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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

ATLETISMO

GUARULHOS – SP

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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 4
2 ORIGEM DO ATLETISMO .................................................................................. 5
2.1 A evolução do atletismo .................................................................................. 7
2.2 Principais atletas do atletismo....................................................................... 11
3 ENSINO DO ATLETISMO: POSSIBILIDADES DE INICIAÇÃO ESPORTIVA E
COMPETITIVA EM AMBIENTE ESCOLAR E NÃO ESCOLAR ............................ 17
3.1 Ensino-aprendizagem do atletismo e aspectos didáticos ............................. 23
4 COMO DETECTAR E SELECIONAR TALENTOS ESPORTIVOS ................... 24
5 ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO ATLETISMO ............................................. 29
6 AS DIFERENTES MODALIDADES QUE COMPÕEM O ESCOPO DO
ATLETISMO .......................................................................................................... 36
6.1 Provas de pista ............................................................................................. 37
6.2 Provas de campo .......................................................................................... 40
6.3 Provas combinadas ...................................................................................... 43
7 RELAÇÃO ENTRE A EXIGÊNCIA FÍSICA E OS GESTOS MOTORES DO
ATLETISMO E AS DIFERENTES MODALIDADES ESPORTIVAS ...................... 44
7.1 Lançamento do disco .................................................................................... 46
7.2 Lançamento do dardo ................................................................................... 47
7.3 Lançamento do martelo ................................................................................ 48
7.4 Arremesso do peso ....................................................................................... 49
7.5 Salto em distância......................................................................................... 49
7.6 Salto triplo ..................................................................................................... 50
7.7 Salto em altura .............................................................................................. 50
7.8 Salto com vara .............................................................................................. 51
7.9 Corridas ........................................................................................................ 52
7.10 Corridas de velocidade ................................................................................. 52
7.11 Corridas de resistência ................................................................................. 54
8 CORRIDAS RÚSTICAS OU PEDESTRIANISMO ............................................. 55
8.1 O ato de caminhar ........................................................................................ 56
8.2 Pedestrianismo ............................................................................................. 57

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9 AS PROVAS de atletismo com barreiras e com obstáculos ............................. 58
9.1 100 metros com barreiras ............................................................................. 59
9.2 110 metros com barreiras ............................................................................. 60
9.3 400 metros com barreiras ............................................................................. 60
9.4 3.000 metros com obstáculos ....................................................................... 61
10 PARTICULARIDADES DAS PROVAS COLETIVAS DE REVEZAMENTOS NO
ATLETISMO .......................................................................................................... 62
10.1 Revezamento 4 × 100 metros ....................................................................... 62
10.2 Revezamento 4 × 400 metros ....................................................................... 63
10.3 Passagem do bastão .................................................................................... 64
11 MARCHA ATLÉTICA ........................................................................................ 66
11.1 Técnica e regras ........................................................................................... 67
11.1.1 Prova 20 km .................................................................................................69

11.1.2 Prova 50 km .................................................................................................69

12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 71


12.1 Bibliografia Básica ........................................................................................ 71
12.2 Bibliografia Complementar ............................................................................ 71

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 ORIGEM DO ATLETISMO

A história do atletismo é bastante rica. Inúmeras lendas e relatos compõem


essa origem, porém não há uma origem definitiva para essa modalidade. O que
podemos afirmar é que os principais movimentos do atletismo, como as habilidades
motoras de correr, saltar, lançar e arremessar, estão presentes desde o surgimento
do homem, como meio de sua sobrevivência, correndo de animais ferozes ou
lançando em suas caças, por exemplo.
Rojas (2017) aponta que o atletismo teria surgido da necessidade de
desenvolver essas habilidades. Isso fez com que o atletismo se tornasse um
esporte-base para as demais modalidades:

O atletismo é considerado por muitos como o pai dos esportes, tendo em


vista que o mesmo é composto pelas modalidades correr, saltar e lançar,
que seriam ações motoras necessárias para a prática de inúmeros outros
esportes. Sendo o atletismo composto por movimentos fundamentais para
o desenvolvimento e aperfeiçoamento das habilidades motoras das
crianças e adolescentes, este é um dos principais conteúdos da disciplina
de educação física escolar (SILVA; SEDORKO, 2011, p. 25).

As primeiras organizações sobre atletismo que se tem registro vêm da Grécia


Antiga. Segundo o poeta grego Homero, a primeira corrida de velocidade, com
caráter competitivo, foi realizada no ano de 1496 a.C., e teria sido organizada por
Hércules (SILVA; CAMARGO, 1978). Segundo a lenda, Hércules, após peregrinar
pelo mundo, foi morar na Ilha de Creta, tendo ali construído um estádio com uma
pista de corrida em apenas um sentido. Além disso, registros iconográficos e
também documentais anteriores ao ano 700 a.C. mostram que, além das corridas,
saltos e arremessos já faziam parte dos torneios na Grécia (GODOY, 1996 apud
ROJAS, 2017).
As modalidades pertencentes ao atletismo passaram a ganhar destaque a
partir da primeira edição dos Jogos Olímpicos da Antiguidade de que se tem
registro, ocorrida em 776 a.C. e realizada no santuário de Olímpia, em homenagem
a Zeus, pai de todos os deuses na mitologia grega e considerado o senhor do
Olimpo.

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Apesar de os Jogos Olímpicos serem anteriores a essa data, a edição de 776
a.C. é a primeira a ter registro tanto das provas realizadas quanto dos vencedores.
Nessa edição, apenas uma modalidade foi disputada: a corrida de 192,27 m,
realizadas em raias de 1,25 m de largura, também conhecida como Drómos ou
Stádion, que foi a única prova a ser disputada até os jogos de 724 a.C.
Rojas (2017) aponta que as corridas se tornaram tão populares que novas
modalidades foram criadas para os Jogos Olímpicos da Antiguidade. O autor
destaca o surgimento do Diáulos, no ano de 724 a.C., que tinha o dobro da distância
do Drómos (384,50 m), sendo também conhecida como duplo estádio, pois
representava duas voltas completas na pista, e do Dólikhos, uma prova que exigia
maior resistência dos atletas, que variava entre 7 e 24 estádios, o que daria,
aproximadamente, 5 mil metros.
Ainda no aspecto das corridas, havia o Hoplitodromía, a corrida com
armamento e armadura de um soldado, na qual os atletas vestiam escudo, elmo e
caneleira para correr. Esse nome tem origem na principal patente do exército grego
da antiguidade, o hoplita. Outra corrida era o Lampadedromía, em que os atletas
corriam com uma tocha acesa na mão, que era revezada por atletas da mesma
equipe. Essa é a prova originária dos atuais revezamentos.
Dessa época ainda cabe destacar uma importante competição: o pentatlo,
que estreou nos jogos de 78 a.C. Rojas (2017) destaca que vem dessa época a
ideia de consagrar um atleta por seus resultados nas mais diferentes provas, que,
nesse caso, eram:

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 corrida de estádio;
 salto em distância com pesos;
 lançamento de dardo;
 lançamento de disco;
 luta.

Apesar de as disputas esportivas serem muito parecidas com as que temos


atualmente, a organização desses jogos como conhecemos hoje não existia, devido
ao cunho religioso e militar existente à época. Prova disso é a abolição dos Jogos
Olímpicos pelo imperador romano Teodósio em 393 a.C., após Roma conquistar
Grécia, por considerá-los pagãos.

2.1 A evolução do atletismo

As primeiras provas de atletismo, principalmente envolvendo as corridas,


tiveram início na antiguidade, nos Jogos Olímpicos da Grécia, reforçando a ideia de
que esse esporte é bastante antigo e de que sofreu inúmeras influências até se
tornar no esporte que conhecemos hoje (ROJAS, 2017). O mesmo autor destaca
que, com o fim dos jogos antigos, alguns esportes foram sufocados pela ascensão
religiosa do cristianismo até se tornarem uma prática quase inexpressiva. O
principal período em que isso ocorreu foi a Idade Média, na qual as práticas
esportivas, em quase sua totalidade, foram condenadas; mesmo que ainda
existissem alguns torneios, as práticas atléticas deixaram de ter destaque.
A situação só começaria a mudar no século XIX, com o surgimento da Escola
Inglesa. Apesar de as provas de atletismo continuarem a acontecer com certa
organização até o século XVIII, o método da Escola Inglesa foi fundamental para
que o atletismo se propagasse a partir da padronização e da criação de regras
específicas para a modalidade. Esse método incluía o esporte na escola, a partir da
reforma pedagógica proposta por Thomas Arnold (ALMEIDA; MARCHI JUNIOR,
2015).

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A disseminação desse método foi um divisor de águas para a evolução do
atletismo. O resultado disso foi a realização das primeiras competições entre
universidades, com a participação das universidades de Oxford e Cambridge,
ocorrida em 1864 (SILVA, 2016). Essa é considerada a primeira grande competição
do atletismo moderno. Dois anos depois, ocorreu o primeiro encontro nacional para
a disputa de competições de atletismo em Londres. Da Inglaterra, o esporte seguiu
para toda a Europa e, em pouco tempo, também para a América. Na América, os
argentinos tiveram a primazia de praticar o atletismo em 1867. Um ano depois, nos
Estados Unidos, era disputado o primeiro campeonato nacional em pista coberta
(SILVA, 2016).
Rojas (2017) afirma que a grande mola propulsora da prática do atletismo
foram os Jogos Olímpicos da Era Moderna. Os Jogos começaram a ser idealizados
em 1894, quando, por meio de um congresso esportivo-cultural realizado em Paris,
na França, o barão Pierre de Coubertin propôs uma competição esportiva entre as
nações que fosse pacífica, aos moldes dos antigos jogos gregos. Com a criação do
Comitê Olímpico, ficou decidido que, em dois anos, seria realizada a primeira edição
dos Jogos em Atenas, na Grécia, como homenagem ao pioneirismo daquele país.
Assim como no período antigo, o atletismo era o esporte mais aguardado na
volta dos Jogos Olímpicos, em especial a tradicional prova da maratona, que foi
vencida pelo carregador de água grego Spidiron Louis. Além da maratona, essa
edição contou com as seguintes competições:

 100, 400, 800 e 1.500 m rasos;


 110 m com barreira;
 Arremesso de peso;
 Lançamento de disco;
 Salto com vara;
 Salto em altura;
 Salto triplo.

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Do salto triplo surgiu o primeiro campeão olímpico, o americano James
Connolly. O atletismo segue sendo uma das modalidades pioneiras presente até
hoje nas Olimpíadas.
No Brasil, Rojas (2017) aponta que as realizações das “corridas atléticas”
começaram a ocorrer no século XIX com a chegada dos imigrantes ingleses. Em
1880, o Jornal do Comércio já divulgava resultados das provas atléticas realizadas
no Rio de Janeiro.
No começo do século XX, o atletismo ganhava maior número de adeptos por
todo mundo. Para organizar as competições de atletismo, foi criada, em 1912, a
International Associations of Athletic Federation (IAAF, Associação Internacional de
Federações de Atletismo). No Brasil, a Confederação Brasileira de Desportos (CBD)
comandava todas as modalidades esportivas do país à época e se associou à IAAF
em 1914.
A primeira prova brasileira de expressão ocorreu em 1918 com um
duodecatlo (doze provas), promovido pelo jornal O Estado de São Paulo, seguido
de uma corrida de 24 km (BRASIL, 1984 apud ROJAS, 2017). Seis anos depois,
ocorreu a primeira participação oficial do atletismo brasileiro masculino em
Olimpíadas, em Paris, com oito atletas em provas masculinas (MATTHIESEN,
2017). Outras datas importantes para o atletismo brasileiro são a criação do Troféu
Brasil (1945); o bicampeonato olímpico de Adhemar Ferreira da Silva (1952 e 1956),
que se tornou o único brasileiro no hall da fama da IAAF; e a criação da
Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), em 1977.
Hoje as principais competições de atletismo são o Campeonato Mundial, que
ocorre a cada dois anos (anos anteriores e posteriores aos Jogos Olímpicos); o
Campeonato Paraolímpico; além das maratonas espalhadas pelo mundo, com
destaque para as de Nova York e Roma.
O atletismo é dividido nas seguintes competições (CONFEDERAÇÃO
BRASILEIRA DE ATLETISMO, 2019):

 Provas de pista (corridas);


 Provas de campo (saltos e lançamentos);

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 Provas combinadas, como decatlo e heptatlo (que reúnem provas de
pista e de campo);
 Pedestrianismo (corridas de rua, como a maratona);
 Corridas em campo (cross country);
 Corridas em montanha;
 Marcha atlética.

O atletismo sofreu várias alterações nesse longo percurso de sua história. No


princípio do esporte, a ideia de devoção ao esporte, do prazer e da diversão
imperavam, contrastando com o período atual, no qual o esporte movimenta grande
capital tanto em premiações quanto em patrocínios e em quebras de recordes
mundiais. Esse período em que os atletas não recebiam dinheiro para competir
nasceu na Antiguidade e permaneceu nas primeiras edições dos Jogos; nessa
época, para participar, o atleta não poderia ser profissional.
O começo dos registros dos tempos dos atletas também trouxe uma nova
disputa: a quebra de recordes nas mais variadas modalidades. As provas
começaram a ter registro de tempo entre as décadas de 1910 e 1920 e, o que
começou como uma breve curiosidade, tornou-se uma disputa constante entre os
atletas. Os recordes são divididos por nacionalidade, continente ou recorde mundial.
Também podem ser divididos por competições, como as Olimpíadas ou o
Campeonato Mundial (SILVA, 2016).
Muitos desses recordes foram quebrados devido à preparação do atleta e
também à inserção de novas tecnologias no esporte. Se, antigamente, para medir
o tempo, eram utilizados cronômetros ou filmes fotográficos, que demoravam um
tempo para serem revelados, hoje o atletismo tem resultados no mesmo momento
em que os atletas concluem a prova.
Um dos modernos aparelhos que mudou a história do esporte, pois permite
marcar o tempo com precisão, é o photo finish. Trata-se de um sistema de vídeo no
qual a câmera flagra o momento em que o atleta cruza a linha de chegada,
permitindo assim exatidão nos números finais.

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O sistema de aferição ainda permite que uma saída falsa de um atleta seja
detectada, o que, automaticamente, elimina esse atleta da prova. A tecnologia ainda
é utilizada para medir a distância exata em que o atleta lançou o dardo ou
arremessou o martelo.

2.2 Principais atletas do atletismo

O atletismo é um esporte que existe desde a Antiguidade, sendo assim,


torna-se impossível contar a biografia de todos os destaques dessa modalidade.
Por isso escolhemos algumas personalidades para ilustrar esse rico esporte.
Acompanhe.

Atletas internacionais

Paavo Nurmi

O finlandês Paavo Nurmi é um dos maiores corredores de todos os tempos.


Ele foi imortalizado pelo hall da fama do atletismo em 2012. Conhecido como
“homem-relógio”, por ter o hábito de correr com o relógio na mão, conquistou nove
medalhas de ouro olímpicas e mais três de prata. Entre suas conquistas estão os
10.000 m metros, o cross country, os 1500 m e os 5.000 m. Nurmi ainda quebrou
22 recordes mundiais ao longo de sua carreira (SILVA, 2016).

Jesse Owens

O americano Jesse Owens ganhou quatro medalhas de ouro (100 m, 200 m,


revezamento 4 × 100 m e salto em distância) nos Jogos Olímpicos de Berlim, em
1936. Seus feitos passaram o campo esportivo, já que ridicularizou as teorias
nazistas de Adolf Hitler sobre a superioridade da raça ariana. As vitórias de Owens
e dos demais negros americanos no atletismo impediram Hitler de comemorar as
60 medalhas solicitadas aos seus atletas. Para conquistar esses triunfos, o

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americano contou com a ajuda do alemão Luz Long, que lhe deu um conselho, ainda
na fase qualificatória, que o ajudaria a passar de fase. Após o salto, Long foi até o
americano e o abraçou sob olhares de Hitler, o que foi considerado uma afronta.
Owens ainda quebrou um recorde por seis vezes dentro de uma hora e estabeleceu
o recorde mundial no salto em distância, que durou por 25 anos.

Emil Zátopek

O soldado tcheco Emil Zátopek é considerado um dos maiores corredores de


longa distância de todos os tempos. Zátopek foi ouro nos 10.000 m nas Olímpiadas
de Londres, em 1948. Quatro anos depois, em Helsinque, marcou seu nome na
história após vencer os 5.000 m, os 10.000 m e a maratona, tornando-se o único
atleta com tal feito. Conhecido como a Locomotiva bateu inúmeros recordes. Em
1953 participou da Corrida de São Silvestre, em São Paulo, vencendo com
facilidade.

Al Oerter

O americano Al Oerter marcou história no lançamento de disco ao vencer


quatro edições consecutivas dos Jogos Olímpicos, nos anos 1950 e 1960. Oerter
quebrou três vezes o recorde olímpico (SILVA, 2016).

Jackie Joyner Kersee

A americana Jackie Joyner Kersee é considerada a atleta feminina mais


completa de todos os tempos. JJK, como é conhecida, venceu com sobras o salto
em distância e o heptatlo no mundial de atletismo em 1987, repetindo o feito nos
Jogos Olímpicos de Seul, em 1988. Quatro anos depois, obteve nova vitória no
heptatlo e mais uma prata no salto em distância. Em 1993, venceu novamente no
heptatlo, dessa vez no Campeonato Mundial.

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Abebe Bikila

Bikila marcou história ao vencer a maratona de Roma em 1960, tornando-se


o primeiro atleta negro representando um país africano a conseguir tal feito. O
etíope não se sentiu confortável com nenhum tênis e fez toda a prova descalço.
Entre 1960 e 1966, Bikila ganhou 12 das 13 maratonas que disputou; sua única
derrota foi na maratona de Boston de 1963, em que terminou em quinto. Uma
dessas vitórias foi a maratona das Olimpíadas de Tóquio, tornando-se o primeiro
homem a vencer por duas vezes essa prova.

Sergey Bubka

É considerado o maior atleta do salto com varas de todos os tempos. O


ucraniano começou a despontar, surpreendendo o mundo, ao vencer o mundial de
1983, aos 19 anos. Depois disso vieram mais cinco títulos mundiais e um ouro
olímpico. Ao todo quebrou 35 recordes mundiais.

Yuriy Sedykh

Um dos maiores atletas de lançamento de martelo da história, Sedykh


venceu duas Olimpíadas (1976 e 1980) e o Mundial de 1981. Conquistou seis
recordes mundiais, sendo o último em 1986, ao lançar o martelo a 86,74 m, marca
que não foi batida até hoje (SILVA, 2016).

Marie-José Perec

A francesa Marie-José Perec era uma grande especialista em provas de


velocidade, com destaque para as provas de 200 e 400 m rasos. Nos Jogos de
Atlanta, em 1996, venceu as duas provas e, em Barcelona, 1992, os 400 m. Além
disso, tem mais dois Mundiais nessa última categoria.

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Carl Lewis

Nos jogos de Los Angeles, em 1984, Carl Lewis igualou a façanha de Jesse
Owens em Berlim, em 1936, ao conquistar quatro medalhas de ouro nos 100 e 200
m, revezamento 4 × 100 m e salto em distância. Em 1999 foi considerado pela IAAF
o atleta masculino do século XX e também foi considerado o esportista do século
pelo Comitê Olímpico Internacional. Lewis ganhou nove medalhas de ouro em
quatro Jogos Olímpicos e oito no Campeonato Mundial da IAAF.

Florence Griffith-Joyner

Nos Jogos de Seul, em 1988, ganhou três medalhas de ouro, nos 100 e 200
m rasos, no revezamento 4 × 100 m e ainda levou prata no 4 × 400 m. Seus recordes
dos 100 e 200 m permanecem até hoje. Também venceu o Mundial de Roma, em
1987. (SILVA, 2016).

Javier Sotomayor

O cubano é uma das referências do salto em altura na história. Venceu os


Jogos Olímpicos de 1992 e foi bicampeão nos Mundiais de 1993 e 1997. Seu
recorde nessa modalidade permanece até hoje, tanto ao ar livre (2,45 m) quanto
nas pistas cobertas (2,43 m).

Michael Johnson

O americano Michael Johnson faturou quatro medalhas de ouro olímpicas,


além de se sagrar campeão do mundo por nove vezes. Foi o primeiro homem a
vencer a prova dos 200 e 400 m em um mesmo Mundial e em uma mesma edição
de Olimpíada.

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Yelena Isinbayeva

É considerada a maior saltadora de vara de todos os tempos. A russa Yelena


Isinbayeva conquistou duas medalhas de ouro olímpicas (2004 e 2008), além de
vencer sete edições do Mundial. Isinbayeva já quebrou 28 recordes mundiais,
aproximando-se da marca de Sergey Bubka (SILVA, 2016).

Usain Bolt

O jamaicano Usain Bolt se tornou o primeiro atleta que, ao vencer os 100 e


os 200 m e o revezamento 4 × 100 m masculino, quebrou o recorde em todas provas
em uma mesma edição dos Jogos Olímpicos, em Pequim, 2008. Além disso, é o
único atleta na história do atletismo a se tornar tricampeão em duas modalidades
de pista (100 e 200 m rasos) nas Olimpíadas, de forma consecutiva, e bicampeão,
também de forma consecutiva, no revezamento 4 × 100 m. É também o único atleta
a conquistar oito medalhas de ouro em provas de velocidade, sendo dez vezes
campeão mundial. É dono dos três últimos recordes mundiais dos 100 m rasos.

Atletas brasileiros

Vamos relembrar agora alguns brasileiros que fizeram história no atletismo.

Adhemar Ferreira da Silva

É o único brasileiro que integra o hall da fama da Federação Internacional.


Adhemar era atleta do São Paulo Futebol Clube e conquistou duas medalhas de
ouro no salto triplo nos Jogos Olímpicos de 1952 (quando bateu o recorde mundial)
e de 1956. É o único atleta brasileiro bicampeão olímpico. Além disso, foi
pentacampeão sul-americano e tricampeão pan-americano.

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João do Pulo

Também atleta do salto triplo, João Carlos de Oliveira, o João do Pulo, foi
tetracampeão pan-americano e foi por duas vezes medalhista de bronze em
Olímpiadas (1976 e 1980). Esta última é contestada até hoje, pois João teve dois
saltos invalidados pelos árbitros, que lhe dariam a medalha de ouro e o novo recorde
mundial.

Joaquim Cruz

Após Adhemar Ferreira da Silva, o Brasil só voltou a ganhar um ouro olímpico


no atletismo com Joaquim Cruz, na prova dos 800 m, em Los Angeles, 1984. Quatro
anos depois, o meio-fundista levaria a medalha de prata. Também conquistou dois
pan-americanos e uma medalha de bronze no Mundial de 1983 (SILVA, 2016).

Maurren Maggi

A atleta se consagrou como o maior nome do atletismo feminino brasileiro ao


saltar 7,04 m e levar o ouro nas Olímpiadas de Pequim, em 2008, no salto em
distância. Maurren é recordista brasileira e sul-americana nessa modalidade, além
de ser tricampeã pan-americana.

Vanderlei Cordeiro de Lima

Apesar de inúmeras conquistas na carreira, como dois títulos pan-


americanos e vitória em importantes maratonas, como Hamburgo e Tóquio,
Vanderlei ficou conhecido por ser empurrado por um ex-padre irlandês enquanto
liderava a maratona nos Jogos Olímpicos de Atenas, em 2004. O brasileiro voltou à
prova e levou a medalha de bronze e, ainda, a medalha Pierre de Coubertain por
seu espírito esportivo.

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Fabiana Murer

Fabiana se consagrou campeã mundial do salto com vara por duas vezes:
em 2010, em pista coberta, e em 2011, ao ar livre. Neste último, derrotou a grande
favorita Yelena Isinbaeva. Fabiana ainda é recordista brasileira e sul-americana e
campeã pan-americana nessa categoria (SILVA, 2016).

Inúmeros atletas marcaram a história do esporte. Corredores de curta, média


e longa distância, saltadores, lançadores e arremessadores de todo mundo
marcaram seu nome na história das competições de atletismo. Reconhecer a
história e as personalidades do atletismo é um passo inicial para se aprofundar
nesse esporte e nesse conteúdo tão vital para as aulas de educação física, servindo
de base para a criação de um repertório maior de movimentos.

3 ENSINO DO ATLETISMO: POSSIBILIDADES DE INICIAÇÃO ESPORTIVA E


COMPETITIVA EM AMBIENTE ESCOLAR E NÃO ESCOLAR

O atletismo é considerado por muitos o berço das práticas competitivas, por


meio dos Jogos Olímpicos da Antiguidade, na Grécia. Registros históricos apontam
competições esportivas com práticas de atletismo em 776 a.C., nas quais já se
praticavam corridas, arremessos, lançamentos, que são a base das provas do
atletismo moderno.
As primeiras grandes conquistas esportivas registradas são das principais
provas de atletismo praticadas na Grécia Antiga, onde as competições faziam parte
de cerimônias para cultuar os deuses, principalmente Zeus. Os atletas que se
destacavam eram considerados celebridades; um dos prêmios era a coroa de
“louro”, dada somente para grandes conquistas, tanto no campo das grandes
batalhas da época quanto para os atletas vencedores das olimpíadas (SILVA,
2016).

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Apesar de o atletismo ser considerado uma prática esportiva pioneira entre
os esportes e popular, por ser praticada por pessoas de diferentes classes sociais
e pela maioria de suas modalidades não exigir grandes investimentos em materiais
e equipamentos para a sua prática, nos ambientes escolares seu desenvolvimento
ainda não é muito efetivo. Outras práticas esportivas coletivas, como o futsal, o
voleibol, o handebol e o basquete, exigem bem mais investimentos e, mesmo assim,
na grande parte das escolas estão presentes, portanto, a justificativa de não
oferecer o atletismo devido à falta de estrutura e materiais acaba não sendo
convincente.
Essa afirmativa é reforçada por Oviedo e Peres (2014), que afirmam que os
processos metodológicos utilizados por grande parte dos profissionais de educação
física nos ambientes escolares colaboram para o afastamento dos alunos das
práticas nas aulas de educação física, em especial da modalidade de atletismo. O
atletismo tende a ser esquecido pelos professores, que justificam não existir espaço
próprio nem material adequado para essa prática no ambiente escolar.
Tanto nos ambientes escolares quanto em não escolares é importante que
os conteúdos sejam trabalhados de forma abrangente, englobando as dimensões
conceituais, procedimentais e atitudinais. Essas dimensões são conceituadas por
Barroso e Darido (2009) da seguinte forma:

 Dimensão conceitual: tem uma relação direta com o “conhecer”.


Como exemplo, podemos citar a importância de os alunos
conhecerem o contexto histórico do atletismo, saberem que foi uma
das primeiras modalidades esportivas praticadas nos Jogos
Olímpicos da Grécia Antiga e conseguirem relacionar as práticas
antigas com as práticas atuais.
 Dimensão procedimental: tem uma relação direta com o
“vivenciar”. Como exemplo, tanto em ambientes escolares quanto
não escolares, temos as práticas das diferentes modalidades do
atletismo, sejam realizadas de acordo com as regras e
procedimentos técnicos, sejam como atividades lúdicas e recreativas

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que trabalhem os diferentes aspectos motores e físicos das
modalidades.
 Dimensão atitudinal: tem uma relação direta com o
“comportamento” dos participantes. Os aspectos atitudinais do jogo,
o esporte, o respeito às regras e ao adversário, o reconhecimento ao
adversário, entre outras atitudes que o esporte e o jogo trabalham
em seus praticantes.

Quando todas as dimensões dos conteúdos são abordadas, a iniciação à


prática esportiva pode contribuir de forma significativa com a formação integral do
jovem, nos mais diferentes aspectos.
A educação física pode e deve ser uma excelente ferramenta para que
crianças e jovens possam iniciar a prática esportiva nos ambientes escolares,
experimentando diferentes vivências motoras e ampliando seu repertório motor por
meio das práticas. Cabe aos profissionais de educação física buscar estratégias
diferenciadas e motivadoras para incluir o atletismo como conteúdo das aulas e
fazer com que seus alunos iniciem a prática da modalidade (COSTA, 1992).
Por ser uma modalidade individual na sua essência, o aspecto motivacional
muitas vezes é comprometido, já que o atleta, na maioria das sessões de
treinamento, realiza atividades individuais, buscando superar seus limites, suas
marcas. Assim, ele pode se sentir muito solitário e, em momentos que o resultado
esperado não chega, até impotente, diferente de outras modalidades e esportes que
são coletivos e têm outros elementos que facilitam a motivação de seus praticantes.
Diante desses fatos, sugere-se que o processo de ensino-aprendizagem do
atletismo no ambiente escolar seja aplicado por meio de atividades lúdicas, nas
quais o brincar possibilite o desenvolvimento de diferentes capacidades e
habilidades motoras, proporcionando aos seus praticantes o aprendizado do
atletismo nas suas diferentes modalidades por meio das diferentes situações que o
“brincar” proporciona.
Para Costa (1992), o atletismo a ser utilizado na escola deve ser considerado
como o “pré-atletismo”, no qual, em uma primeira fase, são desenvolvidos os gestos

19
motores básicos de correr, saltar, lançar e arremessar e, em uma segunda fase, os
elementos da primeira fase são mantidos e tarefas que exigem uma maior
codificação dos gestos motores básicos são acrescentados. Com isso, é possível
aproximar progressivamente a criança e ao adolescente do atletismo formal.
Na iniciação à pratica do atletismo no ambiente escolar, sugere-se que o
aluno seja ouvido em relação aos seus interesses e conhecimentos sobre a
modalidade, atuando como o centro das ações da aprendizagem; suas opiniões e
interesses são consideradas na construção dos conteúdos e atividades propostos.
Colocando os alunos como protagonistas, o professor pode sugerir que eles
pesquisem sobre as diferentes formas de praticar a modalidade, dos primórdios até
a atualidade, e solicitar que apresentem propostas de práticas inovadoras no
ambiente escolar, de acordo com a estrutura, materiais e equipamentos disponíveis.
Outra possibilidade metodológica interessante é a de fazer com que os
alunos criem equipamentos e materiais similares aos utilizados nas diferentes
provas de atletismo para a realização de práticas das modalidades, como bastões
para corridas de revezamento; pesos para arremesso; discos; dardos; martelos,
entre outros. Essa estratégia estimula a criatividade da turma e, consequentemente,
pode aumentar o aspecto motivacional para a realização das práticas. Como,
geralmente, boa parte das turmas em idade escolar nem sempre tem habilidades
físicas e atléticas ideais para a prática esportiva, a realização de práticas com
materiais alternativos e mais fáceis de manusear, devido ao seu peso diminuído,
pode estimular as práticas e motivar a iniciação esportiva.
Seguindo o viés metodológico anterior, outra forma de trabalhar é utilizando
vídeos de práticas antigas da modalidade, que apresentem recriações de provas do
atletismo na Grécia Antiga, nos primeiros Jogos Olímpicos da humanidade. Após o
contato com esse material, o professor pode sugerir que os alunos reconstruam
uma competição, com as provas nos moldes e regras utilizados nos Jogos
Olímpicos da Antiguidade. Essa ação, além de estimular a criatividade dos alunos,
exige que eles pesquisem aspectos históricos e analisem, de forma crítica, a
evolução da modalidade até os dias atuais (SILVA, 2016).

20
O atletismo, muitas vezes, é considerado uma prática solitária, pois, em
diferentes momentos, o atleta treina sozinho ou na presença de poucos atletas e
seu técnico. Mas, mesmo com essa característica, esse esporte pode desenvolver
em seus praticantes muitas atitudes diferenciadas, que podem ser levadas para o
resto da vida (dimensão atitudinal dos conteúdos). Uma delas, por exemplo, está na
necessidade de o atleta ter um bom autocontrole e um autoconhecimento muito
apurado para a sua prática, sabendo identificar os limites do corpo e superar
dificuldades, a dor e muitos outros problemas que podem ocorrer tanto nos
treinamentos quanto nas competições. Essas situações tornam as praticantes
pessoas mais “fortes”, preparadas para superar dificuldades comuns no nosso dia
a dia.
Ainda sobre o autoconhecimento, outro aspecto importante é o atleta
reconhecer suas potencialidades e limitações, para que saiba valorizar as vitórias,
respeitando os adversários, e compreender as derrotas, aceitando suas limitações
e a superioridade do adversário. Esses aspectos, quando bem trabalhados, evitam
frustrações, abandono precoce na modalidade e até os casos de doping.
De acordo com Fernandes (1979), o objetivo da educação física nas escolas
não visa, diretamente, à formação de atletas, mas, se for realizado um trabalho
sério, a escola pode ser considerada a árvore dos frutos a serem consumidos
futuramente, porque nela trabalha-se com a quantidade, da qual se origina a
qualidade, e é por isso que as escolas podem formar também os grandes campeões
de amanhã. Portanto, o atletismo pode ser inserido de diferentes formas como
conteúdo das aulas de educação física no ambiente escolar. Sua prática pode
contribuir tanto para a melhoria no repertório motor e físico de seus praticantes
quanto para a detecção de futuros talentos na modalidade.
A prática do atletismo não deve ser resumida somente aos ambientes
escolares, existem diversos espaços e possibilidades de iniciação esportiva na
modalidade fora do ambiente escolar. Nesses ambientes, é possível uma iniciação
esportiva mais focada no rendimento, possibilitando assim um aprimoramento das
habilidades motoras, físicas e técnicas da modalidade.

21
Fora do ambiente escolar, é possível também identificar as principais
habilidades motoras e físicas dos praticantes de forma mais aprimorada e, a partir
de um diagnóstico prévio, encaminhar o aluno para uma modalidade que possa se
adequar às habilidades do aluno.
As atividades sistematizadas fora do ambiente escolar geralmente são
realizadas em ambientes públicos (projetos de iniciação esportiva), clubes,
associações, ONGs e em outras entidades onde são promovidas práticas esportivas
diversas. A iniciação esportiva nesses ambientes, além de proporcionar uma
melhoria nos aspectos físicos e motores gerais dos praticantes, possibilita a
formação de novos atletas para uma prática visando ao rendimento esportivo.
É muito importante, na iniciação esportiva, que a criança possa participar de
diferentes tipos de competições, por elas estimulam o treinamento da modalidade
e, aos poucos, vão preparando a criança para as pressões que um atleta
normalmente passa em seu meio. As competições podem iniciar de forma interna,
dentro do próprio local de treinamento, entre os praticantes da modalidade, e irem
evoluindo para competições municipais, regionais, estaduais até chegar no nível
nacional, para os praticantes que tiverem interesse na prática atlética profissional
(FERNANDES, 1979).
O profissional que trabalha na iniciação desportiva deve realizar um trabalho
visando à formação integral da criança, oportunizando o desenvolvimento motor,
físico, técnico, tático e psicológico para a modalidade. As provas do atletismo têm
características muito distintas, e o processo de preparação deve ser bastante
personalizado. Por exemplo, as capacidades físicas e habilidades de um atleta que
participa de competições de fundo, de longa duração, são bem diferentes de atletas
que participam de provas de velocidade ou de força, como os arremessos e
lançamentos.
Além da predisposição relacionada ao biótipo do praticante, as sessões de
treinamento devem levar em conta as principais valências físicas específicas e
importantes para cada prova, como força, resistência aeróbia, resistência
anaeróbia, potência, velocidade, flexibilidade, entre outras. O trabalho específico
visando à melhoria nas condições físicas e motoras específicas da modalidade

22
potencializa o rendimento esportivo dos praticantes, facilitando a formação de novos
atletas e praticantes da modalidade.
Em suma, o atletismo é um esporte que pode ser desenvolvido tanto nos
ambientes escolares, como forma de iniciação do aluno nas diferentes modalidades,
quanto em ambientes não escolares, onde a prática já pode ser feita de forma mais
direcionada e voltada para o desempenho mais específico nas diferentes
modalidades.

3.1 Ensino-aprendizagem do atletismo e aspectos didáticos

A iniciação ao atletismo visto como um conjunto de habilidades específicas


constitui a primeira fase do processo ensino-aprendizagem desta modalidade,
utilizando-se das formas básicas de correr, saltar, lançar e arremessar.
Na atual cultura esportiva que normalmente coloca a competição e a vitória,
ou seja, o produto, como o que se tem de mais importante, não é possível negar a
relação do esporte atletismo com o rendimento, implícita na prática do atletismo
convencional. Porém, é impossível negar os processos intermediários e, tratando-
se de contexto escolar, deve-se trabalhá-lo em seu potencial e sua adaptabilidade
à interpretação recreativa e lúdica, tão ou até mais ampla que a tradicional,
reconhecendo o fato de que a maioria dos escolares não atinge o nível de atleta
(SILVA, 2016).
Correr, saltar, lançar e arremessar são as habilidades físicas de base, estão
presentes em quase todas as modalidades esportivas. Como ações motoras
naturais, significam uma função da natureza humana. Por isso, em si, os
movimentos atléticos não são desinteressantes. O que pode torná-los assim é a sua
interpretação e sistematização didática vinculadas somente ao atletismo
institucionalizado.
Assim, propõe-se o processo de ensino-aprendizagem do atletismo vinculado
à aspectos lúdicos, onde o brincar permita o desenvolvimento das capacidades
motoras básicas, possibilitando a aprendizagem do atletismo e a vivencia de

23
diferentes situações permitidas pelo brincar, favorecendo desenvolvimento integral
da criança (escolar).
De acordo com Moyles (2002), ao brincar, a criança desenvolve confiança
em si mesma e em suas capacidades, levando-a a desenvolver percepções sobre
as outras pessoas e a compreender as exigências bidirecionais de expectativa e
tolerância. O ato de brincar proporciona as crianças a oportunidade de explorar
conceitos como liberdade existentes implicitamente em muitas situações lúdicas
favorecendo o desenvolvimento de sua independência. O brincar oferece situações
em que as habilidades podem ser praticadas, tanto as físicas quanto as mentais, e
repetidas tantas vezes quanto for necessário para obter confiança e domínio, além
de permitir a exploração de seus potenciais e limitações.
Destaca-se ainda que a utilização do lúdico no processo de ensino-
aprendizagem do atletismo ganha dimensão em importância no contexto escolar
por possibilitar a participação de todos, independentemente do seu atual
desenvolvimento motor e também por se caracterizar como sendo uma atividade
prazerosa, que possibilita alegria e prazer na sua realização.

4 COMO DETECTAR E SELECIONAR TALENTOS ESPORTIVOS

A busca por atletas talentosos é algo comum nos mais diversos países que
têm o esporte como prática formalizada e organizada. O êxito esportivo está muito
relacionado ao condicionamento físico, técnico, tático e psicológico dos atletas. A
possibilidade de identificação precoce de talentos esportivos auxilia, de forma
significativa, na organização e estruturação esportiva para o rendimento.
Quando se visa ao rendimento esportivo, a detecção e seleção de talentos
esportivos é imprescindível. Para que possamos debater esse assunto de forma
mais aprofundada, vamos primeiro definir o que é “talento esportivo”.
Para Weineck (1999), “talentoso” é aquele que, com disposição, prontidão
para o desempenho e possibilidades, apresenta um desempenho acima da média
comprovada para aquela faixa etária (desempenho comprovado por competições).

24
Ou seja, aquele que tem um potencial, uma aptidão que potencializa o desempenho
esportivo, fazendo essa pessoa se sobressair à grande maioria dos praticantes na
modalidade.
Dantas et al. (2004) reforçam essa ideia quando afirmam que o indivíduo
talentoso deve somar um conjunto de capacidades genéticas e experiências
vivenciadas. O verdadeiro “campeão” nasce com uma carga genética diferenciada,
que o beneficia para a prática de esportes específicos, mas o desenvolvimento e o
ápice das potencialidades só ocorrem se houver condições favoráveis de
treinamento e desenvolvimento.
O processo de detecção e seleção de talentos está cada vez mais organizado
e baseado em estudos e critérios científicos. No passado, era muito comum a
detecção por “sorte” ou pela simples observação de profissionais da área, que
buscavam selecionar atletas no “olhômetro”. Atualmente, essas práticas já estão em
desuso; equipes organizadas se utilizam de um processo mais bem elaborado,
organizado e com critérios científicos para a detecção e seleção de atletas.
Existem estudos mais aprofundados relacionados ao mapeamento genético
de atletas, que buscam encontrar características comuns no código genético de
atletas de destaque, com o objetivo de detectar algumas diferenças entre a genética
dos atletas de alta performance e das pessoas “comuns”. Pessoas “comuns” e
atletas de elite têm absolutamente os mesmos genes. O que o genoma de atletas
pode apresentar de diferente, em comparação ao genoma das pessoas “comuns”,
são variantes no código dos genes específicos envolvidos na modulação dos
fenótipos de performance física. Os estudos apresentaram algumas evidências de
que atletas de alta performance podem ter algumas características específicas na
modulação dos fenótipos que podem interferir no desempenho diferenciado para
algumas provas específicas (por exemplo, maratonistas e velocistas).
Com a evolução dos estudos na área da genética, é muito provável que, em
pouco tempo, será possível detectar um atleta em potencial logo após os seus
primeiros anos de vida, por meio do mapeamento genético. Isso pode trazer
aspectos positivos, como a detecção e seleção de atletas com maior eficácia, e

25
também negativos, como a iniciação muito precoce ao treinamento esportivo para
o rendimento.
O atletismo, diferentemente da maioria dos esportes, principalmente dos
coletivos, tem, na maioria de suas modalidades, ações cíclicas, movimentos
repetitivos e o número de gestos técnicos e táticos muito inferior à outras
modalidades esportivas. Dessa forma, a aptidão e performance física é
extremamente relevante para o desempenho superior. Quando comparamos com
outra modalidade, como, por exemplo, o futebol de campo, os aspectos técnicos e
a habilidade superior do atleta pode amenizar alguma deficiência de performance
física do atleta; nessa modalidade, a maioria das posições não exige um biótipo
ideal, fato que é diferenciado no atletismo. Para a modalidade de 100 m rasos, por
exemplo, se o atleta não tiver um biótipo com predominância de fibras musculares
de contração rápida e força explosiva diferenciada, nunca será um atleta de
destaque na modalidade.
No Brasil, infelizmente ainda existem poucos investimentos na estruturação
e organização de programas de formação de atletas nas mais diversas modalidades
esportivas, sendo o atletismo uma delas. O país tem a riqueza de ter entre sua
população uma mistura de raças, fato que não ocorre em muitos países asiáticos
ou africanos, por exemplo. Essa diversidade favorece a predisposição atlética para
todos os tipos de modalidades esportivas.
Segundo Bojikian et al. (2007), para que ocorra a formação de atletas de
forma organizada e adequada, o processo de treinamento a longo prazo (TLP)
deveria acompanhar os atletas desde a iniciação esportiva até o alto rendimento.
Esse fato é pouco observado no Brasil, principalmente na modalidade do atletismo.
Para a iniciação esportiva visando ao alto rendimento, é preciso proporcionar
uma boa preparação psicológica do atleta, pois é necessário muita disciplina e
dedicação para superar as dificuldades da árdua rotina de treinamento. No caso do
atletismo, também é necessária muita força de vontade e dedicação, por ser uma
modalidade individual, o que muitas vezes torna a prática mais monótona e
repetitiva.

26
E uma visão geral, o processo de seleção de talentos esportivos resume-se
à escolha de alguém ou alguns entre vários sujeitos a partir de um critério de
qualidade superior. Deve-se elencar os principais aspectos que precisam ser
avaliados de acordo com os objetivos e necessidades para a atuação na
modalidade. Alguns indicadores de desenvolvimento e de desempenho esportivo,
baseados em parâmetros comparativos com atletas da mesma idade, sexo e nível
competitivo, podem ser importantes para uma seleção mais adequada de um talento
esportivo. Aspectos como informações psicológicas, dados antropométricos, do
somatótipo, da aptidão física e da habilidade motora são fundamentais em um
processo de seleção de atletas (MOYLES, 2002).
Assim, o processo de seleção de atletas fica cada vez mais criterioso e
baseado em características específicas que são fundamentais para o desportista. A
compreensão das exigências técnicas e morfológicas do esporte são essenciais
para a detecção de talentos nas categorias de base, possibilitando melhores
condições de seleção a fim de suprir as necessidades de atletas na categoria adulta,
ampliando as possibilidades de profissionalização desses atletas. Um protocolo
com testes físicos e motores que pode ser utilizado como referência para a seleção
de atletas é o PROESP–Br (Projeto Esporte Brasil). Trata-se de um sistema de
avaliação da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho esportivo de
crianças e adolescentes, que pode ser utilizado no âmbito da educação física
escolar e no esporte educacional.
São inúmeras as valências físicas e motoras consideradas importantes em
atletas do atletismo. Vejamos as mais importantes:

 Velocidade: existem diferentes modalidades e provas do atletismo


em que a velocidade é primordial. Ela é importante em provas como
as corridas de 100 e 200 m, mas também nas provas de salto em
distância. Destaca-se também a velocidade de movimentos, tanto de
membros inferiores quanto superiores, que são importantes para
impor potência ao movimento, como nos lançamentos de dardo e
disco. Exemplo de teste: corrida de 20 metros.

27
 Resistência: a resistência pode ser aeróbia (em provas de média a
longa duração) e anaeróbia (resistência à velocidade), como em
provas de 400 e 800 m de distância. O condicionamento
cardiorrespiratório é muito importante e considerado como uma base
da preparação física para muitos atletas. Exemplos de teste: teste de
Cooper (corrida de 12 minutos) e teste de Balke (corrida de 15
minutos).
 Agilidade: a agilidade é uma habilidade bastante associada à
velocidade e muito importante em muitas provas de atletismo. Trata-
se da capacidade de locomoção de forma rápida e eficiente em
diferentes direções. Exemplo de teste: teste do quadrado (corrida em
um quadrado de 4 × 4 com cones em diferentes direções.
 Flexibilidade: uma boa flexibilidade possibilita a execução de
exercícios diversos com grande amplitude articular, característica
que é muito importante nas mais diversas provas do atletismo.
Exemplo de teste: sentar e alcançar (Banco de Wells).
 Habilidades motoras: coordenação motora geral, noção espacial e
temporal, lateralidade, entre outras, são habilidades imprescindíveis
nas diversas provas do atletismo. Exemplo de teste: teste KTK.
 Força explosiva de membros inferiores: a força explosiva é uma
valência de muita importância, principalmente em provas que exigem
grande velocidade e nos saltos. Exemplo de teste: salto horizontal.
 Força explosiva de membros superiores: nas provas de
lançamentos e arremessos, essa é uma valência física fundamental
para o sucesso esportivo. Exemplo de teste: arremesso de
medicineball.

Segundo Serafim (2011), os procedimentos de testes e avaliações físicas


têm apresentado um crescente interesse por parte dos profissionais de educação
física e outras áreas afins, assim como vêm se modificando de forma significativa
influenciados pelo desenvolvimento científico e tecnológico nesse campo, levando

28
em consideração as especificidades de cada modalidade. Portanto, para uma
detecção criteriosa e eficiente de possíveis atletas, é necessário selecionar testes
que tenham validade, fidedignidade, objetividade e normas, para que possam ter
resultados confiáveis e diversificados para as diferentes modalidades.
Ao selecionar algum teste, é importante que o profissional, primeiramente,
tenha conhecimento aprofundado do teste, seus objetivos, características,
aplicação. O profissional também deve analisar se o teste se aproxima das
atividades que são desenvolvidas na modalidade ou se exige valências físicas
similares. Os critérios para avaliar um teste, segundo seu valor científico, são:
fidedignidade, objetividade, validade e normas (MATHEWS, 1980).
A quantidade de testes físicos e motores que podem ser utilizados é bastante
grande. Cabe ao profissional selecionar testes que realmente atendam às suas
necessidades e que estejam de acordo com as características que se esperam de
atletas para a modalidade. Outro aspecto importante na seleção dos testes é a
disponibilidade de tempo, local e materiais, assim, o avaliador deve verificar os tipos
de teste que são adequados para a sua realidade.
Para que se tenha o êxito e o rendimento esportivo diferenciado, a detecção
e a seleção de atletas de maneira precoce são muito importantes, permitindo a
realização de um trabalho minucioso e de uma preparação completa do atleta, nos
aspectos motores, físicos, técnicos, táticos e psicológicos. O processo de iniciação
esportiva e o treinamento no atletismo deve ser realizado de forma muito bem
organizada e estruturada, respeitando as diferentes fases de desenvolvimento da
criança e sua maturação, evitando assim uma desistência precoce na prática da
modalidade.

5 ESPECIALIZAÇÃO PRECOCE NO ATLETISMO

Já é bastante discutido e sabido que a prática esportiva é muito importante e


benéfica para o bom desenvolvimento de crianças e adolescentes. A iniciação
esportiva pode ser considerada um marco na vida da criança; se realizada de forma

29
adequada, oportuniza o desenvolvimento e o aprimoramento de inúmeras valências
físicas e motoras, além de relações sociais, cooperativas, integrativas e outros
aspectos comportamentais que o esporte proporciona.
Um problema que ocorre na maioria das modalidades esportivas voltadas
para o rendimento esportivo é a especialização precoce. Não existe um consenso
na literatura quanto à idade ideal para a iniciação esportiva especializada. Grande
parte dos autores estipulam a idade entre 12 a 13 anos como a ideal para o ensino
sistematizado de alguma modalidade esportiva (SERAFIM, 2011).
Algo ainda muito recorrente no processo de iniciação esportiva da criança é
a prática intensa de diferentes esportes de forma precoce, muitas vezes realizada
de maneira “forçada” pelos pais ou responsáveis das crianças, podendo causar um
abandono ou afastamento das modalidades pelo acúmulo de estímulos e atividades
no cotidiano da criança. É sabido, principalmente no meio da educação física, que
o acesso aos esportes e práticas físicas de maneira geral é altamente benéfico tanto
para crianças quanto para adultos. A questão a ser observada é a quantidade, a
“dose”, ou seja, a criança, em pleno processo de desenvolvimento, a criança não
deve ser sobrecarregada de atividades, nem mesmo das esportivas.
Então, o que seria o ideal? Como saber se a quantidade de atividades é
excessiva? Como evitar a especialização precoce no esporte? Todas essas
perguntas infelizmente não têm respostas prontas ou “receitas”. É necessária muita
atenção de pais, professores, dirigentes esportivos, educadores em geral, para que
diferentes aspectos possam ser respeitados e observados no processo de iniciação
esportiva.
O primeiro passo é permitir que a criança “experimente” tudo que queira na
área motora. A ela devem ser oferecidos diferentes estímulos, para que o processo
de desenvolvimento motor possa ser completo e integral. Isso pode ser
desenvolvido por meio de experiências lúdicas diversificadas, brincadeiras,
atividades de educação física no meio escolar e não escolar, jogos em casa, entre
outras vivências.
Em um segundo momento, podem ser apresentadas práticas esportivas
específicas, nas quais a iniciação ao esporte é desenvolvida de forma mais

30
sistematizada. Nesse caso, o papel do profissional de educação física é
fundamental, primeiro para o acolhimento à criança e, na sequência, para
proporcionar experiências diversificadas para que ela possa gostar e aproveitar ao
máximo a prática. Nesse momento, cabe ao professor observar se a criança já
apresenta algumas características ou habilidades para a prática esportiva que está
sendo desenvolvida ou para outro tipo de esporte, no qual seu perfil físico, motor e
comportamental poderá melhor se adequar.
Tomando alguns desses cuidados, dificilmente uma criança será afetada de
maneira negativa pela especialização precoce no esporte. Uma forma de detectar,
tanto no ambiente esportivo quanto na própria casa, se a criança está
sobrecarregada nas atividades de iniciação esportiva é observar seu
comportamento e conversar frequentemente com ela (SILVA, 2016).
A motivação que a pessoa apresenta na realização de uma atividade é um
dos parâmetros para analisar se aquele exercício, jogo, esporte está sendo
agradável ou maçante. Quando comportamentos de pouca motivação são
observados com frequência durante as práticas, é importante que a criança seja
ouvida e possa falar dos motivos para ela não estar gostando das práticas. Queixas
constantes de dor muscular, cansaço, sonolência, desculpas para não ir treinar são
sintomas que podem indicar que algo errado está ocorrendo no processo de
iniciação esportiva.
Entre os diferentes motivos para o abandono das práticas esportivas estão:

 Início muito precoce na modalidade: muitas práticas esportivas


são oferecidas de forma especializada muito precocemente. Isso é
comum em esportes como a ginástica e o futsal, nos quais as
crianças iniciam a prática esportiva a partir de 4 ou 5 anos de idade;
 Carga muito intensa de treinamentos: a alta carga de treinamento
especializado pode acarretar na desmotivação do aluno para a
prática esportiva. Sintomas como faltas às sessões de treinamento,
queixas frequentes de dores musculares ou articulares, lesões, baixa

31
imunidade, diminuição do desempenho esportivo, podem ser sinais
de alerta aos professore e pais de atletas;
 Baixo desempenho esportivo: o baixo desempenho nos resultados
alcançados em competições da modalidade ou em testes durante o
treinamento pode desmotivar o aluno para a sequência das etapas.
Os fatores motivação, autoconfiança, determinação, trabalho em
equipe e outros que podem servir como estímulo para o aluno devem
ser reforçados constantemente.

O atletismo como prática esportiva profissional para muitas crianças é visto


como uma oportunidade de ascensão financeira e social. Como exemplo podemos
citar crianças na Etiópia e no Quênia, que se espelham nos grandes atletas do país
e iniciam de forma bastante precoce os treinamentos, na busca do profissionalismo
e do sucesso no esporte. No Brasil, o esporte é um fenômeno cada vez mais
presente na sociedade e na vida de muitas crianças; influenciadas pelos seus pais,
buscam um possível profissionalismo e o sucesso por meio do esporte, ou buscam
uma mera prática voltada ao bem-estar e à melhoria da qualidade de vida (SILVA,
2016).
Normalmente, o primeiro contato da criança com o esporte de forma mais
sistematizada ocorre nas escolas, por isso a grande importância de um bom
trabalho dos profissionais de educação física. Após a iniciação escolar, muitos
buscam outros locais para a prática mais sistematizada, como clubes, associações,
departamentos de esporte da prefeitura, academias, escolinhas privadas e até nas
praças, onde, por meio de atividades lúdicas, brincadeiras e jogos, aspectos
técnicos (como correr, saltar, arremessar) e físicos (como potência, velocidade,
agilidade) do atletismo são estimulados constantemente.
Machado (2008) destaca a importância de a iniciação esportiva ser feita
respeitando a criança em sua totalidade, ou seja, considerando suas limitações,
desenvolvimento físico, psíquico e social. Só assim ela proporcionará diversos
benefícios aos praticantes. Entretanto, na prática, o que se observa nem sempre

32
segue os padrões e critérios que seriam considerados ideais para a iniciação
esportiva.
Debater sobre a especialização precoce é muito importante, não para
apontar o que é certo ou errado nas práticas, mas sim para que se possa ter uma
reflexão aprofundada, analisando os mais diferentes aspectos que envolvem a
situação, identificando os aspectos positivos e negativos e, a partir de aí ter uma
opinião formada sobre o assunto e ações práticas de acordo com as conclusões.
De maneira geral no cenário mundial, o esporte se tornou um negócio muito
rentável envolvendo cifras altíssimas de investidores e patrocinadores. Isso
modificou algumas características das práticas que, em muitos períodos da história,
serviam simplesmente para “medir forças e habilidades” entre os oponentes e
também como forma de união e confraternização de diferentes povos. Na
atualidade, também se observa uma grande influência política no esporte, que utiliza
seus atletas para demonstrar a força da nação e seu poder, conseguindo, por meio
do esporte, visibilidade e atenção mundial, sendo também um objeto de
manipulação da classe dominante.
Kunz (1994) apresenta em seus estudos uma análise crítica do esporte de
rendimento, colocando como principais problemas o treinamento especializado
precoce e o uso do doping. De acordo com o autor, esses aspectos podem,
inclusive, levar à autodestruição do esporte e de seus praticantes, perdendo sua
essência principal.
Referente à especialização precoce no esporte, destacam-se o atletismo, a
natação e a ginástica, nos quais, em diferentes partes do mundo, a prática é iniciada
de forma sistematizada com crianças em idade de formação básica do repertório
motor. Muitas a partir dos 4 anos de idade iniciam uma prática de forma mais
especializada, e essa prática pode trazer efeitos nocivos tanto para o processo de
desenvolvimento da criança quanto para aspectos psicológicos, caso a criança seja
submetida a competições de forma prematura, sendo colocada em situações de
pressão não adequadas para a faixa etária. Isso pode gerar frustrações e sensação
de derrota, que podem ser levadas para a vida toda (SILVA, 2016).

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Sobre a especialização precoce no atletismo, o professor Kunz (1983) fez um
estudo sobre a duração da vida atlética de praticantes de atletismo e os efeitos da
especialização precoce. Entre os resultados, destacam-se:

 Formação escolar deficiente, devido à grande exigência em


acompanhar com êxito a carreira esportiva;
 Unilateralização de um desenvolvimento que deveria ser plural;
 Reduzida participação em atividades comuns às crianças, como
jogos, brincadeiras e atividades do mundo infantil;
 Influência negativa na saúde física e psicológica, devido às grandes
pressões comuns no esporte de rendimento.

Embora essa pesquisa tenha sido realizada na década de 1980, os


resultados ainda são muito atuais e representam o efeito do treinamento precoce
em muitos aspectos.
Oliveira (1994) alerta para o fato de que a criança moderna está
frequentemente exposta à um excesso de atividades no seu cotidiano, muitas vezes
impostas pelos seus pais, como esportes, inglês, violão, computador, ballet,
catequese, tarefas escolares entre outras. Dessa forma, as crianças assemelham-
-se mais a “mini executivos”, que não conseguem administrar seu dia nem escolher
suas próprias atividades. A sobrecarga emocional como consequência da cobrança
que pais, professores ou treinadores fazem para a performance positiva na prática
esportiva de resultado tem sido grande fonte de estresse em crianças.
Um dos principais aspectos motivadores, principalmente do atletismo, são os
resultados, tanto nos treinos quanto nas competições (vitórias, medalhas). Quando
o atleta não consegue “enxergar” esses resultados de acordo com suas
expectativas, a possibilidade de abandono da prática é muito grande. Isso
acontecendo, outras situações podem ocorrer, como a sensação de frustração,
impotência, derrota, incapacidade. O praticante, ao perceber que dedicou grande
parte de sua vida para a prática esportiva, frequentemente deixando de lado coisas
importantes, como estudos, lazer, relacionamentos, família, profissão, sem, no

34
entanto, ter os resultados esportivos esperados, tem muitas vezes a sensação de
derrota total. Isso, se não for bem trabalhado, pode ocasionar muitos problemas
emocionais e comportamentais nos atletas.
O profissional que trabalha na iniciação esportiva deve ter um conhecimento
muito aprofundado da modalidade e também acompanhar, de maneira muito
próxima, o desenvolvimento do atleta, analisando não somente o desempenho
físico e técnico do atleta, mas também seu comportamento, aspectos sociais e
emocionais.
A especialização precoce não pode ser analisada somente sobre os seus
aspectos negativos. Existem muitos fatores positivos que, quando levados em
consideração, proporcionam diferentes benefícios aos seus praticantes. A prática
precoce e especializada de uma modalidade esportiva permite ao atleta o
aprimoramento de valências físicas, técnicas e táticas do esporte de forma a facilitar
o desempenho esportivo e, consequentemente, os resultados positivos na
modalidade. Outro aspecto importante e destacado por muitos incentivadores do
treinamento esportivo precoce é o aprendizado que a pressão das competições
pode trazer, preparando o atleta para a sua vida pessoal.
A prática esportiva precoce ainda proporciona ao atleta uma disciplina e
rotina na sua vida pessoal. O atleta precisa seguir à risca um planejamento para
que os resultados possam ocorrer de forma positiva e essa habilidade pode ser
levada para a sua vida pessoal (MACHADO, 2008).
O atletismo é uma modalidade esportiva que envolve diferentes aspectos
para a sua prática e pode ser desenvolvida desde a idade escolar até a terceira
idade, sem restrições. Pode ser trabalhado nos ambientes escolares, como
conteúdo das aulas de educação física, e possibilita o desenvolvimento de valências
físicas, motoras e técnicas diversificadas. Por ter uma diversidade de provas no rol
de suas práticas, como, corridas, saltos, lançamentos e arremesso, oportuniza, de
forma democrática, a prática de todos que tiverem interesse. Sua prática muitas
vezes não exige materiais ou equipamentos específicos, fato que facilita o seu
acesso por qualquer pessoa que queira iniciar a prática. Pode ser desenvolvido

35
como uma mera prática esportiva voltada ao lazer ou à saúde ou também de forma
mais sistematizada, voltada para o rendimento esportivo.

6 AS DIFERENTES MODALIDADES QUE COMPÕEM O ESCOPO DO


ATLETISMO

Segundo a CBAt (2019), o atletismo está basicamente dividido em provas de


campo, que são formadas pelas provas de saltos, arremessos e lançamentos, e
provas de pista, que são as provas de corridas. Existem as provas combinadas, que
são formadas tanto por provas de campo como por provas de pista. Também
existem as provas de pedestrianismo, que ocorrem nas ruas, entre elas a maratona
(42,195 km), e as provas de marcha atlética de 20 km, para homens e mulheres, e
de 50 km, apenas para homens.
O quadro a seguir apresenta um resumo das provas oficiais de pista, de
campo e combinadas.

36
6.1 Provas de pista

Segundo SILVA (2016), as provas de pista ocorrem no estádio de atletismo,


na pista de corrida, que possui a distância de 400 metros medidos na raia interna e
é formada normalmente por oito raias. Algumas provas ocorrem na reta, como é o
caso dos 100 metros rasos e dos 110 metros com barreiras.

37
Já outras provas ocorrem utilizando as curvas. Nesse caso, para compensar
a diferença entre quem larga na raia interna e quem larga na raia externa, são
utilizadas as largadas escalonadas; assim, o atleta que está na raia externa larga
um pouco à frente para compensar a corrida na curva e realizar o mesmo percurso
de quem está na raia interna, conforme descreve a CBAt (CBAT; IAFF, 2017).
As provas de corrida no atletismo são diferentes não apenas pela distância a
ser percorrida, mas também por possuírem particularidades, podendo variar nos
seguintes aspectos:

 ser individual ou coletiva;


 ser balizada ou não;
 tipo de saída;
 ser rasa ou com obstáculo;
 ritmo executado.

As provas balizadas são aquelas provas em que o atleta larga em uma raia
predeterminada, mas não necessariamente permanece naquela raia até o fim da
prova. Portanto, algumas provas podem ser consideradas totalmente balizadas, em
que o atleta inicia e termina a prova na mesma raia, ou parcialmente balizadas, em
que o atleta apenas inicia na raia predeterminada, mas não termina
necessariamente na mesma. Normalmente, as provas balizadas possuem um
percurso mais curto (FERNANDES, 2003). São exemplos de provas totalmente
balizadas: 100, 200 e 400 metros rasos; 100, 110 e 400 metros com barreiras; e
revezamento 4 × 100 metros rasos. São exemplos de provas parcialmente
balizadas: 800 metros rasos; e revezamento 4 × 400 metros rasos.
Já as provas não balizadas são aquelas em que o atleta corre sem se
preocupar com as raias e normalmente se posiciona na raia interna; é comum
encontrar mais de um atleta na mesma raia. Essas provas também possuem um
percurso mais longo (FERNANDES, 2003). São exemplos de provas não balizadas:
1.500, 5.000 e 10.000 metros rasos; e 3.000 metros com obstáculos.

38
As provas também podem se diferenciar entre rasas ou com obstáculos. Nas
provas rasas, o atleta não tem nenhum obstáculo à sua frente. Já as provas com
obstáculos podem ser do tipo com barreira ou com obstáculos. As provas com
barreiras apresentam um percurso mais curto, como as provas de velocidade, em
que são posicionadas 10 barreiras ao longo do percurso; essas barreiras variam de
altura, de acordo com a prova e o sexo. Já as provas de obstáculos possuem
distâncias maiores; são posicionados quatro obstáculos e um fosso de água, e a
altura desses obstáculos também varia entre homens (0,91 m) e mulheres (0,76 m),
conforme aponta a CBAt (CBAT; IAFF, 2017). A Figura 1 mostra as diferenças entre
as provas com obstáculos.

39
O tipo de saída também é diferente, dependendo do tipo de prova, sendo
classificadas como saídas do tipo baixa ou alta. As saídas altas são utilizadas em
provas com percursos mais longos, como 800 m, 1500 m, 5.000 m e 10.000 m rasos
e 3.000 m com obstáculos. Já as saídas baixas são realizadas em quatro apoios,
com auxílio do bloco de partida; são utilizadas nas provas com percurso mais curto,
como 100 m, 200 m e 400 m rasos, provas de barreiras e revezamentos
(FERNANDES, 2003).

6.2 Provas de campo

As provas de campo ocorrem normalmente na parte interna da pista de


corrida, principalmente as provas de arremessos e lançamentos, podendo algumas
provas ocorrer no entorno da pista, como é o caso do salto em distância e triplo,
mas tudo isso depende do estádio de atletismo. Os locais possuem algumas
características específicas, segundo as regras da CBAt (CBAT; IAFF, 2017).
Salto em distância: tem como objetivo atingir a maior distância com apenas
uma impulsão. Para tanto, o atleta tem uma área para realizar uma corrida para
ganhar velocidade, denominada corrida de aceleração, e depois, utilizando uma
tábua de madeira posicionada no nível do solo, realiza um impulso com apenas um
dos pés, aterrissando em uma área de areia. Cada atleta tem direito a três saltos;
caso avance para a final, terá direito a mais três saltos, sendo válido o melhor dos
seis saltos para a sua classificação final.
Salto triplo: tem como objetivo atingir a maior distância com três impulsões
com as pernas direita, direita e esquerda ou esquerda, esquerda e direita. Para
tanto, o atleta tem uma área para realizar a corrida de aceleração; depois, utilizando
uma tábua de madeira posicionada no nível do solo, realiza a primeira impulsão. Há
uma área maior para serem realizadas as outras duas impulsões, antes de o atleta
aterrissar na área de areia. Cada atleta tem direito a três saltos; caso avance para
a final, terá direito a mais três saltos, sendo válido o melhor dos seis saltos para a
sua classificação final.

40
Salto em altura: tem como objetivo atingir a maior altura com apenas uma
impulsão, sendo a mesma realizada apenas com uma perna. Possui uma área
semicircular para realizar a corrida de aceleração; durante a prova, os atletas
acabam utilizando também uma parte da pista de corrida para iniciar a corrida de
aceleração. O salto é realizado sobre uma haste, denominada sarrafo, que é
posicionada em uma altura predeterminada, o qual pode ser tocado, mas não pode
ser derrubado. O sarrafo vai sendo elevado a cada rodada, sendo que o atleta pode
recusar-se a saltar qualquer rodada; porém, três saltos sem êxito consecutivos
eliminam o atleta da prova.
Salto com vara: tem como objetivo realizar o salto com auxílio de uma vara,
normalmente de fibra de vidro. Para tanto, o atleta realiza uma corrida de aceleração
e encaixa a vara no solo. Assim como no salto em altura, o salto é realizado sobre
o sarrafo, que é posicionado em uma altura predeterminada, sendo elevado a cada
rodada. O atleta pode recusar-se a saltar qualquer rodada, porém, três saltos sem
êxito consecutivos eliminam o atleta da prova (SILVA, 2016).
Lançamento do disco: tem como objetivo lançar um disco de 2 kg, para
homens, e 1 kg, para mulheres. O atleta tem uma área circular de 2,5 metros de
diâmetro, onde pode realizar um deslocamento para criar uma aceleração e depois
lançar o disco, utilizando apenas uma das mãos. Em torno desse círculo, há uma
grade de proteção, para segurança. O disco normalmente é lançado em um
gramado. A distância é considerada onde o disco tocar o solo primeiro. Cada atleta
tem direito a três lançamentos; caso avance para a final, terá direito a mais três,
sendo válido o melhor dos seis lançamentos para a sua classificação final.
Lançamento do dardo: tem como objetivo lançar um dardo de 800 g, para
homens, e 600 g, para mulheres. O atleta tem uma área para correr, onde pode
realizar um deslocamento para criar uma aceleração e depois lançar o dardo,
utilizando apenas uma das mãos. Essa área também acaba utilizando uma parte da
pista de corrida. O dardo é lançado no gramado, não precisando fincar, apenas tocar
o solo com a ponta. A distância é considerada onde a ponta do dardo tocar o solo
primeiro. Cada atleta tem direito a três lançamentos; caso avance para a final, terá

41
direito a mais três, sendo válido o melhor dos seis lançamentos para a sua
classificação final.
Lançamento do martelo: tem como objetivo lançar um martelo, que é
formado por uma bola de ferro de 7,26 kg, para homens, e de 4 kg, para mulheres,
seguido de uma haste metálica e uma manopla, onde o atleta apoia as duas mãos.
O atleta tem uma área circular de 2,13 metros de diâmetro, onde pode realizar um
deslocamento para criar uma aceleração e, depois, lançar o martelo, utilizando as
duas mãos. Em torno desse círculo, assim como no lançamento do disco, há uma
grade de proteção, para segurança. O martelo normalmente é lançado em um
gramado. A distância é considerada onde o martelo tocar o solo primeiro. Cada
atleta tem direito a três lançamentos; caso avance para a final terá direito a mais
três, sendo válido o melhor dos seis lançamentos para a sua classificação final.
Arremesso de peso: tem como objetivo arremessar um peso, que é uma
bola de metal com 7,2 kg, para homens, e 4 kg, para mulheres. O atleta tem uma
área circular de 2,13 metros de diâmetro, onde pode realizar um deslocamento para
criar uma aceleração e depois arremessar o peso, utilizando apenas uma das mãos.
Há também um pequeno degrau que separa a área de aceleração da área de queda,
denominado anteparo. O peso normalmente é arremessado em um gramado, e a
distância é medida até o local onde o peso tocar o solo primeiro. Cada atleta tem
direito a três arremessos; caso avance para a final, terá direito a mais três, sendo
válido o melhor dos seis arremessos para a sua classificação final (SILVA, 2016).

42
6.3 Provas combinadas

Essas provas combinam tanto provas de pista como provas de campo. Nas
provas combinadas, o atleta realiza diversas provas e, após o resultado de cada
prova, recebe uma pontuação, de acordo com a marca obtida; existe uma tabela de
pontos que regulamenta isso. Vence o atleta que obtiver a maior pontuação;
portanto, uma regularidade nos resultados contribui muito para o resultado (SILVA,
2016).
Assim, um atleta de provas combinadas deve possuir qualidades que o
destaquem em diversas provas. No entanto, isso acaba sendo difícil de obter, pois,
devido às especificidades de cada prova, várias capacidades físicas são exigidas.
O exemplo mais claro pode ser demonstrado ao se comparar um atleta de
velocidade com um atleta de resistência; são capacidades físicas totalmente
43
diferentes que precisam ser desenvolvidas. Portanto, o atleta de provas combinadas
acaba sendo conhecido como o atleta mais completo.

O atletismo possui provas de pista, campo e combinadas, que apresentam


diversas características que as diferenciam. Dessa forma, acabam exigindo
habilidades diferentes, que também podem ser aproveitadas em outros esportes.

7 RELAÇÃO ENTRE A EXIGÊNCIA FÍSICA E OS GESTOS MOTORES DO


ATLETISMO E AS DIFERENTES MODALIDADES ESPORTIVAS

As principais capacidades físicas do atletismo, segundo Rius Sant (1989),


são força, resistência e velocidade, capacidades essas que são amplamente
necessárias em diversos esportes.
Assim, atividades para o treinamento ou a iniciação no atletismo também
podem ser aproveitadas em outros esportes. Por exemplo, para o desenvolvimento
da velocidade, pode-se realizar corridas em curtas distâncias; já para a resistência,
usamos corridas com longas distâncias. Vários esportes, como handebol e futebol,
usam essas atividades com a mesma finalidade: desenvolver velocidade e
resistência.

44
As ações motoras de correr, saltar, lançar ou arremessar também são
amplamente observadas em outros esportes. Por exemplo, durante um jogo de
basquete, um atleta corre atrás da bola, ou salta para pegar a bola no ar ou bloquear
um ataque, em um deslocamento de ataque e defesa, além de precisar ter
percepção espacial para saltar e realizar uma bandeja ou, simplesmente,
arremessar a bola na cesta. Perceba que são todas ações primárias que derivam
do atletismo: correr, saltar e arremessar. Assim, pode-se dizer que o atletismo é a
base para muitos esportes.
Portanto, pode-se analisar que, ao correr, essa corrida pode equivaler a uma
corrida em velocidade ou de resistência, dependendo da intensidade e duração
empregadas. Muitas atividades de iniciação trabalham essa corrida com
deslocamentos curtos; além disso, a corrida é amplamente utilizada para melhorar
a condição cardiorrespiratória e, consequentemente, a resistência aeróbia. Quando
um atleta salta para pegar uma bola ou bloquear um ataque, pode-se relacionar tal
ato a um salto em distância, em que ele realiza a impulsão também com apenas um
dos pés, aproveitando, assim, sua velocidade de deslocamento. Além disso, uma
das formas de se desenvolver a potência no salto em distância é por meio de
exercícios pliométricos, que também são utilizados em outros esportes durante o
processo de treinamento, com a mesma finalidade.
A percepção espacial de saltar até a bandeja também pode ser relacionada
à percepção durante o salto em altura: se o atleta se aproximar demais do sarrafo,
derruba ele na subida; se acabar se afastando demais, acaba não chegando até o
sarrafo ou derrubando ele na descida. Portanto, o atleta precisa ter a percepção do
ponto certo para fazer a impulsão e passar sem derrubar o sarrafo. O mesmo ocorre
na bandeja: se ele fizer a impulsão antes, acaba não chegando próximo ao aro da
tabela; se fizer a impulsão depois, acaba entrando muito embaixo do aro e não
conseguindo finalizar o movimento. Assim, o ponto correto para a impulsão também
deve ser percebido. O gesto de arremessar equivale ao gesto de empurrar algo;
assim, quando o atleta faz o arremesso de peso no atletismo, realiza um gesto
semelhante a empurrar a bola (SILVA, 2016).

45
Assim, o atletismo acaba sendo um esporte que exige diversas capacidades
físicas, o que permite associá-lo a diversos esportes. Assim como em diversos
esportes o biótipo e determinadas capacidades físicas são importantes para o
sucesso e a ótima performance, algumas provas do atletismo também requerem
certas condições físicas, além de contribuírem para o desenvolvimento de algumas
capacidades físicas.

Na sequência, são apresentados alguns atributos físicos necessários para


algumas provas, bem como atributos que podem ser desenvolvidos por meio delas.

7.1 Lançamento do disco

Dentre os principais atributos físicos necessários para a prova de lançamento


do disco estão a força e a velocidade, que resultarão na potência do lançamento,
para lançar o disco o mais longe possível. As forças em membros inferiores, tronco
e membros superiores são bem importantes, pois, devido à aceleração na parte final
do lançamento, com o disco vindo atrasado em relação à linha dos ombros e sendo
lançado lateralmente, o tronco contribui tanto na aceleração como na estabilidade
do movimento. A falta de estabilidade em membros inferiores pode desequilibrar o

46
lançamento, prejudicando o ângulo de saída. Além disso, como o espaço para o
deslocamento é restrito, uma boa mobilidade e agilidade são fundamentais para
acelerar o disco antes do lançamento. Segundo Schmolinsky (1982), uma estatura
adequada para iniciar os treinos seria de 1,75 m para as mulheres e 1,85 m para os
homens. O peso, devido ao volume muscular, pode ficar entre 70 e 75 kg para as
mulheres e entre 95 e 100 kg para os homens.

7.2 Lançamento do dardo

No lançamento do dardo, não há um limite máximo para a corrida de


aceleração; dessa forma, há uma área maior para acelerar o dardo antes de ser
lançado, diferentemente dos outros lançamentos. Segundo Barros e Dezem (1990),
essa corrida deve ser progressiva e veloz, mas sem que atrapalhe a coordenação
durante o lançamento.
São necessárias uma força explosiva (potência) para o lançamento, uma
boa velocidade para a corrida de aproximação e, principalmente, uma boa
aceleração nos 30 metros iniciais. A agilidade é bem importante na mudança da
posição do corpo da fase de aproximação para a fase preparatória, mantendo a
velocidade adquirida. Uma boa mobilidade de ombro permite ao atleta aumentar o
tempo da fase de aceleração antes de lançar o dardo. Os lançadores, de acordo
com Schmolinsky (1982), possuem, de certa forma, uma estatura mediana, com
alturas próximas a 1,75 m para as mulheres e 1,80 m para os homens, com peso
aproximado de 70 kg e 90 kg para mulheres e homens, respectivamente.

47
7.3 Lançamento do martelo

A velocidade de aceleração do martelo, de acordo com Schmolinsky (1982),


é fundamental para um bom lançamento, podendo chegar a 27 m/s no momento do
lançamento. Além disso, é uma prova que, devido ao peso do martelo, exige uma
grande força, principalmente nos membros inferiores, bem como uma boa força
explosiva. A força é importante devido à fase final do lançamento, em que o atleta
tem que suportar uma grande carga devido à força centrífuga; por isso, uma boa
força em membros inferiores, costas e mãos é essencial nessa fase.
Essa prova exige uma grande agilidade específica, devido ao complexo
movimento de deslocamento, podendo ser considerada uma das provas mais
difíceis, pois a aceleração de três voltas exige um grande equilíbrio e sentido de
orientação. Também é exigida uma boa mobilidade de ombros, quadril e coluna
vertebral, devido aos movimentos iniciais de aceleração do martelo.

48
7.4 Arremesso do peso

Segundo Fernandes (1978), entre as capacidades físicas mais importantes


do arremessador de peso estão a força e a velocidade. Dessa forma, a força máxima
é algo a ser trabalhado durante os treinamentos. Devido à técnica, a estatura é um
fator que pode facilitar o arremesso. A velocidade é outro fator importante, no intuito
de acelerar o peso a ser lançado, facilitando, assim, a aplicação da força, afinal, a
área de aceleração é bem restrita. A velocidade do peso no momento da saída,
segundo Schmolinsky (1982), pode chegar a aproximadamente 12 m/s. A estatura
dos arremessadores está em torno de 1,92 m para os homens e 1,77 m para as
mulheres, já o peso, entre 120 kg para os homens e 86 kg para as mulheres.

7.5 Salto em distância

O salto em distância, segundo Barros e Dezem (1990), é uma das habilidades


mais naturais do ser humano, sendo comumente observada em diversas
brincadeiras infantis. Os saltadores em distância precisam de uma boa velocidade.
Segundo Schmolinsky (1982), os saltadores na marca de 8 metros correm os 100
metros rasos em 10,5 segundos, enquanto as mulheres que saltam mais de 6,5
metros correm os mesmos 100 metros em menos de 12 segundos. Dessa forma,
percebe-se que a velocidade é um fator importante para o salto em distância não
somente a velocidade, mas também a capacidade de aceleração nos metros
iniciais. Uma boa percepção rítmica é importante para a aproximação até a tábua
de impulsão, para que o atleta não perca velocidade e chegue com o pé

49
corretamente posicionado para o salto. Além disso, é necessária boa agilidade para
conduzir o corpo durante a fase de voo.

7.6 Salto triplo

O salto triplo, segundo Fernandes (1984), tem características parecidas com


as do salto em distância, já que também exige uma boa velocidade de aproximação
dos atletas, mas, principalmente, necessita de uma boa transferência de energia
para os próximos saltos dessa forma, exige uma boa força reativa. Portanto, os
saltadores precisam de uma força específica, principalmente na transição do
primeiro salto para o segundo, no local onde o atleta aterrissou e vai gerar o novo
impulso, com a mesma perna. Além disso, é necessário boa coordenação e
agilidade, para realizar as trocas de pernas sem perda de velocidade para realizar
o terceiro salto, assim como uma boa sensibilidade rítmica.
Assim como no salto em distância, esportes que necessitam de percepção
rítmica fazem uso dos saltos. Exercícios que desenvolvem a potência são
amplamente utilizados, como saltos sequenciais, estimulando a força reativa.

7.7 Salto em altura

O salto em altura apresentou uma evolução técnica nítida, segundo Barros e


Dezem (1990), pois a passagem sobre o sarrafo inicialmente era realizada na
posição sentada, com o movimento do salto tesoura, e depois evoluiu para a
posição deitada de costas, conhecida como Fosbury flop, atingindo, assim, maiores
alturas. Entre as capacidades físicas do salto em altura está a boa capacidade de
saltar, ou seja, transformar a energia horizontal em vertical, para passar
determinada altura. Assim, segundo Schmolinsky (1982), uma boa estatura
associada principalmente com um bom comprimento de pernas facilita a execução
do salto, com os homens chegando a aproximadamente 1,90 m, e as mulheres, 1,79
m, com pesos de 80 kg, para os homens, e 66 kg, para as mulheres. A agilidade é
fundamental na coordenação dos movimentos; após a impulsão, ela dará

50
continuidade ao movimento. Uma boa percepção espaço-temporal vai contribuir
para a aproximação, para realizar a impulsão em um ponto adequado para a
realização do salto e a transposição do sarrafo.

7.8 Salto com vara

Segundo Barros e Dezem (1990), o surgimento e a utilização da vara de fibra


trouxeram mudanças técnicas para o salto, bem como uma grande evolução nos
resultados. Entre as capacidades físicas do saltador, muitas são adquiridas com o
treinamento; no entanto, a pegada é uma capacidade que não tem como alterar, é
o ponto em que o atleta, com os braços estendidos, alcança a vara.
A velocidade de aproximação, em conjunto com o poder de chamada, são
capacidades bem importantes, pois vão converter a velocidade horizontal em altura
ao conseguir uma boa transferência de energia, sendo necessária essa velocidade
para a vara vergar. A chamada é o último impulso antes de deixar o solo; assim,
uma corrida estável e um bom encaixe da vara darão sequência às próximas fases
com sucesso. Na continuação do salto, outra capacidade importante é a força em
membros superiores e no tronco, para a projeção dos membros inferiores em
direção ao sarrafo. Toda essa movimentação do corpo sobre a vara exige muita
agilidade, destreza e equilíbrio.

51
7.9 Corridas

As provas de corrida apresentam algumas particularidades fisiológicas


relacionadas ao tempo de realização da prova. A velocidade com que uma prova é
concluída está relacionada com o tempo que o atleta demora em sua conclusão.
Porém, de acordo com o tempo de execução de uma determinada prova, as vias
energéticas começam a se esgotar; assim, um atleta não tem a capacidade de
sustentar uma determinada velocidade por muito tempo, devido ao esgotamento de
seus recursos energéticos. Por isso, segundo Schmolinsky (1982), cada prova tem
uma determinada característica de ritmo, que vai priorizar determinada via
energética; conforme o aumento do tempo de duração da prova, há uma maior
contribuição do sistema aeróbio (oxidativo).

7.10 Corridas de velocidade

Força, velocidade e resistência de velocidade são atributos físicos


importantes para o desenvolvimento da performance nas corridas de velocidade,
sendo desenvolvidos com exercícios de força gerais e específicos ao gesto em
associação à velocidade. Segundo Schmolinsky (1982), a força contribui para a
aceleração. A velocidade está associada à rapidez na execução dos movimentos,
que exige uma grande coordenação. A resistência de velocidade é fundamental,
devido à capacidade de sustentar a velocidade, criando adaptações fisiológicas e
atendendo à demanda energética necessária.

52
Algumas provas são classificadas como “velocidade pura”, segundo
Fernandes (2003), como é o caso dos 100 e 200 metros rasos. Nessas provas, o
objetivo é atingir a velocidade máxima o mais rápido possível e tentar sustentá-la o
máximo possível também. Como são provas mais curtas, usam predominantemente
como via energética o sistema ATP-CP., portanto, atletas que tenham um
predomínio de fibras do tipo II acabam tendo certa vantagem nesses tipos de
provas; o objetivo com o treino é melhorar as reservas de ATP-CP. As provas de
100 e 110 metros com barreiras também possuem essa característica. Além disso,
os atletas que competem nessas provas têm como característica pernas compridas,
o que facilita a passagem das barreiras.
Nas provas classificadas como velocidade prolongada, como é o caso dos
400 metros rasos, o atleta tenta sustentar a velocidade máxima por um período
maior; como chegam próximos à velocidade máxima e devido à duração da prova,
acabam priorizando o sistema glicolítico. Portanto, atletas que tenham um
predomínio de fibras do tipo II também acabam tendo certa vantagem nesses tipos
de provas, mas começam a ser mais leves do que os atletas de velocidade pura. O
objetivo com o treino é melhorar o aproveitamento das reservas glicolíticas, ou seja,
tanto o glicogênio muscular como o hepático. A prova de 400 metros com barreiras
também possui essa característica.

53
7.11 Corridas de resistência

A resistência está relacionada à duração da corrida; quanto maior essa


duração, maior deve ser a resistência ou a capacidade de sustentar um trabalho.
Cada distância exige um certo grau de intensidade relativa (SCHMOLINSKY, 1982).
Assim, quanto maior a distância, maior a contribuição do sistema aeróbio, e quanto
menor a distância, maior a contribuição do sistema anaeróbio.
Assim, nas provas de meio-fundo, como é o caso dos 800 e 1.500 metros
rasos, ocorre uma cadência no ritmo, mas ainda há estímulos de velocidade,
ocorrendo um equilíbrio entre a resistência e a velocidade. Portanto, ocorre também
um equilíbrio entre o sistema glicolítico e o oxidativo.
Essa é a razão de atletas que tenham um equilíbrio de fibras do tipo I e II
acabam tendo certa vantagem nesses tipos de provas, pois elas também
necessitam de velocidade. O objetivo com o treino é melhorar o aproveitamento das
reservas glicolíticas e oxidativas, melhorando principalmente a capacidade de
manter a velocidade alta usando o sistema oxidativo. Nas provas de fundo, como é
o caso dos 5.000 e 10.000 metros rasos, há uma exigência maior de resistência;
assim, o ritmo também é mais cadenciado. Devido à duração da prova, há um
predomínio do sistema oxidativo. Portanto, atletas que tenham um predomínio de
fibras do tipo I acabam tendo certa vantagem nesses tipos de provas. Os objetivos
do treino são melhorar o aproveitamento das reservas oxidativas e aumentar o
número de mitocôndrias, para maximizar a produção energética com o sistema
oxidativo, além de melhorar a capilarização muscular, permitindo, assim, o
fornecimento de oxigênio às fibras musculares. Os atletas que correm os 3.000
metros com obstáculos também possuem essas características (SILVA, 2016).
O atletismo é um dos esportes mais antigos e está relacionado a capacidades
físicas naturais do ser humano. Evoluiu em suas competições ao longo dos anos
com regras que permitiram difundir o esporte e tornar a disputa mais justa. Além
disso, sua aplicação na iniciação esportiva para o desenvolvimento das
capacidades motoras é bem relevante. É formado por diversas provas que
apresentam características físicas específicas, o que permite a participação de um

54
público diversificado. Assim, uma pessoa pode experimentar o atletismo e ver em
qual prova ela tem maior destaque ou facilidade, principalmente devido às suas
características físicas.

8 CORRIDAS RÚSTICAS OU PEDESTRIANISMO

A corrida rústica é um esporte incomum, denominado multidesporto, o qual


envolve corrida, aventura e experiência humana. Os atletas participam em grupos
de ambos os sexos, com o objetivo de percorrer determinada distância no menor
tempo possível, exigindo o máximo de suas resistências física e mental. A duração
da corrida varia de horas a dias e noites contínuos, sendo necessários meses de
planejamento e preparação intensa e a orientação dos atletas pode ser feita por
bússolas, mapas e altímetros.

Fonte: https://ultramacho.com.br

55
8.1 O ato de caminhar

O ato de caminhar está associado à história do pensamento e dos homens


que desde sempre atravessaram continentes para procurar alimento,
transacionar, conquistar terras e povos, erigir e aniquilar impérios, conduzir
os rebanhos em transumância, no encalço das estações. (…) Na Idade
Média e no Renascimento, eram sobretudo os comerciantes e os
peregrinos que se deslocavam por milhares de quilómetros, em míticas
viagens que duravam anos, à procura de novos mercados, da
espiritualidade e da saúde, à descoberta de novos mundos (BIETOLINI,
2007).

No séc. XIX, Shelle escrevia um tratado sobre a Arte de Passear, afirmando


a importância do passeio pedestre como um fim em si, como uma forma de exercitar
não só o corpo, mas também o espírito, como uma atividade ímpar capaz de
proporcionar o contato com os outros e com a natureza:

O passeio a pé é a forma mais natural de vaguear, porque depende


exclusivamente de nós e nos deixa completamente entregues a nós
próprios. Ao passearmos a pé ficamos totalmente livres para observar as
coisas como melhor nos convier, com uma completa tranquilidade de alma;
podemos adaptar o movimento do corpo às exigências do espírito e,
quando a observação quiser alargar-se a uma vista de conjunto, basta uma
ligeira deslocação do corpo para abraçarmos o horizonte por inteiro; sem
perturbar minimamente a atenção dada a um objeto preciso, podemos
parar ou continuar a andar consoante as exigências do nosso espírito
(SCHELLE, 2008, p. 65- 66).

No séc. XIX, começaram a ser apreciadas as caminhadas, a escalada de


uma montanha pelo prazer de desfrutar de vistas grandiosas, sentir emoções e
sensações novas, descobrir ambientes desconhecidos, como as neves eternas e a
alta montanha (BIETOLINI, 2007).
Caminhar pelo prazer da descoberta e da contemplação é uma atividade que
foi evoluindo, tornando-se acessível a cada vez mais pessoas. As mudanças
econômicas e sociais decorrentes Revolução Industrial, que se deu em Inglaterra
em meados do séc. XVIII e se alargou para a Europa a partir do séc. XIX,
possibilitaram, pelas alterações na forma de trabalho, um incremento na
disponibilidade para as atividades de lazer. Fatores como o aumento do rendimento
familiar e o aumento progressivo do tempo livre, permitiram que uma camada cada
vez mais ampla da população pudesse ter acesso a atividades de lazer, outrora
reservadas a uma pequena elite abastada.
56
Andar a pé é a melhor forma de aprender a conhecer a natureza, a cultura e
a população de determinado local. Caminhar pelo puro prazer de caminhar, para
explorar, por razões de saúde e bem-estar físico e espiritual, pelo convívio, para
conhecer os próprios limites, para contemplar paisagens, para observar a natureza,
como forma de escapar à vida de todos os dias, utilizando caminhos ou trilhos
existentes, é a atividade a que se dá o nome de pedestrianismo, cada vez mais
popular nas sociedades desenvolvidas (SILVA, 2016).

8.2 Pedestrianismo

Expressões, em português, como caminhar, andar a pé, praticar


pedestrianismo, ou walking, hiking (EUA) ou rambling (Reino Unido), em inglês,
encontram-se na literatura e referem-se todas à mesma atividade de andar a pé, em
trilhos sinalizados ou promovidos para esse fim. A palavra trekking, também
associada à mesma atividade, utiliza-se para designar as deslocações a pé, de
alguns dias, em grande parte através de carreiros ou trilhos, em zonas montanhosas
sem ligação a outras vias de comunicação (BIETOLINI, 2007). O pedestrianismo
envolve cerca de 3 milhões de praticantes em Itália e França, 10 milhões no Reino
Unido e 30% dos suecos dedicam-se ao passeio em florestas ou caminhos rurais.
Afirmam ainda que esta atividade está em forte expansão em todos os países. De
acordo com o Ministério da Saúde e dos Desportos francês, o número de
pedestrianistas na França atinge cerca de 5 milhões de praticantes (EG, 2009).
Embora não seja fácil encontrar dados sobre o número de praticantes de
pedestrianismo, é notória a dimensão da atividade, a nível europeu, pela quantidade
de grupos organizados ligados à prática de andar a pé. A European Ramblers
Association (ERA), fundada em 1969 na Alemanha, com os objetivos de criação e
melhoria de condições para a prática de pedestrianismo, integra mais de 50
organizações, de 26 países europeus e conta com cerca de 5 milhões de membros
individuais.
O mercado de atividades de ar livre reflete a imagem dos produtos que lhes
estão associados: é resistente. As atividades de ar livre continuam a crescer, tanto

57
pela facilidade de acesso como pelo baixo custo da sua prática. É certamente um
dos setores que melhor está a responder à atual crise econômica (EG, 2009). No
conjunto de atividades de ar livre, o pedestrianismo destaca-se como atividade em
crescimento, pela sua informalidade, baixo custo e fácil acesso.

9 AS PROVAS DE ATLETISMO COM BARREIRAS E COM OBSTÁCULOS

A prova de 110 metros com barreiras surgiu na Inglaterra, em 1830, derivada


das corridas de 100 jardas, em que eram posicionadas barreiras de madeira
fincadas no chão. Atualmente, nas provas de corridas com barreiras, os atletas
utilizam a saída baixa e percorrem o percurso específico da prova passando por 10
barreiras posicionadas em suas respectivas raias. As alturas das barreiras são
diferentes entre homens e mulheres, além de serem diferentes também de acordo
com a prova.
O atleta deve permanecer em sua respectiva raia do início ao fim; caso saia
de sua raia, derrube alguma barreira voluntariamente ou não passe por alguma
barreira, será desclassificado, conforme aponta a Confederação Brasileira de
Atletismo (CBAT; IAAF, 2017). As barreiras derrubadas involuntariamente não
implicam em nenhuma penalização para o atleta.
Esse é um aspecto interessante dessas provas, pois, até 1935, os atletas
eram desclassificados por derrubarem três barreiras ou mais. Atualmente, o critério
para desqualificação do atleta é subjetivo e definido pelo árbitro, que considera
como ato voluntário se o atleta quis derrubar a barreira, porque a atingiu no meio,
atropelando-a, ou como ato involuntário, quando ele esbarra sem querer e a barreira
cai, conforme leciona a Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF,
2019).

58
Fonte: https://www.sjc.sp.gov.br

9.1 100 metros com barreiras

Essa é uma prova exclusivamente feminina, que teve a sua estreia olímpica
em 1932 em Los Angeles, com a distância de 80 metros (MATTHIESEN, 2017).
Segundo Barros e Dezem (1990), a prova de 80 metros já não atendia mais as
exigências devido à evolução técnica; ou seja, as meninas mais altas e velozes já
não conseguiam executar uma corrida fluente, tendo que encurtar as passadas.
Assim, houve a substituição da distância para os atuais 100 metros, assim como o
aumento do número de barreiras para 10. Em 1972, em Munique, a prova já ocorreu
com a distância atual.
Entre os destaques dessa prova está Yordanka Donkova, atleta búlgara que
conquistou a medalha de ouro nas Olímpiadas de Seul, em 1988, e estabeleceu
quatro recordes mundiais, o último com a marca de 12"21, em 1988. Esse recorde
foi superado pela americana Kendra Harrison apenas em 2016. Entre os países
mais fortes nessa categoria estão Estados Unidos, Alemanha, Bulgária, Rússia,
Suécia e Canadá (IAAF, 2019).

59
9.2 110 metros com barreiras

Essa é uma prova exclusivamente masculina e teve sua origem na Inglaterra


em corridas de 100 jardas, provavelmente derivando de competições hípicas, em
que eram posicionadas barreiras de madeira fixas no chão, com 1,07 metros de
altura (CBAT; IAAF, 2017). As universidades de Oxford e Cambridge aumentaram
a distância para 120 jardas (109,7 metros); posteriormente, em 1888, essa distância
foi arredondada para os 110 metros pelos franceses, devido ao sistema métrico.
Essa prova teve sua estreia olímpica na primeira edição dos jogos modernos, em
1896 (IAAF, 2019).
Os Estados Unidos se destacam nessa prova; além do atual recordista
mundial, o país já ganhou 19 vezes o título olímpico. Entre os destaques está Allen
Johnson, que correu em sua carreira 11 vezes abaixo dos 13 segundos, além de ter
conquistado o ouro nas Olimpíadas de 1996. Cuba, Grã-Bretanha e China também
são países com excelentes atletas nessa prova (IAAF, 2019).

9.3 400 metros com barreiras

Nessa prova, os atletas correm uma volta completa em uma pista de 400
metros, onde são posicionadas 10 barreiras em suas respectivas raias. Essa prova
teve sua origem na universidade de Oxford, na Inglaterra, por volta de 1860, onde
os atletas corriam uma prova de 440 jardas (402,33 metros), em que eram fixadas
no chão 12 barreiras de madeira com 1 metro de altura.
A estreia olímpica dessa prova foi em 1900, em Paris. Já as mulheres
estrearam apenas em 1984 em Los Angeles, com a vitória de Nawal El Moutawakel,
do Marrocos, que se tornou a primeira campeã olímpica africana e de uma nação
islâmica (IAAF, 2019).
Os Estados Unidos são uma grande potência na modalidade, com 18 títulos
olímpicos, assim como Rússia e Jamaica. Um dos grandes destaques foi o atleta
Edwin Moses, que ficou invicto por 122 provas consecutivas entre 1977 e 1987,
além de ter conquistado dois títulos olímpicos, tornando-se, assim, o maior atleta de

60
todos os tempos nessa prova. Entre as mulheres, a britânica Sally Gunnell se
destacou nessa prova entre os anos de 1992 e 1994.

9.4 3.000 metros com obstáculos

Nessa prova, os atletas usam a largada do tipo alta e não precisam se manter
nas raias. Eles devem completar o percurso de 3.000 metros, em que, em cada
volta, passam por quatro obstáculos e um fosso com água, totalizando 28 saltos
sobre os obstáculos e sete sobre o fosso. A distância entre cada obstáculo é de
aproximadamente 80 metros. Os obstáculos para os homens possuem 0,91 metros
de altura e, para as mulheres, 0,76 metros (CBAT; IAAF, 2017). Um dos grandes
charmes dessa prova e que chama a atenção é o salto do obstáculo sobre o fosso
de água: após um dos obstáculos, há um fosso de água que possui 3,66 metros de
comprimento e 0,70 metros na região mais funda.
A corrida de obstáculos (steeplechase, em inglês) teve sua origem na Grã-
Bretanha, onde corredores corriam de uma cidade para outra, passando obstáculos
como riachos e paredes baixas. Um evento em pista foi realizado em 1879, na
universidade de Oxford. Essa prova tem estado presente nos jogos olímpicos desde
1900, em Paris, mas com distâncias diferentes. A distância atual de 3.000 metros
foi padronizada em 1920, na Antuérpia. As mulheres estrearam nessa prova apenas
em 2008 (CBAT; IAAF, 2017).
Entre os homens, o Quênia é o país com mais títulos olímpicos; já entre as
mulheres, Rússia e Quênia são os países que dominam. Entre os homens, podemos
destacar Moses Kiptanui, que foi o principal competidor entre 1991 e 1995. Entre as
mulheres, destaca-se a russa Gulnara Galkina, que foi recordista mundial em 2003
e campeã olímpica em 2008, sendo a primeira mulher a correr abaixo dos 9 minutos
a distância, conforme aponta a IAAF (2019).

61
10 PARTICULARIDADES DAS PROVAS COLETIVAS DE REVEZAMENTOS NO
ATLETISMO

As corridas de revezamentos já eram conhecidas dos gregos na Antiguidade;


as panateneias, realizadas em homenagem à deusa Atena, incluíam uma prova de
revezamento chamada lampadodromia (“corrida das tochas”). Era uma disputa
entre cinco equipes compostas por 40 atletas cada; nela, a chama era conduzida
sem poder ser apagada, e vencia a equipe que acendesse a fogueira no altar de
Prometeu, localizado na chegada (CBAT; IAAF, 2017). O conceito de revezamento
também remete à Antiguidade, advindo da prática em que um mensageiro transmitia
a mensagem para outro mensageiro, e este para outro, até ela chegar ao seu
destino.
As provas de revezamento atualmente são provas em equipe realizadas em
pista de atletismo e compostas por quatro atletas, sendo normalmente realizadas
nas distâncias de 4 × 100 metros e 4 × 400 metros (IAAF, 2019).

10.1 Revezamento 4 × 100 metros

Nessa prova, os quatro corredores correm na mesma raia, dando uma volta
completa na pista de atletismo. Cada atleta, durante o seu percurso, deve conduzir
um bastão, que deve ser passado para o próximo corredor em uma área de 20
metros de comprimento, denominada zona de passagem, estando ela dividida em
10 metros antes e 10 metros depois de completar o percurso. Portanto, cada atleta
pode receber o bastão e correr entre 90 e 110 metros.
O primeiro revezamento olímpico ocorreu em 1908, em uma corrida de 1.600
metros; porém, o primeiro revezamento em jogos olímpicos de 4 × 100 metros para
homens foi realizado em 1912, em Estocolmo, enquanto as mulheres estrearam em
1928, em Amsterdã, sendo a equipe canadense a vencedora (CBAT; IAAF, 2017).
Entre os países de destaque estão os Estados Unidos, que dominaram por
muitos anos essa prova, sendo que, entre 1920 e 1976, os homens venceram todos
os eventos, exceto um título olímpico. O lendário velocista Carl Lewis correu como

62
último homem em cinco equipes diferentes que quebraram o recorde mundial entre
1983 e 1992. Já entre as mulheres, Evelyn Ashford obteve três títulos olímpicos
consecutivos nessa prova entre 1984 e 1992. Porém, os jamaicanos liderados por
Usain Bolt reescreveram os recordes, sendo a primeira equipe a correr abaixo dos
37 segundos. Em 2012, Bolt obteve a incrível marca de 8,70 segundos nos 100
metros finais. Nessa prova, o atleta já estava em uma corrida lançada para pegar o
bastão; assim, não perdeu tempo com a aceleração, mostrando que é possível a
busca por novas marcas (IAAF, 2019).
O Brasil obteve bons resultados, como a medalha de bronze nos Jogos
Olímpicos de Atlanta, em 1996, e a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de
Sydney, em 2000. Nessa oportunidade, foi conquistada a melhor marca do Brasil; a
equipe era composta por Vicente Lenílson, Edson Ribeiro, André Domingos e
Claudinei Quirino (CBAT; IAAF, 2017).

10.2 Revezamento 4 × 400 metros

Nessa prova, cada atleta completa uma volta de 400 metros na pista, sendo
que o primeiro atleta realiza sua volta completa na raia designada. O segundo atleta
corre apenas os primeiros 100 metros na raia designada e depois já pode se
direcionar para a raia interna. O terceiro e o quarto atleta correm na raia interna. Os
corredores conduzem o bastão em seu percurso e, após fechar cada volta, passam
para o próximo corredor dentro da zona de passagem, que fica 10 metros antes e
10 metros depois de fechar a volta. Assim, a passagem pode ocorrer entre 390 e
410 metros.
O primeiro revezamento olímpico ocorreu em 1908, com distâncias
diferentes, sendo dois percursos de 200 m, seguido por um de 400 m e outro de
800 m. Assim como o revezamento 4 × 100 metros, o primeiro revezamento em
jogos olímpicos de 4 × 400 m para homens foi em 1912, nos Jogos Olímpicos de
Estocolmo, enquanto as mulheres estrearam apenas em 1972, nos Jogos de
Munique (CBAT; IAAF, 2017).

63
Os homens americanos dominam essa modalidade com 17 títulos olímpicos,
com astros como Michael Johnson, que, no mundial de 1993, fechou a prova
correndo os 400 metros em incríveis 42,91 segundos. Jeremy Wariner é outro atleta
de destaque, com dois títulos mundiais, e foi um dos principais membros da equipe
americana nos anos 2000; possui a segunda marca mais rápida em revezamentos,
com 42,93 segundos, obtida no campeonato mundial em 2007.
Jamaica, Bahamas e Grã-Bretanha também aparecem como destaques
entre os homens. Entre as mulheres, as americanas também são destaque com
quatro títulos olímpicos; outros países de destaque são Rússia e Jamaica. A
jamaicana Sandie Richards participou de cinco finais olímpicas consecutivas (IAAF,
2019).

10.3 Passagem do bastão

A técnica de corrida empregada nas provas de revezamento é muito


semelhante às utilizadas em corridas de velocidade, até porque os atletas que
compõem os revezamentos competem individualmente em suas respectivas
provas. Uma das características que diferenciam os revezamentos é a passagem
do bastão, que, no revezamento 4 × 100 metros, é uma etapa fundamental, por ser
uma prova mais curta. Nos 4 × 400 metros, por ser uma prova mais longa, a
passagem do bastão precisa apenas ser bem executada (MATTHIESEN, 2017).
Assim, podemos dizer que, na prova de 4 × 100 metros, a passagem é não
visual, pois os atletas não olham para o companheiro para receber o bastão. Essa
passagem precisa ser bem treinada, e os atletas precisam estar em sintonia. A
prova é executada em altíssima velocidade, e, no momento da passagem, os atletas
ficam quase lado a lado na mesma raia. Caso o atleta olhe para trás, a chance de
sair da raia é muito grande, o que faria com que a equipe fosse desqualificada.
Portanto, durante a passagem do bastão, o atleta olha para a frente e mantém sua
corrida em aceleração; quando se aproximar do recebedor, deve emitir um sinal
sonoro como “já” ou “vai”, para que o recebedor estenda o braço para trás e receba
o bastão.

64
Além disso, no momento da passagem, os atletas precisam estar em uma
velocidade similar. Por isso, quem vai receber precisa começar a correr antes de
entrar na zona de passagem, para quando entrar nessa área estar em uma
velocidade compatível. Assim, os atletas precisam estar bem entrosados, para
evitar que um dos atletas acelere antes e acabe não sendo alcançado pelo
companheiro na zona de passagem, tendo que desacelerar, ou que seja atropelado
pelo companheiro por não ter acelerado a tempo de receber o bastão na mesma
velocidade, exigindo a desaceleração e acarretando perda de tempo.
O bastão deve ficar posicionado na mão esquerda ou direita, dependendo do
percurso, isto é, se o atleta corre na reta ou na curva. Quem corre na curva corre
com o bastão na mão direita, para poder ficar na parte interna da raia; já quem corre
na reta segura o bastão na mão esquerda (SILVA, 2016).
Os atletas também são posicionados de acordo com o percurso, possuindo
características diferentes. Veja-as a seguir.

 Primeiro corredor: deve ter uma excelente largada, com boa


aceleração, além de ser um excelente corredor de curva.
 Segundo corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem
do bastão e conseguir realizar uma boa corrida lançada.
 Terceiro corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem
do bastão, realizar uma boa corrida lançada e ser um excelente
corredor de curva.
 Quarto corredor: deve ter uma boa habilidade para a passagem do
bastão e, normalmente, é o melhor corredor da equipe

Já a passagem visual é aquela em que o atleta olha para o companheiro para


receber o bastão. Nessa passagem, o atleta fica olhando para o companheiro e,
quando este se aproxima, o primeiro começa a correr para ganhar velocidade e
receber o bastão sem ser atropelado pelo companheiro. Assim, essa passagem é
usada na prova de 4 × 400 metros desde a primeira passagem, mas sendo mais útil
na segunda e na terceira troca. Isso porque a segunda e a terceira troca não

65
ocorrem na raia designada, mas livremente na pista; assim, quem vai receber
precisa ficar olhando, atento à trajetória do seu companheiro e das outras equipes,
para evitar algum choque entre os corredores.
Quem fica mais próximo à raia interna da pista acaba tendo vantagem, e os
atletas acabam se espremendo em direção à raia interna. O que determina a ordem
de quem fica na raia interna é a passagem dos 200 metros; assim, a equipe que
passa na frente tem a preferência de ficar na raia interna. Normalmente, a
passagem ocorre da mão direita para a mão esquerda, e, ao longo do percurso, os
atletas passam o bastão da mão esquerda para a direita, para poderem entregar na
mão esquerda do próximo corredor (SILVA, 2016).
A passagem pode ocorrer em um movimento ascendente, ou seja, ser
realizada de baixo para cima quem recebe posiciona a palma da mão para baixo,
ou pode ser em um movimento descendente, ou seja, realizada de cima para baixo,
quem recebe posiciona a palma da mão para cima. Caso o corredor derrube o
bastão, aquele que derrubou deve juntar e continuar a corrida do ponto onde o
bastão caiu.

11 MARCHA ATLÉTICA

Uma das provas de atletismo que mais desperta a atenção do grande público
em Olímpiadas ou Mundiais é a marcha atlética. Por ter uma característica diferente

66
de todas as demais modalidades, a marcha gera curiosidade, estranheza e também
bastante dúvida quanto às suas regras para o público em geral. Todavia, antes de
abordarmos as regras e a técnicas dessa prova, vamos ver um pouco da história e
das origens da marcha.
Segundo a Confederação Brasileira de Atletismo (2019), a marcha atlética
tem origem nas competições de caminhada, que datam dos séculos XVII a XIX.
Assim como algumas provas mais modernas, ela também provém da Inglaterra. Sua
grande inspiração são os chamados footman: atendentes que corriam atrás ou do
lado da carruagem dos aristocratas. Os footmans cobriam todas as grandes
distâncias designadas utilizando essa técnica. Entretanto, o criador da prova de
marcha atlética foi o norte-americano Edward Payson Wetson, que passou a maior
parte da sua vida atravessando o continente americano marchando
(CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO, 2019).
A primeira grande competição de marcha atlética ocorreu no ano de 1908,
quando ela passou a integrar o quadro dos Jogos Olímpicos. A distância da marcha
naquela edição variou entre 1.500m e 3.000m. Contudo, essa primeira aparição da
marcha foi considerada negativa, o que acarretou a sua retirada da programação
olímpica, retomando apenas em 1928. Essas datas são referentes às provas
masculinas, visto que a marcha atlética para mulheres teve como primeira grande
competição o Mundial de Atletismo de 1987 e os Jogos Olímpicos de 1992.

11.1 Técnica e regras

Rojas (2017, p. 86) caracteriza a marcha atlética como “[...] uma progressão
de passos com o contato contínuo com o solo, sem fase aérea”. Com isso, a perna
que avança deve estar reta (não flexionada no joelho), do primeiro contato com o
solo até a posição vertical.

Durante a execução da prova, a impressão que se tem é de que os atletas


estão apenas rebolando, mas essa imagem é causada pela técnica
obrigatória, com o deslocamento mais rápido possível sem fase aérea
distinguível (visível a olho nu). A perna que executa o passo deve estar
com o joelho totalmente estendido durante o toque no solo, enquanto o

67
corpo transpõe essa perna; para realizar esse movimento em velocidade,
o quadril sofre um deslizamento compensatório (ROJAS, 2017, p. 86).

Na técnica da marcha atlética, além dos movimentos realizados pelos pés e


pelos joelhos, há alguns pontos que precisam ser bastante trabalhados para que o
atleta obtenha êxito. O atleta não deve elevar demais os quadris, colaborando para
que a passagem seja a mais rasante possível. O tronco deve permanecer ereto ou
ligeiramente inclinado à frente; caso incline o tronco demais, o marchador vai ter a
tendência a correr e, caso incline muito para trás, pode desfavorecer o contato com
o solo. Cabe ainda ressaltar a importância dos membros superiores como grandes
auxiliares na manutenção do ritmo, movimentando-se no sentido contrário às
pernas.
Fica claro, então, que o atleta precisa ter bastante flexibilidade nas
articulações, principalmente no quadril, tornozelo e ombros. Estudos apontam que
a velocidade média da marcha chega a duas vezes e meia a mais do que a
caminhada normal.
Se, por um lado, a marcha tem uma técnica difícil e que requer bastante
tempo de prática, as regras, segundo a Confederação Brasileira de Atletismo
(2019), são bastante simples. Elas podem ser resumidas em duas principais:

 Um dos pés deve estar sempre em contato com o solo;


 A perna que executa o passo deve estar reta desde o momento que
o pé toca o solo até sua passagem na vertical.

Para que as regras sejam bem observadas, os juízes precisam estar bem
qualificados. O número de árbitros é variável conforme o local da disputa: quando é
realizada na pista, seis árbitros fazem a fiscalização; já quando é na rua, esse
número pode aumentar para nove.
Rojas (2017) destaca que a qualificação da arbitragem nessa prova é muito
específica, sendo exigido um treinamento especial para que os árbitros possam
atuar na marcha. O autor refere que o árbitro deve ficar posicionado ao longo do
percurso e estar atento à passada dos atletas, verificando se a execução está

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correta. Caso o atleta cometa uma infração (flexão antecipada do joelho ou fase
aérea definida), deve advertir o atleta com um cartão amarelo. Em caso de nova
infração, deve apresentar o cartão vermelho ao atleta e comunicar o árbitro-chefe.
O mesmo árbitro não pode advertir duas vezes o mesmo atleta.
Quando o atleta recebe três cartões vermelhos de árbitros diferentes está
desqualificado da prova. Como são muitos árbitros, pode haver falha na
comunicação na hora de apresentar os cartões. Caso isso ocorra e o atleta termine
a prova, isso não qualifica sua participação.
Vamos agora conhecer um pouco mais sobre as provas da marcha atlética:

11.1.1 Prova 20 km

Esta prova é a única disputada no feminino e a de menor distância no


masculino. No começo das provas de marcha atlética as distâncias foram bastante
variáveis. A distância passou a ser estabelecida a partir das Olímpiadas de
Melbourne, em 1956, quando se definiu que os homens competiriam 20km. Essa
prova foi disputada por 21 atletas de 10 países diferentes. Para as mulheres, nas
primeiras edições de Mundial e de Olímpiadas, a distância era de 10km. A
modificação ocorreu no Mundial de 1999 e nos Jogos Olímpicos de 2000, quando a
distância estabelecida passou a ser os atuais 20km. No naipe masculino, o
recordista mundial é o japonês Yusuke Suzuky, com tempo de 1h 16min 36s. no
feminino, esse mérito é de Liu Hong, da China, com tempo de 1h 24min 38s, ela é
atual campeã olímpica e mundial dessa prova (ROJAS, 2017).

11.1.2 Prova 50 km

A prova dos 50km da marcha atlética é a maior prova em distância entre


todas as modalidades do atletismo. Esta é uma categoria disputada apenas por
homens, que surgiu como competição oficial nas Olímpiadas de Los Angeles, em
1932. O grande estaque dessa prova é o polonês Robert Korzeniowski, que, em sua
trajetória, consagrou-se bicampeão europeu (1998 e 2002), tricampeão mundial

69
(1997, 2001 e 2003) e tricampeão olímpico (1996, 2000 e 2004). Em 2000,
Korzeniowski também venceu a marcha atlética dos 20km e assim se tornou o único
atleta na história a vencer as duas categorias em uma mesma edição de Jogos
Olímpicos. Atualmente, o recordista mundial desta prova é o francês Yohann Diniz,
com tempo de 3h 32min 33s.
No Brasil, a marcha atlética chegou após os jogos olímpicos de Berlim, em
1936, trazido por dois espectadores brasileiros que assistiram à prova. No ano
seguinte, em Porto Alegre, ocorreu a primeira prova no Brasil. O grande nome da
marcha atlética brasileira é Caio Bonfim, que conquistou o terceiro lugar no Mundial
de Londres, disputado em 2017, na prova dos 20km. Esse é o maior resultado da
história da marcha atlética brasileira. Bonfim, um ano antes, já havia brilhado nos
Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, quando conquistou o quarto lugar, ficando
próximo da medalha. Além disso, o marchador já venceu oito vezes a Copa do Brasil
de Marcha Atlética (ROJAS, 2017).

70
12 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

12.1 Bibliografia Básica

FERNANDES, José Luís. Atletismo. Corridas. 3. Ed. São Paulo: EPU, 2003.

FERNANDES, José Luís. Atletismo. Saltos. 3. Ed. São Paulo: EPU, 2003.

FERNANDES, José Luís. Atletismo. Lançamentos (e arremesso). 3. Ed. São


Paulo: EPU, 2003

12.2 Bibliografia Complementar

ALMEIDA, B.; MARCHI JUNIOR, W. Das “origens” do esporte na Inglaterra aos


jogos olímpicos idealizados por Coubertin: um olhar da produção acadêmica
em língua inglesa. Revista da Educação Física/UEM, v. 26, nº. 3, p. 495–504, 3.
trim. 2015. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/refuem/v26n3/1983-3083-
refuem-26-03-00495.pdf. Acesso em: 19 fev. 2021.

BARROS, N.; DEZEM, R. O atletismo. 2. ed. São Paulo: Apoio, 1990

BARROSO, A. L. R.; DARIDO, S. C. A pedagogia do esporte e as dimensões


dos conteúdos: conceitual, procedimental e atitudinal. Revista da Educação
Física da UEM, v. 20, nº. 2, p. 281–289, 2009. Disponível em:
http://eduem.uem.br/ojs/index.php/RevEducFis/article/ view/3884/4440. Acesso
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Bietolini, A. (2007), Manual de Caminhada – Trekking, Arte Plural Edições,


Portugal.

BOJIKIAN, J. C. M. et al. Talento esportivo no voleibol feminino do Brasil:


maturação e iniciação esportiva. Revista Mackenzie de Educação Física e
Esporte, v. 6, nº. 3, p. 179–187, 2007. Disponível em:
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CBAT; IAFF. Atletismo: regras oficiais de competição 2016-2017. 1. ed. São


Paulo: Phorte, 2017. Disponível em: https://issuu.com/phorteeditora/docs/atletismo.
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CONFEDERAÇÃO BRASILEIRA DE ATLETISMO. O Atletismo - origens. 2010.


Disponível em: http://www.cbat.org.br/atletismo/origem.asp. Acesso em: 19 fev.
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desportiva. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, 1992.
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DANTAS, E. H. M. et al. Plano de expectativa individual: uma perspectiva


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