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Ficheiro: Balanco_Potencias_Exemplos_QEE22232.doc
Setembro de 2022
PGamboa
1
Simbologia
f frequência da componente fundamental
FP factor de potência
FF factor de forma
FD factor de deslocamento
h ordem da harmónica
hmax ordem máxima da harmónica
i(t) valor instantâneo da corrente i
I1RMS valor eficaz da componente fundamental da corrente i (h=1)
IhRMS valor eficaz da corrente i associada à harmónica de ordem h
IRMS valor eficaz da corrente i
v(t) valor instantâneo da tensão v
V1RMS valor eficaz da componente fundamental da tensão v (h=1)
VhRMS valor eficaz da tensão v associada à harmónica de ordem h
VRMS valor eficaz da tensão v
p(t) potência instantânea
P potência activa
Q potência reactiva
D potência deformante
S potência aparente
THD taxa de distorção harmónica
THDi taxa de distorção harmónica da corrente
THDv taxa de distorção harmónica da tensão
frequência angular
h fase inicial para a ordem da harmónica h
2
1 Introdução
Este documento deve ser usado como apoio à unidade curricular de Qualidade de Energia Eléctrica (QEE). Pretende apresentar exemplos
demonstrativos do balanço de potências em Sistemas Eléctricos de Energia (SEE).
Considerou-se a representação das grandezas eléctricas no domínio do tempo, utilizando letras maiúsculas para valores eficazes e minúsculas para
valores instantâneos. Neste documento, por simplicidade, para os vários casos apresentados omite-se a dependência do tempo nas variáveis.
Para auxílio e melhor compreensão dos temas, as várias componentes das potências serão apresentadas com as evoluções temporais e os códigos
realizados com o programa de simulação Matlab/Simulink.
2 Exemplos demonstrativos
Exemplo 1: “Tensão sinusoidal e corrente do tipo rectangular” (adaptado de: Fernando A. Silva, “Qualidade da Energia Eléctrica”)
Considere a Fig. 1a em que a tensão da rede v(t) é sinusoidal (sem distorção) e a corrente i(t) é do tipo rectangular. Esta corrente i tem uma evolução
temporal típica das correntes de entrada dos rectificadores monofásicos não controlados em ponte com carga RL e com L muito elevado (Fig. 1b). O
facto de existir um L muito elevado contribui para que a corrente na carga id não apresente praticamente tremor (ripple) e assume um valor médio Id
praticamente constante.
(a) (b)
Fig. 1: Rectificador monofásico em ponte não controlado com carga RL: (a) Circuito de potência, (b) Evolução temporal da tensão v e corrente de entrada i em
regime permanente.
3
A série de Fourier da onda rectangular de corrente i(t) é obtida por (1). Existem apenas harmónicas de ordem ímpar (h=1,3,5,…) e Id é o valor
médio da corrente de saída do rectificador monofásico em ponte não controlado.
4I
it d sin ht it d sin t sin 3t sin 5t sin ht
4I 1 1 1 1
(1)
h1,3,5, h 3 5 h
Com a série de Fourier obtida em (1), o valor eficaz de cada harmónica h da corrente é calculada com (2).
4I d
I RMS (2)
2h
A taxa de distorção harmónica da corrente de entrada é calculada por (3) com o valor eficaz de cada harmónica (2).
2
4 Id 1 1 1
1
2
Ih2
2 2 2
2 3 5 h
I h2 THDi2 I h2 THDi2 h 2 2 THDi2
1
THDi I1 2
I1 h 2 I1 h 2 4 Id
(3)
2
1 1 1 2
THDi2 2 THDi2 1 THDi2 0,234 THDi 0,483 THDi 48,3%
9 25 h 8
1 2
Nota: lim 2 lim 2 2 2
1 1 1
1
h
h 3, 5 , h
h 3 5 h 8
O factor de potência é calculado por (4). O ângulo de desfasagem entre a componente fundamental (h=1) da tensão e corrente é 1.
cos 1 cos 1
FP FP FP 0,9 cos 1 (4)
1 THDi2 1 0,234
4
Exemplo 2: “Calcular a THD e o FP para três casos” (adaptado de: Fernando A. Silva, “Qualidade da Energia Eléctrica”)
Nas figuras seguintes apresentam-se três casos de estudo. Nos três casos considera-se que a tensão não apresenta distorção (apenas a componente
fundamental). No primeiro e segundo caso a corrente não apresenta distorção, estando apenas em fase ou desfasada de 30º. No terceiro caso a
corrente tem a mesma evolução temporal do tipo rectangular como foi analisado no Exemplo 1.
1 0º
1 0 1 30º
cos1 1
cos 1 1 cos 1 0,86
THDi 0,48
THDi 0 THDi 0
cos 1
FP cos 1 FP 1 FP cos 1 FP 0,86 FP FP 0,90
1 THDi2
Exemplo 3: “Utilização da série de Fourier da tensão para calcular correntes, taxas de distorção harmónicas e balanço de potências numa carga
RL” (adaptado de: Fernando A. Silva, “Qualidade da Energia Eléctrica”)
Na Fig. 2 a tensão v(t) é considerada com distorção e é com o teorema da sobreposição linear constituída por duas fontes em série, v1(t) e v2(t), com
frequências diferentes associadas à componente fundamental (h=1) e a quinta harmónica (h=5). A carga é do tipo RL com componente resistiva
igual a R=3 e a bobina com L=18mH.
5
v(t)
(a) (b)
Fig. 2: Fonte de tensão com distorção e carga RL: (a) Circuito original, (b) Circuito equivalente com o teorema da sobreposição.
A tensão da fonte com a componente fundamental (h=1) e respectiva quinta harmónica (h=5) é obtida por (5). O valor eficaz da componente
fundamental e quinta harmónica são respectivamente 230V e 50V.
vt 2 230 sint 2 50 sin5t (5)
A componente resistiva é independente da frequência das harmónicas e assume sempre o mesmo valor de 3 (6).
Z R1 Z R5 3 (6)
A reactância da bobina é variável em função da ordem da harmónica, assumindo o valor para a componente fundamente (7) e para a quinta
harmónica (8).
Z L1 jL Z L1 j 2 50 18 103 Z L1 j5,7 (7)
Z L5 j5L Z L5 j 2 5 50 18 103 Z L5 j 28,3 (8)
Os valores calculados em (6), (7) e (8) permitem calcular a impedância associada a componente fundamental e quinta harmónica, respectivamente
(9) e (10).
Z1 Z R21 Z L21 Z1 32 5,72 Z1 6,4 (9)
Z5 Z R25 Z L25 Z5 32 28,32 Z5 28,4 (10)
Os valores calculados em (6), (7) e (8) permitem calcular a desfasagem associada a componente fundamental e quinta harmónica, respectivamente
(11) e (12).
6
Z L1 5,7
1 arctan 1 arctan 1 62º 1 1,08rad (11)
Z R1 3
Z 28,3
5 arctan L5 5 arctan 5 84º 5 1,47rad (12)
Z R5 3
Na forma complexa a impedância da carga (amplitude e desfasagem) para as diferentes harmónicas são obtidas por (13) e (14).
Z L1
j arctan
j1
Z1 Z1 e Z1 Z Z Z1 6,4 e j1,08
2 2 Z R1
R1 L1 e (13)
Z
j arctan L 5
Z 5 Z 5 e j5 Z 5 Z R 5 Z L5 e Z 5 28,3 e j1, 47
2 2 Z R1
(14)
Com (5), (13) e (14) na forma complexa a corrente na carga (amplitude e desfasagem) para as diferentes harmónicas é obtida por (15).
V1 V 5 2 230e j 0 2 50e j 0
I I I 2 35,9e j1,08 2 1,8 e j1, 47 (15)
Z1 Z 5 6,4 e j1,08 28,3 e j1, 47
A equação (15) pode ser escrita no domínio do tempo (16) associando às diferentes ordens das harmónicas presentes.
I 2 35,9e j1,08 2 1,8 e j1, 47 it 2 35,9 sint 1,08 2 1,8 sin5t 1,47 (16)
Com (15) ou (16) o cálculo da THDi da corrente na carga RL é calculado por (18).
1 2 1
THDi
I1 h2
I h THDi
35,9
1,82 THDi 4,9% (18)
O valor eficaz da tensão na fonte pode ser calculado com dois processos, respectivamente (19) e (20).
7
VRMS V
h 1
2
hRMS VRMS 2302 502 VRMS 235V (19)
O valor eficaz da corrente na carga RL pode ser calculado com dois processos, respectivamente (21) e (22).
I RMS I
h 1
2
hRMS I RMS I12RMS I 52RMS I RMS 35,92 1,82 I RMS 36A (21)
Cálculo de S, P, Q, D e FP:
8
P 3882
FP FP FP 0,459 (27)
S 8467
É importante referir que o factor de potência calculado em (27) é diferente e não está associado ao desfasamento, 1=62º=1,08rad (11), da
componente fundamental da tensão e corrente (28).
FP cos 1 FP cos1,08 0,459 0,471 (28)
O código seguinte em Matlab permite obter as evoluções temporais da Fig. 3 com as equações da tensão da fonte (5) e corrente na carga (16). A
potência instantânea é o produto da tensão pela corrente (p=vi). Associada a esta potência instantânea está a potência activa (24) e reactiva (25).
clc; clear all;
V1RMS=230; V5RMS=50; %valores eficazes da tensao
I1RMS=35.9; I5RMS=1.8; %valores eficazes da corrente
fi1=1.08; fi5=1.47; %fase inicial
f=50; T=1/f; w=2*pi*f; %frequencia da componente fundamental
t=0:0.000001:2*T; %dois periodos da rede
v=sqrt(2)*V1RMS*sin(w*t)+sqrt(2)*V5RMS*sin(5*w*t); %tensão
i=sqrt(2)*I1RMS*sin(w*t-fi1)+sqrt(2)*I5RMS*sin(5*w*t-fi5); %corrente
p=v.*i; %Potencia Instantanea
%P=V1RMS*I1RMS*cos(fi1) + V5RMS*I5RMS*cos(fi5);
%Q=V1RMS*I1RMS*sin(fi1) + V5RMS*I5RMS*sin(fi5);
plot(t,v,'g',t,i,'r',t,p/20,'k','LineWidth',2); grid on; xlabel('t[s]');
legend('v(t) [V]','i(t) [A]','p(t)/20 [W]');
%print -dbitmap
9
Fig. 3: Evoluções temporais: tensão (cor verde), corrente (cor vermelha), potência instantânea com factor 20 (cor preto), potência activa com factor 20
(tracejado) e potência reactiva com factor 20 (tracejado).
A definição matemática da série de Fourier pode ser aplicada na análise de circuitos lineares que possuem geradores de tensão e/ou corrente com
formas de ondas periódicas não sinusoidais e caracterizadas pelos seguintes pontos:
a) A fonte de tensão da rede com forma de onda não sinusoidal (com distorção), pode ser substituída por uma soma de tensões sinusoidais com uma
componente contínua com amplitude correspondente ao valor médio e amplitudes e frequências das respectivas harmónicas da série de Fourier,
com a forma de onda representada na (Figura 4).
b) Se o circuito da carga for linear pode ser aplicado o princípio da sobreposição, ou seja, a resposta do circuito é a soma das respostas de cada
termo (a cada gerador) da série de Fourier;
c) Em regime permanente podem ser usados fasores (notação complexa) para se obter as respostas de cada termo (da rede) da série de Fourier.
10
Fonte Original Fontes Equivalentes Sobreposição
vt V0 2Vh sinht
io(t)
i(t)
h1
vt V0 2Vh sinht V0
h1 V0
i(t)
i1(t)
v1(t)
v1(t)
v(t)
it I 0 2I h sinht ih(t)
h 1
vh(t) vh(t)
it I 0 2I h sinht
h 1
Fig. 4: Aplicação do princípio da sobreposição para uma fonte de tensão com distorção e uma carga linear.
11
Exemplo 5: Um gerador de onda rectangular, de amplitude A e frequência f (=2f rad/s) é ligado a uma carga RL (Figura 5). Obter a série de
Fourier da corrente no circuito em regime permanente.
vR(t)
v(t)
vL(t)
A série de Fourier da onda rectangular de tensão da fonte é dada por (29). Existem apenas harmónicas de ordem ímpar e A é a sua amplitude.
4 A sin ht
vt (29)
h1,3,5, h
A solução será dada pela série de Fourier da corrente, onde cada harmónica de corrente pode ser calculada a partir de cada harmónica de tensão,
dividindo o fasor tensão pela impedância calculada na frequência da respectiva harmónica. O fasor da corrente de cada harmónica é dado por (30).
4A
Vh h 0º
I h h I h h h (30)
Z h h hL
R hL arctan
2
2
R
12
4 A j 0º
j h e
Ih
Vh Ve
I h h jh I h h (31)
hL
Zh Z he j arctan º
R hL e R
2 2
As equações (30) e (31) podem ser passadas para o domínio do tempo (32).
4A hL
it
1
sin ht arctan
h1,3,5, R 2 hL 2 R
(32)
Exemplo 6: Um rectificador não controlado de meia onda é ligado a uma carga RL (R=2000 e L=10H). A evolução temporal da tensão de saída do
rectificador está representada na Fig. 6. Obter a série de Fourier da tensão na resistência.
(a) (b)
Fig. 6: Rectificador monofásico de meia onda não controlado com carga RL: (a) Circuito de potência, (b) Evolução temporal da tensão na carga em regime
permanente.
A série de Fourier da onda de tensão aplicada ao circuito RL série é dada por (33).
300
vt 1 cost cos2t cos4t cos6t
2 2 2
(33)
2 3 15 35
13
v=300/pi*(1+pi/2*cos(w*t)+2/3*cos(2*w*t)-2/15*cos(4*w*t)+2/35*cos(6*w*t)); %tensão
plot(t,v); grid on; xlabel('t[s]'); legend('v(t)'); %print -dbitmap
A impedância total do circuito série e desfasagem em função de cada harmónica calculada por (34) e (35). Os resultados obtidos estão na Tabela 1.
Z h R j hL Z h R 2 hL
2
(34)
hL
h arctan (35)
R
Tabela 1: Impedância total do circuito e desfasagem em função de cada harmónica de tensão da fonte.
h h× [rads1] R [] h××L [] Z [] [graus]
0 0 10 0 10 0
1 314 10 31,42 32,96 72,34
2 628 10 62,83 63,62 80,95
4 1256 10 125,66 126,06 85,45
6 1885 10 188,50 188,76 86,96
Como exemplo, calcular os primeiros termos da corrente em função da ordem de cada harmónica (36), (37) e (38).
14
300 1 j0 300 1 j 0 º 300
h 0 I0
e I0 e i0 (36)
Z0 10 10
300 1 j1 300
cost 72,34º
1 300 1
h 1 I1 e I1 e j 72,34º i1 (37)
2 Z1 2 32,42 2 32,42
cost 80,95º
300 2 1 j2 300 2 1 200
h 2 I2 e I2 e j 80,95º i2 (38)
3 Z2 3 63,62
300 2 1 j4 300 2 300 2
cost 85,45º
1 1
h 4 I4 e I 4 e j 85, 45º i4 (39)
15 Z 4 15 126,06 15 126,06
cost 86,96º
300 2 1 j6 300 2 1 300 2 1
h 6 I6 e I6 e j 86,96º i6 (40)
35 Z 6 35 188,76 35 188,76
Amplitude_i0 = 9.5493
Amplitude_i1 = 4.6268
Amplitude_i2 = 1.0007
Amplitude_i4 = -0.1010
Amplitude_i6 = 0.0289
Fazendo o produto da corrente i(t) (41) pela resistência de 10 é obtida a tensão aos seus terminais (42) no domínio do tempo.
vR t Ri t vR t 95,4 46,2 cost 72,34º 10,0 cos2t 80,95º 1,0 cos4t 85,45º 0,30 cos6t 86,96º (42)
O código seguinte em Matlab permite obter as evoluções temporais da Fig. 7 com as equações da tensão da fonte (33), corrente na carga (41) e a
tensão vR na resistência (42).
clc; clear all;
15
R=10;
fv1=72.34*pi/180; fv2=80.95*pi/180; fv4=85.45*pi/180; fv6=86.96*pi/180; %fase inicial
f=50; T=1/f; w=2*pi*f; %frequencia da componente fundamental
t=0:0.000001:2*T; %dois periodos da rede
v=300/pi*(1+pi/2*cos(w*t)+2/3*cos(2*w*t)-2/15*cos(4*w*t)+2/35*cos(6*w*t)); %tensão
i0=9.54;
i1=4.62*cos(w*t-fv1);
i2=1.00*cos(2*w*t-fv2);
i4=-0.1*cos(4*w*t-fv4);
i6=0.03*cos(6*w*t-fv6);
i=i0+i1+i2+i4+i6;
vR=R*i;
plot(t,v/20,'g',t,vR/20,'b',t,i,'r','LineWidth',2); grid on; xlabel('t[s]');
%plot(t,v/10,'g',t,i,'r','LineWidth',2); grid on; xlabel('t[s]');
legend('v(t)/20 [V]','vR(t)/20 [V]','i(t) [A]');
%print -dbitmap
Fig. 7: Evoluções temporais: tensão com factor 20 (cor verde), tensão vR com factor 20 (cor azul), corrente (cor vermelha).
16
3 Bibliografia
[1] Dugan R.C, M.F, McGranaghan, H.W., Beaty, Electrical Power System Quality, MacGraw Hill, 2002.
[3] Fernando A. Silva, Qualidade da Energia Eléctrica. UC de Qualidade de Energia Eléctrica, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, 2011.
[4] Palma, J., Fundamentos de Electrónica de Potência, Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, 2003.
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1
2
3
4
5
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7
8
9
10
11
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