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A garota veste seu suéter de cor cinza com listras finas de cor preta, ao
vestir sua calça moletom e calçar suas botas, Lídia vê seu cachecol
jogado na cômoda, apesar de estar em 2090, Lídia sempre preferiu um
estilo de vida mais rústico, preservando a cultura dita “antiquada” pela
sociedade atual, Lídia enrola seu cachecol em seu pescoço, o mesmo
tem tons de verde e amarelo bem desbotados, mas que denotam o
senso patriótico da garota, ela pega uma fatia de pão e sai de seu
dormitório, ao fechar a porta, o som da trava automática é ouvido,
indicando que não poderá voltar para o quarto até o fim do expediente,
ela segue pelo corredor até chegar na escada que leva para o campus
do internato, as paredes feitas de metal coberto por gesso soltam
ruídos estranhos, vindos do encanamento abaixo das escadas, o som
ecoa entre a estrutura dos dormitórios, conforme desce as escadas,
Lídia percebe vários cartazes de bandas, grupos de auxílio popular e,
principalmente, grupos revolucionários contra o governo, “Mal sabem
eles que os governantes são só engrenagens de uma máquina maior”,
pensa a garota, ao repousar seu dedão sobre o leitor de digitais ligado à
porta de vidro no fim das escadas, um Bip é ouvido, a porta desliza
entre uma fenda na parede e o frio da manhã adentra pelo corredor,
Lídia se sente aliviada por ter se agasalhado de antemão, ao sair do
local, ela respira bem fundo e fecha os olhos, como se puxasse forças
para seguir em frente, e o faz, virando para a direita, andando pela
calçada vazia, ela observa a praça central em frente a porta do
dormitório, a praça está vazia e adormecida, não há sinal de pássaros
ou drones de segurança, afinal, é bem difícil haver algum aluno fora de
sua cama em um horário tão atípico, ao andar por alguns metros, ela
atravessa a rua sem preocupação até a entrada da praça, as grades em
forma de lança sempre a intrigam, sempre se pergunta como seria se
alguém caísse sobre elas, um pensamento peculiar até para ela, ao
passar pelo arco da entrada da praça, ela se dirige até o centro do local,
uma estátua com 4 bancos em volta, os bancos são alinhados com as 4
entradas da praça, cada um tem uma letra: N, S, L e O, indicando os
respectivos pontos cardeais, a escola fica na direção do N, Lídia rodeia
a estátua com a cabeça baixa, encarando o chão, a garota percebe
alguém deitado no banco N, ela suspira e se aproxima do indivíduo, um
rapaz baixo, vestido com roupas pretas com listas brancas nos locais
da costura, o mesmo está olhando para cima fixamente, concentrado,
Lídia toca em sua testa e solta um pequeno riso:
- Você não muda, né? – diz Lídia, o rapaz a encara e sorri de orelha a
orelha.
– Claro que mudo, mas depende da situação, bom dia Lili – o rapaz se
senta no banco, Lídia se senta ao seu lado e o abraça.
– Bom dia Giovani, com gás de sobra, como sempre – Giovanni aperta
Lídia ao sentir o abraço, o garoto adora a sensação de um abraço
sincero, e os abraços de sua irmã mais velha sempre são sinceros, Lídia
solta Giovani e fica debruçada no banco.
-Você tá realmente animado pros novatos, né? – Diz Lídia – Eu não ligo
muito, essa galera sempre chega com o nariz empinado, se achando os
donos do pedaço.
- Olhe pelo lado bom, teremos mais gente pra conversar e brincar! –
Giovani balança suas mãos, gesticulando conforme fala.
-Você tem 16 anos, mas parece ter uns 10, mas eu te amo mesmo
assim, só não vai se envolver com idiotas, tá?
-Eles parecem bem sérios, se for falar com eles, não vai arranjar treta –
diz Lídia.
- Eu não vou, relaxa – diz Giovani, os irmãos ficam ouvindo os berros
dos alunos, cada um em seu próprio tom e estilo, até que chega a vez
do rapaz de branco, ele vai para o centro do salão, de frente para a
grande tela, uma voz robótica e feminina ecoa das caixas de som
- Identifique-se e diga seu lema – Diz a voz da tela, ela mostra o rosto
do rapaz, um rosto com olhos levemente puxados e um cabelo negro e
liso, denotando seus traços asiáticos.
-Cai entre nós, você não quer sacrificar todo o esforço dos seus pais
pra te por aqui, né? Quer dizer, você usa umas roupas rasgadas e
parece ter vergonha de seu rosto, deve ser algum pobretão HAHAHA –
Diz o aluno maior, caçoando da aparência do rapaz.
-Ah, fala do meu estilo? – o rapaz de jaqueta olha para os dois por cima
do ombro, seu sorriso brilha com a luz do dia, seus dentes são afiados e
seu olhar emana uma luz avermelhada bem estranha – Abaixem a
guarda, e eu deixo vocês irem pra aula.
- Aula? A gente veio pra ‘catar’ as coisas dos flanelinhas desse colégio –
Diz o menor, o mesmo apoia seu braço no rapaz de jaqueta, deixando o
canivete próximo do pescoço do rapaz.
-Blefar não funciona, você é 1 e somos 2, sem contar que não parece
muito forte HEHEHE – o maior fica a frente do rapaz de jaqueta.
-Alunos, agora que a parte chata da história já foi, vamos falar do que
interessa, a crise de 2077, quem aqui pode me contar a história? – diz o
professor, alguns alunos se arriscam e erguem as mãos, alguns mais
timidamente que outros, Lídia se vê tentada a erguer sua mão, mas no
momento em que está prestes a fazer a ação, um microfone fino em
forma de bastão se ergue da carteira de uma garota no canto oposto da
sala, a garota é ruiva e tem circuitos em seu ombro direito, além de um
chip na lateral direita de seu rosto, sua voz doce enche a sala através
das caixas de som:
-Hm... sim? Eu recebi o que a renda dos meus pais permitiu que eu
recebesse, seus pais te negaram isso? – Diz a garota com um sorriso de
canto.
-Não, eu não recebi por quê meus pais ESTÃO MORTOS! – Diz Lídia ao
se erguer da carteira, os colegas de sala apenas se silenciam, nervosos
com a situação.
-Me... desculpe pela minha postura, esse assunto é muito delicado para
mim, srta. Rodriguez – Diz Lídia, olhando nos olhos de Carmem.
-Oh, desculpada, e que isso não se repita, Valentino, não serei tão
piedosa se acontecer de novo.
- Desculpe por falar dos seus pais, Valentino, mas aposto que não
fariam diferença alguma em uma vira lata mestiça como você – Diz
Carmem, caçoando de Lídia, que respira fundo novamente e cerra seus
punhos, a pressão é tanta que acaba furando suas mãos com as
próprias unhas, Lídia segue pelo corredor até a saída, a maior parte
dos alunos novos já haviam corrido para a cantina, enquanto os mais
velhos andam lentamente pelo corredor, Lídia segue seu caminho,
pensativa com as falas de Carmem, “Mestiça... é, eu sou um lixo
mestiço, mas me recuso a ser a ferida por uma patricinha mimada
como ela” , Lídia olha suas mãos e vai para seu armário, tocando no
leitor digital, após ouvir o Bip, a porta do armário de 2 metros gira 90
graus e entra na fenda feita para comportar a porta, Lídia pega algumas
gazes e álcool e, após passar em suas feridas e pôr o algodão, ela
enfaixa suas mãos, a ardência dói menos que as palavras de Carmem,
“Mais um dia suprimindo meus sentimentos... isso é uma merda, sério,
uma merda sem igual”, Lídia pega um pacote de fandangos, abre e cata
um bolo de salgadinhos, ela segue caminhando furiosa pelo corredor,
sua compulsão acabou atacando, sentindo a angústia crescente em seu
ser, mas todo esse bolo de sentimentos sessa ao descer pela plataforma
do salão de entrada e ver Giovani todo ensanguentado, de pé, em frente
a um grupo de homens vestidos com jaquetas pretas com pequenos
espinhos prateados pelo tecido, Giovani está ofegante, exausto, com os
punhos sangrando, Lídia larga os fandangos e pula da plataforma em
movimento, pousando ao lado do mesmo, ela percebe o estado de seu
irmão, que para sua surpresa, está em choque.
Chama interna
10:30 da manhã, Giovani está calmo e alegre com seu dia, já que estava
matando aula por julgar a matemática entediante, considerando que
faz os cálculos de suas invenções com pouca teoria e mais “Tentativa e
erro”, o garoto passeia pelo longo corredor do 2º andar da escola, cada
andar é respectivo ao ano letivo, sendo o térreo o andar do
fundamental I e II, Giovani passa por alguns trombadinhas encostados
em seus armários e usando Choke, uma droga nova no mercado, um
gás que é inalado através de uma máscara, semelhante aos cachimbos
de crack no início dos anos 2000, os trombadinhas estão em volta da
porta da oficina da escola, normalmente fechada ou usada pelos alunos
para matar a aula, Giovani passa pelos trombadinhas, cumprimentando
com um sorriso alegre:
-Esse garoto é meio biruta, né? – Diz uma garota de cabelos cor-de-rosa
arrepiados e uma roupa de couro mostrando sua barriga.
-Deixa ele, é raro ver alguém puro hoje em dia, ver alguém assim me
faz ter esperança com a vida – dando uma tragada com a máscara,
inalando bastante Choke – deixa os cria ser feliz.
-Tem razão, toda a razão, essa empolgação vai levar ele além dos
horizontes –Diz a garota enquanto sorri, olhando Giovani.
-Eu... fracassei de novo... – Diz Giovani, levantando sua mão direita com
desdém, o sangue quente e o choque do fracasso impedem o rapaz de
sentir a dor.
-Ei... você progrediu, a gente te viu melhorando a cada dia... – Linda vai
passando a pomada e enfaixando o antebraço.
-Cala a boca Kyle, eu sei bem o quê tá rolando aqui – Diz Jon, ao
empurrar Kyle e Linda da frente e cara a cara com Giovani, olhando o
mesmo de cima – O baixinho é galanteador.... e metido a inventor – Diz
Jon, olhando a sala e vendo várias invenções fracassadas do rapaz –
Você tem muita coragem de estar nesse andar, o andar dos veteranos,
brincando com a minha sucata, eu até relevei você brincando de
inventor, mas dar em cima da minha mina? Já é demais – enquanto
analisa Giovani, Jon repousa sua mão esquerda sobre o ombro direito
do rapaz.
-Olha... Jon, né? Não sei se você sabe mas – Diz Giovani ao segurar o
pulso de Jon suavemente – Eu já vi gente de todo tipo nesse internato,
desde os mais ricos filhinhos de papai até os piores traficantes e
pedófilos, se eu estou vivo – apertando um pouco o pulso de Jon – É
POR QUÊ EU ENFRENTEI TODOS DE FRENTE – Diz Giovani, ao segurar
o pulso de Jon com as duas mãos e gira-lo, torcendo o mesmo, ao
mesmo tempo que dá um salto e chuta Jon com as duas pernas contra a
porta, jogando o mesmo pra fora.
-Não mesmo, mas acho que o garoto resolve – Diz Kyle, levando Linda e
mais 3 trombadinhas para longe da briga.
O grupo que veio com Jon saca suas “armas”, bastões de ferro,
canivetes e correntes de bicicletas, são 7 homens, contando com Jon.
-MATEM ELE! MATEM AGORA! – Diz Jon, caído no chão e com uma dor
insuportável tanto no pulso quanto no corpo.
-EU QUE PERGUNTO SEU MONGOL! – Diz Lídia ao abraçar seu irmão,
ela faz uma verdadeira vistoria no rapaz, olhando as feridas – MEUS
DEUS GIGI! Você se quebrou todo...
-Então, maninho, o que você fez? – Diz Lídia, após subir com Giovani
até os andares superiores.
-Eu não fiz nada! Eu juro – Diz Giovani, sorrindo de leve apesar do
sangue escorrendo de sua boca.
-Dá pra fazer uma lista com as coisas que você não fez – Diz Lídia,
enquanto cutuca o irmão nas costelas.
-AH... foi mal – Andando pelo corredor, Lídia nota as pessoas correndo
desesperadas tentando apagar o fogo, Giovani nota Linda próxima as
chamas, chorando próxima de um corpo
-O que será que houve? – Sussurra Giovani para si mesmo, receoso com
o que houve ou, na pior das hipóteses, quem havia morrido.
-Fique aqui, vou pegar um pouco de gelo – Diz Lídia, ao dar um beijo na
testa do irmão, a garota vai até uma das geladeiras, passando pelas
enfermeiras, as mesmas cumprimentam a garota, perguntando sobre o
quê aconteceu nos laboratórios, mas Lídia decide encobrir o irmão,
apesar de não ter certeza sobre o culpado de tudo aquilo.
Enquanto Lídia prepara o gel criogênico, uma pasta com alto nível de
congelamento, Giovani fica na entrada da enfermaria, esperando, mas
fica pasmo ao ver Kyle sendo carregado em uma maca por Linda e
alguns trombadinhas:
-Linda! O que houve? – Diz Giovani ao ver que Kyle não só está
desacordado como sem o braço e perna esquerdos, além de parte do
corpo queimada.
-Ei.... calma, calma, vai ficar tudo bem, o Kyle vai ficar bem – Diz
Giovani, levando Linda para uma das cadeiras, os trombadinhas ficam
se cuidando, passando as pomadas para queimadura.
-Eu... eu não sei oque houve... algumas pessoas acham que foi você e a
sua invenção..., mas não é verdade – Diz Linda – Eu vi... a explosão veio
do lado...
-Imagino que tenha seus motivos... você e seus amigos podem não ter o
melhor estilo de vida..., mas são boas pessoas – Diz Giovani, se
espreguiçando na cadeira, olhando Linda com um sorrisinho.
-Sim... todos temos nossas razões – Linda diz com um tom de alívio,
mas ao perceber o olhar e o sorriso de Giovani, acaba ficando corada,
olhando o sorriso do rapaz – Alias... eu ainda nem sei seu nome.
-Ah... Valentino – diz ao se ajeitar na cadeira – Giovani Valentino... você
pode me chamar de Gigi – Diz o rapaz com um sorriso meigo, apesar
das feridas.
-Sem sobrenome? Bem, tanto faz – Diz Lídia ao encostar o pacote de gel
congelado nas costelas de Giovani.
Enquanto Giovani sofre com a tortura, uma voz feminina ecoa pelo
local, uma mulher de 1 metro e 80, pele parda e cabelos negros lisos
enrolados em um rabo de carvalho, com uma roupa de mulher
executiva e o brasão da escola.
-Você não, fique com seu amigo, preciso lidar com aqueles dois eu
mesma – Diz a mulher para Linda.
-Sim... Diretora Keys – Diz Linda de cabeça baixa, ela se vira e vai até o
quarto aonde Kyle está sendo tratado, observar.
Conforme Lídia e Giovani seguem a Diretora, suas mentes se enchem
de medos e questões sobre o que há de acontecer, conforme andam, só
conseguem pensar em todos os anos que viveram ali, todo o
investimento e todo o estudo que seria desperdiçado em uma expulsão,
Giovani só consegue pensar nas consequências do que supostamente
teria feito, sobre o caos que uma simples invenção gerou, “Como que
pode? Baterias de íon são controladas e estabilizadas, não deveriam
gerar tanto estrago”, Lídia segura na mão de seu irmão e olha em seus
olhos com ternura, se aproximando e encostando seu ombro direito
com o esquerdo de Giovani, numa tentativa de confortar o rapaz,
Giovani apenas encosta a cabeça no ombro de sua amada irmã,
desejando que o Dia acabe o mais rápido possível, Lídia olha o relógio,
“13:30, a gente já devia ter voltado pra aula...”.
-Não acha que está sendo muito ríspido com eles? Quero dizer... são
estudantes – Diz Eduardo, falando em baixo tom.
-Tem razão... curioso você estar assim, todo motivado – Diz Buranko,
sorrindo de forma provocativa.
-Pra falar a verdade eu tô apavorado, tem usuários de Choke pela
escola toda, parece até NRJ1 – Diz Eduardo, rindo mais por nervosismo
do que por graça.
-Acho que sim, é o único feitiço que conheço de cor e que eu treinei –
Eduardo escreve com sangue alguns símbolos nas cartas, ajeitando as
mesmas entre as pedras, formando uma espécie de círculo – Agora é
rezar para que funcione...
1
NRJ – Nova Rio de Janeiro
Eduardo traça com sangue um círculo, ligando as cartas às pedras,
conforme o sangue liga os objetos, o líquido começa a queimar, chamas
em tom de roxo surgem do círculo de sangue, as cartas queimam e
começam a sofrer reações, as pedras levitam suavemente e seus
símbolos brilham em suas cores naturais: Verde, Azul, Laranja e
Branco, as cartas já queimadas começam a se comprimir em esferas e
as chamas roxas se convertem em 4 elementos, respectivos às pedras
que intercalam entre si, as pedras e os elementos começam a girar em
volta do centro do círculo, pequenos “ramos” de energia se estendem
até o centro e começam a se unir, formando um elemento novo.
Por mais que tentem se afastar, o Eixo parece ter vida própria e
estende outros ramos de energia, que ao entrar em contato com os
dois, começam a drenar suas energias em ritmo acelerado, Buranko
finca uma faca de aço reforçado no chão, faca essa que ele sempre
carrega consigo, mas tudo o que gera é um rastro no chão conforme é
puxado, assim que Eduardo toca o núcleo, o círculo para de girar na
hora e gera um lapso de energia, os ramos que antes drenavam as
energias se invertem e começam a inserir energia em Eduardo, que
começa a se contorcer e ter espasmos.
-ED! ED! – Grita Buranko, que se levanta com dificuldade e tenta soltar
as mãos de seu amigo, cogitando decepar as duas.
-Eu falei pra não tocar... imbecil... – Diz Eduardo, rindo baixo – Cara...
tudo dói, pelo menos o Eixo estabilizou...
-Hehehe... foi só um toquezinho de leve – Diz Buranko ao erguer seu
amigo pelo braço – ainda bem que essa sala tem isolamento acústico.
-Mas oque que... Buranko, não caiu nada pela ventilação? – Pergunta
Eduardo.
-Como assim “Só isso”? Acabei de dar fatos sobre uma explosão! –
Exclama Buranko.
-Essa história é falsa, poderes? Feitiços? Sério? Isso tudo faz meu QI
cair a cada palavra – Exclama Lídia, com um visível caçoar na voz.
-Mas é verdade! A gente nunca mentiria pra vocês! – Diz Eduardo, com
os braços cruzados e um tom mais amistoso.
-Mas... eles não são confiáveis... – Diz Buranko, com uma expressão
preocupada.
-Ok... isso me pegou – Diz Lídia com um olhar surpreso – Mas não quer
dizer que seja mágica ou algo do tipo, deve haver alguma explicação
para esse feito!
-Buranko... sua vez – Diz Eduardo, olhando para seu amigo com um
sorrisinho.
-Eu passo, não vou revelar meus segredos... só uma amostra – Buranko
pega um objeto de seu casaco, uma espécie de canivete, mas ao invés
de lâmina, há um pequeno bastão de cobre de 3 centímetros e um
sistema de acionamento feito com engrenagens, semelhante a um
isqueiro – Observem o meu poder... – Diz Buranko ao girar o
mecanismo com o dedão e, em um piscar de olhos, uma luz branca
percorre seu braço até o objeto, que cria uma lâmina de Luz bem curta,
o objeto brilha internamente, como se estivesse carregado.
-Eu esperava que você fosse algum tipo de andrógeno, mas... o que
diabos você é? – Indaga Lídia, contorcendo as mãos de formas
aleatórias.
-Seu irmão deve ser algum tipo de psicopata, só pode – Diz Buranko
enquanto se alonga por conta do “ataque” que sofreu.
-Tenho que concordar com você, senhor arroz frito – Diz Lídia, rindo
com a mão em frente a boca.
-Nunca vimos essa pessoa em nossas vidas, nós só viemos para cá por
conta da bolsa de estudos!
-Senhora... viemos para descobrir até onde as raízes da... Ordo Peccati
se estendem nessa instituição
O rapaz enjaquetado
3 dias após o incidente no internato, Lídia se vê na praça central
novamente, com uma camisa listrada e sem mangas, mas mantendo
seu cachecol bem firme em seu pescoço, a garota observa a calçada que
rodeia a cerca de lanças da praça, esperando algo... ou alguém.
-Cara... eu tô aqui faz 1 hora e você não calou a boca... pelo amor de
Deus, calado... – Diz Lídia, falando baixo.
-Você não deveria estar de olho, Edu? Quero dizer, quem bolou esse
plano foi você – Diz Buranko, caçoando de Eduardo.
-Você não vai com a minha cara, só pode! – Diz Giovani, murmurando.
-Calem a boca, quem planejou foi a Diretora, e ponto final – Diz Lídia,
falando em tom sério, calando a todos na escuta.
“-Lídia, preciso que lidere essa missão – Diz a Diretora, com um tom de
preocupação na voz.”
-Mas... por quê? O Giovani sabe liderar melhor! Ele é mais carismático,
mais forte e... ele é melhor que eu! – Exclama Lídia, próxima da
diretora, nervosa e beirando o desespero, liderar deposita
responsabilidade demais para uma pessoa só carregar.
-Por quê... só você pode cuidar dele, minha sobrinha – Diz a Diretora,
abraçando Lídia de forma repentina, encostando sua cabeça na de sua
sobrinha.
-Tia... o que.... – Pergunta Lídia, surpresa com a ação anormal de sua tia,
a garota abraça a Diretora com firmeza.
-Lídia, eu prometi pros seus pais que iria cuidar de vocês... eu jurei no
leito deles, mas o nome da nossa família tem inimigos... e eu não sou
capaz de proteger vocês deles – Diz a Diretora, deslizando a mão em
sua cintura, pegando um objeto cilíndrico, semelhante a um batom –
Seu irmão já está ascendendo, mas você ainda não demonstrou
avanço...
-Avanço? – Pergunta Lídia, que se afasta ao ver o que sua Tia pegou – O
quê é isso?
-Você... mexeu com a pessoa errada... seu merda – Lídia está caída,
escorada em um poste quebrado pelo impacto de antes, com a mão
erguida, nem mesmo ela sabe oque aconteceu, apenas ergueu sua mão
por instinto, como se lutar contra aquele rapaz fosse o catalizador para
algo em seu ser – Eu vou pegar você... – Diz a garota, ao se por de pé,
ela aponta o indicador para o rapaz.
“O que é isso que atirei? Uma bolha? Parece criar um vácuo no ar e...
gerou aquele dano estranho, será que...” – pensa Lídia, segurando seu
braço esquerdo, no local onde sua Tia havia segurado em seu sonho –
Gostou disso? Panaca! – Lídia começa a correr contra o rapaz, que
reclama de dor por conta das queimaduras.
-FOI MAL! – Diz Lídia, com um sorriso simpático, a garota dispara uma
das bolhas contra o motor do carro, atingindo o sensor magnético e
desativando a suspensão - “Se ele estiver aí embaixo, ele vai sair” –
pensa a garota, ela observa os becos enquanto o carro diminui a
velocidade e, consequentemente, a leve altitude.
Buranko corre e pula, apoiando seu pé nas mãos de seu aliado, que
impulsiona o espadachim usando as chamas.
-Isso... é belo... será que eu já fui alguém para esse povo? – Diz o rapaz
em um breve monólogo.
-Cara, nem sabemos quem você é – Diz Lídia, que está atrás do rapaz,
observando.
-eu... espera, QUE? – O rapaz se vira rapidamente, fazendo suas unhas
crescerem em garras e desferir um ataque feroz contra Lídia, que tem
seu rosto arranhado.
A garota olha o rapaz com uma visível fúria e agarra-o pela camisa,
golpeando a cabeça dele contra o corrimão de pedra da muralha, o
rapaz perde os sentidos, mas tenta atingi-la com golpes inúteis.
-Não se sente tão bem agora, né? Sua regeneração vai te salvar – Diz
Lídia, sorrindo de orelha a orelha enquanto dá um passo para trás.
-Cara... ele tá vivo mesmo? Quero dizer, ele tá todo cagado aí! – Diz
Buranko enquanto prepara o furgão para o transporte.
-Ele está, ainda sinto a força vital dele – Diz Eduardo enquanto amarra
o corpo com firmeza.
-Quem ama quem aí? Saibam que não tolero sexo ao vivo, ok? – Diz
Lídia, a garota botou curativos em seu rosto para parar o sangramento.
-Que papo torto, são os pombinhos aí que não se entendem nunca – Diz
Eduardo, sorrindo de canto.