Você está na página 1de 3

SCHULTZ, Duane P.; SHULTZ, Sydney Ellen. Funcionalismo: fundação e evolução.

In: ______. História da psicologia moderna. 9. ed. São Paulo: Cengage Learning,
2012. p. 151 – 188.

Resenhado por Hélen Cleire Luzardo Coutinho e Costa

Duane P. Schultz nasceu em Baltimore, Maryland, formou-se na Universidade


Johns Hopkins, fez mestrado na Universidade de Syracuse e doutorado em
psicologia social na American University em Washington, DC. Escreveu três livros
didáticos de nível universitário que foram traduzidos para várias línguas, bem como
outros livros em psicologia. Publicou um estudo psicológico comparativo das vidas e
carreiras de Sigmund Freud e Carl Jung. Depois de uma carreira docente bem
sucedida no Mary Washington College, na Universidade da Carolina do Norte em
Charlotte e na Universidade de Groningen na Holanda, além de ter dado palestras
nos EUA e na Alemanha, Schultz voltou a Washington para dedicar tempo integral à
escrita. Sidney Ellen Schultz é uma escritora, editora e pesquisadora que
desenvolveu publicações impressas e digitais e materiais de ensino para editores,
agências governamentais, escolas e associações profissionais. Ela e seu marido,
Duane Schultz são bem considerados como autores de livros didáticos.

O capítulo 7 do livro, Funcionalismo: Fundação e Evolução, discorre sobre o


contexto social em que surgiu o Funcionalismo e como isso se deu, já que não
houve a pretensão de se criar uma nova escola de pensamento. Em um texto
subdividido em vários tópicos, os autores descrevem também a biografia e
contribuição dos principais autores, mostrando assim a evolução e o formato final do
funcionalismo, bem como as críticas advindas dos adeptos do Estruturalismo.

Inicia falando sobre o reconhecimento e aclamação de Herbert Spencer (1820


– 1903) devido à sua filosofia denominada Darwinismo Social, onde alegava que o
desenvolvimento de todos os aspectos do universo é evolucionário, incluindo o
caráter humano e as instituições sociais, em conformidade com o princípio da
sobrevivência do mais apto. Essa idéia foi especialmente aceita nos EUA, pois os
americanos eram voltados ao prático, útil e funcional e os estágios iniciais da
psicologia americana refletiram essas qualidades. Diante dessa filosofia, Samuel
Butler (1835 – 1902), escritor, músico e pintor propôs a evolução mecânica (das
máquinas) prevendo ainda que um dia as máquinas se tornariam capazes de simular
processos mentais humanos. Com o desenvolvimento de uma nova e avançada
forma de processar as informações pelo engenheiro Henry Hollerith (1859 – 1929)
essa idéia foi reforçada.

Os autores descrevem então sobre a contribuição de Willian James (1842 –


1910) para o Funcionalismo e sua biografia. James, considerado por muitos
estudiosos o maior psicólogo americano, não fundou a psicologia funcional, mas foi
um precursor, apresentando de forma clara e eficaz as suas ideias com
características dessa escola, o que influenciou o movimento funcionalista e inspirou
as gerações posteriores de psicólogos. Seu livro The principles of psychology,
publicado em 1890 foi um tremendo sucesso e uma importante contribuição para a
área, mas a reação favorável ao livro não foi unânime, pois na obra criticava Wundt
e Titchener (estruturalistas).

James foi também o grande responsável pelos estudos de pós-graduação de


Mary Whiton Calkins, a primeira mulher a tornar-se presidente da APA e que em
1906 ocupou a 12ª colocação entre os 50 psicólogos mais importantes dos EUA,
ajudando-a a vencer as barreiras do preconceito e da discriminação. Além de
Calkins, são mencionadas também nesse capítulo Helen Bradford Thompson
Woolley e Leta Stetter Hollingworth como mulheres que lutaram contra o preconceito
e contribuíram muito com o funcionalismo através de suas pesquisas. Os autores
apresentam também Granville Stanley Hall (1844-1924), contemporâneo de William
James, que recebeu o primeiro título de doutorado em psicologia.

Os funcionalistas não tinham o objetivo de substituir o estruturalismo, apenas


modificar a ortodoxia existente. Várias psicologias funcionais coexistiram e embora
apresentassem algumas diferenças, todas compartilhavam o interesse no estudo
das funções da consciência. Depois, os funcionalistas interessaram-se pelas
possíveis aplicações da psicologia aos problemas cotidianos em relação ao
comportamento e à adaptação do homem nos diferentes ambientes. Indiretamente
Titchener fundou a psicologia funcional quando em seu artigo “The postulates of a
structural psychology” (1898) quando usou a palavra “estrutural” em oposição a
“funcional” e ressaltou as diferenças entre a psicologia funcional e a estrutural,
argumentando que o estruturalismo era o único estudo adequado de psicologia.
Em 1824, chegaram à recém criada University of Chicago John Dewey (1859
-1952) e James Rowland Angell (1869 – 1949) anunciados por William James como
responsáveis pela fundação do novo sistema que ele designou a “Escola de
Chicago”. O evolucionismo exerceu grande influência sobre as ideias de Dewey. Na
luta pela sobrevivência, a consciência gera o comportamento adequado que permite
ao organismo sobreviver. Quando ele deixou a University of Chicag em 1904, Angell
passou a ser o líder do movimento funcionalista. Além de Dewey e Angell os autores
mencionam também Harvey A. Carr (1873 – 1974) que sucedeu Angell como chefe
do departamento de psicologia da University of Chicago. Foi no período de Carr que
o funcionalismo em Chicago atingiu o ápice como sistema formal. Ele definiu como
objeto de estudo da psicologia a atividade mental e a função da atividade mental
como aquisição, fixação, retenção, organização e avaliação das experiências e a
sua utilização para determinar a ação de uma pessoa. Ao focar no comportamento e
eliminar o estudo da mente como um todo os funcionalistas criaram uma ponte entre
a psicologia estruturalista e a psicologia comportamental de Watson, que viria a ser
a subsequente proposta revolucionária. Robert Sessions Woodworth (1869 – 1962)
é mencionado como um pesquisador que não pertencia formalmente à escola de
pensamento funcionalista mas seguia o espírito funcionalista da escola de Chicago.

O movimento funcionalista foi veementemente criticado pelos estruturalistas,


que alegavam que o próprio termo não era muito bem definido e que o funcionalismo
não era psicologia por não adotar os métodos e o objeto de estudo do
estruturalismo. Porém, era exatamente essa definição de psicologia que os
funcionalistas estavam questionando. Quanto ao termo, Carr alegou não haver
inconsistência nas duas definições (função no sentido de atividade, ou no sentido da
utilidade de alguma atividade para o organismo) pois ambas se referiam aos mesmo
processos. Essa forte oposição entre Estruturalismo e Funcionalismo teve enorme
impacto na evolução da psicologia nos Estados Unidos.

O capítulo relata com clareza a fundação e a evolução do funcionalismo,


fornecendo com riqueza de detalhes várias biografias, tornando-se assim uma
literatura indispensável para os estudantes interessados em aprender sobre essa
escola de pensamento.

Você também pode gostar