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Bolo IG, Instituto de Geociências, USP, V.

14:21-30, 1983

ESTUDO MINERALÓGICO E TEXTURAL DOS MINERAIS DE MANGANES


DO DEPÓSITO DE BANDARRA, JACARACI, BAHIA.

por

RÔMULO MACHADO
Departamento de Geologia Geral

e
EVARISTO RIBEIRO FILHO
Departamento de Geologia Econômica e Geofísica Aplicada

ABSTRAT

This paper discusses the mineralogy and the mineralogicaland textural changes of the Bandarra
manganese deposit which is located in the southem part of the State of Bahia. This deposit comprises
lenses of manganiferous rocks deposited within the iron formation and associated with the Licínio
de Almeida metamorphic complexo The iron formation, with discontinuous manganiferous lenses,
belongs to a Precambrian sequence with mica-schists and amphibolites in its basal portion and mica-
-schists and quartzites at its topo
The metamorphism of Bandarra is thought to be of almandine-amphibolite facies.
The assemblage of metamorphic minerals in the protore (primary minerals) inc1udes quartz,
spessartite, tephroite, alleghanyite, amphibole, mangano-dolomite, magano-micas, jacobsite, haus-
mannite, bixbyite and hematite.
The assemblage of secondary mineraIs, formed by a supergene process, contains <XMn0 2 , mala-
chite, cuprite, goethite and lepidocrocite. Both the hematite and hausmannite show two different
phases of mineralization. Polished section analyses revealed that hematite and bixbyite are exsolved
in jacobsite.

INTRODUÇÃO minerais de minérios de manganês, com apoio


no estudo de secções polidas tem se mostrado
muito útil na interpretação da gênese e paragê-
nese dos depósitos pesquisados ROY (1962;
Este trabalho se ocupa do estudo minera- 1965; 1968), RAO (1963), MITRA (1965) e
lógico e textural dos minerais de manganês do RIBEIRO FILHO (1970 e 1981).
depósito de Bandarra e estabelece a seqüência Na área alvo deste trabalho ocorrem ro-
de formação dos minerais e suas respectivas chas metamórficas do Complexo de Licínio de
fases de mineralização. Almeida, na porção sul do Estado da Bahia,
A identificação e caracterização da mine- cujos limites leste e oeste são respectivamente,
ralogia foi possível com o apoio de análises por o Complexo do Pararnirim e o Sistema de
difração de raios X, usando-se o método de pó Dobramentos Espinhaço. Essas rochas são con-
e difratograma. Ao microscópio, principalmente sideradas por MASCARENHAS (IN INDA,
na análise de texturas, foram estudadas lâminas 1979) como integrantes de uma provável estru-
delgadas e seções polidas. tura do tipo "greenstone belt" com idades
Trabalhos sobre as relações texturais em contidas no intervalo de 2.700 a 3.000 m.a ..

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LOCALIZAÇÃO E ASPECTOS e está representado pela Cordilheira do Espinha-


GEOGRÁFICOS ço, que se eleva a 1000-1100 metros com os
cimos nivelados pela superfície de erosão Sul
Americana de idade Terciária antiga (King,
Conforme o mapa de localização da área, 1956). O segundo, do planalto a leste, com a
ilustrado na figura 1, o depósito de manganês altitude em torno de 800 metros, apresenta-se
de Bandarra está situado 20 km ao sul de Licí- bastante aplainado, surgindo escassamente,
nio de Almeida e 19 km a noroeste de Jacaraci, aqui e acolá, elevações mormente alongadas,
possuindo como coordenadas geográficas os pa- constituídas na maioria das vezes por quartzito
ralelos 14° 48' 37" e 14° 50' 36" de latitude que são mais resistentes à erosão.
sul e os meridianos 42° 31' 06" e 42° 32' 27" O sistema de drenagem da região pertence
de longitude oeste a partir de "Greenwich". à zona de influência da bacia hidrográfica do
A topografia da região é marcada por rio de Contas, a montante, aparecendo os rios
dois compartimentos geomorfológicos distintos. Antônio, do Paiol e Gavião, como os principais
O primeiro, situado a oeste, é de relevo serrano coletores de água nas imediações de Bandarra.

Fig. I - Mapa de localização do depósito de manganês de Bandarra - Bahia

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Estudo mineralógico e textural dos minerais de manganês do depósito de Bandarra. Jacaraci. Bahia.

GEOLOGIA DO DEPÓSITO direção a referida formação ferrífera.


A espessura da formação ferrífera não
MACHADO (1977) define para a regIao ultrapassa valores da árdem de 5 a 6 metros,
do depósito de Bandarra três seqüências de ro- e as lentes-camadas dentro da mesma variam
chas metamórficas que, da base para o topo, desde poucos centímetros até um máximo de
apresentam a seguinte ordem de empilhamento: 0,85 metros, com valores médios ao redor de
a) seqüência basal-micaxistos; b) seqüência in- 0,20 metros.
' termediária - formação ferrífera; c) seqüência A formação ferrífera, tanto na base como
superior - anfibolitos, quartzito mecáceo e
no topo, está em contato concorqlJ!lte com
micaxistos. micaxistos.
Na seqüência basal dominam largamente
micaxistos que apresentam na porção mais su-
perior, já próximo ao topo, intercalações de
ordem centimétrica a decimétrica de quartzitos
e micaxistos com impregnações de manganês.
A espessura desta seqüência em Bandarra al- MINERALOGIA
cança cerca de 500 metros.
A seqüência intermediária está represen- O estudo mineralógico com raios X foi
tada pela formação ferrífera manganífera que conduzido em câmara Debye-Scherrer de
possui espessura não superior a uma dezena de 114,6 mm, com radiações CuKo: (:\ = l.5405)
metros, resultando formas de relevo do tipo e CrKo: (À = 2,2986). Os difrato gramas de
"hog backs" ou "cuestas", que capeiam estratos raios X foram obtidos em aparelho marca
menos resistentes à erosão. Norelco - tipo vertical - com tubo de cobre
e filtro de níquel, regulado para condições de
A seqüência superior contém micaxistos
35 Kw e 15 mA. Este estudo aliado ao trabalho
no seu terço inferior, encimados por anfibolitos
de microscopia, possibilitou a identificação de
na porção média da seqüência e, na porção mais
dois grupos distintos de minerais, quanto às
superior, ocorrem quartzitos micáceos e recor-
condições em que se formaram: a) minerais
rência de micaxistos.
primários - aqueles formados às expensas do
As relações de contato entre as três se- metamorfismo, incluindo-se óxidos, tais como
qüências são concordantes, refletindo mudanças jacobsita, hausmannita, bixbyita e hematita; si-
bruscas durante o regime sedimentar, iniciando- licatos como espessartita, tefroíta, alleghanyita,
-se com um ciclo de sedimentação detrítica, anfibólio e mica manganífera; carbonatos (kut-
passando para química e/ou bioquímica, para nahorita ou manganocalcitajmanganodolomita;
retornar ao ambiente original, agora já em con- b) minerais secundários - aqueles formados
dições menos profundas. em condições superficiais, tais como: minerais
O metamorfismo de fáceis almandina-an- do grupo o:Mn0 2 , malaquita, cuprita e óxido
fibolito, a que estiverem sujeitas estas rochas, de ferro hidratado.
confirma-se pela presença de plagioclásio inter- A descrição da mineralogia, das relações
mediário do tipo oligoclásio-andesina encontra- texturais entre os minerais e a discussão de suas
do nos micaxistos e também pela associação possíveis fases de formação serão feitas a seguir:
hornblenda-plagioclásio-epídoto encontrada nos
anfibolitos.

MINERAIS DE GANGA - Os minerais


DEPÓSITO DE MANGANES de ganga são óxidos, hidróxidos, carbonato e
silicatos. Hematita, quartzo lepidocrocita, goe-
O depósito de manganês de Bandarra thita e carbonato são mais comumente presen-
ocorre em formação ferrífera manganífera de tes e em menor quantidade ocorrem espessar-
fácies óxido-carbonático, cuja distribuição se tita, mica manganífera, alleghanyita e tefroíta.
faz sob a forma de lentes-camadas de manganês Tefroíta e alleghanyita já haviam sido referidos
que apresentam variação lateral e vertical em por RIBEIRO FILHO (1981).

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HEMATITA - A hematita, examinada sob de 0,15 mm até 0,65 mm; b) cristais com as·
luz polarizada, apresenta cor cinza clara, muito pecto esponjoso na superfície e pontilhados de
próxima do branco, com tonalidade azulada em grãos submilimétricos de minerais de ganga.
superfície, acentuando-se nos grãos de melhor Ela pode ocorrer com a jacobsita em estrutura
polimento. Sua birreflectância é fraca, porém, do tipo "network", visível apenas com objeti-
com caráter anisotrópico distinto. Reflexão in- vos de melhor aumento (lI x ou superior).
terna está sempre presente, assumindo tonali- (Fig. 2).
dades profundamente vermelhas quando se uti-
liza boa i1~minação e objetiva com aumento Sua distribuição ocorre em fmas camadas,
igual ou superior a 28 x. Quanto à cristalini· com larguras individuais de cerca de 0,15 mm
dade ela ocorre em dois tipos distintos: a) cris· em média, que se repetem alternadamente com
tais maciços com superfícies límpidas, em for· os minerais de ganga, conferindo ao minério
mas poligonais, com dimensões que variam des· uma textura nitidamente orientada (Fig. 3).

Fig. 2 - Seção polida.


Textura de exsolução
de hematita (cinza
claro) e jacobsita
(cinza escuro). Nic6is
paralelos. X 680.

Fig. 3 - Seção polida.


Veio de hematita da
2!1 fase seccionando
a da fase anterior.
A hematita da 1!1 fase
está i ntercrescida com
jacobsita. Nic6is
paralelos. X 175.

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Estudo mineralógico e textural dos minerais de manganês do depósito de Bandarra, Jacaraci, Bahia.

As relações texturais da hematita eviden- tuídos. Sua birreflectância é moderadamente


ciam pelo menos duas fases de formação. Na distinta, tornando-se mais acentuada nas por-
figo 3 pode ser observada hematita da primeira ções maculadas por hematita.
fase intercrescida com jacobsita, sendo seccio- O caráter anisotrópico é distinto e forte,
nada pela hematita da segunda fase que, ao mi- variando de tons verde claro até mais escuro,
croscópio, revela orientação óptica diferente. com maior predomiância nos grãos que cir-
cundam a hematita.
HIDRÓXIDOS DE FERRO - (Lepido- O carbonato visível em apenas algumas
crocita ou Goethita) - Sob luz polarizada apre- seções do protominério revela alteração para
senta cor cinza esverdeado, com refletividade óxido de alta valência e substituição ao longo
muito fraca. Apareceram manchas esbranquiça- dos planos de clivagem e de fratura pela cuprita
das de cristais de hematita parcialmente substi- (figs. 4 e 5).

Fig. 4 - Seção polida.


Hausmannita da
1!1 geração (cinza)
associada a
hausmannita da
2!1 geração
(cinza branco).
A hausmannita da
H geração mostra
corrosão. Nic6is
paralelos. X 320.

A tefroíta é encontrada juntamente com é forte, variando de tons cinza azulado até
o carbonato em grlros contíguos, revelando re- castanho, muito semelhante a anisotropia re-
lações de contato com bordas de reação (fig. 4). velada pela hausmnnita. A birreflectância é
A espessartita ocorre associada ao domí- distinta, estendendo-se desde cinza claro com
nio carbonático e encontra-se parcialmente tons azulados até amarelo pálido.
transformada em óxido de manganês secundá- As observações feitas com objetiva de
rio (fi8. 4). Seus cristais assumem formas arre- pequeno aumento (5,5 x) revelam textura
°
dondadas, variando de 0, I mm até 0,30 mm, granoblástica, em que se destacam cristais
com valor médio de 0.18 mm. não exsolvidos na jacobsita. Utilizando-se
objetiva de maior aumento (Il x ou superior),
verifica-se o intercrescimento entre bixbyita e
BIXBYITA - A bixbyita ocorre como jacobsita, no qual, esta última aparece como
grãos individuais ou em exsolução na jacobsita, mineral hospedeiro.
em dimensões desde 0,10 mm até 0,60 mm, Os cristais de bixbyita nlro exsolvidos
com valores médios por volta de 0,20 mm. slro inequigranulares, anedrais, com tendência
Apresenta cor cinza com tonalidade euhedral, evidenciando relações de contato
amarelo-creme, de refletividade alta e com su- que refletem contemporaneidade com bixbyita
perfície de bom polimento. Sua anisotropia exsolvida.

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JACOBSITA - A jacobsita apresenta cor dos planos de clivagern, resultando uma estru-
marrom-avermelhada, é fortemente magnética tura do tipo "network", de forma análoga ao
e exibe sempre textura de exsolução. Suas que ocorre com outros espinélios (fig. 2).
características ópticas são similares às da
magnetita, com cristais isótropos, desprovidos
de birreflectância e de reflexão interna. Con- HA USMANNITA - Sã'o distinguidas duas
forme menciona RIBEIRO FILHO (1970) a gerações de hausmannita, denominadas, respec-
cor é o elemento mais útil para distingui-la da tivamente, de hausrnannita I e 11. No primeiro
magnetita, embora possa também ser usado tipo são freqüentes inclusões de cuprita ou he-
o "etching test". matita e de minerais de ganga, bem como evi-
A distribuiçã'o da jacobsita é inteiramente dências de substituição pela cuprita (fig. 5).
controlada pela hematita, ocorrendo como fase Inclusões sob a forma de finas agulhas de ru-
exsolvida, disposta preferencialmente ao longo tilo são freqüentes.

Fig. 5 - Seção polida.


Cobre nativo (branco)
circundado por cuprita
(cinza claro) e
contendo inclusões
de hausmannita
(cinza) . Nicóis
paralelOS X 68.

A hausmannita II contém inclusões de em cor cinza-azulada, similar à hematita, porém


hausmannita I, com diferenças de tonalidade com tonalidade de azul mais intenso. Sua birre-
facilmente perceptíveis em grãos contíguos. flectância é distinta, variando entre o cinza
A hausmannita I revela, ao microscópio, azulado com tonalidades mais claras até mais
cor zina média com refletividade moderada. escuras, que com nicóis semi-cruzados reflete
Sua birreflectância é distinta quando observada uma anisotropia notável, variando de tons azu-
em grãos com superfícies límpidas. A anis o- lado até castanho.
tropia é forte, variando de cinza com tons azu- Ocorre na forma de fIletes e vénulas ao
lados até, às vezes amarelados, principalmente longo de planos de fratura ou de clivagem da
em cristais geminados. hausmannita e dos minerais de ganga, bem
A textura se mostra em grande parte como nos limites de grãos adjacentes. Sua tex-
granoblástica, com cristais anedrais, arredon- tura em grande parte evidencia forma herdada
dados ou subarredondados, inequigranulares, do cobre nativo a partir do qual se formou em
variando desde 0,50 mm até 0,60 mm, em condições supérgenas.
média com 0,25 mm. São freqüerites gemina- Os grã'os que nã'o substituem a ganga são
ções segundo lamelas simples ao longo do maciços, podendo também se apresentar poro-
plano (101). sos com minúsculas inclusões, sendo inequigra-
nulares, anedrais, em grã'os isolados ou em agre-
gados, com dimensões médias por volta de 0,40
CUPRITA - Ao microscópio mostra-se mm.

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Estudo mineralógico e textural dos minerais de manganês do depósito de Bandarra, Jacaraci, Bahia.

COBRE NATIVO - É caracterizado ao do, às vezes, inclusões de ganga ou de óxidos de


microscópio por uma cor amarelo-Iaranja, com manganês. (fig. 6). Suas dimensões variam des-
ausência de birreflectância, porém com efeitos de 0,04 mm até 0,80 mm, com predominância
anisotrópicos aparentes . ao redor de 0,15 mm.
Os cristais são irregulares, anedrais, ine- O cobre nativo aparece intimamente as-
quigranulares, com endentação nas bordas, sociado à cuprita, ocupando sempre seu in-
em grãos ipdividuais ou em agregados, possuin- terior, com ausência de deformação por fratura.

Fig. 6 - Lâmina
delgada. Coexistência
de tefroíta (cinza
claro) e carbonato
(cinza escuro e
clivagem caracterfsticaL
Nic6is paralelos. X 57.

TRANSFORMAÇÕES MINERALÓGICAS Nos domínios em que havia manganês


ETEXTURAIS em excesso, particularmente naqueles em que
são abundantes os minerais de ganga sob a
As evidências texturais observadas em se-
forma de carbonatos, houve formação de haus-
ções polidas dos minerais de manganês do depó-
mannita. É admissível, também, que o carbo-
sito de Bandarra permitem distinguir pelo me-
nato original portador de manganês, por des-
nos duas fases de hematita e hausmannita du-
carbonatização em condições de alta tempe-
rante o processo metamórfico, designadas, res-
ratura, tenha conduzido à formação de manga-
pectivamente, por fase l e II (fig. 3 e 4). Os
nosita que se oxidaria prontamente a hausman-
demais minerais descritos na associação para-
nita.
genética revelam apenas uma fase de formação.
O maior grau de deformação de hemati- Jacobsita intercrescida com bixbyita, en-
ta l em relação à hematita lI, aliado à presença contrada no depósito de Bandarra, constitui a
de veios ou vênulas de hematita II seccionando única ocorrência deste tipo de textura no dis-
hematita l, são os elementos utilizados para trito de Urandi. Trata-se provavelmente de oxi-
distinguir estas duas fases distintas de forma- dação orientada da jacobsita para bixbyita,
çlfo. A primeira fase de geração de hematita comparável ao processo de martitização de mag-
ocorre tanto sob a forma de cristais indivi- netita.
duais quanto em exsoluçlfo com jacobsita. A ausência de jacobsita em exsolução
Ocorrem cristais de hausmannita da pri- com hausmannita revela aparentemente con-
meira fase inclusos nos de segunda fase com dições de resfriamento não compatíveis com
características ópticas distintas (fig. 4). Este aquelas exigidas pela vredenburgita ou, ainda,
mineral, indistintamente, na primeira e segunda indicar que o limite do campo de estabilidade
fase, é substituído pela cuprita ao longo dos desta última não tenha sido alcançado. Poder-
planos de clivagem e dos planos de fratura. -se-ia pensar num processo de recristalização

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subseqüente que conduzisse a destruição desse bólio e mica parece ser conseqüente mais do
intercrescimento, todavia, isso parece menos efeito estabilizante desempenhado pelo alu-
provável, visto que, além de deixar remanes- mínio incorporado na estrutura destes silica-
centes, acarretaria, igualmente, destruição dos tos, do que pela ausência de carbonatos con-
intercrescimentos formados entre jacobsita- tendo manganês no sedimento original, con-
-hematita e jacobsita-bixbyita. forme tem sido atribuído por vários autores.
A presença de jacobsita e hausmannita As relações texturais reveladas pelo cobre
no mesmo protominério revela condições de nativo não fornecem soluções conclusivas para
temperatura compatíveis com aquelas desen- o problema de sua gênese, pois além dos mi-
volvidas no metamorfismo regional que afetou nerais. de cobre ocorrerem sob a forma de
a região. veios e de vênulas, aparecem também substi-
MASON (1947) mostra que a vreden- tuindo a hausmannita (I e lI) e os minerais
burgita natural Gacobsita exsolvida em haus- de ganga. Exibem texturas do tipo esqueleto,
mannita) se forma na faixa de 500-700°C, que poderiam ser interpretados como indica-
a qual coincide plenamente com aquela dedu- doras de contemporaneidade de formação em
zida do metamorfismo regional a partir das relação aos minerais aos quais estão associados.
rochas encaixantes, que segundo TURNER Os minerais secundários encontram-se re-
VERHOOGEN (1960) para a fácies anfibolito presentados pela goethita e/ou lepidocrocita,
é fixada entre 550-750°C. minerais de manganês do grupo alfa Mn02'
A formação em 8andarra de espessartita além de malaquita e cuprita.
e outros silicatos manganíferos, como anfi- Com base nas relações texturais e minera-

TABELA 1 - Paragénese dos minerais de manganês de Bandarra, Bahia.

Fases de Mineralização

Minerais Metamórfica Supérgena

Hausmannita I ---
Hausmannita II ---
Hematita I ---
Hematita II ---
Jacobsita -------
Bixbyita --------
Lepidocrocita
Goethita
Espessartita - - - - --

Tefroíta -------
Alleghanyita ---------
Mn-Anfibólio ----------
Mn-Mica --------
Grupo aMn02
Cobre Nativo ----------
Cuprita
Malaquita
Mn-Dolomita --------

------Possível

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Estudo mineralógico e textural dos minerais de manganês do depósito de Bandarra, Jacaraci, Bahia.

lógicas discutidas acima pode-se estabelecer a comum em depósitos de manganês. Todavia


seqüência paragenética de formação dos mine- os dados texturais indicam uma preferência
rais do depósito de manganês de 8andarra com do mesmo pelo domínio carbonático, suge-
suas . respectivas fases de gerações (Tabela I). rindo que este tenha funcionado como am-
A Tabela 1 mostra a relação entre as fases biente de controle durante a deposição do
minerais e suas relações de formação temporal. cobre juntamente com os demais carbonatos
Os llÚnerais aqui referidos como primários tive- de manganês.
ram sua formação durante o processo metamór- A presença de óxidos primários de man-
fico. Hematita e hausmannita mostram a ação ganês Qacobsita, hausmannita e bixbyita) nos
de duas fases distintas de metamorfismo. São corpos de llÚnério indica deposição de óxidos
considerados minerais secundários aqueles for- e/ou hidróxidos de manganês com alta valên-
mados em condições supérgenas a partir dos cia, em temperaturas baixas, contemporâneos
minerais de minério e de ganga. à sedimentação, que se converteram para
óxidos de baixa valência pela elevação de tem-
peratura durante o metamorfismo regional
que afetou a região.
A associação de carbonatos com óxidos
CONCLUSÕES
de manganês primário se deve às variações de
pH e Eh ocorridas durante a deposição da for-
O depósito de manganês de 8andarra faz
mação ferrífera bandada que contém o depó-
parte de um conjunto de rochas metassedimen-
sito, oscilando próximo da linha que delinúta
tares de fácies almandina-anfibolito que, como
os campos de estabilidade dos carbonatos e
tal, apresenta uma assembléia de minerais
dos óxidos no diagrama de KRUMBEIN &
compatíveis com a fácies metamórfica superim-
GARRELS (1952), não ultrapassando a "li-
posta.
mestone fence" e "oxide carbonate fence"
O depósito de manganês ocorre na forma destes autores.
de lentes - camadas associadas à seqüência in-
A análise integrada do que foi exposto
termediária representada pela formação fer-
no decorrer deste trabalho, aliada às observa-
rífera bandada, com uma seqüência de llÚca-
ções de campo e daquelas conduzidas ao llÚ-
xistos na base e, outra, de anfibolitos, llÚca-
croscópio sob seções polidas, reforçam a idéia
xistos e quartzitos no topo.
de se considerar o depósito de manganês de
No depósito de 8andarra ocorrem mine- Bandarra como proveniente de sedimentos
rais primários sob a forma de óxidos de Mn e primários singenéticos, que ao sofrerem me-
de Fe, silicatos e carbonatos. Ocorrem também taforrnismo na fácies a1rnandina-anfibolito,
minerais secundários do grupo alfa MnO z, óxi- converteram-se na rocha que corresponde ao
dos hidratados de ferro, malaquita e cuprita. atual protominério.
Foram reconhecidas duas fases de for-
mação de hematita e de hausmannita, deno-
minadas, respectivamente de I e 11. O inter- AGRADECIMENTOS
crescimento entre jacobsita-hematita e ja-
cobsita-bixbyita ocorreu provavelmente após Os autores consignam seus agradeci-
a formação da hematita I e da hausmannita I. mentos à Companhia de Mineração Urandi S/A
O aparecimento de cobre nativo repre- pelo apoio material e fmanceiro dispensado
senta aparentemente uma associação pouco durante a execução dos trabalhos de campo.

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MACHADO, R. & FI LHO, E.R. BoI. IG, Instituto de Geociências, USP, V. 14:21·30, 1983

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