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ERGONOMIA E SEGURANÇA DO TRABALHO

AULA 4

Etapas, métodos e técnicas da


intervenção ergonômica
A obrigatoriedade da Análise Ergonômica do Trabalho consta
na Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e
Emprego.
Todo estudo em ergonomia tem como objetivo a segurança, o
conforto e o desempenho eficiente dos trabalhadores, dessa
forma, deve ser sistematizado para que as informações sejam
compreendidas por todos os envolvidos.
Etapas da intervenção ergonômica
O primeiro item da Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17)
aponta que o principal objetivo da ergonomia é estabelecer
parâmetros que permitam a adaptação das condições de
trabalho às características psicofisiológicas dos trabalhadores,
de modo a proporcionar um máximo de conforto, segurança e
desempenho eficiente.
O papel do ergonomista se foca aqui: os limites de tolerância
nem sempre podem ser medidos objetivamente. Às vezes, uma
solução sempre é dar maior flexibilidade, autonomia e opções
para que o trabalhador escolha a melhor forma de trabalhar.
Para avaliar conforto, apontado na NR 17 como objetivo da
ergonomia, é imprescindível a expressão do trabalhador, pois
só ele pode confirmar a adequação das soluções propostas.
É importante apontar que a organização do trabalho não deve
ser considerada intocável e passível de ser modificada apenas
por iniciativa da empresa.
Os trabalhadores devem ter voz a respeito de como o trabalho
é conduzido e seus saberes devem ser considerados na
concepção de cada aspecto do trabalho.
Precisamos nos perguntar até que ponto as regras, os ritmos,
as metas e os indicadores condizem com a realidade.
Será que o trabalhador é avaliado verdadeiramente pelo seu
trabalho?
Será que o sistema implantado realmente facilita o trabalho?
A Análise Ergonômica do Trabalho não possui um modelo ou
protocolo especifico, porém possui 12 passos que devem ser
minimamente seguidos de acordo com o Manual de Aplicação
da Norma Regulamentadora nº 17.
Eles estão esquematizados na Figura:
Metodologia da ergonomia da atividade: a demanda e a
análise global da empresa e dos trabalhadores

Toda Análise Ergonômica do Trabalho parte de uma demanda,


e este é o primeiro passo:

1) Análise da demanda e do contexto.


A obrigatoriedade desse estudo de acordo com a Norma
Regulamentadora nº 17 tem levado as empresas, muitas vezes,
a realizarem a Análise Ergonômica do Trabalho de forma
rotineira e protocolar, o que leva a análises superficiais que não
contribuem com a melhoria das condições de trabalho.

2) análise global da empresa.


Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa
para contextualizar a situação de trabalho. Dessa forma,
identificamos localização geográfica, situação econômica, grau
tecnológico, quem são seus clientes, sua regulamentação
(regras internas, procedimentos, políticas, estratégias), tipos de
produto e serviço (inclusive, padrões de qualidade e
certificações), estrutura administrativa (organogramas e
fluxogramas de processos que estejam relacionados à
demanda), características das matérias-primas, variações
sazonais da produção, principais tarefas, arranjo físico (leiaute),
automação, metas produtivas, capacidade de produção, índice
de produtividade e organização do trabalho (horários, turnos,
cadências, ritmos, remuneração, forma de contratação e
exigências).
3) análise da população trabalhadora. Devemos mapear a
política de pessoal, faixa etária, se há rotatividade, tempo de
casa, experiência, categorias, níveis hierárquicos,
características antropométricas, pré-requisitos, nível de
escolaridade e capacitação (quais treinamentos específicos a
empresa proporciona para cada tarefa), estado de saúde e
absenteísmo.

Um exemplo de descrição de faixa etária de uma população de


trabalhadores.
Perceba que as idades estão agrupadas em faixas etárias.
Assim, conseguimos visualizar a distribuição de idades e
identificar, inclusive, se a empresa permite um envelhecimento
da sua população de trabalhadores ou se é uma empresa que
emprega apenas jovens.

4) definição das situações a serem estudadas.


Essa definição está totalmente relacionada à demanda
reformulada. Estudamos apenas as situações que envolvem a
demanda escolhida.
5) descrição das tarefas (prescritas e reais) e das atividades
desenvolvidas para executá-las (como o trabalhador age,
pensa, usa seu corpo e sua mente). É importante que a
descrição da tarefa permita compreender o que o trabalhador
deve fazer (a tarefa), como proceder para atingir esse objetivo
(atividade) e as dificuldades que enfrenta.
Nessa descrição, devemos mapear dados:
a) sobre os trabalhadores (formação necessária, quem faz o
que, o que utiliza, de quem precisa, aspectos biomecânicos
e antropométricos, posturas utilizadas, para onde olha e de
quais informações precisa, demanda cognitiva, decisões a
serem tomadas, ações imprevistas, com quem precisa se
comunicar, de quem e do que depende, deslocamentos
necessários);
b) dados do posto de trabalho (dimensões, órgãos de
comando, sinalizações, princípios de funcionamento de
máquinas e ferramentas, problemas aparentes), como
quinas vivas, panes e falta de calibração, por exemplo;
c) interação homem x máquina (informações necessárias,
improvisações, gambiarras, principais regulações em relação
ao homem, ao posto, ao sistema);
d) dados ambientais (conforto térmico, iluminamento, ruído
que possa atrapalhar na concentração e causar desconforto,
vibração, questões tóxicas).

Iluminação e iluminamento são duas coisas diferentes.


Iluminação é o efeito provocado pela luz. Digamos que é a luz
que sai de uma fonte natural (janela) ou artificial (lâmpadas).
Iluminamento é o quanto de luz incide sobre uma superfície.
Pode ser que em um ambiente haja muita iluminação, mas
alguns postos de trabalho podem ser prejudicados (por
exemplo, por questões de leiaute inadequado).
Assim, problemas específicos de iluminamento podem levar ao
desconforto visual ou ainda podem limitar a visibilidade de
informações importantes.

6) estabelecimento de um pré-diagnóstico e, como o nome


indica, ainda não é o diagnóstico final. Nessa etapa, deve ser
explicitado às várias partes envolvidas tudo o que foi entendido
e analisado com relação à tarefa e situação de trabalho
motivada pela demanda. Assim, tudo será validado, podendo o
ergonomista continuar com essas conclusões ou abandoná-las
como hipótese para o problema, verificando se tudo que
analisou até então faz sentido para o estudo.

7) observação sistemática. Filmar, fotografar, observar


livremente, entrevistar (questionários, roteiros
semiestruturados) e realizar grupos focais são métodos de
coleta de informação. Avaliar conforto de acordo com a opinião
de um único trabalhador pode não ter validade geral. Deve-se
conversar com diversos trabalhadores e, principalmente, validar
com eles se o que você entendeu e escreveu faz sentido para
todos. Realize grupos em que as pessoas falam livremente
sobre o que elas fazem. Perguntar o que uma pessoa faz e
como é seu trabalho é um início poderoso.
Você pode se surpreender com a quantidade de informações e
saberes que partem das verbalizações dos trabalhadores.
8) diagnóstico ou diagnósticos do problema apontado como
demanda para a Análise Ergonômica do Trabalho.
Depois de analisar todas as situações em detalhe e
sistematizálas, é possível formular um diagnóstico que permitirá
o melhor conhecimento da situação de trabalho.

9) validação do diagnóstico: em que o ergonomista o


apresenta a todos os atores envolvidos, os quais poderão
confirmá-lo, rejeitá-lo ou sugerir maiores detalhes que
escaparam à sua percepção;
10) projeto de modificações: alteração para sanar os
problemas e transformar realmente a situação do trabalho
resolvendo os problemas e reduzindo os fatores que induzem
ao adoecimento, à insegurança ou ineficiência;

11) cronograma de implantação: traçar um plano de ação


com data, responsáveis, objetivos e custos, e de acordo com
prazos, prioridades e urgências;

12) acompanhamento das modificações: o ergonomista não


deve abandonar o estudo na entrega das informações iniciais. É
primordial que ele acompanhe as modificações, e isso deve
estar acordado desde o início. É preciso avaliar o impacto das
modificações sobre os trabalhadores e, se possível, formar um
comitê de melhorias relacionadas à ergonomia que seja
capacitado para continuar com os estudos e as melhorias.

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