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BIMESTRAL • N°14 • SÉRIE II • DEZEMBRO 07
ESPECIAL
Sistema Digestivo
de A a Z
14
Ana Nogueira, Lígia Reis, Zaida Moreira
cedime@anf.pt
Boca Pág. 1 a 7
Higiene Oral
O sistema digestivo é particularmente propício a afecções, e por isso
Cárie dentária
alvo de frequentes queixas e procura de aconselhamento pelos uten-
Doença Periodontal
tes das Farmácias. A intervenção da equipa é por isso determinante Gengivite e Periondontite
neste âmbito. Esta edição especial da publicação Farmácia Prática,
Estados inflamatórios da orofarinfe
dedicada exclusivamente ao Sistema Digestivo de A a Z confere o
Odontalgias
melhor suporte e sistematização da informação a disponibilizar no
Estomatites
aconselhamento nestas situações.
Candidíase oral ou sapinhos
Xerostomia ou boca seca
Halitose ou mau hálito
Boca
Estômago Pág. 8 a 11
Dispepsia
Azia e pirose
Flatulência
Cólicas dos bebés
Esófago
Náuseas, vómitos e enjoo
do movimento
Estômago Gastropatias
Gastrenterite, úlcera e refluxo gastresofágico
Fígado
Vesícula
Intestino Pág. 12 a 16
Diarreia
Diarreia na criança
Intestino delgado
Obstipação
Intestino Grosso
Hemorroidas
Parasitoses intestinais
Recto
> Boca
Boca
A boca está exposta a inúmeros factores que podem causar doença. Por Uma maior exigência no caso de aparelhos de ortodôncia,
isso, qualquer queixa deve ser prontamente atendida para que não atinja próteses ou dentaduras
os dentes ou evolua para infecção ou abcesso.
O uso de aparelhos de ortodôncia requer cuidados de higiene rígidos, pela
Higiene oral ‒ boca saudável elevada propensão à formação de cáries.
Conhecer os dentífricos
• Utilizar diariamente fio ou fita dentária para remover os restos Responsáveis pela produção de
espuma, emulsionam os restos
alimentares e bactérias dos espaços entre os dentes e as gengivas. Tensioactivos dos alimentos e facilitam a sua
Fazê-lo antes da escovagem, para que a acção protectora do den- remoção
tífrico seja mais prolongada
• Nas crianças, a higiene oral deve ser sempre supervisionada pelos Evitam a separação das fases
Ligantes e espessantes e espessam a formulação
pais, com especial atenção à quantidade de dentífrico colocado na
escova e à possibilidade de ingestão
2 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
• Cárie dentária
• Doença periodontal: gengivite e periodontite
• Estados inflamatórios da orofaringe
• Odontalgias
• Estomatites
• Candidíase oral ou sapinhos
• Xerostomia ou boca seca
• Halitose ou mau hálito
• 1500 ppm F- - pasta dentífrica • Praticar uma alimentação equilibrada que forneça todos as vitami-
branqueadora
nas e minerais necessários à saúde dos dentes e gengivas (cálcio,
fósforo, flúor, vitaminas A, B e C)
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 3
> Boca
Quando o utente se queixa de edema nas gengi- Não ultrapassar 7 dias de tratamento
vas, sangra facilmente, apresenta dor ao tocar e Anti-
Gramicidina / Antibiótico de natureza polipeptidica activo in vitro em
alteração de cor de rosa para vermelho, tal pode infecciosa Tirotricina bactérias Gram+
representar uma gengivite. tópica
Solução para pulverização bucal a 0,5 mg/mL, indicada
Quando não tratada a gengivite evolui para pe- na odinofagia e faringite. Aplicar 3-4 pulverizações 4-6
riondontite, uma infecção que destrói os tecidos x/dia
Iodeto de tibezónio
peridentários e estruturas de suporte do dente, Pastilhas a 5 mg, para dissolver lentamente na boca 4-6
podendo levar à sua perda. x/dia, indicado em adultos e crianças com mais de 6
anos
4 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
• Irritação persistente da garganta por mais de 1 semana, não relacionada Solução para pulverização
com constipação, ou de causa desconhecida gengival
• Rouquidão por mais de 3 semanas Aplicar directamente no local da
Aplicação tópica Benzocaína dor, até 4x/dia, no máximo 48 h
• Perda total ou alteração grave e persistente da voz
• Quando acompanhada por dor nos ouvidos e choro persistente nas
Cada pulverização equivale a 3
crianças mg de benzocaína
• Em crianças com idade inferior a 2 anos
• Na gravidez Analgésicos e Ácido acetilsalicílico, acetilsalicilato de lisina,
Para o melhor aconselhamento é importante compreender a acção dos Anti-inflamatórios paracetamol, ibuprofeno
medicamentos e produtos de saúde disponíveis para o alívio e tratamento
dos estados inflamatórios da orofaringe. (Quadro 1)
Quando um dente dói, é sinal de que algo não está bem. Pode ser um • Aplicar gelo, durante 10 segundos, a cada 10 minutos (só se o
problema de fácil solução, mas pode ser também algo que inspira maiores rosto não estiver inchado; caso esteja, lavar com anti-sépticos
cuidados. diluídos em água morna)
As causas mais frequentes de dor de dentes são: erupção, cárie, periodontite, • Ingerir alimentos líquidos (frescos e gelados) durante as primei-
pulpite, abcesso, obturação ou fractura. ras 24 horas
Na criança há analgésicos e anti-inflamatórios indicados no alívio da dor • Dormir com a cabeceira elevada
relacionada com a erupção dentária:
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 5
> Boca
Estomatites
Irritativa
Causada pela acção do fumo do tabaco
Estomatite
Inflamação da mucosa da boca,
com eritema, formação de vesículas, Traumática
erosão e úlceras. Causada por próteses mal adaptadas
Medicamentos
Resulta da administração sistémica de medicamentos
Entre as estomatites mais frequentes estão as aftas ou úlceras aftosas, que usam próteses dentárias, devido ao desenvolvimento do fungo sob a
pequenas lesões dolorosas na mucosa oral, múltiplas ou isoladas. Nas aftas placa por não remoção da prótese à noite, falta de higiene ou incorrecto
há uma exposição do tecido conjuntivo, rico em vasos e nervos, o que faz ajustamento à gengiva, nas pessoas que fazem terapêutica inalatória, após
com que sinta ardor frequente e dor, que se acentuam quando a língua terapêutica antibiótica ou utilização excessiva de anti-sépticos orais que
roça a ferida ou se ingerem alimentos quentes ou picantes. ao actuar na mucosa oral eliminam as bactérias saprófitas, mas não têm
Estão identificados alguns factores desencadeantes das aftas: insuficiên- acção sobre a Candida.
cias vitamínicas, distúrbios gastrintestinais, os ácidos presentes em alguns É recomendado o miconazol (Daktarin®) até durante pelo menos uma
alimentos e pequenos traumas da mucosa bucal. Pode também estar semana após o desaparecimento dos sintomas. As doses usuais são:
associado ao stresse, ou ter carácter hormonal, relacionado com o ciclo
menstrual.
Duram entre 4 a 10 dias, mas em casos graves pode aparecer febre, infla- Miconazol Gel oral 20 mg/g
mação dos gânglios do pescoço e uma sensação geral de mal-estar. Muitas
pessoas sofrem de estomatite aftosa recorrente. Crianças < 2 anos 2,5 mL, 2 vezes/dia
6 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
A saliva é assim muito importante, por isso numa situação de xerostomia minutos, de forma a evitar problemas no estômago. Estimula a produção
pode sentir: de saliva e ajuda a prevenir a cárie dentária.
• Dificuldade em mastigar e engolir os alimentos, levando frequentemente
a problemas de digestão A terapêutica farmacológica passa pelo recurso a estimulantes da produção
• Elevada sensação de desconforto na boca e garganta de saliva, dos quais a pilocarpina - Salagen® (amina simpaticomimética
• Diminuição do paladar com os efeitos da acetilcolina) tem indicação específica na xerostomia
• Diminuição do pH da saliva e, em consequência, um aumento do risco pós-irradiação em cancros da cabeça e do pescoço, e na secura da boca
de cárie dentária e olhos na síndroma de Sjögren. Os substitutos de saliva ou saliva artificial
• Alterações na flora oral são também úteis no alívio do desconforto oral.
• Mau hálito
Halitose ou mau hálito
A xerostomia pode surgir como efeito adverso provocado por vários medica-
mentos (antidepressivos, ansiolíticos, antiepiléticos, antieméticos, opiáceos, Situação frequente que se deve à formação de compostos químicos aromáti-
diuréticos, anti-histamínicos e anti-colinérgicos) e também na sequência de cos na boca, ou provenientes do tracto gastrintestinal e respiratório. Durante
quimioterapia ou radioterapia, sobretudo na região da cabeça e pescoço. o sono a formação de saliva é mínima pelo que os resíduos de alimentos
Pode também estar associada a doenças como diabetes, artrite reumatóide, tendem a ficar estagnados na boca e dentes, ocorrendo degradação pelas
parkinson, infecções das glândulas salivares e Síndrome de Sjögren. bactérias e formação destes compostos.
A secura da boca é mais frequente nos idosos, pois as glândulas salivares
vão produzindo menos saliva à medida que a idade avança. Entre as causas mais habituais encontra-se:
Entre os factores que podem desencadear ou agravar esta situação está o • O tabaco
consumo de tabaco, bebidas alcoólicas e café. • Uma dieta rica em proteínas, que são posteriormente degradadas em
compostos cetónicos, comidas muito aromatizadas, alguns alimentos
Como tratar? (alho, cebola) e álcool
Medidas não farmacológicas a recomendar: • A existência de afecções da mucosa: periodontite, estomatite e gengivite
• Beber muita água para manter a hidratação ao longo do dia, e durante • A presença de placa bacteriana
as refeições para facilitar a mastigação • As próteses dentárias fixas
• Ter um copo de água junto à cama, para poder beber sempre que acordar • Patologias naso faríngeas e respiratórias como sinusite, congestão nasal
e sentir a boca seca e amigdalites, que fazem respirar pela boca
• Evitar o álcool, a cafeína e o tabaco • Patologias gastrintestinais como o refluxo gastresofágico, infecção por
• Preferir alimentos moles, húmidos (pratos com molhos, sopa) e pouco H. pylori
condimentados • Medicamentos como os sais de lítio, a penicilamina, ou a griseofulvina
• Hidratar os lábios com produtos à base de vaselina
• Escovar os dentes de manhã, à noite, e após as refeições, com uma pasta O tratamento da halitose assenta essencialmente numa correcta higiene
dentífrica com flúor oral com escovagem frequente dos dentes e língua, utilização do fio den-
• Mastigar pastilhas elásticas sem açúcar, desde que não mais de 15 a 20 tário, e soluções de lavagem ou elixires contendo xilitol.
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 7
> Estômago
Estômago
Principais afecções do estômago:
• Dispepsia
• Azia e pirose
• Flatulência
• Cólicas dos bebés
• Náuseas, vómitos e enjoo do movimento Azia e Pirose
• Gastropatias: gastrenterite, úlcera e refluxo gastresofágico
Os termos azia e pirose referem-se à sensação de queimadura ou ardor no
estômago e à sensação de azedo na garganta ou na boca.
Quando se manifesta durante a noite (azia nocturna) perturba signifi-
Dispepsia cativamente o sono, afecta o desempenho no dia seguinte e, se muito
intensa e frequente, provoca muitas vezes a inflamação do revestimento
As queixas dispépticas traduzem-se num conjunto sintomas desconfor- do esófago.
táveis: dor de estômago e/ou desconforto associado a enfartamento,
saciedade, náuseas, vómitos, distensão abdominal, eructações, intolerância A regurgitação do conteúdo do estômago para o esófago, associada a esta
a alimentos gordos e outros. sensação de queimadura pode estar associada à doença do refluxo gas-
Estas queixas são, por vezes, designadas por indigestão e frequentemente tresofágico (DRGE). Nesta situação, pode também ocorrer dor epigástrica,
desencadeadas por alimentos. enfartamento, náuseas, vómitos, sialorreia (secreção salivar exagerada) e
As causas são muito variáveis e podem estar associadas a: dispepsia fun- eructação.
cional (sem úlcera), a úlcera e erosões do duodeno e/ou estômago, tumor O incómodo induzido pela azia pode, no entanto, ser apenas ligeiro, e
de estômago, intestino delgado e/ou cólon, síndroma do intestino irritável, resolver-se pela modificação de comportamentos.
litíase da vesícula, pancreatite, isquemia do miocárdio, entre outros.
Quando perante este tipo de queixas, é importante conhecer a medicação
que o utente habitualmente toma, os seus estilos de vida e, caso os sintomas
persistam ou sejam frequentes, verificar aspectos como a possibilidade de
infecção por H. pylori. A crise de azia, nomeadamente a azia nocturna, pode ser diminuída
Há ainda medicamentos que podem causar ou agravar situações de dispep- de frequência e intensidade, com algumas medidas:
sia: digoxina, anti-inflamatórios, ferro, alguns antibióticos, antagonistas dos
canais de cálcio, nitratos, teofilina, bifosfonatos, entre outros. • Refeições leves, pobres em gordura e isentas de bebidas gasosas
• Evitar comer nas 3 ou 4 horas antes de deitar
• Elevar ligeiramente a cabeceira da cama
Como tratar? • Perder peso
Dependendo da gravidade, frequência dos sintomas e resultados dos • Evitar bebidas com álcool e café
exames médicos pode ser aconselhada uma ou mais das seguintes • Não fumar
abordagens:
• Tomar antiácidos, quando necessário
• Alterar a forma como toma a medicação habitual (antes ou depois
das refeições, com ou sem alimentos)
• Realizar exames para o despiste de infecção causada pelo H. pylori Flatulência
e, se necessário, tratar a sua erradicação
• Evitar refeições volumosas, ingerir sem pressa e retirar da alimen- A flatulência caracteriza-se por um excesso de gás no estômago e/ou in-
tação todos os alimentos identificados capazes de desencadear a testino que causa a sensação de dor abdominal e distensão do estômago
dispepsia devido à reacção de fermentação realizada pelas bactérias sobre os hidratos
de carbono e as proteínas.
8 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
Como prevenir e tratar? A dimeticona não está indicada para as cólicas, mas sim na flatulência.
Prevenir passa fundamentalmente por evitar alimentos relacionados A dose indicada para bebés com menos de 2 anos, é de 20 mg (0,2 ml de
com o aparecimento de flatulência, como feijões, ervilhas, grão e uma emulsão de 100 mg/ml) 4 vezes por dia.
castanhas.
Aliviar é possível através de medicamentos com simeticona Náuseas, vómitos e enjoo do movimento
(dimeticona activado) isolado ou em combinação com enzimas
digestivas. As náuseas e vómitos são manifestações comuns, associadas aos mais diver-
A dimeticona é um tensioactivo absorvente. Altera a elasticidade do sos factores: gravidez, afecções gástricas, distúrbios nervosos, endócrinos,
interface com a bolha de gás no tracto gastrintestinal, e transforma toxicidade, entre outros.
as bolhas de gás em partículas de pequenas dimensões, que podem
assim ser expelidas com maior facilidade pelo organismo. O vómito, normalmente precedido ou acompanhado por náuseas, quando
Os substitutos das enzimas digestivas, tal como o nome indica, recorrente, pode ter consequências mais ou menos graves, da desidratação,
facilitam a digestão dos alimentos e previnem a flatulência. ao desequilíbrio electrolítico, passando por inflamação do esófago e do estô-
mago, trata-se por isso de uma situação que importa prevenir e minorar.
Os antieméticos
Cólicas dos bebés
Em situações de náuseas e vómitos persistentes, para além de um aporte
A flatulência é uma possível causa das cólicas dos bebés. Estas, ocorrem adequado de líquidos e de uma dieta e confecção alimentar cuidadosas, o
normalmente a partir da 2a semana, intensificam-se entre a 4a e a 6a sema- recurso a antieméticos é frequente. Contudo, a utilização destes medica-
na e desaparecem por volta dos 4 meses. Surgem em crianças saudáveis mentos deve ser efectuada com alguma precaução, pois podem mascarar
e bem nutridas, por períodos de 3 horas, em mais de 3 dias por semana e sintomas associados a outras patologias que importa identificar, como é o
prolongam-se por, pelo menos, 3 semanas. Estão sobretudo relacionadas exemplo da ototoxicidade induzida por certos antibióticos.
com factores gastrintestinais (intolerância à lactose, alergia ao leite de vaca,
dieta da mãe) e comportamentais resultantes da relação entre os pais e o Isto para além de terem de ser administrados com precaução a pessoas
bebé (falta de treino e insegurança). com patologias como o glaucoma, a hipertrofia da próstata, com retenção
urinária, entre outras, devido à sua acção anticolinérgica.
Prevenir e aliviar as cólicas do bebé: No grupo dos antieméticos, incluem-se os antivertiginosos, uma vez que a
vertigem pode fazer acompanhar-se de náuseas e vómitos, beneficiando
• Enquanto o bebé está a comer deve ser mantido numa posição com o recurso a acções farmacológicas, como o bloqueio dos receptores do-
mais vertical paminérgicos, tanto para a acção antiemética, como para a antivertiginosa.
• Após a refeição, colocar o bebé em posição vertical de encontro
ao ombro (para facilitar a eructação) Enjoo do movimento - náuseas e vómitos em viagem
• A tetina do biberão deve ter um orifício suficientemente largo para
que seja deglutida a menor quantidade de ar As náuseas e vómitos associados a deslocações e viagens são situações
• Acalmar o bebé colocando-o sobre o abdómen, ajuda a libertar frequentes. Nestes casos ajuda se as refeições tomadas algumas horas antes
o gás acumulado, massajando as costas ou mesmo ouvindo uma da viagem forem leves e pobres em gorduras e líquidos.
música calma
• As mães a amamentar devem reduzir a ingestão de bebidas Como prevenir e aliviar?
contendo cafeína, bebidas gaseificadas e evitar certos alimentos Durante a viagem, caso surjam náuseas ou vómitos, aconselham-se medidas
que podem causar alergias alimentares na criança (frutos secos, práticas como: fixar com o olhar um ponto longínquo, respirar ar fresco,
citrinos) tentar dormir, optar por ser o condutor, evitar cheiros intensos, não ler
• Registar as horas a que o bebé começa e pára de chorar, os estímu- nem ver filmes durante a deslocação, optar por lugares ou assentos onde
los que possam desencadear o choro ou que o tenham acalmado, o movimento é menos percepcionado, e no caso do transporte de crianças,
ajuda a conhecer melhor e a gerir a situação mantê-las sentadas a uma altura que permita ver através das janelas.
Tanto o dimenidrinato (ex: Enjomin ® comprimidos e supositórios, Viabom ®
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 9
> Estômago
10 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
O alívio sintomático da doença de refluxo gastre- mais rapidamente no suco gástrico, com início semana, do que para os episódios esporádicos
sofágico pode ser conseguido através de altera- de acção mais rápido. que ocorrem após a ingestão de uma refeição
ções induzidas pela terapêutica farmacológica: descuidada. A sua efectividade é aumentada se
• Elevar a pressão basal do esfíncter esofágico Os alginatos ou ácido algínico, não têm indica- a toma ocorrer cerca de 30 a 60 minutos antes
inferior ção como antiácido dado a sua fraca potência. da refeição.
• Diminuir a secreção ácida São substâncias inertes que ocasionam alívio O sucralfato promove a gastro protecção, útil
• Acelerar o esvaziamento gástrico sintomático da esofagite de refluxo por forma- aquando da toma de outros fármacos agressivos
• Melhorar a função motora esofágica rem um gel viscoso capaz de reduzir o contacto para a mucosa (anti-inflamatórios não esterói-
• Aumentar a salivação do ácido gástrico com a mucosa. Devem ser des), não inibe a secreção da acidez nem tem
tomados nas posições de pé ou sentado. efeito neutralizador do ácido segregado. É um
A úlcera péptica cicatriza-se ao impedir o seu complexo de sacarose e de hidróxido de alumínio
contacto com o ácido e a pepsina. Actualmente Cuidados Particulares no que liberta este ião no estômago, formando um
este efeito consegue-se através de: Aconselhamento de Antiácidos gel viscoso de carga negativa capaz de revestir
• Controlo da secreção ácida a mucosa e prevenir a sua agressão.
• Aumento da defesa da mucosa gástrica pre- A administração de antiácidos com outros A supressão da acidez gástrica resulta da acção
venindo a sua agressão. medicamentos deve ser alvo de um aconse- dos antiácidos isolados ou combinados, com
lhamento particular, de forma a evitar qualquer antagonistas dos receptores H2 e inibidores da
A Acção dos Antiácidos possível interacção. A toma do antiácido deve bomba de protões.
ocorrer 2h antes ou 1h após a toma de outros
Os antiácidos aumentam o pH gástrico, redu- medicamentos.
zindo o estímulo para produção de pepsina e A duração da toma para alívio dos sintomas de
aumentando a pressão sobre o esfíncter esofá- indigestão não deve ser superior a 2 semanas.
gico, minorando a saída do conteúdo gástrico
para o esófago. Outros supressores
O início de acção dos antiácidos é relativamente da acidez gástrica
rápido, sendo particularmente adequados para
episódios isolados de dispepsia. Estão contra- Os antagonistas dos receptores H2 (famotidina)
As características dos principais
indicados em menores de 12 anos. são supressores da secreção gástrica, e podem
Para além das características individuais de cada
antiácidos, assim como as
ser tomados uma vez por dia preferencialmente
antiácido, a duração do efeito depende também (se tomados à noite causam alívio durante cerca
recomendações que asseguram
do estado de enchimento do estômago. Quando de 12 horas). Tal como os antiácidos, são caracte- o seu melhor aconselhamento
o antiácido é tomado com o estômago vazio, é rizados por terem um início de acção rápido. e mais correcta utilização,
rapidamente eliminado para o intestino reduzin- Os inibidores da bomba de protões, supressores encontram-se sistematizadas
do a duração do seu efeito. da secreção gástrica (lanzoprazol, omeprazol), em tabela disponível no www.
tendem a ser os mais potentes supressores da anfonline.pt, ou mediante
Quando é necessário um alívio rápido dos sinto- acidez, no entanto, o alívio máximo dos sintomas consulta colocada por contacto
mas, deve optar-se pelo antiácido em suspensão pode demorar 2 dias. ao CEDIME (tel 21 3400660).
oral ou gel. O bicarbonato de sódio e hidróxido São mais indicados para tratar sintomas recor-
de magnésio têm a vantagem de se dissolverem rentes, que surgem repetidamente durante a
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 11
> Intestino
Intestino
12 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 13
> Intestino
Como tratar?
A resolução de uma situação de obstipação, passa por abordagens farma-
cológica e não farmacológica. Situações Especiais associadas a Quadros
A maioria das situações de obstipação não está subjacente uma doença de Obstipação
orgânica grave, podendo melhorar com correcção da dieta, alimentação
regular e rica em fibras (frutos, vegetais, cereais), ingestão adequada de
líquidos, exercício físico regular e aquisição de hábitos de evacuação. Idosos
Se a obstipação resultar do abuso de laxantes, o utente deve ser incentivado Os principais problemas deste grupo etário são os erros alimen-
a iniciar o seu abandono progressivo. tares, a falta de exercício físico e a poli medicação. Em doentes
idosos com obstipação crónica os expansores do volume fecal
O recurso a laxantes, pode no entanto colocar-se. são considerados os laxantes de 1a linha.
Gravidez
As características dos principais grupos de laxantes, As principais causas de obstipação são as alterações hormonais
assim como o conjunto de recomendações especiais e alimentares, diminuição da actividade física e administração de
ferro. A mulher deve ser aconselhada a fazer uma dieta rica em
que asseguram o seu correcto aconselhamento e
fibras, a beber muitos líquidos e a fazer exercício físico.
utilização, encontram-se sistematizadas em tabela
O uso de laxantes se necessário deve ser utilizado por curtos
disponível no www.anfonline.pt, ou mediante consulta
períodos de tempo. Os laxantes que aumentam o volume fecal
colocada por contacto ao CEDIME (tel 21 3400660). são considerados mais seguros do que os estimulantes.
Pediatria
Antes de aconselhar um laxante, é importante confirmar que a obstipação É recomendada uma dieta rica em fibra e a ingestão de grandes
é real, ou seja, que não está associada a nenhuma doença susceptível de quantidades de líquidos. Se o problema é recente e não há sinais
terapêutica não sintomática. Deve assim ser excluída uma possível causa significativos associados, o uso de glicerina em supositórios ou
iatrogénica e suspender-se, sempre que possível, a toma do medicamento enema pode ser aconselhado, até regularização do problema.
implicado. Caso não resulte deve ser encaminhado para o médico.
Diabéticos
Hemorróidas Os laxantes expansores do volume fecal são seguros para este
grupo de doentes. A lactulose e o sorbitol devem ser evitados,
Fala-se em doença hemorroidária quando existem queixas atribuíveis às he-
pois os seus metabolitos podem alterar os níveis de glicemia.
morróidas - vasos sanguíneos que existem no canal anal.
Quando estas veias são continuamente submetidas a esforço, elas dilatam e Viagens
inflamam, podendo fazer saliência, surgindo formações arredondadas à volta As mulheres em particular desenvolvem obstipação devido a
do ânus. alterações quer dos hábitos alimentares quer nos de defecação.
A antecipação com refeições regulares e consumo elevado
O factor mais frequentemente associado ao alargamento das hemorróidas é a de frutos e vegetais podem ajudar a prevenir a situação. Se
obstipação ( prisão de ventre ); no entanto, a diarreia crónica, tosse frequente, necessário recomendam-se os laxantes osmóticos (lactulose e
gravidez e parto também podem contribuir para o seu aparecimento. polietileno glicol)
A queixa mais frequente é a hemorragia, durante e após a defecação (no papel
higiénico, fezes raiadas de sangue ou pingar na sanita ).
14 ¦ FARMÁCIA PRÁTICA
Farmácia
Prática
A eficácia do tratamento pelo recurso a preparações orais de dobesilato A melhor forma de prevenir as parasitoses é respeitar e cumprir
de cálcio, tribenosido e bioflavonóides, pelo eventual efeito nos capilares Normas de Higiene comuns:
venosos, está insuficientemente documentada.
A aplicação tópica de lubrificantes ou emolientes como sais de bismuto, • Manter os alimentos e os depósitos de água bem cobertos
óxido de zinco, hamamélia, resorcinol, bálsamo do Peru apenas permi- • Beber apenas água potável, ou ferver a água por 10 minutos
tem o alívio dos sintomas. • Lavar bem os alimentos (verduras, frutas e hortaliças)
• Manipular os alimentos sempre com as mãos limpas
A utilização de anestésicos locais (lidocaína, tetracaína) para o alívio • Cozinhar bem as carnes, antes de consumi-las
da dor, e de corticoesteróides como anti-inflamatórios (hidrocortisona, • Não deixar as crianças brincar em águas de enchentes, lagos
fluocinolona), está limitada a curtos períodos. e fontes
A utilização de antibióticos é desaconselhada, dado o risco de desen- • Lavar com frequência roupas interiores e de cama
volvimento de resistências. • Manter os sanitários sempre limpos
• Lavar as mãos antes de comer, antes e depois de ir aos sanitários
Parasitoses Intestinais • Manter as unhas dos pés e das mãos sempre limpas e cortadas
e tomar banho com frequência
A parasitose intestinal pode ser provocada por um ou vários tipos de
parasitas que se instalam no intestino.
Afectam geralmente várias pessoas do mesmo agregado familiar ou
comunidade.
As crianças são o principal grupo de risco, pelas actividades próprias O sistema digestivo é frequentemente alvo de pedidos de aconselhamento
da idade estão mais predispostas ao contágio através das mãos, que na Farmácia. Compreender os males que o caracterizam e saber como
facilmente sujam e colocam na boca. melhor actuar em função dos pedidos dos utentes, é imprescindível para
Os parasitas intestinais provocam sintomas gerais, como falta de apetite, assegurar a melhor prestação profissional em prol da prática que caracteriza
náuseas, vómitos, cansaço, diarreia ou cólicas intestinais. as Farmácias.
FARMÁCIA PRÁTICA ¦ 15
Farmácia
Prática
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disponível em: http://www.infarmed.pt/infomed/inicio.php.
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