Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
As sociedades e culturas em que vivemos são dirigidas por poderosas ordens discursivas que
regem o que deve ser dito e o que deve ser calado e os próprios sujeitos não estão isentos
desses efeitos.
A linguagem, as narrativas, os textos não apenas descrevem ou falam sobre as coisas, ao fazer
isso instituem as coisas, inventando sua identidade. O que temos denominado “realidade” é o
resultado desse processo no qual a linguagem tem um papel constitutivo.
De acordo com a análise foucaultiana, nisso está implicado o poder; não um poder maligno,
dissimulado, que emana de uma única fonte, mas um poder produtivo, disseminado, capilar e
circulante. Um poder que se exerce na forma de uma “vontade de saber” que é também
“vontade de poder”.
Significa dizer que, quando se descrevem, explicam, desenham ou contam coisas, quando
variadas textualidades falam sobre pessoas, lugares ou práticas.
Pedagogia como cultura: Cultura como pedagogia
(GIROUX, 1992, p.11), pedagogia, vista como prática social e de produção cultural implicada
na política cultural que envolve conhecimentos, desejos, valores e práticas, fez com que
estendesse suas preocupações para o âmbito social mais amplo, em busca de uma pedagogia
radical como política cultural.
Em suas pesquisas descreve a pedagogia como “uma tecnologia do poder, da linguagem e da
prática que produz e legitima formas de regulamentação moral e política, que constrói e
oferece aos seres humanos visões particulares de si próprios e do mundo” (GIROUX, 1995, p.
98).
Cabe perceber um cenário em que as práticas antes privativas de certos espaços institucionais,
como a pedagogia, encontram-se desterritorializadas.
Neste contexto, desenham-se crescentemente novos contributos teóricos para se pensar a
pedagogia como uma prática cultural que ultrapassa amplamente os limites estritos de
instituições como, por exemplo, escola, família e igreja.
Pesquisas desenvolvidas por Marisa Vorraber Costa, vem investigando As pedagogias culturais e a
educação escolar, assim como sua produtividade na constituição de sujeitos e na conformação das
práticas pedagógicas. Nessas pesquisas delineia-se a presença da mídia na sua dimensão pedagógica.
Os artefatos postos em circulação pelos meios eletrônicos: Telenovelas, desenhos animados, seriados,
filmes infanto-juvenis, shows e videoclipes, peças publicitárias e produtos de todo o tipo dirigidos às
crianças e jovens, compõem esse arsenal.
Mas também outdoors, celulares, DVDs, jogos eletrônicos, telões digitais plataformas, ferramentas e
registros digitais. fazem a sua parte no imenso aparato techno de comunicação e entretenimento,
impregnado de discursos, práticas e táticas de convocar sujeitos.
Sendo assim, ao focalizar o interior da escola se faz necessário olhar para fora dela, para a cultura e
suas operações de controle social, de governo das subjetividades em sua refinada versão de uma
governamentalidade neoliberal.
As tecnologias da comunicação e da informação vêm contribuindo para a proliferação, ampla
circulação e consumo de textos culturais populares, que exercem um enorme fascínio sobre as pessoas.
Na promoção desse fascínio estão implicados desejos, sonhos, sedução, modelos a serem imitados,
aptidões a serem adquiridas.
Currículo como campo de política cultural
A dimensão pós-crítica da teoria curricular concorda com a dimensão crítica de que o currículo é
um espaço de poder e controle, porém, este poder se mostra descentrado em diversas frentes e não
apenas configurado em um foco imanente.
O poder está presente nos currículos como parte de sua constituição, pois vinculado à dinâmica de
conhecimentos nele expresso, em um processo de inter-relação que lhe é intrínseca, pois “o
conhecimento não é aquilo que põe em cheque o poder: o conhecimento é parte inerente do poder”
(SILVA, 2009, p. 149).
Significa que o currículo não se restringe a um conjunto de conteúdos, disciplinas, métodos,
experiências, objetivos etc. do cotidiano escolar. Mas, um artefato e seus componentes constitui um
conjunto articulado, organizado de saberes regidos por uma determinada ordem, estabelecida em
uma arena em que estão em disputa: visões de mundo, quem e onde se produzem, elegem e
transmitem representações, narrativas e significados sobre as coisas e sujeitos.
Examinar o currículo como política cultural sugere reconhecer a existência de um jogo de
correlação de forças que estabelece critérios de validade e legitimidade segundo as quais são
produzidas representações e instituídas as “realidades”.
“Está em questão uma política de representação, ou uma disputa por narrar “o outro” – sob uma
referência de normal e o outro como: diferente, exótico, excêntrico, o periférico... São formas ou
regime de verdade em que são constituídos os saberes que fomos ensinados/ensinadas a acolher como
verdadeiros e como universais, e que inundam os currículos escolares, as enciclopédias, os livros
didáticos, as cartilhas, deixando marcas indeléveis nos códigos normativos, na literatura e nas artes em
geral, nas retóricas pedagógicas familiares e religiosas, na mídia e em outros dispositivos culturais. [...]
Sendo o currículo escolar um lugar de circulação de narrativas, um lugar privilegiado dos processos de
subjetivação, da socialização dirigida, controlada, opera um processo de significação e é em grande
parte à escola que tem sido atribuída a competência para realizar o projeto de indivíduo para um
projeto de sociedade” (Costa, 2005).
Discutindo sobre política cultural e prática
curricular em 2021
COSTA, Marisa Vorraber. Currículo e política cultural. In: COSTA, Marisa Vorraber (org).
O currículo nos limiares do contemporâneo. 3. ed. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p.37-68.
GIROUX, Henry. Praticando estudos culturais nas faculdades de educação. In: SILVA,
Tomaz Tadeu da. Alienígenas na sala de aula: uma introdução aos estudos culturais em
educação. Petrópolis: Vozes, 1995
SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do
currículo. 3. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
HALL, Stuart. A centralidade da cultura: notas sobre as revoluções culturais do nosso
tempo. Educação e Realidade, Porto Alegre: UFRGS, v. 22, n. 2, p. 15-46, 1997.