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Teoria de Ramsey

Charles Morgan (University College, London)

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Definições

Seja X um conjunto e sejam λ, κ, µ cardinais.

Escreveremos a cardinalidade de X como |X|.

Uma partição de X em λ partes é qualquer


função f : X −→ λ.

Assim X = X0∪X ˙ . . . ∪X
˙ 1∪ ˙ . . . para i < λ.
˙ i∪

[X]κ = { Y ⊆ X | |Y | = κ }.

Um κ-grafo sob X é simplesmente qualquer


subconjunto A de [X]κ . Os elementos de X
são os vértices do grafo e os elementos de
A são as (κ)-arestas.

Um grafo é um 2-grafo – seja qualquer con-


junto equipado com uma relação binária as-
simétrica.

2
H = (Y, B) é um subgrafo do G = (X, A) se
Y ⊆ X e B = A ∩ [Y ]κ . Então H tem todas
as arestas que G tem entre os vértices no Y .

Uma coloração do grafo G = (X, A) com µ


cores é uma função f : A −→ µ.

Um subgrafo H = (Y, B) de G = (X, A) é


homogêneo ou monocromático por uma
coloração do G se |f “B| = 1.

(f “B = { f (b) | b ∈ B }.)
Teorema de Ramsey (1930)

Sejam n, r < ω. Se f : [ω]n −→ r, existe


X ∈ [ω]ω (então um subconjunto infinito do
ω) e existe um p < r tal que f “[X]n = {p}.

(I.e., para qualquer coloração com r cores


do n-grafo completo sob um conjunto enu-
merável existe um subconjunto infinito do
conjunto tal que o sub-n-grafo induzido no
subconjunto é monocromático.)

Mote: Em qualquer confusão não se pode


evitar de achar ordem/estrutura.

Princı́pio de casas dos pombos.

Indução.

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Notação húngara:

µ
κ −→ (λ)γ se

∀f : [κ]µ −→ γ ∃X ∈ [κ]λ |f “[X]µ | = 1.

Miniaturização – o teorema de Ramsey finito:

∀m, k, l ∈ N ∃n ∈ N n −→ (m)kl
é evidente da demonstração do teorema de
Ramsey infinito.

(Outro esquema (para cada par fixo de k e l):


use o teorema de compacidade para a lógica
da primeira ordem para mostrar o teorema
de Ramsey infinito do teorema finito. Ex.)

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Def. R(k) = o n mı́nimo t.q. n −→ (k)2
2

R(3) = 6, R(4) = 18. Mas o valor de R(k) é


desconhecido para k ≥ 5.

R(k) ≤ 22k

[Começa com um grafo completo de tamanho


22k . Use o princı́pio de casas de pombos
2k vezes para obter no fim um conjunto de
vértices com a propriedade que a cor da aresta
ligando xi e xj só depende do mı́nimo de i e
j, e depois use o princı́pio mais uma vez.]

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(Erdös) R(k) ≥ 2k/2

[Começa com um grafo completo de tamanho


N . Escolha as cores das arestas entre os
xi e xj independentemente, sendo vermelho
com probabilidade de 1/2 e azul com prob-
abilidade de 1/2. Seja {x1, . . . , xk } um con-
junto de vértices. A probabilidade que todas
as arestas entre elas sejam vermelhas é de
2−(k.(k−1)/2 e de que todas sejam azuis é a
mesma. Seja N Ck o número de modos de
escolher k coisas de N . Então o número es-
perado dos conjuntos de vértices com todas
as arestas da mesma cor é 21−(k.(k−1)/2. N Ck .
Se este número é menos que 1 deve ser possı́vel
que não existam tais conjuntos. E o número
é menos que 1 se N < k/2.]

ref: W.T.Gowers, ”Two Cultures of Math-


ematics”, ”Rough Strucutre and Classifica-
tion”. www.dpmms.cam.ac.uk/˜wtg.html

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Generalização do alvo

(Erdös-Rado) (2ω )+ −→ (ω1 )2


2

(Sierpinski) 2ω 6−→ (ω1 )2


2

[Mais geralmente, (2κ )+ −→ (κ+ )2 2 (E-R) e


2κ 6−→ (κ+ )2
2 (S), para κ regular .]

Nota: R(ω) = ω, mas R(κ+ ) = (2κ )+ > κ+.

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(Todorcevic (1986)): no não eumerável tem
situações onde é impossı́vel fugir do grau máximo
de caos:

existem colorizações c : [ω1]2 :−→ ω1 tal que


para qualquer X ⊆ ω1 com |X| = ℵ1 temos
c“[X]2 = ω1.

Não podemos tomar qualquer passo na direção


da estrutura

[Em sı́mbolos falamos ω1 6−→ [ω1]2


ω1 .]

Demonstração elementária, mas intricada.

Mesmo resultado para cardinais κ+ quando


κ é regular.

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E os cardinais não sucessores – isto é, lim-
ites?

Chamamos cardinais κ t.q. κ −→ (κ)2


2eω<κ
de fracamente compactos.

Tais cardinais são limites (Sierpinski - em


cima) e regulares, e então Vκ |= ZF C.

Isto é um primeiro passo na teoria dos ”car-


dinais grandes” - que fortalecem os axiomas
da teoria dos conjuntos.

A teoria de Ramsey aqui tem um papel muito


influente no desenvolvimento da sofisticada
teoria do ”core models” (Jensen, Steel,...)

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Generalização do exponente

(Axioma de Escolhas) não tem teoremas do


tipo Ramsey positivos para partições da forma
f : [X]κ −→ γ com κ infinito - com ”expo-
nentes” infinitos - em geral.

Então temos que estudar coleções mais re-


stringidas das colorizações.

(Silver) Se f : [N]ω −→ k é Borel (ou mesmo


analı́tico) na topologia do produto, k < ω,
então existe X ∈ [N]ω t.q. |f “[X]ω | = 1.

(Mathias) mesmo resultado se f é definı́vel


dos ordinais e reais.

Topologia de Ellentuck (refinamento da topolo-


gia do produto): conjuntos abertos básicos
são da forma {X |s⊆X ⊆s∪S }
para pares s ∈ [N]<ω e S ∈ [N]ω com max(s) <
min(S).

(fn. o mundo sem Ax. de Escolhas: spp e


AD!)
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Generalização do tipo do alvo

Perguntas sobre ordinais, eg., para quais α ∈


On temos que ∀f : [α]2 −→ 2 ou existe X ⊆ α
com otp(X) = γ e f “[X] = {0} (conjunto
”azul”) ou existe Y ⊆ α com |Y | = 3 e
f “[Y ]2 = {1} (triângulo ”vermelho”). [Eg.,
γ = ω + 1.]

[Notação: α −→ (γ, 3)2


2 .]

Enquanto ω2.ω −→ (ω2 ω, 3)2 2 o análogo


(ω3 .ω1 −→ (ω3 ω1 , 3)2
2 ) não pode ser mostrado
no ZFC.

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(van der Waerden) Para qualquer coloração
de N existem progressões aritméticas
monocromáticas de toda extensão finita.

(Hindman: teorema de somas finitas) Para


todo n, k ∈ N e c : N −→ k existem x0,
. . . ,xn−1 t.q.
|{ c”Σi∈Axi | A ⊆ n, A 6= ∅ }| = 1.

(Hales-Jewitt). Seja A um conjunto finito e


d ∈ N. Uma reta em Ad é um conjunto da
forma, para I ⊆ d, I 6= ∅ e ci ∈ A para i < d,
de L = {x0, . . . , xd−1 k ∀i j ∈ Ixi = xj
∀i ∈ d \ Ixi = ci} .

∀A finito ∀k ∈ N ∃d ∀c : Ad −→ k
∃L, uma reta, que é monocromática.

[HJ =⇒ vdW : seja φ(x0 , . . . , xd−1) = Σi<dxi.]

”Teorema de Ramsey dual” (Carlson-Simpson),


e muitas outras variações.
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(Gowers) Teorema de dicotomia. Seja X um
espaço de tipo Banach que é separavel e de
dimensão infinita. Então existe Y ⊆ X t.q.
ou existe uma base não condicional para Y
ou Y é hereditariamente indecomponı́vel.

(Szemeredi) Versão de densidade do teorema


de van der Waerden.

(Green-Tao) Para qualquer coloração de P,


os números primos, existem progressões ar-
itméticas monocromáticas de toda extensão
finita. Também versão de densidade.

[Densidade: A ⊆ N tem densidade difer-


ente de zero se lim supn−→∞ (A ∩ n/n) > 0.
A ⊆ P tem densidade diferente de zero se
lim supn−→∞ (A ∩ n)/(P ∩ n) > 0.]

(cf. a teoria restringada abaixo)

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Técnicas (além da combinatória ”pura”):

Teoria ergódica. (Furstenberg, Bergelson et


al.)

Teoria de semi-grupos e idempotentes (par-


ticularmente β N, o espaço dos ultrafiltres no
N). (Hindman et al.)

Análogos da topologia de Ellentuck, e técnicas


do forcing e a teoria de jogos infinitos (es-
tas últimas duas da teoria dos conjuntos).
(Carlson e Simpson, muitos outros; Gowers,
Bagaria e Lopez-Abad)

[Não só para resultados de consistência, mas


também para teoremas absolutos.]

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Lema de regularidade de Szemeredi.
[”Classificação” de grafos.]

Análise harmônica/de Fourier. (Gowers, Green-


Tao)

Moto de Tao sobre densidade/Szemeredi:

”Cada conjunto de densidade positiva é (ou


contém um subconjunto pseudorandom grande
de um conjunto estruturado.

Mas o que quer dizer ”densidade”, ”pseu-


dorandom”, ”grande” e ”estruturado” varia
dependendo do campo matemático.

ref: W.T.Gowers ob.cit.; T.Tao, ”The Di-


chomtomy Between Structures and Random-
ness, Arithmetic Progressions, and the Primes”
www.math.ucla.edu/˜tao

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Outras áreas:

Teoria de Ramsey no topologia geral (Todor-


cevic et al)

Teoria de Ramsey estrutural (em outras cat-


egorias)

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Teoria de Ramsey restringida.

Teoremas de tipo Ramsey/anti-Ramsey para


grafos além dos grafos completos.

(Folkman) Existe um grafo G = (X, A) que


não contém um subgrafo isomorfico ao K4,
mas para que para cada c : A −→ k existe
y ∈ [X]3 t.q. A ∩ [y]2 ∼ K3 e |c”A ∩ [y]2 | = 1.

”Grafos podem ter propriedades de Ramsey


mesmo sendo com poucas arestas.”

van der Waerden restringido: dado n ∈ N


existe um subconjunto finito de N t.q. para
qualquer colorização deste conjunto existe uma
progressão aritmética de extensão n, mas o
conjunto não contém qualquer progressão ar-
itmética de extensão n + 1.

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Esparso: não tem ciclos - T0a0 T1e1 . . . an−1Tn,
os Ti triângulos, os ai ∈ Ti ∩ Ti+1 arestas,
0 < n e T 0 = Tn .

(Nestril-Rödl) ’Folkman’ para um grafo es-


parso. Versão esparso da teorema de somas
finitas.

Técnica: amalgamação. (cf. teoria de Ram-


sey estrutural).

(Leader) Versões restringidas da teoria das


matrizes com regularidade para partições.

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Seja X ∈ [ω]ω . Definimos F Sk (X) como a
coleção de somas de no máximo k elementos
S
do X, e F S(X) = k∈N F Sk (X).

(Hindman) Para qualquer colorização finita


de N existe um conjunto infinito X ⊆ N t.q.
F S(X) é monocromático.

Pergunta aberta: Seja k ∈ N. Existe S ⊆


N t.q. para qualquer colorização finita de
S existe um subconjunto monocromático da
forma F S≤k (X), mas t.q. S não contém nen-
hum conjunto da forma F S≤k+1(X)?

Ou (mesmo): Existe S ⊆ N t.q. para qual-


quer colorização finita de S existe um con-
junto monocromático da forma F S≤2(X), t.q.
mas S não contém nenhum conjunto da forma
F S(X)?

ref: Hindman, Leader, Strauss:


members.aol.com/nhindman

Também parecemos estar longe de ter car-


acterizações de quando (para quais grafos)
estes teoremas restringidos/esparsos se obtêm.
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Teoria de Ramsey não contável restringido.

Atentos de Hajnal-Komjath a geralizar a teo-


rema de Todorcevic.

No mı́nimo o grafo G = (X, A) precisa ser


ℵ1 -cromático: não existe f : X −→ ω t.q.
para todo i ∈ ω E ∩ { x ∈ X | f (x) = i } = ∅.
(densidade!?!)

Resultados positivos em alguns modelos da


teoria dos conjuntos. E negativos em outros
(eg, para o conclusão da teorema de Todor-
cevic). ref: www.math.rutgers.edu/˜ahajnal/

Perguntaram se é verdadeiro que sendo G =


(X, A) um grafo ℵ1-cromático, sempre tem

∃c : A −→ ω1 ∀f : X −→ ω ∃i < ω
|c”A ∩ [f −1 ”{i}]2 )| = ω1 ?

(Nota: uma resposta ”sim” daria uma carac-


terização de quando o teorema restringido –
dando exemplos dos grafos que não contém
Kω1 – obter-se-ia.)
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(M.) No fato temos um teorema restingido/de
densidade. Sempre existem grafos ℵ1 -cromáticos
que não contém Kω1 e satisfazem

∃c : A −→ ω1 ∀f : X −→ ω ∃i < ω
|c”(A ∩ [f −1 ”{i}]2)| = ω1.

Embora, ainda não resolvemos completemente


a pergunta de Hajnal e Komjath.

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Hajnal-Komjath tiveram esta propriedade para
κ+ no lugar de ω1 , κ um cardinal regular, em
alguns modelos da teoria de conjuntos.

(Džamonja, Komjath, M) Tem modelos da


teoria dos conjuntos em que a propriedade
se obtém (ao menos para grafos de até qual-
quer tamanho predeterminado) para κ+ com
κ singular. [cf (κ) = ω.]

As demonstrações usam técnicas sofisticadas


da teoria dos conjuntos.

Mas ainda não deram resultados quando a


cofinalidade de κ é mais que ω.

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