Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
D a n i e l M at o *
Resumo
As experiências sociais que estudei exigiram o desenvolvimento de uma perspectiva * Doutor em Ciências
Sociais, é pesquisador
analítica intercultural que amplia os campos de aplicação dos conceitos de intercul- do Consejo Nacional de
turalidade e comunicação intercultural. Neste artigo, apresentamos essa perspectiva, Investigaciones Científicas
y Técnicas (CONICET)
que se caracteriza por não restringir a análise a casos de referência étnica, nacional da Argentina, adjunto
ou linguística, mas inclui outras associadas a culturas profissionais, institucionais, à Universidad Nacional
Tres de Febrero, onde
políticas, além de não limitar a análise ao estudo de relações entre atores, para incluir coordena a linha de pesquisa
também o de relações entre atores institucionais e coletivos. Cultura, Comunicación y
Transformaciones Sociales.
Palavras-chave: heterogeneidade, interculturalidade, comunicação intercultural, Coordenador do Proyecto
Diversidad Cultural e
participação social, universidade
Interculturalidad en
Educación Superior do
Instituto Internacional da
Abstract UNESCO para a Educação
The social experiences that I have studied have demanded me to develop an inter- Superior na América
Latina e Caribe. E-mail:
cultural analytical perspective that enlarges the field of applications of the ideas of dmato@unesco.org.ve
interculturality and intercultural communication. This article discusses that perspec-
tive, which main characteristics are that it does not restrict the analysis to cases
marked by ethnic, national or linguistic referents, but it includes others associated
to professional, institutional, and political cultures, as well as that it does not limit it
to the study of relationships between social agents, but it also includes relationships
within collective and institutional social agents.
Keywords: heterogeneity, interculturality, intercultural communication, social
participation, university
43
Heterogeneidade social e institucional,
interculturalidade e comunicação intercultural
E
mbora haja algumas exceções, o campo de estudos geralmente
chamado de Comunicação Intercultural costuma abranger dois tipos
principais de conceituações e pesquisas, um com foco nas comunicações
interpessoais e o outro nas comunicações mediadas. Em ambos os casos,
a análise geralmente se orienta principalmente ao estudo de experiências
relacionadas às diferenças linguísticas, étnicas e de nacionalidade (Alsina
1999, Baraldi 2006, Grimson 2000, Gudykunst e Mody, eds. 2002, Kim e
Gudykunst, eds. 1988).
É raro encontrar estudos explicitamente enquadrados no campo da comuni-
cação intercultural centrados na análise da comunicação através das diferenças
entre culturas empresariais, geracionais, institucionais, profissionais, ocupa-
cionais, de gênero, de classe etc. Em contraste com esses usos limitados, na
literatura gerada a partir de outros campos de estudo encontramos referências
a experiências que podem ser enquadradas como comunicação intercultural,
mesmo quando esse conceito nem sempre esteja explicitamente denominado
dessa forma. Como acontece, por exemplo, com alguns estudos de campo nas
áreas de gestão, sociologia e antropologia econômica e sociologia e antropolo-
gia do desenvolvimento, antropologia jurídica, estudos de cidadania, relações
internacionais, entre outros.
Os diferentes tipos de experiências sociais que, desde 1990, venho estudando
como parte da minha pesquisa sobre Cultura, Comunicação e Transformações
Sociais exigiram, além de possibilitar, o desenvolvimento de uma determinada
perspectiva analítica que me fez revisar e ampliar o campo de aplicações da
perspectiva analítica geralmente denominada de comunicação intercultural,
bem como o de usos da categoria interculturalidade.
Neste artigo, apresentamos os principais aspectos teóricos e metodológi-
cos dessa perspectiva analítica intercultural que vem sendo desenvolvida em
resposta às necessidades expressas por sucessivas pesquisas específicas. O de-
senvolvimento desta perspectiva se baseia em minhas pesquisas sobre diversos
assuntos - para ser mais específico, esta exposição irá se referir principalmente
aos meus dois projetos de pesquisa mais recentes. Um desses projetos já foi
concluído e, como resultado, foi publicado, em 2011, o livro Interculturalidad
y Comunicación Intercultural. Propuesta teórica y estudio de experiencias de
participación social en la gestión de servicios públicos en una comunidad popular
de la ciudad de Caracas (Mato, Maldonado e Rey 2011). O outro diz respeito
ao projeto que estou trabalhando atualmente: Comunicación y aprendizajes
interculturales de equipos universitarios en experiencias con comunidades y
organizaciones sociales en el marco del Programa de Voluntariado Universitario
de la Secretaría de Políticas Universitarias de Argentina (2006-2009).
44 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
Premissas teóricas
A perspectiva analítica intercultural que vem sendo desenvolvida se baseia nas
três premissas apresentadas abaixo.
A primeira dessas premissas é que nesta linha de pesquisa a palavra cul-
tura não designa uma coisa ou um conjunto de coisas, nem um conjunto de
atributos que pudesse caracterizar objetivamente um determinado conjunto
de sujeitos sociais. Nesta linha de pesquisa, o conceito de cultura serve para
orientar uma perspectiva analítica, ou seja, uma forma de analisar os processos
sociais, caracterizados por uma ênfase particular sobre os aspectos relacionados
à produção, circulação, apropriação e transformação do significado. Não se
trata de algo novo, refere-se à conceituação semiótica do conceito de cultura
(García Canclini 1988, Geertz 1973).
A primeira consequência dessa premissa é que a aplicabilidade analítica
do conceito de cultura não tem por que ser reduzida a determinados tipos de
representações, artefatos e práticas sociais. Por exemplo, nesta linha de pes-
quisa, a aplicação do conceito de cultura não é limitada às artes, sejam elas
populares ou de elite, nem às chamadas indústrias culturais, nem ao que fazem
os ministérios ou secretarias de Cultura. Nesta linha de pesquisa, o conceito de
cultura inclui os aspectos da produção, circulação, apropriação e transformação
do significado que são significantes nas mais diversas práticas sociais, incluindo
as práticas que são geralmente vistas como sendo exclusivamente econômicas,
políticas, jurídicas etc. Em publicações anteriores, são apresentados exemplos
que apoiam a sustentação dessa premissa (Mato, 2005, 2007, 2008b). De qual-
quer forma, e levando em consideração alguns possíveis equívocos, deve-se
notar que isto não é de forma alguma o mesmo que afirmar que tudo é cultura.
Não, absolutamente não estamos afirmando que tudo é cultura. O que estamos
dizendo é que todas as práticas sociais podem ser analisadas a partir de uma
perspectiva cultural, ou seja, com foco na produção, circulação, apropriação e
transformação do significado. Da mesma forma que todas as práticas sociais
podem ser analisadas a partir de uma perspectiva econômica, ou a partir de
uma perspectiva política. Além disso, e com base nas experiências de aplicação,
pode-se dizer que esse tipo de análise produz resultados favoráveis ou signifi-
cantes em muitos casos, como ocorre nesses ou em outros casos com a análise
econômica, análise política, entre outras.
Uma segunda consequência dessa premissa é que nesta linha de pesquisa
o conceito de cultura não está associado exclusivamente a referências étnicas,
nacionais ou linguísticas. Isso porque, como foi possível comprovar em minhas
pesquisas e como é possível observar na extensa literatura, é analiticamente fértil
estudar as experiências sociais utilizando-se, de acordo com o caso, de categorias
46 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
48 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
50 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
52 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
54 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
56 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
Referências
Albó, Xavier. El Retorno del Indio. Revista Andina 9(2), 1991: 299‑366.
Alsina, Miquel Rodrigo. Comunicación intercultural. Barcelona: Anthropos, 1999.
Anderson, Benedict. Imagined Communities. London: Verso, 1983.
Ardao, Arturo . Génesis de la Idea y el Nombre de América Latina. Caracas: Centro
de Estudios Latinoamericanos Rómulo Gallegos, 1980.
Baraldi, Claudio. New Forms of Intercultural Communication in a Globalized World.
The International Communication Gazette 68(1), 2006: 53-69.
Barth, Fredrik . Introduction. En Fredrik Barth (Ed.) Los grupos étnicos y sus fronteras.
La organización social de las diferentes culturas (pp. 9-49). México D.F.: Fondo de
Cultura Económica, 1976.
Benessaieh, Afef. ¿Civilizando la sociedad civil? La cooperación internacional en
Chiapas durante los años noventa. In.: Mato (Ed.), Políticas de ciudadanía y so-
ciedad civil en tiempos de globalización (pp. 33-51). Caracas: Universidad Central
de Venezuela, 2004.
Brysk, Alison . From Tribal Village to Global Village. Stanford: Stanford University
Press, 2000.
Cerqueira, María Teresa y Mato, Daniel. Evaluación participativa de los procesos de
participación social en la promoción y desarrollo de la salud. In.: Jesús Armando
Haro y Benno de Keijzer (Eds.) Participación comunitaria en salud: evaluación de
experiencias y tareas para el futuro (pp. 21-64). Hermosillo (México): El Colegio
de Sonora y Oficina Panamericana de la Salud, 1998.
58 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication
Conklin, Beth y GRAHAM, Laura. The Shifting Middle Ground: Amazonian Indians
and Eco‑Politics. American Anthropologist 97(4), 1995: 695‑710.
Fox, Richard. Nationalist Ideologies and the Production of National Cultures. Washington
DC: American Ethnological Society, 1990.
Fuller, Norma (Ed.). Interculturalidad y política. Desafíos y posibilidades. Lima: Red
para el Desarrollo de las Ciencias Sociales en el Perú, 2005.
García Canclini, Néstor. Culturas Híbridas. México: Grijalbo, 1988.
Geertz, Clifford. The Interpretation of Cultures. New York: Basic Books, 1973.
Grimson, Alejandro. Interculturalidad y comunicación. Bogotá: Editorial Norma, 2000.
Gudykunst, William e MODY, Bella (Eds.). Handbook of International and
Intercultural Communication. Thousand Oaks, CA: Sage Publications, 2002.
Handler, Richard e LINNEKIN, Jocelyn. Tradition, Genuine or Spurious. Journal
of American Folklore 97(385),1984: 273-290.
Hobsbawm, Eric e RANGER, Terence. The Invention of Tradition. Cambridge.
Cambridge University Press, 1983.
Kim, Young Yun e GUDYKUNST, William B. (Eds.) . Theories in Intercultural
Communication. Newbury: Sage Publications, 1988.
Mato, Daniel. Disputas en la Construcción de Identidades y “Literaturas Orales”.
In.: Comunidades Indígenas de Venezuela: conflictos entre narradores y papel de
investigadores y editoriales. Revista de Investigaciones Folklóricas 7, 1992: 40‑47.
_______ . Procesos de Construcción de Identidades en América Latina en Tiempos
de Globalización (pp.: 251-261). In: Daniel Mato. (Ed.) Teoría y Política de la
Construcción de Identidades y Diferencias en América Latina y el Caribe. Caracas:
UNESCO‑Nueva Sociedad, 1994.
_______ . Critica de la Modernidad, Globalización y Construcción de Identidades en
América Latina y el Caribe. Caracas: Universidad Central de Venezuela, 1995.
_______. The Transnational Making of Representations of Gender, Ethnicity, and Culture:
Indigenous Peoples’ Organizations at the Smithsonian Institution’s Festival. Cultural
Studies 12(2), 1998: 193-209.
_______ . Transnational Networking and the Social Production of Representations of
Identities by Indigenous Peoples’ Organizations of Latin America. International
Sociology 15(2), 2000: 343-360.
_______. Social production of representations of ideas of civil society. The role of trans-
national networks of local and global actors. Comparative American Studies 3(4),
2005: 471-495.
_______. Todas las industrias son culturales. Crítica de la idea de “industrias culturales”
y nuevas posibilidades de investigación. Comunicación y Sociedad 8, 2007: 131-153.
_______ . No hay saber “universal”, la colaboración intercultural es imprescindible.
Alteridades 18(35), 2008a: 101-116.
60 matrizes Ano 6 – nº 1 jul./dez. 2012 - São Paulo - Brasil – Daniel Mato p. 43-61
Social and institutional heterogeneity, dossiê
interculturality, and intercultural communication