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Resumo
O Núcleo de Apoio à Familia e Aconselhamento Parental (NAFAP), dirigido pelos
pressupostos da intervenção sistémica, foi criado com intuito de orientar o grupo familiar nas
relações. Contempla, ainda, todos os elementos envolvidos, as suas dinâmicas e as
oportunidades de sucesso que as mudanças poderão proporcionar. Os resultados preliminares
indicam que, apesar dos constrangimentos logísticos que apresenta, surge como um serviço
potencializador e mobilizador das competências das famílias.
Palavras-chave: intervenção familiar, educação, terapia familiar.
Introdução
A intervenção do psicólogo em contexto escolar há muito tem vindo a mostrar
transcender as paredes da escola. Progressivamente tem vindo a ser reconhecida a influência
de variáveis contextuais no percurso educativo dos alunos, que abrangem desde as
características do meio educativo, até às características do meio envolvente e os antecedentes
familiares dos alunos. Ou seja, reconhece-se hoje que a escola é (apenas) um elemento de um
ecossistema mais vasto, que em simultâneo com elementos dos diferentes níveis ecológicos
influencia o desenvolvimento da criança (Bronfenbrennner, 1994).
É no contexto deste olhar mais abrangente que em 2014 se realizou na Região
Autónoma da Madeira - RAM um estudo de caracterização (Cruz et al., 2014) no qual se
constatou o elevado número de famílias de crianças e jovens que apresentavam sinais de atual
ou muito provável risco do seu funcionamento. Todos sabemos que o sistema familiar é o
contexto onde se estabelecem as relações proximais com maior impacto na qualidade do
desenvolvimento, evidenciou-se, assim, a pertinência (e a urgência) de se desenvolverem
respostas de intervenção capazes de atender especificamente à forma como as famílias
influenciam o percurso educativo. Neste sentido, foi criado o NAFAP.
Problemáticas Familiares
Multiproblemática
Perda/Luto
Delinquência
Gravidez na adolescência
Comportamento alimentar
Desenvolvimento
Doença crónica
Conflitos familiares
Separação/Divórcio
Negligência
Indisciplina
Insucesso
0 10 20 30 40 50 60 70
A maioria das famílias foi encaminhada pela Escola (24,3%), pela Equipa
Multidisciplinar de Assessoria ao Tribunal - EMAT (21,4%) e a pedido da própria família
(18,4%) (Tabela 1).
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Total 100 103
Agregado Familiar
Institucionalização
Acolhimento/adoção
Reconstruído
Alargada
Alargada monoparental
Alargada biparental
Nuclear monoparental
Nuclear biparental
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Intervenção Desenvolvida
Face aos encaminhamentos recebidos pelo NAFAP, em função das situações de risco
acima descritas, a equipa técnica (duas terapeutas familiares, uma psicóloga, uma supervisora
e uma investigadora) realiza uma intervenção sistémica. Esta intervenção tem o intuito de
intervir, promover e fortalecer as competências das famílias com crianças e jovens, em
constante mutação, e nas consequentes problemáticas familiares associadas em que os
serviços médicos e sociais não conseguem responder, dada a dimensão e complexidade das
mesmas.
A linha de intervenção assenta no modelo sistémico, contemplando todos os elementos
envolvidos da familia e confere à criança/jovem um papel importante, dando relevo ao
contexto e à mudança sociocultural, explicando as dinâmicas das relações e das suas
mudanças, promovendo competências parentais e o desenvolvimento da criança/ jovem.
Intervir no tratamento das problemáticas familiares e na promoção da saúde mental familiar
pressupõe, ainda, intervenção em rede e uma metodologia de investigação-ação e formação e
supervisão contínua.
Em função da intervenção, foram delineados alguns objetivos com intuito de
despoletar mudanças nas dinâmicas familiares, tais como: a) Promover o Estilo Educativo
Positivo; b) Desenvolver a Coparentalidade; c) Reforçar a Coesão Familiar; d) Melhorar a
Relação Escola-Familia; e) Reforçar a Coesão Familiar; f) Definir Fronteiras entre
subsistemas; g) Fomentar a autonomia na Criança; h) Aumentar a Rede de Apoio; i)
Resolução de conflitos familiares; j) Reorganização dos contactos pais-filhos pós separação.
Das 103 famílias referenciadas para o NAFAP podemos evidenciar que apenas 16,5%
não beneficiaram de intervenção. Das famílias em acompanhamento ou que tiveram terapia
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familiar houve a necessidade de articular com os outros serviços (98,1%), os quais 59,2%
solicitaram relatórios relativamente à evolução da intervenção.
No que se refere à intervenção, 32% das famílias tiveram alta, 27,2% continuam em
acompanhamento, estando em lista de espera 3,9%. O valor das desistências situa-se nos
13,6% e nunca compareceram 15,5%. A intervenção foi realizada tanto em sessões individuais
(72,8%) como em sessões de grupo (80,6%) (tabela 2).
Resultados Alcançados
Na tabela 3 podemos verificar quais os objetivos sistémicos definidos para cada
família. Estes foram delineados consoante as características e necessidades de cada uma delas.
No que se refere a cada objetivo podemos ler na tabela seguinte: o SIM significa “objetivo
atribuído à família X”; o NÃO significa que este “objetivo não foi atribuído à família”; o N/A
significa uma das seguintes situações: a) referenciadas para o NAFAP, mas nunca
intervencionadas por indisponibilidade para a terapia; b) após a primeira sessão, foram
encaminhadas para outros serviços por não apresentarem características para a terapia
familiar; c) desistência.
Por seu turno, a coluna SIM subdivide-se em duas situações: a) “objetivo alcançado”
significa que a família já terminou o processo terapêutico; e b) “intervenção” significa que a
família ainda se encontra em terapia familiar.
O objetivo “promover o estilo educativo positivo” foi o mais frequentemente atribuído
(54,4% das famílias). Tanto este como os restantes objetivos foram alcançados pelas famílias
em que foram definidos esses mesmos objetivos. Ou seja, pode-se afirmar que a maioria das
famílias alcançou os objetivos definidos em contrato terapêutico. No entanto, há famílias que
ainda continuam em terapia com o intuito de alcançar a mudança.
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Tabela 3 - Objetivos sistémicos definidos para cada família
Não N/A SIM OBJETIVOS
Alcançado Intervenção
Promover o Estilo Educativo Positivo 17,5 28,2 54,4 26,2 18,4
Discussão
Consideramos o projeto inovador por ser o único serviço público na RAM, que
acompanha famílias com filhos na escola; é acessível a todas as famílias com filhos no
sistema de ensino; e é norteado pelo modelo ecológico e pela necessidade do constante estudo
das problemáticas familiares. A qualidade do projeto de intervenção sistémica e familiar
prima pelo seu tempo de intervenção (9-12 meses), pela ativação da rede social de apoio e
pelo trabalho articulado com os vários intervenientes.
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A equipa do NAFAP enfrenta como desafios o limite de horário de funcionamento
realizando a sua intervenção, durante 5 dias mensais, sendo insuficiente para os pedidos
solicitados, o que agrava a espera para a primeira consulta e a desistência das famílias. Além
disso, consideramos que os valores dos mesmos estão diretamente relacionados com o tempo
de espera para a primeira consulta, e, por serem famílias multidesafiadas e multiassistidas.
Estes parâmetros corroboram os estudos relativos à não adesão terapêutica (Benetti & Cunha,
2008; Lhullier, 2002; Renk & Dinger, 2002). Entende-se como oportuno o alargamento da
equipa e do horário de funcionamento, de modo a criar grupos de interajuda familiar e a
criação de um serviço intersectorial (saúde – educação – apoio social e comunitário).
Pela análise dos resultados apresentados, é visível o elevado número de famílias com
problemáticas (103) suscetíveis de intervenção familiar, apontadas pelos referenciadores com
mais frequência. A intervenção familiar potencia uma intervenção organizada, sistémica e
sistemática às famílias, oferecendo às mesmas um suporte integrado o que possibilita a
mudança. São vários os serviços que existem em Portugal que funcionam como um recurso
eficaz de apoio à familia, tais como os CAFAP – Centro de Apoio Familiar e Aconselhamento
Parental, Unidade de Terapia Familiar da ARS do Algarve e gabinetes de apoio à família
ligados aos municípios, entre outros, que vão de encontro às necessidades específicas das
famílias da atualidade.
Podemos verificar pelos dados casuísticos que o NAFAP desenvolveu com os seus
paceiros uma relação próxima, proporcionando assim, uma nova visão em termos
comunicacional, desenvolvimental, estrutural e transgeracional das famílias sinalizadas e
intervencionadas. Vejamos, por exemplo, os filhos de pais separados, com dificuldade da
gestão das tarefas parentais e comunicacional. Nestes casos a intervenção sistémica potenciou
o equilíbrio do sistema em relação complementaridade da função parental em prol do bem-
estar da criança. Os estudos sobre pais separados evidenciam que há um menor envolvimento
e cumprimento das funções da parentalidade, ou seja, existe uma diminuição do afeto, da
comunicação, do controlo e da monitorização (Hetherington et al., 1982, 1989; Wallerstein,
1983).
De uma forma mais complexa podemos analisar outros casos de intervenção realizada
no NAFAP, sendo os casos de insucesso escolar os mais referenciados neste serviço. Estes
casos requerem uma maior articulação com as Escolas, com o objetivo de refletir sobre o
elemento potenciador da mudança, minimizando o sintoma na família. Rodrigues (2010),
refere que uma das facetas presentes no sistema educativo é o incesso escolar, salientando que
a causa do insucesso na aprendizagem pode estar ligada a fatores internos das crianças, mas
também de fatores externos, ambientais e familiares.
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