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Aula 6

Como a erosão numa falésia faz o


mar ganhar novo “território”?

Jorge Soares Marques


Luiz Saavedra Baptista Filho
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Meta

Caracterizar como se efetua a erosão pela ação dos processos marinhos,


destacando essa atuação em áreas costeiras com topografia elevada.

Objetivos

Esperamos que, ao final desta aula, você seja capaz de:


1. identificar relações que se estabelecem em áreas de costa alta entre
processos continentais e marinhos;
2. explicar como funcionam os mecanismos do processo de erosão em
costas altas;
3. identificar formas resultantes dos processos de erosão mari-
nha, atuais e pretéritas, e entender como são disponibilizados os
sedimentos produzidos;
4. explicar que a existência de processos de erosão não depende da
ocorrência de variações do nível do mar, mas podem ser afetados
por elas.

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Geomorfologia Costeira

As costas altas

As formas de relevo, tanto as continentais quanto as costeiras, são


produzidas pela ação de processos que realizam trabalhos de erosão e
deposição. Essas atuações estão constantemente mantendo as formas de
relevo existentes ou transformando-as.
Concebe-se em Geomorfologia que, em função da existência da
gravidade terrestre, é sempre necessário levar em conta que há uma
tendência de ocorrer erosão nas áreas elevadas e deposição nas áreas
baixas. O surgimento de grandes áreas elevadas, como os planaltos
e as cordilheiras, resultam da ação das forças internas (geológicas).
Essas forças tectônicas, que agem promovendo soerguimentos e rebai-
xamentos da superfície do planeta, podem deixar de atuar de modo
intenso durante longos períodos de muitos milhões de anos. Quando
isso ocorre, não há a criação de novos grandes relevos gerados pelo
desnivelamento topográfico da superfície da Terra. O clima passa a ser
o principal responsável pela ação das forças modeladoras do relevo,
que promovem a erosão e a deposição. Em função disso, passa a existir
uma tendência de a superfície terrestre ser aplainada. Esse nivelamen-
to seria conseguido, de um lado, com arrasamento das áreas elevadas,
transformando-as em superfície de erosão e, de outro, entulhando as
áreas baixas com os materiais retirados dessas áreas elevadas, transfor-
mando-as em superfície de deposição.
No final do período Terciário, os grandes traços do relevo atual do
planeta já estavam formados. As grandes cadeias montanhosas e planal-
tos compondo os mais elevados relevos já existiam, enquanto os mais
baixos estão presentes em depressões no interior ou ao longo das bordas
dos continentes, com destaque para as presenças de grandes planícies.
Após a criação desses grandes traços do relevo atual, a partir do mo-
mento em que as forças tectônicas pararam de atuar de forma intensa,
as condições estabelecidas pelo clima passaram a ampliar sua influência
sobre as ações de modelagem da superfície terrestre. No Quaternário,
esse papel ganha destaque, inclusive por conta da ocorrência de mudan-
ças climáticas, que interferiram na evolução das paisagens dos ambien-
tes continentais e nas variações do nível do mar.
Nesse contexto apresentado, as localidades costeiras, incluindo
suas áreas submersas, podem ser consideradas áreas deprimidas (mais
baixas), propensas a receber e armazenar sedimentos oriundos de
processos erosivos.

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No caso brasileiro, em linhas gerais, o relevo costeiro emerso, de al-


titude mais baixa, é caracterizado por seu conteúdo de sedimentos qua-
ternários. O litoral de altitudes mais elevadas é formado por:
• tabuleiros costeiros encontrados ao longo do litoral desde o norte
do estado do Rio de Janeiro até o norte do país, com presença muito
destacada no litoral da região Nordeste. Esse relevo se apresenta com
seus topos formando uma superfície plana, que acaba quase sempre
em uma encosta abrupta ao chegar à área litorânea. Seus terrenos são
constituídos por sedimentos terciários, que recebem pela Geologia o
nome de formação barreiras;

Emmanuel Pautet
Figura 6.1: Exemplo de tabuleiro costeiro, Praia de Pipa (RN). Notar o nível plano do topo do relevo. Na
linha do litoral, onde não há vegetação, há encostas com declives abruptos.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Praia_de_Pipa#mediaviewer/File:Pipa_rn_brasil_praias.jpg

• ambientes que possuem encostas moldadas em rochas cristalinas,


constituintes da borda do planalto brasileiro, que se destacam do su-
deste ao sul do país, principalmente pela presença contínua de enor-
mes trechos da grande Serra do Mar, próxima à linha da costa, e dos
relevos isolados dos chamados maciços litorâneos.

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Geomorfologia Costeira

Breogan67
Figura 6.2: Encosta moldada nas rochas cristalinas do Maciço da Tijuca, no
Rio de Janeiro. Na foto, em primeiro plano, a praia Vermelha e, do lado esquer-
do, a de Copacabana.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_de_Janeiro#mediaviewer/File: Rio_de_Janeiro_
from_Sugarloaf_mountain,_May_2004.jpg

Carla404

Figura 6.3: Serra do Mar. Ubatuba (SP). Paisagem costeira com a base de
encostas elevadas de terrenos cristalinos da borda do planalto brasileiro, prati-
camente na linha do litoral.
Fonte: http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/a/aa/Almost_deserted_
beach.jpg/1280px-Almost_deserted_beach.jpg

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A classificação do relevo brasileiro já foi apresentada a você em


disciplina anterior de Geomorfologia. É recomendado que sejam
relidos esses trabalhos, nos quais também se incluem a identifica-
ção das características gerais do relevo costeiro brasileiro.
No trabalho de Ab`Saber (2003), a partir da apresentação da clas-
sificação de toda a área litorânea do Brasil, cada setor é identifi-
cado, caracterizado e amplamente ilustrado com fotos e imagens
de satélite.

Outro aspecto a ser considerado é que, mesmo em áreas elevadas,


onde predomina a erosão, podem ocorrer processos de deposição. Do
mesmo modo, onde predominam processos de deposição, podem ocor-
rer ações de erosão. Para exemplificar, o rio Paraíba do Sul, no estado do
Rio de Janeiro, em áreas elevadas, possui planícies, como a de Resende,
que são ambientes de deposição e, no seu baixo curso, em Campos, lu-
gares onde há erosão nas margens do rio.
O mesmo ocorre nas áreas litorâneas. Junto aos relevos elevados na
linha do litoral, caracterizados pelas ações erosivas, é possível encontrar
praias que são ambientes de deposição. Assim como em áreas típicas
de deposição, como as praias, é possível ocorrer em ações erosivas em
alguns momentos.
Esta aula abordará, principalmente, a erosão nas áreas costeiras, em
terrenos de topografia elevada. A erosão em terrenos de topografia mais
baixa será vista em aulas mais adiante, como as que tratarão dos temas
restingas e praias.

Os processos continentais sobre os


terrenos elevados de áreas costeiras

Pelo que já foi visto até agora, entende-se que a ação mais efetiva-
mente direta do mar, na construção de relevos emersos por erosão e
deposição, alcança uma área um pouco maior do que a que engloba
o litoral. Essa área corresponde a uma faixa que, em sua delimitação,

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Geomorfologia Costeira

leva em conta os valores máximos e mínimos de maré, acrescidos de até


onde a ação das ondas pode chegar.
Partindo dessa colocação, é possível perceber que, quanto mais baixa
a inclinação do litoral, mais as águas das marés e das ondas poderão
avançar sobre ele. Em caso contrário, com inclinações maiores, o avanço
das águas tende a ser menor. Em situações mais extremas, em falésias Falésia
na linha do litoral, que podem chegar a ter inclinações próximas ao va- Tipo de encosta de
alta declividade, que se
lor de 90º, as águas das marés subindo e as ondas encontrarão nelas apresenta com uma face
uma barreira que não poderão ultrapassar, apenas irão atingindo níveis abrupta de seu topo à sua
base. Embora tenha uso
(posições) mais altos nessas escarpas. generalizado, o termo
tem sido comumente
empregado para
identificar as encostas
escarpadas que são
trabalhadas no litoral pela
ação da erosão marinha.

Embora o termo falésia tenha um significado geral, sua utilização


tem sido frequentemente associada para identificar as encostas
escarpadas que são trabalhadas no litoral pela ação marinha. Isso
tem ocorrido tanto na linguagem técnica quanto na popular.
São chamadas falésias vivas aquelas que atualmente estão sendo
trabalhadas pela ação do mar. As falésias mortas são aquelas que
não mais estão em contato com o mar e diretamente submetidas
aos seus processos.
Obs.: Na imprensa, em janeiro de 2014, foi publicada uma notícia
com o termo falésia. Astrônomos indicavam a existência de uma
imensa falésia em uma encosta do relevo de um cometa, que esta-
va sendo estudado a partir das imagens captadas por uma sonda
que lá estava instalada.

Se nas duas situações descritas anteriormente ficou claro que a ação


direta das marés e das ondas para o interior do continente tem um limi-
te, tanto no caso do litoral baixo como do alto, que processos irão atuar
além desse limite?
Como já foi aprendido, todas as áreas emersas são submetidas às
ações dos processos geomorfológicos típicos dos ambientes continen-
tais. Portanto, nessas áreas costeiras, eles atuam com seus mecanismos,

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embora possam incorporar, em suas características e resultados, in-


fluências adquiridas pela presença próxima do mar.
Com o auxilio do que é visto nas fotos (Figuras 6.4 e 6.5), é possível
ilustrar algumas situações relativas a esses processos.

Joel Souto Maior


Figura 6.4: Praia de Tambaba (PB). Observam-se o mar, a praia
e os tabuleiros costeiros constituídos por sedimentos terciários,
com os seus topos planos e suas escarpas de falésias.
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Tambaba_W-9167_03.jpg

Photo Pantai

Figura 6.5: Fernando de Noronha (PE). Visualizam-se o mar,


as praias e as encostas, que estão logo a seguir cobertas de
vegetação.
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fernando_de_Noronha_-
_Pernambuco_-_Brasil(5).jpg

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Geomorfologia Costeira

Na primeira foto (Figura 6.4), em Tambaba, nota-se ser possível as


águas do mar avançarem sobre a praia indo até a base da falésia e, na se-
gunda (Figura 6.5), em Fernando de Noronha, chegarem até o início da
vegetação. Além desses limites, o domínio é dos processos continentais
que já foram estudados, tais como o intemperismo, o escoamento superfi-
cial e subsuperficial de águas, os movimentos de massa e o processo fluvial.
Sabe-se que o mar influencia as condições do clima das áreas cos-
teiras, que desencadeia a execução desses processos geomorfológicos,
os quais são responsáveis por modelar as formas do relevo desses lo-
cais. Em função disso, pode-se dizer que a paisagem costeira tem áreas
direta e indiretamente ligadas ao mar, não sendo restrita ao ambiente
de uma praia. Portanto, nas áreas costeiras, todos os seus processos
podem atuar modelando formas de relevo desses locais, uns relaciona-
dos aos processos marinhos, e os outros, aos continentais, sofrendo a
influência do mar. Quando esses trabalhos são realizados, em áreas de
topografia mais alta, sedimentos são mobilizados em direção às áreas
mais baixas. Se esses sedimentos chegarem à linha da costa, haverá uma
interação com os processos marinhos, que poderão, ou não, transpor-
tá-los para outro local.
Em Tambaba (Figura 6.4), verifica-se que as escarpas das falésias são
recortadas por incisões (calhas erosivas), evidenciando lugares de onde
devem sair, em momentos de chuvas, muitos sedimentos que chegam às
praias. O mesmo ocorre na superfície das falésias, onde os seus altos de-
clives, além de favorecerem ações erosivas, pelo escoamento superficial,
criam condições que predispõem ocorrências de movimentos de massa,
fatos que são atestados pelos sedimentos que se encontram depositados
na base das encostas.
Em Fernando de Noronha, ilha constituída por rochas magmáticas,
o que é visto na Figura 6.5 é um relevo também elevado, mas sem o pre-
domínio de declives abruptos e sem evidências de cicatrizes de erosão
intensa. Você já aprendeu que a vegetação densa pode funcionar como
fator limitante à erosão pelo escoamento superficial. Mesmo assim, em-
bora com menos intensidade e deixando menos vestígios visíveis, os
processos erosivos estão mobilizando sedimentos que fluem das áreas
mais altas para as mais baixas.
Concluindo, ambos os casos demonstram a existência de situações de
interações entre processos continentais, sob condições de clima úmido,
e os marinhos. Sob esse tipo de clima, convém lembrar que os rios, prin-
cipalmente os de maiores bacias com suas maiores vazões, têm papel de

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destaque nesse tipo de interações pelo volume de água e sedimentos que


levam para a linha da costa.

Atividade 1

Atende ao objetivo 1

Diga se as frases a seguir são falsas ou verdadeiras e justifique sua afirmativa.

1. A erosão nos terrenos elevados na linha do litoral é uma ação exclu-


siva dos processos marinhos.

2. Os processos continentais não atuarão do mesmo modo em todas


as áreas costeiras.

3. O impacto e o atrito provocado pela ação das ondas favorecem a


ocorrência de movimentos de massa.

Resposta comentada

1. Falsa. Os processos continentais que atuam sobre a área das encos-


tas não sujeitas à ação direta do mar participam de ações que auxiliam
ou resultam no recuo de falésias.

2. Verdadeira. Em cada área costeira, o tipo de clima existente, levando


em conta também as influências da presença do mar, irão definir a pre-
sença de cada processo continental e de seu modo de atuação.

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Geomorfologia Costeira

3. Verdadeira. Nas falésias, as ações das marés e das ondas se fazem


presentes, promovendo trabalhos que resultam na remoção do material
que constitui a base dessas encostas. Essa erosão, promovendo o dese-
quilíbrio dessas encostas, ao descalçá-las, cria condições para a ocorrên-
cia dos movimentos de massa.

A ação marinha na erosão dos relevos elevados

Na Figura 6.6, estão representados, esquematicamente, os três ní-


veis de alcance das águas em que os processos marinhos atuam em uma
encosta na área litorânea. A partir da figura a seguir, serão descritas as
ações das marés, ondas e correntes que atuam sobre ela. Cada um dos
processos atua de seu modo, mas sempre tendo interação com os de-
mais, como já abordado nas aulas anteriores.

Figura 6.6: Encosta onde esquematicamente estão representados os três


níveis que alcançam as águas das marés e ondas.

As marés, nas suas subidas, recobrem a faixa litorânea que, no


caso das encostas é o espaço que vai do nível 1 (baixa-mar) ao nível
2 (preamar), colocando as rochas diariamente em contato com a água
do mar. Quando a maré vai baixando, essa área volta a estar sujeita ao
contato com o ar e passa a ser afetada pela ação direta do intemperis-
mo. Nesse trecho, haverá um material para ser trabalhado que agregou

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novos componentes, como sedimentos, água salgada e substâncias or-


gânicas. Existem nesse processo não apenas questões químicas envol-
vidas, mas também aspectos físicos, como acontece com as variações
de temperatura pelas alternâncias de contato da rocha com a água e de
sua exposição ao ar.
As águas do mar alcançam o nível 3 em função da ação das ondas
que se projetam acima do nível de maré alta, promovendo também efei-
tos próprios para o intemperismo.
As ondas projetam-se na zona de arrebentação em função da relação
que se estabelece entre ela e a profundidade. Dessa forma, com a subida
da maré, a arrebentação vai se deslocando em direção a terra, e a onda,
ao quebrar, vai projetando, em cada nova posição (do nível 1 até o 3),
suas águas. A atuação delas vai além de molhar as rochas, pois, utilizan-
do sua energia, realiza trabalhos de erosão pelo seu impacto e pelo seu
atrito promovido no escoamento de suas águas sobre a encosta. Consi-
dera-se a ação das ondas como o processo mais efetivo para promover
a erosão marinha.
A ação de impacto é simples de se entender. A onda, ao quebrar,
transfere a energia que carrega para a massa de água que se projeta para
o litoral. Em seguida, a água aplica a energia que leva no choque com
a encosta. A pressão exercida pela força aplicada é capaz de promover
a desagregação de partículas minerais que compõem a rocha, portan-
to realiza erosão ao retirar esses materiais. É uma ação mecânica, algo
semelhante a uma pessoa que, martelando seguidamente uma “pedra”,
conseguirá quebrá-la, dependendo do nível de força empregada e da
resistência do material.
Em todas as porções de baixas encostas com declives altos, que estão
em contato direto com ás águas do mar, não há condições de manter em
sua superfície partículas soltas. É por isso que não se formam solos nes-
sas posições elas são constantemente lavadas, deixando sempre expostas
as rochas que compõem a encosta.

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Geomorfologia Costeira

O ar aumenta o poder de
impacto das ondas?

Será que o impacto de uma onda nas rochas de uma encosta é


restrito apenas ao efeito da água batendo sobre a rocha?
Christofoletti (1974) destaca que, na atuação direta do impacto
da água, o ar tem um importante papel. Ou seja, uma rocha tem
poros e pode ter fissuras e fraturas, e é justamente nesses espaços,
reentrâncias, que as rochas se mostram menos resistentes. Entre-
tanto, há ar entre esses espaços e, quando as águas de uma onda se
projetam sobre uma rocha, elas vão comprimindo o ar que está a
sua frente, que é mais fluido do que a água e tem um maior poder
de penetração nesses espaços mais frágeis. O ar, ao ser pressiona-
do, funciona como se fosse uma cunha, e, como não tem saída,
faz pressão, rompendo a coesão da rocha nessas posições. O ar
não tem como sair, a não ser fazendo pressão nos minúsculos
espaços em que a água não consegue chegar.
É um efeito semelhante ao se comprimir, demasiadamente, um
balão cheio de gás; ele acaba explodindo. Ou, numa pedreira, de-
tonar dinamite em um buraco fechado na rocha, para quebrá-la.
Na superfície da encosta atingida pela energia do ar comprimido
pela onda, poderiam aparecer fissuras na rocha para dissipá-la,
se não houvesse resistência para aguentar a pressão exercida até
a onda refluir. As sucessivas ondas poderiam criar novas fissuras
ou ampliar as já existentes.

Convém lembrar que a água, substância líquida, tem pouco poder de


atrito. No caso das ondas, a presença na água de pequenos grãos de areia
ou de materiais maiores, como seixos, criam condições específicas de
comportamento. Além do efeito do próprio impacto desses materiais,
quando lançados com a água pela onda sobre uma encosta, também
são arrastados pelo escoamento da água sobre a superfície da encosta,
gerando atrito e, consequentemente, produzindo erosão.

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Como funciona o atrito?

O atrito resulta da resistência oferecida ao movimento de fricção


entre a superfície de dois corpos. As irregularidades existentes
nessas superfícies impedem que elas deslizem livremente, uma
sobre a outra. As diferenças de resistência dos corpos fazem com
que a força aplicada, na fricção, possa ser capaz de trabalhar na
retirada desses obstáculos.
Existem boas exemplificações para esse tipo de trabalho. Entre
elas, o uso que é feito de lixas para alisar ou polir uma superfície
de madeira ou metal, assim como o uso de jatos de água com
areia para limpar a superfície de rochas de fachadas de prédios e
de monumentos.

As ondas, com seus impactos e atritos constantes, promovem a


retirada de material pela erosão que provocam na encosta. Convém
lembrar que a maré, interagindo com os processos de intemperismo,
trabalha constantemente para tornar mais fraca a coesão da superfície
das rochas, o que facilita a execução de processos erosivos.
Essa erosão cria instabilidade para a falésia, provocando desmoro-
namentos, pois incide em sua base (baixa encosta). O descalçamento da
base das encostas é uma das condições mais favoráveis para deflagrar a
ocorrência de movimentos de massa.

Cavernas marinhas

Em algumas situações, dependendo da forma de ação dos pro-


cessos marinhos, bem como do tipo e da estrutura das rochas
presentes numa falésia, a ação erosiva na base pode prosseguir
para o interior sem que haja desmoronamentos.

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Geomorfologia Costeira

Nesse caso, o trabalho marinho estará criando cavernas nessas


encostas. A existência de algumas pode ser temporária, enquanto
outras podem continuar existindo por centenas de anos. Muitas
delas são famosas e muito visitadas por turistas, como a gruta
Azul, em Capri, Itália. Outras são usadas com frequência como
cenários em filmes de diversos tipos de aventura, como aquelas
em que os piratas escondiam os seus tesouros.
No site http://www.wdl.org/pt/item/4235/, você poderá obter
mais informações sobre a gruta Azul.

Nas falésias, a existência de rochas menos resistentes ajuda o trabalho


da erosão e os consequentes desmoronamentos, fazendo a encosta recuar
mais rapidamente. Ela vai sendo cortada e, gradativamente, a superfície
de sua escarpa vai se deslocando para o interior. Desse modo, o mar
avança conquistando terras do continente.
Na Figura 6.7, observa-se que o material desta falésia é constituído
principalmente por rochas sedimentares argilosas que, quando hidrata-
das se apresentam com maior coesão ao impacto das ondas. Entretanto,
a disponibilidade de areia no local amplia a eficiência do trabalho das
ondas realizado pelo atrito, acelerando a erosão. Na escarpa, de rocha
sedimentar, pode-se notar a presença de uma grande cavidade pro-
duzida pela erosão marinha e pela queda de material da encosta. Em
toda a extensão da base da falésia, há escombros de desmoronamentos,
evidenciando o seu recuo.
Jorge S. Marques

Figura 6.7: Falésia em tabuleiro costeiro em


Marataízes (ES). Foto tirada em momento de
baixa-mar.

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Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Ao mesmo tempo em que a erosão faz uma falésia recuar, ela tam-
Plataforma bém promove o aparecimento de uma plataforma de abrasão. A
de abrasão palavra abrasão, relacionada a ações de atrito, é muito utilizada como
ou terraço
sinônimo de erosão em várias expressões, como abrasão marinha.
de abrasão
marinha A erosão pelas ondas ocorre sempre no litoral acima do nível de
Plano ou superfície maré baixa. Dessa forma, o recuo da falésia é feito com a retirada do
construído pelo trabalho
erosivo das ondas, material que está acima desse nível. Portanto a parte das rochas que está
encontrado junto à base abaixo desse nível não é afetada pela erosão.
de falésias vivas, com
um caimento suave em
direção ao mar.
É importante citar que, dentro do mar, quando a onda “sente o fun-
do”, se houver sedimentos friáveis soltos, eles poderão ser removi-
Sedimentos dos por ela, constituindo-se também essa ação em processo de erosão.
friáveis A Figura 6.8 ilustra como a encosta, ao recuar, foi tendo as camadas
Tipos de sedimentos de sedimentos cortadas horizontalmente, formando-se desse modo a
formados por material
fragmentado, friável; plataforma de abrasão. Um observador, andando sobre essa superfície
portanto, por partículas
soltas. de erosão, poderá identificar nesse piso a disposição, a constituição e a
estrutura das rochas sedimentares que formavam parte da encosta que
foi erodida. Porém, as rochas das plataformas de abrasão nem sempre
estão expostas. É comum estarem cobertas de sedimentos, tendo em
vista sua proximidade de um local de erosão.

Figura 6.8: Esquema da formação de falésia e de plataformas de abrasão.

Num litoral alto em erosão, alguns pontos dos seus trechos podem
recuar mais rapidamente do que outros, em função da resistência do
material que o constitui e da intensidade do processo de erosão.

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Geomorfologia Costeira

A erosão costeira na Ponta Buena, em Barra de Itabapoana (RJ), tem


sido muito acelerada nos últimos anos. Na Figura 6.9 (fotos A e B),
apesar de as fotos terem sido tiradas em posições e momentos de marés
diferentes, fica evidente o recuo da falésia. Em um período de menos de
dois anos e meio, o pontal recuou cerca de três metros, deixando à sua
frente um relevo residual ou testemunho. Concomitantemente, a plata-
forma de abrasão local cresceu.

Luiz Saavedra
Figura 6.9: Pontal de Ponta Buena, Barra de Itabapoana (RJ). Foto A é de
maio de 2006, e foto B, de outubro de 2008. Erosão do litoral. Recuo de falésia
e crescimento da plataforma de abrasão.

Na foto anterior, a plataforma de abrasão está coberta por sedimentos


grossos que foram retirados da falésia pela erosão. Do outro lado des-
se pontal, na Figura 6.10, com a maré baixa, é possível ver esse aflo-
ramento da superfície de erosão modelada nos sedimentos argilosos
do Terciário.
Luiz Saavedra

Figura 6.10: Plataforma de abrasão


de Ponta Buena – Barra do Itabapoana
(RJ). Superfície de erosão constituída de
argilas dos sedimentos terciários, aflo-
rando durante uma maré baixa.

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Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

A ocorrência da erosão pressupõe a retirada de material do lugar


onde ele estava. Mas quem vai transportá-lo? E qual é o destino dele?
Nos processos de erosão do litoral, além da ação das marés e das on-
das, não é possível negligenciar a presença e a atuação de correntes. O
transporte de sedimentos será feito pelas correntes, e o destino deles po-
derá ser ficar logo ao lado de onde foram retirados, deslocar-se ao longo
do litoral ou se afastar, pelo mar, da linha do litoral. Para entender como
o processo funciona e suas implicações, é necessário conhecer os tipos
e as características dos materiais (sedimentos) que estarão disponíveis.
Quando se trata de erosão em litorais baixos, como será visto em au-
las posteriores, geralmente o trabalho é realizado com sedimentos mais
finos: as areias, os siltes e as argilas. Quando se está tratando de litorais
altos, como nesta aula, a erosão poderá disponibilizar para transporte,
além de sedimentos finos, também materiais mais grossos, como seixos,
blocos e matacões.
A Figura 6.11 dá uma boa imagem sobre o volume e o tipo de
materiais que podem ser disponibilizados, na erosão de uma falésia, e as
perspectivas de seu transporte.

Andrew Dunn

Figura 6.11: Falésia em Hunstanton – Norfolk, Inglaterra.


Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Abras%C3%A3o_marinha#
mediaviewer/Ficheiro:Coastal_Erosion_Hunstanton_Cliffs.jpg

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Geomorfologia Costeira

Percebe-se na foto que a falésia é composta por dois tipos de rocha:


na parte inferior, há um material mais fino e na superior, um material
com aspecto de rocha mais compacta. À frente, em grande volume, se-
dimentos resultantes de desmoronamentos que melhor mostram a dife-
rença entre os materiais. É possível também verificar que, mais próximo
ao mar, encontram-se somente seixos lavados do mesmo material dos
grandes blocos soltos de rocha dura, que, por sua vez, saíram da parte
superior da falésia.
Ainda, ao se observar o grande volume de material desmoronado, a
presença de uma rocha resistente passa a representar uma barreira. En-
quanto não for retirado, ele impedirá que o processo de erosão da falésia
continue a ser executado com a intensidade de antes. Em situações desse
tipo, os sedimentos mais finos tendem a ser mais rapidamente levados
do local, e os mais grossos e mais resistentes, a permanecer por mais
tempo, impedindo a ação direta das ondas sobre a falésia.
Quando a erosão sobre a falésia disponibiliza sedimentos finos, as
correntes se fazem mais eficientes para movimentá-los. As argilas ten-
dem a se incorporar no fluxo das correntes como sedimentos em sus-
pensão, sendo transportadas para áreas mais distantes, principalmente
quando a intensidade da movimentação das águas é grande.
No caso das areias, quando o transporte não é eficiente para retirar
todo o volume disponível, há a tendência de se formarem praias à frente
das falésias, sobre suas plataformas de abrasão, como mostra o esquema
da Figura 6.12. Quando efetivamente mobilizadas, as areias tendem a
transitar ao longo do litoral, formando praias ou ocupando áreas próxi-
mas à frente do litoral (Figura 6.13).

Figura 6.12: Esquema ilustrativo da formação de praias à frente das falésias.

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Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Figura 6.13: Esquema ilustrativo da formação de depósitos arenosos tam-


bém à frente das plataformas de abrasão.

As falésias vivas transformam-se em falésias mortas quando os sedi-


mentos depositados à frente das falésias fazem com que elas não sejam
mais atingidas pela ação do mar. Se esses sedimentos forem retirados e
o mar voltar a atuar, a falésia passará a ser viva novamente.
Em casos de recuo do nível do mar, isso também acontece. E, em caso
de subidas do nível do mar, elas poderão ser novamente trabalhadas.
Agora já é possível falar sobre as correntes que atuam na mobilização
dos sedimentos saídos de encostas elevadas submetidas à erosão.
As águas das marés, quando descem, e das ondas, quando refluem,
geram fluxos que tendem a retirar os sedimentos mais finos entre os que
estão depositados à frente das falésias e a disponibilizá-los para serem le-
vados a outros locais. Esses sedimentos podem ser areias, siltes ou argilas.
As areias tendem a trafegar ao longo da costa pela ação de corren-
tes longitudinais produzidas pela incidência das ondas no litoral (como
você já estudou na aula sobre correntes), podendo também ser levadas
para áreas mais profundas. Se existe forte movimentação das águas, as
argilas e siltes são colocados e mantidos em suspensão, trafegando tam-
bém ao longo do litoral ou para locais de águas mais profundas, sendo
possível sua presença espalhando-se por grandes áreas.
A deposição dos sedimentos levados pela corrente e a continuidade
ou a retomada desse transporte por outros processos dependerão das
condições ambientais dos locais por onde o fluxo irá se deslocar.
Ao longo do espaço e do tempo, são inúmeros os condicionantes que
podem afetar as correntes que transportam os sedimentos retirados das
188
Geomorfologia Costeira

costas altas. Muitas dessas situações já foram apresentadas para você


em aulas anteriores ou ainda serão vistas quando, mais adiante, forem
abordados os temas relativos aos relevos formados por processos de de-
posição. Apenas para exemplificar, a seguir há uma lista com algumas
situações que afetam as correntes:
• a conformação da linha do litoral cria barreiras e armadilhas que
favorecem a deposição de sedimentos;
• a chegada de ondas maiores, com mais energia, num determinado
local, pode produzir movimentação de sedimentos que, em condi-
ções anteriores, estavam sendo ali depositados;
• as mudanças ao longo do ano, na direção de chegada de ondas
num litoral, promovendo inversões no sentido de transporte das
correntes longitudinais;
• o encontro entre correntes marinhas com correntes fluviais;
• o surgimento de correntes promovidas por tempestades locais.

Atividade 2

Atende ao objetivo 2

Indique a continuidade correta para cada uma das 3 frases:

1. O intemperismo é um processo que...

2. Os sedimentos produzidos pelos movimentos de massa ...

3. As correntes marinhas, produzidas pela ação das ondas, ...

(  ) ... não consegue atuar na faixa definida como litoral.


(  ) ... são sempre removidos pelas correntes marinhas.
(  ) ... podem retirar ou depositar sedimento à frente das falésias
(  ) ... podem retardar a continuidade do recuo das falésias.
(  ) ... sempre retiram todos os sedimentos soltos à frente das falésias.
(  ) ... não atua continuamente na faixa definida como litoral.

189
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Resposta comentada

1. ... não atua continuamente na faixa definida como litoral. – Como o


intemperismo está relacionado ao contato do ar com a superfície, ele só
ocorre na faixa litorânea nos momentos de maré baixa.

2. ... podem retardar a continuidade do recuo das falésias. – Para a


falésia continuar a receber a ação erosiva do mar, é necessário que o
material que dela desmoronou seja retirado. Isso dependerá do nível
de resistência desse material, que se posiciona como uma barreira aos
processos erosivos.

3. ... podem retirar ou depositar sedimento à frente das falésias – As


correntes podem retirar, transportar e depositar sedimentos. Se ao
longo do litoral existem falésias sendo erodidas, existem sedimentos
disponíveis para o transporte pelas correntes. A erosão e a deposição
desses sedimentos pelas correntes dependerão do nível de energia que
elas possuem ao longo de sua trajetória.

A ação dos processos na


evolução das costas altas

As formas de relevo são resultados de interações que se estabelecem


entre as características dos materiais a serem trabalhados e as caracterís-
ticas e modos de ação dos processos que atuam sobre eles.
Os processos atuam com seus ritmos, modos, frequências e intensi-
dades. Por sua vez, os materiais também podem influir, pela maior ou
menor resistência que oferecem, ou por condicionamentos que estabe-
lecem no modo de atuar dos processos.
A seguir serão apresentados e comentados alguns exemplos de resul-
tados relativos à atuação de processos ao longo do tempo, em áreas de
relevo elevado, levando em conta, também, as características do mate-
rial que o formam.
Ao examinar os esquemas, você certamente irá lembrar o que já
aprendeu sobre ação de marés, ondas e correntes. Com esses conhe-
cimentos, poderá raciocinar sobre os resultados a serem deduzidos e
esperados, levando em conta novas características, que você poderá in-
troduzir nas situações apresentadas em cada esquema.

190
Geomorfologia Costeira

Exemplo 1 – Figura 6.14 (A e B)

Mar

Mar

Figura 6.14: Diferenças de resistência para o recuo de uma falésia em função


da ocorrência de fraturas nas rochas.

O esquema (A) representa um litoral de costa alta, constituído por


um mesmo tipo de rocha na qual ocorrem fraturas, que se dispõem per-
pendicularmente à linha da costa. Neste local, a principal direção de
incidências de ondas é a frontal.
Um mesmo tipo de rocha implica um comportamento mais homogê-
neo do material frente à ação das ondas. Entretanto, faz diferença a exis-
tência das posições fraturadas, pois representam áreas de maior fraqueza.
O esquema (B) mostra o resultado do trabalho das ondas, promo-
vendo o recuo das falésias, que foi mais efetivo nas áreas de menor re-
sistência da rocha, onde estão as fraturas. A nova linha da costa agora

191
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

possui reentrâncias e pontais. No esquema, as reentrâncias tendem a se


afunilar, ou seja, tornam locais de concentração de energia. Entende-se
também que o material erodido foi retirado.

Exemplo 2 – Figura 6.15 (A e B)

Figura 6.15: Diferenças de resistência para o recuo de uma falésia em função


da ocorrência de dois tipos de rocha.

As Figuras 6.15 A e B repetem as situações do exemplo anterior.


A única diferença está relacionada à presença de dois tipos de rochas,
sendo que uma é mais resistente do que a outra. O dique, ao ser conside-
rado uma rocha menos resistente, oferece comportamento similar ao da
rocha fraturada. O resultado do trabalho erosivo é semelhante.

192
Geomorfologia Costeira

Exemplo 3 - Figura 6.16 (A e B)

Figura 6.16: Processo de erosão formando uma ilha, quando a parte isolada
chegar a ser totalmente cercada pela água, ou um tômbolo (denominação
dada se uma forma de relevo como essa ficar ligada ao litoral por sedimentos
depositados na sua retaguarda).

Como no exemplo anterior, temos em 6.16 A uma rocha intrusiva


formando um dique. A diferença é que, desta vez, considera-se o dique
como a rocha mais resistente. Em função disso, no recuo das falésias, o
dique ganhou a forma de um pontal. As falésias constituídas pela rocha
menos resistentes recuaram mais rapidamente.
Em 6.16 B, observa-se que um pedaço do dique ficou isolado na
frente das falésias. Isso acontece porque um pontal, como você deve es-
tar lembrado, é uma área de convergência de energia e, por isso, a ação
erosiva acontece, ao mesmo tempo, em seus dois flancos. Se houver, ao

193
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

longo do dique, algum trecho transversal que apresente menos resistên-


cia, o trabalho erosivo nele se concentrará, cortando e isolando a sua
parte mais à frente, passando a ser uma ilha se cercada permanente-
mente pela água.
Essa parte isolada continuará a ser erodida, agora em todo o seu
redor e, um dia, sem sustentação, irá desmoronar. Enquanto isso não
acontece, ela é um testemunho da posição que a linha da costa estava
lá no passado. As fotos constantes das Figuras 6.17 (A, B e C) exem-
plificam a presença de blocos de rocha que se mantiveram à frente das
falésias que recuaram.

Jorge S. Marques
Luiz Saavedra

Luiz Saavedra

Figura 6.17 (A, B e C): Ponta do Retiro – São Francisco do Itabapoana (RJ).
Foto (A) em novembro 2004; (B) em maio de 2006 e (C) em outubro de 2008.

Com o desenvolvimento do processo erosivo, a porção isolada pode


se tornar uma forma de relevo com uma base tendendo a ser mais es-
treita e um topo mais pontiagudo, como um pico. Tais formas recebem
o nome de pináculo.

194
Geomorfologia Costeira

Em Ponta do Retiro, na Barra de Itabapoana, em São Francisco do


Itabapoana (Figura 6.17), por volta de 1940, a falésia recuou, deixando,
à frente desse pontal, uma parte isolada, com a forma de um pináculo.
Gradativamente, a falésia foi recuando, afastando-se desse resíduo, que
também cada vez mais ia ficando menor. Observa-se na foto a base desse
pináculo bastante erodida, assim como afloramentos da rocha que com-
põem a plataforma de abrasão existente logo abaixo da areia. No final da
primeira década do século XXI, essa forma de relevo não mais existia.
Na Figura 6.18, outro exemplo no litoral da Espanha.

Figura 6.18: Litoral de Algarve (Espanha) - falésias recuando e deixando à


frente testemunhos da antiga posição do litoral.
Fonte: https://www.publituris.pt/wp-content/uploads/2010/01/algarve4.jpg

195
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Exemplo 4 – Figura 6.19

Figura 6.19: Esquema da presença de diaclases no interior da rocha que


constitui um costão.

O esquema mostra uma forma de relevo chamada costão, cuja ocor-


rência é comum em áreas costeiras do sul e sudeste brasileiro, onde
terrenos de rochas cristalinas se apresentam na linha da costa. Dife-
rentemente das falésias de áreas dos tabuleiros sedimentares que se
mostram com formas escarpas de superfícies planas, esses costões têm
a forma convexa.
Causa curiosidade encontrar constantemente costões com sua for-
ma típica, ao invés de ver formas mais verticais esculpidas pela erosão
nessas rochas. A justificativa para essa curiosidade reside nas caracterís-
ticas da estrutura dessas rochas. No seu interior, encontramos diaclases,
que são fraturas, em diferentes posições. Entre elas, chamam atenção as
diaclases curvas, resultantes de descompressões que ocorreram nessas
rochas cristalinas.
As diaclases curvas separam placas de rocha, criando-se um aspecto
semelhante às camadas que formam uma cebola. Se houver erosão ou
escorregamento dessas lascas de rocha, o que estará por baixo e apa-
recerá é uma nova superfície convexa. Disso resulta a manutenção da
forma, mesmo que ela tenha recuado por efeito da erosão produzida
pelos processos marinhos.

196
Geomorfologia Costeira

A foto da Figura 6.20 mostra o afloramento da rocha nos costões for-


mados em torno de uma elevação, o trabalho erosivo das ondas e a área
que elas alcançam (faixa em que a rocha aparece com cor mais clara).

Figura 6.20: Setiba, em Guarapari (ES). Costões com suas formas convexas.
É possível visualizar, na posição de contato da encosta com a água, a ação da
erosão que se expande entre as placas de rocha.
Fonte:http://pt.wikipedia.org/wiki/Guarapari#mediaviewer/Ficheiro:Praia_de_Setiba.jpg

É importante frisar que cada caso apresentado esquematicamente


considerou de forma simplificada, principalmente, algumas caracterís-
ticas da composição e da estrutura de rochas. Mudanças nos esquemas,
como a direção do trem de ondas e a inclusão de novas rochas, produ-
ziriam novos efeitos.
Para descrever e analisar os ambientes reais com sua dinâmica, deve-
-se considerar que as situações encontradas se apresentam de forma mais
complexa, reunindo diversos componentes com características variáveis.
A variedade das formas do relevo, de suas altitudes e das composições
e estruturas de suas rochas deve ser considerada. Na questão da dinâmi-
ca, é necessário atentar para os diversos processos atuantes e para a inte-
gração do comportamento de cada um com os demais no espaço tempo.
Quanto mais se conhece o ambiente geográfico como um todo, melhores
são as previsões do que poderá nele acontecer.

197
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Outra questão importante é que os processos de erosão existentes


em áreas elevadas não acontecem somente porque o nível do mar subiu.
Eles são consequência do tipo de dinâmica ambiental que está ocorren-
do ou que venha a ocorrer no local. Todavia, se houver mudanças de
nível, os processos serão afetados.
Sem a subida do nível do mar, os processos também podem ser in-
tensificados ou amortecidos por várias causas, entre elas, respectiva-
mente: quando a erosão de uma falésia chega a uma posição de recuo
que expõe rochas mais fracas e quando grande volume de rochas re-
sistentes desmorona na frente da falésia, criando uma barreira para o
avanço da erosão.

Atividade 3

Atende ao objetivo 3

1. Por que falésias submetidas a tipos de processos marinhos e conti-


nentais semelhantes não recuam com a mesma intensidade?

2. O que são pináculos e como se formaram?

3. O que é plataforma de abrasão?

4. O que é falésia morta?

Resposta comentada

1. Porque, embora submetidas aos mesmos tipos de processos, cada


um deles pode apresentar características diferentes, por exemplo, em

198
Geomorfologia Costeira

suas frequências de atuação e em suas intensidades. Além disso, mesmo


que os processos sejam totalmente semelhantes em suas características,
as falésias podem ser constituídas por diferentes tipos de rocha.

2. São formas de relevo que resistiram aos processos de erosão que,


por sua vez, estão fazendo uma costa alta recuar. Constituem testemu-
nhos de antiga linha do litoral.

3. É uma superfície de erosão criada durante o processo de recuo que


a falésia sofreu devido à ação marinha.

4. É uma falésia que não é mais atingida pela ação dos processos
marinhos.

Efeitos da variação do nível do mar no


relevo das áreas costeiras elevadas

As subidas ou descidas do nível do mar por eustatismo ou por


epirogenia trazem transformações para as antigas e novas áreas
litorâneas. São promovidos reajustes no modo de atuação dos
processos ou até mesmo trocas de forma de atuações de deposi-
ção para erosão ou vice-versa.
Sempre lembrando que, por eustatismo, todos os litorais dos oce-
anos seriam afetados.

Quando o nível do mar sobe, uma das consequências é o afogamento


do litoral, ou seja, sua inundação. As águas recobrem as áreas de topo-
grafia mais baixa, mudam-se as posições da linha do litoral, os relevos
mais altos de rochas mais resistentes que se afogaram viram áreas de
menor profundidade (altos fundos) e relevos altos isolados no meio das
áreas que foram afogadas podem virar ilhas.

199
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Novas áreas de topografia elevada na linha do litoral passam a sofrer a


ação de processos de erosão. Em áreas de costas altas, onde os processos já
realizam erosão, os mesmos continuarão a agir, porém irão atuar atin-
gindo posições topograficamente mais elevadas. Apesar disso, não se
descarta a possibilidade de que o processo de erosão diminua de inten-
sidade ou mesmo desapareça, dependendo do lugar e das condições do
contexto ambiental onde ele está inserido. Para isso acontecer, bastaria,
por exemplo, que, para o local, viessem correntes trazendo grandes vo-
lumes de sedimentos.
Em caso de descida do nível do mar, haverá emersão da topogra-
fia da área costeira marinha, sendo que altos fundos poderiam também
emergir como ilhas à frente dos novos terrenos continentais. Assim
como na subida do nível do mar, para a descida existem os pressupostos
do aparecimento de novas áreas de sedimentação e de erosão, podendo
também ocorrer reajustes na atuação dos processos na linha do litoral.
O fato de encontrarmos uma praia hoje afastada do mar ou uma ilha
com características geológicas semelhantes a uma falésia que recuou, pode
ser um testemunho de que o nível do mar mudou no local ou que, respec-
tivamente, processos de sedimentação e de erosão foram intensificados.
Entretanto, existem indícios que evidenciam com mais crédito a va-
riação do nível do mar. No caso do relevo, a Figura 6.21 mostra uma
situação criada pelo abaixamento do nível do mar. No esquema, de for-
ma exagerada, encontra-se na parte superior um degrau que representa
uma falésia (morta) e uma plataforma de abrasão, porém, o mar está
na parte inferior atuando sobre outra falésia (viva) e construindo uma
plataforma de abrasão.

Figura 6.21: Esquema representativo de uma variação local do


nível do mar.
200
Geomorfologia Costeira

Existem vários caminhos para argumentar a partir de conhecimentos


e interpretações feitas. Se na área ocorrem atividades tectônicas, podem
existir evidências geológicas de que um falhamento seria o responsável
pela elevação do terreno. O encontro de sedimentos sobre a plataforma
de abrasão, identificados como marinhos pela presença de conchas e
outros resíduos de natureza orgânica, é um argumento de reforço. Essa
interpretação mostra que houve uma variação local do nível do mar.
Para identificar variações globais do nível do mar, é necessário juntar
dados e informações, entre outras, de relevos e depósitos sedimentares
em todos os litorais que evidenciem suas ocorrências, aferidos a uma
escala de tempo.

O homem e a erosão litorânea

Se, por um lado, a erosão existe na natureza como uma ação res-
ponsável por destruir e construir formas de relevo, pelo outro, do lado
do homem, ela é qualificada ganhando atributos de valor positivos
ou negativos.
Como aspecto positivo, temos a visão dos relevos das costas altas,
com as falésias, e do embate sobre eles dos processos marinhos, parti-
cularmente das ondas. São criados cenários, considerados maravilho-
sos, locais cada vez mais articulados com atividades turísticas e muito
mostrados por vídeos e fotografias que circulam pela internet. Outros,
muito visitados, também belos, destacam-se porque os seus valores fo-
ram ampliados por terem e guardarem registros de grandes momentos
históricos, alguns deles que infelizmente foram palco do sacrifício de
muitas vidas humanas (Figura 6.22).

201
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

Jorge L. C.Marques
Mar

Figura 6.22: Falésia, plataforma de abrasão, pináculo, praia e banco de areia


na costa da Normandia (França). Esse foi um dos locais de desembarque, no
Dia D, das tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial. No alto, à esquerda,
antiga fortificação alemã.

A situação negativa refere-se à intensificação, ou até mesmo o apa-


recimento, onde não existia, de erosão no litoral, colocando em risco
as populações que vivem no local. As costas altas, quando estão na li-
nha do litoral, tendem a ser constantemente erodidas. Entretanto, isso
pode acontecer em costas baixas e mesmo em costas altas que estão
hoje afastadas da linha do litoral. Duas causas estão sempre entre as
mais apontadas: o aumento no nível do mar, devido ao efeito estufa, e
as ações antrópicas.
A primeira causa, já apresentada na aula inicial desta disciplina, impli-
ca efeitos mundiais em todas as linhas do litoral do planeta. A segunda,
refere-se aos resultados de ações humanas, que ocorrem de modo bas-
tante diversificado em todos os tipos de ambientes costeiros, sejam eles
de costas baixas ou altas. Essas ações podem trazer efeitos localizados ou
para outras áreas, em função de criarem interferências que podem modi-
ficar a forma de propagação das ondas e o comportamento das correntes
litorâneas no transporte de sedimentos ao longo do litoral.
Ao abordarmos as questões de risco, teremos que analisar espe-
cificamente cada situação, até porque as concepções utilizadas para
definir risco evidenciam a presença humana. Assim, se uma costa está
em processo de erosão avançada sem ocupação e uso humano, não há
risco. Como será visto mais adiante, em políticas de uso do solo costeiro,

202
Geomorfologia Costeira

se há conhecimento de erosão marinha intensa em terrenos da borda de


falésias, eles não devem ser ocupados. Entretanto, terrenos que já mos-
tram possibilidades de riscos futuros acabam sendo oferecidos a preços
baratos ou são abandonados, levando populações pobres a ocupá-los e
tornando-se um grave problema social a ser resolvido.
Outro aspecto a ser ressaltado é a possibilidade de o processo de
erosão acabar com paisagens valorizadas pela beleza e, até mesmo, uti-
lizadas como áreas de trabalho de campo demonstrativas de forma de
relevo, como o pináculo de Ponta Buena (RJ) que, em pouco mais de 50
anos, desapareceu.
Merece ainda ser lembrado que, quando há erosão numa área,
os sedimentos que saem serão transportados e necessariamente
depositados em outro local. Assim, uma área emersa do litoral pode
diminuir por erosão e outra crescer por sedimentação. Com isso, são
criados conflitos em torno de perdas e ganhos de propriedade desses
terrenos. Isso pode ocorrer naturalmente ou ser induzido por ações ile-
gais, constituindo assunto a ser abordado mais adiante.
Um exemplo de interferência antrópica é a retirada de arenito que
constitui os recifes costeiros do Nordeste brasileiro. Os recifes protegem
o litoral das ações de ondas, e sua retirada, em alguns lugares, propiciou
o desenvolvimento de erosão em praias e falésias.
A partir do que vimos até o momento, podemos dizer que cada vez
mais se impõe um melhor conhecimento da atuação desses processos e da
identificação das áreas em que eles poderão ou irão ocorrer. Isso é impor-
tante para orientar planos e projetos que visem estabelecer ordenamentos
do território para a ocupação, utilização das áreas litorâneas e estabeleci-
mento de medidas de prevenção para possíveis novas áreas de riscos.
Não menos importante, podem-se ressaltar as ações humanas,
orientadas para a construção de obras diversas nas áreas costeiras, não
só as que trazem problemas ambientais, mas também as que criam
condições para o desenvolvimento de atividades humanas ou buscam
criar proteções para os ambientes costeiros sujeitos à erosão. Para cor-
rigir problemas ou realizar obras de forma adequada, é necessário am-
pliar o conhecimento das características do local e da forma como os
processos atuam.
Atualmente, há uma parte da população que assentou suas moradias
ou atividades sobre o topo dos tabuleiros costeiros no litoral brasileiro,
próximo de suas bordas, que constituem falésias novas (vivas) e antigas

203
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

(mortas). A natureza frágil do material sedimentar, associada à alta de-


clividade, cria grandes riscos de deslizamentos e desmoronamentos,
podendo causar destruição de patrimônio e fatalidades. As populações
mais pobres são, geralmente, as mais atingidas, pois são carentes de re-
cursos para habitarem outros locais e terem melhor qualidade de vida.

Conclusão

Na linha do litoral, temos dois tipos de relevo em relação ao nível


do mar: os de topografia elevada e os de topografia baixa, nos quais se
identificam, respectivamente, as ocorrências de processos de erosão e
de deposição.
Variações no nível do mar ou mesmo mudanças na dinâmica ma-
rinha local, promovidas ou não pelo homem, podem interferir nessa
tendência, razão pela qual as ocupações desordenadas da faixa litorânea
sempre representarão riscos ambientais.

Atividade final

Atende ao objetivo 4

1. Se o nível do mar aumentar (marque as respostas corretas):


(  ) Em todos os litorais só atuarão processos de erosão.
(  ) Em cada tipo de litoral, não poderá ser possível prever as possibili-
dades futuras de ocorrer erosão.
(  ) Novas áreas do litoral poderão ficar sujeitas à erosão.
(  ) Poderá ocorrer erosão em áreas costeiras baixas.
(  ) Nas áreas de costas altas, novas plataformas de abrasão serão cons-
truídas em níveis topográficos mais elevados.
(  ) É porque o clima do planeta está mudando; entretanto, isso não
traz consequências para os processos continentais que atuam
no litorais.

2. Como você explicaria para os seus futuros alunos:


a) Que morar numa área elevada, próxima da borda de uma falésia
viva, representa um grande risco.

204
Geomorfologia Costeira

b) Que morar numa área elevada, próxima de uma falésia morta, mes-
mo longe da ação do mar, representa um grande risco.

c) Que, apesar da existência da erosão, morar sobre algumas falésias,


em áreas elevadas, pode não trazer nenhum risco maior.

Resposta comentada

1.
Novas áreas do litoral poderão ficar sujeitas à erosão.
Também poderá ocorrer erosão em áreas costeiras baixas.
Nas áreas de costas altas, novas plataformas de abrasão serão construí-
das em níveis topográficos mais elevados.
Se ocorrer aumento do nível do mar, haverá possibilidade de aumentar
a intensidade da erosão onde ela já existe e de ocorrer também onde ela
não se fazia presente. Saber das características do relevo de cada litoral
será importante para fazer previsões. Como as ondas são importantes
nos processos de erosão, a elevação do nível das águas levará as ondas a
atuarem, alcançando níveis topográficos mais altos, inclusive sobre ter-
renos de natureza sedimentar, como as praias.

2.
a) Descrevendo como os processos, principalmente os marinhos, atu-
am interagindo com os continentais, erodindo a falésia, fazendo com
que ela recue, o que irá atingir as construções existentes sobre ela.

205
Aula 6 • Como a erosão numa falésia faz o mar ganhar novo “território”?

b) Mesmo morta, a falésia é uma encosta íngreme, cuja forma tem re-
lação com a antiga ação do mar. Além disso, apesar de não estar mais
submetida aos trabalhos dos processos marinhos, a encosta está subme-
tida aos processos continentais, portanto sujeita ao risco da ocorrência
de movimentos de massa.
c) Existem falésias que são constituídas por rochas extremamente re-
sistentes. Em função disso, os processos erosivos podem agir de forma
extremamente lenta. Desse modo, acabam por oferecer pouquíssimos
riscos às construções que sejam feitas sobre elas, lembrando, logica-
mente, de guardar boa distância de suas bordas.

Resumo

O tema abordado de erosão de relevos de área elevada tratou de como os


processos marinhos realizam a erosão, promovendo o recuo desses terre-
nos, ampliando a área do mar. Evidenciou a atuação dos processos mari-
nhos, destacando a ação das ondas e, ainda, a participação dos processos
continentais, entre os quais a importância dos movimentos de massa.
As características do relevo e das rochas que formam as falésias são
importantes em suas interações com os processos de erosão, definindo
a intensidade com que as falésias recuam. Nesse processo, são criadas
formas de relevo características, como as plataformas de abrasão e os
pináculos, que testemunham posições antigas da linha do litoral.
São exemplificadas situações que evidenciam as diferenças de atuação
dos processos marinhos de erosão e seus resultados. No modelado das
falésias e costões ao longo de litorais predominam, respectivamente, os
tabuleiros costeiros e as rochas cristalinas.
Os sedimentos gerados pela erosão, caracterizados principalmente pelos as-
pectos de sua textura, são depositados à frente das áreas erodidas ou trans-
portados pelas correntes marinhas e depositados em outros ambientes.
São apresentados e analisados os efeitos relativos à ocorrência das varia-
ções do nível do mar, em que acontecem reajustes e mesmo mudança na
atuação dos processos na linha do litoral.
Ao final, é evidenciada a necessidade da ampliação do conhecimento
sobre os processos marinhos erosivos. Isso para consubstanciar a aná-

206
Geomorfologia Costeira

lise crítica das relações que existem entre os processos marinhos e as


interferências antrópicas que ocorrem sobre eles e os impactos sobre as
populações e as atividades da área costeira.
É também colocado que a erosão, vista numa perspectiva mais ampla,
ocorre também em ambientes típicos de deposição, que serão melhor
conhecidos, identificados e caracterizados nas próximas aulas.

Informações sobre a próxima aula

O assunto da próxima aula serão as restingas, vistas pela sua origem,


por suas características e por seu papel no contexto ambiental das áreas
costeiras, que inclui o homem e suas atividades.

Referências

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