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AGNES DE DEUS

p. michelotto
Dramaturgia.

Vou ter que começar a falar pela dramaturgia, me desculpem. Parece-me essencial.

Dramaturgos andam em falta.Vamos à dramaturgia, pois.

Stanislau P.P. me ensinou certa vez que tem coisas que não dão samba, dão samba de
crioulo-doido.Tem coisas também que não dão literatura, muito menos teatro. Padres,
freiras, psiquiatras, loucos, físicos nucleares ( vide Copenhagem) – via de regra dão
péssimas histórias. O único texto com grandeza que tenha um padre como personagem
principal, que conheço, é O Poder e a Glória do saudoso Grahan Greene.

Mas, meu deus, quem aí lê ainda Grahan Greene a não ser o

AGNES DE DEUS
p. michelotto
Dramaturgia.

Vou ter que começar a falar pela dramaturgia, me desculpem. Parece-me essencial.

Dramaturgos andam em falta.Vamos à dramaturgia, pois.

Stanislau P.P. me ensinou certa vez que tem coisas que não dão samba, dão samba de
crioulo-doido.Tem coisas também que não dão literatura, muito menos teatro. Padres,
freiras, psiquiatras, loucos, físicos nucleares ( vide Copenhagem) – via de regra dão
péssimas histórias. O único texto com grandeza que tenha um padre como personagem
principal, que conheço, é O Poder e a Glória do saudoso Grahan Greene.

Mas, meu deus, quem aí lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Por outro lado, Deus, (Ele Mesmo, o Patrão) sempre andou em alta e não sei se pela nossa
formação cultural portuguesa latina ocidental ou por que, mas o Senhor tem escolhido – de
Beckett a Dario Fó- bons dramaturgos para contar suas proezas.

Ao contrário de Agnes, que é uma freirinha, às voltas com um crime, uma psiquiatra com
problemas como todo psiquiatra, com sua madre superiora, com deus; e claro, com a mãe.
Pois, depois de Medéia, tragédia sem mãe não existe.

Os elementos de um bom thriller policial estão aí: um personagem apagadão ( freirinha),um


escândalo ( gravidez), um assassinato( criança morta), um tom de psicopatia & ciência,
truques de hipnose, alguns suspeitos e uma terrível suspeita sobre a sexualidade do capelão,
coitado. Mistura se tudo com um possível trauma religioso e uma simbologia sexual
explícita ( mãe, cigarros, água …essas coisas aí ), acrescenta-se o milagre das regras da
psiquiatra voltarem ( para quê, se ela parou também de fumar finos que satisfazem ou
grossos etc e tal e tudo isso aí significa falo, hein?) e pronto, aguardem-se as palmas.

Contanto, claro, que o distinto público, nós, sejamos um somatório de antas medievais.

Luzes, figurinos & direção


Há um belo destaque aqui para o cuidado do trabalho cênico.O cenário é funcional, e no
tom de fundo da peça- que é o de haver alguma esperança no fundo de um poço marrom
escuro.

Há, nas falas, uma metáfora sobre árvores que se concretiza num figurino e numa
iluminação a duas cores de tons e sobre-tons marron-verde, dando um tom de cuidado,
delicadeza e limpeza ao espetáculo.

Limpeza é o nome que às vezes damos para o trabalho de origem acadêmica, que faz o que
tem que fazer, mas evita colocar um dedinho do lado de fora do campo próprio de
operação.

Rubem Rocha chama isso de clean, com justeza.

Mais tons de luz, dar uma margem maior ao erro, sempre me pareceu fazer a graça dos
espetáculos. Pois, sempre, o que vemos sempre em cena são homens lutando contra os
deuses. Até mesmo com pequenas armas ou armas ruins. Até mesmo com o choro e a
emoção presa na garganta.

Ou com o riso, que o riso ainda é nossa melhor arma contra Eles, não é mesmo?

Seja como for, há que haver possibilidade de erro em tudo que se chame arte.Limpeza é
quando reduzimos ao extremo essas possibilidades textuais, quando fazemos um
espetáculo todo bem fechado como uma caixinha linda de presentes, contendo, claro, um
lindo presente. Sempre me parece que se perde algo de nossa história por esse caminho.

Às vezes, o essencial.

Em Agnes, Roberto Lúcio que é um mestre do esmero, preparou-nos uma bela caixa.Ele é
um mestre.

O bombom do Pieilmeier é que está com data vencida.


Erros monumentais fazem a essência do teatro.

O maior? A errância de Édipo, em Sófocles, culpado sem consciência.

Sem esse erro magistral, essa errância dos personagens- não haveria teatro.
O que chamamos de limpeza-quase-acadêmica é de outra ordem, é manter o erro sob
rédeas bem curtas e muito seguras. Arriscando-se, no entanto, a colocar rédeas também em
nós, o público. Roberto Lúcio optou por essa limpeza , correndo esse risco.Talvez porque
soubesse bem da fragilidade desse texto dramatúrgico. Cujo foco é o pior possível: o da
psique da pobre freirinha infeliz com voz de passarinho. Shakespeare resolveu isso
melhor.

Em apenas uma só frase, em Hamlet: …”não sabemos porque os pardais caem”.

Não sabemos- esse o mistério.


O primeiro deslize de Pielmeier é querer saber muito , mas trabalhar com uma psicologia
de segunda mão, tipo papo de Paulo Coelho. Ora, se alguém começa a fumar porque a mãe
morreu, ao limite Freud não tem nada a ver com isso. Pielmeier acha que sim. Até se
permite um seriado de gracinhas quase-pornográficas a respeito de santos e o tamanho de
seus cigarros- só faltando citar o famoso charuto de Clinton. Você não riu, tenho certeza.
Imagem forte, porém igualmente idiota, é também aquela de que sua mãe lhe enfiava
cigarros acesos na vagina.Certamente Freud se interessaria muito por sua mãe- mas bem
bem menos por você. Toda originalidade aí do Sr. Freud foi situar seu campo na prima
infância, e seu objeto nas relações primevas, em seu modelo de transcrição, também dito
Inconsciente, e no discursos que a partir daí se travam, isso é, se desenvolvem em
fechamentos.Na origem, portanto, e não nos efeitos das maluquices.
O segundo problema de Pielmeier é tentar resolver problemas com truques. A tal da
hipnose, por exemplo. Se você usar como sugesta hipnótica que se mergulhe na água, você
tem maior probabilidade de afogar seu paciente, que de colocá-lo em sono profundo. Tá
bem, tá bem, água é melhor pois lembra sexo etc e tal. Mas não dá boa hipnose, se é que dá
alguma.Aí depois faz a freirinha assassina sair passeando ao próprio gosto, sem haver
algum comando para isso. E finalmente mistura fatos e embola momento de fecundação
com o do parto- sem comando específico nenhum do hipnotizador, para isso. Só o público
pode dormir com isso.
O terceiro erro do texto é de esquecer completamente de refletir sobre a hamartia, culpa,
e o culpado– como se isso não tivesse a menor importância, justo nessa época em que se
descobriu que boa parte do clero americano( sobre o daqui ainda faltam pesquisas) tem
uma incrível tendência à pedofilia e a outras coisas mais complicadas.

Quem disse foi o Papa Woytila, fui eu não!!!

Finalmente o culpado? ” Talvez um camponês?!”- diz o autor.

Tás brincando!!!?Todo preconceito foi mera casualidade, não é mesmo?! Um pouco de


solo social e verossimilhança no texto não faria mal a ninguém. Pielmeier nem tá ai para
isso. Supõe que o público espera mesmo é um milagre ou um papo sobre papas e freiras
ensandecidas.
Mas seu quarto e maior erro mesmo é achar que milagre em teatro é o truque.

Milagre em teatro é simplesmente milagre. Acontece, todos os dias , todos nós sabemos-
senão nunca mais poríamos os pés em uma sala. Milagre é Fátima Pontes e Galiana
segurarem esse texto com tanto brio. É verdade que o tom da Madre Superiora cansa um
pouco e que a Agnes não é nenhum passarinho cantando. Mas viram o milagre? Funciona!
Fátima Aguiar, a psiquiatra, porém tem uma tarefa bem mais ingrata- pois não há como
segurar aquilo.Nenhuma atriz consegue em sã consciência afirmar, quase como numa
apoteose, algo como “ e eu, uma psiquiatra,católica comungante, com regras e não
fumante..” ou coisa muito parecida.

Francamente!

Não há um pequenino espaço no personagem para o milagre. Ele é falso, impostado, de


início ao fim. Então a atriz acaba pagando um mico miserável- essa a verdade. Aumentar
o tom de voz, dar tensão dramática não vai levar a nada. A coisa toda é oca.E não seria se
Pielmeier tivesse pelo menos lido End of Affair ou O Poder e a Glória.

Mas quem lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Leia e vá assistir Agnes de Deus. Depois escreva para cá dizendo que discorda
Philosophando um pouco.

A modernidade deixou nos com um problema a resolver em teatro.

E que incide diretamente em toda prática crítica

Nada a ver com as mudanças acontecidas na escritura dramática, nem com a


simplificação do material cenográfico, nem com a iluminação, figurino, maquiagem e
cenografia como produtos de um design, ou isso tudo tratado como linguagens. Nada
disso.

Não é nenhum problema técnico ou especificamente teatral.

Mas, antes, da própria formação social em que estamos, produtores teatrais e público,
inseridos.

Parece-me que nosso problema maior é o da regionalização e, conseqüente,


envelhecimento dessa arte,por se situar dentro do sistema capitalista periférico como o
nosso.No plano cultural, se imaginarmos nosso planeta até os meados dos anos 50,
pouca coisa acontecia de diferente, em matéria tecnológica. Nosso roteiro básico, em
artes plásticas e cênicas se delineou nos fins do XIX e abertura do XX. Depois foi xerox
e não produzimos nem um pequeno avanço em técnicas. O que estamos tocando adiante
com relativa coragem, ainda é a tentativa de se avançar em teorias, de se repensar as
artes.

No que andamos bem devagarzinho.

A consolidação porém da indústria cinematográfica, o desenvolvimento das redes de


TV, o caminho seguro que a música encontrou como show, espetáculo, o universo
reduzido ao alcance do microcomputador e de seus textos específicos, deixaram-
nos perguntando que futuro temos. A característica de toda essa indústria moderna do
texto é a de uma tessitura rápida , ágil, que o teatro – apesar de Beckett ou Koltès, por
exemplo – insiste em deixar de lado. Nossa melhor e sem dúvida mais moderna forma
textual tem sido relegada, em nome de uma isonomia de duração com os shows de
bandas, os filmes, ou uma sentada em casa na frente da telinha de TV.O Jornal moderno
é talvez o melhor modelo dessa outra escrita, tanto que nele muitos foram beber, como
nosso Nelson Rodrigues.
A questão é: dá para competir?

Enquanto a maioria das formas de espetáculo modernas, ou de textos modernos, insistem


numa participação do público, nós insistimos em deixa-lo ali, paradão.

De preferência de boca aberta, pasmo, siderado com nossos truques de mágica.

Penso que perdemos o público.

O problema pode ser posto assim também: pense que no último festival, no dia em que se
encenava Tenessee Willians, com uma ” companhia de fora”, com uma atriz chamativa
como a Leona , isso conseguiu reunir apenas 200 , dentre os atores, produtores,
cenógrafos, figurinistas, diretores, estudantes de teatro recifenses e alguns curiosos fora
da classe teatral.

Na mesma hora, 25 mil pessoas se acotovelavam, cantavam ,riam, enraiveciam-se,


gritavam, xingavam a mãe do juiz no Arruda.

Esse o problema

Perdemos o público.Transformamos nossa longa história numa artezinha de província,


de beirada, de morro, amada e admirada pelas 5 ruelas ao redor, um artesanato sem
futuro, com todos carniceiros das ciências sociais e humanas já colocando o bico para
cima de nós para nos transformar em objeto de cultura narrada, aquela de seus
livros também sem público.

O público jovem que foi recapturado em parte pelo Cinderela, num esforço de 5 anos,
voltou para seus bares, suas bandas, seus classic-halls provincianos.
Resta o povão?

Mas esse nosso povão nunca botou mesmo os pés em nossas salas.

E nem porá, enquanto nos mantivermos atolados no passado de nossa arte, na grandeza
grandiloquente de nossas falações – essa minha aqui é uma delas, senhores , eu sei bem
disso, mas isso aqui felizmente participa, mas NÂO é teatro. E ainda bem que não estamos
há 4 anos atrás, antes da virada do século, senão tudo o que penso ficaria assim meio
spleen, meio decadente, meio fin de siècle.

Ou reacionário.

Ora reacionário é se deixar virar meia página os 2.500 anos de nossa história.

Olhar de frente nosso público e dizer: não temos mais o que dizer para vocês, o que
dialogar com vocês a não ser nosso velho papo surrado de que temos que dar um jeito de
combater os deuses, hoje e sempre. Talvez essa seja uma boa reação a essa modorra, esse
abandono, ao qual nos deixamos relegar, do meio do século XX para cá, no meio de tanto
show de milhão, tanto apagão de cinema,tanto hipertexto, tanta realidade micro e pouco
virtual, tanto bar, tanto mar,

tanto mar.
Essa preocupação acima não é só minha.

É resultado de conversas com muitas pessoas mais novas e confesso que não conseguí
convencê-las de que o teatro valia a pena em si,que era mais educativo, mais profundo e
que era melhor que a maioria dos shows que andam por aí e que o problema da falta de
público e de verba era que o teatro não estava oferecendo nada mais interessante que uma
contemplação.

E coisas antiquadas na maioria e mal apresentadas para nosso tempo.


Camilla, por exemplo, já passou dos 20 anos e NUNCA botou o pé num teatro. Como diz,
defendendo-se em parte, para quê me chatear a noite toda com uma história de freira
ensandecida que nem sabe a quem azarou e que conta isso numa linguagem com cheiro
antigo de censuras e histórias de convento, boas para bisavó e tais, quando posso
estar cantando e pulando num baile funk , ou dançando num show de rock ou papeando
num bar?

Eu pensava que o problema dela era apenas o de uma menina que não teve boa educação
cultural. Depois e hoje , parece-me algo bem mais grave para o teatro e artes em geral
e bem mais difícil de se nomear. O ponto de culpabilidade talvez não esteja lá aonde
insistimos, com certa facilidade, em dizer que ele está: a má educação de nossa gente.
Acho que perdi o papo.

Não consegui convencer ninguém que a gente ainda está vivo e que possa valer algo
diferenciado em relação a esses outros produtos dos mídias.

Talvez seja porque o teatro, em significativa maioria, achou um pequeno espaço para sí e
aí se agasalhou confortavelmente. Achou seu cantinho, sua região permitida, como todo
bom regionalismo.

Parece-me no entanto que isso é simples decorrência do sistema em que estamos


pensando.

Mas que sei eu dessas épocas, em que a antigona UNE agora só faz bienais, e que tem
Ariano Suassuna como convidado especial? …

Geléia Geral ainda é a coisa mais nova que anda acontecendo?


ÍVANA,

( gostou do acento russo? )

TOU BOLANDO COISAS AQUI PARA TAL COLUNA,

JÁ QUE ELA É BEM MAIOR QUE MINHA SABEDORIA.


Conversei com um bando de gente nesses dias e tive a idéia de ter dois blocos na
coluna:

• um dedicado ao velho e bom teatrão, isso é: as peças daqui, das


companhias daqui.
• Outro, dedicado aos novos , à experimentação, às pequenas coisas que passam
rápido mas podem ser germes do melhor depois. O teatro de Elias, vide O
Gran Vizir,de Vivi, vide Giulietta in stress, Heron, vide A Terceira Margem e
mais alguns novos que andam por aí e que estão começando agora sua direção.
Acho que mesmo que passem poucas vèzes, esporadicamente, com temporadas
pequeniníssimas, merecem nossa atenção e a de nosso público do DP.

Afinal foi assim que nasceram Antônios, Carlos Bartô, Dennis e tantos outros do
teatrão daqui, não?

Muitos acharam legal a idéia de dar um certo espaço a esses pequenos.

Não tão importante quanto o dos outros que estão em temporada regular, mas com o
mesmo carinho e cuidado como se fôseem eles os grandes.

Pois serão.

Bem, mesmo assim, acho que ainda me restará um bocado de papel a preencher.

Na medida em que a coisa for pegando rumo a coluna vai se ajeitando e criando uma
face também. Mas acho que talvez ela não devesse se restringir às artes cênicas, pois
há tempos maus, bicudos e com muita coisa ruim…e aí até o jornal sai ruim, não é
mesmo?

A coluna poderia ir incluindo devagar as artes plásticas também – afinal sou curador
de um monte de exposições e dou aulas para esse povo.

Poderia ter quadrinhos internos- exclusivos dela. Conheço muitos NOVOS e bons que
dariam a alma para aparecer num canto desses…

Sei lá.

Algo assim como um espaço experimental para todomundo, e eu seria só o catalisador


dessa coisa toda. Evidente , seria o censor e curador. Para não perder a qualidade.

Tou aqui meditando.

Enquanto isso, e sabendo qua acoluna anda manca pois faltam mais umas 90 linhas,
pensei em fazer uma coisa que fazia na paraíba. Isso é: colocar de vez em quando
reflexões para o povo da classe ou o povo em geral interessado em artes cênicas.

É coisa que fica tododia martelando em minha cabeça pelo fato de eu me meter nisso e
ainda por cima dar aulas disso.
Acho-me obrigado a pensar largo, no sistema como um todo e não só no pequeno
circuito da circulação de uma arte
Tentei falar com Vivi e Leda para me passarem material sobre Giulietta,

pois tem fotos e a peça

volta a cartaz logo logo, possivelmente no circuito do Sesc.

Seguem esses textos.

Como coisas que podem aparecer na coluna,.

Mas que por enquanto servem para o que servem, ok?

A não ser que vc ache que a coluna já pode ir tendo esse tipo de figura.

Beijos pois o melhor é conversarmos

michelotto

MEIA SOLA
p.michelotto

Dramaturgia
A peça data dos anos 70.

Já que ninguém mais se lembra, é bom dizer que eram tempos embaçados.

Economistas desaforados- vide Bob Fields, Simonsen, Delfin, todos felizmente


falecidos – juntaram-se com alguns militares e a CIA para salvar a pátria, a
mátria e a filharada brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu; e,
quiçá também na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia. Tudo para
nos conduzir a um futuro econômico feliz e sorridente, tropeçante aqui e ali em
falta de gasolina nos fins de semana e outras coisinhas que todos felizmente
esquecemos.

Esse futuro já começou para a Argentina e vive nos devorando.

Enquanto a economia sorria, a Cultura, sorry, ia levando, que a gente vai


levando, que a gente vai levando…

As artes cênicas, curiosamente tiverem um certo boom de dramaturgos. Plínio,


Leilah, Vianinha e outros. Mas a maioria mais ou menos. Menos, em verdade.
Porque era mais fácil identificar o atraso, portanto, criticar. Porque, além,
pesava a censura, pesava a burrice geral, pesava a agonia de todos nós não
sabermos como e quando aquilo tudo, aquele pesadelo todo, teria um fim e
poderíamos falar o que quiséssemos falar, inclusive ser contra- sem o risco de
perdermos a virgindade em paus de arara.
Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao lado do
general E.G.Médici. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética
e de escritura politicamente corretos, à esquerda, claro. Zombava das meninas de
comunicação da Puc com suas sandálias e calcanhares sujos. Escrevia odisséias aos
deuses negros de nossa seleção de futebol. Ele disse e ninguém jamais conseguiu
provar o contrário, que era necessário conhecer profundamente a cultura grega para
se escrever uma coluna sobre futebol. Esse senhor reacionário foi o nosso maior
dramaturgo. Nelson Rodrigues.

Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa família


e transfigurava em seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia. Sabia
tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de Enéas Álvares- mas que merece
ser lembrado para se criticar essa onda de textos ruins que andam assombrando
nossos palcos.

Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

É a isso que nomeamos falta de carpintaria.

O público às vezes julga que o crítico está meio birrento, dormiu mal ou está com
inveja- porque diz que uma dramaturgia é ruim, quando a maioria achou bem legal.

O que dizemos é apenas isso: não serve para palco, complica a vida de todo mundo,
faz atores, diretores, cenógrafos se danarem para resolver passagens de cena;
quando não, pior, para encontrar a significação e necessidade de algumas delas.

O maior estrago que um mau dramaturgo faz é o de acabarmos achando um produto


bom, apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo disso.

Como se corrige isso? Com livre, e bastante, informação.

Para isso também é que críticos escrevem . Somos um pedacinho dessa coisa toda.
Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

O que não justifica parte de seu comportamento político.

Mas o que ninguém quer lembrar também é que seu filho caiu, e que esse mesmo
senhor reacionário fez coisas que muito cardeal ou muita denominação religiosa ou
civil, não fez por presos políticos. Mas era reacionário. Reagia contra tudo que
achava burro, mesmo ficando do lado da maioria às vezes. E se deu o direito de
errar. E, pelo menos em teatro, de acertar também. E muito. Foi,
incontestavelmente, o maior de todos nós.
O maior mérito de Meia Sola é certamente esse, solidário.

O autor optou por uma cenarização forte, rodrigueana. Quando isso era o que as
cabeças pensantes e oponentes odiavam. O regime, claro, gostava – dizem .
Mas quem disse que regimes militares de exceção pensam?

Os bem pensantes do regime nem suspeitavam que aquilo, provavelmente, corroeria


mais o sistema que qualquer aparelho de esquerda.
Mas pára aí.

Não tem o dedo mindinho de grandeza de um Nelson. Além de ter uma péssima
carpintaria dramatúrgica- que obriga um encenador como A.Cadengue a cometer 15
black-outs!

Estamos aí comemorando os 13 anos de sua Companhia e sabemos bem que só fez


isso porque a escritura é um desastre, quer ser mais literária que cênica.

O que não justifica…


Direção, cenografia, figurino.

O que não justifica a direção.

A última cena, por exemplo, resolve cruzamentos de ação, colocando uma mais
acima, por sobre a mesa; a outra, num plano mais à frente.

A cena rodrigueana da mãe Lúcia Machado vestida de noiva, com o filho André
Brasileiro, ocupando , nesse conjunto, o primeiro plano. Pois é isso aí certamente a
indicação cadengueana: o que há de rodrigueano em Meia Sola salva-se, pode dar
uma cena consistente. O resto é lixo e bobagem – essa última indicação minha,
claro.

Antônio Cadengue está com a tesoura na mão, mas pela primeira vez, com os
dedos vacilantes.

A cenografia pode parecer prática mas tem coisas que não me agradam como
solução: aquelas descidas. Pro fundo dos infernos, tudo bem, é essa a idéia , meio de
subsolo, porões quase. Lembram-se de que a mulher de André, Cida, nem quer que
se limpe a coisa lá embaixo? Uma idéia tão enorme e tão desperdiçada pelo autor.

Talvez essa a razão de não se poder sair simplesmente pelas laterais.

Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída, acrescentada aos black-
outs freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser
ágil, pela própria intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.
Não sei ainda porque o povo gosta tanto de rir de palavrões e de violências ou
desrespeito humano. Chame-se a empregada de negrinha, e tá lá o público rindo.Às
vezes penso que Meia Sola arrisca ser politicamente incorreta. Não sei se reserva
um texto violento para falar de bichas e empregadinhas, por reforçar uma idéia de
nosso inconsciente e depois nos remeter a nós mesmos, à nossa própria consciência
falha- o que seria um caminho reconhecido desde os gregos, que tanto Nelson
amava.Ou se por preconceito também.
Nos anos 70 as coisas todas não andam muito claras e não valia tanto a pena nem ser
bichinha gay nem empregadinha negra doméstica. Cansei de ser barrado em porta
de boates de Juiz de Fora, aquela saudável cidadezinha intelectual de onde veio o
Itamar Franco e os Penido Burnier todos , por tentar entrar nelas com meus amigos
negros.Era proibido.

Por quê suspeito do autor?

Porque o final é francamente absurdo. Não há lógica correta naquilo tudo.


Assassinatos, prisões, uma apoteose tipo Madame Buterfly para o filho gay, que
nada fez para merecer dramaturgicamente o título final de Rainha da Pensão de
Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha recôndita e
assustada. E que vivia numa casa de bichas recônditas, como o soldado e o jovem
que lhe pede um prato de comida. Com casais falsamente normais e prostitutas
problemáticas. Enfim, a finalista vai abrir a pensão para quem, se toda a récua da
espécie humana já tava lá dentro?

Só ela e o autor é que não perceberam isso.


Resta-me supor que se não foi preconceito, foi por má redação.Talvez isso.

Mas talvez também por que fosse moda- e isso vem das amaldiçoadas, por Nelson,
esquerdas – que os pobres ganhassem no final. Bem, a bicha acantonada em casa
talvez merecesse essa palma, por ser certamente uma das categorias mais
perseguidas, e por esquerdas e por direitas de época. Merecia um pouco de glória
pela história real dos povos brasileiros.Mas nem tanta, se pensarmos na composição
lógica do conjunto de personagens.

André Brasileiro e Lúcia mereceram – dramaturgicamente – ficar ali em primeiro


plano.

É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo!
Cada autor escreve o que quer.

Cada diretor dirige o que quer.

Cada ator trabalha na peça que quiser etc

.E cada crítico escreve como melhor puder para seu público.

O meu é, você, um público leitor de jornais. E que quer ter uma idéia do que vai
enfrentar durante uma hora e meia, se você paga antes de entrar…
Vai enfrentar um texto de soluções teatrais dramatúrgicas ruins, mas que pode lhe
lembrar as velhas comédias de empregadinhas, bichas. Tudo num tom
miseravelmente desesperançado.

O riso apenas nos engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças. O que me parece bem posto na mise-en-abîme daquele constante
olhar para si mesmo e suas próprias feridas- criado em palco por aquele montão de
espelhos. Elemento de cenografia bene trovato.

Talvez apenas tentemos nos rever nas imagens gastas duma dramaturgia setentona.

Espero que a moda não pegue.

Temo, pois o Projeto original anuncia Peças Para a Família.

Será que voltaremos, culturalmente, ao teatro de miserê familiar, do oprimido na


pior acepção do termo, do pobretão visto pela classe média; breve, àquele tempinho
ruim todo- como dizia Nelson com palavras bem mais sublimes que as minhas?…

O figurino precioso de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que


vai dos tecidos aos fios – é comum na Companhia do Séraphin. Mas, uma vez ou
outra, me pareceu um tom errado. Vide Senhora dos Afogados.

Em Meia Sola esse figurino, dessa vez díspar, anunciaria o novo caminho dos
Séraphins, de volta à marginalia , à pobreza e desgraça geral em palco, beirando ao
realismo soviético, mas agora finalmente recoberta de ouro e cuidados?

Isso não seria finalmente um espelho da esperança que anda sendo prometida por aí
para a pobreza, por parte de alguns daqueles que batalharam por mudanças nos anos
70?

Para que andamos, finalmente, tanto então?

O Programa da peça parece anunciar um certo niilismo estético e ideológico, que


poderia enfrentar falsas esperanças. Mas, eu pelo menos, não o vi se concretizar em
palco.

Vi os espelhos. As roupas ricas. O cenário bem acabado, com estofados vermelhos


e nobres mesas pesadas. Um texto pobre. Uma ideologia mal costurada. Uma falsa
pobreza que me assusta. Pois já a vi, em todos discursos de Dirceu e outros tantos,
nos tempos em que nos reuníamos em Ibiúna e os militares nos colhiam como se
colhem frutos maduros.

Quanta burrice, não, meus antigos colegas?


O autor tem um texto dúbio, porque mal pensado e de uma opção estética que,
certamente ao frigir dos ovos, nada tem a ver com Nelson Rodrigues. Toda opção
estética é uma opção política, pois não?

O fato de ser contra, reacionário, nunca elevou ninguém à grandeza e preciosidade


do pensamento e da escritura daquele gênio.

BOTA MEIA SOLA NESSA SAPATILHA AÌ

paulo_michelotto@uol.com.br

Dramaturgia
O autor de Meia Sola optou por uma cenarização forte, puxada para uma
causalidade mais psicológica

que social. Opção estética e política que o regime, claro, gostava – dizem . Mas
quem disse que regimes

militares de exceção pensam? Tanto os bem pensantes do regime , quanto os contra ,


nem suspeitavam

que aquilo, provavelmente, corroeria mais o sistema que qualquer aparelho de


esquerda. Mas pára aí.

A peça tem uma carpintaria teatral tão ruim- que obriga um encenador como
A.Cadengue a

cometer 15 black-outs!

Ou seria problema de direção mesmo esse amor pela escuridão?

Consistência dramática

A penúltima cena tem uma solução ótima para mudanças de ação e


personagens.Temos os

mesmos dois planos, invertidos aqui por Cadengue, que já vimos na montagem de
Vestido de Noiva,

inauguradora do moderno teatro brasileiro. A cena da mãe Lúcia Machado vestida


de noiva, com o filho

André Brasileiro, ocupando, nesse conjunto, o primeiro plano, é Nelson Rodrigues


puro. Aí temos
certamente uma boa indicação de Cadengue: o que há de rodrigueano em Meia Sola
salva-se, pode dar

uma cena consistente.

Cenografia
A cenografia tem umas descidas. Pro fundo dos infernos, é essa a idéia , meio de
subsolo, quase

porões, a coisa que mais proliferou em nossos anos 70. Lembram-se de que a
mulher de André, Cida,

nem quer que se limpe a coisa lá embaixo? Talvez essa a razão de não se poder sair
simplesmente

pelas laterais. Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída,
acrescentada aos black-outs

freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser ágil,
pela própria

intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.

Tudo num tom miseravelmente desesperançado.

O riso fácil tirado de palavrões e tratamentos politicamente incorretos apenas nos


engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças.

O que me parece bem indicado na mise-en-abîme daquele constante olhar para si


mesmo e suas próprias

feridas- criado em palco por aquele montão de espelhos. Elemento de cenografia


molto bene trovato.

Figurino
O figurino de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que vai dos
tecidos aos fios –

é uma marca registrada da Companhia do Séraphin. Entre o real do tecido chique


e design do sonho.
Estética do nada
O Programa da peça anuncia um certo niilismo estético e ideológico, que poderia
enfrentar falsas

esperanças, penso eu. Mas não o vi se concretizar em palco. Vi um texto pobre.


Uma ideologia mal

costurada. Uma falsa pobreza que me assusta.

Gran` Finale ma non tropo


Ao lermos o Programa da peça, achamos que A. Cadengue talvez queira marcar sua
distância com muita

coisa política que anda por aí. O que me parece justo e de direito. Mas isso não
ficou nada claro em Meia

Sola. Isso porque o desenlace da peça, tirada a cena citada de André e Lúcia, é
lamentável. É uma

apoteose para um filho gay, que nada fez para merecer dramaturgicamente o título
final de Rainha da

Pensão de Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha
recôndita e assustada.

Vivendo numa casa de bichas recônditas. Então, a superpoderosa vai abrir a pensão
para quem, se toda

a récua da espécie humana já tava lá dentro? Dito isso, lembro, Hilton Azevedo
segura bem seu

personagem ao longo da peça. O número crescente de denominações protestantes


provavelmente não

apreciará muito aquela Bíblia em suas mãos. Mas tem que ser assim...

O 160
A bicha acantonada em casa não merece essa bola toda, se pensarmos na
composição lógica do conjunto

de personagens. André Brasileiro e LúciaMachado deveriam permanecer–


dramaturgicamente – ali, em
primeiro plano Isso é, como gran finale. É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo.

BOTA MEIA SOLA NA BOTA!


paulo_michelotto@uol.com.br

1. Uma meia sola só não dá.

2. Para se entender corretamente Meia Sola, temos que fazer um gigantesco


flash-back.

3. Especialmente se estamos assistindo à presente montagem da Companhia


do Sèraphin e

à lamentável Bienal da

UNE en que o convidado especial palestrante é o cara que ficou Secretário de


Cultura imposto pela

Revolução de 1

de abril de 64 e que nunca escondeu seu ódio pela guitarra e pelas esquerdas.

Essa UNE é do do palhaço doi Dirceu que nos entregou em Ibiuna.

Quem esteve lá sabe.Por isso seu convidao hoje é ariano.Vergonha!

4. Se me permitirem, remendarei tudo com duas meias-solas.

5. Uma que foi a história e o solo aonde esse sapato se desgastou.Os


incompreensíveis Anos 70.

6. Assunto dessa quinta-feira.

7. Outra, o solo aonde A. Cadengue e o Séraphin tentaram caminhar com


nossas esperança:

8. o palco e a cena recifense. Assunto de nossa próxima coluna.

9.

10. A meia sola que colaremos hoje.


11. Nessa semana que passou tivemos a honra de sediar em Recife um dos
dinossauros

dos anos 70, a UNE.

12. Oh não aquela UNE guerreira, que nada! os tempos felizmente mudaram. A
UNE promove

agora bienais! Blz!

Mostras de Arte! Blz! Palestras! Blz!

13. A arte finalmente substituiu a vida. Blz!

14. Se você tentou participar já viu que a desorganização, desde os anos 70,
continua a mesma.

15. Se você achou que o povão estudantil estava lá para artes plásticas ou
cênicas, errou.

16. Tava para o que sempre esteve: papear. O que é saudável.

17. Tanto que nessa quinta também falarei menos de teatro para papear um
pouco mais. Posso?

18.

19. Ou a UNE se Raoni ou a UNE se Sting… (obrigado Leminski)

20. 3 coisas me espantaram na recente UNE e sua direção:

21. Continua usando a arte como pretexto para juntar gente, a primeira.

22. Prefere, hoje, uma boa conferência a uma boa troca de idéias, a segunda.

23. E finalmente, creio, é o maior convescote de reggueiros e esfumaçados da


época moderna.

24. O que não bate nada com a estética pessoal de Ariano, que é mais chegada a
uma rabeca

e a uma medievalização cultural , não é mesmo?

25. Mas você viu o tamanho da fila dos estudantes unidos e os empurrões e
cotoveladas para

se ouvir sua aula-show?

Doideira, meu!!!
26.

A UNE antigona era medéia mas cheia de alianças nos dedos.

27. Na nossa Idade Média brasileira, economistas desaforados- Bob Fields,


Simonsen,

Delfin – juntaram-se com alguns militares e a CIA, para salvar a pátria, a mátria e a
filharada

brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu;

28. e, quiçá também, na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia.

29. Tudo para nos conduzir a um futuro econômico esperançoso.

30. Que já chegou para a Argentina e cruzamos os dedos para que não nos
atinja.

Quem ainda os tem.

Nelson e tudo isso.


31. Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao
lado

do general E.G.Médici.

32. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética e de


escritura

politicamente corretos, à esquerda, claro.

33. Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa

família e transfiguravaem seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia.

34. Esse senhor reacionário chamava-se Nelson Rodrigues.

O Brasil da UNE de antanho NÂO GOSTAVA de


Nelson Rodrigues
35. Apesar de Nelson saber tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de
Enéas Álvares.

36. Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.


37. Não servem para palco, complicam a vida de todo mundo, fazem atores,
diretores, cenógrafos se

danarem para resolver passagens de cena; quando não, pior, para encontrar a
significação e necessidade

de algumas delas.

38. Mesmo que você tenha gostado da história, sem carpintaria ela é péssima
para a arte e para o

teatro, entende?

39. Mas o pior estrago que um mau dramaturgo faz é o do público acabar
achando um produto bom,

apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

40. Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo
disso também.

41. Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

42. O que não justifica, claro, parte de seu comportamento político.

43. A verdade é que não gostávamos dele por ambas razões: por seu comportamento
e pelo que conseguia

ver além de nós.

44. O que ninguém quer lembrar porém é que seu filho caiu. E esse reacionário
fez coisas que muito

cardeal ou muita denominação religiosa ou civil, não fez por presos políticos.

45. Foi, incontestavelmente, o maior de todos nós, mesmo que Sete Gatinhos
jamais venha a passar

no cinema privativo da presidência, a última novidade daquele fim de mundo que é o


Planalto Central.

46. E a Meia Sola de A.CADENGUE?

47. AC nos obriga a repensar a palavra mais usada por políticos durante os anos 70:

Esperança.

48. No epicentro do teatro de Nelson. E caindo pelas beiradas de sua Meia-Sola


49. Mas isso fica para a próxima quinta, pois minha grade aqui se fechou.

Meia Sola nas Esperanças e seus ministros assustadores

50. ESPERANÇA acabou sábado passado à noite. Meu neto gostou muito.Não
entendeu

aquele flash-back para frente final. Para dizer a verdade nem eu. Só sei que ele,
Lucas, é a 5a

geração de emigrantes italianos, e se seguir o destino de descendente de imigrante


pobre-

apesar da onda italiana da Globo- corre risco de viver pior que meu avô Mário.

51. E ainda tem ministro por aí, trabalhador, que culpa nordestinos pela fome no
país,

ó Ricardos IIIos!!!

52. “Renuncia! Renuncia! Renuncia!!”

53. (sugesta de Coriolano, Thomas Stearn Eliot- afinal essa é uma coluna de
artes cênicas, pois não?)

(a seguir na quinta que vem, se meu leitor assim o desejar)

Fofa íVANA,

1. AS LINHAS SÃO APENAS PARA EU PODER CALCULAR AONDE


TENHO QUE PARAR…

E OLHE LÁ QUE QUASE NÃO CONSIGO…CAEM FORA, PORTANTO!

2. Fiquei animado com o e-mail de um cara de Olinda. Acho que devemos


tentar por um

certo tempo o filão do texto meio alongado mesmo.

Também porque preciso tomar um pouco pé para manter as notas da coluna


em dia.

Estou ligando para o Sindicato e o pessoal todo que conheço para me manter
informado,

ou dizer o que precisa ou quer que saia.

Preciso de um ou dois meses para a coisa fluir bonitinha como programada.


Tenho esse tempo?

3. Bolei o texto para dois dias:

Um para uma introdução à esquerda, já que isso é essencial para a


compreensão

de Meia Sola.

Disse Antônio naquele dia e eu nisso concordo totalmente com ele.

Outro para meia sola propriamente dita. Que resumirei ao máximo, menos que
essas

50 linhas, para dar espaço bom para fotos e coisas tais que dão uma maior
leveza e

maior informação à coluna.

4. Cortei o mais que pude a looooonguésima introdução.

Mantive mais ou menos dentro das 50 linhas.

Acho que essa será uma coluna de luto. Espero que apenas essa.

Continuo achando que vale a pena tentar alguma coisa mais politizante,

mesmo que o texto tenha que se esticar por dois dias.

Posso experimentar uma vez ou outra assim?

5. Se eu não for provocativo, não sei bem qual será meu futuro.

Se eu for provocativo talvez meus dias estejam contados,

mas certamente terei sido fiel aos meus leitores.

Que esperam de mim algo assim.

Pois sou assim.

6. Diga o que acha pois vc é meu guia.

Mas se precisar de mais cortes, não se vexe.

Você já deve ter visto que sou bom para escrever como se estivesse falando…

isso é, corridamente.
E sou bom de tesoura também.

Apesar de ficar choramingando pelo que escrevi e mandei para o lixo.

Mas essa é que é a nossa profissão, e não outra.

7. Espero que você goste do que está aí em cima.

Eu gosto. Polly gosta.

Se vc gostar, o mundo inteiro irá gostar, não tenho dúvidas.

beijos.

Eu, Michelotto.

Tou pensando seriamente em cair fora da UOL por causa da grana.

O meu e’mail da UFPe é master é master@npd.ufpe.com

Não sei ainda fazer funcionar. O NPD é jurássico.

O meu hotmail é mickey_mauss@hotmail.com

Mickey é como me chamam na Universidade.

Mauss é em homenagem ao Marcel Mauss, antropólogo que escreveu o

ENSAIO SOBRE O DOM e que mudou toda minha antropologia.

Mickey Mauss é o Mickey que não é do Disney, policial bonzinho.

Sou eu, mauzão. Assim conhecido em todas as listas de anarquistas desse


país….

vão me ler, imagine!

Hehehehe.

mickey_mauss@hotmail.com

GIULLIETTA em entreato
Para não dizer que não falei de flores e
de coisas bárbaras.
Estar diante de um texto de Shakespeare é sempre um prazer. O homenzinho de
Stratford

escreve para teatro como poucos e, graças a deus, tem algo a nos dizer sobre a
natureza humana.

O que anda faltando a muito dramaturgo por aí. Falar de Shakespeare no Brasil é
impossível,

sem se falar na dama de ferro que deteve o controle de seu texto por 2 décadas pelo
menos,

Bárbara Heliodora. Por muito tempo não se viu Shakespeare, mas sim Bárbara. A
tradução

de Bárbara. Realmente bárbara. Felizmente joguei fora meu exemplar, para não cair
na tentação

de brindar-vos com alguns exemplos de frases ininfaláveis e incompreensíveis em


palco.

De verso antigo aquela coisa, por alguma freudiana perversão invertendo, da


frase toda a ordem

… `só para fazer bonito!`. Intragável. Tradução literal, esse o nome da bobagem.

Quem tem medo de Bárbara ?


Recentemente porém a mesma Bárbara tem refeito o trabalho e a coisa tem
melhorado.

Mas ainda deve bastante ao palco, o que era a maior marca de Shakespeare.Perdeu o
pé.

Enferrujou. Talvez porque passou tantos anos a só escrever crítica teatral – essa
coisinha aqui

de 70 toques por 50linhas em estilo para gente apressada. Gente que nem você e eu,
que não

tem mais tempo de ler um James Joyce inteiro, o que não é nada mau. Oh crime!
Diria meu colega

de literatura. Mas quem já leu Ulisses inteiro a não ser ele e eu?
Romeu e Julieta é um desses textos em que Bárbara tentou, e até conseguiu
melhorar sua própria

marca, claro. Mas nada mais que isso.

Sua crítica porém é algo vigoroso. Não deixa passar nada, numa cruzada moderna a
favor de um

teatro melhor. E nisso ela é magnífica.È verdade que nenhum de nós tem muito claro
hoje em dia

a nossa estrita função de crítico, além daquela que é o exercício constante do texto.
Somos mais

escritores e paladinos da liberdade, que defensores de alguma forma de teatro. Pois


toda forma de

teatro é mera encarnação temporal, é mero tijolo nessa parede que vai nos trancando,
diziam os

Pink Floyd. Toda cultura nada mais é que um monumento à barbárie. Dizia o Walter
Benjamin,

se você prefere alguém mais da pesada..

Iso 2002

Se você quiser ver algo profundamente shakespereano, e um texto cuidadoso,


aproveite para

assistir sexta feira, 21 de fevereiro, no Teatro do Sesc de Casa Amarela, às 20


horas,

à encenação de Giullietta em entreato.

Direção de Viviane Barbosa, com Leda Santos como Giullietta e Jorge de Paula
como Mercúcio.

É isso aí, Romeu nem aparece, já pensou?! O original é Giullietta in stress, de


autoria

compartilhada entre Erik Hallberg e esse seu crítico implacável com textos ruins.

Não tá com nada

Aproveite, então, para poder dizer: michelotto não tá com nada! Vai ser difícil,
aposto. No ano
passado você viu três pequenos trabalhos meus em cena em recife: Porque os
teatros estão

vazios, em parceria com K.Valentim, n uma bela encenação de Roberto Lúcio e um


show de

interpretação de Fátima, Paula Francinete, Rejane Arruda.Você viu Mistério Bufo,


em parceria

com Dario Fó, dirigido por Marcondes Lima com um excelente elenco além do
delicado trabalho

de Augusta Ferraz. E você viu também O Grande Vizir, de parceira minha com
Obaldia, na

direção de Elias Mouret , com o trio magnífico, Amanda , Viviane e Lane.

Não vi ninguém reclamar de nenhum deles. Pelo contrário.

O que vem por aí O que vem por aí…

Eu falei alguns nomes ainda recentes em direção, como Elias Mouret , Viviane
Barbosa, Heron

Vilar, Marcondes Lima. Recente ou iniciantes, quer dizer com menos de 10 anos de
palco.

Algumas atrizes e atores iniciantes, como Amanda, Viviane, Lane, Lêda Santos,
Ritinha,

Marcelinho, Galeana, Maria de Fátima, Jorge de Paula, Rodrigo. É uma fornada


recente da

universidade.Ainda voltarei a falar deles. Pois creio que um novo teatro pode estar
nascendo daí.

Lêda Santos- não confundir com Jommard Muniz de saia que é a Leda Alves-

é uma esplêndida atriz, porém chorona pois fica aqui me pedindo para dizer

que ela é a maior atriz pernambucana depois de geninha Rosa Borges, que na

opinião da própio Ledinha, está um canhão horrível e dessa vez é a vez dela…..

1. Ô mulé dá uma pena 2.2. Jason Walace e seus companheiros de jornada


são inestimáveis para nosso teatro.

3. Certamente virá alguém depois de mim que lhes prestará as devidas honras.
4. São da nobre linhagem do Vivencial Diversiones.

5. São o renascimento do teatro popular e da Commedia dell´Arte aqui.

6. A diferença é que conseguiram realizar o sonho que todas vivecas tinham.

7. O modelo dessa peça porém não me agrada em nada. Está descosturado.

8. Parece feita nas coxas. Tá muito em cima de A praça é nossa.

9. Sei bem que comigo havia outras 599 pessoas. E se divertiam.E isso é muito
bom.

10. Mas por favor, Jason, vocês são bem maiores do que isso. São profissionais.

11. Continuem fazendo crescer o público que conquistaram sozinhos a duras


penas.

12. Vocês são o nosso sonho. Vocês são a experimentação e o público


participando.

13. Não nos abandonem por um esquema apenas comercial, pleeeeeease, ô mulé
dá uma pena!!!

14. EM TEMPO: Vou tentar entrevistar Jason…Eu também quero o público dele
hehehe..
15. Folhetos. Cia de Dança16. Acho que não dá para se atrasar 30 minutos.

17. Querem que o público desligue celulares, mas se lixam para nosso tempo e
horário.

18. Foi prometido, por anúncio viva-voce, que “se aliaria o teatro à dança.”

19. Não tenho a menor idéia do que se quer informar com isso.

20. Uma vez que essa unidade vai do balé clássico ao show de rock, passando
pelos musicais todos..

21. Lago dos Cisnes, Copélia, Pink Floyd têm um grand-jeté pousando suave na
arte cênica. Ou não?!

22. Estou horrorizado com a comissão julgadora desse janeiro de espetáculos.


Aliás, com todas.

23. “ Reuniu-se uma comissão para se julgar os Volscos.

24. Outra comissão para julgar a comissão “ etc…Eliot, mais uma vez, em
Coriolano.
25. Ou nunca o lemos ou nunca aprendemos nada. Folhetos como o melhor
espetáculo?!

26. Folhetos é um desencontro na interminável trilha rural do armorialismo.

27. Já que também é teatro, posso dizer também que prefiro Ô mulé dá uma
pena 2…

28. A menina que dança Maria Bethânia, com h, é mais comovente.

29. A maioria das meninas que dançam aquela boneca de pano, dança melhor.

30. O povo ao vivo não é melhor que qualquer teoria ou grupo filosofando sobre
o povo?

31. É o que posso dizer por hoje.

32. EM TEMPO: não me corrijam aí na Redação a concordância de maioria.

33. É um vocábulo, no meu entender,da mesma ordem lógica que porcentagens


etc.

34. Sei que virou moda até na Globo se dizer “80% erram.”

35. Só porque 80 inclui a idéia de muitos.

36. Mas você jamais verá Ariano, Arraes ou eu dizer: o povo são burros.

37. Pelo fato de o povo conter alguns milhões de pessoas.

38. E você sabe bem que Cáfilas e Récuas também não saem por aí se
pluralizando. Graças a deus.
39.
40. Nesse sábado vou assistir Os Pesadelos de Martha Stewart. Antes
que vá para o Rio.41. Dá-se numa piscina seca em Olinda.
No Alto da Sé, lotação de 25 pessoas, Sábado, 20h.

42. Reserve sua entrada, senão não cabe, pelo 99651628

43. “… O espectador tira as conclusões que quiser, se quiser.

44. Para mim, é a libertação do meu ator.

45. O diretor saiu de cena, o cenário não existe.

46. O ator volta a ser o dono da brincadeira e não esconde sua mágica”.

47. Não perco por nada.


NB : tá com 50 linhas, mas tem espaço pra cacêta.

O QU8E ESTÁ EM VERMELHO PODE IR PARA O CORTE.

PÔ, MAS QUE PENINHA!!!

Dá bem menos que 50 linhas, ligando tudo.

Separei só para contar as linhas , ok???

Beijos no paginador também, pelo mico que paga comigo.

Eu, Mickey_mauss

EM TEMPO:

PORQUE NÃO ME DÃO UMACOLUNA duas vezes por semana????

Uma pesada, 5o linhas no blá blá e na filosofia. A outra bem levinha. Só com curtas.
Do tipo que está aí em cima ( que ainda dá para enxugar, claro, pois curta é mais
fácil de cortar. Pelo menos para mim.)

È isso aí…eu tenho matéria para tanto e nem me canso uhuhuhuhu!!!

Vou te mandar mais uns pedaços de coluna

só para voce ver que toyu com a cabeça a mil.

Pergunta aí para os editores chefe

Kssssssssss

Maussssssssssss

1 SOBRE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA2 ( devidamente


traduzido para o português, claro!)

4 Eu disse que a dramaturgia anda ruim.

5 Vou lhe oferecer hoje alguns exemplares para você se horripilar.

6 Porque michelotto mata a cobra e mostra o paulo- diz o Hilton Azevedo.

7 Vamos revisar o site The Dramatic Exchange. www.dramaticexchange.com


8 De onde tirei, por sinal, o Hallberg e seu Balcony, meu Giullietta in stress.

9 Vejamos algumas sinopses.

10 This is a play I decided to write after watching “Sex in the City,” for the first
time.

11 I felt that it was bringing out the wrong message in relationships. (20
Questions by J. L. McBride) O negócio é a right message!

12 A Wildwood Reunion by Jonathan Calindas…. ” is a play about how


someone’s years

13 in college changes someone.” Que coisa mais interessante foin nossa vida
no colégio Marista, né não!.

14 Central Park Freak Show by Wilson White F. Fran Tinker was a rising
executive when her legs were amputated after an accident two years earlier. Badly
shocked, I´m shocked too! CHAMAR UM CREEPLE DE FREAK, DJÎSAS!!!

15 Dancing at the Revolution by Michael Bettencourt, is based on the two years


Emma Goldman spent in the federal prison at Jefferson City, MO, after her
conviction, along with her life-long companion Alexander Berkman, for conspiracy
to advise people to resist the draft during the First World War (then known as the
Great War).Numa Jaula?

16 Eleanor by Mark Brownell A comic monologue about a Catholic school


girl..VIXE!!!

17 Hannah Elias by Nathan Ross Freeman…Turn-of-the-Century urban life


(1865-1906): a period of tremendous civil, humanitarian, political and revolutionary
activity etc etc Baseado no livro Sexo e Raça, do mesmo.

18 I Dream of Edna in a Light Green Dress by Bradley Hayward . Playlet, sex


farce.The key element in the set is the intercom. Without the intercom, the entire
realism is lost. A farce must be a believable exaggeration of events so the intercom
is a crucial set piece.

19 JULIET AND ROMEO A play in one act by Wayne Anthoney. “Romeo


and Juliet” is intended for secondary school students who have already studied the
original. PUF !!!

20 Look at Sandra Jane There by John Blais S Sandra Jane lies as if asleep
with heavenly dreams. In this undeveloped park, the three boys admire her state as
they wait to buy

21 the drug and join her. Tudo drogado, blz!


22 Party on Avenue “B” details the last evening in the lives of three of the six
characters involved in the play

23 The Clowns’ Macbeth by Wayne Anthoney It is a gross travesty of the real


“Macbeth” but I am quite certain that Shakespeare would have enjoyed it. Quite
certain, UÁU.

24 Tuba by Tommi Virhia . Synopsis: This elderly woman drinks liquour while
walking downtown to go into a jam session of the Town Jazz Festival.Never been in
jazz concerts before and dislikes music. On the way she helps a russian man,
….DJISAS !!!

25 Fique em casa!

26 Agora imagina o que não é a dramaturgia de língua latino americana recente.

27 Fica para a próxima. O site é o do CELIT, www.celit.com

TUDO NO TIMING & BUGIARIA

paulo_michelotto@uol.com.br

Sei porque antigos como eu e mais dois ou 3 velhotes de Recife vivem dizendo que
o texto, O TEXTO, é uma coisa boa que ainda vai ser retomada e ser revista e voltar
à cena com toda förça depois de sua derrocada fantástica com a modernidade. Claro
que estamos falando daquele texto que pode virar declamação, e não do texto
semiótico, senão nem teatro haveria, mas escuridão e mudez.

Tudo no Timing e sobretudo Bugiaria estão aí para ir contra tudo isso e continuar
impávidos e velozes rumo ao futuro que Marinetti nos prometeu. Marinetti?!. Sei
que meu público é o dos sentados no trono da sala e pensa, no nordeste, que
Marinetti é um önibus ou um pau de arara, mas um pouco de cultura culta maiúscula
não lhe fará mal. O Marinetti que cito não é o do Manifesto futurista apenas mas
sobretudo o de Gog e Magog- que aprendi a ler com meu velho pai.Acho que
ninguém mais o edita. Enfim, quem leu já viu Tudo no Timing e Bugiaria.

Isso não diminui em nada os dois.. Pelo contrário. Eu adoro Gog e Magog e amei os
dois espetáculos. Citei apenas para dar uma das linhas de continuidade histórica ao
que andamos fazendo.

Timing ( o nome completo está aí em cima) é todo zombaria com muito humor e
precisão. Os textos são muito muito muito bem escritos, do “Philipão” Glass que
quer comprar pão e sonho ao de Trotski zanzando pelo palco com uma picareta na
cabeça- tudo muito bom. Ëpa, contei uma gag! Mas isso é o de menos, pois o
importante aqui não é o que se fala,o tema, o assunto, a proposta, a ideologia, o
sentido profundamente literário e filosófico dos textos, mas como se os fala. Gerald
Thomas dixit. E é essa a corrente que se opös a todo teatrão de textão com
textinhos, ou usando o termo de Samuel Beckett, dramatículos. Ou Textículos.
Não precisa ser chegado a umas coisas dessas para ir ver Bugiaria ou Tudo no
Timing, mas simplesmente estar afinado com nosso tempo, com nosso timing, nossa
correria, nossa falta de sentido da vida graças a deus.

Ambos são mezzo musicais. Ambos zombam desbragadamente de tudo isso e de


todos nós.

Bem, em só um momento que Tudo no Timing escorrega e cai no discurso político,


pudera, o Abujamra está por trás de tudo isso.Mas eu assino em baixo da cena de
passagem do Apagão. Porque se há uma coisa sem-vergonha e safada e desonesta no
Brasil, não é a comédia, nem o melodrama , nem o rebolado, nem Geni.É Brasília e
esse Real Govërno de irreais merrecas.

Fé & faca amolada

Paulo Michelotto

1. Ontem, quinta-feira, no Teatro do Parque, tivemos a abertura quase solene do IV


Festival de Teatro Nacional do Recife.
2. Alguma coisa me fez lembra uma frase célebre “…na arte a gente (…) tem que ter fé
e faca amolada prá ir cortando também.” ( Antönio Cadengue,entrevista a O
Folhetim #11, já nas bancas. Plim-Plim!.)
3. Sei bem que já passaram os tempos áureos.
4. Neles, critica vinha do grego kritein– que significa cortar.
5. Se tivessse havido uma melhor crítica teatral certamente o teatro teria sido melhor. É
uma questão de fé, entendem? E de saudade de Isaac Gondim.
6. Voltando aos Gregos, não custa pensar que ainda hoje possamos reviver a Grande
Grécia em que uma economia esclavagista não impediu espíritos lúcidos de criarem
um grande teatro, aliás, O grande Teatro Ocidental – futuramente citado como OTC.
7. Então, passemos a faca.
8. Mas , primeiro, meditemos sobre a fé.
9. Primeiro a fé das Otoridades Presentes que subiram ao palco…
10. Companheiros, finalmente o PT está demonstrando que esquerda se dá bem com
arte e que não nos persegue como cães vadios- como muita gente de bem já afirmou.
11. Parabéns para o João Paulo, o primeiro prefeito dos Tempos Modernos que
comparece a um evento nosso sem haver vaias clamorosas..
12. Agora passemos a faca.
13. Só que não precisava subir em palco. É coisa provinciana, Coisa de político de
Brasiliawitch.
14. Como é coisa de planaltos a presença de um sujeito muito escalafuboso que ficava
no palco nos lembrando dos tempos da ditadura .
15. Saiu botando para correr um pobre fotógrafo. Um horror.
16. Aquele Manifesto também , perdoem-me, não devia ter sido lido..
17. Nossa tragédia não é a de sermos assassinados e haver impunidade.
18. Esse papo acaba no de segurança e daí para o de segurança nacional é só questão de
uma divisa a mais na farda.
19. Nossa tragédia é que nada aprendemos com Sófocles e seu Édipo: a continuar
procurando, mesmo após achar as causas.
20. Acho que só, no ramo Otoridade..
21. No ramo Programa, pouco se informa.
22. Parece que o público- O PÜBLICO ! – não quer saber de nomes de autores,
tradutores, diretores, cenógrafos, iluminadores, atores e outros etceteras, não é
mesmo?
23. .Afinal , quem são eles diante do grande OTC?
24. Ainda no item Programa, também não gostei daquele vermelho-beterraba , daqueles
brocados e poses renascentistas do leiauti .E daquela única Companhia de nossas
Índias Ocidentais .
25. Sei não…
26. E finalmente, posso fazer uma pergunta? Há concorrência pública para se editar
cartazes etc e tal ?
27. Sei não.
28. Ah , sim a peça?
29. Não gostei.
30. O que não significa que vocë não deva ir e que não haja muita outra coisa por aí.

Prof . Artes Cënicas UFPe

Jornalista profissional (registro no MRT-JP)

Crítico de Teatro

Ivana, amor

Me dë retorno , ok?

O segundo é manso e só sobre a peça

Coloco aqui o início para teres uma idéia também:

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara.
4. Um monte de cacoetes não faz uma dramaturgia.
5. Porque não se lë mais Anouilh?
6. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
7. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
8. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
9. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
10. O figurino…… etc etc

SOU CHEGADO A UM MELODRAMA


”…No Recife há um resquício do rádioteatro, daí que por vëzes a cenas está antenada coma
a contemporaneidade, mas a prosódia está presa a um outro tempo, a um outro lugar. “ (
Cadengue,entrevista a O Folhetim #11, p.118.)

O IV Festival de Teatro Nacional do Recife foi aberto nesta quinta-feira, com a peça O
MELODRAMA, texto produzido no processo de criação da Companhia _______

do Rio de Janeiro. Não sei se seria o melhor espetáculo para abrir o Festival, mas
certamente é um espetáculo que vale a pena ser anotado na sua agenda.

Muitos acertos e alguns equívocos.

O equívoco maior fica certamente por conta da idéia de que uma companhia criar seus
próprios textos é seu melhor caminho. Claro, essa não é uma idéia que eles inventaram,
tantas que são as pequenas companhias que andam por aí no mesmo rumo.

Penso que há um certo tipo de teatro que deveria respeitar um pouco mais o seu próprio
teatro. Uma companhia cujo avanço e inventividade se dá dentro do espaço de um palco
italiano necessita se ater às convenções desse próprio palco. E essa que vimos atuando em
Melodrama não é nenhuma companhia de teatro de rua, ou de performances, ou de …

Para os menos afeitos à essa linguagem estranha que será falada durante esses 11 dias
no Recife, vamos aprender algumas coisa sobre esse famoso macarrönico palco. Pois ele
é o palco mais tradicional do Ocidente, que nos vem da Renascença, nascido em Vicenza,
consistindo em um espaço fechado como um quarto, com uma das paredes substituída por
uma cortina. Essa parede aberta, a quarta, vai virar inclusive ponto de ataque de um dos
pais do teatro moderno, Brecht, em sua proposta por um teatro não ilusionista, um teatro
que pudesse servir à consciëncia e a reflexão do público.

Originalmente foi feito em um canto abandonado de um Palazzo, daí também a


identificação desse palco com a burguesia. Se você quiser dizer “teatro de burgueses para
burgueses”, simplifique tudo isso chamando-o de “palco italiano”.

É onde boa parte de nosso IV Festival irá se aninhar.

Creio que finalmente poderemos falar um pouco desse pessoal de base, carregador de
pedras da construção toda, chamados Dramaturgos e de seus pequeninos mas árduos
deveres..

O ofício de dramaturgo é tão elevado quanto o de qualquer outro de nossos ofícios de


cena. Se achamos que qualquer um pode sair escrevendo, por que não admitirmos que
qualquer um pode subir em palco e dizer o que bem entender- substituindo-se assim
definitivamente todos esses escombros de nosso velho teatrão, tais como diretor, ator,
cenógrafo, iluminador etc etc ??

O primeiro dever dele é escrever algo para ser visto. Aonde a dramaturgia se distingue
profundamente de toda outra modalidade de literatura – de tal ordem que julgamos que nem
literatura mais isso é. Mas isso é mera opinião nossa.
Está começando a vislumbrar porque o texto dramatúrgico, ou a peça, apesar de tão mal
falado em nossa modernidade, tem uma importância vital?

Pois é o primeiro roteiro do olhar do espectador sobre esse objeto chamado cena.

O centro do texto portanto não é se é falado, nem como é falado, nem se é cantado, nem se é
emudecido ( ou mímica).

Seu centro é um olhar.

E nisso há algo de extremamente positivo em O MELODRAMA.

Pois pretende ser um certo olhar sobre o comportamento amoroso.

Que no homem, diferente dos outros animais, é elevadamente ridículo.

Daí talvez o enorme sucesso desse sub-gënero que dá nome à peça. Há quem identifique o
melodrama com o nascimento da modernidade também. Mas, para não irmos
demasiadamente antes disso, basta-nos dar uma olhada nas peças do
francës Marivaux, para vermos que ele é bem mais tinhoso e resistente. O avö do gënero
pode bem ser uma “marivaudage”, nomezinho cunhado para designar peças espertas em que
rola esse amor em todo seu exagero.

Seu fundo talvez seja a própria natureza humana.

Então porque disseste que a peça Melodrama, de abertura do festival, era de ruim
dramaturgia no artigo do Diário Impresso em Papel?

Por que o problema de fundo lá é apenas de formalização do espetáculo como um todo. O


que quer dizer apenas isso: posta essa característica de um determinado tipo de
comportamento amoroso, o resto é enfeite.

Podendo em nome da simplicidade ser jogado no lixo.

Vejamos o exemplo da gag, ou truque, do marido ter um irmão gëmeo e finalmente essse
não ser outra pessoa mas o mesmo e torturado personagem. Ou o truque , já muito
conhecido nos meus anos de infäncia – e lá se vão punhados e punhados de anos nisso- do
casamento entre parentes que resulta em uma cascata de situações em que finalmente a mãe
descobre que pariu o próprio sobrinho.

Até aí tudo bem. Afinal, um monumento de nossa tragédia, Édipo de Söfocles, foi
responsável pelo nascimento dessa piada infame, que não acaba nunca de se reproduzir
sobre nossos palcos.

O que não é lá muito bem é ficar se repetindo essas gags no espaço de uma hora e tanto.
Não , não estou falando do fato da gag aparecer uma vez no faoreste, outra em novela
mexicana e assim por diante até completarmos um ciclo quase de exaustiva pesquisa
antropológica. Não. Esse problema ai é apenas de ërro de alvo.Não estamos em sala de aula
e teatro para fazer estudos aprofundados da cultura ou dar mostras de descobertas
antropológicas – como diz bem a A.Cadengue. pode ser bom para se formar o ator barbiano,
mas talvez para nada mais.

A repetição é mesmo a da piada que é contada duas vëzes do mesmo modo. Cansa.

Se você ler Antígone de Anouilh verá que não se precisa fazer referéncia a nada dessa
piada de cruzamentos consanguíneos para se fazer uma platéia chorar ou rir.

E olha que ela é filha do filho que se casou com a mãe, portanto o filho dela com Hemon
seria neto e bisneto ao mesmo tempo de Jocasta, sua avó….

Uma peça não é feita com uma boa coleção de piadas.

Ou uma boa coleção de emoções fortes. Ou ridículas.

A repetição em MELODRAMA também é feita pela quantidade de músicas cantadas.


Parece que entram para resolver outros problemas de texto como passagens de cena etc.
Coisa aliás extremamente bem resolvida por uma direção que navega num texto dessa
ordem caótica.

Talvez esse seja um dos pontos em que me parece complicada as escolhas de texto de
Melodrama. Porque esse amor melodramático não tem como referéncia alguma a
pluralidade de amores, mas muito pelo contrário, a obsessiva fixação em um ou dois valores
apenas do comportamento amoroso.

O eixo dessa fixação é a sexualidade.

E essa não chegou a subir em palco.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção, pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da crítica e da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….
Enfim, por mim está tudo indo bem no Brasil por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia, a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol &
com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora Esses
merecem o Molière.

Mas vocës bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do melhor
em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e piores: há
apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado não é. Nós o
vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve ser
fechada ou adaptada. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos reais,
investe em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo: cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construção. Penso que irá caminhar cada
vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e muitas. Pois
creio que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com aquele esquema
simples, difícil e muito antigo, da narrativa.

É uma história que se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das
histórias narradas com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse
achado que é o de trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar em que
tais tradições narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta
lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória
não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: “aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar mais, de tão bela
que era. E ele usou tão pouco!”

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá um


presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos passá-lo numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além disso
uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores mirabolantes: ele
restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi lá,
botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria voz
sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM cena,
mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza em Como
vivem os mortos, nos acompanhará para sempre.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol &
com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora

Esses merecem o Molière.

Mas voces bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do melhor
em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e piores: há
apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado não é. Nós o
vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve ser
fechada ou adaptada a teatro. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos
reais, invete em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo: cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construçào. Penso que irá caminhar cada
vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e muitas. Pois
penso que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com aquele esquema
simples e difícil- pois muito antigo – da narrativa. É uma história que se conta. E sabemos
quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das histórias narradas com vozes em cena, para
poder finalmente modernizar-se… Daí esse achado que é o de trabalhar uma história que se
passa …na Índia! De algum lugar aonde essas tradições narrativas tiveram evolução
diferente das de nosso ocidente. Basta lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto
impressionou Artaud- se a memória não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim para
ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar, mais de tão bela que
era. E ele usou tão pouco!

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá uma
presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos ser passado numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além disso
uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores mirabolantes: ele
restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi lá,
botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria voz
sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM cena,
mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza nos
acompanhará para sempre.

Bárbara não lhe adora.

Janeiro Produções.

Micro- crítica
Peguei num canto esse papo em linguagem coloquial:
Lëda disse:” é uma peça pintosa!”
Fátima Saad disse: “ mas não, é uma sátira!”

Lëda, ela é de teatro, mas claro deve ser pura inveja.

A Bárbara é uma gracinha, a companhia é inteligente e os atores e atrizes muito bons.


Jennifer foi a menos melhor.

Entendo hoje porque Bárbara, a original gostou. A peça lhe dá razão e nós críticos ficamos
de alma lavada.

Claro, a peça funciona melhor no circuito Rio & S.Paulo, uma vez que aqui nosso povão
não sabe bem que diretores fazem aquele trejeitos todos e aquela quase macumba da
corrente energética, e nem que atöres gastam tanto suor para achar “O” personagem.

Lëda disse mais, o figurino é pintoso.

Mas se se trata de uma peça satirizando o teatro, o quë mais se pode esperar senão pintas?

Eu disse uma certa vez que mil cacoetes não fazem uma peça. Pois Bárbara está ai para
provar minha tese de que uma pequena piada dá uma peça divertida e bem feita, coisa para a
gente rir, pois teatro é também para isso se não for apenas para isso.

Sei não.

Leda disse: aquela fumacinha é pintosa!.

Deus. Lëda, que fumacinha você queria em cena aberta?

Bem, podem ver que minha noite com Lëda terminou mal

E Lëda nem loura era.

Culpa da Bárbara, essa gracinha!..

( A que ficamos reduzidos, nós críticos, depois de Bárbara não lhe agrada!).

Se vocë odeia algum crítico particular, vá ver as peça e saia rindo que nem besta.

Nada a ver com a fumacinha de Lëda.

Encontros depois da chuva


Cia Teatro di Stravaganza (RS)
Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe

paulo_michelotto@uol.com.br

Acho que essa mostra indica que nosso teatro tem vitalidade, está indo muito bem
graças a deus. A Cia Teatro di Stravaganza é uma boa prova disso.

Encontros depois da chuva é um belo roteiro. Enxuto, preciso. Eu apenas cortaria o


texto aonde se fala das horas que restam para se ser feliz. Mas gostaria de rever o
espetáculo pois acho difícil que a Stravaganza tenha cometido alguma imprecisão.

O melhor do roteiro é o contraste entre o onde não se fala e aonde se fala.

Nisso ele me lembra Ato sem Palavras de S. Beckett, em que um simples apito se opöe
a todos gestos. Aliás, o meu velho mestre merecia uma homenagem. Nunca vi tanta
coisa que se deve a ele nesse Festival. Viram os vermes dos sacos de dormir de Textes
Pour Rien na abertura da Infecção Sentimental Contra-Ataca do XPTO? Encontros
depois da Chuva, por exemplo, também é um roteiro becktiano. Moderno.Viram
algum dia May Be? Viram a viagem do nada para o nada, de Mercier e Camier?
Quem não ouviu a musicalidade em Beckett não viu nada. A Stravaganza certamente
viu. As malas-quase-circo são de Samuel, o tempo preciso de cada movimento de ator
são de Samuel, a repetição da capo al fine em novo ritmo é Samuel (leia-se, Quoi Où
etc), a viagem para o lugar aonde ainda se ouvem pássaros é Samuel ( leia –se a lua e a
casa da amada de Mercier e Camier).

Breve, essa junção perfeita entre palavra & música & ritmo & dança é de Samuel.

Beckett escreveu mais para os tempos em que havia a Palavra. Ele a desmonta.
Depois remonta com novo valor. É talvez o grande e último escritor que a trabalha
com precisão de relojoeiro suiço. Mas nós sabemos que qualquer reloginho de merreca
japonës vindo do paraguay e vendido a 3 reais na pracinha do Diário é mais preciso que
todos os antigos. Coisas da Evolução.Coisas dos Tempos.

Coisas das Chuvas.

E coisas de nossa busca infinda de pássaros e estradas.

Já não há mais que se escolher entre pássaros e estradas. Entre palavras e gestos,
entre texto e dança. Eles nascem à beira dessa estrada, nascem da selva de asfalto –
indica o roteiro belo de Adriane Mottola.

Belo, pois, depois de Samuel, pela primeira vez, pode-se falar alguma coisa.

Então para quë vou eu falar de figurino, interpretação, cenografia, programação


visual, se- quando se está diante de um texto inteligente- tudo isso nasce suavemente
ou aos borbotões como na Cia di Stravaganza?
Luiz Henrique Palese vai mostrar, em solo – em Como vivem os Mortos – que a
Companhia é de absoluta afinação.

E podem contar, Bebë Bum me verá na primeira fila, no gargalo, com meu neto Lucas.

Não é que viramos macacos de auditório desses meninos di Stravaganza?!…

Dizem que fãs não escrevem boas críticas. Ficam sem distanciamento crítico
brechtiano…

Então vou me calando por aqui.

Por que o que eu quero é mais. Muito mais. Desses palcos azuis de infinitas cortinas.

A Infecção Sentimental Contra –Ataca

Grupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.

Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem merece.

E creio que – dos que vi até aqui – esse era o grande espetáculo para abrir o Festival.

Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?

O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula
Magna!- de Teatro.

Então que abra o próximo Festival.

Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda
de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso ofício,
no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para pessoas
que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos com a boca
escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a humildade nos
permitir – nosso ofício seja também o de participar um pouco como amplificação de
voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o mundo é uma grande
invenção continuada, uma magia sem fim.

O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando sua
obra.. Só posso adorar.

Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com roda, aquela
maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte viva. Pois é isso: a
arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!… AH!… OH!…
Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La Traviatta em ritmo
acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na frente na próxima vez.
Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?. Toda criança adora ver os
músicos bem de perto. Eu, pelo menos.

Quer saber mais? Vá assistir.

Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena cena-
que mais parecia uma pequena passagem entre cenas – em que robôs trombam uns
com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se transformando em uma
guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que finalmente se rompe ao tentar pescar
o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do próprio XPTO.

A de crianças que recriam o Universo.

Beijos para cada uma delas, pois me comovem.

Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.

O mundo será bem, melhor depois disso.

Encontros depois da chuva.

Companhia de Teatro di Stravaganza

Leda falou que esses meninos são todos gobas.

Puta merda leda, você está virando sapatão..

Toda nudez não será castigada

paulo_michelotto@uol.com.br

É um fenömeno como Nelson e uma boa propaganda tëm vitalidade. A fila ia do Armazém
até o Pina! Nosso injusto público finalmente acordou e foi ao teatro.

Como entender Nelson? Há uma mania nacional de psicologizá-lo, logo o Nelson que tinha
horror disso. Não foi o caso, graças a deus, de Cibele Forjaz e companhia. A opção foi pelo
Nelson suburbano, com forte dosagem de melodrama, numa escolha de interpretação de ator
bem bem naturalista, algo assim para você sentir MESMO que havia um puteiro, umas tias
dentro de casa batendo bolo. Só faltou o quarto de boi em cena etc…

Ora, quem andou vendo Antunes, viu certamente o último e definitivo Nelson. Na mesma
linha já tivemos aqui, recentemente, a Seraphin com Senhora dos Afogados.Confesso que
não apreciei tudo o que vi na encenação de Antönio Cadengue, mas ela tem certamente o
mérito de cair fora de alguns chavões. Ele é Antönio, mas certamente não Antoine.O que é
bom para Recife e para o mundo.

A Cia Livre de Cooperativa Paulista de Teatro nos apresenta um espetáculo de muitas


coisas boas. Não vou ficar repetindo ficha técnica porque quem anda lendo jornal nesses
dias é mais gente de teatro mesmo. É pelo menos o que tenho visto freqüentar o Festival.A
rígida divisão dos espaços cenográficos num esquema quase aristotélico merece toda
atenção, além de ser uma homenagem às antigas regras de esquerda alta esquerda baixa e
etc… A luz segue o mesmo esquema de rigidez, desenhando áreas muito claras na zona do
quarto de Geni para destaque de seu corpo, vermelho forte riscando os encontros de
Patrício e Herculano- eixo de toda a trama. O resto não convence muito. O que salva
bastante é que os atöres são tecnicamente muito bons. Além da escolha duvidosa da
interpretação de ator- o que não lhes cabe, portanto não lhes podemos imputar ( oh
desculpem-me!)- há ainda duas pequenas coisas.

A primeira é, sem dúvida, o nome da Companhia que ocupa quase ¼ do espaço que temos
para escrever. A segunda é que foi a encenação mais casta que já ví de Nelson. Serginho por
exemplo não pode sair daquela banheira de Marat …vestindo cuecas que parecem fraldas!
Nú ficava mais correto.Também vi pouco os seios tão perfeitos e tão insistentemente
cantados por Nelson. Neles é que o câncer de Nelson pode se instalar.

Então…

Balanço

paulo_michelotto@uol.com.br

Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada
interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o conseguem.Cheguei
correndo ao Hermilo – uma vez que estava no Sesc e quase não dá tempo para se sair de um
espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria que parece Fazenda Nova…
Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava acompanhado e fui humildemente comprar
o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam. Lotado. Bem eu não ia deixar quem me
acompanhava esperando do lado de fora durante uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa,
aparece alguém e informa sobre um problema no ar condicionado e pede desculpas pois não
haveria espetáculo, que se refizesse a fila para devolução de ingressos e… Aí aparece o ator
e grita que vai haver espetáculo, que esse festival era uma mentira, que se precisar tirem a
camisa para agüentar o calor – no que lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo.
Voltei humildemente à bilheteria, já que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes
e enfrentar o Zöo de Albee- sem nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10
reais! Apesar de ser da classe, minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse
preço um assalto feito por quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a
democratização da cultura. Não acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em
bufunfa como nadam os governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não…

Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de técnicos e


no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4 horas no Rio
Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da manhã e o
encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com XPTO.Cansaram de avisar que
teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo agendado. “Ah , dá tempo para se
apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo – uma jóia de profissionalismo e rara
beleza que já rodou meio mundo – acabou tendo que ser adiantado e lá estava um imenso
Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos chamar o público até de senhora gorda-
como o impolido Nelson Rodrigues –mas não podemos chamá-lo de adivinho. Jornais
existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para isso.Mas ninguém se lembrou que os
jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como cães de guarda da cultura. Bastava abrir a
boca sobre mudanças de horário que publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da
sonolëncia. E o pobre do Xpto ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo
pernambucano. Posso acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma,
foi dar uma mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar,
carregando todo o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido
almoço e descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles.

Mais?

Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho –
que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro. Convidei-
as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um pouco de medo
dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram. Mas amanhã se
aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados. Porque precisa ter
uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter toda informação
necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas da noite e atravessar
aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por favor, programem espetáculos
para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa Amarela possa também ver teatro, sem ter
que se deslocar à noite para o centro. Agora, colocar ali, à noite, peças que só podem ser
vistas ali, é um ato de crueldade.

Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada tem a
ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter paciëncia, que
isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o que quisemos
mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro agradece.

FANDO E LIZ

paulo_michelotto@uol.com.br

Nesta quinta,15/11 e sexta-feira, teremos a chance de ver um Arrabal.

“Baixinho e feio, assustado com a infäncia e suas obsessöes”- dirá dele Allan Schifres. A
mãe não o deixou abraçar o pai, prëso como traidor na Guerra Civil espanhola. Dá para se
perdoar a crueldade do universo infantil em suas peças? Vários autores opuseram o mundo
adulto à lógica terrorista das crianças.Quão longe anda nosso teatro infantil de tudo isso,
não?Aqui em Arrabal, crianças matam crianças e velhinhos, arrancam asas de mosca só
pelo prazer. Nem pense em recomendar espetáculos de Arrabal às escolas aonde seu filho
estuda. Haveria professorcídios após. E Arrabal é tudo, menos espetáculo infantil. Sua
sexualidade é animal, a crueldade, instintiva. Seu herói não oculta nada. E sabe como é
perigoso entrar nesse jogo de adultos.

De uma escritura muito próxima à de Samuel Beckett, ou H.Pinter, Arrabal escreve suas
peças…” Escrevo, portanto minhas peças como quem dirige um Cerimonial, com a precisão
de um jogador de xadrez ”

. E assim, coordena rituais de festa para escapar a seus maus sonhos. Para ele a existência
já é trágica o suficiente para que ainda se a leve a sério…

” …Então o que se passou foi que ela e ele se puseram a brincar de pensar mas, como ele
não podia tomar uma boa posição, ele pensava muito mal e quando ela lhe mostrava em que
posição devia se colocar para se poder pensar; ele apenas pöde pensar na morte” ( Fando e
Lis).

Você já adivinhou que o Movimento que ele fundou com Topor, Sternberg e Jodorowski
tinha o nome de Pänico, não é mesmo? Garoto inteligente!

Se você não viu Oração , com Marcelo e Rita, nem O Arquiteto e o Imperador da Assyria ,
na bela direção de C. Bartolomeu, vá lá e não perca esta oportunidade de ver o
monstro que escreveu ainda Cemitério de Automóveis,. – um cult dos anos 60/70. Se vc
não as conhece, procure o Banco de Dados do Dep. de Teoria da Arte da UFPe, que lá você
acha . De graça e& em tradução minha. Essa é a alma do negócio.

Antes que eu me esqueça: parabéns à curadoria. Um festival que tem Nelson, Albee,
Arrabal, A . Mottola, Palese, Marivaux , Moacir Chaves, e o texto visual de Oswald
Gabrielli, do XPTO entre outros, merece aplauso.

O meu pelo menos. .

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

(mais uma vez a propósito de FACA AMOLADA/ dir. A . Cadengue/ Teatro do Séraphin)

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara. Um monte de cacoetes não
faz uma dramaturgia.
4. Porque não se lë mais Anouilh?
5. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
6. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
7. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
8. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
9. Interessante no século XIX. É um teatro mofado com dada de vencimento de há
muito expirada.
10. Precisa se dizer mais

Esman e eu?

Por outro lado, Deus, (Ele Mesmo, o Patrão) sempre andou em alta e não sei se pela nossa
formação cultural portuguesa latina ocidental ou por que, mas o Senhor tem escolhido – de
Beckett a Dario Fó- bons dramaturgos para contar suas proezas.

Ao contrário de Agnes, que é uma freirinha, às voltas com um crime, uma psiquiatra com
problemas como todo psiquiatra, com sua madre superiora, com deus; e claro, com a mãe.
Pois, depois de Medéia, tragédia sem mãe não existe.

Os elementos de um bom thriller policial estão aí: um personagem apagadão ( freirinha),um


escândalo ( gravidez), um assassinato( criança morta), um tom de psicopatia & ciência,
truques de hipnose, alguns suspeitos e uma terrível suspeita sobre a sexualidade do capelão,
coitado. Mistura se tudo com um possível trauma religioso e uma simbologia sexual
explícita ( mãe, cigarros, água …essas coisas aí ), acrescenta-se o milagre das regras da
psiquiatra voltarem ( para quê, se ela parou também de fumar finos que satisfazem ou
grossos etc e tal e tudo isso aí significa falo, hein?) e pronto, aguardem-se as palmas.

Contanto, claro, que o distinto público, nós, sejamos um somatório de antas medievais.

Luzes, figurinos & direção


Há um belo destaque aqui para o cuidado do trabalho cênico.O cenário é funcional, e no
tom de fundo da peça- que é o de haver alguma esperança no fundo de um poço marrom
escuro.

Há, nas falas, uma metáfora sobre árvores que se concretiza num figurino e numa
iluminação a duas cores de tons e sobre-tons marron-verde, dando um tom de cuidado,
delicadeza e limpeza ao espetáculo.

Limpeza é o nome que às vezes damos para o trabalho de origem acadêmica, que faz o que
tem que fazer, mas evita colocar um dedinho do lado de fora do campo próprio de operação.

Rubem Rocha chama isso de clean, com justeza.

Mais tons de luz, dar uma margem maior ao erro, sempre me pareceu fazer a graça dos
espetáculos. Pois, sempre, o que vemos sempre em cena são homens lutando contra os
deuses. Até mesmo com pequenas armas ou armas ruins. Até mesmo com o choro e a
emoção presa na garganta.

Ou com o riso, que o riso ainda é nossa melhor arma contra Eles, não é mesmo?

Seja como for, há que haver possibilidade de erro em tudo que se chame arte.Limpeza é
quando reduzimos ao extremo essas possibilidades textuais, quando fazemos um
espetáculo todo bem fechado como uma caixinha linda de presentes, contendo, claro, um
lindo presente. Sempre me parece que se perde algo de nossa história por esse caminho.

Às vezes, o essencial.

Em Agnes, Roberto Lúcio que é um mestre do esmero, preparou-nos uma bela caixa.Ele é
um mestre.

O bombom do Pieilmeier é que está com data vencida.


Erros monumentais fazem a essência do teatro.

O maior? A errância de Édipo, em Sófocles, culpado sem consciência.

Sem esse erro magistral, essa errância dos personagens- não haveria teatro.

O que chamamos de limpeza-quase-acadêmica é de outra ordem, é manter o erro sob


rédeas bem curtas e muito seguras. Arriscando-se, no entanto, a colocar rédeas também em
nós, o público. Roberto Lúcio optou por essa limpeza , correndo esse risco.Talvez porque
soubesse bem da fragilidade desse texto dramatúrgico. Cujo foco é o pior possível: o da
psique da pobre freirinha infeliz com voz de passarinho. Shakespeare resolveu isso
melhor.

Em apenas uma só frase, em Hamlet: …”não sabemos porque os pardais caem”.

Não sabemos- esse o mistério.


O primeiro deslize de Pielmeier é querer saber muito , mas trabalhar com uma psicologia
de segunda mão, tipo papo de Paulo Coelho. Ora, se alguém começa a fumar porque a mãe
morreu, ao limite Freud não tem nada a ver com isso. Pielmeier acha que sim. Até se
permite um seriado de gracinhas quase-pornográficas a respeito de santos e o tamanho de
seus cigarros- só faltando citar o famoso charuto de Clinton. Você não riu, tenho certeza.
Imagem forte, porém igualmente idiota, é também aquela de que sua mãe lhe enfiava
cigarros acesos na vagina.Certamente Freud se interessaria muito por sua mãe- mas bem
bem menos por você. Toda originalidade aí do Sr. Freud foi situar seu campo na prima
infância, e seu objeto nas relações primevas, em seu modelo de transcrição, também dito
Inconsciente, e no discursos que a partir daí se travam, isso é, se desenvolvem em
fechamentos.Na origem, portanto, e não nos efeitos das maluquices.
O segundo problema de Pielmeier é tentar resolver problemas com truques. A tal da
hipnose, por exemplo. Se você usar como sugesta hipnótica que se mergulhe na água, você
tem maior probabilidade de afogar seu paciente, que de colocá-lo em sono profundo. Tá
bem, tá bem, água é melhor pois lembra sexo etc e tal. Mas não dá boa hipnose, se é que dá
alguma.Aí depois faz a freirinha assassina sair passeando ao próprio gosto, sem haver
algum comando para isso. E finalmente mistura fatos e embola momento de fecundação
com o do parto- sem comando específico nenhum do hipnotizador, para isso. Só o público
pode dormir com isso.
O terceiro erro do texto é de esquecer completamente de refletir sobre a hamartia, culpa,
e o culpado– como se isso não tivesse a menor importância, justo nessa época em que se
descobriu que boa parte do clero americano( sobre o daqui ainda faltam pesquisas) tem
uma incrível tendência à pedofilia e a outras coisas mais complicadas.

Quem disse foi o Papa Woytila, fui eu não!!!

Finalmente o culpado? ” Talvez um camponês?!”- diz o autor.

Tás brincando!!!?Todo preconceito foi mera casualidade, não é mesmo?! Um pouco de


solo social e verossimilhança no texto não faria mal a ninguém. Pielmeier nem tá ai para
isso. Supõe que o público espera mesmo é um milagre ou um papo sobre papas e freiras
ensandecidas.
Mas seu quarto e maior erro mesmo é achar que milagre em teatro é o truque.

Milagre em teatro é simplesmente milagre. Acontece, todos os dias , todos nós sabemos-
senão nunca mais poríamos os pés em uma sala. Milagre é Fátima Pontes e Galiana
segurarem esse texto com tanto brio. É verdade que o tom da Madre Superiora cansa um
pouco e que a Agnes não é nenhum passarinho cantando. Mas viram o milagre? Funciona!

Fátima Aguiar, a psiquiatra, porém tem uma tarefa bem mais ingrata- pois não há como
segurar aquilo.Nenhuma atriz consegue em sã consciência afirmar, quase como numa
apoteose, algo como “ e eu, uma psiquiatra,católica comungante, com regras e não
fumante..” ou coisa muito parecida.

Francamente!

Não há um pequenino espaço no personagem para o milagre. Ele é falso, impostado, de


início ao fim. Então a atriz acaba pagando um mico miserável- essa a verdade. Aumentar
o tom de voz, dar tensão dramática não vai levar a nada. A coisa toda é oca.E não seria se
Pielmeier tivesse pelo menos lido End of Affair ou O Poder e a Glória.

Mas quem lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Leia e vá assistir Agnes de Deus. Depois escreva para cá dizendo que discorda
Philosophando um pouco.

A modernidade deixou nos com um problema a resolver em teatro.

E que incide diretamente em toda prática crítica

Nada a ver com as mudanças acontecidas na escritura dramática, nem com a


simplificação do material cenográfico, nem com a iluminação, figurino, maquiagem e
cenografia como produtos de um design, ou isso tudo tratado como linguagens. Nada
disso.

Não é nenhum problema técnico ou especificamente teatral.

Mas, antes, da própria formação social em que estamos, produtores teatrais e público,
inseridos.

Parece-me que nosso problema maior é o da regionalização e, conseqüente,


envelhecimento dessa arte,por se situar dentro do sistema capitalista periférico como o
nosso.No plano cultural, se imaginarmos nosso planeta até os meados dos anos 50,
pouca coisa acontecia de diferente, em matéria tecnológica. Nosso roteiro básico, em
artes plásticas e cênicas se delineou nos fins do XIX e abertura do XX. Depois foi xerox
e não produzimos nem um pequeno avanço em técnicas. O que estamos tocando adiante
com relativa coragem, ainda é a tentativa de se avançar em teorias, de se repensar as
artes.

No que andamos bem devagarzinho.

A consolidação porém da indústria cinematográfica, o desenvolvimento das redes de


TV, o caminho seguro que a música encontrou como show, espetáculo, o universo
reduzido ao alcance do microcomputador e de seus textos específicos, deixaram-
nos perguntando que futuro temos. A característica de toda essa indústria moderna do
texto é a de uma tessitura rápida , ágil, que o teatro – apesar de Beckett ou Koltès, por
exemplo – insiste em deixar de lado. Nossa melhor e sem dúvida mais moderna forma
textual tem sido relegada, em nome de uma isonomia de duração com os shows de
bandas, os filmes, ou uma sentada em casa na frente da telinha de TV.O Jornal moderno
é talvez o melhor modelo dessa outra escrita, tanto que nele muitos foram beber, como
nosso Nelson Rodrigues.
A questão é: dá para competir?

Enquanto a maioria das formas de espetáculo modernas, ou de textos modernos, insistem


numa participação do público, nós insistimos em deixa-lo ali, paradão.

De preferência de boca aberta, pasmo, siderado com nossos truques de mágica.

Penso que perdemos o público.

O problema pode ser posto assim também: pense que no último festival, no dia em que se
encenava Tenessee Willians, com uma ” companhia de fora”, com uma atriz chamativa
como a Leona , isso conseguiu reunir apenas 200 , dentre os atores, produtores,
cenógrafos, figurinistas, diretores, estudantes de teatro recifenses e alguns curiosos fora
da classe teatral.

Na mesma hora, 25 mil pessoas se acotovelavam, cantavam ,riam, enraiveciam-se,


gritavam, xingavam a mãe do juiz no Arruda.

Esse o problema

Perdemos o público.Transformamos nossa longa história numa artezinha de província,


de beirada, de morro, amada e admirada pelas 5 ruelas ao redor, um artesanato sem
futuro, com todos carniceiros das ciências sociais e humanas já colocando o bico para
cima de nós para nos transformar em objeto de cultura narrada, aquela de seus
livros também sem público.

O público jovem que foi recapturado em parte pelo Cinderela, num esforço de 5 anos,
voltou para seus bares, suas bandas, seus classic-halls provincianos.
Resta o povão?

Mas esse nosso povão nunca botou mesmo os pés em nossas salas.

E nem porá, enquanto nos mantivermos atolados no passado de nossa arte, na grandeza
grandiloquente de nossas falações – essa minha aqui é uma delas, senhores , eu sei bem
disso, mas isso aqui felizmente participa, mas NÂO é teatro. E ainda bem que não estamos
há 4 anos atrás, antes da virada do século, senão tudo o que penso ficaria assim meio
spleen, meio decadente, meio fin de siècle.

Ou reacionário.

Ora reacionário é se deixar virar meia página os 2.500 anos de nossa história.

Olhar de frente nosso público e dizer: não temos mais o que dizer para vocês, o que
dialogar com vocês a não ser nosso velho papo surrado de que temos que dar um jeito de
combater os deuses, hoje e sempre. Talvez essa seja uma boa reação a essa modorra, esse
abandono, ao qual nos deixamos relegar, do meio do século XX para cá, no meio de tanto
show de milhão, tanto apagão de cinema,tanto hipertexto, tanta realidade micro e pouco
virtual, tanto bar, tanto mar,

tanto mar.
Essa preocupação acima não é só minha.

É resultado de conversas com muitas pessoas mais novas e confesso que não conseguí
convencê-las de que o teatro valia a pena em si,que era mais educativo, mais profundo e
que era melhor que a maioria dos shows que andam por aí e que o problema da falta de
público e de verba era que o teatro não estava oferecendo nada mais interessante que uma
contemplação.

E coisas antiquadas na maioria e mal apresentadas para nosso tempo.


Camilla, por exemplo, já passou dos 20 anos e NUNCA botou o pé num teatro. Como diz,
defendendo-se em parte, para quê me chatear a noite toda com uma história de freira
ensandecida que nem sabe a quem azarou e que conta isso numa linguagem com cheiro
antigo de censuras e histórias de convento, boas para bisavó e tais, quando posso
estar cantando e pulando num baile funk , ou dançando num show de rock ou papeando
num bar?

Eu pensava que o problema dela era apenas o de uma menina que não teve boa educação
cultural. Depois e hoje , parece-me algo bem mais grave para o teatro e artes em geral
e bem mais difícil de se nomear. O ponto de culpabilidade talvez não esteja lá aonde
insistimos, com certa facilidade, em dizer que ele está: a má educação de nossa gente.
Acho que perdi o papo.

Não consegui convencer ninguém que a gente ainda está vivo e que possa valer algo
diferenciado em relação a esses outros produtos dos mídias.

Talvez seja porque o teatro, em significativa maioria, achou um pequeno espaço para sí e
aí se agasalhou confortavelmente. Achou seu cantinho, sua região permitida, como todo
bom regionalismo.

Parece-me no entanto que isso é simples decorrência do sistema em que estamos


pensando.

Mas que sei eu dessas épocas, em que a antigona UNE agora só faz bienais, e que tem
Ariano Suassuna como convidado especial? …

Geléia Geral ainda é a coisa mais nova que anda acontecendo?


ÍVANA,

( gostou do acento russo? )

TOU BOLANDO COISAS AQUI PARA TAL COLUNA,

JÁ QUE ELA É BEM MAIOR QUE MINHA SABEDORIA.


Conversei com um bando de gente nesses dias e tive a idéia de ter dois blocos na
coluna:

• um dedicado ao velho e bom teatrão, isso é: as peças daqui, das


companhias daqui.
• Outro, dedicado aos novos , à experimentação, às pequenas coisas que passam
rápido mas podem ser germes do melhor depois. O teatro de Elias, vide O
Gran Vizir,de Vivi, vide Giulietta in stress, Heron, vide A Terceira Margem e
mais alguns novos que andam por aí e que estão começando agora sua direção.
Acho que mesmo que passem poucas vèzes, esporadicamente, com temporadas
pequeniníssimas, merecem nossa atenção e a de nosso público do DP.

Afinal foi assim que nasceram Antônios, Carlos Bartô, Dennis e tantos outros do
teatrão daqui, não?

Muitos acharam legal a idéia de dar um certo espaço a esses pequenos.

Não tão importante quanto o dos outros que estão em temporada regular, mas com o
mesmo carinho e cuidado como se fôseem eles os grandes.

Pois serão.

Bem, mesmo assim, acho que ainda me restará um bocado de papel a preencher.

Na medida em que a coisa for pegando rumo a coluna vai se ajeitando e criando uma
face também. Mas acho que talvez ela não devesse se restringir às artes cênicas, pois
há tempos maus, bicudos e com muita coisa ruim…e aí até o jornal sai ruim, não é
mesmo?

A coluna poderia ir incluindo devagar as artes plásticas também – afinal sou curador
de um monte de exposições e dou aulas para esse povo.

Poderia ter quadrinhos internos- exclusivos dela. Conheço muitos NOVOS e bons que
dariam a alma para aparecer num canto desses…

Sei lá.

Algo assim como um espaço experimental para todomundo, e eu seria só o catalisador


dessa coisa toda. Evidente , seria o censor e curador. Para não perder a qualidade.

Tou aqui meditando.

Enquanto isso, e sabendo qua acoluna anda manca pois faltam mais umas 90 linhas,
pensei em fazer uma coisa que fazia na paraíba. Isso é: colocar de vez em quando
reflexões para o povo da classe ou o povo em geral interessado em artes cênicas.

É coisa que fica tododia martelando em minha cabeça pelo fato de eu me meter nisso e
ainda por cima dar aulas disso.
Acho-me obrigado a pensar largo, no sistema como um todo e não só no pequeno
circuito da circulação de uma arte
Tentei falar com Vivi e Leda para me passarem material sobre Giulietta,

pois tem fotos e a peça

volta a cartaz logo logo, possivelmente no circuito do Sesc.

Seguem esses textos.

Como coisas que podem aparecer na coluna,.

Mas que por enquanto servem para o que servem, ok?

A não ser que vc ache que a coluna já pode ir tendo esse tipo de figura.

Beijos pois o melhor é conversarmos

michelotto

MEIA SOLA
p.michelotto

Dramaturgia
A peça data dos anos 70.

Já que ninguém mais se lembra, é bom dizer que eram tempos embaçados.

Economistas desaforados- vide Bob Fields, Simonsen, Delfin, todos felizmente


falecidos – juntaram-se com alguns militares e a CIA para salvar a pátria, a
mátria e a filharada brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu; e,
quiçá também na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia. Tudo para
nos conduzir a um futuro econômico feliz e sorridente, tropeçante aqui e ali em
falta de gasolina nos fins de semana e outras coisinhas que todos felizmente
esquecemos.

Esse futuro já começou para a Argentina e vive nos devorando.

Enquanto a economia sorria, a Cultura, sorry, ia levando, que a gente vai


levando, que a gente vai levando…

As artes cênicas, curiosamente tiverem um certo boom de dramaturgos. Plínio,


Leilah, Vianinha e outros. Mas a maioria mais ou menos. Menos, em verdade.
Porque era mais fácil identificar o atraso, portanto, criticar. Porque, além,
pesava a censura, pesava a burrice geral, pesava a agonia de todos nós não
sabermos como e quando aquilo tudo, aquele pesadelo todo, teria um fim e
poderíamos falar o que quiséssemos falar, inclusive ser contra- sem o risco de
perdermos a virgindade em paus de arara.
Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao lado do
general E.G.Médici. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética
e de escritura politicamente corretos, à esquerda, claro. Zombava das meninas de
comunicação da Puc com suas sandálias e calcanhares sujos. Escrevia odisséias aos
deuses negros de nossa seleção de futebol. Ele disse e ninguém jamais conseguiu
provar o contrário, que era necessário conhecer profundamente a cultura grega para
se escrever uma coluna sobre futebol. Esse senhor reacionário foi o nosso maior
dramaturgo. Nelson Rodrigues.

Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa família


e transfigurava em seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia. Sabia
tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de Enéas Álvares- mas que merece
ser lembrado para se criticar essa onda de textos ruins que andam assombrando
nossos palcos.

Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

É a isso que nomeamos falta de carpintaria.

O público às vezes julga que o crítico está meio birrento, dormiu mal ou está com
inveja- porque diz que uma dramaturgia é ruim, quando a maioria achou bem legal.

O que dizemos é apenas isso: não serve para palco, complica a vida de todo mundo,
faz atores, diretores, cenógrafos se danarem para resolver passagens de cena;
quando não, pior, para encontrar a significação e necessidade de algumas delas.

O maior estrago que um mau dramaturgo faz é o de acabarmos achando um produto


bom, apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo disso.

Como se corrige isso? Com livre, e bastante, informação.

Para isso também é que críticos escrevem . Somos um pedacinho dessa coisa toda.
Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

O que não justifica parte de seu comportamento político.

Mas o que ninguém quer lembrar também é que seu filho caiu, e que esse mesmo
senhor reacionário fez coisas que muito cardeal ou muita denominação religiosa ou
civil, não fez por presos políticos. Mas era reacionário. Reagia contra tudo que
achava burro, mesmo ficando do lado da maioria às vezes. E se deu o direito de
errar. E, pelo menos em teatro, de acertar também. E muito. Foi,
incontestavelmente, o maior de todos nós.
O maior mérito de Meia Sola é certamente esse, solidário.

O autor optou por uma cenarização forte, rodrigueana. Quando isso era o que as
cabeças pensantes e oponentes odiavam. O regime, claro, gostava – dizem .
Mas quem disse que regimes militares de exceção pensam?

Os bem pensantes do regime nem suspeitavam que aquilo, provavelmente, corroeria


mais o sistema que qualquer aparelho de esquerda.
Mas pára aí.

Não tem o dedo mindinho de grandeza de um Nelson. Além de ter uma péssima
carpintaria dramatúrgica- que obriga um encenador como A.Cadengue a cometer 15
black-outs!

Estamos aí comemorando os 13 anos de sua Companhia e sabemos bem que só fez


isso porque a escritura é um desastre, quer ser mais literária que cênica.

O que não justifica…


Direção, cenografia, figurino.

O que não justifica a direção.

A última cena, por exemplo, resolve cruzamentos de ação, colocando uma mais
acima, por sobre a mesa; a outra, num plano mais à frente.

A cena rodrigueana da mãe Lúcia Machado vestida de noiva, com o filho André
Brasileiro, ocupando , nesse conjunto, o primeiro plano. Pois é isso aí certamente a
indicação cadengueana: o que há de rodrigueano em Meia Sola salva-se, pode dar
uma cena consistente. O resto é lixo e bobagem – essa última indicação minha,
claro.

Antônio Cadengue está com a tesoura na mão, mas pela primeira vez, com os
dedos vacilantes.

A cenografia pode parecer prática mas tem coisas que não me agradam como
solução: aquelas descidas. Pro fundo dos infernos, tudo bem, é essa a idéia , meio de
subsolo, porões quase. Lembram-se de que a mulher de André, Cida, nem quer que
se limpe a coisa lá embaixo? Uma idéia tão enorme e tão desperdiçada pelo autor.

Talvez essa a razão de não se poder sair simplesmente pelas laterais.

Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída, acrescentada aos black-
outs freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser
ágil, pela própria intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.
Não sei ainda porque o povo gosta tanto de rir de palavrões e de violências ou
desrespeito humano. Chame-se a empregada de negrinha, e tá lá o público rindo.Às
vezes penso que Meia Sola arrisca ser politicamente incorreta. Não sei se reserva
um texto violento para falar de bichas e empregadinhas, por reforçar uma idéia de
nosso inconsciente e depois nos remeter a nós mesmos, à nossa própria consciência
falha- o que seria um caminho reconhecido desde os gregos, que tanto Nelson
amava.Ou se por preconceito também.
Nos anos 70 as coisas todas não andam muito claras e não valia tanto a pena nem ser
bichinha gay nem empregadinha negra doméstica. Cansei de ser barrado em porta
de boates de Juiz de Fora, aquela saudável cidadezinha intelectual de onde veio o
Itamar Franco e os Penido Burnier todos , por tentar entrar nelas com meus amigos
negros.Era proibido.

Por quê suspeito do autor?

Porque o final é francamente absurdo. Não há lógica correta naquilo tudo.


Assassinatos, prisões, uma apoteose tipo Madame Buterfly para o filho gay, que
nada fez para merecer dramaturgicamente o título final de Rainha da Pensão de
Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha recôndita e
assustada. E que vivia numa casa de bichas recônditas, como o soldado e o jovem
que lhe pede um prato de comida. Com casais falsamente normais e prostitutas
problemáticas. Enfim, a finalista vai abrir a pensão para quem, se toda a récua da
espécie humana já tava lá dentro?

Só ela e o autor é que não perceberam isso.


Resta-me supor que se não foi preconceito, foi por má redação.Talvez isso.

Mas talvez também por que fosse moda- e isso vem das amaldiçoadas, por Nelson,
esquerdas – que os pobres ganhassem no final. Bem, a bicha acantonada em casa
talvez merecesse essa palma, por ser certamente uma das categorias mais
perseguidas, e por esquerdas e por direitas de época. Merecia um pouco de glória
pela história real dos povos brasileiros.Mas nem tanta, se pensarmos na composição
lógica do conjunto de personagens.

André Brasileiro e Lúcia mereceram – dramaturgicamente – ficar ali em primeiro


plano.

É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo!
Cada autor escreve o que quer.

Cada diretor dirige o que quer.

Cada ator trabalha na peça que quiser etc

.E cada crítico escreve como melhor puder para seu público.

O meu é, você, um público leitor de jornais. E que quer ter uma idéia do que vai
enfrentar durante uma hora e meia, se você paga antes de entrar…
Vai enfrentar um texto de soluções teatrais dramatúrgicas ruins, mas que pode lhe
lembrar as velhas comédias de empregadinhas, bichas. Tudo num tom
miseravelmente desesperançado.

O riso apenas nos engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças. O que me parece bem posto na mise-en-abîme daquele constante
olhar para si mesmo e suas próprias feridas- criado em palco por aquele montão de
espelhos. Elemento de cenografia bene trovato.

Talvez apenas tentemos nos rever nas imagens gastas duma dramaturgia setentona.

Espero que a moda não pegue.

Temo, pois o Projeto original anuncia Peças Para a Família.

Será que voltaremos, culturalmente, ao teatro de miserê familiar, do oprimido na


pior acepção do termo, do pobretão visto pela classe média; breve, àquele tempinho
ruim todo- como dizia Nelson com palavras bem mais sublimes que as minhas?…

O figurino precioso de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que


vai dos tecidos aos fios – é comum na Companhia do Séraphin. Mas, uma vez ou
outra, me pareceu um tom errado. Vide Senhora dos Afogados.

Em Meia Sola esse figurino, dessa vez díspar, anunciaria o novo caminho dos
Séraphins, de volta à marginalia , à pobreza e desgraça geral em palco, beirando ao
realismo soviético, mas agora finalmente recoberta de ouro e cuidados?

Isso não seria finalmente um espelho da esperança que anda sendo prometida por aí
para a pobreza, por parte de alguns daqueles que batalharam por mudanças nos anos
70?

Para que andamos, finalmente, tanto então?

O Programa da peça parece anunciar um certo niilismo estético e ideológico, que


poderia enfrentar falsas esperanças. Mas, eu pelo menos, não o vi se concretizar em
palco.

Vi os espelhos. As roupas ricas. O cenário bem acabado, com estofados vermelhos


e nobres mesas pesadas. Um texto pobre. Uma ideologia mal costurada. Uma falsa
pobreza que me assusta. Pois já a vi, em todos discursos de Dirceu e outros tantos,
nos tempos em que nos reuníamos em Ibiúna e os militares nos colhiam como se
colhem frutos maduros.

Quanta burrice, não, meus antigos colegas?


O autor tem um texto dúbio, porque mal pensado e de uma opção estética que,
certamente ao frigir dos ovos, nada tem a ver com Nelson Rodrigues. Toda opção
estética é uma opção política, pois não?

O fato de ser contra, reacionário, nunca elevou ninguém à grandeza e preciosidade


do pensamento e da escritura daquele gênio.

BOTA MEIA SOLA NESSA SAPATILHA AÌ

paulo_michelotto@uol.com.br

Dramaturgia
O autor de Meia Sola optou por uma cenarização forte, puxada para uma
causalidade mais psicológica

que social. Opção estética e política que o regime, claro, gostava – dizem . Mas
quem disse que regimes

militares de exceção pensam? Tanto os bem pensantes do regime , quanto os contra ,


nem suspeitavam

que aquilo, provavelmente, corroeria mais o sistema que qualquer aparelho de


esquerda. Mas pára aí.

A peça tem uma carpintaria teatral tão ruim- que obriga um encenador como
A.Cadengue a

cometer 15 black-outs!

Ou seria problema de direção mesmo esse amor pela escuridão?

Consistência dramática

A penúltima cena tem uma solução ótima para mudanças de ação e


personagens.Temos os

mesmos dois planos, invertidos aqui por Cadengue, que já vimos na montagem de
Vestido de Noiva,

inauguradora do moderno teatro brasileiro. A cena da mãe Lúcia Machado vestida


de noiva, com o filho

André Brasileiro, ocupando, nesse conjunto, o primeiro plano, é Nelson Rodrigues


puro. Aí temos
certamente uma boa indicação de Cadengue: o que há de rodrigueano em Meia Sola
salva-se, pode dar

uma cena consistente.

Cenografia
A cenografia tem umas descidas. Pro fundo dos infernos, é essa a idéia , meio de
subsolo, quase

porões, a coisa que mais proliferou em nossos anos 70. Lembram-se de que a
mulher de André, Cida,

nem quer que se limpe a coisa lá embaixo? Talvez essa a razão de não se poder sair
simplesmente

pelas laterais. Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída,
acrescentada aos black-outs

freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser ágil,
pela própria

intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.

Tudo num tom miseravelmente desesperançado.

O riso fácil tirado de palavrões e tratamentos politicamente incorretos apenas nos


engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças.

O que me parece bem indicado na mise-en-abîme daquele constante olhar para si


mesmo e suas próprias

feridas- criado em palco por aquele montão de espelhos. Elemento de cenografia


molto bene trovato.

Figurino
O figurino de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que vai dos
tecidos aos fios –

é uma marca registrada da Companhia do Séraphin. Entre o real do tecido chique


e design do sonho.
Estética do nada
O Programa da peça anuncia um certo niilismo estético e ideológico, que poderia
enfrentar falsas

esperanças, penso eu. Mas não o vi se concretizar em palco. Vi um texto pobre.


Uma ideologia mal

costurada. Uma falsa pobreza que me assusta.

Gran` Finale ma non tropo


Ao lermos o Programa da peça, achamos que A. Cadengue talvez queira marcar sua
distância com muita

coisa política que anda por aí. O que me parece justo e de direito. Mas isso não
ficou nada claro em Meia

Sola. Isso porque o desenlace da peça, tirada a cena citada de André e Lúcia, é
lamentável. É uma

apoteose para um filho gay, que nada fez para merecer dramaturgicamente o título
final de Rainha da

Pensão de Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha
recôndita e assustada.

Vivendo numa casa de bichas recônditas. Então, a superpoderosa vai abrir a pensão
para quem, se toda

a récua da espécie humana já tava lá dentro? Dito isso, lembro, Hilton Azevedo
segura bem seu

personagem ao longo da peça. O número crescente de denominações protestantes


provavelmente não

apreciará muito aquela Bíblia em suas mãos. Mas tem que ser assim...

O 160
A bicha acantonada em casa não merece essa bola toda, se pensarmos na
composição lógica do conjunto

de personagens. André Brasileiro e LúciaMachado deveriam permanecer–


dramaturgicamente – ali, em
primeiro plano Isso é, como gran finale. É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo.

BOTA MEIA SOLA NA BOTA!


paulo_michelotto@uol.com.br

1. Uma meia sola só não dá.

2. Para se entender corretamente Meia Sola, temos que fazer um gigantesco


flash-back.

3. Especialmente se estamos assistindo à presente montagem da Companhia


do Sèraphin e

à lamentável Bienal da

UNE en que o convidado especial palestrante é o cara que ficou Secretário de


Cultura imposto pela

Revolução de 1

de abril de 64 e que nunca escondeu seu ódio pela guitarra e pelas esquerdas.

Essa UNE é do do palhaço doi Dirceu que nos entregou em Ibiuna.

Quem esteve lá sabe.Por isso seu convidao hoje é ariano.Vergonha!

4. Se me permitirem, remendarei tudo com duas meias-solas.

5. Uma que foi a história e o solo aonde esse sapato se desgastou.Os


incompreensíveis Anos 70.

6. Assunto dessa quinta-feira.

7. Outra, o solo aonde A. Cadengue e o Séraphin tentaram caminhar com


nossas esperança:

8. o palco e a cena recifense. Assunto de nossa próxima coluna.

9.

10. A meia sola que colaremos hoje.


11. Nessa semana que passou tivemos a honra de sediar em Recife um dos
dinossauros

dos anos 70, a UNE.

12. Oh não aquela UNE guerreira, que nada! os tempos felizmente mudaram. A
UNE promove

agora bienais! Blz!

Mostras de Arte! Blz! Palestras! Blz!

13. A arte finalmente substituiu a vida. Blz!

14. Se você tentou participar já viu que a desorganização, desde os anos 70,
continua a mesma.

15. Se você achou que o povão estudantil estava lá para artes plásticas ou
cênicas, errou.

16. Tava para o que sempre esteve: papear. O que é saudável.

17. Tanto que nessa quinta também falarei menos de teatro para papear um
pouco mais. Posso?

18.

19. Ou a UNE se Raoni ou a UNE se Sting… (obrigado Leminski)

20. 3 coisas me espantaram na recente UNE e sua direção:

21. Continua usando a arte como pretexto para juntar gente, a primeira.

22. Prefere, hoje, uma boa conferência a uma boa troca de idéias, a segunda.

23. E finalmente, creio, é o maior convescote de reggueiros e esfumaçados da


época moderna.

24. O que não bate nada com a estética pessoal de Ariano, que é mais chegada a
uma rabeca

e a uma medievalização cultural , não é mesmo?

25. Mas você viu o tamanho da fila dos estudantes unidos e os empurrões e
cotoveladas para

se ouvir sua aula-show?

Doideira, meu!!!
26.

A UNE antigona era medéia mas cheia de alianças nos dedos.

27. Na nossa Idade Média brasileira, economistas desaforados- Bob Fields,


Simonsen,

Delfin – juntaram-se com alguns militares e a CIA, para salvar a pátria, a mátria e a
filharada

brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu;

28. e, quiçá também, na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia.

29. Tudo para nos conduzir a um futuro econômico esperançoso.

30. Que já chegou para a Argentina e cruzamos os dedos para que não nos
atinja.

Quem ainda os tem.

Nelson e tudo isso.


31. Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao
lado

do general E.G.Médici.

32. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética e de


escritura

politicamente corretos, à esquerda, claro.

33. Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa

família e transfiguravaem seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia.

34. Esse senhor reacionário chamava-se Nelson Rodrigues.

O Brasil da UNE de antanho NÂO GOSTAVA de


Nelson Rodrigues
35. Apesar de Nelson saber tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de
Enéas Álvares.

36. Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.


37. Não servem para palco, complicam a vida de todo mundo, fazem atores,
diretores, cenógrafos se

danarem para resolver passagens de cena; quando não, pior, para encontrar a
significação e necessidade

de algumas delas.

38. Mesmo que você tenha gostado da história, sem carpintaria ela é péssima
para a arte e para o

teatro, entende?

39. Mas o pior estrago que um mau dramaturgo faz é o do público acabar
achando um produto bom,

apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

40. Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo
disso também.

41. Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

42. O que não justifica, claro, parte de seu comportamento político.

43. A verdade é que não gostávamos dele por ambas razões: por seu comportamento
e pelo que conseguia

ver além de nós.

44. O que ninguém quer lembrar porém é que seu filho caiu. E esse reacionário
fez coisas que muito

cardeal ou muita denominação religiosa ou civil, não fez por presos políticos.

45. Foi, incontestavelmente, o maior de todos nós, mesmo que Sete Gatinhos
jamais venha a passar

no cinema privativo da presidência, a última novidade daquele fim de mundo que é o


Planalto Central.

46. E a Meia Sola de A.CADENGUE?

47. AC nos obriga a repensar a palavra mais usada por políticos durante os anos 70:

Esperança.

48. No epicentro do teatro de Nelson. E caindo pelas beiradas de sua Meia-Sola


49. Mas isso fica para a próxima quinta, pois minha grade aqui se fechou.

Meia Sola nas Esperanças e seus ministros assustadores

50. ESPERANÇA acabou sábado passado à noite. Meu neto gostou muito.Não
entendeu

aquele flash-back para frente final. Para dizer a verdade nem eu. Só sei que ele,
Lucas, é a 5a

geração de emigrantes italianos, e se seguir o destino de descendente de imigrante


pobre-

apesar da onda italiana da Globo- corre risco de viver pior que meu avô Mário.

51. E ainda tem ministro por aí, trabalhador, que culpa nordestinos pela fome no
país,

ó Ricardos IIIos!!!

52. “Renuncia! Renuncia! Renuncia!!”

53. (sugesta de Coriolano, Thomas Stearn Eliot- afinal essa é uma coluna de
artes cênicas, pois não?)

(a seguir na quinta que vem, se meu leitor assim o desejar)

Fofa íVANA,

1. AS LINHAS SÃO APENAS PARA EU PODER CALCULAR AONDE


TENHO QUE PARAR…

E OLHE LÁ QUE QUASE NÃO CONSIGO…CAEM FORA, PORTANTO!

2. Fiquei animado com o e-mail de um cara de Olinda. Acho que devemos


tentar por um

certo tempo o filão do texto meio alongado mesmo.

Também porque preciso tomar um pouco pé para manter as notas da coluna


em dia.

Estou ligando para o Sindicato e o pessoal todo que conheço para me manter
informado,

ou dizer o que precisa ou quer que saia.

Preciso de um ou dois meses para a coisa fluir bonitinha como programada.


Tenho esse tempo?

3. Bolei o texto para dois dias:

Um para uma introdução à esquerda, já que isso é essencial para a


compreensão

de Meia Sola.

Disse Antônio naquele dia e eu nisso concordo totalmente com ele.

Outro para meia sola propriamente dita. Que resumirei ao máximo, menos que
essas

50 linhas, para dar espaço bom para fotos e coisas tais que dão uma maior
leveza e

maior informação à coluna.

4. Cortei o mais que pude a looooonguésima introdução.

Mantive mais ou menos dentro das 50 linhas.

Acho que essa será uma coluna de luto. Espero que apenas essa.

Continuo achando que vale a pena tentar alguma coisa mais politizante,

mesmo que o texto tenha que se esticar por dois dias.

Posso experimentar uma vez ou outra assim?

5. Se eu não for provocativo, não sei bem qual será meu futuro.

Se eu for provocativo talvez meus dias estejam contados,

mas certamente terei sido fiel aos meus leitores.

Que esperam de mim algo assim.

Pois sou assim.

6. Diga o que acha pois vc é meu guia.

Mas se precisar de mais cortes, não se vexe.

Você já deve ter visto que sou bom para escrever como se estivesse falando…

isso é, corridamente.
E sou bom de tesoura também.

Apesar de ficar choramingando pelo que escrevi e mandei para o lixo.

Mas essa é que é a nossa profissão, e não outra.

7. Espero que você goste do que está aí em cima.

Eu gosto. Polly gosta.

Se vc gostar, o mundo inteiro irá gostar, não tenho dúvidas.

beijos.

Eu, Michelotto.

Tou pensando seriamente em cair fora da UOL por causa da grana.

O meu e’mail da UFPe é master é master@npd.ufpe.com

Não sei ainda fazer funcionar. O NPD é jurássico.

O meu hotmail é mickey_mauss@hotmail.com

Mickey é como me chamam na Universidade.

Mauss é em homenagem ao Marcel Mauss, antropólogo que escreveu o

ENSAIO SOBRE O DOM e que mudou toda minha antropologia.

Mickey Mauss é o Mickey que não é do Disney, policial bonzinho.

Sou eu, mauzão. Assim conhecido em todas as listas de anarquistas desse


país….

vão me ler, imagine!

Hehehehe.

mickey_mauss@hotmail.com

GIULLIETTA em entreato
Para não dizer que não falei de flores e
de coisas bárbaras.
Estar diante de um texto de Shakespeare é sempre um prazer. O homenzinho de
Stratford

escreve para teatro como poucos e, graças a deus, tem algo a nos dizer sobre a
natureza humana.

O que anda faltando a muito dramaturgo por aí. Falar de Shakespeare no Brasil é
impossível,

sem se falar na dama de ferro que deteve o controle de seu texto por 2 décadas pelo
menos,

Bárbara Heliodora. Por muito tempo não se viu Shakespeare, mas sim Bárbara. A
tradução

de Bárbara. Realmente bárbara. Felizmente joguei fora meu exemplar, para não cair
na tentação

de brindar-vos com alguns exemplos de frases ininfaláveis e incompreensíveis em


palco.

De verso antigo aquela coisa, por alguma freudiana perversão invertendo, da


frase toda a ordem

… `só para fazer bonito!`. Intragável. Tradução literal, esse o nome da bobagem.

Quem tem medo de Bárbara ?


Recentemente porém a mesma Bárbara tem refeito o trabalho e a coisa tem
melhorado.

Mas ainda deve bastante ao palco, o que era a maior marca de Shakespeare.Perdeu o
pé.

Enferrujou. Talvez porque passou tantos anos a só escrever crítica teatral – essa
coisinha aqui

de 70 toques por 50linhas em estilo para gente apressada. Gente que nem você e eu,
que não

tem mais tempo de ler um James Joyce inteiro, o que não é nada mau. Oh crime!
Diria meu colega

de literatura. Mas quem já leu Ulisses inteiro a não ser ele e eu?
Romeu e Julieta é um desses textos em que Bárbara tentou, e até conseguiu
melhorar sua própria

marca, claro. Mas nada mais que isso.

Sua crítica porém é algo vigoroso. Não deixa passar nada, numa cruzada moderna a
favor de um

teatro melhor. E nisso ela é magnífica.È verdade que nenhum de nós tem muito claro
hoje em dia

a nossa estrita função de crítico, além daquela que é o exercício constante do texto.
Somos mais

escritores e paladinos da liberdade, que defensores de alguma forma de teatro. Pois


toda forma de

teatro é mera encarnação temporal, é mero tijolo nessa parede que vai nos trancando,
diziam os

Pink Floyd. Toda cultura nada mais é que um monumento à barbárie. Dizia o Walter
Benjamin,

se você prefere alguém mais da pesada..

Iso 2002

Se você quiser ver algo profundamente shakespereano, e um texto cuidadoso,


aproveite para

assistir sexta feira, 21 de fevereiro, no Teatro do Sesc de Casa Amarela, às 20


horas,

à encenação de Giullietta em entreato.

Direção de Viviane Barbosa, com Leda Santos como Giullietta e Jorge de Paula
como Mercúcio.

É isso aí, Romeu nem aparece, já pensou?! O original é Giullietta in stress, de


autoria

compartilhada entre Erik Hallberg e esse seu crítico implacável com textos ruins.

Não tá com nada

Aproveite, então, para poder dizer: michelotto não tá com nada! Vai ser difícil,
aposto. No ano
passado você viu três pequenos trabalhos meus em cena em recife: Porque os
teatros estão

vazios, em parceria com K.Valentim, n uma bela encenação de Roberto Lúcio e um


show de

interpretação de Fátima, Paula Francinete, Rejane Arruda.Você viu Mistério Bufo,


em parceria

com Dario Fó, dirigido por Marcondes Lima com um excelente elenco além do
delicado trabalho

de Augusta Ferraz. E você viu também O Grande Vizir, de parceira minha com
Obaldia, na

direção de Elias Mouret , com o trio magnífico, Amanda , Viviane e Lane.

Não vi ninguém reclamar de nenhum deles. Pelo contrário.

O que vem por aí O que vem por aí…

Eu falei alguns nomes ainda recentes em direção, como Elias Mouret , Viviane
Barbosa, Heron

Vilar, Marcondes Lima. Recente ou iniciantes, quer dizer com menos de 10 anos de
palco.

Algumas atrizes e atores iniciantes, como Amanda, Viviane, Lane, Lêda Santos,
Ritinha,

Marcelinho, Galeana, Maria de Fátima, Jorge de Paula, Rodrigo. É uma fornada


recente da

universidade.Ainda voltarei a falar deles. Pois creio que um novo teatro pode estar
nascendo daí.

Lêda Santos- não confundir com Jommard Muniz de saia que é a Leda Alves-

é uma esplêndida atriz, porém chorona pois fica aqui me pedindo para dizer

que ela é a maior atriz pernambucana depois de geninha Rosa Borges, que na

opinião da própio Ledinha, está um canhão horrível e dessa vez é a vez dela…..

1. Ô mulé dá uma pena 2.2. Jason Walace e seus companheiros de jornada


são inestimáveis para nosso teatro.

3. Certamente virá alguém depois de mim que lhes prestará as devidas honras.
4. São da nobre linhagem do Vivencial Diversiones.

5. São o renascimento do teatro popular e da Commedia dell´Arte aqui.

6. A diferença é que conseguiram realizar o sonho que todas vivecas tinham.

7. O modelo dessa peça porém não me agrada em nada. Está descosturado.

8. Parece feita nas coxas. Tá muito em cima de A praça é nossa.

9. Sei bem que comigo havia outras 599 pessoas. E se divertiam.E isso é muito
bom.

10. Mas por favor, Jason, vocês são bem maiores do que isso. São profissionais.

11. Continuem fazendo crescer o público que conquistaram sozinhos a duras


penas.

12. Vocês são o nosso sonho. Vocês são a experimentação e o público


participando.

13. Não nos abandonem por um esquema apenas comercial, pleeeeeease, ô mulé
dá uma pena!!!

14. EM TEMPO: Vou tentar entrevistar Jason…Eu também quero o público dele
hehehe..
15. Folhetos. Cia de Dança16. Acho que não dá para se atrasar 30 minutos.

17. Querem que o público desligue celulares, mas se lixam para nosso tempo e
horário.

18. Foi prometido, por anúncio viva-voce, que “se aliaria o teatro à dança.”

19. Não tenho a menor idéia do que se quer informar com isso.

20. Uma vez que essa unidade vai do balé clássico ao show de rock, passando
pelos musicais todos..

21. Lago dos Cisnes, Copélia, Pink Floyd têm um grand-jeté pousando suave na
arte cênica. Ou não?!

22. Estou horrorizado com a comissão julgadora desse janeiro de espetáculos.


Aliás, com todas.

23. “ Reuniu-se uma comissão para se julgar os Volscos.

24. Outra comissão para julgar a comissão “ etc…Eliot, mais uma vez, em
Coriolano.
25. Ou nunca o lemos ou nunca aprendemos nada. Folhetos como o melhor
espetáculo?!

26. Folhetos é um desencontro na interminável trilha rural do armorialismo.

27. Já que também é teatro, posso dizer também que prefiro Ô mulé dá uma
pena 2…

28. A menina que dança Maria Bethânia, com h, é mais comovente.

29. A maioria das meninas que dançam aquela boneca de pano, dança melhor.

30. O povo ao vivo não é melhor que qualquer teoria ou grupo filosofando sobre
o povo?

31. É o que posso dizer por hoje.

32. EM TEMPO: não me corrijam aí na Redação a concordância de maioria.

33. É um vocábulo, no meu entender,da mesma ordem lógica que porcentagens


etc.

34. Sei que virou moda até na Globo se dizer “80% erram.”

35. Só porque 80 inclui a idéia de muitos.

36. Mas você jamais verá Ariano, Arraes ou eu dizer: o povo são burros.

37. Pelo fato de o povo conter alguns milhões de pessoas.

38. E você sabe bem que Cáfilas e Récuas também não saem por aí se
pluralizando. Graças a deus.
39.
40. Nesse sábado vou assistir Os Pesadelos de Martha Stewart. Antes
que vá para o Rio.41. Dá-se numa piscina seca em Olinda.
No Alto da Sé, lotação de 25 pessoas, Sábado, 20h.

42. Reserve sua entrada, senão não cabe, pelo 99651628

43. “… O espectador tira as conclusões que quiser, se quiser.

44. Para mim, é a libertação do meu ator.

45. O diretor saiu de cena, o cenário não existe.

46. O ator volta a ser o dono da brincadeira e não esconde sua mágica”.

47. Não perco por nada.


NB : tá com 50 linhas, mas tem espaço pra cacêta.

O QU8E ESTÁ EM VERMELHO PODE IR PARA O CORTE.

PÔ, MAS QUE PENINHA!!!

Dá bem menos que 50 linhas, ligando tudo.

Separei só para contar as linhas , ok???

Beijos no paginador também, pelo mico que paga comigo.

Eu, Mickey_mauss

EM TEMPO:

PORQUE NÃO ME DÃO UMACOLUNA duas vezes por semana????

Uma pesada, 5o linhas no blá blá e na filosofia. A outra bem levinha. Só com curtas.
Do tipo que está aí em cima ( que ainda dá para enxugar, claro, pois curta é mais
fácil de cortar. Pelo menos para mim.)

È isso aí…eu tenho matéria para tanto e nem me canso uhuhuhuhu!!!

Vou te mandar mais uns pedaços de coluna

só para voce ver que toyu com a cabeça a mil.

Pergunta aí para os editores chefe

Kssssssssss

Maussssssssssss

1 SOBRE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA2 ( devidamente


traduzido para o português, claro!)

4 Eu disse que a dramaturgia anda ruim.

5 Vou lhe oferecer hoje alguns exemplares para você se horripilar.

6 Porque michelotto mata a cobra e mostra o paulo- diz o Hilton Azevedo.

7 Vamos revisar o site The Dramatic Exchange. www.dramaticexchange.com


8 De onde tirei, por sinal, o Hallberg e seu Balcony, meu Giullietta in stress.

9 Vejamos algumas sinopses.

10 This is a play I decided to write after watching “Sex in the City,” for the first
time.

11 I felt that it was bringing out the wrong message in relationships. (20
Questions by J. L. McBride) O negócio é a right message!

12 A Wildwood Reunion by Jonathan Calindas…. ” is a play about how


someone’s years

13 in college changes someone.” Que coisa mais interessante foin nossa vida
no colégio Marista, né não!.

14 Central Park Freak Show by Wilson White F. Fran Tinker was a rising
executive when her legs were amputated after an accident two years earlier. Badly
shocked, I´m shocked too! CHAMAR UM CREEPLE DE FREAK, DJÎSAS!!!

15 Dancing at the Revolution by Michael Bettencourt, is based on the two years


Emma Goldman spent in the federal prison at Jefferson City, MO, after her
conviction, along with her life-long companion Alexander Berkman, for conspiracy
to advise people to resist the draft during the First World War (then known as the
Great War).Numa Jaula?

16 Eleanor by Mark Brownell A comic monologue about a Catholic school


girl..VIXE!!!

17 Hannah Elias by Nathan Ross Freeman…Turn-of-the-Century urban life


(1865-1906): a period of tremendous civil, humanitarian, political and revolutionary
activity etc etc Baseado no livro Sexo e Raça, do mesmo.

18 I Dream of Edna in a Light Green Dress by Bradley Hayward . Playlet, sex


farce.The key element in the set is the intercom. Without the intercom, the entire
realism is lost. A farce must be a believable exaggeration of events so the intercom
is a crucial set piece.

19 JULIET AND ROMEO A play in one act by Wayne Anthoney. “Romeo


and Juliet” is intended for secondary school students who have already studied the
original. PUF !!!

20 Look at Sandra Jane There by John Blais S Sandra Jane lies as if asleep
with heavenly dreams. In this undeveloped park, the three boys admire her state as
they wait to buy

21 the drug and join her. Tudo drogado, blz!


22 Party on Avenue “B” details the last evening in the lives of three of the six
characters involved in the play

23 The Clowns’ Macbeth by Wayne Anthoney It is a gross travesty of the real


“Macbeth” but I am quite certain that Shakespeare would have enjoyed it. Quite
certain, UÁU.

24 Tuba by Tommi Virhia . Synopsis: This elderly woman drinks liquour while
walking downtown to go into a jam session of the Town Jazz Festival.Never been in
jazz concerts before and dislikes music. On the way she helps a russian man,
….DJISAS !!!

25 Fique em casa!

26 Agora imagina o que não é a dramaturgia de língua latino americana recente.

27 Fica para a próxima. O site é o do CELIT, www.celit.com

TUDO NO TIMING & BUGIARIA

paulo_michelotto@uol.com.br

Sei porque antigos como eu e mais dois ou 3 velhotes de Recife vivem dizendo que
o texto, O TEXTO, é uma coisa boa que ainda vai ser retomada e ser revista e voltar
à cena com toda förça depois de sua derrocada fantástica com a modernidade. Claro
que estamos falando daquele texto que pode virar declamação, e não do texto
semiótico, senão nem teatro haveria, mas escuridão e mudez.

Tudo no Timing e sobretudo Bugiaria estão aí para ir contra tudo isso e continuar
impávidos e velozes rumo ao futuro que Marinetti nos prometeu. Marinetti?!. Sei
que meu público é o dos sentados no trono da sala e pensa, no nordeste, que
Marinetti é um önibus ou um pau de arara, mas um pouco de cultura culta maiúscula
não lhe fará mal. O Marinetti que cito não é o do Manifesto futurista apenas mas
sobretudo o de Gog e Magog- que aprendi a ler com meu velho pai.Acho que
ninguém mais o edita. Enfim, quem leu já viu Tudo no Timing e Bugiaria.

Isso não diminui em nada os dois.. Pelo contrário. Eu adoro Gog e Magog e amei os
dois espetáculos. Citei apenas para dar uma das linhas de continuidade histórica ao
que andamos fazendo.

Timing ( o nome completo está aí em cima) é todo zombaria com muito humor e
precisão. Os textos são muito muito muito bem escritos, do “Philipão” Glass que
quer comprar pão e sonho ao de Trotski zanzando pelo palco com uma picareta na
cabeça- tudo muito bom. Ëpa, contei uma gag! Mas isso é o de menos, pois o
importante aqui não é o que se fala,o tema, o assunto, a proposta, a ideologia, o
sentido profundamente literário e filosófico dos textos, mas como se os fala. Gerald
Thomas dixit. E é essa a corrente que se opös a todo teatrão de textão com
textinhos, ou usando o termo de Samuel Beckett, dramatículos. Ou Textículos.
Não precisa ser chegado a umas coisas dessas para ir ver Bugiaria ou Tudo no
Timing, mas simplesmente estar afinado com nosso tempo, com nosso timing, nossa
correria, nossa falta de sentido da vida graças a deus.

Ambos são mezzo musicais. Ambos zombam desbragadamente de tudo isso e de


todos nós.

Bem, em só um momento que Tudo no Timing escorrega e cai no discurso político,


pudera, o Abujamra está por trás de tudo isso.Mas eu assino em baixo da cena de
passagem do Apagão. Porque se há uma coisa sem-vergonha e safada e desonesta no
Brasil, não é a comédia, nem o melodrama , nem o rebolado, nem Geni.É Brasília e
esse Real Govërno de irreais merrecas.

Fé & faca amolada

Paulo Michelotto

1. Ontem, quinta-feira, no Teatro do Parque, tivemos a abertura quase solene do


IV Festival de Teatro Nacional do Recife.
2. Alguma coisa me fez lembra uma frase célebre “…na arte a gente (…) tem que
ter fé e faca amolada prá ir cortando também.” ( Antönio Cadengue,entrevista a
O Folhetim #11, já nas bancas. Plim-Plim!.)
3. Sei bem que já passaram os tempos áureos.
4. Neles, critica vinha do grego kritein– que significa cortar.
5. Se tivessse havido uma melhor crítica teatral certamente o teatro teria sido
melhor. É uma questão de fé, entendem? E de saudade de Isaac Gondim.
6. Voltando aos Gregos, não custa pensar que ainda hoje possamos reviver a
Grande Grécia em que uma economia esclavagista não impediu espíritos lúcidos
de criarem um grande teatro, aliás, O grande Teatro Ocidental – futuramente
citado como OTC.
7. Então, passemos a faca.
8. Mas , primeiro, meditemos sobre a fé.
9. Primeiro a fé das Otoridades Presentes que subiram ao palco…
10. Companheiros, finalmente o PT está demonstrando que esquerda se dá bem
com arte e que não nos persegue como cães vadios- como muita gente de bem já
afirmou.
11. Parabéns para o João Paulo, o primeiro prefeito dos Tempos Modernos que
comparece a um evento nosso sem haver vaias clamorosas..
12. Agora passemos a faca.
13. Só que não precisava subir em palco. É coisa provinciana, Coisa de político de
Brasiliawitch.
14. Como é coisa de planaltos a presença de um sujeito muito escalafuboso que
ficava no palco nos lembrando dos tempos da ditadura .
15. Saiu botando para correr um pobre fotógrafo. Um horror.
16. Aquele Manifesto também , perdoem-me, não devia ter sido lido..
17. Nossa tragédia não é a de sermos assassinados e haver impunidade.
18. Esse papo acaba no de segurança e daí para o de segurança nacional é só questão
de uma divisa a mais na farda.
19. Nossa tragédia é que nada aprendemos com Sófocles e seu Édipo: a continuar
procurando, mesmo após achar as causas.
20. Acho que só, no ramo Otoridade..
21. No ramo Programa, pouco se informa.
22. Parece que o público- O PÜBLICO ! – não quer saber de nomes de autores,
tradutores, diretores, cenógrafos, iluminadores, atores e outros etceteras, não é
mesmo?
23. .Afinal , quem são eles diante do grande OTC?
24. Ainda no item Programa, também não gostei daquele vermelho-beterraba ,
daqueles brocados e poses renascentistas do leiauti .E daquela única
Companhia de nossas Índias Ocidentais .
25. Sei não…
26. E finalmente, posso fazer uma pergunta? Há concorrência pública para se editar
cartazes etc e tal ?
27. Sei não.
28. Ah , sim a peça?
29. Não gostei.
30. O que não significa que vocë não deva ir e que não haja muita outra coisa por aí.

Prof . Artes Cënicas UFPe

Jornalista profissional (registro no MRT-JP)

Crítico de Teatro

Ivana, amor

Me dë retorno , ok?

O segundo é manso e só sobre a peça

Coloco aqui o início para teres uma idéia também:

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara.
4. Um monte de cacoetes não faz uma dramaturgia.
5. Porque não se lë mais Anouilh?
6. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
7. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
8. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
9. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
10. O figurino…… etc etc

SOU CHEGADO A UM MELODRAMA


”…No Recife há um resquício do rádioteatro, daí que por vëzes a cenas está antenada
coma a contemporaneidade, mas a prosódia está presa a um outro tempo, a um outro
lugar. “ ( Cadengue,entrevista a O Folhetim #11, p.118.)

O IV Festival de Teatro Nacional do Recife foi aberto nesta quinta-feira, com a peça O
MELODRAMA, texto produzido no processo de criação da Companhia _______

do Rio de Janeiro. Não sei se seria o melhor espetáculo para abrir o Festival, mas
certamente é um espetáculo que vale a pena ser anotado na sua agenda.

Muitos acertos e alguns equívocos.

O equívoco maior fica certamente por conta da idéia de que uma companhia criar seus
próprios textos é seu melhor caminho. Claro, essa não é uma idéia que eles
inventaram, tantas que são as pequenas companhias que andam por aí no mesmo rumo.

Penso que há um certo tipo de teatro que deveria respeitar um pouco mais o seu próprio
teatro. Uma companhia cujo avanço e inventividade se dá dentro do espaço de um palco
italiano necessita se ater às convenções desse próprio palco. E essa que vimos atuando
em Melodrama não é nenhuma companhia de teatro de rua, ou de performances, ou
de …

Para os menos afeitos à essa linguagem estranha que será falada durante esses 11
dias no Recife, vamos aprender algumas coisa sobre esse famoso macarrönico palco.
Pois ele é o palco mais tradicional do Ocidente, que nos vem da Renascença, nascido
em Vicenza, consistindo em um espaço fechado como um quarto, com uma das paredes
substituída por uma cortina. Essa parede aberta, a quarta, vai virar inclusive ponto de
ataque de um dos pais do teatro moderno, Brecht, em sua proposta por um teatro não
ilusionista, um teatro que pudesse servir à consciëncia e a reflexão do público.

Originalmente foi feito em um canto abandonado de um Palazzo, daí também a


identificação desse palco com a burguesia. Se você quiser dizer “teatro de burgueses
para burgueses”, simplifique tudo isso chamando-o de “palco italiano”.

É onde boa parte de nosso IV Festival irá se aninhar.

Creio que finalmente poderemos falar um pouco desse pessoal de base, carregador de
pedras da construção toda, chamados Dramaturgos e de seus pequeninos mas árduos
deveres..

O ofício de dramaturgo é tão elevado quanto o de qualquer outro de nossos ofícios de


cena. Se achamos que qualquer um pode sair escrevendo, por que não admitirmos que
qualquer um pode subir em palco e dizer o que bem entender- substituindo-se assim
definitivamente todos esses escombros de nosso velho teatrão, tais como diretor, ator,
cenógrafo, iluminador etc etc ??

O primeiro dever dele é escrever algo para ser visto. Aonde a dramaturgia se distingue
profundamente de toda outra modalidade de literatura – de tal ordem que julgamos que
nem literatura mais isso é. Mas isso é mera opinião nossa.
Está começando a vislumbrar porque o texto dramatúrgico, ou a peça, apesar de tão mal
falado em nossa modernidade, tem uma importância vital?

Pois é o primeiro roteiro do olhar do espectador sobre esse objeto chamado cena.

O centro do texto portanto não é se é falado, nem como é falado, nem se é cantado, nem
se é emudecido ( ou mímica).

Seu centro é um olhar.

E nisso há algo de extremamente positivo em O MELODRAMA.

Pois pretende ser um certo olhar sobre o comportamento amoroso.

Que no homem, diferente dos outros animais, é elevadamente ridículo.

Daí talvez o enorme sucesso desse sub-gënero que dá nome à peça. Há quem
identifique o melodrama com o nascimento da modernidade também. Mas, para não
irmos demasiadamente antes disso, basta-nos dar uma olhada nas peças do
francës Marivaux, para vermos que ele é bem mais tinhoso e resistente. O avö do
gënero pode bem ser uma “marivaudage”, nomezinho cunhado para designar peças
espertas em que rola esse amor em todo seu exagero.

Seu fundo talvez seja a própria natureza humana.

Então porque disseste que a peça Melodrama, de abertura do festival, era de ruim
dramaturgia no artigo do Diário Impresso em Papel?

Por que o problema de fundo lá é apenas de formalização do espetáculo como um todo.


O que quer dizer apenas isso: posta essa característica de um determinado tipo de
comportamento amoroso, o resto é enfeite.

Podendo em nome da simplicidade ser jogado no lixo.

Vejamos o exemplo da gag, ou truque, do marido ter um irmão gëmeo e finalmente


essse não ser outra pessoa mas o mesmo e torturado personagem. Ou o truque , já muito
conhecido nos meus anos de infäncia – e lá se vão punhados e punhados de anos nisso-
do casamento entre parentes que resulta em uma cascata de situações em que finalmente
a mãe descobre que pariu o próprio sobrinho.

Até aí tudo bem. Afinal, um monumento de nossa tragédia, Édipo de Söfocles, foi
responsável pelo nascimento dessa piada infame, que não acaba nunca de se reproduzir
sobre nossos palcos.

O que não é lá muito bem é ficar se repetindo essas gags no espaço de uma hora e tanto.
Não , não estou falando do fato da gag aparecer uma vez no faoreste, outra em novela
mexicana e assim por diante até completarmos um ciclo quase de exaustiva pesquisa
antropológica. Não. Esse problema ai é apenas de ërro de alvo.Não estamos em sala de
aula e teatro para fazer estudos aprofundados da cultura ou dar mostras de descobertas
antropológicas – como diz bem a A.Cadengue. pode ser bom para se formar o ator
barbiano, mas talvez para nada mais.

A repetição é mesmo a da piada que é contada duas vëzes do mesmo modo. Cansa.

Se você ler Antígone de Anouilh verá que não se precisa fazer referéncia a nada dessa
piada de cruzamentos consanguíneos para se fazer uma platéia chorar ou rir.

E olha que ela é filha do filho que se casou com a mãe, portanto o filho dela com
Hemon seria neto e bisneto ao mesmo tempo de Jocasta, sua avó….

Uma peça não é feita com uma boa coleção de piadas.

Ou uma boa coleção de emoções fortes. Ou ridículas.

A repetição em MELODRAMA também é feita pela quantidade de músicas cantadas.


Parece que entram para resolver outros problemas de texto como passagens de cena etc.
Coisa aliás extremamente bem resolvida por uma direção que navega num texto dessa
ordem caótica.

Talvez esse seja um dos pontos em que me parece complicada as escolhas de texto de
Melodrama. Porque esse amor melodramático não tem como referéncia alguma a
pluralidade de amores, mas muito pelo contrário, a obsessiva fixação em um ou dois
valores apenas do comportamento amoroso.

O eixo dessa fixação é a sexualidade.

E essa não chegou a subir em palco.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção, pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da crítica e da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem no Brasil por esse lado da cena.
Pelo lado da dramaturgia, a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora
Esses merecem o Molière.

Mas vocës bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos
reais, investe em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construção. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois creio que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples, difícil e muito antigo, da narrativa.

É uma história que se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das
histórias narradas com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse
achado que é o de trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar em
que tais tradições narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta
lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória
não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: “aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar mais, de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!”

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


um presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos passá-lo numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além
disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza em


Como vivem os mortos, nos acompanhará para sempre.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora

Esses merecem o Molière.

Mas voces bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada a teatro. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros
frutos reais, invete em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.
Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construçào. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois penso que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples e difícil- pois muito antigo – da narrativa. É uma história que
se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das histórias narradas
com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse achado que é o de
trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar aonde essas tradições
narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta lembrarmos o
katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar, mais de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


uma presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos ser passado
numa narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá
além disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza nos
acompanhará para sempre.

Bárbara não lhe adora.

Janeiro Produções.

Micro- crítica
Peguei num canto esse papo em linguagem coloquial:

Lëda disse:” é uma peça pintosa!”


Fátima Saad disse: “ mas não, é uma sátira!”

Lëda, ela é de teatro, mas claro deve ser pura inveja.

A Bárbara é uma gracinha, a companhia é inteligente e os atores e atrizes muito bons.


Jennifer foi a menos melhor.

Entendo hoje porque Bárbara, a original gostou. A peça lhe dá razão e nós críticos
ficamos de alma lavada.

Claro, a peça funciona melhor no circuito Rio & S.Paulo, uma vez que aqui nosso
povão não sabe bem que diretores fazem aquele trejeitos todos e aquela quase macumba
da corrente energética, e nem que atöres gastam tanto suor para achar “O”
personagem.

Lëda disse mais, o figurino é pintoso.

Mas se se trata de uma peça satirizando o teatro, o quë mais se pode esperar senão
pintas?

Eu disse uma certa vez que mil cacoetes não fazem uma peça. Pois Bárbara está ai para
provar minha tese de que uma pequena piada dá uma peça divertida e bem feita, coisa
para a gente rir, pois teatro é também para isso se não for apenas para isso.

Sei não.

Leda disse: aquela fumacinha é pintosa!.

Deus. Lëda, que fumacinha você queria em cena aberta?

Bem, podem ver que minha noite com Lëda terminou mal

E Lëda nem loura era.

Culpa da Bárbara, essa gracinha!..

( A que ficamos reduzidos, nós críticos, depois de Bárbara não lhe agrada!).

Se vocë odeia algum crítico particular, vá ver as peça e saia rindo que nem besta.

Nada a ver com a fumacinha de Lëda.

Encontros depois da chuva


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto
Teoria da Arte-UFPe

paulo_michelotto@uol.com.br

Acho que essa mostra indica que nosso teatro tem vitalidade, está indo muito bem
graças a deus. A Cia Teatro di Stravaganza é uma boa prova disso.

Encontros depois da chuva é um belo roteiro. Enxuto, preciso. Eu apenas


cortaria o texto aonde se fala das horas que restam para se ser feliz. Mas gostaria
de rever o espetáculo pois acho difícil que a Stravaganza tenha cometido alguma
imprecisão.

O melhor do roteiro é o contraste entre o onde não se fala e aonde se fala.

Nisso ele me lembra Ato sem Palavras de S. Beckett, em que um simples apito se
opöe a todos gestos. Aliás, o meu velho mestre merecia uma homenagem. Nunca vi
tanta coisa que se deve a ele nesse Festival. Viram os vermes dos sacos de dormir
de Textes Pour Rien na abertura da Infecção Sentimental Contra-Ataca do
XPTO? Encontros depois da Chuva, por exemplo, também é um roteiro becktiano.
Moderno.Viram algum dia May Be? Viram a viagem do nada para o nada, de
Mercier e Camier? Quem não ouviu a musicalidade em Beckett não viu nada. A
Stravaganza certamente viu. As malas-quase-circo são de Samuel, o tempo preciso
de cada movimento de ator são de Samuel, a repetição da capo al fine em novo
ritmo é Samuel (leia-se, Quoi Où etc), a viagem para o lugar aonde ainda se ouvem
pássaros é Samuel ( leia –se a lua e a casa da amada de Mercier e Camier).

Breve, essa junção perfeita entre palavra & música & ritmo & dança é de Samuel.

Beckett escreveu mais para os tempos em que havia a Palavra. Ele a desmonta.
Depois remonta com novo valor. É talvez o grande e último escritor que a trabalha
com precisão de relojoeiro suiço. Mas nós sabemos que qualquer reloginho de merreca
japonës vindo do paraguay e vendido a 3 reais na pracinha do Diário é mais preciso que
todos os antigos. Coisas da Evolução.Coisas dos Tempos.

Coisas das Chuvas.

E coisas de nossa busca infinda de pássaros e estradas.

Já não há mais que se escolher entre pássaros e estradas. Entre palavras e gestos,
entre texto e dança. Eles nascem à beira dessa estrada, nascem da selva de asfalto
– indica o roteiro belo de Adriane Mottola.

Belo, pois, depois de Samuel, pela primeira vez, pode-se falar alguma coisa.

Então para quë vou eu falar de figurino, interpretação, cenografia, programação


visual, se- quando se está diante de um texto inteligente- tudo isso nasce
suavemente ou aos borbotões como na Cia di Stravaganza?

Luiz Henrique Palese vai mostrar, em solo – em Como vivem os Mortos – que a
Companhia é de absoluta afinação.
E podem contar, Bebë Bum me verá na primeira fila, no gargalo, com meu neto
Lucas.

Não é que viramos macacos de auditório desses meninos di Stravaganza?!…

Dizem que fãs não escrevem boas críticas. Ficam sem distanciamento crítico
brechtiano…

Então vou me calando por aqui.

Por que o que eu quero é mais. Muito mais. Desses palcos azuis de infinitas
cortinas.

A Infecção Sentimental Contra –Ataca

Grupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.

Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem
merece.

E creio que – dos que vi até aqui – esse era o grande espetáculo para abrir o
Festival.

Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?

O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula
Magna!- de Teatro.

Então que abra o próximo Festival.

Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda
de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso
ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para
pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos
com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a
humildade nos permitir – nosso ofício seja também o de participar um pouco
como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o
mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim.

O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando
sua obra.. Só posso adorar.

Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com


roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte
viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!…
AH!… OH!… Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La
Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na
frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?.
Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos.

Quer saber mais? Vá assistir.

Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena
cena- que mais parecia uma pequena passagem entre cenas – em que robôs
trombam uns com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se
transformando em uma guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que
finalmente se rompe ao tentar pescar o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do
próprio XPTO.

A de crianças que recriam o Universo.

Beijos para cada uma delas, pois me comovem.

Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.

O mundo será bem, melhor depois disso.

Encontros depois da chuva.

Companhia de Teatro di Stravaganza

Leda falou que esses meninos são todos gobas.

Puta merda leda, você está virando sapatão..

Toda nudez não será castigada

paulo_michelotto@uol.com.br

É um fenömeno como Nelson e uma boa propaganda tëm vitalidade. A fila ia do


Armazém até o Pina! Nosso injusto público finalmente acordou e foi ao teatro.

Como entender Nelson? Há uma mania nacional de psicologizá-lo, logo o Nelson que
tinha horror disso. Não foi o caso, graças a deus, de Cibele Forjaz e companhia. A
opção foi pelo Nelson suburbano, com forte dosagem de melodrama, numa escolha de
interpretação de ator bem bem naturalista, algo assim para você sentir MESMO que
havia um puteiro, umas tias dentro de casa batendo bolo. Só faltou o quarto de boi em
cena etc…

Ora, quem andou vendo Antunes, viu certamente o último e definitivo Nelson. Na
mesma linha já tivemos aqui, recentemente, a Seraphin com Senhora dos
Afogados.Confesso que não apreciei tudo o que vi na encenação de Antönio Cadengue,
mas ela tem certamente o mérito de cair fora de alguns chavões. Ele é Antönio, mas
certamente não Antoine.O que é bom para Recife e para o mundo.
A Cia Livre de Cooperativa Paulista de Teatro nos apresenta um espetáculo de muitas
coisas boas. Não vou ficar repetindo ficha técnica porque quem anda lendo jornal nesses
dias é mais gente de teatro mesmo. É pelo menos o que tenho visto freqüentar o
Festival.A rígida divisão dos espaços cenográficos num esquema quase aristotélico
merece toda atenção, além de ser uma homenagem às antigas regras de esquerda alta
esquerda baixa e etc… A luz segue o mesmo esquema de rigidez, desenhando áreas
muito claras na zona do quarto de Geni para destaque de seu corpo, vermelho forte
riscando os encontros de Patrício e Herculano- eixo de toda a trama. O resto não
convence muito. O que salva bastante é que os atöres são tecnicamente muito bons.
Além da escolha duvidosa da interpretação de ator- o que não lhes cabe, portanto não
lhes podemos imputar ( oh desculpem-me!)- há ainda duas pequenas coisas.

A primeira é, sem dúvida, o nome da Companhia que ocupa quase ¼ do espaço que
temos para escrever. A segunda é que foi a encenação mais casta que já ví de Nelson.
Serginho por exemplo não pode sair daquela banheira de Marat …vestindo cuecas que
parecem fraldas! Nú ficava mais correto.Também vi pouco os seios tão perfeitos e tão
insistentemente cantados por Nelson. Neles é que o câncer de Nelson pode se instalar.

Então…

Balanço

paulo_michelotto@uol.com.br

Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada
interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o
conseguem.Cheguei correndo ao Hermilo – uma vez que estava no Sesc e quase não dá
tempo para se sair de um espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria
que parece Fazenda Nova… Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava
acompanhado e fui humildemente comprar o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam.
Lotado. Bem eu não ia deixar quem me acompanhava esperando do lado de fora durante
uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa, aparece alguém e informa sobre um problema no ar
condicionado e pede desculpas pois não haveria espetáculo, que se refizesse a fila para
devolução de ingressos e… Aí aparece o ator e grita que vai haver espetáculo, que esse
festival era uma mentira, que se precisar tirem a camisa para agüentar o calor – no que
lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo. Voltei humildemente à bilheteria, já
que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes e enfrentar o Zöo de Albee- sem
nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10 reais! Apesar de ser da classe,
minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse preço um assalto feito por
quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a democratização da cultura. Não
acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em bufunfa como nadam os
governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não…

Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de


técnicos e no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4
horas no Rio Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da
manhã e o encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com
XPTO.Cansaram de avisar que teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo
agendado. “Ah , dá tempo para se apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo –
uma jóia de profissionalismo e rara beleza que já rodou meio mundo – acabou tendo
que ser adiantado e lá estava um imenso Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos
chamar o público até de senhora gorda- como o impolido Nelson Rodrigues –mas não
podemos chamá-lo de adivinho. Jornais existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para
isso.Mas ninguém se lembrou que os jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como
cães de guarda da cultura. Bastava abrir a boca sobre mudanças de horário que
publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da sonolëncia. E o pobre do Xpto
ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo pernambucano. Posso
acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma, foi dar uma
mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar, carregando
todo o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido almoço e
descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles.

Mais?

Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho
– que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro.
Convidei-as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um
pouco de medo dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram.
Mas amanhã se aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados.
Porque precisa ter uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter
toda informação necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas
da noite e atravessar aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por
favor, programem espetáculos para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa
Amarela possa também ver teatro, sem ter que se deslocar à noite para o centro. Agora,
colocar ali, à noite, peças que só podem ser vistas ali, é um ato de crueldade.

Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada
tem a ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter
paciëncia, que isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o
que quisemos mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro
agradece.

FANDO E LIZ

paulo_michelotto@uol.com.br

Nesta quinta,15/11 e sexta-feira, teremos a chance de ver um Arrabal.

“Baixinho e feio, assustado com a infäncia e suas obsessöes”- dirá dele Allan Schifres.
A mãe não o deixou abraçar o pai, prëso como traidor na Guerra Civil espanhola. Dá
para se perdoar a crueldade do universo infantil em suas peças? Vários autores
opuseram o mundo adulto à lógica terrorista das crianças.Quão longe anda nosso teatro
infantil de tudo isso, não?Aqui em Arrabal, crianças matam crianças e
velhinhos, arrancam asas de mosca só pelo prazer. Nem pense em
recomendar espetáculos de Arrabal às escolas aonde seu filho estuda. Haveria
professorcídios após. E Arrabal é tudo, menos espetáculo infantil. Sua sexualidade é
animal, a crueldade, instintiva. Seu herói não oculta nada. E sabe como é perigoso entrar
nesse jogo de adultos.
De uma escritura muito próxima à de Samuel Beckett, ou H.Pinter, Arrabal escreve suas
peças…” Escrevo, portanto minhas peças como quem dirige um Cerimonial, com a
precisão de um jogador de xadrez ”

. E assim, coordena rituais de festa para escapar a seus maus sonhos. Para ele a
existência já é trágica o suficiente para que ainda se a leve a sério…

” …Então o que se passou foi que ela e ele se puseram a brincar de pensar mas, como
ele não podia tomar uma boa posição, ele pensava muito mal e quando ela lhe mostrava
em que posição devia se colocar para se poder pensar; ele apenas pöde pensar na morte”
( Fando e Lis).

Você já adivinhou que o Movimento que ele fundou com Topor, Sternberg e
Jodorowski tinha o nome de Pänico, não é mesmo? Garoto inteligente!

Se você não viu Oração , com Marcelo e Rita, nem O Arquiteto e o Imperador da
Assyria , na bela direção de C. Bartolomeu, vá lá e não perca esta oportunidade de ver
o monstro que escreveu ainda Cemitério de Automóveis,. – um cult dos anos 60/70. Se
vc não as conhece, procure o Banco de Dados do Dep. de Teoria da Arte da UFPe, que
lá você acha . De graça e& em tradução minha. Essa é a alma do negócio.

Antes que eu me esqueça: parabéns à curadoria. Um festival que tem Nelson, Albee,
Arrabal, A . Mottola, Palese, Marivaux , Moacir Chaves, e o texto visual de Oswald
Gabrielli, do XPTO entre outros, merece aplauso.

O meu pelo menos. .

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

(mais uma vez a propósito de FACA AMOLADA/ dir. A . Cadengue/ Teatro do


Séraphin)

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara. Um monte de cacoetes
não faz uma dramaturgia.
4. Porque não se lë mais Anouilh?
5. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
6. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
7. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
8. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
9. Interessante no século XIX. É um teatro mofado com dada de vencimento de há
muito expirada.
10. Precisa se dizer mais

AGNES DE DEUS
p. michelotto
Dramaturgia.

Vou ter que começar a falar pela dramaturgia, me desculpem. Parece-me essencial.

Dramaturgos andam em falta.Vamos à dramaturgia, pois.

Stanislau P.P. me ensinou certa vez que tem coisas que não dão samba, dão samba de
crioulo-doido.Tem coisas também que não dão literatura, muito menos teatro. Padres,
freiras, psiquiatras, loucos, físicos nucleares ( vide Copenhagem) – via de regra dão
péssimas histórias. O único texto com grandeza que tenha um padre como personagem
principal, que conheço, é O Poder e a Glória do saudoso Grahan Greene.

Mas, meu deus, quem aí lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Por outro lado, Deus, (Ele Mesmo, o Patrão) sempre andou em alta e não sei se pela nossa
formação cultural portuguesa latina ocidental ou por que, mas o Senhor tem escolhido – de
Beckett a Dario Fó- bons dramaturgos para contar suas proezas.

Ao contrário de Agnes, que é uma freirinha, às voltas com um crime, uma psiquiatra com
problemas como todo psiquiatra, com sua madre superiora, com deus; e claro, com a mãe.
Pois, depois de Medéia, tragédia sem mãe não existe.

Os elementos de um bom thriller policial estão aí: um personagem apagadão ( freirinha),um


escândalo ( gravidez), um assassinato( criança morta), um tom de psicopatia & ciência,
truques de hipnose, alguns suspeitos e uma terrível suspeita sobre a sexualidade do capelão,
coitado. Mistura se tudo com um possível trauma religioso e uma simbologia sexual
explícita ( mãe, cigarros, água …essas coisas aí ), acrescenta-se o milagre das regras da
psiquiatra voltarem ( para quê, se ela parou também de fumar finos que satisfazem ou
grossos etc e tal e tudo isso aí significa falo, hein?) e pronto, aguardem-se as palmas.

Contanto, claro, que o distinto público, nós, sejamos um somatório de antas medievais.

Luzes, figurinos & direção


Há um belo destaque aqui para o cuidado do trabalho cênico.O cenário é funcional, e no
tom de fundo da peça- que é o de haver alguma esperança no fundo de um poço marrom
escuro.

Há, nas falas, uma metáfora sobre árvores que se concretiza num figurino e numa
iluminação a duas cores de tons e sobre-tons marron-verde, dando um tom de cuidado,
delicadeza e limpeza ao espetáculo.
Limpeza é o nome que às vezes damos para o trabalho de origem acadêmica, que faz o que
tem que fazer, mas evita colocar um dedinho do lado de fora do campo próprio de
operação.

Rubem Rocha chama isso de clean, com justeza.

Mais tons de luz, dar uma margem maior ao erro, sempre me pareceu fazer a graça dos
espetáculos. Pois, sempre, o que vemos sempre em cena são homens lutando contra os
deuses. Até mesmo com pequenas armas ou armas ruins. Até mesmo com o choro e a
emoção presa na garganta.

Ou com o riso, que o riso ainda é nossa melhor arma contra Eles, não é mesmo?

Seja como for, há que haver possibilidade de erro em tudo que se chame arte.Limpeza é
quando reduzimos ao extremo essas possibilidades textuais, quando fazemos um
espetáculo todo bem fechado como uma caixinha linda de presentes, contendo, claro, um
lindo presente. Sempre me parece que se perde algo de nossa história por esse caminho.

Às vezes, o essencial.

Em Agnes, Roberto Lúcio que é um mestre do esmero, preparou-nos uma bela caixa.Ele é
um mestre.

O bombom do Pieilmeier é que está com data vencida.


Erros monumentais fazem a essência do teatro.

O maior? A errância de Édipo, em Sófocles, culpado sem consciência.

Sem esse erro magistral, essa errância dos personagens- não haveria teatro.

O que chamamos de limpeza-quase-acadêmica é de outra ordem, é manter o erro sob


rédeas bem curtas e muito seguras. Arriscando-se, no entanto, a colocar rédeas também em
nós, o público. Roberto Lúcio optou por essa limpeza , correndo esse risco.Talvez porque
soubesse bem da fragilidade desse texto dramatúrgico. Cujo foco é o pior possível: o da
psique da pobre freirinha infeliz com voz de passarinho. Shakespeare resolveu isso
melhor.

Em apenas uma só frase, em Hamlet: …”não sabemos porque os pardais caem”.

Não sabemos- esse o mistério.


O primeiro deslize de Pielmeier é querer saber muito , mas trabalhar com uma psicologia
de segunda mão, tipo papo de Paulo Coelho. Ora, se alguém começa a fumar porque a mãe
morreu, ao limite Freud não tem nada a ver com isso. Pielmeier acha que sim. Até se
permite um seriado de gracinhas quase-pornográficas a respeito de santos e o tamanho de
seus cigarros- só faltando citar o famoso charuto de Clinton. Você não riu, tenho certeza.
Imagem forte, porém igualmente idiota, é também aquela de que sua mãe lhe enfiava
cigarros acesos na vagina.Certamente Freud se interessaria muito por sua mãe- mas bem
bem menos por você. Toda originalidade aí do Sr. Freud foi situar seu campo na prima
infância, e seu objeto nas relações primevas, em seu modelo de transcrição, também dito
Inconsciente, e no discursos que a partir daí se travam, isso é, se desenvolvem em
fechamentos.Na origem, portanto, e não nos efeitos das maluquices.
O segundo problema de Pielmeier é tentar resolver problemas com truques. A tal da
hipnose, por exemplo. Se você usar como sugesta hipnótica que se mergulhe na água, você
tem maior probabilidade de afogar seu paciente, que de colocá-lo em sono profundo. Tá
bem, tá bem, água é melhor pois lembra sexo etc e tal. Mas não dá boa hipnose, se é que dá
alguma.Aí depois faz a freirinha assassina sair passeando ao próprio gosto, sem haver
algum comando para isso. E finalmente mistura fatos e embola momento de fecundação
com o do parto- sem comando específico nenhum do hipnotizador, para isso. Só o público
pode dormir com isso.
O terceiro erro do texto é de esquecer completamente de refletir sobre a hamartia, culpa,
e o culpado– como se isso não tivesse a menor importância, justo nessa época em que se
descobriu que boa parte do clero americano( sobre o daqui ainda faltam pesquisas) tem
uma incrível tendência à pedofilia e a outras coisas mais complicadas.

Quem disse foi o Papa Woytila, fui eu não!!!

Finalmente o culpado? ” Talvez um camponês?!”- diz o autor.

Tás brincando!!!?Todo preconceito foi mera casualidade, não é mesmo?! Um pouco de


solo social e verossimilhança no texto não faria mal a ninguém. Pielmeier nem tá ai para
isso. Supõe que o público espera mesmo é um milagre ou um papo sobre papas e freiras
ensandecidas.
Mas seu quarto e maior erro mesmo é achar que milagre em teatro é o truque.

Milagre em teatro é simplesmente milagre. Acontece, todos os dias , todos nós sabemos-
senão nunca mais poríamos os pés em uma sala. Milagre é Fátima Pontes e Galiana
segurarem esse texto com tanto brio. É verdade que o tom da Madre Superiora cansa um
pouco e que a Agnes não é nenhum passarinho cantando. Mas viram o milagre? Funciona!

Fátima Aguiar, a psiquiatra, porém tem uma tarefa bem mais ingrata- pois não há como
segurar aquilo.Nenhuma atriz consegue em sã consciência afirmar, quase como numa
apoteose, algo como “ e eu, uma psiquiatra,católica comungante, com regras e não
fumante..” ou coisa muito parecida.

Francamente!

Não há um pequenino espaço no personagem para o milagre. Ele é falso, impostado, de


início ao fim. Então a atriz acaba pagando um mico miserável- essa a verdade. Aumentar
o tom de voz, dar tensão dramática não vai levar a nada. A coisa toda é oca.E não seria se
Pielmeier tivesse pelo menos lido End of Affair ou O Poder e a Glória.

Mas quem lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Leia e vá assistir Agnes de Deus. Depois escreva para cá dizendo que discorda
Philosophando um pouco.

A modernidade deixou nos com um problema a resolver em teatro.


E que incide diretamente em toda prática crítica

Nada a ver com as mudanças acontecidas na escritura dramática, nem com a


simplificação do material cenográfico, nem com a iluminação, figurino, maquiagem e
cenografia como produtos de um design, ou isso tudo tratado como linguagens. Nada
disso.

Não é nenhum problema técnico ou especificamente teatral.

Mas, antes, da própria formação social em que estamos, produtores teatrais e público,
inseridos.

Parece-me que nosso problema maior é o da regionalização e, conseqüente,


envelhecimento dessa arte,por se situar dentro do sistema capitalista periférico como o
nosso.No plano cultural, se imaginarmos nosso planeta até os meados dos anos 50,
pouca coisa acontecia de diferente, em matéria tecnológica. Nosso roteiro básico, em
artes plásticas e cênicas se delineou nos fins do XIX e abertura do XX. Depois foi xerox
e não produzimos nem um pequeno avanço em técnicas. O que estamos tocando adiante
com relativa coragem, ainda é a tentativa de se avançar em teorias, de se repensar as
artes.

No que andamos bem devagarzinho.

A consolidação porém da indústria cinematográfica, o desenvolvimento das redes de


TV, o caminho seguro que a música encontrou como show, espetáculo, o universo
reduzido ao alcance do microcomputador e de seus textos específicos, deixaram-
nos perguntando que futuro temos. A característica de toda essa indústria moderna do
texto é a de uma tessitura rápida , ágil, que o teatro – apesar de Beckett ou Koltès, por
exemplo – insiste em deixar de lado. Nossa melhor e sem dúvida mais moderna forma
textual tem sido relegada, em nome de uma isonomia de duração com os shows de
bandas, os filmes, ou uma sentada em casa na frente da telinha de TV.O Jornal moderno
é talvez o melhor modelo dessa outra escrita, tanto que nele muitos foram beber, como
nosso Nelson Rodrigues.
A questão é: dá para competir?

Enquanto a maioria das formas de espetáculo modernas, ou de textos modernos, insistem


numa participação do público, nós insistimos em deixa-lo ali, paradão.

De preferência de boca aberta, pasmo, siderado com nossos truques de mágica.

Penso que perdemos o público.

O problema pode ser posto assim também: pense que no último festival, no dia em que se
encenava Tenessee Willians, com uma ” companhia de fora”, com uma atriz chamativa
como a Leona , isso conseguiu reunir apenas 200 , dentre os atores, produtores,
cenógrafos, figurinistas, diretores, estudantes de teatro recifenses e alguns curiosos fora
da classe teatral.
Na mesma hora, 25 mil pessoas se acotovelavam, cantavam ,riam, enraiveciam-se,
gritavam, xingavam a mãe do juiz no Arruda.

Esse o problema

Perdemos o público.Transformamos nossa longa história numa artezinha de província,


de beirada, de morro, amada e admirada pelas 5 ruelas ao redor, um artesanato sem
futuro, com todos carniceiros das ciências sociais e humanas já colocando o bico para
cima de nós para nos transformar em objeto de cultura narrada, aquela de seus
livros também sem público.

O público jovem que foi recapturado em parte pelo Cinderela, num esforço de 5 anos,
voltou para seus bares, suas bandas, seus classic-halls provincianos.
Resta o povão?

Mas esse nosso povão nunca botou mesmo os pés em nossas salas.

E nem porá, enquanto nos mantivermos atolados no passado de nossa arte, na grandeza
grandiloquente de nossas falações – essa minha aqui é uma delas, senhores , eu sei bem
disso, mas isso aqui felizmente participa, mas NÂO é teatro. E ainda bem que não estamos
há 4 anos atrás, antes da virada do século, senão tudo o que penso ficaria assim meio
spleen, meio decadente, meio fin de siècle.

Ou reacionário.

Ora reacionário é se deixar virar meia página os 2.500 anos de nossa história.

Olhar de frente nosso público e dizer: não temos mais o que dizer para vocês, o que
dialogar com vocês a não ser nosso velho papo surrado de que temos que dar um jeito de
combater os deuses, hoje e sempre. Talvez essa seja uma boa reação a essa modorra, esse
abandono, ao qual nos deixamos relegar, do meio do século XX para cá, no meio de tanto
show de milhão, tanto apagão de cinema,tanto hipertexto, tanta realidade micro e pouco
virtual, tanto bar, tanto mar,

tanto mar.
Essa preocupação acima não é só minha.

É resultado de conversas com muitas pessoas mais novas e confesso que não conseguí
convencê-las de que o teatro valia a pena em si,que era mais educativo, mais profundo e
que era melhor que a maioria dos shows que andam por aí e que o problema da falta de
público e de verba era que o teatro não estava oferecendo nada mais interessante que uma
contemplação.

E coisas antiquadas na maioria e mal apresentadas para nosso tempo.


Camilla, por exemplo, já passou dos 20 anos e NUNCA botou o pé num teatro. Como diz,
defendendo-se em parte, para quê me chatear a noite toda com uma história de freira
ensandecida que nem sabe a quem azarou e que conta isso numa linguagem com cheiro
antigo de censuras e histórias de convento, boas para bisavó e tais, quando posso
estar cantando e pulando num baile funk , ou dançando num show de rock ou papeando
num bar?

Eu pensava que o problema dela era apenas o de uma menina que não teve boa educação
cultural. Depois e hoje , parece-me algo bem mais grave para o teatro e artes em geral
e bem mais difícil de se nomear. O ponto de culpabilidade talvez não esteja lá aonde
insistimos, com certa facilidade, em dizer que ele está: a má educação de nossa gente.
Acho que perdi o papo.

Não consegui convencer ninguém que a gente ainda está vivo e que possa valer algo
diferenciado em relação a esses outros produtos dos mídias.

Talvez seja porque o teatro, em significativa maioria, achou um pequeno espaço para sí e
aí se agasalhou confortavelmente. Achou seu cantinho, sua região permitida, como todo
bom regionalismo.

Parece-me no entanto que isso é simples decorrência do sistema em que estamos


pensando.

Mas que sei eu dessas épocas, em que a antigona UNE agora só faz bienais, e que tem
Ariano Suassuna como convidado especial? …

Geléia Geral ainda é a coisa mais nova que anda acontecendo?


ÍVANA,

( gostou do acento russo? )

TOU BOLANDO COISAS AQUI PARA TAL COLUNA,

JÁ QUE ELA É BEM MAIOR QUE MINHA SABEDORIA.

Conversei com um bando de gente nesses dias e tive a idéia de ter dois blocos na
coluna:

• um dedicado ao velho e bom teatrão, isso é: as peças daqui, das


companhias daqui.
• Outro, dedicado aos novos , à experimentação, às pequenas coisas que passam
rápido mas podem ser germes do melhor depois. O teatro de Elias, vide O
Gran Vizir,de Vivi, vide Giulietta in stress, Heron, vide A Terceira Margem e
mais alguns novos que andam por aí e que estão começando agora sua direção.
Acho que mesmo que passem poucas vèzes, esporadicamente, com temporadas
pequeniníssimas, merecem nossa atenção e a de nosso público do DP.

Afinal foi assim que nasceram Antônios, Carlos Bartô, Dennis e tantos outros do
teatrão daqui, não?

Muitos acharam legal a idéia de dar um certo espaço a esses pequenos.


Não tão importante quanto o dos outros que estão em temporada regular, mas com o
mesmo carinho e cuidado como se fôseem eles os grandes.

Pois serão.

Bem, mesmo assim, acho que ainda me restará um bocado de papel a preencher.

Na medida em que a coisa for pegando rumo a coluna vai se ajeitando e criando uma
face também. Mas acho que talvez ela não devesse se restringir às artes cênicas, pois
há tempos maus, bicudos e com muita coisa ruim…e aí até o jornal sai ruim, não é
mesmo?

A coluna poderia ir incluindo devagar as artes plásticas também – afinal sou curador
de um monte de exposições e dou aulas para esse povo.

Poderia ter quadrinhos internos- exclusivos dela. Conheço muitos NOVOS e bons que
dariam a alma para aparecer num canto desses…

Sei lá.

Algo assim como um espaço experimental para todomundo, e eu seria só o catalisador


dessa coisa toda. Evidente , seria o censor e curador. Para não perder a qualidade.

Tou aqui meditando.

Enquanto isso, e sabendo qua acoluna anda manca pois faltam mais umas 90 linhas,
pensei em fazer uma coisa que fazia na paraíba. Isso é: colocar de vez em quando
reflexões para o povo da classe ou o povo em geral interessado em artes cênicas.

É coisa que fica tododia martelando em minha cabeça pelo fato de eu me meter nisso e
ainda por cima dar aulas disso.
Acho-me obrigado a pensar largo, no sistema como um todo e não só no pequeno
circuito da circulação de uma arte
Tentei falar com Vivi e Leda para me passarem material sobre Giulietta,

pois tem fotos e a peça

volta a cartaz logo logo, possivelmente no circuito do Sesc.

Seguem esses textos.

Como coisas que podem aparecer na coluna,.

Mas que por enquanto servem para o que servem, ok?

A não ser que vc ache que a coluna já pode ir tendo esse tipo de figura.

Beijos pois o melhor é conversarmos


michelotto

MEIA SOLA
p.michelotto

Dramaturgia
A peça data dos anos 70.

Já que ninguém mais se lembra, é bom dizer que eram tempos embaçados.

Economistas desaforados- vide Bob Fields, Simonsen, Delfin, todos felizmente


falecidos – juntaram-se com alguns militares e a CIA para salvar a pátria, a
mátria e a filharada brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu; e,
quiçá também na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia. Tudo para
nos conduzir a um futuro econômico feliz e sorridente, tropeçante aqui e ali em
falta de gasolina nos fins de semana e outras coisinhas que todos felizmente
esquecemos.

Esse futuro já começou para a Argentina e vive nos devorando.

Enquanto a economia sorria, a Cultura, sorry, ia levando, que a gente vai


levando, que a gente vai levando…

As artes cênicas, curiosamente tiverem um certo boom de dramaturgos. Plínio,


Leilah, Vianinha e outros. Mas a maioria mais ou menos. Menos, em verdade.
Porque era mais fácil identificar o atraso, portanto, criticar. Porque, além,
pesava a censura, pesava a burrice geral, pesava a agonia de todos nós não
sabermos como e quando aquilo tudo, aquele pesadelo todo, teria um fim e
poderíamos falar o que quiséssemos falar, inclusive ser contra- sem o risco de
perdermos a virgindade em paus de arara.
Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao lado do
general E.G.Médici. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética
e de escritura politicamente corretos, à esquerda, claro. Zombava das meninas de
comunicação da Puc com suas sandálias e calcanhares sujos. Escrevia odisséias aos
deuses negros de nossa seleção de futebol. Ele disse e ninguém jamais conseguiu
provar o contrário, que era necessário conhecer profundamente a cultura grega para
se escrever uma coluna sobre futebol. Esse senhor reacionário foi o nosso maior
dramaturgo. Nelson Rodrigues.

Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa família


e transfigurava em seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia. Sabia
tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de Enéas Álvares- mas que merece
ser lembrado para se criticar essa onda de textos ruins que andam assombrando
nossos palcos.
Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

É a isso que nomeamos falta de carpintaria.

O público às vezes julga que o crítico está meio birrento, dormiu mal ou está com
inveja- porque diz que uma dramaturgia é ruim, quando a maioria achou bem legal.

O que dizemos é apenas isso: não serve para palco, complica a vida de todo mundo,
faz atores, diretores, cenógrafos se danarem para resolver passagens de cena;
quando não, pior, para encontrar a significação e necessidade de algumas delas.

O maior estrago que um mau dramaturgo faz é o de acabarmos achando um produto


bom, apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo disso.

Como se corrige isso? Com livre, e bastante, informação.

Para isso também é que críticos escrevem . Somos um pedacinho dessa coisa toda.
Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

O que não justifica parte de seu comportamento político.

Mas o que ninguém quer lembrar também é que seu filho caiu, e que esse mesmo
senhor reacionário fez coisas que muito cardeal ou muita denominação religiosa ou
civil, não fez por presos políticos. Mas era reacionário. Reagia contra tudo que
achava burro, mesmo ficando do lado da maioria às vezes. E se deu o direito de
errar. E, pelo menos em teatro, de acertar também. E muito. Foi,
incontestavelmente, o maior de todos nós.
O maior mérito de Meia Sola é certamente esse, solidário.

O autor optou por uma cenarização forte, rodrigueana. Quando isso era o que as
cabeças pensantes e oponentes odiavam. O regime, claro, gostava – dizem .

Mas quem disse que regimes militares de exceção pensam?

Os bem pensantes do regime nem suspeitavam que aquilo, provavelmente, corroeria


mais o sistema que qualquer aparelho de esquerda.
Mas pára aí.

Não tem o dedo mindinho de grandeza de um Nelson. Além de ter uma péssima
carpintaria dramatúrgica- que obriga um encenador como A.Cadengue a cometer 15
black-outs!

Estamos aí comemorando os 13 anos de sua Companhia e sabemos bem que só fez


isso porque a escritura é um desastre, quer ser mais literária que cênica.

O que não justifica…


Direção, cenografia, figurino.
O que não justifica a direção.

A última cena, por exemplo, resolve cruzamentos de ação, colocando uma mais
acima, por sobre a mesa; a outra, num plano mais à frente.

A cena rodrigueana da mãe Lúcia Machado vestida de noiva, com o filho André
Brasileiro, ocupando , nesse conjunto, o primeiro plano. Pois é isso aí certamente a
indicação cadengueana: o que há de rodrigueano em Meia Sola salva-se, pode dar
uma cena consistente. O resto é lixo e bobagem – essa última indicação minha,
claro.

Antônio Cadengue está com a tesoura na mão, mas pela primeira vez, com os
dedos vacilantes.

A cenografia pode parecer prática mas tem coisas que não me agradam como
solução: aquelas descidas. Pro fundo dos infernos, tudo bem, é essa a idéia , meio de
subsolo, porões quase. Lembram-se de que a mulher de André, Cida, nem quer que
se limpe a coisa lá embaixo? Uma idéia tão enorme e tão desperdiçada pelo autor.

Talvez essa a razão de não se poder sair simplesmente pelas laterais.

Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída, acrescentada aos black-
outs freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser
ágil, pela própria intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.
Não sei ainda porque o povo gosta tanto de rir de palavrões e de violências ou
desrespeito humano. Chame-se a empregada de negrinha, e tá lá o público rindo.Às
vezes penso que Meia Sola arrisca ser politicamente incorreta. Não sei se reserva
um texto violento para falar de bichas e empregadinhas, por reforçar uma idéia de
nosso inconsciente e depois nos remeter a nós mesmos, à nossa própria consciência
falha- o que seria um caminho reconhecido desde os gregos, que tanto Nelson
amava.Ou se por preconceito também.

Nos anos 70 as coisas todas não andam muito claras e não valia tanto a pena nem ser
bichinha gay nem empregadinha negra doméstica. Cansei de ser barrado em porta
de boates de Juiz de Fora, aquela saudável cidadezinha intelectual de onde veio o
Itamar Franco e os Penido Burnier todos , por tentar entrar nelas com meus amigos
negros.Era proibido.

Por quê suspeito do autor?

Porque o final é francamente absurdo. Não há lógica correta naquilo tudo.


Assassinatos, prisões, uma apoteose tipo Madame Buterfly para o filho gay, que
nada fez para merecer dramaturgicamente o título final de Rainha da Pensão de
Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha recôndita e
assustada. E que vivia numa casa de bichas recônditas, como o soldado e o jovem
que lhe pede um prato de comida. Com casais falsamente normais e prostitutas
problemáticas. Enfim, a finalista vai abrir a pensão para quem, se toda a récua da
espécie humana já tava lá dentro?
Só ela e o autor é que não perceberam isso.
Resta-me supor que se não foi preconceito, foi por má redação.Talvez isso.

Mas talvez também por que fosse moda- e isso vem das amaldiçoadas, por Nelson,
esquerdas – que os pobres ganhassem no final. Bem, a bicha acantonada em casa
talvez merecesse essa palma, por ser certamente uma das categorias mais
perseguidas, e por esquerdas e por direitas de época. Merecia um pouco de glória
pela história real dos povos brasileiros.Mas nem tanta, se pensarmos na composição
lógica do conjunto de personagens.

André Brasileiro e Lúcia mereceram – dramaturgicamente – ficar ali em primeiro


plano.

É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo!
Cada autor escreve o que quer.

Cada diretor dirige o que quer.

Cada ator trabalha na peça que quiser etc

.E cada crítico escreve como melhor puder para seu público.

O meu é, você, um público leitor de jornais. E que quer ter uma idéia do que vai
enfrentar durante uma hora e meia, se você paga antes de entrar…

Vai enfrentar um texto de soluções teatrais dramatúrgicas ruins, mas que pode lhe
lembrar as velhas comédias de empregadinhas, bichas. Tudo num tom
miseravelmente desesperançado.

O riso apenas nos engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças. O que me parece bem posto na mise-en-abîme daquele constante
olhar para si mesmo e suas próprias feridas- criado em palco por aquele montão de
espelhos. Elemento de cenografia bene trovato.

Talvez apenas tentemos nos rever nas imagens gastas duma dramaturgia setentona.

Espero que a moda não pegue.

Temo, pois o Projeto original anuncia Peças Para a Família.


Será que voltaremos, culturalmente, ao teatro de miserê familiar, do oprimido na
pior acepção do termo, do pobretão visto pela classe média; breve, àquele tempinho
ruim todo- como dizia Nelson com palavras bem mais sublimes que as minhas?…

O figurino precioso de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que


vai dos tecidos aos fios – é comum na Companhia do Séraphin. Mas, uma vez ou
outra, me pareceu um tom errado. Vide Senhora dos Afogados.

Em Meia Sola esse figurino, dessa vez díspar, anunciaria o novo caminho dos
Séraphins, de volta à marginalia , à pobreza e desgraça geral em palco, beirando ao
realismo soviético, mas agora finalmente recoberta de ouro e cuidados?

Isso não seria finalmente um espelho da esperança que anda sendo prometida por aí
para a pobreza, por parte de alguns daqueles que batalharam por mudanças nos anos
70?

Para que andamos, finalmente, tanto então?

O Programa da peça parece anunciar um certo niilismo estético e ideológico, que


poderia enfrentar falsas esperanças. Mas, eu pelo menos, não o vi se concretizar em
palco.

Vi os espelhos. As roupas ricas. O cenário bem acabado, com estofados vermelhos


e nobres mesas pesadas. Um texto pobre. Uma ideologia mal costurada. Uma falsa
pobreza que me assusta. Pois já a vi, em todos discursos de Dirceu e outros tantos,
nos tempos em que nos reuníamos em Ibiúna e os militares nos colhiam como se
colhem frutos maduros.

Quanta burrice, não, meus antigos colegas?

O autor tem um texto dúbio, porque mal pensado e de uma opção estética que,
certamente ao frigir dos ovos, nada tem a ver com Nelson Rodrigues. Toda opção
estética é uma opção política, pois não?

O fato de ser contra, reacionário, nunca elevou ninguém à grandeza e preciosidade


do pensamento e da escritura daquele gênio.

BOTA MEIA SOLA NESSA SAPATILHA AÌ

paulo_michelotto@uol.com.br

Dramaturgia
O autor de Meia Sola optou por uma cenarização forte, puxada para uma
causalidade mais psicológica
que social. Opção estética e política que o regime, claro, gostava – dizem . Mas
quem disse que regimes

militares de exceção pensam? Tanto os bem pensantes do regime , quanto os contra ,


nem suspeitavam

que aquilo, provavelmente, corroeria mais o sistema que qualquer aparelho de


esquerda. Mas pára aí.

A peça tem uma carpintaria teatral tão ruim- que obriga um encenador como
A.Cadengue a

cometer 15 black-outs!

Ou seria problema de direção mesmo esse amor pela escuridão?

Consistência dramática

A penúltima cena tem uma solução ótima para mudanças de ação e


personagens.Temos os

mesmos dois planos, invertidos aqui por Cadengue, que já vimos na montagem de
Vestido de Noiva,

inauguradora do moderno teatro brasileiro. A cena da mãe Lúcia Machado vestida


de noiva, com o filho

André Brasileiro, ocupando, nesse conjunto, o primeiro plano, é Nelson Rodrigues


puro. Aí temos

certamente uma boa indicação de Cadengue: o que há de rodrigueano em Meia Sola


salva-se, pode dar

uma cena consistente.

Cenografia
A cenografia tem umas descidas. Pro fundo dos infernos, é essa a idéia , meio de
subsolo, quase

porões, a coisa que mais proliferou em nossos anos 70. Lembram-se de que a
mulher de André, Cida,

nem quer que se limpe a coisa lá embaixo? Talvez essa a razão de não se poder sair
simplesmente

pelas laterais. Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída,
acrescentada aos black-outs
freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser ágil,
pela própria

intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.

Tudo num tom miseravelmente desesperançado.

O riso fácil tirado de palavrões e tratamentos politicamente incorretos apenas nos


engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças.

O que me parece bem indicado na mise-en-abîme daquele constante olhar para si


mesmo e suas próprias

feridas- criado em palco por aquele montão de espelhos. Elemento de cenografia


molto bene trovato.

Figurino
O figurino de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que vai dos
tecidos aos fios –

é uma marca registrada da Companhia do Séraphin. Entre o real do tecido chique


e design do sonho.

Estética do nada
O Programa da peça anuncia um certo niilismo estético e ideológico, que poderia
enfrentar falsas

esperanças, penso eu. Mas não o vi se concretizar em palco. Vi um texto pobre.


Uma ideologia mal

costurada. Uma falsa pobreza que me assusta.

Gran` Finale ma non tropo


Ao lermos o Programa da peça, achamos que A. Cadengue talvez queira marcar sua
distância com muita

coisa política que anda por aí. O que me parece justo e de direito. Mas isso não
ficou nada claro em Meia
Sola. Isso porque o desenlace da peça, tirada a cena citada de André e Lúcia, é
lamentável. É uma

apoteose para um filho gay, que nada fez para merecer dramaturgicamente o título
final de Rainha da

Pensão de Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha
recôndita e assustada.

Vivendo numa casa de bichas recônditas. Então, a superpoderosa vai abrir a pensão
para quem, se toda

a récua da espécie humana já tava lá dentro? Dito isso, lembro, Hilton Azevedo
segura bem seu

personagem ao longo da peça. O número crescente de denominações protestantes


provavelmente não

apreciará muito aquela Bíblia em suas mãos. Mas tem que ser assim...

O 160
A bicha acantonada em casa não merece essa bola toda, se pensarmos na
composição lógica do conjunto

de personagens. André Brasileiro e LúciaMachado deveriam permanecer–


dramaturgicamente – ali, em

primeiro plano Isso é, como gran finale. É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo.

BOTA MEIA SOLA NA BOTA!


paulo_michelotto@uol.com.br

1. Uma meia sola só não dá.

2. Para se entender corretamente Meia Sola, temos que fazer um gigantesco


flash-back.

3. Especialmente se estamos assistindo à presente montagem da Companhia


do Sèraphin e

à lamentável Bienal da
UNE en que o convidado especial palestrante é o cara que ficou Secretário de
Cultura imposto pela

Revolução de 1

de abril de 64 e que nunca escondeu seu ódio pela guitarra e pelas esquerdas.

Essa UNE é do do palhaço doi Dirceu que nos entregou em Ibiuna.

Quem esteve lá sabe.Por isso seu convidao hoje é ariano.Vergonha!

4. Se me permitirem, remendarei tudo com duas meias-solas.

5. Uma que foi a história e o solo aonde esse sapato se desgastou.Os


incompreensíveis Anos 70.

6. Assunto dessa quinta-feira.

7. Outra, o solo aonde A. Cadengue e o Séraphin tentaram caminhar com


nossas esperança:

8. o palco e a cena recifense. Assunto de nossa próxima coluna.

9.

10. A meia sola que colaremos hoje.

11. Nessa semana que passou tivemos a honra de sediar em Recife um dos
dinossauros

dos anos 70, a UNE.

12. Oh não aquela UNE guerreira, que nada! os tempos felizmente mudaram. A
UNE promove

agora bienais! Blz!

Mostras de Arte! Blz! Palestras! Blz!

13. A arte finalmente substituiu a vida. Blz!

14. Se você tentou participar já viu que a desorganização, desde os anos 70,
continua a mesma.

15. Se você achou que o povão estudantil estava lá para artes plásticas ou
cênicas, errou.

16. Tava para o que sempre esteve: papear. O que é saudável.


17. Tanto que nessa quinta também falarei menos de teatro para papear um
pouco mais. Posso?

18.

19. Ou a UNE se Raoni ou a UNE se Sting… (obrigado Leminski)

20. 3 coisas me espantaram na recente UNE e sua direção:

21. Continua usando a arte como pretexto para juntar gente, a primeira.

22. Prefere, hoje, uma boa conferência a uma boa troca de idéias, a segunda.

23. E finalmente, creio, é o maior convescote de reggueiros e esfumaçados da


época moderna.

24. O que não bate nada com a estética pessoal de Ariano, que é mais chegada a
uma rabeca

e a uma medievalização cultural , não é mesmo?

25. Mas você viu o tamanho da fila dos estudantes unidos e os empurrões e
cotoveladas para

se ouvir sua aula-show?

Doideira, meu!!!

26.

A UNE antigona era medéia mas cheia de alianças nos dedos.

27. Na nossa Idade Média brasileira, economistas desaforados- Bob Fields,


Simonsen,

Delfin – juntaram-se com alguns militares e a CIA, para salvar a pátria, a mátria e a
filharada

brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu;

28. e, quiçá também, na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia.

29. Tudo para nos conduzir a um futuro econômico esperançoso.

30. Que já chegou para a Argentina e cruzamos os dedos para que não nos
atinja.

Quem ainda os tem.


Nelson e tudo isso.
31. Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao
lado

do general E.G.Médici.

32. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética e de


escritura

politicamente corretos, à esquerda, claro.

33. Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa

família e transfiguravaem seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia.

34. Esse senhor reacionário chamava-se Nelson Rodrigues.

O Brasil da UNE de antanho NÂO GOSTAVA de


Nelson Rodrigues
35. Apesar de Nelson saber tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de
Enéas Álvares.

36. Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

37. Não servem para palco, complicam a vida de todo mundo, fazem atores,
diretores, cenógrafos se

danarem para resolver passagens de cena; quando não, pior, para encontrar a
significação e necessidade

de algumas delas.

38. Mesmo que você tenha gostado da história, sem carpintaria ela é péssima
para a arte e para o

teatro, entende?

39. Mas o pior estrago que um mau dramaturgo faz é o do público acabar
achando um produto bom,

apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

40. Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo
disso também.
41. Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

42. O que não justifica, claro, parte de seu comportamento político.

43. A verdade é que não gostávamos dele por ambas razões: por seu comportamento
e pelo que conseguia

ver além de nós.

44. O que ninguém quer lembrar porém é que seu filho caiu. E esse reacionário
fez coisas que muito

cardeal ou muita denominação religiosa ou civil, não fez por presos políticos.

45. Foi, incontestavelmente, o maior de todos nós, mesmo que Sete Gatinhos
jamais venha a passar

no cinema privativo da presidência, a última novidade daquele fim de mundo que é o


Planalto Central.

46. E a Meia Sola de A.CADENGUE?

47. AC nos obriga a repensar a palavra mais usada por políticos durante os anos 70:

Esperança.

48. No epicentro do teatro de Nelson. E caindo pelas beiradas de sua Meia-Sola

49. Mas isso fica para a próxima quinta, pois minha grade aqui se fechou.

Meia Sola nas Esperanças e seus ministros assustadores

50. ESPERANÇA acabou sábado passado à noite. Meu neto gostou muito.Não
entendeu

aquele flash-back para frente final. Para dizer a verdade nem eu. Só sei que ele,
Lucas, é a 5a

geração de emigrantes italianos, e se seguir o destino de descendente de imigrante


pobre-

apesar da onda italiana da Globo- corre risco de viver pior que meu avô Mário.

51. E ainda tem ministro por aí, trabalhador, que culpa nordestinos pela fome no
país,

ó Ricardos IIIos!!!

52. “Renuncia! Renuncia! Renuncia!!”


53. (sugesta de Coriolano, Thomas Stearn Eliot- afinal essa é uma coluna de
artes cênicas, pois não?)

(a seguir na quinta que vem, se meu leitor assim o desejar)

Fofa íVANA,

1. AS LINHAS SÃO APENAS PARA EU PODER CALCULAR AONDE


TENHO QUE PARAR…

E OLHE LÁ QUE QUASE NÃO CONSIGO…CAEM FORA, PORTANTO!

2. Fiquei animado com o e-mail de um cara de Olinda. Acho que devemos


tentar por um

certo tempo o filão do texto meio alongado mesmo.

Também porque preciso tomar um pouco pé para manter as notas da coluna


em dia.

Estou ligando para o Sindicato e o pessoal todo que conheço para me manter
informado,

ou dizer o que precisa ou quer que saia.

Preciso de um ou dois meses para a coisa fluir bonitinha como programada.

Tenho esse tempo?

3. Bolei o texto para dois dias:

Um para uma introdução à esquerda, já que isso é essencial para a


compreensão

de Meia Sola.

Disse Antônio naquele dia e eu nisso concordo totalmente com ele.

Outro para meia sola propriamente dita. Que resumirei ao máximo, menos que
essas

50 linhas, para dar espaço bom para fotos e coisas tais que dão uma maior
leveza e

maior informação à coluna.

4. Cortei o mais que pude a looooonguésima introdução.

Mantive mais ou menos dentro das 50 linhas.


Acho que essa será uma coluna de luto. Espero que apenas essa.

Continuo achando que vale a pena tentar alguma coisa mais politizante,

mesmo que o texto tenha que se esticar por dois dias.

Posso experimentar uma vez ou outra assim?

5. Se eu não for provocativo, não sei bem qual será meu futuro.

Se eu for provocativo talvez meus dias estejam contados,

mas certamente terei sido fiel aos meus leitores.

Que esperam de mim algo assim.

Pois sou assim.

6. Diga o que acha pois vc é meu guia.

Mas se precisar de mais cortes, não se vexe.

Você já deve ter visto que sou bom para escrever como se estivesse falando…

isso é, corridamente.

E sou bom de tesoura também.

Apesar de ficar choramingando pelo que escrevi e mandei para o lixo.

Mas essa é que é a nossa profissão, e não outra.

7. Espero que você goste do que está aí em cima.

Eu gosto. Polly gosta.

Se vc gostar, o mundo inteiro irá gostar, não tenho dúvidas.

beijos.

Eu, Michelotto.

Tou pensando seriamente em cair fora da UOL por causa da grana.

O meu e’mail da UFPe é master é master@npd.ufpe.com

Não sei ainda fazer funcionar. O NPD é jurássico.

O meu hotmail é mickey_mauss@hotmail.com


Mickey é como me chamam na Universidade.

Mauss é em homenagem ao Marcel Mauss, antropólogo que escreveu o

ENSAIO SOBRE O DOM e que mudou toda minha antropologia.

Mickey Mauss é o Mickey que não é do Disney, policial bonzinho.

Sou eu, mauzão. Assim conhecido em todas as listas de anarquistas desse


país….

vão me ler, imagine!

Hehehehe.

mickey_mauss@hotmail.com

GIULLIETTA em entreato
Para não dizer que não falei de flores e
de coisas bárbaras.
Estar diante de um texto de Shakespeare é sempre um prazer. O homenzinho de
Stratford

escreve para teatro como poucos e, graças a deus, tem algo a nos dizer sobre a
natureza humana.

O que anda faltando a muito dramaturgo por aí. Falar de Shakespeare no Brasil é
impossível,

sem se falar na dama de ferro que deteve o controle de seu texto por 2 décadas pelo
menos,

Bárbara Heliodora. Por muito tempo não se viu Shakespeare, mas sim Bárbara. A
tradução

de Bárbara. Realmente bárbara. Felizmente joguei fora meu exemplar, para não cair
na tentação

de brindar-vos com alguns exemplos de frases ininfaláveis e incompreensíveis em


palco.
De verso antigo aquela coisa, por alguma freudiana perversão invertendo, da
frase toda a ordem

… `só para fazer bonito!`. Intragável. Tradução literal, esse o nome da bobagem.

Quem tem medo de Bárbara ?


Recentemente porém a mesma Bárbara tem refeito o trabalho e a coisa tem
melhorado.

Mas ainda deve bastante ao palco, o que era a maior marca de Shakespeare.Perdeu o
pé.

Enferrujou. Talvez porque passou tantos anos a só escrever crítica teatral – essa
coisinha aqui

de 70 toques por 50linhas em estilo para gente apressada. Gente que nem você e eu,
que não

tem mais tempo de ler um James Joyce inteiro, o que não é nada mau. Oh crime!
Diria meu colega

de literatura. Mas quem já leu Ulisses inteiro a não ser ele e eu?

Romeu e Julieta é um desses textos em que Bárbara tentou, e até conseguiu


melhorar sua própria

marca, claro. Mas nada mais que isso.

Sua crítica porém é algo vigoroso. Não deixa passar nada, numa cruzada moderna a
favor de um

teatro melhor. E nisso ela é magnífica.È verdade que nenhum de nós tem muito claro
hoje em dia

a nossa estrita função de crítico, além daquela que é o exercício constante do texto.
Somos mais

escritores e paladinos da liberdade, que defensores de alguma forma de teatro. Pois


toda forma de

teatro é mera encarnação temporal, é mero tijolo nessa parede que vai nos trancando,
diziam os

Pink Floyd. Toda cultura nada mais é que um monumento à barbárie. Dizia o Walter
Benjamin,

se você prefere alguém mais da pesada..


Iso 2002

Se você quiser ver algo profundamente shakespereano, e um texto cuidadoso,


aproveite para

assistir sexta feira, 21 de fevereiro, no Teatro do Sesc de Casa Amarela, às 20


horas,

à encenação de Giullietta em entreato.

Direção de Viviane Barbosa, com Leda Santos como Giullietta e Jorge de Paula
como Mercúcio.

É isso aí, Romeu nem aparece, já pensou?! O original é Giullietta in stress, de


autoria

compartilhada entre Erik Hallberg e esse seu crítico implacável com textos ruins.

Não tá com nada

Aproveite, então, para poder dizer: michelotto não tá com nada! Vai ser difícil,
aposto. No ano

passado você viu três pequenos trabalhos meus em cena em recife: Porque os
teatros estão

vazios, em parceria com K.Valentim, n uma bela encenação de Roberto Lúcio e um


show de

interpretação de Fátima, Paula Francinete, Rejane Arruda.Você viu Mistério Bufo,


em parceria

com Dario Fó, dirigido por Marcondes Lima com um excelente elenco além do
delicado trabalho

de Augusta Ferraz. E você viu também O Grande Vizir, de parceira minha com
Obaldia, na

direção de Elias Mouret , com o trio magnífico, Amanda , Viviane e Lane.

Não vi ninguém reclamar de nenhum deles. Pelo contrário.

O que vem por aí O que vem por aí…

Eu falei alguns nomes ainda recentes em direção, como Elias Mouret , Viviane
Barbosa, Heron

Vilar, Marcondes Lima. Recente ou iniciantes, quer dizer com menos de 10 anos de
palco.
Algumas atrizes e atores iniciantes, como Amanda, Viviane, Lane, Lêda Santos,
Ritinha,

Marcelinho, Galeana, Maria de Fátima, Jorge de Paula, Rodrigo. É uma fornada


recente da

universidade.Ainda voltarei a falar deles. Pois creio que um novo teatro pode estar
nascendo daí.

Lêda Santos- não confundir com Jommard Muniz de saia que é a Leda Alves-

é uma esplêndida atriz, porém chorona pois fica aqui me pedindo para dizer

que ela é a maior atriz pernambucana depois de geninha Rosa Borges, que na

opinião da própio Ledinha, está um canhão horrível e dessa vez é a vez dela…..

1. Ô mulé dá uma pena 2.2. Jason Walace e seus companheiros de jornada


são inestimáveis para nosso teatro.

3. Certamente virá alguém depois de mim que lhes prestará as devidas honras.

4. São da nobre linhagem do Vivencial Diversiones.

5. São o renascimento do teatro popular e da Commedia dell´Arte aqui.

6. A diferença é que conseguiram realizar o sonho que todas vivecas tinham.

7. O modelo dessa peça porém não me agrada em nada. Está descosturado.

8. Parece feita nas coxas. Tá muito em cima de A praça é nossa.

9. Sei bem que comigo havia outras 599 pessoas. E se divertiam.E isso é muito
bom.

10. Mas por favor, Jason, vocês são bem maiores do que isso. São profissionais.

11. Continuem fazendo crescer o público que conquistaram sozinhos a duras


penas.

12. Vocês são o nosso sonho. Vocês são a experimentação e o público


participando.

13. Não nos abandonem por um esquema apenas comercial, pleeeeeease, ô mulé
dá uma pena!!!

14. EM TEMPO: Vou tentar entrevistar Jason…Eu também quero o público dele
hehehe..
15. Folhetos. Cia de Dança16. Acho que não dá para se atrasar 30 minutos.
17. Querem que o público desligue celulares, mas se lixam para nosso tempo e
horário.

18. Foi prometido, por anúncio viva-voce, que “se aliaria o teatro à dança.”

19. Não tenho a menor idéia do que se quer informar com isso.

20. Uma vez que essa unidade vai do balé clássico ao show de rock, passando
pelos musicais todos..

21. Lago dos Cisnes, Copélia, Pink Floyd têm um grand-jeté pousando suave na
arte cênica. Ou não?!

22. Estou horrorizado com a comissão julgadora desse janeiro de espetáculos.


Aliás, com todas.

23. “ Reuniu-se uma comissão para se julgar os Volscos.

24. Outra comissão para julgar a comissão “ etc…Eliot, mais uma vez, em
Coriolano.

25. Ou nunca o lemos ou nunca aprendemos nada. Folhetos como o melhor


espetáculo?!

26. Folhetos é um desencontro na interminável trilha rural do armorialismo.

27. Já que também é teatro, posso dizer também que prefiro Ô mulé dá uma
pena 2…

28. A menina que dança Maria Bethânia, com h, é mais comovente.

29. A maioria das meninas que dançam aquela boneca de pano, dança melhor.

30. O povo ao vivo não é melhor que qualquer teoria ou grupo filosofando sobre
o povo?

31. É o que posso dizer por hoje.

32. EM TEMPO: não me corrijam aí na Redação a concordância de maioria.

33. É um vocábulo, no meu entender,da mesma ordem lógica que porcentagens


etc.

34. Sei que virou moda até na Globo se dizer “80% erram.”

35. Só porque 80 inclui a idéia de muitos.

36. Mas você jamais verá Ariano, Arraes ou eu dizer: o povo são burros.
37. Pelo fato de o povo conter alguns milhões de pessoas.

38. E você sabe bem que Cáfilas e Récuas também não saem por aí se
pluralizando. Graças a deus.
39.
40. Nesse sábado vou assistir Os Pesadelos de Martha Stewart. Antes
que vá para o Rio.41. Dá-se numa piscina seca em Olinda.
No Alto da Sé, lotação de 25 pessoas, Sábado, 20h.

42. Reserve sua entrada, senão não cabe, pelo 99651628

43. “… O espectador tira as conclusões que quiser, se quiser.

44. Para mim, é a libertação do meu ator.

45. O diretor saiu de cena, o cenário não existe.

46. O ator volta a ser o dono da brincadeira e não esconde sua mágica”.

47. Não perco por nada.

NB : tá com 50 linhas, mas tem espaço pra cacêta.

O QU8E ESTÁ EM VERMELHO PODE IR PARA O CORTE.

PÔ, MAS QUE PENINHA!!!

Dá bem menos que 50 linhas, ligando tudo.

Separei só para contar as linhas , ok???

Beijos no paginador também, pelo mico que paga comigo.

Eu, Mickey_mauss

EM TEMPO:

PORQUE NÃO ME DÃO UMACOLUNA duas vezes por semana????

Uma pesada, 5o linhas no blá blá e na filosofia. A outra bem levinha. Só com curtas.
Do tipo que está aí em cima ( que ainda dá para enxugar, claro, pois curta é mais
fácil de cortar. Pelo menos para mim.)

È isso aí…eu tenho matéria para tanto e nem me canso uhuhuhuhu!!!

Vou te mandar mais uns pedaços de coluna

só para voce ver que toyu com a cabeça a mil.


Pergunta aí para os editores chefe

Kssssssssss

Maussssssssssss

1 SOBRE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA2 ( devidamente


traduzido para o português, claro!)

4 Eu disse que a dramaturgia anda ruim.

5 Vou lhe oferecer hoje alguns exemplares para você se horripilar.

6 Porque michelotto mata a cobra e mostra o paulo- diz o Hilton Azevedo.

7 Vamos revisar o site The Dramatic Exchange. www.dramaticexchange.com

8 De onde tirei, por sinal, o Hallberg e seu Balcony, meu Giullietta in stress.

9 Vejamos algumas sinopses.

10 This is a play I decided to write after watching “Sex in the City,” for the first
time.

11 I felt that it was bringing out the wrong message in relationships. (20
Questions by J. L. McBride) O negócio é a right message!

12 A Wildwood Reunion by Jonathan Calindas…. ” is a play about how


someone’s years

13 in college changes someone.” Que coisa mais interessante foin nossa vida
no colégio Marista, né não!.

14 Central Park Freak Show by Wilson White F. Fran Tinker was a rising
executive when her legs were amputated after an accident two years earlier. Badly
shocked, I´m shocked too! CHAMAR UM CREEPLE DE FREAK, DJÎSAS!!!

15 Dancing at the Revolution by Michael Bettencourt, is based on the two years


Emma Goldman spent in the federal prison at Jefferson City, MO, after her
conviction, along with her life-long companion Alexander Berkman, for conspiracy
to advise people to resist the draft during the First World War (then known as the
Great War).Numa Jaula?

16 Eleanor by Mark Brownell A comic monologue about a Catholic school


girl..VIXE!!!
17 Hannah Elias by Nathan Ross Freeman…Turn-of-the-Century urban life
(1865-1906): a period of tremendous civil, humanitarian, political and revolutionary
activity etc etc Baseado no livro Sexo e Raça, do mesmo.

18 I Dream of Edna in a Light Green Dress by Bradley Hayward . Playlet, sex


farce.The key element in the set is the intercom. Without the intercom, the entire
realism is lost. A farce must be a believable exaggeration of events so the intercom
is a crucial set piece.

19 JULIET AND ROMEO A play in one act by Wayne Anthoney. “Romeo


and Juliet” is intended for secondary school students who have already studied the
original. PUF !!!

20 Look at Sandra Jane There by John Blais S Sandra Jane lies as if asleep
with heavenly dreams. In this undeveloped park, the three boys admire her state as
they wait to buy

21 the drug and join her. Tudo drogado, blz!

22 Party on Avenue “B” details the last evening in the lives of three of the six
characters involved in the play

23 The Clowns’ Macbeth by Wayne Anthoney It is a gross travesty of the real


“Macbeth” but I am quite certain that Shakespeare would have enjoyed it. Quite
certain, UÁU.

24 Tuba by Tommi Virhia . Synopsis: This elderly woman drinks liquour while
walking downtown to go into a jam session of the Town Jazz Festival.Never been in
jazz concerts before and dislikes music. On the way she helps a russian man,
….DJISAS !!!

25 Fique em casa!

26 Agora imagina o que não é a dramaturgia de língua latino americana recente.

27 Fica para a próxima. O site é o do CELIT, www.celit.com

TUDO NO TIMING & BUGIARIA

paulo_michelotto@uol.com.br

Sei porque antigos como eu e mais dois ou 3 velhotes de Recife vivem dizendo que
o texto, O TEXTO, é uma coisa boa que ainda vai ser retomada e ser revista e voltar
à cena com toda förça depois de sua derrocada fantástica com a modernidade. Claro
que estamos falando daquele texto que pode virar declamação, e não do texto
semiótico, senão nem teatro haveria, mas escuridão e mudez.

Tudo no Timing e sobretudo Bugiaria estão aí para ir contra tudo isso e continuar
impávidos e velozes rumo ao futuro que Marinetti nos prometeu. Marinetti?!. Sei
que meu público é o dos sentados no trono da sala e pensa, no nordeste, que
Marinetti é um önibus ou um pau de arara, mas um pouco de cultura culta maiúscula
não lhe fará mal. O Marinetti que cito não é o do Manifesto futurista apenas mas
sobretudo o de Gog e Magog- que aprendi a ler com meu velho pai.Acho que
ninguém mais o edita. Enfim, quem leu já viu Tudo no Timing e Bugiaria.

Isso não diminui em nada os dois.. Pelo contrário. Eu adoro Gog e Magog e amei os
dois espetáculos. Citei apenas para dar uma das linhas de continuidade histórica ao
que andamos fazendo.

Timing ( o nome completo está aí em cima) é todo zombaria com muito humor e
precisão. Os textos são muito muito muito bem escritos, do “Philipão” Glass que
quer comprar pão e sonho ao de Trotski zanzando pelo palco com uma picareta na
cabeça- tudo muito bom. Ëpa, contei uma gag! Mas isso é o de menos, pois o
importante aqui não é o que se fala,o tema, o assunto, a proposta, a ideologia, o
sentido profundamente literário e filosófico dos textos, mas como se os fala. Gerald
Thomas dixit. E é essa a corrente que se opös a todo teatrão de textão com
textinhos, ou usando o termo de Samuel Beckett, dramatículos. Ou Textículos.

Não precisa ser chegado a umas coisas dessas para ir ver Bugiaria ou Tudo no
Timing, mas simplesmente estar afinado com nosso tempo, com nosso timing, nossa
correria, nossa falta de sentido da vida graças a deus.

Ambos são mezzo musicais. Ambos zombam desbragadamente de tudo isso e de


todos nós.

Bem, em só um momento que Tudo no Timing escorrega e cai no discurso político,


pudera, o Abujamra está por trás de tudo isso.Mas eu assino em baixo da cena de
passagem do Apagão. Porque se há uma coisa sem-vergonha e safada e desonesta no
Brasil, não é a comédia, nem o melodrama , nem o rebolado, nem Geni.É Brasília e
esse Real Govërno de irreais merrecas.

Fé & faca amolada

Paulo Michelotto

1. Ontem, quinta-feira, no Teatro do Parque, tivemos a abertura quase solene do


IV Festival de Teatro Nacional do Recife.
2. Alguma coisa me fez lembra uma frase célebre “…na arte a gente (…) tem que
ter fé e faca amolada prá ir cortando também.” ( Antönio Cadengue,entrevista a
O Folhetim #11, já nas bancas. Plim-Plim!.)
3. Sei bem que já passaram os tempos áureos.
4. Neles, critica vinha do grego kritein– que significa cortar.
5. Se tivessse havido uma melhor crítica teatral certamente o teatro teria sido
melhor. É uma questão de fé, entendem? E de saudade de Isaac Gondim.
6. Voltando aos Gregos, não custa pensar que ainda hoje possamos reviver a
Grande Grécia em que uma economia esclavagista não impediu espíritos lúcidos
de criarem um grande teatro, aliás, O grande Teatro Ocidental – futuramente
citado como OTC.
7. Então, passemos a faca.
8. Mas , primeiro, meditemos sobre a fé.
9. Primeiro a fé das Otoridades Presentes que subiram ao palco…
10. Companheiros, finalmente o PT está demonstrando que esquerda se dá bem
com arte e que não nos persegue como cães vadios- como muita gente de bem já
afirmou.
11. Parabéns para o João Paulo, o primeiro prefeito dos Tempos Modernos que
comparece a um evento nosso sem haver vaias clamorosas..
12. Agora passemos a faca.
13. Só que não precisava subir em palco. É coisa provinciana, Coisa de político de
Brasiliawitch.
14. Como é coisa de planaltos a presença de um sujeito muito escalafuboso que
ficava no palco nos lembrando dos tempos da ditadura .
15. Saiu botando para correr um pobre fotógrafo. Um horror.
16. Aquele Manifesto também , perdoem-me, não devia ter sido lido..
17. Nossa tragédia não é a de sermos assassinados e haver impunidade.
18. Esse papo acaba no de segurança e daí para o de segurança nacional é só questão
de uma divisa a mais na farda.
19. Nossa tragédia é que nada aprendemos com Sófocles e seu Édipo: a continuar
procurando, mesmo após achar as causas.
20. Acho que só, no ramo Otoridade..
21. No ramo Programa, pouco se informa.
22. Parece que o público- O PÜBLICO ! – não quer saber de nomes de autores,
tradutores, diretores, cenógrafos, iluminadores, atores e outros etceteras, não é
mesmo?
23. .Afinal , quem são eles diante do grande OTC?
24. Ainda no item Programa, também não gostei daquele vermelho-beterraba ,
daqueles brocados e poses renascentistas do leiauti .E daquela única
Companhia de nossas Índias Ocidentais .
25. Sei não…
26. E finalmente, posso fazer uma pergunta? Há concorrência pública para se editar
cartazes etc e tal ?
27. Sei não.
28. Ah , sim a peça?
29. Não gostei.
30. O que não significa que vocë não deva ir e que não haja muita outra coisa por aí.

Prof . Artes Cënicas UFPe

Jornalista profissional (registro no MRT-JP)

Crítico de Teatro

Ivana, amor

Me dë retorno , ok?

O segundo é manso e só sobre a peça

Coloco aqui o início para teres uma idéia também:


PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara.
4. Um monte de cacoetes não faz uma dramaturgia.
5. Porque não se lë mais Anouilh?
6. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
7. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
8. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
9. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
10. O figurino…… etc etc

SOU CHEGADO A UM MELODRAMA


”…No Recife há um resquício do rádioteatro, daí que por vëzes a cenas está antenada
coma a contemporaneidade, mas a prosódia está presa a um outro tempo, a um outro
lugar. “ ( Cadengue,entrevista a O Folhetim #11, p.118.)

O IV Festival de Teatro Nacional do Recife foi aberto nesta quinta-feira, com a peça O
MELODRAMA, texto produzido no processo de criação da Companhia _______

do Rio de Janeiro. Não sei se seria o melhor espetáculo para abrir o Festival, mas
certamente é um espetáculo que vale a pena ser anotado na sua agenda.

Muitos acertos e alguns equívocos.

O equívoco maior fica certamente por conta da idéia de que uma companhia criar seus
próprios textos é seu melhor caminho. Claro, essa não é uma idéia que eles
inventaram, tantas que são as pequenas companhias que andam por aí no mesmo rumo.

Penso que há um certo tipo de teatro que deveria respeitar um pouco mais o seu próprio
teatro. Uma companhia cujo avanço e inventividade se dá dentro do espaço de um palco
italiano necessita se ater às convenções desse próprio palco. E essa que vimos atuando
em Melodrama não é nenhuma companhia de teatro de rua, ou de performances, ou
de …

Para os menos afeitos à essa linguagem estranha que será falada durante esses 11
dias no Recife, vamos aprender algumas coisa sobre esse famoso macarrönico palco.
Pois ele é o palco mais tradicional do Ocidente, que nos vem da Renascença, nascido
em Vicenza, consistindo em um espaço fechado como um quarto, com uma das paredes
substituída por uma cortina. Essa parede aberta, a quarta, vai virar inclusive ponto de
ataque de um dos pais do teatro moderno, Brecht, em sua proposta por um teatro não
ilusionista, um teatro que pudesse servir à consciëncia e a reflexão do público.

Originalmente foi feito em um canto abandonado de um Palazzo, daí também a


identificação desse palco com a burguesia. Se você quiser dizer “teatro de burgueses
para burgueses”, simplifique tudo isso chamando-o de “palco italiano”.
É onde boa parte de nosso IV Festival irá se aninhar.

Creio que finalmente poderemos falar um pouco desse pessoal de base, carregador de
pedras da construção toda, chamados Dramaturgos e de seus pequeninos mas árduos
deveres..

O ofício de dramaturgo é tão elevado quanto o de qualquer outro de nossos ofícios de


cena. Se achamos que qualquer um pode sair escrevendo, por que não admitirmos que
qualquer um pode subir em palco e dizer o que bem entender- substituindo-se assim
definitivamente todos esses escombros de nosso velho teatrão, tais como diretor, ator,
cenógrafo, iluminador etc etc ??

O primeiro dever dele é escrever algo para ser visto. Aonde a dramaturgia se distingue
profundamente de toda outra modalidade de literatura – de tal ordem que julgamos que
nem literatura mais isso é. Mas isso é mera opinião nossa.

Está começando a vislumbrar porque o texto dramatúrgico, ou a peça, apesar de tão mal
falado em nossa modernidade, tem uma importância vital?

Pois é o primeiro roteiro do olhar do espectador sobre esse objeto chamado cena.

O centro do texto portanto não é se é falado, nem como é falado, nem se é cantado, nem
se é emudecido ( ou mímica).

Seu centro é um olhar.

E nisso há algo de extremamente positivo em O MELODRAMA.

Pois pretende ser um certo olhar sobre o comportamento amoroso.

Que no homem, diferente dos outros animais, é elevadamente ridículo.

Daí talvez o enorme sucesso desse sub-gënero que dá nome à peça. Há quem
identifique o melodrama com o nascimento da modernidade também. Mas, para não
irmos demasiadamente antes disso, basta-nos dar uma olhada nas peças do
francës Marivaux, para vermos que ele é bem mais tinhoso e resistente. O avö do
gënero pode bem ser uma “marivaudage”, nomezinho cunhado para designar peças
espertas em que rola esse amor em todo seu exagero.

Seu fundo talvez seja a própria natureza humana.

Então porque disseste que a peça Melodrama, de abertura do festival, era de ruim
dramaturgia no artigo do Diário Impresso em Papel?

Por que o problema de fundo lá é apenas de formalização do espetáculo como um todo.


O que quer dizer apenas isso: posta essa característica de um determinado tipo de
comportamento amoroso, o resto é enfeite.

Podendo em nome da simplicidade ser jogado no lixo.


Vejamos o exemplo da gag, ou truque, do marido ter um irmão gëmeo e finalmente
essse não ser outra pessoa mas o mesmo e torturado personagem. Ou o truque , já muito
conhecido nos meus anos de infäncia – e lá se vão punhados e punhados de anos nisso-
do casamento entre parentes que resulta em uma cascata de situações em que finalmente
a mãe descobre que pariu o próprio sobrinho.

Até aí tudo bem. Afinal, um monumento de nossa tragédia, Édipo de Söfocles, foi
responsável pelo nascimento dessa piada infame, que não acaba nunca de se reproduzir
sobre nossos palcos.

O que não é lá muito bem é ficar se repetindo essas gags no espaço de uma hora e tanto.
Não , não estou falando do fato da gag aparecer uma vez no faoreste, outra em novela
mexicana e assim por diante até completarmos um ciclo quase de exaustiva pesquisa
antropológica. Não. Esse problema ai é apenas de ërro de alvo.Não estamos em sala de
aula e teatro para fazer estudos aprofundados da cultura ou dar mostras de descobertas
antropológicas – como diz bem a A.Cadengue. pode ser bom para se formar o ator
barbiano, mas talvez para nada mais.

A repetição é mesmo a da piada que é contada duas vëzes do mesmo modo. Cansa.

Se você ler Antígone de Anouilh verá que não se precisa fazer referéncia a nada dessa
piada de cruzamentos consanguíneos para se fazer uma platéia chorar ou rir.

E olha que ela é filha do filho que se casou com a mãe, portanto o filho dela com
Hemon seria neto e bisneto ao mesmo tempo de Jocasta, sua avó….

Uma peça não é feita com uma boa coleção de piadas.

Ou uma boa coleção de emoções fortes. Ou ridículas.

A repetição em MELODRAMA também é feita pela quantidade de músicas cantadas.


Parece que entram para resolver outros problemas de texto como passagens de cena etc.
Coisa aliás extremamente bem resolvida por uma direção que navega num texto dessa
ordem caótica.

Talvez esse seja um dos pontos em que me parece complicada as escolhas de texto de
Melodrama. Porque esse amor melodramático não tem como referéncia alguma a
pluralidade de amores, mas muito pelo contrário, a obsessiva fixação em um ou dois
valores apenas do comportamento amoroso.

O eixo dessa fixação é a sexualidade.

E essa não chegou a subir em palco.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto
Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção, pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da crítica e da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem no Brasil por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia, a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora
Esses merecem o Molière.

Mas vocës bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos
reais, investe em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construção. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois creio que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples, difícil e muito antigo, da narrativa.

É uma história que se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das
histórias narradas com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse
achado que é o de trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar em
que tais tradições narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta
lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória
não me falha.
Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: “aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar mais, de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!”

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


um presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos passá-lo numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além
disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza em


Como vivem os mortos, nos acompanhará para sempre.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora

Esses merecem o Molière.

Mas voces bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada a teatro. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros
frutos reais, invete em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construçào. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois penso que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples e difícil- pois muito antigo – da narrativa. É uma história que
se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das histórias narradas
com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse achado que é o de
trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar aonde essas tradições
narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta lembrarmos o
katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar, mais de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


uma presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos ser passado
numa narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá
além disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.
Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza nos
acompanhará para sempre.

Bárbara não lhe adora.

Janeiro Produções.

Micro- crítica
Peguei num canto esse papo em linguagem coloquial:

Lëda disse:” é uma peça pintosa!”


Fátima Saad disse: “ mas não, é uma sátira!”

Lëda, ela é de teatro, mas claro deve ser pura inveja.

A Bárbara é uma gracinha, a companhia é inteligente e os atores e atrizes muito bons.


Jennifer foi a menos melhor.

Entendo hoje porque Bárbara, a original gostou. A peça lhe dá razão e nós críticos
ficamos de alma lavada.

Claro, a peça funciona melhor no circuito Rio & S.Paulo, uma vez que aqui nosso
povão não sabe bem que diretores fazem aquele trejeitos todos e aquela quase macumba
da corrente energética, e nem que atöres gastam tanto suor para achar “O”
personagem.

Lëda disse mais, o figurino é pintoso.

Mas se se trata de uma peça satirizando o teatro, o quë mais se pode esperar senão
pintas?

Eu disse uma certa vez que mil cacoetes não fazem uma peça. Pois Bárbara está ai para
provar minha tese de que uma pequena piada dá uma peça divertida e bem feita, coisa
para a gente rir, pois teatro é também para isso se não for apenas para isso.

Sei não.

Leda disse: aquela fumacinha é pintosa!.

Deus. Lëda, que fumacinha você queria em cena aberta?

Bem, podem ver que minha noite com Lëda terminou mal

E Lëda nem loura era.


Culpa da Bárbara, essa gracinha!..

( A que ficamos reduzidos, nós críticos, depois de Bárbara não lhe agrada!).

Se vocë odeia algum crítico particular, vá ver as peça e saia rindo que nem besta.

Nada a ver com a fumacinha de Lëda.

Encontros depois da chuva


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe

paulo_michelotto@uol.com.br

Acho que essa mostra indica que nosso teatro tem vitalidade, está indo muito bem
graças a deus. A Cia Teatro di Stravaganza é uma boa prova disso.

Encontros depois da chuva é um belo roteiro. Enxuto, preciso. Eu apenas


cortaria o texto aonde se fala das horas que restam para se ser feliz. Mas gostaria
de rever o espetáculo pois acho difícil que a Stravaganza tenha cometido alguma
imprecisão.

O melhor do roteiro é o contraste entre o onde não se fala e aonde se fala.

Nisso ele me lembra Ato sem Palavras de S. Beckett, em que um simples apito se
opöe a todos gestos. Aliás, o meu velho mestre merecia uma homenagem. Nunca vi
tanta coisa que se deve a ele nesse Festival. Viram os vermes dos sacos de dormir
de Textes Pour Rien na abertura da Infecção Sentimental Contra-Ataca do
XPTO? Encontros depois da Chuva, por exemplo, também é um roteiro becktiano.
Moderno.Viram algum dia May Be? Viram a viagem do nada para o nada, de
Mercier e Camier? Quem não ouviu a musicalidade em Beckett não viu nada. A
Stravaganza certamente viu. As malas-quase-circo são de Samuel, o tempo preciso
de cada movimento de ator são de Samuel, a repetição da capo al fine em novo
ritmo é Samuel (leia-se, Quoi Où etc), a viagem para o lugar aonde ainda se ouvem
pássaros é Samuel ( leia –se a lua e a casa da amada de Mercier e Camier).

Breve, essa junção perfeita entre palavra & música & ritmo & dança é de Samuel.

Beckett escreveu mais para os tempos em que havia a Palavra. Ele a desmonta.
Depois remonta com novo valor. É talvez o grande e último escritor que a trabalha
com precisão de relojoeiro suiço. Mas nós sabemos que qualquer reloginho de merreca
japonës vindo do paraguay e vendido a 3 reais na pracinha do Diário é mais preciso que
todos os antigos. Coisas da Evolução.Coisas dos Tempos.

Coisas das Chuvas.


E coisas de nossa busca infinda de pássaros e estradas.

Já não há mais que se escolher entre pássaros e estradas. Entre palavras e gestos,
entre texto e dança. Eles nascem à beira dessa estrada, nascem da selva de asfalto
– indica o roteiro belo de Adriane Mottola.

Belo, pois, depois de Samuel, pela primeira vez, pode-se falar alguma coisa.

Então para quë vou eu falar de figurino, interpretação, cenografia, programação


visual, se- quando se está diante de um texto inteligente- tudo isso nasce
suavemente ou aos borbotões como na Cia di Stravaganza?

Luiz Henrique Palese vai mostrar, em solo – em Como vivem os Mortos – que a
Companhia é de absoluta afinação.

E podem contar, Bebë Bum me verá na primeira fila, no gargalo, com meu neto
Lucas.

Não é que viramos macacos de auditório desses meninos di Stravaganza?!…

Dizem que fãs não escrevem boas críticas. Ficam sem distanciamento crítico
brechtiano…

Então vou me calando por aqui.

Por que o que eu quero é mais. Muito mais. Desses palcos azuis de infinitas
cortinas.

A Infecção Sentimental Contra –Ataca

Grupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.

Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem
merece.

E creio que – dos que vi até aqui – esse era o grande espetáculo para abrir o
Festival.

Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?

O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula
Magna!- de Teatro.

Então que abra o próximo Festival.


Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda
de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso
ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para
pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos
com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a
humildade nos permitir – nosso ofício seja também o de participar um pouco
como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o
mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim.

O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando
sua obra.. Só posso adorar.

Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com


roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte
viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!…
AH!… OH!… Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La
Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na
frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?.
Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos.

Quer saber mais? Vá assistir.

Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena
cena- que mais parecia uma pequena passagem entre cenas – em que robôs
trombam uns com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se
transformando em uma guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que
finalmente se rompe ao tentar pescar o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do
próprio XPTO.

A de crianças que recriam o Universo.

Beijos para cada uma delas, pois me comovem.

Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.

O mundo será bem, melhor depois disso.

Encontros depois da chuva.

Companhia de Teatro di Stravaganza

Leda falou que esses meninos são todos gobas.

Puta merda leda, você está virando sapatão..

Toda nudez não será castigada

paulo_michelotto@uol.com.br
É um fenömeno como Nelson e uma boa propaganda tëm vitalidade. A fila ia do
Armazém até o Pina! Nosso injusto público finalmente acordou e foi ao teatro.

Como entender Nelson? Há uma mania nacional de psicologizá-lo, logo o Nelson que
tinha horror disso. Não foi o caso, graças a deus, de Cibele Forjaz e companhia. A
opção foi pelo Nelson suburbano, com forte dosagem de melodrama, numa escolha de
interpretação de ator bem bem naturalista, algo assim para você sentir MESMO que
havia um puteiro, umas tias dentro de casa batendo bolo. Só faltou o quarto de boi em
cena etc…

Ora, quem andou vendo Antunes, viu certamente o último e definitivo Nelson. Na
mesma linha já tivemos aqui, recentemente, a Seraphin com Senhora dos
Afogados.Confesso que não apreciei tudo o que vi na encenação de Antönio Cadengue,
mas ela tem certamente o mérito de cair fora de alguns chavões. Ele é Antönio, mas
certamente não Antoine.O que é bom para Recife e para o mundo.

A Cia Livre de Cooperativa Paulista de Teatro nos apresenta um espetáculo de muitas


coisas boas. Não vou ficar repetindo ficha técnica porque quem anda lendo jornal nesses
dias é mais gente de teatro mesmo. É pelo menos o que tenho visto freqüentar o
Festival.A rígida divisão dos espaços cenográficos num esquema quase aristotélico
merece toda atenção, além de ser uma homenagem às antigas regras de esquerda alta
esquerda baixa e etc… A luz segue o mesmo esquema de rigidez, desenhando áreas
muito claras na zona do quarto de Geni para destaque de seu corpo, vermelho forte
riscando os encontros de Patrício e Herculano- eixo de toda a trama. O resto não
convence muito. O que salva bastante é que os atöres são tecnicamente muito bons.
Além da escolha duvidosa da interpretação de ator- o que não lhes cabe, portanto não
lhes podemos imputar ( oh desculpem-me!)- há ainda duas pequenas coisas.

A primeira é, sem dúvida, o nome da Companhia que ocupa quase ¼ do espaço que
temos para escrever. A segunda é que foi a encenação mais casta que já ví de Nelson.
Serginho por exemplo não pode sair daquela banheira de Marat …vestindo cuecas que
parecem fraldas! Nú ficava mais correto.Também vi pouco os seios tão perfeitos e tão
insistentemente cantados por Nelson. Neles é que o câncer de Nelson pode se instalar.

Então…

Balanço

paulo_michelotto@uol.com.br

Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada
interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o
conseguem.Cheguei correndo ao Hermilo – uma vez que estava no Sesc e quase não dá
tempo para se sair de um espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria
que parece Fazenda Nova… Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava
acompanhado e fui humildemente comprar o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam.
Lotado. Bem eu não ia deixar quem me acompanhava esperando do lado de fora durante
uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa, aparece alguém e informa sobre um problema no ar
condicionado e pede desculpas pois não haveria espetáculo, que se refizesse a fila para
devolução de ingressos e… Aí aparece o ator e grita que vai haver espetáculo, que esse
festival era uma mentira, que se precisar tirem a camisa para agüentar o calor – no que
lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo. Voltei humildemente à bilheteria, já
que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes e enfrentar o Zöo de Albee- sem
nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10 reais! Apesar de ser da classe,
minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse preço um assalto feito por
quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a democratização da cultura. Não
acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em bufunfa como nadam os
governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não…

Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de


técnicos e no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4
horas no Rio Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da
manhã e o encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com
XPTO.Cansaram de avisar que teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo
agendado. “Ah , dá tempo para se apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo –
uma jóia de profissionalismo e rara beleza que já rodou meio mundo – acabou tendo
que ser adiantado e lá estava um imenso Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos
chamar o público até de senhora gorda- como o impolido Nelson Rodrigues –mas não
podemos chamá-lo de adivinho. Jornais existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para
isso.Mas ninguém se lembrou que os jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como
cães de guarda da cultura. Bastava abrir a boca sobre mudanças de horário que
publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da sonolëncia. E o pobre do Xpto
ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo pernambucano. Posso
acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma, foi dar uma
mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar, carregando
todo o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido almoço e
descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles.

Mais?

Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho
– que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro.
Convidei-as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um
pouco de medo dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram.
Mas amanhã se aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados.
Porque precisa ter uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter
toda informação necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas
da noite e atravessar aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por
favor, programem espetáculos para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa
Amarela possa também ver teatro, sem ter que se deslocar à noite para o centro. Agora,
colocar ali, à noite, peças que só podem ser vistas ali, é um ato de crueldade.

Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada
tem a ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter
paciëncia, que isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o
que quisemos mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro
agradece.

FANDO E LIZ
paulo_michelotto@uol.com.br

Nesta quinta,15/11 e sexta-feira, teremos a chance de ver um Arrabal.

“Baixinho e feio, assustado com a infäncia e suas obsessöes”- dirá dele Allan Schifres.
A mãe não o deixou abraçar o pai, prëso como traidor na Guerra Civil espanhola. Dá
para se perdoar a crueldade do universo infantil em suas peças? Vários autores
opuseram o mundo adulto à lógica terrorista das crianças.Quão longe anda nosso teatro
infantil de tudo isso, não?Aqui em Arrabal, crianças matam crianças e
velhinhos, arrancam asas de mosca só pelo prazer. Nem pense em
recomendar espetáculos de Arrabal às escolas aonde seu filho estuda. Haveria
professorcídios após. E Arrabal é tudo, menos espetáculo infantil. Sua sexualidade é
animal, a crueldade, instintiva. Seu herói não oculta nada. E sabe como é perigoso entrar
nesse jogo de adultos.

De uma escritura muito próxima à de Samuel Beckett, ou H.Pinter, Arrabal escreve suas
peças…” Escrevo, portanto minhas peças como quem dirige um Cerimonial, com a
precisão de um jogador de xadrez ”

. E assim, coordena rituais de festa para escapar a seus maus sonhos. Para ele a
existência já é trágica o suficiente para que ainda se a leve a sério…

” …Então o que se passou foi que ela e ele se puseram a brincar de pensar mas, como
ele não podia tomar uma boa posição, ele pensava muito mal e quando ela lhe mostrava
em que posição devia se colocar para se poder pensar; ele apenas pöde pensar na morte”
( Fando e Lis).

Você já adivinhou que o Movimento que ele fundou com Topor, Sternberg e
Jodorowski tinha o nome de Pänico, não é mesmo? Garoto inteligente!

Se você não viu Oração , com Marcelo e Rita, nem O Arquiteto e o Imperador da
Assyria , na bela direção de C. Bartolomeu, vá lá e não perca esta oportunidade de ver
o monstro que escreveu ainda Cemitério de Automóveis,. – um cult dos anos 60/70. Se
vc não as conhece, procure o Banco de Dados do Dep. de Teoria da Arte da UFPe, que
lá você acha . De graça e& em tradução minha. Essa é a alma do negócio.

Antes que eu me esqueça: parabéns à curadoria. Um festival que tem Nelson, Albee,
Arrabal, A . Mottola, Palese, Marivaux , Moacir Chaves, e o texto visual de Oswald
Gabrielli, do XPTO entre outros, merece aplauso.

O meu pelo menos. .

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

(mais uma vez a propósito de FACA AMOLADA/ dir. A . Cadengue/ Teatro do


Séraphin)

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara. Um monte de cacoetes
não faz uma dramaturgia.
4. Porque não se lë mais Anouilh?
5. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
6. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
7. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
8. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
9. Interessante no século XIX. É um teatro mofado com dada de vencimento de há
muito expirada.
10. Precisa se dizer mais

AGNES DE DEUS
p. michelotto
Dramaturgia.

Vou ter que começar a falar pela dramaturgia, me desculpem. Parece-me essencial.

Dramaturgos andam em falta.Vamos à dramaturgia, pois.

Stanislau P.P. me ensinou certa vez que tem coisas que não dão samba, dão samba de
crioulo-doido.Tem coisas também que não dão literatura, muito menos teatro. Padres,
freiras, psiquiatras, loucos, físicos nucleares ( vide Copenhagem) – via de regra dão
péssimas histórias. O único texto com grandeza que tenha um padre como personagem
principal, que conheço, é O Poder e a Glória do saudoso Grahan Greene.

Mas, meu deus, quem aí lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Por outro lado, Deus, (Ele Mesmo, o Patrão) sempre andou em alta e não sei se pela nossa
formação cultural portuguesa latina ocidental ou por que, mas o Senhor tem escolhido – de
Beckett a Dario Fó- bons dramaturgos para contar suas proezas.

Ao contrário de Agnes, que é uma freirinha, às voltas com um crime, uma psiquiatra com
problemas como todo psiquiatra, com sua madre superiora, com deus; e claro, com a mãe.
Pois, depois de Medéia, tragédia sem mãe não existe.

Os elementos de um bom thriller policial estão aí: um personagem apagadão ( freirinha),um


escândalo ( gravidez), um assassinato( criança morta), um tom de psicopatia & ciência,
truques de hipnose, alguns suspeitos e uma terrível suspeita sobre a sexualidade do capelão,
coitado. Mistura se tudo com um possível trauma religioso e uma simbologia sexual
explícita ( mãe, cigarros, água …essas coisas aí ), acrescenta-se o milagre das regras da
psiquiatra voltarem ( para quê, se ela parou também de fumar finos que satisfazem ou
grossos etc e tal e tudo isso aí significa falo, hein?) e pronto, aguardem-se as palmas.

Contanto, claro, que o distinto público, nós, sejamos um somatório de antas medievais.
Luzes, figurinos & direção
Há um belo destaque aqui para o cuidado do trabalho cênico.O cenário é funcional, e no
tom de fundo da peça- que é o de haver alguma esperança no fundo de um poço marrom
escuro.

Há, nas falas, uma metáfora sobre árvores que se concretiza num figurino e numa
iluminação a duas cores de tons e sobre-tons marron-verde, dando um tom de cuidado,
delicadeza e limpeza ao espetáculo.

Limpeza é o nome que às vezes damos para o trabalho de origem acadêmica, que faz o que
tem que fazer, mas evita colocar um dedinho do lado de fora do campo próprio de
operação.

Rubem Rocha chama isso de clean, com justeza.

Mais tons de luz, dar uma margem maior ao erro, sempre me pareceu fazer a graça dos
espetáculos. Pois, sempre, o que vemos sempre em cena são homens lutando contra os
deuses. Até mesmo com pequenas armas ou armas ruins. Até mesmo com o choro e a
emoção presa na garganta.

Ou com o riso, que o riso ainda é nossa melhor arma contra Eles, não é mesmo?

Seja como for, há que haver possibilidade de erro em tudo que se chame arte.Limpeza é
quando reduzimos ao extremo essas possibilidades textuais, quando fazemos um
espetáculo todo bem fechado como uma caixinha linda de presentes, contendo, claro, um
lindo presente. Sempre me parece que se perde algo de nossa história por esse caminho.

Às vezes, o essencial.

Em Agnes, Roberto Lúcio que é um mestre do esmero, preparou-nos uma bela caixa.Ele é
um mestre.

O bombom do Pieilmeier é que está com data vencida.


Erros monumentais fazem a essência do teatro.

O maior? A errância de Édipo, em Sófocles, culpado sem consciência.

Sem esse erro magistral, essa errância dos personagens- não haveria teatro.

O que chamamos de limpeza-quase-acadêmica é de outra ordem, é manter o erro sob


rédeas bem curtas e muito seguras. Arriscando-se, no entanto, a colocar rédeas também em
nós, o público. Roberto Lúcio optou por essa limpeza , correndo esse risco.Talvez porque
soubesse bem da fragilidade desse texto dramatúrgico. Cujo foco é o pior possível: o da
psique da pobre freirinha infeliz com voz de passarinho. Shakespeare resolveu isso
melhor.
Em apenas uma só frase, em Hamlet: …”não sabemos porque os pardais caem”.

Não sabemos- esse o mistério.


O primeiro deslize de Pielmeier é querer saber muito , mas trabalhar com uma psicologia
de segunda mão, tipo papo de Paulo Coelho. Ora, se alguém começa a fumar porque a mãe
morreu, ao limite Freud não tem nada a ver com isso. Pielmeier acha que sim. Até se
permite um seriado de gracinhas quase-pornográficas a respeito de santos e o tamanho de
seus cigarros- só faltando citar o famoso charuto de Clinton. Você não riu, tenho certeza.
Imagem forte, porém igualmente idiota, é também aquela de que sua mãe lhe enfiava
cigarros acesos na vagina.Certamente Freud se interessaria muito por sua mãe- mas bem
bem menos por você. Toda originalidade aí do Sr. Freud foi situar seu campo na prima
infância, e seu objeto nas relações primevas, em seu modelo de transcrição, também dito
Inconsciente, e no discursos que a partir daí se travam, isso é, se desenvolvem em
fechamentos.Na origem, portanto, e não nos efeitos das maluquices.
O segundo problema de Pielmeier é tentar resolver problemas com truques. A tal da
hipnose, por exemplo. Se você usar como sugesta hipnótica que se mergulhe na água, você
tem maior probabilidade de afogar seu paciente, que de colocá-lo em sono profundo. Tá
bem, tá bem, água é melhor pois lembra sexo etc e tal. Mas não dá boa hipnose, se é que dá
alguma.Aí depois faz a freirinha assassina sair passeando ao próprio gosto, sem haver
algum comando para isso. E finalmente mistura fatos e embola momento de fecundação
com o do parto- sem comando específico nenhum do hipnotizador, para isso. Só o público
pode dormir com isso.
O terceiro erro do texto é de esquecer completamente de refletir sobre a hamartia, culpa,
e o culpado– como se isso não tivesse a menor importância, justo nessa época em que se
descobriu que boa parte do clero americano( sobre o daqui ainda faltam pesquisas) tem
uma incrível tendência à pedofilia e a outras coisas mais complicadas.

Quem disse foi o Papa Woytila, fui eu não!!!

Finalmente o culpado? ” Talvez um camponês?!”- diz o autor.

Tás brincando!!!?Todo preconceito foi mera casualidade, não é mesmo?! Um pouco de


solo social e verossimilhança no texto não faria mal a ninguém. Pielmeier nem tá ai para
isso. Supõe que o público espera mesmo é um milagre ou um papo sobre papas e freiras
ensandecidas.
Mas seu quarto e maior erro mesmo é achar que milagre em teatro é o truque.

Milagre em teatro é simplesmente milagre. Acontece, todos os dias , todos nós sabemos-
senão nunca mais poríamos os pés em uma sala. Milagre é Fátima Pontes e Galiana
segurarem esse texto com tanto brio. É verdade que o tom da Madre Superiora cansa um
pouco e que a Agnes não é nenhum passarinho cantando. Mas viram o milagre? Funciona!

Fátima Aguiar, a psiquiatra, porém tem uma tarefa bem mais ingrata- pois não há como
segurar aquilo.Nenhuma atriz consegue em sã consciência afirmar, quase como numa
apoteose, algo como “ e eu, uma psiquiatra,católica comungante, com regras e não
fumante..” ou coisa muito parecida.

Francamente!
Não há um pequenino espaço no personagem para o milagre. Ele é falso, impostado, de
início ao fim. Então a atriz acaba pagando um mico miserável- essa a verdade. Aumentar
o tom de voz, dar tensão dramática não vai levar a nada. A coisa toda é oca.E não seria se
Pielmeier tivesse pelo menos lido End of Affair ou O Poder e a Glória.

Mas quem lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Leia e vá assistir Agnes de Deus. Depois escreva para cá dizendo que discorda
Philosophando um pouco.

A modernidade deixou nos com um problema a resolver em teatro.

E que incide diretamente em toda prática crítica

Nada a ver com as mudanças acontecidas na escritura dramática, nem com a


simplificação do material cenográfico, nem com a iluminação, figurino, maquiagem e
cenografia como produtos de um design, ou isso tudo tratado como linguagens. Nada
disso.

Não é nenhum problema técnico ou especificamente teatral.

Mas, antes, da própria formação social em que estamos, produtores teatrais e público,
inseridos.

Parece-me que nosso problema maior é o da regionalização e, conseqüente,


envelhecimento dessa arte,por se situar dentro do sistema capitalista periférico como o
nosso.No plano cultural, se imaginarmos nosso planeta até os meados dos anos 50,
pouca coisa acontecia de diferente, em matéria tecnológica. Nosso roteiro básico, em
artes plásticas e cênicas se delineou nos fins do XIX e abertura do XX. Depois foi xerox
e não produzimos nem um pequeno avanço em técnicas. O que estamos tocando adiante
com relativa coragem, ainda é a tentativa de se avançar em teorias, de se repensar as
artes.

No que andamos bem devagarzinho.

A consolidação porém da indústria cinematográfica, o desenvolvimento das redes de


TV, o caminho seguro que a música encontrou como show, espetáculo, o universo
reduzido ao alcance do microcomputador e de seus textos específicos, deixaram-
nos perguntando que futuro temos. A característica de toda essa indústria moderna do
texto é a de uma tessitura rápida , ágil, que o teatro – apesar de Beckett ou Koltès, por
exemplo – insiste em deixar de lado. Nossa melhor e sem dúvida mais moderna forma
textual tem sido relegada, em nome de uma isonomia de duração com os shows de
bandas, os filmes, ou uma sentada em casa na frente da telinha de TV.O Jornal moderno
é talvez o melhor modelo dessa outra escrita, tanto que nele muitos foram beber, como
nosso Nelson Rodrigues.
A questão é: dá para competir?
Enquanto a maioria das formas de espetáculo modernas, ou de textos modernos, insistem
numa participação do público, nós insistimos em deixa-lo ali, paradão.

De preferência de boca aberta, pasmo, siderado com nossos truques de mágica.

Penso que perdemos o público.

O problema pode ser posto assim também: pense que no último festival, no dia em que se
encenava Tenessee Willians, com uma ” companhia de fora”, com uma atriz chamativa
como a Leona , isso conseguiu reunir apenas 200 , dentre os atores, produtores,
cenógrafos, figurinistas, diretores, estudantes de teatro recifenses e alguns curiosos fora
da classe teatral.

Na mesma hora, 25 mil pessoas se acotovelavam, cantavam ,riam, enraiveciam-se,


gritavam, xingavam a mãe do juiz no Arruda.

Esse o problema

Perdemos o público.Transformamos nossa longa história numa artezinha de província,


de beirada, de morro, amada e admirada pelas 5 ruelas ao redor, um artesanato sem
futuro, com todos carniceiros das ciências sociais e humanas já colocando o bico para
cima de nós para nos transformar em objeto de cultura narrada, aquela de seus
livros também sem público.

O público jovem que foi recapturado em parte pelo Cinderela, num esforço de 5 anos,
voltou para seus bares, suas bandas, seus classic-halls provincianos.
Resta o povão?

Mas esse nosso povão nunca botou mesmo os pés em nossas salas.

E nem porá, enquanto nos mantivermos atolados no passado de nossa arte, na grandeza
grandiloquente de nossas falações – essa minha aqui é uma delas, senhores , eu sei bem
disso, mas isso aqui felizmente participa, mas NÂO é teatro. E ainda bem que não estamos
há 4 anos atrás, antes da virada do século, senão tudo o que penso ficaria assim meio
spleen, meio decadente, meio fin de siècle.

Ou reacionário.

Ora reacionário é se deixar virar meia página os 2.500 anos de nossa história.

Olhar de frente nosso público e dizer: não temos mais o que dizer para vocês, o que
dialogar com vocês a não ser nosso velho papo surrado de que temos que dar um jeito de
combater os deuses, hoje e sempre. Talvez essa seja uma boa reação a essa modorra, esse
abandono, ao qual nos deixamos relegar, do meio do século XX para cá, no meio de tanto
show de milhão, tanto apagão de cinema,tanto hipertexto, tanta realidade micro e pouco
virtual, tanto bar, tanto mar,

tanto mar.
Essa preocupação acima não é só minha.

É resultado de conversas com muitas pessoas mais novas e confesso que não conseguí
convencê-las de que o teatro valia a pena em si,que era mais educativo, mais profundo e
que era melhor que a maioria dos shows que andam por aí e que o problema da falta de
público e de verba era que o teatro não estava oferecendo nada mais interessante que uma
contemplação.

E coisas antiquadas na maioria e mal apresentadas para nosso tempo.


Camilla, por exemplo, já passou dos 20 anos e NUNCA botou o pé num teatro. Como diz,
defendendo-se em parte, para quê me chatear a noite toda com uma história de freira
ensandecida que nem sabe a quem azarou e que conta isso numa linguagem com cheiro
antigo de censuras e histórias de convento, boas para bisavó e tais, quando posso
estar cantando e pulando num baile funk , ou dançando num show de rock ou papeando
num bar?

Eu pensava que o problema dela era apenas o de uma menina que não teve boa educação
cultural. Depois e hoje , parece-me algo bem mais grave para o teatro e artes em geral
e bem mais difícil de se nomear. O ponto de culpabilidade talvez não esteja lá aonde
insistimos, com certa facilidade, em dizer que ele está: a má educação de nossa gente.
Acho que perdi o papo.

Não consegui convencer ninguém que a gente ainda está vivo e que possa valer algo
diferenciado em relação a esses outros produtos dos mídias.

Talvez seja porque o teatro, em significativa maioria, achou um pequeno espaço para sí e
aí se agasalhou confortavelmente. Achou seu cantinho, sua região permitida, como todo
bom regionalismo.

Parece-me no entanto que isso é simples decorrência do sistema em que estamos


pensando.

Mas que sei eu dessas épocas, em que a antigona UNE agora só faz bienais, e que tem
Ariano Suassuna como convidado especial? …

Geléia Geral ainda é a coisa mais nova que anda acontecendo?


ÍVANA,

( gostou do acento russo? )

TOU BOLANDO COISAS AQUI PARA TAL COLUNA,

JÁ QUE ELA É BEM MAIOR QUE MINHA SABEDORIA.

Conversei com um bando de gente nesses dias e tive a idéia de ter dois blocos na
coluna:

• um dedicado ao velho e bom teatrão, isso é: as peças daqui, das


companhias daqui.
• Outro, dedicado aos novos , à experimentação, às pequenas coisas que passam
rápido mas podem ser germes do melhor depois. O teatro de Elias, vide O
Gran Vizir,de Vivi, vide Giulietta in stress, Heron, vide A Terceira Margem e
mais alguns novos que andam por aí e que estão começando agora sua direção.
Acho que mesmo que passem poucas vèzes, esporadicamente, com temporadas
pequeniníssimas, merecem nossa atenção e a de nosso público do DP.

Afinal foi assim que nasceram Antônios, Carlos Bartô, Dennis e tantos outros do
teatrão daqui, não?

Muitos acharam legal a idéia de dar um certo espaço a esses pequenos.

Não tão importante quanto o dos outros que estão em temporada regular, mas com o
mesmo carinho e cuidado como se fôseem eles os grandes.

Pois serão.

Bem, mesmo assim, acho que ainda me restará um bocado de papel a preencher.

Na medida em que a coisa for pegando rumo a coluna vai se ajeitando e criando uma
face também. Mas acho que talvez ela não devesse se restringir às artes cênicas, pois
há tempos maus, bicudos e com muita coisa ruim…e aí até o jornal sai ruim, não é
mesmo?

A coluna poderia ir incluindo devagar as artes plásticas também – afinal sou curador
de um monte de exposições e dou aulas para esse povo.

Poderia ter quadrinhos internos- exclusivos dela. Conheço muitos NOVOS e bons que
dariam a alma para aparecer num canto desses…

Sei lá.

Algo assim como um espaço experimental para todomundo, e eu seria só o catalisador


dessa coisa toda. Evidente , seria o censor e curador. Para não perder a qualidade.

Tou aqui meditando.

Enquanto isso, e sabendo qua acoluna anda manca pois faltam mais umas 90 linhas,
pensei em fazer uma coisa que fazia na paraíba. Isso é: colocar de vez em quando
reflexões para o povo da classe ou o povo em geral interessado em artes cênicas.

É coisa que fica tododia martelando em minha cabeça pelo fato de eu me meter nisso e
ainda por cima dar aulas disso.
Acho-me obrigado a pensar largo, no sistema como um todo e não só no pequeno
circuito da circulação de uma arte
Tentei falar com Vivi e Leda para me passarem material sobre Giulietta,

pois tem fotos e a peça


volta a cartaz logo logo, possivelmente no circuito do Sesc.

Seguem esses textos.

Como coisas que podem aparecer na coluna,.

Mas que por enquanto servem para o que servem, ok?

A não ser que vc ache que a coluna já pode ir tendo esse tipo de figura.

Beijos pois o melhor é conversarmos

michelotto

MEIA SOLA
p.michelotto

Dramaturgia
A peça data dos anos 70.

Já que ninguém mais se lembra, é bom dizer que eram tempos embaçados.

Economistas desaforados- vide Bob Fields, Simonsen, Delfin, todos felizmente


falecidos – juntaram-se com alguns militares e a CIA para salvar a pátria, a
mátria e a filharada brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu; e,
quiçá também na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia. Tudo para
nos conduzir a um futuro econômico feliz e sorridente, tropeçante aqui e ali em
falta de gasolina nos fins de semana e outras coisinhas que todos felizmente
esquecemos.

Esse futuro já começou para a Argentina e vive nos devorando.

Enquanto a economia sorria, a Cultura, sorry, ia levando, que a gente vai


levando, que a gente vai levando…

As artes cênicas, curiosamente tiverem um certo boom de dramaturgos. Plínio,


Leilah, Vianinha e outros. Mas a maioria mais ou menos. Menos, em verdade.
Porque era mais fácil identificar o atraso, portanto, criticar. Porque, além,
pesava a censura, pesava a burrice geral, pesava a agonia de todos nós não
sabermos como e quando aquilo tudo, aquele pesadelo todo, teria um fim e
poderíamos falar o que quiséssemos falar, inclusive ser contra- sem o risco de
perdermos a virgindade em paus de arara.
Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao lado do
general E.G.Médici. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética
e de escritura politicamente corretos, à esquerda, claro. Zombava das meninas de
comunicação da Puc com suas sandálias e calcanhares sujos. Escrevia odisséias aos
deuses negros de nossa seleção de futebol. Ele disse e ninguém jamais conseguiu
provar o contrário, que era necessário conhecer profundamente a cultura grega para
se escrever uma coluna sobre futebol. Esse senhor reacionário foi o nosso maior
dramaturgo. Nelson Rodrigues.

Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa família


e transfigurava em seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia. Sabia
tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de Enéas Álvares- mas que merece
ser lembrado para se criticar essa onda de textos ruins que andam assombrando
nossos palcos.

Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

É a isso que nomeamos falta de carpintaria.

O público às vezes julga que o crítico está meio birrento, dormiu mal ou está com
inveja- porque diz que uma dramaturgia é ruim, quando a maioria achou bem legal.

O que dizemos é apenas isso: não serve para palco, complica a vida de todo mundo,
faz atores, diretores, cenógrafos se danarem para resolver passagens de cena;
quando não, pior, para encontrar a significação e necessidade de algumas delas.

O maior estrago que um mau dramaturgo faz é o de acabarmos achando um produto


bom, apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo disso.

Como se corrige isso? Com livre, e bastante, informação.

Para isso também é que críticos escrevem . Somos um pedacinho dessa coisa toda.
Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

O que não justifica parte de seu comportamento político.

Mas o que ninguém quer lembrar também é que seu filho caiu, e que esse mesmo
senhor reacionário fez coisas que muito cardeal ou muita denominação religiosa ou
civil, não fez por presos políticos. Mas era reacionário. Reagia contra tudo que
achava burro, mesmo ficando do lado da maioria às vezes. E se deu o direito de
errar. E, pelo menos em teatro, de acertar também. E muito. Foi,
incontestavelmente, o maior de todos nós.
O maior mérito de Meia Sola é certamente esse, solidário.

O autor optou por uma cenarização forte, rodrigueana. Quando isso era o que as
cabeças pensantes e oponentes odiavam. O regime, claro, gostava – dizem .

Mas quem disse que regimes militares de exceção pensam?

Os bem pensantes do regime nem suspeitavam que aquilo, provavelmente, corroeria


mais o sistema que qualquer aparelho de esquerda.
Mas pára aí.

Não tem o dedo mindinho de grandeza de um Nelson. Além de ter uma péssima
carpintaria dramatúrgica- que obriga um encenador como A.Cadengue a cometer 15
black-outs!

Estamos aí comemorando os 13 anos de sua Companhia e sabemos bem que só fez


isso porque a escritura é um desastre, quer ser mais literária que cênica.

O que não justifica…


Direção, cenografia, figurino.

O que não justifica a direção.

A última cena, por exemplo, resolve cruzamentos de ação, colocando uma mais
acima, por sobre a mesa; a outra, num plano mais à frente.

A cena rodrigueana da mãe Lúcia Machado vestida de noiva, com o filho André
Brasileiro, ocupando , nesse conjunto, o primeiro plano. Pois é isso aí certamente a
indicação cadengueana: o que há de rodrigueano em Meia Sola salva-se, pode dar
uma cena consistente. O resto é lixo e bobagem – essa última indicação minha,
claro.

Antônio Cadengue está com a tesoura na mão, mas pela primeira vez, com os
dedos vacilantes.

A cenografia pode parecer prática mas tem coisas que não me agradam como
solução: aquelas descidas. Pro fundo dos infernos, tudo bem, é essa a idéia , meio de
subsolo, porões quase. Lembram-se de que a mulher de André, Cida, nem quer que
se limpe a coisa lá embaixo? Uma idéia tão enorme e tão desperdiçada pelo autor.

Talvez essa a razão de não se poder sair simplesmente pelas laterais.

Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída, acrescentada aos black-
outs freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser
ágil, pela própria intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.
Não sei ainda porque o povo gosta tanto de rir de palavrões e de violências ou
desrespeito humano. Chame-se a empregada de negrinha, e tá lá o público rindo.Às
vezes penso que Meia Sola arrisca ser politicamente incorreta. Não sei se reserva
um texto violento para falar de bichas e empregadinhas, por reforçar uma idéia de
nosso inconsciente e depois nos remeter a nós mesmos, à nossa própria consciência
falha- o que seria um caminho reconhecido desde os gregos, que tanto Nelson
amava.Ou se por preconceito também.

Nos anos 70 as coisas todas não andam muito claras e não valia tanto a pena nem ser
bichinha gay nem empregadinha negra doméstica. Cansei de ser barrado em porta
de boates de Juiz de Fora, aquela saudável cidadezinha intelectual de onde veio o
Itamar Franco e os Penido Burnier todos , por tentar entrar nelas com meus amigos
negros.Era proibido.

Por quê suspeito do autor?

Porque o final é francamente absurdo. Não há lógica correta naquilo tudo.


Assassinatos, prisões, uma apoteose tipo Madame Buterfly para o filho gay, que
nada fez para merecer dramaturgicamente o título final de Rainha da Pensão de
Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha recôndita e
assustada. E que vivia numa casa de bichas recônditas, como o soldado e o jovem
que lhe pede um prato de comida. Com casais falsamente normais e prostitutas
problemáticas. Enfim, a finalista vai abrir a pensão para quem, se toda a récua da
espécie humana já tava lá dentro?

Só ela e o autor é que não perceberam isso.


Resta-me supor que se não foi preconceito, foi por má redação.Talvez isso.

Mas talvez também por que fosse moda- e isso vem das amaldiçoadas, por Nelson,
esquerdas – que os pobres ganhassem no final. Bem, a bicha acantonada em casa
talvez merecesse essa palma, por ser certamente uma das categorias mais
perseguidas, e por esquerdas e por direitas de época. Merecia um pouco de glória
pela história real dos povos brasileiros.Mas nem tanta, se pensarmos na composição
lógica do conjunto de personagens.

André Brasileiro e Lúcia mereceram – dramaturgicamente – ficar ali em primeiro


plano.

É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo!
Cada autor escreve o que quer.

Cada diretor dirige o que quer.

Cada ator trabalha na peça que quiser etc

.E cada crítico escreve como melhor puder para seu público.

O meu é, você, um público leitor de jornais. E que quer ter uma idéia do que vai
enfrentar durante uma hora e meia, se você paga antes de entrar…

Vai enfrentar um texto de soluções teatrais dramatúrgicas ruins, mas que pode lhe
lembrar as velhas comédias de empregadinhas, bichas. Tudo num tom
miseravelmente desesperançado.

O riso apenas nos engana um pouco.


E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças. O que me parece bem posto na mise-en-abîme daquele constante
olhar para si mesmo e suas próprias feridas- criado em palco por aquele montão de
espelhos. Elemento de cenografia bene trovato.

Talvez apenas tentemos nos rever nas imagens gastas duma dramaturgia setentona.

Espero que a moda não pegue.

Temo, pois o Projeto original anuncia Peças Para a Família.

Será que voltaremos, culturalmente, ao teatro de miserê familiar, do oprimido na


pior acepção do termo, do pobretão visto pela classe média; breve, àquele tempinho
ruim todo- como dizia Nelson com palavras bem mais sublimes que as minhas?…

O figurino precioso de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que


vai dos tecidos aos fios – é comum na Companhia do Séraphin. Mas, uma vez ou
outra, me pareceu um tom errado. Vide Senhora dos Afogados.

Em Meia Sola esse figurino, dessa vez díspar, anunciaria o novo caminho dos
Séraphins, de volta à marginalia , à pobreza e desgraça geral em palco, beirando ao
realismo soviético, mas agora finalmente recoberta de ouro e cuidados?

Isso não seria finalmente um espelho da esperança que anda sendo prometida por aí
para a pobreza, por parte de alguns daqueles que batalharam por mudanças nos anos
70?

Para que andamos, finalmente, tanto então?

O Programa da peça parece anunciar um certo niilismo estético e ideológico, que


poderia enfrentar falsas esperanças. Mas, eu pelo menos, não o vi se concretizar em
palco.

Vi os espelhos. As roupas ricas. O cenário bem acabado, com estofados vermelhos


e nobres mesas pesadas. Um texto pobre. Uma ideologia mal costurada. Uma falsa
pobreza que me assusta. Pois já a vi, em todos discursos de Dirceu e outros tantos,
nos tempos em que nos reuníamos em Ibiúna e os militares nos colhiam como se
colhem frutos maduros.

Quanta burrice, não, meus antigos colegas?

O autor tem um texto dúbio, porque mal pensado e de uma opção estética que,
certamente ao frigir dos ovos, nada tem a ver com Nelson Rodrigues. Toda opção
estética é uma opção política, pois não?

O fato de ser contra, reacionário, nunca elevou ninguém à grandeza e preciosidade


do pensamento e da escritura daquele gênio.
BOTA MEIA SOLA NESSA SAPATILHA AÌ

paulo_michelotto@uol.com.br

Dramaturgia
O autor de Meia Sola optou por uma cenarização forte, puxada para uma
causalidade mais psicológica

que social. Opção estética e política que o regime, claro, gostava – dizem . Mas
quem disse que regimes

militares de exceção pensam? Tanto os bem pensantes do regime , quanto os contra ,


nem suspeitavam

que aquilo, provavelmente, corroeria mais o sistema que qualquer aparelho de


esquerda. Mas pára aí.

A peça tem uma carpintaria teatral tão ruim- que obriga um encenador como
A.Cadengue a

cometer 15 black-outs!

Ou seria problema de direção mesmo esse amor pela escuridão?

Consistência dramática

A penúltima cena tem uma solução ótima para mudanças de ação e


personagens.Temos os

mesmos dois planos, invertidos aqui por Cadengue, que já vimos na montagem de
Vestido de Noiva,

inauguradora do moderno teatro brasileiro. A cena da mãe Lúcia Machado vestida


de noiva, com o filho

André Brasileiro, ocupando, nesse conjunto, o primeiro plano, é Nelson Rodrigues


puro. Aí temos

certamente uma boa indicação de Cadengue: o que há de rodrigueano em Meia Sola


salva-se, pode dar

uma cena consistente.

Cenografia
A cenografia tem umas descidas. Pro fundo dos infernos, é essa a idéia , meio de
subsolo, quase

porões, a coisa que mais proliferou em nossos anos 70. Lembram-se de que a
mulher de André, Cida,

nem quer que se limpe a coisa lá embaixo? Talvez essa a razão de não se poder sair
simplesmente

pelas laterais. Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída,
acrescentada aos black-outs

freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser ágil,
pela própria

intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.

Tudo num tom miseravelmente desesperançado.

O riso fácil tirado de palavrões e tratamentos politicamente incorretos apenas nos


engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças.

O que me parece bem indicado na mise-en-abîme daquele constante olhar para si


mesmo e suas próprias

feridas- criado em palco por aquele montão de espelhos. Elemento de cenografia


molto bene trovato.

Figurino
O figurino de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que vai dos
tecidos aos fios –

é uma marca registrada da Companhia do Séraphin. Entre o real do tecido chique


e design do sonho.

Estética do nada
O Programa da peça anuncia um certo niilismo estético e ideológico, que poderia
enfrentar falsas

esperanças, penso eu. Mas não o vi se concretizar em palco. Vi um texto pobre.


Uma ideologia mal
costurada. Uma falsa pobreza que me assusta.

Gran` Finale ma non tropo


Ao lermos o Programa da peça, achamos que A. Cadengue talvez queira marcar sua
distância com muita

coisa política que anda por aí. O que me parece justo e de direito. Mas isso não
ficou nada claro em Meia

Sola. Isso porque o desenlace da peça, tirada a cena citada de André e Lúcia, é
lamentável. É uma

apoteose para um filho gay, que nada fez para merecer dramaturgicamente o título
final de Rainha da

Pensão de Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha
recôndita e assustada.

Vivendo numa casa de bichas recônditas. Então, a superpoderosa vai abrir a pensão
para quem, se toda

a récua da espécie humana já tava lá dentro? Dito isso, lembro, Hilton Azevedo
segura bem seu

personagem ao longo da peça. O número crescente de denominações protestantes


provavelmente não

apreciará muito aquela Bíblia em suas mãos. Mas tem que ser assim...

O 160
A bicha acantonada em casa não merece essa bola toda, se pensarmos na
composição lógica do conjunto

de personagens. André Brasileiro e LúciaMachado deveriam permanecer–


dramaturgicamente – ali, em

primeiro plano Isso é, como gran finale. É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo.

BOTA MEIA SOLA NA BOTA!


paulo_michelotto@uol.com.br

1. Uma meia sola só não dá.

2. Para se entender corretamente Meia Sola, temos que fazer um gigantesco


flash-back.

3. Especialmente se estamos assistindo à presente montagem da Companhia


do Sèraphin e

à lamentável Bienal da

UNE en que o convidado especial palestrante é o cara que ficou Secretário de


Cultura imposto pela

Revolução de 1

de abril de 64 e que nunca escondeu seu ódio pela guitarra e pelas esquerdas.

Essa UNE é do do palhaço doi Dirceu que nos entregou em Ibiuna.

Quem esteve lá sabe.Por isso seu convidao hoje é ariano.Vergonha!

4. Se me permitirem, remendarei tudo com duas meias-solas.

5. Uma que foi a história e o solo aonde esse sapato se desgastou.Os


incompreensíveis Anos 70.

6. Assunto dessa quinta-feira.

7. Outra, o solo aonde A. Cadengue e o Séraphin tentaram caminhar com


nossas esperança:

8. o palco e a cena recifense. Assunto de nossa próxima coluna.

9.

10. A meia sola que colaremos hoje.

11. Nessa semana que passou tivemos a honra de sediar em Recife um dos
dinossauros

dos anos 70, a UNE.

12. Oh não aquela UNE guerreira, que nada! os tempos felizmente mudaram. A
UNE promove

agora bienais! Blz!


Mostras de Arte! Blz! Palestras! Blz!

13. A arte finalmente substituiu a vida. Blz!

14. Se você tentou participar já viu que a desorganização, desde os anos 70,
continua a mesma.

15. Se você achou que o povão estudantil estava lá para artes plásticas ou
cênicas, errou.

16. Tava para o que sempre esteve: papear. O que é saudável.

17. Tanto que nessa quinta também falarei menos de teatro para papear um
pouco mais. Posso?

18.

19. Ou a UNE se Raoni ou a UNE se Sting… (obrigado Leminski)

20. 3 coisas me espantaram na recente UNE e sua direção:

21. Continua usando a arte como pretexto para juntar gente, a primeira.

22. Prefere, hoje, uma boa conferência a uma boa troca de idéias, a segunda.

23. E finalmente, creio, é o maior convescote de reggueiros e esfumaçados da


época moderna.

24. O que não bate nada com a estética pessoal de Ariano, que é mais chegada a
uma rabeca

e a uma medievalização cultural , não é mesmo?

25. Mas você viu o tamanho da fila dos estudantes unidos e os empurrões e
cotoveladas para

se ouvir sua aula-show?

Doideira, meu!!!

26.

A UNE antigona era medéia mas cheia de alianças nos dedos.

27. Na nossa Idade Média brasileira, economistas desaforados- Bob Fields,


Simonsen,

Delfin – juntaram-se com alguns militares e a CIA, para salvar a pátria, a mátria e a
filharada
brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu;

28. e, quiçá também, na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia.

29. Tudo para nos conduzir a um futuro econômico esperançoso.

30. Que já chegou para a Argentina e cruzamos os dedos para que não nos
atinja.

Quem ainda os tem.

Nelson e tudo isso.


31. Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao
lado

do general E.G.Médici.

32. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética e de


escritura

politicamente corretos, à esquerda, claro.

33. Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa

família e transfiguravaem seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia.

34. Esse senhor reacionário chamava-se Nelson Rodrigues.

O Brasil da UNE de antanho NÂO GOSTAVA de


Nelson Rodrigues
35. Apesar de Nelson saber tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de
Enéas Álvares.

36. Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

37. Não servem para palco, complicam a vida de todo mundo, fazem atores,
diretores, cenógrafos se

danarem para resolver passagens de cena; quando não, pior, para encontrar a
significação e necessidade

de algumas delas.
38. Mesmo que você tenha gostado da história, sem carpintaria ela é péssima
para a arte e para o

teatro, entende?

39. Mas o pior estrago que um mau dramaturgo faz é o do público acabar
achando um produto bom,

apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

40. Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo
disso também.

41. Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

42. O que não justifica, claro, parte de seu comportamento político.

43. A verdade é que não gostávamos dele por ambas razões: por seu comportamento
e pelo que conseguia

ver além de nós.

44. O que ninguém quer lembrar porém é que seu filho caiu. E esse reacionário
fez coisas que muito

cardeal ou muita denominação religiosa ou civil, não fez por presos políticos.

45. Foi, incontestavelmente, o maior de todos nós, mesmo que Sete Gatinhos
jamais venha a passar

no cinema privativo da presidência, a última novidade daquele fim de mundo que é o


Planalto Central.

46. E a Meia Sola de A.CADENGUE?

47. AC nos obriga a repensar a palavra mais usada por políticos durante os anos 70:

Esperança.

48. No epicentro do teatro de Nelson. E caindo pelas beiradas de sua Meia-Sola

49. Mas isso fica para a próxima quinta, pois minha grade aqui se fechou.

Meia Sola nas Esperanças e seus ministros assustadores

50. ESPERANÇA acabou sábado passado à noite. Meu neto gostou muito.Não
entendeu
aquele flash-back para frente final. Para dizer a verdade nem eu. Só sei que ele,
Lucas, é a 5a

geração de emigrantes italianos, e se seguir o destino de descendente de imigrante


pobre-

apesar da onda italiana da Globo- corre risco de viver pior que meu avô Mário.

51. E ainda tem ministro por aí, trabalhador, que culpa nordestinos pela fome no
país,

ó Ricardos IIIos!!!

52. “Renuncia! Renuncia! Renuncia!!”

53. (sugesta de Coriolano, Thomas Stearn Eliot- afinal essa é uma coluna de
artes cênicas, pois não?)

(a seguir na quinta que vem, se meu leitor assim o desejar)

Fofa íVANA,

1. AS LINHAS SÃO APENAS PARA EU PODER CALCULAR AONDE


TENHO QUE PARAR…

E OLHE LÁ QUE QUASE NÃO CONSIGO…CAEM FORA, PORTANTO!

2. Fiquei animado com o e-mail de um cara de Olinda. Acho que devemos


tentar por um

certo tempo o filão do texto meio alongado mesmo.

Também porque preciso tomar um pouco pé para manter as notas da coluna


em dia.

Estou ligando para o Sindicato e o pessoal todo que conheço para me manter
informado,

ou dizer o que precisa ou quer que saia.

Preciso de um ou dois meses para a coisa fluir bonitinha como programada.

Tenho esse tempo?

3. Bolei o texto para dois dias:

Um para uma introdução à esquerda, já que isso é essencial para a


compreensão
de Meia Sola.

Disse Antônio naquele dia e eu nisso concordo totalmente com ele.

Outro para meia sola propriamente dita. Que resumirei ao máximo, menos que
essas

50 linhas, para dar espaço bom para fotos e coisas tais que dão uma maior
leveza e

maior informação à coluna.

4. Cortei o mais que pude a looooonguésima introdução.

Mantive mais ou menos dentro das 50 linhas.

Acho que essa será uma coluna de luto. Espero que apenas essa.

Continuo achando que vale a pena tentar alguma coisa mais politizante,

mesmo que o texto tenha que se esticar por dois dias.

Posso experimentar uma vez ou outra assim?

5. Se eu não for provocativo, não sei bem qual será meu futuro.

Se eu for provocativo talvez meus dias estejam contados,

mas certamente terei sido fiel aos meus leitores.

Que esperam de mim algo assim.

Pois sou assim.

6. Diga o que acha pois vc é meu guia.

Mas se precisar de mais cortes, não se vexe.

Você já deve ter visto que sou bom para escrever como se estivesse falando…

isso é, corridamente.

E sou bom de tesoura também.

Apesar de ficar choramingando pelo que escrevi e mandei para o lixo.

Mas essa é que é a nossa profissão, e não outra.

7. Espero que você goste do que está aí em cima.


Eu gosto. Polly gosta.

Se vc gostar, o mundo inteiro irá gostar, não tenho dúvidas.

beijos.

Eu, Michelotto.

Tou pensando seriamente em cair fora da UOL por causa da grana.

O meu e’mail da UFPe é master é master@npd.ufpe.com

Não sei ainda fazer funcionar. O NPD é jurássico.

O meu hotmail é mickey_mauss@hotmail.com

Mickey é como me chamam na Universidade.

Mauss é em homenagem ao Marcel Mauss, antropólogo que escreveu o

ENSAIO SOBRE O DOM e que mudou toda minha antropologia.

Mickey Mauss é o Mickey que não é do Disney, policial bonzinho.

Sou eu, mauzão. Assim conhecido em todas as listas de anarquistas desse


país….

vão me ler, imagine!

Hehehehe.

mickey_mauss@hotmail.com

GIULLIETTA em entreato
Para não dizer que não falei de flores e
de coisas bárbaras.
Estar diante de um texto de Shakespeare é sempre um prazer. O homenzinho de
Stratford

escreve para teatro como poucos e, graças a deus, tem algo a nos dizer sobre a
natureza humana.
O que anda faltando a muito dramaturgo por aí. Falar de Shakespeare no Brasil é
impossível,

sem se falar na dama de ferro que deteve o controle de seu texto por 2 décadas pelo
menos,

Bárbara Heliodora. Por muito tempo não se viu Shakespeare, mas sim Bárbara. A
tradução

de Bárbara. Realmente bárbara. Felizmente joguei fora meu exemplar, para não cair
na tentação

de brindar-vos com alguns exemplos de frases ininfaláveis e incompreensíveis em


palco.

De verso antigo aquela coisa, por alguma freudiana perversão invertendo, da


frase toda a ordem

… `só para fazer bonito!`. Intragável. Tradução literal, esse o nome da bobagem.

Quem tem medo de Bárbara ?


Recentemente porém a mesma Bárbara tem refeito o trabalho e a coisa tem
melhorado.

Mas ainda deve bastante ao palco, o que era a maior marca de Shakespeare.Perdeu o
pé.

Enferrujou. Talvez porque passou tantos anos a só escrever crítica teatral – essa
coisinha aqui

de 70 toques por 50linhas em estilo para gente apressada. Gente que nem você e eu,
que não

tem mais tempo de ler um James Joyce inteiro, o que não é nada mau. Oh crime!
Diria meu colega

de literatura. Mas quem já leu Ulisses inteiro a não ser ele e eu?

Romeu e Julieta é um desses textos em que Bárbara tentou, e até conseguiu


melhorar sua própria

marca, claro. Mas nada mais que isso.

Sua crítica porém é algo vigoroso. Não deixa passar nada, numa cruzada moderna a
favor de um
teatro melhor. E nisso ela é magnífica.È verdade que nenhum de nós tem muito claro
hoje em dia

a nossa estrita função de crítico, além daquela que é o exercício constante do texto.
Somos mais

escritores e paladinos da liberdade, que defensores de alguma forma de teatro. Pois


toda forma de

teatro é mera encarnação temporal, é mero tijolo nessa parede que vai nos trancando,
diziam os

Pink Floyd. Toda cultura nada mais é que um monumento à barbárie. Dizia o Walter
Benjamin,

se você prefere alguém mais da pesada..

Iso 2002

Se você quiser ver algo profundamente shakespereano, e um texto cuidadoso,


aproveite para

assistir sexta feira, 21 de fevereiro, no Teatro do Sesc de Casa Amarela, às 20


horas,

à encenação de Giullietta em entreato.

Direção de Viviane Barbosa, com Leda Santos como Giullietta e Jorge de Paula
como Mercúcio.

É isso aí, Romeu nem aparece, já pensou?! O original é Giullietta in stress, de


autoria

compartilhada entre Erik Hallberg e esse seu crítico implacável com textos ruins.

Não tá com nada

Aproveite, então, para poder dizer: michelotto não tá com nada! Vai ser difícil,
aposto. No ano

passado você viu três pequenos trabalhos meus em cena em recife: Porque os
teatros estão

vazios, em parceria com K.Valentim, n uma bela encenação de Roberto Lúcio e um


show de

interpretação de Fátima, Paula Francinete, Rejane Arruda.Você viu Mistério Bufo,


em parceria
com Dario Fó, dirigido por Marcondes Lima com um excelente elenco além do
delicado trabalho

de Augusta Ferraz. E você viu também O Grande Vizir, de parceira minha com
Obaldia, na

direção de Elias Mouret , com o trio magnífico, Amanda , Viviane e Lane.

Não vi ninguém reclamar de nenhum deles. Pelo contrário.

O que vem por aí O que vem por aí…

Eu falei alguns nomes ainda recentes em direção, como Elias Mouret , Viviane
Barbosa, Heron

Vilar, Marcondes Lima. Recente ou iniciantes, quer dizer com menos de 10 anos de
palco.

Algumas atrizes e atores iniciantes, como Amanda, Viviane, Lane, Lêda Santos,
Ritinha,

Marcelinho, Galeana, Maria de Fátima, Jorge de Paula, Rodrigo. É uma fornada


recente da

universidade.Ainda voltarei a falar deles. Pois creio que um novo teatro pode estar
nascendo daí.

Lêda Santos- não confundir com Jommard Muniz de saia que é a Leda Alves-

é uma esplêndida atriz, porém chorona pois fica aqui me pedindo para dizer

que ela é a maior atriz pernambucana depois de geninha Rosa Borges, que na

opinião da própio Ledinha, está um canhão horrível e dessa vez é a vez dela…..

1. Ô mulé dá uma pena 2.2. Jason Walace e seus companheiros de jornada


são inestimáveis para nosso teatro.

3. Certamente virá alguém depois de mim que lhes prestará as devidas honras.

4. São da nobre linhagem do Vivencial Diversiones.

5. São o renascimento do teatro popular e da Commedia dell´Arte aqui.

6. A diferença é que conseguiram realizar o sonho que todas vivecas tinham.

7. O modelo dessa peça porém não me agrada em nada. Está descosturado.


8. Parece feita nas coxas. Tá muito em cima de A praça é nossa.

9. Sei bem que comigo havia outras 599 pessoas. E se divertiam.E isso é muito
bom.

10. Mas por favor, Jason, vocês são bem maiores do que isso. São profissionais.

11. Continuem fazendo crescer o público que conquistaram sozinhos a duras


penas.

12. Vocês são o nosso sonho. Vocês são a experimentação e o público


participando.

13. Não nos abandonem por um esquema apenas comercial, pleeeeeease, ô mulé
dá uma pena!!!

14. EM TEMPO: Vou tentar entrevistar Jason…Eu também quero o público dele
hehehe..
15. Folhetos. Cia de Dança16. Acho que não dá para se atrasar 30 minutos.

17. Querem que o público desligue celulares, mas se lixam para nosso tempo e
horário.

18. Foi prometido, por anúncio viva-voce, que “se aliaria o teatro à dança.”

19. Não tenho a menor idéia do que se quer informar com isso.

20. Uma vez que essa unidade vai do balé clássico ao show de rock, passando
pelos musicais todos..

21. Lago dos Cisnes, Copélia, Pink Floyd têm um grand-jeté pousando suave na
arte cênica. Ou não?!

22. Estou horrorizado com a comissão julgadora desse janeiro de espetáculos.


Aliás, com todas.

23. “ Reuniu-se uma comissão para se julgar os Volscos.

24. Outra comissão para julgar a comissão “ etc…Eliot, mais uma vez, em
Coriolano.

25. Ou nunca o lemos ou nunca aprendemos nada. Folhetos como o melhor


espetáculo?!

26. Folhetos é um desencontro na interminável trilha rural do armorialismo.

27. Já que também é teatro, posso dizer também que prefiro Ô mulé dá uma
pena 2…
28. A menina que dança Maria Bethânia, com h, é mais comovente.

29. A maioria das meninas que dançam aquela boneca de pano, dança melhor.

30. O povo ao vivo não é melhor que qualquer teoria ou grupo filosofando sobre
o povo?

31. É o que posso dizer por hoje.

32. EM TEMPO: não me corrijam aí na Redação a concordância de maioria.

33. É um vocábulo, no meu entender,da mesma ordem lógica que porcentagens


etc.

34. Sei que virou moda até na Globo se dizer “80% erram.”

35. Só porque 80 inclui a idéia de muitos.

36. Mas você jamais verá Ariano, Arraes ou eu dizer: o povo são burros.

37. Pelo fato de o povo conter alguns milhões de pessoas.

38. E você sabe bem que Cáfilas e Récuas também não saem por aí se
pluralizando. Graças a deus.
39.
40. Nesse sábado vou assistir Os Pesadelos de Martha Stewart. Antes
que vá para o Rio.41. Dá-se numa piscina seca em Olinda.
No Alto da Sé, lotação de 25 pessoas, Sábado, 20h.

42. Reserve sua entrada, senão não cabe, pelo 99651628

43. “… O espectador tira as conclusões que quiser, se quiser.

44. Para mim, é a libertação do meu ator.

45. O diretor saiu de cena, o cenário não existe.

46. O ator volta a ser o dono da brincadeira e não esconde sua mágica”.

47. Não perco por nada.

NB : tá com 50 linhas, mas tem espaço pra cacêta.

O QU8E ESTÁ EM VERMELHO PODE IR PARA O CORTE.

PÔ, MAS QUE PENINHA!!!

Dá bem menos que 50 linhas, ligando tudo.


Separei só para contar as linhas , ok???

Beijos no paginador também, pelo mico que paga comigo.

Eu, Mickey_mauss

EM TEMPO:

PORQUE NÃO ME DÃO UMACOLUNA duas vezes por semana????

Uma pesada, 5o linhas no blá blá e na filosofia. A outra bem levinha. Só com curtas.
Do tipo que está aí em cima ( que ainda dá para enxugar, claro, pois curta é mais
fácil de cortar. Pelo menos para mim.)

È isso aí…eu tenho matéria para tanto e nem me canso uhuhuhuhu!!!

Vou te mandar mais uns pedaços de coluna

só para voce ver que toyu com a cabeça a mil.

Pergunta aí para os editores chefe

Kssssssssss

Maussssssssssss

1 SOBRE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA2 ( devidamente


traduzido para o português, claro!)

4 Eu disse que a dramaturgia anda ruim.

5 Vou lhe oferecer hoje alguns exemplares para você se horripilar.

6 Porque michelotto mata a cobra e mostra o paulo- diz o Hilton Azevedo.

7 Vamos revisar o site The Dramatic Exchange. www.dramaticexchange.com

8 De onde tirei, por sinal, o Hallberg e seu Balcony, meu Giullietta in stress.

9 Vejamos algumas sinopses.

10 This is a play I decided to write after watching “Sex in the City,” for the first
time.

11 I felt that it was bringing out the wrong message in relationships. (20
Questions by J. L. McBride) O negócio é a right message!
12 A Wildwood Reunion by Jonathan Calindas…. ” is a play about how
someone’s years

13 in college changes someone.” Que coisa mais interessante foin nossa vida
no colégio Marista, né não!.

14 Central Park Freak Show by Wilson White F. Fran Tinker was a rising
executive when her legs were amputated after an accident two years earlier. Badly
shocked, I´m shocked too! CHAMAR UM CREEPLE DE FREAK, DJÎSAS!!!

15 Dancing at the Revolution by Michael Bettencourt, is based on the two years


Emma Goldman spent in the federal prison at Jefferson City, MO, after her
conviction, along with her life-long companion Alexander Berkman, for conspiracy
to advise people to resist the draft during the First World War (then known as the
Great War).Numa Jaula?

16 Eleanor by Mark Brownell A comic monologue about a Catholic school


girl..VIXE!!!

17 Hannah Elias by Nathan Ross Freeman…Turn-of-the-Century urban life


(1865-1906): a period of tremendous civil, humanitarian, political and revolutionary
activity etc etc Baseado no livro Sexo e Raça, do mesmo.

18 I Dream of Edna in a Light Green Dress by Bradley Hayward . Playlet, sex


farce.The key element in the set is the intercom. Without the intercom, the entire
realism is lost. A farce must be a believable exaggeration of events so the intercom
is a crucial set piece.

19 JULIET AND ROMEO A play in one act by Wayne Anthoney. “Romeo


and Juliet” is intended for secondary school students who have already studied the
original. PUF !!!

20 Look at Sandra Jane There by John Blais S Sandra Jane lies as if asleep
with heavenly dreams. In this undeveloped park, the three boys admire her state as
they wait to buy

21 the drug and join her. Tudo drogado, blz!

22 Party on Avenue “B” details the last evening in the lives of three of the six
characters involved in the play

23 The Clowns’ Macbeth by Wayne Anthoney It is a gross travesty of the real


“Macbeth” but I am quite certain that Shakespeare would have enjoyed it. Quite
certain, UÁU.

24 Tuba by Tommi Virhia . Synopsis: This elderly woman drinks liquour while
walking downtown to go into a jam session of the Town Jazz Festival.Never been in
jazz concerts before and dislikes music. On the way she helps a russian man,
….DJISAS !!!
25 Fique em casa!

26 Agora imagina o que não é a dramaturgia de língua latino americana recente.

27 Fica para a próxima. O site é o do CELIT, www.celit.com

TUDO NO TIMING & BUGIARIA

paulo_michelotto@uol.com.br

Sei porque antigos como eu e mais dois ou 3 velhotes de Recife vivem dizendo que
o texto, O TEXTO, é uma coisa boa que ainda vai ser retomada e ser revista e voltar
à cena com toda förça depois de sua derrocada fantástica com a modernidade. Claro
que estamos falando daquele texto que pode virar declamação, e não do texto
semiótico, senão nem teatro haveria, mas escuridão e mudez.

Tudo no Timing e sobretudo Bugiaria estão aí para ir contra tudo isso e continuar
impávidos e velozes rumo ao futuro que Marinetti nos prometeu. Marinetti?!. Sei
que meu público é o dos sentados no trono da sala e pensa, no nordeste, que
Marinetti é um önibus ou um pau de arara, mas um pouco de cultura culta maiúscula
não lhe fará mal. O Marinetti que cito não é o do Manifesto futurista apenas mas
sobretudo o de Gog e Magog- que aprendi a ler com meu velho pai.Acho que
ninguém mais o edita. Enfim, quem leu já viu Tudo no Timing e Bugiaria.

Isso não diminui em nada os dois.. Pelo contrário. Eu adoro Gog e Magog e amei os
dois espetáculos. Citei apenas para dar uma das linhas de continuidade histórica ao
que andamos fazendo.

Timing ( o nome completo está aí em cima) é todo zombaria com muito humor e
precisão. Os textos são muito muito muito bem escritos, do “Philipão” Glass que
quer comprar pão e sonho ao de Trotski zanzando pelo palco com uma picareta na
cabeça- tudo muito bom. Ëpa, contei uma gag! Mas isso é o de menos, pois o
importante aqui não é o que se fala,o tema, o assunto, a proposta, a ideologia, o
sentido profundamente literário e filosófico dos textos, mas como se os fala. Gerald
Thomas dixit. E é essa a corrente que se opös a todo teatrão de textão com
textinhos, ou usando o termo de Samuel Beckett, dramatículos. Ou Textículos.

Não precisa ser chegado a umas coisas dessas para ir ver Bugiaria ou Tudo no
Timing, mas simplesmente estar afinado com nosso tempo, com nosso timing, nossa
correria, nossa falta de sentido da vida graças a deus.

Ambos são mezzo musicais. Ambos zombam desbragadamente de tudo isso e de


todos nós.

Bem, em só um momento que Tudo no Timing escorrega e cai no discurso político,


pudera, o Abujamra está por trás de tudo isso.Mas eu assino em baixo da cena de
passagem do Apagão. Porque se há uma coisa sem-vergonha e safada e desonesta no
Brasil, não é a comédia, nem o melodrama , nem o rebolado, nem Geni.É Brasília e
esse Real Govërno de irreais merrecas.
Fé & faca amolada

Paulo Michelotto

1. Ontem, quinta-feira, no Teatro do Parque, tivemos a abertura quase solene do


IV Festival de Teatro Nacional do Recife.
2. Alguma coisa me fez lembra uma frase célebre “…na arte a gente (…) tem que
ter fé e faca amolada prá ir cortando também.” ( Antönio Cadengue,entrevista a
O Folhetim #11, já nas bancas. Plim-Plim!.)
3. Sei bem que já passaram os tempos áureos.
4. Neles, critica vinha do grego kritein– que significa cortar.
5. Se tivessse havido uma melhor crítica teatral certamente o teatro teria sido
melhor. É uma questão de fé, entendem? E de saudade de Isaac Gondim.
6. Voltando aos Gregos, não custa pensar que ainda hoje possamos reviver a
Grande Grécia em que uma economia esclavagista não impediu espíritos lúcidos
de criarem um grande teatro, aliás, O grande Teatro Ocidental – futuramente
citado como OTC.
7. Então, passemos a faca.
8. Mas , primeiro, meditemos sobre a fé.
9. Primeiro a fé das Otoridades Presentes que subiram ao palco…
10. Companheiros, finalmente o PT está demonstrando que esquerda se dá bem
com arte e que não nos persegue como cães vadios- como muita gente de bem já
afirmou.
11. Parabéns para o João Paulo, o primeiro prefeito dos Tempos Modernos que
comparece a um evento nosso sem haver vaias clamorosas..
12. Agora passemos a faca.
13. Só que não precisava subir em palco. É coisa provinciana, Coisa de político de
Brasiliawitch.
14. Como é coisa de planaltos a presença de um sujeito muito escalafuboso que
ficava no palco nos lembrando dos tempos da ditadura .
15. Saiu botando para correr um pobre fotógrafo. Um horror.
16. Aquele Manifesto também , perdoem-me, não devia ter sido lido..
17. Nossa tragédia não é a de sermos assassinados e haver impunidade.
18. Esse papo acaba no de segurança e daí para o de segurança nacional é só questão
de uma divisa a mais na farda.
19. Nossa tragédia é que nada aprendemos com Sófocles e seu Édipo: a continuar
procurando, mesmo após achar as causas.
20. Acho que só, no ramo Otoridade..
21. No ramo Programa, pouco se informa.
22. Parece que o público- O PÜBLICO ! – não quer saber de nomes de autores,
tradutores, diretores, cenógrafos, iluminadores, atores e outros etceteras, não é
mesmo?
23. .Afinal , quem são eles diante do grande OTC?
24. Ainda no item Programa, também não gostei daquele vermelho-beterraba ,
daqueles brocados e poses renascentistas do leiauti .E daquela única
Companhia de nossas Índias Ocidentais .
25. Sei não…
26. E finalmente, posso fazer uma pergunta? Há concorrência pública para se editar
cartazes etc e tal ?
27. Sei não.
28. Ah , sim a peça?
29. Não gostei.
30. O que não significa que vocë não deva ir e que não haja muita outra coisa por aí.

Prof . Artes Cënicas UFPe

Jornalista profissional (registro no MRT-JP)

Crítico de Teatro

Ivana, amor

Me dë retorno , ok?

O segundo é manso e só sobre a peça

Coloco aqui o início para teres uma idéia também:

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara.
4. Um monte de cacoetes não faz uma dramaturgia.
5. Porque não se lë mais Anouilh?
6. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
7. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
8. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
9. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
10. O figurino…… etc etc

SOU CHEGADO A UM MELODRAMA


”…No Recife há um resquício do rádioteatro, daí que por vëzes a cenas está antenada
coma a contemporaneidade, mas a prosódia está presa a um outro tempo, a um outro
lugar. “ ( Cadengue,entrevista a O Folhetim #11, p.118.)

O IV Festival de Teatro Nacional do Recife foi aberto nesta quinta-feira, com a peça O
MELODRAMA, texto produzido no processo de criação da Companhia _______

do Rio de Janeiro. Não sei se seria o melhor espetáculo para abrir o Festival, mas
certamente é um espetáculo que vale a pena ser anotado na sua agenda.

Muitos acertos e alguns equívocos.

O equívoco maior fica certamente por conta da idéia de que uma companhia criar seus
próprios textos é seu melhor caminho. Claro, essa não é uma idéia que eles
inventaram, tantas que são as pequenas companhias que andam por aí no mesmo rumo.
Penso que há um certo tipo de teatro que deveria respeitar um pouco mais o seu próprio
teatro. Uma companhia cujo avanço e inventividade se dá dentro do espaço de um palco
italiano necessita se ater às convenções desse próprio palco. E essa que vimos atuando
em Melodrama não é nenhuma companhia de teatro de rua, ou de performances, ou
de …

Para os menos afeitos à essa linguagem estranha que será falada durante esses 11
dias no Recife, vamos aprender algumas coisa sobre esse famoso macarrönico palco.
Pois ele é o palco mais tradicional do Ocidente, que nos vem da Renascença, nascido
em Vicenza, consistindo em um espaço fechado como um quarto, com uma das paredes
substituída por uma cortina. Essa parede aberta, a quarta, vai virar inclusive ponto de
ataque de um dos pais do teatro moderno, Brecht, em sua proposta por um teatro não
ilusionista, um teatro que pudesse servir à consciëncia e a reflexão do público.

Originalmente foi feito em um canto abandonado de um Palazzo, daí também a


identificação desse palco com a burguesia. Se você quiser dizer “teatro de burgueses
para burgueses”, simplifique tudo isso chamando-o de “palco italiano”.

É onde boa parte de nosso IV Festival irá se aninhar.

Creio que finalmente poderemos falar um pouco desse pessoal de base, carregador de
pedras da construção toda, chamados Dramaturgos e de seus pequeninos mas árduos
deveres..

O ofício de dramaturgo é tão elevado quanto o de qualquer outro de nossos ofícios de


cena. Se achamos que qualquer um pode sair escrevendo, por que não admitirmos que
qualquer um pode subir em palco e dizer o que bem entender- substituindo-se assim
definitivamente todos esses escombros de nosso velho teatrão, tais como diretor, ator,
cenógrafo, iluminador etc etc ??

O primeiro dever dele é escrever algo para ser visto. Aonde a dramaturgia se distingue
profundamente de toda outra modalidade de literatura – de tal ordem que julgamos que
nem literatura mais isso é. Mas isso é mera opinião nossa.

Está começando a vislumbrar porque o texto dramatúrgico, ou a peça, apesar de tão mal
falado em nossa modernidade, tem uma importância vital?

Pois é o primeiro roteiro do olhar do espectador sobre esse objeto chamado cena.

O centro do texto portanto não é se é falado, nem como é falado, nem se é cantado, nem
se é emudecido ( ou mímica).

Seu centro é um olhar.

E nisso há algo de extremamente positivo em O MELODRAMA.

Pois pretende ser um certo olhar sobre o comportamento amoroso.

Que no homem, diferente dos outros animais, é elevadamente ridículo.


Daí talvez o enorme sucesso desse sub-gënero que dá nome à peça. Há quem
identifique o melodrama com o nascimento da modernidade também. Mas, para não
irmos demasiadamente antes disso, basta-nos dar uma olhada nas peças do
francës Marivaux, para vermos que ele é bem mais tinhoso e resistente. O avö do
gënero pode bem ser uma “marivaudage”, nomezinho cunhado para designar peças
espertas em que rola esse amor em todo seu exagero.

Seu fundo talvez seja a própria natureza humana.

Então porque disseste que a peça Melodrama, de abertura do festival, era de ruim
dramaturgia no artigo do Diário Impresso em Papel?

Por que o problema de fundo lá é apenas de formalização do espetáculo como um todo.


O que quer dizer apenas isso: posta essa característica de um determinado tipo de
comportamento amoroso, o resto é enfeite.

Podendo em nome da simplicidade ser jogado no lixo.

Vejamos o exemplo da gag, ou truque, do marido ter um irmão gëmeo e finalmente


essse não ser outra pessoa mas o mesmo e torturado personagem. Ou o truque , já muito
conhecido nos meus anos de infäncia – e lá se vão punhados e punhados de anos nisso-
do casamento entre parentes que resulta em uma cascata de situações em que finalmente
a mãe descobre que pariu o próprio sobrinho.

Até aí tudo bem. Afinal, um monumento de nossa tragédia, Édipo de Söfocles, foi
responsável pelo nascimento dessa piada infame, que não acaba nunca de se reproduzir
sobre nossos palcos.

O que não é lá muito bem é ficar se repetindo essas gags no espaço de uma hora e tanto.
Não , não estou falando do fato da gag aparecer uma vez no faoreste, outra em novela
mexicana e assim por diante até completarmos um ciclo quase de exaustiva pesquisa
antropológica. Não. Esse problema ai é apenas de ërro de alvo.Não estamos em sala de
aula e teatro para fazer estudos aprofundados da cultura ou dar mostras de descobertas
antropológicas – como diz bem a A.Cadengue. pode ser bom para se formar o ator
barbiano, mas talvez para nada mais.

A repetição é mesmo a da piada que é contada duas vëzes do mesmo modo. Cansa.

Se você ler Antígone de Anouilh verá que não se precisa fazer referéncia a nada dessa
piada de cruzamentos consanguíneos para se fazer uma platéia chorar ou rir.

E olha que ela é filha do filho que se casou com a mãe, portanto o filho dela com
Hemon seria neto e bisneto ao mesmo tempo de Jocasta, sua avó….

Uma peça não é feita com uma boa coleção de piadas.

Ou uma boa coleção de emoções fortes. Ou ridículas.

A repetição em MELODRAMA também é feita pela quantidade de músicas cantadas.


Parece que entram para resolver outros problemas de texto como passagens de cena etc.
Coisa aliás extremamente bem resolvida por uma direção que navega num texto dessa
ordem caótica.

Talvez esse seja um dos pontos em que me parece complicada as escolhas de texto de
Melodrama. Porque esse amor melodramático não tem como referéncia alguma a
pluralidade de amores, mas muito pelo contrário, a obsessiva fixação em um ou dois
valores apenas do comportamento amoroso.

O eixo dessa fixação é a sexualidade.

E essa não chegou a subir em palco.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção, pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da crítica e da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem no Brasil por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia, a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora
Esses merecem o Molière.

Mas vocës bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos
reais, investe em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construção. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois creio que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples, difícil e muito antigo, da narrativa.

É uma história que se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das
histórias narradas com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse
achado que é o de trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar em
que tais tradições narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta
lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória
não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: “aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar mais, de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!”

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


um presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos passá-lo numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além
disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza em


Como vivem os mortos, nos acompanhará para sempre.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto
Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora

Esses merecem o Molière.

Mas voces bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada a teatro. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros
frutos reais, invete em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construçào. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois penso que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples e difícil- pois muito antigo – da narrativa. É uma história que
se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das histórias narradas
com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse achado que é o de
trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar aonde essas tradições
narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta lembrarmos o
katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.
Na saída ouvi um senhor comentar: aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim
para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar, mais de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


uma presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos ser passado
numa narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá
além disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza nos
acompanhará para sempre.

Bárbara não lhe adora.

Janeiro Produções.

Micro- crítica
Peguei num canto esse papo em linguagem coloquial:

Lëda disse:” é uma peça pintosa!”


Fátima Saad disse: “ mas não, é uma sátira!”

Lëda, ela é de teatro, mas claro deve ser pura inveja.

A Bárbara é uma gracinha, a companhia é inteligente e os atores e atrizes muito bons.


Jennifer foi a menos melhor.

Entendo hoje porque Bárbara, a original gostou. A peça lhe dá razão e nós críticos
ficamos de alma lavada.

Claro, a peça funciona melhor no circuito Rio & S.Paulo, uma vez que aqui nosso
povão não sabe bem que diretores fazem aquele trejeitos todos e aquela quase macumba
da corrente energética, e nem que atöres gastam tanto suor para achar “O”
personagem.
Lëda disse mais, o figurino é pintoso.

Mas se se trata de uma peça satirizando o teatro, o quë mais se pode esperar senão
pintas?

Eu disse uma certa vez que mil cacoetes não fazem uma peça. Pois Bárbara está ai para
provar minha tese de que uma pequena piada dá uma peça divertida e bem feita, coisa
para a gente rir, pois teatro é também para isso se não for apenas para isso.

Sei não.

Leda disse: aquela fumacinha é pintosa!.

Deus. Lëda, que fumacinha você queria em cena aberta?

Bem, podem ver que minha noite com Lëda terminou mal

E Lëda nem loura era.

Culpa da Bárbara, essa gracinha!..

( A que ficamos reduzidos, nós críticos, depois de Bárbara não lhe agrada!).

Se vocë odeia algum crítico particular, vá ver as peça e saia rindo que nem besta.

Nada a ver com a fumacinha de Lëda.

Encontros depois da chuva


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe

paulo_michelotto@uol.com.br

Acho que essa mostra indica que nosso teatro tem vitalidade, está indo muito bem
graças a deus. A Cia Teatro di Stravaganza é uma boa prova disso.

Encontros depois da chuva é um belo roteiro. Enxuto, preciso. Eu apenas


cortaria o texto aonde se fala das horas que restam para se ser feliz. Mas gostaria
de rever o espetáculo pois acho difícil que a Stravaganza tenha cometido alguma
imprecisão.

O melhor do roteiro é o contraste entre o onde não se fala e aonde se fala.

Nisso ele me lembra Ato sem Palavras de S. Beckett, em que um simples apito se
opöe a todos gestos. Aliás, o meu velho mestre merecia uma homenagem. Nunca vi
tanta coisa que se deve a ele nesse Festival. Viram os vermes dos sacos de dormir
de Textes Pour Rien na abertura da Infecção Sentimental Contra-Ataca do
XPTO? Encontros depois da Chuva, por exemplo, também é um roteiro becktiano.
Moderno.Viram algum dia May Be? Viram a viagem do nada para o nada, de
Mercier e Camier? Quem não ouviu a musicalidade em Beckett não viu nada. A
Stravaganza certamente viu. As malas-quase-circo são de Samuel, o tempo preciso
de cada movimento de ator são de Samuel, a repetição da capo al fine em novo
ritmo é Samuel (leia-se, Quoi Où etc), a viagem para o lugar aonde ainda se ouvem
pássaros é Samuel ( leia –se a lua e a casa da amada de Mercier e Camier).

Breve, essa junção perfeita entre palavra & música & ritmo & dança é de Samuel.

Beckett escreveu mais para os tempos em que havia a Palavra. Ele a desmonta.
Depois remonta com novo valor. É talvez o grande e último escritor que a trabalha
com precisão de relojoeiro suiço. Mas nós sabemos que qualquer reloginho de merreca
japonës vindo do paraguay e vendido a 3 reais na pracinha do Diário é mais preciso que
todos os antigos. Coisas da Evolução.Coisas dos Tempos.

Coisas das Chuvas.

E coisas de nossa busca infinda de pássaros e estradas.

Já não há mais que se escolher entre pássaros e estradas. Entre palavras e gestos,
entre texto e dança. Eles nascem à beira dessa estrada, nascem da selva de asfalto
– indica o roteiro belo de Adriane Mottola.

Belo, pois, depois de Samuel, pela primeira vez, pode-se falar alguma coisa.

Então para quë vou eu falar de figurino, interpretação, cenografia, programação


visual, se- quando se está diante de um texto inteligente- tudo isso nasce
suavemente ou aos borbotões como na Cia di Stravaganza?

Luiz Henrique Palese vai mostrar, em solo – em Como vivem os Mortos – que a
Companhia é de absoluta afinação.

E podem contar, Bebë Bum me verá na primeira fila, no gargalo, com meu neto
Lucas.

Não é que viramos macacos de auditório desses meninos di Stravaganza?!…

Dizem que fãs não escrevem boas críticas. Ficam sem distanciamento crítico
brechtiano…

Então vou me calando por aqui.

Por que o que eu quero é mais. Muito mais. Desses palcos azuis de infinitas
cortinas.

A Infecção Sentimental Contra –Ataca


Grupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.

Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem
merece.

E creio que – dos que vi até aqui – esse era o grande espetáculo para abrir o
Festival.

Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?

O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula
Magna!- de Teatro.

Então que abra o próximo Festival.

Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda
de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso
ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para
pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos
com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a
humildade nos permitir – nosso ofício seja também o de participar um pouco
como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o
mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim.

O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando
sua obra.. Só posso adorar.

Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com


roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte
viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!…
AH!… OH!… Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La
Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na
frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?.
Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos.

Quer saber mais? Vá assistir.

Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena
cena- que mais parecia uma pequena passagem entre cenas – em que robôs
trombam uns com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se
transformando em uma guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que
finalmente se rompe ao tentar pescar o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do
próprio XPTO.

A de crianças que recriam o Universo.


Beijos para cada uma delas, pois me comovem.

Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.

O mundo será bem, melhor depois disso.

Encontros depois da chuva.

Companhia de Teatro di Stravaganza

Leda falou que esses meninos são todos gobas.

Puta merda leda, você está virando sapatão..

Toda nudez não será castigada

paulo_michelotto@uol.com.br

É um fenömeno como Nelson e uma boa propaganda tëm vitalidade. A fila ia do


Armazém até o Pina! Nosso injusto público finalmente acordou e foi ao teatro.

Como entender Nelson? Há uma mania nacional de psicologizá-lo, logo o Nelson que
tinha horror disso. Não foi o caso, graças a deus, de Cibele Forjaz e companhia. A
opção foi pelo Nelson suburbano, com forte dosagem de melodrama, numa escolha de
interpretação de ator bem bem naturalista, algo assim para você sentir MESMO que
havia um puteiro, umas tias dentro de casa batendo bolo. Só faltou o quarto de boi em
cena etc…

Ora, quem andou vendo Antunes, viu certamente o último e definitivo Nelson. Na
mesma linha já tivemos aqui, recentemente, a Seraphin com Senhora dos
Afogados.Confesso que não apreciei tudo o que vi na encenação de Antönio Cadengue,
mas ela tem certamente o mérito de cair fora de alguns chavões. Ele é Antönio, mas
certamente não Antoine.O que é bom para Recife e para o mundo.

A Cia Livre de Cooperativa Paulista de Teatro nos apresenta um espetáculo de muitas


coisas boas. Não vou ficar repetindo ficha técnica porque quem anda lendo jornal nesses
dias é mais gente de teatro mesmo. É pelo menos o que tenho visto freqüentar o
Festival.A rígida divisão dos espaços cenográficos num esquema quase aristotélico
merece toda atenção, além de ser uma homenagem às antigas regras de esquerda alta
esquerda baixa e etc… A luz segue o mesmo esquema de rigidez, desenhando áreas
muito claras na zona do quarto de Geni para destaque de seu corpo, vermelho forte
riscando os encontros de Patrício e Herculano- eixo de toda a trama. O resto não
convence muito. O que salva bastante é que os atöres são tecnicamente muito bons.
Além da escolha duvidosa da interpretação de ator- o que não lhes cabe, portanto não
lhes podemos imputar ( oh desculpem-me!)- há ainda duas pequenas coisas.

A primeira é, sem dúvida, o nome da Companhia que ocupa quase ¼ do espaço que
temos para escrever. A segunda é que foi a encenação mais casta que já ví de Nelson.
Serginho por exemplo não pode sair daquela banheira de Marat …vestindo cuecas que
parecem fraldas! Nú ficava mais correto.Também vi pouco os seios tão perfeitos e tão
insistentemente cantados por Nelson. Neles é que o câncer de Nelson pode se instalar.

Então…

Balanço

paulo_michelotto@uol.com.br

Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada
interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o
conseguem.Cheguei correndo ao Hermilo – uma vez que estava no Sesc e quase não dá
tempo para se sair de um espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria
que parece Fazenda Nova… Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava
acompanhado e fui humildemente comprar o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam.
Lotado. Bem eu não ia deixar quem me acompanhava esperando do lado de fora durante
uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa, aparece alguém e informa sobre um problema no ar
condicionado e pede desculpas pois não haveria espetáculo, que se refizesse a fila para
devolução de ingressos e… Aí aparece o ator e grita que vai haver espetáculo, que esse
festival era uma mentira, que se precisar tirem a camisa para agüentar o calor – no que
lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo. Voltei humildemente à bilheteria, já
que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes e enfrentar o Zöo de Albee- sem
nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10 reais! Apesar de ser da classe,
minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse preço um assalto feito por
quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a democratização da cultura. Não
acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em bufunfa como nadam os
governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não…

Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de


técnicos e no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4
horas no Rio Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da
manhã e o encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com
XPTO.Cansaram de avisar que teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo
agendado. “Ah , dá tempo para se apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo –
uma jóia de profissionalismo e rara beleza que já rodou meio mundo – acabou tendo
que ser adiantado e lá estava um imenso Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos
chamar o público até de senhora gorda- como o impolido Nelson Rodrigues –mas não
podemos chamá-lo de adivinho. Jornais existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para
isso.Mas ninguém se lembrou que os jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como
cães de guarda da cultura. Bastava abrir a boca sobre mudanças de horário que
publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da sonolëncia. E o pobre do Xpto
ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo pernambucano. Posso
acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma, foi dar uma
mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar, carregando
todo o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido almoço e
descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles.

Mais?
Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho
– que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro.
Convidei-as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um
pouco de medo dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram.
Mas amanhã se aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados.
Porque precisa ter uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter
toda informação necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas
da noite e atravessar aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por
favor, programem espetáculos para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa
Amarela possa também ver teatro, sem ter que se deslocar à noite para o centro. Agora,
colocar ali, à noite, peças que só podem ser vistas ali, é um ato de crueldade.

Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada
tem a ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter
paciëncia, que isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o
que quisemos mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro
agradece.

FANDO E LIZ

paulo_michelotto@uol.com.br

Nesta quinta,15/11 e sexta-feira, teremos a chance de ver um Arrabal.

“Baixinho e feio, assustado com a infäncia e suas obsessöes”- dirá dele Allan Schifres.
A mãe não o deixou abraçar o pai, prëso como traidor na Guerra Civil espanhola. Dá
para se perdoar a crueldade do universo infantil em suas peças? Vários autores
opuseram o mundo adulto à lógica terrorista das crianças.Quão longe anda nosso teatro
infantil de tudo isso, não?Aqui em Arrabal, crianças matam crianças e
velhinhos, arrancam asas de mosca só pelo prazer. Nem pense em
recomendar espetáculos de Arrabal às escolas aonde seu filho estuda. Haveria
professorcídios após. E Arrabal é tudo, menos espetáculo infantil. Sua sexualidade é
animal, a crueldade, instintiva. Seu herói não oculta nada. E sabe como é perigoso entrar
nesse jogo de adultos.

De uma escritura muito próxima à de Samuel Beckett, ou H.Pinter, Arrabal escreve suas
peças…” Escrevo, portanto minhas peças como quem dirige um Cerimonial, com a
precisão de um jogador de xadrez ”

. E assim, coordena rituais de festa para escapar a seus maus sonhos. Para ele a
existência já é trágica o suficiente para que ainda se a leve a sério…

” …Então o que se passou foi que ela e ele se puseram a brincar de pensar mas, como
ele não podia tomar uma boa posição, ele pensava muito mal e quando ela lhe mostrava
em que posição devia se colocar para se poder pensar; ele apenas pöde pensar na morte”
( Fando e Lis).

Você já adivinhou que o Movimento que ele fundou com Topor, Sternberg e
Jodorowski tinha o nome de Pänico, não é mesmo? Garoto inteligente!
Se você não viu Oração , com Marcelo e Rita, nem O Arquiteto e o Imperador da
Assyria , na bela direção de C. Bartolomeu, vá lá e não perca esta oportunidade de ver
o monstro que escreveu ainda Cemitério de Automóveis,. – um cult dos anos 60/70. Se
vc não as conhece, procure o Banco de Dados do Dep. de Teoria da Arte da UFPe, que
lá você acha . De graça e& em tradução minha. Essa é a alma do negócio.

Antes que eu me esqueça: parabéns à curadoria. Um festival que tem Nelson, Albee,
Arrabal, A . Mottola, Palese, Marivaux , Moacir Chaves, e o texto visual de Oswald
Gabrielli, do XPTO entre outros, merece aplauso.

O meu pelo menos. .

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

(mais uma vez a propósito de FACA AMOLADA/ dir. A . Cadengue/ Teatro do


Séraphin)

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara. Um monte de cacoetes
não faz uma dramaturgia.
4. Porque não se lë mais Anouilh?
5. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
6. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
7. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
8. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
9. Interessante no século XIX. É um teatro mofado com dada de vencimento de há
muito expirada.
10. Precisa se dizer mais

AGNES DE DEUS
p. michelotto
Dramaturgia.

Vou ter que começar a falar pela dramaturgia, me desculpem. Parece-me essencial.

Dramaturgos andam em falta.Vamos à dramaturgia, pois.

Stanislau P.P. me ensinou certa vez que tem coisas que não dão samba, dão samba de
crioulo-doido.Tem coisas também que não dão literatura, muito menos teatro. Padres,
freiras, psiquiatras, loucos, físicos nucleares ( vide Copenhagem) – via de regra dão
péssimas histórias. O único texto com grandeza que tenha um padre como personagem
principal, que conheço, é O Poder e a Glória do saudoso Grahan Greene.

Mas, meu deus, quem aí lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?
Por outro lado, Deus, (Ele Mesmo, o Patrão) sempre andou em alta e não sei se pela nossa
formação cultural portuguesa latina ocidental ou por que, mas o Senhor tem escolhido – de
Beckett a Dario Fó- bons dramaturgos para contar suas proezas.

Ao contrário de Agnes, que é uma freirinha, às voltas com um crime, uma psiquiatra com
problemas como todo psiquiatra, com sua madre superiora, com deus; e claro, com a mãe.
Pois, depois de Medéia, tragédia sem mãe não existe.

Os elementos de um bom thriller policial estão aí: um personagem apagadão ( freirinha),um


escândalo ( gravidez), um assassinato( criança morta), um tom de psicopatia & ciência,
truques de hipnose, alguns suspeitos e uma terrível suspeita sobre a sexualidade do capelão,
coitado. Mistura se tudo com um possível trauma religioso e uma simbologia sexual
explícita ( mãe, cigarros, água …essas coisas aí ), acrescenta-se o milagre das regras da
psiquiatra voltarem ( para quê, se ela parou também de fumar finos que satisfazem ou
grossos etc e tal e tudo isso aí significa falo, hein?) e pronto, aguardem-se as palmas.

Contanto, claro, que o distinto público, nós, sejamos um somatório de antas medievais.

Luzes, figurinos & direção


Há um belo destaque aqui para o cuidado do trabalho cênico.O cenário é funcional, e no
tom de fundo da peça- que é o de haver alguma esperança no fundo de um poço marrom
escuro.

Há, nas falas, uma metáfora sobre árvores que se concretiza num figurino e numa
iluminação a duas cores de tons e sobre-tons marron-verde, dando um tom de cuidado,
delicadeza e limpeza ao espetáculo.

Limpeza é o nome que às vezes damos para o trabalho de origem acadêmica, que faz o que
tem que fazer, mas evita colocar um dedinho do lado de fora do campo próprio de
operação.

Rubem Rocha chama isso de clean, com justeza.

Mais tons de luz, dar uma margem maior ao erro, sempre me pareceu fazer a graça dos
espetáculos. Pois, sempre, o que vemos sempre em cena são homens lutando contra os
deuses. Até mesmo com pequenas armas ou armas ruins. Até mesmo com o choro e a
emoção presa na garganta.

Ou com o riso, que o riso ainda é nossa melhor arma contra Eles, não é mesmo?

Seja como for, há que haver possibilidade de erro em tudo que se chame arte.Limpeza é
quando reduzimos ao extremo essas possibilidades textuais, quando fazemos um
espetáculo todo bem fechado como uma caixinha linda de presentes, contendo, claro, um
lindo presente. Sempre me parece que se perde algo de nossa história por esse caminho.
Às vezes, o essencial.

Em Agnes, Roberto Lúcio que é um mestre do esmero, preparou-nos uma bela caixa.Ele é
um mestre.

O bombom do Pieilmeier é que está com data vencida.


Erros monumentais fazem a essência do teatro.

O maior? A errância de Édipo, em Sófocles, culpado sem consciência.

Sem esse erro magistral, essa errância dos personagens- não haveria teatro.

O que chamamos de limpeza-quase-acadêmica é de outra ordem, é manter o erro sob


rédeas bem curtas e muito seguras. Arriscando-se, no entanto, a colocar rédeas também em
nós, o público. Roberto Lúcio optou por essa limpeza , correndo esse risco.Talvez porque
soubesse bem da fragilidade desse texto dramatúrgico. Cujo foco é o pior possível: o da
psique da pobre freirinha infeliz com voz de passarinho. Shakespeare resolveu isso
melhor.

Em apenas uma só frase, em Hamlet: …”não sabemos porque os pardais caem”.

Não sabemos- esse o mistério.


O primeiro deslize de Pielmeier é querer saber muito , mas trabalhar com uma psicologia
de segunda mão, tipo papo de Paulo Coelho. Ora, se alguém começa a fumar porque a mãe
morreu, ao limite Freud não tem nada a ver com isso. Pielmeier acha que sim. Até se
permite um seriado de gracinhas quase-pornográficas a respeito de santos e o tamanho de
seus cigarros- só faltando citar o famoso charuto de Clinton. Você não riu, tenho certeza.
Imagem forte, porém igualmente idiota, é também aquela de que sua mãe lhe enfiava
cigarros acesos na vagina.Certamente Freud se interessaria muito por sua mãe- mas bem
bem menos por você. Toda originalidade aí do Sr. Freud foi situar seu campo na prima
infância, e seu objeto nas relações primevas, em seu modelo de transcrição, também dito
Inconsciente, e no discursos que a partir daí se travam, isso é, se desenvolvem em
fechamentos.Na origem, portanto, e não nos efeitos das maluquices.
O segundo problema de Pielmeier é tentar resolver problemas com truques. A tal da
hipnose, por exemplo. Se você usar como sugesta hipnótica que se mergulhe na água, você
tem maior probabilidade de afogar seu paciente, que de colocá-lo em sono profundo. Tá
bem, tá bem, água é melhor pois lembra sexo etc e tal. Mas não dá boa hipnose, se é que dá
alguma.Aí depois faz a freirinha assassina sair passeando ao próprio gosto, sem haver
algum comando para isso. E finalmente mistura fatos e embola momento de fecundação
com o do parto- sem comando específico nenhum do hipnotizador, para isso. Só o público
pode dormir com isso.
O terceiro erro do texto é de esquecer completamente de refletir sobre a hamartia, culpa,
e o culpado– como se isso não tivesse a menor importância, justo nessa época em que se
descobriu que boa parte do clero americano( sobre o daqui ainda faltam pesquisas) tem
uma incrível tendência à pedofilia e a outras coisas mais complicadas.

Quem disse foi o Papa Woytila, fui eu não!!!


Finalmente o culpado? ” Talvez um camponês?!”- diz o autor.

Tás brincando!!!?Todo preconceito foi mera casualidade, não é mesmo?! Um pouco de


solo social e verossimilhança no texto não faria mal a ninguém. Pielmeier nem tá ai para
isso. Supõe que o público espera mesmo é um milagre ou um papo sobre papas e freiras
ensandecidas.
Mas seu quarto e maior erro mesmo é achar que milagre em teatro é o truque.

Milagre em teatro é simplesmente milagre. Acontece, todos os dias , todos nós sabemos-
senão nunca mais poríamos os pés em uma sala. Milagre é Fátima Pontes e Galiana
segurarem esse texto com tanto brio. É verdade que o tom da Madre Superiora cansa um
pouco e que a Agnes não é nenhum passarinho cantando. Mas viram o milagre? Funciona!

Fátima Aguiar, a psiquiatra, porém tem uma tarefa bem mais ingrata- pois não há como
segurar aquilo.Nenhuma atriz consegue em sã consciência afirmar, quase como numa
apoteose, algo como “ e eu, uma psiquiatra,católica comungante, com regras e não
fumante..” ou coisa muito parecida.

Francamente!

Não há um pequenino espaço no personagem para o milagre. Ele é falso, impostado, de


início ao fim. Então a atriz acaba pagando um mico miserável- essa a verdade. Aumentar
o tom de voz, dar tensão dramática não vai levar a nada. A coisa toda é oca.E não seria se
Pielmeier tivesse pelo menos lido End of Affair ou O Poder e a Glória.

Mas quem lê ainda Grahan Greene a não ser o professor Esman e eu?

Leia e vá assistir Agnes de Deus. Depois escreva para cá dizendo que discorda
Philosophando um pouco.

A modernidade deixou nos com um problema a resolver em teatro.

E que incide diretamente em toda prática crítica

Nada a ver com as mudanças acontecidas na escritura dramática, nem com a


simplificação do material cenográfico, nem com a iluminação, figurino, maquiagem e
cenografia como produtos de um design, ou isso tudo tratado como linguagens. Nada
disso.

Não é nenhum problema técnico ou especificamente teatral.

Mas, antes, da própria formação social em que estamos, produtores teatrais e público,
inseridos.

Parece-me que nosso problema maior é o da regionalização e, conseqüente,


envelhecimento dessa arte,por se situar dentro do sistema capitalista periférico como o
nosso.No plano cultural, se imaginarmos nosso planeta até os meados dos anos 50,
pouca coisa acontecia de diferente, em matéria tecnológica. Nosso roteiro básico, em
artes plásticas e cênicas se delineou nos fins do XIX e abertura do XX. Depois foi xerox
e não produzimos nem um pequeno avanço em técnicas. O que estamos tocando adiante
com relativa coragem, ainda é a tentativa de se avançar em teorias, de se repensar as
artes.

No que andamos bem devagarzinho.

A consolidação porém da indústria cinematográfica, o desenvolvimento das redes de


TV, o caminho seguro que a música encontrou como show, espetáculo, o universo
reduzido ao alcance do microcomputador e de seus textos específicos, deixaram-
nos perguntando que futuro temos. A característica de toda essa indústria moderna do
texto é a de uma tessitura rápida , ágil, que o teatro – apesar de Beckett ou Koltès, por
exemplo – insiste em deixar de lado. Nossa melhor e sem dúvida mais moderna forma
textual tem sido relegada, em nome de uma isonomia de duração com os shows de
bandas, os filmes, ou uma sentada em casa na frente da telinha de TV.O Jornal moderno
é talvez o melhor modelo dessa outra escrita, tanto que nele muitos foram beber, como
nosso Nelson Rodrigues.
A questão é: dá para competir?

Enquanto a maioria das formas de espetáculo modernas, ou de textos modernos, insistem


numa participação do público, nós insistimos em deixa-lo ali, paradão.

De preferência de boca aberta, pasmo, siderado com nossos truques de mágica.

Penso que perdemos o público.

O problema pode ser posto assim também: pense que no último festival, no dia em que se
encenava Tenessee Willians, com uma ” companhia de fora”, com uma atriz chamativa
como a Leona , isso conseguiu reunir apenas 200 , dentre os atores, produtores,
cenógrafos, figurinistas, diretores, estudantes de teatro recifenses e alguns curiosos fora
da classe teatral.

Na mesma hora, 25 mil pessoas se acotovelavam, cantavam ,riam, enraiveciam-se,


gritavam, xingavam a mãe do juiz no Arruda.

Esse o problema

Perdemos o público.Transformamos nossa longa história numa artezinha de província,


de beirada, de morro, amada e admirada pelas 5 ruelas ao redor, um artesanato sem
futuro, com todos carniceiros das ciências sociais e humanas já colocando o bico para
cima de nós para nos transformar em objeto de cultura narrada, aquela de seus
livros também sem público.

O público jovem que foi recapturado em parte pelo Cinderela, num esforço de 5 anos,
voltou para seus bares, suas bandas, seus classic-halls provincianos.
Resta o povão?

Mas esse nosso povão nunca botou mesmo os pés em nossas salas.
E nem porá, enquanto nos mantivermos atolados no passado de nossa arte, na grandeza
grandiloquente de nossas falações – essa minha aqui é uma delas, senhores , eu sei bem
disso, mas isso aqui felizmente participa, mas NÂO é teatro. E ainda bem que não estamos
há 4 anos atrás, antes da virada do século, senão tudo o que penso ficaria assim meio
spleen, meio decadente, meio fin de siècle.

Ou reacionário.

Ora reacionário é se deixar virar meia página os 2.500 anos de nossa história.

Olhar de frente nosso público e dizer: não temos mais o que dizer para vocês, o que
dialogar com vocês a não ser nosso velho papo surrado de que temos que dar um jeito de
combater os deuses, hoje e sempre. Talvez essa seja uma boa reação a essa modorra, esse
abandono, ao qual nos deixamos relegar, do meio do século XX para cá, no meio de tanto
show de milhão, tanto apagão de cinema,tanto hipertexto, tanta realidade micro e pouco
virtual, tanto bar, tanto mar,

tanto mar.
Essa preocupação acima não é só minha.

É resultado de conversas com muitas pessoas mais novas e confesso que não conseguí
convencê-las de que o teatro valia a pena em si,que era mais educativo, mais profundo e
que era melhor que a maioria dos shows que andam por aí e que o problema da falta de
público e de verba era que o teatro não estava oferecendo nada mais interessante que uma
contemplação.

E coisas antiquadas na maioria e mal apresentadas para nosso tempo.


Camilla, por exemplo, já passou dos 20 anos e NUNCA botou o pé num teatro. Como diz,
defendendo-se em parte, para quê me chatear a noite toda com uma história de freira
ensandecida que nem sabe a quem azarou e que conta isso numa linguagem com cheiro
antigo de censuras e histórias de convento, boas para bisavó e tais, quando posso
estar cantando e pulando num baile funk , ou dançando num show de rock ou papeando
num bar?

Eu pensava que o problema dela era apenas o de uma menina que não teve boa educação
cultural. Depois e hoje , parece-me algo bem mais grave para o teatro e artes em geral
e bem mais difícil de se nomear. O ponto de culpabilidade talvez não esteja lá aonde
insistimos, com certa facilidade, em dizer que ele está: a má educação de nossa gente.
Acho que perdi o papo.

Não consegui convencer ninguém que a gente ainda está vivo e que possa valer algo
diferenciado em relação a esses outros produtos dos mídias.

Talvez seja porque o teatro, em significativa maioria, achou um pequeno espaço para sí e
aí se agasalhou confortavelmente. Achou seu cantinho, sua região permitida, como todo
bom regionalismo.
Parece-me no entanto que isso é simples decorrência do sistema em que estamos
pensando.

Mas que sei eu dessas épocas, em que a antigona UNE agora só faz bienais, e que tem
Ariano Suassuna como convidado especial? …

Geléia Geral ainda é a coisa mais nova que anda acontecendo?


ÍVANA,

( gostou do acento russo? )

TOU BOLANDO COISAS AQUI PARA TAL COLUNA,

JÁ QUE ELA É BEM MAIOR QUE MINHA SABEDORIA.

Conversei com um bando de gente nesses dias e tive a idéia de ter dois blocos na
coluna:

• um dedicado ao velho e bom teatrão, isso é: as peças daqui, das


companhias daqui.
• Outro, dedicado aos novos , à experimentação, às pequenas coisas que passam
rápido mas podem ser germes do melhor depois. O teatro de Elias, vide O
Gran Vizir,de Vivi, vide Giulietta in stress, Heron, vide A Terceira Margem e
mais alguns novos que andam por aí e que estão começando agora sua direção.
Acho que mesmo que passem poucas vèzes, esporadicamente, com temporadas
pequeniníssimas, merecem nossa atenção e a de nosso público do DP.

Afinal foi assim que nasceram Antônios, Carlos Bartô, Dennis e tantos outros do
teatrão daqui, não?

Muitos acharam legal a idéia de dar um certo espaço a esses pequenos.

Não tão importante quanto o dos outros que estão em temporada regular, mas com o
mesmo carinho e cuidado como se fôseem eles os grandes.

Pois serão.

Bem, mesmo assim, acho que ainda me restará um bocado de papel a preencher.

Na medida em que a coisa for pegando rumo a coluna vai se ajeitando e criando uma
face também. Mas acho que talvez ela não devesse se restringir às artes cênicas, pois
há tempos maus, bicudos e com muita coisa ruim…e aí até o jornal sai ruim, não é
mesmo?

A coluna poderia ir incluindo devagar as artes plásticas também – afinal sou curador
de um monte de exposições e dou aulas para esse povo.
Poderia ter quadrinhos internos- exclusivos dela. Conheço muitos NOVOS e bons que
dariam a alma para aparecer num canto desses…

Sei lá.

Algo assim como um espaço experimental para todomundo, e eu seria só o catalisador


dessa coisa toda. Evidente , seria o censor e curador. Para não perder a qualidade.

Tou aqui meditando.

Enquanto isso, e sabendo qua acoluna anda manca pois faltam mais umas 90 linhas,
pensei em fazer uma coisa que fazia na paraíba. Isso é: colocar de vez em quando
reflexões para o povo da classe ou o povo em geral interessado em artes cênicas.

É coisa que fica tododia martelando em minha cabeça pelo fato de eu me meter nisso e
ainda por cima dar aulas disso.
Acho-me obrigado a pensar largo, no sistema como um todo e não só no pequeno
circuito da circulação de uma arte
Tentei falar com Vivi e Leda para me passarem material sobre Giulietta,

pois tem fotos e a peça

volta a cartaz logo logo, possivelmente no circuito do Sesc.

Seguem esses textos.

Como coisas que podem aparecer na coluna,.

Mas que por enquanto servem para o que servem, ok?

A não ser que vc ache que a coluna já pode ir tendo esse tipo de figura.

Beijos pois o melhor é conversarmos

michelotto

MEIA SOLA
p.michelotto

Dramaturgia
A peça data dos anos 70.

Já que ninguém mais se lembra, é bom dizer que eram tempos embaçados.

Economistas desaforados- vide Bob Fields, Simonsen, Delfin, todos felizmente


falecidos – juntaram-se com alguns militares e a CIA para salvar a pátria, a
mátria e a filharada brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu; e,
quiçá também na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia. Tudo para
nos conduzir a um futuro econômico feliz e sorridente, tropeçante aqui e ali em
falta de gasolina nos fins de semana e outras coisinhas que todos felizmente
esquecemos.

Esse futuro já começou para a Argentina e vive nos devorando.

Enquanto a economia sorria, a Cultura, sorry, ia levando, que a gente vai


levando, que a gente vai levando…

As artes cênicas, curiosamente tiverem um certo boom de dramaturgos. Plínio,


Leilah, Vianinha e outros. Mas a maioria mais ou menos. Menos, em verdade.
Porque era mais fácil identificar o atraso, portanto, criticar. Porque, além,
pesava a censura, pesava a burrice geral, pesava a agonia de todos nós não
sabermos como e quando aquilo tudo, aquele pesadelo todo, teria um fim e
poderíamos falar o que quiséssemos falar, inclusive ser contra- sem o risco de
perdermos a virgindade em paus de arara.
Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao lado do
general E.G.Médici. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética
e de escritura politicamente corretos, à esquerda, claro. Zombava das meninas de
comunicação da Puc com suas sandálias e calcanhares sujos. Escrevia odisséias aos
deuses negros de nossa seleção de futebol. Ele disse e ninguém jamais conseguiu
provar o contrário, que era necessário conhecer profundamente a cultura grega para
se escrever uma coluna sobre futebol. Esse senhor reacionário foi o nosso maior
dramaturgo. Nelson Rodrigues.

Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa família


e transfigurava em seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia. Sabia
tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de Enéas Álvares- mas que merece
ser lembrado para se criticar essa onda de textos ruins que andam assombrando
nossos palcos.

Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

É a isso que nomeamos falta de carpintaria.

O público às vezes julga que o crítico está meio birrento, dormiu mal ou está com
inveja- porque diz que uma dramaturgia é ruim, quando a maioria achou bem legal.

O que dizemos é apenas isso: não serve para palco, complica a vida de todo mundo,
faz atores, diretores, cenógrafos se danarem para resolver passagens de cena;
quando não, pior, para encontrar a significação e necessidade de algumas delas.

O maior estrago que um mau dramaturgo faz é o de acabarmos achando um produto


bom, apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo disso.
Como se corrige isso? Com livre, e bastante, informação.

Para isso também é que críticos escrevem . Somos um pedacinho dessa coisa toda.
Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

O que não justifica parte de seu comportamento político.

Mas o que ninguém quer lembrar também é que seu filho caiu, e que esse mesmo
senhor reacionário fez coisas que muito cardeal ou muita denominação religiosa ou
civil, não fez por presos políticos. Mas era reacionário. Reagia contra tudo que
achava burro, mesmo ficando do lado da maioria às vezes. E se deu o direito de
errar. E, pelo menos em teatro, de acertar também. E muito. Foi,
incontestavelmente, o maior de todos nós.
O maior mérito de Meia Sola é certamente esse, solidário.

O autor optou por uma cenarização forte, rodrigueana. Quando isso era o que as
cabeças pensantes e oponentes odiavam. O regime, claro, gostava – dizem .

Mas quem disse que regimes militares de exceção pensam?

Os bem pensantes do regime nem suspeitavam que aquilo, provavelmente, corroeria


mais o sistema que qualquer aparelho de esquerda.
Mas pára aí.

Não tem o dedo mindinho de grandeza de um Nelson. Além de ter uma péssima
carpintaria dramatúrgica- que obriga um encenador como A.Cadengue a cometer 15
black-outs!

Estamos aí comemorando os 13 anos de sua Companhia e sabemos bem que só fez


isso porque a escritura é um desastre, quer ser mais literária que cênica.

O que não justifica…


Direção, cenografia, figurino.

O que não justifica a direção.

A última cena, por exemplo, resolve cruzamentos de ação, colocando uma mais
acima, por sobre a mesa; a outra, num plano mais à frente.

A cena rodrigueana da mãe Lúcia Machado vestida de noiva, com o filho André
Brasileiro, ocupando , nesse conjunto, o primeiro plano. Pois é isso aí certamente a
indicação cadengueana: o que há de rodrigueano em Meia Sola salva-se, pode dar
uma cena consistente. O resto é lixo e bobagem – essa última indicação minha,
claro.

Antônio Cadengue está com a tesoura na mão, mas pela primeira vez, com os
dedos vacilantes.
A cenografia pode parecer prática mas tem coisas que não me agradam como
solução: aquelas descidas. Pro fundo dos infernos, tudo bem, é essa a idéia , meio de
subsolo, porões quase. Lembram-se de que a mulher de André, Cida, nem quer que
se limpe a coisa lá embaixo? Uma idéia tão enorme e tão desperdiçada pelo autor.

Talvez essa a razão de não se poder sair simplesmente pelas laterais.

Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída, acrescentada aos black-
outs freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser
ágil, pela própria intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.
Não sei ainda porque o povo gosta tanto de rir de palavrões e de violências ou
desrespeito humano. Chame-se a empregada de negrinha, e tá lá o público rindo.Às
vezes penso que Meia Sola arrisca ser politicamente incorreta. Não sei se reserva
um texto violento para falar de bichas e empregadinhas, por reforçar uma idéia de
nosso inconsciente e depois nos remeter a nós mesmos, à nossa própria consciência
falha- o que seria um caminho reconhecido desde os gregos, que tanto Nelson
amava.Ou se por preconceito também.

Nos anos 70 as coisas todas não andam muito claras e não valia tanto a pena nem ser
bichinha gay nem empregadinha negra doméstica. Cansei de ser barrado em porta
de boates de Juiz de Fora, aquela saudável cidadezinha intelectual de onde veio o
Itamar Franco e os Penido Burnier todos , por tentar entrar nelas com meus amigos
negros.Era proibido.

Por quê suspeito do autor?

Porque o final é francamente absurdo. Não há lógica correta naquilo tudo.


Assassinatos, prisões, uma apoteose tipo Madame Buterfly para o filho gay, que
nada fez para merecer dramaturgicamente o título final de Rainha da Pensão de
Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha recôndita e
assustada. E que vivia numa casa de bichas recônditas, como o soldado e o jovem
que lhe pede um prato de comida. Com casais falsamente normais e prostitutas
problemáticas. Enfim, a finalista vai abrir a pensão para quem, se toda a récua da
espécie humana já tava lá dentro?

Só ela e o autor é que não perceberam isso.


Resta-me supor que se não foi preconceito, foi por má redação.Talvez isso.

Mas talvez também por que fosse moda- e isso vem das amaldiçoadas, por Nelson,
esquerdas – que os pobres ganhassem no final. Bem, a bicha acantonada em casa
talvez merecesse essa palma, por ser certamente uma das categorias mais
perseguidas, e por esquerdas e por direitas de época. Merecia um pouco de glória
pela história real dos povos brasileiros.Mas nem tanta, se pensarmos na composição
lógica do conjunto de personagens.

André Brasileiro e Lúcia mereceram – dramaturgicamente – ficar ali em primeiro


plano.
É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo!
Cada autor escreve o que quer.

Cada diretor dirige o que quer.

Cada ator trabalha na peça que quiser etc

.E cada crítico escreve como melhor puder para seu público.

O meu é, você, um público leitor de jornais. E que quer ter uma idéia do que vai
enfrentar durante uma hora e meia, se você paga antes de entrar…

Vai enfrentar um texto de soluções teatrais dramatúrgicas ruins, mas que pode lhe
lembrar as velhas comédias de empregadinhas, bichas. Tudo num tom
miseravelmente desesperançado.

O riso apenas nos engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças. O que me parece bem posto na mise-en-abîme daquele constante
olhar para si mesmo e suas próprias feridas- criado em palco por aquele montão de
espelhos. Elemento de cenografia bene trovato.

Talvez apenas tentemos nos rever nas imagens gastas duma dramaturgia setentona.

Espero que a moda não pegue.

Temo, pois o Projeto original anuncia Peças Para a Família.

Será que voltaremos, culturalmente, ao teatro de miserê familiar, do oprimido na


pior acepção do termo, do pobretão visto pela classe média; breve, àquele tempinho
ruim todo- como dizia Nelson com palavras bem mais sublimes que as minhas?…

O figurino precioso de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que


vai dos tecidos aos fios – é comum na Companhia do Séraphin. Mas, uma vez ou
outra, me pareceu um tom errado. Vide Senhora dos Afogados.

Em Meia Sola esse figurino, dessa vez díspar, anunciaria o novo caminho dos
Séraphins, de volta à marginalia , à pobreza e desgraça geral em palco, beirando ao
realismo soviético, mas agora finalmente recoberta de ouro e cuidados?

Isso não seria finalmente um espelho da esperança que anda sendo prometida por aí
para a pobreza, por parte de alguns daqueles que batalharam por mudanças nos anos
70?
Para que andamos, finalmente, tanto então?

O Programa da peça parece anunciar um certo niilismo estético e ideológico, que


poderia enfrentar falsas esperanças. Mas, eu pelo menos, não o vi se concretizar em
palco.

Vi os espelhos. As roupas ricas. O cenário bem acabado, com estofados vermelhos


e nobres mesas pesadas. Um texto pobre. Uma ideologia mal costurada. Uma falsa
pobreza que me assusta. Pois já a vi, em todos discursos de Dirceu e outros tantos,
nos tempos em que nos reuníamos em Ibiúna e os militares nos colhiam como se
colhem frutos maduros.

Quanta burrice, não, meus antigos colegas?

O autor tem um texto dúbio, porque mal pensado e de uma opção estética que,
certamente ao frigir dos ovos, nada tem a ver com Nelson Rodrigues. Toda opção
estética é uma opção política, pois não?

O fato de ser contra, reacionário, nunca elevou ninguém à grandeza e preciosidade


do pensamento e da escritura daquele gênio.

BOTA MEIA SOLA NESSA SAPATILHA AÌ

paulo_michelotto@uol.com.br

Dramaturgia
O autor de Meia Sola optou por uma cenarização forte, puxada para uma
causalidade mais psicológica

que social. Opção estética e política que o regime, claro, gostava – dizem . Mas
quem disse que regimes

militares de exceção pensam? Tanto os bem pensantes do regime , quanto os contra ,


nem suspeitavam

que aquilo, provavelmente, corroeria mais o sistema que qualquer aparelho de


esquerda. Mas pára aí.

A peça tem uma carpintaria teatral tão ruim- que obriga um encenador como
A.Cadengue a

cometer 15 black-outs!

Ou seria problema de direção mesmo esse amor pela escuridão?

Consistência dramática
A penúltima cena tem uma solução ótima para mudanças de ação e
personagens.Temos os

mesmos dois planos, invertidos aqui por Cadengue, que já vimos na montagem de
Vestido de Noiva,

inauguradora do moderno teatro brasileiro. A cena da mãe Lúcia Machado vestida


de noiva, com o filho

André Brasileiro, ocupando, nesse conjunto, o primeiro plano, é Nelson Rodrigues


puro. Aí temos

certamente uma boa indicação de Cadengue: o que há de rodrigueano em Meia Sola


salva-se, pode dar

uma cena consistente.

Cenografia
A cenografia tem umas descidas. Pro fundo dos infernos, é essa a idéia , meio de
subsolo, quase

porões, a coisa que mais proliferou em nossos anos 70. Lembram-se de que a
mulher de André, Cida,

nem quer que se limpe a coisa lá embaixo? Talvez essa a razão de não se poder sair
simplesmente

pelas laterais. Mas a lentidão maior, acarretada por essa maneira de saída,
acrescentada aos black-outs

freqüentes, retardam muito o ritmo da direção. Ritmo que me parece querer ser ágil,
pela própria

intenção de se explorar algumas partes cômicas no texto.

Tudo num tom miseravelmente desesperançado.

O riso fácil tirado de palavrões e tratamentos politicamente incorretos apenas nos


engana um pouco.

E isso talvez seja o melhor da encenação cadengueana. Esse desespero em plena era
das Esperanças.

O que me parece bem indicado na mise-en-abîme daquele constante olhar para si


mesmo e suas próprias
feridas- criado em palco por aquele montão de espelhos. Elemento de cenografia
molto bene trovato.

Figurino
O figurino de Aníbal Santiago – sempre precioso na preciosa escolha, que vai dos
tecidos aos fios –

é uma marca registrada da Companhia do Séraphin. Entre o real do tecido chique


e design do sonho.

Estética do nada
O Programa da peça anuncia um certo niilismo estético e ideológico, que poderia
enfrentar falsas

esperanças, penso eu. Mas não o vi se concretizar em palco. Vi um texto pobre.


Uma ideologia mal

costurada. Uma falsa pobreza que me assusta.

Gran` Finale ma non tropo


Ao lermos o Programa da peça, achamos que A. Cadengue talvez queira marcar sua
distância com muita

coisa política que anda por aí. O que me parece justo e de direito. Mas isso não
ficou nada claro em Meia

Sola. Isso porque o desenlace da peça, tirada a cena citada de André e Lúcia, é
lamentável. É uma

apoteose para um filho gay, que nada fez para merecer dramaturgicamente o título
final de Rainha da

Pensão de Prostitutas e Veados. Uma vez que nem saía de casa. Era uma bicha
recôndita e assustada.

Vivendo numa casa de bichas recônditas. Então, a superpoderosa vai abrir a pensão
para quem, se toda

a récua da espécie humana já tava lá dentro? Dito isso, lembro, Hilton Azevedo
segura bem seu

personagem ao longo da peça. O número crescente de denominações protestantes


provavelmente não
apreciará muito aquela Bíblia em suas mãos. Mas tem que ser assim...

O 160
A bicha acantonada em casa não merece essa bola toda, se pensarmos na
composição lógica do conjunto

de personagens. André Brasileiro e LúciaMachado deveriam permanecer–


dramaturgicamente – ali, em

primeiro plano Isso é, como gran finale. É o que há de melhor na peça.

Depois deles, por que não o justificado, mas160, black-out?

E…fim de espetáculo.

BOTA MEIA SOLA NA BOTA!


paulo_michelotto@uol.com.br

1. Uma meia sola só não dá.

2. Para se entender corretamente Meia Sola, temos que fazer um gigantesco


flash-back.

3. Especialmente se estamos assistindo à presente montagem da Companhia


do Sèraphin e

à lamentável Bienal da

UNE en que o convidado especial palestrante é o cara que ficou Secretário de


Cultura imposto pela

Revolução de 1

de abril de 64 e que nunca escondeu seu ódio pela guitarra e pelas esquerdas.

Essa UNE é do do palhaço doi Dirceu que nos entregou em Ibiuna.

Quem esteve lá sabe.Por isso seu convidao hoje é ariano.Vergonha!

4. Se me permitirem, remendarei tudo com duas meias-solas.

5. Uma que foi a história e o solo aonde esse sapato se desgastou.Os


incompreensíveis Anos 70.

6. Assunto dessa quinta-feira.


7. Outra, o solo aonde A. Cadengue e o Séraphin tentaram caminhar com
nossas esperança:

8. o palco e a cena recifense. Assunto de nossa próxima coluna.

9.

10. A meia sola que colaremos hoje.

11. Nessa semana que passou tivemos a honra de sediar em Recife um dos
dinossauros

dos anos 70, a UNE.

12. Oh não aquela UNE guerreira, que nada! os tempos felizmente mudaram. A
UNE promove

agora bienais! Blz!

Mostras de Arte! Blz! Palestras! Blz!

13. A arte finalmente substituiu a vida. Blz!

14. Se você tentou participar já viu que a desorganização, desde os anos 70,
continua a mesma.

15. Se você achou que o povão estudantil estava lá para artes plásticas ou
cênicas, errou.

16. Tava para o que sempre esteve: papear. O que é saudável.

17. Tanto que nessa quinta também falarei menos de teatro para papear um
pouco mais. Posso?

18.

19. Ou a UNE se Raoni ou a UNE se Sting… (obrigado Leminski)

20. 3 coisas me espantaram na recente UNE e sua direção:

21. Continua usando a arte como pretexto para juntar gente, a primeira.

22. Prefere, hoje, uma boa conferência a uma boa troca de idéias, a segunda.

23. E finalmente, creio, é o maior convescote de reggueiros e esfumaçados da


época moderna.

24. O que não bate nada com a estética pessoal de Ariano, que é mais chegada a
uma rabeca
e a uma medievalização cultural , não é mesmo?

25. Mas você viu o tamanho da fila dos estudantes unidos e os empurrões e
cotoveladas para

se ouvir sua aula-show?

Doideira, meu!!!

26.

A UNE antigona era medéia mas cheia de alianças nos dedos.

27. Na nossa Idade Média brasileira, economistas desaforados- Bob Fields,


Simonsen,

Delfin – juntaram-se com alguns militares e a CIA, para salvar a pátria, a mátria e a
filharada

brazilianista das garras do comunismo vermelho e ateu;

28. e, quiçá também, na mesma varrida de metralhadora, da UNE atéia.

29. Tudo para nos conduzir a um futuro econômico esperançoso.

30. Que já chegou para a Argentina e cruzamos os dedos para que não nos
atinja.

Quem ainda os tem.

Nelson e tudo isso.


31. Nos anos 70 um fabuloso dramaturgo brasileiro sentava-se no Maracanã, ao
lado

do general E.G.Médici.

32. Odiava esquerdas patrulheiras, proprietárias de códigos de ética e de


escritura

politicamente corretos, à esquerda, claro.

33. Falava coisas absurdas sobre a sexualidade atravessada e pervertida de nossa

família e transfiguravaem seu texto toda a grandeza de nossa infinita mesquinharia.

34. Esse senhor reacionário chamava-se Nelson Rodrigues.


O Brasil da UNE de antanho NÂO GOSTAVA de
Nelson Rodrigues
35. Apesar de Nelson saber tudo de carpintaria teatral- nomezinho do tempo de
Enéas Álvares.

36. Há um monte de histórias interessantes, mas mal escritas para palco.

37. Não servem para palco, complicam a vida de todo mundo, fazem atores,
diretores, cenógrafos se

danarem para resolver passagens de cena; quando não, pior, para encontrar a
significação e necessidade

de algumas delas.

38. Mesmo que você tenha gostado da história, sem carpintaria ela é péssima
para a arte e para o

teatro, entende?

39. Mas o pior estrago que um mau dramaturgo faz é o do público acabar
achando um produto bom,

apenas por não haver melhor disponível nas prateleiras.

40. Pensar, dentro dos anos 70, dentro de um Golpe militar, foi um bom exemplo
disso também.

41. Nelson mostrava uma outra realidade que não queríamos ver.

42. O que não justifica, claro, parte de seu comportamento político.

43. A verdade é que não gostávamos dele por ambas razões: por seu comportamento
e pelo que conseguia

ver além de nós.

44. O que ninguém quer lembrar porém é que seu filho caiu. E esse reacionário
fez coisas que muito

cardeal ou muita denominação religiosa ou civil, não fez por presos políticos.

45. Foi, incontestavelmente, o maior de todos nós, mesmo que Sete Gatinhos
jamais venha a passar
no cinema privativo da presidência, a última novidade daquele fim de mundo que é o
Planalto Central.

46. E a Meia Sola de A.CADENGUE?

47. AC nos obriga a repensar a palavra mais usada por políticos durante os anos 70:

Esperança.

48. No epicentro do teatro de Nelson. E caindo pelas beiradas de sua Meia-Sola

49. Mas isso fica para a próxima quinta, pois minha grade aqui se fechou.

Meia Sola nas Esperanças e seus ministros assustadores

50. ESPERANÇA acabou sábado passado à noite. Meu neto gostou muito.Não
entendeu

aquele flash-back para frente final. Para dizer a verdade nem eu. Só sei que ele,
Lucas, é a 5a

geração de emigrantes italianos, e se seguir o destino de descendente de imigrante


pobre-

apesar da onda italiana da Globo- corre risco de viver pior que meu avô Mário.

51. E ainda tem ministro por aí, trabalhador, que culpa nordestinos pela fome no
país,

ó Ricardos IIIos!!!

52. “Renuncia! Renuncia! Renuncia!!”

53. (sugesta de Coriolano, Thomas Stearn Eliot- afinal essa é uma coluna de
artes cênicas, pois não?)

(a seguir na quinta que vem, se meu leitor assim o desejar)

Fofa íVANA,

1. AS LINHAS SÃO APENAS PARA EU PODER CALCULAR AONDE


TENHO QUE PARAR…

E OLHE LÁ QUE QUASE NÃO CONSIGO…CAEM FORA, PORTANTO!

2. Fiquei animado com o e-mail de um cara de Olinda. Acho que devemos


tentar por um

certo tempo o filão do texto meio alongado mesmo.


Também porque preciso tomar um pouco pé para manter as notas da coluna
em dia.

Estou ligando para o Sindicato e o pessoal todo que conheço para me manter
informado,

ou dizer o que precisa ou quer que saia.

Preciso de um ou dois meses para a coisa fluir bonitinha como programada.

Tenho esse tempo?

3. Bolei o texto para dois dias:

Um para uma introdução à esquerda, já que isso é essencial para a


compreensão

de Meia Sola.

Disse Antônio naquele dia e eu nisso concordo totalmente com ele.

Outro para meia sola propriamente dita. Que resumirei ao máximo, menos que
essas

50 linhas, para dar espaço bom para fotos e coisas tais que dão uma maior
leveza e

maior informação à coluna.

4. Cortei o mais que pude a looooonguésima introdução.

Mantive mais ou menos dentro das 50 linhas.

Acho que essa será uma coluna de luto. Espero que apenas essa.

Continuo achando que vale a pena tentar alguma coisa mais politizante,

mesmo que o texto tenha que se esticar por dois dias.

Posso experimentar uma vez ou outra assim?

5. Se eu não for provocativo, não sei bem qual será meu futuro.

Se eu for provocativo talvez meus dias estejam contados,

mas certamente terei sido fiel aos meus leitores.

Que esperam de mim algo assim.


Pois sou assim.

6. Diga o que acha pois vc é meu guia.

Mas se precisar de mais cortes, não se vexe.

Você já deve ter visto que sou bom para escrever como se estivesse falando…

isso é, corridamente.

E sou bom de tesoura também.

Apesar de ficar choramingando pelo que escrevi e mandei para o lixo.

Mas essa é que é a nossa profissão, e não outra.

7. Espero que você goste do que está aí em cima.

Eu gosto. Polly gosta.

Se vc gostar, o mundo inteiro irá gostar, não tenho dúvidas.

beijos.

Eu, Michelotto.

Tou pensando seriamente em cair fora da UOL por causa da grana.

O meu e’mail da UFPe é master é master@npd.ufpe.com

Não sei ainda fazer funcionar. O NPD é jurássico.

O meu hotmail é mickey_mauss@hotmail.com

Mickey é como me chamam na Universidade.

Mauss é em homenagem ao Marcel Mauss, antropólogo que escreveu o

ENSAIO SOBRE O DOM e que mudou toda minha antropologia.

Mickey Mauss é o Mickey que não é do Disney, policial bonzinho.

Sou eu, mauzão. Assim conhecido em todas as listas de anarquistas desse


país….

vão me ler, imagine!

Hehehehe.
mickey_mauss@hotmail.com

GIULLIETTA em entreato
Para não dizer que não falei de flores e
de coisas bárbaras.
Estar diante de um texto de Shakespeare é sempre um prazer. O homenzinho de
Stratford

escreve para teatro como poucos e, graças a deus, tem algo a nos dizer sobre a
natureza humana.

O que anda faltando a muito dramaturgo por aí. Falar de Shakespeare no Brasil é
impossível,

sem se falar na dama de ferro que deteve o controle de seu texto por 2 décadas pelo
menos,

Bárbara Heliodora. Por muito tempo não se viu Shakespeare, mas sim Bárbara. A
tradução

de Bárbara. Realmente bárbara. Felizmente joguei fora meu exemplar, para não cair
na tentação

de brindar-vos com alguns exemplos de frases ininfaláveis e incompreensíveis em


palco.

De verso antigo aquela coisa, por alguma freudiana perversão invertendo, da


frase toda a ordem

… `só para fazer bonito!`. Intragável. Tradução literal, esse o nome da bobagem.

Quem tem medo de Bárbara ?


Recentemente porém a mesma Bárbara tem refeito o trabalho e a coisa tem
melhorado.

Mas ainda deve bastante ao palco, o que era a maior marca de Shakespeare.Perdeu o
pé.

Enferrujou. Talvez porque passou tantos anos a só escrever crítica teatral – essa
coisinha aqui
de 70 toques por 50linhas em estilo para gente apressada. Gente que nem você e eu,
que não

tem mais tempo de ler um James Joyce inteiro, o que não é nada mau. Oh crime!
Diria meu colega

de literatura. Mas quem já leu Ulisses inteiro a não ser ele e eu?

Romeu e Julieta é um desses textos em que Bárbara tentou, e até conseguiu


melhorar sua própria

marca, claro. Mas nada mais que isso.

Sua crítica porém é algo vigoroso. Não deixa passar nada, numa cruzada moderna a
favor de um

teatro melhor. E nisso ela é magnífica.È verdade que nenhum de nós tem muito claro
hoje em dia

a nossa estrita função de crítico, além daquela que é o exercício constante do texto.
Somos mais

escritores e paladinos da liberdade, que defensores de alguma forma de teatro. Pois


toda forma de

teatro é mera encarnação temporal, é mero tijolo nessa parede que vai nos trancando,
diziam os

Pink Floyd. Toda cultura nada mais é que um monumento à barbárie. Dizia o Walter
Benjamin,

se você prefere alguém mais da pesada..

Iso 2002

Se você quiser ver algo profundamente shakespereano, e um texto cuidadoso,


aproveite para

assistir sexta feira, 21 de fevereiro, no Teatro do Sesc de Casa Amarela, às 20


horas,

à encenação de Giullietta em entreato.

Direção de Viviane Barbosa, com Leda Santos como Giullietta e Jorge de Paula
como Mercúcio.

É isso aí, Romeu nem aparece, já pensou?! O original é Giullietta in stress, de


autoria
compartilhada entre Erik Hallberg e esse seu crítico implacável com textos ruins.

Não tá com nada

Aproveite, então, para poder dizer: michelotto não tá com nada! Vai ser difícil,
aposto. No ano

passado você viu três pequenos trabalhos meus em cena em recife: Porque os
teatros estão

vazios, em parceria com K.Valentim, n uma bela encenação de Roberto Lúcio e um


show de

interpretação de Fátima, Paula Francinete, Rejane Arruda.Você viu Mistério Bufo,


em parceria

com Dario Fó, dirigido por Marcondes Lima com um excelente elenco além do
delicado trabalho

de Augusta Ferraz. E você viu também O Grande Vizir, de parceira minha com
Obaldia, na

direção de Elias Mouret , com o trio magnífico, Amanda , Viviane e Lane.

Não vi ninguém reclamar de nenhum deles. Pelo contrário.

O que vem por aí O que vem por aí…

Eu falei alguns nomes ainda recentes em direção, como Elias Mouret , Viviane
Barbosa, Heron

Vilar, Marcondes Lima. Recente ou iniciantes, quer dizer com menos de 10 anos de
palco.

Algumas atrizes e atores iniciantes, como Amanda, Viviane, Lane, Lêda Santos,
Ritinha,

Marcelinho, Galeana, Maria de Fátima, Jorge de Paula, Rodrigo. É uma fornada


recente da

universidade.Ainda voltarei a falar deles. Pois creio que um novo teatro pode estar
nascendo daí.

Lêda Santos- não confundir com Jommard Muniz de saia que é a Leda Alves-

é uma esplêndida atriz, porém chorona pois fica aqui me pedindo para dizer

que ela é a maior atriz pernambucana depois de geninha Rosa Borges, que na
opinião da própio Ledinha, está um canhão horrível e dessa vez é a vez dela…..

1. Ô mulé dá uma pena 2.2. Jason Walace e seus companheiros de jornada


são inestimáveis para nosso teatro.

3. Certamente virá alguém depois de mim que lhes prestará as devidas honras.

4. São da nobre linhagem do Vivencial Diversiones.

5. São o renascimento do teatro popular e da Commedia dell´Arte aqui.

6. A diferença é que conseguiram realizar o sonho que todas vivecas tinham.

7. O modelo dessa peça porém não me agrada em nada. Está descosturado.

8. Parece feita nas coxas. Tá muito em cima de A praça é nossa.

9. Sei bem que comigo havia outras 599 pessoas. E se divertiam.E isso é muito
bom.

10. Mas por favor, Jason, vocês são bem maiores do que isso. São profissionais.

11. Continuem fazendo crescer o público que conquistaram sozinhos a duras


penas.

12. Vocês são o nosso sonho. Vocês são a experimentação e o público


participando.

13. Não nos abandonem por um esquema apenas comercial, pleeeeeease, ô mulé
dá uma pena!!!

14. EM TEMPO: Vou tentar entrevistar Jason…Eu também quero o público dele
hehehe..
15. Folhetos. Cia de Dança16. Acho que não dá para se atrasar 30 minutos.

17. Querem que o público desligue celulares, mas se lixam para nosso tempo e
horário.

18. Foi prometido, por anúncio viva-voce, que “se aliaria o teatro à dança.”

19. Não tenho a menor idéia do que se quer informar com isso.

20. Uma vez que essa unidade vai do balé clássico ao show de rock, passando
pelos musicais todos..

21. Lago dos Cisnes, Copélia, Pink Floyd têm um grand-jeté pousando suave na
arte cênica. Ou não?!
22. Estou horrorizado com a comissão julgadora desse janeiro de espetáculos.
Aliás, com todas.

23. “ Reuniu-se uma comissão para se julgar os Volscos.

24. Outra comissão para julgar a comissão “ etc…Eliot, mais uma vez, em
Coriolano.

25. Ou nunca o lemos ou nunca aprendemos nada. Folhetos como o melhor


espetáculo?!

26. Folhetos é um desencontro na interminável trilha rural do armorialismo.

27. Já que também é teatro, posso dizer também que prefiro Ô mulé dá uma
pena 2…

28. A menina que dança Maria Bethânia, com h, é mais comovente.

29. A maioria das meninas que dançam aquela boneca de pano, dança melhor.

30. O povo ao vivo não é melhor que qualquer teoria ou grupo filosofando sobre
o povo?

31. É o que posso dizer por hoje.

32. EM TEMPO: não me corrijam aí na Redação a concordância de maioria.

33. É um vocábulo, no meu entender,da mesma ordem lógica que porcentagens


etc.

34. Sei que virou moda até na Globo se dizer “80% erram.”

35. Só porque 80 inclui a idéia de muitos.

36. Mas você jamais verá Ariano, Arraes ou eu dizer: o povo são burros.

37. Pelo fato de o povo conter alguns milhões de pessoas.

38. E você sabe bem que Cáfilas e Récuas também não saem por aí se
pluralizando. Graças a deus.
39.
40. Nesse sábado vou assistir Os Pesadelos de Martha Stewart. Antes
que vá para o Rio.41. Dá-se numa piscina seca em Olinda.
No Alto da Sé, lotação de 25 pessoas, Sábado, 20h.

42. Reserve sua entrada, senão não cabe, pelo 99651628

43. “… O espectador tira as conclusões que quiser, se quiser.


44. Para mim, é a libertação do meu ator.

45. O diretor saiu de cena, o cenário não existe.

46. O ator volta a ser o dono da brincadeira e não esconde sua mágica”.

47. Não perco por nada.

NB : tá com 50 linhas, mas tem espaço pra cacêta.

O QU8E ESTÁ EM VERMELHO PODE IR PARA O CORTE.

PÔ, MAS QUE PENINHA!!!

Dá bem menos que 50 linhas, ligando tudo.

Separei só para contar as linhas , ok???

Beijos no paginador também, pelo mico que paga comigo.

Eu, Mickey_mauss

EM TEMPO:

PORQUE NÃO ME DÃO UMACOLUNA duas vezes por semana????

Uma pesada, 5o linhas no blá blá e na filosofia. A outra bem levinha. Só com curtas.
Do tipo que está aí em cima ( que ainda dá para enxugar, claro, pois curta é mais
fácil de cortar. Pelo menos para mim.)

È isso aí…eu tenho matéria para tanto e nem me canso uhuhuhuhu!!!

Vou te mandar mais uns pedaços de coluna

só para voce ver que toyu com a cabeça a mil.

Pergunta aí para os editores chefe

Kssssssssss

Maussssssssssss

1 SOBRE DRAMATURGIA CONTEMPORÂNEA2 ( devidamente


traduzido para o português, claro!)

4 Eu disse que a dramaturgia anda ruim.


5 Vou lhe oferecer hoje alguns exemplares para você se horripilar.

6 Porque michelotto mata a cobra e mostra o paulo- diz o Hilton Azevedo.

7 Vamos revisar o site The Dramatic Exchange. www.dramaticexchange.com

8 De onde tirei, por sinal, o Hallberg e seu Balcony, meu Giullietta in stress.

9 Vejamos algumas sinopses.

10 This is a play I decided to write after watching “Sex in the City,” for the first
time.

11 I felt that it was bringing out the wrong message in relationships. (20
Questions by J. L. McBride) O negócio é a right message!

12 A Wildwood Reunion by Jonathan Calindas…. ” is a play about how


someone’s years

13 in college changes someone.” Que coisa mais interessante foin nossa vida
no colégio Marista, né não!.

14 Central Park Freak Show by Wilson White F. Fran Tinker was a rising
executive when her legs were amputated after an accident two years earlier. Badly
shocked, I´m shocked too! CHAMAR UM CREEPLE DE FREAK, DJÎSAS!!!

15 Dancing at the Revolution by Michael Bettencourt, is based on the two years


Emma Goldman spent in the federal prison at Jefferson City, MO, after her
conviction, along with her life-long companion Alexander Berkman, for conspiracy
to advise people to resist the draft during the First World War (then known as the
Great War).Numa Jaula?

16 Eleanor by Mark Brownell A comic monologue about a Catholic school


girl..VIXE!!!

17 Hannah Elias by Nathan Ross Freeman…Turn-of-the-Century urban life


(1865-1906): a period of tremendous civil, humanitarian, political and revolutionary
activity etc etc Baseado no livro Sexo e Raça, do mesmo.

18 I Dream of Edna in a Light Green Dress by Bradley Hayward . Playlet, sex


farce.The key element in the set is the intercom. Without the intercom, the entire
realism is lost. A farce must be a believable exaggeration of events so the intercom
is a crucial set piece.

19 JULIET AND ROMEO A play in one act by Wayne Anthoney. “Romeo


and Juliet” is intended for secondary school students who have already studied the
original. PUF !!!
20 Look at Sandra Jane There by John Blais S Sandra Jane lies as if asleep
with heavenly dreams. In this undeveloped park, the three boys admire her state as
they wait to buy

21 the drug and join her. Tudo drogado, blz!

22 Party on Avenue “B” details the last evening in the lives of three of the six
characters involved in the play

23 The Clowns’ Macbeth by Wayne Anthoney It is a gross travesty of the real


“Macbeth” but I am quite certain that Shakespeare would have enjoyed it. Quite
certain, UÁU.

24 Tuba by Tommi Virhia . Synopsis: This elderly woman drinks liquour while
walking downtown to go into a jam session of the Town Jazz Festival.Never been in
jazz concerts before and dislikes music. On the way she helps a russian man,
….DJISAS !!!

25 Fique em casa!

26 Agora imagina o que não é a dramaturgia de língua latino americana recente.

27 Fica para a próxima. O site é o do CELIT, www.celit.com

TUDO NO TIMING & BUGIARIA

paulo_michelotto@uol.com.br

Sei porque antigos como eu e mais dois ou 3 velhotes de Recife vivem dizendo que
o texto, O TEXTO, é uma coisa boa que ainda vai ser retomada e ser revista e voltar
à cena com toda förça depois de sua derrocada fantástica com a modernidade. Claro
que estamos falando daquele texto que pode virar declamação, e não do texto
semiótico, senão nem teatro haveria, mas escuridão e mudez.

Tudo no Timing e sobretudo Bugiaria estão aí para ir contra tudo isso e continuar
impávidos e velozes rumo ao futuro que Marinetti nos prometeu. Marinetti?!. Sei
que meu público é o dos sentados no trono da sala e pensa, no nordeste, que
Marinetti é um önibus ou um pau de arara, mas um pouco de cultura culta maiúscula
não lhe fará mal. O Marinetti que cito não é o do Manifesto futurista apenas mas
sobretudo o de Gog e Magog- que aprendi a ler com meu velho pai.Acho que
ninguém mais o edita. Enfim, quem leu já viu Tudo no Timing e Bugiaria.

Isso não diminui em nada os dois.. Pelo contrário. Eu adoro Gog e Magog e amei os
dois espetáculos. Citei apenas para dar uma das linhas de continuidade histórica ao
que andamos fazendo.

Timing ( o nome completo está aí em cima) é todo zombaria com muito humor e
precisão. Os textos são muito muito muito bem escritos, do “Philipão” Glass que
quer comprar pão e sonho ao de Trotski zanzando pelo palco com uma picareta na
cabeça- tudo muito bom. Ëpa, contei uma gag! Mas isso é o de menos, pois o
importante aqui não é o que se fala,o tema, o assunto, a proposta, a ideologia, o
sentido profundamente literário e filosófico dos textos, mas como se os fala. Gerald
Thomas dixit. E é essa a corrente que se opös a todo teatrão de textão com
textinhos, ou usando o termo de Samuel Beckett, dramatículos. Ou Textículos.

Não precisa ser chegado a umas coisas dessas para ir ver Bugiaria ou Tudo no
Timing, mas simplesmente estar afinado com nosso tempo, com nosso timing, nossa
correria, nossa falta de sentido da vida graças a deus.

Ambos são mezzo musicais. Ambos zombam desbragadamente de tudo isso e de


todos nós.

Bem, em só um momento que Tudo no Timing escorrega e cai no discurso político,


pudera, o Abujamra está por trás de tudo isso.Mas eu assino em baixo da cena de
passagem do Apagão. Porque se há uma coisa sem-vergonha e safada e desonesta no
Brasil, não é a comédia, nem o melodrama , nem o rebolado, nem Geni.É Brasília e
esse Real Govërno de irreais merrecas.

Fé & faca amolada

Paulo Michelotto

1. Ontem, quinta-feira, no Teatro do Parque, tivemos a abertura quase solene do


IV Festival de Teatro Nacional do Recife.
2. Alguma coisa me fez lembra uma frase célebre “…na arte a gente (…) tem que
ter fé e faca amolada prá ir cortando também.” ( Antönio Cadengue,entrevista a
O Folhetim #11, já nas bancas. Plim-Plim!.)
3. Sei bem que já passaram os tempos áureos.
4. Neles, critica vinha do grego kritein– que significa cortar.
5. Se tivessse havido uma melhor crítica teatral certamente o teatro teria sido
melhor. É uma questão de fé, entendem? E de saudade de Isaac Gondim.
6. Voltando aos Gregos, não custa pensar que ainda hoje possamos reviver a
Grande Grécia em que uma economia esclavagista não impediu espíritos lúcidos
de criarem um grande teatro, aliás, O grande Teatro Ocidental – futuramente
citado como OTC.
7. Então, passemos a faca.
8. Mas , primeiro, meditemos sobre a fé.
9. Primeiro a fé das Otoridades Presentes que subiram ao palco…
10. Companheiros, finalmente o PT está demonstrando que esquerda se dá bem
com arte e que não nos persegue como cães vadios- como muita gente de bem já
afirmou.
11. Parabéns para o João Paulo, o primeiro prefeito dos Tempos Modernos que
comparece a um evento nosso sem haver vaias clamorosas..
12. Agora passemos a faca.
13. Só que não precisava subir em palco. É coisa provinciana, Coisa de político de
Brasiliawitch.
14. Como é coisa de planaltos a presença de um sujeito muito escalafuboso que
ficava no palco nos lembrando dos tempos da ditadura .
15. Saiu botando para correr um pobre fotógrafo. Um horror.
16. Aquele Manifesto também , perdoem-me, não devia ter sido lido..
17. Nossa tragédia não é a de sermos assassinados e haver impunidade.
18. Esse papo acaba no de segurança e daí para o de segurança nacional é só questão
de uma divisa a mais na farda.
19. Nossa tragédia é que nada aprendemos com Sófocles e seu Édipo: a continuar
procurando, mesmo após achar as causas.
20. Acho que só, no ramo Otoridade..
21. No ramo Programa, pouco se informa.
22. Parece que o público- O PÜBLICO ! – não quer saber de nomes de autores,
tradutores, diretores, cenógrafos, iluminadores, atores e outros etceteras, não é
mesmo?
23. .Afinal , quem são eles diante do grande OTC?
24. Ainda no item Programa, também não gostei daquele vermelho-beterraba ,
daqueles brocados e poses renascentistas do leiauti .E daquela única
Companhia de nossas Índias Ocidentais .
25. Sei não…
26. E finalmente, posso fazer uma pergunta? Há concorrência pública para se editar
cartazes etc e tal ?
27. Sei não.
28. Ah , sim a peça?
29. Não gostei.
30. O que não significa que vocë não deva ir e que não haja muita outra coisa por aí.

Prof . Artes Cënicas UFPe

Jornalista profissional (registro no MRT-JP)

Crítico de Teatro

Ivana, amor

Me dë retorno , ok?

O segundo é manso e só sobre a peça

Coloco aqui o início para teres uma idéia também:

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara.
4. Um monte de cacoetes não faz uma dramaturgia.
5. Porque não se lë mais Anouilh?
6. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
7. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
8. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
9. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
10. O figurino…… etc etc
SOU CHEGADO A UM MELODRAMA
”…No Recife há um resquício do rádioteatro, daí que por vëzes a cenas está antenada
coma a contemporaneidade, mas a prosódia está presa a um outro tempo, a um outro
lugar. “ ( Cadengue,entrevista a O Folhetim #11, p.118.)

O IV Festival de Teatro Nacional do Recife foi aberto nesta quinta-feira, com a peça O
MELODRAMA, texto produzido no processo de criação da Companhia _______

do Rio de Janeiro. Não sei se seria o melhor espetáculo para abrir o Festival, mas
certamente é um espetáculo que vale a pena ser anotado na sua agenda.

Muitos acertos e alguns equívocos.

O equívoco maior fica certamente por conta da idéia de que uma companhia criar seus
próprios textos é seu melhor caminho. Claro, essa não é uma idéia que eles
inventaram, tantas que são as pequenas companhias que andam por aí no mesmo rumo.

Penso que há um certo tipo de teatro que deveria respeitar um pouco mais o seu próprio
teatro. Uma companhia cujo avanço e inventividade se dá dentro do espaço de um palco
italiano necessita se ater às convenções desse próprio palco. E essa que vimos atuando
em Melodrama não é nenhuma companhia de teatro de rua, ou de performances, ou
de …

Para os menos afeitos à essa linguagem estranha que será falada durante esses 11
dias no Recife, vamos aprender algumas coisa sobre esse famoso macarrönico palco.
Pois ele é o palco mais tradicional do Ocidente, que nos vem da Renascença, nascido
em Vicenza, consistindo em um espaço fechado como um quarto, com uma das paredes
substituída por uma cortina. Essa parede aberta, a quarta, vai virar inclusive ponto de
ataque de um dos pais do teatro moderno, Brecht, em sua proposta por um teatro não
ilusionista, um teatro que pudesse servir à consciëncia e a reflexão do público.

Originalmente foi feito em um canto abandonado de um Palazzo, daí também a


identificação desse palco com a burguesia. Se você quiser dizer “teatro de burgueses
para burgueses”, simplifique tudo isso chamando-o de “palco italiano”.

É onde boa parte de nosso IV Festival irá se aninhar.

Creio que finalmente poderemos falar um pouco desse pessoal de base, carregador de
pedras da construção toda, chamados Dramaturgos e de seus pequeninos mas árduos
deveres..

O ofício de dramaturgo é tão elevado quanto o de qualquer outro de nossos ofícios de


cena. Se achamos que qualquer um pode sair escrevendo, por que não admitirmos que
qualquer um pode subir em palco e dizer o que bem entender- substituindo-se assim
definitivamente todos esses escombros de nosso velho teatrão, tais como diretor, ator,
cenógrafo, iluminador etc etc ??
O primeiro dever dele é escrever algo para ser visto. Aonde a dramaturgia se distingue
profundamente de toda outra modalidade de literatura – de tal ordem que julgamos que
nem literatura mais isso é. Mas isso é mera opinião nossa.

Está começando a vislumbrar porque o texto dramatúrgico, ou a peça, apesar de tão mal
falado em nossa modernidade, tem uma importância vital?

Pois é o primeiro roteiro do olhar do espectador sobre esse objeto chamado cena.

O centro do texto portanto não é se é falado, nem como é falado, nem se é cantado, nem
se é emudecido ( ou mímica).

Seu centro é um olhar.

E nisso há algo de extremamente positivo em O MELODRAMA.

Pois pretende ser um certo olhar sobre o comportamento amoroso.

Que no homem, diferente dos outros animais, é elevadamente ridículo.

Daí talvez o enorme sucesso desse sub-gënero que dá nome à peça. Há quem
identifique o melodrama com o nascimento da modernidade também. Mas, para não
irmos demasiadamente antes disso, basta-nos dar uma olhada nas peças do
francës Marivaux, para vermos que ele é bem mais tinhoso e resistente. O avö do
gënero pode bem ser uma “marivaudage”, nomezinho cunhado para designar peças
espertas em que rola esse amor em todo seu exagero.

Seu fundo talvez seja a própria natureza humana.

Então porque disseste que a peça Melodrama, de abertura do festival, era de ruim
dramaturgia no artigo do Diário Impresso em Papel?

Por que o problema de fundo lá é apenas de formalização do espetáculo como um todo.


O que quer dizer apenas isso: posta essa característica de um determinado tipo de
comportamento amoroso, o resto é enfeite.

Podendo em nome da simplicidade ser jogado no lixo.

Vejamos o exemplo da gag, ou truque, do marido ter um irmão gëmeo e finalmente


essse não ser outra pessoa mas o mesmo e torturado personagem. Ou o truque , já muito
conhecido nos meus anos de infäncia – e lá se vão punhados e punhados de anos nisso-
do casamento entre parentes que resulta em uma cascata de situações em que finalmente
a mãe descobre que pariu o próprio sobrinho.

Até aí tudo bem. Afinal, um monumento de nossa tragédia, Édipo de Söfocles, foi
responsável pelo nascimento dessa piada infame, que não acaba nunca de se reproduzir
sobre nossos palcos.

O que não é lá muito bem é ficar se repetindo essas gags no espaço de uma hora e tanto.
Não , não estou falando do fato da gag aparecer uma vez no faoreste, outra em novela
mexicana e assim por diante até completarmos um ciclo quase de exaustiva pesquisa
antropológica. Não. Esse problema ai é apenas de ërro de alvo.Não estamos em sala de
aula e teatro para fazer estudos aprofundados da cultura ou dar mostras de descobertas
antropológicas – como diz bem a A.Cadengue. pode ser bom para se formar o ator
barbiano, mas talvez para nada mais.

A repetição é mesmo a da piada que é contada duas vëzes do mesmo modo. Cansa.

Se você ler Antígone de Anouilh verá que não se precisa fazer referéncia a nada dessa
piada de cruzamentos consanguíneos para se fazer uma platéia chorar ou rir.

E olha que ela é filha do filho que se casou com a mãe, portanto o filho dela com
Hemon seria neto e bisneto ao mesmo tempo de Jocasta, sua avó….

Uma peça não é feita com uma boa coleção de piadas.

Ou uma boa coleção de emoções fortes. Ou ridículas.

A repetição em MELODRAMA também é feita pela quantidade de músicas cantadas.


Parece que entram para resolver outros problemas de texto como passagens de cena etc.
Coisa aliás extremamente bem resolvida por uma direção que navega num texto dessa
ordem caótica.

Talvez esse seja um dos pontos em que me parece complicada as escolhas de texto de
Melodrama. Porque esse amor melodramático não tem como referéncia alguma a
pluralidade de amores, mas muito pelo contrário, a obsessiva fixação em um ou dois
valores apenas do comportamento amoroso.

O eixo dessa fixação é a sexualidade.

E essa não chegou a subir em palco.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção, pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da crítica e da dramaturgia que de qualquer outra coisa.
Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de
interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem no Brasil por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia, a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora
Esses merecem o Molière.

Mas vocës bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.

Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros frutos
reais, investe em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construção. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois creio que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples, difícil e muito antigo, da narrativa.

É uma história que se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das
histórias narradas com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse
achado que é o de trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar em
que tais tradições narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta
lembrarmos o katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória
não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: “aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar mais, de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!”

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


um presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos passá-lo numa
narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá além
disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza em


Como vivem os mortos, nos acompanhará para sempre.

Como vivem os mortos?


Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe
paulo_michelotto@uol.com.br

A Cia Teatro di Stravaganza nos brindou com 3 textos próprios.

O que merece a maior atenção pois parece-me que a crise do teatro nacional se dá
mais do lado da dramaturgia que de qualquer outra coisa.

Nesse IV Festival tenho visto a maioria de atores com excelente técnica de


interpretação, direções preciosas, design de som da melhor qualidade, figurinos ….

Enfim, por mim está tudo indo bem por esse lado da cena.

Pelo lado da dramaturgia a coisa fica diferente.

Sei bem que deram um prëmio ao texto A maldição do Vale-Negro, mas creio que
aquilo é da pior dramaturgia que se possa fazer, não me importa se o Prëmio foi o
Molière. Quer botar narrador? Vá aprender com Dario Fó. Quer fazer besteirol
& com narrador? Vá aprender com o Henrique Tavares da Bárbara não lhe adora

Esses merecem o Molière.

Mas voces bem sabem das panelas que envolvem esse negócio de premiação do
melhor em teatro e em qualquer coisa no Brasil … E em teatro não há melhores e
piores: há apenas os que são textos de teatro e os que não são. E pronto. O citado
não é. Nós o vimos.
Sei que a Sala prejudicou muito o trabalho do Grupo Folias d’Arte. Aliás, aquela droga
nunca foi sala de teatro, Aquilo é uma Sala da Igreja Universal do Reino de Deus. Deve
ser fechada ou adaptada a teatro. Pois o Bispo Macëdo, depois que amealha os primeiros
frutos reais, invete em suas Igrejas. O que não aconteceu ali no Espaçarte.

Mas deixemos as coisas vís do teatro e voltemos às suas stravaganzas.

Como vivem os mortos é uma pequena obra que leva a característica do grupo:
cuidado.

É cuidadosa e delicada. Parece-me uma obra em construçào. Penso que irá caminhar
cada vez mais para a mímica, mas tenho certeza de que não lhe faltarão palavras e
muitas. Pois penso que Luiz Henrique Palese ama essa palavra. Tanto que trabalha com
aquele esquema simples e difícil- pois muito antigo – da narrativa. É uma história que
se conta. E sabemos quanto o teatro teve que sofrer para se livrar das histórias narradas
com vozes em cena, para poder finalmente modernizar-se… Daí esse achado que é o de
trabalhar uma história que se passa …na Índia! De algum lugar aonde essas tradições
narrativas tiveram evolução diferente das de nosso ocidente. Basta lembrarmos o
katakali ou o teatro de Bali, que tanto impressionou Artaud- se a memória não me falha.

Creio que é nessa linhagem que Palese trabalha e que me parece das mais nobres.

Na saída ouvi um senhor comentar: aquela máscara, ah aquela máscara! eu vim


para ver o ator usar, para eu me emocionar todo, eu queria chorar, mais de tão
bela que era. E ele usou tão pouco!

Esse menino, Palese, dessa Companhia menina de teatro, a Stravaganza, nos dá


uma presente de delicadeza- que pervade todo o espetáculo, ao nos ser passado
numa narrativa tranqüila de pequenos gestos sóbrios e de infinita leveza. E nos dá
além disso uma enorme lição que está faltando a alguns de nossos diretores
mirabolantes: ele restringiu o uso da máscara a pouquíssimos minutos.

Não ficou ali quase que dizendo ”fiz um achado do cacëta, agora vou explorá-lo até
não poder mais!”. Coisa que encontrei de certa maneira em Melodrama. Palese foi
lá, botou a maravilhosa máscara feminina, manteve o personagem com sua própria
voz sem trejeitos, e rapidamente a tirou, devolvendo-a a sua condição de boneco e
ensinando-nos que uma beleza não se mede pelo tempo que dura no texto ou EM
cena, mas pelo tempo que dura de cena.

E o tempo da cena é aquele que levamos para casa e levamos para nossa vida.

Essa magia de Palese e economia de seu gesto ao produzir a emoção e a beleza nos
acompanhará para sempre.

Bárbara não lhe adora.

Janeiro Produções.

Micro- crítica
Peguei num canto esse papo em linguagem coloquial:

Lëda disse:” é uma peça pintosa!”


Fátima Saad disse: “ mas não, é uma sátira!”

Lëda, ela é de teatro, mas claro deve ser pura inveja.

A Bárbara é uma gracinha, a companhia é inteligente e os atores e atrizes muito bons.


Jennifer foi a menos melhor.

Entendo hoje porque Bárbara, a original gostou. A peça lhe dá razão e nós críticos
ficamos de alma lavada.

Claro, a peça funciona melhor no circuito Rio & S.Paulo, uma vez que aqui nosso
povão não sabe bem que diretores fazem aquele trejeitos todos e aquela quase macumba
da corrente energética, e nem que atöres gastam tanto suor para achar “O”
personagem.

Lëda disse mais, o figurino é pintoso.

Mas se se trata de uma peça satirizando o teatro, o quë mais se pode esperar senão
pintas?

Eu disse uma certa vez que mil cacoetes não fazem uma peça. Pois Bárbara está ai para
provar minha tese de que uma pequena piada dá uma peça divertida e bem feita, coisa
para a gente rir, pois teatro é também para isso se não for apenas para isso.

Sei não.

Leda disse: aquela fumacinha é pintosa!.

Deus. Lëda, que fumacinha você queria em cena aberta?

Bem, podem ver que minha noite com Lëda terminou mal

E Lëda nem loura era.

Culpa da Bárbara, essa gracinha!..

( A que ficamos reduzidos, nós críticos, depois de Bárbara não lhe agrada!).

Se vocë odeia algum crítico particular, vá ver as peça e saia rindo que nem besta.

Nada a ver com a fumacinha de Lëda.


Encontros depois da chuva
Cia Teatro di Stravaganza (RS)

Paulo Michelotto

Teoria da Arte-UFPe

paulo_michelotto@uol.com.br

Acho que essa mostra indica que nosso teatro tem vitalidade, está indo muito bem
graças a deus. A Cia Teatro di Stravaganza é uma boa prova disso.

Encontros depois da chuva é um belo roteiro. Enxuto, preciso. Eu apenas


cortaria o texto aonde se fala das horas que restam para se ser feliz. Mas gostaria
de rever o espetáculo pois acho difícil que a Stravaganza tenha cometido alguma
imprecisão.

O melhor do roteiro é o contraste entre o onde não se fala e aonde se fala.

Nisso ele me lembra Ato sem Palavras de S. Beckett, em que um simples apito se
opöe a todos gestos. Aliás, o meu velho mestre merecia uma homenagem. Nunca vi
tanta coisa que se deve a ele nesse Festival. Viram os vermes dos sacos de dormir
de Textes Pour Rien na abertura da Infecção Sentimental Contra-Ataca do
XPTO? Encontros depois da Chuva, por exemplo, também é um roteiro becktiano.
Moderno.Viram algum dia May Be? Viram a viagem do nada para o nada, de
Mercier e Camier? Quem não ouviu a musicalidade em Beckett não viu nada. A
Stravaganza certamente viu. As malas-quase-circo são de Samuel, o tempo preciso
de cada movimento de ator são de Samuel, a repetição da capo al fine em novo
ritmo é Samuel (leia-se, Quoi Où etc), a viagem para o lugar aonde ainda se ouvem
pássaros é Samuel ( leia –se a lua e a casa da amada de Mercier e Camier).

Breve, essa junção perfeita entre palavra & música & ritmo & dança é de Samuel.

Beckett escreveu mais para os tempos em que havia a Palavra. Ele a desmonta.
Depois remonta com novo valor. É talvez o grande e último escritor que a trabalha
com precisão de relojoeiro suiço. Mas nós sabemos que qualquer reloginho de merreca
japonës vindo do paraguay e vendido a 3 reais na pracinha do Diário é mais preciso que
todos os antigos. Coisas da Evolução.Coisas dos Tempos.

Coisas das Chuvas.

E coisas de nossa busca infinda de pássaros e estradas.

Já não há mais que se escolher entre pássaros e estradas. Entre palavras e gestos,
entre texto e dança. Eles nascem à beira dessa estrada, nascem da selva de asfalto
– indica o roteiro belo de Adriane Mottola.

Belo, pois, depois de Samuel, pela primeira vez, pode-se falar alguma coisa.
Então para quë vou eu falar de figurino, interpretação, cenografia, programação
visual, se- quando se está diante de um texto inteligente- tudo isso nasce
suavemente ou aos borbotões como na Cia di Stravaganza?

Luiz Henrique Palese vai mostrar, em solo – em Como vivem os Mortos – que a
Companhia é de absoluta afinação.

E podem contar, Bebë Bum me verá na primeira fila, no gargalo, com meu neto
Lucas.

Não é que viramos macacos de auditório desses meninos di Stravaganza?!…

Dizem que fãs não escrevem boas críticas. Ficam sem distanciamento crítico
brechtiano…

Então vou me calando por aqui.

Por que o que eu quero é mais. Muito mais. Desses palcos azuis de infinitas
cortinas.

A Infecção Sentimental Contra –Ataca

Grupo XPTO

Paulo Michelotto

Permitam-me babar um pouco.

Pois é necessário o corte como necessário é, e talvez mais, o louvor ao que bem
merece.

E creio que – dos que vi até aqui – esse era o grande espetáculo para abrir o
Festival.

Alguém aí tem algum problema com Teatro Infantil?

O Grupo XPTO nos dá uma Aula Magna – ah isso é que deveria ser chamado de Aula
Magna!- de Teatro.

Então que abra o próximo Festival.

Pois todos nós somos um montão de crianças, bem lá no fundo dessa história toda
de fazer teatro. Não sei o que mais dizer. Para quë? O que mais dizer? Nosso
ofício, no jornal, é apenas de retecer o texto cënico para leitores impacientes, para
pessoas que não gostam de teatro, para o cara sentado no trono dos apartamentos
com a boca escancarada cheia de dentes. E quem sabe talvez- se o bom senso e a
humildade nos permitir – nosso ofício seja também o de participar um pouco
como amplificação de voz nessas vozes que se abrem em palco e clamam que o
mundo é uma grande invenção continuada, uma magia sem fim.
O XPTO é esse sétimo dia em que deus não descansou e saiu por aí reinventando
sua obra.. Só posso adorar.

Um admirável uso de materiais na cenografia, vou só citar o banco com


roda, aquela maravilha do Duchamps tornando-se, finalmente, objeto de arte
viva. Pois é isso: a arte não foi feita para ir parar em Museu e ser objeto de Oh!…
AH!… OH!… Sonoplastia belíssima! Posso lembrar a ária Libiamo de La
Traviatta em ritmo acelerado? E a guitarra e taclado em cena. Mantenham aí na
frente na próxima vez. Não levem para as torres do fundo, tá, Laura e Roberto?.
Toda criança adora ver os músicos bem de perto. Eu, pelo menos.

Quer saber mais? Vá assistir.

Demorei a entender porque meu neto Lucas adorara mais que tudo a pequena
cena- que mais parecia uma pequena passagem entre cenas – em que robôs
trombam uns com os outros, perdem pedaços,que finalmente acabam se
transformando em uma guitarra, um coelhinho, um peixe, uma vara que
finalmente se rompe ao tentar pescar o peixe. Foi a melhor metáfora que vi do
próprio XPTO.

A de crianças que recriam o Universo.

Beijos para cada uma delas, pois me comovem.

Quando ver escrito o nome desse Grupo, nem pense, vá correndo e leve seu filho.

O mundo será bem, melhor depois disso.

Encontros depois da chuva.

Companhia de Teatro di Stravaganza

Leda falou que esses meninos são todos gobas.

Puta merda leda, você está virando sapatão..

Toda nudez não será castigada

paulo_michelotto@uol.com.br

É um fenömeno como Nelson e uma boa propaganda tëm vitalidade. A fila ia do


Armazém até o Pina! Nosso injusto público finalmente acordou e foi ao teatro.

Como entender Nelson? Há uma mania nacional de psicologizá-lo, logo o Nelson que
tinha horror disso. Não foi o caso, graças a deus, de Cibele Forjaz e companhia. A
opção foi pelo Nelson suburbano, com forte dosagem de melodrama, numa escolha de
interpretação de ator bem bem naturalista, algo assim para você sentir MESMO que
havia um puteiro, umas tias dentro de casa batendo bolo. Só faltou o quarto de boi em
cena etc…
Ora, quem andou vendo Antunes, viu certamente o último e definitivo Nelson. Na
mesma linha já tivemos aqui, recentemente, a Seraphin com Senhora dos
Afogados.Confesso que não apreciei tudo o que vi na encenação de Antönio Cadengue,
mas ela tem certamente o mérito de cair fora de alguns chavões. Ele é Antönio, mas
certamente não Antoine.O que é bom para Recife e para o mundo.

A Cia Livre de Cooperativa Paulista de Teatro nos apresenta um espetáculo de muitas


coisas boas. Não vou ficar repetindo ficha técnica porque quem anda lendo jornal nesses
dias é mais gente de teatro mesmo. É pelo menos o que tenho visto freqüentar o
Festival.A rígida divisão dos espaços cenográficos num esquema quase aristotélico
merece toda atenção, além de ser uma homenagem às antigas regras de esquerda alta
esquerda baixa e etc… A luz segue o mesmo esquema de rigidez, desenhando áreas
muito claras na zona do quarto de Geni para destaque de seu corpo, vermelho forte
riscando os encontros de Patrício e Herculano- eixo de toda a trama. O resto não
convence muito. O que salva bastante é que os atöres são tecnicamente muito bons.
Além da escolha duvidosa da interpretação de ator- o que não lhes cabe, portanto não
lhes podemos imputar ( oh desculpem-me!)- há ainda duas pequenas coisas.

A primeira é, sem dúvida, o nome da Companhia que ocupa quase ¼ do espaço que
temos para escrever. A segunda é que foi a encenação mais casta que já ví de Nelson.
Serginho por exemplo não pode sair daquela banheira de Marat …vestindo cuecas que
parecem fraldas! Nú ficava mais correto.Também vi pouco os seios tão perfeitos e tão
insistentemente cantados por Nelson. Neles é que o câncer de Nelson pode se instalar.

Então…

Balanço

paulo_michelotto@uol.com.br

Depois de ir ver Zôo, de Albee, levantei-me hoje e me senti um inseto.Não pela pesada
interpretação de João Lima.Vou tentar me explicar. Se é que insetos o
conseguem.Cheguei correndo ao Hermilo – uma vez que estava no Sesc e quase não dá
tempo para se sair de um espetáculo e se entrar em outro- esse Festival é uma correria
que parece Fazenda Nova… Claro que tenho crachá de imprensa, mas estava
acompanhado e fui humildemente comprar o ingresso. Venderam uns 3 e fecharam.
Lotado. Bem eu não ia deixar quem me acompanhava esperando do lado de fora durante
uma hora e meia.Mas aí, ó surpresa, aparece alguém e informa sobre um problema no ar
condicionado e pede desculpas pois não haveria espetáculo, que se refizesse a fila para
devolução de ingressos e… Aí aparece o ator e grita que vai haver espetáculo, que esse
festival era uma mentira, que se precisar tirem a camisa para agüentar o calor – no que
lhe dei toda razão.E foi o que acabou acontecendo. Voltei humildemente à bilheteria, já
que agora eu poderia comprar ingresso dos desistentes e enfrentar o Zöo de Albee- sem
nem pedir redução no preço pela falta de ar. Só tinha a 10 reais! Apesar de ser da classe,
minha acompanhante só entraria por $10 reais. Já acho esse preço um assalto feito por
quem escreve, no Programa, que um dos objetivos é a democratização da cultura. Não
acredito que J.Paulo pense, como FHC, que o povo nada em bufunfa como nadam os
governos. Estamos vendo bom teatro, mas democratização não…
Deixem-me dizer mais. Querem democracia na cultura? Invistam na formação de
técnicos e no treinamento dos funcionários. Um plano de luz que se deixa pronto em 4
horas no Rio Grande do Sul, aqui se faz em dois dias. A Companhia chegou às oito da
manhã e o encarregado local algumas horas depois. Essa outra foi com
XPTO.Cansaram de avisar que teriam que voltar no domingo, já que tinham espetáculo
agendado. “Ah , dá tempo para se apresentar às 18:30 e pegar o avião!”.O espetáculo –
uma jóia de profissionalismo e rara beleza que já rodou meio mundo – acabou tendo
que ser adiantado e lá estava um imenso Teatro do Parque quase vazio. Porque podemos
chamar o público até de senhora gorda- como o impolido Nelson Rodrigues –mas não
podemos chamá-lo de adivinho. Jornais existem para essas coisas. “Mídia”, mídia é para
isso.Mas ninguém se lembrou que os jornalistas estávamos ali à mão, vigilantes como
cães de guarda da cultura. Bastava abrir a boca sobre mudanças de horário que
publicaríamos. Mas a única boca que se abriu foi a da sonolëncia. E o pobre do Xpto
ficou numa sala vazia, que envergonhava a todo o povo pernambucano. Posso
acrescentar que depois do espetáculo, ninguém, nem uma viv’alma, foi dar uma
mãozinha para desmontar o cenário, tendo a pobre companhia que lá ficar, carregando
todo o material, cansada após ter dado um espetáculo, retardando o merecido almoço e
descanso por mais uma hora. Eu estava lá com eles.

Mais?

Duas pobres gaúchas- gente de teatro que veio aqui nos mostrar a beleza de seu trabalho
– que queriam saber como sair do Apollo para ir correndo para o Sesc Sto Amaro.
Convidei-as a vir no horrendo önibus do Morro da Conceição conosco.Tiveram um
pouco de medo dos 4 trombadinhas dependurados na entrada. Nem sei se chegaram.
Mas amanhã se aparecerem nas folhas policiais, nem me falem de turistas desavisados.
Porque precisa ter uma equipe que acolha o pessoal de fora e locais onde possam ter
toda informação necessária, por exemplo de como sair do Sesc Sto Amaro às 23 horas
da noite e atravessar aquela praça escura de peito aberto. No próximo Festival, por
favor, programem espetáculos para que o pessoal da área de Sto Amaro e Casa
Amarela possa também ver teatro, sem ter que se deslocar à noite para o centro. Agora,
colocar ali, à noite, peças que só podem ser vistas ali, é um ato de crueldade.

Claro, não para com as autoridades, pois autoridade tem carro à disposição. Isso nada
tem a ver com PT ou política partidária. Pois o discurso de que “ tem que se ter
paciëncia, que isso aí leva um certo tempo e coisa e tal”, nós ouvimos por anos. E foi o
que quisemos mudar com nosso voto. Então vamos começar as mudanças. O Teatro
agradece.

FANDO E LIZ

paulo_michelotto@uol.com.br

Nesta quinta,15/11 e sexta-feira, teremos a chance de ver um Arrabal.

“Baixinho e feio, assustado com a infäncia e suas obsessöes”- dirá dele Allan Schifres.
A mãe não o deixou abraçar o pai, prëso como traidor na Guerra Civil espanhola. Dá
para se perdoar a crueldade do universo infantil em suas peças? Vários autores
opuseram o mundo adulto à lógica terrorista das crianças.Quão longe anda nosso teatro
infantil de tudo isso, não?Aqui em Arrabal, crianças matam crianças e
velhinhos, arrancam asas de mosca só pelo prazer. Nem pense em
recomendar espetáculos de Arrabal às escolas aonde seu filho estuda. Haveria
professorcídios após. E Arrabal é tudo, menos espetáculo infantil. Sua sexualidade é
animal, a crueldade, instintiva. Seu herói não oculta nada. E sabe como é perigoso entrar
nesse jogo de adultos.

De uma escritura muito próxima à de Samuel Beckett, ou H.Pinter, Arrabal escreve suas
peças…” Escrevo, portanto minhas peças como quem dirige um Cerimonial, com a
precisão de um jogador de xadrez ”

. E assim, coordena rituais de festa para escapar a seus maus sonhos. Para ele a
existência já é trágica o suficiente para que ainda se a leve a sério…

” …Então o que se passou foi que ela e ele se puseram a brincar de pensar mas, como
ele não podia tomar uma boa posição, ele pensava muito mal e quando ela lhe mostrava
em que posição devia se colocar para se poder pensar; ele apenas pöde pensar na morte”
( Fando e Lis).

Você já adivinhou que o Movimento que ele fundou com Topor, Sternberg e
Jodorowski tinha o nome de Pänico, não é mesmo? Garoto inteligente!

Se você não viu Oração , com Marcelo e Rita, nem O Arquiteto e o Imperador da
Assyria , na bela direção de C. Bartolomeu, vá lá e não perca esta oportunidade de ver
o monstro que escreveu ainda Cemitério de Automóveis,. – um cult dos anos 60/70. Se
vc não as conhece, procure o Banco de Dados do Dep. de Teoria da Arte da UFPe, que
lá você acha . De graça e& em tradução minha. Essa é a alma do negócio.

Antes que eu me esqueça: parabéns à curadoria. Um festival que tem Nelson, Albee,
Arrabal, A . Mottola, Palese, Marivaux , Moacir Chaves, e o texto visual de Oswald
Gabrielli, do XPTO entre outros, merece aplauso.

O meu pelo menos. .

PORQUE SOU CHEGADO A UM MELODRAMA

(mais uma vez a propósito de FACA AMOLADA/ dir. A . Cadengue/ Teatro do


Séraphin)

1. Agora passemos a faca em MELODRAMA.


2. O texto dramatúrgico não é tudo, sabemos, mas precisa ser drama.
3. Não é todomundo que escreve teatro bem logo de cara. Um monte de cacoetes
não faz uma dramaturgia.
4. Porque não se lë mais Anouilh?
5. Parte da tradução estará pronta no próximo mës, edição do Banco de Dados da
UFPe.. PLIM-PLIM
6. A direção. Precisa ter menos fé e mais kritein, faca amolada.
7. A beleza se faz na simplicidade. É um provérbio chinës.
8. A menos que sejamos rococós. A direção foi rococó,” pós –barroca”. Excessiva.
9. Interessante no século XIX. É um teatro mofado com dada de vencimento de há
muito expirada.
10. Precisa se dizer mais

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