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9 Domínio Educação Literária
Domínio Educação Literária

Ficha 9 · História Trágico-Marítima


Lê com atenção o excerto do capítulo “As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho”
da História Trágico-Marítima que se segue.

Vendo Jorge de Albuquerque Coelho que os corsários se propunham levá-los para


França, descobriu aos soldados seus companheiros, que o tinham ajudado a defender a
nau, – o plano de se levantar contra os Franceses. Responderam que o ajudariam, se vissem
nisso salvação possível; reparasse ele, porém, que era a “Santo António” muito zorreira 1,
5 mal aparelhada2, ruim de leme, e fazendo além disso muita água; a nau francesa que a se-
guiria, pelo contrário, mais avançava só com o traquete 3 que a “Santo António” com o
pano4 todo. Ela ali estava, sempre tão próxima, quase à fala… Fugir-lhe? Como? Infeliz-
mente,era impossível!
Respondeu-lhes o Albuquerque com o maior esforço, tentando animá-los. Não, não
10 era impossível! Se matassem os franceses que na nau levavam – dezassete homens! – com
as armas deles se defenderiam dos outros. Esses dezassete que desapareciam já os tinham
de menos contra si; os quais, por serem homens dos mais importantes, haviam de fazer
muita falta aos seus. Demais, sabendo os outros que estes eram mortos não deixariam de
descoroçoar5. Não se tinham defendido com tão poucas armas, e quase por três dias? Que
15 não poderiam fazer agora, com armas tão boas como eram aquelas? Já traçara um ardil 6
com que matariam esses, e em bem pouco tempo… Vamos! Era tudo possível!
Convencidos, responderam eles que o ajudariam. O Albuquerque, então, descobriu-
-lhes7 o ardil, que lhes pareceu muito bem. Recomendou-lhes o maior sigilo – cautela, ou-
vistes? – e que estivessem prestes8 para a ocasião.
20 Foram dessa forma passando os dias, à espera do ensejo 9 para o seu projeto. Chegaram
à latitude de 43 graus. Estava próximo o dia de se libertarem. Cada um sabia o que lhe
cumpria fazer. “Segredo, ouvistes?… Muito segredo! Confiai em mim!”
Se teriam êxito?
Que daria aquilo?

25 Então, a 12 de setembro, o vento acalmou, para logo depois rondar ao sudoeste. Pouco
tardou que soprasse em fúria, zunindo nas enxárcias 10, turbilhonando nuvens, rendilhando
espumas açoitando no escuro os vagalhões roncantes.
Alija11! Alija! Alija carga! Alija! Alijaram tudo que na coberta12 havia, e debaixo da
ponte. Como enfuriasse ainda mais o tempo, trataram de alijar os mastaréus 13 das gáveas14,
30 e todas as caixas que cada um trazia. Para que não fosse isto pesado a alguém, foi a de Jorge
de Albuquerque Coelho a primeira de todas que se lançaram ao mar, na qual ele trazia os
seus vestidos e outros objetos de importância.
E, parecendo que não bastava isto, arrojaram 15 para as águas a artilharia, com muitas
caixas que continham açúcar, e numerosos fardos de algodão.
35 Um mar mais violento desmanchou o leme. Atravessou-se a nau aos escarcéus 16, e não
foi possível desviá-la para a fazer tornar a correr em popa.

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Quase todos, então, se sentiram descoroçoar. Jorge de Albuquerque, vendo-os assim,


começou a falar-lhes para lhes dar ânimo, e ordenou a alguns que buscassem meio com
que se pudesse enfim governar a nau. Ajoelharam os outros, e pediram a Deus que os li-
40 vrasse do perigo.
“As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”. In História Trágico-Marítima.
Narrativas de naufrágios da época das conquistas (adaptação de António Sérgio). 2015.
Capítulo V. Porto: Porto Editora (pp. 121-123) (1.ª ed.: 1735-1736)

1. lenta;
2. preparada, munida;
3. mastro vertical colocado mais à proa;
4. conjunto de velas de uma embarcação;
5. desanimar, perder a coragem;
6. estratagema;
7. desvendou-lhes;
8. prontos, preparados;
9. oportunidade, ocasião;
10. conjunto de cabos fixos que prendem os mastros da gávea (vela imediatamente superior à grande) às mesas de guarnição
situadas nas amuradas dos navios;
11. “alijar”: lançar a carga ao mar para aliviar o navio;
12. pavimento inferior ao convés de um navio;
13. pequenas hastes de madeira com que se rematam, no topo, os mastros;
14. velas imediatamente superiores à grande;
15. arremessaram, atiraram;
16. grandes ondas do mar revolto, vagalhões.

Apresenta as respostas ao questionário de forma bem estruturada.

1. Delimita no texto as suas partes constitutivas, fundamentando a divisão que efetuares.


1.1. Aponta o traço de carácter de Jorge de Albuquerque Coelho mais destacado em cada um
dos momentos que identificaste, justificando a tua resposta com elementos textuais.
2. Refere o efeito de sentido produzido com o recurso à reprodução das palavras de Jorge de
Albuquerque Coelho nas linhas 18-19 e 22.
3. Refere dois dos recursos linguísticos utilizados na descrição da formação da tempestade,
no sétimo parágrafo, e salienta a sua expressividade.
4. Relaciona o assunto do texto com o título da obra em que se inclui – História Trágico-
-Marítima.

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