Você está na página 1de 5

Ensaio sobre a obra A Metamorfose

FRANZ KAFKA

Ariana Nunes Ferrão


Docente: Luísa Afonso Soares
História das Ideias Contemporâneas, 2º Semestre 2021-2022
Franz Kafka é conhecido pelo estilo de escrita, temas e padrões de alienações e
brutalidade física e psicológica. Nas suas obras estavam presentes conflitos entre
pais e filhos. Em A Metamorfose uma das poucas obras publicadas em vida do
autor, vê-se precisamente isto quando o personagem sofre uma transformação. Em
português, o autor ficou conhecido pelo termo “kafkiano”, o qual remete a algo
complicado, labiríntico e surreal, como as situações que estão presentes nas suas
obras.

Neste livro é nos contada a história de Gregório Samsa um homem comum,


conformista, sem ambição de ascensão social. Que vive sem privacidade, sendo o
seu único foco, sustentar a família, ao qual se agarram os parasitas que comandam
a sua vida, os pais. Este trabalha como caixeiro-viajante e detesta o trabalho e o
chefe. Ainda que os deteste, precisa de manter o emprego para pagar uma dívida
que a família acumulou. É graças a esse trabalho monótono, que vem o sustento
dos pais e da irmã. Certo dia, Gregório acorda tarde para ir trabalhar e descobre
que se tinha transformado num inseto.

Ainda que o seu corpo tenha sofrido uma metamorfose, a mente permanece
inalterada por enquanto. Apesar desta desgraça a sua única preocupação é não
conseguir sair da cama devido à sua forma e atrasar-se para trabalhar. A situação
começa a ficar ainda mais difícil quando Gregório tem de se explicar à família e
ao patrão que aparece em sua casa, pois não era costume Gregório se atrasar.

Ambos ficam horrorizados quando veem que este se tinha transformado numa
“Barata Gigante”, e ficam ainda mais preocupados com a questão do emprego,
visto que Gregório agora não podia ir trabalhar, não pensando uma vez que seja na
saúde do mesmo.
A instabilidade da família é então exposta, a falsa segurança como valor acaba.
Gregório, parasita metamorfoseado, ainda tenta inutilmente voltar à forma
humana. Mas ele agora não é mais nada a não ser um estranho no meio familiar,
um enorme inseto. E quem, mesmo inconscientemente, quebra as regras da
manipulação é punido com a marginalização!

A figura punitiva no início é o pai. Até que a irmã, que inicialmente era a única
que parecia compreende-lo, se desumaniza ao começar a trabalhar para manter a
família, substituindo-o, passando assim a detestá-lo também. Aqui podemos
relacionar esta situação com uma das teorias que nos é apresentada por Freud em
o Mal-Estar na Civilização, o pai visto como o macho alfa da casa, a mãe como a
fêmea frágil e indefesa, e a irmã a única aliada de Gregório:

As alianças entre irmãos. Ao subjugarem o pai, os filhos aprenderam por


experiência própria que uma aliança pode ser mais forte que um indivíduo. (Freud:54).

Que quando este deixa de ser uma mais valia e ela passa a ter que substituí lo, deixa de
ser um aliado e passa a inimigo.

Podemos ainda relacionar mais uma vez a obra com o Mal-estar na Civilização,
em que o personagem principal estava em sofrimento e as suas dores eram
devido às mesmas fontes citadas por Freud, sendo estas:

O nosso corpo que possui necessidades próprias e elas são impulsionadas pelos
impulsos naturais. Acontece que nem sempre podemos atender a estas
necessidades e precisamos reprimir essas vontades. Consequentemente, isso
acaba por gerar distúrbios ou desequilíbrios físicos e psíquicos. Vendo isso
também em Gregório, pois este vivia apenas para o trabalho sem ter momentos
de lazer.
Outra delas são os relacionamentos, relacionar-se com outras pessoas também é
um canal de sofrimento para o ser humano. Isto porque ele está a lidar com um
outro ser humano que possui as próprias particularidades e desejos. Deste modo,
pode haver choques de interesse nos níveis mais baixos até aos mais perigosos.

Por fim, a própria realidade onde estamos inseridos pode ser um canal de
sofrimento contínuo para nós. Da mesma forma como num relacionamento, as
nossas tendências pessoais podem entrar em confronto com as regras do mundo
externo. Por exemplo, vendo em A Metamorfose, tudo o que Gregório deve
reprimir para que não fosse julgado e condenado publicamente e principalmente
pela família.

Durante o desenvolvimento, Gregório Samsa passa a ser um inseto por


completo, mudando a forma de pensar, a comunicação, os hábitos e a maneira
como vê a família. Ainda que eles o ajudem de início, percebem o quanto aquela
situação acaba por os afetar negativamente. Dada as diversas incompatibilidades
sociais e afetivas pós-incidente, Gregório acaba por ser deixado a morrer por
inanição. Finalmente, com o final previsível, mas que não podia ser de outra
forma, Gregório acaba por morrer e a família respira aliviada.

Nesta obra, Kafka demonstra que apesar de ser Gregório quem se transforma num
bicho asqueroso, os verdadeiros parasitas são os pais que se aproveitam da sua boa
vontade para trabalhar e sustentá-los e quando este já não consegue ajudá-los deixa
de ser uma peça importante para a família e passa a ser descartável.
Referências
FREUD, Sigmund. O Mal-Estar na Civilização.Relógio D´Água Editores,
Fevereiro de 2008.

KAFKA, Franz. A Metamorfose. Universidade da Amazônia.

PENNA, João. Artigo sobre a obra A Metamorfose.

Você também pode gostar