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NOSSOS SELFS
TURBINANDO
NOSSOS SELFS
UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE OS APLICATIVOS
DE AUTOAJUDA NO CENÁRIO BRASILEIRO
Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como
exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Psicologia Clínica sob a orientação da
Professora Dra. Denise Sant’anna.
SÃO PAULO
2019
BANCA EXAMINADORA
LISTA DE GRÁFICOS
GRÁFICO 1 Número de livros de autoajuda por faixa de preço em reais. . . . . . . . . . . . . . 61
GRÁFICO 2 Número de livros de autoajuda por número de páginas . . . . . . . . . . . . . . . . 62
GRÁFICO 3 Número de livros de autoajuda por ano de edição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63
GRÁFICO 4 Número de livros de autoajuda por categoria temática. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
GRÁFICO 5 Google my symptoms. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
GRÁFICO 6 Número de downloads de aplicativos móveis da App Store
e da Google Play Store, em 2016 e 2017. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 126
GRÁFICO 7 Número de aplicativos de desenvolvimento pessoal com download
gratuito, download gratuito com serviços pagos e download pago . . . . . . 130
GRÁFICO 8 Faixas de preço dos produtos/serviços pagos dos apps
de desenvolvimento pessoal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131
GRÁFICO 9 Número total de downloadse receita dos downloads pagos
em função de categoria nos apps de desenvolvimento pessoal. . . . . . . . . . 132
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 Quadro de análise da mecânica dos manuais de autoajuda. . . . . . . . . . . . . . 52
TABELA 2 Número de apps de desenvolvimento pessoal, por categoria,
na Play Store. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129
TABELA 3 Lista de apps voltados à rotina de hidratação do corpo,
deslocamento e sono . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 142
TABELA 4 Metas disponibilizadas pelo Remente. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
INTRODUÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1. A VIDA É UM INVESTIMENTO. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28
1.1 A conduta do bom empreendedor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
2. O BEABÁ DA SUPERAÇÃO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
no mercado brasileiro. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
Líderes e Vencedores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
2.2.4 Falando Sobre Saúde, Poder Cerebral, Prevenção, Terapia e Cura. . . . . 82
3. HIPOCONDRÍACO NÃO, ANTENADO!. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.1 Um breve panorama da autoajuda multiplataforma . . . . . . . . . 97
1 Em alguns casos, a expressão autocuidado (“self-care”) também é utilizada para se referir a esse segmento
do mercado.
2 PEREZ, S. Self-care apps are booming. Techcrunch.com, Apr. 2018. Disponível em: <https://techcrunch.
com/2018/04/02/self-care-apps-are-booming/>. Acesso em: 26 maio 2018.
3 Somando as receitas de iOS e Android.
4 Aplicativo de meditação. No capítulo 4 da tese, trataremos dessa subcategoria e de apps de desenvolvi-
mento pessoal.
5 CHAYKOWSKI, K. Meet headspace, the app that made meditation a $250 million business. Forbes, [s.l.], 8
jan. 2017. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/kathleenchaykowski/2017/01/08/meet-heads-
pace-the-app-that-made-meditation-a-250-million-business/>. Acesso em: 12 jan. 2019.
6 Via de regra, as contas pagas são associadas a funcionalidades extras do aplicativo, que para ser acessadas
exigem que o usuário arque com assinaturas mensais ou anuais.
7 RANGER, S. iOS versus Android. Apple app store versus Google Play: here comes the next battle in the app
wars. ZDNet, Jan. 2015. Disponível em: <https://www.zdnet.com/article/ios-versus-android-apple-app-s-
tore-versus-google-play-here-comes-the-next-battle-in-the-app-wars/>. Acesso em: 18 jan. 2019.
8 “Este aplicativo oferece maneiras de ajudá-lo a superar seu rompimento [amoroso]. Os usuários passam por
uma média de cerca de seis sessões por dia”. Após o download gratuito, sua assinatura custa US$ 9,99 mensais
ou US$ 59,99 anuais. ALCÁNTARA, AM. With the rise of self-care apps, here’s how marketers can respectfully
join the space. Adweek, Feb. 26, 2018. Disponível em: <http://www.adweek.com/digital/with-the-rise-of-sel-
f-care-apps-heres-how-marketers-can-respectfully-join-the-space/>. Acesso em: 18 maio 2018.
9 “O aplicativo de saúde mental de controle de humor diário usa a terapia comportamental cognitiva para
ajudar os usuários a lidar com situações perturbadoras. O download custa US $ 3,99 (taxa única)”. Idem.
10 “O aplicativo ajuda a instalar hábitos positivos através de um texto diário com conteúdo inspirador e dicas
para lidar com a ansiedade ou aumentar a autoconfiança”. Após o download gratuito, a assinatura custa
US$ 7,99 mensais ou US$ 59,99 anuais. Ibidem.
11 Partindo dessas considerações, entendemos por que esse tipo de aplicativo, do ponto de vista da “inteli-
gência de negócios”, pode se tornar um poderoso (e perigoso) instrumento de pesquisa, capaz de segmen-
tações psicográficas mais detalhadas para fins comerciais.
12 A coleta de dados mostrou-se mais simples nessa plataforma, uma vez que a App Store possui travas que
impedem a coleta sistemática de informações.
13 Já no início dos anos 1970, Foucault (2008) tratava dessa questão abordando o homo economicus como o
“empresário de si mesmo”.
Torne-se inteiro, torne-se o que você quiser, torne-se você mesmo: o indivíduo
deve tornar-se, por assim dizer, um empresário dele mesmo, procurando ma-
ximizar seus próprios poderes, sua própria felicidade, sua própria qualidade
de vida, embora aprimorando essa autonomia e, assim, instrumentalizando
suas escolhas autônomas a serviço do seu estilo de vida (ROSE, 2011, p. 220).
é ele, também, o único responsável por seu fracasso pessoal14. Vemos, portan-
to, que na perspectiva de uma cultura empreendedora o compromisso de pro-
duzir a si próprio assume contornos de ordem moral: é responsabilidade e
dever individual administrar a própria vida.
No próximo capítulo nos aprofundamos nesse tema tratando especificamen-
te da questão da saúde e bem-estar a partir da perspectiva do bom empreende-
dor. Por ora, gostaríamos de destacar como esse discurso de responsabilização
dos sujeitos pelo seu próprio sucesso está em sintonia fina com as sociedades
capitalistas, organizadas pela lógica do consumo.
De acordo com Bauman (2008), esse tipo de sociedade encoraja uma estra-
tégia “existencial consumista”, na qual valores como a flexibilidade e competi-
tividade tornam-se absolutamente essenciais. Na visão do autor, é o fato de os
indivíduos encararem-se como mercadoria e especularem sobre o seu valor que
os torna membros efetivos dessa sociedade de consumidores, na qual:
[...] ninguém pode se tornar sujeito sem primeiro virar mercadoria, e ninguém
pode manter segura sua subjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar
de maneira perpétua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercado-
ria vendável (BAUMAN, 2008, p. 20).
14 Sobre essa questão, Ortega (2009) destaca que é comum os sujeitos sentirem-se culpados, e não apenas
responsáveis, por suas doenças e eventuais problemas de saúde.
15 Como veremos no terceiro capítulo desta tese, essa obsessão é ainda mais explícita nos manuais de conduta
que se proliferam em diferentes formatos midiáticos, tais como programas televisivos, revistas especializa-
das e tutoriais da internet.
A psicologia positiva data do final do século XX, quando, na década de 90, Martin
Seligman e Mihaly Csikszentmihalyi propuseram-se a investigar as condições
que possibilitariam aos sujeitos ter sucesso e contornar adversidades. Partindo
do pressuposto de que era possível avaliar “[...] a felicidade objetiva e cientifica-
mente por meio de rigorosa pesquisa clínica” (BINKLEY, 2010, p. 85), os autores
pretendiam ensinar as “técnicas específicas” de autocontrole e autogoverno a
partir das quais o “otimismo circunstancial” e a “autoestima apreciativa” pode-
riam ser intencionalmente induzidas.
O que Seligman e Csikszentmihalyi defendiam era que todo e qualquer su-
jeito seria capaz de produzir o próprio estado de felicidade, desde que apren-
desse a “[...] dirigir conscientemente os pensamentos para temas felizes”
(BINKLEY, 2010 p. 87). Para tanto, destaca esse autor, não seria necessária gran-
de supervisão de especialistas, mas, sim, empenho individual para condicionar
o próprio corpo e a mente. Nas suas palavras,
Desse modo, a autora defende que “[...] o pensamento positivo não é apenas
uma conveniência para o mundo empresarial, escusando seus excessos e mas-
carando seus absurdos [...]”, mas uma indústria em si mesma (EHRENREICH,
2013, p. 17). Isso é particularmente perceptível na esfera midiática e na atividade
publicitária, na qual, por toda parte, soluções para a conquista de uma vida boa
passaram a circular.
De acordo com Sant´Anna (2010), até 1920 as palavras felicidade e alegria
eram escassas na mídia impressa brasileira. Em anúncio de medicamentos,
“[...] os desenhos em preto e branco eram acompanhados por discursos dra-
máticos” (SANT’ANNA, 2010, p. 182), que faziam alusão à dor a partir de sem-
blantes transtornados e padecimentos insuportáveis no lugar de cenas de
alívio. Desse modo, avalia o autor, o discurso midiático dava ao sofrimento
uma significativa visibilidade.
A partir dos anos 1930, contudo, a menção à alegria começou a se tornar re-
corrente nas mais diferentes mensagens publicitárias. Como explica a autora,
estas passaram a prometer uma felicidade que não era fruto de imensos sacrifícios.
Convém lembrar que os primeiros antidepressivos foram descobertos entre
1957 e 1958, e parte do que era chamado de tristeza ou melancolia passou a ser
compreendida como depressão, sendo associada a tratamento médico
(SANT’ANNA, 2010, p. 192). Nesse cenário nasceu um oportuno casamento entre
as novas práticas de medicalização e o imperativo da felicidade16.
De acordo com Rolnik (1997), o processo de desnaturalização do sofrimento
permitiu o desenvolvimento de uma “toxicomania generalizada” englobando
várias classes de drogas. Entre elas, as fórmulas da psiquiatria biológica, nos
fazendo crer que todo tipo de insatisfação, dificuldade e turbulência não passa-
ria de uma “[...] disfunção hormonal ou neurológica” (ROLNIK, 1997, p. 2).
17 ZANIN, T. Para que serve o Ginseng. Tua Saúde, [s.d.]. Disponível em: <https://www.tuasaude.com/para-
que-serve-o-ginseng/>. Acesso em: 11 dez. 2018.
18 Rose (2008) sinaliza que o século XX foi o século da psicologia. De acordo com o autor, nesse período ela
consolidou-se como disciplina (com professores especializados, departamentos universitários, diplomas) e
profissão (com equipes profissionais, qualificações, empregos), além de ter inaugurado uma nova forma
dos indivíduos pensarem sobre si.
19 Há de se reconhecer a ambiguidade da mídia nesse sentido que, ao mesmo tempo em que é regida por
objetivos comerciais, amplia o acesso a informações sobre a saúde, podendo trazer benefícios efetivos aos
espectadores (inclusive poder de contestação).
20 Sobre a questão da cultura da vítima e do sofrimento, ver Vaz (2010, 2016).
21 Em seu livro, Bauman (2011, p. 93) cita uma análise desenvolvida na New York Review of Books, em
2009, quando: “Marcia Angell afirmou que, ‘nos últimos anos, as empresas farmacêuticas aperfeiçoaram
um novo e eficiente método de ampliar seus mercados. Em vez de promover medicamentos para tratar
doenças, começaram a promover doenças para seus medicamentos’. A nova estratégia ‘é convencer os
americanos de que só há dois tipos de pessoa: as que sofrem de condições clínicas e exigem tratamento
medicamentoso e aquelas que ainda não sabem disso’”.
22 Documento resultante da Conferência Internacional sobre Cuidados Primários de Saúde, a declaração iden-
tificou cuidados primários de saúde como fundamentais para reduzir as desigualdades em relação à saúde
entre países e dentro deles e, por esse meio, atingir o objetivo ambicioso, mas não impossível, de “Saúde
para Todos” até 2000.
23 Segundo Araújo e Cardoso (2007 apud MALINVERNI, 2016), o marco desse processo é a criação, em 1920,
do Departamento Nacional de Saúde Pública (DNPS), que incluiu a propaganda e a educação sanitária
como estratégias de controle de epidemias, sob influência dos avanços científicos da bacteriologia, da
parasitologia e da microbiologia.
24 Foucault ilustra a evolução do domínio corpóreo por meio dos exércitos. Enquanto até a metade do sécu-
lo XVIII havia um padrão físico e comportamental indispensável para ingressar na carreira militar, na sua
segunda metade o soldado tornou-se algo passível de ser “fabricado” por meio de um “[...] corpo que
se manipula, se modela, se treina, que obedece, responde, se torna hábil ou cujas forças se multiplicam”.
(FOUCAULT, 2008, p. 117).
25 Cabe ressaltar que para Foucault (1979) o biopoder passou a existir concomitantemente ao poder discipli-
nar. Quando temos em mente as práticas de cuidado com a saúde na contemporaneidade, inclusive, vemos
que ambos se manifestam.
domínio efetivo sobre a vida inteira da população a menos que se torne uma
função integrante e vital que cada indivíduo abraça e reativa por sua própria
conta e vontade”. Foucault (1985; 1988) denominou tais modos de avaliação e
atuação de tecnologias do self. Na dimensão da Ética26, elas permitiriam aos
indivíduos realizarem – pelos próprios meios ou com a ajuda de outros – ope-
rações em seus corpos e almas.
Partindo dessas reflexões é possível aproximar as práticas do biopoder da cul-
tura terapêutica. No biopoder a tentativa é nunca ficar doente. Nunca ser incapaz.
Seguindo essa trilha, é possível dizer que, diferentemente do que ocorria nas
sociedades disciplinares, o que vemos hoje é a tentativa de maximização do
capital-saúde. Partindo dessa constatação, Han (2014) afirma vivermos na era
do fitness e não da ortopedia. Esse modelo estaria calcado na suposição de que
podemos turbinar o nosso corpo e, sobretudo, produzir nossas emoções. De
acordo com o autor, foi depois dos anos 1980 que a ideia de “melhorismo”
estrou no domínio da psiquê. Tornou-se, a partir daí, quase uma obsessão a
melhoria da cabeça, da mente e das capacidades intelectivas, assim como antes
a preocupação era melhorar o estômago ou aparelho reprodutor.
Na análise de Han (2014), tal deslocamento nos permitiria vislumbrar uma
nova frente do biopoder, denominada psicopoder. Nela há uma demanda por
pesquisas e descobertas no campo da psicologia e da neurociência, uma vez
que o cérebro passa a ser visto como a reposta para todos os problemas que
afligem a vida do sujeito contemporâneo. A suposição é de que ao mapearmos,
destrincharmos e investigarmos o cérebro seríamos capazes de administrar
problemas como stress, depressão e ansiedade, além, é claro, de potencializar
capacidades de raciocínio e memória.
Ortega (2009) utiliza o conceito de neuroascese para se referir às estratégias
de potencialização e otimização do desempenho cerebral. De acordo com o
autor, a busca por melhoria é um imperativo nas sociedades contemporâneas,
visto que uma vasta oferta de técnicas para aumentar a performance do cére-
26 Essa dimensão refere-se ao ato de analisar, decifrar e agir sobre o próprio indivíduo, partindo do pressuposto
de que há algo correto, normal, desejado, assim como a oposição a tudo isso (MAZZILLI, OVANDO, 2016).
exemplar. Seja como for, o papel dessa figura é dar sustentação aos manuais de
autoajuda, a partir de uma espécie de saber legitimado, calcado no discurso perito.
Em paralelo a esse “endosso” às práticas de aconselhamento, é interessan-
te observarmos algumas outras estratégias discursivas que a autoajuda utiliza
na atualidade. Uma delas é a combinação de “[...] elementos racionalistas e
românticos” (FREIRE FILHO, 2010b, p. 3 e 4) para convencer seus usuários de que
não apenas é necessário crer nos ensinamentos desses manuais, como também
é possível comprovar a sua eficácia.
Outra estratégia discursiva recorrente é a apresentação dos resultados obti-
dos por outros indivíduos que colocaram em prática os ensinamentos desses
receituários de superação. Em geral, eles equivalem a provas documentais como
fotografias e resultados de exames médicos que evidenciam o sucesso obtido
dentro de um comparativo no estilo “antes e depois”27. Sobre essa questão do
gap temporal, devemos notar como a referência constante ao tempo futuro é
algo fundamental no discurso da autoajuda, já que ele representa o campo de
possibilidades e conquistas ainda não realizadas pelos indivíduos.
Desse modo, fica claro o investimento que esses manuais realizam no sen-
tido de motivarem seus usuários a não encarar seus projetos pessoais como
algo que depende da sorte ou da aleatoriedade, mas de empenho, determinação
e investimento. Com isso, vemos mais uma vez como a mentalidade self-em-
preendedora atravessa esses manuais, circunscrevendo a vida como um jogo
de competência ou habilidade (BERNSTEIN, 1997).
Finalmente, esse jogo de competência é o que faz com que a autoajuda seja
um exercício especulativo. Nele o sucesso depende do investidor e sua capaci-
dade de maximização de recursos pessoais.
À guisa de esquematização, organizamos um quadro referencial que sinteti-
za algumas das análises que fizemos sobre a mecânica dos manuais de autoa-
juda contemporâneos.
27 Cabe mencionar que o apelo midiático dessas contraposições é comumente explorado em reality shows
que abordam a busca pela aparência ideal a partir de dietas, intervenções estéticas e procedimentos cirúrgi-
cos. Como já sinalizamos anteriormente, essas produções também podem ser caracterizadas como manuais
de autoajuda.
SABER LEGITIMADO
Conhecimento científico, conhecimento
espiritual, conhecimento de vida…
ANTES E DEPOIS
Gap temporal
SUCESSO ESPECULATIVO
Sucesso é uma aposta no futuro
TABELA 1 – Quadro de análise da mecânica dos manuais de autoajuda. Elaborado pela autora.
parativo entre a autoajuda clássica, marcada pela oferta de livros, e o que de-
nominamos de autoajuda processada, caracterizada por aplicativos de desen-
volvimento pessoal.
28 MURARO, C. Mercado de livros cresce 3% no faturamento em 2017 e registra primeira alta em quatro anos.
G1, [s.l.], 19 jan. 2018. Disponível em: <https://g1.globo.com/pop-arte/noticia/mercado-de-livros-cresce-3-
no-faturamento-em-2017-e-registra-primeira-alta-em-quatro-anos.ghtml>. Acesso em: 11 maio 2018.
29 FACCHINI, T. Varejo de livros continua sua recuperação, aponta GfK. Plubishnews, [s.l.], 28 mar. 2018.
Disponível em: <http://www.publishnews.com.br/materias/2018/03/28/varejo-de-livros-continua-sua-
recuperacao-aponta-gfk>. Acesso em: 11 maio 2018.
• Título do livro
• Descrição do livro
• Disponibilidade para compra
• Preço
• Editora
• Número da edição
• Preço
• Avaliação dos usuários
• Comentários dos internautas sobre os livros
• ISBN
• Posição no ranking de livros mais vendidos no amazon.com
• Indicação de outro livro (por afinidade de tema)
Em nossa análise, vimos que dos 6.370 livros oferecidos pelo Amazon.com.br,
era possível adquirir apenas 3.713. Isso porque os demais estavam com o esto-
que esgotado.
Como é de praxe em sites de venda pela internet, nem sempre o preço dos pro-
dutos indisponíveis podia ser consultado. Por isso, nesse quesito específico, nosso
levantamento não pôde considerar a totalidade de livros catalogados pela plataforma.
O levantamento do preço dos 3.713 títulos disponíveis em estoque permitiu
apurar um valor médio de R$ 25,00 e máximo de R$ 188,19 por livro. Além dis-
so, estavam disponíveis no site 178 obras que custavam R$ 19,90, sendo este o
valor mais comumente encontrado (ver Gráfico 1).
900
800
700
600
500
400
300
200
100
0
0-5 5-10 10-15 15-20 20-25 25-30 30-35 35-40 40-45 45-50 50-60 60-70 70-200
Em geral, vimos que os e-Books eram mais baratos, o que provavelmente está
relacionado ao fato do formato não envolver custo de impressão. Os 187 e-Books
localizados tinham preços de venda de até R$ 45,13, sendo R$ 15,36 o valor
médio e R$16,80 o mais comum, encontrado em 11 obras. Finalmente, também
constava no site um audiobook, mas ele não estava disponível para venda.
800
700
600
500
400
300
200
100
0
25
00
12
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-7
12
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25
27
30
32
35
37
40
0-
-1
30
25
50
0-
5-
0-
5-
0-
5-
0-
5-
0-
5-
0-
5-
75
0-
10
12
15
17
20
22
25
27
30
32
35
37
40
Sobre o número de edições dos livros, foi possível verificar que de um total
de 3.461 que apresentavam esta informação32 87% estavam em primeira edição.
Assim, pudemos constatar que o mercado de autoajuda não apenas apresenta
bons resultados comerciais, como também está “aquecido”, já que tantos livros
novos estão sendo lançados (ver Gráfico 3).
Do acervo analisado, 5.947 títulos informavam sua data de edição. Destes,
29% tinham menos de 5 anos, outros 27% entre 5 e 10 anos, 24% entre 10 e 15
anos e 20% mais de 15 anos. Entre os livros mais antigos, mencionamos A di-
nâmica da evolução humana, escrito por Duane Elgin em 1905. Portanto, apesar
do verdadeiro boom da autoajuda, sublinhamos a existência de alguns “clássi-
cos” que permanecem sendo ofertados.
3000
2500
2000
1500
1000
500
0
0-1 1-2 2-3 3-4 4-5 5-6 6-1000
Talvez o caso de maior sucesso editorial seja Histórias para aquecer o coração.
O livro, que sozinho vendeu apenas 11 milhões de cópias, deu origem a uma série
com aproximadamente 250 títulos, totalizando de mais de 500 milhões de exem-
plares vendidos, de acordo com a revista Forbes35. Curiosamente, ele não parece
ter tido o mesmo sucesso no Brasil. Apesar de contribuir com oito títulos para o
35 DENNING, S. How chicken soup for the soul dramatically expanded its brand. /forbes, April 28, 2011.
Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/stevedenning/2011/04/28/how-chicken-soup-for-the-soul-
dramatically-expanded-its-brand/>. Acesso em: 1 dez. 2018.
bem posicionado apenas no 2.932º lugar no ranking dos mais vendidos do site.
Quanto à categorização, a Amazon classificou 453 deles como “Transforma-
ção pessoal”; 203 como “Motivacional”; 150 como “Autoestima”; 121 como “Es-
piritual”; 88 como “Felicidade”; e outros 75 como “Controle de stress”, “Criati-
vidade” e “Melhoria da memória” (ver Gráfico 4).
TRANSFORMAÇÃO PESSOAL
MOTIVACIONAL
AUTOESTIMA
ESPIRITUAL
FELICIDADE
CONTROLE DO STRESS
CRIATIVIDADE
MELHORIA DA MEMÓRIA
Por mais que esse segmento apresente uma oferta bastante diversificada,
não podemos perder de vista quão alinhadas são essas obras em termos de
discurso, sempre pautados pela questão da autodireção, poder de realização
pessoal e formato de receituário.
Com o propósito de ilustrar os livros de autoajuda disponíveis no mercado
brasileiro, apresentaremos na sequência duas nuvens de palavras (ver Figuras
2 e 3), construídas, respectivamente, com os termos mais utilizados nos títulos
e nas descrições dos 6.370 livros catalogados nesta tese.
É possível notar que verbos como buscar, lidar, superar e amar parecem
caracterizar as ações sugeridas pelos manuais de autoajuda. Sob essa lógica,
ter uma postura enérgica e agir em prol dos objetivos pessoais passa a ser um
pré-requisito para a realização pessoal.
66
|
Paola_T2 - Miolo_A4.indb 66
24/01/19 13:09
Paola_T2 - Miolo_A4.indb 67
|
67
FIGURA 3 – Nuvem de palavras: descrição dos livros catalogados. Fonte: Elaborado pela autora.
24/01/19 13:09
68 | Como todo receituário, as obras desse gênero ocupam-se de estipular me-
tas. Sobre a questão do sucesso, especificamente, Castellano (2015b, p. 170 e
171) afirma:
37 O best-seller, publicado em 2005, aconselha que as pessoas negativas sejam eliminadas, incluindo, pre-
sumivelmente, aquelas com as quais você convive: “Identifique uma situação ou uma pessoa em sua vida
que o puxe para baixo. Distancie-se dessa situação ou associação. Se for a família, escolha estar perto dela
com menos frequência” (EHRENREICH, 2013, p. 67).
38 Interessante observar que o livro “Como convencer alguém em 90 segundos” não leva em conta o tempo
que seu leitor precisaria para devorar suas 312 páginas.
tar a mulher dos sonhos39. Imagine-se, então, o que não seria possível conseguir
em algumas horas? Como já vimos, um dia (hoje!) seria suficiente para ser feliz.
Muitas obras valem-se desse discurso pragmático imediatista para conduzir
seus leitores, apresentando exercícios diários, além de manuais e “códigos de
leis”. Falaremos sobre eles na sequência.
39 Na capa do livro “Como conquistar uma mulher em 15 minutos” o homem que consegue este feito é
ilustrado como alguém que contorna o labiríntico processo da conquista, evitando obstáculos e curvas
tortuosas. Tal estratégia, contudo, apela para uma compreensão superficial dos relacionamentos, uma vez
que o sucesso não está associado ao desbravamento dos percursos internos ao labirinto (e à complexidade
das relações afetivas), mas ao pragmatismo para driblá-lo.
Seus ensinamentos são tratados como preciosidades que ainda estão por
ser descobertas. Esse é o caso, por exemplo, do livro Sistema havaiano secreto
para prosperidade, saúde, paz e mais ainda, de Joe Vitale, que sugere, inclusive
pela distância em relação à ilha, oportunidade única para o leitor tomar contato
com poderes desconhecidos.
Em outra direção, Top secret pretende revelar a praxis de uma das polícias
federais mais conhecidas no mundo: o FBI40. Escrita por Jack Schafer, PhD e
40 Sigla de Federal Bureau of Investigation, polícia de atuação federal dos Estados Unidos.
É curioso que algumas das obras dessa categoria valem-se de listas extensas
para orientação. É o caso de 1000 dicas para administrar melhor a vida, de Jamie
Novak, em que a ênfase está no apelo à completitude. Ou seja, à grande quan-
tidade de ensinamentos que o livro pode prover.
Nessa categoria, o tempo é comumente tratado como recurso financeiro.
Seja o tempo para o descanso, lazer ou trabalho, há sempre uma preocupação
em termos de produtividade e performance que se aplicaria a qualquer situação.
Analisando as capas que mencionam a questão da liderança, destacam-se
novamente alguns valores típicos da cultura empreendedora (ver Figura 12).
Para todos os efeitos, o líder é aquele que está à frente. Destaca-se, pela sua
inciativa, conhecimento e capacidade de realização. Inspira.
A obra Os segredos dos homens mais ricos do mundo, por exemplo, se propõe
a tornar o impossível possível. Para tanto, seu autor, Steven K. Scott, retoma a
questão do segredo, mas agora aplicada ao universo do sucesso financeiro. Ser
rico é, nesses casos, uma meta a ser atingida. Ou melhor, ser milionário, bilio-
nário. Afinal, por que pensar pequeno, se podemos ser ambiciosos?
Vamos nos ater, agora, à categoria de capas que falam sobre saúde. Como po-
demos observar, são muitas as obras que abordam esse tema. No total, verifi-
camos 683 livros que mencionam, entre outros assuntos, doenças e tratamentos,
aprimoramento das capacidades mentais e a busca pela boa forma.
Muitos desses livros revelam a busca por um estado de bem-estar pleno.
Desde o título, sugerem o investimento na saúde como a possibilidade de cor-
po atingir todo o seu potencial – Guia da saúde integral (Flavio Vervloet), Toda
saúde do mundo (Pierre Pallardy) e Saúde perfeita (Martin Claret) (ver Figura 16).
Em sintonia a essas obras que incentivam a busca pela saúde total, “100%”,
vemos também a ênfase sobre a mente como a grande responsável pelo equi-
líbrio e pelo bem-estar. De acordo com nosso levantamento, 225 títulos fazem
menção à mente, ao cérebro ou à neurociência.
Como é possível verificar, as terapias propostas pela autoajuda são bastante di-
versificadas. Tratam desde perdão, resolução de conflitos, coração angustiado, soli-
dão, luto em ocasiões natalinas, depressão e prevenção de drogas até vidas passadas.
também existem indivíduos que fogem à regra. Grandes exceções que se encon-
tram na direção contrária e nunca apresentam problemas de saúde. Têm o
corpo e mente imunes, como sugere o livro de Gene Stone, Segredo das pessoas
que nunca ficam doentes. Esses indivíduos que “nunca” adoeceram representam
casos exemplares. Afinal, conseguiram a proeza de não apenas estar saudáveis,
mas de ser saudáveis. Sempre. Algo que seria cada vez mais improvável na ló-
gica do aprimoramento constante.
Ao longo deste capítulo, buscamos compreender de maneira sistematizada
como está organizada a oferta de livros de autoajuda no cenário brasileiro. A
partir de uma cartografia que envolveu a tabulação de milhares de obras, vimos
alguns eixos temáticos e exemplificamos como a cultura empreendedora e te-
rapêutica estão muito bem representadas nesta literatura.
A seguir, veremos como essa bibliografia vem se expandindo em um cenário
midiático que envolve grande acesso à informação, interatividade e conquista
de autonomia. Nossa suposição é que a literatura clássica de autoajuda repre-
senta apenas a base estrutural de uma edificação mais robusta em torno do
desenvolvimento pessoal.
41 No século XXI, o termo mídia refere-se a um “conglomerado comunicacional” que não apenas reúne diferentes
meios de comunicação, formatos, linguagens e conteúdos, mas também os mantêm conectados. Nesse sentido,
é ela muito mais abstrata e menos fragmentada do que os meios de comunicação de massa do século passado.
46 Sempre vale lembrar as transformações advindas da “liberação do polo emissor” (LEMOS, 2007, p. 125),
no contexto digital, sem a qual jamais teria sido possível a interatividade e participação do receptor diante
das mensagens midiáticas.
47 COMO LER RESULTADOS DE EXAME DE SANGUE. WikiHow – Como fazer de tudo, [s.d.]. Disponível em:
<https://pt.wikihow.com/Ler-Resultados-de-Exame-de-Sangue>. Acesso em: 28 abr. 2018.
48 As edições podem ser consultadas, por ano, em: <https://saude.abril.com.br/edicoes/>. Acesso em: 28
abr. 2018.
Bem mais importante do que isso é que o alto índice de atenção e, portanto,
de potencial de identificação que um índice de audiência implica, alimenta
o funcionamento dessa máquina infernal de captura e sobrecodificação da
subjetividade que se tornou uma das principais engrenagens, senão a prin-
cipal, do capitalismo contemporâneo.
Sob essa perspectiva é possível vislumbrar, por trás dessas produções mi-
diáticas, a existência de uma mentalidade econômica, não apenas porque ocor-
re uma convocação das subjetividades empreendedoras, mas também porque
se torna possível rentabilizar o próprio interesse e a própria preocupação com
a saúde. Daí o entusiasmo de tantos anunciantes em relação a programas como
Bem-Estar ou pelas publicações pagas (posts publicitários) de Gabriela Pugliesi.
Um dos aspectos que merece destaque nessas revistas, programas e canais
de influenciadores especializados em saúde é a questão do autodiagnóstico.
Como discutimos no capítulo anterior, tal prática vem se tornando recorrente
devido à diversidade de informações disponibilizadas pelas plataformas mi-
diáticas. Basta ao indivíduo acessar fóruns de discussão online, redes sociais,
vídeos no Youtube ou plataformas de entretenimento como o BuzzFeed para
verificar a abundância de testes que prometem avaliar a personalidade, a pro-
pensão para doenças ou sintomas para os quais seria necessário algum tipo
de intervenção ou tratamento.
• Que hobby você deveria fazer • Este teste do ponto vermelho vai
de acordo com o seu nível de determinar se você fica nervoso
estresse? com facilidade
• Este teste com imagens vai revelar • Você só vai acertar este teste
o seu medo mais profundo de cores se estiver enxergando
• Faça este teste sobre coisas muito bem MESMO
estressantes e revelaremos seu • Quem encontrar todos os
ponto mais forte 15 países neste teste é mais
• Só quem tem uma memória inteligente que 95% das pessoas
EXCELENTE vai conseguir acertar
10 respostas neste teste
54 Essa dispersão está relacionada à abundância de oferta, além do hábito de consumir textos mais curtos
devido à rapidez de compartilhamento e troca de mensagens, tal como a própria limitação de número de
caracteres para a realização de uma postagem (como ocorre no Twitter).
55 THOMPSON, J. 5 dicas de uma psicóloga para fazer terapia em si mesmo. BuzzFeed, [s.l.], 11 dez. 2015.
Disponível em: <https://www.buzzfeed.com/jbthomp10/5-dicas-de-uma-psicologa-para-fazer-terapia-
em-si-2113l>. Acesso em: 11 maio 2018.
56 BORGES, A. 27 dicas realmente úteis para lidar com ataques de pânico. BuzzFeed, 29 nov. 2017. Disponível
em: <https://www.buzzfeed.com/annaborges/dicas-para-lidar-com-ataques-de-panico>. Acesso em: 10
maio 2018.
gumas trazem frases motivacionais e palavras que convocam para ação; outras
apresentam listas de músicas que podem ser escutadas pelo usuário durante a
crise57. Desse modo, cada pessoa pode consumir as “dicas” com as quais mais
se identificar, navegando livremente por esses manuais.
Muitas vezes tais dicas são sugeridas pelos próprios usuários da plataforma.
É o caso da lista em questão. Com o apelo de conteúdo produzido de forma
colaborativa, esse receituário é, na realidade, um compilado de diferentes su-
gestões de pessoas comuns que já passaram por um ataque de pânico e pos-
suem um saber legitimado pela experiência.
Consequentemente, ao mesmo tempo em que esses manuais são instru-
mentos impessoais para a administração de si, também apelam para um sen-
timento de empatia. Afinal, as “dicas” não apenas são oferecidas de forma
gratuita, como resultam da preocupação mútua entre indivíduos que enfrentam
os mesmos problemas.
É curioso notar que, por mais que esses testes e listas sejam apresentados em
um âmbito midiático, há uma suposição de privacidade nesse tipo de oferta de
conteúdo. No fim das contas, os indivíduos podem realizar os testes ou acatar as
dicas apresentadas pelo BuzzFeed de forma autônoma, sem nenhum tipo de
supervisão ou interferência direta de especialistas. Nesse sentido, cabe ao usuário
realizar o próprio diagnóstico e tratamento com a ajuda da plataforma.
Trata-se, portanto, de outra forma de interlocução, diferente daquela prati-
cada com a intermediação de um familiar, amigo, médico, analista ou terapeu-
ta. Em princípio, pode-se investigar desvios, patologias ou qualquer insatisfação
sem qualquer julgamento de terceiros. Além disso, as repostas fornecidas,
assim como o diagnóstico apresentado ao final do processo, permaneceriam
restritas ao respondente.
Como vamos discutir no próximo tópico, muitas das informações inseridas
nas páginas digitais não se restringem aos interesses dos seus usuários, uma
Uma questão que vem sendo bastante discutida na esfera das novas plataformas
comunicativas é a oferta de conteúdos customizados por algoritmos. Em uma
época em que a quantidade de informações produzidas pela humanidade cres-
ce exponencialmente, as pessoas têm à sua disposição uma quantidade de
conteúdo muito maior do que conseguem processar.
Nesse contexto, as empresas se destacam não pela quantidade de informações
que conseguem produzir, mas por sua capacidade de prever o que o usuário quer,
e, assim, entregar um conteúdo de relevância. Daí a importância do “big data”, que
se relaciona não somente à quantidade de dados, mas também às técnicas analíti-
cas que permitem selecionar, filtrar e depurar seu conteúdo a partir de algoritmos.
Na linguagem de computação o algoritmo corresponde a um procedimento
criado para realizar uma tarefa específica58 . Nos meios digitais, o grau de cor-
respondência entre os usuários e tudo aquilo que lhes é direcionado depende
da sofisticação de protocolos algorítmicos, além da disponibilidade dos sujeitos
para fornecerem suas informações.
58 Esse conceito é retirado de Skiena (2008, p. 3): “An algorithm is a procedure to accomplish a specific task”.
Trata-se do primeiro portal cuja edição não é feita apenas por seres humanos,
mas também por algoritmos que selecionam aqueles artigos de maior sucesso59.
Não surpreendentemente, alguns manuais de autoajuda que mencionamos an-
teriormente apareciam em destaque no site.
O uso de algoritmos possibilitou a entrega de conteúdos personalizados
a partir do mapeamento detalhado do perfil de seus usuários. De acordo com
Costa (2004, p. 165), essa não é uma prática nova, visto que a montagem de
perfis data dos anos 1990, quando muitos sites começaram a utilizá-los para
uma série de operações, como “[...] oferta de produtos, de notícias, de pro-
gramação nos veículos de mídia, endereçamento de perguntas, encontro de
parceiros etc.”.
Já na virada do milênio o desenvolvimento da tecnologia permitiu, segundo
o autor, mapear os perfis de usuários da internet de forma dinâmica, acompa-
nhando suas atividades e, consequentemente, aprendendo sobre seus hábitos.
Esse recurso viabilizou a identificação de padrões capazes de auxiliar o próprio
sistema na sua relação com os usuários. Além disso, acentua Costa (2004),
permitiu a antecipação da oferta de produtos e serviços.
A mecânica utilizada em plataformas como Youtube é um exemplo de como
esse mapeamento ocorre. Em função dos vídeos assistidos pelos usuários (quan-
do logados), ocorre uma espécie de “tradução” e “formatação” de suas escolhas
em determinados perfis. Como resultado, a própria plataforma sugere novos
conteúdos em sua página inicial, pressupondo uma correlação de interesse.
Essa oferta segue o princípio do “selecionado especialmente para você” e vem
se tornando comum no e-commerce.
Algumas dessas manobras mercadológicas podem ser observadas quando,
em sites de compras, chamadas como “Se você gostou desse produto, é porque
também vai gostar deste” são apresentadas aos usuários, inaugurando um ciclo
interminável de indicações.
59 FROMMER, D. Here’s how BuzzFeed works. Business Insider, [s.l.], 11 jun. 2010. Disponível em: <https://
www.businessinsider.com/heres-how-buzzfeed-works-2010-6>. Acesso em: 8 jan. 2019.
60 A respeito do Amazon.com, Costa (2004, p. 165) afirma: “[...] todos aqueles que já o consultaram à procu-
ra de um título, tiveram a oportunidade de receber como sugestão do site uma lista de quatro a seis outros
títulos que também interessaram a outras pessoas que compraram o livro ou produto em questão. Essa lista
é produzida a partir do rastreamento feito por um agente inteligente que constrói um perfil dinâmico da
pessoa, tendo como referência o que ela adquire através do site (como livros, CDs, vídeos, brinquedos etc.).
Dessa forma, é possível apresentar uma lista de sugestões ao usuário com base naquilo que outras pessoas
de perfil semelhante ao dele compraram. Trata-se da construção de padrões de interesse, a partir dos quais
indivíduos que compartilham os mesmos gostos funcionam como um padrão para indicações interessantes
que podem ser cruzadas dentro de um mesmo grupo”.
61 Temas correlatos de acordo com o próprio site Amazon.com.
62 O relatório baseou-se em 61 milhões de buscas realizadas no Google, além de uma pesquisa envolvendo
1.013 adultos.
63 KIRK, A. One in four self-diagnose on the internet instead of visiting the doctor. The Telegraph, [s.l.], 24
jul. 2015. Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/news/health/news/11760658/One-in-four-self-
diagnose-on-the-internet-instead-of-visiting-the-doctor.html>. Acesso em: 20 maio 2018.
DO NOTHING
GOOGLE MY SYMPTOMS
0 1 2 3 4 5 6 7
64 KIRK, A. One in four self-diagnose on the internet instead of visiting the doctor. The Telegraph, [s.l.], 24
jul. 2015. Disponível em: <https://www.telegraph.co.uk/news/health/news/11760658/One-in-four-self-
diagnose-on-the-internet-instead-of-visiting-the-doctor.html>. Acesso em: 20 maio 2018.
65 Idem.
66 Ibidem.
67 ESTADÃO Conteúdo. 70% dos brasileiros se automedicam e 40% fazem autodiagnóstico. UOL, 1 ago.
2016. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2016/08/01/7-em-cada
-10-se-automedicam-no-pais.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 20 maio 2018.
68 ESTADÃO Conteúdo. 70% dos brasileiros se automedicam e 40% fazem autodiagnóstico. UOL, 1 ago.
2016. Disponível em: <https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/estado/2016/08/01/7-em-cada
-10-se-automedicam-no-pais.htm?cmpid=copiaecola>. Acesso em: 20 maio 2018.
69 KATZ, H. A(s) dança(s) do(s) sujeito(s) indexado(s). Issuu.com, 8 jul. 2013. Nota 1, p. 3. Disponível em:
<https://issuu.com/donaorpheline/docs/chamando_ela_por_helena_katz_4368a52330a595>. Acesso
em: 18 dez. 2017.
[...] uma nova forma de vigilância, que se preocupa em saber de que modo
essas informações estão sendo acessadas pelos indivíduos. Parece que o mais
importante agora é a vigilância sobre a dinâmica da comunicação não apenas
entre as pessoas, mas sobretudo entre estas e as empresas, os serviços on-line,
o sistema financeiro, enfim, todo o campo possível de circulação de mensa-
gens. O que parece interessar, acima de tudo, é como cada um se movimenta
no espaço informacional. Isso parece dizer tanto ou mais sobre as pessoas do
que seus movimentos físicos ou o conteúdo de suas mensagens.
15B
+14%
10B
+5%
5B
0
1Q16 1Q17
71 Comercializam, entre outros itens, aplicativos, jogos, filmes, músicas, programas de TV, livros e revistas.
72 NUMBER OF APPS AVAILABLE IN LEADING APP STORES AS OF 3RD QUARTER 2018. The Statistics Portal,
[s.l.] [s.d.]. Disponível em: <https://www.statista.com/statistics/276623/number-of-apps-available-in-leading-
app-stores/>. Acesso em: 20 maio 2018.
73 10 APLICATIVOS MAIS BAIXADOS NO MUNDO. Forbes, [s.l.], 17 jun. 2017. Disponível em: <http://
forbes.uol.com.br/fotos/2016/06/10-aplicativos-mais-baixados-no-mundo/>. Acesso em: 5 mar. 2018.
74 APLICATIVOS MAIS BAIXADOS EM 2018. Web Informado, [s.l.], 29 ago. 2018. Disponível em:<http://
webinformado.com.br/aplicativos-mais-baixados/>.Acesso em: 5 mar. 2018.
usuários para poder operar. Isso ocorre principalmente quando seu funciona-
mento depende de um banco de dados produzido de maneira “colaborativa”.
Nesse caso, retroalimentado por todas as pessoas que dele usufruem.
Existem aplicativos para propósitos variados: deslocamento público, relacio-
namentos, dietas, entretenimento e desenvolvimento pessoal, também denomi-
nados de apps de autoajuda. Estes últimos interessam especificamente a esta tese.
Como já sinalizamos no início deste trabalho, não há hoje na Play Store brasi-
leira uma categoria de aplicativos denominada “desenvolvimento pessoal”. Além
disso, também não parece existir um consenso em torno do que, efetivamente,
poderia ser enquadrado dessa maneira.
Partindo de nossas análises, entendemos que os apps que poderiam, ao
menos dentro de uma visão stricto sensu, integrar essa categoria são aqueles
voltados para o desenvolvimento de seus usuários mediante a potencialização
de seus recursos e de suas capacidades individuais. O princípio desses aplica-
tivos é fornecer uma instrumentalização de caráter tecnológico para um proje-
to de superação individual, reafirmando o discurso de autonomia, positividade
e self-empreendedorismo.
Evidentemente, só poderíamos adotar todos esses aspectos como critérios
para uma categorização se pudéssemos realizar o download de cada um dos
apps disponibilizados pela Play Store e verificar suas funcionalidades. Ocorre,
todavia, que no início de nosso levantamento deparamo-nos com 44.256 apli-
cativos na loja da Google. Ou seja, um volume de dados inviável para verificação
caso a caso, tornando necessária uma outra estratégia de coleta.
Assim, optamos por fazer uma seleção baseada no título e na descrição dos
apps, uma vez que muitos deles se autodenominam como de “desenvolvimen-
to pessoal”. Tal critério permitiu-nos reduzir a base de dados original para 1.272
aplicativos, que foram analisados um a um. Essa última verificação foi realizada
Finance 7 0,7%
Beauty 37 3,6%
Parenting 50 4,9%
Medical 54 5,3%
Lifestyle 55 5,4%
Education 84 8,3%
Categorias como Lifestyle, Medical, Parenting e Food & Drink, por sua vez,
também tratam de assuntos conectados à saúde, como veremos ao longo des-
te capítulo. Tal representatividade temática já era esperada, dado o cenário te-
rapêutico discutido no início deste trabalho, quando sinalizamos a preocupação
em torno do corpo e do bem-estar como uma das obsessões contemporâneas.
Do ponto de vista econômico, constatamos que grande parte desses aplicativos
pode ser baixada gratuitamente. Eventuais cobranças são associadas à assinatura
dos usuários ou a produtos que podem ser adquiridos depois da instalação.
438
437
875
35
30
25
20
15
10
0
R$ 1 a 4 R$ 4 a 7 R$ 7 a 10 R$ 10 a 15 R$ 15 a 20 R$ 20 a 30 R$ 30 a 79
GRÁFICO 8 – Faixas de preço dos produtos/serviços pagos dos apps de desenvolvimento pessoal78.
de downloads (por exemplo, entre mil e 5 mil, entre 5 mil e 10 mil, entre 10 mil e 50 mil, sucessivamente).
Usamos, para tal, os valores médios das faixas. Nos exemplos citados, 3 mil, 7,5 mil e 30 mil, respectivamente.
BEAUTY
FINANCE
PARENTING
LIFESTYLE
EDUCATION
MEDICAL
80 É o caso do aplicativo Remente, que oferece produtos/serviços adicionais no valor de 930 reais. Esse app
foi escolhido para a realização do estudo de caso, que será apresentado no próximo capítulo da tese.
81 Elaborado pela autora do trabalho a partir dos dados obtidos no processo de tabulação.
134
|
FIGURA 29 – Nuvem de palavras formada a partir da descrição dos apps de desenvolvimento pessoal. Elaborado pela autora a partir dos dados obtidos no processo de tabulação.
24/01/19 13:10
EMAGRECIMENTO E DIETA
136 |
| 137
138
|
24/01/19 13:10
A busca pela silhueta perfeita é um tema bastante explorado nos aplicativos | 139
82 Informação disponível na página inicial do aplicativo: <https://www.headspace.com/>. Acesso em: 8 jan. 2019.
83 CHAYKOWSKI, K. Meet Headspace, the app that made meditation a $250 million business. Forbes, [s.l.], 8
jan. 2017. Disponível em: <https://www.forbes.com/sites/kathleenchaykowski/2017/01/08/meet-heads-
pace-the-app-that-made-meditation-a-250-million-business/>.Acesso em: 12 jan. 2019.
84 O app Frases de Motivação traz milhares de frases. Informação obtida em: <https://play.google.com/sto-
re/apps/details?id=elementare.frasesmotivacao&hl=pt_BR>. Acesso em: 10 jan. 2019.
85 Elaborado pela autora do trabalho a partir das informações coletadas no processo de tabulação.
86 Vale destacar que, depois de nascerem, esses bebês também serão abastecidos com uma série de apli-
cativos voltados para o desenvolvimento infantil. Destacamos alguns apps que cumprem esse propósito:
Babies & Kids – Educational Games, Motivator of Good Behavior, Smart Baby: Baby Activities &Fun for
Tiny Hands e Kids Fitness – Yoga.
[...] um relógio que avisa quando o corpo está no limite da exaustão e precisa
repor líquidos, um colete que analisa o sono e informa maneiras de dormir
com mais qualidade ou uma pulseira que metrifica o desempenho em práticas
esportivas e envia sugestões de calçados para uma melhor performance
(MASTROCOLA, 2018, p. 242).
[...] proliferação cada vez maior de gadgets, ou dispositivos de controle que podem
monitorar e quantificar signos corporais, de temperatura, frequência de batimen-
to cardíaco, quantidade de gordura corporal, verificação da coloração da íris, me-
didor de passos e de calorias gastas acoplados em pulseiras ou smartphones etc.
87 As citações das aberturas foram retiradas do site Frasesdobem.com.br, no qual estão disponíveis mais de
180 frases motivacionais, nas categorias gentileza, companheirismo e de ano novo. In: <https://www.
frasesdobem.com.br/>. Acesso em: 17 jan. 2019.
DESENVOLVIMENTO
AMOR DIVERSÃO
PESSOAL
88 Os emojis foram criados nos anos 90 pela NTT DoCoMo, empresa de telefonia japonesa. Eles são formados
por desenhos próprios que frequentemente expressam emoções. Disponível em: <https://www.tecmundo.
com.br/web/86866-voce-sabe-diferenca-entre-emoticons-emojis.htm>. Acesso em: 24 maio de 2018.
usuário cria sua mandala, uma avaliação de estado emocional deve ser preen-
chida. Para tanto, o Remente apresenta três campos interativos.
O primeiro deles é denominado “rate your mood” e consiste, basicamente, na
escolha de um dos emojis dispostos em uma escala de 1 a 5, que vai de uma carinha
triste e abatida a uma carinha alegre e sorridente, respectivamente (ver Figura 35).
89 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
90 Idem.
91 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
A primeira informação que o usuário precisa fornecer para que possa desenhar
metas de vida no Remente é em qual dos eixos (os mesmos utilizados para o
preenchimento da mandala) ele acredita ser necessário aprimorar-se.
Nas palavras do aplicativo, é preciso “escolher um foco” de ação. Isso porque,
sabendo das intenções do usuário, é possível ajudá-lo “[...] oferecendo ferramen-
tas relevantes e conhecimento”92 (ver Figura 38).
Apesar de mencionar a importância do foco, é curioso notar que o próprio
app incentiva o usuário a questionar como está seu desempenho em todos os
eixos apresentados. Assim, mais que parte de uma metodologia, o “foco” é
apenas um entre os jargões que compõem o vocabulário do desenvolvimento
pessoal, enfatizados sempre que possível.
92 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
93 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
94 Vale destacar que há sempre um espaço em branco para que os usuários possam escrever uma meta total-
mente personalizada.
95 Nota 18, op. cit.
Step out of your comfort zone Understand my mood & feel better
96 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
como dias, semanas, meses ou anos. Das 49 metas que o app disponibilizou
ao usuário criado para a realização deste estudo de caso, 38 faziam algum tipo
de menção a tais métricas. Analisando aquelas que visam a resultados de curto
prazo, é irônico observar como algumas vezes são grandes suas pretensões.
À guisa de exemplo, podemos destacar algumas particularmente ambicio-
sas, tal como “Mudar a sua vida em 3 dias”. Sem dúvida, metas como essa
evidenciam quão urgente é a transformação pessoal. E, mais, que não há
tempo a perder. Daí podemos deduzir a aflição e a ansiedade dos indivíduos
que acabam por selecioná-la.
Além das metas gratuitas disponibilizadas aos usuários, o Remente também
apresenta em seu catálogo algumas pagas, ou “premium”, como o próprio
aplicativo denomina (ver Figura 39).
97 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
Depois que o usuário seleciona sua(s) meta(s), é possível iniciar o uso contínuo
do aplicativo. Cada uma delas possui uma ficha de planejamento de ações, que
envolve, via de regra, uma indicação de quando a meta será iniciada e quanto tem-
98 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
explicativo que destaca sua importância. Por último, são apresentadas em bullet
points tarefas que devem ser realizadas para cumprir as metas (ver Figura 41).
Para iniciar uma meta, o usuário deve clicar no botão accept goal. Na lógica
de gameficação, essa ação corresponde a iniciar uma partida. Começar o jogo.
Se aceitar a meta é também aceitar um desafio (accept of chalenge), cumpri-la
é superar uma das fases do jogo e evoluir para outro nível de dificuldade.
99 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
100 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
101 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
FIGURA 44 – Planejamento
102 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
103 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
(INPUT 2)
COMO VOCÊ
GOSTARIA DE SER?
MODELO CARDÁPIO DE
METAS / TAREFAS
(MÁQUINA DIGESTORA)
COMO VOCÊ SE VÊ?
(INPUT 1) (OUTPUT)
BASE DE DADOS
Esse modelo solicita que os usuários entrem com valores iniciais para cada
uma das variáveis – no caso, sua autoavaliação (“como sou?”) e suas expecta-
tivas de aprimoramento (“como gostaria de ser?”). Quando isso é realizado, o
Remente faz um cruzamento das informações inseridas com sua base de dados
e identifica uma lista de metas compatíveis com os usuários, que será devolvida
no formato de um cardápio.
Uma vez selecionadas as metas desejadas (e seus respectivos programas de
tarefas), o modelo é retroalimentado pelo acompanhamento da atividade, sen-
do o usuário constantemente convidado a registrar sua rotina de uso do aplica-
tivo. O propósito desses registros é oferecer um feedback tanto para os usuários
quanto para o próprio sistema.
A representação gráfica do app revela seu modelo bem engendrado de pro-
cessamento da autoajuda, característico de uma nova fase tecnológica.
De fato, o aplicativo diferencia-se fortemente da literatura clássica do gênero
quando extrapola o caráter informativo dos receituários e propõe uma interati-
vidade monitorada e contínua dos usuários, à semelhança de uma terapia. Ocor-
104 Informações coletadas pela autora a partir da interação com o Remente em seu dispositivo móvel.
bem-sucedida não são traçadas pelos leitores, dado que elas foram previamen-
te estipuladas pelos autores dos livros. Já nos aplicativos como o Remente,
essas metas são elencadas pelos usuários de maneira personalizada, sendo
constantemente atualizadas.
No que tange à questão do autodiagnóstico, o mercado editorial pode até
identificar o interesse dos consumidores por determinados temas (em função
dos livros adquiridos), mas não tem acesso à avaliação que seus leitores realizam
sobre si próprios. Dito de outro modo, não é possível saber, ao certo, quais são
seus problemas, suas vulnerabilidades e suas expectativas. O diagnóstico é
realizado de maneira silenciosa e deixa poucos rastros, ao menos se comparados
com aqueles deixados nos apps de autoajuda.
Além disso, vale notar que, no caso da autoajuda clássica, o autodiagnóstico é
incentivado enquanto prática, mas não é condição necessária de acesso aos manuais.
Já no caso de tecnologias como a do Remente, só é possível a utilização efetiva de
seus recursos após o usuário compartilhar com o sistema sua autoavaliação.
Já no que se refere à questão do aprendizado, é curioso observar o que ocor-
re no caso dos aplicativos. Diferentemente da literatura clássica, que se ocupa
apenas de transmitir ensinamentos a seus leitores, o que essa tecnologia faz é
também aprender com seus usuários. Partindo da coleta de dados, os apps
podem aprimorar-se enquanto modelo. Ou seja, aprender mais sobre os indiví-
duos e desenvolver novas técnicas para, assim, ensiná-los. Cabe lembrar ainda
que, nos aplicativos, o usuário é convocado para o aprendizado contínuo, já que
há sempre o incentivo à atualização de metas.
Do ponto de vista do saber legitimado, enquanto na literatura clássica é o
autor (que pode ser um líder espiritual, profissional da saúde ou ícone do fute-
bol, por exemplo) quem detém o conhecimento que se busca transmitir ao leitor,
o que vemos nos apps é algo muito diferente. O guru torna-se a própria tecno-
logia e o seu saber, maquínico.
Como vimos no capítulo anterior, esses aplicativos funcionam como uma
“máquina digestiva” que faz a curadoria do saber legitimado. Assim, mais que
assumir o “lugar” de especialista, a máquina administra, seleciona e aprimora
os ensinamentos que apenas os peritos podiam outrora transmitir.
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