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Arco 1: Ascensão

Uma manhã gelada

Mais um dia, mais um começo de rotina para Lídia, a garota está


deitada em sua cama, ela olha para o teto friamente, aguardando seu
despertador tocar, “acordei 20 minutos antes do relógio” é o seu
pensamento, a garota luta para manter seus olhos abertos diante ao
sono colossal, são 4:40 da manhã e faz 19 graus, Lídia se senta na cama
com certa dificuldade, o corpo dormente ainda despertando torna a
situação ainda mais desagradável, a garota se levanta sem demonstrar
preocupação com a bagunça, ela segue até o banheiro lentamente,
soltando murmúrios quase inaudíveis, semelhante a um zumbi, ela
entra em seu banheiro e cuida de sua pessoa, ao se olhar no espelho, a
garota toma um susto ao ver o rosto amassado e marcado pela textura
da cama, ela molha o rosto para afastar o sono e escova os dentes,
cuidando de sua saúde em um silêncio sepulcral, mas apesar de tudo
isso, sua mente apenas desperta realmente apenas quando o som
extremamente doloroso do despertador de seu bracelete toca, “5:00 da
manhã, agora a rotina começa”, a garota entra em seu chuveiro e gira o
registro, ao sentir o toque gélido da água com seu corpo, o choque
térmico faz com que cada nervo de seu corpo se ative numa onde de
calafrios, o dia acaba de começar para Lídia.

A garota veste seu suéter de cor cinza com listras finas de cor preta, ao
vestir sua calça moletom e calçar suas botas, Lídia vê seu cachecol
jogado na cômoda, apesar de estar em 2090, Lídia sempre preferiu um
estilo de vida mais rústico, preservando a cultura dita “antiquada” pela
sociedade atual, Lídia enrola seu cachecol em seu pescoço, o mesmo
tem tons de verde e amarelo bem desbotados, mas que denotam o
senso patriótico da garota, ela pega uma fatia de pão e sai de seu
dormitório, ao fechar a porta, o som da trava automática é ouvido,
indicando que não poderá voltar para o quarto até o fim do expediente,
ela segue pelo corredor até chegar na escada que leva para o campus
do internato, as paredes feitas de metal coberto por gesso soltam
ruídos estranhos, vindos do encanamento abaixo das escadas, o som
ecoa entre a estrutura dos dormitórios, conforme desce as escadas,
Lídia percebe vários cartazes de bandas, grupos de auxílio popular e,
principalmente, grupos revolucionários contra o governo, “Mal sabem
eles que os governantes são só engrenagens de uma máquina maior”,
pensa a garota, ao repousar seu dedão sobre o leitor de digitais ligado à
porta de vidro no fim das escadas, um Bip é ouvido, a porta desliza
entre uma fenda na parede e o frio da manhã adentra pelo corredor,
Lídia se sente aliviada por ter se agasalhado de antemão, ao sair do
local, ela respira bem fundo e fecha os olhos, como se puxasse forças
para seguir em frente, e o faz, virando para a direita, andando pela
calçada vazia, ela observa a praça central em frente a porta do
dormitório, a praça está vazia e adormecida, não há sinal de pássaros
ou drones de segurança, afinal, é bem difícil haver algum aluno fora de
sua cama em um horário tão atípico, ao andar por alguns metros, ela
atravessa a rua sem preocupação até a entrada da praça, as grades em
forma de lança sempre a intrigam, sempre se pergunta como seria se
alguém caísse sobre elas, um pensamento peculiar até para ela, ao
passar pelo arco da entrada da praça, ela se dirige até o centro do local,
uma estátua com 4 bancos em volta, os bancos são alinhados com as 4
entradas da praça, cada um tem uma letra: N, S, L e O, indicando os
respectivos pontos cardeais, a escola fica na direção do N, Lídia rodeia
a estátua com a cabeça baixa, encarando o chão, a garota percebe
alguém deitado no banco N, ela suspira e se aproxima do indivíduo, um
rapaz baixo, vestido com roupas pretas com listas brancas nos locais
da costura, o mesmo está olhando para cima fixamente, concentrado,
Lídia toca em sua testa e solta um pequeno riso:

- Você não muda, né? – diz Lídia, o rapaz a encara e sorri de orelha a
orelha.

– Claro que mudo, mas depende da situação, bom dia Lili – o rapaz se
senta no banco, Lídia se senta ao seu lado e o abraça.

– Bom dia Giovani, com gás de sobra, como sempre – Giovanni aperta
Lídia ao sentir o abraço, o garoto adora a sensação de um abraço
sincero, e os abraços de sua irmã mais velha sempre são sinceros, Lídia
solta Giovani e fica debruçada no banco.

– Gigi, tava fazendo oque? – Fala Lídia.

- Olhando a ferrovia que estão fazendo sobre o campus – Ele aponta


para cima, uma grande estrutura semelhante a uma ponte colossal está
sendo preparada – É imensa, vai facilitar bastante pros alunos novos
chegarem.

-Você tá realmente animado pros novatos, né? – Diz Lídia – Eu não ligo
muito, essa galera sempre chega com o nariz empinado, se achando os
donos do pedaço.

- Olhe pelo lado bom, teremos mais gente pra conversar e brincar! –
Giovani balança suas mãos, gesticulando conforme fala.

-Você tem 16 anos, mas parece ter uns 10, mas eu te amo mesmo
assim, só não vai se envolver com idiotas, tá?

-Pode deixar Lili, eu vou dar meu melhor! – Giovani se levanta


rapidamente ao ver os colegas de turma irem para a escola, abraça sua
irmã novamente e vai correndo até o local, Lídia ri baixo e se levanta, a
garota suspira e olha para a estátua com um certo ar de tristeza, ela
segue em frente ao ver as alunas irem para a escola, elas encaram Lídia
com desgosto, talvez seja sua postura mais retraída, ou seu nome que é
conhecido pelo colégio? Nada disso importa, se ela tiver seu irmão
consigo, ela vai andando até a escola tranquilamente, ignorando os
murmúrios de julgamento que suas colegas soltam conforme a
observam, “Por que não tomam conta de suas vidas? Me deixem em
paz porra!”, seus pensamentos ardem, mas nunca são soltos, seria uma
catástrofe se fosse para a diretoria e sujasse, de fato, seu nome fosse
sujo por conta de uma briga sem sentido, afinal, carregar o nome da
escola é algo inédito para uma adolescente em Ascenção.

Ao chegar na escola, é feita a chamada em uma grande tela na entrada


do local, o grande salão repleto de alunos com nomes conhecidos
nunca esteve tão cheio, os rostos bonitos e limpos refletem o nível
daquela instituição, Lídia é uma das veteranas da sua turma, por ser
uma das alunas mais talentosas do internato, mas também uma das
mais misteriosas, todos que chegam no colégio tentam retirar
informações dela ou de seu passado, durante a chamada, é comum que
cada aluno grite o lema de sua família ao invés de simplesmente dizer
“presente”, os calouros normalmente são tímidos, afinal, estamos
falando de gritar seu nome e o seu lema na frente de, no mínimo, 200
alunos.

Conforme os lemas são ditos, Lídia e Giovani se encontram para dizer


seu lema juntos, os calouros observam os 2 com certa dúvida, não é
dito normalmente sobre o irmão de Lídia, é bem raro alguém conhecer
o garoto de antemão, durante a chamada, 2 rapazes chamam a atenção
do povo, um deles veste uma roupa oriental, uma jaqueta branca com
uma plumagem rosa ao redor do pescoço e o circulo vermelho nas
costas, o outro é maior, tendo até barba, veste uma roupa acinzentada,
com detalhes de circuito pelo tecido, os dois parecem bem próximos,
mas o olhar sério dos dois intriga Lídia e Giovani, que se aproxima de
sua irmã e diz:

-Aqueles dois são da minha turma, devem ser estrangeiros – Diz


Giovani, sussurrando.

-Eles parecem bem sérios, se for falar com eles, não vai arranjar treta –
diz Lídia.
- Eu não vou, relaxa – diz Giovani, os irmãos ficam ouvindo os berros
dos alunos, cada um em seu próprio tom e estilo, até que chega a vez
do rapaz de branco, ele vai para o centro do salão, de frente para a
grande tela, uma voz robótica e feminina ecoa das caixas de som

- Identifique-se e diga seu lema – Diz a voz da tela, ela mostra o rosto
do rapaz, um rosto com olhos levemente puxados e um cabelo negro e
liso, denotando seus traços asiáticos.

- ERICK MONTE BRANCO, MEU CODINOME É BURANKO... – Ao dizer


seu nome, Erick respira fundo, concentrando suas forças – NOSSA
VIDA É LUTAR PELO QUE CONQUISTAMOS, PROTEGER O QUE
SONHAMOS E DERROTAR OQUE TEMEMOS, HAI! – Ao dizer seu lema,
ele mantém seus olhos na tela, tentando esconder seu nervosismo.

- Acesso permitido, bem-vindo a Escola de Tecnologia V.K – o chão


abaixo dos pés de Erick se eleva, revelando ser um elevador, o teto se
abre e leva Erick para os andar de sua turma.

Chegada a vez do outro calouro misterioso, ele espera a plataforma


descer, e assim que o mecanismo adentra o solo novamente, o grande
rapaz vai para o centro, o mesmo processo se repete:

-EDUARDO JOSEFINO DE ALAMEIDA, NOSSA FORÇA NÃO VEM DOS


MÚSCULOS, MAS DA FORMA QUE OS USAMOS! – assim que ele
termina, ele volta sua visão para todos, ele fica admirado com os
olhares surpresos, sua voz grave unida a sua postura e tamanho mais
avantajado denotam um ar superior, apesar disso, o rapaz mantem os
punhos cerrados, escondendo sua timidez.

- Acesso permitido, bem-vindo a Escola de Tecnologia V.K.


A plataforma se ergue, repetindo o processo anterior, quando é
chegada a vez de Lídia e Giovani, os dois vão para o centro juntos, a tela
os identifica:

-Digam o seu lema – Diz o computador, os calouros olham entre si, se


perguntando o porquê daquele tratamento diferente

- O PECADO É O QUE NOS TORNA HUMANOS, SUPERAR O PECADO É


OQUE NOS TORNA SUPERIORES – ao gritarem seu lema, a plataforma
se eleva na hora.

- Bem-vindos de volta, legítimos filhos de V.K.

Dentre os alunos que observam a cena, a falação se inicia, nunca foi


visto algo do tipo, o termo “Filhos de V.K” torna a existência dos irmãos
ainda mais misteriosa, em meio aos novatos, um rapaz encapuzado e
vestido com uma jaqueta com circuitos expostos em meio aos rasgos
do tecido observa tudo com um leve sorriso, o mesmo ajeita a mecha
de cabelo em seu rosto com um sopro, ao invés de ficar ali e esperar, o
rapaz se retira do local pela única entrada e saída da escola, 2 alunos o
perseguem, um deles saca um canivete de íon e o liga:

-Seguinte, ou passa a jaqueta, ou a gente abre sua garganta aqui


mesmo – Diz o aluno mais magro e que carrega o canivete.

-Cai entre nós, você não quer sacrificar todo o esforço dos seus pais
pra te por aqui, né? Quer dizer, você usa umas roupas rasgadas e
parece ter vergonha de seu rosto, deve ser algum pobretão HAHAHA –
Diz o aluno maior, caçoando da aparência do rapaz.

-Ah, fala do meu estilo? – o rapaz de jaqueta olha para os dois por cima
do ombro, seu sorriso brilha com a luz do dia, seus dentes são afiados e
seu olhar emana uma luz avermelhada bem estranha – Abaixem a
guarda, e eu deixo vocês irem pra aula.

- Aula? A gente veio pra ‘catar’ as coisas dos flanelinhas desse colégio –
Diz o menor, o mesmo apoia seu braço no rapaz de jaqueta, deixando o
canivete próximo do pescoço do rapaz.

-Blefar não funciona, você é 1 e somos 2, sem contar que não parece
muito forte HEHEHE – o maior fica a frente do rapaz de jaqueta.

-Blefar? Eu não blefo a anos... agora, se me dão licença – o rapaz segura


o pulso do menor e desfere uma cotovelada nas costelas do aluno, o
som das costelas rachando e o sangue saindo da boca dele denotam a
letalidade do golpe, assim que o maior se aproxima, o rapaz de jaqueta
pega o canivete e o joga para cima.

-ARROMBADO! – O maior desfere um potente soco de esquerda, o som


do mecanismo em seus braços revela o exoesqueleto mecânico abaixo
de sua camisa de manga cumprida, seu adversário desfere um tapa
com a mão direita sobre o antebraço, desviando do golpe e encaixando
uma potente joelhada em seus testículos, fazendo o maior vomitar.

- Eu avisei – o rapaz de jaqueta pega o canivete que foi jogado para


cima e o finca na nuca do maior, matando o mesmo no processo – Essa
geração não sabe escutar... mas não muda muita coisa – o rapaz
arranca o canivete da nuca do grande cadáver e o desliga – Na minha
época, a gente usava metal puro – ao guardar o canivete, o rapaz estala
os dedos e algumas pessoas surgem dos becos e corredores ao redor
da escola, os indivíduos vestidos de terno e com capacetes que cobrem
todo o seu rosto removem os corpos e limpam o sangue em alguns
segundos, de forma veloz e eficiente, o rapaz de Jaqueta tira seu capuz,
revelando seus cabelos encaracolados e seus olhos que lembram os de
um felino, ele segue seu caminho ao redor da escola até desaparecer
nas sombras.

10:40 da manhã, aula de história, Lídia está sentada em sua carteira no


canto próximo a janela, a sala tem 10 metros de comprimento e 20 de
largura, o tamanho padrão dos tempos modernos, ela olha pela janela,
entediada, olhando para o subúrbio além do morro em frente a entrada
do internato, “Como será a vida de quem mora nos subúrbios? Dizem
que comem lixo e reutilizam os nossos restos... acho isso meio
exagerado”, os pensamentos de dúvida enchem sua mente a cada
segundo passado, os pensamentos só cessam quando o assunto da aula
muda tão repentinamente

-Alunos, agora que a parte chata da história já foi, vamos falar do que
interessa, a crise de 2077, quem aqui pode me contar a história? – diz o
professor, alguns alunos se arriscam e erguem as mãos, alguns mais
timidamente que outros, Lídia se vê tentada a erguer sua mão, mas no
momento em que está prestes a fazer a ação, um microfone fino em
forma de bastão se ergue da carteira de uma garota no canto oposto da
sala, a garota é ruiva e tem circuitos em seu ombro direito, além de um
chip na lateral direita de seu rosto, sua voz doce enche a sala através
das caixas de som:

-A crise de 2077 foi o momento em que nossa nação se tornou um


exemplo evolutivo diante o caos do mundo naquela época, apesar do
caos momentâneo – Diz a ruiva, com um tom orgulhoso e quase
sedutor.

-Pois bem alunos... a senhorita Rodriguez respondeu da forma


historicamente correta, mas...- o professor sente o incômodo no ar ao
olhar Lídia encarando a garota ruiva, ele é interrompido pelo tom
agressivo na voz de Lídia

-Momento em que nossa nação se tornou um exemplo? Sério? É isso


oque aprendeu com suas aulinhas particulares? – diz Lídia, encarando
a garota com um olhar de puro ódio.

-Hm... sim? Eu recebi o que a renda dos meus pais permitiu que eu
recebesse, seus pais te negaram isso? – Diz a garota com um sorriso de
canto.

-Não, eu não recebi por quê meus pais ESTÃO MORTOS! – Diz Lídia ao
se erguer da carteira, os colegas de sala apenas se silenciam, nervosos
com a situação.

- Meninas... vamos nos acalmar – Diz o professor.

-Eu estou perfeitamente calma, professor – Diz a ruiva, se debruçando


sobre o encosto da cadeira.

-Acalmar? NÃO TEM COMO EU ME ACALMAR! – Lídia se aproxima da


garota, passando pelos esforços de seus colegas de segurá-la, alguns
dos veteranos já conhecem seu jeito – Quem você pensa que é pra ter
tanto orgulho?

-Eu? Sou Carmem Donatelo Rodriguez, muito prazer, e você é?

-Lídia, Lídia Valentino Keys.... – Ao dizer aquilo, Lídia percebe os


olhares curiosos de seus colegas, principalmente os calouros.

-Olhe só... então essa é a lendária Lídia, a prodígio do Internato mais


famoso do Brasil, eu esperava alguém mais exemplar – Diz Carmem,
mantendo seu olhar orgulhoso.
Lídia respira o mais fundo que pode e, após suprimir todos os seus
sentimentos, ela toma a coragem para falar.

-Me... desculpe pela minha postura, esse assunto é muito delicado para
mim, srta. Rodriguez – Diz Lídia, olhando nos olhos de Carmem.

-Oh, desculpada, e que isso não se repita, Valentino, não serei tão
piedosa se acontecer de novo.

Lídia suspira de alívio ao ouvir a sirene da escola, hora do recreio, um


intervalo de 11:30 até 13:00, o momento mais esperado para os jovens
do internato, assim que Lídia chega no corredor, mais uma vez o ódio
se ascende em seu ser.

- Desculpe por falar dos seus pais, Valentino, mas aposto que não
fariam diferença alguma em uma vira lata mestiça como você – Diz
Carmem, caçoando de Lídia, que respira fundo novamente e cerra seus
punhos, a pressão é tanta que acaba furando suas mãos com as
próprias unhas, Lídia segue pelo corredor até a saída, a maior parte
dos alunos novos já haviam corrido para a cantina, enquanto os mais
velhos andam lentamente pelo corredor, Lídia segue seu caminho,
pensativa com as falas de Carmem, “Mestiça... é, eu sou um lixo
mestiço, mas me recuso a ser a ferida por uma patricinha mimada
como ela” , Lídia olha suas mãos e vai para seu armário, tocando no
leitor digital, após ouvir o Bip, a porta do armário de 2 metros gira 90
graus e entra na fenda feita para comportar a porta, Lídia pega algumas
gazes e álcool e, após passar em suas feridas e pôr o algodão, ela
enfaixa suas mãos, a ardência dói menos que as palavras de Carmem,
“Mais um dia suprimindo meus sentimentos... isso é uma merda, sério,
uma merda sem igual”, Lídia pega um pacote de fandangos, abre e cata
um bolo de salgadinhos, ela segue caminhando furiosa pelo corredor,
sua compulsão acabou atacando, sentindo a angústia crescente em seu
ser, mas todo esse bolo de sentimentos sessa ao descer pela plataforma
do salão de entrada e ver Giovani todo ensanguentado, de pé, em frente
a um grupo de homens vestidos com jaquetas pretas com pequenos
espinhos prateados pelo tecido, Giovani está ofegante, exausto, com os
punhos sangrando, Lídia larga os fandangos e pula da plataforma em
movimento, pousando ao lado do mesmo, ela percebe o estado de seu
irmão, que para sua surpresa, está em choque.
Chama interna
10:30 da manhã, Giovani está calmo e alegre com seu dia, já que estava
matando aula por julgar a matemática entediante, considerando que
faz os cálculos de suas invenções com pouca teoria e mais “Tentativa e
erro”, o garoto passeia pelo longo corredor do 2º andar da escola, cada
andar é respectivo ao ano letivo, sendo o térreo o andar do
fundamental I e II, Giovani passa por alguns trombadinhas encostados
em seus armários e usando Choke, uma droga nova no mercado, um
gás que é inalado através de uma máscara, semelhante aos cachimbos
de crack no início dos anos 2000, os trombadinhas estão em volta da
porta da oficina da escola, normalmente fechada ou usada pelos alunos
para matar a aula, Giovani passa pelos trombadinhas, cumprimentando
com um sorriso alegre:

-Io! Bom dia, amigos – Diz Giovani, entrando na sala tranquilamente.

Ao entrar na sala, cheia de peças e partes mecânicas já antiquadas,


Giovani dá um salto e se senta em uma cadeira com rodinhas, uma
velha cadeira de escritório azul, girando rapidamente, ele cruza as
pernas em posição de meditação enquanto gira, apoia sua cabeça em
sua mão e fica olhando para as peças e objetos pela sala.

-Música, preciso de música – Diz Giovani ao puxar de seu bolso uma


esfera com um led azul cortando o objeto horizontalmente, ao apertar
o objeto, a metade superior se abre e revela dois fones por indução
óssea, ele pega os fones e guarda a bolinha, encaixa os mesmos nas
orelhas, os fones se ajustam ao redor suas orelhas e algumas luzes
azuladas acendem, indicando a ativação do aparelho, Giovani toca em
seu bracelete no antebraço esquerdo e gira o pulso, um holograma
surge, mostrando uma pequena tela indicando a conexão com os fones,
o garoto escolhe a música Wonder of you, de Elvis Presley, que começa
a tocar no momento em que a cadeira para, o rapaz se levanta
rapidamente e vai correndo em volta das mesas, pegando cada peça e
apetrecho que tenha alguma utilidade, conforme enche seu balcão com
os itens, cada passo era sincronizado com a música, cantarolando
alegremente, os Trombadinhas na porta apenas observam a
empolgação do rapaz.

-Esse garoto é meio biruta, né? – Diz uma garota de cabelos cor-de-rosa
arrepiados e uma roupa de couro mostrando sua barriga.

-Deixa ele, é raro ver alguém puro hoje em dia, ver alguém assim me
faz ter esperança com a vida – dando uma tragada com a máscara,
inalando bastante Choke – deixa os cria ser feliz.

-Tem razão, toda a razão, essa empolgação vai levar ele além dos
horizontes –Diz a garota enquanto sorri, olhando Giovani.

Enquanto Giovani olha um de seus desenhos, montando algum tipo de


manopla, conforme sua playlist de músicas termina, o projeto toma
uma forma que faz não só o rapaz ficar empolgado como seus colegas,
que o observam, Giovani pausa a música e suspira.

-É agora... vamos ver se funciona agora – Diz Giovani, ao ligar um


amontoado de baterias de íon, do tamanho das pilhas de carrinho de
controle remoto do início do século XXI, aos circuitos do projeto, os fios
soltos e o maquinário expostos da manopla acabam dando um charme
a mais ao projeto, ver um projeto funcionar é o prazer de todo
inventor, é a frase que Giovani mais repete, ao encaixar sua mão direita
na manopla, os dedos dela se movem e contorcem, indicando o contato
dos dedos do garoto com os mecanismos, ao erguer a manopla, que
pesa cerca de 2 quilos e meio, o suspense toma o lugar, os
trombadinhas entram na sala, agora o grupo é maior, todos estão
curiosos com aquilo.

-Teste 58, eu decidi investir e produzi variações de baterias de íon,


esse é o 8º teste, estou otimista sobre isso – Diz Giovani após iniciar a
gravação de Áudio, assim como sua irmã, o garoto sempre preferiu a
vida rústica dos anos 2000 – Aqui vamos nós... de novo.

Ao ativar a manopla, um brilho azul celeste surge nos fios de cobre e


ouro dos circuitos, a manopla começa a se mover de forma mais suave
e orgânica, quase como uma mão humana.

-CACETE MOLEQUE, VOCÊ CONSEGUIU MESMO – Diz o trombadinha


mais velho, olhando aquilo com admiração.

-MANDOU BEM CARA! – Diz a garota trombadinha.

Os outros trombadinhas apenas aplaudem e assoviam, Giovani pega


uma barra grossa de metal e ferro e, ao pressionar com força, a
manopla lança vapor das juntas dos dedos, aumentando a força e
esmagando a barra como nada.

-Imaginem como isso ajudaria nossos exploradores? Nossas forças


armadas? Livrar nossa nação da corrupção, ajudar nossos soldados
que sofreram amputações... – Diz Giovani, falando mais para si mesmo
do que para seus espectadores.

A felicidade dura pouco, assim que repousa a manopla, as baterias de


íon acabam queimando os circuitos e estourando os mecanismos no
maquinário, queimando a mão de Giovani.

-CARA! TIRA ISSO! – Diz a garota trombadinha ao ajudar Giovani a tirar


a manopla, ela acaba queimando suas mãos, mas com menos
gravidade.
Giovani olha sua invenção quebrar e queimar os circuitos ali mesmo, o
pequeno choque elétrico faz com que as luzes da sala se apaguem, os
amigos da garota se aproximam pra ajudar, Giovani se levanta, com a
mão sangrando, e se aproxima de sua invenção, olhando para a mesma.

- Pô cara... sinto muito pela sua invenção, é sério... – Diz o trombadinha


maior, trazendo consigo algumas ataduras e uma pomada para
queimaduras – Aqui... Linda, faz os curativos pro garoto.

-Deixa comigo, chefia – Linda, A trombadinha, se aproxima de Giovani –


Ei... cara, me dá sua mão.

-Eu... fracassei de novo... – Diz Giovani, levantando sua mão direita com
desdém, o sangue quente e o choque do fracasso impedem o rapaz de
sentir a dor.

-Ei... você progrediu, a gente te viu melhorando a cada dia... – Linda vai
passando a pomada e enfaixando o antebraço.

-Mas... nunca funciona – Diz Giovani, com algumas lágrimas escorrendo


do rosto.

-Ei... – Linda puxa o queixo de Giovani de leve e enxuga suas lágrimas,


sua estatura avantajada acaba deixando Giovani levemente corado –
Vai funcionar, nós acreditamos em você, maninho – Diz Linda após
terminar de enfaixar o antebraço de Giovani.

-Eu... Obrigado, de verdade.... – Diz Giovani, sorrindo de canto.

O momento é interrompido quando Jon, o namorado de Linda e o


manda chuva de seu grupo de trombadinhas, chega na sala e vê a cena,
o Trombadinha maior se aproxima de Jon com um visível receio.
-Ei cara, não é bem isso que tá entendendo – Diz o trombadinha maior,
se posicionando a frente de Giovani.

-Cala a boca Kyle, eu sei bem o quê tá rolando aqui – Diz Jon, ao
empurrar Kyle e Linda da frente e cara a cara com Giovani, olhando o
mesmo de cima – O baixinho é galanteador.... e metido a inventor – Diz
Jon, olhando a sala e vendo várias invenções fracassadas do rapaz –
Você tem muita coragem de estar nesse andar, o andar dos veteranos,
brincando com a minha sucata, eu até relevei você brincando de
inventor, mas dar em cima da minha mina? Já é demais – enquanto
analisa Giovani, Jon repousa sua mão esquerda sobre o ombro direito
do rapaz.

-Desculpa, mas... quem é você mesmo? Eu sou morador dessa escola a


anos, e não me lembro de seu rosto – Diz Giovani, com um tom bem
neutro e um olhar estranhamente misterioso.

A forma de agir e falar de Giovani não só enfurece Jon, como também o


deixa levemente intimidado – SEGUINTE, CABELO DE PICHAIN, EU
VOU TE DEIXAR TODO QUEBRADO, TÃO QUEBRADO QUE SÓ VAI
PODER INVENTAR COISAS NUM SIMULADOR DE REALIDADE
VIRTUAL! – Ao dizer isso, Jon chuta a manopla quebrada contra a
parede, fazendo as baterias se soltarem das soldas e caírem na
tubulação de ar.

-Olha... Jon, né? Não sei se você sabe mas – Diz Giovani ao segurar o
pulso de Jon suavemente – Eu já vi gente de todo tipo nesse internato,
desde os mais ricos filhinhos de papai até os piores traficantes e
pedófilos, se eu estou vivo – apertando um pouco o pulso de Jon – É
POR QUÊ EU ENFRENTEI TODOS DE FRENTE – Diz Giovani, ao segurar
o pulso de Jon com as duas mãos e gira-lo, torcendo o mesmo, ao
mesmo tempo que dá um salto e chuta Jon com as duas pernas contra a
porta, jogando o mesmo pra fora.

-Droga... isso não vai dar bom – Diz Linda.

-Não mesmo, mas acho que o garoto resolve – Diz Kyle, levando Linda e
mais 3 trombadinhas para longe da briga.

O grupo que veio com Jon saca suas “armas”, bastões de ferro,
canivetes e correntes de bicicletas, são 7 homens, contando com Jon.

-MATEM ELE! MATEM AGORA! – Diz Jon, caído no chão e com uma dor
insuportável tanto no pulso quanto no corpo.

Os homens atacam Giovani de uma vez, visando cercar e espancar o


garoto ali mesmo, Giovani apenas segura os bastões de aço e, num
salto, desfere potentes chutes contra os armados com facas, segurando
com firmeza os bastões, chuta os joelhos dos dois homens e usa os
bastões como defesa para as correntes de bicicleta, Giovani se vê na
vantagem e, com uma forte joelhada, quebra o nariz e alguns dentes de
1 dos 2 homens ajoelhados, apagando o mesmo, e desfere um chute no
outro, deixando apenas os 4 remanescentes, os 2 armados com
canivetes vem com certa lerdeza, o rapaz agarra o pulso de um e o
desequilibra, fazendo com que um acabe esfaqueando o outro, após
isso, Giovani gira e joga o homem que está segurando contra o outro
com a corrente de bicicleta.

-Ei, é sério, como conseguiram essas correntes? A gente nem usa


bicicleta hoje em dia, orra! – Diz Giovani ao desviar dos ataques de um
dos trombadinhas com corrente, conforme desvia, acaba ficando de
frente pra sacada, apesar dos poucos danos, Giovani se sente motivado
e confiante, “O que aquele cara fez... ele humilhou a garota, agindo
daquela forma, ninguém merece uma vergonha daquela”, Giovani
segura o golpe do homem e prepara um soco, com toda a força, mas é
pego de surpresa por Jon, que após correr pela grande sacada do 3º
andar, agarra Giovani e se joga junto dele sacada abaixo, levando o
outro homem consigo, os 3 caem no teto do salão de entrada principal,
atravessando o mesmo, Giovani cai de costas no elevador do salão,
fazendo a plataforma descer, o homem que havia caído antes está
pendurado no buraco feito no teto, mas acaba escorregando e caindo
de boca ao lado de Giovani, que ao tentar pegar ar, começa a ser
sufocado por Jon, que tenta desesperadamente matar o garoto.

-E-Ei... espera... vamos conversar – Conforme sua consciência se esvai


junto do ar, Giovani se pega relembrando de sua vida, do sofrimento
em sua infância, dos fracassos e da frustração, mas suas forças
retornam ao lembrar de Linda e Kyle, que o apoiaram, apesar do breve
momento, e sua irmã, que cuidou dele desde que se entende como
pessoa, os pensamentos começam a acelerar e, sentindo uma energia
latente surgir em seu coração, e do seu coração para seus músculos,
Giovani agarra as mãos de Jon e, com uma cabeçada bem encaixada,
atordoa Jon e arranca alguns dentes dele, o golpe atordoa Jon, dando a
brecha para Giovani inverter sua posição, girando e ficando por cima
de Jon -Eu... não vou morrer aqui... minha irmã precisa de mim... –
dando golpes pesados contra Jon, esmurrando o rosto e o peito dele –
Eles precisam de mim.... precisam de alguém.... – cada golpe faz o
sangue esguichar, sujando o pequeno pingente com forma de cruz
pendurado em seu pescoço sujo, ao perceber aquilo, a consciência
retorna, assim que Giovani percebe o que fez, se levanta e se afasta de
Jon, que já havia apagado com a cabeçada – O que eu fiz?
Assim que fica olhando aquela cena, travado no lugar e sem saber
como reagir, a voz de sua irmã surge ao seu lado, abafada por um ruído
incessante em sua cabeça, fruto do estresse repentino.

Lídia soca seu irmão repetidamente, na esperança de acordá-lo:

-GIOVANI! GIOVANI! ACORDA PORRA! – Socando o irmão com força e


um desespero real.

-Lídia? O que houve... – Perdido em pensamentos, tentando entender o


que aconteceu à alguns minutos.

-EU QUE PERGUNTO SEU MONGOL! – Diz Lídia ao abraçar seu irmão,
ela faz uma verdadeira vistoria no rapaz, olhando as feridas – MEUS
DEUS GIGI! Você se quebrou todo...

-Olha... essas ataduras são... – Diz Giovani, mas a frase é interrompida


por uma explosão no 3º andar, chamas azuladas surgem na oficina e no
laboratório, além de uma fumaça negra repleta de pequenos raios
azulados – Mas que merda... é essa?

-Eu que pergunto.... Gigi – Diz Lídia, com um olhar desconfiado.

-Hehehe... pois é né... – Visível nervosismo.

Lídia segura Giovani, que se apoia na irmã passando seu braço


esquerdo por cima de seus ombros, a dificuldade de andar se deve
mais ao trauma nas costas e no cansaço, afinal, depois de um combate
desses, qualquer um ficaria exausto.

-Então, maninho, o que você fez? – Diz Lídia, após subir com Giovani
até os andares superiores.

-Eu não fiz nada! Eu juro – Diz Giovani, sorrindo de leve apesar do
sangue escorrendo de sua boca.
-Dá pra fazer uma lista com as coisas que você não fez – Diz Lídia,
enquanto cutuca o irmão nas costelas.

-AI! Tá doendo – Exclama Giovani.

-AH... foi mal – Andando pelo corredor, Lídia nota as pessoas correndo
desesperadas tentando apagar o fogo, Giovani nota Linda próxima as
chamas, chorando próxima de um corpo

-O que será que houve? – Sussurra Giovani para si mesmo, receoso com
o que houve ou, na pior das hipóteses, quem havia morrido.

Conforme andam pelo corredor, Lídia percebe alguns alunos e


moradores do internato no corredor, a maioria enfaixado e
reclamando, Giovani percebe que as queimaduras eram semelhantes
com as que teve em sua mão e antebraço direitos, porém, com uma
diferença, as queimaduras das outras pessoas pareciam crescer ao
pouco, como um fósforo queimando lentamente, algumas pessoas
pareciam sentir dor enquanto outras já não sofriam com as chamas,
mas apenas com as queimaduras.

Assim que os irmãos chegam na enfermaria, os dois entram


rapidamente e se sentam em uma das cadeiras:

-Fique aqui, vou pegar um pouco de gelo – Diz Lídia, ao dar um beijo na
testa do irmão, a garota vai até uma das geladeiras, passando pelas
enfermeiras, as mesmas cumprimentam a garota, perguntando sobre o
quê aconteceu nos laboratórios, mas Lídia decide encobrir o irmão,
apesar de não ter certeza sobre o culpado de tudo aquilo.

Enquanto Lídia prepara o gel criogênico, uma pasta com alto nível de
congelamento, Giovani fica na entrada da enfermaria, esperando, mas
fica pasmo ao ver Kyle sendo carregado em uma maca por Linda e
alguns trombadinhas:

-Linda! O que houve? – Diz Giovani ao ver que Kyle não só está
desacordado como sem o braço e perna esquerdos, além de parte do
corpo queimada.

-Garoto... eu não sei... tinha uns 2 carinhas no laboratório do lado e...


simplesmente explodiu.... eu... – Linda está em choque, aos prantos,
tudo o que ela faz é abraçar Giovani numa tentativa de se confortar.

-Ei.... calma, calma, vai ficar tudo bem, o Kyle vai ficar bem – Diz
Giovani, levando Linda para uma das cadeiras, os trombadinhas ficam
se cuidando, passando as pomadas para queimadura.

-Eu... eu não sei oque houve... algumas pessoas acham que foi você e a
sua invenção..., mas não é verdade – Diz Linda – Eu vi... a explosão veio
do lado...

-Tudo bem... eu provo minha inocência.... de alguma forma – Diz


Giovani em um suspiro – Você não parece muito ferida... isso é um
alívio, aquele tal do Jon é seu namorado?

-Sim... eu me arrependo de ter escolhido um babaca desse.... – Diz


Linda, em um visível tom de tristeza.

-Imagino que tenha seus motivos... você e seus amigos podem não ter o
melhor estilo de vida..., mas são boas pessoas – Diz Giovani, se
espreguiçando na cadeira, olhando Linda com um sorrisinho.

-Sim... todos temos nossas razões – Linda diz com um tom de alívio,
mas ao perceber o olhar e o sorriso de Giovani, acaba ficando corada,
olhando o sorriso do rapaz – Alias... eu ainda nem sei seu nome.
-Ah... Valentino – diz ao se ajeitar na cadeira – Giovani Valentino... você
pode me chamar de Gigi – Diz o rapaz com um sorriso meigo, apesar
das feridas.

-Eu saio por 5 minutos e já tá de paquera? – Diz Lídia, com um tom


ríspido e um olhar implacável – Quem é você?

-Linda, só Linda – Encarando Lídia nos olhos.

-Sem sobrenome? Bem, tanto faz – Diz Lídia ao encostar o pacote de gel
congelado nas costelas de Giovani.

-Ei... calma ai maninha! – Diz Giovani, sentindo a tensão no ar.

-Deixa eu cuidar dele também! – Diz Linda, limpando as feridas de


Giovani com um paninho.

Enquanto Giovani sofre com a tortura, uma voz feminina ecoa pelo
local, uma mulher de 1 metro e 80, pele parda e cabelos negros lisos
enrolados em um rabo de carvalho, com uma roupa de mulher
executiva e o brasão da escola.

-Vocês dois, Lídia e Giovani, venham comigo – Diz a mulher.

-Mas nós... – Os irmãos tentam retrucar.

-AGORA! – Diz a Mulher, chamando os dois com a mão.

Os três se levantam e vão até a mulher, mas Linda é impedida pela


mulher:

-Você não, fique com seu amigo, preciso lidar com aqueles dois eu
mesma – Diz a mulher para Linda.

-Sim... Diretora Keys – Diz Linda de cabeça baixa, ela se vira e vai até o
quarto aonde Kyle está sendo tratado, observar.
Conforme Lídia e Giovani seguem a Diretora, suas mentes se enchem
de medos e questões sobre o que há de acontecer, conforme andam, só
conseguem pensar em todos os anos que viveram ali, todo o
investimento e todo o estudo que seria desperdiçado em uma expulsão,
Giovani só consegue pensar nas consequências do que supostamente
teria feito, sobre o caos que uma simples invenção gerou, “Como que
pode? Baterias de íon são controladas e estabilizadas, não deveriam
gerar tanto estrago”, Lídia segura na mão de seu irmão e olha em seus
olhos com ternura, se aproximando e encostando seu ombro direito
com o esquerdo de Giovani, numa tentativa de confortar o rapaz,
Giovani apenas encosta a cabeça no ombro de sua amada irmã,
desejando que o Dia acabe o mais rápido possível, Lídia olha o relógio,
“13:30, a gente já devia ter voltado pra aula...”.

Assim que chegam na porta da diretoria, a Diretora abre a porta e entra


primeiro, ela caminha pela sala até sua mesa, sobre a mesa está o
professor de história, o tom platinado de seus cabelos contrasta com a
aparência jovial dele, Lídia e Giovani entram na sala com um receio
genuíno, olhando a sala cautelosamente:

-Fechem a porta, por favor – Diz a Diretora.

Lídia se vira rapidamente e fecha a porta, ao se virar para frente,


percebe dois garotos com as roupas chamuscadas e sujos de fuligem,
os 2 calouros de mais cedo.

-Tia Eli, por quê... – Diz Lídia.

-Diretora Eli, Lídia – Diz a Diretora, demonstrando seu visível


aborrecimento, o professor permanece em silêncio.

-Diretora Eli... por que trouxe os calouros? – Indaga Lídia.


-É Diretora, por que trouxe os dois pra cá? – Diz Giovani enquanto olha
os dois, analisando sua postura.

-Melhor deixar que os dois se apresentem primeiro, não é verdade?


Senhores da pirotecnia? – Diz a Diretora em um tom sarcástico.

-Sim... senhora – Diz o calouro maior, olhando para o lado, evitando


contato visual.
Prelúdio
10:20 da manhã, Buranko e Eduardo estão caminhando pelo corredor
do 3º andar, os dois calouros olham cada sala e cada pessoa ali
presente, a maioria dos moradores do internato estão em seus
dormitórios e os alunos em suas salas de aula, Buranko anda com as
mãos nos bolsos de seu casaco longo branco como a neve, o rapaz olha
com atenção e certo desprezo os alunos que passam por ele, seu amigo
já é diferente, caminhando ao seu lado com uma postura mais
encolhida e séria, apesar de seu grande porte, Eduardo parece admirar
os alunos ali presentes:

-Não acha que está sendo muito ríspido com eles? Quero dizer... são
estudantes – Diz Eduardo, falando em baixo tom.

-Não acho, a maioria desses bostas são riquinhos de famílias nobres


que recebem tudo na mão desde que nascem, não me arrependo de
julgar cada milímetro deles – Responde Buranko com um tom
agressivo.

-Hm... isso é um tanto radical, está tenso? – Diz Eduardo.

-Pra falar a verdade... sim, estamos no centro da cidade mais


importante do país, consequentemente... – Reluta Buranko, pensativo.

-Em um dos polos mais importantes da Ordo Peccati, sim... eu também


estou tenso, mas precisamos seguir em frente – Diz Eduardo,
acalmando seu parceiro.

-Tem razão... curioso você estar assim, todo motivado – Diz Buranko,
sorrindo de forma provocativa.
-Pra falar a verdade eu tô apavorado, tem usuários de Choke pela
escola toda, parece até NRJ1 – Diz Eduardo, rindo mais por nervosismo
do que por graça.

Os dois amigos caminham calmamente pelo longo corredor,


cumprimentando alguns alunos e alguns moradores do local, até
chegar na porta do laboratório vazio ao lado da oficina, alguns
trombadinhas estão na porta, observando algo lá dentro, uma luz azul
suave emana do local e se apaga repetidas vezes, os sons de algo
mecânico ativando indicam algum inventor em ação, “Tem gente que
não descansa mesmo”, pensa Eduardo, Buranko apenas encara o grupo
de trombadinhas e entra no laboratório com Eduardo, o local se acende
automaticamente por conta dos sensores nas paredes, as paredes
brancas e os balcões muito bem limpos tornam o local relativamente
aconchegante, apesar das amostras de animais e jarros com fetos
conservados, Eduardo vai até o balcão central enquanto Buranko
tranca a porta, ele observa alguns trombadinhas se reunirem na sala ao
lado conforme o tempo passa e, em seguida, observa Eduardo por cima
do ombro, Eduardo pega algumas cartas em branco e 4 pedras com
desenhos estranhos entalhados nelas, o rapaz pega um estilete e faz
um corte em sua mão, o corte é leve mas o suficiente para fazer sua
mão sangrar, Buranko se aproxima dele e ajeita os objetos na mesa,
formando um quadrado com as pedras alinhadas:

-Acha que vai funcionar? Esse seu feitiço? – Diz Buranko.

-Acho que sim, é o único feitiço que conheço de cor e que eu treinei –
Eduardo escreve com sangue alguns símbolos nas cartas, ajeitando as
mesmas entre as pedras, formando uma espécie de círculo – Agora é
rezar para que funcione...
1
NRJ – Nova Rio de Janeiro
Eduardo traça com sangue um círculo, ligando as cartas às pedras,
conforme o sangue liga os objetos, o líquido começa a queimar, chamas
em tom de roxo surgem do círculo de sangue, as cartas queimam e
começam a sofrer reações, as pedras levitam suavemente e seus
símbolos brilham em suas cores naturais: Verde, Azul, Laranja e
Branco, as cartas já queimadas começam a se comprimir em esferas e
as chamas roxas se convertem em 4 elementos, respectivos às pedras
que intercalam entre si, as pedras e os elementos começam a girar em
volta do centro do círculo, pequenos “ramos” de energia se estendem
até o centro e começam a se unir, formando um elemento novo.

-Tá funcionando, Ed – Diz Buranko, afastado e com um sorriso


orgulhoso, olhando para seu amigo.

-Agora é só esperar estabilizar – Diz Eduardo, próximo do círculo


giratório, observando a cena – Se estabilizar... é claro.

Conforme o elemento central se forma, o círculo parece desacelerar até


certo ponto, o elemento central tem uma cor múltipla, dando a
impressão de ser um cristal, duas luzes se estendem do centro do
elemento, um para cima e outro para baixo, o círculo continua girando
e parece não parar mais.

-Isso é..... – Diz Buranko, ao lado de Eduardo.

-Sim... um Eixo, um legítimo eixo elemental – Diz Eduardo, erguendo as


mãos e sentindo a energia que emana do Eixo.

-Tá comprovado, é possível sim criar um eixo com alquimia e magia


rúnica! – Buranko se aproxima do Eixo aos poucos – Se aprender a
compactar essa força, vamos poder criar as armas que precisamos pra
salvar nossa cidade!
-Sim... teremos como salvar inúmeras vidas... – Diz Eduardo, sorrindo
apesar de receoso sobre o assunto, ele olha Buranko – ESPERE, NÃO
TOQUE AINDA!

-O quê? – Buranko toca no círculo e acaba sendo atingido por um


relâmpago dourado, que o arremessa até o outro lado do laboratório –
Aí... essa doeu... – Diz Buranko, que nota alguns sons de maquinário na
sala ao lado através da tubulação, ele se levanta aos poucos, mas trava
no lugar ao ver que o Eixo está flutuando em sua direção lentamente, o
círculo antes alinhado está girando de forma desordenada – Droga...
EDUARDO! AJUDA AQUI!

-DEIXA COMIGO! – Exclama Eduardo, que corre até seu amigo e se


coloca na frente dele, o grande rapaz ergue as mãos e as posiciona,
formando alguns sinais com elas, pequenas chamas se estendem como
feixes até o Eixo, que para diante dos dois e começa a lançar alguns
raios pequenos contra o chão e os dois – Buranko... toque em alguma
coisa de metal, descarregue a eletricidade do seu corpo! – Exclama
Eduardo, enquanto estabiliza o Eixo aos poucos, que toma um tom de
cor roxo, Eduardo começa a sentir suas energias sendo drenadas, como
se o Eixo se adaptasse à sua habilidade, Eduardo começa a ser puxado
até o Eixo de forma brutal – AARGH, MEUS BRAÇOS! – Grita Eduardo,
que Luta para se manter firme e longe do Eixo.

-EITA – Exclama Buranko, que após tocar nas grades da tubulação,


corre até seu amigo e o agarra, tentando ao máximo afastá-lo do Eixo.

Por mais que tentem se afastar, o Eixo parece ter vida própria e
estende outros ramos de energia, que ao entrar em contato com os
dois, começam a drenar suas energias em ritmo acelerado, Buranko
finca uma faca de aço reforçado no chão, faca essa que ele sempre
carrega consigo, mas tudo o que gera é um rastro no chão conforme é
puxado, assim que Eduardo toca o núcleo, o círculo para de girar na
hora e gera um lapso de energia, os ramos que antes drenavam as
energias se invertem e começam a inserir energia em Eduardo, que
começa a se contorcer e ter espasmos.

-ED! ED! – Grita Buranko, que se levanta com dificuldade e tenta soltar
as mãos de seu amigo, cogitando decepar as duas.

Conforme a energia é inserida, Eduardo começa a ter lapsos de


memória, ele vê Buranko em sua infância, seu melhor amigo desde
sempre, ele vê sua mãe, uma mulher solteira que criou seu filho
sozinha em meio o caos de sua cidade, ele vê um homem em meio as
cinzas de uma cidade devastada, o homem veste um sobretudo sujo de
terra e está de costas para Eduardo, o homem possui cicatrizes em
padrões estranhos pelo seu corpo e uma espécie de planta saindo de
seu antebraço direito, Eduardo estende sua mão e vê apenas o sangue
escorrendo dela, ele ouve uma voz familiar em sua mente:

-Use o seu dom... evite a reformação, faça o necessário...

Assim que a voz se cala, Eduardo sente um empurrão em seu peito e


acaba voltando para o mundo real, sendo arremessado junto de
Buranko contra o teto, os dois caem de cara no chão enquanto o Eixo
fica próximo a parede, estável.

-Aí.... caralho... – Reclama Eduardo.

-Ei cartomante... você tá bem? – Diz Buranko com a mão na cabeça,


havia batido a testa com muita força.

-Eu falei pra não tocar... imbecil... – Diz Eduardo, rindo baixo – Cara...
tudo dói, pelo menos o Eixo estabilizou...
-Hehehe... foi só um toquezinho de leve – Diz Buranko ao erguer seu
amigo pelo braço – ainda bem que essa sala tem isolamento acústico.

-Pois é – Fala Eduardo, se levantando e massageando os pulsos – Seria


um problema se ouvissem essa bagunça tod...

Os dois ouvem o impacto na parede que divide o laboratório da oficina,


junto de alguns ruídos na ventilação, Eduardo se aproxima para ver o
quê está gerando o ruído:

-Mas oque que... Buranko, não caiu nada pela ventilação? – Pergunta
Eduardo.

-Na verdade não, eu só toquei no metal e me descarreguei pra afastar o


Eixo, por quê? – Diz Buranko.

-Pera... se você descarregou nesse metal, então ele se tornou levemente


magnetizado, ou seja... – Pergunta Eduardo para si mesmo, mas seus
pensamentos se cessam ao ver uma pequena bateria de íon sair da
tubulação, a bateria sai voando rapidamente e acaba atingindo o Eixo,
que se desestabiliza e acaba atraindo a bateria para seu círculo, a
bateria se comprime em uma esfera e acaba reagindo ao círculo,
gerando uma luz neon azulada e adicionando um novo elemento –
BURANKO, PROTEJA-SE! – Grita Eduardo, que corre desesperado até
seu amigo, que obedece e pula para trás do balcão de aço no centro do
laboratório, o círculo volta a girar desenfreadamente e toma a cor roxa
novamente, a bateria de íon cria uma reação em cadeia e acaba
corrompendo os elementos, causando um colapso, gerando uma
explosão que desintegra os objetos próximos do epicentro e destrói o
local, o calor das chamas azuis derrete os metais rapidamente e queima
qualquer objeto que seja inflamável em segundos, destruindo metade
do 3º e 2º andar.
-Tá... é só isso? – Diz Giovani.

-Como assim “Só isso”? Acabei de dar fatos sobre uma explosão! –
Exclama Buranko.

-É que... bem, como posso dizer? – Indaga Giovani, com as mãos


erguidas indicando sua confusão.

-Essa história é falsa, poderes? Feitiços? Sério? Isso tudo faz meu QI
cair a cada palavra – Exclama Lídia, com um visível caçoar na voz.

-Mas é verdade! A gente nunca mentiria pra vocês! – Diz Eduardo, com
os braços cruzados e um tom mais amistoso.

-Hm... acho que mentiriam sim – Diz Lídia.

- “Acho que mentiriam sim mimimi” – Diz Buranko, gesticulando


imitando um macaco – Toma no cu...

-EI! O que está insinuando Arroz Frito? – Diz Lídia, se aproximando de


Buranko com os punhos cerrados.

-OPA OPA OPA! – Exclama Giovani, segurando a irmã com um


desespero no olhar – Calma lá maninha, era só uma zueira, relaxa...

-Eu vou espancar esse babaca....

-NINGUÉM VAI SER ESPANCADO AQUI! COMPORTEM-SE! – Exclama a


Diretora, o Professor fica ao lado dela, observando todos com um olhar
neutro, fitando cada um com os olhos escuros – Eduardo, você tem
como comprovar essa história?

-Tenho..., mas... – Reluta Eduardo, visivelmente nervoso.


-Não faça nada! Esses almofadinhas são um bando de aproveitadores! –
Exclama Buranko, apontando para a Diretora com uma raiva no olhar e
tom de voz exaltado.

-Cara... é preciso – Diz Eduardo ao enfiar a mão direita no bolso da


calça e vasculhar com cuidado cada parte, tirando uma pequena lasca
de pedra – Vamos mostrar o que sabemos...

-Mas... eles não são confiáveis... – Diz Buranko, com uma expressão
preocupada.

-Isso vai ser interessante... – Sussurra Giovani para sua irmã.

-É... vamos ver os mágicos aí... – Responde Lídia em um tom cético,


apoiada em seu braço, sentada na poltrona no canto da sala, em frente
a uma grande estante repleta de livros.

Eduardo ergue a pedra na palma de sua mão e mostra para todos, em


alguns segundos, uma leve luz roxa surge entre usas roupas,
percorrendo de seu peito até seu braço, e de seu braço para a palma da
mão, a pedra entra em combustão e se torna uma pequena esfera roxa,
semelhante ao fogo, Eduardo cerra o punho e as chamas cobrem o
mesmo, mas sem queimá-lo.

-Ok... isso me pegou – Diz Lídia com um olhar surpreso – Mas não quer
dizer que seja mágica ou algo do tipo, deve haver alguma explicação
para esse feito!

-UOU, PUNHO EM CHAMAS! MANEIRO! – Diz Giovani, rodeando


Eduardo com um sorriso de orelha a orelha.

-Buranko... sua vez – Diz Eduardo, olhando para seu amigo com um
sorrisinho.
-Eu passo, não vou revelar meus segredos... só uma amostra – Buranko
pega um objeto de seu casaco, uma espécie de canivete, mas ao invés
de lâmina, há um pequeno bastão de cobre de 3 centímetros e um
sistema de acionamento feito com engrenagens, semelhante a um
isqueiro – Observem o meu poder... – Diz Buranko ao girar o
mecanismo com o dedão e, em um piscar de olhos, uma luz branca
percorre seu braço até o objeto, que cria uma lâmina de Luz bem curta,
o objeto brilha internamente, como se estivesse carregado.

-NOSSA! UM SABRE... zinho de luz? – Diz Giovani, olhando de perto.

-NÃO FALE ASSIM DA MINHA LÂMINA! É COMPLICADO FOCAR EM


ALGO QUANDO SE ESTÀ SOB PRESSÃO! – Exclama Buranko, que acaba
desativando o objeto novamente.

-Acreditam em nós agora? – Diz Eduardo.

-Não – Diz Lídia, olhando os dois.

-SIM! – Exclama Giovani.

-Vagabunda... eu ainda te desço o soco... – Diz Buranko enquanto range


os dentes por puro ódio.

Em segundos, antes que Buranko pudesse fazer algo, o rapaz sente um


peso colossal no corpo e começa a se ajoelhar, ao olhar para o lado, ele
vê o Professor com a mão esquerda erguida, olhando para ele.

-QUE? O QUE TÀ ACONTECENDO AQUI?!! – Gritos desesperados de


Lídia.

-Venham conosco... – Diz Diretora, que se levanta e vai até a estante,


passando a mão esquerda pelos livros até chegar em um deles de capa
preta, puxando lentamente – Nêutron, libere o rapaz – Diz a Diretora.
-Sim senhora – Diz o Professor, que desativa sua habilidade e caminha
até Lídia – Não esperava por essa, não é?

-Eu esperava que você fosse algum tipo de andrógeno, mas... o que
diabos você é? – Indaga Lídia, contorcendo as mãos de formas
aleatórias.

-Eu tô adorando tudo isso, maninha! Tenta aproveitar também – Diz


Giovani com um sorriso alegre no rosto.

-A sua felicidade me deixa assustada... – Diz Lídia.

-Até eu tô assustado – Diz Eduardo, olhando a Diretora mover o livro


em uma espécie de sequência.

-Seu irmão deve ser algum tipo de psicopata, só pode – Diz Buranko
enquanto se alonga por conta do “ataque” que sofreu.

-Tenho que concordar com você, senhor arroz frito – Diz Lídia, rindo
com a mão em frente a boca.

-Moreninha... parece até uma paçoca, boa de comer – Retruca Buranko,


com um sorriso depravado.

-ORA SEU! – Exclama Lídia, com um tom corado no rosto e tentando


alcançar o rapaz.

A diretora termina a sequência e a estante se move para dentro da


parede lentamente, revelando uma sala escondida, a sala é toda branca
e bem iluminada, possui uma mesa Holográfica redonda centralizada
no ambiente;

-Vamos crianças... temos que conversar... – Diz a Diretora.

-Lídia e Buranko, parem de palhaçada – Diz Nêutron.


-Sim senhor! – Diz Lídia, soltando o pescoço de Buranko e jogando ele
contra o a parede, a garota segue com o grupo até a sala.

-Tsc... mal conheci a “Valentino” e já odeio ela... saco – Diz Buranko,


limpando o casaco e entrando na sala.

-Tu tá muito chato hoje, se comporta cara! – Reclama Eduardo, que dá


um tapa nas costas do amigo, jogando-o na sala.

Assim que todos entram, a porta secreta se fecha e cadeiras surgem do


chão em volta da mesa.

-Sentem-se.... -Diz a Diretora ao sentar-se em sua cadeira que, além de


maior, possui um teclado embutido – Eu só tenho uma pergunta pros
dois aí... – Ela fala enquanto digita algo – Conhecem essa pessoa?

3 projetores pequenos surgem no centro da mesa e criam uma imagem


3D no ar, a imagem de um rapaz com uma jaqueta fechada e com
desenhos quadriculados, uma franja negra sobre seu rosto e um olhar
relativamente maduro.

-Não senhora... – Diz Eduardo, olhando a imagem atentamente.

-Nunca vimos essa pessoa em nossas vidas, nós só viemos para cá por
conta da bolsa de estudos!

-É mesmo? Mas seus nomes não constam em nenhuma lista de entrada,


na verdade, as identidades de vocês são falsas, vocês só tomaram o
lugar de alunos que já terminaram os estudos... – Diz a Diretora,
olhando para os dois com um olhar extremamente sério.

-Senhora... viemos para descobrir até onde as raízes da... Ordo Peccati
se estendem nessa instituição
O rapaz enjaquetado
3 dias após o incidente no internato, Lídia se vê na praça central
novamente, com uma camisa listrada e sem mangas, mas mantendo
seu cachecol bem firme em seu pescoço, a garota observa a calçada que
rodeia a cerca de lanças da praça, esperando algo... ou alguém.

-Alô... já encontrou o alvo? – Pergunta Buranko, falando pela escuta.

-Cara... eu tô aqui faz 1 hora e você não calou a boca... pelo amor de
Deus, calado... – Diz Lídia, falando baixo.

-Ah... foi mal aí se minha linda voz te incomoda – Diz Buranko.

-Na verdade eu também tô incomodado – Diz Giovani, dando leves


risadas de sinismo.

-Sério, eu só quero ler meu livro em paz – Diz Eduardo.

Lídia permanece em silêncio, tentando se concentrar em meio ao


assunto paralelo.

-Você não deveria estar de olho, Edu? Quero dizer, quem bolou esse
plano foi você – Diz Buranko, caçoando de Eduardo.

-Eu também participei da elaboração, desgraça! – Exclama Giovani, as


falhas do áudio disfarçam sua indignação.

-Eita, esqueci de você, foi mal – Ri Buranko.

-Você não vai com a minha cara, só pode! – Diz Giovani, murmurando.

-Calem a boca, quem planejou foi a Diretora, e ponto final – Diz Lídia,
falando em tom sério, calando a todos na escuta.

Cerca de 20 minutos se passam, o sol de 10 horas começa a esquentar o


local, Lídia se levanta e caminha até uma das árvores da praça, um
carvalho gigante, com 25 metros de altura, seus galhos chegam a
ultrapassar o limite da cerca oeste, Lídia se senta ao lado do tronco, se
recostando nele, suspirando e observando a calçada, a garota não
pensa em mais nada, e provavelmente seus colegas também não, por
alguns segundos a garota fecha seus olhos para descansar sua vista, os
pensamentos borbulham em milésimos, ouvindo as instruções da
Diretora, internalizadas em sua mente através de uma conversa
particular que teve no dia da explosão.

“-Lídia, preciso que lidere essa missão – Diz a Diretora, com um tom de
preocupação na voz.”

-Mas... por quê? O Giovani sabe liderar melhor! Ele é mais carismático,
mais forte e... ele é melhor que eu! – Exclama Lídia, próxima da
diretora, nervosa e beirando o desespero, liderar deposita
responsabilidade demais para uma pessoa só carregar.

-Por quê... só você pode cuidar dele, minha sobrinha – Diz a Diretora,
abraçando Lídia de forma repentina, encostando sua cabeça na de sua
sobrinha.

-Tia... o que.... – Pergunta Lídia, surpresa com a ação anormal de sua tia,
a garota abraça a Diretora com firmeza.

-Lídia, eu prometi pros seus pais que iria cuidar de vocês... eu jurei no
leito deles, mas o nome da nossa família tem inimigos... e eu não sou
capaz de proteger vocês deles – Diz a Diretora, deslizando a mão em
sua cintura, pegando um objeto cilíndrico, semelhante a um batom –
Seu irmão já está ascendendo, mas você ainda não demonstrou
avanço...
-Avanço? – Pergunta Lídia, que se afasta ao ver o que sua Tia pegou – O
quê é isso?

-Um catalisador... – A Diretora gira a base do objeto e 3 pontas de ferro


saem da extremidade dele – Vai despertar a sua habilidade... você
precisa de mais que garra para o que virá – Diz a Diretora, se
aproximando de sua sobrinha.

-Se a senhora diz... – Lídia estende seu braço esquerdo, arregaçando as


mangas – Não resistirei... farei de tudo pelo meu irmão...

-Ah... Lídia – A Diretora finca o objeto suavemente na veia de Lídia, um


choque percorre o braço da garota até o seu cérebro, desmaiando a
menina aos poucos – Você é meu orgulho... eu amo você....”

Lídia acorda rapidamente e olha para sua pulseira rapidamente,


suspirando de alívio ao ver que só se passaram alguns minutos, as
memórias estão embaralhadas ao ponto de não saber o que é ou não
real, talvez fossem devaneios, para Lídia, coisas assim nunca foram tão
simples como mágica ou mito, a conversa paralela e incessante na
escuta já não a incomoda mais, ouvir seu irmão interagir com outras
pessoas além dela acalma seu coração, já que se sumisse, ele teria
pessoas para se apoiar.

A Atenção de Lídia retorna ao sentir um pulsar em seu ser, uma


sensação estranha de ardência interna e frio corporal, ao olhar para a
calçada, ela vê um rapaz vestido com uma jaqueta quadriculada e
capuz, uma roupa rasgada, mas dando um charme estravagante, o
rapaz atravessa a rua lentamente, olhando fixamente para a frente
como se estivesse sem rumo, Lídia se levanta e se mobiliza
cautelosamente, perseguindo seu alvo.
-Encontrei ele... a postos – É o comando da Líder, os rapazes se
preparam, preparados para algo.

O rapaz atravessa a rua e para em frente a uma vitrine, olhando os


pingentes e joias, Lídia se aproxima e encosta no poste, disfarçando,
até que a doce voz do rapaz atinge sua mente em cheio.

-Sabe.... se quer perseguir alguém, tenha certeza de manter seu rosto


oculto, Valentino – O rapaz se vira de leve, escondendo seu rosto sobre
o capuz da jaqueta, a sua franja negra se destaca no visual avermelhado
do rapaz.

-Não me surpreende você me conhecer... oque me surpreende é eu não


saber nem o seu nome – Lídia ergue sua mão para tocar o ombro do
rapaz em um gesto gentil – Ei... não precisamos fazer isso...

Assim que Lídia toca o ombro do rapaz, ele se vira rapidamente,


desferindo um chute com a lateral da perna direita contra Lídia, que se
defende por pouco com seu braço direito, o golpe é tão forte que gera
um estrondo semelhante ao som de um trovão.

-Foi mal gatinha... – o rapaz apenas sorri simpaticamente e sai


correndo pela calçada até a esquina, mas se surpreende ao sentir algo
se aproximar em uma velocidade e atingir seu capuz, o rapaz se joga
contra o chão rapidamente e, ao se dar conta, percebe que seu capuz já
não está mais lá – Como?...

-Você... mexeu com a pessoa errada... seu merda – Lídia está caída,
escorada em um poste quebrado pelo impacto de antes, com a mão
erguida, nem mesmo ela sabe oque aconteceu, apenas ergueu sua mão
por instinto, como se lutar contra aquele rapaz fosse o catalizador para
algo em seu ser – Eu vou pegar você... – Diz a garota, ao se por de pé,
ela aponta o indicador para o rapaz.

-Tá se achando demais... Valentino – o rapaz se levanta e ajeita o


cabelo, mostrando seu rosto jovem, porém com cicatrizes de cortes, os
cabelos negros e espetados junto de sua franja que chega até o queixo –
Parece que tem o mesmo dom que eu... ou algo do tipo – Diz o rapaz, os
olhos dele brilham em um tom laranja, revelando um olhar semelhante
a algum felino.

Os dois se encaram por segundos, seja o que for, o primeiro a atacar


vencerá o duelo, as respirações se sincronizam em uma ópera
uníssona, os dois se analisam calmamente, as pessoas passam e se
recusam a passar, o olhar de ambos já indica algo perigoso para
qualquer um nas proximidades.

O rapaz ergue sua mão e sua unha do indicador cresce rapidamente,


ele aponta para Lídia com um gesto de revolver em sua mão, Lídia
ergue sua mão esquerda e apenas aponta para o rapaz, ambos
disparam seus projéteis, a unha do rapaz voa como um projétil e, por
milímetros, passa ao lado do rosto de Lídia, que dispara de volta algo
invisível, porém a presença daquilo é física e distorce o ar, formando
uma esfera flutuante, que atinge o rapaz no peito com força extrema, o
rapaz se defende com os braços, mas a bolha estoura e causa uma
estranha queimadura, semelhante as queimaduras causadas pela
explosão no internato.

“O que é isso que atirei? Uma bolha? Parece criar um vácuo no ar e...
gerou aquele dano estranho, será que...” – pensa Lídia, segurando seu
braço esquerdo, no local onde sua Tia havia segurado em seu sonho –
Gostou disso? Panaca! – Lídia começa a correr contra o rapaz, que
reclama de dor por conta das queimaduras.

-AH! O que? ... – o rapaz olha Lídia e dispara em uma corrida


desenfreada pela calçada, passando como um fantasma pelos
pedestres.

-Ah não... VOLTA AQUI! – Lídia segue o adversário, esbarrando nos


pedestres sem querer.

A perseguição se estende pela larga calçada da Av. Luiz Inácio, o rapaz


se joga na rua e se deita, Lídia vê a cena e se surpreende ao ver o rapaz
sumir ao passar de um dos carros, a garota joga uma das bolhas sobre
os pés e a estoura, fazendo com que se impulsione rapidamente em um
salto largo, pousando sobre o carro, o motorista se desespera.

-EI SUA MALUCA! SAI DAÍ! – grita o motorista, tentando olhar a


estrada.

-FOI MAL! – Diz Lídia, com um sorriso simpático, a garota dispara uma
das bolhas contra o motor do carro, atingindo o sensor magnético e
desativando a suspensão - “Se ele estiver aí embaixo, ele vai sair” –
pensa a garota, ela observa os becos enquanto o carro diminui a
velocidade e, consequentemente, a leve altitude.

-AH, DÁ UM TEMPO! – Grita o rapaz, que sai debaixo do carro e rola


pela rua até um beco próximo, desaparecendo nele, o rapaz está todo
ralado e ferido, ele observa suas feridas se fechando lentamente
enquanto caminha, apoiado na parede e exausto, o rapaz caminha até o
fim do beco, de frente para uma porta de ferro – “Acho que despistei
ela, não sei o que ela queria, mas... não posso confiar em ninguém” –
Pensa o rapaz, ele caminha tranquilamente, deslizando as mãos pela
parede, sentindo a textura gélida e úmida da parede, o rapaz para ao
ouvir passos nas paredes, vários passos apressados, como se um
batalhão inteiro estivesse caminhando ali, de repente, o som cessa e
um assovio agudo ecoa pelo local, ao se virar e olhar para cima, o rapaz
vê um jovem com sobretudo branco, coque samurai e uma enorme
Katana feita de luz, Buranko chegou em cena.

O rapaz defende o golpe vertical de Buranko, mas se surpreende ao ver


outra pessoa na escuridão do beco, um rapaz maior e com cartas em
mãos, as cartas brilham por instantes unidas aos sussurros e gestos do
cartomante, a Katana de Buranko é coberta por chamas de cor
púrpura, queimando as mãos do rapaz.

-AH! DROGA, MAS QUEM... – Exclama o rapaz, afastado dos dois e


gemendo de dor, olhando as queimaduras ferirem suas mãos, ele olha
os dois e percebe a desvantagem – NUNCA ME PEGARÃO VIVO! – Grita
o rapaz, que dá um salto e finca as pernas na parede, ele corre pela
superfície enquanto o Cartomante joga várias cartas repletas de fogo,
algumas chegam a fazer cortes no rapaz.

-Cartomante, impulso! – Exclama Buranko.

-É pra já! – O cartomante se agacha e sorri, unindo as mãos com as


palmas para cima.

Buranko corre e pula, apoiando seu pé nas mãos de seu aliado, que
impulsiona o espadachim usando as chamas.

-SE RENDA, ENJAQUETADO! – Grita Buranko, que prepara um golpe


visando cortar as pernas do rapaz.
-SAI FORA! – O rapaz apenas, por estar com as pernas ocupadas e mãos
feridas, abocanha a lâmina de luz e chamas de Buranko, o que queima
sua boca até carbonizar suas bochechas.

-O que... – Diz Buranko, que desativa a Katana e cai em uma lixeira,


olhando o rapaz fugir – Esse cara... é realmente humano? – diz
Buranko, com uma leve falta de ar por cair de costas com muita força.

-E-Eu... avisei... nunca vão me pegar! – Exclama o rapaz, com muita


dificuldade enquanto chega ao topo da parede, ao chegar no topo, ele
sente a temperatura do ar mudar e o cheiro de combustão tomar suas
narinas, a sensação de estar em chamas toma o seu ser.

O rapaz sobe a parede e, ao abrir os olhos, vê uma cidade totalmente


diferente, com engrenagens enormes nas casas, veículos que unem
cobre, madeira e vapor, pessoas vestidas de formas elegantes, mas com
uma predominância de máscaras, aquele é o externato e Brasília, a
parede se estende por quilômetros e separa o internato do externato,
os únicos meios de entrar são pela ponte, meios conhecidos pelo
menos, o rapaz se senta na beira do precipício que é aquela grande
muralha e, ao pegar um frasco com uma substância vermelha, ingere o
líquido, curando suas feridas rapidamente, o rapaz se ergue e fica
olhando a vista, admirando o contraste dos dois lados.

-Isso... é belo... será que eu já fui alguém para esse povo? – Diz o rapaz
em um breve monólogo.

-Cara, nem sabemos quem você é – Diz Lídia, que está atrás do rapaz,
observando.
-eu... espera, QUE? – O rapaz se vira rapidamente, fazendo suas unhas
crescerem em garras e desferir um ataque feroz contra Lídia, que tem
seu rosto arranhado.

A garota olha o rapaz com uma visível fúria e agarra-o pela camisa,
golpeando a cabeça dele contra o corrimão de pedra da muralha, o
rapaz perde os sentidos, mas tenta atingi-la com golpes inúteis.

-Não se sente tão bem agora, né? Sua regeneração vai te salvar – Diz
Lídia, sorrindo de orelha a orelha enquanto dá um passo para trás.

-Minha... me salvar? – Diz o rapaz, com dificuldade, ele tenta desferir


outro golpe contra a garota.

Lídia desfere um potente chute lateral no peito do rapaz, o calçado de


Lídia está repleto de bolhas, que estouram no impacto, abrindo um
rombo na pele do rapaz e o arremessando muralha abaixo, o som do
tórax quebrando com o golpe é audível, o rapaz cai desmaiado pelo
choque e pela dor, atingindo o chão com força extrema.

-São 20 metros de altura... se ele morreu eu tô ferrada – Diz Lídia, que


se senta na beira do precipício e observa suas mãos.

-O que está acontecendo comigo? É estranho, mas tão natural, é tão....


incrível – Diz Lídia para si mesma, ela passa a mão em seu rosto e sente
as 3 marcas das garras do rapaz, as marcas cruzam da sua bochecha
até uma pequena parte da sua testa, cortes bem finos, o sangue escorre
lentamente – Ele... é incrível, quero saber mais sobre... ele – Diz Lídia,
observando Buranko e Eduardo carregando o corpo.

-Cara... ele tá vivo mesmo? Quero dizer, ele tá todo cagado aí! – Diz
Buranko enquanto prepara o furgão para o transporte.
-Ele está, ainda sinto a força vital dele – Diz Eduardo enquanto amarra
o corpo com firmeza.

-Beleza, vou avisar o comando – Diz Buranko ao ligar a escuta


novamente e sincronizar com o canal oficial da V.K – EI GIGI, o ‘pacote’
está a caminho!

-Já falei que só meus amigos me chamam de GIGI! – exclama Giovani


através da escuta.

-E eu sou o quê seu? Ein? Hum? – Diz Buranko, caçoando do rapaz.

-O demônio que o capeta mandou pra me azucrinar – Reclama Giovani


enquanto ajeita a sala para o interrogatório.

-Também te amo, Menino maravilha – Ri Buranko enquanto aquece o


motor.

-Vocês dois não aprendem, né? Se a Lídia te pegar... – adverte Eduardo,


que se senta no banco de trás e fica escorado de forma relaxada
enquanto gira uma carta pelos dedos.

-Quem ama quem aí? Saibam que não tolero sexo ao vivo, ok? – Diz
Lídia, a garota botou curativos em seu rosto para parar o sangramento.

-Que papo torto, são os pombinhos aí que não se entendem nunca – Diz
Eduardo, sorrindo de canto.

-Eu já desisti desses dois, na primeira oportunidade eu mando pra


morte – Diz Lídia, sorrindo alegremente, ela fecha a porta do veículo e
se senta ao lado do rapaz enjaquetado, que já está quase totalmente
curado, ela o observa fixamente.

-Qual o plano agora? Chefia – Diz Buranko, olhando o retrovisor.


-Se ele não nos falou por amor, vai ser pela dor, vamos para casa
resolver esse ‘probleminha’ – Diz Lídia em tom seco, sorrindo de forma
levemente insana enquanto segura os curativos em seu rosto com
firmeza.
De volta ao internato, cerca de 2 horas após a captura do enjaquetado,
Lídia fica apoiada em um balcão, olhando para uma janela de vidro
levemente escuro, do outro lado está o enjaquetado, amarrado e
amordaçado sobre uma grande cadeira que parece um trono branco
com painéis e teclados nas laterais, o rapaz olha para o vidro e, apesar
de não ser possível ver o que há do outro lado, parece encarar Lídia
fixamente, os dois ficam nessa situação até que a porta de fora se abre,
o rapaz move a cabeça levemente para a direita, demonstrando escutar
a atividade do outro lado, da porta saem Buranko e Eduardo que, em
um movimento sincronizado, ficam lado a lado com Lídia, alinhados
quase que perfeitamente, os 3 olham para a frente e ficam imóveis
quando a Diretora Keys entra no recinto junto com Giovani e Nêutron,
a Diretora fica em frente aos 3 e faz um gesto simples para Lídia, que
toma a frente.

-Líder, capturamos o alvo, como ordenado, ele demonstrou bastante


resistência.

-Giovani me informou, excelente trabalho para os 3, principalmente


você, Lídia – A Diretora ergue as mãos e estala os dedos, os 3 jovens
tem seus olhos iluminados levemente e, num ato repentino, ficam
zonzos e com dificuldade para se mover, a Diretora se vira para
Giovani – Giovani, relatório.

-Nosso amigo aqui parece ter habilidades regenerativas incríveis, força


e velocidade aumentadas, resistência e estamina sobre-humanas e um
senso estratégico gigantesco, além de um controle corporal
extraordinário... mas bem bizarro, considerando os movimentos nada
convencionais que efetuou contra nossos agentes – Diz Giovani em um
tom técnico e robótico enquanto lê as informações em sua prancheta –
Ele não falou e nem mesmo se moveu desde que o trouxeram, creio
que seja a melhor hora para o interrogatório.

-Excelente, Giovani – A Diretora estala os dedos mais uma vez, agora


Giovani quem sofre com os mesmos efeitos que os outros, Lídia se
ergue novamente como uma máquina e se aproxima – Lídia, interrogue
o nosso prisioneiro.

-Sim senhora, farei o necessário – Diz Lídia com um sorriso sádico, a


garota caminha até a porta para a sala aonde o enjaquetado está e abre
a porta, entrando de forma lenta e quase gentil – Olá, senhor, se
importa se eu entrar?

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