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Texto A – Leitura

CONHEÇA A HISTÓRIA DA PRIMEIRA VOLTA AO MUNDO

João Ferreira | 27.10.2020

Foi um marinheiro português que idealizou, organizou e morreu a realizar a primeira


viagem de circum-navegação do planeta. Fê-lo com os conhecimentos científicos dos
navegadores portugueses, mas em nome de Espanha, porque Portugal o rejeitou.
Aqui recordamos essa primeira viagem que inspirou o nome desta revista.

[…] Em 20 de setembro de 1519, Fernão de Magalhães zarpou do porto de Sanlúcar


de Bar-rameda, perto de Cádis, ao comando da nau Trinidad, seguido por outras
quatro: San Antonio, Concepción, Victoria e Santiago. A primeira escala foi em
Tenerife, nas Canárias.

Revoltas, fome e escorbuto

Navegando para sudoeste, chegaram ao Rio de Janeiro em 13 de dezembro. Juan de


Carta-gena, capitão da nau San Antonio, foi destituído1 e preso por se opor às
decisões de Magalhães.

Em 11 de janeiro de 1520, os navios atingiram a atual Punta del Este, no Uruguai, e


explora-ram o rio da Prata, em águas que hoje pertencem à Argentina. A 31 de março,
a expedição che-gou ao porto de S. Julião, à entrada do estreito que veio a chamar-se
de Magalhães, onde o comandante decidiu passar o inverno. A sua autoridade voltou
a ser posta em causa, agora com violência.

Magalhães conseguiu dominar os amotinados2, executando dois cabecilhas (incluindo


Gas-par de Quezada, capitão da Concepción) e abandonando outros dois numa praia
(um deles era o ex-capitão da San Antonio, Juan de Cartagena). Depois de a nau
Santiago se ter afundado du-rante a exploração do estreito, em outubro, a tripulação
da San Antonio amotinou-se, prendeu o capitão (o português Álvaro de Mesquita) e
regressou a Espanha.

Ao fim de cinco meses de tempestades no labirinto da Terra do Fogo, na ponta sul da


Améri-ca, em 27 de novembro, Magalhães encontrou a saída do estreito a que
chamou De Todos os Santos e entrou no oceano que batizou de Pacífico – devido à
calmaria encontrada. Em 1525, na capitulación3 assinada entre a coroa espanhola e o
navegador Sebastião Caboto para uma nova viagem de exploração, já aparece a
designação “estreito de Magalhães”.

Com grande parte da tripulação dizimada4 pela fome, pela sede e pelo escorbuto5, em
6 de março de 1521, os navegadores chegaram à ilha dos Ladrões, no arquipélago
das Marianas. No dia 17 desse mês desembarcaram para se abastecer de água no
arquipélago a que Magalhães deu o nome de São Lázaro. Estavam em Malhon e o
nome foi mais tarde mudado para Filipinas, em homenagem ao filho e sucessor de
Carlos V, Filipe II. […]

O fim da viagem iniciada por Fernão de Magalhães agudizou o litígio diplomático6


conhecido como a “questão das Molucas”. Em causa estava a localização das ilhas e
a determinação do hemisfério a que pertenciam, segundo a divisão do Tratado de
Tordesilhas: a Portugal ou a Es-panha?

João Ferreira, in Volta ao Mundo. https://www.voltaaomundo.pt/2020/10/27/conheca-a-


historia-da-primeira-volta-ao mun-do/destinos/868705/ (adaptado e com supressões,
consult. em 24-10-2021)

Vocabulário:

1. destituído: demitido do seu cargo. 2. amotinados: revoltados. 3. capitulación:


contrato. 4. dizimada: devastada. 5. escorbuto: doença caracterizada por hemorragia,
em especial nas gengivas, provocada pela falta de vitamina C. 6. litígio diplomático:
conflito nas relações entre países.

1. Para cada item (1.1. a 1.6.), seleciona a opção que completa a afirmação, de
acordo com o sentido do texto.

1.1. Em nome de Espanha, o marinheiro português Fernão de Magalhães concebeu


o projeto

A. da 1.ª volta ao mundo por balão, tendo morrido ao tentar realizá-lo.

B. da 1.ª volta ao mundo por navegação, tendo morrido ao tentar realizá-lo.

C. de uma revista, intitulada “Volta ao Mundo”.

D. da 1.ª viagem de circum-navegação da ilha de Cuba.

1.2. A nau Trinidad, comandada por Fernão de Magalhães, partiu

A. de Tenerife, nas Canárias, em 20 de setembro de 1519.

B. do porto de San Antonio, em 20 de setembro de 1519.

C. do porto de Sanlúcar de Barrameda, em 20 de setembro de 1519.

D. do porto de Sines, em 20 de setembro de 1519.

1.3. Fernão de Magalhães enfrentou revoltas contra a sua autoridade de


comandante,

A. primeiramente, de uma maneira violenta, depois, por desobediência.

B. primeiramente, por desobediência, depois, de uma maneira violenta.

C. primeiro, por via marítima, depois, por via aérea.

D. nomeadamente, por agentes da contraespionagem portuguesa.

1.4. Até ao presente, permanecem designações geográficas que devem a sua


autoria a Fernão de Magalhães como, por exemplo,

A. São Lázaro.
B. Rio de Janeiro.

C. oceano Pacífico.

D. Algarve.

1.5. A vida dos navegadores da armada de Fernão de Magalhães foi dolorosamente


marcada

A. pela fome, pela sede e pela gripe.

B. pelo tédio, pela sede e pelo escorbuto.

C. pela indisciplina, pela malária e pela cólera.

D. pela fome, pela sede e pelo escorbuto.

1.6. A chamada “questão das Molucas” consistiu

A. numa guerra entre portugueses e espanhóis.

B. num duelo entre marinheiros portugueses e espanhóis.

C. numa disputa literária entre Portugal e Espanha.

D. num conflito entre Portugal e Espanha.

Texto B – Educação literária

O passaporte de Phileas Fogg

O inspetor da polícia dirigiu-se rapidamente para o escritório do cônsul1 e no mesmo


instante, em satisfação do seu pedido urgente, foi introduzido junto do alto funcionário.

– Senhor cônsul – disse ele sem mais preâmbulos –, tenho boas razões para crer que
o nosso homem está a bordo do Mongólia.

E contou o que se passara entre ele e o criado a propósito do passaporte.

– Bem, senhor Fix – redarguiu o cônsul –, não se me dá de ver a cara desse tratante2,
mas é de crer que não venha aqui, se for quem o senhor supõe. Um ladrão não gosta
de deixar vestígios da sua passagem e, depois, a formalidade dos passaportes há
muito tempo que não é obrigatória.

– Senhor cônsul – volveu o detetive –, se for, como bem se deve imaginar, um homem
muito hábil, há de vir.

– Pôr o visto?

– Decerto. Os passaportes só servem para estorvar as pessoas de bem e favorecer a


fuga das que o não são. Afirmo-lhe que o daquele tratante há de estar em regra, mas
espero, com razão, que o senhor não lhe ponha o visto…

– E porque não? Se o passaporte estiver regular – retorquiu o cônsul –, não tenho o


direito de recusar a minha assinatura.
– Entretanto, senhor cônsul, é preciso que eu retenha aqui esse homem até receber
de Londres uma ordem de prisão.

– Ah, senhor, isso diz-lhe respeito – retorquiu o cônsul –, mas eu não tenho o direito…

O cônsul não pôde concluir, pois neste momento batiam à porta do gabinete, e o
empregado introduziu dois visitantes, um dos quais era precisamente o que falara com
o agente.

Eram, com efeito, o amo e o criado, e o primeiro apresentou o seu passaporte,


pedindo com todo o laconismo3 ao cônsul que o carimbasse.

Este pegou no passaporte e leu-o com toda a atenção, ao mesmo tempo que Fix, num
canto do gabinete, observava, ou antes, devorava o estrangeiro com os olhos.

Quando acabou de ler, o cônsul perguntou:

– É Phileas Fogg, esquire4?

– Sim – respondeu o gentleman.

– E este homem é seu criado?

– É, chama-se Passepartout e é francês.

– Vem de Londres?

– Venho.

– E para onde vai?

– Para Bombaim.

– Bem, senhor, sabe que a formalidade do visto é inútil e que já não se exige a
apresentação dos passaportes?

– Bem sei – respondeu Phileas Fogg –, mas desejo provar com a sua assinatura que
passei pelo canal de Suez.

– Seja assim.

O cônsul assinou e datou o passaporte e pôs nele o seu sinete. Phileas Fogg pagou
os respetivos direitos e, depois de ter cumprimentado com toda a frieza, saiu, seguido
do seu criado.

– Então? – perguntou o detetive.

– Parece-me – respondeu o cônsul – que tem cara de um homem honrado!

– É possível que seja – volveu Fix, – mas não é disso que se trata. Não acha, senhor
cônsul, que este imperturbável gentleman se parece, feição por feição, com o homem
cujos sinais

recebi?
– Sou dessa opinião, mas bem sabe que isto de sinais…

– Não quero ficar com remorsos – tornou Fix. – O criado parece menos indecifrável do
que o amo e, para mais, como francês, não deixará de falar. Até já.

Dito isto, o inspetor saiu e pôs-se à procura de Passepartout.

Júlio Verne, A Volta ao Mundo em 80 Dias. Porto Editora, 2019 (pp. 56-58)

Vocabulário:

1. cônsul: representante diplomático de uma nação, estando num país estrangeiro. 2.


tratante: malandro, trapaceiro. 3. laconismo: brevidade (de palavras). 4. esquire:
(inglês) homem de elevado nível social.

2. Identifica o espaço onde decorre a ação.

3. Substitui a expressão sublinhada na frase seguinte por outra de sentido


equivalente.

“– Senhor cônsul – disse ele sem mais preâmbulos – tenho boas razões para crer que
o nosso homem está a bordo do Mongólia.” (ll. 3-4)

4. Explica o objetivo da reunião do inspetor Fix com o cônsul.

5. Indica o que levou à interrupção do diálogo entre Fix e o cônsul.

6. Atenta nos adjetivos apresentados, seleciona os que melhor caracterizam o


comportamento de Phileas Fogg. Justifica a tua resposta.

A. Lacónico

B. Divertido

C. Indeciso

D. Resoluto

E. Envergonhado

7. No diálogo final, o cônsul e o inspetor Fix avaliam Phileas Fogg de forma


distinta.

7.1. Comenta a afirmação anterior, fundamentando a tua resposta com elementos


do texto.

Grupo III – Gramática

1. Seleciona a opção que apresenta as classes a que pertencem as palavras da


seguinte frase:

“Um ladrão não gosta de deixar vestígios da sua passagem” (texto B, ll. 7-8)

A. Determinante + nome + advérbio + verbo + preposição + verbo + nome +


preposição +
pronome + nome

B. Determinante + nome + advérbio + verbo + preposição + verbo + nome +


preposição +

determinante + nome

C. Determinante + nome + interjeição + verbo + preposição + verbo + nome +


preposição +

determinante + nome

D. Determinante + nome + advérbio + verbo + conjunção + verbo + nome +


preposição +

determinante + nome

2. Faz corresponder as palavras sublinhadas nas frases do texto B (Coluna A) às


respetivas classes (Coluna B).

Coluna A Coluna B

A. “há muito tempo que não é obrigatória” (ll. 8-9)

B. “Os passaportes só servem para estorvar as pessoas de bem” (l. 13)

C. “pois neste momento batiam à porta do gabinete” (l. 21)

D. “um dos quais era precisamente o que falara” (l. 22) 1. Conjunção

2. Pronome

3. Advérbio

3. Identifica as funções sintáticas das expressões sublinhadas nas seguintes


frases do texto A.

A. “A primeira escala foi em Tenerife” (l. 7)

B. “Em 11 de janeiro de 1520, os navios atingiram a atual Punta del Este” (l. 12)

C. “A sua autoridade voltou a ser posta em causa, agora com violência.” (l. 14)

4. Identifica os quantificadores presentes nos excertos do texto B e indica a sua


subclasse.

A. “a formalidade dos passaportes há muito tempo que não é obrigatória” (ll. 8-9)

B. “Este pegou no passaporte e leu-o com toda a atenção” (l. 25)

4.1. Reescreve os excertos, substituindo os quantificadores que identificaste por


outros das subclasses abaixo indicadas. Faz as alterações necessárias.
A. Quantificador existencial

B. Quantificador existencial

Grupo IV – Escrita

1. Relê o texto B e coloca-te no lugar de um jornalista que entrevista, a propósito


da situação narrada no texto, uma das seguintes personagens à tua escolha:

A. o inspetor Fix;

B. o cônsul;

C. Phileas Fogg.

Redige uma entrevista, de 180 a 260 palavras, cujas perguntas e respostas sejam
coerentes com as informações apresentadas no texto em questão.

A tua entrevista deve incluir:

– uma introdução, apresentando o entrevistado.

– diversas perguntas do jornalista e respetivas respostas da personagem escolhida.

No final, revê o teu texto e corrige o que considerares necessário.

Observações:

1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada


por espaços em branco, mesmo quando esta integre elementos ligados por hífen
(exemplo: /di-lo-ei/). Qualquer número conta como uma única palavra,
independentemente do número de algarismos que o constituam (exemplo: /2022/).

2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados, há que atender ao


seguinte:

– um desvio dos limites de extensão implica uma desvalorização parcial de até


dois pontos;

– um texto com extensão inferior a 50 palavras é classificado com 0 (zero)


pontos.

FIM
Grupo Item

Cotação (em pontos)

I 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 10

2 2 2 2 2

II 1.1. 1.2. 1.3. 1.4. 1.5. 1.6. 2. 3. 4. 5. 6.


7.1. 45

3 3 3 3 3 3 4 4 4 3 6
6

III 1. 2. 3. 4. 4.1. 20

4 4 6 2 4

IV Item único 25

Total 100

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