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PÓS-GRADUAÇÃO EM PRÁTICA PREVIDENCIÁRIA

AVANÇADA

MÓDULO: BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS DO RGPS

TEMA: Aposentadoria programada urbana – Revisão da Vida Toda

A Revisão da Vida Toda é uma espécie de revisão que leva em conta


todo período contributivo do segurado, ou seja, considera as contribuições
previdenciárias anteriores a julho de 1994. Acima de tudo, a revisão da vida toda
busca aplicar a regra permanente de cálculo do artigo 29 da Lei 8.213/91, em
detrimento da regra transitória do artigo 3º da Lei 9.876/99.
Na regra permanente (art. 29 da Lei 8.213/91), não há limitação
temporal, enquanto na regra transitória (art. 3º da Lei 9.876/99) somente os
salários de contribuição a partir de 07/1994 são considerados. Além disso, a regra
transitória possui a previsão do divisor mínimo, que não consta na regra
permanente, e que pode diminuir muito o valor do benefício.
Em síntese, sempre confira o checklist ao analisar um caso de vida toda:
- Data de início de benefício (DIB) posterior a 29/11/1999 (Lei 9.876/99)
e anterior a 13/11/2019 (Reforma da Previdência), salvo se for caso de direito
adquirido.
- Possuir contribuições anteriores a 07/1994;
- Ter o benefício concedido a menos de 10 anos (prazo decadencial).
O prazo decadencial para o segurado ajuizar a demanda de revisão é de
10 anos, a contar do primeiro pagamento do benefício (art. 103, Lei 8.213/91).
Assim, caso não tenha decorrido o prazo de 10 anos, é possível ajuizar
a demanda para buscar a revisão do valor mensal do benefício e ainda as
diferenças devidas, pelo menos dos últimos 5 anos, tendo em vista a prescrição
quinquenal das parcelas atrasadas.
Dessa forma, tem direito à revisão os segurados que recebam ou
tenham recebido benefícios previdenciários calculados com base na Lei 9.876/99 e
que tenham contribuições previdenciárias anteriores a julho de 1994.
Destaque-se que a Revisão não se limita às aposentadorias
programadas. Ou seja, benefícios como aposentadoria por incapacidade
permanente, auxílio por incapacidade temporária e pensão por morte também
podem ser revisados.
Assim, essa é uma tese que busca oportunizar ao segurado optar pela
forma de cálculo permanente se esta for mais favorável. No entanto, é necessário
realizar o cálculo detalhado para saber se as contribuições anteriores a julho de
1994 resultam, de fato, em um benefício mais vantajoso.
Para verificar a viabilidade da tese no caso concreto, é indispensável a
realização do cálculo de renda mensal inicial com base na média de todos os
salários de contribuição.
O direito de incluir contribuições ao INSS anteriores a 1994 já havia sido
reconhecido pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), restando a discussão sobre a
constitucionalidade. Em seu parecer, a PGR (Procuradoria Geral da República)
havia sugerido a manutenção da tese fixada pelo STJ, que garantia a aplicação do
direito ao melhor benefício.
O julgamento de processos relacionados com o tema ficou um ano
suspenso, aguardando a análise do recurso do INSS pelo STF, até que, no dia 11
de junho de 2021, o Ministro Alexandre de Moraes fez um pedido de vista no
julgamento do Tema 1.102, deixando a votação empatada em 5×5. Assim, o seu
voto favorável decidiu o caso.
Semanas antes do início do julgamento pelo STF, intimada para se
manifestar sobre o assunto, a Procuradoria Geral da República já havia se
manifestado favorável à Revisão da Vida Toda, se tornando um importante fator
para fundamentar a decisão dos ministros do supremo.
Em 25 de fevereiro de 2022, o Supremo Tribunal Federal formou maioria
e decidiu sobre o tema da Revisão da vida toda, firmando a seguinte tese no
julgamento do Tema 1.102: “O segurado que implementou as condições para o
benefício previdenciário após a vigência da Lei 9.876, de 26/11/1999, e antes da
vigência das novas regras constitucionais, introduzidas pela EC em 103 /2019, que
tornou a regra transitória definitiva, tem o direito de optar pela regra definitiva,
acaso esta lhe seja mais favorável”.
Em resumo, a tese garante a utilização de contribuições anteriores a
julho de 1994 no cálculo dos benefícios previdenciários concedidos pelas regras
anteriores à EC 103/2019 (Reforma da Previdência).
Em outras palavras, a decisão dos ministros do STF garante aos
aposentados do INSS, aposentados há menos de 10 anos, que conquistem, na
Justiça, o direito à revisão do benefício, contemplando todas as contribuições,
inclusive as realizadas antes de 1994.
O relator do processo foi o Ministro Marco Aurélio, que apresentou voto
favorável à tese, sendo o voto divergente apresentado pelo Ministro Nunes
Marques.
Dessa forma, seguiram o relator os ministros Edson Fachin, Carmen
Lúcia, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski e por último Alexandre de Morais. Por
outro lado, seguiram o voto divergente os ministros Dias Toffoli, Roberto Barroso,
Gilmar Mendes e Luiz Fux.
O entendimento dos ministros se aplica a tribunais de todo o país e
encerrará o assunto sobre as contribuições previdenciárias anteriores a julho de
1994. Agora, os aposentados que tiverem direito e puderem ser beneficiados por
esta revisão, poderão ingressar com uma ação judicial e receber o valor calculado
com juros e correção do período mais até cinco anos anteriores ao pedido.
A correção beneficia quem teve salários altos no início da carreira, na
comparação com os salários recebidos nos anos que antecederam a
aposentadoria.
O pedido desta revisão só deve ser feito na Justiça e nos primeiros dez
anos da aposentadoria, contados a partir do primeiro pagamento do benefício, e
precisa estar bem fundamentado para valer a pena.

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