intervenção ergonômica A obrigatoriedade da Análise Ergonômica do Trabalho consta na Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e Emprego. Todo estudo em ergonomia tem como objetivo a segurança, o conforto e o desempenho eficiente dos trabalhadores, dessa forma, deve ser sistematizado para que as informações sejam compreendidas por todos os envolvidos. Etapas da intervenção ergonômica O primeiro item da Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17) aponta que o principal objetivo da ergonomia é estabelecer parâmetros que permitam a adaptação das condições de trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente. O papel do ergonomista se foca aqui: os limites de tolerância nem sempre podem ser medidos objetivamente. Às vezes, uma solução sempre é dar maior flexibilidade, autonomia e opções para que o trabalhador escolha a melhor forma de trabalhar. Para avaliar conforto, apontado na NR 17 como objetivo da ergonomia, é imprescindível a expressão do trabalhador, pois só ele pode confirmar a adequação das soluções propostas. É importante apontar que a organização do trabalho não deve ser considerada intocável e passível de ser modificada apenas por iniciativa da empresa. Os trabalhadores devem ter voz a respeito de como o trabalho é conduzido e seus saberes devem ser considerados na concepção de cada aspecto do trabalho. Precisamos nos perguntar até que ponto as regras, os ritmos, as metas e os indicadores condizem com a realidade. Será que o trabalhador é avaliado verdadeiramente pelo seu trabalho? Será que o sistema implantado realmente facilita o trabalho? A Análise Ergonômica do Trabalho não possui um modelo ou protocolo especifico, porém possui 12 passos que devem ser minimamente seguidos de acordo com o Manual de Aplicação da Norma Regulamentadora nº 17. Eles estão esquematizados na Figura: Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a análise global da empresa e dos trabalhadores
Toda Análise Ergonômica do Trabalho parte de uma demanda,
e este é o primeiro passo:
1) Análise da demanda e do contexto.
A obrigatoriedade desse estudo de acordo com a Norma Regulamentadora nº 17 tem levado as empresas, muitas vezes, a realizarem a Análise Ergonômica do Trabalho de forma rotineira e protocolar, o que leva a análises superficiais que não contribuem com a melhoria das condições de trabalho.
2) análise global da empresa.
Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa para contextualizar a situação de trabalho. Dessa forma, identificamos localização geográfica, situação econômica, grau tecnológico, quem são seus clientes, sua regulamentação (regras internas, procedimentos, políticas, estratégias), tipos de produto e serviço (inclusive, padrões de qualidade e certificações), estrutura administrativa (organogramas e fluxogramas de processos que estejam relacionados à demanda), características das matérias-primas, variações sazonais da produção, principais tarefas, arranjo físico (leiaute), automação, metas produtivas, capacidade de produção, índice de produtividade e organização do trabalho (horários, turnos, cadências, ritmos, remuneração, forma de contratação e exigências). 3) análise da população trabalhadora. Devemos mapear a política de pessoal, faixa etária, se há rotatividade, tempo de casa, experiência, categorias, níveis hierárquicos, características antropométricas, pré-requisitos, nível de escolaridade e capacitação (quais treinamentos específicos a empresa proporciona para cada tarefa), estado de saúde e absenteísmo.
Um exemplo de descrição de faixa etária de uma população de
trabalhadores. Perceba que as idades estão agrupadas em faixas etárias. Assim, conseguimos visualizar a distribuição de idades e identificar, inclusive, se a empresa permite um envelhecimento da sua população de trabalhadores ou se é uma empresa que emprega apenas jovens.
4) definição das situações a serem estudadas.
Essa definição está totalmente relacionada à demanda reformulada. Estudamos apenas as situações que envolvem a demanda escolhida. 5) descrição das tarefas (prescritas e reais) e das atividades desenvolvidas para executá-las (como o trabalhador age, pensa, usa seu corpo e sua mente). É importante que a descrição da tarefa permita compreender o que o trabalhador deve fazer (a tarefa), como proceder para atingir esse objetivo (atividade) e as dificuldades que enfrenta. Nessa descrição, devemos mapear dados: a) sobre os trabalhadores (formação necessária, quem faz o que, o que utiliza, de quem precisa, aspectos biomecânicos e antropométricos, posturas utilizadas, para onde olha e de quais informações precisa, demanda cognitiva, decisões a serem tomadas, ações imprevistas, com quem precisa se comunicar, de quem e do que depende, deslocamentos necessários); b) dados do posto de trabalho (dimensões, órgãos de comando, sinalizações, princípios de funcionamento de máquinas e ferramentas, problemas aparentes), como quinas vivas, panes e falta de calibração, por exemplo; c) interação homem x máquina (informações necessárias, improvisações, gambiarras, principais regulações em relação ao homem, ao posto, ao sistema); d) dados ambientais (conforto térmico, iluminamento, ruído que possa atrapalhar na concentração e causar desconforto, vibração, questões tóxicas).
Iluminação e iluminamento são duas coisas diferentes.
Iluminação é o efeito provocado pela luz. Digamos que é a luz que sai de uma fonte natural (janela) ou artificial (lâmpadas). Iluminamento é o quanto de luz incide sobre uma superfície. Pode ser que em um ambiente haja muita iluminação, mas alguns postos de trabalho podem ser prejudicados (por exemplo, por questões de leiaute inadequado). Assim, problemas específicos de iluminamento podem levar ao desconforto visual ou ainda podem limitar a visibilidade de informações importantes.
6) estabelecimento de um pré-diagnóstico e, como o nome
indica, ainda não é o diagnóstico final. Nessa etapa, deve ser explicitado às várias partes envolvidas tudo o que foi entendido e analisado com relação à tarefa e situação de trabalho motivada pela demanda. Assim, tudo será validado, podendo o ergonomista continuar com essas conclusões ou abandoná-las como hipótese para o problema, verificando se tudo que analisou até então faz sentido para o estudo.
livremente, entrevistar (questionários, roteiros semiestruturados) e realizar grupos focais são métodos de coleta de informação. Avaliar conforto de acordo com a opinião de um único trabalhador pode não ter validade geral. Deve-se conversar com diversos trabalhadores e, principalmente, validar com eles se o que você entendeu e escreveu faz sentido para todos. Realize grupos em que as pessoas falam livremente sobre o que elas fazem. Perguntar o que uma pessoa faz e como é seu trabalho é um início poderoso. Você pode se surpreender com a quantidade de informações e saberes que partem das verbalizações dos trabalhadores. 8) diagnóstico ou diagnósticos do problema apontado como demanda para a Análise Ergonômica do Trabalho. Depois de analisar todas as situações em detalhe e sistematizálas, é possível formular um diagnóstico que permitirá o melhor conhecimento da situação de trabalho.
9) validação do diagnóstico: em que o ergonomista o
apresenta a todos os atores envolvidos, os quais poderão confirmá-lo, rejeitá-lo ou sugerir maiores detalhes que escaparam à sua percepção; 10) projeto de modificações: alteração para sanar os problemas e transformar realmente a situação do trabalho resolvendo os problemas e reduzindo os fatores que induzem ao adoecimento, à insegurança ou ineficiência;
11) cronograma de implantação: traçar um plano de ação
com data, responsáveis, objetivos e custos, e de acordo com prazos, prioridades e urgências;
12) acompanhamento das modificações: o ergonomista não
deve abandonar o estudo na entrega das informações iniciais. É primordial que ele acompanhe as modificações, e isso deve estar acordado desde o início. É preciso avaliar o impacto das modificações sobre os trabalhadores e, se possível, formar um comitê de melhorias relacionadas à ergonomia que seja capacitado para continuar com os estudos e as melhorias.