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REVISÃO DOS CONCEITOS

Decolonialidade

A decolonialidade é um conceito que nasceu nos estudos pós-coloniais e que


busca descolonizar o pensamento ocidental dominante e as estruturas de poder nas
sociedades contemporâneas. Ela parte da premissa de que a colonização deixou
marcas profundas na forma como a história, a cultura, a política e a economia global
são compreendidas e estruturadas, e que, para construir uma sociedade mais justa e
igualitária, é necessário descolonizar o saber, as relações sociais e as instituições.
Em termos teóricos, a decolonialidade se desenvolveu por meio dos trabalhos
de pensadores como Aníbal Quijano, Enrique Dussel, Walter Mignolo, Boaventura de
Sousa Santos, Nelson Maldonado-Torres, entre outros. Eles afirmam que os conceitos
modernos ocidentais, como progresso, desenvolvimento, democracia, direitos
humanos, entre outros, são impregnados de poder colonial, que invisibilizam outras
formas de pensamento e de vida.
A partir desses referenciais, a decolonialidade procura construir novos
entendimentos e práticas que valorizem as epistemologias e experiências subalternas,
ou seja, as formas de conhecimento e culturas dos povos colonizados e
marginalizados.
Como exemplos de práticas que expressam a lógica decolonial, podemos citar
a valorização das cosmologias e teologias indígenas e afrodescendentes, a crítica ao
racismo epistêmico e ao conhecimento científico eurocêntrico, a reivindicação de
territórios e recursos naturais por populações tradicionais e a desnaturalização da
heteronormatividade.
A decolonialidade também se conecta com as lutas sociais e políticas de
grupos marginalizados, buscando construir pontes entre diferentes comunidades para
enfrentar as desigualdades e construir uma sociedade mais justa e plural.

Interculturalidade
O conceito de interculturalidade surge no contexto do debate sobre as políticas
de integração dos imigrantes nas sociedades ocidentais, que levantaram a
necessidade de repensar as noções de identidade, diversidade e diferença em um
mundo cada vez mais globalizado e heterogêneo.
Em termos teóricos, a interculturalidade se desenvolveu a partir de trabalhos
como os de Milton Bennett, Edward Hall, Geert Hofstede, Richard Brislin, entre outros,
que estudaram as diferentes formas de comunicação e interação entre culturas. Eles
afirmam que a compreensão intercultural implica em entender como diferentes
culturas se comunicam e como os valores, crenças e hábitos culturais afetam a
percepção e a interpretação das mensagens.
Outras perspectivas teóricas que contribuíram para o desenvolvimento da
interculturalidade incluem a teoria crítica da raça, os estudos pós-coloniais e as teorias
feministas e queer, que evidenciam as relações de poder presentes nas interações
culturais e reivindicam o reconhecimento e valorização da diversidade.
Como exemplos de práticas que expressam a lógica intercultural, podemos
citar a promoção de políticas públicas de inclusão social e cultural de migrantes, a
valorização da diversidade linguística e cultural nas escolas e universidades, a
realização de festivais e eventos que celebram as diferentes culturas presentes em
uma comunidade, a adoção de práticas empresariais que valorizam a diversidade
cultural em suas equipes, entre outras.
Dessa forma, a interculturalidade representa uma abordagem que reconhece e
valoriza a diversidade cultural, buscando promover a compreensão mútua e a
convivência pacífica entre os diferentes grupos culturais presentes em uma
sociedade, na busca pela construção de uma cultura de paz e justiça social.

Pedagogias decoloniais

O conceito de pedagogias decoloniais surge a partir das críticas aos modelos


hegemônicos de educação, que foram historicamente impostos por meio dos
processos colonizadores em várias partes do mundo. A ideia é oferecer alternativas
pedagógicas que respeitem a diversidade cultural e a autonomia dos povos
subalternizados.
Os principais referenciais teóricos da pedagogia decolonial incluem autores
como Aníbal Quijano, Walter Mignolo, Enrique Dussel, Paulo Freire, entre outros. Eles
propõem uma reflexão crítica sobre as desigualdades sociais e culturais, que estão
enraizadas em experiências históricas de colonização, escravização e exploração
econômica.
Uma das propostas das pedagogias decoloniais é a valorização dos saberes e
conhecimentos ancestrais dos povos indígenas e afrodescendentes, que foram
marginalizados e desconsiderados pelos modelos educacionais ocidentais. Isso
significa respeitar a diversidade cultural e linguística, e permitir que esses saberes
sejam transmitidos e valorizados nas escolas e universidades.
Outra característica das pedagogias decoloniais é a crítica à universalidade do
conhecimento, que muitas vezes é apresentado como se fosse único e válido para
todas as culturas. A ideia é que cada cultura pode produzir seus próprios saberes, que
são legítimos e verdadeiros dentro de seus próprios contextos e concepções.
Alguns exemplos de práticas pedagógicas decoloniais incluem a valorização
da oralidade e da transmissão oral de saberes, a utilização de materiais didáticos que
respeitem a diversidade cultural, a promoção do diálogo intercultural e a reflexão
crítica sobre as relações de poder presentes na educação. Há também experiências
de ensino em que a cultura, história e saberes indígenas e afrodescendentes são
enfatizados, como a educação escolar indígena e a educação quilombola.

Ensino de línguas na perspectiva intercultural

O conceito de ensino de línguas na perspectiva intercultural surgiu na década


de 1970, como uma crítica ao ensino de línguas estrangeiras baseado na transmissão
de conhecimentos linguísticos e culturais de uma única cultura, geralmente a cultura
dominante. A proposta da perspectiva intercultural é que o aprendizado de uma língua
estrangeira deve ocorrer no contexto de uma abordagem globalizante e multicultural,
que valoriza e respeita as culturas dos povos envolvidos.
Nessa perspectiva, o objetivo não é apenas desenvolver habilidades
linguísticas, mas também promover a compreensão intercultural através do diálogo,
da reflexão crítica e da valorização das diferenças culturais. Assim, a aprendizagem
de línguas estrangeiras é vista como uma oportunidade para promover a
compreensão mútua entre culturas diferentes e para desenvolver habilidades de
comunicação intercultural.
Alguns dos principais referenciais teóricos do ensino de línguas na perspectiva
intercultural incluem Michael Byram, Claire Kramsch, Fred Dervin e Earl Stevick. Eles
propõem a integração de elementos culturais no ensino de línguas estrangeiras,
como:

- Desenvolvimento da consciência cultural, que envolve a compreensão da influência


da cultura na linguagem e na comunicação.
- Ensino baseado em tarefas, que propõe a realização de atividades significativas e
contextualizadas que permitam o desenvolvimento da competência comunicativa.
- Abordagem crítica, que promove a reflexão sobre questões sociais, culturais e
políticas relacionadas à língua e à cultura.
- Uso de material autêntico, que permite a exposição dos alunos a diferentes
variedades linguísticas e culturais.

Alguns exemplos de práticas interculturais no ensino de línguas incluem o


trabalho com textos autênticos, como filmes, músicas e literaturas de diferentes
países; a realização de debates sobre questões culturais e sociais, que permitam a
troca de perspectivas entre alunos de diferentes culturas; e o desenvolvimento de
projetos interculturais, que envolvam a colaboração entre escolas e alunos de
diferentes países.

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