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1 INTRODUÇÃO
Projeções indicam que, caso o padrão de expansão da Região Metropolitana de
São Paulo (RMSP) seja mantido conforme registros históricos, a mancha urbana
será aproximadamente 38% maior que a atual em 2030, aumentando os riscos
de enchentes, inundações e deslizamentos, atingindo cada vez mais a população
como um todo e, sobretudo, os mais pobres.
* Agradecimentos ao professor doutor Daniel Joseph Hogan (in memoriam), da Universidade Estadual de Campinas
(UNICAMP), e ao doutor Sinésio Alves Júnior (in memoriam), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
** Pesquisador sênior do Centro de Ciências do Sistema Terrestre (CCST)/INPE.
*** Pesquisadora da UNICAMP.
**** Professor doutor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FM/USP).
***** Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA).
****** Pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).
******* Pesquisadora do INPE.
******** Pesquisador do INPE.
********* Doutorando do INPE.
********** Bolsista do INPE.
*********** Doutoranda do INPE.
234 Mudança do Clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e regulatórios
2 METODOLOGIA
As mudanças climáticas provocam impactos cada vez mais acentuados em me-
gacidades como São Paulo, a maioria associada às variações climáticas causadas
pela forma de apropriação dos recursos naturais e pela degradação ambien-
tal causada principalmente pelo processo de expansão urbana. A comunidade
científica tem importante papel de gerar novos conhecimentos e criar a base
de informações científicas que auxiliará a identificação, o desenvolvimento e a
implementação de respostas efetivas para aprimorar a capacidade de adaptação
e a redução da vulnerabilidade.
Nesse sentido, em 2009, foram organizados, pelo CCST, do INPE, e pelo
Núcleo de Estudos de População (Nepo), da UNICAMP, dois painéis sobre o tema:
o primeiro no Rio de Janeiro, de 13 a 16 de julho, e o segundo em São Paulo, de 20
a 23 de julho. Estes foram realizados com a contribuição de especialistas nacionais
e internacionais preocupados com a evidência de problemas climáticos contem-
porâneos no meio urbano, incluindo pesquisadores dedicados à temática, gestores
e tomadores de decisão de órgãos municipais e estaduais, que têm como área de
atuação a gestão urbana e ambiental.
Um dos resultados dos painéis foi o relatório Vulnerabilidades das Megacidades
Brasileiras às Mudanças Climáticas: Região Metropolitana de São Paulo, cuja metodologia
produziu um conjunto de informações. No primeiro semestre de 2011, um segundo
relatório abordou os problemas da Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ).
Os cenários apresentados no estudo se referem a projeções da mancha urba-
na da RMSP para 2030 associados aos cenários regionais climáticos. Estes foram
processados pelo Grupo de Pesquisa em Mudanças Climáticas do CCST, como
parte do projeto Cenários Regionalizados de Clima da América do Sul.
Portanto, o estudo disponibiliza dados e análises que exemplificam os impactos
atuais e as projeções para 2030, por meio da aplicação de um modelo de expansão
Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas... 237
QUADRO 1
Sumário das projeções climáticas derivadas do modelo regional Eta-CPTEC 40 km
para a RMSP
Presente Presente
2030-2040 Conf. 2050-2060 Conf. 2080-2090 Conf.
observ. simulado
Temp. Alta Alta Alta
Noites quentes Alta Alta Alta
Noites frias Alta Alta Alta
Dias quentes Alta Alta Alta
Dias frios Média Alta Alta
Não
Ondas de calor Média Média Alta
observado
Chuva total Alta Alta Alta
Precip. intensa Média Média Alta
Precip. > 95th Média Média Alta
Dias precip. >
Média Média Alta
10mm
Dias precip. >
Média Média Média
20mm
Dias secos
Média Média Alta
consecutivos
Fonte: Centro de Ciência do Sistema Terrestre CCST/Inpe (2010).
Obs.: Temp. = temperatura do ar; Precip. = precipitação; Conf. = Confiabilidade.
4 A RMSP E O CLIMA
A RMSP possui uma população de quase 20 milhões de habitantes, entretanto
a distribuição no território de 8.051 km2 é bastante desigual. De fato, a maior
concentração está no município de São Paulo, que abriga quase 11 milhões (61%
do total), em uma área de 1.051 km2 (FUNDAÇÃO SEADE, 2009).
Além disso, os municípios de Guarulhos, Osasco, Santo André e São
Bernardo do Campo têm cada um mais de 500 mil habitantes. A região conta
com a presença de aproximadamente 40 mil indústrias e 5,7 milhões de veí-
culos particulares (21% do total nacional). Na RMSP, são realizadas mais de
30,5 milhões viagens por dia, constituídas por 12 milhões de transportes co-
letivos e 8,1 milhões de transportes individuais. Em ruas, praças e avenidas da
capital, circulam em torno de 3 milhões de veículos por dia (PMSP, 1999a).
As indústrias e os veículos são responsáveis pelo lançamento diário de 2.418
milhões de toneladas/ano de poluentes atmosféricos – incluindo gases e particu-
lados. Atualmente, os veículos são responsáveis por mais de 96% de monóxido de
carbono (CO), hidrocarboneto (HC) e óxido de nitrogênio (NOx) emitidos para
a atmosfera. No caso de dióxido de enxofre (SO2), as indústrias são responsáveis
pela emissão de 68% e os veículos por 32% das emissões (CETESB, 2010).
As partes mais densas da região metropolitana costumam ser as mais
quentes; a temperatura diminui à medida que a densidade urbana decresce.
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GRÁFICO 1
Eventos intensos de chuva – São Paulo, 1933-2009
140
120
100
80
60
40
20
0
Década Década Década Década Década Década Década Década
de 1930 de 1940 de 1950 de 1960 de 1970 de 1980 de 1990 de 2000
Fonte: Estação meteorológica do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP.
4.3.4 Alagamentos
Processos de alagamentos localizados ocorrem de forma generalizada em diversos
pontos da RMSP (figura 1), quando chove, principalmente por deficiências do
sistema de drenagem urbano. Os alagamentos são geralmente acumulações rasas
de lâminas de água que raramente penetram no interior das edificações e afetam
geralmente as vias públicas, causando transtornos momentâneos para a circulação
de pedestres e veículos.
246 Mudança do Clima no Brasil: aspectos econômicos, sociais e regulatórios
FIGURA 1
Zonas suscetíveis a enchentes e inundações na planície fluvial do Alto Tietê
Fonte: Pontos de alagamento fornecidos pelo Centro de Gerenciamento de Emergências (CGE), 2010.
FIGURA 2
Modelo Hand aplicado na RMSP
A região onde essas alterações se fazem sentir mais intensamente, com índi-
ce de ocupação urbana superior a 80%, corresponde ao trecho da bacia nos rios
Tietê e Pinheiros. O processo de urbanização, entretanto, já está desfigurando
também o restante da bacia, avançando pelos tributários e ocupando também
suas vertentes e cabeceiras.
Inundações e deslizamentos de terra devem atingir de forma generalizada
toda a população metropolitana, entretanto deve afetar com maior intensidade
e gravidade as pessoas ou famílias que vivem nos ambientes de maior risco, com
destaque para a população localizada em favelas, das quais pelo menos um terço é
anualmente atingida várias vezes pelos episódios de chuvas intensas.
FIGURA 3
Expansão da mancha urbana – 2001-2008
FIGURA 4
Expansão da mancha urbana da RMSP em 2030
Somente com uma população consciente desses riscos será possível o debate trans-
parente e participativo sobre as alternativas para mitigá-los.
É fundamental construir o espaço de negociação capaz de envolver os se-
tores públicos e privados, como também o terceiro setor, na construção de uma
política metropolitana de enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas,
que se manifeste em programas de curto, médio e longo prazos e que se concretize
em projetos alternativos de uso e ocupação do território.
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A RMSP se defronta com um enorme desafio, sendo que as consequências do
desequilíbrio ambiental com o qual nos deparamos podem ser trágicas. Isto se
Vulnerabilidades das Megacidades Brasileiras às Mudanças Climáticas... 257
REFERÊNCIAS
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ibge.gov.br/primeiros_dados_divulgados/>.
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São Paulo: Hucitec, 1985.
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