Você está na página 1de 40

Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.

com

Ecossistemas
Marinhos
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

SOBRE O PROJETO
O Projeto Maui surgiu devido à necessidade de divulgação da ciência e
conservação dos oceanos. Com o objetivo de levar informação de qualidade ao maior
número de pessoas possíveis. Para que assim, estudantes de Biologia e outras áreas,
e até mesmo estudantes de Ensino médio venham a ter o conhecimento necessário
para levar para frente a bandeira da Conservação no Brasil e no Mundo.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

SOBRE O CURSO: Ecossistemas


Marinhos

O presente curso faz parte de um dos braços do Projeto Maui, no qual temos o
objetivo de levar informação de qualidade por um preço acessível. Estamos, sempre
que possível, lançando mais cursos sobre Biologia Marinha, e também Biologia básica,
para atender às necessidades dos nossos alunos.

Aqui você vai ter uma introdução sobre os Ecossistemas Marinhos e as suas
principais características. Com um conteúdo completo e sempre que possível
atualizado(em relação a conteúdo e qualidade de gravação), com referência nos
melhores livros da Biologia Marinha e artigos atualizados.

Ao comprar esse curso pelo valor simbólico, você está ajudando o nosso
Projeto a levar esse tipo de conteúdo para mais pessoas, portanto, Muito obrigado!

Mahalo!!

Bruno Falcai
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

SUMÁRIO

Aula 1: Praias Arenosas.................................05

Aula 2: Costões Rochosos..............................13

Aula 3: Estuários e Manguezais.....................18

Aula 4: Oceano Aberto....................................23

Aula 5: Oceano Profundo................................29

Aula 6: Recifes Biológicos..............................35


Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 1: Praias Arenosas

As Praias podem ser consideradas sistemas de transição entre os


ecossistemas marinhos e terrestres. Podendo ocorrer em todas as latitudes, climas e
marés. A única dependência para a existência das praias é um volume suficiente de
sedimentos a serem depositados pelas ondas.

O estoque de sedimentos nessa região tem a capacidade de absorver as


ondas e, consequentemente proteger o continente da energia exercida pelo
oceano. Devido à instabilidade do sedimento, esse processo de absorção de energia
se torna bastante eficaz. Ele consiste basicamente no carreamento de sedimentos em
direção ao mar e em direção ao continente, sempre de acordo com períodos de frente
fria x calmaria e ciclos de maré alta x baixa.

O sistema de praias é altamente dinâmico, e as feições morfológicas do perfil


não são estáticas. Podemos comparar cada desenho topográfico de uma praia com
uma foto, que representa aquele estado, como ela está naquele momento. Os agentes
modificadores que transportam os sedimentos são: as ondas, os ventos, as
correntes e as marés.

A descrição das zonas geomorfológicas das praias não possui uma


terminologia padronizada na literatura mundial. Neste curso utilizaremos o padrão
adotado por Souza e colaboradores (2005):

-Pós-praia: Região localizada entre o limite máximo do espraiamento, durante a maré


alta de sizígia, e o início de outra feição fisiográfica. Eventualmente pode ser inundada
por ondas de tempestades.

-Estirâncio: Também conhecida como região entremarés, situa-se entre os níveis de


maré alta e baixa de sizígia.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

-Face de praia: Se refere à porção emersa onde ocorre a interação da onda com a
linha da costa, representando o limite inferior. O limite superior é a zona de
espraiamento máximo da onda. Possui variações diárias e sazonais. Alguns fatores
que influenciam a máxima incursão das ondas são: amplitude de maré, declividade do
perfil, tipo de sedimento, tipo de ondas e outros. A onda perde energia após o
espraiamento, durante esse processo uma parte da água se infiltra e percola o
sedimento, enquanto outra parte retorna por escoamento superficial ao mar. Esse
período de espraiamento está relacionado à dessecação e atividades de alimentação
e locomoção da fauna bentônica, sendo assim, é considerado um importante
parâmetro na sua distribuição.

-Antepraia: É a porção submersa do perfil praial, seu limite está localizado entre o
nível inferior do estirâncio e o nível base de ação das ondas.

-Zona de surf: Essa região faz parte da antepraia, e estende-se da linha de


arrebentação até o limite inferior da face de praia.

1.1 - Parâmetros físicos

1.1.1 - Ondas e ventos

As ondas são geradas pelos ventos, e consequentemente geram a variação


de pressão na superfície da água. Essa variação molda as ondulações, que são
capazes de cruzar os oceanos com baixa perda de energia. Mas nem todas ondas
são geradas no Oceano aberto, ondas secundárias podem ser geradas próximas à
linha da costa.

O estudo do clima de ondas é extremamente importante na compreensão da


morfologia e morfodinâmica do ambiente, pois, é um dos fatores responsáveis pelo
transporte de sedimentos nas praias.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

O tipo de arrebentação da onda depende da declividade e da esbeltez da


mesma. Podem ser classificadas basicamente em dois tipos:

Ondas do tipo mergulhante, com ocorrência em praias de declividade


moderada à acentuada. Ao aproximar-se da linha da costa, a onda empina e quebra
violentamente, formando um tubo, portanto, a sua energia é dissipada de forma rápida
e numa porção pequena do perfil de praia.

Ondas progressivas ou deslizantes ocorrem em praias de baixa


progressividade, e dissipam sua energia de maneira gradual ao longo do perfil de
praia. Esse tipo de onda apresenta maior esbeltez.

1.1.2 - Correntes costeiras

As correntes costeiras são formadas com a transferência da energia das


ondas e do vento. São responsáveis pelo transporte longitudinal e transversal de
sedimentos em uma praia.

Devido à ação das ondas, que propicia a dinâmica de entrada e saída de água
pela zona de surfe, há o estabelecimento de um sistema de circulação, de
basicamente três tipos de correntes: correntes de retorno, correntes de retorno de
fundo e correntes de deriva longitudinal.

As correntes longitudinais "alimentam" a corrente de retorno, e são


responsáveis pelo transporte de sedimentos paralelamente à linha da costa. As
correntes de retorno são eficientes no transporte de sedimentos em direção ao mar,
atravessando a linha de arrebentação com facilidade e depois abrindo em forma de
leque.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

1.1.3 - Marés

As marés são importantes agentes no transporte de sedimentos, pois adiciona


uma variação espaço-temporal aos processos morfodinâmicos.

A descrição detalhada do fenômeno das marés é descrita no nosso primeiro


curso, Introdução ao Ambiente Marinho.

1.1.4 - Sedimentos

O ambiente das praias pode receber sedimentos transportados pelos rios,


erosão de rochedos, transporte eólico e fontes biogênicas. A maior parte do
sedimento é formado por quartzo, e uma parte de carbonato e feldspato.

O tamanho da partícula do sedimento é de grande importância na avaliação


da sua dinâmica. Sendo a distribuição dos grãos em uma praia (granulometria) um dos
fatores responsáveis pela declividade do perfil praial, e pela determinação de
propriedades importantes na composição, abundância e distribuição da fauna
bentônica, tais como a porosidade, a permeabilidade e o grau de compactação dos
sedimentos.

Sedimentos de praias de grãos grossos apresentam menor porosidade do


que de praias de grãos finos. Sendo a permeabilidade inversamente proporcional à
porosidade, pois quanto maior o grão, maior é a permeabilidade. Sedimentos finos
retêm maiores volumes de água. Sendo assim, praias de sedimentos finos apresentam
maior grau de saturação de água no sedimento do que praias de sedimentos grossos.
O grau de compactação sedimentar é relacionado à natureza da partícula.

De forma geral, praias de areia fina possuem maior capacidade de reter água
no sedimento, conferindo proteção aos organismos contra a dessecação. Já as praias
de areia grossa drenam a água com maior facilidade, caracterizando ambientes mais
inóspitos para a fauna bentônica.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

1.1.4 - Morfodinâmica

Figura 1 - Espraiamento

De maneira geral, as praias podem ser classificadas quanto ao seu


morfodinamismo, em Refletivas e Dissipativas. Também há os estados
intermediários, que possuem características mistas entre os dois estados.

Praias Refletivas possuem alta declividade do perfil, ausência de bancos


(zona de surfe), sedimentos grossos, ondas de longo período do tipo mergulhante e
baixa energia.

Praias Dissipativas possuem características opostas às praias refletivas, como


baixa declividade, bancos múltiplos e paralelos (zona de surfe extensa), sedimentos
finos, ondas de curto período do tipo progressiva e alta energia na face de praia.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

A morfodinâmica exerce grande influência na composição e abundância da


biota nas praias. Praias expostas refletivas apresentam menor riqueza, abundância e
biomassa total, quando são comparadas à praias expostas dissipativas e às praias
protegidas.

1.2 - Organismos

1.2.1 - Vegetais

Nas praias arenosas os vegetais são constituídos pelas microalgas


bentônicas e pelo fitoplâncton, sendo as diatomáceas o grupo dominante, e as
principais responsáveis pela produção primária nesse ambiente.

As microalgas bentônicas são relativamente mais abundantes em praias de


baixa energia, enquanto que as diatomáceas planctônicas apresentam maior riqueza
nas praias de alta ernergia.

1.2.2 - Fauna

1.2.2.1 - Distribuição e zonação da macrofauna bentônica

As variáveis físicas como movimento das marés, movimentação das ondas


e o transporte de sedimentos geram diferentes gradientes na interface
praia/oceano. Como consequência dessa interação entre os fatores ambientais e as
necessidade biológicas, os organismos se distribuem em zonas.

A zonação é facilmente observada em costões rochosos, nos quais os


organismos ficam expostos. Já nas praias arenosas, a grande maioria dos organismos
vivem enterrados no sedimento, tornando a zonação menos perceptível.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Supralitoral: Anfípodes talirídeos, Isópodes oniscídeos, Caranguejos (gênero


ocypode) e Insetos coleópteros;

Médiolitoral: Isópodes cirolanídeos, Anfípodes ( família Talitridae), Poliquetas, Tatuíra


(gênero Emerita), Corrupto (família Callianassidae) e Anfioxos.

Infralitoral: Ouriços irregulares (bolacha-de-praia), Moluscos bivalves, Crustáceos


decápodes, Isópodes e anfípodes.

A zonação em praias arenosas não representa um estado fixo, já que


ocorrem variações espaço-temporais na estrutura biológica, e na morfologia do
ambiente. As características físicas são os fatores mais importantes na zonação,
porém, as interações biológicas também podem agir como fator secundário.

1.3 - Importância e conservação

Figura 2 - Turismo desenfreado

Por possuírem ciclos de matéria e energia únicos, e organismos adaptados a


viver somente nesses locais, as praias são consideradas ecossistemas. Possuem a
capacidade de proteger a linha da costa dos fenômenos oceânicos. É utilizada como
berçário por vários organismos, como peixes, aves e tartarugas, e algumas espécies
de grande interesse comercial se alimentam na zona sublitoral de arrebentação.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Os principais problemas causados pelo homem nesse ambiente estão


relacionados à poluição, exploração de recursos e à erosão. Por mais que seja
benéfico à economia, o desenvolvimento de infra estruturas nas praias para fins
principalmente recreativos, podem colocar em colapso todo o ecossistema, quando os
níveis de capacidade de suporte do ambiente são atingidos. Sendo assim, o
planejamento e manejo adequado do ambiente são fundamentais para que possa
ocorrer o desenvolvimento sustentável nessas regiões, sem que a natureza sofra com
as consequências.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 2 - Costões Rochosos

Figura 3 - Costão Rochoso, Praia do Lázaro, Ubatuba SP

Costões Rochosos são habitats costeiros bentônicos, e possuem grande


importância ecológica e econômica. Por receberem grande quantidade de
nutrientes do continente, apresentam grande biomassa e produção primária, realizada
por microfitobentos e macroalgas. Sendo assim, são locais de alimentação,
crescimento e reprodução de muitas espécies. Essa grande Biodiversidade, somada
com o fácil acesso e amostragem, tornam os costões rochosos um dos ambientes
marinhos mais bem estudados. A alta diversidade de organismos também ocasionam
fortes interações entre os organismos, que são agravadas pela limitação do
substrato.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

2.1 - Adaptações

Devido à dinâmica das marés, e as suas consequências diretas, os organismos


que vivem nesses locais possuem adaptações às condições físicas, principalmente
na parte superior dos costões. Essas adaptações podem ser morfológicas, como é o
caso de algumas cracas que produzem conchas não porosas; fisiológicas, como
algumas algas que toleram a desidratação em níveis extremos; ou comportamentais,
como a migração vertical de caranguejos ao longo ao longo do dia.

O embate das ondas nesses ambientes apresenta grande importância nas


adaptações dos organismos que ali vivem. As consequências da ação das ondas são
estresse físico causado pelo fluxo de água, perturbação no sedimento, alteração de
oxigênio e dióxido de carbono, mudança na movimentação dos organismos e
"splashs" de água em áreas altas, nas quais as marés normalmente não alcançam.
Costões rochosos com diferentes graus de hidrodinamismo apresentam diferentes
dificuldades para os organismos. Por exemplo, em ambientes com forte ação das
ondas, as espécies que não possuem adaptações eficientes para se fixarem não
conseguem colonizar esses locais. Já em ambientes com condições abrigadas o
estresse por dessecação pode ser maior, pois não há a presença dos borrifos das
ondas nas zonas mais altas.

2.2 - Zonação

A principal característica dos costões rochosos é a presença de zonas


delimitadas horizontalmente, que podem ser observadas através da mudança nítida
(cor e/ou morfologia) de organismos que possuem modificações para sobreviver em
cada uma, de acordo com os fatores bióticos e abióticos do local.

Entre os fatores abióticos, estão presentes as ações da variação do nível das


marés, impacto das ondas, intensidade luminosa e a dessecação. A competição,
predação, herbivoria e o recrutamento são os principais fatores bióticos que afetam a
distribuição dos organismos em costões rochosos.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Figura 4 - Esquema de Zonação, adaptado de Stephenson & Stephenson

Cada faixa dessa zonação apresenta características específicas e organismos


adaptados às condições impostas pelo meio, sendo a espessura das faixas variável da
inclinação do costão. Sendo assim, temos:

Faixa superior ou supralitoral: É o ponto mais alto do costão, no qual o limite


superior é composto pela vegetação terrestre. Essa área é exposta ao ar, chegando
somente os borrifos de água e sofrendo grande influência do clima e temperatura. Os
organismos que vivem nela tem de possuir adaptações para viver nesse meio. Os
principais habitantes de zona, encontrados na literatura, são o gastrópode do gênero
Litorina e o isópode Lygia.

Faixa intermediária ou médiolitoral ou entremarés: Também conhecida como


faixa das cracas, essa área tem seus limites na maré mais alta até a maré mais baixa
do ano, portanto os indivíduos sofrem influência direta das marés, ficando expostos
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

durante parte do dia. Como o próprio nome sugere, a presença de cirrípedos


(Chthamalus/Tetraclita) é predominante.

Faixa inferior ou infralitoral: É a parte com maior diversidade de espécies do


costão rochoso. Por ficar descoberta apenas nas marés mais baixas do ano, as
espécies tem pouca tolerância à exposição ao ar. Apesar da alta diversidade, nessa
zona a presença de algas pardas (Laminaria) é predominante. Possivelmente devido à
essa abundância de vegetação ocorrem muitos herbívoros nessa região, como
moluscos (Aplysia), ouriços-do-mar (Arbacia), peixes (Stegates), entre outros
organismos dependentes da água.

A zonação não é um característica única dos costões rochosos, e podem ser


encontrada em outros ambientes. Porém, devido às mudanças bruscas das marés e
sedimentos consolidados, a zonação dos costões rochosos é fortemente delimitada.

2.3 - Hidrodinamismo

Como citado anteriormente, a ação das ondas pode influenciar a distribuição


dos organismos e determinar o tamanho das faixas da zonação nos costões. Costões
expostos às ondas possuem um menor número de hábitats, porém há uma alta taxa
de produção primária devido à movimentação de partículas pelas ondas. Nesses
ambientes, há seleção muito forte para os organismos desenvolverem mecanismos de
fixação e/ou proteção, resultando em menor diversidade de espécies, além de
possuírem tamanhos reduzidos quando são comparados a organismos de ambientes
protegidos.

Entretanto em costões rochosos protegidos há uma grande riqueza de


espécies, porém há um baixo fluxo de nutrientes, o que limita o crescimento dos
produtores primários. As maiores diversidades de espécies são encontradas em
ambientes com hidrodinamismo intermediário.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

2.4 - Impactos e Conservação

Os impactos antrópicos nesses ambientes são muito variáveis, e incluem


poluição orgânica, derramamento de óleo, sedimentação, captura excessiva,
introdução de espécies exóticas, turismo desenfreado, pressão imobiliária e
efeitos de mudanças climáticas.

Para a conservação de ecossistemas saudáveis, é de suma importância a


implementação de programas de manejo sustentável nessas áreas, controle de
construções e do esgoto sanitário próximos aos costões rochosos. Além, é claro, da
conscientização da população através da Educação Ambiental.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 3 - Estuários e Manguezais

Figura 5 - Entrada do Estuário do Rio Juqueriquerê, Caraguatatuba SP

Estuários são ambientes que ocorrem quando a água salgada do mar se


encontra com a água doce que vem dos rios. Caracteristicamente apresentam um
gradiente de salinidade, que varia conforme a condição das marés enchentes ou
vazantes. São ambientes extremamente produtivos, devido ao transporte de
nutrientes e matéria orgânica ocasionados pelos rios. Isso favorece o crescimento de
organismos fotossintetizantes, base das cadeias alimentares. Junto também são
transportados sedimentos finos que favorecem a formação de áreas rasas e fundos
lamosos ricos em matéria orgânica. Eles podem ser classificados em estuários
superior, médio e inferior;

Nos estuários a salinidade varia muito, quando a água do mar (35‰) se


mistura com a água doce (quase 0‰), é criado um gradiente de salinidade que pode
variar com a profundidade e época do ano. Devido a água salgada ser mais densa ela
permanece no fundo, fluindo através do fundo no que pode ser chamado de cunha
salina. Elas se movem para trás e para frente, seguindo o ritmo das marés. O que
significa que se um organismo permanece em um mesmo lugar, ele enfrenta drásticas
variações de salinidade. Em alguns lugares a maré entra como uma parede quase
vertical, conhecida como pororoca.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

O carregamento de sedimentos pelos rios definem o seu substrato,


normalmente areia ou lama. A lama é uma combinação de silte e argila, rica em
material orgânico. Portanto, as bactérias decompositoras utilizam todo o oxigênio da
água intersticial. A água não conseguem fluir livremente através de sedimentos finos,
e reabastecer os estoques de oxigênio. Como resultado, os sedimentos em estuários
são anóxicos, logo nos primeiros centímetros. Eles tem a cor preta e cheiro de ovo
podre, típicos de sedimentos anôxicos, em que o sulfeto de hidrogênio se acumula.

Para viver em um estuário, os organismos tem que se adaptar aos extremos de


salinidade, temperatura e outros. Manter o equilíbrio osmótico é o principal desafio
para as espécies estuarinas. A grande maioria são espécies marinhas, que
desenvolveram a capacidade de tolerar baixas salinidades. O quão adentro eles
podem ir depende do quão tolerantes eles são. Os organismos que permitem que seus
fluídos corporais mudem com a salinidade são chamados osmoconformadores,
geralmente são animais de corpo mole (moluscos e muito poliquetas). Muito peixes,
caranguejos e também moluscos e poliquetas, mantém a quantidade de sal nos seus
fluídos constante, independente da salinidade da água, e são chamado
osmorreguladores. Quando a quantidade de sais na água é menor que no sangue,
eles se livram do excesso de água, e absorvem alguns solutos da água no entorno,
por meio do transporte ativo, para compensar os perdidos na eliminação da água. As
principais estruturas responsáveis por isso são as brânquias e os rins.

A água escura limita a luz, e consequentemente a produção primária por


fitoplâncton nos estuários. A maior parte do plâncton presente nesse ambiente são de
espécies marinhas que entram e saem dos estuários com as marés. Muitas espécies
de peixes e camarões comercialmente importantes usam os estuários como berçários
para seus filhotes, aproveitando a abundância de alimento e relativa proteção contra
predadores. Alguns exemplos são a anchova, tainha e corvina. Alguns também se
movem através dos estuários durante suas migrações, como o Salmão. No Golfo do
México, cerca de 90% das capturas marinhas são de espécies que dependem dos
estuários em algum momento de suas vidas.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

3.1 - Manguezais

Manguezais são ambientes especiais que podem estar presente na costa ou


mais comumente em estuários. Ocorrem nas zonas tropicais ou subtropicais, com os
limites nas latitudes 35º Norte e 38º Sul. No Brasil, ocorrem do Amapá até Santa
Catarina ( segundo maior área de manguezais do mundo : cerca de 12.500 km², ou
seja, 0,16% do território nacional). A presença dos manguezais é mais acentuada no
norte do país, devido às suas características topográficas e hidrológicas.

3.1.2 - Biota

Os mangues são plantas terrestres adaptadas para viver no entremarés.


Crescem em áreas protegidas, com acumulo de sedimentos lamosos. Todas as
espécies de mangues precisam de água doce, e possuem diferentes tolerâncias à
imersão pela maré alta. Em parte, devido a essa tolerância, elas podem mostrar um
zoneamento na sua distribuição, entretanto, bem menos visível do que outros
ambientes de transição, como os costões rochosos e as praias arenosas. No Brasil,
ocorrem 6 espécies, sendo três com maior distribuição. A espécie mais comum é o
mangue vermelho (Rhizophora mangle), que vivem bem na margem e são facilmente
identificados pelas suas raízes de sustentação, que se ramificam para apoiar a
árvore. O mangue preto (Avicennia schaueriana) pode sobreviver à alta salinidade da
água que permanece depois do alagamento pela maré alta, sendo assim, cresce mais
para o alto do entremarés do que o mangue vermelho. O mangue preto desenvolve
pneumatóforos, que são extensões das suas raízes, e crescem acima da lama para
ajudar a arejar os tecidos da planta. O mangue branco ( Laguncularia racemosa) não
suporta tão bem o alagamento causado pelas marés, e portanto, são normalmente
encontrados na região da borda interna dos manguezais. Para se livrar dos excessos
de sais absorvidos pelas raízes, algumas espécies possuem glândulas de sal nas
folhas para eliminá-los.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

As árvores lenhosas não são os únicos produtores primários desse ambiente,


também estão presentes o fitoplâncton, microfitobentos, macroalgas e epífitas (e.g.
liquens e bromélias).

Muitos animais marinhos e terrestres vivem nos manguezais. Os caranguejos


são particularmente comuns, muitos se alimentam de folhas (abundantes na
serrapilheira acumulada abaixo das árvores), flores e mudas do mangue. Muitos tipos
de organismos se fixam nas raízes do mangue: cianobactérias, algas, esponjas,
poliquetas, gastrópodes, ostras, crustáceos e tunicados. Que podem ser benéficas,
como as esponjas, que fornecem compostos nitrogenados para as plantas do mangue,
e também ajudam a proteger as raízes de organismos escavadores, que poderiam
causar danos consideráveis.

Figura 6 - Raízes escoras

Já os animais terrestres também utilizam os manguezais para abrigo e


alimentação. Insetos, abelhas e morcegos se alimentam do néctar e das flores de
algumas árvores de mangue. Pássaros, cobras, sapos, lagartos e também morcegos
vivem nas árvores de mangue, e podem se alimentar de peixes e caranguejos.

Os canais que cortam os manguezais são ricos berçários para muitas


espécies de interesse comercial como camarões, lagostas e peixes. Entre os peixes,
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

muito são habitantes de recifes de corais. Apenas na Tailândia, os manguezais


contribuem anualmente com aproximadamente US$ 3,5 milhões por km² para a
economia.

3.1.3 - Importância

Devido à grande quantidade de folhas e outros materiais acumulados, que são


consumidos por bactérias e fungos, a lama entre as raízes de mangue é preta e
deficiente em oxigênio.

O valor econômico das terras marinhas alagadas é enorme, elas fornecem


alimentos, proteção contra cheias, áreas de recreação, barreira biogeoquímica,
manutenção da produção pesqueira, fontes de materiais e também a manutenção da
diversidade de espécies e qualidade da água. Entretanto, as interações antrópicas
tem causado sérias e desastrosas consequências ambientais...

3.1.4 - Conservação

Estima-se que os manguezais estejam desaparecendo ao ritmo de


aproximadamente 1 a 2% ao ano, o que possivelmente é maior do que o de recifes
do corais e florestas tropicais. Ao redor de todo o mundo os estuários são dragados ou
soterrados, para a criação de marinas, portos, parques industriais e até lixões. Além
disso, os manguezais tem sido destruídos para a construção de lagoas para a criação
de camarão e peixe. A água das lagoas, contendo enormes quantidades de resíduos,
excesso de nutrientes e restos de comida, muitas vezes é liberada para o mar,
causando a eutrofização. Esses ambientes também foram impactados com o
aumento do tráfego de embarcações, derrame de petróleo e poluição por plástico e
resíduos sólidos. Os manguezais estão entre as primeiras comunidades marinhas a
serem afetadas negativamente pelo aumento do nível do mar causado pelo
aquecimento global.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 4 - Oceano Aberto

O reino pelágico, é a região que se estende desde o ambiente bentônico até a


zona superficial dos oceanos, na qual vivem os organismos que não precisam
necessariamente do fundo para sobreviver. Apesar de não estarmos familiarizados,
esse ambiente distante nos afeta profundamente, regulando nosso clima e
oferecendo alimento e outros recursos. O ambiente pelágico é formado pela própria
coluna de água. Isso quer dizer que os organismos passam toda a sua vida suspensos
no meio líquido. Não existe fundo ou lugar para se enterrar e/ou se esconder. Para fins
didáticos, dividimos o ambiente pelágico em duas zonas: fótica e afótica. Nesse
capítulo, falaremos sobre a zona fótica, também conhecida como ambiente
epipelágico, que é geralmente definido como a zona que vai da superfície até uma
certa profundidade, em geral 200 metros. Sendo a zona mais superficial do ambiente
pelágico, é a mais quente e também a mais iluminada. Ainda dividimos o ambiente
epipelágico em dois componentes, zona nerítica e oceânica, sendo a primeira
situada mais próxima a costa, e a segunda localizada além da plataforma continental.

Assim como a maioria dos outros ecossistemas, o ambiente epipelágico é


alimentado pela energia solar capturada pela fotossíntese. A diferença do ambiente
epipelágico para os outros, é que quase toda produção primária é realizada no
próprio sistema. Os ambientes costeiros geralmente recebem grandes quantidades
de alimentos de outros ecossistemas, como plânctons e algas que derivam do mar
aberto, e matéria orgânica carregada pelos rios. Ele também fornece alimento para
outras comunidades, como a matéria orgânica que afunda e serve de alimento para
organismos que vivem abaixo da zona epipelágica. Existem grande predadores como
peixes, lulas e mamíferos marinhos, além de predadores de outras comunidades,
como aves e mamíferos terrestres, incluindo o homem. O ecossistema epipelágico é
composto por organismos planctônicos e nectônicos.

Os organismos que vivem no ambiente fótico enfrentam um grande problema:


as células e tecidos que compõem o corpo são mais densos que a água. Isso não
é problema para organismo de fundo, mas os organismos que vivem próximo à
superfície precisam de adaptações para permanecer flutuando no seu habitat. O
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

fitoplâncton deve permanecer aonde a penetração da luz é suficiente para a realização


da fotossíntese. Já os animais não dependem da luz do sol, mas suas presas se
encontram em águas rasas. Eles conseguem evitar afundar de duas formas,
aumentando sua resistência à água ou a sua flutuabilidade. A velocidade de
afundamento de um corpo depende do arrasto que este encontra. O arrasto, por sua
vez, depende da quantidade de água que um organismo afundando desloca. Sendo
assim, quanto maior a área de superfície, maior será o arrasto. Isso influencia no
tamanho (pequenos organismos têm uma área de superfície por unidade de volume
maior do que organismos maiores), formato, projeções ou formação de cadeias entre
os organismos planctônicos. Já os organismos nadadores dificilmente possuem
espinhos ou outras características que aumentem a área de superfície, uma vez que
essas adaptações aumentariam a resistência à água e dificultariam o nado. Para
aumentar a flutuabilidade os organismos podem armazenar lipídeos, como óleos e
gorduras no corpo. Por serem menos densos do que a água, a tendência dos lipídeos
é flutuar. Muitos organismos planctônicos contêm gotículas de óleos(diatomáceas,
copépodes, ovos e larvas de peixes). Muitos peixes epipelágicos também ganham
flutuabilidade ao armazenar lipídeos, especialmente os tubarões que não possuem
bexiga natatória. Um flutuador cheio de gás ajuda muito mais na flutuação do que os
lipídeos, porém há uma desvantagem, o gás se expande ou se contrai à medida que o
animal se movimenta na coluna de água. Isso faz com que alguns peixes não
consigam suportar grande diferenças de profundidade. Outro grupo de organismos
que são poucos comuns são os flutuadores, que permanecem na superfícies
oceânica, um exemplo clássico é a caravela portuguesa, na qual a parte flutuante fica
exposta ao ar e atua literalmente como uma vela, empurrando-a com o vento.

Muitos animais epipelágicos desenvolveram órgãos dos sentidos que os


ajudam a detectar sua presas e inimigos. A visão é especialmente importante,
devido à alta quantidade de luz presente nesse ambiente, servem também para
encontrar companheiros e formar cardumes. Outros sistemas sensoriais como linhas
laterais, sistemas auditivos e a ecolocalização estão presente em grandes grupos
animais. Outra característica quase universal entre os animais epipelágicos é a
presença de alguma coloração protetora (ou camuflagem). Muitos animais,
geralmente zooplânctons, são praticamente transparentes. Já os animais maiores
possuem outra forma de se camuflarem , chamada de sombreamento contrário, que
consiste em possuir as costas (dorso) escuras e a barriga (ventre) clara, para
contrastar com o fundo oceânico escuro e a superfície clara. A natação torna-se muito
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

importante, uma vez que não há locais para se abrigar de predadores e nem fazer
emboscada, sendo assim, o sucesso da briga entre predador e presa normalmente é
daquele que consegue nadar mais rápido. A maioria dos organismos nectônicos
epipelágicos tem corpos hidrodinâmicos e músculos fortes. Já o zooplâncton realizam
a migração vertical, e passam o dia inteiro abaixo da zona fótica e migram até a
superfície para se alimentar à noite.

4.1 - Animais nectônicos

Figura 7 - Baleia Jubarte saltando fora d'água (foto:Todd Cravens)

O nécton marinho é o grupo de animais providos de órgãos locomotores, que


permitem o seu deslocamento na coluna d'água com agilidade para perseguir presas e
fugir de predadores, e até mesmo para realizar grandes migrações. Há uma grande
variedade de táxons presente, tais como crustáceos, cefalópodes, répteis (atenção
especial às tartarugas), mamíferos, aves e peixes.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

4.1.1 - Teias tróficas epipelágicas

É de grande importância conhecer as redes alimentares da zona epipelágica,


uma vez que essa região fornece alimento e emprego a milhares de pessoas através
dos recursos pesqueiros.

A estrutura trófica epipelágica é extremamente complexa. Os hábitos


alimentares da maioria das espécies são desconhecidos, e é difícil descrever a
estrutura trófica de uma comunidade aonde não se sabe do que muitos animais
presentes nela se alimentam. Outra dificuldade é que a maioria dos animais se
alimentam de uma variedade de alimentos, que com frequência pertencem a
diferentes níveis tróficos.

Segundo a regra prática, apenas 10% da energia contida em um nível trófico é


passada para o seguinte. A zona epipelágica é uma exceção à regra, herbívoros
dessa região são capazes de converter até 20% da energia derivada do fitoplâncton, e
os carnívoros, embora não tenham uma eficiência tão alta, também conseguem
ultrapassar os 10%.

O fluxo básico de energia seria: Fitoplâncton - Zooplâncton - Nécton pequeno -


Nécton grande -Predadores de topo. Porém, essa é uma teia muito simplificada. E
normalmente cadeias tróficas epipelágicas são normalmente mais longas do que em
outros ecossistemas. Portanto, apesar da alta eficiência, uma grande quantidade de
energia é perdida até chegar nos predadores de topo. Por isso, grandes predadores
obtém vantagem ao se alimentar diretamente nos níveis tróficos baixos, por
exemplo as baleias de barbatana, da subordem Mysticeti, e os tubarões baleia.

Apesar da complexidade das teia tróficas epipelágicas, todas elas


compartilham algo em comum: a produção primária pelo fitoplâncton. Desde o menor
zooplâncton, até os maiores predadores, dependem dessa produção. O fitoplâncton
necessita basicamente de duas coisas: luz e energia.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

4.1.1.1 - Luz

A zona pelágica representa a camada dos oceanos que é iluminada pela luz
solar. Mas nem sempre há luz o suficiente, ou seja, a fotossíntese pode ser limitada
pela luz. Não há luz durante a noite, portanto o fitoplâncton precisa absorver luz o
suficiente durante o dia para permitir seu crescimento. Em altas latitudes, também
podem ser limitados pela pouca luz no inverno, quando a duração dos dias é menor.
Por outro lado, em águas tropicais há luz o suficiente para suportar a fotossíntese
durante todas as estações do ano.

A produção primária total na coluna de água depende também da profundidade


que a luz penetra. A profundidade da zona fótica varia sazonalmente, diariamente,
em função dos sedimentos presentes na água e até mesmo pela presença do
fitoplâncton presente na água ( reduz a quantidade de luz disponível para camadas
mais profundas - sombreamento).

4.1.1.2- Nutrientes

A produção primária pode ser limitada pelos nutrientes, mesmo com


abundância de luz. O principal nutriente limitante é o Nitrogênio, que está presente
em baixas concentrações. Outros nutrientes importantes são o Ferro e o Fósforo, que
podem ser limitantes em alguns locais, ou grupos de organismos.

Grande parte da matéria orgânica produzida pelo plâncton acaba como detrito (
Pelotas fecais, carcaças, etc). Essas partículas orgânicas tendem a afundar antes de
serem reutilizadas, por isso as águas superficiais são normalmente pobres em
nutrientes. Águas neríticas geralmente são altamente produtivas, em função da sua
profundidade permitir às partículas orgânicas que estão no fundo retornarem para a
coluna d'água, e os rios também podem trazer nutrientes adicionais.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

4.2 - Importância e conservação

Figura 8: Porto de pescadores em Sines, Portugal (Foto: Maksym Kaharlytskyi)

Os ambientes pelágicos sustentam grande parte da pesca artesanal e


industrial, sendo assim, esses ambientes fornecem alimento e emprego para
milhares de pessoas. Porém, aproximadamente 70% dos estoques pesqueiros
mundiais se encontram em situação de sobrepesca. Dos 120 milhões de toneladas de
pescado que são extraídos dos mares todos os anos, 30 milhões são descartados
(bycatch). Outros impactos antrópicos nesse ambiente são a poluição química e por
resíduos sólidos, principalmente por plásticos.

Sendo assim, quanto mais repensarmos nosso modo de vida e hábitos, melhor
conseguiremos proteger esse e outros ecossistemas marinhos. Ao fazer as comprar
evite embalagens que não possam ser reutilizadas. Também é importante não
consumir espécies que estão ameaçadas ou em risco de extinção (NÃO CONSUMA
CARNE DE CAÇÃO). E o mais importante, passe essas informações adiante,
converse com seus amigos e familiares sobre isso, para que eles possam estar
cientes e juntos vamos formar uma rede de informação, na qual as pessoas terão
consciência de consumo e lutem pela conservação dos OCEANOS.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 5 : Oceano Profundo

Se dividirmos a coluna de água verticalmente, a primeira camada é chamada


epipelágica, e corresponde à zona fótica, se entendendo de 150 a 200 metros de
profundidade. Logo abaixo, temos uma camada em que há pouca penetração de luz,
porém, não o suficiente para a fotossíntese, denominada mesopelágica. Nas zonas
abaixo da penetração mínima de luz, encontra-se o mar profundo. Esse é o ambiente
mais extenso, e com o maior gradiente ambiental do planeta. Até o começo do
século XIX, não se sabia da existência de vida abaixo dos 600 metros de
profundidade. O marco na Oceanografia Biológica ocorreu com a viagem do navio
Challenger (1872-1876) e as sua coletas em profundidades superiores a 4000 metros
de profundidade. Após a Guerra Fria entre Estados Unidos e União Soviética, ocorreu
um salto tecnológico com os equipamentos utilizados para espionagem e recuperação
de equipamentos em regiões profundas, que foram repassados para instituições de
pesquisas.

É o maior habitat da terra, e possui 75% da água liquida do nosso planeta.


Podendo ser dividido em três principais zonas: batipelágica (entre 1.000 e 4.000
metros), abissopelágica ( entre 4.000 e 6.000 m) e hadopelágica (água das fossas
oceânicas entre 6.000 e 11.000m). O ambiente físico dessas zonas varia muito pouco,
fatores como luz, temperatura (entre 1 e 2ºC) e salinidade são quase sempre
constantes. Os animais que vivem na escuridão do mar profundo apresentam padrões
de cores escuros.

4.1 - Fauna

Quase todos os grupos animais estão presentes nas regiões de oceanos


profundos, alguns deles são: Protistas (especialmente os foraminíferos), Poríferos,
Cnidários (em especial os corais pétreos formadores de recifes dos gêneros Lophelia,
Madrepora e Dendrophillia), Poliquetas, Crustáceos (destaque para os Anfípodes e
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Isópodes), Moluscos, Equinodermos (como ouriços irregulares e estrelas-do-mar),


Ascídias e Peixes.

Uma característica encontrada com frequência é a presença de fotóforos,


órgãos que produzem luz. Essa luz é chamada bioluminescência, e pode ter como
função mascarar a silhueta (em regiões onde ainda há a presença de luz solar),
escapar de predadores, atrair e enxergar presas, e talvez como meio de comunicação
e corte sexual.

Figura 9 - Representação do peixe "Diabo negro", Melanocetus johnsonii (Cena do


filme "Procurando Nemo")

Pode ser observado um padrão de distribuição da Diversidade específica nos


Oceanos Profundos, que aumenta de maneira diretamente proporcional à
profundidade, porém, atinge um pico entre 2.000 e 3.000 metros de profundidade, e
diminui em direção a regiões mais profundas.

A migração vertical é praticada por muitas espécies de zooplâncton. Alguns


outros animais, como os peixes também realizam a migração, e se diferenciam dos
animais não migratórios por possuírem ossos e músculos bem-desenvolvidos, e os
peixes bexigas natatórias. A migração vertical dos animais mesopelágicos foi
descoberta durante a segunda guerra mundial, quando o sonar começou a ser usado.
Os sons emitidos pelos sonares mostravam regularmente uma série de camadas
refletoras de som, chamadas de camada de dispersão profunda (CDP). A
profundidade da CDP é claramente relacionada à intensidade luminosa. Embora uma
grande quantidade de organismos façam parte da CDP, eles não contribuem para as
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

camadas refletoras de sons. Devido ao fato de os organismos serem feitos


principalmente de água, o som passa por eles da mesma maneira que passa pela
água do mar. Já as bexigas natatórias dos peixes, cheias de ar, refletem o som de
maneira bastante forte, e origina o eco da CDP. Quando os peixes, o krill e outros
animais retornam para a zona mesopelágica, eles trazem junto os produtos da
produção primária superficial, aumentando a oferta de alimento.

Outra dificuldade para os animais é encontrar parceiros sexuais, da mesma


espécie e do sexo oposto. Esse problemas são diminuídos pelo uso da
bioluminescência, por sinais químicos e pelo desenvolvimento do hermafroditismo e do
parasitismo masculino.

As bactérias e os vírus desempenham papéis importantes nesses ambientes. A


pressão hidrostática e a temperatura reduzem o crescimento bacteriano, e selecionam
as bactérias capazes de viver nas profundezas. Um "experimento" não planejado
possibilitou que entendêssemos um pouco sobre isso. Em 1968, o submerssível Alvin
foi inundado por uma onda, enquanto a sua tripulação se preparava para mergulhar, e
ele foi parar a 1.540 metros de profundidade com a escotilha aberta. A tripulação
escapou, e a perda foi somente material, entre os quais estava um lanche, que veio a
se tornar o lanche mais famoso da biologia marinha. 10 meses depois, quando o Alvin
foi recuperado, viram que aquele lanche estava em bom estado de conservação, mas
depois de trazido à superfície logo estragou, mesmo mantido sob refrigeração. Os
microorganismos que vivem na superfície não são capazes de tolerar as condições
extremas impostas pela profundidade.

4.2 - Alimentação

Apesar de não enfrentarem altas variações do ambiente físico, os organismos


do mar profundo enfrentam uma grande escassez de alimento. Se excluirmos as
Fontes Hidrotermais e Exsudações frias, a comunidade depende quase que
inteiramente de fontes alóctones. Principalmente cadáveres de peixes e cetáceos, e
também neve marinha (fezes, organismos gelatinosos, mudas de organismos e células
fitoplanctônicas agregadas em resposta a processos biológicos, químicos e físicos).
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

4.2.1 - Fontes hidrotermais

Descobertas em 1977, pela expedição cordenada pelo geólogo marinho Robert


Ballard, no rifte de Galápagos. Formam-se em zonas de expansão e subducção do
assoalho oceânico e também em pontos quentes fora das cordilheiras oceânicas. A
temperatura pode atingir incríveis 400ºC, e um rico substrato para bactérias é
ocasionado pela abundância de sulfeto de hidrogênio.

Figura 10 - Representação Fossas das Marianas (Fonte: Site Mar sem fim)

A base da cadeia alimentar é formada por procariontes quimiossintetizantes,


que utilizam a energia contida nas moléculas químicas inorgânicas para produzir
matéria orgânica, ao contrário dos organismos fotossintetizantes que utilizam a luz
solar. Essas comunidades sustentam habitantes como vermes poliquetas, vieiras,
camarões, caranguejos, cracas e peixes. Porém, esses oásis submarinos são
separados por longa distância, e também são pouco confiáveis, já que podem ser
destruídos por atividade geológica.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

4.2.2 - Exsudações Frias

Ocorrem em margens continentais ativas e passivas, em locais em que gases


"vazam" do assoalho oceânico e também formam ambientes quimiossintéticos,
porém, ao contrário das fontes hidrotermais, são mais estáveis e duradouras.

4.2.3 - Carcaças de Cetáceos e outros animais

As carcaças de grandes animais não se decompõem tão rapidamente como


esperado. O que ocorre é uma sucessão de organismos, passando pelos necrófagos
que consomem a carcaça nos primeiros meses, deixando somente os ossos e restos
de matéria orgânica, em seguida ocorrem espécies menores e oportunistas. A parte
interna das vértebras das baleias é rica em lipídeos, e ao ser atingida por bactérias,
começam a gerar compostos orgânicos, como o sulfeto de hidrogênio e o metano.
Formando, assim como os outros ambientes citados, associações simbióticas entre
bactérias quimioautotróficas e invertebrados, que podem durar anos e até mesmo
décadas.

Pelo menos foi assim até hoje. A caça e a pesca desses gigantes dos mares ,
já podem ter afetado esses pequenos oásis alimentares e condenado à extinção todo
um ecossistema recém-descoberto.

4.3 - Pressão e Conservação

Devido à coluna de água situada acima, a pressão no mar profundo atinge


níveis muito altos (alguns lugares podem exceder 1.000 atmosferas de pressão). A
pressão hidrostática limita a distribuição vertical dos organismos do mar profundo, pois
esses necessitam de adaptações moleculares que os permitam sobreviver em
ambientes com alta pressão, e também permitam o funcionamento normal das suas
enzimas.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

A dificuldade para amostragem é uma das razões para o pouco


conhecimento existente sobre esse ambiente. Equipamentos como caixa estanque
para as câmeras, ou veículos submersíveis são necessários para suportar a pressão
sem serem esmagados, e isso os tornam muito caros.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Aula 6 - Recifes Biológicos

Recife pode ser considerado como uma estrutura que interfere na


sedimentação em determinada área e é mais elevada que a superfície dessa área.
Sendo assim, pode ser de natureza biogênica, como no caso dos recifes de corais
(além dos corais, também existem outros organismos bioconstrutores), ou de natureza
geológica, por exemplo os recifes rochosos. Os recifes biológicos são encontrados em
regiões tropicais rasas, e correspondem a 30% do fundo marinho até os 30 metros
de profundidade. O maior e mais conhecido é a grande barreira de corais da
Austrália, que possui cerca de 2 000 km de extensão.

Um novo marco para o estudo dos recifes biológicos foi a descoberta desses
organismos em águas profundas. Ao contrário dos recifes de águas rasas, eles não
dependem de algas simbiontes, e podem ser considerados mais importantes que
aqueles de águas rasas, pois também podem estar presentes em altas latitudes, além
de abrigarem espécies comercialmente valiosas. Ocorrem entre 200 e 1500 m de
profundidade e alimentam-se basicamente de material em suspensão.

Os recifes de corais são ambientes muito importantes e com grande


diversificação biológica. Entre os benefícios frutos dessa diversidade, estão:

Grande potencial farmacológico;


Uso como banco genético;
Proteção da linha da costa contra tempestades;
Influência no balanço químico dos oceanos;
Indicadores do nível do mar em outras eras;
Bioindicadores das mudanças climáticas globais;
Manutenção da produção pesqueira;
Turismo subaquático;
Comércio de peixes para aquariofilia.
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

6.1 - Principais Organismos Bioconstrutores

Responsáveis por grande parte das bioconstruções marinhas, os cnidários


possuem três classes construtoras principais. Escleractiniários (classe Hexacorallia),
hidrocorais (classe Hydrozoa) e os octocorais (classe Octocorallia).

Figura 11 - Corais construtores de Recife (Foto: John Cahil)

As macroalgas também representam um importante papel nas bioconstruções.


As Corallinales (classe Rhodophyceae), são fundamentais na consolidação e
modelagem das superfícies coralinas. Já as ordens Caulerpales e Dasycladales
(classe Chlorophyceae) participam ativamente, fornecendo sedimentos carbonáticos.

Outros grupos animais participam da construção de ambientes recifais, como:


foraminíferos, bactérias, esponjas, fungos, anelídeos e moluscos. Sendo os dois
últimos grupos também responsáveis pela bioerosão desses ambientes, assim como
os peixes (famílias Scaridae, Balistidae, Pomacentridae e Chaetodontidae) e
equinodermos (ouriços-do-mar, estrelas-do-mar e pepinos-do-mar).
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

6.1.1 - Recifes de Coral

Os corais são Cnidários e são conhecidos dois tipos biológicos. Os que


possuem zooxantelas simbiontes (organismos unicelulares fotossintetizantes), e
aproveitam os elementos produzidos pela fotossíntese, podem ser chamados de
zooxantelados. E os azooxantelados, que não possuem associação com as
zooxantelas e raramente podem edificar. Existem algumas espécies que podem
apresentar zooxantelas ou não, e outras que pode edificar bioconstruções imperfeitas,
mesmo não contendo zooxantelas.

Figura 12 - Diversidade de espécies nos Recifes de Corais ( Foto: Nott Peera)

São organismos carnívoros e se alimente principalmente de zooplâncton,


capturado através dos nematocistos. Algumas espécies podem viver mais de 100
anos, mas a maioria não vive mais do que 10 anos. Se reproduzem assexuadamente
(brotamento) e sexuadamente (interna ou externa).

Os recifes de corais são ambiente complexos e com muita biodiversidade, na


onde ocorrem diversas interações interespecíficas. As espécies de corais
ramificadas e crescimento rápido competem por espaço com espécies maciças de
crescimento lento, podendo a primeira crescer sobre a segunda e ocasionar falta de
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

luz, situação que é atenuada pelos distúrbios ambientais, mantendo uma situação de
equilíbrio pela quebra das ramificações. Outro mecanismo competitivo é a produção
de aleloquímicos.

A predação e herbivoria exercem um importante papel nesse ambiente,


influenciando na composição e diversidade das espécies. Os principais predadores de
coral são peixes e estralas-do-mar. Após a morte dos pólipos, o espaço é ocupado por
algas e outros corais, e caso ocorra algum desequilíbrio em algumas dessas espécies,
vários anos são necessários para a recuperação da dominância dos corais. Os peixes
e ouriços são os herbívoros mais importantes, e responsáveis por controlar as
populações de algas, e a ausência desses animais pode resultar no sufocamento dos
corais pela algas.

Duas grande províncias mundiais são conhecidas: Indo-Pacífica e Atlântica.


No Brasil, o limite norte de distribuição ocorre no Estado do Maranhão, e o limite
sul no Estado do Rio de Janeiro, podendo ser encontradas colônias de coral no
litoral norte do Estado de São Paulo.

6.2 - Preservação

Como vimos ao longo do texto, Recifes Biológicos possuem grande


importância ecológica e socioeconómica, estima-se que os Recifes de Corais do
mundo todo valem cerca de US$ 30 bilhões por ano.

As principais ameaças antrópicas são a sobrepesca, o turismo predatório, a


poluição e as mudanças climáticas (Branqueamento).

É nosso dever, como pessoas que conhecem a importância desses ambientes,


repassar as informações obtidas no meio acadêmico e cobrar políticas adequadas de
uso sustentável desses ambientes. Por isso, incluam o conhecimento que foi adquirido
durante o curso ou durante toda a graduação de vocês nas rodas de conversas com
amigos. E principalmente busquem se informar de fontes confiáveis. Através da
educação podemos fazer muito mais do que imaginamos, e apesar da ignorância da
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

maior parte das pessoas, nós do Projeto Maui, acreditamos que no futuro teremos
cidadãos mais sustentáveis e preocupados com o meio onde vivem, e juntos podemos
ajudar a conservar não só os Oceanos, mas todo o Planeta Terra.

Mahalo!
Licensed to Bruno Ramos Viganó - brunorvtb@gmail.com

Referências Bibliográficas

BEGON, M.; TOWNSEND, C.R.; HARPER, J.L. Ecologia: de indivíduos a


ecossistemas. Artmed Editora, 2009.

CASTRO, Peter; HUBER, Michael E. Biologia marinha. AMGH Editora, 2012.

RICKLEFS, R.; RELYEA, R. A Economia Da Natureza. 7. ed. Guanabara Koogan,


2016.

Imagem da capa: Carsten Ruthemann.

Você também pode gostar