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1 INTRODUÇÃO
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quando completaram 14 anos de idade. Steve Jobs limitava o uso de telas e proibia
os filhos de usarem o recém-criado iPad. Chris Anderson, ex-diretor da revista Wired
afirmou que “na escala entre doces e crack, isso [uso de tecnologia] está mais
próximo do crack”. Pierre Laurent, engenheiro de computação que trabalhou na
Microsoft, só deu um celular ao filho mais novo quando este estava com 14 ou 15
anos. Alertou ainda que produtos gratuitos oferecidos permitem a coleta de dados do
usuário e a colocação de anúncios. Acrescentou que os aplicativos são projetados
para que o usuário gaste o máximo de tempo diante das telas (SILVA, 2020).
Em segundo lugar, é oportuno mencionar que sites e aplicativos de redes
sociais como Facebook, WhatsApp, TicToc, Snapchat, Twitter, cujo objetivo é auferir
lucro, fixam a idade mínima de 13 anos para acesso e uso de seus serviços.
Em terceiro e último lugar, a rede mundial de computadores viabiliza
comunicação com qualquer pessoa do planeta, com as mais diversas intenções, até
mesmo para a prática de crimes.
Será que a conduta e observações de Bill Gates, Steve Jobs, Chris
Anderson e Pierre Laurent, enquanto pais e conhecedores do mundo e do mercado
tecnológico como poucos, o critério etário estabelecido por sites e aplicativos de
redes sociais e a possibilidade de conexão com bilhões de pessoas de qualquer país
do mundo não servem de alerta para a necessidade de proteção da criança e do
adolescente quanto aos riscos a que estão expostos no ambiente digital?
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de produção de mercadorias e grande desenvolvimento tecnológico. A Digital, em
curso, consiste no movimento de inserção de novas TDICs, destacando a
popularização da rede mundial de computadores, a partir dos anos 1990 (SYDOW,
2015, p.19-21). Deu origem à denominada “Sociedade da Informação”, que “(...) se
insere no contexto histórico da sociedade pós-industrial, marcada pela evolução
tecnológica, que de tão profunda e intensa, trouxe novo conceito de vida e
organização em sociedade, penetrando nas mais diversas relações sociais"
(FIORILLO e CONTE, 2016, p. 17-18).
Os equipamentos eletrônicos conectados à internet não são apenas
ferramentas que facilitam a comunicação, a informação, as atividades pessoais e
profissionais cotidianas (SYDOW, 2015, p. 20). Vão muito mais além: são
responsáveis pela remodelação de conceitos, das relações sociais e das tecnologias
anteriormente existentes. A rede mundial de computadores: (a) elimina fronteiras,
uma vez que permite a comunicação com pessoas de qualquer parte do planeta,
desde que conectadas; (b) elimina barreiras espaço tempo já que permite escapar
às limitações da vida real (mundo físico); (c) substitui os padrões de interação
“um-um” (telefone) e “um-todos” (televisão, rádio, jornal) por “todos-todos” (todos os
usuários conectados na rede virtual) (FIORRILLO e CONTE, 2016, p. 27-28).
Nesse cenário e por serem vulneráveis, crianças e adolescentes carecem de
educação digital, controle parental e de orientação de adultos confiáveis – entre eles
os profissionais do Sistema de Garantia dos Direitos da Criança e do Adolescente
(SGD) – no que concerne às suas atividades online. Precisam de proteção quanto a:
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(a) riscos de contato – cyberbullying1, cyberstalking2, grooming3, por exemplo; (b)
riscos de conduta – uso indevido de dados, abuso financeiro e comportamento
inadequado: e (c) riscos de conteúdo – pornografia, materiais sobre abuso sexual,
violência, jogos e apostas (UNESCO e UIT, 2020, p. 36-39).
Mas como oferecer orientação, educação digital e controle parental
considerando a lacuna digital entre as gerações? Há grande contingente de “(...)
pais, responsáveis, educadores e políticos (...) sem os recursos necessários para
compreender a vida digital de crianças e adolescentes, ou para ajudá-los a entender
e evitar os riscos online” (UNESCO e UIT, 2019, p. 14). Logo, espera-se deles –
pais, responsáveis, educadores e políticos – e de todos os atores do SGD ao menos
“(...) habilidades digitais básicas: o suficiente para ajudar crianças e adolescentes a
obterem o máximo de benefício do fato de estarem conectados, ao mesmo tempo
em que reconhecem e respondem apropriadamente aos perigos em potencial”
(UNESCO e UIT, 2019, p.26). Compete a todos buscar informação e formação para
o uso saudável, responsável e seguro das TDICs.
Ainda, cabe especialmente aos pais e professores oferecer educação digital
às crianças e adolescentes para que possam exercer a cidadania digital, o que
pressupõe letramento, etiqueta e segurança digitais. O letramento consiste em
conhecer as propriedades e modos de uso dos recursos digitais, enquanto a
etiqueta refere-se à conduta e às formas de interação no que diz respeito ao uso da
linguagem, à própria exposição e a de terceiros no ciberespaço. Já a segurança
corresponde às precauções necessárias para garantir a proteção de dados
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Cyberbullying configura-se na intimidação sistemática na internet para depreciar, incitar a violência,
adulterar fotos e dados pessoais com o intuito de criar meios de constrangimento psicossocial.
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Cyberstalking consiste na perseguição praticada online. A Lei nº 14.132/2021 incluiu no Código
Penal o crime de perseguição (art. 147-A), cuja pena é aumentada se cometido contra criança ou
adolescente.
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Grooming caracteriza-se na sedução empregada por adultos que fingem ser da mesma faixa etária
da criança ou adolescente com a intenção de se aproveitar sexualmente da vítima.
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(DOCUSIGN, 2018). Essa incumbência decorre do fato de ser “dever de todos
prevenir a ocorrência de ameaça ou violação dos direitos da criança e do
adolescente”, conforme previsto no artigo 70, do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA) – Lei nº 8.069/1990.
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Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao
jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão.
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sensoriais, intelectuais e mentais dos usuários, segundo o art. 7º, XII, do mesmo
texto legal.
O MCI prevê o controle parental do conteúdo considerado impróprio a seus
filhos menores de 18 anos, por meio de programa de computador, respeitados os
princípios do ECA, e atribui ao Poder Público a responsabilidade de apoiar os pais e
responsáveis na escolha de programas de controle parental, em conjunto com os
provedores de conexão e de aplicações de internet e com a sociedade civil (art. 29).
Entretanto, conforme a psicóloga Enck “não adianta os pais simplesmente
proibirem a utilização dessas tecnologias, porque os filhos encontrarão formas de
chegar a elas (...) o fundamental é os pais assumirem a responsabilidade de educar
as crianças para lidar com o mundo virtual” (LOPES, 2019). O monitoramento deve
ser baseado na confiança, caso contrário o filho tenderá a adotar conduta mais
secreta e, possivelmente, mais perigosa (EBERLIN, 2020, p. 134).
O MCI, ainda, dispõe que o cumprimento do dever da prestação da
educação, em todos os níveis de ensino, constitucionalmente atribuído ao Estado,
“inclui a capacitação, integrada a outras práticas educacionais, para o uso seguro,
consciente e responsável da internet como ferramenta para o exercício da cidadania,
a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico” (art. 26).
Aliás, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) caminha nesse sentido ao
estabelecer entre as competências gerais da educação básica, a compreensão,
utilização e criação de TDICs “(...) de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas
diversas práticas sociais (...)” para fins de comunicação, acesso e disseminação de
informações, produção de conhecimentos, resolução de problemas e exercício do
protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva (BRASIL, 2018, p.9).
Pode-se então concluir que a educação digital deve ser reconhecida como
um direito fundamental e que os professores têm mais uma incumbência: investir
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não somente na inclusão digital dos alunos, mas também na formação de sua
cidadania digital. Não basta disponibilizar equipamentos eletrônicos e ensiná-los a
utilizar as suas várias funções, é imprescindível orientá-los “(...) a zelar pela
segurança digital bem como agir de forma ética e legal” (PINHEIRO, 2021, p. 542).
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[...] a simples entrega de um smartphone ou tablet conectado à internet a
crianças ou adolescentes torna-os vítimas em potencial de milhares – se
não, milhões – de cibercriminosos, nacionais e estrangeiros, que buscam na
ingenuidade típica de pessoas em desenvolvimento uma brecha para se
locupletar ilicitamente e auferir vantagens nem sempre com viés econômico.
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dignidade sexual pode, de modo reflexo, vitimar a sociedade. Para embasar tal
afirmação, menciona um trabalho realizado na Universidade de New Hampshire –
EUA, intitulado “A exposição da juventude a material sexual não desejado na
internet – uma pesquisa nacional de riscos, impactos e prevenção”, realizada com
pessoas de 10 a 17 anos de idade. Seus pesquisadores concluíram que o resultado
dessa exposição é o “(...) desenvolvimento de uma atitude de leniência quanto a
incidentes de estupro e violência sexual” (SYDOW, 2015, p. 201).
Tono (2021) abordou questões semelhantes, convertidas no quadro a seguir.
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Observa-se acima que pais empolgados com as TDICs presenteiam seus
filhos – até mesmo na primeira infância – com dispositivos móveis e desconhecem
ou não participam das suas atividades online por considerarem a internet inofensiva.
Muitos conteúdos com conotação sensual aos quais são expostos acabam sendo
assimilados com naturalidade por crianças e adolescentes, o que os torna mais
vulneráveis a abordagens de predadores sexuais. Os pais devem ser presentes,
orientar e monitorar a vida digital dos filhos e determinar um padrão do que é tido
como bom e adequado, considerando a sua faixa etária e nível de maturidade.
Ademais, precisam dosar o próprio o tempo gasto com as telas, uma vez que seus
filhos se espelham neles. Por outro lado, produtores digitais devem ser
responsabilizados pelos conteúdos impróprios destinados ao público infanto-juvenil.
Diante dessas questões, além da formação de pais e professores responsáveis, é
necessário que sejam implementadas campanhas e ações de conscientização e
prevenção sobre riscos e efeitos nocivos das TDICs quando utilizadas por crianças e
adolescentes sem criticidade, orientação e monitoramento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Crianças e adolescentes precisam de orientação, supervisão, controle
parental para exercer a cidadania digital à medida em que vão amadurecendo física,
mental, moral, espiritual e socialmente. Para tal, carecem de educação digital que
deve ser reconhecida como direito fundamental, cuja prestação – em todos os níveis
de ensino – inclui a capacitação para o uso seguro, consciente e responsável da
internet como instrumento para o exercício da cidadania.
Contudo, um obstáculo a ser superado é o hiato digital entre gerações, uma
vez que grande contingente de pais, educadores, atores do SGD e políticos tem
dificuldade tanto para compreender as ações e interação de crianças e adolescentes
no mundo virtual, quanto para ajudá-los a identificar e evitar riscos online. Em função
disso, faz-se necessário que busquem a sua própria adaptação, inclusão e
educação digital.
Em suma, o grande desafio a ser enfrentado pela família, pela sociedade e
pelo Poder Público consiste em garantir a proteção integral de crianças e
adolescentes também no amplo e complexo ambiente virtual a fim de prevenir a
ocorrência de ameaça ou violação de seus direitos e prepará-los para o exercício da
cidadania digital.
REFERÊNCIAS
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efeitos nocivos da rede. In: Revista Consultor Jurídico. (15 jan 2017). Disponível
em:
http://www.conjur.com.br/2017-jan-15/processo-familiar-abandono-digital-expoe-crian
ca-efeitos-nocivos-internet.
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Mecum RT.16 ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2019.
DOCUSIGN. Cidadania digital: tudo o que você precisa saber! 25 jun 2018.
Disponível em: https://www.docusign.com.br/blog/cidadania-digital.
GARCIA, Flúvio Cardinelli de Oliveira. Segurança na era digital em face dos crimes
cibernéticos. In: Família & Tecnologia: promoção do uso inteligente da
tecnologia no seio da família. Secretaria Nacional da Família (Coord.). Brasília:
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KASPERSKY. Sete a cada dez crianças brasileiras têm o próprio celular antes
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https://www.kaspersky.com.br/about/press-releases/2020_sete-a-cada-dez-criancas-
brasileiras-tem-o-proprio-celular-antes-dos-10-anos.
PINHEIRO, Patrícia Peck. Abandono digital. In: PINHEIRO, Patrícia Peck (Org.)
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Disponível em:
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SYDOW, Spencer Toth. Crimes Informáticos e suas vítimas. São Paulo: Saraiva,
2015.
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COMISSÃO DE BANDA LARGA PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
FORMADA PELA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A
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Disponível em:
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