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DIREITO DIGITAL E A INFÂNCIA: PERSPECTIVAS E RESPONSABILIDADES

Maria Christina dos Santos, mestre em


Planejamento e Governança Pública.
Advogada. Conselheira Fiscal do Instituto
Tecnologia e Dignidade Humana – I-T&DH.

1 INTRODUÇÃO

Abre a tua boca em favor dos que não podem se


defender; sê o protetor dos direitos de todos os
desamparados! (Provérbios 31.8)

As vantagens advindas da evolução das tecnologias digitais de informação e


comunicação (TDICs) são muitas e inquestionáveis, e tão claras e conhecidas que
seria desnecessário mencioná-las. Todavia, não se pode desconsiderar seus
aspectos negativos quando utilizadas de forma inadequada, especialmente por
crianças e adolescentes que estão acessando as telas – tablets, smartphones, jogos
eletrônicos, televisores digitais, etc. – cada vez mais precocemente, sem criticidade,
sem orientação e sem monitoramento.
A sociedade em geral considera os dispositivos móveis como brinquedos e
muitos pais se vangloriam de que seus filhos já “nasceram sabendo” usar
equipamentos eletrônicos. Será que esse raciocínio está correto?
Para reflexão a respeito, em primeiro lugar, sugere-se observar a postura
adotada por grandes empresários da área de tecnologia digital do Vale do Silício,
nos Estados Unidos da América do Norte (EUA).
Ao contrário do que se pensa, os filhos dos “gurus” das empresas como
Apple, Google, entre outras, foram ensinados sem telas ou com o uso limitado de
computadores e outros dispositivos móveis. Bill Gates só deu celulares aos filhos

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quando completaram 14 anos de idade. Steve Jobs limitava o uso de telas e proibia
os filhos de usarem o recém-criado iPad. Chris Anderson, ex-diretor da revista Wired
afirmou que “na escala entre doces e crack, isso [uso de tecnologia] está mais
próximo do crack”. Pierre Laurent, engenheiro de computação que trabalhou na
Microsoft, só deu um celular ao filho mais novo quando este estava com 14 ou 15
anos. Alertou ainda que produtos gratuitos oferecidos permitem a coleta de dados do
usuário e a colocação de anúncios. Acrescentou que os aplicativos são projetados
para que o usuário gaste o máximo de tempo diante das telas (SILVA, 2020).
Em segundo lugar, é oportuno mencionar que sites e aplicativos de redes
sociais como Facebook, WhatsApp, TicToc, Snapchat, Twitter, cujo objetivo é auferir
lucro, fixam a idade mínima de 13 anos para acesso e uso de seus serviços.
Em terceiro e último lugar, a rede mundial de computadores viabiliza
comunicação com qualquer pessoa do planeta, com as mais diversas intenções, até
mesmo para a prática de crimes.
Será que a conduta e observações de Bill Gates, Steve Jobs, Chris
Anderson e Pierre Laurent, enquanto pais e conhecedores do mundo e do mercado
tecnológico como poucos, o critério etário estabelecido por sites e aplicativos de
redes sociais e a possibilidade de conexão com bilhões de pessoas de qualquer país
do mundo não servem de alerta para a necessidade de proteção da criança e do
adolescente quanto aos riscos a que estão expostos no ambiente digital?

2 A EDUCAÇÃO E A CIDADANIA DIGITAIS

As revoluções Industrial e Digital com certeza transformaram o modo como


vive a humanidade. A Industrial foi responsável por significativas mudanças no modo

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de produção de mercadorias e grande desenvolvimento tecnológico. A Digital, em
curso, consiste no movimento de inserção de novas TDICs, destacando a
popularização da rede mundial de computadores, a partir dos anos 1990 (SYDOW,
2015, p.19-21). Deu origem à denominada “Sociedade da Informação”, que “(...) se
insere no contexto histórico da sociedade pós-industrial, marcada pela evolução
tecnológica, que de tão profunda e intensa, trouxe novo conceito de vida e
organização em sociedade, penetrando nas mais diversas relações sociais"
(FIORILLO e CONTE, 2016, p. 17-18).
Os equipamentos eletrônicos conectados à internet não são apenas
ferramentas que facilitam a comunicação, a informação, as atividades pessoais e
profissionais cotidianas (SYDOW, 2015, p. 20). Vão muito mais além: são
responsáveis pela remodelação de conceitos, das relações sociais e das tecnologias
anteriormente existentes. A rede mundial de computadores: (a) elimina fronteiras,
uma vez que permite a comunicação com pessoas de qualquer parte do planeta,
desde que conectadas; (b) elimina barreiras espaço tempo já que permite escapar
às limitações da vida real (mundo físico); (c) substitui os padrões de interação
“um-um” (telefone) e “um-todos” (televisão, rádio, jornal) por “todos-todos” (todos os
usuários conectados na rede virtual) (FIORRILLO e CONTE, 2016, p. 27-28).
Nesse cenário e por serem vulneráveis, crianças e adolescentes carecem de
educação digital, controle parental e de orientação de adultos confiáveis – entre eles
os profissionais do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente
(SGD) – no que concerne às suas atividades online. Precisam de proteção quanto a:

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(a) riscos de contato – cyberbullying1, cyberstalking2, grooming3, por exemplo; (b)
riscos de conduta – uso indevido de dados, abuso financeiro e comportamento
inadequado: e (c) riscos de conteúdo – pornografia, materiais sobre abuso sexual,
violência, jogos e apostas (UNESCO e UIT, 2020, p. 36-39).
Mas como oferecer orientação, educação digital e controle parental
considerando a lacuna digital entre as gerações? Há grande contingente de “(...)
pais, responsáveis, educadores e políticos (...) sem os recursos necessários para
compreender a vida digital de crianças e adolescentes, ou para ajudá-los a entender
e evitar os riscos online” (UNESCO e UIT, 2019, p. 14). Logo, espera-se deles –
pais, responsáveis, educadores e políticos – e de todos os atores do SGD ao menos
“(...) habilidades digitais básicas: o suficiente para ajudar crianças e adolescentes a
obterem o máximo de benefício do fato de estarem conectados, ao mesmo tempo
em que reconhecem e respondem apropriadamente aos perigos em potencial”
(UNESCO e UIT, 2019, p.26). Compete a todos buscar informação e formação para
o uso saudável, responsável e seguro das TDICs.
Ainda, cabe especialmente aos pais e professores oferecer educação digital
às crianças e adolescentes para que possam exercer a cidadania digital, o que
pressupõe letramento, etiqueta e segurança digitais. O letramento consiste em
conhecer as propriedades e modos de uso dos recursos digitais, enquanto a
etiqueta refere-se à conduta e às formas de interação no que diz respeito ao uso da
linguagem, à própria exposição e a de terceiros no ciberespaço. Já a segurança
corresponde às precauções necessárias para garantir a proteção de dados

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Cyberbullying configura-se na intimidação sistemática na internet para depreciar, incitar a violência,
adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.
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Cyberstalking consiste na perseguição praticada online. A Lei nº 14.132/2021 incluiu no Código
Penal o crime de perseguição (art. 147-A), cuja pena é aumentada se cometido contra criança ou
adolescente.
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Grooming caracteriza-se na sedução empregada por adultos que fingem ser da mesma faixa etária
da criança ou adolescente com a intenção de se aproveitar sexualmente da vítima.
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(DOCUSIGN, 2018). Essa incumbência decorre do fato de ser “dever de todos
prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente”, conforme previsto no artigo 70, do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069/1990.

3 A CRIANÇA, O ADOLESCENTE E O DIREITO DIGITAL

A Constituição Federal (1988), em seu artigo 2274, assegura à população


infanto-juvenil direitos fundamentais, a serem garantidos de forma efetiva e com
absoluta prioridade pela família, sociedade e Estado. O ECA, por sua vez, ao dispor
sobre a Doutrina da Proteção Integral, estabelece que todas as oportunidades e
facilidades devem ser asseguradas para “o desenvolvimento físico, mental, moral,
espiritual e social da criança e do adolescente, em condições de liberdade e de
dignidade” (art. 3º).
Crianças e adolescentes, não podem ser alijados do processo de inclusão
digital, até mesmo porque ´têm direito à informação, à cultura, ao lazer, a diversões,
espetáculos, produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em
desenvolvimento” (ECA, art. 71). Acrescido a isso, o Marco Civil da Internet (MCI) –
Lei nº 12.965/2014 – tem entre os seus fundamentos o respeito à liberdade de
expressão, o desenvolvimento da personalidade em meios digitais e o
reconhecimento do acesso à internet como essencial ao exercício da cidadania.
Essa inserção, porém, deve observar as características físico-motoras, perceptivas,

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Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
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sensoriais, intelectuais e mentais dos usuários, segundo o art. 7º, XII, do mesmo
texto legal.
O MCI prevê o controle parental do conteúdo considerado impróprio a seus
filhos menores de 18 anos, por meio de programa de computador, respeitados os
princípios do ECA, e atribui ao Poder Público a responsabilidade de apoiar os pais e
responsáveis na escolha de programas de controle parental, em conjunto com os
provedores de conexão e de aplicações de internet e com a sociedade civil (art. 29).
Entretanto, conforme a psicóloga Enck “não adianta os pais simplesmente
proibirem a utilização dessas tecnologias, porque os filhos encontrarão formas de
chegar a elas (...) o fundamental é os pais assumirem a responsabilidade de educar
as crianças para lidar com o mundo virtual” (LOPES, 2019). O monitoramento deve
ser baseado na confiança, caso contrário o filho tenderá a adotar conduta mais
secreta e, possivelmente, mais perigosa (EBERLIN, 2020, p. 134).
O MCI, ainda, dispõe que o cumprimento do dever da prestação da
educação, em todos os níveis de ensino, constitucionalmente atribuído ao Estado,
“inclui a capacitação, integrada a outras práticas educacionais, para o uso seguro,
consciente e responsável da internet como ferramenta para o exercício da cidadania,
a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico” (art. 26).
Aliás, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) caminha nesse sentido ao
estabelecer entre as competências gerais da educação básica, a compreensão,
utilização e criação de TDICs “(...) de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (...)” para fins de comunicação, acesso e disseminação de
informações, produção de conhecimentos, resolução de problemas e exercício do
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p.9).
Pode-se então concluir que a educação digital deve ser reconhecida como
um direito fundamental e que os professores têm mais uma incumbência: investir

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não somente na inclusão digital dos alunos, mas também na formação de sua
cidadania digital. Não basta disponibilizar equipamentos eletrônicos e ensiná-los a
utilizar as suas várias funções, é imprescindível orientá-los “(...) a zelar pela
segurança digital bem como agir de forma ética e legal” (PINHEIRO, 2021, p. 542).

4 PERIGOS NO AMBIENTE VIRTUAL: FATORES DE RISCO E PROTEÇÃO

O não conviver fisicamente com outras pessoas no ambiente digital dá a


falsa sensação de se estar em uma “(...) fortaleza eletrônica, em um ambiente
controlado” (EBERLIN, 2020, p. 80). Todavia, a atuação online deixa rastros que
podem ser coletados por empresas, anunciantes e mesmo por pessoas
mal-intencionadas.
Crianças não detêm maturidade suficiente para perceber os perigos e riscos,
estão mais sujeitas e têm propensão para confiar e acreditar no interlocutor, ou seja,
creem em fantasias e promessas. Logo, precisam de supervisão constante com o
uso de ferramentas mais rígidas de restrição de acesso a determinados sites. Esse
controle – pautado no afeto, diálogo e confiança – deve ser flexibilizado na medida
em que se dá o processo do desenvolvimento da capacidade crítica, mas nunca
negligenciado, inclusive porque crianças e adolescentes são suscetíveis à influência
de terceiros e de materiais de conteúdo inadequado (SYDOW 2015, p. 200).
Ressalta-se que o pai, a mãe ou responsável pode vir a responder
judicialmente por abandono digital caso se omita no cuidado da segurança da
criança ou adolescente no ambiente virtual, que resulta em situação de
vulnerabilidade ou risco (PINHEIRO, 2016; ALVES, 2017).
Conforme Garcia (2021, p. 44), delegado da Polícia Federal:

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[...] a simples entrega de um smartphone ou tablet conectado à internet a
crianças ou adolescentes torna-os vítimas em potencial de milhares – se
não, milhões – de cibercriminosos, nacionais e estrangeiros, que buscam na
ingenuidade típica de pessoas em desenvolvimento uma brecha para se
locupletar ilicitamente e auferir vantagens nem sempre com viés econômico.

Não obstante o risco em potencial acima citado, estudo realizado pela


Karpesky (2020) com o objetivo de analisar o comprometimento dos pais e mães
com a vida digital de seus filhos constatou que no Brasil mais de 70% das crianças
têm celular ou tablet próprio antes dos 10 anos de idade. Acrescido a isso, 56% das
crianças e adolescentes com até 18 anos de idade têm perfis em redes sociais, mas
40% dos pais ignoram o conteúdo que eles publicam.
Fernandes e Caldi (2018, p. 107), ambas juízas federais, ao discorrer sobre
reflexos das TDICs na prática de crimes contra crianças e adolescentes, afirmam ser

[...] alarmante crescimento da produção e distribuição de material de abuso


sexual de crianças e adolescentes, bem como de exposição de seus órgãos
genitais com finalidade sexual. Se antes o criminoso tinha que revelar
fotografias e/ou entregar pessoalmente fotos e vídeos, ou sujeitar-se à
fiscalização dos correios ou da polícia, hoje consegue disponibilizar na
internet esse tipo de material simultaneamente à sua produção, se desejar,
bem como alcançar compradores ou interessados em todas as partes do
mundo num piscar de olhos.

Sydow (2015) refere-se à internet como ambiente de alto potencial de


influência tanto para crianças como para adolescentes que ao acessar seus
conteúdos aprendem, absorvem e acostumam-se. Caso estejam tendo contato com
materiais inadequados, especialmente de conteúdo pornográfico, além de serem
vítimas, correm o risco de se tornar condescendentes com violências sexuais e
obscenidades, o que futuramente pode causar consequências nefastas à segurança
pública. Isso porque uma geração mais tolerante em relação condutas contrárias à

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dignidade sexual pode, de modo reflexo, vitimar a sociedade. Para embasar tal
afirmação, menciona um trabalho realizado na Universidade de New Hampshire –
EUA, intitulado “A exposição da juventude a material sexual não desejado na
internet – uma pesquisa nacional de riscos, impactos e prevenção”, realizada com
pessoas de 10 a 17 anos de idade. Seus pesquisadores concluíram que o resultado
dessa exposição é o “(...) desenvolvimento de uma atitude de leniência quanto a
incidentes de estupro e violência sexual” (SYDOW, 2015, p. 201).
Tono (2021) abordou questões semelhantes, convertidas no quadro a seguir.

QUADRO 1: PEDOFILIA ON-LINE FATORES DE RISCO E DE PROTEÇÃO

FATORES DE RISCO FATORES DE PROTEÇÃO


Permissão e mesmo estímulo de pais ao acesso Equilíbrio online X off-line do adulto, para dar
e uso precoce das TDICs por seus filhos. exemplo.
Pais ausentes e deslumbrados frente às Pais presentes, valorizando a pedagogia do
tecnologias digitais. olhar e do tempo de qualidade.
Abandono digital de crianças e adolescentes. Diálogo permanente entre pais e responsáveis
com as crianças e os adolescentes.

Banalização de elementos sensuais aplicados Bom senso ao permitir o acesso às tecnologias


em multimídias – em letras de música, imagens, digitais por crianças e adolescente.
vídeos, jogos, em redes sociais e aplicativos.
Naturalização de elementos sensuais aplicados Campanhas e ações de conscientização e
em multimídias que passam a compor o prevenção – acerca dos riscos e efeitos nocivos
repertório da experiência de crianças e do uso de tecnologias digitais por crianças e
adolescentes, tornando-os vulneráveis a adolescentes.
predadores sexuais, quando abordados.
Erotização precoce no desenvolvimento infantil. Formação para pais e professores responsáveis
na era digital.
Acesso assíduo, individualizado, paciente e Responsabilização das produtoras de conteúdos
cuidadoso de predadores sexuais via impróprios destinados a crianças e
mecanismos de multimídia. adolescentes.

FONTE: Tono, 2021.

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Observa-se acima que pais empolgados com as TDICs presenteiam seus
filhos – até mesmo na primeira infância – com dispositivos móveis e desconhecem
ou não participam das suas atividades online por considerarem a internet inofensiva.
Muitos conteúdos com conotação sensual aos quais são expostos acabam sendo
assimilados com naturalidade por crianças e adolescentes, o que os torna mais
vulneráveis a abordagens de predadores sexuais. Os pais devem ser presentes,
orientar e monitorar a vida digital dos filhos e determinar um padrão do que é tido
como bom e adequado, considerando a sua faixa etária e nível de maturidade.
Ademais, precisam dosar o próprio o tempo gasto com as telas, uma vez que seus
filhos se espelham neles. Por outro lado, produtores digitais devem ser
responsabilizados pelos conteúdos impróprios destinados ao público infanto-juvenil.
Diante dessas questões, além da formação de pais e professores responsáveis, é
necessário que sejam implementadas campanhas e ações de conscientização e
prevenção sobre riscos e efeitos nocivos das TDICs quando utilizadas por crianças e
adolescentes sem criticidade, orientação e monitoramento.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O ambiente virtual dá a falsa sensação de privacidade e muitos pais creem


que seus filhos estão em segurança no ambiente doméstico ao utilizar equipamentos
eletrônicos conectados à internet, seja para diversão, contato com amigos ou
atividades escolares. É um paradoxo observar-se que em geral orientam os filhos a
não falar com estranhos no “mundo físico”, mas não têm os mesmos cuidados
quando estes transitam no “mundo virtual”, onde é possível a interação
“todos-todos”, ou seja, com bilhões de usuários de qualquer país do mundo, muitos
dos quais envolvidos em redes de pedofilia e exploração sexual infanto-juvenil.

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Crianças e adolescentes precisam de orientação, supervisão, controle
parental para exercer a cidadania digital à medida em que vão amadurecendo física,
mental, moral, espiritual e socialmente. Para tal, carecem de educação digital que
deve ser reconhecida como direito fundamental, cuja prestação – em todos os níveis
de ensino – inclui a capacitação para o uso seguro, consciente e responsável da
internet como instrumento para o exercício da cidadania.
Contudo, um obstáculo a ser superado é o hiato digital entre gerações, uma
vez que grande contingente de pais, educadores, atores do SGD e políticos tem
dificuldade tanto para compreender as ações e interação de crianças e adolescentes
no mundo virtual, quanto para ajudá-los a identificar e evitar riscos online. Em função
disso, faz-se necessário que busquem a sua própria adaptação, inclusão e
educação digital.
Em suma, o grande desafio a ser enfrentado pela família, pela sociedade e
pelo Poder Público consiste em garantir a proteção integral de crianças e
adolescentes também no amplo e complexo ambiente virtual a fim de prevenir a
ocorrência de ameaça ou violação de seus direitos e prepará-los para o exercício da
cidadania digital.

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