ilustre constitucionalista:
O Estado liberal é absenteísta quanto à actuação na Economia (...) Se o Estado absenteísta
pretende deixar fluir as forças naturais do mercado, isto é, não corrige nem dirige os
aspectos económicos, já o Estado intervencionista actua sobre a ordem económica,
legislando e transformando os factores de produção, de acordo com o ideário político que
inspira sua actuação54.
Após a derrocada do modelo estatal liberal houve a ascensão de uma nova forma de
posicionamento do Poder Público em face da economia e dos mercados, não havendo mais
que se falar em liberalismo puro, mas em diferentes formas e aspectos intervencionistas,
cada qual influenciado pelo ideário político da corrente partidária que se encontra no
poder, conforme adiante explicitado.
De tudo o que fica dito resultam na prática um conjunto de elementos que caracterizam o
sistema económico capitalista liberal:
✓ Não intervenção do Estado na economia;
✓ Liberdade de iniciativa económica privada em todos os sectores;
53
VAZ, Manoel Afonso. Direito econômico, a ordem econômica portuguesa. Coimbra: Coimbra, 1985. p. 15.
54
SLAIBI FILHO, Nagib. Direito constitucional. 4. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 862-863.
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Na maioria dos países, incluindo a Grã-Bretanha, o Estado Providência foi uma criação tanto
de esquerda como de direita, mas no período do pós-guerra os socialistas chamaram a si a
paternidade da ideia.
Este modelo abrangendo concepções políticas tão alargadas, ou de largo espectro,
adoptou políticas substancialmente diversas, tal como aconteceu com os sistemas de
segurança social que alimentaram. Assim, o sistema do Reino Unido põe a tónica nos
serviços sociais e na saúde, fazendo depender os benefícios do nível de rendimento dos
beneficiários. Os Estados Providência dos países escandinavos e nórdicos, baseados num
nível de impostos elevado, proporcionam benefícios generosos incluindo os serviços de
saúde. Os sistemas da Europa central assumem compromissos relativamente baixos em
serviços sociais, mas proporcionam serviços bem financiados noutros domínios, sendo
pagos na maior parte com descontos sobre os rendimentos do trabalho e baseados em
contribuições para a segurança social. Os sistemas do sul da Europa, semelhantes aos da
Europa Central são menos abrangentes e dispensam níveis inferiores de ajuda.
2.4.3- O Neoliberalismo
O pensamento neoliberal teve como principal objectivo combater o Governo todo
poderoso, tendo tido diversas origens.
Na Grã-Bretanha Edmund Burke o patriarca do conservadorismo expressou o seu desprezo
pelo Estado o qual, se crescer demasiado, se torna inimigo da liberdade e da auto-
suficiência. O conservadorismo Americano é, de há muito hostil ao governo central.
O Thatcherismo assimilou este pensamento, mas também o cepticismo liberal clássico
acerca do papel do Estado, que se fundamenta em argumentos económicos sobre a
superioridade da livre iniciativa. A tese do mínimo de Estado está intimamente ligada a ideia
de que a sociedade civil cria por si própria os mecanismos de solidariedade social.
O Estado através da sua intervenção não deve limitar o progresso e desenvolvimento das
pequenas organizações da sociedade civil. A sociedade civil funcionando por si própria
seria um “mar” de virtudes, tais como “bom carácter, honestidade, sentido do dever,
espírito de sacrifício, honra, vontade de servir, autodisciplina, tolerância, respeito, justiça,
progresso pessoal, confiança, cortesia, firmeza, coragem, integridade, diligência,
patriotismo, consideração pelos outros, frugalidade e reverência”. O que acabou de ser
referido soa-nos a um sonho vivido no passado, tudo isso porque o poder do Estado
sabotou a sociedade civil e tudo o que ela eventualmente poderia produzir por si mesma.
O Estado, em especial o Estado-Providência, é acusado de destruir a ordem civil, o que não
acontece com os mercados, pois estes florescem com a iniciativa individual. Tal como a
ordem civil se funcionar por si própria irá trazer enormes benefícios para a sociedade. Os
mercados são “ máquinas de movimento perpétuo, que apenas requerem um quadro legal
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o Sr. Blair, não merece a London School of Economics, não me merece a mim, desabafa
Giddens55.
No entendimento de Guiddens, o problema da antiga esquerda é que ela era muito
identificada com o Estado, a nova esquerda se identifica com a democracia e a
democratização do Estado. É um momento cuja força de trabalho está crescendo, pois, a
antiga esquerda nunca esteve enfraquecida.
Giddens acredita que a globalização não é apenas económica, mas também um fenómeno
social e intelectual: "E já não devemos voltar atrás. Acabou a família, com a igualdade das
mulheres; e acabou o Estado-Nação, com a vitória do liberalismo económico e a imposição
do comércio mundial. Só resta adaptarmo-nos e entrarmos na corrida". Questionado sobre
o impacto negativo da globalização em países e povos empobrecidos e sobre o injusto
crescimento das desigualdades sociais, com a crescente concentração da riqueza nas mãos
de poucos e o empobrecimento das maiorias, Giddens não soube dar uma resposta
convincente, o que deixa claro que essa não é a preocupação da Terceira Via.
Para Giddens, a Terceira Via difere da social democracia e do neoliberalismo. Politicamente,
"a Terceira Via representa um movimento de modernização do centro. Embora aceite o
valor socialista básico da justiça social, ela rejeita a política de classe, buscando uma base
de apoio que perpasse as classes da sociedade". Em economia, a Terceira Via apregoa uma
nova economia "mista", pautando-se no "equilíbrio" entre a regulamentação e a
desregulamentação e entre o aspecto económico e não económico na vida da sociedade.
Ela deve "preservar a competição económica", quando ela é ameaçada pelo monopólio.
Deve também, "controlar os monopólios nacionais" e "criar e sustentar as bases
institucionais dos mercados".
Segundo o entendimento de Tony Blair, "a Terceira Via é a rota para a renovação e o êxito
da moderna social-democracia. Não se trata simplesmente de um compromisso entre a
esquerda e a direita. Trata-se de recuperar os valores essenciais do centro-esquerda e
aplicá-los a um mundo de mudanças sociais e económicas fundamentais, e de fazê-los livres
de ideologias antiquadas. (...) Na economia, a nossa abordagem não elege nem o laissez-
faire nem a interferência estatal. O papel do governo é de promover a estabilidade macro-
económica, desenvolver políticas impositivas e de bem-estar"56.
55
Jornal O Expresso, Portugal, 15-05-99
56
Tony Blair e Gerhard Schroeder • 17/06/1999
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57
A estrutura da Constituição de WEIMAR é claramente dualista: a primeira parte tem por objectivo a
organização do Estado, enquanto a segunda parte apresenta a declaração dos direitos e deveres fundamentais,
acrescentando às clássicas liberdades individuais os novos direitos de conteúdo social.
Essa estrutura dualista não teria minimamente chocado os juristas de formação conservadora, caso a segunda
parte da Constituição de WEIMAR se tivesse limitado à clássica declaração de direitos e garantias individuais.
Estes, com efeito, são instrumentos de defesa contra o Estado, delimitações do campo bem demarcado da
liberdade individual, que os Poderes Públicos não estavam autorizados a invadir. Os direitos sociais, ao contrário,
têm por objecto não uma abstenção, mas uma actividade positiva do Estado, pois o direito à educação, à saúde,
ao trabalho, à previdência social e outros do mesmo género só se realizam por meio de políticas públicas, isto é,
programas de acção governamental. Aqui, são grupos sociais inteiros, e não apenas indivíduos, que passam a
exigir dos Poderes Públicos uma orientação determinada na política de investimentos e de distribuição de bens;
o que implica uma intervenção estatal no livre jogo do mercado uma redistribuição de renda pela via tributária.
Essa orientação marcadamente social e não individualista aparece até mesmo nas disposições que o constituinte
classificou como se referindo a pessoas individuais. Assim é que o art. 113º, de modo pioneiro, atribuiu a grupos
sociais de expressão não alemã o direito de conservarem o seu idioma, mesmo em processos judiciais, ou em
suas relações com a Administração Pública. Marcou-se, desta forma, a necessária distinção entre diferenças e
desigualdades. As diferenças são biológicas ou culturais, e não implicam a superioridade de alguns em relação a
outros. As desigualdades, ao contrário, são criações arbitrárias, que estabelecem uma relação de inferioridade
ou superioridade de pessoas ou grupos em relação a outros. Assim, enquanto as desigualdades devem ser
rigorosamente prescritas, em razão do princípio da isonomia, as diferenças devem ser respeitadas ou protegidas,
conforme signifiquem uma deficiência natural ou uma riqueza cultural.
Mas foi, sem dúvida, pelo conjunto das disposições sobre a educação pública e o direito de trabalho que a
Constituição de WEIMAR organizou as bases da democracia social.
A secção sobre a vida económica abre-se com uma disposição de princípio, que estabelece como limite à
liberdade de mercado a preservação de um nível de existência conforme à dignidade humana (art. 151º).
A função social da propriedade foi marcada por uma fórmula que se tornou célebre: “a propriedade obriga” (art.
153º, al. a). O projecto para a Constituição foi redigido por HUGO PREUSS, discípulo do historiador do direito e
teórico do antigo comunitarismo germânico, OTTO V. GIERKE. Desde a sua concepção, portanto, a Constituição
de WEIMAR se estruturava contraditoriamente, procurando conciliar ideias pré-medievais com exigências
socialistas ou liberais-capitalistas da civilização industrial.
A Constituição de WEIMAR e o Estado Social - A Constituição de WEIMAR formulou alguns dispositivos em relação
à ordem económica e social em texto por si só esclarecedor. Se ela reconhece a propriedade como tal, por um
lado, por outro diz no artigo 153º, que a propriedade impõe obrigações. Seu uso deve estar a serviço do mais
alto interesse comum. Quanto à propriedade da terra, o artigo 155º diz que o Reich (este nome foi mantido!)
será responsável pela inspecção do aproveitamento do solo, visando a coibição de abusos e a garantia de que
cada alemão tenha uma habitação saudável e que as famílias tenham um pedaço de terra suficiente para a
exploração económica de acordo com suas necessidades. O texto constitucional weimariano abre, inclusive, a
possibilidade de expropriação a bem do interesse comum e sob certas condições tornando a propriedade
colectiva (artigo 156º).
Instalada em 6 de Fevereiro de 1919, na cidade de WEIMAR a assembleia nacional constituinte encerrou seus
trabalhos em 31 de Julho seguinte, quando foi aprovada a nova Constituição por 272 votos contra 75 e várias
abstenções. Pouco antes, porém, em 9 de Julho, a assembleia havia ratificado o tratado de Versalhes, que impôs
à Alemanha indemnizações de guerra em montante desproporcional e insuportável. Como advertiu KEYNES, as
potências vencedoras criavam com isso as condições predisponentes de um futuro colapso financeiro da
República Alemã, tornando impossível a sua normal integração no concerto europeu do pós-guerra. O factor
desencadeante da bancarrota adveio dez anos após, com o colapso da Bolsa de Nova York e a grande depressão
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mundial que se lhe seguiu. Abria-se, assim, o palco para a entrada em cena da barbárie nazista, que destruiu a
República de WEIMAR em poucas semanas, no início de 1933.
Importância histórica. Apesar das fraquezas e ambiguidades assinaladas, e malgrado sua breve vigência, a
Constituição de WEIMAR exerceu decisiva influência sobre a evolução das instituições políticas em todo o
Ocidente. O Estado da democracia social, cujas linhas-mestras já haviam sido traçadas pela Constituição
mexicana de 1917, adquiriu na Alemanha de 1919 uma estrutura mais elaborada, que veio a ser retomada em
vários países após o trágico interregno Nazi-Fascista e a 2ª Guerra Mundial. A democracia social representou
efectivamente, até o final do século XX, a melhor defesa da dignidade humana, ao complementar os direitos civis
e políticos — que o sistema comunista negava — com os direitos económicos e sociais, ignorados pelo liberal-
capitalismo. De certa forma, os dois grandes pactos internacionais de direitos humanos, votados pela Assembleia
Geral das Nações Unidas em 1966, foram o desfecho do processo de institucionalização da democracia social,
iniciado por aquelas duas Constituições no início do século.
Mas pergunta-se quem foi WEIMAR? “WEIMAR” não é uma pessoa física, é uma pessoa jurídica colectiva
territorial germânica, ou seja, foi e é uma, pequena e pacata cidade clássica germânica de intelectuais próximas
de Gotha, de Erfurt e de Leipizig, mas longe de Berlim, onde se realizou Assembleia Constituinte da Constituição
de 1919, conhecida Como Constituição de WEIMAR o jeito de enaltecer a cidade.
58
Neste sentido, é legítima a ideia do Prof. EDUARDO PAZ FERREIRA segundo a qual a Constituição Económica
surge como uma consequência (ou instrumento) da passagem do Estado Liberal Clássico para o Estado
Intervencionista (FERREIRA, EDUARDO PAZ, – Direito da Economia, Pág. 57), pelo que hoje em dia podemos
verificar que todos sistemas económicos têm a Constituição Económica.
59
J. Canotilho e V. Moreira, Constituição da República Portuguesa Anotada, Coimbra: Coimbra Editora, 1993, p.
383
60
Ver a Constituição Económica Português, Coimbra; Almedina, 1993, p.16
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61
É o conceito de constituição económica em sentido material que nos interessa, porque permite a integração
de um conjunto de leis que são fundamentais na definição da ordem jus-económica, tais como as leis da
concorrência ou as leis que regulam a actividade específica de determinados sectores da economia.
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62
Cfr. Com mais desenvolvimento, JOÃO, DOMINGOS FRANCISCO, - Temas Essenciais do Direito da Economia
Angolana, escolar editora 2014, Pág.45.
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✓ Uma segunda posição, defendida por JORGE MIRANDA, entende que a Constituição
Económica se integra plenamente na Constituição Política, não sendo possível uma
63
Cfr. FRANCO, ANTÓNIO SOUSA, – Direito da Economia, 1º Volume. Pág. 93.
64
Ob. Cit. Pág. 38.
65
Vide Art. 1302.º CC.
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contraposição entre elas, uma vez que ambas correspondem à mesma unidade
jurídica.
✓ Por último, uma terceira corrente, defendida por VITAL MOREIRA, considera que o
problema teórico da relação entre Constituição Económica e Constituição Política
não se coloca em termos de discrepância entre dois conceitos referidos a estruturas
diversas da formação social. Para este autor, a Constituição Económica e
Constituição Política são conceitos colocados no mesmo plano a nível da estrutura
política. A Constituição Económica e Constituição Política não têm natureza
diferente.
Postas em evidência estas teorias, nos seus mais importantes pressupostos doutrinais, e
sem descurar o valor teórico de cada uma delas, parece-nos preferível a primeira posição,
também perfilhada por MENESES CORDEIRO, desde logo por pôr em evidência uma
aspecto que parece ter sido ignorado pelas demais correntes, que é o facto de demonstrar
claramente que a Constituição Económica se afirmou a partir da realidade jurídico-
económica, havendo, contudo, áreas de interferência material entre Constituição Política
e Constituição Económica, que, segundo o Professor Sousa Franco, se situam em três
planos:
✓ A definição dos poderes e fins da actuação económica do Estado;
✓ A definição dos fins supremos da comunidade;
✓ A atribuição de garantias de natureza económica aos agentes económicos.
✓ A segunda posição defendida por SIMÕES PATRÍCIO, faz uma opção inversa,
afirmando que a Constituição Económica emerge de critérios jurídicos, pois que,
neste sentido, ao Direito compete qualificar como constitucionais as normas que,
à luz dos seus princípios, surjam como fundamentais.
✓ Por último, a terceira posição defendida por JORGE MIRANDA, faz uma tentativa
de síntese entre as duas posições anteriores. Segundo este autor, a Constituição
Económica surge da relação dialéctica que existe entre a norma constitucional e a
realidade económica.
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O âmbito da Constituição Económica deve, quanto a nós, ser precisado com recurso à
critérios jurídicos. Trata-se, com efeito, de conhecer os princípios fundamentais do Direito
Económico. É ainda a juridicidade que preside a delimitação da Constituição Económica,
bem como explicar que determinadas matérias de teor económico sejam excluídas da
Constituição, versando apenas aqueles aspectos que, sendo susceptíveis de
regulamentação em função da ordenação e direção económicas, se revelem como
fundamentais em termos jurídico-económicos.
Outrossim, o sentido da Constituição Económica implicará a definição do sistema
económico que a enquadra e determina. Em termos puramente teóricos é possível
vislumbrarmos dois sistemas extremos e opostos: o da direção planificada da economia e
o da economia livre de mercado.
O primeiro funciona na base de um plano geral e obrigatório, que deverá ser executado
por todos os agentes económicos. A entidade que elabora o plano, determina a
necessidade dos sujeitos, a sua prioridade, fixa os níveis de produção e opera a distribuição
dos bens produzidos.
O segundo sistema é o presidido pelo princípio da economia livre, que prescinde de
qualquer entidade central; o consumo é determinado por cada sujeito, a produção é fixada
pelos produtores e a distribuição feita pela circulação livre dos bens; as decisões dos
agentes ajustam-se através dos mecanismos de mercado.
Os sistemas assim sintetizados são, como se disse, simples modelos abstractos de
referência teórica. Na prática, eles sofrem adaptações diversas, em função de coordenadas
histórico-culturais, de forma a melhor corresponderem às realidades materiais que visam
regular66. Assim, é possível combinar elementos da direção central e da economia livre, de
modo a obter elementos que conduzam a outros sistemas concretos que podem ser
inúmeros, correspondendo a múltiplas combinações e adaptações possíveis.
Perante estas opções a Constituição Económica poderia:
✓ Consagrar um modelo de economia de mercado;
✓ Exprimir um esquema de economia mista;
✓ Traduzir uma superação da economia livre;
✓ Sedimentar um esquema de economia centralizada; e,
✓ Surgir como totalmente neutra.
66
Deveras, o sentido da CE deve colocar-se em concreto, perante determinada experiência histórica
geograficamente delimitada.
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67
Ver outros desenvolvimentos in A Evolução da Constituição Económica Angolana, Casa das Ideias, p. 98 e
seguintes.
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68
Programa de Saneamento Económico e Financeiro.
69
Este conjunto de legislação integra para muitos autores a Constituição Económica Material.
70
Uma nota importante que ressalta neste processo é o facto de todo este conjunto de leis ter sido aprovado
sem que se tivesse revisto a Constituição aprovada em 1978, contrariando, grosseiramente, o espírito e a letra
daquela Constituição, pondo mesmo em causa o regime económico vigente na altura. Coloca-se então, a questão
de se saber se aquele conjunto de leis deveria, ou não, ser considerado inconstitucional. O pensamento
perfilhado nesta altura era o de que se estava perante uma ampla e profunda abertura material da Constituição
e que, à luz do pensamento sistemático-teleológico, tais leis seriam, portanto, plenamente válidas. Contudo, uma
boa parte da doutrina considera hoje aquelas leis inconstitucionais, desde logo porque, por um lado, procederam
uma certa neutralização ideológica de vários preceitos constitucionais, com o esbatimento de normas
programáticas de índole socialista, mediante a atenuação da intervenção pública na economia e maior
consideração conferida à iniciativa privada. Acresce ainda o facto de não se ter tido em conta as garantias das
primitivas transformações operadas no sistema económico, nomeadamente em matéria de nacionalizações,
permitindo-se a privatização de bens de domínio público, consolidando, assim, com carácter definitivo (e não
apenas transitório), um sistema de economia mista (Helena PRATA, Op. Cit., p. 58).
50
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71
Ver artigo 11º n.º2 da Lei Constitucional
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do titular do Poder Executivo72, em especial no que diz respeito às alíneas b), c) e d); artigo
162º alíneas b), d) referentes às competências de controlo e fiscalização da Assembleia
Nacional no exercício do Poder Legislativo.
Genericamente, pode-se dizer que a CRA, na sua versão actual, mantendo a anterior
abertura a diversas formas de concretização, é compatível com a auto-representação do
sistema económico como economia social de mercado, economia mista e economia
concertada (art.º 89, n.º 1 da CRA), impondo e permitindo a regulação pública de alguns
aspectos do seu funcionamento e salvaguardando os direitos dos trabalhadores e dos
consumidores, enquanto limites ao poder económico público e privado. Esse modelo
procura estabelecer um equilíbrio entre economia de mercado e interesse público e social
que se projecta em vários preceitos da CRA.
Por um lado, defende-se a propriedade privada, estabelece-se a liberdade de empresa,
favorece-se a concorrência, define-se a posição central do sector privado no processo
económico e permitem-se as privatizações. Por outro lado, para garantir a democracia
económica e social (art.º 2.º da CRA), atribuem-se ao Estado incumbências em matéria de
orientação e controlo da actividade económica – impondo-se ou permitindo-se, em
importantes sectores, a regulação pública de alguns aspectos do seu funcionamento (art.º
89.º, n.º 1 al. a) da CRA), de redistribuição de rendimentos e de salvaguarda dos direitos
fundamentais dos cidadãos na esfera económica enquanto limites ao poder económico
privado ou público, consagrando-se expressamente a segurança no emprego e o direito à
greve, concede-se o direito de informação ao consumidor, proíbe-se a publicidade
enganosa e protege-se a qualidade ambiental.
Estamos, pois, perante uma Constituição económica explícita na definição de restrições
objectivas ao livre funcionamento do mercado, restrições essas que derivam não só da
capacidade do Estado para enquadrar e limitar a actividade económica privada ou para
concorrer com ela na produção de bens ou serviços, mas também do facto de a
Constituição reconhecer e garantir direitos eventualmente conflituantes com o livre
funcionamento do mercado como podem sê-lo os direitos dos consumidores ou os dos
trabalhadores.
Resumidamente, a Constituição faz assentar a organização económica e social na
subordinação do poder económico ao poder político, na pluralidade de sectores de
actividade económica e de formas de iniciativa – privada, pública e cooperativa – na
propriedade pública de meios de produção e de recursos naturais de acordo com o
interesse colectivo, no planeamento democrático da economia e na intervenção
72
Ao Conselho de Ministros enquanto órgão auxiliar do Presidente da República, compete pronunciar-se nos
termos do n.º4 do artigo 134º do CRA, sobre instrumentos de planeamento nacional de medidas gerais de
execução do programa de governação do Presidente da República.
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Entende-se na génese jurídica que o princípio pode ser definido como regra que se funda
num juízo de valor e que constitui um modelo para acção (…)73, mas para RONALD
DWORKIN, o termo princípio diz respeito a um tipo de norma cuja observação é um
requisito de justiça ou equidade, ou de alguma outra dimensão moral. À luz dessa noção,
os princípios do Direito Económico podem reportar as definições gerais e específicos de
um sector de actividade económica com cariz constitucional ou ordinário.
Assim sendo, no nosso ordenamento jurídico podemos indicar alguns princípios
estruturantes e informadores, ou princípios expressivamente constitucionais da ordem
económica onde assenta a Constituição Económica angolana, nomeadamente:
✓ Supremacia da Constituição e legalidade (art. 6º, da CRA);
✓ Democracia económica (art. 2º, da CRA);
✓ Coexistência de sectores de titularidade (art. 92º, da CRA);
✓ Livre acesso e reservas Públicas (art. 38º, 93º e 95º, da CRA);
✓ Eficiência e intervenção (art. 89º e 91º, da CRA);
✓ Mercado e planeamento (art. 89º e 91º, da CRA); e
✓ Nacionalizações e privatizações (art. 97º, da CRA).
73
Vide in Universal, Dicionário integral de língua portuguesa, textos editora 2010, 3ª edição Pág. 1210.
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princípios gerais do Estado Democrático de Direito, bem como, outras opções valorativas
orçamentais previstas, nos termos do artigo 28º, nº 2, da CRA, sob desígnio do instituto da
“Reserva do possível”74.
74
A ideia da Reserva do Possível é frequentemente associada à alegação de insuficiência de recursos apresentada
pelo Estado como forma de se eximir do cumprimento de suas obrigações no campo dos direitos económicos e
sociais. A invocação da cláusula da reserva do possível serviria como uma escusa, ou seja, livre-trânsito, utilizado
de forma genérica pelos entes estatais, para não concretizar os direitos fundamentais. Como decorrência dessa
concepção, a cláusula da reserva do possível tem sido muito criticada. Há quem entenda que o subprincípio da
Reserva do Possível argumento estatal relativo à ausência de disponibilidade financeira não pode ser aceite, uma
vez que cabe ao Estado implementar os direitos fundamentais, especialmente aqueles previstos na própria
Constituição.
Há, porém, quem entenda que o argumento pode ser aceite em determinadas hipóteses, pois, não há como
negar que os recursos financeiros são limitados, ao passo que as necessidades dos indivíduos são ilimitadas,
devendo ser compatibilizadas com os recursos existentes. Observa-se, assim, que a ideia corrente de reserva do
possível está ligada à insuficiência dos recursos estatais para tornar efectivos todos os direitos previstos na
Constituição Política de Angola de 2010, sendo a expressão relacionada, portanto, com a situação económica do
Estado angolano.
Todavia, a despeito deste entendimento os recursos estatais são de factos finitos e que diversas questões podem
ser levantadas em termos de custos relativos à realização dos direitos, mas por vezes tem sido negligenciado
como escapatória do poder político em não satisfazer esta ou aquela necessidade. Com efeito, considerando a
cláusula da reserva do possível tal como formulada ela se relaciona muito mais com a razoabilidade das
pretensões dos indivíduos perante o Estado, a determinar o que é possível ou não ser exigido da colectividade,
do que propriamente com a noção de escassez de recursos económicos para atender a estas pretensões, noção
com a qual a expressão é usualmente identificada.
A origem da expressão “reserva do possível”
A expressão “reserva do possível” (Vorbehalt des Möglichen) foi utilizada pela primeira vez pelo Tribunal
Constitucional Federal Alemão, em julgamento proferido em 18 de Julho de 1972. Trata-se da decisão na qual se
analisou a constitucionalidade, em controlo concreto, de normas de direito estadual que regulamentavam a
admissão aos cursos superiores de medicina nas universidades de Hamburgo e da Baviera nos anos de 1969 e
1970. Em razão do exaurimento da capacidade de ensino dos cursos de medicina, foram estabelecidas limitações
absolutas de admissão (numerus clausus). Essas restrições de acesso ao ensino superior foram questionadas
perante o Tribunal Constitucional Federal Alemão. Alegava-se estar diante de ofensa ao artigo 12º, I, da Lei
Fundamental alemã, que cuida da liberdade profissional e dispõe que “todos os alemães têm o direito de
livremente escolher profissão, local de trabalho e de formação profissional”.
Nos termos desse dispositivo constitucional, o direito fundamental à liberdade profissional é amplo, abrangendo
não só o direito de escolher profissão e local de trabalho, como também o direito de escolher o local de formação
profissional. A formação é um estágio que antecede o início da profissão. O direito de admissão ao curso
universitário seria, então, uma decorrência do direito à livre escolha da profissão e do local de ensino, associado
aos princípios da igualdade e do Estado Social.
Logo, uma limitação ao acesso às universidades (local de formação profissional) configuraria ofensa ao direito à
liberdade profissional, ressalvada a possibilidade de regulamentação desse direito por lei, ou com base em lei.
Essa limitação de acesso poderia não só afectar a escolha do local de formação, como influenciaria a escolha da
própria profissão, pois seria capaz de modificar a intenção original do candidato ao curso. Apesar disso, o Tribunal
entendeu ser possível restringir o acesso aos cursos de medicina, uma vez que os direitos sociais de participação
em benefícios estatais “se encontram sob a reserva do possível, no sentido de estabelecer o que pode o indivíduo,
racionalmente falando, exigir da colectividade”. Por conseguinte, foi empregada a expressão reserva do possível
para se sustentar que não é possível conceder aos indivíduos tudo o que pretendem, pois há pleitos cuja
exigência não é razoável. Mais adiante, na mesma decisão, o Bundesverfassungsgericht, se referiu à capacidade
financeira estatal no seguinte trecho:
“Fazer com que os recursos públicos só limitadamente disponíveis beneficiem apenas uma parte privilegiada da
população, preterindo-se outros importantes interesses da colectividade, afrontaria justamente o mandamento
de justiça social, que é concretizado no princípio da igualdade. (Decisão consultada em Schwabe, Jürgen.
Cinquenta Anos de Jurisprudência do Tribunal Constitucional Alemão. Organização e introdução por LEONARDO
MARTINS. Montevidéu: KONRAD-ADENAUER-STIFTUNG, 2005, Pág. 656- 667. Para conferir no idioma original, v.
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a) Propriedade privada
A propriedade privada é um dos princípios basilares se não mesmo essencial do
funcionamento económico e como meio de realização da democracia económica, pois que,
a propriedade desde os tempos imemoriais, foi sempre objecto de disputas e lutas entre
os agentes económicos para o domínio da sua posse e propriedade plena.
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Além dos institutos supra, com base no espírito do art.º 97.º da CRA, admite-se, ainda,
outras formas de apropriação colectiva dos meios de produção, entre as quais se destaca
a nacionalização de empresas e confiscos de empresas e bens.
75
Cfr. AVV. DOS SANTOS, ANTÓNIO CARLOS /GONÇALVES, MARIA EDUARDA/MARQUES, MARIA MANUEL
LEITÃO, – Direito Económico-5ª Edição Reimpressão/2004, Pág. 42 e 46.
58
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76
Ob. Já Cit. Pág. 77.
77
Neste âmbito são cada vez mais significativas as restrições que visam a protecção de valores ambientais ou
ecológicos, acolhidas nos sistemas de licenciamento industrial.
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c) A Livre Concorrência
A concorrência surge no contexto do mercado, como instrumento privilegiado de direção
do mercado, caracterizando um tipo de relação entre os agentes económicos, entendido
como a essência do sistema de economia de mercado. Como um instituto jurídico
económico, tem sido abordado nas distintas vertentes, mas ela repousa na Lei de procura
e oferta que vai determinar o preço e a qualidade de bens e serviços, ou seja, a Lei da
Procura e Oferta constitui o berço de ouro da concorrência.
Deveras, «a concorrência é o sinónimo de competição dos Agentes Económicos no
Mercado, através da Lei da procura e oferta, sob vigilância do Direito da Regulação e
Supervisão dos Poderes Públicos/Privados que compõem a Direcção Económica». Este
princípio encontra-se recortado no art. 89º, nº 1, al. c), da CRA.
Assim, a Prof.ª PAULA FREIRE78, entende que, “numa economia plenamente concorrencial,
o Mercado garante que a sociedade produza os bens aptos à satisfação das necessidades
dos seus membros, nas quantidades por eles desejadas”. Entretanto, esta autora que ainda
vamos continuar a seguir a sua abordagem, diz que, (…) através do preço, o Mercado
desempenha uma função de regulação da oferta e da procura, isto é, uma função de
equilíbrio entre as quantidades produzidas e consumidas.
Mas, para além da harmonia da economia, também a harmonia social surge através do livre
funcionamento do Mercado. Ao assegurar que as decisões e os actos individuais se
compatibilizam entre si e concorrem para prossecução do interesse comum, através do
mecanismo da mão invisível de ADAM SMITH79, que vai de certo modo permitir a obtenção
de um resultado socialmente óptimo geral. Segundo o Prof. MENEZES CORDEIRO, citando
WOLFGANG KILIAN, a concorrência “pode ser apresentada como um sistema de tomada
descentralizada de decisões, através da garantia de liberdade de actuação dos sujeitos
económicos”80. Ela encerra duas modalidades que vamos particularmente reputar com
algum detalhe sucinto para uma pré-compreensão, designadamente:
i) A Concorrência Perfeita
Defende o Prof. MENEZES CORDEIRO, no sentido de dar noção de concorrência, -
“afirmando-se, lato sensu, que ela designa a disputa entre dois sujeitos económicos ou
sectores económicos, com o fito de produzir ou comprar nas melhores condições. Sendo
assim, um Mercado de Concorrência perfeita seria aquele em que a formação dos preços
se daria pelo ajustamento recíproco da oferta e da procura, através de uma plena liberdade
de comportamentos dos Agentes Económicos, determinados pelo objectivo da maior
vantagem individual e com influência infinitesimal nas quantidades oferecidas e procuradas
78
Cfr. FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 30.
79
Apud, FREIRE, PAULA, - Eficiência Económica e Restrições Verticais, AAFDUL, 2008, Pág. 31. SMITH, ADAM,
(1999) Vol.I, Pág. 166.
80
Cfr. AAVV, CORDEIRO, MENEZES, - Regulação e Concorrência, Almedina editora, 2005, Pág. 9.
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e nos preços de Mercado”81, ou seja, é aquele em que os agentes económicos, só de per si,
não têm capacidade de influenciar os preços, estando em igualdade uns com os outros,
dominando ali o atomismo.
81
Cfr. LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 158.
82
Apud, LOBO, CARLOS BAPTISTA, Concorrência Bancaria? Almedina editora, 2001, Pág. 160.
83
O Dumping de Preços, consiste na venda de produtos com prejuízo ao Mercado Concorrencial, isto é, a oferta
para venda, ou venda de um bem por preço inferior ao valor normal de um produto semelhante.
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84
O termo Monopólio provem do grego clássico, mono que significa "um" e polein que significa "vender"; o
Monopólio - é a exploração sem concorrente de um negócio ou indústria, em virtude de um privilégio e pode
ser Monopólio Natural ou Monopólio de Demónio e coercivo.
85
O oligopólio é caracterizado por um conjunto de Empresas que dominam determinado sector da economia
ou produto colocado no Mercado. Em geral, impõem preços abusivos e elimina a possibilidade de concorrência,
através da aquisição de pequenas Empresas.
86
Significa uma falha de Mercado de tipo específico de oligopólio em que apenas dois produtores existem em
um Mercado. Este termo é geralmente usado apenas quando duas Empresas têm o controle dominante do
Mercado.
87
Consiste num acordo (também caracterizado como conluio) explícito ou implícito entre concorrentes para,
principalmente, fixação de preços ou quotas de produção, divisão de clientes e de Mercados de actuação ou,
por meio da acção coordenada entre os participantes, eliminar a concorrência e aumentar os preços dos
produtos, obtendo maiores lucros, em prejuízo do bem-estar do consumidor.
88
São entendidos como um conjunto de regras que governam o comportamento de dado número de Agentes
Económicos individuais ou agrupados de ponto de vista de Mercado relevante geográfico ou de produtos
dominados por Agentes Económicos (batoteiros) jogadores individuais ou agrupados no Mercado, ou seja, o jogo
é uma sucessão de lances e partida é uma sucessão de escolhas.
89
Diz respeito a uma posição de poder económico detida por uma Empresa que lhe permite afastar a manutenção
de uma concorrência efectiva no Mercado em causa e lhe possibilita comportar-se, em medida apreciável, de
modo independentemente em relação aos concorrentes, aos seus clientes e, finalmente, aos consumidores.
90
Cfr. MONCADA, LUÍS CABRAL DE, - Manual Elementar de Direito Público da Economia e da Regulação, Almedina
editora-2012, Pág. 94.
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Porque, por extensão, abarca a conservação e gestão dos recursos naturais e o combate
à poluição que se configura nos princípios do Direito do Ambiente, nomeadamente:
✓ Princípio da Prevenção; previsto na al. c), do art. 4º, da Lei de Bases do Ambiente
nº 5/98, de 19 de Julho;
✓ Princípio Precaução; previsto no nº 2, do art. 39º, da CRA; e,
✓ Princípio do Poluidor Pagador; previsto na al. g), do art. 4º, da Lei de Bases do
Ambiente nº 5/98, de 19 de Julho.
Este direito, além das suas múltiplas facetas, constitui também um dos limites
constitucionais ao livre exercício da actividade económica (pública, privada ou
cooperativa) e pode ter reflexos em vários dos seus momentos. Portanto, ele cabe
perfeitamente nos chamados “direitos de interferência”91, que aqui no nosso
ordenamento jurídico, encontram o assento nos art.ºs 21º ; 39º e 74º, da CRA).
Com base nesse entendimento, o acesso e a organização de uma actividade económica, a
sua instalação, condições de funcionamento e as suas relações com terceiros, ou mesmo
a sua extinção, podem ser condicionados ou determinados por razões ambientais; os
custos de produção, existindo mesmo, em alguns ordenamentos jurídicos, o princípio do
poluidor-pagador. Tal como é concebido pela Constituição, o direito ao ambiente
compreende o direito a uma acção positiva do Estado no sentido de defender e controlar
as acções poluidoras. Entre as obrigações do Estado, para além da preservação dos
espaços naturais e da intervenção nos espaços degradados, inclui-se também o
ordenamento da implantação urbana e industrial e da exploração agrícola e florestal.
Inclui ainda uma proibição de acções atentatórias do ambiente, quer por parte do Estado,
quer por parte de outros agentes económicos, conferindo ao cidadão – individual e/ou
colectivamente – o direito de exigir a cessação de tais acções e uma indemnização pelos
prejuízos causados.
Para além disso, o direito do ambiente vincula ainda os particulares, consagrando o dever
de defesa do ambiente, podendo traduzir-se num dever geral de abstenção ou de acção
(dever de impedir acções que atentem contra o ambiente e exigir do Estado determinadas
prestações). Desta feita, pode-se dizer que o direito ao ambiente comporta:
✓ Um direito subjectivo individual (dever geral de abstenção – vertente negativa –
e direito de exigir do Estado determinadas prestações – vertente positiva);
✓ Um dever individual e de grupo;
✓ Tarefa do Estado.
91
Entende-se como direito de interferência como sendo aqueles que normalmente obstaculizam ou interferem
actividade de agente económico devido as exigências do cumprimento dos padrões do direito do ambiente,
consumo, saúde pública, etc., que antigamente não eram observados por inópia legislativa. – Hoje, ditos direitos
difusos que o Prof. VASCO DA SILVA os considera inexistentes, por má qualificação ou incapacidade intelectual
do homem de os qualificar como tal. Mais desenvolvimento ver VASCO PEREIRA DA SILVA, Contencioso
Administrativo, Divã da Psicanálise...
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92
Cfr. RODRIGUES, RAÚL CARLOS DE FREITAS, – O Consumidor no Direito Angolano, Almedina -2009, Pág. 22.
93
Ob. Cit. Pág. 54.
94
Ob. Cit. Pág. 186.
95
Apesar de que, o contrato de adesão deve sempre respeitar os imperativos da disciplina das cláusulas gerais
dos contratos, prevista na Lei nº 4/02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.
96
Lei nº 15/03, de 22 de Julho, Lei da Defesa do Consumidor.
97
Lei nº 4 /02, de 18 de Fevereiro, Lei Sobre as Cláusulas Gerais dos Contratos.
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98
Acção Popular, - não é um mecanismo processual autónomo, mas sim é o alargamento da legitimidade
processual para defesa da legalidade do interesse público.
99
Cfr. MAGALHÃES, CARLOS, – Defesa do Consumidor, a Responsabilidade Civil do Fornecedor, escolar editora
2010, Pág. 25 e ss.
100
Cfr. PAHULA, OVÍDIO, – Evolução da Constituição Económica Angolana, casa das ideias 2009, Pág. 126.
65
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101
As Empresas do Sector Empresarial Público, podem ser classificadas de acordo o critério da titularidade ou
das participações nos fundos que constituem o acervo patrimonial, ou seja, o capital social. Por essa via a Lei de
Base do Sector Empresarial Público do Estado, da Lei nº 11/13, de 3 Setembro, definiu no art. 2º, como já
dissemos, o “númerus cláusus” densificada numa classificação das Empresas nos seguintes termos:
✓ Empresa Pública (ex: TAAG; ANGOLATECOM; PORTO DO NAMIBE; CAMINHO D FERRO DE
MOÇÂMEDES; ENANA; SONANGOL; etc.);
✓ Empresas Com Domínio Público (ex. BCI, BPC, BAI, etc.);
✓ Participação Públicas Minoritárias (PAVITERRA, BANCO SOL, BCP, MILLENIUM- ATLANTICO, BANCO
ECONOMICO, BFA, etc.)
No entanto, existe um outro critério de classificação das Empresas com Capitais Públicos, que reside no seu
âmbito territorial, apesar do nosso legislador ainda não ter disciplinado em termos legais o regime e em que
termos operativos deve vincular. Assim sendo, as Empresas de Capitais Públicos são integradas nas seguintes
categorias:
✓ Empresa Públicas de Âmbito Nacional (SONANGOL, TAAG, EDIAMA, ENANA, ENSA, ENDE)
✓ Sector Empresarial Regional (v.g. Caminhos de Ferro de Luanda, Caminhos de Ferro de Benguela e
Caminhos de Ferro de Moçâmedes);
✓ Sector Empresarial Local (v.g. Porto de Cabinda, Luanda, Lobito, Namibe, Empresas das águas, Emutrac
(E.P.) – Lubango).
Quanto ao critério do volume de negócio ou sua dimensão, as Empresas podem ser classificadas:
✓ Microempresas (aquelas Empresas de expressão individual ou familiar sob forma de sociedades
comerciais unipessoais ou em nome colectivo);
✓ Pequenas Empresas (aquelas Empresas individuais que tem mais de 3 três trabalhadores, sob forma
de sociedades por quotas ou outra, mas não sob forma de sociedade anónima;
✓ Médias Empresas: Aquelas Empresas que tem um volume de negócio considerável constituídas sob
forma de uma sociedade por quotas, ou quaisquer outros tipos societários mas com número de
trabalhadores não superior a 500 trabalhadores);
✓ Empresas de Grande Dimensão ou Estratégicas: (aquelas de capital social superior
USD:20.000,00(vinte mil dólares americanos) equivalente em kwanzas e que o número de
trabalhadores são superior à 500 efectivos, e por conseguinte, são estratégicas quando são tituladas
pelos activos do Estado com fins, como diz o próprio nome, de realizar estratégias económicos do
Estado ao nível da economia interna ou internacional, ex. TAAG, SONANGOL, PORTO DE LUANDA…,AGOL-
TELECOM, ENANA e etc., são exemplos pragmáticos de Empresas de grande dimensão e
simultaneamente estratégicas. Já por exemplo o OMATAPALO, COCA-COLA, BANCO – BIC, são
Empresas de grande dimensão com volume de negócios expressivos e com mais de 500 trabalhadores
sem escopo de estratégia assinalável se quer para o interesse do Estado).
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102
Cf. Artigo 21.º d), artigo 89.º a) e 90.º, da CRA, aprovada pela Assembleia Constituinte de 21 de Janeiro de
2010 e, na sequência do Acórdão do Tribunal Constitucional n.º 111/2010, de 30 de Janeiro, ao 3 de Fevereiro
de 2010.
103
V. PAULO OTERO, Vinculação e Liberdade de Conformação Jurídica do Sector Empresarial do Estado, Coimbra:
Coimbra Editora, 1998, pp. 13 e seg., fazendo um recorte do Estado social de Direito, estabelece três perspectivas
do princípio de bem-estar: material, imaterial e temporal.
104
Cf. SOFIA TOMÉ D’ALTE, A Nova Configuração do Sector Empresarial do Estado e a Empresarialização dos
Serviços Públicos, Coimbra: Almedina, 2007, p. 39.
105
Cf. artigo 92.º, n.º 1 da CRA.
106
Cf. SOUSA FRANCO e GUILHERME DE OLIVEIRA MARTINS, A Constituição Económica Portuguesa – Ensaio
Interpretativo, Coimbra: Almedina, 1993, p. 219, para quem “intervenção económica do Estado é todo o
comportamento do deste (ou de outras entidades públicas equiparáveis) cuja função e finalidade consiste na
modificação concreta do comportamento de outros agentes ou sujeitos ou das condições concretas da actividade
económica. Não se limita à ordenação abstracta de regras ou instituições jurídicas que orientam, enquadram ou
condicionam o desenvolver da actividade económica (ordenação económica). Nem se traduz nos
comportamentos em que o próprio Estado (ou entidade equiparada) desenvolve uma actividade económica
própria, dispondo de bens raros susceptíveis de aplicações alternativas para satisfazer necessidades (próprias do
aparelho estadual ou da sociedade) que lhe cumpre satisfazer (actividade financeira) ”.
107
No âmbito do ordenamento português, considerando que o Estado deve pautar-se nas suas relações com a
sociedade civil de harmonia com o princípio da subsidiariedade dado que os princípios da igualdade e in dúbio
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pro libertate não permitem extrair outra solução interpretativa, v. PAULO OTERO, in Vinculação e liberdade...,ob.,
cit., p. 37.
108
In Ob., cit., p. 23.
109
In As Empresas Públicas no Direito Português – em especial, as empresas municipais, Coimbra: Almedina,
2000, p. 102.
110
Numa perspectiva financeira-fiscal, v. CASALTA NABAIS, O Princípio do Estado Fiscal, in Estudos Jurídicos e
Económicos em Homenagem ao Professor João Lumbrales, Coimbra: Coimbra Editora, 2003, pp. 376-377.
Segundo o Professor, “ (…) a acção económica do Estado, numa economia de disposição privada dos meios de
produção, dos bens e serviços, é, por natureza, subsidiária ou supletiva, o que naturalmente implica ou
pressupõe, em termos do sistema económico-social (global), que o suporte financeiro daquele não decorra da
sua actuação económica positivamente assumida como agente económico, mas do seu poder tributário ou
impositivo”. V. ainda CASALTA NABAIS, O Dever Fundamental de Pagar Impostos, Coimbra: Almedina, 1998, p.
205 e passim.
68
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111
Neste sentido v. NUNO DA CUNHA RODRIGUES, “Golden Shares” – As empresas participadas e os privilégios
do Estado enquanto accionista minoritário, Coimbra: Coimbra Editora, 2004, pp. 34 e seg.; com semelhante
argumentação, embora rejeite o princípio da subsidiariedade, v. CABRAL DE MONCADA, Direito Económico,
Coimbra: Coimbra Editora, 3ª ed., 2000, p. 173.
112
A este propósito v. SOUSA FRANCO, Finanças Públicas e Direito Financeiro, vol. I, Coimbra: Almedina, 2001, p.
36 “Os casos de incapacidade de mercado geram, pois, situações em que, normalmente, é apenas a intervenção
de entidades públicas – das quais tomaremos o Estado como protótipo – que permite realizar o bem-estar social,
em termos que todos achem desejáveis”.
113
Cf. SOFIA TOMÉ D’ALTE, A Nova Configuração do Sector Empresarial do Estado e a Empresarialização dos
Serviços Públicos, Coimbra: Almedina, 2007, p. 73.
69
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114
Na esteira de ALEBRTO ALONSO UREBA, La Empresa Publica – Aspectos Jurídico-Constitucionales y de Derecho
Economico, Madrid: Editorial Montecorvo, 1985, p. 138, e ENCARNACION MONTOYA MARTIN, Las Empresas
Públicas Sometidas al Derecho Privado, Madrid: Marcial Pons, 1996, p. 66, pode se afirmar que o interesse
público/geral constitui o leitmotiv que justifica a essência da Administração num Estado social e democrático de
Direito, encontrando-se esta indissociavelmente supraordenada pelo interesse público; ou na expressão de
GOMES CANOTILHO/VITAL MOREIRA, Constituição da República Portuguesa Anotada, Vol. II, 4.ª ed., Coimbra:
Coimbra Editora, 2006, pp. 794-795, “o interesse público é um momento teleológico necessário de qualquer
actividade administrativa”, ou seja, os entes administrativos, mesmo no sob alçada de poderes discricionários,
não podem prosseguir uma qualquer finalidade, mas apenas àquela considera pela lei ou pela Constituição, que
será sempre uma finalidade de interesse público.
115
Entendemos que os meios e as formas de exercício da iniciativa económica pública devem obedecer a uma
tipicidade legal, enquanto mecanismos de intervenção nos termos do artigo 165.º, nº 1, alínea b), da CRA. Para
este efeito, assinala PAULO OTERO, Vinculação e Liberdade…, ob., cit., p. 205, “(…) a intervenção empresarial do
Estado tem sempre que se fundar no princípio da legalidade, sendo a lei o fundamento habilitador directo de
criação ex novo de uma empresa ou da simples participação do Estado no capital de uma empresa já constituída,
isto sem prejuízo de cada decisão em concreto se poder fazer através de acto praticado no exercício da função
administrativa ou, em alternativa, resultar destes actos públicos uma permissão de utilização de mecanismos de
Direito Privado”.
116
CABRAL DE MONCADA, Direito…,ob., cit., p. 174, PAULO OTERO, Vinculação e Liberdade…, ob., cit., p. 125,
SOUSA FRANCO e GUILHERME DE OLIVEIRA MARTINS, A Constituição…, ob., cit., p.207, SOUSA FRANCO, Noções
de Direito da Economia, 1.º vol., Lisboa: AAFDL, 1991, pp. 23-24, ENCARNACION MONTOYA MARTIN, Las
Empresas Públicas…, ob., cit., pp. 52 e 61, ALEBRTO ALONSO UREBA, La Empresa Publica…, ob., cit., p. 138.
117
In Vinculação e Liberdade…, p. 124-129, onde o autor reafirma que “o interesse público representa o
fundamento, o limite e o critério da iniciativa e actuação económica pública e, por conseguinte, da intervenção
empresarial do Estado”. Concluindo no mesmo sentido, v. ENCARNACION MONTOYA MARTIN, Las Empresas
Públicas…, ob., cit., pp. 64 e 68, ALEBRTO ALONSO UREBA, La Empresa Publica…, ob., cit., p. 137-138, ANTONIO
TRANCOSO REIGADA, Privatizacíon, Empresa Publica y Constitucíon, Madrid: Marcial Pons, 1997, p. 161, JAIME
RODRIGUEZ-ARANA, La Privatizacíon de la Empresa Publica, Madrid: Editorial Montecorvo, 1991, pp. 53 e 42, e
PIERRE MOOR, Droit Administratif, vol. III, Berna: Editions Staemplfli & Cie SA, 1992, p. 144.
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118
Nos termos da Lei n.º 5/02, de 16 de Abril: art.º 1.º “São actividades económicas aquelas que se destinam à
produção e distribuição de bens e à prestação de serviços a título oneroso e com finalidade lucrativa (...)”.
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natureza empresarial de uma actividade económica sem uma abordagem sobre a figura da
empresa.
Para efeitos da análise que se seguirá, se apresenta de capital importância o conceito de
empresa em sentido objectivo, por forma a assentar a análise do carácter empresarial de
uma dada actividade económica em alicerces suficientemente resistentes a polissemia que
circunda a realidade “empresa”. No seguimento de COUTINHO DE ABREU, poderemos
então considerar que empresa em sentido objectivo vem a ser, “(…) a unidade jurídica
fundada em organização de meios que constitui um instrumento de exercício
relativamente estável e autónomo de uma actividade de produção para a troca”119.
Assim a actividade económica só revelará verdadeira natureza empresarial se assentar na
estrutura específica que é a empresa, e ser regida através de uma forma de actuação
também ela específica, instigada de uma mecânica própria, a que corresponde àquilo que
se designa por “critérios de actuação empresarial”. Estes critérios são balizados por alguns
parâmetros, que ajudam a percepcionar a diferença que separa a actividade económica
daquela outra que, além de o ser, é também empresarial. Critérios (estes) que são: (i)
produção/distribuição de bens e/ou serviços; (ii) satisfação de necessidades humanas, (iii)
colação desses bens no mercado, contra um preço; (iv) existência de um risco específico
no exercício da actividade; e, (v) objectivo de obtenção de um ganho.
Destes critérios parecem mais relevantes os três últimos, tendo em conta que os dois
primeiros se apresentam insuficientes, pois que, toda a actividade económica (exercida em
termos empresariais ou não) pressupõe a produção de bens ou serviços, sendo, os
mesmos, destinados à satisfação das mais diversas necessidades humanas.
119
In, Da Empresarialidade: As empresas no direito, Reimpressão, Coimbra: Almedina, 1999, p. 304. Veja-se
também, a propósito do conceito de empresa, OLIVEIRA ASCENÇÃO, Direito Comercial, vol. I, Lisboa, 1989/99,
pp. 137 e ss., criticando, porém, a concepção de empresa em sentido objectivo, avançada por COUTINHO DE
ABREU, a pp. 150.
72
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120
Cf. MARIA JOÃO ESTORNINHO, A fuga para o direito privado…, cit., pp. 59-66.
121
Cf. Ult. A., cit., p. 68.
122
Pois bem, se as empresas com domínio público adoptam a forma de sociedade comercial, o que supõe que as
mesmas sejam reguladas (em boa parte) pela Lei das Sociedades Comerciais, apresente-se contraditório, em
nosso entender, considerar a Lei de Base como regime aplicável à estas sociedades. Parece-nos mais acertado
dizer-se que às empresas com domínio público, por se tratar de uma sociedade comercial, deve ser regulada pelo
direito privado (máxime, direito comercial), salvo no que estiver especialmente regulado na Lei de Base – que
pressuponha a existência do interesse público.
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Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
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estiver especialmente regulado, pelo direito privado, salvo quando o fim não seja contrário
ao interesse público, nos termos da probidade pública”.
O presente esquema de fontes requer algumas contemplações. Particularmente em aberto
ficam dois pontos: a existência e o critério de hierarquia de fontes e o papel/natureza do
direito privado, quando seja chamado para regular alguns aspectos das empresas públicas.
A letra do artigo 8.º, n.º 1 parece revelar uma hierarquia de fontes com seguinte sentido:
bases gerais do sector empresarial público, estatutos da empresa pública considerada e,
por fim, o direito privado.
Com efeito, havendo um regime expresso com bases gerais, é de esperar que os estatutos
singulares se lhes submetem, limitando-se a concretizar ou especificar certas linhas de
desenvolvimento; por outro lado, as próprias bases gerais funcionam como especialidade
face ao Direito comum – para o caso, o Direito privado – aplicando-se, pois, em termos
prevalentes. Tudo isto funciona, contudo, apenas de modo tendencial. Mas do que um
qualquer critério hierarquizante o factor determinante para se proceder a articulação
destas fontes será a natureza das relações que se estabelecem.
Assim, nas situações jurídicas puramente internas relativas, a título de exemplo, a questões
como a constituição, modificação e extinção das empresas públicas, à sua orgânica, à tutela
e superintendência, à gestão ou aspectos similares, será aplicável a título principal o regime
das Bases gerais ou o respectivo estatuto, o direito privado terá uma aplicação subsidiaria.
Já nas situações jurídicas externas, que têm, designadamente, que ver com relações entre
empresas públicas e terceiros, a aplicação do direito privado será a título principal.
Quando estejamos, pois, perante o primeiro tipo de situações, há que esgotar as hipóteses
de analogia ou a utilização de princípios gerais, no contexto das regras especiais sobre a
empresa pública – bases gerais e estatutos – antes de recorrer ao direito privado que tem
aplicação subsidiária; quando, contrariamente, nos deparamos com o segundo tipo de
situações, o direito privado é imediatamente aplicável, sempre que nenhuma norma o
afaste123.
Quanto a questão de saber qual a natureza do direito privado aplicável às empresas
públicas, a sua solução é feita depender, em parte, da natureza comerciante ou de não
comerciante das empresas públicas124. Naturalmente, uma resposta a esta questão estará
dependente da capacidade para a prática de actos de comércio. Assim, nada existe no
artigo 13.º do Ccom. que obsta as EPs de serem comerciantes. Visto que o n.º 3 do mesmo
artigo concede a natureza de comerciante a sujeitos dotados de personalidade jurídica
quando exerçam uma actividade mercantil. Logo, as empresas públicas são comerciantes
123
Cf. ANTÓNIO MENEZES CORDEIRO, Direito da Economia, vol. I, Lisboa: AAFDL, 1986, pp. 280- 281.
124
Para efeito de saber se as empresas públicas são comerciantes ou não se veja, FERREIRA DE ALMEIDA, Direito
Económico, cit., pp. 145, segundo o qual as empesas públicas não são comerciantes; e numa posição contradita
por SIMÕES PATRÍCIO, Curso de Direito Econômico, cit., pp. 634 ss.
74
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125
Neste sentido, COUTINHO DE ABREU, Definição…, cit., pp. 198-200.
126
V. o artigo 8.º, n.º 2 do RJSEP. Quando esteja em causa estas empresas que, materialmente, se aproximem de
funções administrativas, todo o esquema das fontes pode ser afectado. Sendo que, a acorrer esta situação, os
estatutos que se das respectivas empresas terão de constar, no mínimo, de decreto-lei, conforme adverte
MENEZES CORDEIRO, Direito da Economia, cit., p. 289.
127
Neste sentido, v. JOSÉ MORAIS GUERRA, Direito da Economia Angolana, Vol. I, Lisboa: Escher Editora, 1994,
p. 184. Fruto das alterações operadas na regulamentação do Sector Empresarial do Estado, podemos ainda falar
de uma 5.ª fase, de transformação do SEP como instrumento efectivo de desenvolvimento estratégico, conforme
consta do Plano Nacional de Desenvolvimento 2013-2017. Disponível em
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128
V. JOSÉ MORAIS GUERRA, Ob., Cit., pp. 94-95.
129
Quer o preâmbulo quer o artigo 1.º, n.º 2, aludem ao regime de intervenção em empresas, ao abrigo do D.L.
n.º 128/75, cuja nacionalização se considere determinar pelo Conselho da Revolução, sob proposta do Conselho
de Ministro por razões de interesse nacional.
130
Cf. Lei n.º 8/76 (nacionaliza participações da CUCA, e Unitécnica e outras), a Lei n.º 17/76 (Siderurgia Nacional)
são, entre outros, exemplos de aplicação de aplicação da Lei n.º 3/76. Como sublinha JOSÉ MORAIS GUERRA,
Ob., Cit., nota. 350 “É inumerável o conjunto das Leis, Decretos e despachos que ao longo da 2.ª metade da
década de 70 e durante as décadas de 80 a 90 foram realizando confiscos, nacionalizações e intervenções/criação
de novas «unidades económicas estatais» de âmbito nacional, regional e local ilustrativo quer das empresas ou
sectores estratégicos quer das razões circunstanciais que relevaram no contexto.
131
A expressão «Sector Empresarial do Estado» só é recebida pela Lei n.º 10/88, no seu artigo 23.º, ao postular
a directriz programática do seu redimensionamento. Com efeito, o princípio da propriedade socialista sofre
restrições representadas pela consagração do princípio do redimensionamento do Sector Empresarial do Estado
tomado no sentido amplo, cf. DOMINGOS FRANCISCO, Ob. Cit., pp. 67-69.
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132
Cfr. artigo 4.º do RJSEP.
133
Por alguma ironia do destino, desde a aprovação deste novo RJSEP apenas assistimos à criação de empresas
estatais sob a forma de sociedade comercial, o que denota a centralidade que, em termos de iniciativa
empresarial pública, estas figura têm vindo a alcançar.
134
Surgem, aqui, fenómenos de associação entre público e privado, pelo importará distinguir as sociedades de
capitais exclusivamente público e das denominadas sociedades mistas, apenas objecto de detenção parcial.
Apenas serão consideradas empresas com domínio público aquelas que forem objecto de detenção maioritária
pelo Estado ou por outras entidades públicas estatais. Já ficarão de fora do SEP as sociedades meramente
participadas, embora esta participação (minoritária) esteja integrada no sector empresarial do Estado.
135
Dados estatísticos, consultar «http://www.isep.co.ao/home/sep/directorio-das-empresas-do-sep.aspx».
78
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136
Para mais desenvolvimento desta matéria v. FERREIRA DE ALMEIDA, In Direito Económico, I, Lisboa: AAFDL,
1979, pp. 117 e ss.
137
Cf. ANDRÉ DE LAUBADÉRE, Direito Público Económico, Coimbra: Almedina, 1985, p. 46, «corrente hoje em
dia» a expressão «empresa pública» não era empregada antes da Segunda Guerra Mundial e parece ter nascido
em 1946 no recenseamento do sector público industrial que foi estabelecido por instruções do Ministro das
Finanças, Robert Schuman… Deste modo a princípio falou-se das «empresas nacionalizadas»; pp. 463-465.
Empresa Pública como organização empresarial de capitais públicos, vide Decreto-Lei Português n.º 48 007, de
26 de Outubro de 1967, que acolhe a expressão «empresa pública» e Decreto-Lei n.º 133/73, 28 de Março (que
cria a Empresa Pública de Parques Industriais – E. P. P. I.).
138
CF. FEREIRA DE ALMEIDA, Ob., Cit., Parte I. O Autor refere-se à tentativa francesa (que não foi além do
projecto) de um estatuto elaborado em 1948, p. 123, nota 1. Nos P. A. L. O. P. em geral com as suas leis de bases
gerais das empresas estatais ou públicas v.g. Cabo Verde e seu Decreto-Lei n.º 11/78, de 18 de Fevereiro; Guiné-
Bissau e seu Decreto-Lei n.º 33/79, de 3 de Novembro; Angola e suas Leis n.º 3/76, 17/77, 11/88.
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sector privado e cooperativo. Com este conceito legal especificamente delimitado, todas
as demais figuras que atrás cabiam na noção ampla de empresas públicas tornam-se figuras
próximas mas distintas139.
139
Cf. JOSÉ MORAIS GUERRA, Direito da Economia…, cit., pp. 189-190.
140
Terá o legislador seguido o entendimento de que a melhor técnica legislativa evita inserir na lei definições
que, tantas vezes não só se apresentam deficientes, bem como, a curto prazo tendem a ser ultrapassadas pela
evolução “científica”(?). Cf., por exemplo, SIMÕES PATRÍCIO, Direito Económico, cit., 579 ss. e AFONSO VAZ,
Direito Económico, cit., 197 ss… quanto as dificuldades surgidas nas definições de empresa pública v. MARIA DA
GLORIA DIAS GARCIA, Direito da Economia/Empresas Públicas, 1983, pp. 3 ss.
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b) Criação e Extinção
As EPs são empresas criadas pelo Estado, embora apresentem uma dualidade de origem.
Do ponto de vista formal, entre nós, as empresas públicas são sempre criadas por Decreto
Presidencial ou por Decreto Executivo conjunto do Ministro responsável pelo Sector
Empresarial Público e do Ministro responsável pelo sector de actividade, por delegação do
Titular do poder Executivo, consoante estejamos perante uma empresa de interesse
estratégico ou empresas que não o sejam (cf. art. 40.º). Cabendo a lei determinar quais os
critérios para classificação da empresa pública, como sendo de interesse público
estratégico142.
De uma perspectiva material, não haverá dúvidas de que o acto de criação e extinção de
uma empresa pública é um acto individual e concreto não incorporando qualquer regra de
conduta para os particulares ou para a administração ou um critério de decisão para esta
última ou para o juiz, antes pelo contrário, tal acto apresenta uma eficácia meramente
consumptiva, esgotada com a respectiva aplicação. Significa isto que, o acto de criação da
empresa pública não é (materialmente) um acto legislativo, mas sim um acto
administrativo pese embora praticado sob a forma de decreto. Sucede, porém, que nos
termos do n.º 4 do artigo 40.º da Lei de Base “os estatutos das empresas públicas são
aprovados e publicados como anexo ao diploma que os cria.
A extinção das empresas públicas pode ser entendida em dois sentidos: em sentido amplo,
podendo visar a reorganização das actividades desta, mediante a sua transformação, cisão
ou fusão com outras; ou destina-se a pôr termo a essa actividade, sendo então seguida da
liquidação do respectivo património (extinção em sentido estrito).
As modificações estruturais (transformação, fusão, cisão) processam-se mediante decreto-
lei, que devem estar em consonância com o regime previsto na Lei de Delimitação de
Sectores da Actividade Económica e na Lei-Quadro das Privatizações (cf. art. 56.º). E a
extinção em sentido estrito é efectuada (igualmente) por decreto-lei, cabendo a este
diploma determinar a entidade que procederá a respectiva liquidação e o prazo para que
esta seja concluída (cf. art. 60.º, n.º 1 e 2). Contudo, cabe ressaltar que à extinção não são
141
Cf. COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol. I, 9.ª ed., Coimbra: Almedina, 2014, pp. 262-263.
Na esteira da definição exaustivamente analisada, na vigência do antigo regime português das empresas
públicas, que constava do DL n.º 260/76, de 8 de Abril, em Definição de Empresa Pública, Coimbra, 1990, pp. 95
ss.
142
E assim faz o artigo 13.º do RJSEP, deixando claro que esta classificação não se esgota na diferenciação entre
pequenas, médias e grandes empresas, ao contrário do anterior regime das empresas públicas.
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c) Personalidade e capacidade
Nos termos do art. 7.º, n.º 1 “as empresas públicas e as empresas com domínio público143
são pessoas colectivas dotadas de personalidade jurídica e com autonomia administrativa,
financeira e patrimonial. A personalidade jurídica autónoma é assim condição indispensável
para que a actividade empresarial possa ser configurada como a actividade principal da
entidade e a partir daí construir em tal conformidade o respetivo regime jurídico.
De facto, a personalidade jurídica independente garante a autonomia organizativa,
financeira e de decisão próprias da condição de empresário, isto é, exigindo normalmente
uma separação jurídico-organizatória entre a entidade encarregada da actividade
económica e a Administração ligada normalmente à outorga de personalidade jurídica
autónoma a favor daquela.
Da qualificação das empresas públicas como sujeitos jurídicos (e não somente objectos)
poderá extrair-se algumas consequências. Por um lado, pode ser criada uma EP - pessoa
sem que haja ainda substrato empresarial (organização de factores produtivo) ou de o ter
inacabado, não pronto a funcionar. Por outro lado, as empresas, enquanto instrumentos
para o exercício de actividades de produção, exigem determinados meios produtivos
organizados, pois bem, no caso das EPs, pode suceder existirem no seu património meios
de produção (assim como bens) não afectados às respectivas empresas (em sentido
objectivo), meios que não são elementos destas empresas (embora integrantes do
património das pessoas colectivas-EPs).
No entanto, parece-nos que elas devem ser entendidas como pessoas colectivas
públicas144, tendo em consideração os seguintes aspectos: a sua criação e extinção é
efectuada pelo Estado, mediante um acto de autoridade – não sendo para tal aplicáveis os
institutos da falência ou insolvência (v. art. 60.º RJSEP); O Governo exerce tutela
económica e financeira e superintende a sua actividade (v. arts. 43.º e 44.º RJSEP) e, por
último, porque revestem uma forma e uma organização institucional alheias ao direito
privado.
A capacidade jurídica das empresas públicas não diverge da capacidade das pessoas
colectivas prevista no Código Civil. Vigorando para elas o princípio da especialidade do n.º
1 do artigo 160.º, nos termos do qual não podem praticar actos contrários aos seus fins,
143
Não obstante considerarmos as empresas com domínio público como parte integrante da administração
indirecta privada do Estado, não se percebe a referência às empresas com domínio, uma vez que estas
“empresas” são sociedades comerciais e são reguladas em primeira instância pela Lei das Sociedades Comerciais,
à mesma Lei caberá a conformação da personalidade jurídica destas empresas. Por isso impõem-se uma
interpretação restritiva deste artigo, de modo a aplicar-se única e exclusivamente às empresas públicas.
144
Neste sentido, veja-se COUTINHO DE ABREU, Definição…, cit., pp. 184-185.
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medindo-se, pois, a capacidade em concreto, pelo seu objecto tal como este é definido nos
respectivos estatutos, nos termos do n.º 2 do artigo 7.º da Lei de Bases.
O objecto da empresa pública é sempre definido especificamente pela lei, nem se
compreenderia de outra forma, na medida em que ele existe para o desempenho de uma
função de interesse público. Este objecto funciona como um limite à sua competência,
sendo nulos todos os actos e contratos praticados e celebrados pela empresa que
transcendam ou contrariem o seu objecto. Por sua vez, para a prática de actos só
indirectamente relacionados com o objecto da empresa torna-se necessária a autorização
do Governo ou o parecer dos órgãos da empresa, consoante os casos, conforme definem
por vezes os seus estatutos.
145
Em bom rigor, o Estado acaba funcionando como uma garante das dívidas destas entidades, que estão na sua
orientação.
83
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146
V. art. 43.º do RJSEP, onde no seu n.º 4, determina a ineficácia jurídica dos actos sujeitos à aprovação ou
autorização prévia.
147
Conforme a distinção efectuada por COUTINHO DE ABREU, Governação das sociedades comerciais, Coimbra:
Almedina, 2010, pp. 40-41.
84
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Contra os ventos do antigo regime, o novo regime das Bases Gerias deixou de considerar
como obrigatória a existência do Conselho de Administração, contemplando um sistema
orgânico diverso. Deste modo, tendo em conta que em “situações devidamente
ponderadas” (?) pode existir, em substituição do Conselho de Administração, um Conselho
de Coordenação e Orientação Estratégica em conjunto com uma Comissão Executiva,
ambos compostos por 5 membros (cf. art. 48.º, n.º 1).
Decorre, pois, deste modelo a atribuição da administração da empresa em dois órgãos, ao
Conselho de Coordenação estará reservada a definição das grandes linhas da actividades
da empresa – “a alta direcção” –, na medida em que à Comissão Executiva estará
encarregada da gestão corrente empresa, nesta se compreendendo todos os poderes de
gestão necessários ou convenientes para o exercício da actividade da empresa, de acordo
com os instrumentos de gestão aprovados (cf. art. 48.º, n.º 2 e 3). As empresas públicas
podem ser sujeitas a controlos vários, de maior ou menor intensidade, de carácter parcial
ou geral, interno ou externo.
O controlo interno da empresa pública é feito pelo Conselho Fiscal, composto por três
membros ou apenas um, por determinação estatutária, Fiscal Único. (cf. art. 49.º, n.º 1 e 4).
Ao Conselho fiscal competirá fiscalizar a gestão, examinar a contabilidade, emitir pareceres
sobre os documentos de prestação de contas, designadamente o relatório de contas de
exercício e, no geral, pronunciar-se sobre qualquer assunto de interesse para a empresa
(cf. art. 50.º). Por determinação legal (cf. art. 16.º, n.º 3) um dos membros do órgão de
fiscalização das empresas públicas deve possuir experiência profissional ou formação
superior no âmbito da contabilidade, fiscalidade, auditoria ou áreas conexas148.
148
Igualmente aplicável ao Fiscal-Único, nos termos do artigo 16.º, n.º 4 do RJSEP
85
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149
Cf. art. 5.º, da LSC. Para COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol. II – Das sociedades, Coimbra:
Almedina, 2014, p. 93, embora as sociedades passem a gozar de personalidade jurídica e existirem como pessoas
jurídicas ou colectivas a partir da data do seu registo, a sociedade existe antes do registo, e tem subjectividade e
pode actuar antes da sua efectivação. De modo diverso, MANUEL NOGUEIRA SERENS, Notas sobre a sociedade
anónima, 2.ª ed., Coimbra: Coimbra Editora, 1997, pp. 23- 25. O Autor afirma que a sociedade só existe a partir
do registo definitivo, e antes disso poderá falar-se em uma “pré-sociedade”.
150
O art. 2.º do Código Comercial angolano define os actos de comércio como “(…) todos aqueles que se achem
especialmente regulados na presente lei e demais legislação complementar e, além deles, todos os contratos e
obrigações dos comerciantes que não forem de natureza exclusivamente civil, se o contrário do próprio acto não
resultar”. Uma definição (em boa parte) semelhante a que vigora no Direito Português, de modos a serem
integrados no conceito quer os actos objectivos de comércio e os actos subjectivos de comércios. Para uma
conceptualização rigorosa v. COUTINHO DE ABREU, Curso de Direito Comercial, Vol. I (introdução, actos de
comércio, comerciantes, empresas, sinais distintivos) p. 54, que define actos de comércio como “(…) factos
jurídicos voluntários especialmente regulados em lei comercial e os que, realizados por comerciantes, respeitem
as condições previstas no final do art. 2.º do CCom. Português (de idêntico teor literal com o CCom. Angolano).
151
In Curso…, vol. I, cit., pp. 260-261
86
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Para serem consideradas empresas com domínio público Estado e/ou as entidades públicas
devem obrigatoriamente exercer uma influência dominante sobre a sociedade comercial
em questão. Nota-se que a essa influência dominante está associada ao controle da
sociedade, pressuposto que nos permite estabelecer uma correspondência entre a
participação detida pelo Estado e/ou entidade pública com a figura do sócio controlador. A
legislação angolana não apresenta uma definição expressa da figura dos sócios
controladores.
Contudo, convinha não nos olvidarmos de que a RJSEP, expressis verbis, identifica as
circunstâncias em que essa influência dominante está presente ou é exercida. Com efeito,
estaremos diante desta influência dominante quando a presença do Estado e/ou entidade
pública na estrutura societária corresponder à “detenção da totalidade do capital ou da
maioria do capital ou dos direitos de voto” (art. 4.º, alínea a), “ao direito de designar ou de
destituir a maioria dos membros dos órgãos de administração ou de fiscalização” (art. 4.º,
alínea b). Nas sociedades comerciais pluripessoais, via de rega, a influência dominante é
exercida pela detenção da maioria do capital – o que supõe que à participação social
maioritária corresponde a maioria dos votos –, o que vai implicar por parte das entendidas
públicas participantes uma participação social superior a 50% (cinquenta por cento) do
capital.
Contudo, pode suceder que as entidades públicas, mesmo detendo menos de 50% do
capital social da empresa, podem exercer uma influência dominante sobre a sociedade.
Podemos então fazer referência aos mecanismos que permitem o controlo da sociedade
(control-enhacing mechanisms) por um ou mais sócios, independentemente da detenção
de maioria do capital social. Deste modo, esta influência dominante vai encontrar
fundamento autonomamente na maioria de votos.
Conforme expressamente prevê a primeira parte o art. 4.º, b) da RJSEP, as entidades
públicas participantes exercem uma influência dominante sobre as sociedades comerciais
quanto têm o dinheiro de designar ou destituir a maioria dos membros do órgão de
gestão/administração ou de fiscalização.
Naturalmente esta influência dominante está igualmente ligada a possibilidade de livre
destituição desses membros do órgão de gestão ou de administração, que (até certo
ponto) contribui para que eles actuem como verdadeira longa manus das entidades
públicas participantes. No entanto, no tocante a influência dominante do Estado, temos
para nós que o critério adoptado na alínea b) do n.º1 do artigo 4.º para sustentar o conceito
de empresa com domínio público se apresenta controverso.
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152
Cf. o art. 5.º, n.º 1 do RJSEP
153
Neste sentido, ROGER TAGAND, Le Regime Juridique de la societe d’Economie Mixte. Paris: L.G.D.J., 1969;
Igualmente PAUL OTERO, Vinculação…, cit., p. 208, considera que a transitoriedade de qualquer forma
minoritária de participação pública determina, ainda segundo exigência de prossecução do interesse público, e
sob pena de se assistir à sua violação por omissão, uma de duas soluções: a alienação da totalidade da
participação minoritária ou a aquisição do valor de participações sociais que atribua ao Estado (ou outra entidade
pública) uma posição maioritária. Fazendo referência a um “eunwirkunggspflicht”, ou seja, um dever jurídico de
influência da Administração da Administração nas empresas públicas que permita imputar à Administração a
responsabilidade pelos actos cometidos na gestão empresarial da entidade, v. G. PUTTNER apud ENCARNACION
MONTOYA MARTIN, Las empresas…, cit., p. 101.
154
A expressão de PAULO OTERO, Vinculação… cit., p. 208.
155
Cf. NUNO CUNHA RODRIGUES, Ob., cit., pp. 151-152.
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156
ROGER TAGAND, Le Regime Juridique de la societe… cit., p. 7, informa que, nas sociedades de economia mista
francesas, o Estado ou outras entidades públicas beneficiam da experiência e da iniciativa dos particulares na
“prática de negócios empresariais”.
157
Situação pouco comum, com a emergência das Leis uniforme. No entanto, sobre a concessão de avales do
Estado, veja-se RAÚL VENTURA, “Aval do Estado” in Revista da Banca, n.º 4, Out.-Dez. 1987, pp. 67-96 eEDUARDO
PAZ FERREIRA, “O aval do Estado”, in Estudos em Homenagem ao Prof. Doutor Raúl Ventura, Coimbra: Coimbra
Editora, 2003, pp. 997-1030.
158
Cf. artigo 69.º da RJSEP.
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2.2- Nacionalizações
A nacionalização em sentido restrito pode ser definida, segundo o Prof. EDUARDO PAZ
FERREIRA, como uma medida coactiva que opera a transferência da propriedade de
Empresas, participações sociais, universalidades de bens, prédios rústicos e/ou urbanos
ou ainda de outros bens das pessoas privadas para as entidades públicas por razões
política económica e social159.
Deste conceito pode-se abstrair alguns traços característicos da nacionalização,
designadamente:
1º- A nacionalização opera-se sempre por via coactiva, não se podendo falar de
nacionalização se tiver havido uma compra pelo Estado de bens privados;
2º- É preciso que se verifique uma transferência efectiva da propriedade dos bens
que deixam de se integrar no sector privado;
3º- A nacionalização tem sempre uma motivação de ordem económica e
social, visando que os bens atingidos fiquem ao serviço do interesse geral160.
O renomado Professor de Lisboa Doutor EDUARDO PAZ FERREIRA, citado pelo Prof.
159
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Economia, AAFDL 1996, Pág.290.
160
Cfr. FERREIRA, EDUARDO PAZ, - Sumários de Direito Econômico 1996, Pág.290. Neste sentido vide Acórdão
do Tribunal Constitucional Português nº39/88, de 9 de Fevereiro, in D.R. 2ª série nº 35, de 11 de Fevereiro de
1988. 295 Apud, AAVV, PARDAL, PAULO ALVES, - Direito da Economia Vol. I. editora AAFDL. Lisboa 2014. Pág. 172-
174.
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PAULO ALVES PARDAL, destaca que uma nacionalização implica uma transferência
efectiva da propriedade dos meios de produção, por via coactiva, para entidades públicas,
devido a razões de política económica e social161. Este autor salienta, porém, que as
motivações subjacentes podem ser da mais diversa ordem, tais como:
(i) Ideológicas (v.g., nacionalizações decorrentes de um programa
revolucionário de índole colectivista, como o que ocorreu em 1975);
(ii) Intervencionismo Económico; (v.g., para colmatar falhas de mercado, ou
seja, o Estado em protecção da economia);
(iii) Punitiva (v.g., em Angola a nacionalização da COTONANG, DIAMANG,
NGOL e etc. E na Europa pós-guerra a nacionalização da Renault na
França);
(iv) Retaliatórias (v.g., nacionalização de uma empresa estrangeira em
retaliação de idêntica medida tomada por esse Estado sobre acções detidas
pelo Estado em causa);
(v) Afirmação na Cena Internacional (v.g., nacionalização do Canal de Suez por
parte do Egipto; e, para evitar uma falência técnica de uma empresa
relevante na economia de um País, no caso menos perene de intervenção
do Estado angolano no Banco Espírito Santo Angola (BESA) para evitar
colapso financeiro e risco sistémico com efeitos de contágio no sistema
financeiro angolano.
Posto isso, deste excurso de exposição telegráfica, cumpre-nos, agora, dar uma noção de
nacionalização, como sendo, “uma forma directa e imediata de intervenção do Estado na
Economia que consiste no acto de soberania mediante o qual se transfere a propriedade
e bens vitais dos particulares para economia estatal, com a simultânea transferência, ou
modificação da respectiva gestão por razões de política social e do interesse público”162.
O mesmo é dizer-se, que se trata da transferência de titularidade e gestão da propriedade
privada para esfera jurídica do Estado revestido por acto de soberania em forma de Lei no
sentido formal, nos termos permitidos pela Lei fundamental de magnitude económica de
Angola (art. 97º, da CRA) e legislação ordinária; (Lei nº 3/76, de 3 de Março, designada de
Lei dos Confiscos e Nacionalizações).
A doutrina clássica defende que dois elementos devem, cumulativamente, caracterizar a
nacionalização: não só a transferência da propriedade privada para o Estado como
exercício da actividade ligada àquela propriedade deve ser realizada em conformidade
com o interesse social ou o interesse geral.
161
Ibidem. Pág. 172.
162
A nossa construção, e, o mesmo sentido Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, - As Privatizações em Angola, editora
Multitema, 2009, Pág. 43.
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Quanto aos confiscos, não obstante a sua natureza de medida penal, a lei angolana,
acometeu ao Conselho de Revolução a competência para determinar confiscos de
empresas uma vez instruído o processo de confisco (art.º 5.º da Lei n.º 3/76, de 3 de
Setembro). Mesmo quando os confiscos assumem a forma de lei, dada a ratio punitiva
que comportam, explícita nos fundamentos de ordem económica e previstos nas leis que
o contemplam, afiguram-se-nos como sanções penais, de natureza essencialmente
administrativa e como tal fazem parte do Direito Penal Administrativo.
i) Efeitos Centrais
A) Aquisição Originária
Ainda que a lei o não contemple expressamente, este efeito estaria implícito na natureza
do acto de nacionalização, ou pelo menos em cada acto casuístico de nacionalização. A
Lei n.º 3/76, de 3 de Março, prevê expressamente que: “os direitos relativos aos
nacionalizados consideram-se transmitidos para o Estado para todos efeitos legais,
independentemente de quaisquer formalidades, ónus ou encargos que sobre eles
impendam”. Esta transferência ope legis, para o Estado de direitos dos ex-titulares dos
bens objecto de nacionalização, representa uma aquisição originária de direitos reais e
não derivada, pois não depende da existência de um direito real anterior.
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B) Regime de Gestão
Um, outro efeito central das nacionalizações é a alteração do regime de gestão a que
estavam os bens nacionalizados - antes sujeitos ao regime de direito privado, e depois, a
um regime de gestão pública.
96
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163
Pois que a figura da privatização, pode ser entendida no sentido amplo, como sendo, a transferência por
alienação total ou parcial da Empresa ou de bens do Estado, e em sentido restrito, é entendido como
reprivatização, como já dissemos que é a transferência da propriedade do Estado nacionalizada e voltar para
esfera dos particulares.
164
Vide o Acórdão Tribunal Supremo de Angola Proc.nº103/2004, sobre anulação do despacho de anulação do
confisco por ilegalidade.
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iii) Reversão
A Reversão, consiste na transferência dos bens dos particulares para esfera patrimonial
do Estado em função da extinção do organismo ou pessoa colectiva, ou por “rés nullium”,
abandono, o seu património reverte-se à favor do Estado, vide art.166º, do CC e art.11º, do
Decreto Presidencial nº 92/2016, de 4 de Maio, Regulamento de Aquisição Gestão e Abate
da Frota de Veículos Automóveis do Estado, art.12º, do Decreto Presidencial nº177/10, de
13 Agosto, Instruções de inventariação dos Bens Patrimoniais Públicos.
165
Tanto a expropriação quanto a requisição administrativa, nos termos do artigo 37.º da CRA, têm critério de
validade a justa e pronta indemnização, que significa que aquela deverá ser prévia, integral e efectiva.
98
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166
LSC- Lei das Sociedades Comerciais.
167 Nos termos do art.2º, da LSC, prevê-se um “numerus clausus”, ou o princípio da tipicidade que se afigura nos
tipos de legais de sociedades. A tipologia das sociedades no ordenamento jurídico angolano à luz da Lei nº 1/04,
de 13 de Fevereiro, é a definida no art. 2º, da LSC.
99
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168
O processo que precede a instalação e o início de laboração de um estabelecimento comercial ou industrial é
comumente designado por licenciamento industrial ou comercial, cujo regime de acesso é o que a seguir se
expõe: regime regra – liberdade de acesso; excepções – existência de sectores vedados à iniciativa privada, as
ditas reservas a favor do sector público.
100
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a) Reservas Absolutas169
As reservas absolutas, como consequência lógica da limitação do acesso aos direitos
económicos pelos Agentes Económicos, a Lei indica uma prescrição configurada no art.
93º, da CRA. Todavia, através de mais disposições legais, o legislador orienta quais das
actividades económicas são vedadas a outros Agentes Económicos, nomeadamente:
✓ Produção, distribuição de material de guerra art. 11º, al. a), da Lei nº 5/02, de 16
Abril;
✓ Actividade bancária, respeitante às funções do banco central e emissor art. 93.º
da CRA e art. 3º, nº 1 e 6º, da Lei nº 16/10, de 15 Julho, Lei do BNA. E art. 11º, al. b),
da Lei nº 15/03, de 16 de Abril, Lei de Delimitação de Sectores da Actividade
Económica;
✓ A propriedade das infra-estruturas relativas às actividades portuárias e
aeroportuárias; art. 11º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, 16 de Abril;
✓ A propriedade das infra-estruturas que integram a rede básica de
telecomunicações art. 11º, nº 2, al. d), da Lei nº 5/02, de 16 Abril.
b) Reserva de Controlo
Neste segmento, a ordem económica qualifica certas actividades económicas como
reservas de controlo do Estado por serem de interesse público geral e do consumidor da
sociedade angolana de certos bens e serviços, e que, sua essencialidade consubstancia-se
na produção distribuição e comercialização de bens e serviços. A reserva de controlo,
donde temos as actividades económicas desenvolvidas por privados em regime de
concessão, mas onde se exige, além disso, que o capital social das empresas
concessionárias seja maioritariamente público, podendo ser detido pela província ou
autarquia.
✓ Serviços básicos postais – art. 12º, nº 2 al. a), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
✓ As infra-estruturas de dimensão local, quando constituem extensão de rede
básica de telecomunicações art. 12º, nº 2, al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
169
Dessas reservas absolutas nem tudo é absolutamente vedado aos particulares, porque por exemplo o
previsto na al. a) do art. 11º, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril, isto é, a produção, distribuição e comercialização
de material de guerra. O Poder Executivo angolano excepcionalmente pode abrir mão à esta actividade e ser
desenvolvida por Empresas que resultam da associação de sector público, em posição obrigatoriamente
maioritária do capital social, com outras entidades nacionais ou estrangeiros, desde que, disponham de
exclusivos de natureza tecnológica, ou detenham posição dominantes em Mercados Internacionais de estrutura
oligopolista em sector público que não tenham, por si só, capacidade de penetração no Mercado angolano, nos
termos do art. 11º, nº 3, da Lei nº 5/02, 16 de Abril. Portanto, a reserva absoluta significa um acto normativo
de limitação do acesso certas actividades ou a titularidade de propriedade dos bens e serviços, como já
referimos. No entanto, para outras actividades é apenas consagrada a reserva de propriedade, admitindo-se
que a sua exploração possa ser entregue a entidades privadas em regime de concessão, ou outro que não
envolva a propriedade dos bens a explorar.
101
Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
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Portanto, a reserva de controlo que compreende as áreas acima destacadas pode ser
desenvolvida por Agentes Económicos do sector público ou sociedades participadas com
capitais do Estado onde detenha posição privilegiada ou dominante nos termos do art.12º,
nº 1, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril. Conquanto que, esta reserva de controlo pode ser
enquadrada na excepção do aceso à actividade económica como restrições limitativas.
c) Reserva Relativa
O recuo do Estado, em bom rigor, não corresponde a uma verdadeira «desintervenção»
mas apenas a uma substituição de formas directas de intervenção apostadas na figura do
Estado produtor e até empresários por formas indirectas reportadas a estas à mera fixação
dos quadros normativos gerais da intervenção, mas sem dar ao Estado a responsabilidade
directa na produção.
Ao abrigo do disposto na dimensão da norma do art. 13º, da Lei nº 5/02, de 16 de Abril,
estabelece que constituem reservas relativas do Estado as actividades económicas
compreendidas nas seguintes áreas:
✓ Saneamento básico art. 13º, al. a), da já citada Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
✓ Produção, transporte e distribuição de energia eléctrica para consumo público,
art. 13º, al. b), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
✓ Captação, tratamento e distribuição de água para o consumo público através de
redes fixas, art. 13º, nº2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
✓ Exploração de serviços portuários e aeroportuários art. 13º, nº 2, al. d), da Lei nº
5/02, de 16 de Abril;
✓ Transporte ferroviário, art. 13º, nº 2, al. c), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril;
✓ Transporte aéreo regular de passageiros domésticos art. 13º, nº 2, al. f), da Lei nº
5/02, de 16 de Abril;
✓ Serviços complementares postais e de telecomunicações art. 13º, nº 2, al. g), da
Lei nº 5/02, de 16 de Abril; e,
✓ Infra-estruturas que não integram a rede básica, bem como os respectivos
serviços de telecomunicações art. 13º, nº 2, al. h), da Lei nº 5/02, de 16 de Abril.
Relativamente ao transporte colectivo urbano, exploração dos recursos naturais,
transporte aéreo internacional, o Poder Executivo deve determinar em que
circunstâncias, por razões de utilidade pública, o exercício da actividade privada deve ser
feita mediante o contrato de concessão, nos termos do art. 13º, nº 3, 4 e 5, da Lei nº 5/02,
de 16 de Abril.
102
Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
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170
Cfr. MONCADA, CABRAL DE, - Direito Económico … Pág. 442-444.
171
Cfr. ABRANTES, MARIA LUÍSA, … ibidem.
103
Lições de Direito Económico // ISPOC-Huambo, Ano Académico 2022/2023
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subscritores.
✓ Por fim, os objectivos económicos ou de sistema, donde releva a redução do peso
do Estado na economia.
172
Helena PRATA, Op. Cit., p. 168.
105
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das participações sociais, diz-se que se está perante uma sociedade de economia mista
controlada.
Porém, casos há em que o Estado mesmo detendo apenas uma parte minoritária do
capital, exerce poderes de controlo da sociedade. Trata-se de acções privilegiadas (Golden
shares), que conferem assim ao Estado poderes de gestão de empresas
desproporcionados em relação aos direitos de propriedade que lhe cabem. Mesmo sendo
titular de uma única acção; no valor mínimo exigido pela lei, v.gr., o Estado pode exercer
uma faculdade reservada a acionistas com considerável valor de participação social.
Golden share tem sido utilizada, por vezes, como um meio de proteger empresas
especialmente vulneráveis à tomada de controlo por entidades estrangeiras.
107
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173
Vide site da internet.www.zemoleza.com.br/.../humanas/direito/origem-das-cooperativas, consultada dia
20/4/2016.
174
BENJAMIN BUCHEZ (1776-1860) E LOUIS BLANC (1811-1882) criaram, além de cooperativas de produção,
associações de trabalhadores, nas quais os operários eram co-proprietários e co-administradores. Ibidem
175
HERMAN SCHULZE (1808-1883) foi o fundador da Associação das Cooperativas Alemãs, em 1859. Vivia na
cidade de Delitzsch, na Alemanha, daí o nome do modelo cooperativista "SCHULZE-DELITZSCH". Ibidem.
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Rochdale”176 .
A Constituição angolana consagra o direito cooperativo como forma de titulação, ou seja,
acesso a propriedade e actividade económica, nos precisos termos do art. 92º, da CRA,
como um instituto de Direito Económico e da coexistência sectores de propriedade, ou
seja, a forma como a propriedade em Angola pode ser titulada pelos Agentes
Económicos. Mas, por conseguinte, esta actividade crismada como comunitária, por
vezes, societária ou Empresa, entronca e tem o seu campo de eleição, como se denota,
em três áreas de sector da actividade, nomeadamente: agricultura, pesca e sector social.
Daí considerar-se que o legislador consagrou com especial atenção um sector
cooperativo, designadamente:
✓ Sector Cooperativo do Empresariado do Sector Primário da Economia: com
enfoque na agricultura e pesca, indústria, ou seja, sector estruturante da
economia primária art. 21º, da al. i), da CRA in fine e art. 38º, da CRA, e art.16º, a),
da Lei das Cooperativas;
✓ Sector Cooperativo Social: que comporta o sector social da Saúde, art. 77º, nº 2,
da CRA, Educação e Cultura, art. 79º, nº 3, da CRA, Ambiente, Habitação art.16.º,
da Lei das Cooperativas.
✓ Sector Cooperativo de Comércio, Construção, Crédito, Consumo, Transporte,
Seguros e Serviços: que compreende as actividades desencadeadas pelas
Cooperativas no sector secundário e terciário da economia de factores de
produção, distribuição, comércio e consumo e questões ambientes, vide, art.16º,
da Lei das Cooperativas.
O cerne da ordem jurídico-constitucional do cooperativismo angolano é o facto de a
realidade cooperativa ser encarada como um sector de propriedade dos meios de
produção, ao lado dos sectores públicos e privado. Não se pode, portanto, deixar de
reflectir em torno do sentido dessa opção do legislador177.
As cooperativas são pessoas colectivas autónomas, de livre constituição, de capital e
composição variáveis, que, através da cooperação e entreajuda dos seus membros, com
obediência aos princípios cooperativos, visam, sem fins lucrativos, a satisfação das
necessidades e aspirações económicas, sociais ou culturais daqueles178.
No espaço jurídico-constitucional do cooperativismo é possível surpreender um conjunto
de princípios, a partir dos quais se pode compreender melhor a lógica desse território
jurídico:
✓ Princípio da Coexistência -Traduz-se na garantia de que os três sectores de
propriedade dos meios de produção, reconhecidos no art. 92º, da CRA, convivem
176
Ibidem.
177
Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 131.
178
Ob. Cit. Pág. 181.
109
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entre si, ou melhor, têm de conviver entre si. Significa, portanto, que o sector
cooperativo e social é encardo e concebido como tendo de existir em conjunto
com os sectores público e privado;
✓ Princípio da Conformidade com a Identidade Cooperativa - Assumida pela Lei
ordinária e está patente na expressa exigência, inscrita no texto constitucional, de
que a prática das cooperativas obedeça aos princípios cooperativos, dado estar
adquirido pela doutrina que os princípios referidos pela CRA são os adaptados pela
Lei ordinária, (art. 5º e 12º, da Lei nº 23/2015, de 31 de Agosto, Lei das Cooperativas;
✓ Princípio da Autonomia - Manifesta-se na divisão da área não-pública,
diferenciando, do que nela é autenticamente privado, um território normativo que
neste caso se designa como “cooperativo e social”, (art.5º, al. d), e art.9º, da Lei
das Cooperativas;
✓ Princípio da Unidade - Materializa-se no facto de as cooperativas serem encaradas
pela CRA como um todo, isto numa primeira apreciação; numa segunda linha,
surge um outro conjunto de princípios, sem a mesma energia estruturante dos
anteriores, mas com importância idêntica, (art.5º, al. b) e art. 7º, da Lei das
Cooperativas;
✓ Princípio da Liberdade - O princípio da liberdade é um reflexo dos princípios
cooperativos, mas adquiriu uma força própria, através do nível em que a CRA o
situa. Os constituintes afirmam-no com toda a força, quer no plano da
Constituição, quer no plano do funcionamento, quer no plano da organização179, (
art. 5º, al. a) e art. 6º e 13º, da Lei das Cooperativas;
✓ Princípio da Protecção - Resulta de preceitos constitucionais que expressamente o
consagram, envolvendo a garantia de que o sector cooperativo e social, nas suas
duas vertentes, deve ser especialmente estimulado e protegido, (art.5º , al. b) e
art.7º, da Lei das Cooperativas;
✓ Princípio da Abertura - Traduz-se na consagração de um sector de propriedade dos
meios de produção que não se limita a ser cooperativo, uma vez que também é
social, ou seja, um “sector cooperativo social”, (art.5º, al. e) e art.10º, da Lei das
Cooperativas.
✓ Princípio da Inter-Cooperação - Cuja menção autónoma pode até parecer
redundante, dado estarmos neste caso perante um dos princípios formalmente
consagrado pela Lei ordinária, (art. 5º, al. f) e art.11º, da Lei das Cooperativas.
A Constituição Cooperativa angolana deve, pois, repercutir-se no plano da legislação
comum em dois níveis. Por um lado, deve obviamente reflectir o que resulta directa e
expressamente dos preceitos constitucionais com incidência cooperativa. Por outro lado,
deve ser consonante, deve ser convergente com as mensagens normativas que resultam
179
Ibidem.
110
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180
Cfr. NAMORADO, RUI, - Introdução ao Direito Cooperativo, Almedina Editora, 2000, Pág. 171-175.
181
Ob. cit. Pág. 181.
182
Ob. Cit. Pág. 187.
183
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 28
111
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184
Vide o art.3º, da Lei nº 23/2015, de 31 de Agosto, Lei das Cooperativas.
112
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185
Cfr. AVV. CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág. 31
186
Cfr. POULSON, LAZARINO, Pág. 28.
187
Vale cá realçar que, o formato ou configuração contratual (normalmente um contrato administrativo nos
termos do regime dos contratos públicos – Lei n.º 41/20, de 23 de Dezembro) não é o único que as PPP podem
tomar, havendo também a possibilidade de tomarem a formato institucional (que se traduz na criação de uma
sociedade ou de uma empresa local com capital privado ou na criação de uma associação, com pessoas colectivas
públicas e privadas ou sociais como sócias), bem como o formato de concertação (de carácter menos vinculativo,
mais se parecendo a simples protocolos de cooperação, que se traduzem numa intenção, nem sempre
formalizada – acordos de concertação – de desenvolver um projecto comum).
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Da definição legal, infere-se que o legislador angolano optou por uma definição mais
restrita na senda de YOSCOMBE, onde se destacam os seguintes traços188:
✓ Contrato duradouro: implica uma relação jurídica baseada na estabilidade e
continuidade entre uma entidade pública e uma privada. O legislador, de acordo
com o princípio da liberdade contratual (art. 405º, do CC), deixou ao critério das
partes fixarem o período de vigência das PPP’s. Todavia, tendo em conta a
natureza e objecto das actividades que serão sujeitas à PPP’s estamos em crer
que serão contratos de médio e longo prazo;
✓ Parceiro Público-Privado: no ordenamento jurídico angolano são parceiros
públicos designadamente o Estado, as Autarquias Locais, Fundos e Serviços
Autónomos, e, por fim, as Entidades Públicas Empresariais. Este elenco de
entidades públicas fixadas pelo nº 2, do artigo 2 º, da Lei das PPPs merece as
seguintes observações. Em primeiro lugar, encontra-se o Estado em toda sua
dimensão (Legislativa, Executiva e Judicial). Se preferirmos dizer, qualquer
instituição do Estado que represente um dos três poderes de soberania pode se
vincular contratualmente por via de uma PPP. Do mesmo modo, apesar de ainda
não estarem materialmente instituídas, as Autarquias Locais também podem ser
parte de uma PPP189. Por fim, o legislador reservou um privilégio ao sector
empresarial público: a possibilidade das várias formas empresariais públicas
tomarem parte de uma PPP. Assim, uma Empresa Pública, uma Sociedade de
Capitais Público pode ser envolvida numa PPP. Noutra banda, o legislador
consagrou uma norma específica para o co-contraente público que merece a
seguinte nota: “para já o legislador deveria fazer um elenco de entidades
privadas. Contudo, percebe-se que disse menos do que pretendia. Desse modo,
podemos concluir que para além das empresas privadas (que são a regra) outras
entidades privadas de fins não lucrativos nomeadamente as associações,
fundações ou ONG podem vincular-se a um parceiro público mediante uma PPP”.
✓ Responsabilidade de financiamento: o conceito legal de PPP em Angola é preciso
neste domínio. A lei ao determinar que o financiamento e responsabilidade pelo
investimento incumbe no todo ou em parte ao parceiro privado, está a restringir
a intervenção financeira das entidades públicas. Neste caso, o pagamento ao
privado pode revestir duas formas essenciais: mediante dotações orçamentais
públicas (que não cobrirão a totalidade do investimento) ou mediante cobrança
directa de taxas junto dos utentes. Desse modo, fica proibida a constituição de
PPP’s em que a parte pública cobre todos os custos, ou seja, nas PPP a entidade
188
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, pág. 29-31.
189
Já os Fundos Autónomos (fundações Públicas) podem ser parte de uma PPP. Contudo os fundos sem
personalidade jurídica não podem estar vinculados directamente a uma PPP. Por sua vez, os Serviços Autónomos,
designadamente Institutos Públicos Associações Públicas podem igualmente ser parceiro público de uma
oportuna PPP.
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190
Deste fuste, na esteira de Paz FERREIRA, é imperioso que uma projecto de PPP tenha a capacidade de gerar
recursos que garantam o pagamento e a remuneração do capital investido, tendo, pois, a vantagem de se
autofinanciar, respondendo às dificuldades orçamentais do Estado, pressionado por políticas macroeconômicas
restritivas da despesa pública (Cfr. D. F. JOÃO, Op. Cit., p. 397).
191
Cfr. POULSON, LAZARINO, - As Parcerias Público-Privadas, Almedina Editora, 2011, Pág. 83-84.
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192
Cfr. AVV CRUZ, CARLOS OLIVEIRA, - O Estado e as Parcerias Público-Privadas, Sílabo Editora, 2012, Pág. 41.
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193
Ibidem, Pág. 42.
194
Ibidem, Pág. 38-39.
195
Cfr. Domingos Francisco JOÃO, Lições de Direito Económico de Angola, ZOE Publicações, Luanda, 2018, pp.
395-396.
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geral, são os serviços económicos, sociais e até culturais, como são os casos específicos
da distribuição de água, recolha do lixo, transportes, serviço de educação e de saúde,
assistência aos idosos, construção e administração de prisões, a construção e exploração
de ponte, estradas, complexos desportivos, centros culturais e de museus, manutenção
de jardins e parques...
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196
Digna de menção neste quesito é a posição de Joseph STIGLITZ, segundo a qual “é necessária a intervenção
pública na economia, mas que tal intervenção não pode ser apenas directa, pois, desta forma sufocaria as
liberdades individuais de natureza económica e social, bem como estagnaria o sistema produtivo porque
sobrecarregaria o aparelho administrativo e o Estado não teria capacidade para dar respostas às necessidades,
conduzindo-se assim à sua própria falência (...) STIGLITZ no fundo entende que o Estado deve intervir quer de
forma directa como de forma indirecta, pois, só desta forma se chega à resultados satisfatórios”.
197
Trata-se do Estado nas vestes de um verdadeiro sujeito económico, lançado no mercado como se de um
sujeito privado se tratasse, estando, por isso, sujeito aos princípios oponentes e conflituantes como o princípio
da concorrência, da defesa do ambiente, da defesa dos direitos dos trabalhadores e dos consumidores.
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198
O conceito de regulação é, portanto, menos amplo que o de intervenção pública na economia, visto que exclui
a actividade directa do Estado como produtor de bens e serviços, implicando, meramente, a alteração dos
comportamentos dos agentes económicos em relação ao que seria se esses comportamentos obedecessem
exclusivamente às leis de mercado ou formas de auto-regulação. Também se distingue da regulação de mercado
e das regras provenientes de entidades privadas dotadas de poder económico suficiente para as tornarem
efectivas. Contudo, cabem no conceito de regulação pública aqui proposto as medidas convencionadas ou
contratualizadas entre entidades públicas e privadas, assim como a regulação produzida por entidades privadas
por delegação e com base no enquadramento produzido por entidades públicas.
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✓ Concorrência de preços;
✓ Actividade monetária e financeira;
✓ Ambiente;
✓ Qualidade e protecção dos consumidores;
✓ Informação e comunicação.
cooperação dos Estados. Pode ser desenvolvida diretamente por acordos interestaduais
ou por organizações internacionais. Das organizações internacionais de regulação
económica temos a destacar:
✓ Organização Mundial do Comércio – OMC – que desenvolve a actividade de
regulação do comércio internacional;
✓ Fundo Monetário Internacional – FMI – que desenvolve a actividade de supervisão
do sistema monetário internacional e da monitorização das políticas financeiras e
económicas tomadas pelos seus Estados membros;
✓ Grupo de Acção Financeira - GAFI – organismo intergovernamental que tem como
objetivo desenvolver e promover políticas, nacionais e internacionais, de
combate ao branqueamento de capitais e ao financiamento ao terrorismo;
✓ Banco Mundial – tem desenvolvido actividades de avaliação e reflexão das
regulações praticadas em vários países, máxime, no sector da regulação e
supervisão bancária.
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199
D. F. João, Op. Cit., p. 446.
200
No cômputo geral, o plano económico compõem-se sempre de duas operações essenciais: o diagnóstico e o
prognóstico. No primeiro contabilizam-se os dados globais e sectoriais da actividade económica, que são o
pressuposto de qualquer estimativa com destaque para o cálculo da procura global e sectorial. No segundo,
projectam-se para o futuro as estimativas mais verosímeis, observadas durante a fase do diagnóstico, na base
dos comportamentos considerados mais prováveis dos agentes económicos visados, ao mesmo tempo que se
indicam os meios apropriados.
201
Alguns autores vêm o planeamento económico como sendo um processo técnico instrumentado para
transformar a realidade existente no sentido de objectivos previamente estabelecidos. Assim visto, o
planeamento económico consistiria num processo de intervenção estatal no domínio económico com o fim de
organizar actividades económicas para obter resultados previamente colimados.
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202
Em obediência ao princípio democrático do planeamento, a aprovação das grandes opções pela NA deve
ser entendida como uma condição prévia da adopção de quaisquer planos pela Titular do Poder Executivo
(art.º 120.º, al. c) da CRA). À NA cabe ainda apreciar os relatórios de execução dos planos (art.º 162.º al. b) da
CRA).
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203
O princípio da participação exprime-se na intervenção dos Conselhos de Auscultação ou Conselhos
Económicos e Sociais no processo de elaboração dos planos, bem como na apreciação dos relatórios da sua
execução (art.º 162.º al. a) da CRA).
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A classificação destes novos contratos deve ser cautelosa, sem deixar de os ligar ao seu
“território de origem”: o Direito Económico é entendido como o tecido normativo inerente
à relação entre Estado e os agentes económicos, tanto numa perspectiva de exercício de
autoridade, como de eventuais atitudes na qualidade de agente económico. De larga
aplicabilidade na vida das empresas e em outros domínios da vida social, são capazes de
influenciar toda a estrutura económica, como exemplo, os contratos de locação financeira,
factoring e franchaising.
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B) Factoring
É a actividade parabancária, que consiste na aquisição de créditos a curto prazo, derivados
da venda de produtos ou da prestação de serviços, no mercado interno e externo.
Encontra-se previsto no ordenamento jurídico português desde 1965, na qualidade de
actividade parabancária típica, e já em 1986, foram regulamentadas as sociedades de
factoring (DL 171/95 de 18 de Julho):
a) A actividade de factoring é definida com uma cessão de financeira, consistindo na
aquisição de créditos de curto prazo, derivando da venda de bens ou da prestação
de serviços, tanto no mercado interno como no externo;
b) Aquela actividade só pode ser desenvolvida por sociedades de factoring e pelos
bancos;
c) O contrato de factoring tem sempre forma escrita e nele intervêm o factor ou
cessionário e o aderente ou cedente dos créditos;
d) O direito subsidiário aplicável às sociedades de factoring é o regime geral das
Instituições de Crédito e das Sociedades Financeiras.
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As sociedades que tenham por objecto a actividade de factoring têm que constituir-se sob
a forma de Sociedade Anónima, não podendo desenvolver qualquer outra actividade.
Modalidades:
✓ Serviço completo (Full Factoring): trata-se de um acordo consubstanciado através de
um contrato do qual o fornecedor se compromete a ceder sistematicamente a uma
sociedade de factoring todos os seus créditos provenientes da venda de
mercadorias ou da prestação de serviços e que esses créditos se encontram
representados por facturas ou por outra documentação equivalente.
✓ Factoring com recurso: os aspectos da cobrança e antecipação dos fundos são
privilegiados, o factor não classifica os devedores, limitando-se a uma análise
sumária da sua credibilidade, não garante o risco de crédito e reserva o direito de
regresso sobre o aderente no caso de insucesso das cobranças; obriga o factor a
uma análise mais complexa e pormenorizada da aderente e do produto ou serviços
fornecidos.
✓ Matority factoring: a grande incidência nesta versão verifica-se na prestação de
serviços, não sendo praticamente contemplada a componente financeira.
✓ Bulk factoring: o factor apenas procede à antecipação dos fundos e não efectua
qualquer prestação de serviços; consiste no desconto de facturas, com a diferença
que os créditos são efectivamente cedidos ao factor (na prática).
✓ Factoring confidencial: destina-se a aderentes que necessitam da antecipação dos
fundos mas que têm o seu próprio serviço de cobranças pelo que não pretendem
usar o factor.
C) Franchaising
Este não é propriamente um contrato de financiamento, embora esta operação esteja
presente, mas reflexamente, pelo que constitui uma das características do contrato.
Trata-se essencialmente de um contrato de expansão e desenvolvimento, para o
franquiador, e a possibilidade de iniciar uma nova etapa da sua vida empresarial, para o
franquiado. Dispondo de um mercado mais vasto, com um mínimo de investimento, ao
contrário das filiais, em que o investimento é integralmente suportado por uma única
estrutura empresarial, no franchaising o franquiador conta ainda com os pagamentos do
franquiado: prestações periódicas e preços de aquisição dos produtos, residindo aqui, o
elemento dinamizador de expansão e desenvolvimento. Juridicamente o franchaising é um
contrato atípico. Isto quer dizer que se trata dum contrato que não tem regime jurídico
próprio, ao contrário da locação financeira e do factoring, os quais são contratos tipificados
na lei. O contrato de franchaising, consiste num sistema de distribuição em que uma parte
(o franchisador) concede a uma outra parte (o franchisado) o direito de distribuir os
produtos ou prestar serviços e a explorar um negócio de acordo com um dado sistema de
marketing, com o mínimo de risco e de investimento. Atendendo a este facto, toda a sua
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disciplina, no nosso ordenamento jurídico se reporta à parte geral dos contratos, onde
impera o princípio da liberdade contratual das partes (art. 405º e segs. CC). À luz deste
princípio (autonomia privada), cabe às partes fixarem, em termos vinculativos, a disciplina
que mais lhe aprouver, desde que conforme com a lei.
✓ Contrato de franchaising de distribuição: é o contrato pelo qual o franquiado se
obriga a vender determinados produtos num estabelecimento seu, mas com o
nome e imagem do franquiador, ou seja, o contrato visa a comercialização de
determinados produtos do franquiador.
✓ Contratos de franchaising de serviço: o franquiado oferece serviços sobre a insígnia,
o nome comercial ou a marca do franquiador, garantir a qualidade dos serviços
fornecidos por operadores independentes sob a imagem e indicação dos
franquiadores.
✓ Contrato de franchaising de produção industrial: o franquiado fica autorizado,
mediante o fornecimento know-hout, por parte do franquiador, a produzir bens que
depois vende sob a marca deste, resumindo, o sistema franquiado tem por objecto
o fabrico e venda de um determinado produto.
Os direitos permanentes (do franchisador) são normalmente indicados como principal
fonte de rendimento do franchisador e constituem a maior contribuição para as suas
despesas centrais, podem ser pagos numa das três formas:
✓ Um royalty, uma percentagem fixa do volume de negócio, sobre o volume dos
negócios.
✓ Uma margem sobre o preço dos materiais adquiridos ao franchisador;
✓ Um montante regular fixo por estabelecimento.
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