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Instituto de Geociências

Faculdade de Geologia
DISCIPLINA: Geologia dos Depósitos Minerais (IG-01035)
PROFESSOR: Joel Macambira

TEXTO PARA AULA PRÁTICA

Assunto: Depósitos associados às rochas Máfico/Ultramáficas. Exemplo da Mina


Caraíba (BA).

Introdução: A Mina Caraíba, localizada na porção sul do vale do rio Curaçá, norte do
estado da Bahia, foi descoberta em 1874. Distante de Salvador, cerca de 500 km por
rodovia asfaltada, a mina conta com apoio das cidades de Senhor do Bonfim, Juazeiro e
Petrolina, todas situadas num raio de 120 km. O mais recente programa de pesquisa
estendeu-se de 1973 a 1978. As operações de lavra a céu aberto iniciaram-se em
dezembro de 1979 e pouco depois foram empreendidas as primeiras obras de apoio para
lavra subterrânea (poço vertical, rampa inclinada e poço de ventilação), iniciada em 1986.
A primeira cubagem da jazida foi realizada em 1945 por Melo Jr e Pouchain,
revelando 10 Mt de minério oxidado a 1% Cu. A avaliação de 1978 indicou uma reserva
total de 125 Mt a 1,2% Cu (i. e. 1.500.000 t Cu metal). Produção até 1998 = 600 Mt de
minério com 1,6% Cu. Em 1996 as reservas eram de 42 Mt com 1,82% Cu.
A área aflorante do corpo mineralizado de Caraíba possui 1400 m de comprimento
segundo a direção NS por 700 m de largura. Dados de 1980 indicam 187 Mt de minério
oxidado (0,62% Cu) + sulfetado (1% Cu).

GEOLOGIA REGIONAL O vale do rio Curaçá, borda leste do Cráton São Francisco,
constitui parte de um "mobile belt" que desenvolveu-se sobretudo no Proterozóico
Inferior. Caracteriza-se pela ocorrência de rochas gnaissico-granulíticas do Arqueano
pertencentes ao Complexo Caraíba (Jardim de Sá, 1976) que sofreram uma evolução
policíclica e os efeitos termo-tectônicos dos eventos Jequié e Transamazonico. O
complexo foi dividido em três domínios (Lindenmayer, 1980) e apresenta intensas
deformações (dobramentos) e alto grau metamórfico. Os tipos litológicos mais comuns
são: gnaisses de composição granodiorítica-tonalítica e quartzo-monzodiorítica, muitas
vezes portadores de hiperstênio (Dom. I), leptinitos e gnaisses quartzo-feldspáticos,
cordierita-silimanita-granada-biotita gnaisses, rochas calciosilicáticas (diopsiditos e
olivina-mármores), quartzitos, magnetita-quartzitos e anfibolitos (Dom. II) e gnaisses
migmatíticos de composição variável (tonalítica e granítica). Intrusivos nas rochas do
Complexo Caraíba ocorrem corpos granitóides de diferentes tipos, pertencentes a várias
gerações. Destacam-se igualmente as seqüências intrusivas máfico-ultramáficas
portadoras de mineralização cuprífera.

SEQÜÊNCIA MÁFICO-ULTRAMÁFICA DE CARAIBA Trata-se de um conjunto


bem diferenciado composto por piroxenito (hiperstenito), norito, gabronorito e gabro.
Ocorrem igualmente biotititos, anfibolitos e mais raramente anortositos. É constituída de
corpos lenticulares ou tabulares, dobrados concordantemente com as unidades
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encaixantes (gnaisses e calciossilicáticas) com as quais possuem contato brusco marcado
por uma zona de cisalhamento. A passagem entre os diferentes membros da sequência é,
por sua vez, gradativa. Tanto as rochas do Complexo Caraíba como as da sequência
máfico-ultramáfica sofreram no Arqueano (2850 ± 200 Ma) um metamorfismo de fácies
granulito. No Proterozóico Inferior (2160+-50Ma), foram afetadas por migmatização e
magmatismo granítico relacionados ao Evento Transamazônico, bem como submetidas a
um retrometamorfismo parcial de facies anfibolito. Mais tarde (1518 Ma) e muito
localmente (sobretudo em zonas de falhas) as rochas sofreram uma nova re-hidratação
resultando em metamorfismo regressivo de grau xisto-verde e aparecimento de minerais
de alteração tais como biotita, clorita etc.

MINERALIZAÇÃO Está associada sobretudo aos membros basais do conjunto formado


pelos ortopiroxenitos que passam progressivamente a noritos com bandas e lentes
piroxeníticas. A paragênese oxi-sulfetada é constituída basicamente de calcopirita,
bornita, magnetita e ilmenita ocorrendo subordinamente pentlandita, calcocita, covelita,
violarita, millerita, tetraedrita, hematita e pirrotita. A pirita aparece apenas nas zonas
afetadas pelo retrometamorfismo. A mineralização é predominantemente granular e
disseminada havendo também raros níveis maciços de alguns centímetro de espessura. O
metamorfismo granulítico foi a causa do frequente intercrescimento dos minerais de
minério e do hiperstênio. Nas porções piroxeníticas os teores de cobre chegam a
ultrapassar 1%. Nos noritos eles variam na faixa de 0,4 a 0,8%.

Produção da mina de Caraíba dos anos 2000 a 2008:

Fonte: Ministério de Minas e energia 2009. Adaptado de Perfil da mineração do cobre 2009

Uma planta de concentração funciona ao lado da Mina, produzindo um concentrado


a 34,4% de Cu. O processo metalúrgico é realizado em Camaçari (próximo de Salvador)
desde 1982. Além do Cobre estão sendo, ou vão ser produzidos em breve, ácido
fosfórico, ácido sulfúrico, sulfato de níquel, Au, Ag, Se e Te. Em 1985, a partir de lama
anódica (197 t) foram recuperados 12 t de Ag e 461 kg de Au.
A partir de 2006 a mina passou a realizar a lixiviação do minério oxidado, que havia sido
estocado desde o início da operação a céu aberto. A Planta tem capacidade de produzir
5.000 t de placas de catodo por ano, com teor de 99,99% de cobre.

Principal Fonte Bibliográfica: Silva, L. J. H. D. R. - 1985 - Geologia e controle estrutural


do Depósito Cuprífero de Caraíba-Vale do Curaçá - Bahia. Geologia e Recursos Minerais
do Estado da Bahia. Textos Básicos. Vol. 6. p. 51-136.
Bibliografia complementar: Dardenne M.A. & Schobbenhaus C. 2001. Metalogênese do
Brasil. Brasília. Ed. Universidade de Brasília. p. 114-115.

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Extraído de Dardenne & Schobbenhaus, 2001.

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