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Anais do 1º Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade

Ciência e Tecnologia como Vetores da Sustentabilidade

Organização
Vivian Aparecida Blaso S.S. Cesar
Sasquia Hizuru Obata

São Paulo
Vespa Comunicações
2013
C4902 Anais Anais do 1° Congresso Internancional de Inovação e Sustentabilidade
Ciência e Tecnologia como Vertores da Sustentabilidade / Originou-se no
Congresso Internacional de Inovação e Sustentabilidade, 1; Iniciativa da
Agência de Comunicação Conversa Sustentável; Revista Sustentabilidade;
apoio da FATEC Tatuapé Victor Civita. –
São Paulo: Vespa Comunicação, 2013. –
344 p.: il, grafs e tabs.

978-85-67085-02-9
Referências bibliográficas.

1. Ciência. 2. Tecnologia. 3. Sustentabilidade. 4. Congresso Internacional


de Sustentabilidade, 1. I.Título. II. Agência de Comunicação Conversa
Sustentável. II. Revista Sustentabilidade. III. FATEC Tatuapé Victor Civita.

CDD 600
CDU 6
SUMÁRIO

Capítulo 1: Certificações e avaliações

Abrangências e limitações de processos de certificações em sustentabilidade - José Geraldo Falcão


Britto

A percepção dos gestores dos meios de hospedagem certificados em sustentabilidade –caso da


certificação NBR 15401 no Brasil - Cláudio Alexandre de Souza e Rafaela Caroline Simão Álvares

Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais de referência usando as


certificações LEED e – PROCEL-EDIFICA - Luana Eid Piva Bertoletti, Alberto Hernandez Neto

Indicadores de sustentabilidade para avaliar iniciativas de educação ambiental - Catarina Jahnel de


Oliveira

Monitoramento de aves em áreas florestais certificadas - Manoelle Fuzaro Gullo

Programa de qualificação de fornecedores (PQF) e ISO 9001:2008: um estudo de caso em uma


pequena rede independente de hotéis - Antônio Oscar Santos Góes, Talles Vianna Brugni e
Maria Josefina Vervloet Fontes

Capítulo 2: Comunicação, Cultura e Sustentabilidade

̧ ̃ do bambu em construções sustentáveis - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima


Aplicacoes
e Ruth Marlene Campomanes Santana

Arquiteturas interativas inteligentes: como as redes digitais podem fazer parte das estratégias e
ações de sustentabilidade das organizações - Julliana Cutolo Torres e Fernanda Cristina Moreira

A sustentabilidade social, cultural e econômica de comunidades tradicionais e empreendimentos


econômicos solidários - Seila Cibele Sitta Preto e Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante

Design consciente para um futuro sustentável - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima
e Ruth Marlene Campomanes Santana

̧ ̃ ciência e o planeta - Igor Oliveira Rocha


Educacao,

̧ ̃ sob o foco da Sustentabilidade - Rachel Machado de Sousa, Sarah


O desafio da comunicacao
Aparecida da Cruz, Alex Donizeti do Rosário

̧ ̃ nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades - Érica


O papel da comunicacao
Maruzi do Monte Pereira

Sistema automático para beneficiamento de pólen apícola com estrutura em alumínio reciclado para
a cadeia produtiva da apicultura sustentável - Otávio Campos Pereira, Ederaldo Godoy Júnior,
Daniela Helena Pelegrine Guimarães, Lídia Maria Ruv Carelli Barreto, Gustavo Frederico Ribeiro
Peão, Paula Vasconcellos

Sustentabilidade comeca̧ na Educacao


̧ ̃ – Desafios para a acao
̧ ̃ - Janaína Dourado, Maria Teresa
Stefani, Cássia Maria Paula Lima
Capítulo 3: Construção Sustentável, Cidades Sustentáveis

A gestão de resíduos sólidos no Brasil - Dirlei Andrade Bonfim, Juliana Oliveira Santos2, Rubens
Jesus Sampaio3, Milton Ferreira da Silva Junior

Análise de ventilação natural em habitação popular - Mario Roberto Nantes Junior, Gabriel Borelli
Martins, Paulo José Saiz Jabardo, Gilder Nader

Aplicação do resíduo sólido da indústria de reciclagem de alumínio como material pozolânico -


Inara Guglielmetti Braz, Mirian Chieko Shinzato, Tarcísio José Montanheiro, Vinícius Ribeiro

A Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de tecnologia social para


a sustentabilidade: caso Cooperlírios - Jakeline Pertile Mendes

Bambu uma alternativa sustentável - Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima e Ruth Marlene
Campomanes Santana

Gestão sustentável de condomínios em prol de cidades sustentáveis: case do condomínio Edifício


Residencial Porto di Nucci - Alcino Vilela

Habitações populares: Como os moradores convivem com a ausência de conceitos sustentáveis -


Suelem Maurício Fontes Macena, Sasquia Hizuru Obata, Daniel de Andrade Moura, Gilder Nader

Política urbana e sustentabilidade: subsídios ao processo de revisão do plano diretor de Franca -


Mauro Ferreira

Túnel de Vento: uma importante ferramenta a serviço de tecnologias sustentáveis - Gabriel Borelli
Martins, Alessandro Alberto de Lima, Paulo José Saiz Jabardo,
Gilder Nader

̧ ̃ de edifícios de balanco̧ energetico


Viabilidade para implantacao ́ zero no Brasil - Roberto Oranje

Capítulo 4: Consumo Sustentável

A²E – Sistema De T-Commerce (COMÉRCIO Eletrônico Pela Tv) - Alex da Rocha Alves e Elievan
Freitas Paulino

A importância do descarte adequado do lixo eletrônico na Universidade de São Paulo - Henry Júlio
Kupty, Natalia Ramos De Carvalho, Suelen Bicciatto Garcia Ferreira

Consumo Sustentável - Um estudo analítico da Evolução do Consumo Verde - Roberto José


Almeida de Pontes

Eventos lixo Zero - José M. Furtado

Reaproveitamento de Resíduos da Indústria do Vestuário - Rutiele Harlos

Capítulo 5: Ecopolítica

Política de resíduos sólidos do Japão: um modelo a ser seguido pelo Brasil? - Tiago Trentinella
Capitulo 6: Educação e Ensino a Distância

Arquitetura escolar e sustentabilidade: uma abordagem considerando o Autoritarismo Educacional -


Disciplinamento (Panóptico) e a Educação Libertária - Sílvia Kimo Costa, Milton Ferreira da Silva
Júnior

Educação EaD e inclusão digital social - Val Sátiro

O Brasil e sua logística reversa - Arthur Lamblet Vaz

Projeto Layout de Casa Ecológica Auto Sustentável para fins didáticos - Fábio Rubio e Nilson
Yukihiro Tamashiro

Responsabilidade Social: a ISO 26.000 aplicada ao Ensino Superior - Helena Maria Gomes
Queiroz

Teoria da Respeitabilidade - Maria Aparecida Munin de Sá e Henry Julio Kupty

Capítulo 7: Empreendedorismo e inovações Tecnológicas sustentáveis

Acessibilidade em parques ambientais - J. G. S. de Souza, L. D. de Carvalho e N. Santos

Aplicação da gestão de design no Empreendimento solidário “Mulheres do Mirassol” - Agda


Bernardete Alano e Luiz Fernando Gonçalves de Figueiredo

Argamassa Polimérica Para Assentamento de Alvenaria - Michael Jackson Alves dos Santos

Dialogando sobre a Interface da Geoinformação em processos de Educação para Sustentabilidade


Patrícia Garcia da Silva Carvalho, Valéria Crivelaro Casale e Felipe Souza Marques

Empreendedorismo, responsabilidade social e sustentabilidade empresarial- o caso do museu do


marceneiro- Maria Luísa Silva e Fátima Jorge

Equipamentos Eletroeletrônicos- Logística Reversa, Elementos Químicos Adequados e os


Benefícios para o Meio Ambiente - Eliane M. Grigoletto, Moacir Pereira e Marco Antônio Silveira

Inovação, tecnologia e sustentabilidade - Rachel Machado de Sousa

O uso do fosfogesso como material alternativo de construção- uma solução sustentável - João
Ailton Brondino e Almir Sales

Processo Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região- Inovação Tecnológica, Eficiência e


Sustentabilidade - Daniela Garcia Giacobbo

Produção de biodiesel no ensino de química: uma proposta sustentável - Anderson de Oliveira


Lima, Arthur Ruola Coiado e Melina Kayoko Itokazu Hara

Sustentabilidade comparativa dos modelos energéticos brasileiro e espanhol - Xavier Miro Fuentes

Tecnologia e sistemas de processamento de resíduos - um estudo de empresas de Mato Grosso do


Sul - Pablo Terra de Moraes Luizaga e Cláudia Moreira Borges
Capítulo 8: Práticas e processos organizacionais

A importância da participação nas autarquias locais - José Fidalgo Gonçalves e José Elias Ferreira
Ramalho

Benefícios percebidos pela adoção dos sistemas de colaboração - Marcos Alexandre dos Reis
Cardillo, Márcia A. Vieira Silva e Luiz Daniel Matsumato

Gestaõ Socioambiental - avaliaçaõ das praticas


́ ́
para a sustentabilidade na industria - Henrique
Martins Galvão

Subjetivação e Novos Indicadores de Performance: Contribuições para uma nova Ferramenta de


Monitoramento em Sistema Integrado de Gestão (2Q’s) - Karla Rocha Carvalho Gresik e
Milton Ferreira da Silva Júnior

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea


Goldschmidt

Capítulo 9: RSE e sustentabilidade: desafio Local, desafio Global

Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da Responsabilidade Social Globalizada -


José Quintal e José Ramalho

Inclusão Social Corporativa - Henry Julio Kupty e Marta Hiromi Mendes

O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros uma análise dos prejuízos ambientais e
sociais desta atividade - Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata
Rodrigues Teixeira e Renata Giovanoni Di Mauro

Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental: um estudo de caso da


COEPAD - Adriana Regina Espíndola, Rosane Cristina Jacques e Susany Perardt

Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O Desenvolvimento Regional – O


Caso Da EDIA, S.A. - Maria Luísa Silva e Doutora Fátima Jorge

Capítulo 10: Saúde, meio ambiente e desenvolvimento urbano

̧ ̃ dos setores para transformar o lixo numa solucão


A integracao ̧ socioambiental - Letícia Vilela de
Aquino

Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de microfiltração -


Julyanna Damasceno Pessoa, Cristiane Macedo Rodrigues, Kepler Borges França e
Taline Sonaly Sales dos Santos

̧ ̃
Avaliacao_da vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira na cidade de João
Pessoa (PB) - Mônica Maria Souto Maior e Gesinaldo Ataíde Cândido

Impact of the new national solid waste strategy on waste management in Palmas, Brazil - Olívia
Marques e Gareth Swift

̧
Responsabilidade Social Empresarial - estudo de caso do processo de reciclagem do Pão de Acúcar
- Camila Leite e Julia Affonso
Capítulo 1: Certificações e avaliações
Abrangências e limitações de processos de certificações em sustentabilidade.

Os benefícios das certificações, premiações e suas limitações

Onde e como inovar?

Autor: José Geraldo Falcão Britto

Auditor, consultor, professor convidado da Fundação Getúlio Vargas

INTRODUÇÃO DE RESUMO:

O presente artigo, faz uma análise e reflexão da abrangência das certificações empresariais
existentes, comentando a contribuição das normas ISO9001, ISO14001, OHSAS18001, ISO26001 e
NBR16001, os limites dos processos de certificações existentes.

O artigo apresenta uma análise sobre as deficiências dos processos de premiações, certificações
frente as exigências conceituais de Sustentabilidade empresarial.

O artigo não pretende ser definitivo, e sim somente uma reflexão sobre os caminhos até aqui
percorridos em busca da sustentabilidade.

AGRADECIMENTOS

Meus sinceros agradecimentos ao CIIS por esta importante iniciativa de fomentar a sociedade
técnica e científica do conhecimento em sustentabilidade, promovendo a análise crítica sobre a
evolução do tema no Brasil.
ÍNDICE

Introdução, Justificativa sobre o tema Pág. 6


Bloco 1 – Desenvolvimento conceitual histórico Pág. 7
1.1 – A formação de um conceito através de programas Pág. 7
Governamentais, supra partidários e oficiais

1.2 – Um pouco de história Pág 9.


1.2.1. – Estados Unidos e Canadá Pág 9.
1.2.2. – Europa Pág. 10
1.2.3 - Coordenação integrada sobre o assunto pelo mundo Pág 12
1.2.4 – América Latina Pág 15
1.2.5 – Movimento Ambiental Brasileiro Pág 16
1.2.6- Movimento Social Brasileiro Pág 18
1.3 – Movimentos dos Instrumentos de Gestão da Pág 20
Sustentabilidade Setoriais

1.3.1. – Instrumentos de Gestão e uso de indicadores setoriais Pág 21


para as empresas – América Latina, Caribe e América Central.

1.3.2 – Análise crítica sobre os instrumentos de gestão para as empresas Pag 23


1.3.3 – Pontos de melhoria dos instrumentos de gestão empresariais avaliados Pag 24
BLOCO 2 – Movimento de normalização no Brasil e no mundo Pag 26
2.1.1 – Pontos de melhoria em normas existentes Pag 27
2.1.2. – Pontos fortes em normas existentes Pag 27
BLOCO 3 – CONCLUSÕES Pag. 28
3.1 – Expectativa em relação aos processos de certificações Pag 28
3.2 – Credibilidade e certificações Pag 31
3.3- Inovações em certificações e instrumentos de gestão Pag 32
INTRODUÇÃO, JUSTIFICATIVAS E PERGUNTA-CHAVE

O ambiente de negócios vem sendo transformado radicalmente nas últimas décadas, onde o
lucro passa a não ser somente o objetivo final das organizações. O equilíbrio entre o lucro retirado
dos locais onde atuam, e a análise dos benefícios deixados pelas organizações a uma sociedade, é o
tema em andamento no mundo.

Nesta necessidade de equilibrar o papel econômico das organizações, com as


responsabilidades Sociais e ambientais, é onde mora o desafio da GESTÃO SUSTENTÁVEL
EMPRESARIAL.

Por isso mesmo, o complexo tema da sustentabilidade e o movimento da Responsabilidade


Social Empresarial (o caminho para chegarmos lá) têm merecido especial atenção.

Uma infinidade de instrumentos e ferramentas foi desenvolvida, nos últimos anos, para dar
consistência e realidade ao que se propunha como gestão socialmente responsável, integrando-se os
aspectos econômicos, sociais e ambientais.

Muitos desses instrumentos estão em desenvolvimento, mas já começam a demonstrar sua


eficácia para os negócios.

A finalidade deste artigo é o de apresentar as diversas experiências e


ferramentas existentes e analisar os benefícios dos programas existentes.

E mais do que isso, as ferramentas de premiação e certificação da gestão da


sustentabilidade, são inquestionáveis, sob o ponto de vista da Administração
Profissional, e portanto, as próprias organizações públicas e privadas, estão aderindo
ao movimento por questão de sobrevivência.

Até mesmo órgãos públicos e sem fins lucrativos, ao aderirem os métodos


consagrados de prêmios e certificações existentes, assumem para si, a
responsabilidade de justificar tais certificações, com seus resultados demonstrados à
população em geral.

Em meio este movimento de EXPECTATIVAS sobre o comportamento,


gestão e resultados das organizações ,empresas públicas e governos, resta-
nos debater qual o papel das normas, certificações, prêmios, organismos
que concedem tais certificações, e quais as contribuições dos prêmios
concedidos para a construção de um mundo verdadeiramente sustentável,
além dos métodos conceituais oferecidos.
BLOCO 1 - DESENVOLVIMENTO CONCEITUAL HISTÓRICO

1.1 – A formação de um conceito através de programas


Governamentais, supra partidários e oficiais

Dos anos 90 até hoje, um grande número de ferramentas, como certificações


socioambientais, movimentos e campanhas foram criados em várias partes do
mundo com o objetivo de consolidar conceitos como responsabilidade social e
desenvolvimento sustentável, tentando incentivar e transformar conceitos em
prática de gestão.

Figura 1 – MACRO PROCESSO DOS NÍVEIS DE CONTRIBUIÇÃO


SOBRE O MOVIMENTO PELA SUSTENTABILIDADE
Paralelamente, as organizações (não só empresariais, mas também
governamentais e do terceiro setor), pressionadas pelo contexto da
concorrência, da sobrevivência, de crises econômicas , por visão de futuro e
por movimentos sociais e ambientalistas, começaram a concentrar seu papel
relevante para a sustentação da vida no planeta, o que se expressa em boa
parte hoje em projetos de responsabilidade social.
Na década atual, já é possível perceber uma evolução nas práticas e
conceitos de responsabilidade social empresarial, que ganha consistência como
atividade profissional. Hoje, as ações de responsabilidade social são
compreendidas não apenas como investimentos que resultaram do sucesso
econômico das empresas, mas são discutidas sob uma visão mais ampla, que
permita identificar as condições sociais e ambientais que levaram à realização
dos lucros.
Esses elementos Social, econômico e Ambiental, tornam-se então, fatores
importantes de sobrevivência e de avaliação dos impactos econômicos dessas
organizações.
Portanto, não estamos mais falando de conceito somente. Estamos
falando de práticas que já demonstraram serem vitais para a sobrevivência das
corporações.
Estamos falando que atualmente os três pilares da sustentabilidade,
estão em franca construção e desenvolvimento.
E veremos no artigo a seguir, quais os benefícios e deficiências dos
processos existentes.

1.2 – UM POUCO DE HISTÓRIA SOBRE O TEMA – O INÍCIO

1.2.1- NOS ESTADOS UNIDOS E CANADÁ


Podemos citar como um dos primeiro movimentos ambientalistas, as
palavras do 25º. Presidente Americano Theodore Roosevelt, e vencedor de
prêmio Nobel da Paz em 1906, que afirmava que o orgulho americano advinha
do progresso conquistado. Porém ressaltava enfaticamente que os Estados
Unidos chegaram a um momento de refletir o que aconteceria quando as
florestas desaparecessem, quando o carvão, o ferro e o petróleo se esgotarem
e quando o solo e a água, estiverem mais empobrecidos, e dificultando a
navegação.
Nas palavras de Roosevelt, já demonstrava a inquietude da comunidade
local sobre o tema de meio ambiente, antes mesmo das convenções
internacionais européias.
Os primeiros escritos em assuntos ambientais, encontra-se o livro de
Roderick Nasch Frazier (1939-2011), nascido em Manhattan, formado em
Harvard e com mestrado e doutorado em historia natural, que ganhou
notoriedade em 1964, quando sua tese de Mestrado, falava sobre Selvagem
Mente Americana , livro listado como os 10 livros que mudaram o mundo.
Mais tarde, na década de 60, mais precisamente em 1962, a escritora
Americana Raquel Carson (zoóloga e bióloga), publicou o livro Primavera
Silenciosa, escrevendo sobre o funcionamento da Biosfera.
Em um de seus livros aponta-se aquele escrito na década de 70,
Proteger nossas crianças em épocas de crise ambiental, considerado um
Best-seller no tema e muito utilizado em bibliografias de teses e estudos.
Outra grande obra da mesma autora, Raquel Carson, despertava para o
futuro das crianças em épocas de crise. O Livro Proteger crianças em épocas
de crises ambientais, recebeu outro grande destaque por incomodar a geração
da época.
A partir dessas iniciativas, o movimento de ONG´s e ambientalistas foram
fortalecidos nos Estados Unidos, e as iniciativas de Raquel Carson tinham como
preocupação os agrotóxicos, pesticidas da agricultura, conservação da
natureza e poluição industrial.
Outro escritor americano reconhecido foi Paul Ehrlich, com seu livro “A
Bomba populacional”, atribuindo os problemas ambientais ao crescimento
demográfico.
Em 1973-1975, entra em vigor a Convenção Internacional das espécies
da fauna e da flora silvestre ameaçadas de extinção ou Convenção de
Washington , em 1973 estabelecendo as regras e punições para o tráfico de
espécies raras.
Em Junho de 1974, os cientistas Mario Molina e Frank Sherwood Rownlad
(Prêmios Nobel de Química), provam que os gases CFC´s (Clorofluorcarbonos)
danificam a camada de ozônio da terra.
Em 1976, em Vancouver no Canadá, foi realizada a HABITAT I, uma
convenção pioneira a relacionar Meio ambiente e assentamentos humanos.
Uma visão revolucionária para a época.
Além da organização político e coordenada, promovido pelas convenções
internacionais, podem-se destacar personalidades da história como Donald
Worster, que em 1985 produziu livros destacados e premiados como : Nature
economy ( Cambridge), Dust Bowl (Oxford University) , contando a história do
desastre americano ambiental ocorrido em 1930, Rivers of Empire (Oxford
University) e Changes in the Land , Indians , Colonist na the ecology of the New
England (New York 1983).

1.2.2. - NA EUROPA
Entre as décadas de 1960 e 1980, cientistas, movimentos sociais, ambientalistas e um punhado de
políticos e funcionários públicos denunciaram os problemas ecológicos e sociais das economias herdeiras da
Revolução Industrial.
Em resposta à crescente preocupação pública com os efeitos negativos do modelo industrial, a
Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou um ciclo de conferências, consultas e estudos para alinhar as
nações em torno de princípios e compromissos por um desenvolvimento mais inclusivo e harmônico com a
natureza.
Os primeiros registros de legislações européias sobre meio ambiente, foram datados de 1956, com a
criação da Lei do Ar Puro, pela Inglaterra, após inúmeros casos de contaminação do Ar, através do Enxofre,
provocando a Chuva ácida e outros transtornos ambientais, dando origem as primeiras legislações.
O conceito de Desenvolvimento Sustentável foi debatido no Painel de
Founex, em 1971, estabelecendo as primeiras noções de desenvolvimento de
um país.
O Clube de Roma , no ano de 1972 publicou seu primeiro documento
intitulado Limites de crescimento (1972), onde amparado nos estudos do MIT, o
relatório já alertava para as questões sociais, ambientais e econômicas.

O Tema da sustentabilidade do planeta, ganhou notoriedade, a partir de


estudos científicos e livro publicado, Os Limites do crescimento, pelo MIT
( Massachusetts Institute of Technology – MIT), encomendado pelo clube de
Roma para identificar quais os reflexos ambientais o mundo sofreria, a partir
do ritmo de crescimento previsto pela Europa e Estados Unidos.
No ano de 1976, Jan Tinbergen publicou seu livro Reformando a ordem
internacional, que publicado no clube de Roma. É nesta nova publicação que
temas como bem estar das pessoas, passa a ser tratado oficialmente. Tema
amplamente debatido entre mais de 20 países e cientistas, assuntos como
alimentação, moradia, desenvolvimento social, distribuição de renda entre
outros temas foram adicionados ao debate ambiental.
Em meio aos intensos debates sobre temas que cercavam a
Responsabilidade Social e ambiental das organizações, a Organização para
cooperação e desenvolvimento econômico (OCDE - 1976) , editou suas
primeiras publicações denominadas, Diretrizes OCDE para empresas
multinacionais e Diretrizes OCDE de governança para empresas estatais, com a
finalidade de uniformizar as práticas das empresas em seus países de atuação.
Nesta época, os primeiro processos de Licenciamento Ambiental foram
criados na Europa, em sistemas de pontuações de empreendimentos ,
denominados SLPA, avaliando os benefícios sobre os aspectos Econômicos,
Ambientais e Sociais locais / municípios.
Na década de 1990, mais precisamente em 1998, realizada a convenção
de Roterdã sobre o consentimento prévio informado sobre agrotóxicos
entrando em vigor no Brasil em maio de 2004, através do decreto 197
Em 2001, criado o a convenção de Estocolmo sobre os poluentes
orgânicos e persistentes, que possui agenda periódica para criação e
manutenção periódica dos seus procedimentos operacionais de controle sobre
Agrotóxicos, produtos químicos industriais e seus sub produtos/derivados.
Em 2006, fora publicado o Relatório pelo Cientista Nicholas Stern,
economista, que publicou os primeiros relatórios sobre os reflexos sobre a
economia dos impactos ambientais previstos.

1.2.3 - COORDENAÇÃO INTEGRADA DOS ASSUNTOS PELO MUNDO


Historicamente os escritos, estudos e compromissos mais antigos, são da
organização Internacional do trabalho (OIT), de 1919 como parte do Tratado de
Versalhes, que encerrou a primeira guerra mundial, onde iniciou a desenhar os
direitos básicos dos trabalhadores declarando 199 convenções internacionais
de proteção ao trabalho e amparados na carta de Declaração dos Direitos
humanos (1948) da ONU.
Em 1944, a OIT anexou as suas convenções a Declaração de Filadélfia,
logo ao fim da segunda guerra mundial, servindo como base para a Declaração
dos Direitos Humanos(1948).
Posteriormente, em meio aos movimentos científicos e da sociedade civil
organizada, sobre o tema ambiental, a UNESCO criou sua primeira conferência
internacional, denominada conferência sobre a Biosfera (1968) com focos no
aprofundamento as pesquisas cientificas para o conhecimento das causas da
degradação ambiental e a criação de ferramentas de planejamento e de
reservas da natureza.
Esse foi o início oficial e reconhecido por todos os países, que motivou a
formalização da Declaração de Estocolmo (1972). Tal declaração procurou
integrar as questões dos Direitos Humanos publicadas na mesma época.
Em 1977, a OIT em sua 279ª. Reunião de Genebra, publicou convenções
internacionais sobre empresas multinacionais, estabelecendo as regras de
atuação.
Em 1980, foi lançado o IUCN (parceria entre a PNUMA e WWF), a União
internacional para a conservação da Natureza, com o objetivo de elaborar
projetos de conservação da natureza pelo mundo.
Em 1987 foi criada a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e
Desenvolvimento, presidida por Brundtland, revendo as questões críticas
ambientais, propor novas formas de cooperação , limitar o crescimento
populacional, garantir a alimentação a longo prazo, preservar a biodiversidade
dos ecossistemas, diminuir o consumo de energia , aumentar a produção
industrial nos países não industrializados, controlar a urbanização selvagem,
produzindo como resultado o Relatório de Brundtland, Nosso Futuro Comum.
Foi atribuído a Brundtland , o conceito de Desenvolvimento Sustentável,
como sendo atender as necessidades do presente em comprometer a
possibilidade de as gerações futuras atenderem a suas próprias necessidades.
O Relatório Brundtland foi debatido e atualizado no encontro da RIO+92,
que veremos a no capítulo Brasil.

Na Mesma época, o Protocolo de Montreal (1987), foi criado por mais de


170 países pelo mundo, (dentro da divisão de controle de Ozônio da ONU),
ratificando assuntos importantes como a lista de substâncias controladas, e os
limites de impactos na camada de ozônio, incluindo as fontes geradoras e
códigos aduaneiros para controle de importação.
Um dos pontos citados no Protocolo de Montreal , foi que em países em
desenvolvimento, e portanto com baixas taxas de industrialização, esses
países se comprometiam a implantar tecnologias alternativas, às substâncias
controladas citadas no anexo da convenção, por exigências Bilaterais e
multilaterais, no comércio entre os países.
Em 1988, dá-se início ao IPCC ( Intergovernamental Panel on Climate
Change) criado pela ONU e Organização Meteorológica Mundial, com a
finalidade de promover estudos paralelos e científicos sobre mudanças
climáticas, reflexos de mudanças, e submetem os relatórios para as
convenções entre países. Seus primeiros relatórios datam de 1990 de forma
temática, e posteriormente passando a serem regulares sobre a situação do
clima pelos continentes.
Na década de 90, os compromissos declarados pela ONU denominados
Pactos GLOBAIS (Global Compact), deram início a universalização do tema
entre os países membros da ONU, contemplando temas com Direitos Humanos,
Direitos do trabalho, Proteção Ambiental, Luta contra a corrupção, com adesão
de mais de 4.000 empresas de 90 países, sendo no Brasil mais de 200
empresas signatárias.
Ainda criado pela ONU, dado o profundo destaque internacional e a
necessidade de atuar de forma temática, foi criada o PNUMA (programa das
Nações Unidas para o Meio ambiente – 1990), presente hoje em mais de 177
países, criador de indicadores como IDH (índice de desenvolvimento humano) e
do relatório de desenvolvimento humano (RDH) e as Metas do Milênio, que
prevê objetivos até 2015 aos países signatários (agenda 21).
A ONU ainda, em 1996 cria a Cúpula Mundial da Alimentação, com a
presença de mais de 170 países, com objetivo de debater os reflexos
ambientais e a atividade econômica na produção de alimentos.
O Protocolo de Kyoto , criado no Japão em 1997 , assinado em 1998 e
ratificado em 1999, Entrando em vigor em 2005 , depois da entrada da Rússia
em 2004.
O Objetivo do Protocolo foi estabelecer um calendário global de redução
de emissões atmosféricas de CO2(Dioxido de carbono), N2O(Oxido nitroso),
CH4 ( Metano), HFC (HIdrofluorcarboneto), PFC(Perfluocarboneto), SF6
(Hexofluorsulfuroso), no período de 2008 a 2012.
Foram na época estabelecidas ferramentas como o Comércio de
Emissões , o mecanismo e desenvolvimento limpo (MDL) e a implementação
conjunta (IC). De todos estes mecanismos, somente o MDL se aplica ao Brasil,
devido a suas baixas taxas de emissões, e por ser um país ainda em
desenvolvimento. Como acompanhamos em 2012, mais precisamente em
Dezembro, as metas do protocolo foram renovadas pelos países, porém por um
novo período (2013-2020), na rodada de negociações de DOHA.
Na mesma época da década de 90, em que foram criados dois
indicadores de sustentabilidade, IDH - índice de Desenvolvimento Humano e
Pegada ecológica, pela ONU-PNUD, para mensurar o impacto da atividade
humana nos recursos naturais, e avaliar o progresso das Nações, em torno da
melhoria da qualidade de vida da população, além do PIB tradicionalmente
calculado.
Em 2002, fora realizada pelo PNUMA e os países signatários, a Convenção
de Basiléia, que completou 20 anos, com a publicação de regras para a União
Européia de controle de movimentos fronteiriços e indenizações sobre danos
ambientais por dejetos perigosos.
No Quênia, Wangari Maathai (Prêmio Nobel da Paz, 2004) , funda o
movimento Cinturão Verde, que prioriza evitar a desertificação por meio do
plantio de árvores por mulheres. Pela primeira vez uma ambientalista é
premiada com o Nobel.
Em 2006, foram publicados os primeiros relatórios pelo Painel IPCC
intergovernamental, criado pelas Nações Unidas, sobre mudanças climáticas,
alertando e publicando a relação das taxas de aquecimento global x as taxas
de crescimento dos países e os reflexos ao meio ambiente, além de estudos
científicos financiados pela própria ONU.
EM 2012, com o advento da RIO+20, no Rio de Janeiro outro indicador foi
apresentado pela ONU: o IRI – Índice de riqueza inclusiva - que mede os
seguintes temas: qualidade do capital humano, produção, recursos naturais, e
capital social (longevidade).
Todos estes eventos, ora simultâneo ou não, são considerados os
“marcos históricos” de início da integração dos temas sociais , ambientais e
econômicos globais e fortalecem a atuação em todos os países a cultura para a
sustentabilidade.

1.2.4 - AMÉRICA LATINA


Na América Latina, acompanhando o movimento americano e europeu
sobre Responsabilidade Social Empresarial, deu-se inicio a vários programas, a
saber:
Rede Fórum Empresa de Responsabilidade Social com a presença de mais
de 100 empresas de 18 países da América Latina.
Conselho Internacional de Empresas para o Desenvolvimento sustentável
(WBCSD), com foco na prática de negócios, desenvolvimento regional, energia/
clima, e ecossistemas, formado por empresas de todos os países da América
Latina. Estudos publicados sobre os países são periodicamente publicados pelo
órgão, com a visão da WBCSD para o ano de 2050.
Em 2000, criado o protocolo de Cartagena , foi um acordo complementar
sobre a diversidade biológica , estabelece regras de controle de modificações
genéticas de alimentos, devido ao aumento das tecnologias de modificação
genética.
A sociedade civil organizada, também decidiu participar através de
comunidades de estudos científicos e de participação social, como a RED
PUENTES internacional.
A iniciativa do setor financeiro (bancos) procurou envolver pequenos e
médios empresários, com linhas de financiamento e apoio, com programas
denominados FUMIN (Fundo Multilateral de investimentos), com foco em
projetos de micro seguros, resíduos e lixo, distribuição de renda, energia,
educação, entre outros temas.

1.2.5 - Movimento Ambiental Brasileiro :


No Brasil, em um breve resumo, iremos contemplar a onda de
movimentos ocorridos com a temática ambiental e social ocorrida desde a
década de 70, 80 e 90.
Posteriormente, resumiremos os diversos programas, ferramentas e
indicadores de gestão criados no país.
O movimento ambiental brasileiro, deu-se início em meados da década
de 50, com o ativista ambiental José Lutzemberger , engenheiro químico e
empregado da empresa BASF. Pediu demissão da empresa por não concordar
com as práticas da empresa e tornou-se consultor e empresário. Foi secretário
do meio ambiente no Governo Collor em 1990, e fundou uma empresa serviços
de consultoria ambiental.
Historiadores como Sérgio Buarque de Holanda em seu livro (Monções –
1990) , Extremo Oeste (1986) , já tratavam o tema ambiental como flora,
fauna, topografia, solos, navegabilidade, meios de transporte, alimentos, etc.
O Sociólogo Gilberto Freire em publicou seu livro Nordeste (1985) onde
seus capítulos são abordados os temas ambientais do país.
O Geógrafo Aziz Ab´Saber em seus livros a História Geral da Civilização
Brasileira (1985 e 1989) já apontava a história dos escravos africanos, colonos
europeus e a crise da água.
Estes, e tantos outros, foram fontes inspiradoras do movimento
ambientalista brasileiro.
A partir da RIO+92, o movimento ambiental organizado ganhou
expressiva força com a atuação de entidades como União Protetora do
Ambiente Natural (UPAN), com entidades como WWF Brasil, Greenpeace Brasil,
SOS Mata Atlântica e muitos outros.
Na década de 70, mais precisamente em 1973, fora criado a Secretaria
do especial do Meio Ambiente (governo Emílio Médici), com a finalidade de
acompanhar o assunto no mundo , porém com pouca ou nenhuma atuação no
País.
A presença destes institutos no país, auxiliou em muito a construção da
Conferência das Nações Unidas, marcada para 1992. (RIO+92).
Marcada para Junho de 1992, a Rio+92 , como foi conhecida, tinha a
finalidade de debater as conclusões do Relatório de Brundtland (1987) , e
comemorar os 20 anos da Convenção de Estocolmo, com a participação de 178
países, resultando na maior conferência global já realizada no mundo.
Ainda na RIO+92, O Brasil apresentou seu legado ao meio ambiente onde
foi elaborada a CARTA DA TERRA BRASILEIRA, com a coordenação de Leonardo
Boff (*) que passou pelo debate por mais de 46 países, 100 mil pessoas,
passando por favelas a universidades, até que em março de 2000, ela foi
aprovada. Contemplando temas como Meio ambiente, democracia,
financiamento justo, pobreza, igualdade de direitos, Educação,
sustentabilidade, Direitos Humanos e paz, o documento foi festejado por ser
muito completo.
Durante o evento da RIO+92, foi então formalizado e apresentado o
compromisso Agenda 21 Brasileira, contemplando documentos importantes
como a Carta da Terra, Declaração do Rio sobre Meio Ambiente, Declaração de
princípios sobre uso das Florestas, Convenção sobre a diversidade Biológica e
convenção de mudanças climáticas.
Mesmo que com atraso de mais 20 anos, desde 1972, quando da
declaração de Estocolmo, o evento da RIO+92, resultou em um documento
completo, integral, e aprovado por mais de 170 países.
Temas contidos na Agenda 21 Brasileira eram Meio Ambiente na tomada
de decisões, florestas e montanhas, uso do solo, atmosfera, secas e
desertificação, agricultura sustentável, diversidade biológica, proteção aos
oceanos, proteção da água, químicos e agrotóxicos, politicas para resíduos,
resíduos radioativos, biotecnologia, proteção da água, padrão de consumo
sustentável, cooperação internacional, autoridades locais para aplicação da
Agenda 21, comunidade científica, agricultura e fazendeiros, legislação,
combate a miséria e pobreza, saúde humana, habitação, direitos humanos ,
equilíbrios de gêneros, sexo e raça, Fortalecimento da proteção a crianças e
jovens, fortalecimento de sindicatos e trabalhadores, preservação e proteção
de povos indígenas e apoio a formação de ONG´s e grupos sociais.
A Segunda edição da Agenda 21, após consulta pública , revisou sua
visão temática de sustentabilidade incluindo 06 temas principais : Gestão de
recursos naturais, Agricultura sustentável, Cidades sustentáveis, Infra-estrutura
e integração regional, Redução de desigualdades sociais e Ciência e Tecnologia
para o desenvolvimento sustentável. Foram mais de 26 debates e mais de
5.800 sugestões de revisão.
Ficou então o Marco oficial Brasileiro, para o tema meio ambiente com a
agenda do século 21. Toda a estrutura de Leis Brasileira, passou a ser
desenhada e escrita a partir deste capítulo importante na História do Brasil.
O Brasil passou então a possuir um plano de ação, um compromisso
formal perante as metas do milênio, divulgar seus resultados e a ser
monitorado internacionalmente.

O Brasil estava inserido no panorama global para a Sustentabilidade.


O Marco de 1992, deu início ao movimento do Terceiro Setor
formalmente, e a toda base ambiental criada no país.

1.2.6 - MOVIMENTO SOCIAL:


O movimento social brasileiro deu-se inicio de forma organizada e
estruturada, em 1995, com a criação do GIFE (Grupo de Fundações ,
Instituições e Empresas) com presença de mais de 25 organizações decididas a
realizarem investimentos sociais privados, e diminuir a desigualdade social
Brasileira e assim contribuir com a pauta da agenda 21 Brasileira.
Entidades sem fins lucrativos como Fundação IOCHPE, Fundação
Bradesco, Fundação Carlos Chagas, Fundação Ayrton Senna, Fundação Abrinq,
Fundação Vitor Civita, Instituto C&A, TV Globo, Microsoft, e muitos outros
apoiam e participam do GIFE.
Basicamente, o foco dos projetos sociais Brasileiros, e ainda continuam
com este foco nos dias de hoje, são no combate a miséria extrema,
alimentação, educação e acesso a saúde básica e redução de mortalidade
infantil.
Na época , este movimento deu-se o nome de “Terceiro Setor”, com a
finalidade de auxiliar o Governo Brasileiro na implementação de programas
Sociais, com foco em alimentação, educação, moradia, saúde, esporte e
cidadania, assim como aconteceu nos Estados Unidos.
O Brasil ainda luta pelo combate a fome nos dias de hoje. Em recente
livro publicado, Destruição em Massa – Geopolítica da fome, o Sociólogo Jean
Ziegler , ex-relator da ONU, critica duramente os programas sociais de
combate a fome, por considerar que os programas existentes não são
suficientes e os resultados são duvidosos.
Mais um tema da sustentabilidade Brasileira em fase ainda de
concretização.
Hoje no Terceiro Setor estima-se mais de 500 mil entidades, em mais de
10 modalidades e temas, que atuam em projetos sociais privados e em
parceria com entidades publicas. Falar do Terceiro Setor, levaria mais um artigo
completo somente sobre esse assunto.

1.3 - MOVIMENTOS DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO DA


SUSTENTABILIDADE SETORIAIS
Muitos são os programas e instrumentos setoriais existentes no mundo,
América Latina e Brasil.
Cada setor de atividade ao assinar e apoiar os tratados internacionais de
reconhecimento, passaram a criar suas ferramentas de referência, adesão e
monitoramento.
E a cada dia novos instrumentos são criados e buscam o reconhecimento
público e de instituições com a finalidade de monitorar a atividade empresarial
e governamental no país.
Abaixo, um quadro resumo dos diversos instrumentos e ferramentas
existentes na América Latina, para apoio e difusão da Responsabilidade Social
e sustentabilidade.
Princípios do Equador Manual de princípios de países
signatários do Mercosul,
contemplando temas da
sustentabilidade

IBGC – Instituto Brasileiro de Código Brasileiro das melhores


Governança corporativa práticas de governança corporativa

CVM – Conselho e valores Cartilha de boas praticas de


mobiliários governança

FDC – Fundação Dom CAbral Instrumentos para avaliação da


sustentabilidade e governança

Carvão cidadão (Direito O instituto tem a finalidade de


privado) criada em 2004 monitorar a atuação da indústria do
carvão fornecedora das siderúrgicas

Algodão Cidadão (direito Instituto (MT) com a finalidade de


privado) criado em 2005 promover ações na cadeia produtiva
do algodão

ABIOVE – Associação Promover estudos e ações na cadeia


brasileira da indústria de de fornecimento da indústria de óleos
óleos vegetais vegetais

WBCSD – World Business Promover ações e projetos em


Council for Sustainable negócios sustentáveis
Development

ICMM – Internacional Council of Conselhos das empresas de


mining & Metals mineração com projetos em meio
ambiente e segurança

ETI – Ethical Trading Initiative Conselho de empresas do setor


têxtil com projetos de renda ,
trabalho e meio ambiente

Fair Labol Conselho de empresas do Setor


Têxtil com projetos em trabalho,
renda e meio ambiente

Kimberley iniciative Conselho de países e empresas,


com foco no roubo e comércio
ilegal de diamantes – processo de
certificação

Processo de certificação MSC Entidade que certifica empresas


de pesca e restaurantes

AA1000 Forum de sustentabilidade de


empresas afiliadas

GTI – Global Transparency Iniciativa de abertura e


Initiative monitoramento de instituições
Financeiras

Índice de sustentabilidade DOWN Iniciativa da Bolsa de Valores


Jones Down Jones , formação de ações,
fundos e rentabilidade, com
regras de conduta empresarial

FTSE4Good – Indices Britânicos Inciativa Britânica de bolsa de


da Bolsa de valores valores com regras de conduta
empresarial

Índices de Johanesburgo Iniciativa de Bolsa de Valores da


África do Sul

Índice Bovespa de ações Iniciativa Bolsa de Valores com


regras de conduta empresarial

ABRAPP – Associação Brasileira Entidade sem fins lucrativos,


das Entidades fechadas de formada pelas empresas com
previdência Complementar e foco na atuação sustentável ,
Instituto Ethos meio ambiente, Governança, e
projetos sociais.

1.3.1. – INSTRUMENTOS DE GESTÃO E USO DE INDICADORES SETORIAIS


PARA AS EMPRESAS – AMÉRICA LATINA, CARIBE E AMÉRICA CENTRAL
Em pesquisa sobre instrumentos e indicadores orientativos de gestão,
localiza-se mais de 15 entidades que oferecem tais métodos, sendo
considerado um exemplo de motivação para o tema no mundo.
Este número cresce a cada ano, à medida que novos institutos e órgãos
são criados.
Alguns relacionados:
Instituto País

IARSE Argentina

COBORSE Bolívia

IBASE Brasil

AKATU Brasil

INDICADORES ETHOS Brasil

INDICADORES GIFE Brasil


INDICADORES FIDES Brasil

INDICADORES FUNDAÇÃO DOM Brasil


CABRAL

INDICADORES ACCION Chile

INDICADORES PROHUMANA Chile

INDICADORES RI Chile

INDICADORES CCRE Colômbia

INDICADORES DERES Equador

INDICADORES PERU 2012 Peru

INDICADORES AED Costa Rica

INDICADORES FUNDEMAS El Salvador


INDICADORES CENTRARSE Guatemala

INDICADORES CEDIS Panamá

1.3.1. – INSTRUMENTOS DE GESTÃO E USO DE INDICADORES SETORIAIS


PARA AS EMPRESAS – EUROPA, ESTADOS UNIDOS
Merece destaque os programas dos Estados Unidos e Europa,
destacando-se também pela quantidade de Métodos e indicadores, oferecendo
sistemas de avaliações empresariais.
Todos os instrumentos criados acompanharam as evoluções de legislações,
assim como no Brasil, porém com grau de envolvimento legal direto com
institutos oficiais do governo Americano e Europeu.

Alguns destacados:
MS do ECO 4WARD Áustria

Albatroz B&SB Bélgica


TUUN ASKELEITA FB&S Finlândia
Guide CSR Europe Alliance França

Guide de La Perfomance Global França


CJD

CR Index BITC Reino Unido

Bilan Societal CJDES França

Sigma Project BSI, FFF, e Grã Bretanha


Accountability

GRI GR3 Holanda

Small & Better Business Reino Unido


Journey SBC

RCI Acountability Reino Unido

The Natural Step WHH Suécia

CSR Toolkit for SME COSORE Itália , Bélgica, Portugal

1.3.2 – ANÁLISE CRÍTICA SOBRE OS INSTRUMENTOS DE GESTÃO PARA


AS EMPRESAS ANALISADOS
Analisando criticamente tais instrumentos de gestão, percebe-se que
todos sem exceção, com algumas diferenças em terminologia, ou em algum
método, estão alinhados frente aos conceitos de Responsabilidade Social e
Sustentabilidade definidos e acordados pelos movimentos internacionais
ocorridos nos últimos anos.
Podemos resumir as características de tais instrumentos em:
Instrumentos Alinhamento Detalhamento
conceitual dos itens
prometidos

IARSE Sim sim

COBORSE Sim sim

IBASE Sim sim

AKATU Sim sim

INDICADORES Sim sim


ETHOS

INDICADORES GIFE Sim sim

INDICADORES FIDES Sim sim

INDICADORES Sim sim


FUNDAÇÃO DOM
CABRAL

INDICADORES Sim sim


ACCION

INDICADORES Sim sim


PROHUMANA

INDICADORES RI sim sim

INDICADORES CCRE sim sim

INDICADORES sim sim


DERES

INDICADORES PERU sim sim


2012

INDICADORES AED sim sim

INDICADORES sim sim


FUNDEMAS

INDICADORES sim sim


CENTRARSE

INDICADORES CEDIS sim sim

Pelo quadro acima, percebemos que os Institutos procuraram alinhar


conceitualmente seus instrumentos com um programa unificado de temas, e
com a finalidade de não promover distorções conceituais.
O alinhamento com os temas globais estabelecidos pela ONU, PNUMA e
demais acordos internacionais e tratados assinados.
A diferença entre um ou outro instrumento é o uso de indicadores
quantitativos, ou forma de estabelecer planos de ação e monitoramento.
Outra diferença, é que evidentemente cada Instituto trata especialmente
um tema de seu escopo de atuação, interesse ou deficiência local.
São temas comuns nos instrumentos de gestão analisados:
Valores, Visão, Missão Ética, Transparência Governança e
e responsabilidade prestação de contas

Tratamento de publico Meio ambiente, Fornecedores e


interno(emprego, recursos naturais e gestão da cadeia
renda, segurança, impactos produtiva
Direitos humanos)

Consumidores e Comunidade , Governo, sociedade e


clientes e consumo projetos sociais e Direitos Humanos
ações sociais

Concorrência leal, Engajamento com Ciência, tecnologia,


Responsabilidade stakeholders inovação ,
Tributária, cooperação e
Educação

O que se pode concluir que o objetivo primário, da coluna dos atores


compostos da sociedade civil organizada, e associações empresariais,
cumprem seu papel de divulgar e conceituar os pilares da Sustentabilidade
empresarial e dos acordos internacionais estabelecidos e assinados.

1.3.3 – PONTOS DE MELHORIA DOS INSTRUMENTOS DE GESTÃO


EMPRESARIAIS AVALIADOS
Por serem voluntários, os instrumentos de gestão analisados, possuem
graus muito distintos de adesão, muitas vezes muito baixos e por
consequência de comprometimento da Indústria na qual representa.
Alguns instrumentos são diferentes em termos de abrangência e a
profundidade com que tratam a questão.
Todos os instrumentos se utilizam do uso de questionários de auto
avaliação, confronto métrico através de sistema de notas, pontuação final e
produção de um relatório de adequação ou de conformidade final.
Tal relatório serve para determinar e orientar as ações internas.
Alguns instrumentos, utilizam-se de visitas ao local, para somente
verificar distorções do relatório, ou do plano de ação elaborado, em relação ao
método.
Alguns institutos e órgãos, oferecem o serviço de auditoria independente
para avaliação do andamento de planos de ação elaborados.
A grande maioria não oferece serviços nas instalações das empresas,
para não confundir suas atividades com atividades de auditorias de terceira
parte ou independentes.
Poderíamos resumir os pontos de melhoria dos instrumentos da seguinte
forma. As situações podem variar de um instrumento para o outro.

São voluntários

Abordam legislação de forma tímida ou adequada ao país em que


atuam

São “auto declarados” pelos avaliados

Não possuem formas de verificação ou comprovação do declarado

Não possuem acesso interno das organizações

Não realizam monitoramentos ou acompanhamento de evolução

Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com


necessidades e resultados de mercado

Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das


empresas no mercado, em seu sistema de avaliações

São restritos ao escopo declarado pelo avaliado

Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização


(fechados à alimentação externa) de desempenho das empresas no
mercado.

BLOCO 2 - MOVIMENTO DE NORMATIZAÇÃO NO BRASIL E NO


MUNDO
Outro movimento muito importante no processo de consolidação da
prática da Sustentabilidade empresarial no mundo, são as Normalizações
internacionais de Práticas.
Os processos de certificações no Brasil e no mundo, existentes são:

ISO Suíça ISO26000/ISO9000/ISO1


4000
ISO Suécia – Responsabilidade e ISO14064/5
verificação de gases do efeito estufa
FSC – Alemanha FSC IC

Values Management System ZfW VMSZfw


Alemanha

Austrália - Australian Standards Corporate AS8003


Social Responsibility

Israel Standard Israel SI 10000

Brasil ABNT ISO9001/ISO16001/ISO1


4001

Comissão Européia Emas CE

Dinamarca Set Social Index DSI

Espanha SGE 21 Foretica

EUA OHSAS18001

EUA SA8000

Sustainable Development França SD 21000

Itália Qres Qres Cele

Japão Ethics Compliance ECS2000 JBES

Reino Unido Accountability AA1000

Reino Unido British Standards BS8555/8800/8900

Reino Unido Good Corporation Ltd Good corporation

Reino Unido Community Mark BITC

Reino Unido Investor in people UK

2.1.1 – PONTOS DE MELHORIA EM NORMAS EXISTENTES


As normas assim como os instrumentos de gestão citados no capítulo
acima, em sua grande maioria são voluntários, e organizados por entidades
não governamentais.
E ainda, são oferecidas pelas próprias empresas que a criaram, que
fazem parte do negócio de certificações, e portanto fazendo parte de entidades
de associações das próprias empresas muitas vezes (exemplo: ISO ).
Em resumo podemos apresentar algumas características das normas
pesquisadas:

São voluntários

Abordam legislação de forma indireta ou em algumas vezes afirmam


que “atender a norma, não significa atender a lei”

Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com


necessidades e resultados de mercado

Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das


empresas no mercado, em seu sistema de avaliações, como canais
oficiais divulgados

São restritos ao escopo declarado pelo avaliado ou pelo CNPJ da


empresa

Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização


(fechados a alimentação externa) de desempenho das empresas no
mercado.

2.1.2. – PONTOS FORTES EM NORMAS EXISTENTES


Não podemos deixar de destacar os pontos fortes do uso de normas
internacionais:

São avaliadas por processos de auditorias independentes (órgãos


criadores das normas)

Possuem acesso interno às organizações, e portanto possuem larga


vantagem de informações

Realizam monitoramentos constantes

São importante referencial teórico e de processos

São importantes referenciais para determinar padrões esperados de


operação
BLOCO 3 – CONCLUSÕES

3.1 - EXPECTATIVAS EM RELAÇÃO AOS PROCESSOS DE CERTIFICAÇÕES


Vemos pela própria introdução deste artigo, que a reivindicação em torno
dos temas de sustentabilidade, tomou proporções fora do ambiente da
academia, dos institutos de pesquisa, ou dos órgãos públicos.
Conduziram a discussão de forma ampla, abrangente e democrática, com
a participação popular.
Buscaram o consenso da sociedade civil, de grupos técnicos de trabalho,
da academia, das associações de classe, e mais recentemente de partidos
políticos.
Exemplo disso são as amplas conferências globais realizadas com chefes
de estado e sociedade civil organizada sobre os temas da sustentabilidade.
Existiria algum outro motivo pelo qual um órgão levaria tal debate a tal
exposição, sem que os riscos e problemas não fossem reais?
Então os atores envolvidos com o fornecimento de temas e teorias,
devem se comprometer com a diminuição do espaço existente entre uma
necessidade real, e promessa de solução.
É justamente pelo fato dos riscos e problemas serem reais, que devemos
analisar criticamente as contribuições dos instrumentos de gestão existentes e
processos de certificações. Para não falarmos dos prêmios isoladamente
concedidos.
A expectativa foi criada e foi estabelecida na sociedade.
A expectativa está sendo reforçada em universidades e na academia.
Formando profissionais com graus de tolerância cada vez menores, para o mal
desempenho de uma organização.
A expectativa está sendo formada através de crianças e jovens, que se
tornarão sociedades menos tolerantes a desvios de conduta.
A expectativa é divulgada com força pelos meios de comunicação e
imprensa , conquistando até os menos envolvidos com o tema.
A expectativa em torno de uma marca, ou do comportamento de uma
empresa, detentora de uma marca, vem se fortalecendo e se tornando real a
mais de uma década.
Em virtude disto, que empresas detentoras de certificados, deveriam na
mesma ordem de importância de seu pioneirismo, serem exemplos no
tratamento das questões contempladas em suas normas. Portanto a
expectativa em torno dos assuntos da sustentabilidade está em formação, e
resultará em uma sociedade diferenciada no futuro.

3.2 - CREDIBILIDADE E CERTIFICAÇÕES


Seria interessante que uma pesquisa ampla e sem restrições pudessem
avaliar as opiniões de públicos técnicos e não técnicos, em torno dos
resultados percebidos por empresas certificadas..
E ainda cruzar o desempenho real das empresas certificadas através dos
órgãos oficiais envolvidas com os temas da sustentabilidade.
Objeto de estudo já por entidades como o PNUMA/ONU, COPPEAD, GRI, e
Instituto Ethos, o relatório “rumo a credibilidade”, em seu último ciclo do ano
de 2010, avaliou os seguintes critérios:
a) Identificação e priorização das questões
b) Valores, princípios e políticas para o desenvolvimento sustentável
c) Responsabilidade e estrutura para governança
d) Procedimentos gerenciais
e) Engajamento de Stakeholders
f) Medição de desempenho de desenvolvimento sustentável
g) Estabelecimento de metas
h) Verificação Externa
i) Padrões dos relatórios apresentados

Foram objetos de estudos, as organizações brasileiras que atendessem a


requisitos como:

a) Listagem do índice de bolsa de valores de São Paulo


b) Grande porte por receita bruta
c) Presença no Índice de sustentabilidade Empresarial Bovespa
d) Presença no banco de dados da corporate register 2007/2008
e) Presença no banco de dados da GRI em 2008
f) Relatório de sustentabilidade que tenha sido premiado
g) Balanço Social com Selo IBASE 2007
h) Notório conhecimento por gestão voltada para a sustentabilidade
i) Multinacional cuja subsidiária pública possui relatório de
sustentabilidade

Em relação ao restante do mundo o Brasil possui 3,5% de participação


em relação ao total de relatórios publicados , de um total de 131
relatórios.
Dos 131 relatórios, a análise do FBDE (Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável), conclui que o resultado e qualidade dos
relatórios ainda é mediano.

A metodologia de estudo avaliou 4 dimensões da Gestão :


Governança e Estratégia, Gestão, Apresentação de desempenho e
acessibilidade e verificação.
E classificados em categorias como:
a) Sem informação
b) Informação Superficial
c) Sistemático
d) Abrangente
e) Integrado

A pontuação média recebida foi de 48%, com a melhor nota 65%


da empresa Natura e menor nota Even e Light com nota de 48%.
Todas as empresas que participam em bolsa de valores, reforçam
seus capítulos de gestão, com a apresentação das certificações ISO9001,
ISO14001, OHSAS18001.
Porém quando do advento da RIO+20, somente 21% das empresas
listadas em bolsa de valores, elaboraram e apresentaram seus relatórios
de sustentabilidade.
Pesquisa realizada pela própria bolsa de valores (2012), com as
empresas ausentes, concluiu que todas ainda se colocaram como “em
fase de estruturação”.
Outra conclusão da pesquisa, é que aquelas empresas que de
alguma se envolveram em escândalos de corrupção, denúncias,
acidentes ambientais, acidentes de consumo, autuações de fiscalização,
não apresentaram seus relatórios de sustentabilidade.
De qualquer forma, são interessantes as conclusões do Estudo
FBDS, PNUMA sobre os relatórios elaborados. Os pontos de deficiência
são:
a) Os relatórios não apresentaram visão de futuro desafiadora e
inovações/ambições;
b) Os relatórios deveriam melhor demonstrar como a
sustentabilidade gera valor para os acionistas;
c) Não contemplavam toda a cadeia de valor, dos fornecedores ao
consumidor final;
d) Os relatórios de sustentabilidade não estavam integrados aos
relatórios financeiros;
e) Os relatórios não estabeleciam metas desafiadoras e
comparativas de resultados, de forma que dificultou a analise de
resultados concretos;
f) Os relatórios não demonstravam ações concretas e
mensuráveis, para soluções de problemas do clima,
biodiversidade, água, e outras questões da sustentabilidade.

O relatório FBDES/PNUMA, finaliza solicitando que as empresas


“saiam de suas zonas de conforto”.
Por estes pontos elencados, vemos que mesmo empresas
certificadas por normas internacionais, os resultados concretos são
deficientes, incluindo as práticas de gestão, tão preconizadas por tais
normas.
Vale lembrar que todas as normas, sem exceção possuem em seus
requisitos, exigências como objetivos, metas, políticas e melhoria contínua
sistematicamente, o que se corretamente aplicados, proporcionariam
excelentes resultados.
Adicionalmente aos resultados dos estudos, temos os diversos
resultados divulgados em veículos de comunicação, sobre a atuação das
empresas no mercado que muitas vezes não são acompanhadas.
Então podemos concluir que o processo de fortalecimento da
credibilidade dos processos de certificações no Brasil, ainda está em
processo?
Não podemos concluir que empresas certificadas, necessariamente
contribuem de forma significativa com resultados concretos, para os
temas da sustentabilidade, ou para elas mesmas (beneficiadas diretas ).
Ou pelo menos afirmar com toda segurança que a adoção das
normas pelas empresas, não proporcionou a elas a oportunidade de
mostrar seus resultados obtidos (pelo menos nas oportunidade que
tiveram).
Resta-nos saber se em próximos ciclos, se as organizações voltarão
a utilizar o argumento do uso das normas como ferramentas de gestão de
forma decididamente importante para conquista de resultados.
Pois até o momento, as normas não auxiliaram as organizações a
demonstrar tais resultados.

3.3- INOVAÇÕES EM CERTIFICAÇÕES E INSTRUMENTOS DE GESTÃO


Devemos recordar os pontos de deficiência dos processos de
certificação citados neste artigo :
São voluntários

Abordam legislação de forma indireta ou em algumas vezes afirmam


que “atender a norma, não significa atender a lei”

Não estabelecem metas diretas de melhoria, correlacionando com


necessidades e resultados de mercado

Não acompanham ou consideram os “acidentes” ou ações das


empresas no mercado, em seu sistema de avaliações, como canal
oficial divulgado

São restritos ao escopo declarado pelo avaliado ou pelo CNPJ da


empresa

Não possuem interação com órgãos públicos ou de fiscalização


(fechados a alimentação externa) de desempenho das empresas no
mercado.

Reconhecer e diagnosticar um problema, muitas vezes é fácil. O


maior desafio é o de sugerir melhorias ou caminhos.
Iremos debater um pouco os caminhos que poderia contribuir
dentro deste processo de fortalecimento/resgate da credibilidade do
mercado de certificações em sustentabilidade, beneficiando as próprias
organizações que as adotam.
Após a análise histórica do processo de conscientização global
sobre a sustentabilidade, proposto neste artigo.
Após a análise metodológica, dos instrumentos e normas
existentes.
Após conhecermos a expectativa em torno do tema.
Poderíamos sugerir um plano de inovação para reforço da
credibilidade das certificações, que contemplasse 06 pilares de visões :

VISÕES DA INOVAÇÃO

a) Rever o papel institucional dos organismos de certificação


b) Aprimorar o relacionamento externo do mercado de normas com
a sociedade
c) Aumentar a abrangência e profundidade de adesões às normas
d) Monitorar o desempenho das organizações de forma mais
aprofundada
e) Tornar transparente e pública os resultados das organizações
certificadas
f) Formar um banco integrado de avaliações públicas
contemplando todas as avaliações realizadas nas empresas
(públicas e privadas)

3.3.1 – Rever o papel institucional dos organismos de certificação


Rever o papel dos organismos de certificação em sistemas de
gestão, significa trazê-los a um grau de importância oficial, social e de real
contribuição à estabilidade das organizações.
Este assunto nos remete ao início dos processos de certificação
realizados no Brasil, nos anos de 1994, 1995 e 1996, onde as auditorias
eram realizadas pelo Inmetro diretamente.
Fazer com que os processos de certificação recebessem mais
visibilidade e mais importância dentro de órgãos federais e oficiais, como
por exemplo ANATEL, ANEEL, Inmetro e outros.
Poderíamos citar como exemplo, atribuir a responsabilidade por
validar os indicadores de qualidade de empresas de telefonia,
oficialmente.

3.3.2 - Aprimorando o relacionamento externo


Fazer com que os processos de certificação pudessem ser melhor
entendidos pela sociedade, órgãos de fiscalização, e até a população,
criaria um positivo canal de comunicação com a sociedade.
Proporcionaria uma aproximação da sociedade com os organismos
de certificação, e traria maior visibilidade e importância ao processo de
concessão de certificados.
Poderíamos citar como exemplo, um organismo de certificação
participar de audiências públicas, com a finalidade de coletar expectativas
de stakeholders em um processo de concessão de licenciamento
ambiental.
OU ainda, possuir canais de pesquisa com consumidores ou até
ouvidorias para aprimorar o relacionamento com a sociedade.
3.3.3 – Aumentar a abrangência e adesão as normas
Aumentar a adesão das normas, significa torná-las compulsórias.
Devemos recordar que o Brasil é um país continental com mais 5
milhões de empresas, e que a penetração das adesões em certificações
em sistemas de gestão ainda é mínima.
Dados aproximados de certificados emitidos no Brasil , são:
ISO9001 – aproximadamente 50 mil certificados emitidos
ISO14001 – aproximadamente 1.500 certificados emitidos
OHSAS18001 – aproximadamente 1000 certificados emitidos
SA8000 – aproximadamente 100 certificados emitidos
NBR16001/ISO26001 – não superior a 5 certificados emitidos.
Seria salutar que a adoção de normas de sistemas de gestão, como
forma de estruturar as empresas minimamente, aumentaria suas chances
de sobrevivência e sucesso.
Além de reforçar a cultura pela sustentabilidade.
3.3.4 – Aprimorar o monitoramento das empresas certificadas
É fundamental que o processo de monitoramento durante a
manutenção de uma certificação seja aprimorado.
Aplicando as duas primeiras visões, de forma simultânea, facilitaria
em muito o processo de monitoramento de uma empresa certificada.
Seria sugerir um processo de monitoramento que incluísse
(exemplos):
a) Ouvir órgãos de fiscalização e instituições governamentais
(ministérios, banco central, tribunais de contas, etc)
b) Ouvir a sociedade e órgãos de representação (ex.: procons)
c) Ouvir e interagir com agências reguladoras e controladoras de
atividades industriais (ex.: sindicatos, ANVISA, Vigilância
Sanitária, delegacias do trabalho, Banco Central, Inmetro, etc)
d) Monitorar denúncias , acidentes de consumo, acidentes
ambientais e outros incidentes na sociedade
e) Monitorar denúncias de ministério público

3.3.5 – Tornar públicas e transparentes os resultados das


empresas certificadas
Fazer com que os resultados que são temas da sustentabilidade
sejam públicas é um grande desafio e uma melhoria significativa na forma
de construir a reputação de uma marca e organização.
Além de formar a imagem das marcas através de mídia de massa e
campanhas de marketing, se faz necessário que existe uma forma oficial
de demonstrar os resultados de seu desempenho organizacional, que
envolvam os temas da sustentabilidade.
Seria um oportunidade única para que as empresa séria brasileira,
e que são muitas, poderem reforçar suas imagens institucionais e criar um
vinculo de confiança cada vez maior com seu público consumidor.

3.3.6 – Formar um Banco integrado de informações sobre as


avaliações realizadas em empresas certificadas
O desafio desta inovação será fazer com que os diversos institutos
e órgãos envolvidos no processo de concessão de licenças, outorgas,
autorizações, certificações e prêmios, possam interagir seus relatórios de
avaliações.
Tornar coerente o processo de concessão de uma certificação,
mediante a aprovação de órgãos envolvidos com os assuntos da
sustentabilidade.
Como por exemplo, imaginar que fosse possível um órgão como a
Vigilância sanitária, conceder uma licença de funcionamento, mediante a
uma visita ao local, e a consulta a relatórios de certificação dos processos
das empresas.
Ou ainda, a concessão de uma certificação ISO9001 ou ISO14001,
mediante a consulta oficial à órgãos públicos envolvidos com o tema .
Seria definitivamente a aplicação do conceito de Engajamento dos
stakeholders dentro do mercado de certificações.
Aplicar o conceito dentro do próprio processo normativo.
Assim como realizado em países da Europa.

Comentários Finais
Uma vez aplicada às linhas de visão da inovação em processos de
certificações, premiações e até elaboração de relatórios de sustentabilidade,
conseguiríamos tornar os processos mais próximos da realidade, incentivando
as organizações a promoverem modificações profundas em suas práticas de
gestão, e aproximaríamos estes processos da sociedade.
Melhorando sua credibilidade.
Ou então continuaremos da forma que está.
Submetida às interpretações subjetivas e circunstanciais, construídas por
campanhas mercadológicas.
Sem possível existir a oportunidade de demonstrar e provar a coerência
das campanhas realizadas.
Entraríamos então em uma fase de coerência, objetividade ,
transparência e integração completa entre os vário processos de
reconhecimento.

Deixemos então duas perguntas para reflexão:

1) Em que ponto está a credibilidade de normas


internacionais/instrumentos de gestão e prêmios, perante as
expectativas e necessidades da sociedade?

2) Em qual medida as normas contribuem de fato para a melhoria


da qualidade de vida da sociedade, tal qual a forma com que
está implantada hoje?

Se a resposta for, “não sabemos ao certo”, essa então deveria


ser a hora de pesquisar e inovar.
Ou como qualquer outro produto, por falta de inovação, eles
poderão morrer pela descrença da credibilidade e pela imensa distância
entre a teoria e a realidade/prática.
E então correremos o risco de perder estas importantes
ferramentas que nos ensinam os caminhos da sustentabilidade.
Sob a justificativa subjetiva de que a “teoria é diferente na prática”.

BIBLIOGRAFIA, BIOGRAFIAS, PÁGINAS OFICIAIS E DOCUMENTOS PESQUISADOS

1) Roosevelt, Theodore An Autobiography, 1913, The MacMillan Company, "On October 27, 1858, I was
born at No. 28 East Twentieth Street, New York City..."

2) Thayer, William Roscoe (1919). Theodore Roosevelt: An Intimate Biography, Chapter I, p. 20.
Bartleby.com. (em inglês) Página visitada em 1 de setembro de 2012.

3) Roosevelt, Theodore (1913) – O Rio da Duvida , história sobre expedição de Roosevelt pela
Amazônia , juntamente com Marechal Candido Rondon .

4) 1906, Site do Prêmio Nobel da Paz:


http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/peace/laureates/1906/ - visitado em 17.03.2013
5) Site do gabinete de Presidentes Americanos: http://www.u-s-
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17.03.2013

7) 1962, Site da Fundação Rachel Carson, http://www.rachelcarson.org/ - visitado em


17.03.2013

8) 1974, Vídeo entrevista Sherwood Rownland:


http://www.vega.org.uk/video/programme/119 - visitado em 17.03.2013

9) Prêmio Nobel em Quimica , Sherwood Rownland:


http://www.nobelprize.org/nobel_prizes/chemistry/laureates/1995/index.html - visitado
em 17.03.2013

10) 1974 , Paul Ehrlic Institut : http://www.pei.de/DE/home/de-node.html - visitado em


17.03.2013

11) 1973; Convenção Internacional das espécies da fauna e da flora silvestre ameaçadas de
extinção (CITIES): http://www.cites.org/eng/disc/text.php - visitado em 17.03.2013

12) 1972, Site do Clube de Roma: http://www.clubofrome.org/?p=4771 - visitado em 17.03.2013

13) 1972, Publicações Clube de Roma: http://clubofrome.org/cms/?cat=45 - visitado em


15.03.2013

14) Site oficial – Cupula Mundial da Alimentação - https://www.fao.org.br/vernoticias.asp?


id_noticia=862 – visitado em 15.04.2013

15) Site Governo britânico- Lei do Ar Puro: https://www.gov.uk/government/publications/the-future-


of-the-clean-air-act - visitado em 15.03.2013

16) Jan Tinbergen em site do neps ( Network of European Peace Scientists) :


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17) 1976, Publicações Diretrizes OCDE para empresas multinacionais e estatais: Site OCDE:
http://www.oecd.org/daf/ca/corporategovernanceofstate-ownedenterprises/42524177.pdf
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18) 1976, HABITAT I, conferência Internacional, Vancouver:


http://www.unhabitat.org/downloads/docs/924_21239_The_Vancouver_Declaration.pdf -
visitado em 17.03.2013

19) 1976, HABITAT : http://www.unhabitat.org/categories.asp?catid=9 - visitado em


17.03.2013

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21) Donald Woster, Livro e Filme The Dust Bowl


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24) Publicações oficiais UNESCO: http://www.unesco.org/new/en/natural-


sciences/environment/ecological-sciences/related-info/publications/- visitado em
17.04.2013

25) Relatório Nicholas Stern, Relatório sobre mudanças climáticas (UK – 2001):
http://webarchive.nationalarchives.gov.uk/+/http://www.hm-
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26) Declarações de Direitos Humanos (ONU) : http://www.pnuma.org/docamb/mh1972.php -


visitado em 17.04.2013

27) Declaração de Estocolmo(1972): http://portal.iphan.gov.br/portal/baixaFcdAnexo.do?id=243

28) SLAP – Sistema de Licenciamento União Européia: http://www.misp-serbia.rs/?page_id=28 –


visitado em 15.04.2013

29) Convenção de Roterdã sobre o procedimento de consentimento prévio e livre agrotóxicos:


http://www.mma.gov.br/seguranca-quimica/convencao-de-roterda - visitado em
15.04.2013

30) Protocolo de Cartagena, 2000 - http://bch.cbd.int/protocol/background/ - visitado em


15.04.2013

31) Convenção de Basiléia – controle fronteiriço - http://www.basel.int/Portals/4/Basel


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32) Site oficial Convenção de Roterdã: http://www.pic.int/ - visitado em 15.04.2013

33) União Européia – comissão de estudos da comunidade (2002): http://eur-


lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/com/2002/com2002_0347en01.pdf

34) América Latina, Rede de empresas e Responsabilidade Social: http://www.empresa.org/

35) IPCC – Intergovernmental Panel on climate change – relatórios publicados:


http://bch.cbd.int/protocol/background/ - visitado em 15.04.2013

IPCC – relatorio 1990 -


http://www.ipcc.ch/publications_and_data/publications_ipcc_first_assessment_1990_wg1.shtml#
.UYEkHrVwqS
A percepção dos gestores dos meios de hospedagem certificados em
sustentabilidade –caso da certificação NBR 15401 no Brasil.

Claudio Alexandre de Souza1*


Rafaela Caroline Simão Álvares2*

Resumo
A certificação em sustentabilidade vem sendo objeto de estudo de gestores não somente na
hotelaria, mas em diferentes áreas de conhecimento visto que ela é uma forma de contribuição
para a melhoria na relação das empresas com a sociedade. O objetivo do presente estudo é
analisar a certificação nos meios de hospedagens certificados na NBR 15401:2006 –
sustentabilidade para os meios de hospedagem. A metodologia deste estudo é resultado de
pesquisa documental, bibliográfica relativa à certificação em sustentabilidade. Para esse estudo
foi realizada pesquisa de campo com entrevista semiestruturada e amostra censitária junto aos
meios de hospedagem certificados pela NBR 15401:2006. Os resultados apresentados podem
contribuir para a compreensão da certificação em sustentabilidade nos meios de hospedagem do
Brasil, visto ser pioneiro no país, com uma norma tida como referência em nível internacional.
Uma vez que a necessidade de elaboração de formas de controle adequado para elaboração de
dados relativos aos processos operacionais e administrativos que afetam as dimensões da
sustentabilidade a fim de compreender efetivamente quais são os resultados internos e externos
que o processo de certificação em sustentabilidade promove.

Palavras-chave: Certificação; Sustentabilidade; Meio de Hospedagem; NBR


15401:2006.

Abstract:
The certification in sustainability has been studied by managers not only in hotels, but in
different areas of knowledge since it is a form of contribution to the improvement in the ratio of
companies with society. The aim of this study is to analyze the means of lodging certification
certified in NBR 15401:2006 - Sustainability for lodging facilities. The methodology of this
study is the result of desk research, literature on the certification of sustainability. For this study
was conducted field research with semi-structured interview and sample census along with
lodging facilities certified by NBR 15401:2006. These results can contribute to the
understanding of sustainability certification in the lodging facilities in Brazil, as a pioneer in the
country, with a standard reference regarded as internationally. Once the need for developing
ways to control suitable for preparation of data for operational and administrative processes that
affect the dimensions of sustainability in order to effectively understand what are the internal
and external results that sustainability certification process promotes.

Keywords: Certification, Sustainability, Environment Hosting; NBR 15401:2006.

Introdução

No início do século XXI os processos de certificação se consolidaram como uma


forma adequada para orientação das empresas quanto à forma correta de atuação para

1
Doutorando em Geografia – UFPR; Mestre em Hospitalidade – UAM; Bacharel em Turismo em
Hotelaria – UNIVALI. Professor do Curso de Bacharelado em Hotelaria – UNIOESTE Campus de Foz
do Iguaçu. E-mail: cas_tur@yahoo.com.br.
2
Bacharel em Hotelaria - – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu. E-mail:
rafaella_alvares@hotmail.com.
**Curso de Bacharelado em Hotelaria – UNIOESTE Campus de Foz do Iguaçu. Avenida Tarquínio
Joslin dos Santos, 1300 – Polo Universitário – CEP 85.870-650. Caixa postal, 961 – Foz do Iguaçu – PR.

1
melhorar os processos internos de operação a fim de atender a demanda de melhoria da
qualidade.
Contudo é fundamental entender o que acontece com as empresas nas quais
foram implementados esses programas de certificação, uma vez que apenas esses
programas não são fatores que implicam diretamente no surgimento de melhorias
internas e externas para as empresas.
O objetivo do presente estudo é analisar a percepção dos gestores dos meios de
hospedagens certificados na NBR 15401:2006 – sustentabilidade para os meios de
hospedagem sobre o processo e a certificação que obtiveram para os seus respectivos
meios de hospedagem.
Pesquisas como as realizadas por Chung e Parker (2010), Alvares (2011) e
Arenhart (2011) identificam uma necessidade de mais estudos sobre RSE,
sustentabilidade e certificação em meio de hospedagem, visando compreender o que se
dá nesse processo tomando como base o contexto nacional.
Os estudos realizados para esta pesquisa possibilitaram compreender a
complexidade que é o processo de certificação, sobretudo, quando relacionado à
temática de sustentabilidade. Essa complexidade se dá principalmente pelo fato das
empresas pesquisadas não terem para muitas ações um histórico de registro dos
processos operacionais e administrativos. Essa ausência de informação dificulta a
compreensão das ações realizadas em função das exigências necessárias para o processo
de certificação.
Este trabalho está dividido em quatro partes. São elas: a introdução, o
embasamento teórico, a metodologia que culmina com a análise dos dados e as
considerações finais.

Embasamento Teórico

Os meios de hospedagem têm, efetivamente, um potencial poluidor pela


capacidade de geração de resíduos de diferentes fontes (LAURINO, 2008), (BEATO,
2010), (GROSBOIS, 2011), (ARENHART, 2011), (LEAL, 2011). E o setor de turismo
é identificado como o setor que mais impactos ambientais causam (FONT; MIHALIC,
2002) e por esta razão da necessidade de ações práticas efetivas no quanto a gestão
ambiental (BOHDANOWICZ, 2005). Um processo de certificação como a NBR
15401:2006 vem de encontro a este cenário como uma forma sistemática de reduzir e
dependendo de como foi implementada eliminar este potencial poluidor.

2
Discute-se ainda que este tipo de prática de certificação ambiental em meio de
hospedagem contribui local e globalmente para a melhoria das condições ambientais do
planeta no tocante a um uso racional dos recursos naturais por parte das empresas
privadas (BOHDANOWICZ, 2007). E que atuar realizando ações de sustentáveis ou ter
uma certificação que ateste isto, demonstra uma iniciativa por parte do meio de
hospedagem em buscar diferencial como uma organização com uma gestão
comprometidas com estas questões (HOLCOMB; UPCHURCH; OKUMUS, 2007).
Estudos realizados sistematicamente em diferentes regiões do planeta
identificaram o altruísmo como efetivamente uma motivação concreta para que gestores
implementassem, nas suas respectivas empresas, ações de gestão ambiental (GARAY;
FONT, 2011). Em alguns casos, principalmente em função de pressões externas dos
stakeholders (EL DIEF; FONT, 2010a). Pesquisas como em Font e Garay (2012)
possibilitaram identificar inclusive que 40% de firmas que implementam ações desta
natureza são por razões baseadas nos recursos das organizações e por altruísmo, ou seja,
pela satisfação pessoal da performance sócio ambientalmente responsável que este tipo
de prática proporciona ao negócio.
Um programa de certificação para as empresas é visto há vários anos como uma
forma de ações para além das melhorias possíveis, mas também uma direta redução dos
custos (BOHDANOWICZ, 2007). Algumas pesquisas identificam a redução de custos
operacionais aliadas diretamente com a redução de consumo interno na organização
(DENG, 2003). Contudo, para atingir esse resultado faz-se necessário que o programa
de gestão ambiental esteja efetivamente instalado o que é uma exigência também de
uma norma técnica para implementação de um programa de certificação
(BOHDANOWICZ; SIMANIC; MARTINAC, 2005a). Esta prática exige um padrão de
treinamento sobre a certificação que o seu uso estratégico possibilita vantagem
competitiva para uma organização em longo prazo, em relação aos seus respectivos
stakeholders (GARAY; FONT, 2011).
Identificou-se também o fato de que uma certificação representa além de
benefícios financeiros, operacionais e ambientais, a possibilidade desta ser usada
também como uma ferramenta de marketing para divulgação da certificação ambiental
como um diferencial competitivo que uma empresa possui no setor de turismo em nível
mundial (HONEY; STWART, 2002). Esta pratica faz-se necessário ate pela necessidade
dos gestores de proporcionarem aos meios de hospedagem uma visibilidade que
contribua para o aumento da demanda da empresa.

3
Os processos internos dos meios de hospedagens passam por melhorias inerentes
às ações necessárias para a implementação de certificação. Fatores como a compreensão
das ações operacionais em relação às questões relacionadas à sustentabilidade que eram
desenvolvidas na organização (PIRES et al, 2010), (BEATO, 2010), (ARENHART,
2011). O processo de certificação necessita para a sua efetiva implementação de um
programa estruturado de gestão que envolva treinamentos em todos os níveis e que
resultem em impactos qualitativos para toda a organização (BOHDANOWICZ;
SIMANIC; MARTINAC, 2005a), (EL DIEF; FONT, 2010a). Uma adequada
implementação possibilita de forma efetiva que os meios de hospedagens possam
mensurar os aspectos operacionais e a compreensão dos processos (BONILLA
PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008).
Estudos sobre certificação em nível internacional identificam que os custos de
um programa de gestão são um impedimento para a disseminação deste tipo de ação
para micro e pequenas empresas (HONEY; STWART, 2002), isto que o processo é
similar para toda a organização e quanto maior a empresa, melhor diluído na
organização será o custo da implementação de um processo de certificação.
Por acreditar em um possível potencial para alavancar vendas e aumentar as
taxas de ocupação empresas têm buscado certificações (HONEY; STWART, 2002),
(AYUSO, 2006). Contudo, Font e Mihalic (2002) identificam que a demanda potencial
de meios de hospedagens não valorizam questões socioambientais ou culturais pontuais
do meio de hospedagem, mas da destinação como um tudo. Fato este corroborado por
Bohdanowicz (2005) quando identifica que há poucos clientes que demanda meios de
hospedagem com programas ambientais e da necessidade de haver demanda para este
foco para que haja pressão para aumentar a busca dos meios de hospedagem pelo
processo de certificação visto que os meios de hospedagem que estão se certificando
não tem identificado aumento da demanda (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011).

Metodologia

A pesquisa foi realizada em julho de 2011, in loco, na cidade de Lençóis no


Estado da Bahia com os hotéis Canto das Águas e de Lençóis e na cidade de Búzios no
Estado do Rio de Janeiro com o hotel Ville La Plage. Esses hotéis representam os
primeiros meios de hospedagem certificados na norma NBR 15401:2006 –
Sustentabilidade para Meios de Hospedagem, no período de 2008 a 2010 e eram até a

4
data de realização da pesquisa os únicos meios de hospedagem certificados nesta norma
(ALVARES, 2011).
Este estudo é resultado de pesquisa de bibliográfica e documental (DENCKER,
1998), junto à temática de certificação em sustentabilidade e certificação em meios de
hospedagem em nível mundial, bem como sobre a norma brasileira de sustentabilidade
em meios de hospedagem, como a NBR 15401:2006.
A pesquisa teve inicialmente o levantamento junto aos órgãos oficiais e
especializados em certificação no Brasil uma busca pelos meios de hospedagem
classificados na norma NBR 15401:2006, com o objetivo de compreender o universo
das mesmas em função do objetivo de realizar uma pesquisa censitária.
Após a identificação do Hotel Canto das Águas e do Hotel Ville La Plage como
meios de hospedagem certificados foi realizado pesquisa documental nas páginas
eletrônicas das respectivas empresas com objetivo de conhecer as ações relacionadas à
certificação. Posteriormente, procedeu-se a solicitação de autorização para a realização
da pesquisa in loco.
Na sequencia foi realizado entrevista semiestruturada in loco com os gestores
dos meios de hospedagem pesquisados, foi realizada visita ao meio de hospedagem
como forma de validação visto que a pesquisa tinha o objetivo de buscar evidência dos
dados coletados na entrevista. Uma vez que as empresas pesquisadas eram meios de
hospedagens certificados há existência de evidências pode ser identificada como
requisito necessário, pela estrutura de um processo de certificação vindo ao encontro da
argumentação de estudos que identificam que empresas com uma quantidade de ações
sobre a temática sustentabilidade efetivamente tem mais documentações sobre as ações
(FONT et al, 2012a).
Os meios de hospedagem contatados que demonstraram interesse em participar
deste estudo, desde o primeiro momento, se colocaram à disposição para receber in loco
os pesquisadores e em apresentar evidências relacionadas aos dados questionados
durante o processo de coleta de dados, conforme previsto inclusive na norma
NBR15401:2006, em relação a manter-se aberta a comunicar aos stakeholders seu
comprometimento com a sustentabilidade (ASSOCIAÇÃO, 2006).
O estudo buscou realizar entrevista semiestruturada com os gestores dos meios
de hospedagem certificados, tendo em vista o fato de serem responsáveis legais pelas
empresas e pelo domínio que estes têm em relação às ações que são desenvolvidas em

5
suas respectivas empresas, conforme realizado em pesquisas desta natureza (AYUSO,
2006; 2007).
Apesar de se identificar que em pesquisas realizadas em meios de hospedagem
do Brasil sobre a sustentabilidade, verificou-se a falta de domínio dos mesmos sobre
questões de ordem conceitual, mesmo quando à empresa tinha efetivamente ações
realizadas nesta área (PIRES, 2008); (BEATO, 2010). Contudo eles são o foco da
pesquisa pela forte dependência de MPE, para com os seus respectivos gestores e pelo
poder de tomada de decisão que o mesmo tem na empresa (BOHDANOWICZ, 2006).
Os dados que foram coletados serão analisados no formato denominado de
emparelhamento (LAVILLE; DIONNE, 1999). Tal proposta vem em função do fato do
embasamento teórico se reportar a outros estudos já realizados sobre certificação em
sustentabilidade no setor de turismo e mais especifico em meio de hospedagem, sendo
muitos casos de estudos realizados no exterior.
As análises críticas realizadas neste estudo têm o objetivo de compreender as
ações realizadas no meio de hospedagem e contribuir não só para análise científica dos
dados bem como com as análises que objetivam orientar as ações de meios de
hospedagens que buscam a certificação da NBR 15401:2006 (FONT, 2008).

Caso dos Hotéis certificados na NBR 15401:2006 – Gestão de


sustentabilidade em Meios de Hospedagem

Os meios de hospedagem pesquisados possuem uma quantidade similar de


UH’s. Além disso, todos possuem a sua certificação em função das ações do Programa
Bem Receber que tinha como foco a orientação para implementação dos processos
previstos na NBR 15401:2006 com a possibilidade da certificação de meios de
hospedagem com número de UH’s – Unidades Habitacionais, igual ou inferiores a 50
UH’s (LAURINO, 2008), (LAVOR 2009).
As empresas pesquisadas, podem ser classificadas pela quantidade de UH’s,
como sendo de pequeno porte (DUARTE, 1998), e todas buscaram a implementação
com foco na certificação como resultado do Programa Bem Receber implementado no
Brasil pelo Governo Federal que visava subsidiar tal ação com apoio financeiro e
operacional para a concretização do processo de certificação (LAURINO; SOUZA,
2010), (ALVARES, 2011).
Esse fato vem ao encontro do identificado por pesquisas internacionais que
verificaram que para empresas de pequeno porte buscar o processo de certificação como

6
forma de promover melhorias organizacionais, apesar de ser o objetivo de várias é algo
inviável pelo custo para adequação de micros e pequenas empresas para implementação
de um processo de certificação ser considerado elevado para os padrões de empresas de
médio e pequeno porte (HONEY; STWART, 2002).

Apresentação e Análise dos Dados

Os meios de hospedagem Canto das Águas e o Ville La Plage foram


identificados via sites de busca com o nome da norma e as palavras hotel, entretanto, o
meio de hospedagem Hotel de Lençóis só foi identificado quando da estada dos
pesquisadores in loco. Como discutido em pesquisas realizadas sobre a temática citada
(HONEY; STWART, 2002); (ARENHART, 2011) há necessidade de ampla e clara
divulgação da norma e das empresas certificadas, não somente por questões
mercadológicas, mas inclusive para maior clareza dos clientes e dos stakeholders que
tenham interesse em obter maiores informações sobre as mesmas para as suas
respectivas relações para com o meio de hospedagem.
O meio de hospedagem Hotel Canto das Águas, o primeiro a ser certificado em
2008, já praticava ações de boas práticas (AYUSO, 2006; 2007), como resultado da
participação deste no PCTS – Programa de Ceritificação do Turismo Sustentável em
2007 e no Programa Bem Receber de 2008 em diante (LAURINO, 2008). Esse fato
possibilitou ainda que fosse para este mais rápido a adequação das ações de boas
práticas já realizadas aos requisitos da norma vindo ao encontro de estudos que apontam
que quanto mais ações e de forma correta mais fácil e para agilizar a documentação
necessária (FONT et al, 2012a).
O Hotel de Lençóis, bem como os demais hotéis aqui pesquisados, mas neste
caso foi o fator motivador para a certificação, participaram do Programa Bem Receber
(LAURINO, 2008). Este programa tinha efetivamente como meta a promoção da
certificação dos participantes o que ocorreu no ano de 2009. A participação neste
programa deu base para que o meio de hospedagem pudesse se adequar aos requisitos
da norma (FONT et al, 2012a).
Quando do início de estudos sobre gestão ambiental foi identificado o potencial
poluidor do Hotel Ville la Plage (GROSBOIS, 2011), (ARENHART, 2011). Isto posto,
esse hotel buscou uma certificação que atestasse o interesse pela consolidação de um
sistema de gestão ambiental para o meio de hospedagem (BOHDANOWICZ, 2005).
Este foi interesse da gestora/proprietária que de fato buscava um diferencial para o

7
empreendimento (HOLCOMB; UPCHURCH; OKUMUS, 2007), obtendo a certificação
em 2010.
Quando questionados sobre a implementação e a manutenção da NBR
15401:2006, eles identificam a contribuição que a certificação possibilitou para a
sensibilização em relação aspectos ligados a sustentabilidade de todos os envolvidos
interna e externamente ao hotel. Visto que durante o processo de implementação o que a
NBR possibilitou através da orientação e treinamento que ocorreram suprir esta lacuna
que era a falta de compreensão sobre as questão ambientais de forma sistemática
(PIRES, 2008), (LEAL, 2011). Mesmo eles já tendo desenvolvidos em suas estruturas
atividades ambientais.
Aliadas aos programas que os gestores participaram para dar base para a
implementação da NBR 15401:2006, foi identificado que já eram realizadas
voluntariamente ações de boas práticas ambientais de forma altruísticas (FONT;
GARAY, 2012). No caso do Hotel Canto das Águas e no Hotel Ville La Plage, as
gestoras argumentaram que foi em função da observação da possibilidade de realizar
ações, consideradas simples, mas com resultados concretos para o entorno dos hotéis.
Pelas características do Programa Bem Receber (LAURINO, 2008) no que se
refere à forma de controle e gestão dos recursos hídricos e elétricos, os meios de
hospedagem identificaram o potencial efetivo para redução de custos (HONEY;
STWART, 2002), (BOHDANOWICZ, 2007). Principalmente em função da redução do
consumo, apesar da ainda reduzida quantidade de dados estatísticos sobre as diversas
ações realizadas na organização (DENG, 2003). Tais elementos podem ser
potencializados com treinamentos (EL DIEF; FONT, 2010a). O que geraria ou
reforçaria estrategicamente o diferencial competitivo para os hotéis em suas relações
com os stakeholders (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011).
O Programa Bem Receber previa em sua concepção original a divulgação dos
diversos meios de hospedagem certificados na NBR 15401, como forma de dar suporte
as empresas que se engajaram no processo (LAURINO, 2008). Contudo como pode ser
observado na dificuldade em se obter dados relativos às empresas certificadas nesta
norma tal fato não se observou na prática. O que nos faz questionar o fato das empresas
não estarem sabendo obter a promoção e competitividade que tal certificação poderia
lhe proporcionar (HONEY; STWART, 2002).
Contudo cabe a ressalva que o Hotel Canto das Águas vem explorando uma
divulgação espontânea por ter sido o primeiro do país a ser certificado, tendo por um

8
tempo usado o título de “O hotel mais sustentável do Brasil” e após 2009 de “O
primeiro hotel sustentável do Brasil” (ALVARES, 2011). O hotel Ville la Plage por sua
vez tem uma divulgação acadêmica e mercadológica em função das participações em
prêmios nacionais e da atuação da gestora/proprietária como palestrante em eventos em
todo o Brasil (Idem). Não se observou nenhuma ação comercial vinculando o nome do
Hotel de Lençóis à certificação NBR 15401:2006.
Porém, apesar de se ter identificado projetos de eco-inovação que agregam valor
aos serviços prestados com potencial para geração de melhorias competitivas, foi
identificada a ausência de dados ambientais, sociais e econômicos referentes às
mudanças que estas ações de eco-inovação promoveram na e para a empresa e para e
com os stakeholders envolvidos (DENG, 2003), para que a partir destes dados possam
ser efetivamente avaliadas de forma mais críticas quanto a todas as mudanças que estes
novos processos operacionais promoveram nas relações e o quanto influenciam na
competitividade da empresa.
Entretanto, como citado anteriormente, há necessidade de ações efetivas quanto
a uma sistematização para controle e gestão efetiva de todos os processos que já
ocorrem em um meio de hospedagem bem como as ações de eco-inovação foram
implementadas em função da implementação de uma certificação NBR 15401:2006
(BOHDANOWICZ; SIMANIC; MARTINAC, 2005a), (EL DIEF; FONT, 2010a). É
necessário que todos os processos sejam controlados e geridos, para que possam ser
compreendidos, controlados, mensurados e implementados de forma a promover
melhorias para a sociedade e as partes que a compõem, os meios de hospedagens e os
seus stakeholders (BONILLA PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008).
Quanto aos obstáculos para implementar o processo de certificação nos hotéis
identificou-se mudanças quanto ao aumento do numero de funcionários ao Hotel Ville
La Plage e falta de compreensão em todos os hotéis pesquisados sobre os conceitos
discutidos nas normas em função da complexidade da norma (SOUZA; ABDALLA,
2010), (GANDARA; SOUZA; ABDALLA, 2011a, 2011b). Bem como a necessidade da
elaboração dos parâmetros para mensurar os parâmetros necessários para a
implementação da norma. Contudo cabe lembrar que em todos os meios de hospedagem
houve suporte para do Programa Bem Receber (SOUZA; LAURINO, 2009),
(LAURINO, 2008), mas mesmo assim identificam-se os obstáculos citados no processo
de implantação da norma, mas não para mantê-la visto que depois de implementada
houve consenso para a manutenção da certificação.

9
Os meios de hospedagem pesquisados não indicaram como foco de suas ações a
busca imediata pelo aumento da demanda o fator motivacional para implementação da
certificação como se verifica na literatura (HONEY; STWART, 2002), (AYUSO,
2006). Contudo os mesmos mensuram a demanda e não identificaram um aumento da
demanda em função da certificação e/ou no período pós-certificação como indicado nos
estudos realizados (PRIEGO; NAJERAB; FONT, 2011).

Considerações Finais

Conforme observado nos resultados da pesquisa de campo similar ao do


discutido em pesquisas realizadas sobre certificação e sustentabilidade em meio de
hospedagem como (BONILLA PRIEGO; AVILÉS PALACIOS, 2008), recomenda-se
que sejam realizadas mais pesquisas junto aos meios de hospedagem certificados e as
relações destes com os seus respectivos stakeholders. Inclusive como forma de
contribuir para a melhoria dos processos de certificação nos meios de hospedagem. Bem
como formas de coleta de dados mensuráveis relativos aos processos antes e após os
processos de certificação ser consolidado nas organizações de forma a se identificar
formas de se compreender as alterações surgidas pelos processos de certificações.
Observou-se que os gestores dos meios de hospedagem pesquisados necessitam
de mais informações sobre certificação em meio de hospedagem de forma geral. Bem
como também sobre certificação em sustentabilidade em meios de hospedagem, uma
vez que os mesmos estão mantendo uma certificação sobre sustentabilidade, mas sem
uma fonte direta para busca de conhecimento sobre esta área que eles estão vivendo.
A busca pela certificação como forma de se obter retorno financeiro pelo
aumento da demanda em meios de hospedagem tem sido o foco da justificativa de
empresa que buscam as certificações (HILLMAN; KEIM, 2001). Contudo não se
verificou tal fato nesta pesquisa o que chama atenção para como estruturar uma
certificação para que contribua para este fim caso isto seja possível, como é o discutido
em nível acadêmico da área de gestão (PORTER; KRAMER, 2006).
A busca por gerir um sistema de certificação sobre sustentabilidade nos meios de
hospedagem certificados apresenta que a principal motivação resulta no Programa Bem
Receber implementado pelo Governo Federal com apoio do Sebrae (SOUZA,
LAURINO, 2009). Contudo a busca pelo resultado financeiro é contínua, mas não se faz
presente, apesar dos gestores buscarem-no constantemente.

10
Verifica-se que a complexidade técnica da norma relativa às questões da
sustentabilidade a torna uma referência em nível internacional (ASSOCIAÇÃO, 2006),
(LAVOR, 2009). Contudo esse fato por sua vez faz com que a mesma tenha uma difícil
compreensão da parte dos gestores e funcionários dos meios de hospedagem
pesquisados (ALVARES, 2011). Esse fato deve ser considerado para a elaboração de
projetos para processos de implementação desta certificação em meios de hospedagem
do país.
Os estudos identificaram a ausência de sistemas aplicados de coletados nos
meios de hospedagem (DENG, 2003). Este ponto impossibilita análises mais precisas
em relação aos processos de gestão da certificação implementados nos meios de
hospedagem pesquisados de forma que tal fato impossibilita compreender efetivamente
os resultados das ações na gestão das organizações estudadas.
Outro ponto que cabe ser analisado, em função de ser uma norma com poucas
empresas certificadas, desenvolver uma forma sistemática de acompanhar a evolução
das mesmas de forma a serem usadas sistemáticas como ferramentas de benchmarking,
tanto em nível acadêmico quanto mercadológico para os atuais e futuros meios de
hospedagem interessados nesta norma.

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Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais de referência usando as certificações
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Autores: Luana Eid Piva Bertoletti*, Alberto Hernandez Neto**

*Engenheira Mecânica, Graduada na Escola Politécnica da USP, Instituição: Sustentech


Desenvolvimento Sustentável - luanaepb@gmail.com
**Professor Livre Docente pela Escola Politécnica – USP, Instituição : Escola Politécnica da USP –
ahneto@usp.br

RESUMO
O mercado imobiliário brasileiro, seguindo a tendência mundial de adoção de práticas sustentáveis
no setor da construção civil, tem passado por transformações frente à demanda crescente por
edifícios ambientalmente adequados e energeticamente eficientes. Os empreendimentos sustentáveis
já são uma realidade no país e as certificações são cada vez mais procuradas pelos empreendedores.
Do ponto de vista energético, a avaliação do desempenho de edifícios que almejam uma certificação
pode ser feita via cumprimento de medidas prescritivas e/ou via realização de simulação
computacional. Este último método prevê a comparação do desempenho dos modelos do edifício real
(proposto) e do edifício de referência, o qual representa um patamar superior de desempenho para
edifícios com características similares às do edifício real (tipo de utilização, zona climática, etc.).
Logo, ao escolher a metodologia para tal fim, é importante que ela seja adequada à realidade
climática, energética e legislativa do país em questão. Neste sentido, diante dos questionamentos
relacionados à aplicabilidade dos diferentes sistemas de certificação no contexto brasileiro, o
objetivo do trabalho é comparar, segundo dois destes sistemas, quais níveis de desempenho
caracteriza do ponto de vista energético, um edifício comercial de referência, em três cidades
brasileiras. Para a realização da análise comparativa, foram escolhidos os sistemas de certificação
LEED e PROCEL-Edifica, difundidos no mercado brasileiro e aplicáveis a edifícios comerciais. Os
resultados das simulações mostram que, em termos de consumo energético, o edifício de referência
do PROCEL-Edifica é mais exigente que o edifício de referência do LEED, situação verificada para
as três cidades analisadas.

ABSTRACT

The Brazilian real estate market, following the global trend of adopting sustainable practices in the
construction industry, has been going through changes due to the growing demand for
environmentally friendly and energy efficient buildings. The sustainable buildings are already a
reality in the country and certifications are increasingly sought after by entrepreneurs. From the
energetic point of view, performance assessment of buildings which aim for a certification can be
carried out by compliance with prescriptive measures and / or by conducting computer simulation.
This latter method provides the performance comparison of the actual building (proposed) and the
baseline building, which represents a higher level of performance for buildings with similar
characteristics to the actual building (type of use, climate zone, etc.). Thus, when choosing the
methodology for this purpose, it is important that it is suited to the climatic, energy, and legislative
reality of the concerned country. In this sense, considering the inquiries related to the applicability of
different certification systems in the Brazilian context, the aim of this study is to compare, according
to two of these systems, which performance levels characterize, in terms of energy, a commercial
baseline building, in three Brazilian cities. In order to perform the comparative analysis, the
certification systems which were chosen are LEED and PROCEL-Edifica, widespread in the
Brazilian market and applicable to commercial buildings. Simulation results show that, in terms of
energy consumption, PROCEL-Edifica baseline building is more stringent than LEED’s one. This
situation was verified for the three cities.

1. Introdução

A construção civil é uma das atividades econômicas que mais emprega recursos naturais, seja na
fase de construção, operação ou manutenção ao longo de sua extensa vida útil. Contudo, somente a
partir da década de 80, diante da crise do petróleo de 1973, intensificou-se a preocupação com o
desempenho energético e ambiental durante o processo de concepção do projeto de edifícios. No
Brasil, a preocupação com a conservação e uso racional de energia ocorreu posteriormente, visto que
na época em que se deu a crise, o país já possuía um parque gerador predominantemente
hidroelétrico (Mendes, 2005). Somente em 2002, diante da crise de abastecimento ocorrida no ano
anterior, em decorrência dos poucos investimentos na ampliação do parque gerador e da escassez de
chuvas, o Ministério de Minas e Energia publicou o Plano de Trabalho de Implementação da Lei de
Eficiência Energética (Lei n° 10.295 de 17 de outubro de 2001). Este plano destaca a necessidade de
desenvolvimento de mecanismos que promovam a eficiência energética dos edifícios construídos no
país (Hagel, 2005). Neste contexto, o mercado imobiliário brasileiro, seguindo a tendência mundial
de adoção de práticas sustentáveis no setor da construção civil, tem passado por transformações
frente à demanda crescente por edifícios ambientalmente adequados e energeticamente eficientes.
No Brasil, a regulamentação de desempenho energético e ambiental em edifícios ainda é
insipiente (Shalders, 2003). No entanto, os empreendimentos sustentáveis já são uma realidade no
país e as certificações são cada vez mais procuradas pelos empreendedores, visto que os benefícios
deste processo atingem, positivamente, o meio ambiente, o empreendedor e as pessoas que irão
usufruir da estrutura construída. Atualmente, os selos mais solicitados são o LEED (Leadership in
Energy and Environmental Design), o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e o PROCEL-Edifica.

2. Objetivo

Atualmente, existe uma grande diversidade de metodologias utilizadas para avaliação do


desempenho energético e ambiental de edifícios, assim como milhares de metros quadrados já
certificados em mais de uma centena de países. Do ponto de vista energético, a avaliação do
desempenho de edifícios que almejam uma certificação pode ser feita via cumprimento de medidas
prescritivas e/ou via realização de simulação computacional. Este último método prevê a comparação
do desempenho dos modelos do edifício real (proposto) e do edifício de referência, o qual representa
um patamar superior de desempenho para edifícios com características similares às do edifício real
(tipo de utilização, zona climática, etc.).
Logo, ao escolher a metodologia para tal fim, é importante que ela seja adequada à realidade
climática, energética e legislativa do país em questão. Neste sentido, diante dos questionamentos
relacionados à aplicabilidade dos diferentes sistemas de certificação no contexto brasileiro, o
objetivo do trabalho é comparar, segundo dois destes sistemas, quais níveis de desempenho
caracterizam do ponto de vista energético, um edifício comercial de referência (Hagel, 2005).
Este estudo comparativo será realizado para três cidades brasileiras, cujo critério de escolha será
apresentado nas seções que seguem, com base em estudo realizado por Betoletti (2011).

3. Sistemas de certificação de edifícios e o contexto brasileiro

Nesta seção, é feita uma breve descrição dos sistemas de certificação escolhidos para a
realização da análise comparativa: LEED e PROCEL-Edifica. A seguir, são apresentados seus
aspectos gerais e a contextualização dos mesmos no mercado imobiliário brasileiro. A justificativa da
escolha destes sistemas é apresentada na seção 4.

3.1.LEED

O sistema de certificação LEED, de origem norte-americana e de caráter voluntário, foi


desenvolvido pela organização não-governamental U.S.Green Building Council (USGBC).
Atualmente, é a metodologia de maior reconhecimento no mercado imobiliário internacional para
padrões de sustentabilidade em edifícios, sejam eles novos ou existentes, de caráter comercial,
institucional ou residencial.
A última versão do sistema de classificação para Novas Construções ou Grandes Renovações
(USGBC, 2008), inicialmente desenvolvida para a avaliação de edifícios comerciais, é composta
pelas seguintes categorias: “Sítios sustentáveis”, “Eficiência da água”, “Energia e atmosfera”,
“Materiais e recursos”, “Qualidade do ar interno”, “Inovação em projeto” e “Prioridade Regional”.
Cada uma das categorias é composta por créditos e para que os pontos sejam atribuídos aos
mesmos, com base em uma lista de objetivos pré-definida, os pré-requisitos específicos à categoria
devem ser cumpridos. Assim, o método de avaliação possui uma estrutura simples do tipo checklist.
De acordo com a pontuação total obtida, o edifício pode ser certificado segundo quatro níveis:
Certificado, Prata, Ouro, Platina. O sistema é baseado em 100 pontos, porém os créditos de
“Inovação de Projeto” ou de “Prioridade Regional” tornam possível a obtenção de até 10 pontos de
bonificação.
No Brasil, o Green Building Council Brasil (GBC-Brasil) vem disseminando no mercado o
sistema de certificação LEED, o qual tem sido amplamente utilizado para avaliar e certificar
edifícios em grandes cidades brasileiras: de acordo com dados do GBC, o Brasil é o 4º país no
ranking mundial de construções sustentáveis certificadas pelo LEED, com 37 empreendimentos,
atrás apenas dos Estados Unidos, Emirados Árabes e China (PROCEL-INFO, 2011).
O GBC-Brasil trabalha na interpretação e adaptação desta metodologia ao mercado nacional,
embora essa adaptação ainda não tenha sido concluída.

3.1.1. Avaliação do desempenho energético

No Referencial LEED (USGBC, 2008), os aspectos energéticos são abordados na categoria


“Energia e atmosfera”. Nesta categoria, é definido o desempenho energético mínimo que o edifício
proposto deve apresentar para cumprir com o pré-requisito 2 da categoria. Para a comprovação do
desempenho, o Referencial propõe duas opções: via cumprimento de medidas prescritas de guias de
projeto da ASHRAE ou via simulação energética computacional. Ao utilizar este último método, o
atendimento ao pré-requisito prevê a redução do consumo do edifício proposto em 10%, em termos
de custo, com relação ao consumo do edifício de referência. As características deste último são
definidas e apresentadas no Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a).

3.2.PROCEL-Edifica

A Etiqueta de Eficiência Energética em Edificações, PROCEL Edifica, criada em 2003 pela


parceria entre a Eletrobrás e o INMETRO, é um sistema de avaliação de desempenho energético de
edifícios que faz parte do Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE). Sua metodologia foi
desenvolvida pelo Laboratório de Eficiência Energética em Edificações (LabEEE) e contou com a
participação de diversas instituições, como o Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e
Agronomia (CONFEA) e o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB).
A avaliação do desempenho energético de edifícios comerciais, de serviços e públicos é feita
utilizando-se o Regulamento Técnico de Qualidade (RTQ) (INMETRO, 2010), que até a presente
data é de caráter voluntário. Para que um edifício seja elegível à etiquetagem, todos os pré-requisitos
gerais presentes no RTQ (INMETRO, 2010), referentes ao edifício como um todo, devem ser
cumpridos, obrigatoriamente. Uma vez elegível, determina-se o nível de desempenho do edifício,
que varia de “A” (mais eficiente) a “E” (menos eficiente), após a avaliação do desempenho de três
sistemas que o compõem: envoltória, iluminação e condicionamento de ar.
Após a obtenção da classificação do edifício, é concedida a Etiqueta Nacional de
Conservação de Energia (ENCE), a qual pode ser concedida em três fases: para o projeto do edifício,
para o edifício pronto (após a obtenção do alvará de conclusão de obra) e para o edifício existente,
após reforma.
Também existe a possibilidade de se obter apenas a classificação de um (uns) sistema(s), no
caso em que seja almejada a etiqueta parcial do edifício. O PROCEL-Edifica, sistema de avaliação
que já emitiu etiquetas para cerca de 30 edifícios (PROCEL-INFO, 2011), diferentemente da
certificação LEED, que aborda diversos aspectos ambientais e de conforto dos ocupantes do edifício,
avalia apenas o desempenho energético do mesmo.

3.2.1. Avaliação do desempenho energético

A classificação do nível de desempenho energético do edifício pode ser obtida via método
prescritivo ou via simulação computacional. Ao utilizar este último método, o edifício proposto é
certificado ao apresentar consumo energético inferior ao apresentado pelo edifício de referência
correspondente à etiqueta pretendida.
Cabe ressaltar que, ao realizar a simulação para a comprovação do desempenho, o método
prescritivo não é dispensado, visto que é necessário para se determinar certos parâmetros utilizados
por esta ferramenta.

4. Metodologia
4.1. Escolha dos sistemas de certificação

A escolha dos sistemas de certificação foi baseada na análise da abordagem do desempenho


energético segundo três sistemas estudados: LEED, AQUA e PROCEL-Edifica. O critério crucial de
decisão foi o fato da metodologia AQUA não definir claramente quais parâmetros devem ser
adotados com relação aos sistemas energéticos do edifício (iluminação, condicionamento de ar) para
a definição de seu edifício comercial de referência.
De acordo com profissionais da área de certificação de empreendimentos, nos primeiros
processos de certificação AQUA, foram adotados parâmetros que constam no PROCEL-Edifica a
fim de caracterizar o edifício de referência.
Diante disso, optou-se então, por comparar, via simulação computacional, o desempenho dos
edifícios comerciais de referência do LEED e do PROCEL-Edifica.

4.2.Escolha das cidades

A primeira etapa para a escolha das cidades foi a consulta ao apêndice normativo B da
ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007), a fim de extrair a classificação das cidades brasileiras
segundo as zonas bioclimáticas (ZB) apresentadas por esta norma. Posteriormente, recorreu-se à
NBR 15220 – 3 (ABNT, 2005) para verificar qual a classificação das mesmas cidades segundo a
norma brasileira de zoneamento bioclimático. Desta análise, conclui-se que qualquer cidade
classificada segundo a ASHRAE como ZB1 corresponde à ZB 8 da NBR 15220-3 (ABNT,2005). Já
as cidades classificadas como ZB2, segundo a ASHRAE, correspondem à ZB3 ou ZB4 da norma
brasileira. Assim, a fim de representar a ZB1 da ASHRAE e a ZB8 da NBR, foi escolhida,
arbitrariamente, a cidade de Belém. Já para a ZB2 da ASHRAE foram escolhidas Brasília e São
Paulo, visto que apresentam classificações distintas segundo a norma brasileira (ZB4 e ZB3
respectivamente).

4.3. Características do edifício comercial tipo

Visto que alguns aspectos que definem os edifícios de referência estão relacionados aos
edifícios reais (edifícios propostos), serão estabelecidas algumas características em comum a ambos
os edifícios de referência, as quais corresponderiam a um edifício comercial típico.

4.3.1. Geometria

A geometria dos edifícios de referência foi baseada em um modelo de edifício comercial


simples, constituído de 20 pavimentos de forma retangular, cuja fachada de maior dimensão está
voltada para o Norte geográfico. Cada pavimento, cujas dimensões adotadas são de 1200,00 m2 de
área de piso (30,00 m x 40,00 m) e 3,00 m de pé direito livre, é dividido em duas zonas térmicas, a
saber: área de escritório do tipo planta livre, climatizada, e área central de circulação (7,0 m x 7,0 m),
não climatizada.
4.3.2. Ganhos internos
4.3.2.1.Densidade de ocupação e de cargas internas

A densidade de ocupação foi definida a partir da ASHRAE Fundamentals 2009 (ASHRAE,


2009). De acordo com a norma, para uma estação de trabalho individual dotada de computador,
monitor, impressora e fax, a densidade de ocupação correspondente é de 11,6 m2/pessoa. A norma
define ainda a taxa metabólica dos ocupantes, que no caso de atividade moderada de escritório é
definida em 130 W/pessoa. Já a densidade de carga de equipamentos elétricos da área de escritório,
correspondente à densidade de ocupação acima especificada é de 10,8 W/m2.
A densidade de ocupação e de cargas internas e a taxa metabólica correspondente à área de
circulação não foram estabelecidas, pois esta foi considerada como uma área de ocupação não
permanente (corredor).

4.3.2.2.Perfis de ocupação e de operação de sistemas e equipamentos

Os perfis de ocupação e de operação dos sistemas e equipamentos da área de escritório foram


retirados do manual da ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a). Para a área de circulação, foi
considerado que o sistema de iluminação funciona segundo o mesmo perfil do sistema
correspondente da área de escritório.

4.3.3. Renovação de ar

A fim de garantir a qualidade do ar interior e a manutenção de níveis aceitáveis de poluentes


nos ambientes condicionados, foi estabelecida, com base na norma NBR 16401-3 (ABNT, 2008), a
taxa mínima de renovação de ar exterior. Para as áreas de escritório, foi considerado nível
intermediário de vazão de ar externo para ventilação (nível 2), cujas parcelas que compõem a vazão
efetiva são estabelecidas em 3,1 l/s.pessoa e 0,4 l/s.m2.

4.4.Características específicas dos edifícios de referência

A seguir, serão apresentadas as características específicas que definem os edifícios de


referência segundo os dois sistemas de avaliação. A caracterização destes modelos remete ao
Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a), no caso do LEED, e ao RTQ
(INMETRO, 2010), no caso do PROCEL-Edifica. Cabe destacar que o edifício de referência adotado
a fim de representar o PROCEL-Edifica apresenta características correspondentes ao melhor nível de
desempenho definido pelo RTQ (INMETRO, 2010), o qual corresponde à etiqueta “A”.

4.4.1. Orientação

No caso do LEED, o Apêndice G (ASHRAE, 2007) especifica que o desempenho do edifício


de referência seja obtido através da simulação à orientação do edifício proposto e posteriormente a
90°, 180° e 270° desta. Então é feita a média dos resultados. Já para o PROCEL-Edifica, o RTQ
(INMETRO, 2010) estabelece que a orientação do edifício de referência seja a mesma do edifício
proposto. No caso do presente estudo, o desempenho dos edifícios de referência será avaliado apenas
à orientação do edifício tipo, estabelecida na seção 4.3.1.

4.4.2. Envoltória

4.4.2.1.Materiais

As propriedades das superfícies opacas e translúcidas especificadas para os edifícios de


referência são apresentadas na Tabela 1. No caso dos edifícios do PROCEL-Edifica, algumas
hipóteses foram adotadas em caso de falta de especificações: para o coeficiente de transmitância
térmica do piso foi adotado o mesmo coeficiente especificado pelo Apêndice G (ASHRAE, 2007a) e
para a janela, foi definido o coeficiente com base nas propriedades térmicas de um vidro de 3 mm de
espessura e de seu caixilho.

Tabela 1: Propriedades das superfícies opacas e translúcidas dos edifícios de referência


Belém Brasília São Paulo
PROCEL- PROCEL- PROCEL-
LEED LEED LEED
Edifica Edifica Edifica
Uparext [W/m2. K] 2,50 0,71 3,70 0,71 3,70 0,71
2
Ucob [W/m . K] 1,00 0,36 1,00 0,27 1,00 0,27
2
Upiso [W/m . K] 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25 0,25
2
Ujanela [W/m . K] 6,91 6,81 6,91 4,26 6,91 4,26
SHGC 0,87 0,25 0,87 0,25 0,87 0,25
Absortância parede 0,50 0,70 0,50 0,70 0,50 0,70
Absortância cobertura 0,50 0,70 0,50 0,70 0,50 0,70
4.4.2.2.Percentual de abertura na fachada

O percentual de abertura na fachada (PAF) estabelecido para os edifícios de referência são


apresentados na Tabela 2. No caso do LEED, os edifícios foram modelados com 40% de abertura na
fachada, correspondente ao valor máximo que este parâmetro pode apresentar em um edifício de
referência. Já no caso do PROCEL-Edifica, o PAF dos edifícios foi calculado utilizando-se fórmulas
de cálculo do índice de consumo (IC) específicas à zona bioclimática e à área de projeção do
edifício. Este método de cálculo encontra-se detalhado no RTQ (INMETRO, 2010).

Tabela 2: Percentual de abertura na fachada dos edifícios de referência


Belém Brasília São Paulo
PROCEL-Edifica LEED PROCEL-Edifica LEED PROCEL-Edifica LEED
PAF 18,1% 40,0% 14,7% 40,0% 18,1% 40,0%

4.4.3. Sistema de iluminação

As densidades de potência de iluminação (DPI) foram estabelecidas de acordo com o método


das atividades do edifício, visto que, para os edifícios em questão, foram definidas duas zonas
relacionadas a atividades distintas. Embora o método seja comum às duas certificações, os valores
limites de DPI diferem entre si, conforme mostra a Tabela 3.

Tabela 3: Densidade de potência de iluminação (DPI) dos sistemas de referência


Atividade DPI [W/m2] - LEED DPI [W/m2] - PROCEL-Edifica
Escritório (planta livre) 12,0 10,5
Circulação 5,0 7,1

4.4.4. Sistema AVAC

No caso da certificação LEED, o Apêndice G da norma 90.1 (ASHRAE, 2007a) estabelece


que o sistema de aquecimento, ventilação e ar condicionado (AVAC) de referência seja determinado
de acordo com o tipo de uso do edifício, número de pavimentos, área condicionada e fonte energética
do sistema.
No caso do edifício comercial tipo, definido na seção 4.3, de uso não-residencial e de mais de
5 pavimentos, o sistema de referência é central do tipo volume de ar variável (VAV) dotado de
fancoils e reaquecimento terminal. O efeito de resfriamento do ar é proporcionado por água gelada e
o de aquecimento por resistência elétrica. Para a produção de água gelada são previstos chillers
elétricos de condensação à água. O número de equipamentos e o tipo de compressor foram definidos
de acordo com a carga de pico do edifício, obtida por meio das simulações de dimensionamento.
Definidas as características dos equipamentos, adotaram-se os níveis de eficiência estabelecidos na
seção 6 da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a), com os quais os chillers foram
modelados.
As demais características específicas do sistema de referência, adotadas no presente estudo,
encontram-se detalhadas no Apêndice G da norma ASHRAE 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a).
Para o certificado emitido no programa PROCEL-Edifica, o RTQ (INMETRO, 2007) o
sistema de climatização de referência, no caso em que se pretende obter a etiqueta total do edifício, a
ser adotado para a realização da simulação deve ser o mesmo que o do edifício proposto, com valores
de eficiência de seus equipamentos estabelecidos de acordo com o método prescritivo.
Visto que, no presente estudo, a definição do edifício de referência não está baseada em um
edifício existente, foi adotada a hipótese de que o sistema de referência corresponde ao sistema
adotado no caso em que se pretende obter as etiquetas parciais, de envoltória e de iluminação, por
exemplo. Nesta condição, o sistema de AVAC deve ser simulado conforme o tipo, características e
níveis de eficiência especificados no RTQ (INMETRO, 2007).
No caso do edifício comercial tipo, que apresenta área condicionada superior a 4.000 m2, o
sistema modelado seria do tipo água gelada com caixas VAV e condensação a água, assim como
para o sistema de referência definido pelo Apêndice G da norma 90.1-2007 (ASHRAE, 2007a). Da
análise das demais características especificadas, conclui-se que as mesmas foram definidas com base
na norma acima citada, até mesmo numericamente.
Do exposto, será adotado que o sistema de referência do PROCEL-Edifica é o mesmo que o
estabelecido pelo Apêndice G (ASHRAE, 2007a), diferenciando-se do mesmo apenas pelas
especificações quanto aos níveis de eficiência de alguns dos equipamentos.

4.4.5. Simulação

O software utilizado para a realização das simulações foi o IES Virtual Environment (IES-
VE), utilizado por projetistas e consultores que atuam na área da construção civil, em sua maioria
envolvida no projeto, avaliação e certificação de edifícios verdes.
A simulação dos edifícios de referência foi feita considerando-se o período de um ano (8760
horas) e utilizando dados climáticos extraídos dos arquivos elaborados pelo International Weather for
Energy Calculation (IWEC).
Para as três cidades estudadas, o setpoint do sistema de condicionamento de ar foi definido
em 24°C e umidade relativa de 60%. A fim de garantir esta condição, o ar, em vazão adequada, é
insuflado a 12,8°C e 90% de umidade relativa. Vale ressaltar que no presente estudo, o sistema de
condicionamento de ar foi considerado operante apenas para cargas de resfriamento.

5. Resultados e análises

5.1.Simulações de dimensionamento

Após a realização das simulações de dimensionamento, foi possível definir todas as


características dos chillers, equipamentos responsáveis pela produção de água gelada do sistema de
condicionamento de ar. Então, os níveis mínimos de eficiência com os quais os chillers foram
modelados foram extraídos do Apêndice G da norma 90.1 (LEED) (ASHRAE, 2007a) e do RTQ
(INMETRO, 2010) (PROCEL-Edifica). A Tabela 4 apresenta as características dos chillers dos
edifícios de referência.

Tabela 4: Características dos chillers dos edifícios de referência


PROCEL-Edifica LEED
Carga pico [kW] N° chillers Tipo COP Carga pico [kW] N° chillers Tipo COP
Belém 2388 2 Centrífugo 6,1 2318 2 Centrífugo 6,1
Brasília 1468 2 Parafuso 5,2 1350 2 Parafuso 4,9
São Paulo 1877 2 Parafuso 5,2 1649 2 Parafuso 4,9

5.2.Cargas térmicas

Das simulações anuais realizadas para as três cidades, obtiveram-se os resultados


apresentados na Figura 1.
3300,000

2800,000

2300,000
Carga térmica anual [MWh]

1800,000

1300,000 Ganhos infiltração


Ganhos externos
800,000 Ganhos solares (radiação)
Ganhos internos
300,000

-200,000

-700,000

Figura 1: Carga térmica anual dos edifícios de referência

5.2.1. Ganhos internos

Da análise da Figura 1, conclui-se que, para as três cidades e para todos os edifícios, os
ganhos internos (pessoas, sistema de iluminação e equipamentos) representam a maior parcela de
contribuição à carga térmica dos ambientes condicionados. Além disso, nota-se que estes ganhos são
maiores para os edifícios LEED. Sabendo que os edifícios de ambas as certificações foram definidos
considerando-se mesma densidade de ocupação e de carga interna e mesmos perfis de ocupação e
operação de sistemas e equipamentos, a diferença dos ganhos internos é explicada pela densidade de
potência de iluminação (DPI) da área de escritório, definida em 12 W/m2 para o LEED (ASHRAE,
2007b) e em 10,5 W/m2 para o PROCEL-Edifica.

5.2.2. Ganhos solares

No que diz respeito aos ganhos solares, devidos apenas à radiação, os edifícios PROCEL-
Edifica apresentam maiores ganhos que os edifícios LEED, para as três cidades, ainda que os
percentuais de abertura na fachada dos primeiros sejam menores que os dos últimos. Assim, conclui-
se que a diferença dos ganhos se deve ao fator solar dos vidros, definidos em 0,87 para o PROCEL-
Edifica e em 0,25 para o LEED.

5.2.3. Ganhos externos

Com relação aos ganhos externos, nota-se que, no caso de Belém, estes ganhos apresentam
valores positivos para ambos os edifícios. Isto é, como na maior parte do ano a temperatura externa é
superior à temperatura de setpoint dos ambientes condicionados, a condução de calor se dá no
sentido do ambiente externo para o ambiente interno. Desta forma, visto que o edifício PROCEL-
Edifica apresenta elementos construtivos com maiores coeficientes de transmitância térmica, recebe
maior carga por condução que o edifício LEED.
Já no caso das cidades de Brasília e São Paulo, os ganhos externos apresentam valores
negativos, visto que em grande parte do ano a temperatura externa é inferior à temperatura de
setpoint dos ambientes condicionados. Assim, a condução de calor se dá no sentido do ambiente
interno para o ambiente externo. Desta forma, visto que o edifício PROCEL-Edifica apresenta
elementos construtivos com maiores coeficientes de transmitância térmica, perde mais calor por
condução que o edifício LEED.

5.2.4. Ganhos devidos à infiltração de ar

Finalmente, os ganhos devidos à infiltração de ar não apresentam grandes discrepâncias entre


os edifícios PROCEL-Edifica e LEED, para as três cidades. Estes ganhos representam as parcelas
menos significativas com relação à carga térmica.

5.2.5. Ganhos totais

Analisando os ganhos em sua totalidade, observam-se as seguintes situações para as três


cidades:

• Belém: Ainda que os ganhos solares e externos do edifício PROCEL-Edifica sejam,


respectivamente, 22,8% e 28,8% superiores aos mesmos ganhos do edifício LEED, os ganhos
internos do último são 5,6% superiores aos do PROCEL-Edifica. Visto que, em termos
absolutos os ganhos internos são mais representativos, as cargas térmicas de ambos os
edifícios se aproximam, sendo a carga do edifício PROCEL-Edifica 5,8% superior à do
LEED.
• Brasília e São Paulo: Ainda que os ganhos solares dos edifícios PROCEL-Edifica sejam
26,7% (Brasília) e 50,9% (São Paulo) superiores aos mesmos ganhos dos edifícios LEED, os
ganhos internos destes são 5,6% superiores aos do PROCEL-Edifica, para ambas as cidades.
Além disso, conforme discutido anteriormente, os edifícios LEED trocam menos calor com o
meio externo e têm, ao longo do ano, perda por condução 23,8% (Brasília) e 28,6% (São
Paulo) menores que os edifícios PROCEL-Edifica. No entanto, analogamente ao observado
para Belém, em termos absolutos as cargas térmicas se aproximam. No caso de Brasília, a
carga do edifício LEED é 1,0% superior à do PROCEL-Edifica e no caso de São Paulo, a
carga do edifício PROCEL-Edifica é 0,6 % superior à do LEED.

5.3.Consumo energético

No gráfico da Figura 2, são apresentados os resultados obtidos para o consumo energético dos
edifícios de referência.

3500,000

3000,000
Consumo energético anual [MWh]

2500,000

2000,000
Equipamentos
Sistema iluminação
1500,000 Bombas
Torre de resfriamento
Ventiladores
1000,000
Chillers

500,000

,000
Figura 2: Consumo energético anual dos edifícios de referência.

5.3.1. Sistemas AVAC

A conclusão direta que pode se extrair da Figura 2 é que o sistema de AVAC, constituído
pelos resfriadores, ventiladores, torres de resfriamento e bombas, representa o uso final que mais
consome energia nos edifícios, seguido do sistema iluminação e dos equipamentos. Esta situação se
verifica nas três cidades. Ao comparar os perfis entre as cidades, nota-se que os edifícios que
apresentam maior consumo energético para o sistema de AVAC, em termos absolutos, localizam-se
na cidade de Belém. Este resultado já era esperado, pois ainda que os chillers de seus sistemas sejam
mais eficientes que os das outras cidades, diferentemente das cidades de Brasília e de São Paulo, as
condições climáticas de Belém refletem em ganhos externos positivos ao longo do ano e são estes
ganhos de carga térmica que, justamente, contribuem a um consumo energético anual mais elevado.
No caso da cidade de Belém, o consumo dos chillers é 2,4% maior no caso do edifício
PROCEL-Edifica. Este resultado é condizente, visto que este edifício possui carga térmica 5,8%
superior ao edifício LEED e sabendo que os níveis de eficiência dos chillers de ambos os edifícios
apresentam os mesmos valores. Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, o
consumo do PROCEL-Edifica é 3,07% superior ao do LEED.
Já para a cidade de Brasília, os chillers do edifício LEED consomem 5,3% a mais de energia
que os do PROCEL-Edifica, apesar da carga térmica do primeiro ser apenas 1% superior à do último.
Isto pode ser explicado devido ao fato dos níveis de eficiência dos chillers destes edifícios
apresentarem valores diferentes entre si (4,90 para o LEED e 5,12 para o PROCEL-Edifica).
Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, o consumo do LEED é 4,5% superior ao
do PROCEL-Edifica.
Finalmente, no caso da cidade de São Paulo, os chillers do edifício LEED consomem 2,6% a
mais de energia que os do PROCEL-Edifica, ainda que a carga térmica do último seja ligeiramente
superior à do primeiro (0,6%).
Analogamente à cidade de Brasília, esta diferença se deve ao fato dos chillers destes edifícios
apresentarem valores diferentes entre si (4,90 para o LEED e 5,12 para o PROCEL-Edifica).
Considerando todos os equipamentos do sistema de AVAC, pode-se dizer que os edifícios
apresentam níveis de consumo equivalente.
5.3.2. Sistemas de iluminação

Conforme apresentado na seção 4.4.3, os valores de densidade de potência de iluminação


(DPI) estabelecidos pelos sistemas de certificação diferem, tanto para as áreas de escritório, quanto
para as áreas de circulação. Apesar de o LEED especificar menor DPI para a zona de circulação (5,0
W/m2 contra 7,1 W/m2 para o PROCEL-Edifica), o valor especificado para a zona de escritório, cuja
área é muito mais representativa, é maior (12,0 W/m2 contra 10,5 W/m2 para o PROCEL-Edifica).
Assim, o consumo do sistema de iluminação do edifício LEED é 13,1% superior ao do PROCEL-
Edifica, para as três cidades.

5.3.3. Equipamentos

De acordo com a seção 4.3.2, os edifícios de referência de ambas as certificações apresentam


mesma densidade de carga interna (DCI) de equipamentos, assim como mesmo perfil de operação
dos mesmos. Assim, todos os edifícios, para as três cidades, apresentam níveis de consumo
equivalentes.

5.3.4. Distribuição do consumo por uso final

Conforme apresentado nas seções 5.3.1 a 5.3.3, a diferença mais relevante em termos de
consumo final entre os edifícios LEED e PROCEL-Edifica diz respeito ao sistema de iluminação,
calculado em 13,1% superior para os edifícios LEED das três cidades. No entanto, ao observar a
diferença percentual do consumo total dos edifícios, esta diferença se reduz consideravelmente. Isto
ocorre, pois o sistema mais representativo em termos de consumo energético é o de AVAC e a
diferença percentual deste consumo final entre os edifícios LEED e PROCEL-Edifica não ultrapassa
5%. Já o consumo de equipamentos é equivalente para todos os edifícios de todas as cidades.
Em termos absolutos, os edifícios LEED apresentam maior consumo energético anual. Já ao
analisar a distribuição de uso final de energia, nota-se que, em termos percentuais, os perfis dos
edifícios de uma mesma cidade são semelhantes. A Figura 3 ilustra o caso da cidade de Brasília,
porém a mesma situação pode ser observada nas cidades de Belém e de São Paulo.
Figura 3: Distribuição do consumo energético por uso final – Brasília.

5.4.Custo energético

A Tabela 5 apresenta o custo anual energético dos edifícios de referência, considerando-se a


tarifação de energia elétrica estabelecida pela Resolução Nº 1.025, de 29/06/10 da ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica). No caso do presente estudo, adotou-se a tarifa azul estabelecida para o
subgrupo A4 (alta e média tensão).

Tabela 5: Custo energético anual dos edifícios de referência.


Belém Brasília São Paulo
Tarifa PROCEL-
LEED PROCEL-Edifica LEED PROCEL-Edifica LEED
azul Edifica
(R$/ano) 394.543 396.655 611.882 643.132 414.519 429.572

Da análise dos resultados, conclui-se que a diferença percentual do custo energético entre os
edifícios LEED e PROCEL-Edifica apresenta mesma ordem de grandeza que a diferença percentual
apresentada em termos de consumo energético. Este resultado era esperado, visto que os edifícios
apresentam distribuição do consumo equivalente ao longo do ano e do dia.

6. Conclusões

A fim de comparar o desempenho energético dos edifícios comerciais de referência definidos


por dois sistemas de certificação difundidos no mercado imobiliário brasileiro, recorreu-se ao
método da simulação computacional, realizada no software IES-VE. Para isto, a caracterização dos
modelos foi feita com base nas informações disponíveis no Apêndice G da norma ASHARE 90.1-
2007 (ASHRAE, 2007a), no caso do LEED, e no RTQ (INMETRO, 2010), no caso do PROCEL-
Edifica.
Das análises realizadas na seção 5.3, conclui-se que, em termos de consumo energético, o
edifício de referência do PROCEL-Edifica é mais exigente que o do LEED, situação verificada para
as três cidades. Ao analisar os resultados obtidos, constata-se que o sistema de iluminação é o grande
responsável pelo maior consumo energético dos edifícios de referência do LEED, visto que o
impacto da maior densidade de potência de iluminação se apresenta de duas formas: aumento do
consumo direto de energia e aumento dos ganhos internos do edifício (carga térmica) e
consequentemente, do consumo energético do sistema de AVAC.
Diante do fato de as diferenças percentuais entre o consumo energético dos edifícios
definidos segundo os dois sistemas de certificação não ultrapassarem 6%, as quais podem estar
dentro da faixa de incerteza do software de simulação, pode-se dizer que a utilização do edifício de
referência do LEED é adequada para a avaliação do desempenho energético de edifícios no contexto
brasileiro.

7. Referências

ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 15220-3: Desempenho


térmico de edificações - Parte 3: Zoneamento Bioclimático Brasileiro e Diretrizes Construtivas para
Habitações Unifamiliares de Interesse Social , Rio de Janeiro, 2005. 28 p.
ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 16401-3: Instalações de
arcondicionado - Sistemas centrais e unitários. Parte 3: Qualidade do Ar Interior, Rio de Janeiro,
2008. 26 p.
ASHRAE - AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-
CONDITIONING ENGINEERS. Standard 90.1: Energy Standard for Buildings Except Low-Rise
Residential Buildings, Atlanta, n. SI Edition, 2007a.184 p.
ASHRAE - AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-
CONDITIONING ENGINEERS. Handbook of Fundamentals. Atlanta, 2009.
ASHRAE - AMERICAN SOCIETY OF HEATING, REFRIGERATING AND AIR-
CONDITIONING ENGINEERS. 90.1 User's Manual ANSI/ASHRAE/IESNA Standard 90.1-2007,
Atlanta, 2007b. 358 p.
Bertoletti, L. E. P. Comparação do desempenho energético de edifícios comerciais usando as
certificações LEED e PROCEL-EDIFICA. Trabalho de Graduação, Departamento de Engenharia
Mecânica, Escola Politécnica, 61 pags.
HAGEL, A. de p. L. A. Análise computacional da demanda energética de climatização de edifício.
2005. Tese (Trabalho de graduação) – Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília.
89 p.
INMETRO. INSTITUTO NACIONAL DE METROLOGIA, NORMALIZAÇÃO E QUALIDADE
INDUSTRIAL. Requisitos técnicos da qualidade para o nível de eficiência energética de edifícios
comerciais, de serviços e públicos. Brasil, 2010. 87 p.
MENDES, N. et al. Uso de instrumentos computacionais para análise do desempenho térmico e
energético de edificações no Brasil. Ambiente Construído, Porto Alegre, n.4, p. 47-68, Out/Dez.
2005.
SHALDERS NETO, A. Regulamentação de desempenho térmico e energético de edificações. 2003.
89 p. Tese (Trabalho de Pós-Graduação) – Instituto de Eletrotécnica e Energia - USP, São Paulo.
USGBC - US GREEN BUILDING COUNCIL. LEED (Leadership and Energy & Environmental
Design): Green building rating system – version 3. 2008. 83 p.
PROCEL INFO. Disponível em < http://www.procelinfo.com.br/main.asp> Último acesso em
25/09/2011.
Indicadores de sustentabilidade para avaliar iniciativas de educação ambiental

Catarina Jahnel de Oliveira∗

Resumo:

Este artigo estabelece a proposição conceitual de um conjunto de indicadores de


sustentabilidade para verificar o desempenho de diferentes práticas de educação ambiental. Dentro de
uma visão complexa do conceito de sustentabilidade, o propósito da metodologia aqui apresentada é
analisar, avaliar e mensurar, dentre os aspectos sociais, econômicos, ambientais e institucionais, o grau
de sustentabilidade que uma iniciativa de educação ambiental está gerando em uma determinada
região.

Palavras-chave: Sustentabilidade, Indicadores, Educação Ambiental.

Abstract:

This article establishes the proposition of a conceptual set of sustainability indicators to check
the performance of different practices of environmental education. Within a complex view of the
concept of sustainability, the purpose of the methodology here presented is to analyze, evaluate and
measure, among the social, economic, environmental and institutional aspects, the level of
sustainability that an initiative of environmental education is generating in a particular region.

Keywords: Sustainability, Indicators, Environmental Education.

Introdução

Nos últimos anos, ganharam relevância mundial tanto na esfera pública quanto na
sociedade civil questões ligadas à sustentabilidade, aumentando o número de políticas e
projetos desenvolvidos em comprometimento com este tema. Visando orientar as decisões dos
públicos envolvidos nestas atividades, diferentes metodologias e ferramentas de verificação
de seu desempenho vêm sendo elaboradas, permitindo às instituições organizadoras
assumirem uma postura ética e responsável ao melhorarem seu desempenho e alcançarem
resultados mais expressivos, em qualquer dimensão avaliada.


 Bacharel e Licenciada em Ciências Sociais (UFSC) e Mestre em Educação Ambiental
(USAL/UFPE), atualmente é doutoranda em Meio Ambiente pela Universidad de Salamanca
(Espanha). Possui publicações na área de Ética Ecológica na Revista de Direito (2010), sobre
Desenvolvimento Sustentável nos anais do I Congreso de Estudiosos de Brasil en Europa (2008),
além de um artigo de Sociologia Rural em um livro sobre Profissões Rurais, da UFSC (2004).
Contato: cajahnel@yahoo.com.br.
Caminhando neste sentido, pretendemos contribuir neste debate apresentando uma
metodologia para análise, acompanhamento e avaliação de diferentes projetos de educação
ambiental através do uso de indicadores de sustentabilidade. Os indicadores aqui propostos
visam verificar, principalmente, quais impactos uma ação de educação ambiental (seja ela
formal ou não) está provocando na vida cotidiana da comunidade onde esta atividade está
sendo praticada. Ou seja, se ela realmente está cumprindo com seu objetivo de educar
ambientalmente e, portanto, está levando ao estabelecimento da sustentabilidade na região.

No entanto, ressaltamos que esta é uma tarefa extremamente delicada já que, mesmo
existindo uma série de ferramentas ou sistemas que procuram avaliar o grau de
sustentabilidade em diferentes âmbitos de nossa sociedade, se conhecem muito poucas
ferramentas específicas para a avaliação da sustentabilidade dentro da prática da educação
ambiental. Sendo assim, a formulação desta metodologia adotou como principais referenciais
teóricos os pressupostos da Agenda 21 da Rio-92 (Unesco, 2004), o Regimento do World
Bussiness Council for Sustainable Development (World Bank, 2006), além dos indicadores
utilizados pelo Dow Jones Sustainability Index (Petrobras, 2010).

Quanto à metodologia aqui proposta, ela apresenta uma orientação prática e baseia-se
em um enfoque complexo do conceito de sustentabilidade. Por considerar que a pedagogia
por si só não é capaz de analisar um tema tão complexo como este, a presente pesquisa
buscou ir mais além de um olhar pedagógico propriamente dito e, por isso, está localizada no
campo interdisciplinar das ciências humanas e sociais (Carvalho, 2004). A opção por esta
metodologia científica se justifica por considerarmos que para a elaboração de um saber
teórico-prático no amplo campo da educação ambiental dificilmente podemos falar de um
método particular e único. Neste sentido, optamos por uma pesquisa na qual nos esforçamos
em utilizar a interação entre algumas disciplinas, tentando ir mais além da comunicação das
ideias para buscar uma integração de conceitos, terminologias, metodologia e organização do
estudo.
Propomos, portanto, um conjunto de indicadores primários, denominados em seu
conjunto “indicadores de sustentabilidade para a educação ambiental”, como ponto de
referência para avaliar se os recursos e meios que estão sendo investidos são os mais
eficientes em relação aos objetivos perseguidos pelo projeto em questão. A formulação desta
metodologia seguiu a lógica do Quadriple Bottom Line, organizando os indicadores segundo
os quatro pilares da sustentabilidade: econômico, ambiental, social e político-institucional
(Bellen, 2005). Antes porém, desenvolvemos um primeiro grupo de indicadores
correspondentes a um conjunto de informações gerais sobre o projeto analisado, seguido de
alguns indicadores que avaliam a relação entre o custo e a efetividade do projeto em questão.
Apenas posteriormente detalhamos nossa proposta de indicadores específicos para se avaliar
projetos de educação ambiental, estabelecendo uma metodologia com critérios e ferramentas
que podem ser utilizados por qualquer grupo que organize uma atividade dessa natureza.

Indicadores gerais e de custo - efetividade

Antes de apresentarmos os indicadores específicos para se avaliar a sustentabilidade


em projetos de educação ambiental, propomos inicialmente a utilização de um conjunto de
questões gerais, desenvolvidas para identificar aspectos mais genéricos destas atividades. O
objetivo dessa primeira parte da ferramenta aqui proposta é fornecer um panorama mais
amplo do projeto em questão. Em seguida, como ações de educação ambiental produzem
resultados não necessariamente quantificáveis monetariamente, o que invalida a utilização de
um simples indicador econômico, formulamos um conjunto de indicadores de custo X
efetividade (medido em $ / unidade) que permitem uma comparação entre a relação custo-
efeito do projeto. Ao realizarmos uma aferição dos resultados promovidos, torna-se possível
relacioná-los com o volume de recursos necessários, de forma a direcionar os investimentos
às ações que maximizem o benefício socioambiental. Cabe ressaltar que nem sempre um
projeto irá responder a todos os indicadores deste grupo, uma vez que muitas vezes esses
dados podem não se aplicar a determinado projeto.

Informações gerais sobre o projeto:

1. Qual a população total da área de abrangência do projeto (município, estado, região).

2. Quantas pessoas estiveram envolvidas em ações de educação ambiental do projeto (meta do


projeto X atingido ao final do projeto).
3. Quais foram as evidências da participação dessas pessoas: certificados, lista de presença,
registro fotográfico, outros (anexar arquivos que comprovem).

4. Quantas pessoas das que foram envolvidas nas ações de educação ambiental são
consideradas multiplicadores/disseminadores de informação ou de conhecimento: professores,
gestores ambientais, lideranças comunitárias, crianças/jovens, jornalistas, outros [meta do
projeto X atingido ao final do projeto].

5. Quantos cursos / palestras / oficinas foram ministrados outros [meta do projeto X atingido
ao final do projeto X não se aplica].

6. Qual foi a carga horária total desses cursos.

7. Relato qualitativo das atividades (espaço reservado para descrever as possíveis dificuldades
encontradas na execução das ações de educação ambiental, os resultados qualitativos, as
justificativas para os casos em que o previsto não tenha sido plenamente executado etc.).

Indicadores custo X efetividade:

1. Valor social:

Muitas vezes, os benefícios decorrentes de um projeto não são quantificáveis


monetariamente, o que invalida a utilização do indicador econômico. Um critério alternativo
para análise da produção desses benefícios, caso haja uma produção de bens materiais, é o
indicador de valor social. No caso de um investimento de custo (C), benefícios econômicos
(Be), benefícios ambientais quantificáveis monetariamente (Ba) e uma produção de bens (Q)
de valor unitário (P), o valor social (Vs) desse projeto será dado por1:

Vs = Be + Ba + P.Q – C2
1 O custo do investimento (C) equivale ao valor empregado para a realização do projeto como um
tudo. Já os benefícios econômicos (Be) dizem respeito ao lucro gerado pela venda dos bens materiais
produzidos ao longo dessa atividade de educação ambiental. Os benefícios ambientais quantificáveis
monetariamente (Ba) podem corresponder tanto a um gasto que se deixou de ter devido às novas
práticas ambientalmente corretas, como a um lucro que se passou a ter também devido à essas novas
atitudes.
2 Exemplo: um projeto de educação ambiental junto a catadores de lixo com um custo (C) de
R$1.000,00, fez com que 10kg de lixo fossem vendidos para a reciclagem, gerando um benefício
2. Valor ambiental:

Buscando uma extensão da análise do valor social de um projeto e tentando valorar


externalidades decorrentes de sua implantação (sejam custos ou benefícios), podemos
verificar se ele contribui ou não para o meio ambiente. No caso de um investimento de custo
(C), benefícios ambientais (Ba), porém com um custo ambiental quantificável
monetariamente (Ca), o valor ambiental (Va) do projeto será dado por3:

Va = C + Ba - Ca4

É importante ressaltar que, para considerar adequadamente os princípios de


sustentabilidade, a formulação completa do indicador custo X efetividade envolve a valoração
de benefícios econômicos, sociais e ambientais. Esta valoração, entretanto, pode apresentar
dificuldades de realização de imediato. Assim sendo, recomendamos que o cálculo do
indicador custo X efetividade desconsidere, no curto prazo, esses benefícios. Estes deverão
ser incorporados aos projetos, através de um processo de melhoria contínua, tão logo as
metodologias de valoração de benefícios econômicos e ambientais estejam disponíveis para
aplicação.

No caso de um projeto com múltiplos efeitos ambientais, para medição dos bens não
materiais, recomenda-se a construção de um índice que pondere os diferentes benefícios,
segundo prioridades estabelecidas por seus gestores. Estes conceitos podem ser utilizados

ambiental (Ba) de R$ 400,00. Além disso, os catadores construíram uma quantidade (Q) de 50
brinquedos com garrafas pet recicladas, sendo que cada um foi vendido a R$5,00 (P). Por fim, com o
lucro dessa nova atividade, os catadores tiveram uma renda líquida de R$800,00 (Be). O que faz com
que esse projeto tenha um valor social direto de R$ 450,00. Colocando na fórmula, temos a seguinte
equação: Vs (R$450,00) = 800 (Be) + 400 (Ba) + 5 (P) x 50 (Q) – 1.000 (C).
3 Novamente, o custo do investimento (C) equivale ao valor empregado para a realização do projeto
como um tudo, assim como os benefícios ambientais (Ba) podem corresponder tanto a um gasto que se
deixou de ter devido às novas práticas ambientalmente corretas, como a um lucro que se passou a ter
também devido à essas novas atitudes. Porém, neste caso há um custo ambiental quantificável
monetariamente (Ca) que pode corresponder tanto ao gasto em ações para redução dos impactos
ambientais provocados pelo projeto, como também pode corresponder ao custo incorrido em ações de
acompanhamento e avaliação de algum impacto ambiental.
4 Exemplo: um projeto de educação ambiental para o uso sustentável da água, junto aos alunos de
uma escola, teve um custo (C) de R$1.500,00. Ao longo do período de duração do projeto, as famílias
desses alunos reduziram seus gastos com água encanada e os alunos passaram a controlar, junto à
prefeitura, a eficácia do sistema municipal de tratamento de água. Somando a economia de todas as
famílias envolvidas em suas contas de água, chegou-se ao valor de R$1.000,00, considerado aqui
como um benefício ambiental (Ba). No entanto, os custos de medição periódica do teor de pureza na
água do reservatório foi de R$500,00 (Ca). O que faz com que esse projeto tenha um valor ambiental
de R$2.000,00. Colocando na fórmula, temos a seguinte equação: Va (R$2.000,00) = 2.000 (C) +
1.000 (Ba) – 500 (Ca).
tanto para projetos isoladamente, quanto para um conjunto de projeto, tanto na fase de
acompanhamento como na fase de avaliação dos resultados.

Indicadores de sustentabilidade para a educação ambiental

Este item tem por objetivo apresentar uma metodologia para análise, acompanhamento
e avaliação de projetos de educação ambiental. Estes indicadores, conforme dito
anteriormente, estão organizados segundo os quatro pilares de sustentabilidade, os quais são:
econômico, social, ambiental (ecológico) e político-institucional. A ideia principal dessa
seleção de indicadores é possibilitar uma avaliação comparativa da qualidade de vida e do
meio ambiente na região onde a prática da educação ambiental é realizada. Isso porque,
através de uma metodologia específica e de ferramentas padronizadas, é possível reduzir a
subjetividade relativa desses dados, formatando-os de modo a viabilizar comparabilidade
entre diferentes alternativas, além de se apontar tendências e destacar seus pontos fracos.
Desta forma, os indicadores podem desempenhar um significativo papel na identificação de
problema e tendências, contribuindo tanto para o planejamento de políticas em longo prazo,
quanto para a tomada de decisões imediatas no processo de estabelecimento de uma
sustentabilidade na área em questão. No entanto, por serem indicadores dinâmicos, serão
necessários ajustes e reavaliações a cada revisão de determinado projeto de educação
ambiental.

Indicadores Econômicos:

1. Uso racional de energia elétrica:

Este indicador visa avaliar se os indivíduos envolvidos nas ações de educação


ambiental do projeto tem adotado medidas de racionalização e/ou uso eficiente de energia
elétrica, seja por meio da otimização de processos ou até programas educativos junto à
população. Este indicador mede a evolução do consumo de energia elétrica ao longo da
execução do projeto e deve ser avaliado em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou
energia total consumida pelo município X n° de habitantes).

2. Uso de energia renovável e não renovável:


Este indicador é usado para avaliar a evolução do consumo de outras fontes de energia
diferentes da energia elétrica, sejam elas: renováveis, como por exemplo, energia eólica, solar
ou com origem em combustíveis biológicos; ou energia não-renovável, como por exemplo,
oriunda de derivados de petróleo. Mede o consumo de energia renovável e não renovável por
parte daqueles que participam das atividades de educação ambiental, demonstrando se o
consumo de energia renovável é maior do que de energia não-renovável. Deve ser avaliado
em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou total de energia renovável consumida
pelo município X n° de habitantes).

3. Uso racional de água:


Este indicador visa avaliar se os envolvidos com o projeto tem adotado medidas de
racionalização e/ou uso eficiente de água. Esta avaliação deve ser aplicada a diferentes tipos
de fonte de água que a população venha a utilizar: desde água de poço, água fornecida por
empresa abastecedora, água de chuva, entre outras. Este indicador pode ser medido em
volume (litros/indivíduo) ou em custo financeiro (R$/mês – contas de consumo ou volume
total de água consumida pelo município X n° de habitantes)

4. Uso racional do material utilizado:


O objetivo deste indicador é mostrar se o projeto adota medidas de otimização ou
redução do consumo de materiais naturais ou manufaturados (por exemplo: papel, borracha,
plástico, madeira, metal, etc.). Este indicador é medido através de uma comparação entre o
volume ou peso do material usado pelo projeto por participante.

5. Incentivo ao consumo de produtos locais:


Este é o primeiro indicador de um conjunto de três indicadores que têm como objetivo
avaliar se o projeto está incentivando a prática do consumo responsável. Neste indicador
específico, a ideia é avaliar se as atividades desenvolvidas pelo projeto, através do próprio
exemplo, estão incentivando seus participantes a priorizarem produtos produzidos em seu
entorno, frente àqueles vindos de regiões mais distantes do país ou mesmo exportados. Este
indicador será medido através da porcentagem dos produtos constituintes da merenda,
produtos de higiene e limpeza e materiais didáticos, oferecidos pelo projeto que são da cultura
local e cuja produção é municipal.

6. Nível de consumo de produtos não-industrializados:


O segundo indicador sobre o consumo responsável tem como objetivo avaliar se os
atores do projeto diminuíram o consumo de produtos industrializados 5, passando a consumir
mais alimentos naturais. Este indicador será medido através da resposta dos próprios
indivíduos envolvidos à questão:
Passou a consumir mais produtos não-industrializados após o início das atividades?

7. Nível de consumo de produtos orgânicos:


O terceiro indicador de consumo responsável avalia se o projeto incentiva o consumo
de produtos orgânicos, frente àqueles produzidos com o uso de agrotóxicos. Este indicador
será medido através da resposta dos próprios indivíduos envolvidos à questão:
Passou a consumir mais produtos orgânicos após o início das atividades?

8. Inclusão de produtos sustentáveis na economia local:


Este indicador é usado para avaliar a inclusão de produtos sustentáveis 6 na economia
local, através da venda de bens de consumo fabricados durante as ações de educação
ambiental ou através da venda de produtos cujo processo de fabricação foi alterado graças a
um novo conhecimento ensinado pelo projeto. Mede a produção de bens sustentáveis
vendidos no comércio local, demonstrando se o projeto incentiva a produção desse tipo de
bem de consumo. Este indicador será medido através da porcentagem dos produtos
sustentáveis produzidos no próprio município que estão à venda em estabelecimentos
comerciais locais.

9. Incentivo ao turismo sustentável:


Este indicador avalia se o projeto incentiva um turismo sustentável na região onde é
executado. Deve ser averiguado se existe ou não alguma estratégia desse tipo de turismo
fomentada pela equipe.

5 Chamamos aqui de produto industrializado aquele que é obtido pelo processamento de um ou mais tipos de
alimentos, tendo tido adicionado ou não outras substâncias permitidas, por meio de processos tecnológicos
adequados.
6 Produtos sustentáveis são aqueles fabricados com matérias-primas recicladas, recicláveis ou de fonte
renovável, ou são aqueles produtos que são recicláveis ou biodegradáveis.
Indicadores Ambientais:

1. Uso de fonte alternativa de energia renovável:


Este indicador informa se além da fonte de energia principal, a população envolvida
com a atividade de educação ambiental utiliza algum tipo de fonte alternativa de energia
renovável. Por exemplo, se a fonte principal de energia do município é a hidroelétrica, existe
uma outra fonte alternativa, como energia eólica, solar ou com origem em biocombustíveis.
Deve ser avaliado em kWh/indivíduo ou litros/indivíduo, ou em custo financeiro (R$/mês –
contas de consumo).

2. Redução da emissão de gases poluentes:


O objetivo deste indicador é mostrar se o projeto adota medidas visando uma
otimização ou redução da emissão de gases causadores do efeito estufa através de iniciativas
para fomentar produtos e serviços com baixa ou nenhuma emissão. Deve ser averiguado se
existem ou não iniciativas para reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa e, em
caso positivo, as reduções obtidas.

3. Tratamento e reuso de água:


Este indicador é empregado para verificar qual é porcentagem de água que é tratada,
reutilizada ou mesmo enviada a aterro sanitário, mostrando a eficiência dos processos de
educação ambiental no município envolvido em termos de tratamento e reuso de água. Para
avalia-lo medimos o porcentual e o volume total de água que é tratada, reusada ou descartada
através de dados disponibilizados pelo governo.

4. Abastecimento de água:
Este indicador avalia se o projeto incentiva melhoras no sistema de abastecimento de
água na região onde suas atividades são desenvolvidas. Averiguando se o município já oferece
esse tipo de serviço à população, é analisado se o projeto ajudou a implementar esse tipo de
serviço, a expandir sua área de cobertura ou se fomentou melhoras no abastecimento
alternativo de água. As informações serão coletadas através de dados fornecidos pelos
próprios gestores do projeto.
5. Presença de esgoto domiciliar:
Este indicador avalia se o projeto incentiva melhoras no sistema de tratamento de
esgoto na região onde suas atividades são desenvolvidas. Averiguando se o município já
oferece esse tipo de serviço à população, é analisado se o projeto ajudou a implementar esse
tipo de serviço, a expandir sua área de cobertura ou se fomentou alternativas junto à
população. As informações serão coletadas através de dados fornecidos pelos próprios
gestores do projeto.

6. Gestão ecológica dos resíduos sólidos:


O objetivo deste indicador é analisar se o desenvolvimento do projeto alterou a gestão
dos resíduos sólidos (não recicláveis) do município onde se encontra. Para tanto, verifica-se
se o percentual dos resíduos coletados pelo município e que são incinerados ou depositados
em lixões a céu aberto diminuiu após o início das atividades de educação ambiental. Os dados
serão coletados junto a prefeitura.

7. Coleta seletiva:
Este indicador avalia se a presença das atividades de educação ambiental reduziram,
dentre o total de resíduos gerados na localidade, a quantidade percentual que é recolhida
através de uma coleta seletiva, indo para um destino adequado de resíduos para
reciclagem/reutilização. Neste caso, há duas formas de se medir: através da relação volume
(m3) ou peso (Kg) de resíduos encaminhados para coleta seletiva X volume total ou peso total
de resíduos gerados; ou analisando se houve alguma alteração na frequência da prestação de
serviço na coleta seletiva de resíduos após o início do projeto.

8. Otimização do uso de materiais:


Este indicador visa avaliar se o projeto realiza iniciativas para mitigar os impactos
ambientais dos produtos utilizados, bem como a redução desses impactos. Ele é medido
através do percentual de materiais usados no projeto provenientes de reciclagem em relação
ao total de materiais utilizados.

9. Suporte ao transporte coletivo:


Este indicador analisa se o projeto fomenta o uso de meios de transporte público,
averiguando se seu grupo gestor fornecer transporte público para os participantes. Em caso
positivo, mede-se o percentual de indivíduos que desfrutam desse benefício sobre o total de
indivíduos envolvidos com o projeto.

10. Fomento ao uso de técnicas agroecológicas:


Este indicador avalia se o projeto incentiva o uso de técnicas agroecológicas entre os
produtores locais. Averiguando se no município já existe algum tipo de incentivo a essa
prática, é analisado se o projeto contribuiu com o seu fomento. Este indicador será medido
através da resposta dos próprios produtores de alimentos orgânicos à questão:
O projeto influenciou na sua produção de alimentos orgânicos?

11. Salvaguarda da biodiversidade ambiental:


Este indicador é empregado para verificar o quanto o projeto de educação ambiental
está contribuindo para a salvaguarda da biodiversidade ambiental no entorno de onde é
desenvolvido. É analisado se ele tem estratégias, medidas em vigor e/ou planos futuros para a
gestão de impactos na biodiversidade. Deve ser averiguado se existem ou não iniciativas para
reduzir impactos significativos na biodiversidade e, em caso positivo, se a área de proteção já
existente aumentou ou se foi criada alguma nova.

12. Salvaguarda da biodiversidade animal:


O objetivo desse indicador é analisar o quanto o projeto de educação ambiental está
contribuindo para a salvaguarda da biodiversidade animal no entorno de onde é desenvolvido,
portanto, verifica-se se ele tem estratégias, medidas em vigor e/ou planos futuros para a
gestão de impactos na biodiversidade animal. Deve ser averiguado se existem ou não
iniciativas para reduzir impactos significativos na biodiversidade animal e, em caso positivo,
se diminuiu o número de espécies na lista vermelha da IUCN (União Internacional para
Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais) ou em listas nacionais de conservação,
discriminadas por nível de risco e extinção.

Indicadores Sociais:

1. Impacto direto na comunidade local:


O objetivo desse indicador é analisar o quanto o projeto está sendo impactante para a
população do município no qual é realizado, verificando a porcentagem da população atingida
diretamente. Ele é medido através do percentual de participantes do projeto em relação ao
total habitantes do município.

2. Minorias étnicas e socioculturais:


Este indicador mostra se o projeto de educação ambiental em questão incentiva a
participação das minorias étnicas e socioculturais existentes em sua região em suas atividades
(tais como povos indígenas, negros e portadores de algum tipo de deficiência física). É
encontrado pela relação entre o número total de envolvidos com o projeto (colaboradores e
participantes) e quantidade de indivíduos desse total dentro do perfil de minoria étnica e/ou
sociocultural. Diversidade

3. Recrutamento de colaboradores da comunidade local:


Este indicador tem como objetivo avaliar o impacto do projeto na comunidade local
em termos de oferta de emprego e melhoria de qualidade de vida. Mede o percentual do
número total de colaboradores nascidos na comunidade local em relação ao número total de
colaboradores do projeto.

4. Comércio justo:
Este indicador procura saber o quanto o projeto está fomentando um comércio
socialmente justo na comunidade onde é praticado. Para tanto, mede-se o percentual dos
fornecedores dos recursos e materiais utilizados pelo projeto que são grupos organizados da
comunidade (tais como cooperativas de pequenos produtores, iniciativas solidárias ou
organizações com projetos de geração de renda para grupos usualmente excluídos) em relação
ao total de fornecedores.

5. Cumprimento à legislação:
Este indicador informa se o projeto está isento de multas por desobediência às leis
(trabalhistas, tributárias, ambiental, fiscal, entre outras), dando-se ênfase a existência ou não
de trabalho infantil. Para tanto, verifica-se a certidão negativa referente a processos
trabalhistas ou relação dos processos de desobediência à Legislação Trabalhista durante a
execução do projeto.

6. Suporte a outros projetos socioambientais:


Este indicador avalia se o projeto em questão incentiva a realização de outras
atividades de promoção e disseminação de práticas sustentáveis. Mede-se através de dois
indicadores: (1) o número de projetos socioambientais desenvolvidos no município anteriores
ao início do projeto com relação ao número de projetos socioambientais desenvolvidos no
município após o início do projeto; (2) o número de participantes/colaboradores envolvidos
unicamente com o projeto; o número de participantes/colaboradores envolvidos também em
outros projetos.

7. Integração entre o projeto e a comunidade:


Este indicador mostra se o projeto de educação ambiental realiza ações de integração
entre seus participantes e o restante da comunidade local, tais como eventos temáticos (por
exemplo, coleta coletiva do lixo), eventos de divulgação das atividades do projeto, além de
suporte a outras atividades da comunidade (pro exemplo, cedendo instalações a festividades
tradicionais). Medem-se: o número de iniciativas/ações de integração realizadas pelo projeto,
além de uma relação entre o número de participantes do projeto envolvidos e o número de
pessoas da comunidade envolvidas em programas desta natureza.

8. Salvaguarda da história e cultura da região:


Este indicador visa avaliar as iniciativas e ações realizadas para preservar a história, a
cultura, os princípios e os valores tradicionais na região, com o objetivo de resguardar e
aumentar a valorização do patrimônio histórico-cultural e/ou arquitetônico da comunidade.
Mede-se pelo número de iniciativas/ações de salvaguarda cultural realizadas pelo projeto.

9. Transparência do projeto:
Este indicador avalia as iniciativas de comunicação clara e aberta dos
resultados/impactos sociais gerados pelo projeto junto aos seus públicos de interesse (por
exemplo, financiadores, colaboradores, participantes e fornecedores). Medem-se o número de
informes/relatórios elaborados e divulgados em mídia impressa e/ou eletrônica (por exemplo,
site, newsletters, e-mails) e porcentagem de colaboradores, participantes e financiadores
destinatários desta divulgação.

10. Incentivo à educação formal de seus participantes:


Este indicador informa se são mantidos programas para incentivar os participantes do
projeto a completarem sua escolaridade formal, dando suporte aos alunos já matriculados e
desenvolvimento programas de incentivos àqueles que abandonaram o ensino a escola. Mede-
se pelo número de iniciativas/ações de incentivo à educação formal realizadas pelo projeto.

11. Incentivo à formação dos colaboradores do projeto:


Este indicador informa se o projeto investe na educação de seus colaboradores,
oferecendo treinamentos para desenvolver e manter competências relevantes a sua função ou
cargo ou patrocinando parcialmente, integralmente, ou na forma de empréstimo bolsas de
estudos para diferentes níveis de escolaridade. Mede-se a relação entre o total de investimento
(R$) em educação dos colaboradores e o número total de colaboradores.

Indicadores Institucionais:

1. Agenda 21:
Este indicador mostra se o município onde o projeto realiza suas atividades possui
programas de implementação da Agenda 21 Brasileira, conforme definido pela Comissão de
Políticas de Desenvolvimento Sustentável e da Agenda 21 Nacional (CPDS), em 2002. E, em
caso positivo, se essas iniciativas aumentaram após o início do programa de educação
ambiental. É medido pelo número de iniciativas/ações de implementação da Agenda 21
realizadas no município antes e depois do projeto.

2. Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano:


Este indicador tem como objetivo avaliar se o projeto de educação ambiental incentiva
seus participantes a colaborarem com a elaboração do Plano Diretor de Desenvolvimento
Urbano de seu município, que pode ser definido como um conjunto de princípios e regras
orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano. É medido pela
porcentagem de participantes das reuniões do Plano que também estão envolvidos com o
projeto.

3. Gasto público com educação ambiental:


Este indicador informa se o poder público passou a investir mais em ações, leis,
projetos e programas de educação ambiental após o início do programa de educação
ambiental. Mede-se a relação entre o total de investimento (R$) em educação ambiental antes
do projeto e após o projeto.
4. Gestão participativa:
Este indicador avalia se o projeto incentiva os indivíduos envolvidos nele a
colaborarem com sua prefeitura municipal através da gestão participativa, onde o governo
disponibiliza espaços para a participação dos habitantes no processo de tomada de decisões
práticas. Mede-se pelo número de iniciativas/ações de incentivo à gestão participativa
realizadas pelo projeto.

5. Educação ambiental no ensino formal:


Este indicador tem como objetivo analisar se o projeto incentivou a incorporação da
educação ambiental e da sustentabilidade, de forma transversal, nos parâmetros curriculares
do município. Mede-se pelo número de iniciativas/ações de incorporação da educação
ambiental e/ou da sustentabilidade no ensino formal do município realizadas antes e depois do
projeto.

6. Educação ambiental não formal:


Este indicador tem como objetivo mensurar se após as atividades do projeto
aumentaram o número de programas institucionais de sensibilização, formação e atuação
sobre questões de educação ambiental e sustentabilidade em espaços educativos não-formais e
demais espaços públicos. É medido pelo número de espaços educativos não-formais e
equipamentos públicos participantes em projetos de educação ambiental e sustentabilidade
antes e depois do projeto.

7. Espaços de cultura no município:


Este indicador informa se o poder público passou a investir mais em centros culturais,
casas e espaços de cultura no município após o início do programa de educação ambiental.
Mede-se a relação entre o total de espaços de cultura antes do projeto e após o projeto.

Conclusão
A construção de indicadores de sustentabilidade para avaliarem iniciativas de
educação ambiental segue o discurso e as diretrizes dos principais órgãos e instituições
nacionais e internacionais que tratam desta questão (como UNESCO, PNUD, MMA e
REBEA). Em concreto, a formulação desses indicadores está embasada no capítulo 36 da
Agenda 21 que incentiva, tanto instituições públicas como privadas, a aplicarem este tipo de
ferramenta em diferentes iniciativas de estabelecimento da sustentabilidade (Unesco, 2004). O
forte incentivo ao desenvolvimento destes instrumentos vem especialmente do fato que eles
não apenas facilitam o monitoramento e a avaliação desse tipo de atividade, como também
norteiam futuras decisões políticas a serem tomadas visando a sustentabilidade.
A título de conclusão, ressaltamos que o embasamento conceitual na construção de um
conjunto de indicadores é crucial, pois é preciso ter clareza de onde se quer chegar e a
pertinência de cada item mensurado, pois as possibilidades são inúmeras. No que diz respeito
à formulação dessas ferramentas especificamente para a avaliação da sustentabilidade, por
este ser um conceito amplo e complexo, que envolve diferentes aspectos da nossa vida, torna-
se um trabalho que exige uma visão interdisciplinar do assunto. Além disso, esta é uma tarefa
especialmente complicada pois, como bem afirmou Riechmann (1995), este é um conceito
que todavia não tem um consenso em sua formulação, portanto, ainda dá espaço para
diferentes interpretações, algumas, inclusive, incompatíveis entre si.
Cabe explicitar também que esses indicadores descrevem um processo específico e são
portanto particulares a esse processo, por isso não há um conjunto de indicadores globais
adaptáveis a qualquer realidade. Neste sentido, percebemos que ao se formular uma proposta
de avaliação de educação ambiental, não devemos ignorar algum indicador por falta de dados,
mas sim ter em mente um conjunto ideal de indicadores. Cabendo assim, ao momento de sua
aplicação em determinado projeto, eliminar aqueles que se mostrarem impossíveis de levantar
naquela situação específica.
A partir da contribuição das inúmeras leituras sobre o tema que realizamos,
ressaltamos que os indicadores aqui formulados não só ajudam a compreender melhor os
avanços de uma iniciativa específica de educação ambiental, mas que também permitem
estabelecer comparações entre diferentes projetos, relacionando âmbitos muito distintos em
níveis educativos, territoriais, segundo a tipologia dos destinatários ou características das
instituições e organizações implicadas, conforme diferencia Veiga (2009). Para possibilitar
essa comparação futura entre diferentes iniciativas avaliadas foi necessário uniformizar certos
procedimentos de análise, possibilitando um monitoramento conjunto dentro de um sistema
de avaliação estruturado e padronizado. A partir desta padronização torna-se possível
comparar não apenas as regiões atingidas e o total de indivíduos alcançados pelos projetos de
educação ambiental, mas também os resultados destas práticas, evidenciando assim as
contribuições estimadas através de métricas, além de possibilitar uma avaliação destas
iniciativas segundo critérios pré-definidos.
Sendo assim, os indicadores de sustentabilidade aqui propostos, além de servirem de
parâmetro de comparação entre diferentes projetos de educação ambiental, podem ser
aplicados a escalas maiores: como municípios, estados e países, mesmo que para cada
situação sejam necessários ajustes e adaptações. Assim, evidenciamos que esta é uma
ferramenta eficaz para a mensuração do direcionamento da sustentabilidade, especialmente
devido a sua capacidade de agregar informações e de monitorar as mudanças ocorridas nos
diferentes aspectos avaliados ao longo de um período.

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Monitoramento de aves em áreas florestais certificadas

Manoelle Fuzaro Gullo*


*Engenheira Florestal, Pós-graduada em Perícia, Auditoria e Gestão Ambiental/ Faculdade de Ciências Agronômicas
– UNESP –BOTUCATU/ manoelle_ef@hotmail.com

RESUMO

Devido às exigências de mercado, as certificações florestais têm crescido muito no Brasil, destacando-
se o FSC e o Cerflor. Essas certificações visam uma produção sustentável de produtos de origem
florestal, sejam eles madeireiros ou não madeireiros, e as exigências incluem indicadores econômicos,
sociais e ambientais. Para os aspectos ambientais são considerados estudos de fauna e flora, mas,
geralmente, os estudos que são apresentados limitam-se a levantamentos qualitativos que são repetidos
de tempos em tempos, mas que podem não ser suficientes para trazer informações sobre os impactos
ambientais causados pela exploração. Sendo a fauna exímia indicadora de qualidade de meio
ambiente, informações quantitativas e o monitoramento podem ser grandes aliados para identificação,
não apenas do reconhecimento do valor de conservação da área, mas também para indicar possíveis
impactos causados pelo processo produtivo, como por exemplo, o uso de agrotóxicos, poluição de
corpos d’água e uso exaustivo dos recursos naturais. As aves são muito importantes para o equilíbrio
dos ecossistemas e, por serem muito sensíveis a alterações no ambiente, são consideradas um dos
melhores bioindicadores para a avaliação de impactos ambientais. Através de consultas bibliográficas,
o presente estudo tem como objetivo ressaltar a importância de monitorar a avifauna de áreas
certificadas visando assegurar a perpetuação das espécies, auxiliar a identificação e a mitigação de
possíveis impactos, garantindo assim a sustentabilidade do processo e a qualidade do meio ambiente.

Palavras-chave: certificação florestal; avifauna; bioindicador

ABSTRACT
Due to market demands, forest certification has grown considerably in Brazil, especially the FSC and
Cerflor. These certifications aimed at sustainable production of forest products, whether timber or
non-timber products, and the requirements include economic, social and environmental indicators. For
environmental aspects are considered studies of fauna and flora, but generally the studies that are
presented are limited to qualitative surveys that are repeated from time to time but that may not be
sufficient to bring about the environmental impacts caused by the operation. Being the fauna excels
indicator of environmental quality, quantitative information and monitoring can be great allies to
identify not only the recognition of the conservation value of the area, but also to indicate possible
impacts caused by the production process, for example, the use of pesticides, pollution of water bodies
and exhaustive use of natural resources. The birds are very important for the balance of ecosystems
and, because they are very sensitive to changes in the environment, are considered one of the best
biomarkers for the assessment of environmental impacts. Through bibliographical consultations, this
study aims to highlight the importance of monitoring the avifauna of certified areas to ensure the
perpetuation of the species, help identify and mitigate potential impacts, thereby ensuring the
sustainability of the process and the quality of the environment.

Keywords: forest certification; avifauna; bioindicator

1
INTRODUÇÃO
As ações antrópicas no ambiente, fragmentando ou simplificando ecossistemas, têm
provocado alterações sensíveis nas comunidades bióticas, causando reduções populacionais,
mudanças nas razões dos sexos e isolamentos de metapopulações (populações confinadas e
fragmentos) (ALMEIDA, 1996). Florestas estão entre os ambientes mais suprimidos ou
substituídos pelo homem nas suas atividades de subsistência. A reconstituição de florestas
perdidas ou degradadas é hoje uma necessidade inquestionável e que se baseia em abordagens
multidisciplinares, sendo uma delas o importante papel da fauna como ferramenta e manejo
(SILVA et al., 2010).
A Convenção sobre Biodiversidade proposta na Conferência das Nações Unidas
sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento – CNUMAD, conhecida como Rio 92, inseriu o
tema “Proteção da Biodiversidade dos Ecossistemas Florestais” nas agendas oficiais dos
países. Entretanto, as medidas adotadas pelas autoridades florestais não conseguiram parar a
destruição das florestas, necessitando de medidas inovadoras para auxiliar a proteção dos
recursos florestais no mundo (REZENDE, 2006). A certificação florestal voluntária foi
desenvolvida como mais uma ferramenta para fortalecer o manejo florestal sustentado e
controlar a origem da matéria-prima dos produtos florestais (SAVCOR INDUFOR OY,
2005). Esta ferramenta foi a forma com a qual a sociedade estabeleceu critérios econômicos,
ambientais e sociais para caracterizar produtos sustentáveis (FARIA, 2009).
A certificação florestal é um mecanismo baseado na existência de um nicho de
mercado, que substitui ou complementa outras ferramentas e políticas que buscam promover o
manejo sustentável de florestas. Além desta, existem também os requisitos dos planos de
manejo, ou estudos de impacto ambiental que estão incluídos em quase todas as legislações
dos países (VAN DAM, C., 2003). A certificação florestal é um processo que implica na
avaliação por um certificador independente, que assegura que a floresta está sendo manejada
de acordo com critérios ecológicos, sociais e econômicos. Esse processo dá o direito de uso de
um rótulo com informações ao consumidor garantindo que a madeira ou outro produto
florestal adquirido, é oriundo de uma floresta certificada (VON KRUEDENER, 2000 apud
VAN DAM, C., 2003) e manejada de forma sustentável.
Dentre as vantagens decorrentes da certificação florestal pode-se destacar: o acesso a
mercados altamente competitivos de produtos florestais madeireiros e não-madeireiros;
melhoria da imagem da organização junto aos compradores, funcionários, comunidades

2
locais, organizações não-governamentais, governos, etc.; acesso a fontes de financiamento;
agregação de valor ao produto proporcionando preços diferenciados; melhoria da prática do
bom manejo florestal; uso potencial na definição de políticas públicas; incentivo ao
desenvolvimento e aperfeiçoamento de tecnologias florestais; dentre outras. Como principal
desvantagem, se não utilizada corretamente, a certificação florestal pode se tornar uma
barreira comercial para produtos florestais, principalmente de produtos oriundos de florestas
tropicais, de países em desenvolvimento (REZENDE, 2006).
No Brasil existem dois sistemas de certificação florestal em operação: o Cerflor
(Programa Brasileiro de Certificação Florestal), que faz parte do Sistema Brasileiro de
Avaliação de Conformidade – SBAC, gerenciado pelo Instituto Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial – Inmetro; e o sistema de certificação florestal
conduzido pelo Forest Stewardship Council. No Brasil, a fundação do “FSC Working Group”
aconteceu em 1997 com a tarefa de estabelecer critérios e indicadores adequados para o país,
mas com base nos princípios do FSC internacional (SPATHELF, 2004). O Cerflor, por sua
vez, foi lançado em 2002 e seus padrões são prescritos nas normas elaboradas pela ABNT
(Associação Brasileira de Normas Técnicas), integradas ao Sistema Brasileiro de Avaliação
da Conformidade e ao Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade
Industrial) (FARIA, 2009).
Apesar de terem alguns critérios e princípios distintos entre o FSC e o Cerflor, ambos
possuem o objetivo de promover a sustentabilidade na produção. Para Burger (2005) existem
alguns requisitos básicos que caracterizam o desenvolvimento sustentável, dentre eles a
consideração em relação a todos os recursos materiais e imateriais necessários para a vida
humana, ou seja, recursos sociais, econômicos e naturais, incluindo neste último a biosfera,
paisagens e biótopos que contem os elementos ar, água, solo, minerais, vegetação e fauna.
Em ambas as certificações, para os aspectos ambientais são considerados estudos de
fauna e flora, mas, geralmente, os estudos que são apresentados limitam-se a levantamentos
qualitativos que são repetidos de tempos em tempos e que são de suma importância para o
reconhecimento das espécies existentes nas áreas. Porém, sendo a fauna exímia indicadora de
qualidade de meio ambiente, informações quantitativas e o monitoramento podem ser grandes
aliados para identificação, não apenas do reconhecimento do valor de conservação da área,
mas também para indicar possíveis impactos causados pelo processo produtivo, como por
exemplo, o uso de agrotóxicos, poluição de corpos d’água e uso exaustivo dos recursos
naturais.

3
Neste aspecto, os estudos de fauna podem ser grandes aliados para avaliações
ambientais. As aves são muito importantes para o equilíbrio dos ecossistemas e, por serem
muito sensíveis a alterações no ambiente, são consideradas um dos melhores bioindicadores
para a avaliação de impactos ambientais. Além disso, atualmente, são muitas as técnicas
conhecidas para os estudos de avifauna e os próprios hábitos comportamentais deste grupo
facilitam a busca e a coleta de informações. Considerando que aves e mamíferos são bons
indicadores do estado de conservação em que um sistema biológico se encontra,
monitoramentos contínuos das populações destas espécies tornam-se necessários para avaliar
a diversidade e fornecer informações para um adequado manejo além de indicar as possíveis
consequências que as interferências possam vir a ocasionar (GOMES, 2002).
Contudo, deve-se mencionar a escassez de conhecimento científico quanto a
dinâmica de formação das florestas naturais, principalmente após intervenção, e a escassez de
conhecimento para alterar uma exploração predatória para uma sustentável (SCHNEIDER;
FINGER, 2000). Durante pesquisa descritiva feita com algumas empresas atuantes no
mercado de papel e celulose, Borges et al. (2009) constataram que, na maioria das instituições
analisadas, as políticas ambientais estão amplamente declaradas, mas que as informações
apresentam apenas caráter descritivo. Medeiros et al. (2009), também pesquisando empresas
florestais, diagnosticaram que estudos qualitativos da fauna silvestre são mais comuns quando
comparados com os quantitativos e que, de modo geral, há uma notória carência de
infraestrutura específica no manejo de fauna silvestre nas empresas pesquisadas. Para Spathelf
et al. (2004), um manejo florestal sustentável , que compreende a preservação da estrutura dos
povoamentos e da diversidade biológica de espécies ainda não foi comprovado na prática.

OBJETIVOS
Considerando que as certificações florestais têm como um dos princípios avaliar
impactos ambientais e garantir as partes interessadas a sustentabilidade do manejo florestal, o
trabalho tem como objetivo ressaltar a importância de monitorar a avifauna de áreas
certificadas visando assegurar a perpetuação das espécies, auxiliar a identificação e a
mitigação de possíveis impactos, garantindo assim a sustentabilidade do processo e a
qualidade do meio ambiente.

METODOLOGIA

4
Para obtenção de informações que auxiliassem no desenvolvimento da tese, além de
conhecimento próprio, foram feitas pesquisas de natureza bibliográfica em livros,
publicações, teses, artigos e buscas na internet.

DISCUSSÃO
De acordo com o Sistema Nacional de Informações Florestais (SNIF), o processo de
certificação florestal é voluntário e baseia-se nos três pilares da sustentabilidade:
ecologicamente correto, socialmente justo e economicamente viável. Hoje, no Brasil,
predominam duas certificações. Uma delas, o FSC (Forest Stewardship Council), é muito
difundida mundialmente. A outra, o CERFLOR (Programa Brasileiro de Certificação
Florestal), é reconhecido internacionalmente pelo PEFC (Program for the Endorsement of
Forest Certification Schemes). Mesmo sendo comprovadas as melhorias sociais, econômicas e
ambientais que as certificações florestais trazem, até que ponto os critérios e indicadores
utilizados durante o processo de certificação garantem a sustentabilidade de ambientes
impactados/alterados por atividades antropogênicas?
Atualmente, apesar da expansão da consciência ambiental por parte dos
consumidores e do marketing verde que gira em torno das empresas, grande parte da
população e dos governantes não tem consciência do valor ecológico que as espécies da fauna
desempenham na estruturação e manutenção dos ecossistemas, e que depende delas o
equilíbrio biológico essencial para todas as formas de vida. Este quadro é ainda mais agravado
pelo desconhecimento técnico sobre muitos aspectos bio-ecológicos da maioria dos animais
da fauna nativa. São inúmeros os fatores que ocasionam prejuízos a fauna silvestre, sendo
muitos deles de caráter irreversível. A busca de desenvolvimento econômico, por meio
industrial, agrícola ou florestal está entre os principais fatores de pressão sobre as áreas
naturais, e consequentemente sobre as espécies da fauna (VIDOLIN et al., 2004).
Para preservar a funcionalidade total da floresta para o ambiente, a economia e para a
sociedade, sua capacidade de regeneração, uso e regeneração devem ser correspondentes em
quantidade, qualidade e ritmo (BURGER, 2005). Em adição, o autor ainda diz que, para que
essa regeneração seja garantida, o manejo florestal deve procurar manter o equilíbrio mais
próximo possível da natureza em termos de diversidade, distribuição, perfil, idade e ritmo de
crescimento e rejuvenescimento não só de árvores, mas também de outras plantas e da fauna.

5
O solo, a fauna e a flora evoluíram numa dependência mútua, sendo que cada um é
fator de formação do outro e a ausência de um destes componentes pode inviabilizar a
existência dos demais. Existe uma interação muito grande entre a vegetação e a fauna, sendo
que a maioria das espécies arbóreas tropicais é polinizada por insetos e aves e suas sementes
dispersas por uma diversidade grande de animais e intervenções na vegetação produzem
efeitos diretos na fauna, pela redução, aumento ou alteração de dois atributos chaves, que são
alimento e abrigo (PACCAGNELLA et al., 2003).
A conservação da fauna silvestre em áreas florestadas é reconhecida como de vital
importância na estabilidade biológica, na manutenção da biodiversidade, no controle
biológico de pragas, na manutenção dos valores estéticos da natureza e nos processo de
renovação da vegetação nas reservas naturais. A simples presença de uma espécie rara ou
ameaçada de extinção, ou então a ocorrência de um elevado índice de diversidade de espécies,
não indicam necessariamente que uma determinada reserva florestal seja de ótima qualidade e
que tenha condições de conservar suas populações animais (ALMEIDA, 1998).
Sabendo que a conservação da fauna silvestre é de vital importância para a
estabilidade biológica, manutenção da biodiversidade e nos processos de renovação da
vegetação (ALMEIDA; ALMEIDA, 1998), ambas as certificações (FSC e Cerflor) exigem
compromissos com a biodiversidade e a fauna local. Para o FSC, padrão 20-007 (2009),
documentos que podem ser usados para avaliar a conformidade com os indicadores do próprio
FSC incluem registros de avaliações da vida selvagem e registros de monitoramento dos
impactos ambientais. Estes registros podem fornecer informações da qualidade do ambiente
através do reconhecimento de espécies bioindicadoras.
Espécies bioindicadoras são aquelas que permitem identificar distúrbios no ambiente
sendo necessária a utilização de grupos de espécies que respondam rapidamente às mudanças
ambientais, sendo estas respostas claramente distintas daquelas geradas por flutuações
naturais (PIRATELLI et al., 2008). Indicadores ecológicos devem ser sensíveis o suficiente
para reagirem de forma detectável quando um sistema é afetado por ações antropogênicas e
também devem permanecer razoavelmente previsíveis em ecossistemas imperturbáveis
(NIEMY; MCDONALD, 2004).
Neste contexto, segundo Piratelli et al. (2008), citando Terborgh (1977); Bierregaard
(1990); Furness e Greenwood (1993); Turner (1996); e Bierregaard and Stouffer (1997), o uso
de aves como bioindicadores tem sido justificado devido a características específicas que esse
grupo faunístico apresenta, tais como: um amplo conhecimento quanto à taxonomia e

6
sistemática das espécies, o elevado nível na cadeia alimentar ocupado por várias espécies, e
pela sensibilidade das aves quanto a perdas e fragmentação de habitat.
A presença ou não de determinadas espécies fornecem informações importantes,
visto que algumas desaparecem ao menor sinal de perturbação (DÁRIO et al., 2002). Muitos
estudos de impacto ambiental utilizam aves como bioindicadores e muitos são os projetos que
visam proteger áreas com base na comunidade de aves (MATTSSON; COOPER, 2006). A
identificação de espécies de aves altamente prioritárias e que possam indicar alterações no
ambiente natural é o primeiro passo para o desenvolvimento de planos de sobrevivência de
espécies individuas e conservação de ecossistemas naturais (PRIMACK; RODRIGUES,
2001).
Na maioria das empresas certificadas, para cumprir os requisitos exigidos para
obtenção do selo verde, muitas vezes, as empresas acabam fazendo, sazonalmente, apenas o
levantamento e a caracterização descritiva das espécies da avifauna que ocorrem no local.
Além de estabelecer uma lista da diversidade avifaunística, tal estudo auxilia a identificar, por
exemplo, se na área ocorrem espécies sensíveis ou/e ameaçadas que devem ser preservadas e
o surgimento e/ou desaparecimento de espécies. O conhecimento dos recursos biológicos que
uma área contém, bem como sua relação com os fatores abióticos são de extrema importância
e, por isso, levantamentos são imprescindíveis para a elaboração do plano de manejo de uma
área e instrumento básico para a conservação dos recursos naturais (LYRA JORGE, 1999
apud PEIXOTO et al., 2007).
Contudo, considerando até mesmo a missão e visão do FSC de que o “manejo
florestal ambientalmente adequado garante que a exploração de produtos madeireiros e não
madeireiros mantém a biodiversidade, a produtividade e os processos ecológicos da floresta”,
limitar-se apenas a fazer uma caracterização descritiva pode não trazer todas as informações
necessárias para garantir a real qualidade do ambiente e os impactos que o manejo aplicado
causa a avifauna local.
Os monitoramentos, mais do que os levantamentos, permitem observar as tendências
populacionais (ACCORDI, 2010) e a acompanhar as características da avifauna de forma
quali-quantitativa em confronto com intervenções observadas ou previstas (STRAUBE et al.,
2010). Ainda, segundo Straube et al. (2010), a maior diferença entre levantamento e
monitoramento está no fato de que, o levantamento resultará na compilação de uma lista de
avifauna enquanto o monitoramento identificará alterações na composição e abundância da
comunidade de aves ao longo de uma ação repetida ou em evolução ao longo de um período

7
definido. Para Olmos (2005), todos os projetos de conservação e manejo sustentável devem
incluir dados das variações nas populações de espécies animais como indicadores de
desempenho.
Sabe-se que, para a análise de sustentabilidade ecológica na escala de paisagem, a
longo prazo, o monitoramento de indicadores biológicos torna-se o mais adequado (PIRES et
al., 2000). O monitoramento de espécies animais se justifica pois pode dar uma resposta mais
rápida que o monitoramento da vegetação, além de possibilitar um maior entendimento das
interações ecológicas existentes no ecossistema florestal (TERBORGH, 1992). A variação da
densidade/abundância dos bioindicadores e mudanças no uso que eles fazem do habitat após a
perturbação ambiental são os principais instrumentos de avaliação no monitoramento de fauna
(JOHNS, 1997).
Amostragens que desejam se aproximar do real devem abranger um espaço de tempo
mais longo, de forma a amostrar as diferentes estações do ano e permitir a realização de uma
avaliação migratória possibilitando assim o entendimento de fatores intrínsecos envolvidos na
dinâmica das populações. Levantamentos e monitoramentos de espécies de um habitat são
frequentemente solicitados com o propósito de embasar políticas de conservação ou manejo,
ou mesmo para estudos comparativos de comunidades entre diferentes localidades, faltando,
na maioria dos casos, a devida continuidade dos estudos com o propósito de entender o nível
de impacto ambiental sobre a fauna (SILVA JR. et al., 2007).
Para Young et al. (2003), levantamentos rápidos, por serem de curta duração,
produzem uma lista incompleta de espécies, pois qualquer lista de fauna requer anos de
amostragem e uma grande variedade de técnicas. Visando a manutenção da fauna e dos seus
habitats, as reservas naturais, a fauna silvestre deve ser monitorada através de estudos
populacionais que possam gerar dados que trarão resultados relativos bastante confiáveis e
seguros (ALMEIDA, 1996).
É muito útil e ecologicamente importante que a empresa florestal faça
monitoramentos que relacionem a superfície das áreas de produção (talhões florestais) com a
superfície das áreas de proteção (núcleos), sendo esta relação não apenas importante para
acompanhar passivamente a evolução dos ecossistemas, mas principalmente pra utilizá-los na
analise ambiental e nos programas de manejo (POGGIANI, 1998). Para Fernández et al.
(2003), uma das primeiras condições para que se possa manejar uma população é conhecer o
número de indivíduos que a compõe e como e por que ela varia no tempo. Informações como
essas possibilitam que os levantamentos realizados sejam de fato ferramentas que auxiliem

8
nas análises de impactos ambientais causados pela atividade florestal e para que a
sustentabilidade do plano de manejo seja assegurada,.
A proteção da fauna silvestre é vital para a existência das florestas nativas e, de
forma análoga, a contínua presença da fauna, nos ecossistemas florestais, é imprescindível
para possibilitar o efetivo alcance da sustentabilidade do manejo florestal. Por essa razão,
Ahrens (2004) recomenda que ocorra a incorporação de inventário contínuo e de
monitoramento da fauna silvestre aos diplomas legais que dispõem sobre o manejo de
florestas nativas aprimorando assim as práticas de manejo florestal na medida em que efetivo
cumprimento de sua sustentabilidade deva ser tecnicamente perseguido.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Danos ambientais costumam ser de difícil reparação, sendo por vezes impossível,
como no caso da extinção de uma espécie da fauna e, mesmo quando a restauração de um
ambiente degradado é viável, dificilmente o mesmo voltara a existir nos exatos termos em que
existia na natureza. No Brasil, o princípio de proteção da biodiversidade assume fundamental
importância já que o país possui a maior biodiversidade do planeta e uma grande quantidade
de terras agriculturáveis, sendo necessário e premente o uso racional dessas terras, integrando
o agronegócio à proteção dos ecossistemas e da biodiversidade, não só por seu valor
ecológico, mas também por ser essencial à sadia qualidade de vida e à própria sobrevivência
da espécie humana no planeta (VALERI; SENÔ, 2004).
Em 2004, Ahrens inferiu que o manejo sustentável de um ecossistema florestal deve
considerar todas as suas partes componentes, o que obrigatoriamente inclui, não apenas a
flora, mas também a fauna silvestre que lhe seja peculiar e que, na medida em que na ausência
da fauna silvestre florestas nativas simplesmente não existiriam, recomendou o
aprimoramento das normas legais que tratam da elaboração de Planos de Manejo Florestal,
por meio da incorporação de medidas para o inventário e o monitoramento da fauna.
O conhecimento da abundância relativa de determinada espécie serve como
ferramenta para, ao menos, futuramente saber se houve ou não declínio desta espécie na área
estudada (STRAUBE et al., 2010). Anjos (2010) diz que, informações sobre o tamanho
populacional de espécies de aves pode ser buscada através de métodos de levantamento
qualitativo variados que devem estar estreitamente relacionados com os objetivos da pesquisa,
podendo ser estes os métodos de: mapeamento (contagem de números de territórios, gerando
dados precisos sobre a população real da espécie em uma determinada área); captura em redes

9
de neblina (contagem de número de capturas de uma espécie, gerando dados sobre a
estimativa populacional a partir de taxas de captura/recaptura de indivíduos), sendo esta uma
metodologia que exige licença do IBAMA; transecção (contagem do número de indivíduos de
uma espécie enquanto se percorre uma trilha padrão em um determinado tempo); e pontos
(contagem do número de indivíduos de uma espécie em determinados pontos durante um
tempo padrão). Porém, Straube et al. (2010), salienta que a aplicação desses índices ou de
análises estatísticas não faz sentido caso a comunidade de aves não tenha sido
satisfatoriamente conhecida e, infelizmente, a maioria dos estudos que apresentam tais
aplicações de índices de diversidade e outras análises estatísticas é representada por listagens
incompletas da comunidade de aves.
As certificações florestais tem como objetivo garantir a sustentabilidade do processo
produtivo e dentre seus princípios consta o monitoramento e a avaliação da biodiversidade.
Com base nas informações levantadas, o monitoramento de avifauna pode ser considerado
como uma ferramenta essencial para garantir o cumprimento de critérios ambientais exigidos
pelas certificações florestais. Ao contrario dos levantamentos geralmente apresentados, que
indicam apenas o surgimento e/ou desaparecimento de espécies, o monitoramento permite
avaliar flutuações nas populações, mobilidade e facilita a identificação da presença de
espécies migratórias, pois são estudos mais longos e que apresentam uma periodicidade. Para
Accordi (2010), como programas de monitoramento tem como objetivo analisar as tendências
populacionais, quanto mais longo e contínuo for o programa, mais precisas serão as
estimativas de tendência.
Ainda, por serem estudos mais longos e que geram informações mais detalhadas a
respeito das populações, permitem que, a qualquer percepção de alteração, sejam analisados
quais ações do plano de manejo podem ter causado modificações nas populações, sejam estas
alterações positivas ou negativas, permitindo assim a criação de medidas que visem a
perpetuação das espécies existentes e garantindo a sustentabilidade do plano de manejo.
Sendo assim, de acordo com as informações citadas e com as considerações já
levantadas por alguns autores, questiona-se a viabilidade da criação de um padrão ou de
exigências mais específicas para que os levantamentos e dados relacionados aos estudos de
fauna apresentados por empresas certificadas assegurem de fato a qualidade do ambiente
explorado e deixem de ser apenas parte de um protocolo a ser seguido.

10
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15
Programa de qualificação de fornecedores (PQF) e ISO 9001:2008: um estudo de caso em
uma pequena rede independente de hotéis

Antônio Oscar Santos Góes1 *


Talles Vianna Brugni
Maria Josefina Vervloet Fontes

RESUMO
Este paper descreve dois processos de certificações de uma pequena rede independente de hotéis -
Hotel Tarik Fontes - na cidade de Itabuna Bahia, Brasil. Os procedimentos desenvolvidos na
organização investigada foram estruturados pelas normas do Sistema de Gestão da Qualidade baseado
na NBR ISO 9001:2008 e pelo Programa de Qualificação de Fornecedores – PQF- Bahia (Parceria
Público-Privado - PPP). As auditorias foram realizadas pela entidade BSI (British Standard
Institution). Os objetivos dessas preparações/certificações direcionaram para dois aspectos: a) cumprir
as normas técnicas especificadas pela ISO 9001 e b) qualificar potenciais empresas locais (Itabuna)
para tornarem-se supridoras de organizações do porte da BAHIA MINERAÇÃO - BAMIN. O
referencial teórico aborda os fundamentos da teoria francesa das convenções, os procedimentos de
certificações e os princípios da Gestão da Qualidade Total ("Total Quality Management" ou
simplesmente "TQM"). A metodologia do estudo de caso caracterizou esta investigação. Utilizaram-se
observações, análise documental das atas de reuniões, projeto de implantação do programa de
qualidade e relatórios das auditorias. Os resultados apontam que o hotel implantou uma gestão baseada
em normas e em especificações exigidas pela entidade certificadora. Nos momentos de
avaliações/auditorias, a empresa investigada apresentou os requisitos necessários para a obtenção dos
certificados. Considera-se, pois, que o Hotel Tarik Fontes atua em conformidade com as práticas de
qualidade e os princípios norteadores da ISO 9001. Por outro lado, muitos desafios são postos, como:
ser fornecedora de uma grande empresa (BAMIN), manter a certificação obtida e promover, sempre, a
filosofia japonesa da melhoria continua (kaizen), na oferta de serviços hoteleiros.
Palavras-chave: certificação, ISO 9001, gestão, programa de qualidade.

ABSTRACT
This paper describes two types of certification processes for an independent small chain of hotels –
Hotel Tarik Fontes -, situated in Itabuna Bahia, Brazil. The procedures developed in the investigated
organization were structured by rules of Quality Management System based on NBR ISO 9001:2008
and on Supplier Qualification Program – SQP - Bahia (Public-Private Partnership – PPP). The
auditing was performed by the company BSI (British Standard Institution). The objectives of these
preparations/certifications directed to two aspects: a) comply with the technical standards specified by
ISO 9001 and b) qualify potential local companies (Itabuna) to become suppliers of organizations as
BAHIA MINERAÇÃO – BAMIN. The theoretical reference covers the fundamentals of French theory
of conventions, certifications procedures and the principles of Total Quality Management (TQM). The
methodology of the case study was used in this investigation. It used observation, document analysis
of meeting reports, implementation project of quality program and audit reports. The results show that
the hotel has implemented a management based on standards and specifications required by the
certifying company. In moments of assessments / audits, the investigated organization presented the
requirements for obtaining the certificates. It is considered, therefore, that the Hotel Tarik Fontes acts
in accordance with the quality practices and guiding principles of ISO 9001. On the other hand, many
challenges are laid, as: being the supplier of a large company (BAMIN), the Hotel maintains the
certification obtained and it promotes, always, the Japanese philosophy of continuous improvement
(kaizen), in the supply of hotel services.
Key words: certification, ISO 9001, management, quality program.

1. INTRODUÇÃO: “GERENCIAR EM TEMPOS TURBULENTOS”


1
* Gestor, Doutor em Sociologia Econômica das Organizações pela Universidade Técnica de Lisboa,
pesquisador na área de administração e autor de diversos artigos em periódicos e eventos nacionais e
internacionais. Email: oscargoes11@hotmail.com
O início do século XXI exige que os empreendimentos sejam mais bem geridos, pois a
competitividade é um imperativo. A gestão pela qualidade pode ser uma ferramenta benéfica
para os negócios, como a redução de custos e o aumento da produtividade são hoje objetivos
comuns dos empresários. A sobrevivência e a permanência das organizações são uma
constante no tecido empresarial, afirma Santos (2008). Para além disso, uma empresa
certificada por organismos como a IOS (International Organization for Standardization),
através da ISO 9001:2008, representa uma vantagem competitiva e melhora a imagem
institucional. Os programas de Gestão pela Qualidade Total, em princípio, organizam,
estruturam e sistematizam adequadamente as atividades negociais.
Diante do exposto, alguns questionamentos são abordados: como a Gestão pela
Qualidade Total - GQT pode estruturar melhor as organizações? Como racionalizar os meios
de produção escassos e produzir lucro satisfatório? Empresas certificadas pela ISO 9001
demonstram ser mais profissionalizadas? Como se manter no mercado altamente
concorrencial? Para responder essas inquietações, qualquer tipo de estabelecimento
competitivo tem que recorrer a uma boa gestão.
O improviso verificado no trabalho gerencial, a falta de procedimentos sistemáticos, a
gestão ineficiente, a inconsistência nos controles e resultados, baixa qualidade de produtos e
serviços, ausência das formalizações necessárias aos monitoramentos das tarefas
administrativas, desconhecimento do mercado, mau acompanhamento da administração
financeira, capital inicial baixo e demais fatores são verificados nas práticas administrativas
das micro, das pequenas e das médias empresas. O “mercado” não aceita mais o amadorismo,
e uma alternativa de modificar essas condutas indesejáveis seria a utilização de conceitos e
ferramentas oriundos das Teorias de Gestão de Qualidade, como foco na obtenção de
Certificações ISO 9001 e procedimentos estruturados da Teoria Francesa das Convenções.
Sob essa perspectiva, a presente pesquisa analisa o processo de certificação ISO
9001:2008 de uma pequena rede independente de hotéis - Hotel Tarik Fontes-, como também,
os procedimentos para obtenção do SELO DIAMANTE. Para operacionalizar estes objetivos
maiores, desencadearam-se três prioridades: a) expor as práticas desenvolvidas pelo hotel
através dos princípios da GQT, b) demonstrar que a GQT pode ser uma ferramenta estratégica
para a competitividade organizacional e, por fim, c) identificar os desafios enfrentados na
certificação da ISO 9001:2008 e do “SELO DIAMANTE”.
O referencial teórico aborda algumas proposições da Gestão pela Qualidade Total, a
Teoria Francesa das Convenções e as especificidades dos normativos ISO 9001. O estudo de
caso foi a metodologia identificada neste trabalho. Aplicaram-se questionários ao proprietário
do estabelecimento hoteleiro investigado. Utilizaram-se observações, análises documentais do
Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF – BAHIA). Para início do caminho a ser
percorrido nesta investigação, algumas perguntas e inquietações suscitaram. Como gerenciar
uma pequena rede independente de hoteleira através dos pressupostos da GQT? Quais os
procedimentos necessários para uma empresa ser certificada? O que é o Programa de
Qualificação de Fornecedores – PQF-BAHIA? Como se pode ver, os desafios são muitos a
serem ultrapassados. Exigir-se-ão esforços dos atores na Gestão pela Qualidade Total e na
obtenção de Certificações.

2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Gestão pela Qualidade Total: uma breve consideração
Um bom gerenciamento, segundo Peter Drucker (1975, pp. 94), deve fazer parte do
cotidiano organizacional. Uma administração profissional utiliza-se de estratégias para a
continuidade dos negócios. As tarefas das empresas devem ser organizadas e estruturadas. O
proprietário de hotel tem a responsabilidade funcional de conduzir a empresa de maneira que
não haja desperdício de recursos, uma vez que eles são limitados. O controle gerencial deve
ser monitorado para que não aconteçam perdas de material. Questiona-se: como conseguir
uma gestão pelos procedimentos da Qualidade Total? Como uma empresa obtém uma
certificação?
Para responder essas indagações, as organizações devem utilizar as funções
administrativas (planejar, organizar, dirigir e controlar); estas, quando bem aplicadas, mesmo
com princípios elementares, servem para aumentar a produtividade e contribuem para a
competitividade empresarial.
Na verdade, observa-se que a maioria das empresas de médios portes não utiliza esses
procedimentos (Góes et. al., 2012). Há pouca utilização dos instrumentos básicos de gestão.
Qualidade Total para esse tipo de organização ainda é incipiente. Apenas os empresários
inovadores ousam utilizar a GQT, e, também, buscam a obtenção de “certificações”.
Segundo Toledo (1997), a qualidade do produto e ou serviço não se apresenta de
forma identificável e nem é observável diretamente, sendo percebida por meio de suas
características interpretativas, o que introduz uma dimensão subjetiva na sua análise. Neste
sentido, a percepção da qualidade no contexto da hotelaria se faz ainda mais necessária, por
tratar-se de uma indústria prestadora de serviços onde o elemento humano, centro de todo o
negócio, norteará a percepção do cliente para excelência do serviço.
A gestão da qualidade compreende a abordagem adotada e o conjunto de práticas
utilizadas para obter-se, de forma eficiente e eficaz, a qualidade pretendida para o produto. A
gestão da qualidade de uma empresa envolve seus processos e se estende aos fornecedores e
clientes, segundo Toledo (op. Cit.1997). No decorrer do século XX, a gestão da qualidade
evoluiu saindo da era de pura inspeção e controle estatístico da qualidade, para alcançar a
garantia da qualidade e avançar para uma gestão estratégica da qualidade.
A tabela 1, a seguir, identifica alguns autores da literatura especializada na Gestão da
Qualidade Total. Este recorte é exposto para assegurar as ideias centrais dos pensadores e as
definições/atributos da “Qualidade”.
Tabela 1. Cinco abordagens principais para a definição de qualidade.
Autores Abordagem Definições
Tuchman Transcendente (...) uma condição de excelência que implica ótima qualidade,
(1980) distinta de má qualidade... Qualidade é atingir ou buscar o padrão
mais alto em vez de se contentar com o malfeito ou fraudulento.
Abbott Baseada no Diferenças de qualidade correspondem a diferenças de quantidade
(1955) produto de algum ingrediente ou atributo desejado.
Edwards Baseada no Qualidade consiste na capacidade de satisfazer desejos.
(1968) usuário
Juran (1974) Baseada no Qualidade é adequação ao uso.
usuário
Crosby Baseada na Qualidade [quer dizer] conformidade com as exigências
(1979) produção
Broh (1982) Baseada no Qualidade é o grau de excelência a um preço aceitável e o controle
valor da variabilidade a um custo aceitável.
Feigenbaun Baseada no Qualidade quer dizer o melhor para certas condições do cliente.
(1961) valor Essas condições são: a) o verdadeiro uso; e b) o preço de venda do
produto.
Fonte: Adaptado de Marshall Junior et al., 2003, p.28-29.
Após uma breve exposição das definições de “qualidade”, considera-se que qualidade
é um conjunto de atributos que revelam a excelência, o valor, as especificações, as
conformidades, as regularidades e adequação ao uso quando da oferta e demanda de produtos
(bens e serviços). No caso de serviços, há uma agravante: a atividade processa-se no momento
do consumo, cliente e fornecedor conjuntamente, bem diferente de bens que são produtos em
locais distante do consumidor. Em sendo assim, os aspectos da qualidade dos serviços,
geralmente, são mais sensíveis a avaliações por parte dos demandantes.
Para além do referencial teórico da GQT, essas organizações precisam incorporar nas
suas atividades os propósitos da Teoria Francesa das Convenções.
2.2 Teoria Francesa das Convenções: um olhar da Sociologia Econômica
A sociologia econômica que surgiu como uma resposta à expulsão da vida social da
análise econômica, tanto na visão neoclássica quanto nas formulações da nova economia
institucional, bem como ao esforço de estender essas abordagens ao conjunto das ciências
sociais, apresentou-se como o melhor caminho conceitual e teórico para o entendimento da
construção e desenvolvimento de um programa de gestão de qualidade, no âmbito de uma
certificação para a efetividade de uma pequena rede independente de hotéis.
A contextualização deste enfoque teórico no entendimento da dinâmica de pequenos
hotéis independentes propiciou a geração de conhecimento para responder as demandas da
pesquisa, nas formas específicas de desenvolvimento do setor hoteleiro independente e suas
implicações de melhoria dos serviços e produtos comercializados. As novas demandas
mundiais por hospitalidade da era do pós-fordismo, criou ambiente acadêmico favorável à
formulação de inúmeras abordagens que levam a complementaridades e também divergências
entre as diversas teorias: desde as novas leituras Schumpeterianas, ao contexto da Nova
Sociologia Econômica, na expressão de Granovetter, também a teoria francesa das
convenções contribui decisivamente para a compreensão do universo de mercados
diferenciados, como é o caso de pequenos hotéis independentes, que se constituem objeto
deste estudo.
No trabalho de L. Boltanski e L. Thévenot (1991), “De La Justification”, ícone da
teoria Francesa das Convenções, tem-se o reconhecimento de que não apenas o trabalho, mas
qualquer mercadoria (entendendo mercadoria como produtos e ou serviços), é afetada por
deficiências de "contratos incompletos", precisando, por isso, de regras, normas e convenções
para sua produção e sua troca. Enquanto o "fordismo" se baseava na "qualificação" do
trabalho para a maior quantificação da produção, a atual dinâmica econômica baseia-se
precisamente na qualificação do produto e/ou serviços, capturada pela atual obsessão com a
"qualidade" (Wilkinson, 1999). Para os autores, toda ação, inclusive a ação supostamente
atomística do mercado competitivo, justifica-se por referência a princípios comuns ou "bens
comuns" de nível mais elevado, representados, por exemplo, no último caso, por uma
aceitação comum da equivalência de preço dos bens negociados.
No contexto da sociologia econômica a atividade econômica é socialmente construída
e mantida, e historicamente determinada por ação coletiva e individual expressa através de
organizações e instituições. A análise da ação econômica torna-se, por isso, um esforço
́
coletivo da Economia, da Sociologia, da Historia, da Teoria Organizacional e da Filosofia
́
Politica. A escola das convenções tem um compromisso mais radical com a
interdisciplinaridade baseada em abordagens complementares de problemas comuns.
̃ era
Segundo Wilkinson (1999) o foco de interesse inicial da teoria das convençoes
explorar as características aparentemente sui generis do trabalho. A atenção aos processos
através dos quais o trabalho era "qualificado" levou a uma elaboração das regras, normas e
convenções que dirigem a dinâmica de mercado das relações de trabalho. Essa visão foi então
generalizada para um exame do modo como toda a circulação de mercadorias pressupõe
processos prévios de qualificação. Com isso, regras, normas e convenções, ou organizações e
instituições, determinam o conteúdo e a forma da produção e da circulação de mercadorias.
Portanto, a contribuição da teoria das convenções reside em sua elaboração original da
noção de regras e das bases de coordenação dos atores, onde as regras não são anteriores à
ação e tampouco são elaboradas de fora da ação, surgindo no interior do processo de
coordenação dos atores. Mais especificamente, representam uma resposta a problemas que
aparecem no interior de tal coordenação e deveriam ser entendidas como mecanismos de
clarificação que também estão, eles mesmos, abertos a desafios futuros. São, por isso,
representações dinâmicas da negociação e, como tais, dependem da existência de pontos em
comum entre os atores envolvidos. Esse "conhecimento comum", ou essa "identificação
intersubjetiva das regras", não existe em abstrato, nem pode ser conhecido por um exercício
de mera racionalidade (Wilkinson, 1999). Em vez disso, tem que ser recorrentemente
interpretado em situações específicas, através do modo como os atores se relacionam com um
conjunto comum de objetos que são mobilizados por sua ação. A qualificação de objetos é por
isso, simultaneamente, a qualificação dos atores envolvidos. O alcance de tal ação coletiva é
dinamicamente determinado por um processo de justificação e testagem permanente
́
(THEVENOT, 1995).
Assevara, pois, que os procedimentos de certificações (ISO 9001:2008 e SELO
DIAMANTE), através da teoria francesa das convenções, são instrumentos de valorização e
clarificação dos contratos.
2.3. Normas ISO
A expressão ISO 9000 é um conjunto de normas técnicas que estabelecem
especificações de gestão da qualidade. A ISO é o nome derivado da palavra grega isos, que
significa igual. Em decorrência disso, as empresas que incorporam as padronizações
estabelecidas pelas ISO, em princípio, são norteadas por boas práticas de administração de
qualidade (Maximiano, 2002: 197). A sigla "ISO" refere-se à denominação de igualdade, pois
o sistema ISO prevê similaridades de diversos procedimentos das entidades que a adotam.
A IOS, International Organization for Standartization, é uma entidade não governamental
internacional que se propõe a promover o desenvolvimento da padronização e de atividades
correlacionadas, através de normatizações. Assim, Marshall Junior afirma:
“a normatização é uma atividade que estabelece, em relação a problemas existentes
ou potenciais, prescrições destinadas à utilização comum e repetitiva, com vistas á
obtenção do grau ótimo de ordem em um determinado contexto (Marshall Junior,
2003: 56)”.
Para efeito didático e de curiosidade, far-se-á a diferença entre as siglas ISO e IOS. A
primeira significa igualdade. As normas ISO representam, então, estandardizações,
padronizações utilizadas no ambiente organizacional. Já a IOS é a entidade que estabelece
“padrões” de qualidade para as atividades desenvolvidas pelas organizações (produção, troca,
distribuição, consumo e gerenciamento). Nesse momento, a tabela 2 expõe os principais
pontos do significado da ISO e seus procedimentos complementares.
Tabela 2 – ISO e os desdobramentos complementares.
IS0 International Organization for Standardization. É uma organização não
governamental internacional, que reúne mais de uma centena de organismos
nacionais de normatizações.
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas – entidade privada, sem fins
lucrativos, considerada o único fórum de normalização do Brasil
PNQ Prêmio Nacional da Qualidade
Certificação É um conjunto de atividades desenvolvidas por um organismo independente,
sem relação comercial, com o objetivo de atestar publicamente, por escrito,
que determinado produto ou processo está em conformidade com os
requisitos especificados.
Família ISO Normas que representam uma espécie de consenso internacional a respeito
9000 das boas práticas de administração da qualidade.
Auditoria da Serve para decidir se um fornecedor tem ou não condições de continuar como
qualidade tal e também para escolher novos fornecedores.
Ferramentas da PDCA (plan, do, check, action), brainstorming, cartas de controle, diagrama
qualidade de causa e efeito, diagrama de dispersão, estratificação, fluxograma, folha de
verificação, gráfico de pareto, histograma, matriz GUT, 5W2H (what, Who,
when, where, why, how, how much).
PQF- Bahia Programa de Qualificação de Fornecedores é uma iniciativa da Federação das
Indústrias do Estado da Bahia (FIEB), executada pelo Instituto Euvaldo Lodi
da Bahia (IEL/BA), em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro
e Pequenas Empresas (SEBRAE)
BSI (British Entidade que certifica sistemas de gestão, que certifica e testa produtos, que
Standard oferece treinamento e que fornece soluções de software de gestão.
Institution).
SELO É um certificado recebido por empresas que implantação procedimentos da
DIAMANTE qualidade e foram avaliadas pela BSI, através do PQF-BAHIA.
Norma ABNT A ISO 9001 é uma norma que define requisitos no âmbito da gestão
NBR ISO empresarial. O grande objetivo da norma é fazer com que as organizações
9001:2008 – atendam os requisitos do cliente. Os oito princípios da ISO 9001 - 1 - Foco
informações no Cliente; 2 - Liderança entre objetivos comuns; 3 - Envolvimento de todos;
básicas. 4 - Abordagem de processos; 5 - Considerar o impacto de decisões em outros
processos; 6 - Melhoria Contínua; 7 - Decisão baseada em dados; 8 -
Benefícios mútuos entre clientes e fornecedores.
Para a obtenção da certificação, as empresas precisam cumprir todos os
procedimentos exigidos pela ISO 9001:2008.
Fonte: Adaptado de Maximiano (2002, p. 175-226); Hamel (2007); Marshall Junior et al. (2003). (site:
http://www.totalqualidade.com.br/2009/12/norma-abnt-nbr-iso-90012008-saiba-mais.html).
Por fim, o objetivo principal das certificações visa profissionalizar os procedimentos
gerenciais das organizações, ao valorizar os requisitos exigidos pelos clientes, nos produtos e
serviços. Em síntese, a figura a seguir, mostra o ciclo que deve ser seguido pelas empresas
para o alcance da Gestão pela Qualidade Total, instrumentalizado por um certificado de
qualidade.
Figura 1 - Modelo ISO 9001:2008

Fonte: Adapatado de Maximiano (2002)

3. BREVE NOTA METODOLÓGICA


Este paper aborda a Gestão pela Qualidade Total, a Teoria Francesa das Convenções e
Normas ISO. A pequena rede independente de hotéis denominada - HOTEL TARIK
FONTES –, estabelecida em Itabuna-Bahia-Brasil, foi o objeto de investigação. A pesquisa
descritiva de caráter qualitativo recorreu às ferramentas de trabalho como: estudo de caso,
inquirição exploratória informal, pesquisa bibliográfica. Quanto ao trabalho de campo
utilizou-se uma entrevista estruturada com o proprietário do estabelecimento hoteleiro. As
observações apoiaram-se num roteiro pré-estabelecido. A pesquisa documental ateve-se ao
projeto de implantação do Programa de Qualificação de Fornecedores (PQF-BAHIA) e os
relatórios de auditoria emitidos pela entidade BSI (British Standard Institution).

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES: UM LUGAL AO SOL - CERTIFICAÇÃO


O Tarik Fontes Plaza Hotel, uma pequena rede independente de hotéis, caracteriza-se
como um empreendimento hoteleiro com uma estrutura física no padrão de hotel urbano,
vertical, com capacidade ocupacional de 80 apartamentos, com 12 andares, 70 vagas de
estacionamento, centro de convenções para 200 pessoas, destinado a atender principalmente
ao público executivo.
Para o encantamento de seus clientes, a missão do hotel é assim desenvolvida:
“Acolher nossos clientes com conforto, modernidade, serviços personalizados e de
qualidade”. Já a visão é “Ser uma rede hoteleira reconhecida no mercado por sua
originalidade e excelência no atendimento, agregando os valores regionais aos padrões
internacionais”. E o objetivo empresarial, desenvolvido a partir de discussões com o principal
gestor, foi assim definido: “Atender sempre as expectativas dos clientes oferecendo serviços e
produtos de qualidade superior visando alcançar resultados que possibilitem a manutenção e
expansão do Tarik Hotel, com os princípios da Gestão da Qualidade Total” (Tarik Fontes
Plaza Hotel, 2013). Esses registros revelam a intenção dos responsáveis para proceder com os
imperativos da “qualidade”.
Para além dessas informações, sua política de qualidade, aprovada pela diretoria e
disseminada a todos os colaboradores, também, traz o foco no cliente e nos procedimentos da
GQT. O seu lema é: “Satisfazer as necessidades dos nossos clientes, colaboradores e da
sociedade através da melhoria contínua dos processos com a gestão de excelência e
sustentabilidade”. (Tarik Fontes Plaza Hotel, 2013; dados da entrevista, 2013).
Diante do exposto, considera-se, pois, que a entidade investigada, nas suas diretrizes
organizacionais, estabelece procedimentos gerenciais com postura profissional e com
preocupações com a gestão pela qualidade total. A missão, a visão e os valores
organizacionais estão atrelados aos procedimentos da GQT. Os relatórios gerenciais da
qualidade, as observações in locus, as respostas das entrevistas comprovam que o hotel
estabelece os princípios da “qualidade”.
Aprofundou-se na questão do gerenciamento. Procurou-se identificar como o hotel é
administrado. Perguntou-se: Será que as funções gerenciais são aplicadas? Sendo um hotel de
três estrelas, os instrumentos prescritos nos princípios da administração da qualidade são
utilizados? A seguir, algumas reflexões.
Algumas avaliações são requeridas no processo de qualidade, dentre elas: com o
cliente, com os funcionários e com ações corretivas. O hotel em análise desenvolve controle
rigoroso das suas atividades. Para confirmar essas situações, abaixo, três procedimentos da
qualidade vivenciados pela empresa estudada.
Um dos objetivos da qualidade para a empresa investigada é obter o índice de 95% na
satisfação do cliente. Este índice é avaliado mensalmente através da tabulação dos opinários.
Os clientes respondem a pesquisa durante o check-out, e a recepção faz a coleta diária
encaminhando para o setor da qualidade que se encarrega da extração dos dados. No ano de
2012, foi observado que a empresa alcançou um índice médio de 95,1% de satisfação do
cliente. Vale ressaltar que, nos meses: de janeiro, fevereiro, março, abril, mai e outubro, a
meta foi ultrapassada em uma média de 1,4%.
Outro objetivo é alcançar 90% de satisfação do colaborador. A pesquisa é realizada
semestralmente com o uso de um questionário disponibilizado para todos os colaboradores e
tabulado também pelo setor da qualidade. O resultado da pesquisa revela que 92% dos
empregados sentem-se satisfação. O resultado de ambas as pesquisas são divulgadas,
respectivamente, nas reuniões de gestão e na reunião geral.
Na busca pela melhoria contínua dos processos, propôs-se uma meta de 100% de
ações corretivas para os problemas, ou seja, resultado indesejável de processos. Nesse caso,
“erros” ou “disfunções” das tarefas. Estas ações trabalham para a correção de desvios nos
procedimentos operacionais padrão, processos e normas da ISO 9001. Esses desvios são
denominados Não Conformidades (ÑC). Em 2012, foram abertas 45 ÑC para tratar
problemas identificados, nos setores da: governança, compras, almoxarifado, A&B (alimentos
& bebidas), eventos e recepção. A empresa implementou 100% das ações corretivas
propostas. Como se pode ver, em três situações envolvendo clientes, funcionários e processos,
o Hotel Tarik Fontes pratica as orientações da GQT.
A empresa pesquisa já utiliza o Procedimento Operacional Padrão (POP), ferramenta
da Qualidade Total, para o funcionamento das atividades “produtivas”, no caso, prestação de
serviços. Investigou-se em profundidade, através de observações e da entrevista, e descrever-
se-ão, a seguir, alguns processos sistematizados das ações diárias dessa organização, nas áreas
de governança e de recepção.
Tabela 3 - Procedimentos Operacional Padrão (POP) – alguns exemplos
Governança
Arrumação dos Apartamentos – a governanta imprime do sistema Desbravador a lista de ocupação
dos apartamentos/dia para efetuar a divisão das arrumações e check-outs/andar entre as camareiras. A
camareira antes de ir para os apartamentos confere carrinho e no caso de falha, comunica a
governança para devida correção. Em seguida, a camareira limpa todo o corredor do andar que foi
designada para trabalhar, e inicia a limpeza dos apartamentos pelos que foram check-outs. Ao termino
da limpeza, ela deve informa a recepção. O enxoval retirado dos aptos deverá ser contado e
encaminhado para o térreo. Então dará início a arrumação dos aptos ocupados.
Recepção
Fechamento de maquinetas – o auditor imprime o relatório de vendas nas maquinetas e do
desbravador. Em seguida, compara os valores para observar as conformidades. Entretanto, se
encontrar erros, insere uma observação no relatório de vendas do desbravador e anexa os relatórios
das maquinetas.
Fonte: Adaptado dos relatórios do Hotel Tarik Fontes (2013) – exemplos de procedimentos
Esses procedimentos expostos asseveram que o hotel usa o gerenciamento pela
qualidade. Estas são algumas práticas estruturadas no manual da qualidade, e são
documentadas para auditorias. É visível o ciclo PDCA, o plano de ação 5W2H. Além, da
valorização da criatividade dos envolvidos, através do benchmarking. Vários são os exemplos
de procedimentos de qualidade encontrados na pesquisa de campo. Para continuar com as
reflexões, passa-se para a confirmação inegável que o hotel atua em conformidade com a
qualidade total, e preza a eficiência dos serviços.
Para isso, a figura 2, mostra duas certificações. A primeira, a obtenção do SELO
DIAMANTE, este documento credencia a empresa investigada uma “autorização” para ser
fornecedora de serviços para outras organizações de grande porte, por exemplo, BAMIN –
BAHIA MINERAÇÃO. Com isso, o Tarik Fontes é certificado pelo Programa de
Qualificação de Fornecedores – PQF- Bahia. A outra conquista está relacionada com o
recebimento do certificado ISO 9001:2008. O Tarik Fontes tem a certificação de número FS
595941, no escopo de Serviços de Hotelaria, Restaurante e Aluguel de Espaços para Eventos,
emitido pela BSI, com data de emissão 22/03/2013, com validade até 21/03/2016.
Figura 2 – Certificações

Fonte: imagens efetuadas dos certificados originais (2013)


Por outro lado, as certificações deveram-se ao fruto de um trabalho árduo, profissional
e persistência, apesar das adversidades e dos custos operacionais elevados, conforme registro
nos relatórios gerenciais. É ingenuidade pensar que uma certificação não necessita de
determinação, compromisso dos envolvidos e capacidade gerencial. As atividades
administrativas devem ser profissionalizadas. Além do mais, os imperativos do mercado, a
concorrência acirrada do setor hoteleiro, as exigências dos clientes e prestação dos serviços
com qualidade são fatores que forçam as empresas a repensarem a forma de gerenciamento.
Em sendo assim, descreve-se como o hotel investigado obteve os certificados (SELO
DIAMANTE e ISO 9001:2008). A gestão pela qualidade total é vivenciada na empresa
investigada. O relato do proprietário pode ser evidenciado na tabela 2.
Tabela 4 – O processo de certificação
“Entendendo que para o alcance das metas estabelecidas propostas pelo planejamento estratégico,
fundamentada no crescimento da organização, a empresa optou pelo modelo de gestão baseado nos
princípios da excelência da qualidade, com os normativos da ISO 9001:2008. Essa construção
representou mais de três anos de trabalho, bem como utilização de recursos financeiros importantes,
para viabilizar a construção dos árduos processos da qualidade, controles estratégicos e
aperfeiçoamento do elemento humano, este tão necessário para o alcance das metas pretendidas.”
Fonte: Dados da pesquisa (2013).
Diante das exposições encontradas nos procedimentos desta investigação, através das
observações, da leitura documental e das respostas das entrevistas, infere-se que o hotel
investigado tem nas suas diretrizes e nas suas práticas os procedimentos sistematizados da
Total Quality Management. Assim, a continuidade desse modelo de gestão implantada,
notadamente, contribuirá para que o empreendimento hoteleiro pesquisado mantenha-se
competitivo, inclusive atestando procedimentos no contexto de um de serviço de excelência,
imposto por consumidores cada vez mais exigentes, e, para o enfrentamento da chegada de
grandes redes internacionais de hotéis que a cada dia vem aportando de maneira agressiva no
mercado nacional.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo abordou as questões ligadas ao gerenciamento pela qualidade total de uma
pequena rede de hotel independente, nomeadamente um estabelecimento hoteleiro na cidade
de Itabuna, Bahia – Brasil.
Em forma de síntese, responder-se-ão as perguntas elencadas no início da
investigação. As questões foram: a) expor as práticas desenvolvidas pelo hotel através dos
princípios da GQT, b) demonstrar que a GQT pode ser uma ferramenta estratégica para a
competitividade organizacional e, por fim, c) identificar os desafios enfrentados na
certificação da ISO 9001:2008 e do “SELO DIAMANTE”.
O sistema de gestão da qualidade já faz parte dos propósitos da empresa, pelo fato de
estar integrado às operações do dia a dia, confirmado nas práticas dos procedimentos
padronizados, tanto operacionais, quanto gerenciais. A segunda pergunta referiu-se à GQT
como ferramenta de competitividade; assevera, pois, que uma gestão comprometida com as
especificidades da qualidade total promove a profissionalização empresarial. Em sendo assim,
o Hotel Tarik Fontes ganhou a certificação com SELO DIAMANTE e a ISO 9001:2008. Por
último, os desafios são inúmeros, mas a empresa pesquisada, pelas análises verificadas, está
preparada para os obstáculos a serem ultrapassados, como: concorrência, ampliação da rede,
fortalecimento da gestão etc.
Por último, as perspectivas do Tarik Hotel são muitas. Esse achado na investigação
serve para que essa empresa seja um modelo guia para outros estabelecimentos. Espera-se que
o sistema de gestão da qualidade seja assimilado como um diferencial competitivo para as
empresas. A Gestão da Qualidade Total – GQT - possa fazer parte das diretrizes das
organizações, em especial, as do setor hoteleiro.

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Capítulo 2: Comunicação, Cultura e Sustentabilidade
Aplicações do bambu em construções sustentáveis

*Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima


Doutoranda em Engenharia de Materiais
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: pilolima@hotmail.com

Ruth Marlene Campomanes Santana


Professor do Departamento de Materiais da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: ruth.santana@ufrgs.br

Resumo

A conservação do meio ambiente é uma preocupação de interesse global, por tanto a busca
de uma maior sustentabilidade tem fomentado o crescente desenvolvimento de novos
produtos e a utilização de materiais naturais e processos com tendência ecológica e
sustentável em diferentes setores industriais. Um desses materiais de fonte natural é o bambu,
que se apresenta como uma excelente opção na indústria da construção civil, considerando as
suas propriedades; oferece multiplicidade de utilizações, para além das tradicionais. Pode ser
utilizado como material estrutural na fabricação de pontes, edificações, com aplicações em
coberturas, paredes, pavimentos entre outras.

Abstract

Conservation of the environment is a concern global interest; therefore, the research for grater
sustainability has fostered the increasing development for new products and the use of natural
materials and process with a ecological and sustainable tendency. One of these materials is
the bamboo, that presents itself as excellent choice in the civil construction industry,
distinguished as well for its properties, offers multiplicity of bamboo´s applications, beyond
the traditional ones. It cam be used like structural material in the manufacture of bridges,
buildings, with applications to coverage, walls, floors and others
1. Introdução
O bambu é um dos materiais utilizados pelo homem no campo da construção, desde
tempos remotos, tem formado parte do conjunto de elementos construtivos que foram eixo do
desenvolvimento cultural na Ásia e em América; o homem do trópico tem utilizado diferentes
espécies de bambu como matéria prima para a construção das suas vivendas, embarcações,
pontes, e outras infraestruturas, além de ser um material amigo do meio ambiente, renovável,
é perene, leve, flexível, muito resistente, consegue substituir o aço e madeiras em varias
construções. O bambu se apresenta como uma alternativa de materiais a ser aplicado na
construção civil e na arquitetura, na produção de ambientes sustentáveis. Entre as vantagens
que oferece o bambu como material para à construção civil, estão: seu crescimento é
extremamente rápido, o que faz dele um produto natural econômico de fácil aquisição;
fixador de dióxido de carbono (CO2) inclusive nas obras onde é utilizado; possui uma baixa
energia de produção, se comparada com o aço, concreto ou madeiras; é um material leve,
forma estruturas de baixo peso e alta flexibilidade comparadas com as da madeira, estas
estruturas são importantes para soluções sismo resistentes; a capa externa da casca oferece
uma altíssima resistência à tração, igualável ao aço; não possui corteza que deva ser cortada.
Por ser um produto natural, suas caraterísticas e comportamento estrutural dependem muito
da espécie de bambu, do local onde é cultivado, idade, conteúdo de humidade e a parte do
colmo a utilizar. Para a construção civil, se recomenda usar bambu maduro e seco,
normalmente entre 4 e 6 anos de idade, não devem ser usados bambus com rachaduras que
vão de um nó ao outro nó, os colmos devem ser retos ou discretamente curvados, não é
recomendado usar talos que apresentem ataques por insetos ou fungos, devem ser limpados
antes do uso, para colunas deve ser usado o primeiro tercio do talo, onde os nós são mais
próximos e a casca é mais grossa, os talos não devem ter uma conicidade superior ao 1%, se
houver fissuras, estas devem estar localizadas na fibra externa superior ou na fibra externa
inferior; para evitar ataques de fungos, o conteúdo de humidade relativa não deve ser superior
ao 20%; precisa ser protegido da intempérie; deve ser tratado para evitar o ataque de fungos e
insetos.

2. Construção em consideração com o meio ambiente


É uma técnica de design que complementa as técnicas de design sistemáticos de
produtos e processos já utilizados. Seu objetivo é melhorar a ecoeficiência e a qualidade da
construção diminuindo o impacto ambiental através do seu ciclo de vida. A qualidade de um
produto deve satisfazer uma série de especificações e requerimentos, que são definidos pelo
mercado, a produção, os operários, a tecnologia, a ecologia e todos os fatores que interferem
no entorno do produto ao longo da seu ciclo de vida.
Na construção civil, pode ser reduzida a intensidade de utilização de uso de energia
utilizando materiais sustentáveis, como é o caso do bambu , e diminuindo uso de
matérias como o cimento e o aço.

2.1 O bambu na construção civil


Desde a antiguidade, o bambu tem sido um material de construção aplicado desde
habitações primigénias até edificações. Devido as suas características mecânicas,
flexibilidade, rápido crescimento, baixo peso e baixo custo, o bambu é um material de
construção com muitas aplicações. Se calcula que 1000 milhões de pessoas moram em casas
construídas com bambu (Liese e Duking, 2009). Em regiões sísmicas, são preferidas este tipo
de construções devido a sua leveza e flexibilidade. Em regiões do trópico húmido se utiliza o
bambu por ser um material económico e de fácil manejo, além disto nestas zonas há
necessidade de muros sem massa térmica. (Minke,2010).
Um uso comum típico do bambu é na construção de andaimes; na Asia se encontram estes
com alturas superiores a vinte andares (Vitra Design Museum 2000). Este material oferece
múltiplas funções na estrutura de uma vivenda, pois é empregada nos cimentos quando
utilizada como substituta do ferro, colunas com alta capacidade, vigas, tetos, paredes, pisos
entre outros.
Entre as vantagens da utilização do bambu na construção se encontram:

- O crescimento do bambu é extremamente rápido e é utilizável como material de


construção a partir dos 4-6 anos.
- O bambu acumula CO2
- possui uma baixa energia de produção, se comparada com o aço, concreto ou
madeiras, isso significa que a pegada ecológica e baixa.
- O Bambu como material de construção é leve, forma estruturas de baixo peso e alta
flexibilidade comparadas com as da madeira. Estas estruturas são importantes para
soluções sismo resistentes.
- A capa externa da casca oferece uma altíssima resistência à tração, igualável ao aço.
- Segundo a norma ISO 22156-2, o bambu é 3,3 vezes mais rentável que a madeira.
- O gasto de corte e transporte e relativamente baixo
- O Bambu não possui corteza que deva ser cortada.

O bambu é um material natural, heterogéneo, pois não existem talos de bambu exatamente
iguais, nem mesmo pedaços do mesmo bambu, isto gera algumas desvantagens como:

- O comportamento estrutural depende muito da espécie de bambu, do local onde é


cultivado, da idade, o conteúdo de humidade e da parte do colmo a utilizar.
- O bambu precisa ser protegido da intempérie.
- Deve ser tratado para evitar o ataque de fungos e insetos.
- As vezes o talo não é completamente reto, pode ter uma certa curvatura
- Em muitos países não existe uma norma oficial para construções com bambu, por
tanto as licenças para este tipo de construções são um tanto dispendiosas para se
obter. (Minke, 2010)

2.1.1 Resistência a sismos: pela alta resistência deste material contra forças em relação ao
seu peso, a capacidade de absorver energia e sua flexibilidade, o bambu é ideal para
construções sismo resistentes. Estúdios nas regiões dos andes, apresentam que em edificações
com um primeiro andar com muros sólidos de “tapial”1 e um segundo andar em bambu,
resistiram a terramotos de alta magnitude. Em Quepos, Costa Rica, em novembro de 2004
aconteceu um tremor de terra de magnitude 6,9 na escala Richter ,localizado na zona
epicentral, o projeto turístico de Timarai, com 2.500 m2 construídos em bambu, respondeu
sem danos na estrutura. Em abril de 1991 todas as vinte casas de bambu construídas com a
consultoria de Jules Janssen em Costa Rica, suportaram o terramoto de magnitude 7,5 da
escala Richter sem falhas. (Minke, 2010).

O design arquitetônico de casas sismo resistentes de bambu, cumprem em geral com as


condições de casas construídas em outros materiais. Entre estes:
• A estrutura deve ficar rigidamente ancorada à cimentação
• O tecto deve ficar ancorado a os muros
• A coberta não deve ser muito pesada com relação ao resto da estrutura
• Construções de mais de um volumem devem ter um comportamento diferente entre
elas.
• A planta não deve ser muito alongada, o ideal é circular.
• As partes do muro entre os vãos devem ser suficientemente amplas.
(Minke, 2010)

1
O tapial é uma técnica consistente em construir muros com terra compactada “tierra apisionada”
2.1.2 Espécies de bambu utilizadas na construção
Os géneros de bambu mais utilizados para este propósito são: Bambusa, Chusquea,
Dendrocalamus, Gigantochloa, e Guadua; dentro destes a conhecida cientificamente como
Guadua angustifolia, encontrasse selecionada como uma das espécies prioritárias de bambu
(Cruz, 2009) e devido a sua resistência físico-mecânica tem se convertido em um dos bambus
mais importantes a nível mundial e continua a ser o mais importante de América para a
utilização na construção. Esta espécie é nativa da Colômbia, Venezuela, Equador; o bambu
nativo existente na Colômbia é o que oferece melhores características e o preferido para a
construção (Cruz, 2009).
As seguintes são as espécies de bambu mais utilizadas na construção, aqui são mencionadas
algumas das suas caraterísticas, mais estes dados podem variar dependendo das condições e
localização do cultivo.2

• Bambusa
Altura / Origem Características
Diâmetro
Balcoa 12-20 m 8-15 Índia Casca grossa até de 3 cm
cm
Disimulator 12 m Sul da China Casca fina e dura
6 cm
Edilis 20 m China
16 cm
Polymorpha 27 m China, Bengala,
15 cm Burma
Stenostachya 22 m China
15 cm
Vulgaris 18 m Asia, Alto conteúdo de amido
10 cm América
Bambosa 30 m Sudeste da Asia Casca grossa
15-18 cm
Nepalensis 20 m
10 cm
Oldhami Munro (Bambu 6 - 12 m Taiwan Cor verde forte
verde) 3-12 cm
Vulgaris, Schrader 6 -15 m Sul da China
ex Wendalnd 5 -10 cm
Bambusa vulgaris, Sudeste da Asia Mutação do Bambusa vulgaris cor
Schrader ex Wendland, amarelo ouro e listras verdes
var striata

Quadro 1 Caraterísticas da espécie Bambusa

Fonte: Minke, 2010

2
Informação mais detalhada sobre as espécies, pode ser conferida em Farrelly, (1938); Young e Haun,
(1961) e McClure, (1996)
• Chusquea
Altura/ Origem Características
Diâmetro
Culeou 6m Chile Cresce nas zonas mais austrais
4 cm do planeta, casca forte
Culeou Desvaux 4 -6 m América Central Talo sólido, cor amarelo
2-4 cm América do Sul
Quila Kunth Chile Talo sólido

Quadro 2 Caraterísticas da espécie Chusquea


Fonte: Minke, 2010

• Dendrocalamus
É um grupo de Bambu com muitas variedades, alcançam grandes alturas e são de
grande importância na construção.

Altura/ Origem Características


Diâmetro

Balcoa “Bambusa Balcoa” 20 m Sudeste Asiático,


20 cm Índia
Giganteus “Bambu gigante” 20-30 m Índia, Burma, Sri É um dos mais grandes,
30 cm ou mais Lanca, Tailândia usado para grandes
construções
Asper (“Bambu balde” no 25 m Brasil Casca dura e resistente
Brasil) 20 cm
Latiflorus 20 m Taiwan, Sul da China Casca grossa de 2”,
20 cm entrenós até de 70 cm
Quadro 3 Caraterísticas da espécie Dendrocalamus
Fonte: Minke, 2010

• Gigantochloa
Altura/ Origem Características
Diâmetro
Apus 16 m Malásia, Indonésia
10 cm
Atroviolacea 13 m Malásia, Indonésia Cor negro
8 cm
Levis 16 m Filipinas
10-15 cm

Quadro 4 Caraterísticas da espécie Gigantochloa


Fonte: Minke, 2010

• Phyllostachys
Os Bambus deste grupo crescem em zonas temperadas e se caraterizam por
formar nós em zig zag ou outras formas irregulares
Altura/ Origem
Diâmetro
Aurea 5m China e Japão
2 cm
Bambusoides 22 m Japão
14 cm
Nigra, var. Henonis 21 m China
12 cm
Vivax 21 m China
12 cm

Quadro 5 Caraterísticas da espécie Phyllostachys

• Guadua
É um género endémico de América do Sul. Se destaca Guadua Angustifolia kunth
(Colômbia) como uma das mais importantes para a construção.

Altura/ Origem Características


Diâmetro
Angustifolia 18-24 m Colômbia Devido a sua resistência físico-mecânica tem se
Kunth 9-12 cm convertido em o Bambu mais importante de
América e um dos mais importantes a nível
mundial
Aculeata 25 m Desde México
12 cm até Panamá
Chacoensis 20 m Norte de
8-12 cm Argentina e
trópico
Boliviano
Paniculata 10 m Trópico Parte superior sólida, parte inferior com pequenos
Munro 3 cm Boliviano vazios
Superba Huber 20 m Trópico Pode sofrer rachaduras
9-12 cm Boliviano
Quadro 6 Caraterísticas da espécie Guadua

Fonte: Minke, 2010

2.2 Seleção do bambu para a construção: o bambu a ser utilizado deve ser de boa
qualidade, se faz as seguintes recomendações:
• Usar Bambu maduro e seco, normalmente entre 4 e 6 anos de idade.
• Não devem ser usados Bambus com rachaduras que vão de um nó ao outro nó.
• Os colmos devem ser retos ou discretamente curvados, mais jamais com curvas
internas. Se usar como colunas que transferem grandes forças, a excentricidade da
força axial não deve der maior ao 0,33% de longitude do elemento (NSR-10).
• Não é recomendado usar talos que apresentem ataques por insetos ou fungos.
• Talos atacados por fungos e líquenes, devem ser limpados antes do uso.
• Para colunas deve ser usado o primeiro tercio do talo, onde os nós são mais próximos
e a casca é mais grossa.
• Os talos não devem ter uma conicidade superior ao 1%.
• Os talos usados como vigas não devem ter fissuras longitudinais ao longo do eixo
neutro do elemento, se houver fissuras, estas devem estar localizadas na fibra externa
superior ou na fibra externa inferior.
• Para evitar ataques de fungos, o conteúdo de humidade relativa não deve ser superior
ao 20% (NSR-10).

2.3 Desenvolvimento das construções com bambu


Antecedentes históricos demostram que a construção mista esteve presente no
desenvolvimento das civilizações, o homem aprendeu a construir a sua morada com terra e
elementos vegetais que encontrava no seu entorno como estrutura, isto foi o inicio de
interessantes formas de vivenda que demostram uma cultura construtiva inteligente. Com o
incremento da agricultura se desenvolve uma arquitetura de vivenda com poste e viga assim
como a concepção de um sistema de paredes. Este conjunto pode ser chamada de casa
arcaica ou trivial. (Stamm, 2007)

Fig. 2 Casa trivial e detalhes de amarre


Fonte: Dunkelberg

O “bahareque” de bambu: foi desenvolvido na região centro ocidental da Colômbia,


aproximadamente na metade do século XIX, esta técnica construtiva utilizava como
elemento principal o bambu, que integra colunas e vigas em este material, formando uma
espécie de “tecido estrutural”, constituída por paredes, tecto e piso, e recoberto interna e
externamente por lâminas de “estérilla” (lâminas formadas por bambu rachado). Fonte:
(Cruz, 2009). Se difundiu rapidamente nas outras regiões de América, devido à suas
características sismo resistentes e à facilidade de adaptasse a topografias irregulares.
O “bahareque” é uma técnica de construção pela qual se conseguem muros finos e resistentes
, consiste em elementos verticais e horizontais que formam uma tela que cria um espaço
interior, posteriormente é preenchida com terra (barro). Os elementos verticais normalmente
são de madeira roliça e os horizontais de bambu. Este sistema é flexível, por tanto resistente
a os impactos de sismos.
Fonte: (Cruz, 2009).

Fig. 3 Tecnica do “Bahareque”


Fonte: Ecobambú
Construções tradicionais
caraterizada pela utilização de materiais económicos como o bambu, com telha de barro ou
zinco, por tanto é um design mais quadrado ou retangular. Se aplica o principio de proteção
por design, significa que este tipo de construções possuem uma boa base de tijolo ou cimento
que isola o bambu do contato direto com solo para impedir desta maneira a humidade por
capilarização e também uma boa coberta que também protege da intempérie.

Fig. 4 Quiosque – Construção tradicional


Fonte: A própria autora

Com este tipo de construções se garantem as tradições na construção, mais com um certo
nível de conhecimento em conceitos básicos e também na elaboração confiável das uniões
parafusadas e reforçadas com cimento.
É indispensável utilizar bambu seco, pois com talos frescos se corre risco nas uniões3.
As casas tradicionais consomem muito material, mais com tolerância contra sismos.

Fig. 5 Construção de casas em bambu- Projeto Arq. Simon Vélez


Fonte: Jorg Stamm

Construções modernas
Este tipo de construções conciliam uniões tradicionais com uniões de engenharia

a b
Fig. 6a Pavilhão Projeto Arq. Simon Vélez Fig. 6b Catedral Projeto Arq. Simon Vélez
Fonte: Roger Martínez

3
Há limitações na utilização da união “boca de peixe” com talos frescos. Em obras onde se utilizaram
varias uniões deste tipo com bambu fresco, se observou deformações causadas pela diminuição do
diâmetro durante a secagem (até 15 %)
Fonte: depoimento arq. Roger Martínez
O arquiteto colombiano Simon Vélez desenvolveu um tipo de união e de sistema construtivo,
com o que consegue alturas de até vinte metros para cobertas em morteiro de cimento e telha
de barro espanhola, bastante pesadas. Com grandes estruturas para cobertas das mesmas
características, ele, descobriu que para as uniões dos grandes esforços de tração que
apareceram, era necessário encher os canudos (colmos) com cimento, onde aconteciam estas
uniões, assim estes suportaram os esforços das platinas e parafusos e os transferiam a todas as
fibras do bambu, evitando assim que se rasgara. (Villegas, 2001)
As fibras do bambu, surpreendentemente resistentes à tração, são semelhantes a um aço
vegetal. Nestas estruturas se deve prestar atenção à resistência dos parafusos e não à do
bambu . Com um sistema de construção de estruturas de bambu em que se consegue resolver
as uniões para as forças de tração e compressão, este material entra a competir e em muitos
casos a substituir a materiais como a madeira serrada, o ferro ou o concreto. “A relação peso-
resistência do bambu, só pode ser comparada com as obtidas pelas alheações de metais da era
espacial” (Villegas, 2001: 44)
Um exemplo deste tipo de estruturas com engenharia tem sido aplicados na fabricação de
pontes, onde é importante utilizar uniões de alta resistência, fazer cálculos estruturais, plano,
pré-fabricação e levantamento da estrutura com guincho.
Este sistema construtivo, onde se cruzam bambus em diferentes níveis, parafusados entre si,
são a base para a elaboração de estruturas complexas de vários andares, ou para pontes. Outra
vantagem deste sistema é a possibilidade de pré-fabricar as estruturas com grande precisão
para depois posicionar e fixar, uma vez finalizada a montagem as uniões são preenchidas com
morteiro de cimento.

Fig. 7 Ponte Santa Fe (Colômbia) – Projeto Jorge Stamm


Fonte: Ecobambu

Fig. 8 Bar restaurante (Vietnã) – Projeto Arq. Vo Trong Nghia


Fonte: Hiroyuki Oky

Construções contemporâneas
em quanto as estruturas tradicionais e as estruturas de engenharia são fundamentadas em
sistemas construtivos bidimensionais, as estruturas “contemporâneas” apresentam estruturas
tridimensionais, que inclui membranas anticlásticas, conchas em dupla curvatura, e estruturas
espaciais . Nestas estruturas há novas exigências nas uniões, também aqui se procura a
economia, a estandardização e possível industrialização desta classe de uniões.
Se propõe compatibilidade do bambu com outros materiais da construção como o aço, o
vidro, a fibra e compósitos e outros.

Fig. 9 Quiosque (Colômbia) – Projeto Ecobambú


Fonte: A própria autora

As estruturas tridimensionais respondem muito bem a esforços com diferentes direções como
sismos e ventos. Os talos compridos e leves do bambu, resistem muito bem as forças de
flexão, se flexiona mais não se fragmenta, esta elasticidade é ainda maior quando o bambu
esta seco, e quase impossível de curvar com a força humana. (Stamm, 2007)

Fig. Ponte em Cucuta (Colômbia) – Projeto Jorge Stamm


Fonte: Ecobambú

3. Conclusões
O bambu, é um material presente ao longo da história e do desenvolvimento sociocultural; no
hemisfério oriental, tem sido utilizado nas artes construtivas não simplesmente com fins
funcionais, mais simbólicos que refletem determinados valores ou necessidades sociais; e no
hemisfério ocidental, onde a flexibilidade deste material tem proporcionado diversos usos
desde os tempos aborígenes, como utensílios de cozinha, pontes, armas, embarcações etc.,
especificamente na Colômbia, este material tem estado relacionado a os processos evolutivos
da construção e da arquitetura.

Em geral na América Latina, o bambu é bastante utilizado, porem em menor intensidade que
no Oriente; na Colômbia, tem sido bastante aproveitado no ramo do design, arquitetura e da
construção, tem se investido muito em pesquisas e estudos que são referencia para o resto de
países, o Equador também tem apresentado projetos de grande importância e interesse ao
respeito, Costa Rica, México também tem apresentado interesse pelo uso deste material; o
Brasil, que alberga a maior diversidade de géneros de bambu em América e possui o maior
grau de endemismo no continente, tem a oportunidade de fazer desta espécie uma alternativa
no desenvolvimento económico e do ecossistema, pois existem áreas dentro do pais (estado
do Acre) ainda sem ser exploradas , por tanto existe aqui um grande potencial a ser
aproveitado no campo da construção.
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www.versteegde.nl Acesso em 06 de dezembro de 2011
Arquiteturas interativas inteligentes: como as redes digitais podem fazer parte das
estratégias e ações de sustentabilidade das organizações

*Julliana Cutolo Torres1


*Fernanda Cristina Moreira2

Resumo
Este artigo pretende identificar como o apoio de empresas a comunidades – tradicionais e
científicas – na criação de redes territoriais e de pesquisa pela sustentabilidade, pode inserir as
organizações em processos inteligentes de geração de valores e cultura sustentáveis. Para isso, o artigo se
apóia em dois casos exemplares: o “Mapa Cultural Suruí/Google Earth Solidário” e o “Redes de
Inovação/Natura Campus”, visando identificar, assim, a formação de "arquiteturas interativas
inteligentes" resultantes das interações entre indivíduos/comunidades, organizações, tecnologias
comunicativas digitais e territórios.

Abstract
This article intends to identify in which sense companies’ support to traditional and scientific
communities interested on the development of territorial and research networks for sustainability may
insert those organizations into intelligent processes to create sustainable values and culture. The article
relies on two exemplary cases: the “Cultural Map Suruí / Google Earth Outreach” and “Innovational
Networks/ Natura Campus”, targeting to identify the formation of "intelligent interactive architectures"
that result from the interactions between individuals/communities, organizations, digital communicative
technologies and territories.

Introdução
Nos últimos anos, no cenário mundial, com o advento da banda larga e com o avanço das
tecnologias interativas digitais, permitindo a todos os indivíduos conectados a produção, a
armazenagem, a modificação (uso de filtros, edição, remixagem) e o compartilhamento de
vídeos, áudio, imagens e textos através de softwares aplicativos e aparelhos portáteis, pudemos
observar um aumento não somente da quantidade de informações veiculadas sobre as questões

1 Doutoranda em Ciências da Comunicação ECA-USP (bolsista CNPq e bolsista doutorado-sanduiche


Capes), é pesquisadora do Centro de Pesquisa Atopos (ECA-USP), foi professora da FAPCOM (Faculdade Paulina
de Comunicação) e atualmente é professora do curso de especialização Redes Digitais, Terceiro Setor e
Sustentabilidade (USP). É coautora do livro Redes Digitais e Sustentabilidade (Di Felice, Torres, Yanaze -
Annablume, 2012).
2 Mestranda em Ciências da Comunicação ECA-USP (bolsista Capes), é pesquisadora do Centro de
Pesquisa Atopos (ECA-USP), na linha de pesquisa Ecosofia, onde realiza pesquisa sobre a atuação de coletivos
indígenas em pós-territorialidades informativas. Foi Analista de Comunicação na Siemens (2010-2012).
ecológicas, mas também a multiplicação das formas de protestos e de participação em prol da
preservação do meio ambiente.
Mais especificamente, assistimos ao desenvolvimento de novas práticas de atuação de
redes digitais, também auspiciadas sob a bandeira da sustentabilidade, que visam, em grande
parte, à criação, à implantação e/ou ao mapeamento de projetos e ações sustentáveis. Tais
iniciativas associam à sua forma de organização reticular e não-hierárquica uma nova lógica
colaborativa de atuação, em que são considerados os impactos sobre o meio ambiente e são
criadas e disseminadas práticas inovadoras por meio das dinâmicas colaborativas das arquiteturas
interativas digitais3.
A convergência dessas duas grandes tendências da atualidade – redes digitais e
sustentabilidade – inaugura discussões inéditas sobre a possibilidade de atuação conjugada dos
diversos setores interdependentes da sociedade – empresas, sociedade civil, universidades e
instituições públicas. As novas tecnologias comunicativas, mais do que promoverem a
digitalização e disseminação de informações sobre o meio ambiente, fornecem substrato ao
desenvolvimento de uma nova consciência reticular que altera nossa própria percepção de habitar
o mundo.
A esse respeito, parece-nos fundamental não somente analisar as novas práticas de
interações em redes, propiciadas pela difusão das novas tecnologias e inseridas na chamada
“cultura das redes”4, mas, sobretudo, considerar os novos significados da digitalização do social
e do ambiente, enfatizando a constituição de um território inteligente reticular, que é a conexão,
em um mesmo fluxo informativo digital, entre meio ambiente, indivíduos, organizações,
instituições e tecnologias.

As tecnologias digitais e as novas formas de interação em rede


Partindo do pensamento original de Marshall McLuhan (2000), e considerando que os
efeitos da introdução das tecnologias digitais de comunicação em nossa sociedade não ocorrem
somente nos níveis das opiniões e dos conceitos, mas incluem mudanças nas relações entre essas

3 Entendemos por “arquiteturas interativas digitais” o resultado da interação entre indivíduos, territórios e
tecnologias comunicativas digitais.
4 A cultura das redes é aquela derivada do advento das novas tecnologias interativas digitais e sua
convergência com as tecnologias informativas precedentes, principalmente a partir da década de 70, e da interação
dessas novas tecnologias com a sociedade, resultando em um conjunto cada vez mais difundido de práticas sociais e
comunicativas baseadas na manipulação, remixagem e edição de informações – vídeos, imagens, áudios, textos –
pelos indivíduos conectados em redes, que passam a ser co-produtores de conteúdo e não apenas público.
tecnologias, os sujeitos e o espaço que se manifestam nas próprias estruturas da percepção do
território5, podemos referenciar sinteticamente duas grandes épocas midiáticas distintas e
concomitantes, que caracterizam a nossa contemporaneidade, e sua relação com a abordagem do
território: a primeira, representada pelo advento dos meios analógicos de comunicação (escrita,
fotografia, cinema, televisão etc.), caracterizada pelas relações hierárquicas de produção e
distribuição das informações e pela distinção clara entre emissores e receptores da mensagem,
definindo um período onde a relação entre homem e território mostra-se midiática, frontal e
externa; e a segunda, assinalada pela interatividade das tecnologias digitais de informação e
comunicação, pela digitalização das informações, do território e da sociedade, e pela produção
colaborativa de conteúdo e sua difusão compartilhada em rede, assinalando territórios
constituídos por fluxos informativos digitalizados trocados continuamente nas interações entre
todos os elementos – humanos e não-humanos – de redes interligadas e interdependentes.
Assim, as novas tecnologias comunicativas digitalizam o território, transformando-o em
informações acessíveis em toda parte e modificáveis colaborativamente, possibilitando novas
formas de elaboração conjunta das questões sociais, políticas e ambientais em constante
interação e debate com as instituições e organizações, considerando os interesses de todos os
diversos coletivos6, independentemente das geografias nacionais, e reformulando, assim, essas
mesmas instituições e organizações, as culturas e as sociedades, re-organizando-as em territórios
inteligentes reticulares e implicando em um re-pensamento de seus processos e atuações.
Temos, assim, a constituição de arquiteturas interativas inteligentes que, como
verdadeiros ecossistemas informativos, fomentam a ideação conjunta de novos projetos,
possibilitam a sua implantação e manutenção (sustento), e tendem a conduzir à reflexão, não
somente sobre o escopo desses mesmos projetos, mas também sobre os conceitos a eles
associados, as ações necessárias para realizá-los e os demais elementos a eles relacionados.

5 O vocábulo “território” neste artigo pode assumir três significados possíveis: 1. o sentido de “espaço”,
compreendido lato sensu em termos geográficos, arquitetônicos e ambientais; 2. pode ser associado à identidade
histórica e social de um lugar; 3. ou remeter a uma forma de interação entre o espaço, tecnologias comunicativas e
indivíduos, tendo, portanto, um caráter “psicotecnofísico”, variável segundo o tipo de tecnologia considerado.
6 Referimo-nos aqui ao conceito de “coletivo” elaborado pelo filósofo francês Bruno Latour. Segundo o
Glossário de Políticas da Natureza, coletivo distingue-se em primeiro lugar de sociedade, termo que nos remete a
uma má distribuição de poderes; acumula em seguida os antigos poderes da natureza e da sociedade num só lugar
antes de se diferenciar novamente em poderes vários. Embora empregado no singular, o termo não nos remete a uma
unidade já feita, mas a um procedimento para coligar as associações de humanos e não-humanos. (Latour, 2004:
372, 373). Em suma, o coletivo aponta para “conexões temporárias de atores heterogêneos que devem ser
reagregados”. (Latour, 2012: 113).
Território, redes e sustentabilidade: os Suruí e o Google Solidário
O Google Earth Solidário pode ser considerado expressão de uma nova cultura ecológica
ligada à conectividade na medida em que permite, a partir da digitalização de territórios e
comunidades locais, monitorar os impactos sociais e ambientais gerados por práticas cotidianas e
pelo modelo de desenvolvimento econômico predominante na contemporaneidade. O programa
oferece tecnologias de georreferenciamento/mapeamento como Google Earth Engine e Google
Maps Engine, as quais permitem expandir iniciativas políticas, econômicas e culturais
desenvolvidas localmente, possibilitando a constituição de novas alianças e parcerias com atores
globalmente dispersos.
A fim de analisar os processos de constituição e expansão de arquiteturas interativas
inteligentes, selecionamos o projeto brasileiro do povo indígena Suruí contemplado pelo
programa Google Earth Solidário, cujas ações estão focadas na proteção do território demarcado
contra invasões e explorações ilegais e na gestão sustentável dos recursos ambientais da região,
aspectos que se mostram fundamentais para a sobrevivência física e cultural dos coletivos
indígenas no Brasil.
A área de 248 mil hectares da Terra Indígena Sete de Setembro, localizada em Rondônia,
próxima ao município de Cacoal, onde vive o povo Paiter Suruí, é palco de conflitos, invasões,
exploração ilegal de madeira, de pesca e de terras desde a década de 60, quando o governo
começa a intensificar as políticas de atração populacional para Rondônia.
Com o objetivo de consolidar resistências e recuperar o protagonismo da gestão de suas
terras demarcadas, os Suruí desenvolveram, sob a liderança de Almir Suruí, o Plano Suruí 50
Anos. Os projetos e ações que, segundo o documento, serão desenvolvidos ao longo de 50 anos
para garantir a sobrevivência do povo Suruí e a preservação de suas terras e, com isso, contribuir
para o desenvolvimento econômico, ambiental e social do país. Entre as ações, destacam-se
práticas de reflorestamento, comercialização de créditos de carbono, ecoturismo e a criação de
uma universidade indígena na Terra Sete de Setembro.
Como parte da estratégia prevista no Plano, Almir Suruí, por intermédio da ONG ACT
(Equipe de Conservação Amazônica), visitou a sede do Google nos Estados Unidos, em 2007,
para propor uma parceria que conjugasse o conhecimento indígena sobre a floresta e as
tecnologias de mapeamento na busca por soluções que ajudassem a garantir a sustentabilidade da
cultura indígena Suruí e da floresta amazônica. O projeto apresenta, nesse sentido, contribui para
reativar o pensamento indígena como fundamental para as discussões que perpassam a nova
cultura ecológica difundida na contemporaneidade, especialmente com o advento das redes
digitais7.
Os saberes indígenas devem ser entendidos, entretanto, de forma mais ampla do que a
redução a “conhecimentos práticos sobre biodiversidade”, remetendo-nos aos fundamentos de
um pensamento diverso ao ocidental que ignora a categoria “Natureza”, como transcendente e
exterior ao homem. A ideia de combinar o que os Suruí chamam de “conhecimento sobre a
floresta” com as tecnologias, emerge, portanto, de uma epistemologia que considera o social
como constituído não apenas de relações entre humanos, mas entre elementos de diversas
naturezas.
Conforme descreve Viveiros de Castro (2002), nesse “social” não-ocidental estão imersos
deuses, espíritos, mortos, habitantes de outros níveis cósmicos, fenômenos meteorológicos,
vegetais, animais, às vezes mesmo objetos e artefatos, que recombinam e ressignificam as
categorias ocidentais cultura e natureza em uma lógica não-dialética de contextos relacionais e
perspectivas móveis. Essa ontologia amazônica se mostra extremamente transformacional,
descrevendo a infinita metamorfose do mundo em que “espíritos assumem formas animais,
bichos viram outros bichos” e superando a lógica cartesiana que separou humanos e não-
humanos, princípio fundamental para a percepção reticular a que começamos a nos inclinar.
Tais possibilidades de interconectividade realizadas pelos mundos indígenas passam a
circular no cenário global a partir de projetos como o dos Suruí que, com o apoio do Google,
colocam na rede (digital) o que sempre operou em redes (locais). Nesse sentido, o projeto
Suruí/Google Earth Solidário foi idealizado para funcionar de forma colaborativa, respeitando os
princípios de organização social e política tradicionais, com o envolvimento de indígenas Suruí
em duas frentes principais: as denúncias de ilegalidades que ameaçam o território Suruí e a
construção de um mapa digital que contempla informações históricas, culturais e ambientais da
região8.
7 Segundo Di Felice, Torres e Yanaze (2012: 12), “há uma relação estreita entre a cultura comunicativa que
se difundiu após o advento das redes digitais e a difusão contemporânea de uma nova sensibilidade ecológica
generalizada, visível nos conjuntos de práticas e presente nas preocupações nas políticas de governos e empresas,
conhecidas como sustentabilidade.” Essa nova cultura ecológica remeteria, portanto, à “percepção de uma sinergia
reticular que não contrapõe mais o indivíduo ao território e ao meio ambiente, mas que parece substituir essa
oposição pelas dimensões interativas de relações interdependentes e comunicantes”.
8 O Google teve um importante papel não apenas no fornecimento das tecnologias, mas em todo o processo
de “inclusão digital” do povo Suruí. A empresa realizou treinamentos diversos ao longo do primeiro ano do projeto
que possibilitaram aos indígenas realizarem suas próprias produções em vídeos, fotos, textos e gravação de áudio,
Entre as tecnologias integradas ao projeto, destacam-se o Open Data Kit e o Google
Earth. Open Data Kit, software que foi utilizado em smartphones com Android doados pela
Motorola aos Suruí, permite a coleta e o gerenciamento de dados por meio de formulários
eletrônicos que congregam textos, dados numéricos, fotos, vídeos, códigos de barra e áudio em
um servidor online que adiciona a essas informações sua localização geográfica. Os dados
relativos à biodiversidade, topografia, hidrografia, quantidade de CO2 capturado, que são
captados e armazenadas pelos próprios indígenas através deste software são, em seguida,
disponibilizadas para visualização e edição no Google Earth9.
Os Suruí realizaram o etnomapeamento da região, ou seja, indicaram os locais culturais e
espirituais – onde caçam, pescam, os locais onde viviam antes do contato e inseriram essas
informações no Google Earth. O deslocamento pelo mapa Suruí digital oferece a qualquer
usuário, entre outras funcionalidades, a oportunidades de interação com narrativas audiovisuais e
textuais históricas e cosmológicas10 – sobre Guerras entre povos indígenas da região, o contato
com os Brancos, origem dos seres e do Universo – e com paisagens reproduzidas em terceira
dimensão, a visualização de problemáticas ambientais geograficamente contextualizadas e de
fotos e vídeos de rituais, fauna e flora da região. As informações indexadas ao mapa digital são
atualizadas em tempo real, pelos diversos pontos dispersos da rede, fomentando dinâmicas
imprevisíveis de atuação, ligadas a ideia de um território informativo que assume novos planos e
dimensões manipuláveis e provisórios.
A ação social indígena resultante do projeto Suruí, portanto, assume uma forma híbrida,
nem somente tecnológica e nem somente ligada ao seu território. Essa arquitetura interativa
digital da qual fazem parte o Open Data Kit, Google Earth, comunidade, profissionais do
Google, árvores e animais e suas cosmologias, torna disponível ao mundo, em tempo real,
informações sobre as transformações do território Suruí. As imagens de satélite já ajudaram a
identificar lugares onde há madeireiros e garimpeiros atuando ilegalmente e permitem com que a
rede de indígenas conectados revele ao mundo a devastação de suas terras e a concepção de uma
outra natureza, visível nos fluxos informativos desses territórios digitalizados.

editarem e distribuírem os dados na web.


9 O programa Google Earth está disponível a qualquer usuário de internet para download e instalação em
computadores e dispositivos móveis.
10 Referindo-nos à orientação teórica e prática do pensamento social do povo Suruí: suas mitologias,
concepção de pessoa, relação entre os seres do cosmos – animais, humanos, espíritos, fenômenos meteorológicos, os
idiomas simbólicos organizados em torno das substâncias que comunicam o corpo e o mundo. (Viveiros de Castro,
1992: 7).
Nesse sentido, a possibilidade de compartilhamento de conteúdos através de tecnologias
interativas digitais contribuiu para a participação ativa da sociedade em questões de interesse
coletivo e para a tomada de decisões colaborativas em direção à transformação do território, que
se torna agora habitável e manipulável digitalmente, configurando, assim, formas atópicas do
habitar11.
Assim sendo, o Projeto Suruí, em nossa perspectiva, expressa a emergência de uma
cultura digital nativa que reúne a tecnologia, o conhecimento indígena, a expertise empresarial
do Google e o território em um continuum incindível, indicando a formação de uma rede
sustentável de inovação em práticas socioambientais. Pode-se inferir que o Google Earth
Solidário inverte a lógica empresarial hierárquica de “responsabilidade social” definida como
“uma obrigação da parte da empresa para com a sociedade” (Scanlan, Apud Kunsch, 2003: 135),
já que a empresa deixa de se pensar como um ator privilegiado que deve cumprir determinadas
obrigações com a “periferia” – como serviços comunitários, doações ou controle ambiental (id,
ibidem), percepção relacionada a um social analógico e funcionalista, “resultado de interações
entre estruturas e entidades identitariamente distinguíveis e separadas por interesses e papeis”
(Di Felice, In: Kunsch & Kunsch, 2007: 42) e passa a entender-se como parte de uma rede maior,
em que a inteligência social e ambiental é construída a partir da interconexão de sujeitos,
território e tecnologias.
O Google se coloca, assim, como uma espécie de mediador (Latour, 2012), ao conectar
pessoas e causas sociais e ambientais mundialmente dispersas, transformando-as mutuamente.
Seu programa Solidário reconhece o poder do usuário em “mudar o mundo” e coloca sua
tecnologia e seus conhecimentos empresariais como um ator-rede12 que participa do processo de
mudança. Nada mais condizente com uma empresa que emerge e se sustenta a partir da
inteligência ecossistêmica das redes.

Conhecimento, redes e sustentabilidade: o campus, a empresa e a inovação em rede

11 Segundo Massimo Di Felice, o “habitar atópico”, característico das arquiteturas interativas digitais, “(...) se
configura como a hibridação, transitória e fluida, de corpos, tecnologias e paisagens, e como o advento de uma nova
tipologia de ecossistema, nem orgânico, nem inorgânico, nem estático, nem delimitável, mas informativo e
imaterial.” (Di Felice, 2009: 291)
12 A figura do ator-rede surge a partir do pensamento de Bruno Latour (2012) que, em linhas gerais, defende
a composição do social como uma vasta série de “atores”, dentre os quais os seres humanos não detêm nenhuma
espécie de privilégio. Com tal definição, Latour abre a possibilidade de pensar uma multiplicidade de elementos, de
naturezas distintas, que continuamente agem e recebem interferências, ao compor a rede em que circulam fluxos e
interconexões.
Analisando o papel da Universidade hoje, ocorre-nos considerar que, à vista das
transformações da produção e disseminação do conhecimento e das numerosas rupturas
paradigmáticas atravessadas (Thomas Khun), um campo científico não pode mais ser um
território informativo à parte do restante do mundo, em que os centros de pesquisa localizam-se
em cátedras distintas e divorciadas dos demais coletivos. Hoje, mais do que nunca, parece
afirmar-se a necessidade de discussão da manutenção da distinção entre pesquisador e objeto e
da centralidade do humano face à concepção das arquiteturas interativas digitais.
As implicações de tal raciocínio remontam, primeiramente, a uma crise epistemológica,
relacionada à crise do paradigma do método científico, responsável por uma visão mecanicista e
determinista do mundo e uma frontalidade na abordagem do objeto pelo sujeito-pesquisador que
praticamente definiu toda a metodologia de pesquisa e de referência de resultados científicos
desde o século XIX até pouco mais da metade do século XX, ou até o desenvolvimento de
teorias matemáticas e científicas que denotassem o primado da indeterminação e do relativismo 13
e trouxessem profundas discussões em torno da teoria do conhecimento.
A abordagem expressa por tal paradigma endossava a linearidade e a externalidade da
análise, ou melhor, uma forma do pensamento não-complexa e a projeção de um ponto de vista
único e distanciado sobre um objeto de estudo e, mais precisamente, uma perspectiva
essencialmente humanista – o contrário do que preconizarão, anos depois, já no final do século
XX, Bruno Latour e tantos outros pensadores do cabedal de Gregory Bateson, Martin Heidegger,
Michel Serres e Gilles Deleuze, por exemplo – implicando também em uma crise filosófica que
levaria às argumentações contestatórias da centralidade do homem no mundo e às inquietações
quanto ao destino do Planeta.
Num segundo momento, tais implicações dizem respeito a uma crise comunicativa –
aquela que se revelou quando do advento das tecnologias digitais, deslocando o eixo das
indagações do fluxo comunicativo unidirecionado emissor-receptor para as dinâmicas reticulares,
de modo que o caráter interativo dessas novas tecnologias implica a impossibilidade de
delimitação e de observação externa, e coloca pesquisador e seus membros como partes ativas e
intervenientes de um mesmo ecossistema informativo, constituído por redes de redes
interconectadas, impondo ao processo de investigação científica um salto qualitativo,
principalmente nos modos de organização e produção do conhecimento.
13 Lembremos aqui das teorias de Nicolai Lobacevski, de Werner Heisenberg e de Albert Einstein, por
exemplo, todos pensadores daquele período.
A digitalização do campo científico, portanto, possibilita a expansão de suas fronteiras
permeáveis em todos os lugares e propõe-nos uma construção colaborativa de novos significados
para palavras novas, e novas indicações para problemas persistentes, antes enfrentados com
instrumentais teóricos e conceituais fragmentadores e redutores da complexidade (Morin, 2008),
permitindo que os elementos informantes dessas redes de saberes sejam os coletivos habitantes
das arquiteturas interativas inteligentes.
As Redes de Inovação do programa Natura Campus, lançado em 2006, apontam para uma
singularidade associada aos novos processos contemporâneos de incubação do saber científico,
frequentemente alocados nos centros de pesquisa e laboratórios universitários: observa-se o
avançar de um novo modo, reticular e interativo, de organização e elaboração do conhecimento
e, em alguns casos, a tecnologia assume papel não apenas de atestadora dos fatos científicos, mas
de co-participante dos próprios processos investigativos que assumem gradualmente um caráter
transdisciplinar e coletivo, constituindo, assim, verdadeiros grupos de trabalho capazes de
conectar saberes de diversas fontes..
Assim, no que diz respeito à associação da organização empresarial à comunidade
científica, a proposta elaborada pelo programa Natura Campus, fundamentada nas parcerias
colaborativas confirma, de acordo com a sua proposta expressa no site, “o aprendizado e a
construção do relacionamento valoroso entre uma empresa e as instituições de ciência e
tecnologia onde ambas têm em comum a prática científica" de forma que não se fecham portas,
nem na universidade, nem no ambiente empresarial, à elaboração conjunta e à aplicação desse
dinamismo inovador.
O programa Natura Campus surge, assim, como resposta a um cenário onde imperam as
incertezas e instabilidades do mercado, substituindo a lógica do planejamento estratégico – com
seus objetivos bem definidos e resultados esperados – por projetos que remontam à perspectiva
de uma nova economia baseada em redes, que enfatiza como valor essencial a capacidade de se
conectar para produzir inovações (Jeremy Rifkin), apoiados na noção de “cocriação interativa ou
em rede”, de Augusto de Franco, que contribuiu para fundamentar o programa. Segundo Franco
(2012), seria necessária a ressignificação do conceito de cocriação no contexto das redes, já que
o termo foi continuamente empregado para designar processos de colaboração participativa
administrada por estruturas centralizadas – tudo giraria ainda em torno do negócio e das
vantagens competitivas dessa colaboração (Franco, 2012: 14). Por sua vez, a cocriação (idem,
ibidem) interativa apontaria para uma prática social baseada no desejo de interação, mais do que
para uma prática mercadológica, excederia o compartilhamento de experiências individuais ao
propor a projeção interativa de trabalhos comuns, partindo da contaminação (Maffesoli) ou do
que chama de polinização mútua distribuída entre os criadores, ou seja, não centralizada. Desse
modo, ter-se-ia uma lógica diversa do crowdsoursing de participação, em que empresas fechadas
propõem um problema e selecionam as melhores sugestões pelos grupos coordenados (o que se
assemelha a um processo de terceirização de soluções).
A “wikinomics”, ou economia de colaboração em massa, desenvolvida por Tapscott e
Williams (2008), já apontava para a superação do modelo de negócio industrial, baseado na
propriedade e na materialidade, e a emergência de uma nova economia em rede, fundamentada
na colaboração, que torna indistinguíveis produtores e consumidores, afetando todas as esferas
da sociedade e inaugurando uma era da colaboração generalizada. Um dos fenômenos analisados
pelos autores como expressão dessas novas formas de colaboração diz respeito justamente à
temática da sustentabilidade, quando do advento da web 2.0:
“A mudança climática está se tornando rapidamente um assunto
apartidário, e todos os cidadãos obviamente tem uma participação no
resultado. Então pela primeira vez nós temos um sistema de comunicação
de todos-para-todos, global, multimídia, acessível, e um assunto em que
está aumentando o consenso. No mundo todo existem cem, provavelmente
mil formas de colaboração acontecendo em que cada um, de cientistas a
crianças de escola primária, estão se mobilizando para fazer alguma coisa
sobre emissões de carbono. A aplicação fatal da colaboração em massa
parece estar se direcionando ao salvamento do planeta, literalmente.”
(idem, 2008: X, tradução nossa)
Nesse sentido, é possível entender o projeto Natura Campus como o resultado desse
imperativo contemporâneo: a combinação entre a colaboração em redes e a atuação relacionada à
sustentabilidade. A empresa reconhece que tanto suas práticas e políticas empresariais quanto
seus produtos passam a ser reconfigurados pela lógica colaborativa ecossistêmica da rede e abre-
se à interação com uma comunidade científica disposta a romper as barreiras institucionais para
produzir inovação para a sustentabilidade, resultando em novos produtos, em geração de valor de
marca e em oportunidades de negócios. Nesse caso, o conhecimento inovador torna-se resultado
do envolvimento de institutos de pesquisa, parceiros empresariais, processos colaborativos,
valores e temáticas socialmente compartilhados e divulgados através de várias redes sociais.
Mas é justamente aí que se faz necessário apontar algumas limitações do conceito
proposto por Franco que se refletem também no Portal do Natura Campus. As redes a que ambos
se referem parecem compreender nos seus propósitos apenas os atores humanos envolvidos no
processo de inovação – leiam-se pesquisadores externos e equipe de inovação da empresa –
sendo a tecnologia digital considerada apenas como um suporte para promover a divulgação e o
repasse de informações entre ambos. Seria interessante, por exemplo, que o Portal do projeto
contasse com a existência de ambientes virtuais colaborativos em que uma rede ampla, composta
por pesquisadores envolvidos, pela sociedade e por colaboradores e fornecedores da empresa,
pudesse interagir, dando maior visibilidade às pesquisas em comum e gerando, de fato, um
ambiente cocriativo, ao invés de ser apenas um ambiente de repasse e atualização de
informações. Nesse território inteligente digitalizado, as tecnologias seriam tomadas como
actantes que impactam o próprio processo de criação de inovação, o território e os indivíduos, e o
conceito de inteligência coletiva, que ainda remete a uma concepção centrada no humano, se
definiria enquanto uma inteligência reticular, conectando todos os coletivos (Latour).

Conclusões
Na atualidade, assistimos o desenvolvimento de uma cultura e um pensamento reticular e
identificamos, nos diversos coletivos, atores de uma rede complexa de inteligências, territórios e
tecnologias. Nesse sentido, ao nos referirmos a conhecimento, comunicação, sustentabilidade e
responsabilidade social, parece-nos não ser mais possível pensar as instituições e organizações
como centros difusores de informações sobre sustentabilidade e responsáveis pela concepção de
práticas socioambientais a serem adotadas pela sociedade em geral e por comunidades locais,
nem suficiente apenas realizar ações de promoção e divulgação massiva dos selos e projetos
menos danosos ao meio ambiente e de interferência educativa e cultural nas comunidades do
entorno. Pelo contrário: faz-se imprescindível construir uma cultura ecossistêmica do
conhecimento que permita que comunidades, universidades e empresas, além do próprio
ambiente, participem ativamente de redes de inovação que conjuguem saberes e práticas diversas
para a sustentabilidade por meio das tecnologias digitais.
O resultado da consciência de habitar esses novos territórios reticulares e interagir em
arquiteturas interativas altera profundamente o papel das universidades e das empresas na
sociedade, ampliando sua atuação e expandindo seus projetos e negócios, como nos demonstram
os casos analisados.
Entendemos que, mais do que uma ação de responsabilidade social idealizada por uma
empresa, cada projeto atende a demandas sociais de comunidades como a Suruí e contribui
efetivamente para transformar os processos de criação do conhecimento e disseminação de
informações e problemáticas de interesse público e ambiental, como no caso do Natura Campus.
No caso do Google, uma empresa que nasceu nas e das redes digitais, a cultura
colaborativa é intrínseca aos seus processos “produtivos” ou informativos – especialmente no
que diz respeito a desenvolvimento de softwares, criação de arquiteturas informativas
geográficas como o Google Earth e alimentação de informações na rede. Por esta razão, sua
atuação pela sustentabilidade relaciona-se diretamente com as potencialidades de colaboração
entre saberes e interação com o território oferecidas pelas tecnologias comunicativas digitais.
Já na Natura, o posicionamento estratégico da empresa, desde o início, caracterizou-se
por um modelo de negócio que investe em pesquisa e estratégias de inovação sustentáveis,
envolvendo desde a extração de insumos até o desenvolvimento dos produtos e das embalagens,
a fim de enfrentar os desafios sociais e ambientais que constantemente se impõem e se renovam,
pensando a sustentabilidade como oportunidade para seu crescimento econômico e como valor
empresarial e social.
Os casos analisados apontam, portanto, para a emergência de uma cultura da
interdependência e conectividade no interior das organizações que passam a enxergar a
sustentabilidade não apenas como questões ambientais, sociais e econômicas relacionadas ao
negócio ou ao território, mas como resultado de um novo social reticular, que, em nossa
concepção, não é mais somente humano, mas também tecnológico e ambiental.
As arquiteturas interativas inteligentes, como parte fundamental desse processo,
fomentam transformações que não se circunscrevem às ações planejadas pelas empresas, mas
estendem-se por todo o território de suas conexões, seus setores e colaboradores, afirmando
relações interdependentes, propondo práticas inteligentes em rede, pressupostos para o
desenvolvimento de uma “sustentabilidade conectiva”, onde todas as práticas e intenções
contemplam o interesse de todos os coletivos, superando, portanto, o modo de inteligência
dissociada atual, que vem caracterizando as relações entre homem, tecnologia e território, e dá-se
a conhecer pelos seus efeitos.

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A sustentabilidade social, cultural e econômica de comunidades tradicionais
e empreendimentos econômicos solidários.
The social, cultural and economic sustainability of the traditional communities and
solidary economic ventures.

Seila Cibele Sitta Preto; Mestre; Universidade Estadual de Londrina;


cibelesittap@gmail.com

Ana Luisa Boavista Lustosa Cavalcante; Doutoranda Universidade Federal de


Santa Catarina; Universidade Estadual de Londrina;
anaboavista@uel.br

RESUMO
O conhecimento desenvolvido, ao longo das gerações, por comunidades tradicionais
incluídas em programas municipais de economia solidária é relevante fator de produção
em empreendimentos econômicos solidários que buscam inserção socioeconômica em
um sistema globalizante. Este artigo visa apresentar a importância da consciência das
dimensões social e cultural da sustentabilidade em relação às dimensões econômica e
ambiental, tanto para tais empreendimentos, como para profissionais que os
acompanham. Para tanto, foram desenvolvidas pesquisas bibliográficas e de campo,
utilizando a entrevistas semiestruturadas. O estudo apontou que os empreendimentos
acompanhados tiveram como fragilidades a identificação, a divulgação, a autogestão do
empreendimento e dos produtos por eles desenvolvidos, assim como o entendimento e
disseminação do que é a economia solidária na sociedade. Para tanto, foi desenvolvido
um quadro diagnóstico que demonstra qualitativamente tais fragilidades.

Palavras-chave: Sustentabilidade social; Sustentabilidade cultural; Sustentabilidade


econômica; Comunidades Tradicionais; empreendimentos econômicos solidários.

ABSTRACT
The knowledge developed over generations by traditional communities included in
municipal programs for Solidarity Economy is important factor of production in
solidary economic ventures seeking socioeconomic status in a globalizing system. This
paper aims to present the importance of awareness of the social and cultural
dimensions of sustainability in relation to economic and environmental dimensions,
both for ventures these like for professionals who assist them. To this end, were
developed bibliographical researches and field researches, utilizing the semi-structured
interviews. This study pointed out that the ventures have had accompanied by
weaknesses as the identification, the disclosure, the self-management of the venture and
related products that developed by them, as well as the understanding and
dissemination of what is the solidary economy in the society. Therefore, we developed a
diagnostic framework that demonstrates qualitatively such weaknesses.

Keywords: Social sustainability, cultural sustainability, economic sustainability,


Traditional Communities; Ventures economic solidarity.

1. Introdução
A respeito do tema sustentabilidade, verifica-se que no imaginário das pessoas
ocorre a dimensão ambiental em sua totalidade. Tal dimensão possui grande
conhecimento e disseminação, embora necessite ainda de ações concretas nas
sociedades. A sua importância no contexto do desenvolvimento sustentável deve ser tão
relevante quanto às dimensões social e econômica, pois em conjunto resultam no “tripé”
da sustentabilidade. Em alguns casos, para atingir a sustentabilidade nestas três
dimensões, é necessário identificar em qual cenário estamos atuando.
O cenário presente é das comunidades tradicionais e dos empreendimentos
econômicos solidários. Estes fazem parte de um programa social governamental de um
município do norte do Paraná, os quais são oportunizados para gerar trabalho e renda,
além de serem acompanhados por assessoras técnicas para o seu desenvolvimento e
atuação em atividades e inserção mercadológica.
As comunidades tradicionais possuem produção local e aplicam nos artefatos os
conhecimentos tradicionais que são da cultura herdada de geração a geração. Muitas não
possuem conhecimentos suficientes que contribuirão para a inserção mercadológica e
valorização de seus produtos. Já os empreendimentos econômicos solidários são
formados por pessoas que estão excluídas do mercado de trabalho ou em
vulnerabilidade social. Muitos fatores influenciam no comprometimento e desempenho
destes empreendimentos, dentre eles a baixa autoestima, problemas socioeconômicos,
doenças entre outros.
Estas comunidades e os empreendimentos econômicos solidários estão inseridos
em culturas distintas, entretanto com situações da realidade bem aproximadas, como: a
falta de autoestima em relação ao sua origem e cultura, a perda de identidade, além da
perda do saber tradicional, passado de geração a geração. Tais comunidades dependem
do desenvolvimento do produto artesanal para sua subsistência.
A sustentabilidade na dimensão econômica é fator crucial para a sobrevivência,
entretanto os aspectos culturais e sociais precisam ser valorizados pelos próprios
membros.
O trabalho artesanal em comunidades tradicionais desempenha um papel
importante de identidade cultural e tem como finalidade a produção de renda, além da
disseminação do conhecimento da identidade territorial com a aplicação de suas origens
e tradições em produtos. Estes carregam o conhecimento local e tradicional que deve ser
interpretado por meio da estética, funcionalidade e pela sua essência.
Diante desse contexto, este artigo visa apresentar a importância da consciência
das dimensões social e cultural da sustentabilidade em relação à dimensão econômica,
tanto para as comunidades e empreendimentos, como para os profissionais que
acompanham tais empreendimentos. O intuito é a sobrevivência e a inserção desses
empreendimentos de forma digna no mercado de trabalho.
Por meio de uma pesquisa bibliográfica, este estudo se fundamenta nas
dimensões da sustentabilidade e utiliza como técnica de pesquisa a entrevista
semiestruturada que é aplicada em empreendimentos econômicos solidários da região
do norte do Paraná. Neste sentido, para que as comunidades e os empreendimentos
sejam inseridos no mercado, além de terem consciência de seu valor para o crescimento
sustentável do próprio grupo, devem ter visão da importância do crescimento local e
regional e do programa de economia solidária que os envolvem.

2. Comunidades tradicionais e os empreendimentos econômicos solidários (EES)


O conhecimento tradicional é um conjunto de práticas compartilhadas e
transmitidas entre indivíduos de uma comunidade que passam saberes autóctones ao
longo das gerações, utilizando elementos do próprio território. Também pode ser
definido como

um conjunto cumulativo de experiências, práticas, entendimentos e


interpretações sobre pessoas, plantas, animais e o meio ambiente -
transmitido de geração em geração. Tem sido desenvolvido e mantido por
povos com histórias extensas de interação com o meio ambiente natural,
formando um complexo cultural de linguagem, nomenclatura e sistemas de
classificação, práticas de utilização dos recursos, espiritualidade e visão do
mundo. Esta rica fonte de conhecimento serve como base de informação para
a sociedade, facilitando a comunicação e a tomada de decisão (ICSU 2002,
FLAVIER et al. 1995).

A comunidade tradicional é aquela que, culturalmente, é reconhecida por sua


herança de tradição. Exemplificam-se os indígenas, quilombolas, caiçaras, açorianos
etc. Estes ocupam e usam seus territórios e recursos naturais para reprodução cultural,
utilizando-se de conhecimentos gerados e transmitidos pela tradição, segundo o Decreto
Brasileiro nº 6.040 de 7 de fevereiro de 2007, Art. 30.
Há outras denominações tais como os termos “conhecimento local”,
“conhecimento indígena”, “conhecimento tradicional” ou mesmo “etnociência” que têm
surgido com frequência na última década. Estes termos têm com objetivo chamar a
atenção para a pluralidade de sistemas de produção de saber e para a sua importância
nos processos de desenvolvimento. Considera-se uma nova situação, pois, “até
recentemente, os cientistas sociais não reconheciam as formas locais de conhecimento
como centrais ao processo de desenvolvimento. (AGRAWAL, 1995; WARREN et al,
1995 apud SANTOS, 2005, p. 32)”.
Para o ordenamento jurídico nacional a conceituação de “Povos e Comunidades
Tradicionais” as considera como:

I […] grupos culturalmente diferenciados e que se reconhecem como tais,


que possuem formas próprias de organização social, que ocupam e usam
territórios e recursos naturais como condição para sua reprodução cultural,
social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando conhecimentos, inovações
e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (OCARETE, 2011).
Para o reconhecimento dos seus direitos, promovido pelo Decreto nº 6.040 de 7
de fevereiro de 2007, Art. 30, os seus territórios como sendo:

II […] os espaços necessários a reprodução cultural, social e econômica dos


povos e comunidades tradicionais, sejam eles utilizados de forma permanente
ou temporária, observado, no que diz respeito aos povos indígenas e
quilombolas, respectivamente, o que dispõem os arts. 231 da Constituição de
68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias e demais
regulamentações. Ao adotar as formulações acima a pesquisa tem como
preocupação respeitar a diversidade sócio-cultural e étnica que se manifestam
entre os diferentes povos e comunidades. (OCARETE, 2011).

Algumas das comunidades tradicionais estão incluídas em programas de


economia solidária. Este é o caso de alguns empreendimentos econômicos solidários
estudados neste trabalho em que a economia solidária se apresenta como outro tipo de
economia, que está a favor da inclusão social, por meio da geração de trabalho e renda.
Para o MTE, a economia solidária é uma

alternativa um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é


preciso para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem
destruir o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no
bem de todos e no próprio bem (MTE, 2013).

A economia solidária possui uma diversidade de práticas econômicas e sociais.


Estas são organizadas

sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, empresas


autogestionárias, redes de cooperação, entre outras, que realizam
atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças
solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário (MTE, 2013).

Esta economia se torna solidária, devido a sua concepção. Possui princípios que
regem e a diferencia de outras economias, sendo estes: a cooperação, a autogestão, a
atividade e/ou dimensão econômica e a solidariedade.
- Cooperação: os participantes possuem “interesses e objetivos comuns, a união
dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a
responsabilidade solidária” (MTE, 2013).
- Autogestão em que os participantes devem exercer práticas de “autogestão dos
processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da
direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses” (MTE, 2013).
- Dimensão Econômica: Envolve o conjunto de elementos de viabilidade
econômica, permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos
culturais, ambientais e sociais (MTE, 2013).
- Solidariedade em que é alcançada e expressada de acordo com a justa
distribuição dos resultados obtidos, pelo desenvolvimento das capacidades e condições
saudáveis de vida dos participantes, pelas relações com a comunidade local, com o
desenvolvimento sustentável, sendo este territorial, regional e nacional, entre outros
(MTE, 2013).
De acordo com as características descritas sobre a concepção da economia
solidária, esta deveria ser uma economia protegida, contudo seus empreendimentos
econômicos solidários são inseridos mercadologicamente em uma economia capitalista,
deixando-os inseguros em relação a competitividade deste sistema e estrutura das
organizações do mesmo segmento, que dominam o mercado, não deixando os
empreendimentos econômicos solidários (EES) ganharem seu espaço e mostrarem o seu
trabalho, disseminando a economia solidária.
Para avaliação de produtos de comunidades tradicionais e locais, no escopo do
desenvolvimento sustentável, existem seis dimensões de valor, defendidas por Krucken
(2009, p. 27-28):
1. Valor funcional ou utilitário – mensurado por atributos objetivos –
caracteriza-se pela “adequação ao uso”. [...] sua composição, origem e
propriedade de segurança de consumo [...];
2. Valor emocional – de caráter subjetivo – incorpora motivações
ligadas as percepções sensoriais [...] e ainda a dimensão “memorial”
relativa a lembranças positivas e negativas de acontecimentos
passados;
3. Valor ambiental – referente à prestação de serviços ambientais por
meio do uso sustentável dos recursos naturais;
4. Valor simbólico e cultural – relaciona-se com a importância do
produto nos sistemas de produção e de consumo, das tradições e dos
rituais, [...] significados espirituais e origem histórica [...] e a condição
de interpretação do produto em um referencial estético;
5. Valor social – relaciona-se com os aspectos sociais que permeiam
os processos de produção, comercialização e consumo dos produtos
[...] valores morais dos cidadãos e atuação e a reputação das
organizações na sociedade [...];
6. Valor econômico – de caráter objetivo – baseia-se na relação
custo/benefício em termos monetários.

De acordo, com as dimensões de valor apresentadas verificou-se a necessidade


de levantar as fragilidades dos EES e sua relação com as dimensões social, cultural e
econômica da sustentabilidade.

3. Sustentabilidade social, cultural e econômica


A sustentabilidade está transformando o modo de gestão e o relacionamento das
organizações com meio ambiente, e com as pessoas de dentro e fora da organização,
corrobora Savitz (2007).

a antiga visão de negócios, segundo a qual o desempenho financeiro


era considerado o único critério de avaliação das empresas, esta sendo
considerada, a curto prazo, inadequada para atender as demandas de
um mundo interdependente e, a longo prazo, fator determinante do
insucesso (SAVITZ, 2007, p.229).

O autor ainda diz que a sustentabilidade significa “operar a empresa, sem causar
danos aos seres vivos e sem destruir o meio ambiente, mas, ao contrário, restaurando-o e
enriquecendo-o”. Logo, a visão da sustentabilidade está relacionada aos resultados das
dimensões ambiental, social e econômica que são fatores decisivos em uma organização,
perante as atitudes e seus impactos operacionais, de acordo com Savitz (2007, p.3).
O crescimento econômico e o sucesso financeiro geram benefícios para as
pessoas e para a sociedade, no entanto valores humanos como o crescimento intelectual,
o desenvolvimento moral, entre outros são importantes. Nesse sentido, a
sustentabilidade pode ser definida como “a arte de fazer negócios num mundo
independente” promovendo o crescimento, gerando lucro para as empresas e pessoas
envolvidas ou não com as mesmas (SAVITZ, 2007, p.2).
A sustentabilidade, conforme Manzini (2008, p.19), requer uma descontinuidade
sistêmica em que a sociedade precisa se desenvolver a partir da redução de níveis de
produção e consumo material simultaneamente com a melhoria da qualidade do
ambiente social e físico. É necessário, para tanto, um processo de aprendizagem social
difuso de modo a atingir as dimensões sociotécnicas, a saber: “a física (fluxos materiais
e energéticos); a econômica e a institucional (a relação entre os atores sociais); e a ética,
estética e cultural (os valores e juízos de qualidade que lhe darão legitimidade social)”
(MANZINI, 2008, p.19; MANZINI e VEZZOLI, 2005, p.31).
A dimensão sociotécnica física tem relação com a dimensão ambiental que, de
acordo com Manzini e Vezzoli (2005, p. 27-31), refere-se às condições sistêmicas em
que as atividades humanas não devem interferir na resiliência dos ciclos naturais e nem
empobrecer o capital natural transmitido às gerações futuras. Isto coloca em discussão o
atual modelo de desenvolvimento em que o bem-estar e a economia passem para uma
dinâmica de redução de produção de produtos materiais.
Sobre a dimensão cultural da sustentabilidade, ressalta-se o conceito de cultura
de Werthein (2003, pp. 13-14), que cita um dos resultados da Conferência do México e
conceitua “cultura como o conjunto de características espirituais e materiais,
intelectuais e emocionais que definem um grupo social. (...) engloba modos de vida, os
direitos fundamentais da pessoa, sistemas de valores, tradições e crenças”.
A sustentabilidade cultural não está somente relacionada à origem do produto,
tradições de saberes, mas ao caráter de sustentabilidade de cultura organizacional de um
empreendimento. Para Neville e Drumond (2010, p.43), “cultura é o padrão de
desenvolvimento da organização que se reflete nos sistemas sociais de conhecimento,
ideologia, valores éticos, normas e rituais cotidianos”.
A sustentabilidade econômica para os empreendimentos econômicos solidários
quanto para as comunidades tradicionais demonstra sua importância frente à situação de
vulnerabilidade social presente que impede o desempenho do grupo como todo, não
valorizando seu trabalho e produção em aspectos, tais como: o social e o cultural.
Nesse sentido, a dimensão social e cultural da sustentabilidade está diretamente
relacionada à melhoria da qualidade de vida, à redução das desigualdades e às injustiças
sociais e à inclusão social, corrobora Cavalcanti et al (2009, p.71).

4. Procedimentos Metodológicos
Para a fundamentação teórica do presente artigo foi utilizada como estratégia a
pesquisa bibliográfica e no levantamento de campo realizada a técnica de pesquisa
denominada entrevista semiestruturada, com os integrantes dos empreendimentos
econômicos solidários. Foram abordados temas sobre a sustentabilidade dos
empreendimentos relacionada com as dimensões da sustentabilidade social, cultural e
econômica. Durante a entrevista foram identificadas as fragilidades dos EES, para
posteriormente, construir um quadro diagnóstico que demonstra este
interrelacionamento.

5. Resultados
Diante deste cenário, o presente estudo identificou fragilidades nos
empreendimentos econômicos solidários participantes da pesquisa de campo nas
dimensões social, cultural e econômica da sustentabilidade, sendo estas: a identificação,
a divulgação, a autogestão do empreendimento e dos produtos por eles desenvolvidos,
assim como o entendimento e disseminação do que é a economia solidária na sociedade.
Desta forma, foi desenvolvido o quadro diagnóstico abaixo que demonstra
qualitativamente tais fragilidades, relacionando-as com as dimensões social, cultural e
econômica da sustentabilidade.

Quadro 01 - Categorização das fragilidades dos EES nas dimensões da sustentabilidade.

Fonte: própria (2013).


6. Considerações Finais
A sustentabilidade no dia a dia está relacionada com a estratégia, a gestão e o
lucro dos EES e das comunidades tradicionais. Os produtos desenvolvidos pelos
empreendimentos representam sua cultura, tanto em aspecto material, como imaterial,
como o saber fazer, a organização e gestão do que se produz.
Nesse sentido, este artigo apresenta por meio da pesquisa bibliográfica as
dimensões da sustentabilidade social, cultural e econômica pesquisadas nos EES e
comunidades tradicionais. Realizaram-se entrevistas semiestruturadas com os
integrantes dos empreendimentos solidários e desenvolvido um quadro diagnóstico com
a categorização e interrelacionando com as dimensões da sustentabilidade.
Diante desse cenário, percebe-se, de acordo com Savitz (2007), que é preciso
desenvolver uma cultura de sustentabilidade nos empreendimentos econômicos
solidários e comunidades tradicionais, com atitudes sutis ou aprofundadas, para que os
mesmos possam evoluir a um novo modo de agir e pensar as dimensões da
sustentabilidade.
O aspecto comunicação agrega valor ao saber fazer artesanal e origem do
produto. No entanto, se as dimensões sociais e culturais não forem trabalhadas nos EES
e comunidades tradicionais, sua inserção mercadológica será afetada por não terem
condições de apresentar seu próprio produto para venda e, consequentemente, a
sustentabilidade econômica não ocorrerá de modo eficaz, dificultando a inclusão social,
cultural e mercadológica dos EES no mercado.

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Design consciente, para um futuro sustentável

*Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima


Doutoranda em Engenharia de Materiais
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: pilolima@hotmail.com

Ruth Marlene Campomanes Santana


Professor do Departamento de Materiais
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: ruth.santana@ufrgs.br

Resumo

Escolher o tipo de material para a execução de um determinado design muitas vezes não é
uma tarefa fácil, devido à variedade de opções que podem ser encontradas: naturais, metais,
polímeros ou mesmo a combinação deles.

Embora a maior parte dos materiais disponíveis esteja no mercado há varias décadas, não
incluindo modificações substanciais em sua formulação básica ou sem manuseio, as vezes
nota-se que muitos não possuem um conhecimento completo e adequado ao uso de cada
material.

Neste caso específico o planeamento é a execução de um "Estúdio de gravação". De


conformidade com as características e exigências específicas existem alguns materiais para
sua utilização. As opções de escolha são a cortiça (aglomerado de cortiça) e a lã de vidro.

Abstract

Choose the type of material for the execution of a particular design is often not an
easy task due to the variety of options that can be found: natural, metals, polymers or
even a combination of them.

Although most of the materials are available in the market for decades, not including
substantial changes in its basic formulation or without handle, sometimes it is noted
that many trade professionals do not have a complete knowledge and appropriate use
of each material.

In this particular case the project is executing a "Recording studio". In accordance


with the characteristics and requirements there are some materials for your use. The
options are choosing cork (cork agglomerate) and glass wool.
Introdução
O século XXI, tem sido considerado o século do meio ambiente, pois hoje, é de
conhecimento universal que os problemas ecológicos condicionam a cada vez em maior
proporção os processos industriais e o desenvolvimento, sendo assim, a preocupação
ambiental tornou-se uma constante global, o recurso a materiais ecológicos, recicláveis,
renováveis e biodegradáveis e a necessidade de aplicar processos sustentáveis tem se
transformado numa prioridade. O designer tem a propriedade de criar algo novo, melhorar
algo existente, mais de qualquer maneira deve projetar com sabedoria prevendo as
consequências ambientais, ecológicas a partir dos seus produtos e processos utilizados. É de
vital importância que os profissionais se questionem a cerca de qual é o impacto do seu
projeto sobre o ambiente e se conscientizem que todos temos uma responsabilidade ecológica,
pois a nossa sobrevivência depende do cuidado imediato ao meio ambiente. O propósito do
design é desenvolver produtos, ferramentas, utensílios, artefatos, maquinarias, entre outros,
por tanto esta atividade desempenha uma influência direta sobre o meio ambiente; assim esta
tarefa deve funcionar como uma ponte entre as necessidades humanas atuais e a conservação
do meio ambiente para um futuro mais seguro. Sendo assim o design sustentável é definido
como um conjunto de ferramentas, conceitos e estratégias com o propósito de desenvolver
soluções para a geração de uma sociedade voltada para a sustentabilidade. Não pode existir
sustentabilidade numa sociedade quando se destrui os bens da natureza ou quando a riqueza
de um sector se logram sacrificando outro. Existem fases neste processo que devem ser tidos
em conta para chegar a um design sustentável, entre eles: A escolha dos materiais é decisiva,
pois, existem muitas opções com diferentes consequências ecológicas e ambientais, aqueles
chamados amigos do meio ambiente são sempre a melhor alternativa. Os processos de
fabricação, evitar processos que possam produzir fumos tóxicos ou materiais radiativos,
eliminar ou minimizar poluentes atmosféricos que provoquem a chuva acida, evitar que os
resíduos líquidos se infiltrem no solo ou penetrem no sistema de abastecimento de água.
Embalagem a escolha deve ser feita considerando os materiais e métodos criando uma
embalagem adequada para o transporte, comercialização e distribuição desde o ponto de vista
ecológico. Produto final, um mesmo objeto pode ter muitas versões, esta profusão pode
causar uma ameaça ambiental, pois na maior parte do processo de fabrico de produtos
industriais se consumem matérias primas insubstituíveis. Avaliação do ciclo de vida, a
utilização, recolha do produto após o uso e finalmente sua possível reutilização ou
reciclagem e o destino final deste produto, devem fazer parte do processo de concepção de
design.

1. Ecodesign
Uma nova cultura ambiental tenta chegar a os diferentes sectores, de forma lenta mais
imparável. Profissionais como designers, engenheiros, ambientalistas, precisam tomar
decisões que incorporem critérios de sustentabilidade ambiental em seus produtos, processos
e serviços; com a mesma intensidade com que incorporam critérios funcionais, estéticos,
económicos, ergonómicos.
Assim o ecodesign, como metodologia de aplicação de melhoras ambientais ao longo do ciclo
de vida de um produto, desde a conceição, seleção de materiais, processo de fabricação,
embalagem, transporte, uso e tratamento final; surge adoptando um papel estratégico,
transformando-se em motor de inovação clave no caminho à sustentabilidade e o consumo
responsável.

1.1 Conceito: Tratasse de projetar produtos que utilizem materiais com menos impacto
ambiental, utilizando produções mais limpas, que incorporem melhoras ambientais na
distribuição e que minimizem impactos durante o uso e descarte. Há uma preocupação global
em implantar este tipo de conceitos, surgem assim normas e padrões, entre elas - norma
internacional de ecodesign - ISO 14006 “ Gestão ambiental do processo de design e
desenvolvimento. Ecodesign”. European Quality Assurance (2011);

Esta norma surge para estimular o reconhecimento das empresas que incorporem critérios
ambientais no design e desenvolvimento de produtos e serviços
Objetivos da norma
• Minimizar impactos ambientais gerados por produtos ou serviços desde seu design,
promovendo um enfoque preventivo
• Sensibilizar ao mercado sobre a importância do impacto ambiental gerado por
produtos e serviços, estimulando a informação ativa por parte de empresas produtoras
• Incentivar uma mudança de perspectiva, passando do enfoque fundamentado nos
aspectos ambientais associados à fabricação do produto, à uma identificação mais
abrangente na que se incorporam os gerados em outras etapas do ciclo de vida.
• Instituir uma sistemática que assegure a melhora ambiental continua no design de
produtos e serviços.
• Facilitar um distintivo às empresas, com certificações, que acrescente vantagem
competitiva no mercado.
Fonte: European Quality Assurance (2011); Rohrssen (2012)

Incluir o ecodesign nos produtos e processos garante:


Melhora continua dos aspectos ambientais relacionados com seus produtos
Consideração de todos os aspectos ambientais ao longo do ciclo de vida: seleção de materiais,
produção, distribuição, uso, manutenção e fim de vida
Uma gestão de design que obtém produtos que contribuem no desenvolvimento sustentável
de forma eficaz
Dispor de informação direcionada a os usuários, recicladores com a finalidade de reduzir o
impacto durante etapas como uso e disposição final dos produtos

Segundo Markus Lhni, (1999), Ecoeficiência em uma empresa é quando esta oferece produtos
e serviços a um preço competitivo, satisfaz as necessidades humanas, incrementando sua
qualidade de vida, e reduzindo progressivamente o impacto ao meio ambiente e a intensidade
de recursos ao longo do seu ciclo de vida, ao menos, até o nível da capacidade de carga do
planeta.

Capacidade de carga do planeta é a possibilidade que tem o planeta de fornecer recursos e de


assimilar e processar contaminantes.

O ciclo de vida deve ter como objetivos:


Reduzir a intensidade de utilização de matérias primas
Reduzir a intensidade de uso de energia
Oferecer qualidade de vida
Reciclar – reutilizar os materiais
Aumentar a intensidade de serviço dos seus produtos e serviços
Reduzir o impacto ambiental e à saúde

Na seguinte tabela, se apresentam as diferentes etapas involucradas no desenvolvimento de


produtos:
Tabela 1. Etapas do desenvolvimento de produtos
Fonte: Adaptado de Abele et al. (2008)

Na etapa de projeção se define entre 70 e 85% do custo total de uma produto, e também se
determina aproximadamente 70% do impacto ambiental ao longo do ciclo de vida. Rebitzer et
al (2004)

2. Estudo de caso: Escolha do material aplicado a um "Estudo de gravação"


Lã de vidro vs Cortiça

2.1 Aplicação: Estúdio de gravação


• Conceito: Eco-design
Tendência crescente não só na área do design, mas também nas áreas da arquitetura e da
engenharia, que projeta e desenvolve novos espaços, produtos, serviços e metodologias
que sejam sustentáveis e minimizem assim o impacto ambiental.

2.1.1 Estúdio de gravação: é um ambiente físico destinado à gravação de som.


Idealmente, o espaço é projetado com propriedades acústicas especiais entre outras:
difusão sonora- baixo nível de reflexões – reverberação adequada
Um estúdio de gravação típico consiste de:
• uma sala o "estúdio": onde os instrumentistas e vocalistas fazem suas
execuções.
• sala de controle: onde estão os equipamentos de gravação e manipulação do
som.
• salas menores chamadas "cabines de isolamento", que se prestam à
acomodação de instrumentos altos como uma bateria ou amplificadores de
guitarra, de modo a isolados da captação dos microfones que capturam o som
dos outros instrumentos ou vocalistas.

2.1.2 Características da aplicação:


• Isolamento acústico: Isolamento acústico refere-se ao conjunto de materiais,
técnicas e tecnologias desenvolvidas para isolar ou diminuir o nível sonoro
de um determinado ambiente. O isolante acústico permite proporcionar uma
proteção contra a penetração do ruído ou seja evita que o sound saia ao
exterior.

• Absorção acústica: se refere à absorção de som para ele não ser refletido;
num estúdio de gravação esta absorção deve ser controlada para ter um bom
conforto acústico e melhora da própria acústica do local, controlando o tempo
de reverberação (eco), isto é condicionamento acústico.

2. 2 materiais para a execução do estúdio de gravação:

2.2.1 lã de vidro

Figura 1. Lã de vidro
Fonte: Tecnit, 2011

Material mineral fibroso, provem de uma substancia liquida inorgânica obtida através de um
composto básico de vários elementos: SiO2 (areia de sílica)- Na2CO3 (Carbonato de sódio)
Na2SO4 (Sulfato de Sódio) – K (Potássio) - CaCO3 (Carbonato de Cálcio) – Mg (Magnésio).
Estes elementos lhe conferem as suas características próprias, que em alto forno são elevados
uma temperatura de aproximadamente 1500⁰C, formam uma massa em estado plástico de
altíssima viscosidade, que aumenta a medida que arrefece, mantendo-se em estado de sobre
fusão sem cristalizar. Fonte: Ladevidro, 2011

A lã de vidro pode ser apresentada na forma de mantas que, ao serem instaladas,adquirem a


forma da superfície a isolar.
• Características técnicas

Coeficiente de condutividade térmica (k) a 24°C:


Densidade 12 Kg/m3: k= 0,045 W/m°C; (k baixo)
Densidade 16 Kg/ m3: k= 0,042 W/m°C; (k baixo)
Densidade 20 Kg/ m3: k= 0,038 W/m°C; (k baixo)

• Propriedades acústicas:
Para considerar se um material é bom isolante acústico, se considera a rigidez e resistividade
ao fluxo de ar.
A lã de vidro mineral alcança valores de rigidez muito baixas devido a sua alta elasticidade.
Produtos rígidos não são eficazes. O recurso intrínseco do produto que avalia esta propriedade
é a rigidez dinâmica (s´=Edyn/d) expressada em MN/m3.
A outra propriedade acústica a ter em conta e sua resistividade ao fluxo do ar. Para este valor
ser óptimo deve estar entre 5 – 10 KPas/m2 , abaixo de 5 KPa s/m2 o material (isolante) não
proporciona amortecimento acústico suficiente, e por cima de 10 KPas/m2 A transmissão de
ruído seria preponderante mente por via solida por tratar-se de um material demasiado
compacto, por tanto a lã de vidro cumpre com todas estas propriedades.
• Performance:
Por ser um material fibroso, a lã de vidro é um dos melhores materiais para o tratamento
acústico, podendo ser usada na isolação acústica, que é a construção de barreiras para evitar a
transferência de uma onda sonora (ruído) de um ambiente para o outro ou na absorção
acústica, que é um tratamento aplicado para melhorar a qualidade acústica dos ambientes.

Quando uma onda sonora entra em contato com a lã de vidro, ela é facilmente absorvida,
devido à porosidade da lã. Além disso, ocorre uma fricção entre a onda e a superfície das
fibras. Essa fricção converte parte da energia sonora em calor, ou seja, a lã de vidro faz com
que a energia sonora perca intensidade, o que resulta em um aumento de absorção ou da
isolação sonora. Tal fenômeno de absorção e fricção em conjunto não ocorre com outros
materiais não-fibrosos.

• Vantagens:

É leve, fácil de manusear e de cortar;


São incombustíveis, evitando a propagação das chamas e o risco de incêndio
Reduz o consumo de energia do sistema de ar condicionado
Isolante acústico- térmico
Proporcionam soluções com variedade de acabamentos-cores- estética ao ambiente
Não atacam as superfícies com as quais estão em contato
Não favorecem a proliferação de fungos ou bactérias
Não deteriora, nem apodrece
Não é atacada nem destruída pela ação de roedores
Não tem o desempenho comprometido quando exposto à maresia
Sua capacidade isolante não diminui com o passar do tempo

• Desvantagens:

A sua produção esta associada a geração de partículas para a atmosfera e a emissão de


gases tipo NOx, SO2 e CO2.
Implica gastos significativos de energia e água
Quando da aplicação se recomenda a utilização de vestuário adequado, este material é
nocivo para a pele e olhos. Fonte: Mekol, 2011

2.2.2 Material: Aglomerado de cortiça

Figura 2 – Aglomerado puro de cortiça expandida


Fonte: Amorim, 2009

É um material celular de origem vegetal, polimérico.


Produzido pelo Sobreiro (Quercus Suber I), constitui o revestimento exterior do seu tronco e
ramos.

• Suberina (45%) - principal componente das paredes das células, responsável pela
elasticidade da cortiça;
• Lenhina (27%) - composto isolante;
• Polissacáridos (12%) - componentes das paredes das células que ajudam a definir a
textura da cortiça;
• Taninos (6%) - compostos polifenólicos responsáveis pela cor;
• Ceróides (5%) - compostos hidrofóbicos que asseguram a impermeabilidade da
cortiça.
O aglomerado puro expandido, conhecido como “aglomerado negro”, (devido à sua coloração
final) é formado essencialmente (70 a 80%) por Falca, proveniente dos processos de poda e
limpeza dos sobreiros. Esta matéria-prima é reduzida a grânulos por trituração e
posteriormente, colocados em autoclaves por efeito de vapor de água, alta temperatura
(350ºC) e apenas com a sua própria resina (suberina), acontece a aglutinação sem qualquer
tipo de aditivos, originando os aglomerados puros expandidos, que inicialmente são blocos
que passam por um processo de estabilização e retificação, e são cortados em placas de
diferentes espessuras. Resultando um produto 100% ecológico e reciclável. não há
desperdícios, pois até o pó é utilizado como biomassa na produção de vapor ou energia
elétrica.

O aglomerado puro expandido é um material com capacidade e características de isolante


térmico para qualquer ambiente ou clima, pois reduz perdas de energia e condensação de
humidade na superfície de tetos e paredes; como isolante acústico, reduz o tempo de
reverberação e diminui a transmissão de som por impacto, assim aplicado em paredes e tetos,
absorve grande parte do som incidente e diminui o som refletido; utilizado também como
isolamento antivibrático.
As aplicações do aglomerado puro expandido dentro da construção civil são:
• Isolamento térmico de telhados e sótãos, de pisos térreos, coberturas planas
• Isolamento térmico e acústico de paredes interiores e exteriores;
• Isolamento acústico e antivibrático de lajes e 75% de paredes e superfícies
• Isolamento térmico de tubos de transporte de líquidos com elevadas temperaturas
positivas e negativas

Características:
• Matéria prima 100% natural, não utiliza aditivos no seu processamento, renovável,
reciclável, reutilizável (conceito dos 3R),
• Bom comportamento ao fogo, não emite gases tóxicos no caso de combustão
• Excelentes propriedades mecânicas e estabilidade dimensional
• Excelentes propriedades como isolante térmico e acústico
• Imputrescível
• Altíssima durabilidade sem perda das suas caraterísticas

Segundo publicação da GreenSpeece da Evironmental Bulding News1, o aglomerado puro de


cortiça expandida esta entre os 10 produtos mais ecológicos e sustentáveis

Características técnicas:

Densidade standard > 110/120 Kg/m3


Cond. Térmica de 0,036 a 0,040 W/mk
Excelente resistência mecânica
Estabilidade dimensional

Tabela 2- Caraterísticas médias do aglomerado de cortiça expandido (acústico)

Massa volumétrica 100 kg/m3


Coeficiente de absorção acústica (500-1500c/s) 0,33-0,8
Coeficiente de condutividade térmica 0,037-0,042 W/m.ºC
Tensão de rotura a flexão 1,4 - 1,6 N/cm2
Permeabilidade ao vapor de água 0,004-0,010g/m.h.mmHg
Tensão de rotura à tração longitudinal 0,3 N/cm2
Variação dimensional 32-66ºC, 90-0%HR 0,4
(Fonte –Amorim)

Performance:
A cortiça é um excelente material com aplicações ao isolamento acústico, é utilizado como
absorvente acústico, destinado a corrigir a acústica dos locais, ou a fim de reduzir o seu nível
acústico, pela absorção de parte da energia sonora incidente na superfície do aglomerado ou
pela diminuição do tempo de reverberação (tempo que decorre entre o momento em que cessa
uma fonte sonora até a eliminação dos ecos múltiplos. Além disto a cortiça funciona também
como amortecedor de vibrações.

                                                                                                               
1
O “BuldingGreen Top- 10 Product for 2013”, da Bulding Green, o maior diretório norte americano
de produtos para a construção sustentável (EBN)
Em termos de isolamento, as possibilidades de emprego do aglomerado de cortiça são
inúmeras e aplicam-se sobretudo na construção civil, em diferentes áreas de trabalho e
segundo os seguintes objetivos:
• Açoteias e Terraços – isolamentos térmicos, de vibrações, de condensação de
humidade e impermeabilização.
• Muros e Telhados – isolamento acústico, térmico e prevenção de condensações.
• Tabiques e Portas – isolamento térmico e acústico.
• Paredes e Tetos – correção acústica, isolamento térmico, conforto ambiental e
decoração.
• Solos – isolamento vibrátil e térmico.

Vantagens

Isolamento Acústico
Isolamento Térmico
Isolamento antivibrático
Isolamento Natural e Ecológico
Não reage com agentes químicos
Bom comportamento ao fogo/não liberta gases tóxicos
Durabilidade Ilimitada sem
perda de características
Não atacado por roedores
Reciclável 100%
Produto 100 % natural
Produto 100% reaproveitável
Versatilidade muito própria, pode ser preparado em medidas e densidades standard.

3. Conclusões
O aglomerado de cortiça oferece um excelente material com propriedades de isolamento
acústico e uma acondicionamento acústico aplicados a um estúdio de gravação. Um
isolamento natural e ecológico, porém, é muito vulnerável à situação económica internacional
e depende muito da concorrência dos outros materiais, nomeadamente sintéticos que são
substancialmente mais baratos. Porém o fato de ser um produto ecológico e com propriedades
exemplares poderá abrir algumas perspectivas de futuro.

A lã de vidro tem excelentes características de isolamento para a execução de um estúdio de


gravação, mais sua produção esta associada a geração de partículas para a atmosfera e a
emissão de gases tipo NOx, SO2 e CO2. Implica gastos significativos de agua, isto é, não tem
características de ser um material ecológico. Também fato de tornasse um material nocivo à
saúde do homem quando não utilizado o equipamento adequado para sua manipulação, faz
com que fique em grande desvantagem.

Por tanto, pese à alguma desvantagem relacionada ao aspecto económico, o material


escolhido é a Cortiça (aglomerado de cortiça), graças a suas propriedades acústicas e de
sustentabilidade.
4. Bibliografia

AMORIM, Isolamentos. Grupo Amorim. Boletim informativo, 2009

ASBY, M. Materials and Environment, Elsevier, 2009

Carvalho, J.S., «A química da cortiça», Boletim da junta Nacional da Cortiça, 357, 3-11, 1968

FUAD-LUKE, Alastair, «Manual de Diseño ecológico», versão em Espanhol. Ed. Cartago,


2002

GIL, L. Cortiça: produção, tecnologia e aplicação. Lisboa: Ineti, 1998.

GIL, L. Manual técnico: cortiça como material de construção. Santa Maria de Lamas: Ineti,
2007.

MAXIT. Tecnologias de construção e renovação, isolamento térmico e de fachadas pelo


exterior. Porto, dez. 2002

MARQUES,A., «Isolamento e caracterização estructural da lenhina da cortiça de Quercus


Suber.L», pp 125. Tese de doutorado. Lisboa: Instituto sup. de Agronomia, 1998.

NEWS AMORIM. Aglomerado de cortiça expandida natureza e tecnologia, a solução ideal.


Mozelos: Grupo Amorim, nº 4, out/dez, 2012. 16 p

OLIVEIRA, M.; OLIVEIRA, L. The cork. Rio de Mouro: Corticeira Amorim, 2000

PESTANA, M; TINOCO, I. A indústria e o comercio da cortiça em Portugal durante o século


XX. Instituto de investigação agraria/INRB, IP, 2009

PORTUGAL GLOBAL. Cortiça global. Lisboa: aicep Portugal global, out. 2008. 52 p

ROHRSSEN, P. Norma inernacional de ecodiseño ISO 14006. Disponível em:


http://diseñoysostenibilidad.com acessado em 18 de março de 2013

Sites:

www.ladevidro.org acessado em 28 de abril de 2013


www.eqa.es acessado em 28 de abril de 2013
www.wilkipedia.pt Acessado em 19 de março de 2012
www.isover.com.br/isover/faq.htm
www.mekol.com.br/FISPQManta2011.pdf acessado em 19 de março 2012
www.apcor.pt Acessado em 10 de outubro de 2011
www.rotadacortica.pt Acessado em 10 de outubro de 2011
www.tecnit.com.br Acessado em 30 de março de 2013
Educação, ciência e o planeta

Igor Oliveira Rocha1


Departamento de Química UFPR

RESUMO
Nas últimas décadas, tem se tornado evidente algumas mudanças no planeta.
Transformações tanto nas esferas físico-químicas e biológicas como também no que diz respeito
à organização humana. Mesmo com o conhecimento científico se desenvolvendo rapidamente,
ele tem se mostrado insuficiente para resolver as dificuldades que ele mesmo criou, o que
mostra a necessidade de outra forma de pensamento que englobe todas as relações existentes no
planeta. As ciências naturais têm um papel fundamental na busca pela solução dos problemas e
transformação desse modo de pensar, uma vez que procuram compreender a estrutura da
matéria e os caminhos para transformá-la. Ao analisar os grandes danos causados pela
interferência humana nos diferentes ecossistemas, percebe-se o papel das ciências naturais como
devastadoras e poluidoras. Contudo, para que todas essas questões sejam solucionadas, elas se
tornam protagonistas como transformadoras e mediadoras entre as diferentes formas de
conhecimento. A partir de uma visão integrante vê-se que a educação é uma das poucas
maneiras de realizar essa abordagem relacional. Deste modo, a solução dos problemas
planetários pela mudança de visão de mundo pode ser alcançada tanto a partir de um professor
em uma sala de aula com a discussão multidisciplinar de um determinado assunto, quanto pela
abordagem das relações que envolvem uma problemática em qualquer conversa informal, já que
todos somos multiplicadores de conhecimento e, portanto educadores.
ABSTRACT
In recent decades, some changes on the planet have become evident. Transformations as
in physicochemical and biological spheres but also with regard to human organization. Even
with the scientific knowledge rapidly developing, it has proved to be insufficient to solve the
problems it has itself created, showing the necessity for another form of thinking that
encompasses all relationships on the planet. Natural sciences have a key role in the search for
the solution of problems and changing this way of thinking, since they seek to understand the

1 Igor Oliveira Rocha possui graduação em Bacharelado e Licenciatura em Química pela Universidade
Federal de Santa Catarina, tendo realizado intercâmbio acadêmico por um semestre na Technische Universiteit
Eindhoven nos Países Baixos com bolsa financiada pela Comissão Europeia pelo programa Erasmus Mundus de
janeiro a julho de 2010. Participou de residência artístico-científica na Finlândia e Estônia desenvolvendo o projeto
Mar Memorial Dinâmico em junho de 2011. Atualmente faz parte do programa de mestrado do Departamento de
Química na Universidade Federal do Paraná. igurocha@uol.com.br
structure of matter and the ways to transform it. By analyzing the major damage caused by
human interference in different ecosystems, we perceive the role of the natural sciences as
devastating and polluting. However, for these issues to be solved resolved, they become
protagonists as transformative and mediator between different forms of knowledge. From an
integral vision it is possible to see that education is one of the few ways to accomplish this
relational approach. Thus, the solution of global problems by changing worldview can be
achieved both from a teacher in a classroom with a multidisciplinary discussion of a particular
subject, as with the approach to relations involving an issue in any casual conversation since we
are all knowledge multipliers and therefore educators.
Os homens tentam entender e explicar os fenômenos que ocorrem na Terra
desde a Antiguidade, inicialmente de forma mítica, depois pela filosofia e então com a
ciência. Existem ainda outras formas de pensamento como a religião que também
podem ser racionalizadas e todos esses saberes não são excludentes. Entretanto,
geralmente não se concebe a conexão entre esses diversos saberes, o que leva a análises
pontuais e fragmentárias que são suficientes para explicar determinados fenômenos,
mas insuficientes para entender a complexidade do planeta.

Nas últimas décadas, tem se tornado evidente algumas mudanças no


funcionamento da Terra. Muitos acreditam que elas são devido à ação humana
inadequada, enquanto outros acreditam que as modificações naturais podem ser as
causas desses novos eventos. Tendo em vista que as transformações têm ocorrido não só
nas esferas físico-químicas e biológicas do planeta, mas também no que diz respeito à
organização humana, torna-se plausível a constatação de que o ser humano ocupa papel
de destaque nos problemas planetários. Segundo René Dubos, “exemplos em diversas e
diferentes partes do mundo mostram que este processo de modificação está resultando
na progressiva humanização do planeta.”(Dubos, R., 1981)

O adjetivo “ambiental” é usado de forma recorrente para se referir a tudo que


tenha relação com o meio ambiente e aos seus vários problemas; porém o que é meio
ambiente? Em alguns casos, a resposta tem relação com os componentes vivos e/ou não
vivos dos diferentes ecossistemas, e nessa abordagem, cuidar do meio ambiente seria
cuidar da natureza. Em outras ocorrências, meio ambiente incluiria os seres humanos e
todas as realizações que derivam dessa inclusão. Ocorre que esse conceito é confuso e
que falar das questões ambientais sem ter claro o ambiente de estudo acaba gerando
equívocos.

Já que a questão ambiental é difícil de ser conceituada e que ela envolve os


diferentes componentes da Terra, é oportuna a troca do adjetivo ambiental pelo adjetivo
planetário e, portanto a discussão da temática planetária em detrimento da temática
ambiental. Geralmente quando se pensa em problemas ambientais, vem à mente a ideia
de desmatamento, queimadas, poluição, efeito estufa e alterações climáticas. No
entanto, quando se fala em problemas do planeta são incluídos fatores como guerras,
fome, miséria, violência urbana, sendo que existe uma grande interdependência entre
essas diferentes questões, as quais fazem parte de uma problemática maior, decorrente
de como os seres humanos veem o mundo.

O conhecimento científico nunca se desenvolveu tão rapidamente em toda a


história, porém esse desenvolvimento tem se mostrado insuficiente para resolver as
dificuldades que ele mesmo criou, o que mostra a necessidade de outra forma de
pensamento que englobe todas as relações existentes no planeta. Para tentar entender de
fato o seu funcionamento, é necessário compreender todas as relações entre seus
componentes e para isso torna-se imperativa uma mudança na visão de mundo
fragmentária característica da sociedade humana atual, pois não é possível resolver um
problema com a mesma ótica que o gerou.

As visões de mundo fragmentárias e simplificadoras têm causado ações


reducionistas, separatistas e incompatíveis com a autossustentação da Terra. Então a
solução dos problemas “ambientais” pede uma mudança na base dos mesmos e isso só
será possível através do ensino. (Jickling, B., 1994)

Ao invés do modo de pensar cartesiano, por que não uma educação norteada por
discussões multidisciplinares? Não uma multidisciplinaridade procurada apenas em
tópicos específicos, mas aquela como condição sine qua nom para que qualquer assunto
possa ser apreendido.

Para se entender as relações que envolvem os fenômenos é necessário estudá-los


de modo holístico e dependente, já que nenhum ser é isolado. Essa abordagem
relacional pode ser incluída em todas as formas de educação e nortear todo o
conhecimento humano. (Moraes, E. C., 2004) Primeiramente é indispensável uma
mudança na noção de pertencimento dos seres, pois todos os seres deste planeta
pertencem a esse planeta e devem se sentir como pertencentes a este planeta. Além
disso, existe a necessidade de conhecer a complexidade dos fenômenos, porém eles só
serão realmente entendidos a partir da consciência das relações que os envolvem.
(Morin, E., 2006)

As ciências naturais têm um papel fundamental na busca pela solução dos


problemas e transformação desse modo de pensar, uma vez que procuram compreender
a estrutura da matéria e os caminhos para transformá-la. Ao analisar todos os grandes
danos causados pela interferência humana nos diferentes ecossistemas, percebe-se o
papel das ciências naturais como devastadoras e poluidoras. Contudo, para que todas
essas questões sejam solucionadas, elas se tornam protagonistas como transformadoras
e mediadoras entre as diferentes formas de conhecimento.

A partir de uma visão integrante vê-se que a educação é uma das poucas
maneiras de realizar essa abordagem relacional. Deste modo, a solução dos problemas
planetários pela mudança de visão de mundo pode ser alcançada tanto a partir de um
professor em uma sala de aula, com a discussão multidisciplinar de um determinado
assunto, quanto pela abordagem das relações que envolvem uma problemática em
qualquer conversa informal, já que todos somos multiplicadores de conhecimento e,
portanto educadores.

Referências:

1. Dubos, R. Namorando a Terra, Ed. Melhoramentos/EDUSP, São Paulo, 1981

2. Jickling, B. Why I Don't Want my Children to be Educated for Sustainable


Development: Sustainable Belief, Trumpeter, Yukon College, 1994

3. Moraes, E. C. Abordagem Relacional: Uma estratégia pedagógica para a


educação científica na construção de um conhecimento integrado. Org. Marco
Antonio Moreira (Porto Alegre: s/n), 2004

4. Morin, E. Organization and Complexity, Paris, 2006


O DESAFIO DA SUSTENTABILIDADE
O desafio da comunicação sob o foco da Sustentabilidade

Rachel Machado de Sousa1


Sarah Aparecida da Cruz
Alex Donizeti do Rosário

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas formas de


comunicação sob o foco de gestão ambiental, este, um dos grandes desafio da
sustentabilidade. Na vida existem muitos objetivos dentre eles desenvolver ao máximo
as potencialidades, a capacidade de poder viver cada vez mais e melhor, não para si
próprio, mas para contribuir, por menor que seja para deixar este mundo um pouco
melhor do que foi encontrado. Essa talvez seja a maior tarefa. O papel das pessoas
perante a natureza. Mas não basta ficar só na atitude de sonhar com um mundo melhor e
se omitir. Mudanças comportamentais do ser humano auxiliadas por meio dos veículos
de comunicação, tais como publicidade e propaganda, assessoria de imprensa, relações
públicas, promoção e merchandising podem proporcionar à sociedade, maior
conhecimento, esclarecimentos em relação às questões socioambientais conforme
pesquisas realizadas.

Palavras-chave: Objetivos. Potencialidades. Sociedade. Gestão Ambiental.


Sustentabilidade. Marketing Ambiental. Comunicação.

1 Introdução

Este texto aborda o desafio da comunicação sob o foco da sustentabilidade,


apresentando no contexto a idéia de desenvolvimento sustentável através da
comunicação. Analisa e discute suas dimensões, demonstrado através do conceito da
triologia da sustentabilidade “ambiental, econômica e social” com ênfase na
comunicação.
______________________
1
Rachel Machado de Sousa, Engenheira Química com Habilitação em Alimentos, Pós Graduada em Gerenciamento
de Micro e Pequenas Empresas e com MBA em Gestão Executivo Empresarial, Pós Graduada em Gestão Ambiental
pelo Centro Universitário do Sul de Minas, Cursando Direito na Faculdade Cenecista de Varginha - FACECA.
rachelsmachado@uol.com.br
2
Sara Aparecida Cruz - Orientadora do Centro Universitário do Sul de Minas – UNIS
3
Alex Donizeti do Rosário Bacharel em Administração de Empresas, Licenciado em Letras, Especialista em Ensino
da Língua Inglesa. Coorientador.
Trata-se dos valores da pirâmide de Maslow que dão referências para os
profissionais de Marketing entender a mente do consumidor, pensar e agir de forma
sustentável conforme pesquisas realizadas em sitio.
É importante salientar que os meios de comunicação, tais como propaganda e
publicidade podem proporcionar à sociedade maior esclarecimentos em relação às
questões ambientais, sendo este, um dos objetivos pretendidos.
Conclui-se que o assunto em questão, tem o propósito, demonstrar através de
uma análise os valores da pirâmide de Maslow. A inversão destes valores da pirâmide,
onde a auto- realização torna-se a base da pirâmide, se têm o nível de satisfação. O
indivíduo sente a necessidade de desenvolver suas potencialidades. Ele procura estudar,
organizar, filosofar e também se auto-conhecer e auto-desenvolver. (MASLOW, 1943).
Este objetivo poderá ser atingido através da comunicação que tem um papel
forte perante a sociedade para uma melhor compreensão onde as questões ambientais
têm se tornado presente no cotidiano da sociedade e setor Empresarial; é necessário ter
consciência e tratar com racionalidade os recursos naturais, uma vez que eles podem se
esgotar. O que é sustentabilidade? É a qualidade de sustentável e a ligação entre
desenvolvimento econômico, responsabilidade social e preservação ambiental conduz a
uma estratégia oficial de desenvolvimento e à formação do conceito de
desenvolvimento sustentável. (DOWBOR, 1995).
O conceito e ações de desenvolvimento sustentável estão sendo abordados com
maior freqüência no cenário mundial, no qual a contínua preocupação com a condição
ambiental do planeta está sempre em evidência, tanto nos meios de comunicação, mídia
em geral, quanto nos sistemas de ensino que de alguma forma vêm proporcionando
mudanças de postura em diversos ramos da sociedade, empresas e outros órgãos.
(DOWBOR, 1995).
Um dos grandes desafios da sustentabilidade é enfrentar a complexidade, as
incertezas e as contradições que de forma conjunta, demandam uma participação mais
ativa das empresas e sociedade em geral no debate de seus destinos, como uma forma de
estabelecer um conjunto de informações acerca dos problemas, objetivos e soluções.
(SAVITZ, 2006).
Vale ressaltar, que o aumento da produtividade das economias, acarreta também
um maior desgaste dos recursos naturais, por tanto, cada investimento em produção,
carece de cuidados especiais com o meio ambiente. (SAVITZ, 2006).
Se de um lado o contexto no qual se configuram os problemas da nossa
civilização é marcado pelo conflito de interesses e uma polarização entre visões de
mundo, por outro as respostas precisam conter cada vez mais um componente de
cooperação e de definição de uma agenda que acelere prioridades para a
sustentabilidade como um novo paradigma de desenvolvimento, sem esquecer as
determinações estruturais decorrentes de um sistema globalizado, de um padrão de
consumo que não promova o desperdício naquelas sociedades e segmentos que dele
fazem parte e da dualidade entre os que “têm”os que “não têm”. (SACHS, 2000, p. 50-
51).
O desafio que está colocado é o de não só reconhecer, mas estimular práticas que
reforcem a autonomia e a legitimidade entre organização e sociedade para que possam
atuar numa perspectiva de cooperação em um ambiente sustentável.

2 Desenvolvimento

Falar do desafio da sustentabilidade permite, à sociedade avaliar as decisões,


balancear os interesses individuais e coletivos dentro de um determinado espaço, de
maneira que as funções ecológico-econômicas dos recursos ambientais permaneçam ao
longo do tempo. (SACHS, 2000, p. 50-51).
Ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade, com as
pessoas deste tempo-espaço e com aquelas que ainda não vieram, mas que dentro em
breve aqui estarão exigindo seus direitos. (SACHS, 2000, p. 50-51).
E o grande paradigma do desenvolvimento sustentável requer esforço
permanente, que favoreça uma política comprometida em reverter processos de
degradação ambiental existentes, por meio de medidas regeneradoras como, despoluição
e recuperação de áreas degradadas, desmatamento, preservação de animais, combate a
fome e violência, agindo de maneira preventiva, para evitar danos e prejuízos
ambientais, perdas sociais e econômicas. Como exemplo do que está sendo dito, o
vídeo sociedade, meio ambiente e sustentabilidade disponível no sitio, demonstra as
agressões que o meio ambiente vem enfrentando devido ao desequilíbrio ecológico.
Entendendo as características do meio físico, biológico e antrópico, compreender
a capacidade de suporte do meio ambiente considerando o aperfeiçoamento dos
processos produtivos já se começa a falar das transformações do conceito do
desenvolvimento sustentável: prudência ecologia, equidade social e viabilidade
econômica, conforme definido no texto abaixo, esse e o nosso grande desafio. (SACHS,
2000, p. 50-51).

2.1 Sustentabilidade

Definir e aplicar um conceito de sustentabilidade, não é tarefa fácil, visto que a


sustentabilidade e suas implicações têm evoluído ao longo do tempo. Desde a
conferência das Nações Unidas para o meio ambiente e o desenvolvimento realizada em
1992, no Rio de Janeiro o termo sustentabilidade tem ganhado força. (DOWBOR,
1995).
Em se tratando da definição de sustentabilidade proposta pela Organização das
Nações Unidas - ONU, esta se conecta diretamente aos padrões de consumo, sugerindo
ações que promovam a mudança de consumo e a produção mais sustentável de produtos
e serviços.

Para a Consumers International, em 1998, uma possível definição funcional


para o consumo sustentável poderia ser:
“O consumo sustentável significa o fornecimento de serviços e produtos
correlatos, que preencham as necessidades básicas e dêem uma melhor
qualidade de vida ao mesmo tempo em que se diminuem o uso de recursos
naturais e de substâncias tóxicas, assim como as emissões de resíduos e de
poluentes durante o ciclo de vida do serviço ou do produto, com a idéia de
não se ameaçar as necessidades das gerações futuras.” (DIAS, 2008, p.38)

O conceito de sustentabilidade evoluiu. A Organização das Nações Unidas –


ONU, no documento Directrices de las Naciones Unidas para la protección del
consumidor, de 2003 define consumo sustentável, em uma tradução livre que “
consumo sustentável significa que as necessidades de bens e de serviços das gerações
presentes e futuras se satisfazem de modo tal que possam sustentar-se desde o ponto de
vista, econômico, social e ambiental”. (DOWBOR, 1995).
Sem estes três pilares a sustentabilidade não se sustenta. Ainda são discutidos
novos pilares, como a questão cultural, tecnológica, para complementar a sustentação da
questão como um todo. (SAVITZ, 2006).
É importante verificar que esses conceitos podem ser aplicados tanto de maneira
macro, para um país ou próprio planeta, como micro, sua casa ou uma pequena vila
agrária. Em termos de Responsabilidade Social, pode-se dizer que ela trata-se do
capital humano de um empreendimento, comunidade, sociedade como um todo. Além
de salários justos e estar adequado à legislação trabalhista, é preciso pensar em outros
aspectos tais como: o bem estar dos funcionários, proporcionando, por exemplo, um
ambiente de trabalho agradável, pensando na saúde do trabalhador e da sua família.
Além disso, é imprescindível ver como a atividade econômica afeta a comunidade ao
redor, como educação, violência e até o lazer. (SAVITZ, 2006).
Meio Ambiente, refere-se ao capital natural de um empreendimento ou
sociedade. (SAVITZ, 2006).
Assim uma empresa que usa determinada matéria-prima deve planejar formas de
repor os recursos ou, se não é possível, diminuir o máximo o uso desse material, assim
como medir a pegada de carbono do seu processo produtivo, que, em outras palavras,
quer dizer a quantidade de CO2 emitido pelas suas ações. Além disso, obviamente, deve
ser levado em conta a adequação à legislação ambiental e a vários princípios discutidos
atualmente como o Protocolo de Kyoto. Para uma determinada região geográfica, o
conceito é o mesmo e pode ser adequado, por exemplo, com um sério zoneamento
econômico da região. (Relatório.... 2007).
A Sustentabilidade Econômica, pode ser definida como organização de uma
casa, financeira e materialmente. Com o passar dos anos, séculos, a palavra economia
foi direcionada apenas à vertente dos negócios ou no sentido da poupança, economizar.
Este pilar traz o retorno do significado de cuidar da casa, afincado pelos gregos na
Antiguidade. (Relatório.... 2007).
Analisando os temas ligados à produção, distribuição e consumo de bens e
serviços, deve-se levar em conta os outros dois aspectos, ou seja, não adianta lucrar
devastando. (Relatório.... 2007).
É possível concluir que a partir dessa visão a sustentabilidade envolve todos os
processos da empresa, desde a busca por matérias primas produzida de forma
sustentável até o consumo consciente de produtos e serviços prevendo seu descarte.
Assim como na natureza a sustentabilidade precisa ser cíclica. Ou seja, os resíduos de
um sistema é alimento de outro ou matéria prima para outro sistema. Não há desperdício
de energia ou recursos naturais. Essa visão é coerente, mas precisa ser ampliada.
(SAVITZ, 2006).
A gestão ambiental tem visado o uso destas práticas e métodos administrativos
para reduzir ao máximo o impacto ambiental das atividades econômicas nos recursos da
natureza conforme demonstrado no texto abaixo. (Relatório..., 2007).

2.2 Gestão ambiental

As questões ambientais envolvendo as atividades das empresas e corporações


têm chamado para si as principais atenções. Visto que o mundo todo está em estado de
alerta diante do aquecimento global, a discussão potencializa o foco sobre as questões
ambientais o que faz com que as pessoas passem a olhar as atividades de produção e
distribuição de produtos de uma forma mais crítica. (SAVITZ, 2006).
As pessoas tornaram mais conscientes e interessadas quanto às questões
ambientais, e passaram a enxergar mais claramente que a atividade humana, sobretudo
das empresas tinha relação direta com a degradação ambiental. (SAVITZ, 2006).
Essa mudança recente, impulsionada também pela mídia não é sem fundamento.
Desde a Revolução Industrial o homem tem lançado na atmosfera grande quantidade de
poluentes, muitos deles com pouco ou nenhum controle. Apesar da ação dos governos
criando leis e definido parâmetros, a emissão de poluentes comprovadamente aumentou.
(Relatório..., 2007).
Segundo o IPCC (Painel Intergovernamental de mudanças climáticas) desde que
começou a revolução industrial, a partir de 1750, as emissões de dióxido de carbono
aumentaram 31%, metano 151%, óxido de nitrogênio 17% e ozônio troposférico 36%.
As ações governamentais passaram a ser mais rígidas e a relação entre atividade
humana e catástrofes naturais passou a ser considerada como possível pela população,
conforme dados constados no sitio da Ecolatina. (Relatório..., 2007).

[...]como parte de uma sociedade ecologicamente em transformação, cabe às


empresas grande parcela de responsabilidade para que se alcance o
desenvolvimento sustentável. Slack et al. (2002) asseveram que a magnitude
do impacto ambiental está diretamente relacionada à quantidade da
população consumidora e ao impacto ambiental do processo produtivo ou do
produto consumido por essa população. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 2)

O poder público, empresas e a população precisam se ver como um todo. É


normal que cada uma dessas instâncias se vejam separadamente e se atribuam
responsabilidades diferentes. Na verdade todas elas são faces de um mesmo elemento:
atividade humana sobre a terra. (Relatório...., 2007).

Segundo Motta e Rossi (2003), tal processo de gênese e expansão da


preocupação ambiental faz com que o ser humano sinta de fato uma terrível
ameaça, que o compele a perceber que é parte da natureza, está fortemente
ligado a ela, e que, portanto, destruir o meio ambiente é destruir a si próprio e
a seus congêneres vindouros. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 2)

As empresas buscam então definir padrões para identificar como a sua atividade
pode impactar o meio ambiente. (NICOLELLA, 2004).

A preocupação ambiental foi primeiramente abordada pelo Clube de Roma,


um órgão colegiado liderado por empresários que, por meio da publicação
intitulada “Limites do Crescimento”, de 1972, contemplou em termos
trágicos o futuro mundial, caso a sociedade mantivesse os padrões de
produção e consumo vigentes à época. Em 1972, em Estocolmo, Suécia, foi
realizada a primeira Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
(JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 435)

Para definir como a gestão ambiental se incorpora as atividades da empresa, é


preciso antes de tudo definir o que seria gestão ambiental.

Segundo o autor abaixo, a gestão ambiental diz respeito ao conjunto de


políticas e práticas administrativas e operacionais que levam em conta a
saúde e a segurança das pessoas e a proteção do meio ambiente por meio da
eliminação ou mitigação de impactos e danos ambientais decorrentes do
planejamento, implantação, operação, ampliação, realocação ou desativação
de empreendimentos ou atividades, incluindo-se todas as fases do ciclo de
vida do produto. Dessa forma, pode-se dizer que a gestão ambiental envolve
as atividades de planejamento e organização do tratamento da variável
ambiental pela empresa, objetivando-se alcançar metas ecológicas
específicas. (JABBOUR; SANTOS, 2006, p. 435)

Medir, controlar e alterar parâmetros de atividades que envolvem o uso de


recursos naturais e em qualquer medida altere o meio ambiente não é tarefa fácil.
Envolve um grande número de conhecimento técnico e uma equipe multidisciplinar.
(NICOLLELA, 2004).

As ações de empresas em termos de preservação, conservação ambiental e


competitividade estratégica produtos, serviços, imagem institucional e de
responsabilidade social - passaram a consubstanciar-se na implantação de
sistemas de gestão ambiental para obter reconhecimento da qualidade
ambiental de seus processos, produtos e condutas obtidas por meio de
certificação voluntária, com base em normas internacionalmente
reconhecidas. (NICOLELLA, 2004, p.8)

Devido à amplitude dos processos, as empresas adotaram a gestão ambiental


através da NBR ABNT ISO 14001 como ferramenta que auxilia na administração das
etapas dos processos de produção.
Tem-se um consenso entre os autores que a adoção da gestão ambiental acarreta
na transformação da empresa. É possível distinguir pelo menos três fases da gestão
ambiental dentro de uma empresa. A primeira se refere ao cumprimento da legislação
ambiental; nessa fase a empresa procura formas de reduzir a emissão de poluentes.
Em suma não modifica seu processo de produção. (NICOLLELA, 2004).
E é muito comum enxergar essa fase como um custo a mais para suas atividades.
A segunda fase tem o foco na prevenção. A empresa passa a modificar seu processo de
produção procurando alternativas menos poluentes, evitando o desperdício de matéria
prima e a otimização do uso dos recursos naturais. Nessa etapa a empresa passa a colher
benefícios da sua postura ambientalmente correta. (NBR ABNT ISO, 14001).
A terceira fase corresponde ao aprofundamento e evolução das demais. A
empresa incorpora em sua estratégia as questões ambientais, fazendo com que o tema
permeie suas atividades inclusive em sua missão, visão e valores. (NBR ABNT ISO,
14001).
Com o desenvolvimento no sistema de gestão os parâmetros ambientais também
evoluíram. A gestão ganhou um padrão profissional e certificações internacionais. Tudo
para atender a demanda crescente das corporações ao redor do mundo. (NICOLELLA,
2004).
Segundo a NBR Série ISO 14001 (2004), “a norma de gestão ambiental têm por
objetivo prover às organizações os elementos de um sistema ambiental eficaz, passível
de integração com outros elementos de gestão, de forma a auxiliá-las a alcançar os seus
objetivos ambientais e econômicos”.
Os princípios de um Sistema de Gestão Ambiental baseados na NBR Série ISO
14001, através dos quais se verifica os avanços de uma empresa em termos de sua
relação com o meio ambiente, são: Política ambiental; planejamento; implementação e
operação; Verificação e ação corretiva; análise crítica.
2.3 Marketing ambiental

Segundo Kotler e Armstrong (2003, p. 3) afirmam que Marketing é "um processo


administrativo e social pelo qual indivíduos e grupos obtêm o que necessitam e
desejam, por meio da criação, oferta e troca de produtos e valor com os outros.

Philip Kotler (2000) diz que o “conceito de marketing afirma que a chave
para atingir os objetivos da organização consiste em determinar as
necessidades e desejos dos mercados-alvo e satisfazê-lo mais eficaz e
eficientemente do que os concorrentes. Peter Drucker (1998) afirma que
“marketing é primeiramente uma dimensão central do negócio inteiro. É o
negócio como um todo visto do ponto de vista do cliente.
A American Marketing Association (AMA) define marketing como “o
processo de planejamento e execução de concepção, precificação, promoção
e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam
metas individuais e organizacionais”.

Podemos assim dizer que “marketing é a orientação para a satisfação das


necessidades do consumidor/cliente, através do esforço integrado de métodos e meios
de que dispõe uma organização, para a consecução dos seus objetivos, ou seja, alcançar
os objetivos pretendidos”. (CAETANO 2008, p.26).

“De acordo Prakash [apud DIAS, 2007 p. 75], o marketing ambiental é um


conceito no qual a redução dos impactos sobre o meio ambiente tem um
papel relevante durante a satisfação das necessidades dos consumidores e na
realização dos objetivos da empresa.”

O marketing ambiental engloba nas suas atividades questões direcionadas ao


meio ambiente: qualidade de vida, preservação do meio ambiente, bem- estar, produção
sustentável, dentre outros na sua função é a mesma do marketing, administrar e gerar
informações sobre as necessidades e desejos do público alvo, para desenvolver produtos
e serviços alinhados com as necessidades do mercado. Considerando as questões
ambientais ele é capaz de incentivar o consumidor a buscar produtos que têm valor
ambiental agregado. (POLONSKY, 1995).

“Para Polonsky [apud DIAS, 2007 p.74] , o marketing verde ou ambiental


consiste de todas as atividades designadas para gerar e facilitar qualquer troca
com o objetivo de satisfazer os desejos ou necessidades humanas, desde que
a satisfação dessas necessidades e desejos ocorra, com um mínimo de
impacto prejudicial sobre o meio ambiente”.
Para que o consumidor possa tomar consciência da importância de preferir
produtos “ambientalmente corretos” e que em seu processo de produção utilizem
também matérias- primas alinhadas com a preservação ambiental, é necessário primeiro
que as empresas estejam engajadas na preservação ambiental. Isso se dá das mais
diversas formas, incluindo o desenvolvimento de um sistema de gestão ambiental.
É uma maneira de administrar de fora para dentro com o objetivo de integrar benefícios
e valores aos produtos e serviços. (COSTA, 2010; p. 15)

Philip Kotler (2000) diz que o “conceito de marketing afirma que a chave
para atingir os objetivos da organização consiste em determinar as
necessidades e desejos dos mercados-alvo e satisfazê-lo mais eficaz e
eficientemente do que os concorrentes. Peter Drucker (1998) afirma que
“marketing é primeiramente uma dimensão central do negócio inteiro. É o
negócio como um todo visto do ponto de vista do cliente.
A American Marketing Association (AMA) define marketing como “o
processo de planejamento e execução de concepção, precificação, promoção
e distribuição de idéias, bens e serviços para criar trocas que satisfaçam
metas individuais e organizacionais”.

É importante compreender que as demandas ambientais dos consumidores


podem ser incorporadas em suas necessidades, daí a mudança de comportamento. Ao
se avaliar a questão ambiental sob o foco das abordagens de Maslow pode se verificar
que:
O ato de compra não surge do nada. Seu ponto de partida é a motivação, que
vai conduzir a uma necessidade, a qual, por sua vez, despertará um desejo.
Com base em tal desejo surgem as preferências por determinadas formas
específicas de atender à motivação inicial e essas preferências estarão
diretamente relacionadas ao autoconceito: o consumidor tenderá a escolher
um produto que corresponda ao conceito que ele tem ou que gostaria de ter
de si mesmo. ( SAMARA, 2005, p.102)

Para Maslow (apud Kotler e Armstrong, 1993) as necessidades humanas podem


ser ordenadas segundo uma hierarquia, levando em consideração as necessidades mais
pertinentes para o individuo. Segundo Maslow as pessoas procuram satisfazer em
primeiro lugar as necessidades mais importantes. A partir do momento em que essas
necessidades são satisfeitas elas deixam de ser os principais motivadores de consumo
dando lugar a próxima necessidade da hierarquia.

Cada uma destas escalas ou níveis da Pirâmide de Maslow representa um


conjunto de fatores que dão referências para os profissionais de Marketing entender a
mente do consumidor.
Maslow dividiu as necessidades humanas e classificou-as de forma que
pudessem ser organizadas de forma hierárquica, conforme demonstrado na figura 2.
Figura: 2 – Pirâmide de Maslow

Necessidades Fisiológicas: são básicas para a sobrevivência como fome, sede,


sono e etc., constituem a base de nossos desejos. (MASLOW, 1943).
Necessidades de Segurança: trata-se de segurança física. Quem não tem onde
morar e com que se agasalhar terá todo o seu comportamento e pensamento voltados
para essas necessidades e como fazer para satisfazê-las. Encontra-se também nesse nível
a necessidade de segurança psíquica, que faz temer o desconhecido. (MASLOW, 1943).
Necessidade de Afeto: relacionado aos sentimentos afetivos e emocionais de
amor e de pertinência às pessoas com as quais nos relacionamos intimamente.
(MASLOW, 1943).
Necessidade de Status e estima: o indivíduo alimentado e seguro se sentem
querido, surge o desejo de prestígio, de status, de estima dos outros e de auto-estima de
si próprio. (MASLOW, 1943).
Necessidade de Realização: com todos os níveis satisfeitos, o indivíduo sente a
necessidade de desenvolver suas potencialidades. Ele procura estudar, organizar,
filosofar e também se auto-conhecer e auto-desenvolver. Agora não lida mais com as
necessidades de sobrevivência ou de afeto e prestígio, mas com o próprio crescimento.
(MASLOW, 1943).
Da mesma forma que as necessidades se traduzem em desejos as mudanças
sociais também são hierarquizadas, nessa pirâmide, pautando como os públicos vão
perceber e lidar com novos temas. (MASLOW, 1943).
As preocupações ambientais, atualmente podem ser inseridas no topo da
pirâmide.
Essa abordagem da preocupação ambiental, que surge do conceito do
desenvolvimento sustentável, tem uma expectativa de mudança dos valores
predominantes em relação ao ambiente natural, tanto numa perspectiva macro
(preocupações em relação aos problemas globais) como do ponto de vista
pessoal como a qualidade de vida, a saúde, o estilo de vida, preocupações
com a vida natural no seu entorno imediato, a destinação do lixo gerado
cotidianamente etc. (DIAS, 2008, p.28)

A ação de marketing ambiental só terá sucesso se for feita em conjunto empresa-


consumidor. Não adianta a empresa “cobrar” uma atitude correta sem oferecer produtos
que falem a mesa linguagem da qual se quer obter dos consumidores. (CAETANO,
2008).
“Se formos analisar a relação entre os recursos naturais e as necessidades
humanas, percebemos que, de um lado, temos os recursos naturais que são
limitados e que têm de ser preservados e, do outro, as necessidades humanas,
que são ilimitadas”. (CAETANO, 2008, p.78).

De acordo com (POLONSKY, 1995), na literatura são encontradas cinco


possíveis razões para as empresas estarem adotando o marketing verde:

1. As organizações percebem que o marketing ambiental pode ser uma


oportunidade que pode ser usada para realizar seus objetivos.
2. As organizações acreditam que tem uma obrigação moral de serem mais
responsáveis socialmente.
3. As organizações governamentais estão forçando as empresas a serem
mais socialmente responsáveis.
4. As atividades ambientais dos competidores pressionam as empresas a
modificar suas atividades de marketing ambiental.
5. Fatores de custo associados com a disposição de resíduos ou reduções no
material utilizado forçam as empresas a modificar seu comportamento.

Além dessas cinco razões apontadas é possível enxergar mais dois argumentos
para as empresas adotarem o marketing ambiental. (POLONSKY, 1995).
A mudança de comportamento dos consumidores, passando a enxergar a
necessidade da conscientização ambiental.
O alinhamento das empresas com fornecedores e clientes corporativos.
O grande desafio é perpetuar o objetivo de satisfazer necessidades e desejos, de
forma sustentável de modo que a variável ambiental também possa ser incorporada ao
produto sob a forma de valor percebido pelo cliente. (POLONSKY, 1995).

2.4 Desafio da comunicação sustentável

Toda empresa precisa se relacionar com seu público de interesse, seja ele
formado por fornecedores, colaboradores, poder público ou consumidores finais.
A comunicação, vista sob uma perspectiva ampla, tem um papel importante a
desempenhar no processo de conscientização e de mobilização para a sustentabilidade.
De imediato, podemos reconhecer que ela pode cumprir três funções básicas, todas elas
articuladas e complementares. (POLONSKY, 1995).
A comunicação competente pode contribuir para a consolidação do conceito de
sustentabilidade, buscando eliminar equívocos como os que a associam a ações
meramente pontuais ou que a reduzem à simples dimensão ambiental. (POLONSKY,
1995).
É fundamental que a empresa como um todo esteja suficientemente esclarecida
sobre o conceito autêntico de sustentabilidade, e que os colaboradores estejam
comprometidos com a qualidade da informação e que percebam os vínculos de
determinadas fontes com interesses políticos, comerciais ou mesmo pessoais.
(POLONSKY, 1995).
Nesse relacionamento a comunicação desempenha um papel muito importante.
Permite a troca de informações entre as partes envolvidas. O público alvo tem acesso a
conteúdos relevantes a cerca das atividades da empresa e ao mesmo tempo pode abrir
um canal e colocar diretamente para a administração suas observações sobre o produto,
serviços e práticas da empresa. (BUENO, 2002).
A abertura de canais de comunicação garante à empresa uma percepção mais
positiva dos públicos que atribui a essa postura valores como transparência. (BUENO,
2002).

A empresa ou entidade deve refletir, em sua comunicação, aquilo que ela


realmente é, fugindo da tentação equivocada de se posicionar como aquilo
que gostaria de ser. Simular, por exemplo, ser protetora do meio ambiente,
quando o agride sem dó; alardear sua função social, quando, na prática
remunera mal os seus funcionários, atende, precariamente, os seus clientes e
discrimina as minorias no momento de recrutar novos colaboradores. A
transparência é a arma das organizações modernas. (BUENO, 2002, p.12)
Atualmente a comunicação está inserida em um contexto maior, faz parte do
relacionamento entre a empresa e a comunidade. É a ponte entre os públicos de
interesse e informações relevantes sobre as atividades da empresa. (BUENO, 2002).

“... À medida que as empresas tomam consciência de sua responsabilidade


diante da comunidade, balizando suas ações sociais em princípios os valores
éticos, ganha força o conceito de que a empresa deveria adotar a mesma
postura em relação a todos os públicos com os quais a empresa se relaciona e
em todas as suas práticas e políticas (...). O conceito de responsabilidade
social está passando da fase de abordar apenas a ação social com a
comunicação para abranger todas as relações da empresa e balizar suas
práticas e políticas”. (BUENO, 2002, p.43)

Quando se insere o fator socioambiental no contexto da comunicação ela assume


novos papéis. Antes vista como uma ferramenta para auxiliar na construção da imagem
da empresa e conseqüente aumento de vendas, a comunicação quando envolve meio
ambiente promove a educação e a mudança cultural dos públicos envolvidos. (BUENO,
2002).
É comum o homem e corporações se enxergarem a parte do meio ambiente.
Considerar-se uma entidade externa aos recursos naturais ou um observador sem
conexão com o planeta, é uma forma errônea de se enxergar no mundo. (Relatório....,
2007).
A comunicação tem os requisitos necessários para mudar essa postura. Para
educar e conscientizar esse novo consumidor. (DIAS, 2008).
O objetivo da comunicação deverá ser informar sobre os atributos do
produto, principalmente os aspectos positivos em relação ao meio ambiente, e
transmitir a imagem da organização relacionada com a defesa e preservação
de valores ambientais corretos. A variável comunicação deve ser capaz de
projetar e sustentar a imagem da empresa destacando seu diferencial
ecológico junto a sociedade. […] Algumas atividades de comunicação
envolvem: trabalho de conscientização ecológica; informação sobre os
produtos e o processo de fabricação ambientalmente corretos; realização de
ações de relações públicas em torno de questões ecológicas. (DIAS, 2008,
p.157)

Todas as ferramentas de comunicação têm a capacidade de utilizar informações


ambientais podendo ser direcionadas para produtos, ações ou ter meramente um caráter
informativo por parte de empresas e outras organizações, desta forma, segundo
(CAETANO, 2008, p.90), a comunicação ambiental deve ser desenvolvida em três
eixos de intenção:

Realizar objetivos estratégicos e financeiros da empresa;


Ganhar a fidelidade e respeito do consumidor; e
Ajudar o meio ambiente. (CAETANO, 2008, p.90).

E os meios de divulgação desta comunicação podem ser através da publicidade e


propaganda, assessoria de imprensa, relações públicas, promoção e merchandising.
Cada uma das ferramentas desdobra-se em uma série de ações. (DIAS, 2008).
Dessas ferramentas a publicidade e propaganda têm se destacado nas atividades
comunicacionais na maioria das empresas, isso porque dá visibilidade imediata as
ações. Entretanto deve se tornar prática comum da empresa criar planos de comunicação
específicos para as demandas ambientais. (DIAS, 2008).

A publicidade é uma excelente ferramenta para ajudar a transmitir essa


imagem, mas provavelmente tão importante como a publicidade,
reafirmamos, é a existência de um plano de comunicação que transmita essa
imagem aos diferentes mercados com credibilidade. (DIAS, 2008,p.159).

3 Considerações finais

As questões voltadas à sustentabilidade, ao meio ambiente estão em evidência


tanto na mídia quanto na mente do consumidor. Nos últimos anos elas têm sido
discutidas freqüentemente pelos órgãos ambientais, setores empresariais, e na sociedade
civil. Deixou de ser isolada e passou a abranger todos os níveis da sociedade.
Este é o momento de comunicar. A prática da autêntica comunicação para a
sustentabilidade exige posturas corajosas dos gestores da comunicação, estejam eles em
empresas privadas de pequeno, médio ou grande porte, nas redações ou na
administração pública porque ela não tolera a omissão diante das injustiças, expressa a
indignação com os desvios éticos, a corrupção, o aprofundamento das desigualdades e
proclama a tolerância.
A comunicação para a sustentabilidade não é apenas mais uma utopia, mas uma
necessidade imperiosa para indivíduos, organizações e governos. A sua práxis garante a
nossa condição de seres humanos, providos de inteligência e cordialidade, e com certeza
instaura idealmente a qualidade de vida para todos os que habitam o nosso planeta.
As empresas que possuírem estruturas suficientes para definirem seu papel
diante da preservação ambiental com foco na sustentabilidade devem fazê-lo agora.
Vale ressaltar que a percepção das demandas ambientais na pirâmide de Maslow,
atualmente está presente no topo da pirâmide. Ou seja, o consumidor coloca as questões
relacionadas ao meio ambiente e sua preservação como metas de auto-realização, e
como forma de se posicionar dentro da sociedade.
Mas a tendência mercadológica nos mostra que essa visão deve ser passageira.
Do ponto de vista prático, as mudanças climáticas, o aquecimento global, a emissão de
carbono e o desmatamento fazem com que o consumidor perceba que o problema é
muito mais abrangente e as preocupações apontadas são relevantes para conseguirmos
ter uma vida saudável no planeta.
Com o tempo é provável que questões relacionadas ao meio ambiente desçam os
níveis da pirâmide, possivelmente chegando ao ponto mais básico, no qual a auto –
estima (Maslow), que é atingida via necessidades de relacionamento, diz respeito ao
desejo que as pessoas têm de se relacionar com as outras de tal modo que seus
relacionamentos se caracterizem por um compartilhamento mútuo de idéias e
sentimentos ofertados através da troca de valores culturais, conforme demonstrado na
figura 3.

Figura: 3 – Pirâmide de Maslow

Avaliando esses fatores conclui-se que os valores invertidos da pirâmide com


base na auto realização e mudanças comportamentais pode alterar o destino do nosso
planeta, deixando-o melhor do que encontramos.
Afinal sem o meio ambiente não há vida. O grande desafio está colocado, refletir e agir
na comunicação sob o foco da Sustentabilidade.
THE SUSTAINABILITY CHALLENGE
Communications challenge focused on the sustainability

Abstract:
The objective of this paper is to present some forms communication focused on the
environmental management, the hardest challenge of the sustainability.

In the human existence there are many targets, among them are to optimize, at most, the
personal capacities and improve the conditions that can result in better and long life,
for everybody including the coming generations. This seems to be the most important
task: people´s role towards the nature.
However, more than words it is important to act. It doesn’t make sense to dream of a
pleasant world and do nothing to make it better.
In this sense, changing in the human attitudes and thoughts supported by
communication means such as advertising, press, public relations, merchandising and
promotions can bring to the society more knowledge and get clear social-environmental
matters.

Key words: Objective Personal Capacities. Potentialities. Society. Environmental


Management. Sustainability. Environmental Marketing. Communication.

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O papel da comunicação nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades

Érica Maruzi do Monte Pereira1

RESUMO

O presente artigo propõe-se a discutir, a partir das diretrizes de responsabilidade social definidas pela ISO
26000 e pelo Instituto Ethos de Responsabilidade Social, o lugar da comunicação nos processos de
relacionamento entre empresas e comunidades.
No mundo contemporâneo, as empresas, cada vez mais, são compreendidas como parte da sociedade, e como
tal, tem o dever de se relacionar e interagir com os demais atores sociais.

ABSTRACT

This article proposes to discuss, from the social responsibility guidelines defined by ISO 26000 and the
Ethos Institute for Social Responsibility, the place of communication processes in relationships between
companies and communities.
In today's world, companies increasingly are understood as part of society, and as such has the duty to relate
to and interact with other social actors.

1. INTRODUÇÃO
a. TEMA E JUSTIFICATIVA

O papel da comunicação nos processos de relacionamento entre empresas e comunidades

A sociedade contemporânea vem passando por transformações ao longo do tempo devido,


principalmente, ao advento das tecnologias. Os aparatos tecnológicos estão cada vez mais presentes
no cotidiano das pessoas, permeando as relações sociais e o modo produtivo do indivíduo. Nesse
contexto, surge o que alguns autores definem de sociedade informacional, estruturada em rede e
fundamentada na tecnologia e na informação.

1*Jornalista especialista em gestão estratégica em sustentabilidade e responsabilidade social. e-mail:


ericamaruzi@yahoo.com.br
Na sociedade informacional, a tecnologia também assume papel de destaque no mundo do trabalho,
promovendo novas técnicas organizacionais baseadas na geração de conhecimentos, de
processamento de informação e de comunicação de símbolos. Neste novo contexto do ambiente
organizacional a comunicação assume papel estratégico, gerenciando os fluxos de informações de
acordo com a demanda e a expectativa de cada público de interesse da organização.

Outros eventos como a globalização, as Conferências da ONU sobre meio ambiente e


desenvolvimento, além do novo perfil dos consumidores, também influenciaram a forma de atuação
das empresas. Estes eventos trouxeram à tona discussões sobre o papel social das organizações, que
por resposta a pressões sociais ou mercadológicas, começam a atuar de forma mais estratégica,
observando os pilares da sustentabilidade. A evolução do pensamento sustentável, que partiu da
esfera pública, cabendo a cada país promover o desenvolvimento sustentável em seu território,
chegou à iniciativa privada e os clientes passaram a ser mais exigentes, demandando uma posição
mais responsável por parte das empresas. Neste contexto, conforme Araújo et al (2006), surge o
conceito de sustentabilidade empresarial, composto por ações realizadas pelas organizações visando
à redução de impactos ambientais, a promoção de programas sociais e a manutenção no mercado
sendo economicamente viável.

Analisando a sustentabilidade a partir do pilar social, ressalta-se a importância do relacionamento


entre empresas e as partes interessadas2. Entre os públicos de relacionamento das instituições
destaca-se, neste estudo, a comunidade da esfera de influência das organizações que, por ser
heterogênea, necessita de soluções de comunicação próprias, adequadas ao contexto sociocultural
que estão inseridas.

b. PROBLEMATIZAÇÃO

Um dos grandes desafios das organizações contemporâneas é agir de maneira ética, dialogando e
respeitando os interesses dos públicos de relacionamento. A partir de um recorte mais profundo,
trazendo a comunidade da área de influência (AI) para o centro da discussão, observa-se que os
desafios ganham dimensões diferenciadas, as quais as estratégias empresariais devem considerar no
processo de tomada de decisão. Para que se estabeleça, de fato, um relacionamento entre empresas e
comunidades, estruturado a partir das diretrizes de responsabilidade social, é necessário, entre

2 “Indivíduo ou grupo que tem interesse em quaisquer decisões ou atividades de uma organização” (ABNT-
ISO 26000, 2010, p.27).
outras ações, que a comunicação atue de maneira estratégica, estabelecendo pontes de diálogos
entre as partes. Nesse sentido, chega-se ao seguinte problema:

2. Referencial Teórico – A sociedade informacional e os paradigmas do mundo


corporativo

A sociedade contemporânea é marcada por novas formas de interação entre os sujeitos, que pode ser
atrelada, entre outros fatores, ao advento das tecnologias. Atualmente, os aparelhos eletrônicos têm
se configurado como importantes mediadores das relações sociais. Através de smartphones, Ipads e
computadores cada vez mais pessoas se conectam a partir de redes sociais como facebook, twitter,
Instagram, entre outras. Além de permear as relações sociais, o ambiente de rede rompe com as
fronteiras que nos separam de outros indivíduos e realidades sociais possibilitando a troca de
informações e a articulação de atores sociais em prol de causas específicas que afetam, de maneira
positiva ou negativa, a imagem das instituições.
De acordo com uma pesquisa do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), a reclamação de um cliente
insatisfeito pode afetar não só a imagem da empresa, mas também o desempenho financeiro e o
valor de mercado da organização. Dados da pesquisa realizada com empresas do setor de telefonia
apontam que quando as reclamações na Anatel superam o índice de 0,4 queixas por mil linhas
ativas, o resultado de uma operadora poderá ser comprometido. Em entrevista ao jornal Estado de
São Paulo, Fábio Fragoso, um dos autores da pesquisa, afirmou que: "Existe um nível de
insatisfação de clientes com o qual a empresa pode conviver. Acima disso, as reclamações podem
afetar o valor da companhia"3.

A tecnologia e os processos relacionais estruturados em rede também têm mudado o modo de


produção e criação no mundo trabalho. O ambiente corporativo vem passando por transformações,
devido às mudanças nas relações de trabalho e, também, às transformações no mercado econômico.
Elementos como a globalização e a tecnologia colaboraram para a criação de um novo cenário
empresarial marcado, principalmente, pela tecnologia baseada na informação.

A chamada Revolução da Informação4 reconfigurou os espaços econômicos, políticos e


sociais. Um novo contexto empresarial começou a se desenhar. Os desafios enfrentados
pelas empresas nos períodos anteriores apresentam-se com nova intensidade: a
concorrência e competição entre as organizações se acirraram; a busca de diferenciais

3 http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,boca-a-boca-negativo-tambem-doi-no-bolso,1026662,0.htm (consultado
em: 30/04/2013)
competitivos não pode mais se basear unicamente em fatores como qualidade e preço etc.
(BICALHO, SIMEONE, et. al, 2003: pág. 3)

Visando entre outras coisas, à busca por diferenciais competitivos, as organizações começam a
desenvolver suas atividades observando os pilares da sustentabilidade, baseadas num tripé que
envolve aspectos ambientais, sociais e econômicos. Em resposta, o consumidor e a sociedade de
maneira geral começam a demandar uma postura sustentável das empresas. Segundo Keeble et al
(2002), os principais questionamentos às atividades empresariais são:

• Investidores estão procurando evidências de boa governança empresarial, considerando


particularmente a estratégia do negócio e a efetividade de sua gestão de risco;

• Clientes estão argüindo sobre a origem do produto, isto é, quem o fez e o que ele contém;

• Empregados estão interessados em trabalhar em empresas que visivelmente considerem sua


responsabilidade para com o empregado, a sociedade e o ambiente;

• Governos e sociedade civil estão aumentando a pressão para que empresas divulguem seu
desempenho social e ambiental.

Diante desses questionamentos Cantarino et al (2003) define uma nova visão de sustentabilidade
empresarial:

“A nova visão de sustentabilidade empresarial é a da integração do desempenho


econômico, social, ambiental, de segurança e de saúde do trabalhador, que são
indissociáveis, na nova visão de negócios” (Cantarino et al, 2003).

Nesse contexto surge um novo modelo de organização do mundo do trabalho, baseado no conceito
de rede, que envolve as partes interessadas da organização. Conforme defende Lucia Santa Cruz:

“De um sistema fordista, no qual as organizações baseavam-se na produção em massa, na


economia de escala e numa grande estrutura vertical, as organizações se vêem em meio a
um período de fortes mudanças, que apontam para uma estrutura de redes, dinâmica,
flexível e fortemente calcada no conhecimento e na inovação”. (Cruz, 2009: p. 3)

Neste modelo de gestão do mundo corporativo, a estrutura do conhecimento é estabelecida em rede


que, por sua vez, está amparada por diversos aparatos tecnológicos. Dentro da rede, o conhecimento
gerado numa organização tanto pode ser visto como produto quanto recurso, sendo, os stakeholders,
os principais geradores e consumidores de conteúdo desta rede. Segundo Cruz, “a estrutura em rede
é relacional, ou seja, se forma e se estabelece a partir e nos relacionamentos entre os diversos atores

4 Segundo os autores, a Revolução da Informação, intensificada a partir da década de 70, é marcada


pela “rapidez na implementação do aparato tecnológico, alta informatização dos processos produtivos e
uma realimentação contínua do processo de criação de novas tecnologias.” (BICALHO, SIMEONE, ET AL,
2003. p. 3)
envolvidos. O fluxo de interação, de troca, precisa estar constantemente ativado para que a
produção aconteça” (Cruz, 2009. p. 3).

A presença maciça da tecnologia e sua utilização nos processos de trocas sociais denominam o que
alguns autores chamam de sociedade informacional (Castells, 2003). Segundo o autor, as novas
condições tecnológicas permitem o surgimento de novas técnicas organizacionais, nas quais, a
produtividade está estruturada na tecnologia de geração de conhecimentos, de processamento de
informação e de comunicação de símbolos.
A tecnologia é a mola propulsora da sociedade informacional, na qual, a inovação é um elemento
fundamental. Cruz defende que:

“Estamos na economia da inovação, mas que não está circunscrita aos departamentos de
pesquisa e desenvolvimento das empresas. A inovação é acelerada, constante, contínua e
depende fortemente do trabalho em rede, interdependente, circulante, para acontecer. A
inovação se estabelece pelos fluxos comunicacionais que formam a própria estrutura da
rede”. (Cruz, 2009: p. 4)

Neste novo modelo de gestão, a comunicação organizacional deve ser vista como uma ferramenta
estratégica, assumindo a centralidade da rede como elemento organizador dos fluxos de informação.
É papel da comunicação mapear os diversos públicos da instituição e, a partir daí, definir
estratégias, ações e ferramentas de comunicação efetivas para cada um deles. A fim de esclarecer o
conceito, Scroferneker diz que: “a comunicação organizacional abrange todas as formas de
comunicação utilizadas pela organização para relacionar-se e interagir com seus públicos”
(Scroferneker, 2003 apud Cruz, 2009: p. 5).

Historicamente, as organizações valem-se da comunicação como ferramenta, para administrar o


relacionamento com os seus públicos, sendo, geralmente, divida em três nichos de atuação:
comunicação interna, mercadológica e institucional (Cruz, 2009). Alguns autores, como Rego
(1986) Bicalho, Simeone, Teodoro, Silva, Souza e Pinho (2003) defendem uma atuação mais
estratégica da comunicação, na qual ela opera como um elo entre o “micro sistema interno e o
macro sistema social” (Cruz, 2009. p. 5). Para os autores “a comunicação integrada é um conceito
estratégico que busca unir todas as funções da comunicação empresarial clássica, antes segmentadas
em três conjuntos de esforços” (Bicalho, Simeone, ET AL, 2003: p. 18).

Sendo assim, a comunicação integrada possui uma abrangência mais ampla e estratégica, assumindo
papel de destaque nos processos de tomada de decisão das organizações. NASSAR afirma que “à
medida que a Comunicação se torna peça-chave, especialmente no ambiente dos relacionamentos
públicos das empresas e instituições, cada vez mais seus gestores têm como desafio administrar a
dimensão simbólica dos negócios, o imaginário de suas ações” (Nassar, 2004: p. 38).

A comunicação integrada deve atuar no ambiente de redes gerenciando os fluxos de informação


entre as organizações e suas partes interessadas. Mas quem seriam elas? A partir da ISO 26000 5,
entende-se que parte interessada envolva clientes, governo, fornecedores, colaboradores,
investidores, comunidade vizinha à organização e a sociedade como um todo. Cada um desses
públicos de relacionamento possui demandas de informação e expectativas diferenciadas, que
podem ou não terem pontos de interseção.

Como reposta a novas demandas dos diversos atores sociais, as empresas começam a investir, de
maneira mais clara e precisa, no relacionamento com as partes interessadas. Nesse contexto, a
comunicação integrada deve ser alinhada com as diretrizes institucionais e realizada de maneira
intencional.

“A comunicação empresarial estratégica implica o conhecimento das partes interessadas e


suas demandas de informação e do alinhamento com as diretrizes institucionais –
fundamentalmente as que dizem respeito ao conceito da marca – para promover ações de
comunicação integrada, num processo marcado pela intencionalidade”. (Camargos, 2011:
pág. 1)

Nesse cenário a comunicação organizacional desempenha um papel de destaque, já que ela é capaz
de dialogar e estabelecer pontes e interesses em comum entre as empresas e os seus diversos
públicos (Cruz, 2009).

a. Em pauta: Gestão do relacionamento entre empresas e comunidades

É importante ressaltar que gestão de relacionamento é, antes de qualquer outra ação, um processo
de observação das estruturas e relações sociais e de escuta. Essas são as maneiras de se conhecer as
demandas de informação, para, de forma alinhada com a estratégia global, serem definidas as ações
de relacionamento e as formas de conciliação de interesses e necessidades.

5 A ISO 2600 foi elaborada pelo Grupo de Trabalho de Responsabilidade Social da ISO (ISO/TMB
WG), e a versão ABNT NBR ISO 26000 foi aprovada em dezembro de 2010.
O mapeamento de stakeholders é fundamental para garantir que haja a identificação das partes
interessadas e que haja um bom fluxo de informações, o que reduz a quantidade de ruídos na
comunicação e favorece um relacionamento institucional e comunitário alinhado com a estratégia
global e pautado pela responsabilidade social.

Em suma, a análise dos stakeholders pode ajudar a compreender o ambiente e assim viabilizar uma
visão panorâmica de onde a instituição está inserida. Ainda é possível criar cenários a partir dos
stakeholders e identificar as variáveis chaves e tendências de futuro, a fim de criar subsídios para a
decisão estratégica.

O mapeamento de stakeholders é uma ação transversal que deve estar integrada com as demais
áreas temáticas, especialmente a socioeconomia. Compreender as estruturas socioeconômicas é o
primeiro passo para identificar tendências e padrões de relações. A avaliação de dados políticos,
históricos e de ações relacionadas ao meio ambiente também contribuem para essa percepção.

A partir dessa percepção geral, conhecer as partes interessadas é um detalhamento importante para a
compreensão e projeção do cenário. Embora façam parte de um mesmo cenário, cada stakeholder
tem uma diferente posição social e demanda de informação, e, ainda, cada um tem diferentes
características de legitimidade e interesses. Saber dessa variedade de interlocutores e demandas é
fundamental para definir os pilares principais.

O relacionamento comunitário deve estar totalmente alinhado com as diretrizes de responsabilidade


social, tendo como objetivo a construção compartilhada de sentido. Neste contexto mais
contemporâneo, a ISO 26000 define responsabilidade social como:

“Responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e atividades na


sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e transparente que:

• Contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e o bem estar da


sociedade;

• Leve em consideração as expectativas das partes interessadas;

• Esteja em conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas


internacionais de comportamento;

Esteja integrada em toda organização e seja aplicada em suas relações” (ISO 26000, 2010,
p. 4).
Já o Instituto ETHOS6 de Responsabilidade Social traz a seguinte definição:

“Responsabilidade social empresarial é a forma de gestão que se define pela relação ética e
transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela se relaciona. Também se
caracteriza por estabelecer metas empresariais compatíveis com o desenvolvimento
sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para as gerações
futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades sociais”.

Conforme as definições acima, a responsabilidade social prevê uma relação ética e transparente
entre empresas e suas partes interessadas. Desse modo, a comunicação é fundamental para a
construção e manutenção desses relacionamentos, pois além de otimizar a construção dos mesmos
ela surge como um elo, estabelecendo o diálogo entre as partes interessadas.

Grunig (citado por Bicalho, Simeone, et al, 2003), defende um modelo de comunicação “simétrico
de mão dupla”, no qual os interesses da organização e das partes interessadas sejam equilibrados.
Neste modelo, a empresa busca ouvir os públicos envolvidos antes de tomar uma decisão,
analisando e negociando os impactos das suas ações. Nesta concepção, a comunicação está
intrínseca desde o início do processo, cumprindo as diretrizes de responsabilidade social, e não
somente atuando na divulgação de informações ou em momentos de crise.

Pensando em um público mais específico: a comunidade inserida no entorno das organizações,


deve-se pensar em estratégias ainda mais particulares de comunicação, observando aspectos da
identidade e cultura local.
Sabe-se que o relacionamento comunitário é um processo longo e contínuo, que deve ser planejado
concomitante ao projeto de implantação de um empreendimento. Quanto mais cedo a empresa
estabelecer o relacionamento com a comunidade, apresentando seus valores, projetos e buscando
decisões conjuntas, mais chance de êxito ela terá de se legitimar junto àquela comunidade e,
consequentemente, uma probabilidade menor de conflitos.

Para maior efetividade e assertividade nesses processos é fundamental que a comunicação se


estabeleça de forma objetiva e transparente, respeitando os interesses de todas as partes e o contexto
local na qual dada comunidade está inserida. Para isso, retoma-se o conceito de rede, na qual a
comunidade deve ser introduzida como um dos públicos estratégicos da rede. Baseada em
Colonomos (1995) e em um conceito mais humanístico, Acioli afirma que:

6 Disponível em www.ethos.org.br (acesso em: 29/11/2011)


“Em Ciências Sociais, rede seria o conjunto de relações sociais entre um conjunto de atores
e também entre os próprios atores. Designa ainda os movimentos pouco institucionalizados,
reunindo indivíduos ou grupos numa associação cujos limites são variáveis e sujeitos a
reinterpretações.” (Acioli, 2007: p. 2)

O papel da comunicação na gestão social é justamente articular e alimentar a rede entre a empresa e
a comunidade, através de ferramentas específicas. Primeiramente, faz-se necessário conhecer a
comunidade a qual se pretende estabelecer o relacionamento. Conforme dito acima, através da
análise in loco e do levantamento de dados secundários deve-se conhecer o modo de vida,
características culturais, potencialidades e fragilidades da região, entre outros aspectos
socioeconômicos. Após o diagnóstico socioeconômico faz-se necessário identificar os interlocutores
e as pessoas-chave da comunidade, quem são, grau de influência, nível de interesse e expectativas
em relação à organização são algumas das perguntas que devem ser respondidas. Analisar os
processos relacionais e tendências de relacionamento também é fundamental para compreensão de
cenários. Somente a partir daí torna-se viável traçar as estratégias de relacionamento, alinhando a
comunicação com as diretrizes institucionais, definindo o tom do discurso e as ferramentas de
comunicação que serão utilizadas. Após a implementação dos programas e ações entra-se numa
etapa peculiar: o monitoramento. É nesta fase que as ações serão alinhadas com a realidade e a
expectativa do público de interesse. É a partir do monitoramento que poderá analisar e medir a
eficácia das ações. Camargos defende que a comunicação deve ser pautada pelas diretrizes da ISO
26000 e atender a três eixos de atuação.

“É tarefa dos profissionais da Comunicação Organizacional criar um modelo de ação que


seja coerente com a norma. Uma possibilidade prática é apresentar uma série de ações
sistematizadas que atendam a três eixos:

1. Identificação das partes interessadas;


2. Escuta e divulgação de informações;
3. Alinhamento e Monitoramento” (Camargos, 2011: p. 6).

É necessário que a comunicação assuma a centralidade da rede, no sentido de organizar os fluxos e


as demandas de informação, para atender as expectativas de todos os envolvidos. Sobre a
complexidade do gerenciamento da rede Santa Cruz afirma que “uma gestão que não é mais
unidirecional, mas multidirecional, fragmentada, complementar, em constante mutação e
movimento” (Cruz, 2009: p. 3).

Para se estabelecer o relacionamento comunitário é preciso conhecer a realidade local e entender os


contextos socioculturais nos quais a comunidade está inserida. Segundo Camargos é necessário esse
processo a fim de identificar interesses e expectativas.
“Por ser plural, a comunidade requer soluções de comunicação próprias, adequadas
especificamente ao público estudado. Os dados secundários e os discursos apurados são as
formas de conhecer e, assim, agir intencionalmente com um grupo tão peculiar” (Camargos,
2011: p.8).

Nesse sentido, as estratégias de relacionamento comunitário e, mais especificamente, as de


comunicação devem ser traçadas a partir da análise das particularidades locais e, acima de tudo,
devem ser capazes de construir diálogos para compreender representações sociais e, a partir daí,
identificar pontos fortes e fragilidades para trabalhar uma construção conjunta de ações visando o
desenvolvimento sustentável da comunidade.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A sociedade contemporânea vem passando por transformações devido, entre outros fatores, ao
advento das tecnologias. Elementos como a globalização e a alta rotatividade de produtos
tecnológicos têm re-configurado as relações sociais e, também, o mundo corporativo.

Na sociedade informacional o ambiente das redes é cada vez mais evidente nas relações pessoais,
no ambiente de trabalho e também nas relações entre empresas e seus diversos stakeholders.

Nesse contexto, a comunicação assume um papel estratégico dentro e fora das organizações, pois é
ela a responsável por criar conexões entre o ambiente interno e externo das empresas, evolvendo a
organização e seus stakeholders em uma mesma rede, onde cada um desempenha um importante
papel. É função da comunicação articular essa rede e organizar os fluxos de informação de acordo
com a demanda e a expectativa da cada público. Num recorte mais profundo, pensando num público
peculiar e específico – a comunidade -, é fundamental que a comunicação desenvolva estratégias
baseadas nas diretrizes da responsabilidade social, considerando o contexto sociocultural que dada
comunidade está inserida, e estabelecendo diálogos (o que implica escuta) visando o
desenvolvimento local de forma sustentável.

O relacionamento comunitário é um processo longo e contínuo que se dá através de escutas


sistematizadas, compartilhamento de informações e decisões conjuntas. As organizações precisam
compreender que são parte da sociedade e, como tal, têm o papel de colaborar, através de ações
conjuntas, para a construção de uma sociedade melhor.

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Sistema automático para beneficiamento de
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reciclado para a cadeia produtiva da
apicultura sustentável .

*Otávio Campos Pereira 1, Ederaldo Godoy Junior 1,2, Daniela Helena Pelegrine
Guimarães1, Lidia Maria Ruv Carelli Barreto1, Gustavo Frederico Ribeiro Peão1, Paula
Vasconcellos1.
1
Programa de Mestrado em Engenharia Mecânica da Universidade de Taubaté
2
Bolsista de Produtividade e Extensão Inovadora CNPq
otavio_tk@yahho.com.br, godoyjr@unitau.br; dhguima@uol.com.br; gustpeao@gmail.com; barretolidia@yahoo.com.br;
Rua. Dr. Daniel Danelli, s/n, CEP 12.440-600 Taubaté SP. www.unitau.br,

RESUMO

Na apicultura por ser uma atividade sustentável, sua tecnologia para o beneficiamento e
melhoria da qualidade dos produtos vem evoluindo francamente, visando sempre a segurança
sanitária dos produtos e derivados no foco da exportação de produtos orgânicos. A apicultura
é sustentável, pois é um dos ramos mais favoráveis, porque se consegue obter lucros, manter o
homem no campo e o ciclo contínuo das espécies vegetais de interesse, sendo as abelhas o
agente polinizador. Porem existe dificuldades ainda encontradas nesse ramo, como por
exemplo, o beneficiamento de pólen apícola, exatamente na etapa de retirar as sujidades
contidas junto ao mesmo. Dessa forma o objetivo deste trabalho foi à construção e avaliação da
eficiência de um equipamento utilizando o principio da eletrostática para a remoção das
sujidades, buscando assim, criar um equipamento mais acessível e tão eficiente quanto aos já
existentes no mercado permitindo, dessa forma, facilitar o trabalho do produtor e extinção da
catação manual, além de garantir custo mais baixo e melhor qualidade ao produto final. Este
projeto abrange o tripé da sustentabilidade, o econômico porque gera renda para os agricultores,
o social porque é de fácil operação facilitando o trabalho e melhorando a vida do trabalhador
rural, e por ser essencialmente ecológico, já que é todo construído com material e alumínio
reciclável.

Palavras Chave: pólen, beneficiamento, sustentabilidade, eletrostática.


ABSTRACT

AUTOMATIC SYSTEM FOR PROCESSING OF BEE POLLEN WITH


STRUCTURE IN RECYCLED ALUMINUM PRODUCTION CHAIN
FOR SUSTAINABLE AGRICULTURE.

In beekeeping to be a sustainable activity, its technology for processing and improving


the quality of products has evolved frankly, always seeking the safety of health products and
derivatives in the focus of export of organic products. Beekeeping is sustainable because it is
one of the areas most favorable, because it can make profits, keep the man in the field and the
continuous cycle of the plant species of interest, and the bees pollinating agent. However there
is still encountered difficulties in the business, such as the processing of bee pollen, exactly in
step of removing impurities contained next to it. Thus the aim of this work was the construction
and evaluation of the efficiency of a device using the principle of electrostatic for removal of
dirt, thus seeking to create a more accessible and equipment as efficient as those already on the
market allowing thus facilitating the work of the producer and extinction of manual scavenging,
and ensure lower cost and better quality end product. This project covers the tripod of
sustainability, economic because it generates income for farmers, the social because it is easy
operation and facilitating the work improving the lives of rural workers, and for being
essentially ecological, since it's all built with materials and aluminum recyclable.

Keywords: pollen, processing, sustainability, electrostatic.


INTRODUÇÃO

Mel é uma substância doce produzida pelas abelhas melíferas a partir do néctar das
flores, guardada nos favos das colmeias para depois ser fornecida como alimento às
larvas das abelhas (HORN et al, 1996; SODRÉ et al, 2007). O mel cristalizado ou
granulado trata-se daquele mel que por excesso de glicose e sacarose tende a se
cristalizar. A contaminação pela presença de cristais precipita o processo de
cristalização, que pode ser evitado com a pasteurização. Trata-se de um produto
biológico muito complexo, por sua composição variar com a flora e ser influenciado
pelas condições climáticas da região onde foi produzido.

O pólen apícola é definido como sendo o resultado da aglutinação do pólen das flores,
efetuada pelas abelhas operárias, mediante néctar e suas substâncias salivares, o qual é
recolhido no ingresso da colmeia.

O pólen que aparece no mel constitui importante indicador da sua origem botânica e,
principalmente, geográfica, e é coletado involuntariamente pelas abelhas no momento da
coleta do néctar (Barth, 1989). Por meio da análise quantitativa dos grãos de pólen, é
possível estabelecer a proporção com que cada planta contribui para a constituição do
mel. As características físico-químicas e polínicas do mel ainda são pouco conhecidas,
principalmente nas regiões tropicais onde existe grande diversidade de flora apícola
associada às taxas elevadas de temperatura e umidade SODRÉ et al, (2007).

De acordo com o Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Brasil, 2001), os


produtores de mel têm enfrentado algumas dificuldades em certas fases do
beneficiamento de pólen, como é o caso da “catação”, seja pela escassez de mão de obra
como também devido ao alto custo de se adquirir equipamentos. Desta maneira, o
objetivo do presente trabalho foi projetar e construir um equipamento para o
beneficiamento do pólen, mais acessível ao pequeno e médio produtor, buscando
garantir eficiência e qualidade durante o seu processamento, utilizando-se da inovação
da eletrostática para a remoção das partículas estranhas que são encontradas no meio do
pólen. A eletrostática utilizada no presente trabalho foi gerada pelo gerador de Van de
Graf, que é um equipamento capaz de gerar eletricidade estática (ou seja, um gerador
eletrostático), transformando energia mecânica em energia elétrica. Tal gerador de
eletricidade constitui uma tecnologia diferenciada sendo, ao mesmo tempo, mais
econômico com relação aos equipamentos utilizado para o mesmo fim.
OBJETIVO GERAL
O presente trabalho tem a finalidade de desenvolver e avaliar o desempenho um
equipamento composto por uma tecnologia completamente inovadora para separar as
sujidades encontradas junto ao pólen, levando em consideração o menor custo possível
para o equipamento, com a finalidade de se obter o maior custo beneficio por quilo de
pólen beneficiado.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Criação e desenvolvimento da parte estrutural do equipamento
• Dimensionamento e adequações necessárias à capacidade e forças sofridas, bem
como cálculos de tração e carga para os motores, estrutura (mesa) e para a
correia transportadora (esteira).
• Analise de capacidade, rendimento e verificação da eficiência utilizando-se de
controle estatístico.
• Levantamento do custo beneficio por quilo de pólen beneficiado.

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Apicultura e seus aspectos econômicos
Na história da humanidade, o mel foi uma das primeiras fontes de açúcar para o
homem. Isso é demonstrado pelo uso do mel e pólen das abelhas nativas sem ferrão nos
períodos pré-hispânicos e o papel que desempenharam na dieta das comunidades
indígenas americanas. No Brasil até o século XIX, o mel e a cera utilizados na
alimentação pelos índios e brancos e a confecção de velas pelos jesuítas eram
provenientes das abelhas sem ferrão (NOGUEIRA, 1997; BERA & ALMEIDA-
MURANDIAN, 2007).
O mel puro deve apresentar aspecto líquido, denso, viscoso e translúcido, e cor
que poderá variar do amarelo ao amarelo-avermelhado, com cheiro próprio, sabor doce
e característico (CATALAN, 1981).
Segundo, Guimarães,1989. A Apicultura é considerada uma das poucas atividades
agropecuárias que preenche todos os requisitos do tripé da sustentabilidade: o
econômico porque gera renda para os agricultores, o social porque utiliza a mão-de-obra
familiar no campo, diminuindo o êxodo rural, e por ser essencialmente ecológica, já que
é uma atividade conservadora das espécies, através da polinização.

Produção nacional
O Brasil tem um grande potencial apícola, devido a sua flora ser bastante
diversificado, por sua extensão territorial e pela variabilidade climática existente,
possibilitando assim produzir mel o ano todo, o que o diferencia dos demais países que,
normalmente, colhem mel uma vez por ano (MARCHINI, 2001).
Segundo a Confederação Brasileira de Apicultura (2011), a produção apícola
nacional triplicou nos últimos anos e atualmente, com 50.000 toneladas anuais, o Brasil
é o 11º produtor no ranking mundial. A cadeia produtiva envolve mais de 350 mil
apicultores, além de gerar 450 mil ocupações no campo e 16 mil empregos diretos no
setor industrial, sendo os maiores exportadores mundiais a China, Argentina, México,
Estados Unidos e Canadá. Juntos, esses países comercializaram durante o ano de 2001
cerca de 240 mil toneladas, movimentando, aproximadamente, US$ 238 milhões. A
atividade não necessita de um alto investimento inicial e tem grandes vantagens
naturais, a exemplo da extensa flora brasileira com inúmeras plantas nectaríferas e
poliníferas (essenciais para as abelhas). Outra característica que ajuda no crescimento é
a condição favorável para criação desses insetos encontrada em todas as regiões. Além
disso, o apiário (habitat das abelhas) não necessita de cuidados diários, permitindo que
os apicultores tenham outra fonte de renda (SEBRAE, 2006).
A apicultura não se baseia apenas na produção de mel, existe uma gama de outros
produtos obtidos e cada qual tem seu próprio valor agregado, devido suas características
tanto físicas como químicas diferenciando-se do próprio mel, como por exemplo geleia
real, cera, pólen, entre outros (SEBRAE, 2006).
Mel: produzido a partir do néctar que as abelhas armazenam nos favos. É
composto de água, glicose, sacarose e alguns minerais. Como alimento tem alto valor
nutritivo e energético. Também tem emprego medicinal em doenças respiratórias e
como cicatrizante, laxante e digestivo.
Néctar: é um liquido doce e rico em açúcar, colhido pelas abelhas para fazer o
mel. Foi empregado pelos gregos para preparar a ambrosia, bebida feita a partir da
mistura de vinho água e mel. Usado como medicamento e suplemento alimentar.
Cera: subproduto do processamento do mel, utilizada em tratamentos cosméticos
e na indústria, polimento e impermeabilizações.
Geleia real: produto gerado pelas abelhas para alimentar as crias e a rainha.
Contêm hormônios, vitaminas, aminoácidos, enzimas, lipídeos e substancias que agem
sobre o processo de regeneração celular. A geleia real é oferecida como alimento para
todas as larvas jovens da colmeia, durante três dias, e, para a rainha, durante toda sua
vida. È considerado a fonte da juventude.
Própolis: produzido a partir de resinas e balsamos coletados das plantas e
modificados pelas abelhas operarias por meio de secreções próprias. É usado para fins
medicinais, como doenças respiratórias e, ainda, para mau hálito, aftas e gengivites,
bem como para fortificar o organismo. Também pode ser usado como cicatrizante em
feridas, corte, micoses, espinhas, verrugas e frieiras.
Pólen: composto coletado pelas abelhas ao visitar as flores, sendo alguns grãos
trazidos para o interior das colmeias e depositados nos alvéolos dos favos. Possui 22
aminoácidos essenciais, além de grande quantidade de proteínas e minerais. Na
indústria, é usado como suplemento alimentar e como medicamento (Brasil, 2001).
Apitoxina: Conhecida como “veneno da abelha”, a apitoxina é uma substância
contida no ferrão das abelhas que tem alto teor comercial no segmento de manipulação
de medicamentos. É uma substância química complexa, formada por água,
aminoácidos, açúcares, histamina e outros componentes.

A necessidade de pólen pelas abelhas


Segundo o Ministério de Agricultura e do Abastecimento (Brasil, 2001), define-se
pólen apícola como o resultado da aglutinação do pólen das flores, efetuada pelas
abelhas operárias, mediante néctar e suas substâncias salivares, o qual é recolhido no
ingresso da colmeia.
Segundo Morretti (2006), o pólen constitui para as abelhas, o próprio objeto da
polinização, além de ser o principal alimento sólido. O autor afirma que o pólen contém
a maioria dos nutrientes essenciais para a produção de geleia real, com a qual são
nutridas as larvas de rainha e as larvas jovens de operárias. O pólen é a principal fonte
de proteínas e lipídios para as larvas, provavelmente para todas as espécies e gêneros de
Apidae. Sendo assim, entende-se que o pólen é um alimento essencial para o
crescimento, desenvolvimento e a melhor forma de obtenção de nutrientes que as
abelhas encontram na natureza para suprir as necessidades de toda a colônia, além de
garantir a reprodução. As operárias mais velhas usam a proteína diretamente do pólen,
já as larvas e os adultos de rainha e as larvas jovens de ambos os sexos recebem geleia
real, produzida pelas abelhas nutrizes, enriquecida com pólen.
Composição do Pólen
Os grãos de pólen são estruturas microscópicas contidas nas anteras dos estames
das angiospermas e gimnospermas que representam o gametófito masculino das plantas.
Além de ser alimento, para muitos insetos, e especialmente para as abelhas MELOI et
al., (2009).

Figura 1: Pólen apícola

Fonte: Lídia Maria Ruv Carelli Barreto.

De acordo com Morretti (2006), o pólen contém basicamente 30% de água, 10 a


36% de proteínas, 20 a 40% de glucídios, 1 a 20% de lipídios (gorduras) (mas
usualmente não mais que 5%), 1 a 7% de matérias minerais (apresenta cálcio, cloro,
cobre, ferro, magnésio, fósforo, potássio, silício, enxofre, alumínio, ferro, manganês,
níquel, titânio e zinco), além de resinas, matérias corantes, Vitaminas A, B, C, D, E,
Enzimas e coenzimas.
Segundo Instrução normativa nº3 (2001), o Pólen Apícola compõem-se
basicamente de proteínas, lipídios, açúcares, fibras, sais minerais, aminoácidos e
vitaminas. Quanto aos requisitos sensoriais, o pólen apícola deve ter aroma e cor
característicos, de acordo com a origem floral; grãos heterogêneos, de forma e tamanhos
variados, tendendo a esféricos e sabor característico.
Com relação aos requisitos físico-químicos, o pólen apícola deve apresentar teor
de umidade de, no máximo, 30%, e no pólen apícola desidratado, 4%.Com relação ao
teor de minerais, o valor máximo é o de 4%, em base seca; quanto ao teor de lipídios,
proteínas, açúcares totais e redutores e fibra bruta, os valores mínimos, em base seca,
são, respectivamente, 1,8%, 8%, 14,5%, 55,0% e 2%. O valor máximo permitido, para a
acidez livre, é de 300 mEq/kg.
Para o homem, muitos benefícios são atribuídos ao consumo do pólen, como
fortificante extraordinário do organismo, estimulante e gerador de bem estar e vigor
físico, além de corrigir a alimentação deficiente, o que resulta em equilíbrio funcional
(KROYER & HEGEDUS, 2001).

Processamento do pólen e beneficiamento.


De acordo com Peão, Barreto e Dib (2006), o processamento do pólen pode ser
representado pelo fluxograma a seguir, onde o pólen coletado pelas abelhas passa
apenas por uma desidratação, reduzindo a umidade para 2-8%, evitando assim o
crescimento de fungos e outros microrganismos e por um processo de limpeza. Durante
todo o tempo de secagem deve-se utilizar um termômetro, para o controle de
temperatura, a qual não deverá ultrapassar os 45ºC. Um período excessivamente longo
de secagem a temperaturas mais elevadas provocará perda nas qualidades do pólen
(alteração de cor e endurecimento). Por ser um produto higroscópico, a secagem do
pólen deve ser feita em locais fechados, longe de qualquer fonte de umidade. Terminada
a secagem o pólen deve ser acondicionado em frascos de vidro secos e perfeitamente
vedado. O pólen, durante a sua coleta pode se contaminar com impurezas como,
fragmentos de abelhas, resíduos vegetais, poeiras, etc. Essas impurezas são retiradas
manualmente durante a etapa de limpeza, utilizando-se uma pinça. Esta etapa de
limpeza deve ser efetuada em local bem iluminado, de maneira metódica, paciente e
higiênica. Alguns tipos de separadores de sementes podem, com pequenas adaptações,
se prestar muito bem a este serviço, embora já existem nos mercados separadores de
impurezas confeccionados especialmente para esse fim. Após a limpeza o pólen está
pronto para ser comercializado.

COLHEITA

TRANSPORTE DA

CONGELAMEN

LIMPEZA GROSSEIRA

DESIDRATAÇÃ
PENEIRAMENT

AERAÇÃO

LIMPEZA FINA ROTULAGEM

EMBALAGEM ENVASE

ROTULAGEM

ARMAZENAMENTO

EXPEDIÇÃO /

Figura 2: Fluxograma para o beneficiamento do pólen

Uma das etapas citadas acima que se encontram grandes dificuldades é a


“catação”, onde se retira do pólen partículas estranhas e impurezas indesejáveis
provenientes da coleta ao consumo humano, as dificuldades estão exatamente no
momento de se retirar todas as partículas que não são pólen, ainda que atualmente (em
pleno o século 21) encontram-se processos que utilizam da catação manual ou com
equipamentos não destinados a esse trabalho, como por exemplo, secadores de cabelo.
Existem atualmente equipamentos e tecnologias empregados no processo de limpeza do
pólen, porem, inacessíveis ao pequeno e médio produtor por causa do custo elevado e
retorno a longo prazo (BARRETO, 2004).

Fundamento da estática.
Segundo Silva (2007), os fenômenos eletrostáticos são conhecidos desde o tempo
dos gregos. Naquela época já se sabia que o âmbar (pedra amarelada gerada pela
fossilização de folhas e seiva de árvores ao longo do tempo), atritado com um pedaço de
lã, era capaz de atrair pequenos pedaços de fibra vegetal (palha, linho, etc.). E, durante
vários séculos o fenômeno foi considerado apenas como uma curiosidade natural. Mas,
em 1600, o médico inglês William Gilbert publicou o primeiro tratado a respeito da
eletricidade, no qual fazia referência às cargas elétricas geradas por atrito. Seu trabalho
deu origem as primeiras "máquinas eletrostáticas", que produziam eletricidade pelo
atrito de um disco de âmbar entre dois pedaços de pele de carneiro. Mais tarde, em
1752, Benjamin Franklin chegava à conclusão de seus trabalhos em eletricidade
atmosférica, nos quais provava a existência de cargas elétricas no ar. Estes conceitos
básicos sobre a natureza da eletricidade levaram à conclusão de que as máquinas
eletrostáticas produziam e armazenavam cargas elétricas, sem contudo poder
movimentá-las, devido às propriedades isolantes dos materiais usados em sua
construção. Só se conseguiu compreender as propriedades elétricas dos vários materiais
isolantes e condutores após o desenvolvimento das teorias a respeito do átomo.
Sabe-se, atualmente, que um determinado material é isolante porque os elétrons
de seus átomos não gozam de mobilidade, como acontece no caso dos átomos de
metais, que são bons condutores. Ao serem produzidas, as cargas permanecem na
superfície do material isolante, até que sejam retiradas por um corpo condutor Corradi
et al. (2010).

Gerador de Van de Graaf.


Segundo HALLIDAY (2008), o Gerador de van de Graf é um equipamento capaz
de gerar eletricidade através de uma correia quando sofre atrito com uma superfície
metálica, sendo assim, denominado gerador eletrostático, transformando energia
mecânica em energia elétrica de alta voltagem, como a figura 3 abaixo;

Figura 3: Esquema do Gerador de Van der Graaf

Fonte: http://br.geocities.com/saladefisica

No gerador de Van der Graf, um motor movimenta uma correia isolante que passa
por duas polias (extremidades), uma delas acionada por um motor elétrico que faz a
correia se movimentar. A segunda polia encontra-se dentro de uma esfera metálica oca.
Através do atrito entre pontas metálicas e a correia de borracha (não condutora) recebe
carga elétrica de um gerador de alta tensão. A correia eletrizada transporta as cargas
(positivas) até o interior da esfera metálica, onde elas são coletadas por outro terminal
metálico (tira trançadas de aterramento) e conduzidas para a superfície externa da esfera
com o auxilio de um cabo elétrico de cobre. Como as cargas são transportadas
continuamente pela correia, elas vão se acumulando na esfera. Por esse processo, a
esfera pode atingir um potencial de até 10 milhões de volts, no caso dos grandes
geradores utilizados para experiências de física atômica, ou milhares de volts nos
pequenos geradores utilizados para demonstrações nos laboratórios de ensino (SALA,
2010).

Por que o pólen não é atraído pelo gerador.


De acordo com HALLIDAY (2008), a habilidade das abelhas para transportar
pólen de flor para flor depende de dois fatores:
(1) As abelhas tornam-se carregadas enquanto voam através do ar.
(2) A antera da flor está eletricamente isolada do chão, mas o estigma (da flor) está
eletricamente conectado ao chão.
Quando a abelha paira próxima a antera, o campo elétrico produzido pela carga na
abelha induz a carga no grão de pólen neutro, fazendo o lado mais próximo um pouco
mais negativo (ponta) que o lado mais distante. As cargas nos dois lados são iguais mas
suas distâncias da abelha não e a força atrativa no lado mais próximo é levemente mais
intensa que a força repulsiva no lado mais distante. Como resultado, o grão de pólen é
empurrado para abelha, aonde ele se fixa durante o voo da abelha até a próxima flor.
Quando a abelha se aproxima do estigma na próxima flor, a carga na abelha é induzida
no grão trazendo elétrons de condução para ponta do estigma porque o estigma está
eletricamente conectado ao solo. Estes elétrons atraem o lado mais próximo ao grão e
repelem o lado mais distante. Se o grão está próximo o bastante do estigma, a força
resultante faz com que o grão salte para o estigma, iniciando a fertilização da flor. O
grão, como um todo, ainda é eletricamente neutro, mas tem uma distribuição assimétrica
de carga (CANTO, 2010).

Figura 4: Esboço do grão de pólen e suas cargas elétricas.

1
Figura utilizada a fim didático.
Segundo Evangelista, Silva e Ribeiro (2009), o fato de objetos com forma
geométricas iguais aos grãos de pólen não ser esféricas, como demonstrado na figura 4,
às cargas do pólen ficam distribuídas de maneira desuniforme ao longo do grão, e
acumulando-se mais intensamente nas partes pontiagudas de acordo com a teoria das
pontas, além de criar um campo elétrico maior em relação às partes menos pontiagudas.
Sendo assim, pode-se dizer que o pólen é neutro. Como o gerador tem a função
de gerar grandes quantidades de cargas elétricas (positivas), que irão se acumulando na
esfera oca do gerador, sendo assim, o que fará com que o pólen não seja atraído pelo
gerador devido a sua considerável carga neutra e também pela razão da massa das
partículas de pólen serem maior a ponto de não ser atraídas pelo gerador, sendo atraídas
apenas a partículas de sujeiras e poeiras.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Esquema (desenho) e descrição do
equipamento.
O equipamento a ser construído, para beneficiamento do pólen, trata-se de uma
esteira transportadora, por onde o pólen é carregado até o compartimento fechado
(figura 5), com a função de remover totalmente as partículas estranhas como o auxilio
do gerador de Van de Graf pelo princípio da eletricidade estática.

Figura 5: Desenho (esboço) inicial do desenvolvimento para o separador de partículas.


A esteira do separador foi construída utilizando-se dos seguintes materiais;
Roletes diâmetro de 0,05 metros (aço carbono 1020), 04 Rolamentos, 02 Mancais tipo
tensor, 01 Eixo (aço carbono 1020), 2 Vigas retangulares de 3 metros comprimento
(branco, alumínio 4’ x 2’), 02 Tubos quadrados 6 metros comprimento (branco,
alumínio 2’ x 2’), 01 Tubo retangular 6 metros comprimento (branco, alumínio 2’ x 1’),
1 Barra chata (branco, alumínio 1 ½’ x 1/8’), 30 Parafusos e porcas para fixar os pés, 04
Parafusos e porca para o tensor dos roletes, 01 Caixa elétrica para conexões e
comandos, 01 Motor de indução elétrico ½ , 01 Correia de tração e 01 Dimer 600 watts
(bivolt).

Memoriais de cálculos.
Cálculo da carga a ser transportada pela esteira.
Para que a carga a ser transportada pela esteira possa ser calculada, o primeiro
passo é considerar a massa específica do pólen igual a 650 Kg/m³. Durante o transporte
a esteira transportara em uma faixa continua de produto, o seguinte raciocínio é
seguido:

Área da esteira = 2,65 m x 0,35 m = 0,93 metros²

Área do produto = 0,20 m x 0,005 m = 0,001 metros²

Volume de produto sob a esteira = 0,001 m x 2,65 m = 0,003 metros³

Peso total sobre a esteira = 650 Kg/m³ x 0,003 m³ = 1,950 Kg

Dessa forma, o resultado da carga que a esteira poderá estar transportando


durante o processamento é obtido.

Construção do equipamento (passo a passo).


Iniciando-se com a montagem da esteira (transportador), 2 barras (viga retangular
de alumínio 4’ x 2’ com 3 metros de comprimento) foram utilizadas, de acordo com a
figura 6. Essas barras constituem a estrutura principal de todo o equipamento, onde
estão fixados os rotores da esteira, tensores da correia transportadora, motor e também a
estrutura de apoio do gerador de Van de Graaf.
Para as colunas de sustentação, foram cortados quatro tubos quadrados (alumínio
2’ x 2’), com comprimento de 0,70 metros, prevendo que a viga tem aproximadamente
0,10 metros de altura, dessa maneira a esteira estará a uma altura de 0,80 metros. Com
as colunas já cortadas, fixaram-se as com o auxilio de 4 parafusos sextavados as colunas
perpendicularmente nas extremidades das vigas (parecendo uma mesa com quatro
pernas), como na figura 6 a seguir.

Figura 6: Vista lateral da esteira transportadora.


O motor de tração da esteira transportadora foi fixado sob um dos roletes de apoio
da própria esteira, utilizando-se as próprias colunas da estrutura para apoiar e fixar a
barra de sustentação do motor. Isto permite que o motor tenha uma melhor flexibilidade
de acordo com a figura (7), para colocação da correia como também retirada e suavizar
as precipitações ocasionadas durante o funcionamento.

Figura 7:Esquema de fixação do motor na estrutura.


Como toda esteira transportadora (cinta) sempre possui uma massa de produto
sendo carregada durante o processo, deve-se tenciona-la de modo que fique o mais
plana possível impedindo que o produto caísse para fora. Então se criou um sistema de
tensores de fácil manipulação e utilização para realização dos ajustes sempre que
necessários como na figura (8) abaixo.

Se caso haja necessidade de se tencionar a esteira basta virar o manípulo no


sentido horário, e na necessidade de afrouxar basta vira-lo no sentido anti-horário,
tornando esse sistema mais prático e rápido.

Figura 8: Designer do sistema dos tensores da esteira.


Levou-se em consideração para a instalação do gerador na estrutura de apoio
situada sobre a esteira, a questão de facilidade para manipulação e retirada da bandeja
de atração das sujidades. Sendo assim, parafusou uma barra redonda de 0,60 metros de
comprimento no sentido perpendicular a extensão da esteira, como na figura 9.

Figura 9: Inclusão do tubo de apoio do gerador no suporte.

O gerador foi fixado em um tubo assim como na figura 10, permitindo o


movimento do equipamento para que possam ser executados alguns ajustes ou limpeza
na bandeja de atração.

2
Medidas da figura em metros.
3

Figura 10: Esquema do equipamento final com as dimensões.

Montagem do gerador.
O gerador fui construído com materiais recicláveis para garantir o baixo custo do
equipamento. Como ilustra a figura 11 a seguir, o gerador é composto por um motor (2),
que movimenta a correia até a cúpula (5), que foi feita com uma embalagem de cerveja
de 5 litros. A estrutura branca (4), é um tubo de PVC com diâmetro de 100 mm onde se
fixaram os roletes, um em cada extremidade do tubo onde um deles fica sobre uma
mesa de plástico (3) e também é movido pelo motor que por sua vez, gira a correia
transportando as cargas elétricas até a cúpula.

3
Medidas da figura em metros
Figura 11: Gerador de Van Der Graaf.

RESULTADOS E DISCUSSÃO.

Foram realizados os testes de verificação da velocidade da esteira transportadora


em relação à escala do dimer, onde de acordo com a escala do dimer se obtêm a
velocidade requerida para a limpeza devido à quantidade de pólen que está sobre
a esteira no momento do processo (figura 12).

Esse sistema garante um total controle nos ajustes necessários que são
imprevistos ao longo do processamento.

4
Velocidade da Esteira (m/ s)

0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Escala (dimer)

Figura 12: Gráfico da escala de velocidade da esteira transportadora.


Normal - 95% CI
99
Mean 8
StDev 4,472
N 15
95
AD 0,176
90 P-Value 0,905

80
70
Percentual

60
50
40
30
20

10

1
-10 -5 0 5 10 15 20 25
Escala (dimer)

Figura 13. Curva normal de eficiência da velocidade da esteira transportadora.

A figura 13 representa a distribuição dos pontos experimentais nas curvas de


tendência, características do processo, indicando 95% de exatidão. Isto significa
que o sistema de movimentação da esteira é adequado.

A quantidade de pólen que passa pela esteira é a resultante obtida em função da


velocidade da esteira transportadora, ou seja, quanto mais rápido a velocidade da
esteira maior será a quantidade de pólen que passará pelo gerador. Abaixo segue
o gráfico dessa resultante.

Critérios Macroscópicos:

Segundo Instrução Normativa nº3 (2001), o produto não deve conter substâncias
estranhas, com exceção dos fragmentos, acidentalmente presentes, de: abelhas,
madeira, vegetais e outros, inerentes ao processo de obtenção do pólen pelas
abelhas.

Porém, essa definição se torna vago ao ser for considerado que o consumidor
quer e deseja um produto o mais puro possível e sem nenhuma partícula estranha
que não seja o próprio produto em si.
Mesmo assim, Barreto (2004), criou através de testes uma escala amostrada em 7
estados e Distrito Federal dos resultados relacionados a sujidades encontradas no
pólen apícola, onde se obteve de 0 a 25 % de sujidades em relação ao peso da
amostra, e grande parte desse resíduo encontrado foram os elementos
demonstrados nas figuras 14.

Abelha morta Cabeça de abelha Pernas e asas

Bolota de própolis Larva de abelha Coleóptera

Figura 14: Sujidades encontradas junto ao pólen apícola.

Fonte: Lídia Maria Ruv Carelli Barreto

A diferença de aspecto entre o produto antes e após o beneficiamento utilizando-


se da esteira é visível, conforme consta nas figuras 15 a 16, a seguir.
Figura 15: Pólen Apicola antes do processo de remoção de sujidades.

Figura 16: Limpeza manual do pólen apícola (Fonte: Joseth Cláucia de S. Rego)
Figura 17: Pólen Apicola após a remoção mecânica das sujidades.

Nas figuras 15 e 17, observa-se que a diferença no aspecto dos produtos


beneficiados (mecanicamente e manualmente) é significativa. Por outro lado, a
diferença no rendimento entre os dois diferentes processamentos é marcante: enquanto
no método manual se obtêm um rendimento que varia entre 100 a 200 kg por dia
(segundo dados da ACAP - Associação Canavieirense de Apicultores), a utilização de
meios mecânicos (equipamento eletrostático) proporcionou um rendimento de,
aproximadamente, 200 Kg/h, aliado ao fato de, como o equipamento não utiliza ar para
remoção das sujidades, não existe o problema de o pólen já desidratado ganhar
umidade.

CONCLUSÕES.
A partir dos resultados obtidos pode-se concluir que:

- o beneficiamento do pólen apícola pelo método mecânico resultou em um


rendimento muito superior àquele beneficiado manualmente;

- o pólen beneficiado mecanicamente apresentou algumas diferenças visuais ao


processado manualmente;

- como o equipamento não utiliza ar para remoção das sujidades, não existe o
problema de o pólen já desidratado ganhar umidade;

- o beneficiamento do pólen por meio mecânico reduz o risco de contaminação


do produto, uma vez que, durante o processo, não há contato manual com o produto.

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Sustentabilidade começa na Educação – Desafios para a ação

“A ideia de liberdade dos bens comuns gera a ruína da sociedade como um todo”
Garrett Hardin – Biólogo – 1968

Janaína Dourado*
Maria Teresa Stefani**
Cássia Maria Paula Lima***

Resumo

A proposta deste trabalho é realizar um ensaio teórico que se relacionam aos conceitos de
sustentabilidade e como são aplicados e vinculados à educação. Como suporte teórico foram
adotados alguns conceitos da teoria institucional, como campo, estrutura e habilidade social, que
permitem verificar a ação das pessoas em relação a estruturas sociais legitimadas. Partindo do
princípio que a sustentabilidade e a educação são dois campos que possuem suas estruturas e
atoressociais, os discursos e sua interseção foram analisados. É feito um breve histórico da
formação do campo da sustentabilidade na educação, que se inicia com a educação ambiental e
evolui para o desenvolvimento sustentável, levando a conflitos nas estruturas atuais, que não
conseguem atender às novas demandas. O empreendedor institucional surge como elemento
catalisador desta transformação. Em seguida é apresentado um argumento que reforça a
importância de modificar a educação, a tragédia dos comuns, que se baseia no fato de que a
ação individual sem levar em conta o coletivo arruína a sociedade como um todo. Por último,
foi mostrada a pedagogia defendida por Paulo Freire, baseada na promoção da cidadania, que
leva em conta o coletivo e a cooperação, contrapondo o individual e a competição da proposta
educacional vigente. Como consideração final, são sugeridos estudos empíricos que
demonstrem os benefícios da educação para o desenvolvimento sustentável, que levará a novas
estruturas sociais, mais adequadas à perenidade da sociedade.

PALAVRA-CHAVE: Educação,Teoria Institucional, Sustentabilidade.

* Mestranda em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Docente na ETEC. Artigos


sobre redes sociais. email: janaina.dourado01@etec.sp.gov.br

** Mestre em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Docente na UNIP dos cursos


livres sobre sustentabilidade e responsabilidade social. Artigos sobre o desenvolvimento local e
redes sociais. email: teresa.stefani@uol.com.br

*** Mestranda em Administração na Pontifícia Universidade Católica. Especialista em gestão


de projetos sociais para organizações não governamentais. Artigos sobre redes sociais e
empreendedorismo social. email: camapali@hotmail.com
Abstract

The purpose of this work is to carry out a theoretical essay that relate concepts of sustainability
and how they are applied and linked to education. As theoretical support some concepts of
institutional theoryhave been adopted, such as field, structure and social skill, that allow
understandinghow peopleact in relation to already legitimizedsocial structures. Considering that
sustainability and education are two fields that have their structures and social actors, speeches
and their intersection were analyzed. It has been made a brief summary of the formation of the
sustainability in educationfield, beginning with environmental education and evolving to
sustainable development, generating conflicts in the current structures that fail to meet new
demands. Institutionalentrepreneursariseas catalystelementsofthistransformation. It is presented
an argument that reinforces the importance of modifying the education, the tragedy of the
Commons, which is based on the fact that the individual action without considering the
collective ruins the society as a whole. Finally, it is shown Paulo Freire’s pedagogy, based on
the promotion of citizenship, which takes into account the collective and cooperation, opposing
the individual and competitiveand proposed by current educational system. As final
consideration, some empirical studies are suggested in order to demonstrate the benefits of
education for sustainable development, which will lead to new social structures, more
appropriate to the perpetuation of society.

Keywords: Education,Institutional Theory, Sustainability.


Introdução

Educação e desenvolvimento sustentável. Dois temas por si só amplos e


complexos, mas que precisam andar juntos para apoiar a sociedade na busca de soluções
para a problemática socioambiental que estamos enfrentando atualmente.
Conceitos da teoria institucional são utilizados para dar luz aos campos da
educação e da sustentabilidade, ajudando a endereçar discussões que contribuam na
reflexão para avanços no caminho que está sendo percorrida rumo a uma sociedade
sustentável.
Trata-se de um ensaio teórico, que traz reflexões a partir de opiniões de diversos
estudiosos da sustentabilidade para a discussão de um tema tão atual. Adicionar
elementos a uma das poucas coisas unânimes neste tema: a certeza de que a solução
para o desenvolvimento sustentável passa pela educação, que através dela se poderão
encontrar alternativas viáveis para endereçar a problemática socioambiental que a
sociedade tem enfrentado.

Teoria Institucional

A teoria institucional contribui para a compreensão de questões pertinentes


àinserção da sustentabilidade na educação, bem como a identificação de elementos que
promovem e outros que limitam a institucionalização de um processo de educação para
o desenvolvimento sustentável.
Serão abordados neste ensaio teórico conceitos como campo, estrutura
ehabilidade social, quevalidam e legitimam o campo pelas regras e valores vigentes
dentro de seus limites.
GARUD et. al. (2007) descrevem um campo como sendo um espaço onde as
estruturas estão definidaspor atores que detêm o poder e a ordem estabelecida
confirmasua manutenção. E esforçossão feitos para dar continuidade à situação atual,
gerando recompensas aos agentes que garantem a conformidade.
Fligstein (2007) afirma há uma microestrutura dentro do campo, que explica a
atuação dos atores no campo, ou seja, “é a combinação de recursos, de regras
preexistentes e das habilidades sociais dos atores que funciona para produzir campos,
estabilizá-los periodicamente e produzir a transformação” (FLIGSTEIN, 2007, p. 69). A
habilidade socialé a capacidade de motivar os outros a tomar parte em uma ação
coletiva, podendo partir de uma pessoa ou um grupo.Diferente do que a sociologia
clássica teorizava, que as estruturas que promoviam as mudanças sociais ou mantinham
sua reprodução, os campostêm estruturas que se mantêm estáveis por algum tempo, até
que sejam modificados por situações e pessoas que decidam desafiá-los, podendo vir de
fora ou de dentro do campo.
A partir da concepção de que os atores sociais têm uma papel independente das
estruturas na mudança social, Mendonça et al (2010) defendem que, os controladores do
campo lutam para manter a ordem vigente e, para aqueles que não estão satisfeitos, resta
a luta pela mudança. Ou seja,

As estratégias dos agentes ortodoxos (dominantes) tendem a criar uma série de instituições
e mecanismos que asseguram sua dominação (rituais, cerimônias, títulos, certificados etc.).
Os agentes heterodoxos (desafiantes) tendem a mostrar que estão descontentes com o status
quo, valendo-se de estratégias que subvertem a distribuição de poder dentro do campo (as
chamadas heresias), as quais implicam um contínuo confronto com a ortodoxia.
(MENDONÇA et al, 2010, p. 4)

Este cenário demonstra que a mudança ocorre, apesar da resistência das


estruturas vigentes de poder, quando os desafiantes encontram formas de articular ações
empreendedoras, ‘convencendo’ os demais a modificar os valores e criando estruturas
que atendam às novas formas de poder alinhadas com os desafiantes, expandindo os
limites do campo.
Os responsáveis por essas ações empreendedoras são chamados de
empreendedores institucionais, que, conforme definição de Garudet al (2007) são
indivíduos ou grupos de indivíduos, que atuam com interesses em determinados
arranjos institucionais e que conseguemarregimentar recursos para criar novas
instituições ou transformar as existentes. As habilidades sociais dos empreendedores
institucionais, bem como o poder que eles detêm no campo estabelecido, geram
transformações mais ou menos profundas no campo e em suas estruturas.
Battilana (2009), por sua vez, afirma que essas transformações são realizadas
pelos empreendedores porque eles são capazes de exercer uma visão crítica do
ambiente, de criar condições para mudá-lo e de conseguir realizar a mudança necessária
para alcançar um novo patamar. “Esses empreendedores são atores estratégicos hábeis
que encontram formas de induzir grupos muito diferentes a cooperar, colocando-se na
posição dos outros e criando significados que exercem apelo a um grande número de
atores”. (FLISGSTEIN, 2007, p.62).
Para este estudo, a educação e a sustentabilidade, foram consideradas campos. A
educação é um campo historicamente mais antigo, com estruturas tradicionais e
legitimadas. Já o campo da sustentabilidade, iniciou com esta nomenclatura a partir da
década de 1970, no exterior.
Estes dois campos começaram a se correlacionar através da educação ambiental,
sendo considerado um marco mundial a I Conferência Intergovernamental sobre
educação ambiental, que ocorreu em Tbilisi, Geórgia em 1977, promovida pela
UNESCO, um órgão das Nações Unidas.
Em países da União Européia o tema tem sido praticado há mais tempo que no
Brasil, cuja I Conferência Nacional sobre o tema ocorreu em 1997, 20 anos depois da
realizada no cenário internacional (LIMA, 2003).
Mais recentemente, a educação ambiental passou a ser reconhecida como
educação para sustentabilidade ou educação para o desenvolvimento sustentável.
A seguir, será apresentado um resumo dos discursos mais bem aceitos na
educação e na sustentabilidade, para posterior conexão dos mesmos.

Discursos de Educação e Sustentabilidade

Como forma de alcançar a transformação da sociedade rumo ao


desenvolvimento sustentável, a educação surge como instrumentopara promover novos
valores, mais sensíveis e favoráveis aos aspectos socioambientais. Lima (2009) sugere
que

Por meio da educação, tratava-se, então, deestimular uma socialização pró-ambiente,


capazde explorar suas funções de reprodução culturalnaquilo que a herança cultural
valoriza: avida humana, social e natural, e de transformaçãocultural daqueles aspectos da
tradição e adas culturas dominantes que produzem processosde degradação da vida social e
ambiental.

Porém, como conseguir transformar “aspectos da tradição e da cultura


dominantes que produzem processosde degradação da vida social e ambiental”, quando
as escolas são parte integrante desta cultura? (LIMA, 2009).
A educação é como já dito anteriormente, um campo institucionalizado, que vem
sofrendo questionamentos de diversos outros campos, bem como de atores internos a
ele. Os atores com o discurso da sustentabilidade trazem propostas de modificação e até
mesmo de ruptura das estruturas tradicionais da educação.
Dando voz aos adeptos do discurso da sustentabilidade, Gadotti (2007) afirma
que, para incorporá-la, o campo da educação precisa ser transformado. Ele defende
ainda que

O conceito de sustentabilidade na educação pode terum impacto positivo não só no que se


refere aosindivíduos, mas também nas necessárias mudanças dosistema educacional. Assim,
podemos falar de umimpacto no nível legal, reformas educacionais,curriculum, conteúdos,
e no nível pessoal docompromisso, engajando numa vida maissustentável. (Gadotti, 2007,
p. 76-77).

Mudanças no campo da educação, para os adeptos do desenvolvimento


sustentável, são o caminho para transformar a sociedade atual em sustentável.
A evolução da proposta da educação para a sustentabilidade está alinhada com o
próprio avanço do campo do desenvolvimento sustentável, que ainda é objeto de
questionamentos, não tendo conseguido chegar a um consenso entre os estudiosos do
tema.
O campo do desenvolvimento sustentável surgiu, pelo menos de maneira
institucional, a partir da década de 1970, com o Clube de Roma, quando um documento
foi publicado, onde eram expostos os Limites de Crescimento 1, ou seja, o planeta não
teria condições de absorver o crescimento populacional esperado. Diversas ações e
eventos se realizaram a partir de então. Porém, destaca-se a Conferência de Estocolmo
sobre o Ambiente Humano das Nações Unidas, ocorrido em 1987, o primeiro a discutir
em escala mundial, responsável pela publicação do relatório Brundtland, que define
como desenvolvimento sustentável “aquele que responde às necessidades das gerações
presentes sem comprometer a capacidade das gerações futuras atenderem suas próprias
necessidades” (BRUNDTLAND, 1991). Foi o primeiro documento das Nações Unidas
que projetou o debate social sobre o tema, partindo de uma concepção multidimensional
do desenvolvimento.

1 O relatório Os Limites do Crescimento – gerado por um grupo de personalidades de diversas áreas e


países do mundo, que, baseados em modelos matemáticos desenvolvidos por um grupo de pesquisadores
do MassachussetsInstituteof Technology (MIT), chegaram à conclusão que a Terra não suportaria o
crescimento populacional frente à escassez de recursos naturais e energéticos e ao aumento da poluição,
mesmo tendo em conta o avanço tecnológico.
A legitimação do discurso que qualifica o desenvolvimento sustentável se deu
em 1992, na conferência das Nações Unidas para o Desenvolvimento e Ambiente, no
Rio de Janeiro (VEIGA, 2010).
Desde então, o tema tem sido objeto de muitas discussões, inserindo-se cada vez
mais no cenário mundial. Mesmo com todos os avanços alcançados nas últimas décadas,
não se pode afirmar que o conceito de desenvolvimento sustentável já tenha sido
institucionalizado, ou seja, ainda não estão completamente definidos os limites deste
novo campo.
O campo da sustentabilidade começou a se delinear na educação através da
educação ambiental, e vem sofrendo evolução acelerada. A proposta inicial focou no
indivíduo e se inseriu como mais uma disciplina na estrutura tradicional da educação,
limitando-se a atividades de reciclagem e propondo uma mudança de atitude pessoal
diante do meio ambiente. Dentre as principais críticas sofridas por esta abordagem está
a de que traz uma visão reducionista, que trata a crise ambiental como meramente
ecológica, que confunde meio ambiente com natureza, como se a cidade não fizesse
parte do meio ambiente e despreza dimensões políticas, éticas e culturais. (STERLING,
2001; TILBURY, 1996; SAUVÉ, 1997 apud LIMA, 2003, p. 109). LIMA (2003) afirma
ainda que a solução está em abordar de maneira mais holística, com uma visão mais
crítica da questão socioambiental, aplicando metodologias interdisciplinares, com
criatividade, propondo respostas comportamentais e tecnológicas para solucionar
problemas de maior complexidade.
Verifica-se uma evolução na educação desde a educação ambiental até o
momento, com o discurso da educação para o desenvolvimento sustentável. Porém, é
importante salientar que este discurso ficou mais restrito às ideias e discussões, não
tendo sido objeto de grandes modificações efetivas na estrutura da educação, atendo-se
ainda mais à reciclagem, que, embora essencial, não é suficiente para a criticidade deste
desenvolvimento sem levar em conta também os aspectos social, político e cultural.
Contata-se que o campo da educação está instável por causa dos
questionamentos advindos da sustentabilidade, mas não houve institucionalização de um
discurso e ação mais críticos.
O Discurso Atual

Uma das críticas que recaem sobre o campo da educação formal atual é que ela
propaga e reforça um comportamento predatório e individualista, onde cada aluno se
prepara para poder competir melhor num mercado cheio de desafios e rivais (Gadotti,
2007). Portanto, modificar esta estrutura arraigada na educação é um dos desafios para a
sustentabilidade, uma vez que um mundo sustentável pressupõe novas formas de
abordar a sociedade em sua dimensão coletiva.
Para reforçar a importância de modificar a educação, e também a sociedade, para
orientá-la para o coletivo, um artigo de GarettHardin (1968), biólogo inglês, tornou-se
bastante emblemático, uma vez que chama a atenção para a forma como a sociedade
atual lida com seus problemas.
O autor ilustra sua ideia através do exemplo de uma pastagem de uso comum a
diversos pastores. Cada pastor pode utilizar-se do espaço e adicionar tantos animais
quantos sejam interessantes para si. Ao adicionar um animal, o pastor é o único
beneficiado com o lucro adicional da venda do animal. Ao mesmo tempo, a pastagem
como um todo sofre degradação marginal, proporcional a cada animal inserido nela,
sem que o pastor que o adicionou seja onerado por isso. A conclusão é que, o ganho
individual e a degradação coletiva levam a uma “tragédia dos comuns”, uma armadilha
social que condena o recurso comum à ruína no caso de exploração além de sua
capacidade de recuperação.
Hardin afirma que há dois tipos de problemas: os que podem ser resolvidos por
uma solução técnica e os que não podem. Defende que a superpopulação e a poluição
dos recursos naturais são do segundo tipo. A solução proposta, para que não haja
colapso dos recursos naturais, é uma mudança de comportamento dos integrantes do
todo.
Um caminho para realizar a mudança no comportamento da sociedade é trilhado
pela educação. É como tratar o indivíduo que é o aluno, de modo que passe a pensar e
agir coletivamente. FREIRE (1989) sugere umatransformação na educaçãopara
transformar a posição tradicional individualista, numa interação coletiva:

Uma educação completamente diferente da educação colonial. Uma educação pelo


trabalho, que estimule a colaboração e não a competição. Uma educação que dê valor à
ajuda mútua e não ao individualismo, que desenvolva o espírito crítico e a criatividade e
não a passividade. Uma educação que se fundamente na unidade entre a prática e a teoria,
entre o trabalho manual e o trabalho intelectual e que, por isso, incentive os educandos a
pensar certo. (FREIRE, 1989, p. 49).

Freire, com sua proposta de orientar a educação para a promoção da cidadania, a


partir da vivência do aluno, traz uma discussão importante da forma de pensar o
indivíduo frente ao coletivo.

Considerações Finais

Os elementos teóricos abordados neste trabalho direcionaram uma reflexão sobre


como a disciplina de sustentabilidade é aplicada no campo da educação formal atual.
Nota-se uma evolução, saindo da educação ambiental, com uma visão bastante
reducionista e simplificada do que seria sustentabilidade, para uma visão de futuro,
compartilhada por todos, ainda que de maneira incipiente, pois não se vê realizada na
prática.
O discurso do desenvolvimento sustentável propõe uma educação crítica,
holística e orientada ao coletivo. A interdisciplinaridade da sustentabilidade é um
desafio para a educação, uma vez que seu formato atual, por disciplinas estanques, torna
sua implementaçãomais complicada.
Há, portanto, necessidade de modificar a estrutura educacional vigente, mas
ainda não se chegou a um consenso sobre como e o que deve ser feito. De um lado, uma
estrutura rígida, apoiada em modelos de atuação hierárquicos e tradicionais, de outro
vem o desafiantes propondo uma reformulação dos papeis dos diversos atores, como os
professores, os diretores, até mesmo a estrutura física das escolas. Novas formas de
organizar o espaço, sem classes definidas por idade, mas por projetos ou por interesse
dos alunos pode ser uma solução.
O discurso da educação para a sustentabilidade é um elemento desafiante do
campo, mas ainda sem legitimação, pois não há resultados efetivos de trabalhos de
escolas sustentáveis em número suficiente para fundamentá-lo. O que se verifica hoje
são aulas de educação ambiental, mais orientadas à reciclagem do que ao
desenvolvimento sustentável de maneira mais ampla.
A educação precisa atuar para levar a sociedade a desenvolver novas estruturas
sociais, uma vez que as atuais são insustentáveis, pois reforçam o individual e a
competição entre os alunos. O princípio do discurso desafiante está nas discussões entre
o coletivo e o individual, que, em outras palavras, passa por mudar as formas de
interação e relação entre as pessoas, para que a educação comece a formar pessoas com
visão crítica, cientes de seu papel de cidadãs, preocupadas com as questões
socioambientais e as gerações futuras.
Mudanças nos campos são processos conflituosos e difíceis de ser
implementados e precisam de atores com habilidades sociais capazes de induzir a
cooperação de muitos para gerar um movimento com força suficiente para transformar
egerar uma nova ordem social. E a sustentabilidade é um dos combustíveis que fornece
a energia para a transformação do campo da educação. Existem outros combustíveis,
como a violência nas escolas, a internet, novos equipamentos tecnológicos que têm
desestabilizado esse campo.
A mudança necessária é tão complexa que torna a ação de difícil concretização,
uma vez que demanda um consenso entre os atores que querem a manutenção da
estrutura vigente e os desafiadores que querem sua transformação. Os conflitos são
desafiadores e não levam a relações harmoniosas, mas são necessários à evolução da
sociedade rumo ao desenvolvimento sustentável.
São sugeridos estudos para estruturar o campo da educação, direcionando para a
dimensão coletiva, com ênfase nas questões éticas e de cidadania, como forma de
contribuir ainda mais para a reflexão do tema educação para a sustentabilidade.
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Capítulo 3: Construção e Cidades Sustentáveis
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metodológicos

Dirlei Andrade Bonfim1


Juliana Oliveira Santos2
Rubens Jesus Sampaio3
Milton Ferreira da Silva Junior4

RESUMO
O acelerado processo de urbanização e a transformação de cidades em metrópoles e de
metrópoles em megalópoles, juntamente com o atual modelo de produção capitalista têm
provocado inúmeros problemas para a destinação do grande volume de resíduos sólidos
gerados. As metodologias, as leis e as resoluções propostas não têm conseguido apresentar
uma solução que venha resolver, ou mesmo, minimizar tal problema. Este artigo analisa os
graves problemas causados pelos resíduos sólidos urbanos e propõe que os padrões
metodológicos que, somente levam em consideração aspectos técnicos e econômicos, sejam
substituídos por outros que coloquem os limites ambientais, as necessidades e os conflitos
humanos em primeiro lugar.

Palavras-chave: Resíduos Sólidos Urbanos. Cidades. Produção Capitalista.

ABSTRACT
The accelerated process of urbanization and the transformation of cities into metropolises and
megalopolises metropolises, along with the current model of capitalist production have caused
numerous problems for the allocation of the large volume of solid waste generated. The
methodologies, laws and proposed resolutions have failed to present a solution that will solve,
or even minimize this problem. This article examines the serious problems caused by the
MSW and proposes methodological standards that only take into account technical and
economic aspects, to be replaced with others that environmental limits, needs and human
conflicts in the first place.

Keywords: Municipal Solid Waste. Cities. Capitalist Production.

1 INTRODUÇÃO

Com o aumento da população mundial hoje estimada em 7,0 bilhões e o grau de


urbanização que representa 75% do total da população vivendo em cidades, torna-se clara a
necessidade de uma reavaliação sobre os modelos de produção, consumo e crescimento

1
Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Professor da Faculdade
Independente do Nordeste, 45.000-000 Vitória da Conquista, Bahia, Brasil; E-mail: dirleibonfim@gmail.com.
2
Doutoranda em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Enfermeira da
Universidade Federal da Bahia (UFBA) e Docente da Faculdade Juvêncio Terra. 45.020-750 Vitória da
Conquista, Bahia, Brasil; E-mail: juli.os@ibest.com.br.
3
Doutorando em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente pelo Prodema/UESC; Professor da UESB
45.000-000 Vitória da Conquista, Bahia, Brasil, E-mail: rubens.sampaio@oi.net.br.
4
Doutor. Professor do DCAA e PRODEMA da UESC. Email notlimf@gmail.com.
1
econômico adotados pela grande maioria dos países, em decorrência da dificuldade do correto
gerenciamento e da disposição final de resíduos sólidos urbanos (RSU) gerados.
A perspectiva na é animadora se tomarmos como base crescimento do número de
grandes cidades. Em 1950 havia apenas uma megalópole com mais de 10 milhões de
habitantes no mundo, Nova York. Em 2000 esse número já subira para 19, esperando-se para
2015 23 megalópoles, entre as quais algumas como Tóquio, Mumbai, Cidade do México,
Lagos e São Paulo com mais de 20 milhões de habitantes.
Percebe-se, claramente, que o ritmo acelerado de utilização de matérias primas para a
satisfação das necessidades do homem urbano, tem sido um problema na a natureza, pois não
tem dado, na maioria dos casos, oportunidade para a recomposição do planeta. Segundo
Deleuze (apud WILLIAMS, 2012, p. 98), “um problema é determinado pelas relações seriais
de estruturas, ou seja, pelo modo no qual diferentes estruturas se encontram e se chocam”.
Há evidências suficientemente comprovados de que a natureza e o modelo capitalista
de produção são estruturas que vêm se chocando por trabalharem em velocidade e tempo
diferentes.
Para Altvater (2010, p.24),

a sobrecarga das reduções das emissões causadas pela produção e pelo consumo
(gases nocivos ao clima, efluentes e resíduos) na coluna do output do metabolismo
com a natureza é ainda mais dramática do que a finitude do input de um modo de
produção capitalista de propulsão fóssil.

Salienta ainda que: a base de recursos da acumulação capitalista encolhe, sobretudo


as reservas de petróleo começam a esgotar-se. A poluição do planeta avança sem freios e sem
reduções. Juntamente com o clima, os gases-estufa transformam as condições de vida na terra
de modo talvez catastrófico. O capitalismo perde seus recursos, a reprodutibilidade do planeta
Terra está em vias de ser destruída (ALTVATER, 2010).

2 POLÍTICA NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS

A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) determina que a prioridade na


gestão dos resíduos não é voluntária e sim obrigatória, prevendo a não geração, a redução, a
reutilização, a reciclagem e o tratamento. Prevê ainda a adoção da logística reversa, por
meio de ações para coletar os resíduos sólidos e devolvê-los ao setor empresarial.
Inicialmente, a logística reversa engloba o recolhimento de resíduos e embalagens de

2
agrotóxicos; pilhas e baterias; pneus; óleos lubrificantes; lâmpadas fluorescentes, de vapor de
sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.
Vale ressaltar que em agosto de 2014 acaba o prazo para o cumprimento da Lei
12305/2010 (PNRS) onde a meta estabelecida é acabar com os lixões em todo o país, além de
investir em cooperativas de catadores e em parcerias para aumentar a coleta seletiva e da
destinação adequada do lixo não reciclável.
A PNRS determina que os aterros devem receber apenas rejeitos, ou seja, aquilo que
não é possível reciclar ou reutilizar e serão estruturas que devem ter o preparo do solo para
evitar a contaminação de lençol freático e captarão o chorume que resulta da degradação do
lixo. Além destas determinações, como, mesmo com a disposição final adequada, os RSU
produzem emissões de gases causadores do efeito estufa, os aterros deverão gerar energia com
a captação dos gases gerados. Para estimar a composição e o quantitativo do biogás a ser
produzido no aterro, pode ser utilizado o modelo matemático do Intergovernmental Panel on
Climate Change (IPCC) (UNITED NATIONS, 2013).
Com a implementação das medidas determinadas pela PNRS, um dos objetivos é
alcançar um índice de reciclagem de resíduos da ordem de 20% em 2015.
A 4ª Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA) marcado para outubro de
2013 representa uma pré-avaliação das possibilidades de cumprimento das determinações da
PNRS. No referido evento, as contribuições de representantes da sociedade civil, de governos
e do setor privado para a implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) no
país serão avaliadas, além disso, esses setores vão apresentar, de maneira conclusiva, as
estratégias que já foram incorporadas em suas atividades e as novas medidas que ainda
poderão ser adotadas.
Os dados indicativos de 2011 não sinalizam de que estamos indo na direção
requerida pelo dispositivo legal, a Lei 12305/2010 (BRASIL, 2010).

3 GERAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS NO BRASIL: IMPASSES


POLÍTICOS E TÉCNICOS

Em 2011 o Brasil gerou 61,9 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos


(RSU). Este número é 1,8% a mais do que no ano de 2010 (ABRELPE 2011). 55,5 milhões
de toneladas de RSU foram coletadas, isto significa 90% do total gerado. 10% de tudo o que
foi gerado foram depositados em terrenos baldios, ruas, córregos, lagos e praças.

3
Do total de RSU coletado em 2011, 42% acabaram em locais inadequados, isto é,
lixões e aterros controlados. Levando em conta o ponto de vista ambiental, os aterros
controlados têm o mesmo impacto negativo que os lixões. Na prática, são lixões melhorados
por serem áreas que não recicla, reaproveita e reutiliza o RSU coletado e não fazem o
tratamento do chorume. Nos dois casos o meio ambiente não é protegido, como seria caso os
RSU fossem adequadamente depositados em um aterro sanitário como determina e supõe a lei
12305 (BRASIL, 2010), que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Tomando como base os dados do Panorama Brasil 2011 (ABRELPE, 2011) nota-se
que em 2011 a situação piorou. Em 2010 o volume de destinação inadequada foi de 22,9
milhões de toneladas contra 23,2 milhões de toneladas em 2011. Essa deposição inadequada
provoca vários danos ao meio ambiente. Em alguns casos os impactos são irreversíveis.
No ano de 2010 em comparação com 2009 os dados do IBGE (2010) sobre o tema já
não davam uma sinalização animadora. A geração de RSU novamente registrou um
crescimento expressivo de 2009 para 2010, conforme indica a Figura 1. A geração de RSU
superou a taxa de crescimento populacional urbano que foi de cerca de 1% no período.

Figura 1 - Geração de RSU no Brasil

Fonte: IBGE (2010); ABRELPE (2010)

Em 2010 61% dos municípios brasileiros ainda faziam uso de unidades de destinação
inadequada de resíduos, encaminhando-os para lixões e aterros controlados.
O Panorama Brasil 2011 indica ainda que dos 5.565 municípios brasileiros, 58,6% do
total, afirmam ter iniciativas de coleta seletiva, o que significa um aumento de 1% em

4
comparação ao ano anterior. Entretanto, apenas 27,7% das cidades dispõem de aterros
sanitários, segundo dados do Ministério das Cidades (BRASIL, 2011).
De todo o RSU coletado, a região Sudeste responde por 53% e a região Nordeste por
22%. Nessas duas regiões estão concentrados 75% de todo o RSU do território nacional. O
Brasil ainda tem 4 mil lixões. Deste total, 1,7 mil estão na Região Nordeste.
Em relação à coleta de lixo hospitalar, os municípios coletaram e destinaram 237,6
toneladas de resíduos sólidos de saúde (RSS) das quais 40% têm destino inadequado, indo
para lixões, sendo depositados sobre o solo sem tratamento prévio, não só contaminando o
meio ambiente, mas trazendo um risco muito grave para as pessoas que catam resíduos nesses
lixões.
Segundo Hawken, Lovins e Lovins (2004) somente a indústria da construção civil
consome um terço da energia total, dois terços da elétrica e um quarto de toda a madeira
colhida; no mundo, empregam-se anualmente três bilhões de toneladas de matéria-prima na
construção.
Estima-se que a construção civil consome algo entre 20 e 50% do total de recursos
naturais consumidos pela sociedade (SJOSTROM, 1996). O consumo de agregados, por
exemplo, é imenso. Em decorrência da alta utilização de recursos naturais, algumas reservas
de matérias-primas, como por exemplo o cobre, tem vida útil estimada de pouco mais de 60
anos (INDUSTRY ENVIROMENT, 1996). Em uma cidade como São Paulo o esgotamento
das reservas próximas a capital faz com que a areia natural já seja transportada de distâncias
superiores a 100 km, implicando em enormes consumos de energia e são grandes geradores de
poluição, dada sua dispersão espacial, transporte a grandes distâncias. Cerca de 80% da
energia utilizada na produção do edifício é consumida na produção e transporte de materiais
(INDUSTRY ENVIROMENT, 1996).
Neste ponto, vale ressaltar que ainda não conhecemos e não temos como avaliar os
custos da degradação.

Se fizermos cálculos frios, veríamos que algumas medidas de proteção ambiental e


de concertos ecológicos são mais dispendiosas do que os próprios danos sofridos
pelo meio ambiente. É impossível monetizar as transformações da natureza causadas
pelo homem. A natureza não se deixa avaliar em grandezas monetárias, por isso não
dispomos de um critério que nos permita medir e comparar com segurança os custos
do impedimento e do conserto de danos ambientais nem dos próprios danos
ambientais. Mais difíceis ainda são os limites da avaliação monetária da preservação
da natureza e dos danos por ela sofridos quando consideramos a evolução.
Simplesmente não sabemos nada sobre os efeitos secundários, terciários etc., sobre
os danos ambientais, por exemplo, do efeito estufa. Por causa dessa insegurança
insuperável, a Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

5
realizada em 1992 no Rio de Janeiro, declarou o princípio da prevenção como fio de
prumo de toda e qualquer ação política (ALTVATER, 2010, p.224).

O documento final da Rio+20, intitulado “O Futuro que Nós Queremos” continuam


apontando na mesma direção, entretanto, o resultado, em última análise, resume-se a uma
longa lista de promessas para avançar para uma "economia verde", que freie a degradação do
meio ambiente, combata a pobreza e reduza desigualdades. Não são apontadas origens dos
recursos para se realizar essa transformação – os meios de implementação –, o que de certa
forma, repete um dos problemas da histórica antecessora, a Rio 92.

4 NATUREZA DO CAPITALISMO E SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL:


IMPASSES LEGAIS E METODOLÓGICOS

Todo o arcabouço legal: Lei 12305 BRASIL 2010 e Resolução 307/2002 CONAMA,
bem como, as metodologias propostas para a gestão dos RSU são dispositivos5
eminentemente técnicos que, em um primeiro momento, estão orientados com o objetivo de
estabelecer técnicas disciplinares6 e, num segundo momento, voltados para questões
econômicas e procedimentos técnicos que tratam o problema dos impactos ambientais dos
RSU sem levar em consideração, a priori, as questões humanas. Entende-se que os conceitos
de políticas públicas ambientais, propostos pelo aparato legal e metodológico são mecanismos
sociais do Estado que tem como objetivo maior a “Governamentalidade7”.
De acordo com Foucault (2012) não há na burguesia uma preocupação com o objeto
em si (gestão de resíduos sólidos para evitar os impactos ambientais e melhoria da vida dos
seres humanos) e sim com os lucros políticos e alguma utilidade econômica. Compreende-se,
então, que, dentro da natureza do sistema capitalista, as estratégias e os projetos elaborados

5
“[...] um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas,
decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode
estabelecer entre estes elementos” (FOUCAULT, 2012, p. 244).
6
Tratam-se da vigilância hierárquica, pois o “exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo
jogo do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os
meios de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”; da sanção normalizadora: as
disciplinas “estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e
reprimem um conjunto de comportamentos”; e do exame: “um controle normalizante, uma vigilância que
permite qualificar, classificar e punir” (FOUCAULT, 2011, p. 165-177).
7
“Conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem
exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal
de saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança”
(FOUCAULT, 2012, p. 409).
6
para a correta gestão dos RSU fazem parte de mais uma estratégia que tem com finalidade os
benefícios políticos e o retorno financeiro.
Williams (2012) concorda com Foucault e complementa, não há nenhum estado
prometido e de algum modo livre de todos os males do capitalismo.
Altvater (2010, p.323) amplia a compreensão de Williams e Foucault e afirma:

no modo de produção capitalista não importa a satisfação de necessidades no âmbito


dos limites fixados pela natureza humana, pela comunidade pequena (e pelo
metabolismo natural em particular), mas apenas o lucro – daí a acumulação e o
crescimento – e, por conseguinte, também a demanda limitada apenas pelo poder
aquisitivo monetário. Por essa razão o princípio da suficiência permanecerá ineficaz
no âmbito do capitalismo, pois a autorreferencial falta de limites do capitalismo se
imporá contra os limites da suficiência.

Desta forma, não há a possibilidade de uma sociedade sustentável sem a implantação


de outro sistema diferente do atual. Como este sistema conta com mecanismos de coação
inerentes ao próprio mercado que assumem uma forma institucional, vale dizer, política, os
enfoques alternativos de uma economia solidária e sustentável são enfrentados por todas as
instituições do capitalismo globalizado com medidas de ajustes estruturais, a imposição de
condicionalidades na concessão de créditos em combinação com mecanismos de coação
inerentes aos mercados liberalizados (ALTVATER, 2010).
Indicadores de viabilidade econômica para a implantação de usinas de reciclagem,
definições de procedimentos topográficos e de acessibilidade urbana para a instalação de
ecopontos e volume necessário de RSU para a instalação de processo de reutilização,
reaproveitamento, reciclagem e reintrodução dos resíduos na cadeia produtiva, dentre outros
requisitos, comprovam que os aspectos que envolvem o bem estar e a qualidade de vida do
homem estão relegados ao segundo plano e são mecanismos de coação do sistema econômico
atual. Em nenhum momento as necessidades, os desejos do indivíduo e seus conflitos são
pautados.
De acordo com Foucault (2012, p.12) “toda teoria é provisória, acidental, dependente
de um estado de desenvolvimento da pesquisa, que aceita seus limites, inacabada, parcial,
fragmentária, transformável e que, em seguida, são revistos, reformulados, substituídas com
base em novo material trabalhado”.
Neste aspecto, entende-se que uma metodologia, uma resolução e/ou lei, podem
atender temporariamente, sob determinadas circunstâncias, e não surtir o efeito desejado para
outras realidades. Pode-se, também, considerar as micro relações de poder na rede social
como fator relevante para que tais procedimentos metodológicos e legais tenham o efeito
7
desejado. Em determinadas condições o micropoder ou o macropoder podem ter maior
resposta que o emanado do Estado.
Os poderes se exercem em níveis variados e em pontos diferentes da rede social, e
nesse complexo os micropoderes existem integrados ou não ao Estado, distinção que não foi
muito relevante ou decisiva para suas análises na obra Microfísica do Poder, Foucault (2012).
A compreensão destes pressupostos e leva-los em conta aperfeiçoa a vida dos
homens e potencializa a eficácia das resoluções.
Em relação aos processos metodológicos ora utilizados para a gestão dos RSU, vale
considerar a assertiva foucaltiana de que:
“saber e poder se implicam mutuamente: não há relação de poder sem constituição
de um campo de saber, e, reciprocamente, todo saber constitui novas relações de poder”
(FOUCAULT, 2012, p.130).
Entende-se, então, de acordo com Foucault (2012, p.131) que: “saber é poder e poder
é saber”. Deste modo, os postulados metodológicos devem se cercar de cuidados necessários,
já que: “vivemos cada vez mais sob o domínio do perito”. É inegável a influência das
metodologias adotadas pelo meio acadêmico como eficazes para a gestão dos RSU, nas
resoluções e leis emanadas do Estado.
Tem-se, ainda, como uma precaução adicional o seguinte fato:
Em uma sociedade como a nossa, mas no fundo em qualquer sociedade, existem
relações de poder múltiplas que atravessam, caracterizam e constituem o corpo social e que
essas relações de poder não podem se dissocias, se estabelecer nem funcionar sem uma
produção, uma acumulação. Uma circulação e um funcionamento do discurso. Não há
possibilidade de exercício do poder sem certa economia dos discursos de verdade
(FOUCAULT, 2012).
Sob esta ótica, a verdade sobre a gestão dos RSU é reafirmada pelo discurso
legitimado pelo direito que está a serviço do poder.
Um princípio geral no que diz respeito às relações entre direito e poder: parece-me
que nas sociedades ocidentais, desde a Idade Média, a elaboração do pensamento jurídico se
fez essencialmente em torno do poder real. É a pedido do poder real, em seu proveito e para
servir-lhe de instrumento ou justificação que o edifício jurídico das nossas sociedades foi
elaborado. No Ocidente, o direito é encomendado pelo rei (FOUCAULT, 2012).
Na sociedade moderna a figura do rei é substituída pelo Estado. Foucault (2012)
entende que o direito não é simplesmente a lei, mas no conjunto de aparelhos, instituições e
regulamentos que aplicam o direito. O objetivo final de instrumentos como órgãos de
8
fiscalização e controle e o aparato burocrático é ser uma das múltiplas formas de dominação
que se exerce na sociedade.
Legitimando-se pelo arcabouço legal e apropriando-se dos discursos da verdade, o
poder funciona e se exerce em rede, ou melhor, em cadeia. Em outros termos, o poder não se
aplica aos indivíduos, passa por eles. O indivíduo é um efeito do poder e por isso seu centro
de transmissão com seus gestos, discursos e desejos (FOUCAULT, 2012). Cabe, desta forma,
ao estudioso do processo de gestão dos RSU “entender a maneira como os fenômenos, as
técnicas e os procedimentos de poder atuam nos níveis mais baixos; como esse procedimentos
se deslocam, se expandem, se modificam; mas sobretudo como são investidos e anexados por
fenômenos mais globais; como poderes mais gerais ou lucros econômicos podem inserir-se no
jogo dessas tecnologias de poder que são, ao mesmo tempo, relativamente autônomas e
infinitesimais (FOUCAULT, 2012).
Cabe, também, entender como esses mecanismos de poder, em dado momento, em
uma conjuntura precisa e por meio de um determinado número de transformações começaram
a se tornar economicamente vantajosos e politicamente úteis (FOUCAULT, 2012).
A burguesia ao vislumbrar o lucro econômico e uma utilidade política passa a
colonizar e se sustentar por mecanismos globais do sistema do Estado. Não há uma
preocupação com o objeto em si (a gestão dos RSU) e sim com os lucros e alguma utilidade
econômica.
O mundo globalizado é unificado num campo de valorização, em termos políticos,
econômicos e sociais, bem como culturais e linguísticos, com a ajuda das diferentes
estratégias de apropriação da produção excedente. Podemos assim inferir que o mundo não se
torna apenas uma mercadoria, mas uma mercadoria capitalista, e a transformação do mundo
em mercadoria só pode ser desfeita mediante o questionamento do caráter capitalista do
mundo (ALTVATER, 2010).
Entende-se então, que a implantação de medidas sustentáveis de resíduos virá em
decorrência da transformação mundial e isso não acontecerá sem a tomada do poder para a
configuração de economia mundial.
Foucault (1926 – 1984) concorda com Altvater (2010), e afirma: “nada mudará na
sociedade se os mecanismos de poder que funcionam fora, abaixo, ao lado dos aparelhos de
Estado, em nível muito mais elementar, quotidiano, não forem modificados”.
Altvater (2010) entende que a mudança na sociedade proposta por Foucault (2012)
consiste em mobilizar a criatividade para neutralizar essas forças, mas também será necessário
mobilizar um contra poder, para que as concepções programáticas de solidariedade
9
sustentabilidade possam ser implementadas na realidade. Neste aspecto, não apenas os
movimentos sociais desempenham um papel importante, mas também os partidos políticos, os
parlamentos e os governos.
O capitalismo, baseado nas fontes fósseis de energia, racionalidade industrial de
meios e fins produz uma aceleração de todos os processos econômicos e sociais, única na
história da humanidade, e, em consequência, um aumento considerável da “riqueza das
nações”. Mas a aceleração enseja seleções de caminhos de desenvolvimento que conduzem a
becos sem saída na destruição da natureza. Em outras palavras: o capitalismo desenvolve-se
mais e mais na direção de um “inimigo da natureza” (KOVEL, 2002). No fim da história, o
“melhor de todos os mundos possíveis” destrói os fundamentos da sua própria vida.

5 OS CONFLITOS DE INTERESSES

Os próprios dados técnicos divulgados pelos que aplicaram as metodologias


propostas para a gestão dos RSU, com o objetivo de atender os ditames legais, comprovam
que os objetivos não estão sendo alcançados (ABRELPE, 2011). Os conflitos existentes,
desde a implantação de um aterro sanitário em uma cidade, até a relação entre países em torno
de medidas sustentáveis previamente acordadas, indicam que os parâmetros adotados com
base nas prioridades econômicas do atual sistema e nas metodologias de gestão ambiental não
estão atendendo às necessidades e os anseios humanos.
Os fatos relatados abaixo são um indicativo das considerações acima estabelecidas:
• Rio de Janeiro 17/02/2012 - Moradores do bairro de Chaperó, na divisa de Seropédica e
Itaguaí, na região metropolitana do Rio, protestam contra a instalação do novo Centro de
Tratamento de Resíduos (CTR), que estaria emanando odor desagradável e provocando
problemas de saúde na população local. O problema principal seriam os reservatórios de
chorume a céu aberto, resultado da decomposição das toneladas de lixo trazidas
diariamente por caminhões, principalmente da capital. O CTR substituiu o aterro sanitário
de Gramacho, em Duque de Caxias, fechado em junho do ano passado (AGENCIA
BRASIL, 2013).
• Brasília 27/12/2012 – Na tentativa de garantir o financiamento de ações relativas ao
desenvolvimento sustentável, a partir de janeiro negociadores de países em
desenvolvimento buscarão alternativas. A ideia é fechar até dezembro um documento no
qual estarão definidos os detalhes, o calendário e até a estratégia para assegurar os

10
recursos. A iniciativa foi provocada pela ausência de acordo entre os países desenvolvidos
em relação aos financiamentos.
"Há uma ameaça concreta aos esforços internacionais na medida em que se percebe
uma retração muito forte dos países ricos quanto ao financiamento de ações na área de
desenvolvimento sustentável", disse à Agência Brasil o embaixador Luiz Alberto Figueiredo
Machado, subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia do
Ministério das Relações Exteriores e coordenador-geral da Conferência das Nações Unidas
sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. "O caso do Brasil é emblemático. Tivemos as
mais baixas taxas de desmatamento desde que o país começou a medir por satélite", destacou
o embaixador Machado (2012).

Os países em desenvolvimento têm sido responsáveis ao fazer seu dever de casa e,


portanto, têm direito de exigir que os países industrializados, que são os
responsáveis pelas mudanças do clima, façam sua parte, não só na questão de
redução de emissões, mas também no cumprimento de suas obrigações no
financiamento das ações nos países em desenvolvimento (MACHADO, 2012).

• Macapá (Amapá) 27/11/2012 – O Brasil é o país que mais reduz o desmatamento e as


emissões de carbono no planeta. Ao destacar a posição de liderança do governo brasileiro
nas metas previstas em acordos internacionais de mudanças do clima, a ministra do Meio
Ambiente, Izabella Teixeira (2012), disse que o país não tem recebido a compensação
devida por esses avanços.
Acrescentou a ministra, Izabella Teixeira, que participou em Macapá do 3º
Congresso Nacional das Populações Extrativistas:

O Brasil está fazendo muito sem ter o retorno que poderia ter. O Fundo da
Amazônia só tem doação, até hoje, da Noruega, da Alemanha e da Petrobras, uma
empresa brasileira que aloca recursos na Amazônia. Cadê os outros doadores? Nós
estamos reduzindo o desmatamento. A contribuição brasileira continua (TEIXEIRA,
2012).

Pelos números do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o desmatamento illegal na


região caiu de 29 mil quilômetros quadrados (km²) em 2004 – ano em que foi registrada a
maior degradação na região - para 6,4 mil km² em 2012. Este mês, o MMA deve divulgar
mais uma redução da área degradada.
• A expectativa de países em desenvolvimento e nações mais pobres é que o tema volte a ser
debatido durante a 18ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP18), quando as
nações menos desenvolvidas esperam avançar na elaboração da segunda etapa do
Protocolo de Quioto – que estabelece as metas de redução de emissões de gás de efeito
11
estufa para os países desenvolvidos. A COP18 começa no fim deste mês e vai até o início
de dezembro, em Doha, no Catar, com a participação de representantes de 190 países
(TEIXEIRA, 2012).

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O crescimento da população mundial, a pressão para a expansão territorial das


grandes e médias cidades, a ampliação e a aceleração do sistema de produção e consumo
industrial para atender as necessidades de excedente do sistema capitalista, têm contribuído
para agravar as condições ambientais, principalmente no do cenário urbano.
No ambiente urbano, determinados impactos ambientais como a poluição do solo, da
água e do ar, ocupação sem o devido ordenamento, a favelização das periferias, edificação de
moradias em locais inadequados necessitam ser repensados.
Pelos resultados até agora alcançados, percebe-se que em relação à gestão de RSU:
todas as metodologias têm seus limites e que as pessoas envolvidas, ainda que sejam não
especialistas frequentemente sabem mais do que os especialistas e deveriam, portanto, ser
consultadas, já que sofrem as consequências diretas das ações antrópicas. Sendo assim,
nenhum novo modelo de gestão dos RSU deve ser implementado sem a discursão, a priori,
das causas originadoras de tais impactos e sem a participação da sociedade envolvida.
Por outro lado, todo o arcabouço legal emanado do Estado: Resolução 307/2002 do
CONAMA; Lei 12305/2010 (PNRS), Lei Federal 10257 (ESTATUTO DA CIDADE), bem
como as demais resoluções que tratam da geração de resíduos em porto, aeroportos,
rodoviárias, hospitais e postos de saúde, trabalham com uma metodologia que analisa a
questão dos resíduos após a sua geração, agindo assim, após o fato consumado e, desta
maneira, adota um posicionamento, aparentemente, tácito em relação ao sistema de produção,
consumo e econômico em vigor. Não leva em consideração a possibilidade de outro modelo
de desenvolvimento em consonância com as necessidades ambientais e humanas. Até mesmo
a Constituição Federal ao atribuiu novas responsabilidades aos municípios referentes à
promoção de programas e políticas públicas, visando à melhoria da qualidade de vida nas
cidades, cometeu equívoco semelhante quando o dispositivo legal determinou que os
municípios, juntamente com outras esferas governamentais, passaram a empreender ações
visando “proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas”
(BRASIL, 1988, art. 23, inciso VI p.103) e a “controlar a produção, a comercialização e o

12
emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de
vida e o meio ambiente” (BRASIL, 1988, art. 225, inciso V p.103).
Observa-se, desta maneira que se faz necessária à reestruturação dos setores públicos
e privados responsáveis pela legislação, geração e gerenciamento dos RSU, onde deverá,
portanto, refletir as mudanças de paradigma, ditadas pelas necessidades ambientais e humanas
atuais, formando um novo modelo econômico onde a sobrevivência no planeta e do planeta
estejam no ponto mais alto da cadeia de valor.
No plano global, o conflito entre os que preservam e os maiores poluidores está
posto. Na indecisão entre quem paga e quem recebe, todos perdem.

REFERÊNCIAS

AGENCIA BRASIL. Moradores de Chapero na região metropolitana do rio protestam


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(Série Pensamento Moderno).

14
Análise de ventilação natural em habitação popular

Mario Roberto Nantes Junior*(a,b), Gabriel Borelli Martins(b), Paulo José Saiz
Jabardo(b), Gilder Nader(a,b)1

Resumo

O processo de urbanização de favelas aliado à necessidade de construção de conjuntos


habitacionais sustentáveis e eficientes do ponto de vista energético, tornou primordial um estudo
mais detalhado, na fase de projeto, de questões como ventilação e iluminação naturais. Este
trabalho trata especificamente de ventilação natural induzida pelo vento. Buscou-se desenvolver
uma metodologia de ensaio em túnel de vento para análise da ventilação natural em
apartamentos de habitações populares, de forma a otimizar o conforto térmico e a qualidade do
ar interior, com o controle adequado de contaminantes. A metodologia utilizada foi composta
pela utilização em conjunto das técnicas de visualização de escoamento por fumaça,
mapeamento de campo de velocidades com PIV e medição de pressão interna na residência, o
que demonstrou grande coerência entre as medições e a possibilidade de melhor entender os
fenômenos que influenciam na qualidade da ventilação natural no interior da residência. Neste
trabalho foi analisado um apartamento de habitação popular já construído, e não foram
considerados os efeitos de vizinhança, os quais podem afetar as características do escoamento
de forma positiva ou negativa. Assim, os resultados obtidos devem ser analisados do ponto de
vista de um edifício isolado. Foi observado, de modo geral, que quase todos os cômodos
apresentaram boas condições de ventilação natural, e somente o banheiro apresentava problema,
pois a renovação do ar não ocorreu de forma eficiente.

Palavras chave: Ventilação natural, Habitações populares, Túnel de vento de camada limite
atmosférica, Conforto Térmico, Qualidade do ar interior

Abstract
The upgrading of slums and the need for new energy efficient and sustainable housing
makes it important that natural ventilation and lighting be considered accurately. Here, wind
induced natural ventilation is studied. One of the objectives is to develop a methodology for
wind tunnel testing of natural wind ventilation in apartments of affordable housing so that
comfort and air quality is optimized. The flow was visualized using smoke as a tracer and
measured inside the apartment using Particle Image Velocimetry. The internal pressure in the
rooms of the apartment was measured as well. The results were then used to understand how
different aspects of the layout improve or worsen natural ventilation. A single apartment was
analyzed and neighborhood effects, that can significantly alter the results, were not considered
for now. The results show that, in general, most rooms were well ventilated with the exception
of the bathroom where air renewal was not very efficient.

Keywords: Natural ventilation, Popular housing, Boundary Layer Wind Tunnel, Thermal
comfort, Indoor Air Quality

1(a) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Rua Prof. Almeida Prado, 532 – Butantã – São
Paulo – SP, CEP: 05508-901

(b) FATEC Tatuapé – Rua Antonio de Barros, 800 – Tatuapé – São Paulo – SP, CEP: 03401-000
1. Introdução

No processo de urbanização de favelas são produzidas habitações com interesses


sociais. Porém, sabe-se, por meio de reclamações de moradores, que esses ambientes
possuem pouca ventilação, são escuros e úmidos. Para o problema de desconforto
térmico e baixa qualidade do ar interior, pode-se adotar como solução a ventilação
mecânica, enquanto para o problema de iluminação pode-se introduzir maior número de
luminárias. Contudo, devido ao consumo de energia envolvido, é preferível a adoção de
sistemas de ventilação e iluminação mais eficientes e econômicos (Assis, 2007). Nesse
sentido, é mais interessante adotar projetos que privilegiem a ventilação e iluminação
naturais, visando solucionar os problemas já citados.

Modelagens experimentais em túnel de vento, de novos e antigos projetos


arquitetônicos, fornecem a arquitetos e engenheiros dados importantes de carregamento
estrutural e conforto ambiental, que dão subsídios para o desenvolvimento de projetos
de moradias seguros e eficientes do ponto de vista energético. Grande parte dos projetos
atuais é desenvolvida pensando-se na ventilação natural por convecção por ser
relativamente mais simples se comparada à ventilação natural induzida pelo vento,
contudo, a última nem sempre é benéfica e deve, em alguns casos, ser considerada pelos
projetistas (Jiang, 2003).

No presente trabalho buscou-se desenvolver uma metodologia para ensaio de


ambientes internos, além de identificar e tabular os principais problemas de ventilação
natural de um apartamento típico de habitação popular, para que projetos futuros
possam evitar os mesmos problemas identificados. Para tanto, foi feita uma análise
estratégica do escoamento interno em modelo reduzido de um apartamento, no túnel de
vento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT. Não foi estudado um local de
construção específico, portanto a topografia e a vizinhança não foram consideradas.
Neste trabalho foram considerados somente a própria arquitetura interna do apartamento
e formato de janelas e frestas que afetam a ventilação interna (Zaki, 2012).

O modelo reduzido utilizado no ensaio reproduz todas as paredes, janelas, portas


e corredores de uma habitação popular específica com dois dormitórios, uma sala, uma
cozinha, um banheiro e uma área de serviço. Foi realizada visualização do escoamento
interno, medição do campo de velocidades em duas alturas com PIV (Particle Image
Velocimetry) e medição da pressão em pontos específicos das paredes internas e
externas do apartamento (para tanto foram utilizadas 113 tomadas de pressão). O
objetivo foi verificar qualitativamente e quantitativamente pontos de estagnação do
escoamento e corredores de vento. As portas e janelas presentes no apartamento podem
estar abertas ou fechadas, produzindo uma quantidade enorme de combinações
possíveis. Neste trabalho mantiveram-se todas as portas e janelas abertas para realização
dos ensaios, que foram feitos em diversos ângulos entre 0° e 360°.

2. Metodologia

Foi construído, em acrílico, um modelo em escala 1:15 de um apartamento típico de


habitação popular. O apartamento possui dois dormitórios, uma sala, uma cozinha, um
banheiro e uma área de serviço, como pode ser visto na planta da Figura 1, onde
também são mostradas as orientações do modelo em relação à direção de incidência do
vento, adotadas nestes ensaios no túnel de vento. Na Figura 2 é mostrada uma foto do
modelo construído. O apartamento estudado apresenta cinco janelas externas, uma
janela entre o banheiro e a área de serviço, uma porta de entrada e quatro portas internas
que possibilitam o deslocamento entre os cômodos, totalizando 11 aberturas. Para esse
trabalho, optou-se por estudar o caso em que todas as aberturas permaneceram
desobstruídas, pois das informações prévias obtidas por meio da visualização do
escoamento, essa se mostrou a condição com melhor ventilação natural. Também deve
ser notado que se fossem realizadas todas as combinações possíveis de portas e janelas
fechadas e abertas, haveria um total de 2048 combinações, o que inviabilizaria esse
trabalho. Ademais, não foram considerados elementos internos como geladeira, fogão e
armários. Dependendo da localização de tais elementos, o escoamento pode ser alterado.
Figura 1 – Planta do apartamento estudado e orientação das direções do vento
utilizadas nesse trabalho
Figura 2 – Modelo construído para os ensaios.

O apartamento foi estudado isoladamente, desta forma não foram modelados o


restante do edifício, topografia e vizinhança. A alteração da rugosidade do terreno
implicará em mudança da altura da camada limite e, consequentemente, alteração nos
coeficientes de pressão e adimensionais de velocidade. A vizinhança, por sua vez, pode
provocar efeitos localizados para incidências do vento específicas. Assim, neste trabalho
se buscou observar as características de ventilação natural nas melhores condições de
incidência do vento no apartamento.

Os ensaios foram realizados no túnel de vento do IPT (ver Figura 3), que possui 40
m de comprimento, seção de testes com 28 m de comprimento por 2 m de altura e 3 m
de largura. Este túnel possui duas seções de testes com mesas giratórias, uma instalada
na entrada do túnel, logo após a contração (ver Figura 4), que é denominada seção
aerodinâmica, pois apresenta perfil de velocidades uniforme e intensidade de
turbulência menor que 1%; e a segunda seção de testes, denominada turbulenta, está
instalada próxima ao ventilador que opera na sucção. Nesta seção turbulenta se
modelam os ventos naturais e suas características, como camada limite, perfil de
velocidades, comprimento de rugosidade etc. (NBR 6123:1988).
Figura 3. Foto do Túnel de Vento do IPT

Figura 4. Esquema do túnel de vendo do IPT em planta e elevação

2.1. Visualização

A primeira etapa foi a de visualização do escoamento no interior dos cômodos,


visando identificar locais de possíveis problemas de circulação de ar. Para isso, utilizou-
se o gerador de fumaça SAFEX NS2. O modelo foi posicionado no túnel de vento
conforme mostra a Figura 5.
Figura 5 – Montagem do modelo no túnel de vento e gerador de fumaças utilizado para
visualização do escoamento no interior do apartamento

2.2. Medições com PIV

As medições com PIV ocorreram na seção de testes turbulenta, como mostrado na


Figura 6. Mediu-se o campo de velocidades no interior dos cômodos no plano
horizontal a 90 mm de altura acima do piso do apartamento, na escala do modelo, o que
coresponde a 1,35 m na escala do protótipo, para os ângulos de 0° e 180° (para
orientação adotada neste trabalho vide Figura 1). Especificamente para o banheiro
foram feitas medições adicionais a 45° e 315° (no mesmo plano localizado a 1,35 m do
piso) e a 0° e 180° para o plano localizado a 150 mm (2,25 m na escala do protótipo) do
plano do piso. Os ensaios de PIV foram realizados à velocidade do vento de 12,7 m/s
medida na altura do protótipo (escala real) de 20,55 m. Essa velocidade foi utilizada
para adimensionalizar os campos de velocidades.
Figura 6 – Montagem do modelo na seção de testes atmosférica para ensaios com PIV.

2.3. Medições de pressão nas paredes

Complementar à visualização e aos ensaios com PIV, a distribuição de pressão ao


longo das paredes do modelo foi analisada por meio de 113 tomadas de pressão
distribuídas estrategicamente. Foram feitas medições de pressões externas e internas no
modelo, utilizando o sistema da Pressure Systems, a uma frequência de amostragem de
167 Hz. Todas as pressões estáticas foram medidas simultaneamente.

Para este trabalho, não houve preocupação em se simular, no túnel de vento, uma
camada limite atmosférica correspondente a um terreno em específico, já que foi
modelado somente um apartamento isolado, e a preocupação era analisar as
características do escoamento e pressões no interior da residência.
Para o cálculo dos coeficientes de pressão, foi realizada medição de uma pressão de
referência na altura de 195 mm na escala do modelo, o que corresponde a 2,92 m na
escala do protótipo, ou seja, a altura do teto do modelo em relação ao seu próprio piso.
De posse das séries temporais de pressão, foram calculados os coeficientes de pressão
médios utilizando a equação abaixo:

T
1 1
Ć P= . .∫ [ p ( t )−P 0 ] dt
q ref T 0

P0
Sendo T o período de aquisição, t o tempo, p a pressão instantânea, a pressão

estática de referência (no caso dada pela média da pressão estática da seção de testes). A

q ref
pressão dinâmica é calculada por:

1 2
q ref = . ρ.U ref
2

U ref
Onde é velocidade correspondente à altura de referência, no caso 195 mm

na escala do modelo.

Esses ensaios também foram realizados para a velocidade do vento de 12,7 m/s na
altura 20,55 na escala do protótipo, como no caso do ensaio com o PIV.

Para análise inicial dos dados de pressão interna foi tirada a média aritmética dos
coeficientes de pressão médios por cômodo. Este procedimento foi adotado já que as
tomadas de cada cômodo não apresentaram grandes divergências nas pressões médias
medidas por ângulo de incidência do vento, como está ilustrado na Figura 7 para as
tomadas de pressão internas da sala.
Figura 7 – Coeficiente de pressão médio das tomadas localizadas no interior da sala.

Assim, o coeficiente de pressão médio do cômodo é definido por:

n
C P ́,COM =∑ ĆP i
i=1

Onde n é o número de tomadas internas do cômodo.

3. Resultados

Nesta seção são mostrados todos os resultados dos mapas de velocidades e dos
coeficientes de pressão em cada repartição do apartamento. Verificou-se que no geral há
uma condição de renovação do ar nos quartos, sala e cozinha. No entanto, no banheiro
verificou-se que a renovação do ar se dava de forma muito lenta, indicando que este é
um local mais quente, que há acúmulo de odores e pode haver também uma maior
umidade, pois, além do ambiente ser naturalmente mais úmido, também não ocorre boa
circulação de ar.

Os resultados obtidos com o PIV e mostrados a seguir, devem seguir a seguinte


interpretação: as flechas indicam a direção média do escoamento no interior do cômodo
e seu módulo, aliado às cores do mapa de velocidades, indica a magnitude da velocidade
adimensional (U/Uref), que foi obtida da seguinte forma: U é a velocidade medida em
cada ponto no interior do cômodo pelo PIV. Uref = 12,7 m/s, que é a velocidade de
referência obtida a 20,55 m de altura na escala do protótipo. Ou seja, a velocidade
adimensional informada nas figuras da seção 3.1 indica a relação entre a velocidade do
vento ao longe e a velocidade do escoamento do ar no interior de cada cômodo.

As alturas do mapeamento do campo de velocidades com o PIV, e indicados nas


figuras da seção 3.1, foram convertidas para a escala do protótipo, ou seja, foram
realizadas medições nas alturas correspondentes ao apartamento real em 1,35 m e 2,25
m acima do nível do piso.

3.1. Análise da circulação do ar no banheiro com o PIV e visualização

Na visualização inicial realizada na seção aerodinâmica do túnel de vento, verificou-


se que o banheiro, no arranjo físico estudado, pode apresentar problemas de renovação
do ar, principalmente quando o ângulo de incidência do vento for igual a 0°. De fato, a
presença da janela entre o banheiro e a área de serviço não contribui significativamente
para a ventilação natural para incidência de 0°, 45° e 315° (ver Figuras 8 - 13). Os
ensaios realizados com PIV deixaram isso bastante claro, como se pode verificar nas
Figuras 8, 9, 12 e 13. Vale ressaltar que, pela localização da janela, pode ser interessante
para privilegiar a ventilação natural por convecção, uma vez que ela está disposta logo
acima do chuveiro.
Figura 8 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura, para incidência do
vento: 0°

Figura 9 – Campo de velocidades no banheiro a 2,25 m para incidência do vento: 0°


Figura 10 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m para incidência do vento:
180°

Figura 11 – Campo de velocidades no banheiro a 2,25 m de altura para incidência do


vento: 180°
Figura 12 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura para incidência do
vento: 45°

Figura 13 – Campo de velocidades no banheiro a 1,35 m de altura para incidência do


vento: 315°

Comparando as Figuras 8 e 9 com as figuras 10 e 11, nota-se que as velocidades


dentro do banheiro para, a incidência do vento a 180°, são maiores, atingindo 20% da
velocidade de referência, enquanto para a incidência de 0° atinge-se aproximadamente
10% da velocidade de referência. No campo de velocidades obtido 2,25 m de altura
acima do nível do piso do apartamento, a diferença é bastante clara, uma vez que o
plano horizontal relativo a esta altura intercepta a janela localizada entre o banheiro e a
área de serviço (neste estudo considerou-se esta janela completamente desobstruída).
Este resultado confirma a visualização realizada anteriormente em que, para incidência
de 0º o ar permaneceu estagnado dentro do banheiro e, para incidência do vento de 180°
visualizou-se um jato na região da janela com uma zona de recirculação logo abaixo
(ver Figura 14).

Figura 14 – Visualização do escoamento interno para ângulo de incidência do vento de


180° (do topo da foto para baixo). Nota-se inicialmente um acúmulo de fumaça no
banheiro e nos dois quartos (abaixo), porém a fumaça logo em seguida se dispersa dos
quartos e continua acumulada no banheiro, como indica a foto da direita

3.2. Análise da circulação do ar nos demais cômodos com o PIV e


visualização

Para os demais cômodos o ensaio de PIV foi feito apenas para os ângulos de
incidência do vento de 0° e 180° e altura de medição de 1,35 m, conforme seção 2.2.
Para estes ângulos, observou-se comportamento semelhante do dormitório 2 e da sala.
Quando o vento incide diretamente sobre a fachada de um destes cômodos, há uma
região de jato de entrada na janela (no caso da sala são dois jatos; um correspondente à
janela e outro à porta de entrada) e jato de saída na porta interna do respectivo cômodo,
formando zonas de recirculação, como mostram as Figuras 15 e 16. No dormitório, tal
situação pode causar desconforto para o usuário se, por exemplo, a cama estiver
posicionada de tal forma que uma parte do corpo da pessoa fique em contato com o jato.
O desconforto local é causado pelo resfriamento ou aquecimento não desejado de uma
parte particular do corpo (ISO 7730:2005)

Quando o vento incide na fachada oposta, a configuração interna do modelo (todas


as portas e janelas abertas e sem móveis e eletrodomésticos) ocasiona padrões de
escoamento que podem ser vistos nas Figuras 17 e 18, com velocidades mais altas nas
regiões próximas às paredes do cômodo e mais baixas no centro do mesmo.

Figura 15 –Campo de velocidades no dormitório 2 a 1,35 m para incidência do


vento: 0°.
Figura 16 – Campo de velocidades na sala a 1,35 m para incidência do vento: 180°.

Figura 17 –Campo de velocidades no dormitório 2 a 1,35 m para incidência do


vento:180°
Figura 18 – Campo de velocidades na sala a 1,35 m para incidência do vento: 0°.

Os campos de velocidades da cozinha a 1,35 m para os ângulos de incidência de 0° e


180° são mostrados nas Figuras 19 e 20, respectivamente.

Figura 19 –Campo de velocidades na cozinha e na área de serviço a 1,35 m para


incidência do vento: 0°
Figura 20 –Campo de velocidades na e na área de serviço a 1,35 m para incidência
do vento: 180°

3.3. Análise da variação da pressão interna dos cômodos e sua influência


na ventilação natural

Conforme descrito no item 2.3, foram medidas as pressões nas paredes internas e
externas do modelo. As medições foram feitas para 24 ângulos de incidência, de 0° a
360° com passo de 15°. Nesta seção serão evidenciados os resultados para os ângulos de
incidência de 0° e 180°, com o objetivo de comparar tais resultados àqueles obtidos com
o PIV e na visualização.

Os coeficientes de pressão médios dos cômodos (definido na seção 2.3) para os


ângulos de incidência do vento de 0° e 180° foram plotados nos diagramas mostrados
nas Figuras 21 e 22. Percebe-se a existência de uma região adicional entre o banheiro e
a área de serviço, que corresponde à janela existente entre os dois cômodos.

É importante ressaltar que, por questões de construção, o corredor foi instrumentado


com apenas uma tomada de pressão no teto, região que, devido à localização e ao
arranjo físico do modelo, pode apresentar coeficiente médio de pressão maior, se
comparado, por exemplo, a uma tomada de pressão no piso para ângulo de incidência de
0°. Para este ângulo de incidência haverá um jato entre o dormitório 1 e a cozinha (vide
canto direito superior da Figura 18 e canto esquerdo superior da Figura 19) passando
pelo corredor, mas na região entre o ponto mais alto de abertura da porta e o teto, a
tendência é de haver uma zona de pressão um pouco mais alta, o que não foi
comprovado pela insuficiência de tomadas de pressão.

O que pode ser verificado na Figura 21 é que os dormitórios, cujas fachadas estão
diretamente expostas ao vento incidente, apresentam os maiores coeficientes de pressão
médios. Sendo assim, a tendência é do fluxo de ar seguir do dormitório para os demais
cômodos, como esperado e verificado tanto na visualização quanto nos ensaios de PIV.
É interessante notar, por esse diagrama de coeficiente de pressões, que no banheiro o ar
não tende a sair pela janela, mas sim pela porta. Devido à diferença de pressão entre o
dormitório 1 e a cozinha, há a passagem de um jato pelo corredor, colaborando para a
tendência de fluxo de ar para fora do banheiro pela porta, o que pôde ser verificado,
principalmente, na visualização.

Figura 21 – Diagrama de coeficiente de pressão médio nos cômodos para incidência


do vento: 0°
Além das paredes internas, também foram medidas as pressões e calculados os
coeficientes de pressão nas paredes voltadas para o exterior do modelo. Uma sugestão
para melhorar a ventilação no banheiro é instalar uma janela na parede que tem contato
com o ambiente externo (demarcado em vermelho na Figura 22). Nota-se, pelo gráfico
da Figura 23 que, para a maioria dos ângulos de incidência do vento, existem diferenças
de pressão consideráveis entre o interior do banheiro e a fachada externa. A instalação
de uma janela só é uma opção caso não exista um apartamento vizinho fazendo fronteira
com a parede do banheiro.

Figura 22 – Identificação da parede do banheiro em contato com o ambiente externo


(em vermelho).
Figura 23 – Comparativo entre média dos coeficientes de pressão internos no
banheiro e média dos coeficientes externos na parede identificada pela Figura 22 para
diferentes ângulos de incidência do vento.

Na Figura 24 o ângulo de incidência do vento é de 180°, dessa forma os coeficientes


médios de pressão nos quartos, que eram os maiores para 0°, passam a ser os menores.
Como verificado pelos ensaios de PIV, a tendência do escoamento interno para tal
incidência é de fluxo de ar da sala, cozinha e banheiro para os dormitórios, com uma
zona de recirculação próxima à porta do banheiro (ver Figuras 10 e 11). Nesse sentido a
Figura 24 condiz com o observado previamente. Deve-se apenas ter cautela na avaliação
da pressão no corredor, pelos fatos já citados anteriormente nessa seção.
Figura 24 – Diagrama de coeficiente de pressão médio nos cômodos
Incidência do vento: 180°

Todos os valores médios de coeficiente de pressão interno nos cômodos, medidos


para os ângulos de 0° a 360° com passo de 15°, podem ser vistos na Figura 25. É
interessante notar que todos os cômodos, com exceção dos dois dormitórios, apresentam
curvas bastante semelhantes.
Figura 25 – Coeficiente de pressão médio dos cômodos por ângulo de incidência do
vento.

4. Conclusões
De modo geral, o apartamento popular analisado apresenta bom projeto
arquitetônico voltado às condições de ventilação natural e renovação do ar. Foi
observado que somente o banheiro apresentava problema, pois a renovação do ar não
ocorreu de forma eficiente. Nos demais cômodos, havia renovação do ar, porém também
foi detectado que nos quartos um jato de ar pode provocar desconforto térmico. No
entanto, isso é facilmente contornável fechando a janela ou parte dela.
Neste trabalho foi dada uma atenção especial ao banheiro, pois neste foram
observadas condições ruins de renovação do ar, principalmente para o ângulo de
incidência do vento em 0°, de acordo com a orientação do modelo adotada neste
trabalho. Uma possível melhoria para o arranjo físico estudado é a inserção de uma
janela na região indicada pela Figura 22, uma vez que, para a maioria dos ângulos de
incidência do vento (são exceções os ângulos de 60°, 225° e 345°), a diferença de
pressão entre a fachada externa e o banheiro pode auxiliar na ventilação natural
induzida pelo vento do mesmo.
Também deve ser observado que nesse trabalho não foram realizadas análise com
edificações ou relevos vizinhos ao apartamento. Esses fatores podem influenciar de
forma positiva (melhorando) ou negativa (piorando) a qualidade da ventilação natural e
renovação do ar no interior do apartamento. Na sequência desse trabalho serão
realizados estudos para avaliar a influência de vizinhança na qualidade da ventilação
natural dos apartamentos.
Os experimentos realizados mostraram que a utilização em conjunto das técnicas de
visualização de escoamento por fumaça, mapeamento de campo de velocidades com
PIV e medição de pressão interna demonstram não só grande coerência entre as
medições, como também é possível entender melhor os fenômenos que influenciam na
qualidade da ventilação natural no interior da residência.. Essa metodologia pode ser
utilizada, por exemplo, na avaliação de conforto térmico dos usuários e otimização de
projetos habitacionais que utilizam ventilação natural.

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Journal of Wind Engineering and Industrial Aerodynamics, Volume 103, Pag 31-40.
Mini-currículo dos autores:
(*) Mario Roberto Nantes Junior – Autor principal – É estudante de graduação de
Tecnologia de Construção de Edifícios na FATEC Tatuapé. Atualmente realiza Iniciação
Tecnológica no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT)
com bolsa da Fundação de Apoio ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas (FIPT). E-mail:
mnantes@ipt.br
Gabriel Borelli Martins – É engenheiro mecânico formado pela FEI. Atualmente
trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas
principais publicações são relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para
determinação de características de conforto térmico e carregamento do vento, como por
exemplo, ensaio do Estádio Castelão, do Estádio Arena Cuiabá, do Estádio do
Morumbi, entre outras edificações. E-mail: gborelli@ipt.br
Paulo José Saiz Jabardo – É engenheiro mecânico, mestre em ciências e doutor em
engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de
Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são artigos
técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para
determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de
petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de
desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail:
pjabardo@ipt.br
Gilder Nader - É físico e mestre em ciências pelo Instututo de Física da UFF e doutor
em engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na
Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento e é professor na FATEC
Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios
técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes,
projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para
determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e
carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.br
Aplicação do resíduo sólido da indústria de reciclagem de alumínio como material
pozolânico
1*
Inara Guglielmetti Braz, 1Mirian Chieko Shinzato, 2Tarcísio José Montanheiro, 1Vinícius Ribeiro
1

Resumo
As indústrias secundárias de alumínio são responsáveis por colocar o Brasil como o maior reciclador de
latas de alumínio do mundo. A maior parte delas utiliza fornos rotativos horizontais (devido ao baixo
custo) e sal (NaCl) como fundente para essa recuperação. Nesse processo elas geram 30 a 40% de
resíduo do total de material reciclado, que em 2011 totalizou 1951 mil toneladas, sendo 511 mil t
provenientes de sucatas e 1440 mil t de escória branca produzida pela indústria primária.
Consequentemente, houve a geração de cerca de 585 mil t de escória preta e/ou salina. Esse resíduo foi
tratado na indústria terciária de reciclagem do alumínio, onde um processo de lixiviação com água
permite recuperar 5 a 15% do alumínio metálico contido na escória. Logo, 497 mil t de novos resíduos
são gerados e descartados em aterros por esta indústria. O presente trabalho tem como objetivo estudar
algumas características físicas, químicas e tecnológicas dos resíduos gerados pela indústria terciária de
alumínio, na expectativa de reaproveitá-los como material pozolânico. Pozolanas são materiais silicosos
ou silicoaluminosos que, isoladamente, possuem pouca ou nenhuma atividade aglomerante, mas quando
finamente divididos e, na presença de água, reagem com o hidróxido de cálcio à temperatura ambiente,
formando compostos com propriedades aglomerantes. Entre as vantagens obtidas pelo uso de resíduos
como pozolanas podemos citar, aumento da vida útil das jazidas de matérias-primas do cimento,
diminuição da emissão de CO2 e maior durabilidade da resistência do concreto, entre outras. Para
verificar se o material pode ser classificado como pozolana - segundo os critérios estabelecidos pela
ABNT-NBR 12653/92 foram realizadas caracterizações química (fluorescência de raios X),
mineralógica (difração de raios X) e granulométrica (espalhamento de luz de baixo ângulo). Seguiram-
se os ensaios de atividade pozolânica desse material por meio de testes de Chapelle modificado e por
diferença de condutividade elétrica. Resultados analíticos preliminares do resíduo da indústria de
reciclagem do alumínio revelaram valores de 62,80% de Al 2O3; 6,13% de SiO2; e 1,66% de Fe2O3. A
análise do resíduo após a lavagem para retirada parcial do NaCl, mostrou uma concentração de 0,63%
de Na2O% equivalente. A análise granulométrica indicou que o material possui 90% de suas partículas
abaixo de 44µm. As análises mineralógicas por difração de raios X identificaram compostos com
estruturas de espinélio, coríndom, nordstrandita e óxidos de alumínio hidratado. Os primeiros testes de
pozolanicidade pelo método de condutividade elétrica e método Chapelle modificado mostraram
resultados que possibilitam pré-qualificar o resíduo como material pozolânico, bem como alguns
parâmetros químicos, se comparados com a ABNT-NBR 12653/92.

*
Inara Guglielmetti Braz
Aluna de mestrado do programa de Pós-Graduação em Ciência e Tecnologia da Sustentabilidade da
Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema. Rua São Nicolau, 210. CEP: 09913-030,
Diadema, SP.

11 Universidade Federal de São Paulo – Campus Diadema. Rua São Nicolau, 210. CEP: 09913-030, Diadema, SP.

2Instituto Geológico da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Avenida Miguel Stéfano, 3900.
CEP: 04301-903, São Paulo, SP.
Endereço do curriculum lattes http://lattes.cnpq.br/7164394037681827

Abstract
The secondary aluminum industries are responsible for putting Brazil as the largest recycler of
aluminum cans in the world. Most of them use horizontal rotary furnace (due to low cost) and salt
(NaCl) as a flux to recover this metal. In this process they generate 30 to 40% of the total recycled
material waste. The amount of recycled material in Brazil in 2011 totalled 1,951,000 tons, 511, 000 tons
of scrap and 1,440,000 tons of white slag produced by the primary aluminum industry. Consequently, it
was generated about 585,000 tons of black saline slag. This residue was treated in the tertiary aluminum
industry where a process of leaching with water can recover about 5 to 15% of the aluminum metal
contained in the dross. So, 497,000 tons of waste are generated and disposed in landfills by this
industry. The present work aims to study some physical, chemical and technological properties of these
residues in the expectation of reuse them as a pozzolanic material. Pozzolans are-silica or siliceous
materials which they alone, have little or no activity binder, but when finely divided, and in the presence
of water react with calcium hydroxide at ambient temperature to form compounds with binders
properties. There are many advantages in using this waste as pozzolanic materials such as the increase
the life of the deposits of cement raw materials the redution CO 2 emissions and the increase in the
strength of concrete, long age etc. To verify if this material could be classified as pozzolanic material -
according to criteria established by ABNT-NBR 12653/92 chemical (XRF), mineralogical (XRD) and
particle size (light scattering of low angle) characterizations were performed . They were followed by
pozzolanic property tests of this material: modified Chapelle test and difference of electrical
conductivity test. Preliminary analytical results of the aluminum recycling industry waste show that this
residue is composed by 62.80% Al 2O3, 6.13% SiO2, and 1.66% Fe2O3. The analysis of the residue after
washing to remove part of NaCl showed a concentration of 0.63% equivalent of Na 2O. The particle size
analysis indicated that this material possesses 90% of particles below 44μm. The mineralogical analysis
by X-ray diffraction identified compounds with structures of spinel, corundum, nordstrandite and
hydrated aluminum oxides. The preliminary result of the pozzolanicity by electrical conductivity
method and modified Chapelle test pre-qualified the studied waste as pozzolanic material, as well as its
chemical parameters when compared to ABNT – NBR 12653/92.
Introdução
O aproveitamento de resíduos sólidos industriais como materiais alternativos para
produção de cimento tornou-se uma prática mundialmente importante, pois além de poupar as
jazidas minerais, devido à substituição de parte da matéria-prima do cimento, também contribui
com a diminuição da liberação de gases causadores do efeito estufa (Cordeiro et al., 2009).
Somente em 2010 foram produzidos no Brasil 59 milhões de toneladas de cimento e, para cada
tonelada produzida, emitiu-se 560kg de CO2 (SNIC, 2011). O volume de adições pozolânicas
nesse mesmo ano foi de 17,8 milhões de toneladas, sendo assim, houve um consumo menor de
combustível para queima em sua produção e, consequentemente, a redução na emissão de CO 2
para atmosfera.
Nesse sentido, um segmento que ultimamente tem merecido destaque é o dos materiais
pozolânicos. Pozolanas são materiais silicosos ou silicoaluminosos que possuem pouca ao
nenhuma atividade aglomerante, mas quando finamente divididos e na presença de água,
reagem com o hidróxido de cálcio à temperatura ambiente para formar compostos com
propriedades aglomerantes (ABNT, 1992). As pozolanas podem ser classificadas como naturais
e artificiais. As naturais podem ser materiais de origem vulcânica ou sedimentar (exemplos:
tufo vulcânico, terra diatomácea e zeólitas) (Mielenz et al., 1951), e as artificiais são aquelas
provenientes de tratamento térmico (metacaulinita) ou de sub-produtos industriais (cinza
volante).
As pozolanas são utilizadas na produção do cimento Portland, em substituição parcial do
clínquer. Essa adição tem a vantagem de melhorar a impermeabilização, a resistência à
fissuração térmica devido ao baixo calor de hidratação e a durabilidade final do concreto
(Mehta & Monteiro, 2008). Alguns tipos de cimento obtidos pela adição de pozolana
apresentam nomenclatura e aplicações próprias, assim como normas específicas estabelecidas
pela ABNT (1992) (Tabela 1).

Tabela 1 – Tipos de cimentos Portland de acordo com ABNT e suas aplicações (modificado de
Kihara & Centurione, 2005).
Tipo de cimento Norma ABNT Adição Mat.Pozolânico Aplicação
CP I – S 5732 5% Construção em geral
CP II – Z 11578 6 a 14% Concretagem
CP II – E 11578 6 a 34% Baixo calor de hidratação
CP II-F 11578 6 a 10% Concreto armado
CP III 5735 35 a 70% Barragens
CP IV 5736 15 a 50% Concreto p/ ambientes agressivos
Estudos recentes mostram que alguns resíduos sólidos industriais possuem características
pozolânicas como, por exemplo, as cinzas volantes provenientes da queima de carvão em
usinas termoelétricas (Molin, 2005); a cinza do bagaço da cana-de-açúcar (Lima, 2010;
Chusilp, 2009; Cordeiro, 2009; Frias, 2007; Hernández, 1998) e a cinza da casca do arroz
(Nair, 2008; Feng, 2004). A principal vantagem de se utilizar esses materiais como subprodutos
na produção de cimento pozolânico está na área ambiental, uma vez que eles podem ser
reaproveitados antes do descarte em aterros.
Diante da grande quantidade de material que pode ser usado como pozolana, estudos de
caracterização de resíduos industriais são necessários para dar um novo destino a esses
materiais e, consequentemente, contribuir na diminuição de emissão de CO2 pela indústria do
cimento.

Produção de Alumínio no Brasil


O relatório de sustentabilidade da Associação Brasileira de Alumínio (ABAL, 2012*)
mostra que o Brasil é o maior reciclador de latas de alumínio no mundo, com índice de 98,3%
de latas recicladas em 2011. Essa produção gerou uma economia de 3.780 GWh ao país, uma
vez que a reciclagem de alumínio consume apenas 5% da energia elétrica gasta na produção do
alumínio primário. Apesar das vantagens econômicas, esse tipo de atividade também gera
grande quantidade de resíduos sólidos, uma vez que utiliza fornos rotativos horizontais,
alimentados com óleo combustível e com baixo rendimento (Tabela 2).

Tabela 2- Rendimento do tipo de forno em função da geração de resíduos (ABAL, 2008).

Rendimento
Tipo de Forno % Resíduos
Reverbero 90-95 3-7
Side – well 90-97 2-4
Rotativo horizontal 60-75 30-40
Rotativo basculante (pêra) 85-95 15-18
Forno indução 92-98 2-4
Forno cadinho 95-97 3-5
*Fundada em 15/5/1970 pela Alcan Alumínio do Brasil Ltda, Alcominas (Alcoa Alumínio S.A.) e Companhia
Brasileira de Alumínio (CBA), conta com 64 empresas associadas (produtores de alumínio primário e as
transformadoras de alumínio). Essa entidade atende a atividade de produção do alumínio, incluindo aspectos da
sustentabilidade, como governança, responsabilidade social, gestão de riscos, transparência e eficiência com
relação ao uso dos recursos naturais.
No seu circuito produtivo as indústrias de reciclagem agregam às sucatas de alumínio da
coleta seletiva, os resíduos provenientes da indústria primária do alumínio, ou seja, as
reconhecidas escórias branca (materiais com cerca de 80% de alumínio metálico). Em 2011
cerca de 1440 mil t de escória branca (que possui até 80% de alumínio metálico) foram gerados
pela indústria primária. Considerando que as indústrias de reciclagem utilizam sal (NaCl) em
seus processos produtivos, estima-se que foram gerados 585 mil t de escória preta/salina (que
contém até 10% de alumínio metálico). Esses resíduos, por sua vez, ainda são reaproveitados
por outras indústrias de reciclagem, aqui denominadas de indústrias terciárias de alumínio.
Nessa etapa, a escória é tratada por lixiviação com água para recuperar a parte metálica do
restante do material, que corresponde a um novo resíduo descartado no final do processo.
Somente em 2011 foram gerados cerca de 497 mil t desse resíduo por este último setor.
Considerando que esses resíduos sólidos não são dispostos corretamente em aterros
industriais e, simplesmente são descartados direto no meio ambiente, eles causam sérios
problemas, como assoreamento e eutrofização de corpos d’água.
Quanto ao seu aproveitamento, Shinzato & Hypolito (2005) estudaram o material em
questão, testando-o na mistura de areia e cimento para fabricação de blocos. Os autores
notaram que, apesar do resíduo atribuir propriedades favoráveis na confecção desses materiais,
como a diminuição do tempo de cura, a resistência à compressão pode ser comprometida
devido à presença de sais.
Diante do cenário prospectado, o presente trabalho tem por objetivo caracterizar e avaliar
o resíduo da indústria terciária de alumínio como pozolana e compará-lo com uma pozolana
natural (zeólita).

Materiais e Métodos
Os estudos fundamentaram-se em 08 amostras de resíduos sólidos da reciclagem de
alumínio (R) e em uma amostra de zeólita natural (Zeo), que será utilizada como referência. Os
resíduos sólidos de alumínio foram coletados em uma indústria de reciclagem localizada na
cidade Guarulhos (SP), enquanto que a zeólita natural é proveniente da jazida Tasajeras-
Piojiillo de Cuba. Depois de lavar o resíduo de alumínio (R) com água destilada, ambas as
amostras foram analisadas para se verificar se os principais parâmetros seguem o estabelecido
na norma ABNT-NBR 12653/92, que caracteriza materiais pozolânicos. Previamente procedeu-
se a sua caracterização química, física e mineralógica.
A análise química foi efetuada por meio de espectrometria de fluorescência de raios X
(Axios Advanced/PANalytical) no Laboratório de Caracterização Tecnológica da Escola
Politécnica da Universidade de São Paulo (LCT/Poli/USP).
A granulometria foi determinada pela técnica de espalhamento de luz laser de baixo
ângulo (Mastersizer 2000/Malvern) no mesmo laboratório. Na identificação mineralógica
utilizou-se o método da difração de raios X (D5000/Siemens) no Laboratório de Difração de
Raios X do Instituto de Geociências da USP. Determinou-se também a área superficial
específica pelo método Brunauer-Emmet-Teller (Gemini III 2375) no Laboratório de Processos
Cerâmicos da Poli/USP.
Seguiram-se os testes de determinação de atividade pozolânica pelo método de
condutividade elétrica proposto por Luxán et al. (1989) e teste de Chapelle modificado (IPT,
1997) realizados no Laboratório de Geologia Ambiental e Ciência do Solo da UNIFESP. O
método de condutividade elétrica determina a diferença de condutividade elétrica de uma
solução referência de Ca(OH)2 e a mesma solução com a adição de 5g da amostra a ser
analisada. O teste de Chapelle modificado determina a quantidade de óxido de cálcio
consumido por 1g de pozolana ensaiada, após ser mantido em contato por cerca de16 horas à
90ºC.

Resultados e Discussão
O conhecimento da composição química do material pozolânico indica se o mesmo se
encontra dentro dos parâmetros exigidos pela NBR 12653/92 (ABNT, 1992). Os resultados da
análise química (Tabela 3) revelam que o resíduo da reciclagem de alumínio possui dentre seus
principais componentes 62,80% de Al2O3, 13,00% de MgO, 6,13% de SiO 2, 1,66% de Fe2O3 .
Portanto, a soma dos três óxidos considerados pela norma NBR 12653/92 (Tabela 4) estão
acima do mínimo de 50% exigido, atendendo as especificações. A concentração de equivalente
de Na2O% de 0,63% também está de acordo com a norma (menos de 1,50%).
A soma dos óxidos (68,50% de SiO2, 1,52% de Fe2O3 e 11,60 % de Al2O3) encontrados
na composição química da zeólita também estão de acordo com o valor estabelecido pela NBR
12653/92, que é de no mímino de 50%. O trióxido de enxofre não apresenta traços na zeólita, o
que é bom de acordo com a especificação
Tabela 3 – Componentes químicos das amostras representativas de resíduo da indústria terciária
de alumínio (R) e de zeólita natural (Zeo). Teor dos principais óxidos em % determinados pelo
método de fluorescência de raios X (LOI = perda ao fogo em 1050oC por 1h).
Ca
Na2O MgO Al2O3 SiO2 P2O5 SO3 K2O TiO2 MnO Fe2O3 LOI
O
R(%) 0,43 13,00 62,80 6,13 0,24 0,27 0,32 1,29 0,89 <0,10 1,66 11,70
Zeo(%) 1,34 0,76 11,60 68,50 <0,1 << 1,19 2,88 0,28 0,19 1,52 11,30

O teor de álcalis em % de Na2O equivalente é de 2,10%, não atendendo, a princípio, a


especificação da norma NBR 12653/92 (valor máximo de 1,50%). No entanto, mesmo com a
presença desses íons, vários estudos comprovam que a zeólita é um material pozolânico de boa
qualidade (Mehta & Monteiro, 2008; Santos, 1992).

Tabela 4 - Dados de exigência química da NBR 12653/92 para as pozolanas naturais (N), cinza
volante (C) e materiais diferentes das demais (E) e das amostras R e Zeo.

NBR 12653/92 - Especificações químicas | amostras de estudo


PROPRIEDADES N C E R Zeo
SiO2 + Al2O3 + Fe2O3 % mín. 70 70 50 70,59 81,62
SO3 % máx. 4 5 5 0,27 <<
Álcalis disponíveis em Na2O % máx. 1,50 1,50 1,50 0,63 2,10
Perda ao fogo, % máxima 10 6 6 11,7 11,3
Teor de umidade, % máxima 3 3 3 4,71 4,44

No entanto os valores de perda ao fogo e de umidade das amostras R e Zeo acima


daqueles estipulados pela norma devido, provavelmente, à sua superfície específica elevada
(Tabela 5) que podem levar à maior adsorção de água.

Tabela 5 – Valores de área superficial específica das amostras R e Zeo obtidas por adsorção de
N2 pelo método BET.
Área superfical específica (m2/g)
R Zeo
84,5 60,38
O tamanho dos grãos é uma característica importante nas pozolanas, uma vez que
aumenta a resistência mecânica e a durabilidade das estruturas do concreto, devido ao efeito
atribuído à reação pozolânica que aumenta a sua superfície de contato no momento de
hidratação do cimento (Isaia et al., 2003). Esse comportamento causado pela adição da
pozolana melhora a distribuição dos poros no cimento tornando-a mais homogênea, uma vez
que os seus espaços capilares são preenchidos, promovendo o aumento na resistência e na
impermeabilização do material cimentício (Mehta & Monteiro, 2008).
A análise granulométrica revelou que 90% de R apresenta partículas menores que
44,068μm, enquanto que a zeólita natural já estava previamente moída na fração <365 mesh
(44,0μm). Considerando que a NBR 12653/92 estabelece que 66% das partículas sejam
menores que 45μm, o resíduo estudado encontra-se dentro da norma.
A análise por DRX de R revelou presença de compostos com estuturas de espinélio
(MgAl2O4), coríndon (Al2O3) e nordstrandita (β-Al(OH)3). A amostra de zeolita (Zeo) é formada
principalmente por clinoptilolita, mordenita e traços de quartzo. Apesar de todas as fases serem
cristalinas, a granulometria fina deve favorecer a reação pozolânica onde se forma o silicato de
cálcio hidratado e aluminato de cálcio hidratado.
Os resultados da atividade pozolânica determinada pelo método de condutividade elétrica
(Tabela 5) mostram valores que classificam tanto R e Zeo como boas pozzolanas (>1,2
mS/cm).
Os ensaios pelo método Chapelle modificado indicaram consumo acima de 330mg de CaO/g, o
que permite pré-classificar ambos materiais como pozolanas (Tabela 6).

Tabela 6 – Medidas de atividade pozolânica de R e Zeo obtidas pelos métodos de


condutividade elétrica e Chapelle modificado.

Atividade pozolânica R Zeo


Condutividade Elétrica (mS/cm) 2,078 1,417
Chapelle modificado (mg CaO/g amostra) 377,84 605,04

Como era esperado, a atividade pozolânica da zeólita, determinada pelo método de


Chapelle modificado, ficou bem superior ao do resíduo, uma vez que se trata de uma pozolna
natural.
Conclusão
O resíduo da reciclagem de alumínio e a zeólita apresentam características químicas e
físicas que os pré-qualificam como materiais pozolânicos.
Os métodos que determinam a atividade pozolânica (teste de Chapele modificado e o
teste de condutividade elétrica) revelaram que o resíduo estudado (R) também possui
caracteristicas aglomerantes, como uma pozolana.
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SHINZATO, Mirian.C.; HYPOLITO, Raphael (2005). “Solid waste of aluminium recycling
process: characterization and reuse of its valuable constituents.” In: Waste Management,
25.
A Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de
tecnologia social para a sustentabilidade: caso Cooperlírios

Jakeline Pertile Mendes∗

Resumo: Este trabalho tem o intuito de problematizar o debate recente que envolve os temas
cooperativismo, sustentabilidade e tecnologia social. Foi realizado um levantamento teórico
desses assuntos para amparar o estudo prático do modelo de gestão da cooperativa de trabalho
de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis - Cooperlírios. Este estudo foi
desenvolvido sob o enfoque da tecnologia em gestão organizacional, no sentido de verificar
intervenções que podem permitir um fazer tecnológico social, contribuindo dessa maneira, na
sustentabilidade social, econômica e ambiental da cooperativa pesquisada e na região que a
mesma está inserida.
Palavras-chave: Cooperativismo. Tecnologia Social. Sustentabilidade.

Abstract: This work aims to raise questions the recent debate about cooperativism,
sustainability and social technology. These subjects were used as theoretical basis in order to
conduct a practical study of the management model of the Cooperlírios - cooperativa de
trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e recicláveis (cooperative work of
collecting and processing of reusable and recyclable materials) company. This study was
developed focusing on the field of technology in organizational management, thus aiming to
research interventions that can enable social technology practices as well as promote
sustainability on the social, economical and enviroment aspects of the cooperative in question
and the region in which it is inserted.
Keywords: Cooperativism. Social Technology. Sustainability.

O cooperativismo e as questões sociais

Este artigo é resultado do trabalho monográfico apresentado sob o título “A


Tecnologia em Gestão Organizacional como possibilidade de realização de tecnologia
social para a sustentabilidade: um estudo de caso da Cooperlírios”, e visa relacionar
alguns dos princípios teóricos de tecnologia em gestão organizacional, dentre eles o de
planejamento estratégico, com o intuito de aperfeiçoar e otimizar o trabalho realizado
dentro da cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e
recicláveis - Cooperlírios - localizada na cidade de Americana/SP. Serão abordadas
questões teóricas no campo do cooperativismo, que é caracterizado pelo agrupamento
de pessoas que buscam a oportunidade de adquirir renda suficiente para a subsistência;
bem como no campo da sustentabilidade social, econômica e ambiental, através da
inclusão de indivíduos na sociedade, movimentação da economia local e otimização da
reciclagem do lixo; e por fim, será discorrido sobre a tecnologia social, dentro das
possibilidades desse tipo de inovação ser aprimorada, adaptada e até mesmo recriada,

Tecnóloga em gestão empresarial com ênfase em marketing, pela FATEC-AM (Faculdade de Tecnologia
de Americana). E-mail para contato: jakelinepertilemendes@yahoo.com.br
através de possíveis intervenções de conhecimentos humanos, nesse caso os conceitos
de gestão organizacional, contribuírem para o aperfeiçoamento dessas iniciativas
sociais. Esses assuntos foram observados a luz de uma pesquisa empírica e uma breve
síntese, vista a extensão do assunto, foi realizada uma análise a complexidade e
diversidade desses temas, e utilizadas bibliografias que possibilitaram um embasamento
teórico adequado para o assunto.
Desde a antiguidade verifica-se várias maneiras nas quais as pessoas se
agrupavam com o intuito de melhorar o desempenho de tarefas e trabalhos ou para a
defesa de interesses em comum, “e isso ficou evidenciado a partir do momento em que
aprendeu a reunir forças, juntou pessoas, ideias e experiências e passou a trabalhar em
conjunto” (CHIAVENATO, 2007: p.02). Passados os séculos e aperfeiçoadas as técnicas
e os modelos de produção introduzidas pelo industrialismo, crises econômicas atingiram
a sociedade europeia pós revolução industrial, colocando em evidência o
cooperativismo como um modelo que, por conseguinte criou forças e se tornou uma
alternativa para a sobrevivência da população que fora atingida pela crise, diante de um
cenário oscilante, de crescente desemprego e desigualdade social.
Na opinião de Nascimento (2000, apud LIRA, 2010: p.4.),

O cooperativismo é um modelo econômico com grande potencialidade e


eficácia para corrigir as disfunções do sistema econômico vigente e, além
disso, o autor afirma ser esta a forma correta para que os indivíduos consigam
efetivar, em grupo, objetivos econômicos que teriam dificuldades de
realizarem sozinhos.

Dessa maneira, é possível afirmar que o cooperativismo contemporâneo é


cabível de ter se desenvolvido com o intuito de contrapor a maioria das empresas
tradicionais, que pretendem exclusivamente a maximização dos lucros, e se preocupar
mais “além, pois é um sistema de colaboração econômica que envolve diversas formas
de produção e de trabalho. É o aprimoramento do ser humano em todas as suas
extensões: social, econômica e cultural”, como salienta Veiga (2001, apud LIRA, 2010:
p.4). Contrariamente ao cenário empresarial de lucros, esses tipos de iniciativas visam
atender as necessidades da sociedade, juntamente com seus associados e são
consideradas uma sociedade civil/comercial sem fins lucrativos, que possui como
finalidade viabilizar e desenvolver atividades de consumo, produção, crédito, prestação
de serviços e comercialização, com a finalidade de atuar no mercado em benefício de
seus membros, formando e capacitando-os para o trabalho e para a vida em comunidade
(SEBRAE 2011). Neste contexto, Veiga (2001, apud LIRA, 2010: p.4), afirma que “deve
haver a preocupação com a qualidade dos produtos e serviços, a busca pelo preço justo,
a fiscalização e a manutenção de seu entorno e do meio ambiente e, finalmente, a busca
pela construção de uma sociedade mais equitativa, democrática e sustentável”.
Complementando esses conceitos, Pinho (1982, apud LIRA, 2010: p.4), define
cooperativa como uma empresa cujo fim imediato é o atendimento das necessidades
econômicas de seus associados, os quais criam com seu próprio esforço, o seu capital, e
segundo o SEBRAE (2011), pode tornar um meio pelo qual indivíduos se unem a fim de
atingir objetivos específicos, através de um acordo voluntário para a cooperação
recíproca. Todas estas colocações nos permitem concordar com Souza (1990, p.8)
quando afirma que “o cooperativismo é uma alternativa econômica humana, que
equilibra custo, despesa e ganho, que não visa lucro, que usa o fator econômico como
meio de alcançar fins sociais”.

Esses princípios cooperativistas tornaram-se, portanto, uma maneira de


amenizar e potencialmente transformar uma sociedade em uma composição mais
igualitária e justa. O que implica que, potencialmente, essa pode ser uma nova maneira
de intervenção no liberalismo econômico, que não possui como princípio a
maximização dos lucros, mas sim, procura promover uma sociedade mais igualitária
com preocupações que atingem dimensões ambientais e culturais.

Estimular os estudos nessas áreas e levar esses conhecimentos a essas iniciativas


sociais é uma maneira de alinhar conhecimento teórico ao prático, a fim de alcançar
objetivos comuns, viabilizando assim o crescimento e fortalecimento dos cooperados e
da comunidade e região como um todo.

A sustentabilidade como o principal fator social/global

Após essa breve visita ao extenso campo das possibilidades do cooperativismo,


iniciaremos uma sucinta digressão sobre o princípio do conceito de sustentabilidade,
que surgiu a partir dos anos 70, com a percepção de que “mudanças climáticas em curso
em nosso planeta eram causadas, sobretudo, pela ação humana; que seus efeitos
durariam por centenas de anos; e que uma ação conjunta de nível mundial era necessária
para lidar com o problema” (CHAUVEL; COHEN, 2009: p.16). Essas observações
puseram em evidencia os aspectos negativos que as tecnologias desenvolvidas pelo
homem provocavam ao meio ambiente o qual,
nos coloca diante de um imperativo ético radical: ou mudamos nossa maneira
de ser e agir no mundo, o que supõe uma reeducação dos hábitos, ou
deixamos para as gerações futuras cada vez mais insustentáveis e
irreversíveis (CHAUVEL; COHEN, 2009: p.29).

O pensamento sustentável deriva como consequência de uma preocupação que


buscava combater as crises econômicas promovendo o crescimento do consumo essa era
uma “solução paliativa proposta em quase todos os países alcançados pela recessão” e
um dos fatores-chave “foi investir no incentivo ao consumo de suas populações, a fim
de manter a engrenagem produtiva em funcionamento” (CHAUVEL; COHEN, 2009:
p.15) que levou ao aumento do produto descartável e ao consumo excessivo.
Tal fato contribuiu com a expansão da economia incentivando o surgimento das
empresas de pequeno porte, com o intuito de gerar emprego e fazer girar a economia.
Esse tipo de empresa, por sua vez, não consegue tornar sua produção mais limpa, visto
que, ao contrário das empresas de grande porte, não são capazes de adquirir
maquinários de custo elevado para a redução do impacto ambiental e ainda inserir-se na
economia globalizada, podendo dessa maneira contribuir elevadamente à geração de
lixo no planeta. Se essas empresas de cunho mercantil, não forem contempladas de
maneira inteligente, podem tornar “o fascínio pela racionalidade técnica e instrumental
que, apesar de trazer enormes benefícios para a qualidade de vida pode contribuir,
produzindo também lixos e sucatas tecnológicas que não são assimiladas pela natureza
em curto espaço de tempo” (CHAUVEL; COHEN, 2009: p. 92).

Dessa maneira, podemos constatar que “uma empresa pode atuar como
causadora de danos na natureza ou também como redutora de impactos ambientais”
(CHAUVEL; COHEN, 2009, p. 23), dependendo do público consumidor, do porte da
empresa, do ambiente em que essas estão inseridas e outros fatores. Através disso pode-
se constatar que parcerias com empresas mercantis, principalmente as de pequeno porte
e cooperativas são atualmente de cunho fundamental, que pode trazer benefícios mútuos
vinculados a busca de um mundo com hábitos de produção e descarte mais adequados e
uma população mais consciente, já que podem unir-se em protocooperação e mitigar os
efeitos insustentáveis causados pela raça humana.

Como uma complementação oriunda desse contexto existe a comunidade


sustentável (e suas dificuldades), que pode ser definido “como a que é capaz de
satisfazer às próprias necessidades sem reduzir as oportunidades das gerações futuras”
(CAPRA in TRIGUEIRO, 2005: p. 19 apud SUSTENTABILIDADE, 2013). Outra
derivação é a expressão “desenvolvimento sustentável”, que segundo Boff (2012: p.36-
37), “é proposto ou como um ideal a ser atingido ou então como um qualificativo de um
processo de produção ou de um produto, feito pretensamente dentro de critérios de
sustentabilidade, o que, na maioria dos casos, não corresponde à verdade” Tal conceito é
utilizado com banalidade, principalmente em documentos e discussões, e na sua maioria
permanecem ali, no papel, tornando-se apenas mais um conceito insustentável; e a partir
dessas dezenas de discussões rascunhadas, mundialmente variadas iniciativas foram
criadas com o intuito de mitigar os efeitos visivelmente degradáveis causados pelas
ações humanas, uma vez que todas as nações buscam o progresso e, contudo, uma
conciliação com a natureza através de novas tecnologias, experimentalismos e
conceitos. Como salienta Boff (2009: p.35)
para os analistas ficava cada vez mais claro a contradição existente entre a
lógica do desenvolvimento de tipo capitalista que sempre procura
maximalizar os lucros às expensas da natureza, criando grandes
desigualdades sociais (injustiças) e entre a dinâmica do meio ambiente que se
rege pelo equilíbrio, pela interdependência de todos com todos e pela
reciclagem de todos os resíduos (a natureza não conhece lixo).

No contexto atual, no entanto, verifica-se uma inversão de valores, e nota-se

o impulso para buscar soluções de problemas e alívio para dores e ansiedades


nas lojas, e apenas nelas, continue sendo um aspecto do comportamento não
apenas destinado, mas encorajado com avidez, a se condensar num hábito ou
estratégia em alternativa aparente (BAUMAN, 2008: p.64).

Soluções para essa somatória de condições criadas que envolvem costumes,


hábitos e valores passam hoje por discussões e iniciativas ligadas, por exemplo, a
logística reversa e reuso da água, dentre outras, além da inserção de tópicos para
discussão a partir da educação com o objetivo de, desde cedo, iniciar uma
conscientização sobre a importância da preservação da vida no planeta. Vislumbramos
que essa pode ser a função de uma prática sustentável que,
se mede pela capacidade de conservar o capital natural, permitir que se
recupere, refaça e, ainda, por meio da inteligência humana possa ser
melhorada para entregarmos às gerações futuras não uma Terra depauperada,
mas enriquecida e ainda aberta a coevoluir (BOFF, 2012: p.109).

Assim,
quanto mais uma sociedade se funda sobre recursos renováveis e recicláveis,
mais sustentável se torna. Isso não significa que não possa usar de recursos
não renováveis, mas, ao fazê-lo, deve praticar grande racionalidade,
especialmente por amor à única Terra que temos e em solidariedade para com
gerações futuras (BOFF, 2012: p. 128).

A partir dessas observações críticas pode ser verificado uma maior


responsabilidade para com as gerações futuras, em um mundo que tende ao caos; onde
apenas alguns - que serão a elite - poderão ter acesso aos recursos naturais que a
natureza nos oferece; bem como se precaver da extinção da raça humana, pois a
natureza se refaz totalmente sem nossa interferência na Terra.

A Tecnologia Social e seus conceitos

As discussões voltadas ao conceito de tecnologia social (TS) nascem no


conjunto de preocupações que cercaram os anos 70 nos Estados Unidos e alguns países
europeus. Passado esse momento e avanço das discussões, e na década seguinte com o
término da Guerra Fria, a sociedade ainda era considerada desenvolvida pela quantidade
de tecnologias que conseguia criar, desenvolver, condição que apesar de permanecerem
vem mudando, justamente em decorrência das discussões iniciadas naquela década.
Nesse contexto, as reflexões sobre tecnologia social são decorrentes dos
impactos causados pelo industrialismo na sociedade e no meio ambiente. Dentro de um
quadro geral sobre o trajeto que conduziu a essa tecnologia, DAGNINO (2004; 2009)
cita a tecnologia apropriada (TA), como iniciadora de tais discussões podemos dizer que
essa tecnologia foi ficando obsoleta, pois nela, prepondera a competitividade e se torna
“um projeto de integração subordinada e excludente que agrava nosso particularmente
desigual e predatório estilo de desenvolvimento” (DAGNINO, 2004: p.30). É
importante sempre recordarmos que da mesma maneira que o uso da tecnologia
transformou a sociedade humana oferecendo facilidades e utensílios, e, a longo prazo
causou impactos sociais negativos, visto que o homem pode usar essa mesma técnica
para prejudicar o ambiente ou modificá-lo no que diz respeito a equiparar uma
sociedade.
E foi essa constatação que levou a necessidade de permitir “a recuperação da
cidadania dos segmentos mais penalizados, a interrupção da trajetória de fragmentação
social e de estrangulamento econômico interno do país e a construção de um estilo de
desenvolvimento sustentável” (DAGNINO, 2004: p. 16).

Sendo assim, a tecnologia social entra nesse contexto com o intuito de tentar
mudar essa realidade e trazer novas tecnologias que representem menor impacto ao
“produzir novos sistemas, que também resultam de transformações efetuadas sobre as
unidades que desempenharão o papel de concorrentes de novo sistema” (LADRÈRE,
1979: p. 64).

Dessa maneira, esse novo fazer voltado para a sociedade é vista como “uma
iniciativa mais eficaz para a solução dos problemas sociais relacionados a essa
dimensão e como um vetor para a adoção de políticas públicas (...) num sentido mais
coerente com nossa realidade e com futuro que a sociedade deseja construir”
(DAGNINO, 2004: p. 60). Além disso, o Estado é o grande, se não o maior propulsor,
dessa nova forma de fazer tecnologia, como veremos em nosso estudo de caso.

De acordo com Dagnino (2004), a tecnologia social pode ser também uma
ferramenta para construção de uma sociedade mais justa, igualitária e ambientalmente
correta, pois é uma alternativa de gestão que pode ser utilizada para o desenvolvimento
social, tecnológico, ambiental e econômico, no sentido da “participação democrática no
processo de trabalho, o atendimento a requisitos relativos ao meio ambiente (mediante,
por exemplo, o aumento da vida útil das máquinas e equipamentos), à saúde dos
trabalhadores e dos consumidores e à sua capacitação” (DAGNINO, 2004, p. 52-53). A
tecnologia social pode ser considerada, portanto, um modelo, produto, técnica ou
procedimento desenvolvido para solucionar problemas econômicos, sociais e
ambientais, e que pode ser facilmente aplicado em qualquer região onde houver a
necessidade de inovações sociais. São inúmeros os exemplos de tecnologias sociais bem
sucedidas, salvaguardadas as possíveis críticas, entre elas estão: o soro caseiro (utilizado
para combater a desidratação), o Banco de Palmas (que oferece microcrédito a
população local), as hortas escolares (que proporcionam aprendizado e uma alimentação
mais saudável aos estudantes), e as cisternas de placa no Nordeste (que captam água da
chuva para consumo humano).

Assim, a TS é o uso do conhecimento, unido com a ciência para a criação e


produção de tecnologias inovadoras para a análise e solução de problemas sociais, ou
ainda,

uma inovação social (...) concebido como conjunto de atividades que pode
englobar desde a pesquisa e o desenvolvimento tecnológico até a introdução
de novos métodos de gestão da força de trabalho, e que tem como objetivo a
disponibilização por uma unidade produtiva de um novo bem ou serviço para
a sociedade (DAGNINO, 2004, p.34).
Portanto, a

tecnologia social é o conjunto de atividades relacionadas a estudos,


planejamento, ensino, pesquisa, extensão e desenvolvimento de produtos,
técnicas ou metodologias reaplicáveis, que representem soluções para o
desenvolvimento social e melhoria das condições de vida da população
(BRASIL: Ciência e Tecnologia, 2011).

Ela pode trazer mudanças tanto no contexto social e igualmente tecnológico,


essa pode ser “a condição tecnológica da mudança social quanto a condição social da
mudança tecnológica (...) ao mesmo tempo, explica como o ambiente social influencia o
projeto de um artefato e como a tecnologia existente influencia o ambiente social”
(DAGNINO, 2004, p.40). Dessa maneira acredita-se que as tecnologias seriam
construídas socialmente, ou seja, não seria como se cada grupo trabalhasse
individualmente, e sim de maneira que pudéssemos ver todas essas ações em conjunto e
assim ter um resultado positivo holístico. “A tecnologia seria uma construção social, e
não o fruto de um processo autônomo, endógeno e inexorável como concebe o
determinismo” (id. p.39).
As tecnologias sociais podem ser desenvolvidas a partir da prática de
determinada população ou através de estudos oriundos da comunidade acadêmica, ou
seja, pode ser derivada dos conhecimentos de uma população com a ajuda de estudos
acadêmicos efetuados na região.
Não resta, no entanto, apenas o desenvolvimento desse novo tipo de tecnologia,
deve-se ao mesmo tempo fazer com que a sociedade tenha a percepção sobre a
importância de seu uso, além de saber as técnicas para o seu manuseio e em igual
relevância as mudanças positivas, que podem trazer no comportamento social. Pode-se
afirmar que, a partir do exposto, verifica-se que esse tipo de iniciativa move-se em um
sentido de permitir a sustentabilidade daquilo que é inovado a partir do uso de
tecnologias sociais e dessa maneira podemos inferir que as cooperativas são um fazer
tecnológico social, ou seja, essa forma de gestão poderá promover inovações sociais
eficazes para as sociedades, que desejam mais a igualdade social e ao mesmo tempo
crescimento econômico, como será destacado no capítulo a seguir.

O fazer tecnológico organizacional e suas perspectivas dentro da


cooperativa de trabalho de coleta e processamento de materiais reutilizáveis e
recicláveis - Cooperlírios
A pesquisa realizada visou observar empiricamente uma iniciativa social, sendo
escolhida para esse intento a Cooperlírios, localizada na cidade de Americana. O cenário
encontrado desde as primeiras visitas realizadas nessa cooperativa apontavam em
direção a necessidade da introdução de um fazer tecnológico que pudesse trazer
benefícios técnicos e sociais a essa forma de organização. Por se tratar de uma iniciativa
criada no ano 2000, através da parceria da Prefeitura de Americana com apoio de
vereadores, juntamente com catadores de materiais recicláveis e munícipes, e que até
hoje, só possui como documentação formal o Estatuto da Cooperativa, verificou-se que
poderiam ser implementadas mudanças e alterações a partir dos conhecimentos
adquiridos no curso de tecnologia em gestão organizacional na Fatec da mesma cidade.
Dessa maneira, através de um estudo de caso realizado, formulou-se uma proposta de
intervenção, ainda que em caráter de sugestão teórica, nos sistemas de gestão da
cooperativa citada, e dessa maneira realizadas interferências, que pela característica
social do negócio podem se traduzir em inovação social, ou tecnologia social,
aprimorando a sustentabilidade econômica, social e ambiental do empreendimento
pesquisado.
Como citado anteriormente, dentro dessa cooperativa não existem documentos
formais que possam ser consultados que comprovem todo o trabalho realizado pelos
membros, que do ponto de vista da gestão, já se configura como uma situação
inaceitável, pois é importante para o bom andamento de qualquer negócio existir
documentos que formalizem o trabalho legalmente. Sendo assim, a pesquisa foi
realizada com base em entrevistas como fontes testemunhais, feitas com alguns
membros da cooperativa.
Igualmente, seria importante a divulgação das atividades sucedidas pela
cooperativa em redes sociais, sites, jornais e etc, para mostrar e até mesmo incentivar e
conscientizar a população da importância da separação do lixo orgânico do reciclável e
demonstrar que esse tipo de organização pode beneficiar a sociedade como um todo.
Inicialmente pode ser apontado que desde a sua inauguração, a Cooperlírios não
possui um planejamento estratégico que direcione suas metas e funcionamento a médio
e longo prazo, nem planejamento anual, bem como missão, visão e valores. Considera-
se que a presença de um gestor poderia auxiliar tanto os planejamentos, quanto nas
estratégias, fatores fundamentais que devem ser feitos com o intuito de dar uma direção
ao negócio, aperfeiçoar os resultados nas tomadas de decisões e como consequência
alavancar o trabalho realizado por essa cooperativa.
No campo dos recursos humanos a contratação de cooperados, não é feita de
acordo com o grau de conhecimento prático entre os interessados e nem pelo grau de
necessidade econômica, prevalecendo a escolha daqueles que possuem um grau de
parentesco com algum colaborador. Do ponto de vista da tecnologia da gestão, o ideal
seria uma seleção por meio de qualificação técnica, o que não seria justo do ponto de
vista cooperativista, pois esse tipo de iniciativa visa atender as necessidades de pessoas
que não tiveram oportunidade de qualificação profissional e por isso tem dificuldades
em entrar para o mercado de trabalho e passam por problemas econômicos. Dessa
maneira a solução optativa é proporcionar cursos de capacitação aos interessados e de
acordo com o grau de desempenho de cada um a escolha poderia ser feita, pois
mesmo quando esses atores tivessem a possibilidade de ter acesso qualificado
à informação, seria escasso o aprendizado decorrente. Eles seriam, na melhor
das hipóteses, simples usuários da TS, e não agentes ativos num processo de
construção sociotécnica que tivesse como resultado um artefato tecnológico
que garantisse o atendimento de suas necessidades e expectativas
(DAGNINO, 2004, p.58).

Esse tipo de medida seria igualmente essencial do ponto de vista da segurança


do trabalho para que utilizem uniforme específico, como por exemplo, luvas e botas
plásticas e igualmente cuidados quanto a higiene do trabalho, medidas possíveis de
serem tomadas e que auxiliam na prevenção de acidentes que podem ser causados
enquanto são executadas as tarefas. É função do gestor estar atento a esses tipos de
detalhes e conscientizar os cooperados quanto ao uso correto de equipamentos de
segurança, para evitar doenças que prejudiquem a saúde e até mesmo a ausência no
trabalho.
Outro fator enfrentado pelos separadores de reciclados e até mesmo os coletores
de lixo, que poderia ser solucionado com medidas de conscientização e informação
populacional, é a mistura de materiais reciclados com lâmpadas, pilhas, seringas. Muitas
vezes os munícipes não têm consciência de que esses materiais são perigosos e se
descartados indevidamente, podem causar danos a natureza, bem como ferir ou
contaminar os funcionários que lidam com esse tipo de material.
O pagamento pelo trabalho realizado é efetuado de acordo com o que é
produzido por cada membro no processo de separação do material reciclável. Apesar de
terem que cumprir uma jornada de trabalho de oito horas diárias, isso não é muito
levado em conta, condição que, na maioria das vezes, desmotiva os colaboradores a
carimbar o cartão de ponto corretamente, porque os mesmos são obrigados a
comparecer, mesmo que não haja material para o trabalho. Dessa maneira, a presença
de um relógio ponto torna-se um problema de motivação, porque mesmo sem material
os cooperados devem ficar cumprindo horário, mesmo que sem remuneração por isso.
Fica patente nesse caso a necessidade de uma intervenção nesse sistema, a partir da
introdução de um processo de métodos e processos motivacionais e eficientes.
A cooperativa enfrenta também um grande problema de falta de material. Como
a prefeitura terceiriza a coleta seletiva dos recicláveis, muitas vezes os coletores fazem
greve, ou seja, ter apenas “um fornecedor” da matéria-prima necessária para a
realização do trabalho é um fator negativo, pois a cooperativa para de trabalhar, pois a
empresa que recolhe o lixo torna-se um monopólio. Isso aconteceu durante alguns
meses no ano de 2011. Outro fator é a população fazer previamente a separação do lixo
doméstico, e por consequência da greve o caminhão terceirizado que recolhe o lixo
reciclável não passa, sendo assim, a população acaba descartando o lixo de maneira
incorreta para não acumular em casa. Tal fato gera uma população desmotivada pela
falta de comprometimento dos órgãos responsáveis pelo recolhimento do lixo, e passam
a descartá-lo de maneira indevida juntamente com o lixo orgânico. Essa questão pode
ser resolvida sistemicamente com os conhecimentos em marketing, ou solucionada
através de uma modificação no sistema de coleta, onde existisse galpões responsáveis
pelo armazenamento e descarte desses materiais recicláveis pela população e um
investimento na educação, que conscientize a importância da participação individual no
descarte correto do reciclável, para que ele não se torne um amontoado de produtos
inservíveis.
Muitas vezes as colaboradoras não têm com quem deixar seus filhos e acabam
levando os mesmos até a cooperativa. Os mesmos ficam brincando entre os materiais
recicláveis enquanto suas mães trabalham. Isso potencialmente torna-se um perigo,
porque as crianças podem se machucar, contrair alguma doença e atrapalham o
andamento do serviço das cooperadas. Esta área pode encontrar soluções no campo de
Recursos Humanos e neste na adoção de medidas assistencialistas.
Dentro da cooperativa, há alguns cachorros instalados, os quais acostumaram-se
com o ambiente pelo fato de obterem cuidados oriundos da cooperativa ou das
cooperadas. Porém não é saudável para o ambiente, porque esses podem perturbar as
cooperadas e até mesmo machucá-las ou transferir alguma doença. Outro cenário que
demonstra uma desorganização na estrutura de funcionamento e a necessidade de uma
intervenção tecnológica de gestão.
Falta a cooperativa uma melhor infraestrutura, porque a atual está comprometida
devido ataques de vandalismo. E a falta de recursos tecnológicos muitas vezes
compromete a eficiência e eficácia dos trabalhos.
É preciso destacar que o trabalho de uma cooperativa de reciclagem é de grande
relevância para a sociedade em que está inserida, para a cidade e seus cooperados. O
que requer algum órgão responsável pelo cômputo geral dos benefícios trazidos por essa
alternativa de gestão, e um que fosse encarregado da divulgação por meio de mídias
como site, redes sociais, jornais e etc. Isso poderia ser utilizado como demonstração a
sociedade sobre a importância da separação do lixo, bem como uma sugestão para o
aumento do índice de motivação dos colaboradores, ao mostrar o quanto o trabalho
realizado por eles é importante para o meio ambiente, a população e principalmente as
futuras gerações.
Do cenário exposto, ainda que apenas apontando os “gargalos” do sistema de
gestão da cooperativa estudada, verifica-se que existe uma considerável quantidade de
necessidades para o correto funcionamento das partes que a compõe. Nesse sentido fica
patente que o intercâmbio entre empresas, universidade, órgãos públicos e cidadãos é
fundamental para que essa iniciativa social possa receber conhecimentos científicos de
gestão, condição que, como afirmado anteriormente, pode alavancar a sustentabilidade
econômica, social e ambiental do negócio e região em que está inserida.
Dessa maneira pode ser considerado que deve haver clareza quanto aos
objetivos e metas que essa iniciativa social deseja alcançar, bem como um planejamento
estratégico e anual que deverá ser cumprido, e igualmente a divulgação desses
resultados à comunidade. Através de pensadores que transcrevem todos esses temas,
constata-se que é possível alcançar melhor êxito em uma cooperativa se essa estiver
sendo direcionada por uma pessoa que compreenda e saiba a melhor forma de aplicar os
conceitos tecnológicos de gestão organizacional, ressaltasse os dizeres de MACHADO
(2006: p.60) quando descreve que “existem diversos tipos de organizações: simples ou
complexas, pequenas ou grandes, com um único ou vários sócios, empresas mercantis
ou cooperativas. Todas elas têm em comum a necessidade de ter pelo menos um gestor
para administrá-las”.
Essas iniciativas sociais podem ser consideradas uma forma de fazer tecnologia
social, a partir do momento em que modelos teóricos de tecnologia em gestão podem
modificar, implementar, criar ou aperfeiçoar sistemas de gestão e produção. Ou seja,
quanto à teoria impulsiona o fazer prático no sentido da inovação, nesse caso, no âmbito
social, onde podemos aplicar de maneira sistêmica o conhecimento teórico na prática,
para que haja um melhor aproveitamento e otimização do trabalho realizado por essa
cooperativa.

Considerações finais

Mas qual a importância desses tipos de intervenções tecnológicas


organizacionais, já que o objetivo principal de uma cooperativa não é lucrar?!
As cooperativas de materiais recicláveis podem ajudar na transformação da
cultura baseada no consumo, estimulada pelo industrialismo que deságua o consumo
desenfreado, o qual promove o acúmulo de resíduos variados contribuindo para a
degradação da natureza, e nesse contexto a intervenção dos conhecimentos de gestão
contribuindo para aumentar a capacidade de separação dos materiais e tornar esse o
modelo de negócio do futuro, devido ao imensurável crescimento populacional e
consequentemente o aumento gradual do lixo produzido pela sociedade e indústrias em
geral. Essa alternativa de negócio pode, além da geração de renda a seus cooperados,
contribuir para uma sociedade mais limpa e consciente quanto a importância da
separação de lixo para a reciclagem e ainda amenizar os gastos públicos que uma
sociedade tem com o destino dado ao lixo, que se não são eventualmente separados, são
todos destinados aos aterros sanitários. Pois, como pode ser verificado que,
Nos últimos anos, o volume de lixo urbano reciclado no Brasil aumentou.
(...) Mesmo assim, o País perde em torno de R$ 8 bilhões anualmente por
deixar de reciclar os resíduos que são encaminhados aos aterros ou lixões, de
acordo com o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (BRASIL:
Meio Ambiente, 2013).

Esse novo modelo pode favorecer e beneficiar as comunidades em que estão


inseridas. Isso exige uma conscientização dessa iniciativa social e de todos os
participantes dos mais diversos grupos sociais envolvidos. O cooperativismo torna-se
então uma maneira eficiente e eficaz de prática de um tipo de tecnologia social para a
sustentabilidade de uma comunidade.

Conjecturamos igualmente que, o cooperativismo pode também ser um tipo de


empreendedorismo social, pois ele nasce da visão de um grupo de pessoas que possui
objetivos sociais específicos e que a partir de suas ações pode contribuir para o
desenvolvimento sustentável, social e econômico de determinada comunidade, e ao
mesmo tempo, pode vir a movimentar a economia local de uma região, preservando
como norteador de suas ações, os princípios cooperativistas.

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http://www.cecremef.com.br/docs/cooperativismo_uma_alternativa_economica.pdf?
q=prettyphoto&iframe=true&width=100%&height=100%. (consultado em 04/05/2011).

SUSTENTABILIDADE. “Conceitos: Sustentabilidade”.


http://www.sustentabilidade.org.br/conteudos_sust.asp?codCont=9&categ=s.
(consultado em 08/05/2013).
Bambu: Uma Alternativa Sustentável

*Lety del Pilar Fajardo Cabrera de Lima


Doutoranda em Engenharia de Materiais
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: pilolima@hotmail.com

Ruth Marlene Campomanes Santana


Professor do Departamento de Materiais da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
e-mail: ruth.santana@ufrgs.br

Resumo

Há séculos, o bambu tem sido utilizado como uma matéria prima importante em países da Ásia,
África, América do Sul. Usado na construção civil, construções rurais, artesanato, alimentação,
para a obtenção de papel, celulose e outras aplicações industriais. Além de ser um material
economicamente rentável oferece grandes vantagens ambientais, pois tem características, tais
como ser uma espécie de rápido crescimento, existem espécies que alcançam suas dimensões
máximas em 6 meses, (Bambusa, Dendrocalamus, Guadua), protege o solo da erosão, grande
produtor de biomassa, captura CO2, por isto e outros motivos de ordem econômico, o bambu
tornasse como uma grande alternativa de material sustentável a ser utilizada em diferentes
aplicações.

Abstract

For centuries, the bamboo has been used as an important raw material in countries of Asia,
Africa, South America. Used as food, in the civil and rural construction, handicraft, to produce
pulp and paper and another industrials applications. Besides being a cost effective material, it
offers environmental advantages, so it has characteristics such as its grows quickly, there
species that reach their maximum development in 6 months, (Bambusa, Dendrocalamus,
Guadua), protects the soil from erosion, produces biomass, requesters CO2. Therefore, bamboo
becomes a sustainable alternative with different applications.
1. Introdução
Com o crescente desmatamento e pressão sobre as florestas tropicais, assim como sobre
as áreas de reflorestamento, considerasse cada vez mais necessária a busca e utilização de
materiais renováveis e soluções alternativas com a capacidade de amenizar este processo. Por
tanto, a busca por materiais e fontes energéticas ecologicamente corretas, tornasse prioridade. O
bambu, se apresenta uma alternativa entre os matérias sustentáveis; reconhecido e usado por
diversos povos desde o inicio da civilização, é uma planta que aporta múltiplos benefícios para
o homem e o meio ambiente. Suas propriedades físicas, químicas e mecânicas permitem que
seja aproveitado para diversas aplicações, tais como na construção civil, construções rurais,
artesanato, implantes ortopédicos, próteses, para a obtenção de papel, celulose, tecidos com
fibra de bambu entre outras.

O Bambu é um produto natural e amigo do meio ambiente com um enorme potencial de bens e
serviços ambientais, esta é a sua maior relevância. Os principais efeitos positivos são: produção
de biomassa, redução da erosão no solo, retenção de água, regulação de caudais hídricos,
fixação de dióxido de carbono (CO2), energia primaria, hospedeira de fauna e flora.
Pode ser utilizado na sua forma natural ou processado industrialmente: Aplicações em estado
natural: pode ser utilizado como alimento, em coberturas vegetais, tutoragens de cultivos,
construção rural, construção civil, artesanato, paisagismo.
Aplicações bambu processado: o processamento do bambu por meios industriais aumenta as
aplicações e utilidades e leva a uma multiplicação da sua potencialidade como matéria prima.
Existe uma variedade de produtos gerados a partir deste processamento, entre eles: Fabricação
de laminados; pisos; tabuas – vigas de bambu; painéis ou “plywood”; aglomerados; Produção
de celulose, papel e bio-etanol e Produção de carvão

2. Que é o bambu:
É uma planta gramínea, um pasto gigante, que depois de algum tempo se transforma em
estrutura dura como a madeira, mais flexível e leve. É um excelente recurso sustentável, auto-
renovável, de rápido crescimento, versátil, leve, flexível, e resistente. Graças as suas
propriedade físicas, químicas e mecânicas pode ser aproveitado em diversas aplicações.
As espécies de bambu tem tamanhos variáveis, desde pequenas plantas ornamentais que podem
ser mantidas em vasos, até os bambus gigantes que podem chegar a 30 m de altura e mais de 25
cm de diâmetro.
Segundo Jaramillo (1992), o bambu se caracteriza pela capacidade para ser renovado, não existe
nenhuma outra espécie florestal que possa competir em quanto à velocidade no crescimento. Em
quanto uma árvore tarda 60 anos para crescer 30 metros, o bambu alcança esta altura em 6
meses; em 3 ou 4 anos está pronta para o corte, a produção de colmos é rápida sem precisar de
replanto. Janssen (2000), afirma que as propriedades estruturais do bambu tomadas pelas
relações resistência/massa específica e rigidez/massa específica, superam as madeiras e o
concreto, podendo ser inclusive, comparadas ao aço.

3. Generalidades
De acordo com Minke (2010), existe bambu tropical e subtropical desde bosques de
com uma humidade maior ao 90% como o bambu “Guadua angustifolia” na região de Chocó -
Colômbia, até as zonas semiáridas na Índia o Bambu “Dendrocalamus strictus”.
Existe um total de 90 géneros, 1200 espécies. Dentro do continente Americano a maior
diversidade encontrasse no Brasil (Hidalgo, 2003); Brasil, alberga a maior diversidade de
géneros em América (48%) e possui o maior grau de endemismo no continente.
Castaño e Moreno (2004)

3.1 Origem e história do bambu


O bambu é originário de Ásia, América, África e Oceânia. Pode-se adaptar a variados climas
(tropicais, subtropicais, temperados) Na Europa existem fósseis mais não há espécies
endémicas. Segundo a história, o bambu já aparece no começo da civilização na Ásia, se
considera que o bambu teve a sua origem no cretáceo, um pouco antes do inicio da era terciaria,
quando surgiu o homem. Hidalgo (1974)

3.2 Classificação taxionómica


O bambu, pertence às Angiospermas ou plantas com flores, gramínea, encontra-se em todas as
latitudes e considera-se uma família cosmopolita.

Tabela 1- Rangos genealógicos para classificação do Bambu

Divisão Espermatófita
Subdivisão Angiosperma
Classe Lilopsidas / Monocotiledóneas
Subclasse Commelinidae
Ordem Cyperales / Gluminoflorae
Família Gramínea ou Poaceae
Subfamília Bambusoidae
Supertribu Bambusodae
Tribo Bambuseae
Subtribo Guaduinae
Fonte: Cruz(2009:43)

3.3 Propriedades Físicas-Mecânicas do Bambu


Por ser um elemento natural, o bambu é um material variável, não existem pedaços de bambu
exatamente iguais, mesmo sendo do mesmo colmo. Pois existem alguns fatores como: clima,
solo, topografia, altitude, corte e tratamento, parte do talo, idade, humidade, que afetam suas
caraterísticas.
A resistência máxima é alcançada a partir dos três anos de idade, os colmos maduros são mais
resistentes que os verdes. (Pereira, 2001).

• Humidade relativa: é o peso da água do talo em relação ao seu peso em estado totalmente
seco, expressado em percentagem. Tem sido mostrado (Minke, 2010) que no estado de
crescimento o conteúdo de humidade pode ser mais do 70% na primeira parte do talo e
depois, entre quatro e seis anos, pode abaixar até 20% .

• Contração durante o secado: se produz devido à perda de água. O trabalho de Liese (1985),
mostrou que o comprimento do bambu desde seu estado verde até seu estado lignificado
tem uma redução entre 4% e 14%; e em seu diâmetro a contração é entre 3 e 12%.

• Compressão e Tração: o bambu é de grande resistência à tração, em especial sua capa


externa; esta capa suporta até 40 kN/cm2 (= 400 N/mm2 = 400 MPa) alcançando a
resistência do aço. (Minke, 2010:18).

Na seguinte tabela se mostra as propriedades mecânicas de diferentes bambus em vários


entrenós.
Tabela 2- Propriedades mecânicas de diferentes colmos de bambu.

Fonte: (Hidalgo, 2003)

Modulo de elasticidade: Segundo Minke (2010), o modulo de elasticidade (E-modulo), se reduz


entre um 5% e 10% com o aumento da tensão. No laboratório de testes de materiais em
Stuttgard Alemanha, foram realizados testes para o modulo de elasticidade do Bambu Guadua
angustifolia com 12 cm de diâmetro e foram emitidos os seguintes resultados:
E- módulo (compressão): 1.840 kN/cm2
E- módulo (flexão): 1.790 kN/cm2
E- módulo (tração): 2.070 kN/cm2

Ensaios realizados na “Universidade del Valle”, Cali - Colômbia em colaboração com CIBAM
em Palmira – Colômbia, com 65 testes de Guadua angustifolia, deram como resultado para o E-
módulo de compressão entre 1350 até 2770 kN/cm2 (media de 2150 kN/cm2). O módulo de
elasticidade do bambu é quase o dobro que a madeira. (NSR 10 cap. G 12.7)

Comportamento ao Fogo: por ser oco, o bambu pode queimasse rapidamente. A casca do talo
tem uma alta concentração de acido silico; por este motivo o Bambu é designado segundo a
norma Alemã DIN 4102 como inflamável que não produzem facilmente chamas

Resistência a Sismos: graças a sua flexibilidade, alta resistência contra forças em relação ao seu
peso e sua capacidade de absorver energia, o bambu é um material ideal para construções sismo
resistentes.

4. Aportes do bambu ao meio ambiente


O Bambu é um produto natural e amigo do meio ambiente, esta e a sua maior
relevância, pois possui um enorme potencial bens e serviços ambientais. Os principais efeitos
positivos são:

4.1 Produção de biomassa:


O Bambu é um recurso natural de rápido crescimento que produz mais biomassa seca por
hectare/ano que o eucalipto. (Montalvão, et al. 1984).
Segundo o estudo “Aportes de Biomassa Aérea”, realizado pelo “Centro Nacional para el
Estudio del Bambú – Guadua” na Colômbia, o rápido crescimento do bambu permite produzir e
aportar ao solo entre 2 e 4 ton/ha/ano de biomassa, este volume pode variar de acordo com o
grau de intervenção do bambuzal. Segundo Liese e Duking (2009), a produção de biomassa seca
aérea do Bambusa bambos do sul da Índia cultivado chega aportar 47/ton/ha/ano.

4.2 Redução da erosão no solo:


Os rizomas e as folhas em decomposição fazem no solo a função similar a das esponjas, que
evitam a fluidez rápida e continua da água, isto permite regular e proteger o solo da erosão. Isto
faz do bambu uma espécie com função protetora, especial para ser usada nos solos em declive
das bacias hidrográficas.

4.3 Retenção de água:


Graças à capacidade de retenção de água em seus colmos, funciona como uma bomba de
armazenagem, pois em épocas de húmidas absorve grande volumes de água que são
armazenadas nos colmos e no sistema de rizomas. No verão, esta água armazenada é aportada
de forma gradual ao solo.1

4.4 Regulação de caudais hídricos:


As folhas do bambu retém e amortecem a queda brusca da água chuva nos solos, favorecendo a
dispersão desta água em partículas menores que se distribui na área do bosque de uma forma
mais equilibrada, do contrario esta água causaria crescidas súbitas e não se formariam as
reservas necessárias no verão, adicionalmente a abóbada ou dossel formada pelo folhagem nas
margens de fontes de água impedem as perdas por evaporação súbita, isto ajuda na mencionada
regulação dos caudais. (GIRALDO E SABOGAL, 2005)

4.5 Fixação de CO2


As plantas que assimilam dióxido de carbono (CO2) pela fotossínteses e o armazenam na sua
biomassa fazem uma importante contribuição ao clima.

Graças à rapidez do seu crescimento o bambu capta mais CO2 que uma árvore2.
Londoño (2003), afirma, que esta condição representa uma enorme riqueza ambiental, pois o
bambu é um importante fixador de CO2, até o ponto que este não libera na atmosfera o gás
retido depois de ser transformada em produtos ou na construção, este fixasse nas obras
realizadas a partir dele. Esta particularidade é importante para os países industrializados, que
segundo o “Protocolo de Kyoto”, devem diminuir a emissão de gases do efeito estufa. O bambu
ajudaria a resolver este grande problema global de uma forma mais económica e menos
complexa.

4.6 Energia primaria


Segundo Janssen (1981), a energia utilizada para a produção de bambu é 300MJ/m3, comparada
com 600 MJ/m3 da madeira.
4.7 Hospedeira de fauna e flora

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
1
Segundo estudos realizados na fazenda Nápoles, Montenegro – Colômbia (Sabogal, 1983) e no “Centro
para el Estudio del Bambú – Guadua” (Giraldo, 1996) foi concluído que 1ha de bambu da espécie
“Guadua Angustifolia” é capaz de armazenar 30.375 litros de água, isto é, aproximadamente água
para150 pessoas por dia (200 litros/dia/pessoa)

2
O Bambu Guadua Angutifolia Kunth, capta em seus primeiros 6 anos de vida 54 toneladas de CO2 por
hectare. Londoño (2003)
As plantações favorecem a existência e sustentabilidade da flora, microflora, entomo-fauna,
mamíferos, aves, répteis e anfíbios.
5. Aplicações e usos
Com poucos dias os brotos de bambu servem como alimento; do sexto ao primeiro ano
produz lâminas e lascas para a elaboração de cestas; esteiras e outros objetos artesanais; a partir
do segundo ano produz tiras para chapas; e a partir do terceiro ano pode ser aproveitado em
estruturas arquitectónicas, pisos e chapas. (Hidalgo, 1981)
O bambu é uma espécie com muitos propósitos e utilidades, há uma espécie de bambu para um
objetivo determinado. Porem um determinado bambu não pode servir para tudo. São muitas as
aplicações que contemplam o bambu, tanto na sua forma natural como processada
industrialmente, isolado ou combinado com outros materiais.

5.1 Aplicações em estado natural:


Na sua forma natural pode ser utilizado como alimento (animal-humano), em coberturas
vegetais, os tutoragem de cultivos, Construção rural, Construção civil, Artesanato, paisagismo.

5.2 Aplicações bambu processado


O processamento do bambu por meios industriais aumenta as aplicações e utilidades e leva a
uma multiplicação da sua potencialidade como matéria prima. Existe uma variedade de produtos
gerados a partir deste processamento, entre eles:

5.2.1 Fabricação de laminados

Figura 1 – Laminado de bambu


Fonte: “Ecobambu” Colômbia

O laminado consiste na transformação do bambu em lâminas rectangulares ou quadradas de


diferentes dimensões. Os talos do bambu são cortados em secções com diferente largura e
comprimento; as chamadas “latas”3 (ripas) de bambu, que ao serem colados de uma maneira
especial formam os laminados de bambu. Este pode ser considerado como o processo percussor
para a industrialização do bambu, pois a partir dele podem ser elaborados infinidade de
artefactos, construções e elementos, muito bem aceitos pelo mercado internacional não só pelo
fato de serem produtos que provem de um material renovável, se não também pela estética.

5.2.2 Fabricação de pisos:

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
3!“Lata” é uma seção longitudinal do bambu (a primeira) normalmente com comprimento entre três e seis
metros e largura entre cinco e oito centímetros, a espessura depende da parede da seção, se obtém ao
corar o colmo longitudinalmente em varias seções, não se utiliza maquinaria para este processo. (Cruz,
2009: 614)
Figura 2 – Pisos de bambu
Fonte: “Ecobambu” Colômbia

O processo industrial e similar ao utilizado para obtenção dos laminados, mais com
características e parâmetros especiais dentro do mercado mundial. O piso esta formado por
varias ripas finamente laminadas ou coladas. China é o maior produtor de pisos laminados de
bambu, também são produzidos na Colômbia e no Brasil.

5.2.3 Fabricação de tabuas – vigas de bambu:

Figura 3 – Pisos de bambu


Fonte: “Ecobambu” Colômbia

Com o mesmo processo industrial para a produção de laminados podem ser obtidas tábuas de
bambu com diferentes dimensões, a união sucessiva destas tabuas originam os blocos de
madeira de bambu similares a os obtidos com a madeira serrada. Estes blocos de diferentes
espessuras e dimensões são a matéria prima para a fabricação de: vigas torneadas, camas,
escritórios, mesas, armários, gabinetes, mobiliário em geral, artefactos de cozinha, portas, tacos
de golfe, etc.

5.2.4 Fabricação de painéis ou “plywood”:

Figura 4 – Painéis de bambu


Fonte: “Ecobambu” Colômbia
Com o processo similar ao utilizado para a obtenção do laminado se obtém painéis normalmente
com dimensões standard, nos Estados Unidos se utilizam painéis de 1.225 m X 2.45 m e
espessura de 6 a 50 mm. ECOBAMBU(2009)

5.2.5 Fabricação de aglomerados:

Figura 5 – Aglomerado de bambu


Fonte: a própria autora

Nos processos industriais para a obtenção de pisos, painéis, elementos artesanais a nível
industrial, mobiliário e outros, se produz pó de bambu, serragem e sobram pequenos pedaços de
diferentes dimensões que são triturados finamente e misturados com colas especiais e levados a
prensas industriais para produzir aglomerados de alta resistência que podem ser utilizados para a
produção de diferentes produtos como mobiliário, utensilias para cozinha, elementos de
decoração e outros.

5.2.6 Produção de celulose, papel e bio-etanol:


Para estas finalidades existem grandes diferencias entre as espécies de bambu, em quanto à
quantidade e qualidade de produção de estes produtos, estudos tem demostrado que os melhores
bambus para este objetivo são “bambusa vulgaris var vulgaris”4 ou “Dendrocalamus strictus” e
“Bambusa tulda”. Brasil é o único pais das Américas a ter uma indústria de papel de bambu,
possui uma grande plantação com este propósito no estado do Maranhão.
(fonte:bambubrasileiro, 2012)

5.2.7 Produção de carvão:


O carvão a partir do bambu, é um recurso bastante explorado na China e com muito sucesso,
brinda à população grandes benefícios económicos, ambientais e sociais. Em América, esta
opção de aproveitamento do bambu ainda esta a ser explorada nos últimos anos. Esta opção que
oferece o bambu como combustível, substitui o uso tradicional de madeiras importantes para o
ecossistema. O carvão de bambu é de excelente qualidade, seu rápido crescimento traz
equilíbrio na relação entre o gás de carbono emitido e o gás de carbono absorvido.5

6. Conclusões
A cadeia produtiva do bambu, tem se transformado em uma oportunidade de grande
potencial em primeiro lugar com benefícios ambientais, sociais e de mercado que deve ser
aproveitada ao máximo, pois desta maneira o Brasil se tornara competitivo em relação a países
industrializados que não dispõem deste bem natural.

!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
4
No Brasil existem grandes plantações do bambu da espécie “ Bambusa vulgaris var vulgaris” , que é o
mais recomendável como matéria prima para a produção de celulosa, papel e em menor grau bioetanol.
(Pereira, 2007)
5
Em experiências realizadas em laboratório observou-se que o bambu é mais denso e tem maiores teores
de cinzas em relação ao carvão da madeira. (fonte: www.ipef.br)
Produtos obtidos a partir do processamento industrial do bambu, como o MDF, aglomerados,
painéis e tábuas de bambu oferecem a substituição da madeira, por tanto podem ser chamados
de madeiras ecológicas aportando assim na conservação das florestas tropicais.

O bambu, é um recurso natural com muitas qualidades e características únicas, sendo assim é
material com um grande potencial na produção de ambientes sustentáveis. Pois esta é a espécie
vegetal considerada como a maior taxa de renovabilidade, possui ainda características de
flexibilidade, resistência e durabilidade únicas frente a outras matérias primas deste género.

É interessante como um material existente há milhares de anos, e considerado por muito tempo
como “madeira dos pobres”, graças à preocupação pelo meio ambiente, atualmente recobra a
sua importância e chega a ser considerado como um material moderno e contemporâneo.

7. Referências bibliográficas

CASTAÑO, F.; MORENO, R. “Guadua para todos cultivo y aprovechamiento”. Bogotá:


panamericana formas e impresos s.a, 2004
CRUZ, H. “Bambu guadua angustifolia kunth”. Pereira: gráficas olimpica s.a, 2009

GHAVAMI, K; MARINHO, A. Propriedades físicas e mecânicas do colmo inteiro do bambu


da espécie guadua angustifolia. Revista brasileira de engenharia agrícola e ambiental. V. 9 n. 1
p. 107-114, 2005

GIRALDO, E., y SABOGAL, A. Una alternativa sostenible: la guadua. Armenia: corporación


autónoma regional del Quindío. 2ª edição, 2005

HIDALGO, O. Bambú: cultivo y aplicaciones en: fabricación de papel, construcción,


arquitectura, ingeniería, artesanía. Bogotá: illus. Estudios tecnicos colombianos (etc), 1974.

HIDALGO, O. Bamboo: the gift of the gods. Bogotá: d´vinni ltda. 2003

JANSSEN, J. Designing and building with bamboo. Inbar. Beijing: technical report nº 20, 2000

Jaramillo, A. La guadua: historia antropológica. Manizales: universidad de caldas, facultad de


agronomía, 1983.

LIESE, W. The structure of bamboo in relation to its properties and utilization. In: international
symposium on industrial use of bamboo. Beijing: procedings, 1992.

LONDOÑO, X.; CAMAYO, G.; RIAÑO, N., LOPEZ Y. “Caracterización anatómica del
culmo de gaudua angustifolia kunth (poaceae: bambusoideae)”. In Bamboo science & culture:
the journal of the american bamboo society,2003

Pereira, M. ; Beraldo, A. L. Bambu de corpo e alma. Bauru: canal 6, 2007


Pereira, M. Bambu: Espécies, Caraterísticas e Aplicações. Apostila Bauru: Unesp, 2001

Sites consultados:
www.bambubrasileiro.com.br Acesso em 09 de abril de 2012
www.ipef.br Acesso em 14 de fevereiro de 2012
http//www.ebf.bamboo.org Acesso em 03 de novembro de 2011
http//www.sitiodamata.com.br Acesso em 09 de fevereiro de 2012
Gestão sustentável de condomínios em prol de cidades sustentáveis:
case do condomínio Edifício Residencial Porto di Nucci

Alcino Vilela1

Resumo
Para melhorar a situação das cidades brasileiras, o debate e a reflexão em busca de alternativas
econômicas, mitigação dos impactos ambientais, engajamento das partes interessadas, embates,
manifestações, experimentações e implementações de novas práticas na busca da sustentabilidade é cada
vez mais premente. Concomitantemente, a evolução da qualidade e da gestão da qualidade, mostrando os
pilares sobre os quais se assenta a gestão sustentável, apontam como esse modelo gerencial pode ser
aplicado em condomínios, como o case do Edifício Residencial Porto di Nucci, localizado em
Campinas/SP. Ademais, tornar a cidade melhor aos seus habitantes, em seus mais diversos aspectos
(ambiental, econômico, administrativo, governança e social), garante um futuro melhor para as atuais e
futuras gerações. Nesse contexto, verifica-se a possibilidade da aplicação dos princípios e fundamentos de
gestão sustentável em condomínios residenciais e comerciais, mediante um sistema de gestão
condominial fundamentado no MEG (Modelo de Excelência da Gestão), a fim de obter resultados
qualitativos e quantitativos como forma de construção coletiva da cidade sustentável.
Áreas temáticas afim: Construção sustentável, cidades sustentáveis; Consumo sustentável;
Empreendedorismo; Inovações e tecnologias sustentáveis; Práticas e processos organizacionais;
Responsabilidade social; Saúde e meio ambiente e desenvolvimento urbano.

Substract
To improve the situation of Brazilian cities, debate and reflection in search of economic alternatives,
mitigation of environmental impacts, stakeholder engagement, clashes, demonstrations, trials and
deployments of new practices in the pursuit of sustainability is increasingly pressing. Concurrently, the
development of quality and quality management, showing the pillars on which rests the sustainable
management, link management model like this can be applied to condominiums, as the case of Porto di
Nucci Residential Building, located in Campinas / SP. Also, make the city better to its inhabitants, in its
various aspects (environmental, economic, administrative, social and governance), ensures a better future
for present and future generations. In this context, there is the possibility of applying the principles and
fundamentals of sustainable management in commercial and residential condominiums through a
condominium management system based on the MEG (Model Management Excellence), in order to
obtain qualitative and quantitative results as a way of collective construction of the sustainable city.
Thematic areas: Sustainable construction, sustainable cities, sustainable consumption;
Entrepreneurship, Innovation and sustainable technologies, practices and organizational processes, social
responsibility, health and environment and urban development.

1Alcino Vilela é bacharel em Sociologia e licenciado em Ciências Sociais pela Unicamp. É pós-graduado em Gestão da
Sustentabilidade e Responsabilidade Social pela Faculdade de Economia da Unicamp. Possui especialização em Gestão de
Projetos pela Harvard Business School, é auditor de sistema de gestão integrado (ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001) pela
Bureau Veritas e auditor ambiental internacional pela Proenco. Já atuou como consultor de sustentabilidade de uma distribuidora
de energia elétrica e atualmente é gerente de consultoria e auditoria em sustentabilidade e mudanças climáticas, com experiência
profissional em responsabilidade social, meio ambiente, saúde e segurança e comunicação para a sustentabilidade,
implementação de processos de diálogo com stakeholders e indicadores de sustentabilidade GRI, Indicadores Ethos, Global
Compact, Objetivos do Milênio, inventário GHG Protocol, entre outros. E-mail de contato: alcino.vilela@gmail.com.

1
1.Apresentação

Uma cidade é composta pelo trabalho coletivo de sua população e concretiza-se pela sua
cultura, relações sociais, políticas, econômicas e religiosas e diversidade que a vida nestes locais
proporciona. Ao longo do tempo, as cidades se desenvolveram em regiões onde eram favoráveis
o clima, a geografia e outros atributos naturais eram mais favoráveis. As cidades prosperaram
quando resguardam os recursos naturais, que são os pilares centrais de suas economias e da sua
qualidade de vida. Por outro lado, cidades mal administradas contribuem cada vez mais para as
severas preocupações ambientais globais.
De acordo com VECCHIA (2011), no ano de 2010, o mundo tornou-se urbano, quando mais
de 50 % da população mundial passou a viver em cidades. Apesar de possuírem somente 2 % da
área do planeta, as cidades abrigam mais de 50 % da população mundial. Esse é mais um fator de
pressão contra os já escassos recursos naturais do planeta.
Neste contexto mundial, as cidades sustentáveis são entendidas como aquelas que adotam
uma série de práticas eficientes voltadas para o desenvolvimento econômico, preservação do
meio ambiente e melhoria da qualidade de vida da população – economicamente viáveis,
socialmente justas e ambientalmente corretas. Este conceito integra, portanto, os aspectos
ambiental, social, econômico que já são utilizados pelas empresas sustentáveis.
Atualmente, no Brasil e no mundo, já são reconhecidas muitas cidades que adotam práticas
sustentáveis: uso eficiente e sem desperdícios de água, energia, uso de materiais renováveis,
recicláveis e/ou reutilizáveis, criação de espaços multiuso para evitar desperdícios (colocar tudo
num mesmo bairro), incentivo ao transporte alternativo e público de qualidade, visando a mitigar
a poluição do planeta e melhorar o ecossistema mundial.
Na contramão desta proposta, hoje as metrópoles são geradoras de elevados consumos
energéticos, aumento de poluição atmosférica, liberação de gases com efeito de estufa, poluição
do ar, do ruído, a substituição do espaço verde e público, dentre outros desequilíbrios que não se
esgotam nas consequências ambientais. Isso tudo acaba por gerar graves implicações
econômicas, ambientais, sociais e sanitárias.
Entretanto, neste mesmo processo de pensar cidades sustentáveis, as organizações
corporativas estão pensando nos seus processos internos de gestão desde a década de 80, Gestão
da Qualidade Total ou Total Quality Management (TQM), amplamente suportada pelos autores
norte-americanos, como Deming, Juran e Feigenbaum. A qualidade em gestão, em todos os
níveis, tornou-se uma condição obrigatória para as organizações que buscam competitividade e a
garantia de perpetuidade das suas operações. Então, nesta época, o mundo voltava sua atenção

2
para o elevado grau de competitividade alcançado pelas principais indústrias japonesas, cujos
produtos chegavam com excelente qualidade e preços relativamente baixos nos principais
mercados consumidores do mundo ocidental, passando a constituir uma ameaça para as suas
economias.
Em 1987, a International Standard Organization (ISO) publicou a série de normas ISO 9000,
visando a estabelecer um padrão para a aplicação dos conteúdos de gestão da qualidade das
empresas. Neste mesmo período, ainda na década de 1980, foi criado nos Estados Unidos o
prêmio nacional da qualidade, Malcom Baldridge Award com o objetivo de premiar as empresas
que fossem mais bem-sucedidas na implantação de modelos de TQM e a partir daí elaborar um
modelo de avaliação que servisse como base para a implementação do programa.
Em seguida, vieram o Prêmio Europeu da Qualidade e até o Prêmio Nacional da Qualidade
(PNQ) no Brasil. Com a abertura da economia brasileira, no início da década de 90, os
empresários do Brasil identificaram a necessidade de adotar padrões internacionais para orientar,
avaliar e reconhecer a gestão, em busca de mais qualidade e competitividade. Foi nesse
movimento, que em 1991, um grupo formado por representantes de 39 organizações privadas e
públicas instituíram, em São Paulo, a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FNQ
2011).
Em São Paulo, estado da federação que concentra a maioria das empresas do Brasil, foi
fundado em 2001 o IPEG (Instituto Paulista de Excelência da Gestão), organização de direito
privado e sem finalidade de lucro, com o propósito de promover a melhoria da gestão das
organizações públicas e privadas do Estado de São Paulo (IPEG 2013). Na mesma linha do
Prêmio Nacional da Qualidade, o IPEG instituiu o PPQG – Prêmio Paulista de Qualidade da
Gestão, um reconhecimento anual às organizações paulistas que possuem os melhores sistemas
de gestão e resultados, avaliados por uma banca examinadora voluntária e independente,
utilizando critérios reconhecidos com o que há de mais avançado em gestão organizacional,
alinhados com a Fundação Nacional da Qualidade.

2.Modelo de gestão sustentável aplicado a pequenas organizações

O modelo de gestão sustentável que pode ser aplicado a pequenas organizações, como o case
deste artigo, o Edifício Residencial Porto di Nucci (PdN), é baseado no MEG (Modelo de
Excelência da Gestão) da Fundação Nacional da Qualidade, que é inspirado no modelo e padrão
de gestão de organizações no mundo todo, segundo a FNQ (2011).

3
O termo condomínio significa "propriedade comum", ou seja, uma coletividade, uma
comunidade. Para viver num condomínio, as pessoas estão dispostas a partilhar áreas de domínio
comuns e privativas. O direito de uso da área comum e a obrigação de conservação de
equipamentos que pertence a todos são condições essenciais para se viver em harmonia num
condomínio. Para a compreensão, em termos de propriedade, a cada área privativa corresponderá
uma fração ideal da área comum.
As despesas são rateadas por todos, na forma prevista na Convenção, que os moradores
devem acatá-la, bem como o Regulamento Interno e as decisões das assembleias. Todos os
moradores de um condomínio utilizam espaços e equipamentos comuns, tais como "hall" social,
salão de festas, elevador, espaço fitness etc. Mesmo nas áreas privativas, a liberdade do morador,
embora muito maior, não é total, visto que a liberdade de um morador não pode comprometer a
liberdade de outro condômino, pois prevalece a máxima: o direito coletivo se sobrepõe ao
individual.
O PdN é um condomínio de natureza residencial, localizado em Campinas/SP, instituído sob o
regime especial estatuído pelo artigo 1.332 do Código Civil Brasileiro, e residualmente, pela Lei
Federal nº 4.591, de 16/dez/1964, regendo-se pelo seu instrumento particular de instituição,
especificação e convenção de condomínio, devidamente registrado em 26 de janeiro de 2006 no
1º Cartório de Registro de Imóveis de Campinas sob o nº 316.042. O objetivo desta organização
é a gestão da área comum do edifício, um prédio de sete andares com 28 unidades residenciais –
apartamentos ou áreas privativas – cujos condôminos contribuem mensalmente com a taxa
condominial para a manutenção das despesas e realização de investimentos, além de acatar as
diretrizes determinadas na Convenção, Regulamento Interno e decisões da Assembleia.

Edifício Residencial Porto di Nucci

4
O PdN aplica na sua gestão os 11 fundamentos e oito critérios do MEG. Os fundamentos são
definidos como os pilares, a base teórica de uma boa gestão. Esses fundamentos são colocados
em prática por meio dos critérios, sendo eles:
• Fundamentos: pensamento sistêmico; aprendizado organizacional; cultura de
inovação; liderança e constância de propósitos; orientação por processos e
informações; visão de futuro; geração de valor; valorização de pessoas; conhecimento
sobre o cliente e o mercado; desenvolvimento de parcerias e responsabilidade social;
• Critérios: liderança; estratégias e planos; clientes; sociedade; informações e
conhecimento; pessoas; processos e resultados.
A figura representativa do MEG simboliza a organização, considerada como um sistema
orgânico e adaptável ao ambiente externo. O MEG é representado pelo diagrama abaixo, que
utiliza o conceito de aprendizado segundo o ciclo de PDCA (Plan, Do, Check, Action).

5
De acordo com a FNQ (2011), “o sucesso de uma organização está diretamente relacionado à
sua capacidade de atender às necessidades e expectativas de seus clientes. Elas devem ser
identificadas, entendidas e utilizadas para que se crie o valor necessário para conquistar e reter
esses clientes. Para que haja continuidade em suas operações, a empresa também deve
identificar, entender e satisfazer as necessidades e expectativas da sociedade e das comunidades
com as quais interage — sempre de forma ética, cumprindo as leis e preservando o ambiente.
De posse de todas essas informações, a liderança estabelece os princípios da organização,
pratica e vivencia os fundamentos da excelência, impulsionando, com seu exemplo, a cultura da
excelência na organização. Os líderes analisam o desempenho e executam, sempre que
necessário, as ações requeridas, consolidando o aprendizado organizacional. As estratégias são
formuladas pelos líderes para direcionar a organização e o seu desempenho, determinando sua
posição competitiva. Elas são desdobradas em todos os níveis da organização, com planos de
ação de curto e longo prazos. Recursos adequados são alocados para assegurar sua
implementação. A organização avalia permanentemente a implementação das estratégias e
monitora os respectivos planos e responde rapidamente às mudanças nos ambientes interno e
externo. Considerando os quatro critérios apresentados, tem-se a etapa de planejamento (P) do
ciclo PDCA.
As pessoas que compõem a força de trabalho devem estar capacitadas e satisfeitas, atuando
em um ambiente propício à consolidação da cultura da excelência. Com isso, é possível executar
e gerenciar adequadamente os processos, criando valor para os clientes e aperfeiçoando o
relacionamento com os fornecedores. A organização planeja e controla os seus custos e
investimentos. Os riscos financeiros são quantificados e monitorados. Conclui-se, neste
momento, a etapa referente à execução (D) no PDCA.
Para efetivar a etapa do controle (C), são mensurados os resultados em relação a: situação
econômico-financeira, clientes e mercado, pessoas, sociedade, processos principais do negócio e
processos de apoio e fornecedores. Os efeitos gerados pela implementação sinérgica das práticas
de gestão e pela dinâmica externa à organização podem ser comparados às metas estabelecidas
para eventuais correções de rumo ou reforços das ações implementadas.
Esses resultados, apresentados sob a forma de informações reconhecimento, retornam a toda a
organização, complementando o ciclo PDCA com a etapa referente à ação (A).
Essas informações representam a inteligência da organização, viabilizando a análise do
desempenho e a execução das ações necessárias em todos os níveis. A gestão das informações e
dos ativos intangíveis é um elemento essencial à jornada em busca da excelência”.

6
Assim sendo, as práticas de gestão sustentável aplicadas desde 2008 no condomínio do
Edifício Residencial Porto di Nucci estão abaixo apresentadas de forma resumida, segmentadas
de acordo com os 8 critérios do MEG descritos anteriormente. Estas práticas estão
sistematicamente detalhadas em VILELA (2012).
Estas práticas estão alinhadas com os princípios de cidades sustentáveis, como: ações efetivas
voltadas para a diminuição da emissão de gases do efeito estufa, visando o combate ao
aquecimento global; promoção de justiça social; destino adequado para os resíduos; aplicação de
iniciativas educacionais voltados para o desenvolvimento sustentável; planejamento condominial
eficiente, principalmente levando em consideração o longo prazo; favorecimento de uma
economia local dinâmica e sustentável; adoção de práticas voltadas para o consumo consciente
dos moradores; ações que visem o uso consciente da água, energia elétrica e gás; práticas de
programas que visem à melhoria da segurança, saúde ocupacional e qualidade de vida dos
moradores e colaboradores; valorização de espaços verdes voltados para o lazer, dentre outros.

2.1.LIDERANÇA
• Missão, Visão e Valores: os valores e os princípios organizacionais do PdN (figura
abaixo) para a promoção da excelência e criação de valor para as partes interessadas foram
proativamente definidos em 2008 pela Direção da organização, de acordo com as
expectativas e necessidades das partes interessadas. Anualmente, os valores, as expectativas
e necessidades são validadas pelos moradores presentes nas assembleias ordinárias para
aprovação da prestação de contas, eleição de síndico, subsíndico e membros do conselho
fiscal, conforme determinado na Convenção do PdN;
Visão
Ser reconhecido pela excelência em gestão condominial até 2015.

Missão
Promover a gestão condominial com o engajamento dos moradores e
colaboradores, zelando pela portaria, limpeza, manutenção e segurança do
edifício, promovendo a sustentabilidade e responsabilidade na aplicação dos
recursos financeiros.

Valores
_Ética;
_Transparência;
_Responsabilidade;
_Comunicação;
_Sustentabilidade.

7
• Análise crítica dos processos: é a verificação do cumprimento dos padrões de trabalho
para os processos gerenciais que ocorre mensalmente por meio da análise crítica feita pelo
síndico sobre os procedimentos, plano de ação, indicadores e demais controles estabelecidos
no Sistema de Gestão Condominial do Edifício Residencial Porto di Nucci (SGC | PdN), que
é o principal mecanismo de verificação do cumprimento das práticas de gestão do PdN. A
cada mês, quando do fechamento contábil, os principais resultados do SGG | PdN são
atualizados e comunicados no quadro “Gestão à vista” para todas as partes interessadas. As
ações corretivas são implementadas de acordo com as necessidades identificadas de
melhoria no padrão de trabalho;
• Levantamento de Aspectos e Impactos de Sustentabilidade: os riscos empresariais mais
significativos que podem afetar a gestão condominial do PdN são identificados,
classificados e tratados por meio da ferramenta de “Levantamento de Aspectos e Impactos
de Sustentabilidade” (conceito de sustentabilidade aplicado pelo PdN que converge os
aspectos e impactos ambientais, sociais e econômicos). De acordo com os 6 processos do
PdN, a metodologia consiste na identificação das atividades, aspectos e impactos
(ambientais, sociais e econômicos) que são classificados e quantificados de acordo com a
frequência / probabilidade, severidade e abrangência, determinando o nível de importância
de cada aspecto / impacto de sustentabilidade. Se o nível de importância for superior ou
igual a 15, o aspecto / impacto de sustentabilidade é classificado como de risco significativo.
Dos 14 aspectos e impactos de sustentabilidade, os principais riscos empresariais
identificados para o PdN, correlacionados com os macroprocessos, bem como seus aspectos
e impactos de sustentabilidade, e como são tratados estes riscos, estão apresentados abaixo:

Processo Atividade Aspecto Impacto Controle operacional


Dimensão da sustentabilidade: AMBIENTAL.
_Seguro predial contra
Alteração da Qualidade
incêndio
Atividades cotidianas dos do Ar
_Manutenção anual dos
SEGURANÇA(5) moradores, colaboradores Incêndio. Incômodo à vizinhança
equipamentos de
e visitantes no prédio. Efeito estufa / mudanças
segurança (extintores e
climáticas.
hidrantes).
Deslocamento dos Escassez do recurso
GOVERNANÇA Consumo de combustíveis _Incentivar o uso do
colaboradores entre o Efeito estufa / mudanças
CONDOMINIAL (1) fósseis transporte público.
trabalho e a residência. climáticas.
Consumo de gás tipo GLP
Escassez do recurso _Conscientização para o
GOVERNANÇA (gás liquefeito de Consumo de combustíveis
Efeito estufa / mudanças consumo responsável do
CONDOMINIAL (1) petróleo) pelos fósseis
climáticas. recurso.
moradores.
Dimensão da sustentabilidade: SOCIAL.
SEGURANÇA(5) Atividades cotidianas dos Incêndio. Deslocamento dos _Seguro predial contra
moradores, colaboradores moradores incêndio

8
_Manutenção anual dos
Perda patrimonial para os equipamentos de
e visitantes no prédio.
moradores. segurança (extintores e
hidrantes).
_O alarme tem controle
de tempo de disparo (15
Alarme (ativação /
segundos), até a
SEGURANÇA(5) desativação pelos Emissão de ruído. Incômodo à vizinhança.
comunicação com a
moradores).
Central de Alarmes
localizado na Serpol.
_Mapa de riscos | F14
Ameaça à integridade
Atividades cotidianas dos Perigos relacionados à para inventariar, priorizar
física ou psicológica dos
SEGURANÇA(5) moradores, colaboradores saúde ocupacional, e viabilizar o tratamento
colaboradores e
e visitantes no prédio. segurança e ergonomia. preventivo dos fatores de
moradores.
risco.
_Promoção de ações de
responsabilidade
GOVERNANÇA Ações e responsabilidade Questões socioambientais Ameaças socioambientais
socioambiental voltadas
CONDOMINIAL (1) socioambiental. na comunidade. para a comunidade
para a comunidade,
relacionadas no F15.
Dimensão da sustentabilidade: ECONÔMICA.
_Carta de notificação via
Administradora Zelo aos
moradores (até 2 meses);
GESTÃO ECONÔMICA- Cobrança de taxas _Carta de notificação via
Inadimplência. Contração de dívidas.
FINANCEIRA(6) condominiais. Cartório aos moradores
(acima de 2 meses);
_Abertura de processo
judicial.
_Seguro predial contra
incêndio;
Atividades cotidianas dos
Perda patrimonial da área _Manutenção anual dos
SEGURANÇA(5) moradores, colaboradores Incêndio.
comum do condomínio. equipamentos de
e visitantes no prédio.
segurança (extintores e
hidrantes).
_Controle de pagamento
Processo judicial de todos os benefícios /
GESTÃO ECONÔMICA- Remuneração de
Passivo trabalhista. Pagamento de multas e direitos trabalhistas
FINANCEIRA(6) colaboradores.
juros. previstos pela legislação
vigente.

• Assembleias ordinárias, reuniões extraordinárias e votações: as principais decisões


são tomadas por meio de três espaços de deliberação: a) assembleias ordinárias (requisito
legal previsto no artigo 1.350 do Novo Código Civil e no capítulo V da Convenção, “Das
assembleias gerais”; b) reuniões extraordinárias (requisito legal previsto no artigo 1.355 do
Novo Código Civil); c) votações por meio de listas para coleta de assinaturas (inovação
implementada em 2009 para obter o maior engajamento dos moradores em determinadas
decisões do PdN). Alinhada ao objetivo estratégico do PdN de “promover a governança
condominial por meio da GESTÃO PARTICIPATIVA dos moradores com engajamento,
comunicação, transparência e ética”, de forma proativa, essas três instâncias de tomada de
decisão tem a finalidade de compartilhar informações entre a Direção do PdN e os

9
moradores, sobre os desafios e as oportunidades identificadas no dia-a-dia da organização e
de deliberar sobre a melhor forma de encaminhar as ações, corretivas e/ou preventivas;
• Regulamento Interno / Convenção: tratam-se de dois documentos estabelecidos para
condomínios de acordo com o artigo 1.332 do Código Civil Brasileiro, e residualmente, pela
Lei Federal nº 4.591, de 16/dez/1964. Estes documentos estabelecem os direitos, deveres do
síndico, conselho fiscal e moradores.

2.2.ESTRATÉGIAS e PLANOS
• Mapa de macro processos: os principais macro processos do PdN são:

Governança condominial: assembleias ordinárias, reuniões extraordinárias, votações,


comunicação e engajamento dos condôminos na gestão condominial;

Portaria: controle de entrada/saída de moradores, visitantes e fornecedores, controle de entrega


de correspondências, reserva do salão de festas, monitoramento das imagens das câmeras;

Limpeza: limpeza e conservação da área comum – hall de entrada, hall dos andares,
estacionamentos, salão de festas / brinquedoteca, espaço fitness e elevador;

Manutenção: manutenção preventiva e corretiva da estrutura física, elétrica, hidráulica,


paisagístico e estética do edifício;

Segurança: garantia da segurança dos moradores, colaboradores e do patrimônio;

Gestão econômico-financeira: balancetes mensais, taxas condominiais, cobrança de


inadimplentes, investimentos, pagamento de fornecedores, movimentação bancária.

10
• Análise SWOT: a análise de macroambiente foi aplicada a metodologia da análise
SWOT tanto para os ambientes internos quanto externos. SWOT é uma sigla inglesa para
forças ou pontos fortes (strengths), fraquezas ou pontos fracos (weaknesses), oportunidades
(opportunities) e ameaças (threats). Essa análise é atualizada anualmente, quando
necessária, durante a revisão e validação dos processos do PdN na assembleia ordinária,
levando em consideração os riscos empresariais, requisitos das partes interessadas e
desenvolvimento sustentável. Segue abaixo a análise SWOT do PdN:
AMBIENTE INTERNO
FORÇAS FRAQUEZAS
1.força de trabalho própria sem terceirização dos serviços de 1. quantidade relativamente pequena de moradores que diminui a
portaria, zeladoria e limpeza; razão do rateio e, consequentemente, eleva a taxa condominial;
2. prédio com infraestrutura nova e em excelente estado de 2. a garantia do prédio pela Construtora Barros Pimentel é de 5
conservação; anos, com vencimento em setembro de 2010;
3. quantidade relativamente pequena de apartamentos / 3.inadimplência dos moradores.
moradores que facilita a gestão condominial.
AMBIENTE EXTERNO
OPORTUNIDADES AMEAÇAS
1. edifício está localizado ao lado de uma empresa de segurança 1.invasão do prédio, assalto e violência com moradores e roubo
terceirizada; do patrimônio;
2. disponibilização do espaço do telhado para alugar para 2.dívida externa com governo, fornecedores e outras partes
empresas de telefonia instalarem antenas de transmissão e interessadas da gestão anterior (antes de junho de 2007).
recepção.

• Mapa Estratégico | BSC (Balanced Score Card): o Planejamento Estratégico do PdN é


definido de acordo com a metodologia do BSC (Balanced Score Card). A utilização do BSC
é um aprendizado e uma inovação que foi incorporado ao SGC | PdN a partir do
conhecimento do uso destas metodologias em grandes empresas reconhecidas com o Prêmio
Nacional da Qualidade da FNQ. Além do BSC, a formulação das estratégias leva em
consideração os riscos empresariais, requisitos das partes interessadas e desenvolvimento
sustentável. Os oito objetivos estratégicos foram definidos de acordo com os seguintes temas
estratégicos: PESSOAS, EXCELÊNCIA OPERACIONAL, RELACIONAMENTO com
MORADORES e ECONÔMICO-FINANCEIRO e de forma integrada com: a) os macro
processos descritos na figura 0.a – 1.Governança condominial, 2.Portaria, 3.Limpeza,
4.Manutenção, 5.Segurança e 6.Gestão econômico-financeira; b) as necessidades e
expectativas das partes interessadas; c) o fortalecimento das forças impulsoras e
contornando as forças restritivas, provenientes dos processos internos da organização e as
externas, originárias do macroambiente, conforme registrado na “Análise SWOT”; d) e, por
fim, para realizar a missão do PdN e alcançar a sua visão de futuro. O “Mapa Estratégico |
BSC” está apresentado na figura abaixo e demonstra a integração e a correlação entre os 8
objetivos estratégicos. Nela, a sustentabilidade das ações e da organização é demonstrada de
forma transversal em todos os temas e objetivos estratégicos, pois, para alcançar os

11
resultados financeiros, é necessário ter responsabilidade social e ambiental nas ações
voltadas para as partes interessadas do PdN como colaboradores, moradores, proprietários,
fornecedores, comunidade do entorno e o meio ambiente.

Mapa Estratégico | BSC (Balanced Score Card ) | F01


TEMAS ESTRATÉGICOS OBJETIVOS ESTRATÉGICOS

Manter a taxa condominial em um


Não contrair DÍVIDAS e aumentar
VALOR JUSTO e, quando (6)
(6) o FUNDO de RESERVA .
possível, reduzi-la .
ECONÔMICO-FINANCEIRO

Aumentar a SATISFAÇÃO dos


(1) Promover a governança condominial
moradores em relação aos serviços (1)
por meio da GESTÃO PARTICIPATIVA
prestados e melhorias no prédio com
dos moradores com engajamento,
eficiência e responsabilidade
comunicação, transparência e ética.
RELACIONAMENTO com MORADORES socioambiental.

(3) Garantir a
Zelar pelo Zelar pela LIMPEZA e (5)
funcionamento e (4) SEGURANÇA dos
MANUTENÇÃO do moradores, dos
organização da espaço de convivência
(2) colaboradores e do
PORTARIA . comum.
EXCELÊNCIA OPERACIONAL patrimônio.

Aumentar a SATISFAÇÃO dos


(1)
colaboradores .

PESSOAS

• Plano Plurianual da Ação: após a posse da atual Direção do PdN em 2008, estabelecido
um planejamento para se preparar para o futuro: o “Plano Plurianual de Ação”. Trata-se da
implementação das decisões decorrentes da análise do desempenho da organização que é
feita por meio do acompanhamento deste plano, que é atualizado de acordo com as novas
diretrizes determinadas pelos moradores nas Assembleias para serem realizadas no PdN.
Uma inovação implementada em 2010 nesta ferramenta foi a atualização do status dos
projetos por meio do “semáforo”: ação finalizada na cor VERDE, ação em andamento na
cor AMARELA e ação pendente na cor VERMELHA.

2.3.CLIENTES
• Perfil das partes interessadas, identificação de necessidades e expectativas,
requisitos e canais de comunicação e relacionamento: trata-se de uma metodologia e que
registra o perfil das partes interessadas, identificação de necessidades e expectativas,

12
requisitos e canais de comunicação e relacionamento. As partes interessadas mapeadas e que
estão envolvidas nos processos de gestão do condomínio são: moradores (proprietários /
locatários), colaboradores / força de trabalho, fornecedores e comunidade do entorno;
• Pesquisa de satisfação dos moradores: a satisfação dos moradores é feita anualmente
por meio da “Pesquisa de satisfação dos moradores”. O resultado da pesquisa é registrada e
acompanhada por meio do indicador estratégico “Índice de satisfação dos moradores com a
gestão do condomínio - percentual de resultados "ótimo" + "bom" (%)”. Esta pesquisa de
satisfação avalia a imagem, a excelência em gestão, engajamento dos funcionários e
moradores, sustentabilidade e gestão financeira;
• Livro para registro formal de reclamações e/ou sugestões de moradores: as
solicitações, reclamações formais ou sugestões dos moradores são registradas por escrito no
livro de reclamações que fica localizado na portaria. As solicitações, reclamações e/ou
sugestões também são formalmente registradas durante as assembleias ordinárias e reuniões
extraordinárias. Informalmente, os moradores realizam as reclamações e/ou sugestões
diretamente para o síndico por meio de conversas diretas, pelo interfone, telefone ou por
email. As reclamações e/ou sugestões podem ser estratificadas em duas formas: a) relativas a
desvio de comportamento de outros moradores que infringem a Convenção e/ou
Regulamento do PdN; b) relativas a ações de melhoria na infraestrutura do PdN ou
mudanças nos processos de portaria, limpeza, manutenção ou segurança. Como aprendizado
do processo na gestão de conflitos entre moradores, em relação às primeiras reclamações,
como boa prática, o síndico orienta o(s) reclamante(s) a tratar diretamente com o(s)
reclamado(s) para resolver o problema e manterem a convivência harmoniosa entre os
mesmos. Persistindo o impasse, o síndico atua como mediador para resolver a questão e, em
casos extremos, os reclamado(s) são advertidos formalmente por escrito e, de acordo com a
gravidade da reclamação, são multados de acordo com os artigos previsto na Convenção do
PdN. Já em relação ao segundo tipo, as reclamações e/ou sugestões são inseridas no “Plano
Plurianual de Ação” e são classificadas como melhorias sugeridas por “moradores”. Todas as
manifestações dos clientes são prontamente e eficazmente resolvidas, como estão registradas
nos meios descritos de avaliação dos clientes;
• Assembleia kids & teens (ciranças e adolescentes): trata-se de uma assembleia voltada
para as crianças e adolescentes residentes no edifício, com a colaboração de mães e pais e
uma pedagoga, para tratar de temas e questões específicas para este público, como por
exemplo, estabelecer padrões de organização e uso da brinquedoteca;

13
• Implementação de metodologia para avaliação da imagem institucional: inovação
implementada para avaliar a imagem da organização perante o mercado: acompanhar e
registrar a quantidade de matérias positivas sobre o PdN publicadas na mídia – televisão,
rádio, internet e jornal. O resultado deste clipping é registrado e acompanhado por meio do
indicador de resultado “Imagem institucional do PdN na mídia”.

2.4.SOCIEDADE
• Inventário de gases de efeito estufa: especificamente sobre o tema Mudanças
Climáticas, proativamente, o PdN quantifica desde 2008 (ano base) as emissões de gases de
efeito estufa e publicou em o 1º inventário de gases de efeito estufa (GHG) de acordo com o
GHG Protocol. A elaboração do inventário e o acompanhamento das emissões de CO 2
equivalentes por meio de indicador específico no SGC | PdN contribuem para conscientizar
os moradores sobre este tema, principalmente no que tange ao papel de cada indivíduo,
independente da idade, como agente de mudança em prol de um mundo melhor. Esta é uma
inovação implementada para ampliar as ações do PdN em consonância com a agenda global
de sustentabilidade. Em 2012, foi implementada outra inovação nessa área: asseguração do
inventário de gases de efeito estufa (GHG) por terceira parte e o publica na base de
inventários do Programa Brasileiro GHG Protocol (FGV) –
www.registropublicodeemissoes.com.br. Alinhada a esta iniciativa, foi implementada em
2012 outra inovação com impacto positivo na sustentabilidade do PdN: substituição do
abastecimento de gás tipo GLP (gás liquefeito de petróleo) por GN (gás natural) que
propiciou uma redução de 1,250 ton. de CO2 equivalente nas suas emissões, equivalente a
18,2% de todas as emissões do ano passado;
• Coleta seletiva - relação de resíduos recicláveis e não recicláveis: a destinação dos
resíduos domésticos gerados pelos moradores é separada entre resíduos não recicláveis -
saco de lixo PRETO (coletados de segunda a sábado e destinados para a coleta de resíduos
da Prefeitura de Campinas) e resíduos recicláveis – saco de lixo AZUL (coletados às terças e
sextas-feiras e destinados para a coleta seletiva realizada por organizações locais). Para
orientar os moradores nesse processo, atrás de cada porta que dá acesso às escadas de
emergência está fixado o painel educativo “Coleta seletiva” para esclarecer aos moradores
quais resíduos são recicláveis e os que não são recicláveis;
• Mapa de riscos: em relação à saúde e segurança dos moradores, existe o “Mapa de riscos”
em cada pavimento do PdN: hall de entrada, hall social nos andares, portaria, espaço fitness,
salão de festas / brinquedoteca, estacionamento no térreo e estacionamento no subsolo. Estes

14
mapas seguem as diretrizes de acordo com a Portaria n° 05 do Ministério do Trabalho em
17/08/92 tratando da obrigatoriedade, por parte de todas as empresas, da "representação
gráfica dos riscos existentes nos diversos locais do edifício". O mapa, que é uma inovação
que representa graficamente os riscos de acordo com a classificação estabelecida na tabela
4.a: o grau (leve, médio e grave) e tipo de risco (físicos, químicos, biológicos, ergonômicos
e acidentes). Os riscos são descritos quanto ao tipo (por exemplo, como ruídos, gases,
protozoários, esforço físico intenso e/ou inadequado) ou quanto aos agentes causadores (por
exemplo, som muito alto, má postura do corpo em relação ao local de trabalho,
equipamentos inadequados etc.). Para cada tipo de risco, é estabelecido um ou mais
controle(s) para reduzir e/ou mitigar as suas consequências;
Graudo risco Tipo de risco

LEVE FÍSICOS

QUÍMICOS

MÉDIO BIOLÓGICOS

ERGONÔMICOS

GRAVE ACIDENTES

• Planejamento das ações de responsabilidade socioambiental: as ações de


responsabilidade socioambiental voltadas para o fortalecimento da sociedade, incluindo as
comunidades vizinhas ao PdN são voltados para a sensibilização e conscientização dos
moradores para campanhas de arrecadação de donativos e/ou outras doações – projetos
sociais para o desenvolvimento nacional, regional e/ou local. Dentre as ações destaca-se:
campanha do agasalho para a comunidade local e colaboradores do PdN, campanha de
arrecadação de donativos para os desabrigados das regiões brasileiras vítimas de desastres
ambientais e campanha para doação de sangue para o Banco de sangue da Unicamp etc.

2.5.INFORMAÇÕES e CONHECIMENTO
• Porto di Nucci NEWS: publicação que informa as principais realizações do Plano
Plurianual de Ação | F03, convocação de reuniões, ações de responsabilidade socioambiental
etc., visando estreitar a comunicação com os moradores;
• Quadro “Gestão à vista” para comunicação das informações, indicadores
estratégicos e de resultado: quadro localizado no hall de entrada do condomínio com as

15
principais informações do SGC | PdN para o engajamento dos moradores e colaboradores
para alcançar a Missão e estratégia do PdN, dentre outras informações;
• Sistema de monitoramento e gravação de imagens / alarme: sistema de informática
utilizado para os colaboradores na portaria monitorar 10 locais críticos para a segurança do
PdN no controle de acessos de pessoas, incluindo a gravação das imagens e o
acompanhamento em tempo real pelos moradores em seus apartamentos. O monitoramento e
registro do alarme são efetuados pela empresa de segurança vizinha ao condomínio.

2.6.PESSOAS
• Pesquisa de satisfação dos colaboradores: como melhoria no processo de a avaliação de
satisfação dos colaboradores, foi criada “Pesquisa de satisfação dos colaboradores” que é
feita anualmente e o resultado da pesquisa é acompanhado pelo síndico no “Painel de
Controle”. Esta prática tem como objetivo eliminar falhas nos processos para aumentar a
satisfação dos moradores. Dos resultados da pesquisa de satisfação, foi identificado que os
colaboradores, apesar de receberem regularmente o pagamento de horas extras, não tinham
folga em feriados e aos sábados emendados com os domingos. Desta forma, como
aprendizado na gestão de colaboradores e na melhoria da sua satisfação, após a aprovação
em assembleia ordinária em 2010, a escala de trabalho foi alterada para os colaboradores
gozarem os feriados e os sábados de forma intercalada: enquanto um colaborador folga num
sábado e/ou feriado prolongado, o outro colaborador trabalha durante horário comercial, das
8h às 17h. Esta inovação no processo, além de melhorar o grau de satisfação dos
colaboradores no ambiente de trabalho, também gerou um formulário para registrar e
controlar a programação de trabalho: “Escala de trabalho aos sábados e feriados”. Em suma,
a partir desta prática, o PdN também avalia o clima organizacional e implanta melhorias nos
processos relacionados a pessoas, como descrito acima. E, por fim, esta medida contribui
também para melhorar outro objetivo estratégico, o de reduzir a taxa condominial, já que
esta ação permitiu reduzir em 50% o pagamento de horas extras aos sábados e feriados;
• Descrição de cargo e atividades: a organização do trabalho no PdN é definida de acordo
com esta ferramenta que estabelece as competências necessárias para exercer a função para
os cargos de zelador e porteiro: formação, habilidade, experiência profissional anterior,
horário de trabalho, horário para refeição, atividades de trabalho durante a semana e as
diretrizes de relacionamento com os moradores / síndico. A descrição de cargo e atividades
contribui para promover a sinergia de trabalho entre os colaboradores e a produtividade do
sistema de trabalho. Além disso, os colaboradores contribuem para a melhoria dos processos

16
e na busca pela inovação por meio de sugestões e/ou críticas que são registradas e
acompanhadas por meio da ferramenta “Gestão de não conformidades: registro, tratamento,
avaliação e encerramento | F26”. As práticas deste critério estão correlacionadas com o
objetivo “Aumentar a SATISFAÇÃO dos colaboradores”;
• Frequência na academia / qualidade de vida: visando a promover a qualidade de vida
entre os colaboradores do condomínio, eles possuem flexibilidade no horário de expediente
com a destinação de 30 minutos para a prática de exercícios físicos no espaço fitness, além
do horário de almoço. Este tempo de 30 minutos diários é doado aos colaboradores para a
prática de ginástica;
• Plano de Emergência: visa a esclarecer os procedimentos e o uso dos acessórios na
ocorrência de incidentes no PdN, como falta de energia elétrica, pane no elevador, defeito
no portão eletrônico etc. Todos os acessórios descritos abaixo estão na “Caixa de
Emergência” que está localizada na saída do elevador do subsolo;

2.7.PROCESSOS
• Sistema de Gestão Condominial Porto di Nucci | SGC PdN: trata-se de um conjunto
de processos, procedimentos, formulários, documentos e manual de gestão criado pelo
síndico para garantir o controle dos processos, a excelência da gestão, o atendimento dos
requisitos das partes interessadas e a promoção da melhoria contínua dos procedimentos. O
SGC | PdN tem como base tecnológica os programas da Microsoft Office Excel e Word e os
documentos eletrônicos são de acesso exclusivo do síndico. A versão impressa dos principais
documentos do SGC | PdN estão fixadas no quadro “Gestão à Vista” localizado no andar

17
térreo do edifício (verificar os detalhes no critério 3.c), bem como no “Manual de Gestão”
localizado na portaria;
• Prospecto informativo com os princípios organizacionais e de segurança: os
fornecedores que atuam no processo de manutenção do PdN, ao cadastrarem-se na portaria,
recebem um prospecto informativo com os seus princípios organizacionais e com as
diretrizes de saúde e segurança que devem ser seguidas dentro das instalações do edifício
durante a execução dos serviços. Para garantir o cumprimento destas diretrizes, que ressalta
sobre a obrigatoriedade do uso de EPIs/EPCs, o zelador /ou a porteira, dependendo do turno
de execução do serviço, acompanha o fornecedor para verificar a observância das diretrizes
de saúde e segurança do PdN;
• Avaliação de fornecedores: esta ferramenta avalia os fornecedores de materiais ou
prestação de serviços, de acordo com os seguintes critérios: qualidade na prestação do
serviço / do produto; atendimento ao prazo na prestação do serviço / na entrega do produto;
preço justo da prestação do serviço / do produto; preocupação com responsabilidade
ambiental e segurança na prestação do serviço / elaboração do produto;
• Controle de requisitos legais: ferramenta específica para identificar e avaliar os
requisitos legais, normativos e voluntários aplicáveis ao condomínio, como por exemplo:
Lei 10.406/02, Lei 8.245/91, Convenção do PdN, Regulamento interno do PdN, ABNT NR
7 – PCMSO, ABNT NR 9 – PPRA, ABNT NBR 10.898, ABNT NBR 12.779, ABNT NBR
12.962, dentre outros.

2.8.RESULTADOS
• Painel de controle: os indicadores para a avaliação da implementação das estratégias e
suas respectivas metas são definidos de acordo com os objetivos estratégicos no “Mapa
estratégico” e registrados no “Painel de Controle”. Nesta tabela, os indicadores são
apresentados para evidenciar a integração entre os temas estratégicos, objetivos estratégicos,
macro processos, indicador estratégico e indicador de resultado, referenciais comparativos e
os requisitos das partes interessadas identificadas. Neste sistema de medição do
desempenho, a Direção do PdN controla 10 indicadores estratégicos e seus respectivos 30
indicadores operacionais, que inclui o acompanhamento dos resultados do mensais dos
indicadores no ano corrente em relação à meta do ano, o histórico dos resultados
quantitativos dos últimos três anos, análise de tendência e comparação com empresas de
referência (benchmark – referencial comparativo). A evolução nos últimos 5 anos dos
principais indicadores estão apresentados no capítulo 3 deste artigo.

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Tema estratégico ECONÔMICO-FINANCEIRO
Objetivos estratégicos Indicadores estratégicos Meta Indicadores operacionais Meta Principais ações | F03
_Redução das despesas operacionais que
1.1.Valor total das despesas
≤ 136 mil incluiu a eliminação do 3º turno da portaria,
1.Valor médio da taxa ≤ 250,0 acumuladas no ano (R$) iluminação automática nas garagens com
condominial (R$) 1.2.Diferença entre receita e sensor de presença, instalação de lâmpadas
≥ 0,0 econômicas, instalação de gás encanado,
despesa (R$)
Manter a taxa revezamento na escala de trabalho reduzindo
condominial em um 2.1.Valor total investido em em 50% o pagamento de horas extras aos
VALOR JUSTO e, melhorias no prédio – despesas ≥ 35 mil sábados e feriados;
quando possível, reduzi- não rateadas (R$)
2.Percentual da redução média _Investimento em melhorais estruturais no
la(6).
≤ 0,0 2.2.Índice de avaliação sobre a prédio cujas despesas não são rateadas entre os
da taxa condominial (%)
gestão econômico-financeira – moradores na taxa condominial, que contribui
≥ 93,4 para reduzir o valor mensal da taxa de
percentual de resultados “ótimo”
condomínio.
+ “bom” (%)
_Pagamento da dívida externa relativa a
3.1.Percentual do acumulado no
impostos atrasados (INSS, IPRJ, PIS/COFINS
ano da inadimplência INTERNA e ISSQN);
da taxa condominial (< 2 meses ≤ 6,7
3.Dívida EXTERNA total – de débito) em relação ao total de _Locação do espaço do telhado para empresa
colaboradores, fornecedores, = 0,0 arrecadação (%) de telefonia celular Oi instalar suas antenas de
governo (R$) transmissão / recepção;
Não contrair DÍVIDAS e 3.2.Percentual de inadimplência
aumentar o FUNDO de INTERNA (acima de 2 meses de = 100
_Formação de fundo de reserva com o
RESERVA(6). débito) com ação judicial (%) investimento em renda fixa;

_Controle austero da inadimplência para as


4.Valor total do fundo de ≥ 46 mil 4.1.Valor total dos recursos extras ≥ 37 mil taxas condominiais com atraso superior a 2
reserva (R$) acumulados no ano (R$) meses que inclui cobrança em cartório,
processo judicial até a penhora do imóvel.

Tema estratégico RELACIONAMENTO com MORADORES


Objetivos estratégicos Indicadores estratégicos Meta Indicadores operacionais Meta Principais ações | F03
3 _Realização da pesquisa de satisfação entre os
5.1.Consumo de água (m ) /
≤ 74,00 moradores sobre todos os macro processos do
morador Porto di Nucci;

5.2.Consumo de gás (kg) /


≤ 15,00 _Reestruturação e revitalização do hall de
morador
entrada, brinquedoteca, espaço fitness e salão
de festas;
5.3.Consumo de energia elétrica
≤ 211,00
(kWh) / morador
_Instalação de lâmpadas econômicas visando à
5.4.Emissões de gases de efeito redução do consumo de energia elétrica;
estufa (ton. CO2 equivalente / ≤ 12,372
morador). _Sensores de presença na iluminação nas
garagens do TÉRREO e SUBSOLO;
Aumentar a 5.5.Percentual do total de
SATISFAÇÃO dos melhorias implementadas no _Sensibilização para o consumo consciente no
5.Índice de satisfação dos ≥ 64,8
moradores(1) em relação prédio / acumulado no plano de Dia da Água;
moradores com a gestão do ação (%)
aos serviços prestados e
condomínio - percentual de ≥ 93,4 _Ratear de acordo com a quantidade de
melhorias no prédio com
resultados "ótimo" + "bom" moradores do apartamento nas despesas
eficiência e condominiais para o consumo de água e gás;
(%)
responsabilidade
socioambiental. _Campanhas de conscientização e engajamento
em ações de responsabilidade socioambiental e
sobre bons hábitos e costumes para a
5.6.Quantidade de reclamações convivência coletiva de acordo com as regras
relativas ao desvio da Convenção e Regulamento Interno;
comportamental dos moradores à ≤4
Convenção e ao Regulamento _Inventário de Gases de Efeito Estufa (GEE)
Interno (qtde.) de acordo com a metodologia do Programa
Brasileiro GHG Protocol para identificar e
reduzir as principais fontes de emissão de CO2;

_Substituição de gás tipo GLP por GN para


reduzir as emissões de CO2.

19
6.1.Quantidade de assembleias
ordinárias, reuniões
≥3 _Realização proativa de reuniões e votações
extraordinárias e plebiscitos para a tomada de decisões na gestão
realizadas (qtde.) condominial, além das assembleias ordinárias
previstas no Código Civil;
Promover a governança 6.2.Quantidade de comunicados
condominial por meio da do "Porto di Nucci NEWS | F11"
≥ 30 _Transparência das ações por meio de
GESTÃO 6.Participação média dos disponibilizados no elevador informativos como o Porto di Nucci NEWS,
PARTICIPATIVA(1) dos moradores nas assembleias (qtde.) quadro “Gestão à Vista”, boleto da taxa
≥ 51,0 condominial etc.;
moradores com ordinárias, extraordinárias 6.3.Percentual de ações
engajamento, e/ou outras reuniões (%) implementadas originadas de
≥ 72,6 _Inserção de sugestões dos moradores no
comunicação, sugestões de moradores + “Plano Plurianual de Ação”;
transparência e ética. assembleia / plano plurianual de
ação | F03 (%) _Envio de releases para a imprensa afim de
melhorar a imagem institucional do PdN.
6.4.Qtde. de matérias positivas ≥7
sobre o PdN publicadas na mídia.

Tema estratégico EXCELÊNCIA OPERACIONAL


Objetivos estratégicos Indicadores estratégicos Meta Indicadores operacionais Meta Principais ações | F03

7.1.Quantidade de reclamações
relativas ao funcionamento e ≤1
_Ampliação de 3 para 8 câmeras de
7.Percentual de melhorias organização da portaria (qtde.) monitoramento do edifício que facilita o
Zelar pelo funcionamento
implementadas na portaria / ≥ 70,6 controle do acesso de moradores, visitantes e
e organização da fornecedores em todos locais de entrada e saída
acumulado no plano plurianual 7.2.Índice de satisfação sobre o
PORTARIA(2). do edifício;
de ação | F03 (%) funcionamento e organização da
≥ 86,7 _Organização do espaço da portaria.
portaria - percentual de resultados
"ótimo" + "bom" (%)

8.1.Quantidade de reclamações _ Pintura das grades, portões, grade do depósito


relativas à limpeza / manutenção de gás, calhas em geral, estacionamento,
≤1
no espaço de convivência comum banheiros, espaços de área comum no andar
(qtde.) térreo e subsolo;
_Pagamento nos prazos acordados com os
8.2.Quantidade de conflitos com fornecedores;
=0
(3) 8.Percentual de melhorias fornecedores (qtde.) _Aquisição e locação de equipamentos, como
Zelar pela LIMPEZA e pressurizador de água e enceradeira, para
implementadas para limpeza e
MANUTENÇÃO(4) do 8.3.Índice de satisfação sobre a melhorar a limpeza dos espaços do edifício;
manutenção / acumulado no ≥ 73,8
espaço de convivência limpeza e manutenção do espaço _Planejamento periódico de limpezas nas
plano plurianual de ação | F03 calçadas, escadas e estacionamentos;
comum. de convivência comum - ≥ 90,0
(%) _ Ecoponto para coleta seletiva nos
percentual de resultados "ótimo"
estacionamentos do térreo e subsolo, com
+ "bom" (%)
coleta seletiva nos andares em 2 dias da
semana;
8.4.Índice de avaliação dos _Avaliação de qualidade dos fornecedores, com
fornecedores - percentual de ≥ 85,5 a eventual desqualificação daqueles que são
resultados "ótimo" + "bom" (%) mal avaliados.

_Instalação do sistema de segurança e alarme,


9.1.Quantidade de reclamações com monitoramento de presença de pessoas
de portas encontradas abertas / ≤5 pela empresa de segurança Serpol, além da
gravação e disponibilização das imagens para
alarme desativado (qtde.)
todos apartamentos dos moradores pela antena
Garantir a coletiva do edifício;
9.Percentual de melhorias
SEGURANÇA(5) dos _Fechadura com maçaneta fixa e abertura
implementadas em segurança / 9.2.Quantidade de incidentes
moradores, dos ≥ 78,1 ≤1 somente com chave nas portas que dão acesso
acumulado no plano plurianual relativos à segurança (qtde.) ao edifício;
colaboradores e do
de ação | F03 (%) _Fechamento automático dos portões das
patrimônio.
garagens;
9.3.Índice de satisfação sobre a _Seguro do edifício contra explosões, descarga
≥ 79,0
segurança - percentual de elétrica e danos na infraestrutura;
resultados "ótimo" + "bom" (%) _ Ronda noturna externa / acompanhar entrada
de moradores após as 22h.

20
Tema estratégico PESSOAS
Objetivo estratégico Indicador estratégico Meta Indicadores operacionais Meta Principais ações | F03
10.1.Quantidade de dias ausentes
≤ 12
(qtde.)
10.2.Quantidade de acidentes de _Pagamento em dia de salários e benefícios;
trabalho - lesões leves / graves =0 _Definição de escala de trabalho aos sábados e
feriados, permitindo o revezamento de trabalho
(qtde.)
10.Índice de satisfação dos e ampliando a folga dos colaboradores;
Aumentar a colaboradores no ambiente de 10.3.Percentual de melhorias _Flexibilidade no horário de trabalho em casos
SATISFAÇÃO dos trabalho - percentual de = 100,0 implementadas no local / de urgência;
colaboradores(1). resultados "ótimo" + "bom" processo de trabalho / acumulado ≥ 77,8 _Mapa de riscos em todos ambientes;
(%) no plano plurianual de ação | F03 _Uniforme para os colaboradores;
(%) _Reforma da cozinha dos colaboradores;
_Promoção de ações de desenvolvimento e
10.4.Quantidade de homem / capacitação dos colaboradores.
mulher horas de treinamento ≥ 8,0
(HMHT).

3.Resultados alcançados

Para avaliar a efetividade da intervenção da gestão sustentável nas organizações, são


mensurados os resultados em relação à situação econômico-financeira, clientes e mercado,
pessoas, sociedade, processos e fornecedores. Os efeitos gerados pela implementação sinérgica
das práticas de gestão e pela dinâmica externa à organização podem ser comparados às metas
estabelecidas para eventuais correções de rumo ou reforços das ações implementadas.
Desta forma, os principais resultados concretos do PdN apresentados abaixo asseguram que o
modelo está no rumo certo e tem muitas oportunidades para implementar melhorias na gestão
sustentável da organização:
• 784,2% de aumento nos investimentos: os investimentos anuais no PdN saltaram de R$ 4
mil em 2008 para mais de R$ 35 mil em 2012. Ao todo, nestes 5 anos foram investidos R$
118.843,1 em 76 ações / projetos do plano plurianual do PdN. Vale ressaltar, que este valor
não foi rateado para os moradores na taxa condominial, ou seja, não foram deduzidos na taxa
condominial;
• 569,4% de aumento no fundo de reserva: em junho/07 a conta bancária do PdN era
negativa e hoje o fundo de reserva é de R$ 76 mil, incluindo uma fonte fixa e mensal de
recurso extra de R$ 2,5 mil além da taxa condominial;
• 156,9% de aumento na diferença entre a receita e a despesa: princípio comumente adotado
nos orçamentos domésticos e recentemente pelo poder público, devido à Lei de
Responsabilidade Fiscal, este indicador significa não gastar mais do que se arrecada. No PdN,
esta diferença entre receita e despesa é positiva: em 2012, a receita foi R$ 28 mil superior às
despesas, um aumento de 156,9% em relação a 2008;

21
• 100% de inadimplência sob controle: a inadimplência dos moradores do PdN superior a 2
meses de atraso no pagamento da taxa condominial está com ação judicial para cobrança. Este
resultado deve-se a uma gestão pautada em ações de controle que inibem a inadimplência dos
moradores com taxas condominiais com mais de 2 meses de atraso;
• 58,9% de redução na taxa de condomínio: no período histórico dos últimos 5 anos, de
dez/2008 a dez/2012, a taxa condominial reduziu em 30,5%, enquanto que a inflação no
mesmo período foi de 28,44%2. Ou seja, incluindo a inflação, é possível afirmar que o valor
da taxa condominial reduziu em 58,9%. Além disso, comparado com o condomínio que é
considerado referencial comparativo (benchmark) do PdN, a sua taxa condominial (R$
834,00) é 3,6 vezes superior que a taxa condominial média do PdN em dez/12 (R$ 234,70);
• R$ 0,0 de dívida com governo, fornecedores e / ou terceiros: em junho/09 a dívida com os
impostos do PdN, que era superior a R$ 10 mil, foi completamente quitada e hoje em dia o
condomínio não possui dívidas com governo, fornecedores e / ou terceiros;
• 100% de satisfação entre os colaboradores: a pesquisa anual de satisfação entre os
colaboradores revelou que os colaboradores do condomínio estão 100% satisfeitos em
trabalhar no PdN. A pesquisa abrange questões como ambiente de trabalho, relacionamento
com os moradores, disponibilidade de equipamentos e materiais para você executar o seu
trabalho, relacionamento com o colega de trabalho, saúde e segurança, relacionamento com o
síndico, remuneração, pagamento de horas extras e flexibilidade do horário de trabalho;
• 0 de absenteísmo e 0 acidentes no trabalho: com certeza, um número invejado por muitas
organizações – em 5 anos, nunca ocorreu um acidente de trabalho no condomínio e nenhum
dos colaboradores faltou durante o expediente de trabalho. Isso devido às práticas de
preocupação com a saúde e segurança do colaborador e às ações de melhoria do clima
organizacional;
• 93,3% de satisfação entre os moradores: a pesquisa anual de satisfação dos moradores
revelou que os moradores estão 93,3% satisfeitos com a governança condominial, a gestão
econômica financeira, manutenção, limpeza, portaria e segurança;
• 53,6% de engajamento dos moradores: em 2012, a média de participação dos moradores
nos mecanismos decisórios do PdN foi de 53,6%. Em contrapartida à média de 10% de
participação nas assembleias, de acordo com uma pesquisa do portal Sindiconet 3 - portal
especializado voltado para síndicos e condomínios;
2 Fonte: http://www.portalbrasil.net/ipca.htm (acessado em 7 de março de 2013).

3 Fonte: http://www.sindiconet.com.br/8928/Informese/Administraao/Participaao-de-moradores (acessado em


07/03/2013).

22
• 52,3% de redução no consumo per capta de água: o consumo de água per capta reduziu em
18,0% devido às ações de conscientização e acompanhamento mensal do consumo;
• 43,6% de redução no consumo per capta de energia elétrica: como aprendizado no
processo de controle do uso de recursos naturais, foi implementada uma melhoria no processo
para reduzir o consumo de energia elétrica do edifício, com a instalação de lâmpadas tipo
LED e sensores fotovoltaicos para a iluminação das garagens nos andares térreo e subsolo;
• 17,9% de redução no consumo per capta de gás: o consumo de gás per capta reduziu em
17,9% devido às ações de conscientização e acompanhamento mensal do consumo;
• 12,1% de redução nas emissões de gases de efeito estufa (CO 2): o PdN obteve uma
redução de 12,1% em relação ao ano base (2008). Para efeito de inventário de gases de efeito
estufa, de acordo com a metodologia do Programa Brasileiro GHG Protocol (FGV), adotada
pelo PdN para a elaboração do seu inventário, a comparação deve ser feita sempre em relação
ao ano base do inventário, que em 2008, contabilizou 8,740 ton. de CO2 equivalente. Esta
redução também se deve à substituição do abastecimento de gás tipo GLP por GN no meio do
ano, uma diferença de 1,250 ton. de CO2 equivalente (escopo 1), redução equivalente a 18,2%
de todas as emissões do PdN em 2012. Uma comparação consistente das emissões de GEE ao
longo do tempo requer o estabelecimento de conjunto de dados de desempenho que possam
ser medidos e acompanhados. Os dados de desempenho são as emissões que compõem o ano
base. De acordo com a metodologia, o ano base pode ser o atual ano de elaboração do
relatório ou qualquer ano anterior para o qual estejam disponíveis dados de emissões que
possam ser verificados de acordo com as especificações do Programa Brasileiro GHG
Protocol. O PdN escolheu 2008 como ano base do seu inventário GEE devido à consistência
das informações consolidadas no Sistema de Gestão Condominial Porto di Nucci | SGC PdN;
• Homebook Condomínios: visando a disseminar as práticas de gestão do PdN, trata-se de um
portal desenvolvido especificamente para ser uma rede social voltada para o relacionamento
entre síndico, subsíndico, condôminos e a empresa administradora e que oferece soluções de
gestão condominial inovadoras e totalmente gratuitas para estes públicos, além de engajá-los
no processo de gestão;
• Ações de responsabilidade socioambiental: o PdN promove mensalmente diversas ações de
responsabilidade social voltadas para a mobilização dos moradores. As ações incluem
campanhas como: dicas de segurança nas estradas e cuidado com o veículo; campanha de
incentivo à doação de sangue para o Hemocentro da Unicamp; mudanças climáticas; redução
do consumo de recursos naturais; mobilização dos moradores para arrecadação de donativos
para os desabrigados; mobilização e dicas para o combate à dengue; dia mundial da água;

23
campanha de arrecadação de agasalhos; dia Mundial de preservação do meio ambiente; dia
mundial de prevenção à AIDS, dentre outros.
4.Considerações finais

De acordo com o Instituto Ethos de Responsabilidade Social, estima-se que, até 2030, mais de
6 bilhões de pessoas estejam morando em centros urbanos. Só na América Latina, 81% da
população vive em cidades. O tamanho da população e o rápido crescimento impactam em
questões como problemas de trânsito, infraestrutura, exclusão social, explosão demográfica,
impactos ambientais, dentre outros ETHOS (2012).
Por essas e outras, incluir a sustentabilidade nas cidades é algo indispensável e fortalecê-la
significa criar ambientes com condições de um desenvolvimento social justo, gerar empregos de
qualidade e catalisar o acesso à qualidade de vida. No Brasil, atualmente, de acordo com o IBGE
(Instituo Brasileiros de Geografia e Estatística), Hoje, 1 em cada 10 brasileiros mora em prédios
IBGE (2013). Entre as explicações, estão o aumento da renda, do emprego e do crédito, além de
que , morar em prédios também se transformou em status, símbolo de prosperidade. E a falta de
terrenos nas grandes metrópoles levou o mercado imobiliário a novos endereços.
Alinhada com esta proposta de cidades sustentáveis, a busca pela excelência da gestão
sustentável condominial no Edifício Residencial Porto di Nucci rendeu ao condomínio três
reconhecimentos:
• Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão no nível I | 250 pontos | categoria pequenas e
médias empresas: conferido em 2011 pelo Ipeg (Instituto Paulista de Excelência Gestão), o
PdN foi o primeiro condomínio do Brasil a receber um prêmio pela qualidade da gestão;
• Prêmio Paulista de Qualidade da Gestão no nível II | 500 pontos | categoria pequenas e
médias empresas: conferido em 2012 Ipeg (Instituto Paulista de Excelência Gestão), o PdN
foi o primeiro condomínio do Brasil a receber um prêmio pela qualidade da gestão nesta
categoria – medalha de PRATA;
• GHG PROTOCOL | GHG: publicação do inventário de gases de efeito estufa (GHG) no
site do Programa Brasileiro GHG Protocol (FGV) – Selo PRATA, que é a publicação do
inventário completo – escopos 1 (emissões diretas), 2 (provenientes do consumo de energia
elétrica) e 3 (emissões indiretas). Também de forma pioneira, é o único condomínio
residencial do Brasil a utilizar essa metodologia desenvolvida pela ONU e publicar o seu
inventário nesta plataforma com corporações de todo o Brasil.
Concomitantemente, como aprendizado desde 2008 da implementação do Sistema de Gestão
Condominial do Edifício Residencial Porto di Nucci, em 2012, teve início o desenvolvimento de

24
uma inovação, um portal na internet denominado Homebook Condomínios. Este portal é uma
rede social voltada para o relacionamento entre síndico, subsíndico, condôminos e a empresa
administradora parceira Zelo Imóveis e que oferece soluções de gestão condominial inovadoras e
totalmente gratuitas para estes públicos.
Com este portal, a organização pretende, além de aperfeiçoar a gestão dos seus processos e
engajar as suas partes interessadas por meio do ambiente virtual, disseminar estas e outras
melhores práticas de gestão para os síndicos, condôminos, administradoras de condomínios,
fornecedores de materiais e prestadores de serviços condominiais de todo o país.
E, por fim, desta forma, contribuir para aperfeiçoar a gestão de condomínios das cidades
brasileiras para serem mais sustentáveis e, consequentemente, contribuir para construção de
cidades mais sustentáveis.

5.Referência bibliográfica

ETHOS, Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2012). “Cidades Sustentáveis”.


http://siteuniethos.org.br /ci2012/?p=1030 (consultado em 25/03/2013).
FNQ, Fundação Nacional da Qualidade (2011). Critérios de Excelência. São Paulo: FNQ.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2013). “Censo demográfico”.
www.ibge.gov.br. (consultado em 25/03/2013).
IPEG, Instituto Paulista de Excelência da Gestão (2013). “Origem do Ipeg”.
http://www.ipeg.org.br. (consultado em 25/03/2013).
VECCHIA, Rodnei (2011). “Cidades Sustentáveis”. http://www.administradores.com.br/artigos/
economia-e-financas/cidades-sustentaveis/58046/. (consultado em 25/03/2013).
VILELA, Alcino (2012). Relatório de Gestão – nível II para o Prêmio Paulista de Qualidade da
Gestão . Campinas: Ipeg (Instituto Paulista de Excelência da Gestão).

25
Habitações populares: como os moradores convivem com a ausência de conceitos
sustentáveis

Suelem Maurício Fontes Macena(a)*, Sasquia Hizuru Obata(a), Daniel de Andrade


Moura(a), Gilder Nader(a,b)

(a) FATEC Tatuapé – Rua Antonio de Barros, 800 – Tatuapé – São Paulo – SP, CEP:
03401-000
(b) Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – Rua Prof.
Almeida Prado, 532 – Butantã – São Paulo – SP – CEP: 05508-901
Resumo

Os governos investem em habitações populares para dar condições de moradia digna à


população carente. No entanto, no Brasil, é comum que moradores dessas habitações reclamem
que o ambiente é escuro durante do dia, que não é ventilado, há mofo etc. Para verificar se essas
reclamações procedem, foi realizada uma pesquisa de campo no Conjunto Habitacional
Monteiro, localizado no bairro Cidade Tiradentes em São Paulo – SP. Esse conjunto é composto
por 12 prédios, totalizando 576 apartamentos. As pesquisas foram realizadas em 4 prédios, e em
6 apartamentos por prédio, totalizando 24 apartamentos entrevistados, sendo 8 apartamentos do
primeiro andar, 4 do segundo andar, 4 do terceiro andar e 8 do quarto andar. A escolha dos
prédios se deu da seguinte forma: foram escolhidos prédios bem posicionados quanto à
iluminação solar (movimento de leste para oeste passando pelo norte) e quanto à direção dos
ventos preferenciais em São Paulo (sul e sudeste) e também foram escolhidos prédios mal
posicionados quanto a esses dois fatores. No geral foi observado que nos apartamentos dos
andares superiores há boas iluminação e ventilação naturais. No entanto, nos apartamentos do
primeiro andar verificou-se o oposto, havendo necessidade do uso de ventilação forçada e
iluminação artificial durante o dia, o que significa consumo de energia elétrica desnecessário.
Dessa forma, embora no projeto dos prédios tenha levado em conta conceitos sustentáveis, a
grande maioria dos apartamentos do primeiro andar não usufruem desse benefício.

Abstract

Governments often invest in affordable housing to improve living conditions for poorer citizens.
In Brazil however, it is common for people living in these housing projects to complain about
poor lighting and ventilation and its hazardous effects such as mold. To confirm and evaluate
these conditions, a field survey was conducted in the Monteiro housing project, located in
Cidade Tiradentes neighborhood in São Paulo-SP. This housing project is composed of 12
separate buildings with a total of 576 apartments. Six apartments in each of four buildings were
surveyed, comprising 8 apartments in the first floor, 4 in the second, 4 in the third and 8
apartments in the fourth floor. The buildings surveyed were chosen to include buildings poorly
and well positioned with respect to natural lighting (the sun usually faces north) and preferential
wind in São Paulo (south and southeast winds). Apartments in upper floors were considered to
be well lit with good natural ventilation. On first floor apartments, on the other hand, the
opposite was observed and forced ventilation and artificial lighting are necessary even during
the day, which implies unnecessary waste of energy. While the design of the buildings did use
sustainability guidelines, the first floor residents do not enjoy its advantages.
1. Introdução

Os governos têm procurado investir em habitações populares para dar melhores


condições de vida à população carente. Nesse processo são reurbanizadas favelas ou são
construídas moradias a baixo custo para a população. No entanto, verifica-se que muitos
moradores reclamam das condições de vida nessas habitações, informando que são
escuras, pouco ventiladas, úmidas, que nos dias quentes elas são extremamente quentes
e nos dias frios elas são extremamente frias. De acordo com as reclamações dos
moradores, têm-se a sensação de que o modelo dessas habitações está pouco inserido no
contexto da sustentabilidade. E, de acordo com outros autores, verifica-se que, mesmo
que haja um conceito sustentável nessas habitações (Aulicino, 2008 – Medvedovski,
2005), elas são pouco eficientes energeticamente, tanto que Assis et al. (Assis, 2007)
sugere um projeto de construção energeticamente sustentável.

Esse trabalho teve como meta verificar se as reclamações dos moradores


procedem. Para isso, foram entrevistados moradores da COHAB do Conjunto
Habitacional Monteiro, do bairro Cidade Tiradentes em São Paulo – SP, que é um
conjunto habitacional verticalizado.

Em complemento, foi verificado o uso de iluminação artificial durante o dia e


ventilação forçada no apartamento. E em quais andares elas predominavam. Estes
apontamentos ressaltam problemas existentes na realidade de populações de baixa
renda. A identificação de todas essas peculiaridades tem o intuito de gerar um banco de
dados que possa ser utilizado em possíveis melhorias em projetos de habitações
populares os quais considerem os aspectos abordados de forma a garantir que se
executem construções mais apropriadas para uma habitação saudável, econômica e
portanto sustentável.

2. Metodologia

2.1. Critério de escolha dos apartamentos avaliados


Para a realização do estudo do tema proposto foram escolhidos 4 prédios, de um
total de 12 (33%) do Conjunto Habitacional Inácio Monteiro, localizado no bairro
Cidade Tiradentes em São Paulo – SP (ver Figura 1).

Figura 1. Orientações Norte (N), Sul (S),Leste (L) e Oeste (O) e prédios 1, 2, 3 e 4 da
COHAB onde os moradores foram entrevistados – Bairro Cidade Tirandentes – São
Paulo – SP (foto de satélite obtida por meio do Google Earth em 10 de maior de 2013)

O local onde esses edifícios foram construídos possui um relevo íngreme com
altitude variando de 810 m até 838 m (ver Figura 2). A região é dominada por casas e
sobrados, tal que, esse terreno é classificado na categoria III de acordo com a norma
NBR 6123:1988.

A escolha dos prédios se deu devido ao seu posicionamento em relação ao sol


(nasce no leste, fazendo um trajeto pelo norte e se põe no oeste) e à direção do vento
predominante (sudeste e sul). Assim, foram elegidos os prédios mostrados na Figura 1
pelos seguintes motivos:

• Prédio 1 – recebe o vento sudeste praticamente sem obstáculos em seu caminho,


pois as residências e relevo a montante estão distantes e são baixas e relação à
altura do prédio. Esse prédio tem uma face voltada para o lado nordeste,
indicando que essa face recebe a luz do sol desde o seu nascer até
aproximadamente às 16 horas;

Figura 2. Altitudes de alguns pontos do terreno onde estão construídos os edifícios com
moradores entrevistados. A quina frontal da figura está localizada na face sudeste, por
onde o vento preferencial incide (fotos obtidas e tratada por meio do Google Sketchup)

• Prédio 2 – é o edifício mais obstruído em relação à incidência do vento sul e


sudeste. Assim espera-se que esse tenha uma pior ventilação natural. Esse prédio
tem uma face voltada, praticamente, para o lado norte, indicando que essa face
recebe a luz do sol desde, aproximadamente, 9 horas até 17 horas;

• Prédio 3 – é o edifício mais desobstruído para receber o vento sul e sudeste. Sua
também possui uma face voltada para nordeste e devido à elevação do terreno,
esse prédio recebe a luz do sol desde o seu nascer até aproximadamente às 16
horas; e

• Prédio 4 – também possui uma face desobstruída em relação à incidência dos


ventos sul e sudeste. E com relação à incidência do sol, está numa situação
similar à do prédio 2. A escolha do prédio 4 foi baseada numa comparação direta
com os resultados do prédio 2, pois a diferença entre eles está relacionada com a
questão da ventilação natural.

Cada prédio é constituído de quatro andares e seis blocos (ver Figura 3),
totalizando 48 apartamentos por prédio. As entrevistas foram realizadas com moradores
de 24 apartamentos de acordo com a seguinte distribuição:

• 6 apartamentos por prédio, de um total de 48 apartamentos, (13 % dos


apartamentos), sendo:

o Dois no 1o andar, um no 2o andar, um no 3o andar e dois no 4o


andar.

A escolha foi realizada baseada nos seguintes critérios: os apartamentos do


segundo e terceiro andar têm características similares quanto à iluminação e ventilação
natural, por isso foi escolhido um de cada andar. Para os do quarto andar a suposição
inicial foi de possuírem melhor ventilação natural e para os do primeiro andar a
suposição inicial foi de possuírem a pior ventilação e iluminação naturais.
Figura 3. A partir da primeira foto, e girando no sentido horário: prédios do Arroio do
Umbu 170, Igarapé da Bela Aurora 359, Cachoeira Maçaranduba 250 e Igarapé da Bela
Aurora 395 (fotos obtidas por meio do Google Street View em 10 de maior de 2013)

2.2. Característica dos entrevistados e dos apartamentos

Essa seção tem caráter puramente ilustrativo quanto às pessoas entrevistadas e


definições de comparação de resultados entre apartamentos.

Dos moradores dos 24 apartamentos entrevistados, 17 eram mulheres e 7 eram


homens. O intervalo de idade desses moradores está ilustrado na Figura 4.

Figura 4. Intervalo de idade dos moradores entrevistados

Todos os apartamentos possuíam a mesma configuração (ver Figura 5) e área útil


de 39 m2.

Devido ao grande volume de dados das pesquisas realizadas, e da constatação


que os apartamentos do primeiro andar de cada prédio estavam em piores condições de
ventilação e iluminação naturais, este artigo estará focado na comparação dos resultados
dos 24 apartamentos com os obtidos das entrevistas com os moradores do primeiro
andar de cada prédio.

2.3. Dificuldades encontradas

Na efetiva realização da pesquisa de campo houve alguns problemas como a


resistência de alguns moradores em passar as informações completas, alguns moradores
não quiseram responder ao questionário, e portanto houve necessidade de entrevistar um
vizinho do mesmo andar.

De acordo com as informações obtidas através de uma pesquisa de campo, foram


gerados os resultados apresentados na seção seguinte.

Figura 5. Planta dos apartamentos avaliados

3. Resultados

O Apêndice A contém um resumo das entrevistas realizadas. Essas entrevistas


estão descritas e comentadas de acordo com o prédio e andar. A seguir são apresentados
resultados tabulados das questões de ventilação, iluminação e irradiação térmica.
3.1. uanto à percepção dos moradores em relação à direção do vento e da
iluminação natural

Neste artigo são relatadas as questões de ventilação, iluminação, irradiação


naturais e sensação térmica no interior do apartamento. O primeiro resultado mostrado é
quanto à percepção dos moradores em relação à direção do vento predominante.
Verifica-se pela Figura 6 que 40 % dos moradores entrevistados têm a sensação que o
vento predominante vem da direção sudeste, o que coincide com a direção
predominante da cidade de São Paulo – SP.

Figura 6. Percepção dos moradores quanto à direção do vento predominante

Quanto à iluminação natural, na Figura 7 são mostradas as repostas dos


moradores. Nota-se que 2 moradores responderam que o apartamento é iluminado
durante todos os horários do dia. Esses dois são moradores do Prédio 3 e seus
apartamentos estão no segundo e terceiro andar. De acordo com as respostas dos
moradores, pode ser interpretado que os apartamentos são muito bem iluminados no
horário da manhã, um total de 13 apartamentos de 24 entrevistados, e no horário da
tarde, um total de 7 apartamentos.

Estranha-se nessa pesquisa que um morador tenha respondido que seu


apartamento não recebe iluminação natural, porém ele está localizado no primeiro andar
do prédio 3, logo, não há como avaliar perfeitamente se ele deu uma resposta qualquer,
ou se realmente esse apartamento é mal iluminado. De qualquer forma, ao ser
questionado se utilizava iluminação artificial durante o dia, ele respondeu que sim nos
quartos, cozinha e lavandeira. Ou seja, há realmente uma possibilidade desse
apartamento ter uma iluminação natural ruim.

Figura 7. Percepção dos moradores quanto aos horários em que há iluminação natural

De modo geral, de acordo com as respostas dos moradores, conclui-se que os


projetos originais, dos prédios e disposição dos apartamentos, levaram em consideração
questões da direção do vento e da iluminação natural. Porém, mesmo que esses
conceitos tenham sido bem utilizados no projeto das edificações, verificaram-se alguns
problemas, principalmente nos primeiros andares. Essa análise mais detalhada está
descrita na seção 3.2 desse trabalho.

3.2. Comparação das respostas dos moradores do primeiro andar com os


resultados totais obtidos

Ventilação Natural
Quando perguntados sobre a ventilação natural do apartamento, no geral, 19
moradores responderam que era boa e 5 responderam que era ruim, como mostrado na
Figura 8. Chama a atenção que os 5 moradores que afirmaram ter condições ruins de
ventilação natural, moram no primeiro andar.

Em um trabalho ventilação natural realizado por Nantes Junior et al. (Nantes


Junior, 2013) em um modelo reduzido de habitação popular, cuja configuração do
apartamento era muito similar aos dessas pesquisas, também foi verificado que o
apartamento possuía boa ventilação natural nos quartos, sala e cozinha. Ou seja, a
resposta dos moradores coincide com as medições experimentais realizadas em túnel de
vento.

Figura 8. Resultado da sensação dos moradores quanto à ventilação natural no


apartamento

Foi então verificado se os moradores faziam uso de ventilação forçada (uso de


ventiladores). Nota-se pela Figura 9 que, mesmo afirmando possuírem boa ventilação
natural, no geral 16 moradores utilizam ventilação forçada, e destes 6 são moradores do
primeiro andar, ou seja, 38% dos entrevistados. E, daqueles que não utilizam ventilação
forçada (8 moradores) há 2 do primeiro andar, ou seja, dos moradores desse andar,
apenas 25% não utilizam ventiladores. Por essas relações de porcentagens, verifica-se
que, apesar dos projetos dos prédios terem levado em conta o melhor aproveitamento da
luz do sol e da ventilação natural, os moradores dos primeiros andares estão numa
situação desprivilegiada.
Figura 9. Quantidade de moradores que utilizam ou não ventilação forçada

Iluminação Natural e Radiação Térmica do Sol

A iluminação natural influencia na qualidade de vida do morador, tanto do ponto


de vista da saúde como também do ponto de vista econômico. Pois, uma iluminação
natural deficiente, poderá ser favorável ao surgimento de mofo. E, por outro lado, se o
apartamento for muito iluminado, principalmente pelos lados das janelas de vidro,
poderá haver um aquecimento do ambiente, já que, vidros são transparentes à luz visível
e opacas ao calor.

Na Figura 10 são mostrados os resultados da sensação de calor por irradiação


solar e da umidade no ambiente, registrada por meio de verificação de pontos com mofo
nos apartamentos. O resultado da iluminação, também mostrado na Figura 10, foi
descrito na seção 3.1 e melhor analisado por meio da Figura 7.

Como a situação era mais desconfortável nos apartamentos dos primeiros


andares, segue uma análise comparativa dos resultados obtidos. Esses resultados são
mostrados na Figura 11. Nota-se que, dos 10 apartamentos em que foram observados
casos de mofo (na Figura 11 ver úmido), 6 deles estavam localizados nos primeiros
andares, ou seja, 60% dos problemas com mofo e alta umidade estão nos primeiros
andares.
Figura 10. Resultados das sensações e constatações de umidade, iluminação e irradiação
térmica nos apartamentos

Quanto à irradiação térmica solar, nota-se que, pela resposta dos moradores do
primeiro andar, que ela ocorre predominantemente entre as 7 e 11 horas. O que, de certa
forma, é favorável à questão de melhor conforto térmico nos apartamentos, pois no final
da tarde, por não haver irradiação, o apartamento tente e estar com temperatura mais
baixa do que os outros que foram irradiados durante o dia inteiro. No entanto, essa
resposta dos moradores parece contraditória quando comparada com a resposta à
iluminação, pois os moradores afirmaram que o apartamento é iluminado durante a
manhã (das 7 às 11h) e no final do dia (das 16 às 18h). Porém, essa resposta não pode
ser descartada por essa comparação com a iluminação, pois, ao verificar os outros
pontos, comparando irradiação solar (baixa e somente pela manhã), com umidade (6 de
8 apartamentos possuem mofo) e ausência de ventilação natural (5 de 8 apartamentos
reclamaram), percebe-se que as respostas estão correlacionadas (ver Figuras 8 e 11).
Figura 11. Resultados das sensações e constatações de umidade, iluminação e irradiação
térmica nos apartamentos dos primeiros andares de cada bloco

Sensação térmica
O terceiro e último item do questionário, a ser abordado nesse trabalho, é com
relação à sensação térmica. É comum moradores de habitações populares reclamarem
que a casa, ou apartamento, em dias quentes é muito quente, e em dias frios é muito
frio. Por meio dessa pesquisa, foi verificado que nos dias quentes, 7 de 24 apartamentos
(29%) possuem clima ameno no interior do apartamento (ver Figura 12), e que nos dias
frios, 13 de 24 apartamentos (53%) possuem o clima ameno. Esse resultado mostra que,
pelo menos no frio, mais da metade dos moradores não têm sensação de frio extremo,
ou seja, para eles a sensação térmica do apartamento é confortável.

Figura 12. Resultado da sensação térmica no dias quentes e frios


Na comparação com os resultados dos apartamentos dos primeiros andares,
verificou-se para a condição de sensação térmica, que nos dias frios é muito similar à
dos moradores dos demais andares. A Figura 13 indica que 60% dos moradores dos
primeiros andares consideram ameno o clima no apartamento em dias frios. No entanto,
houve um aumento, em porcentagem, de moradores que consideram ameno o clima no
apartamento nos dias quentes (60%).

Figura 13. Resultado da sensação térmica, no primeiro andar, nos dias quentes e frios

4. Conclusões

De acordo com a pesquisa de campo realizada com moradores do Conjunto


Habitacional Inácio Monteiro – COHAB – na cidade de São Paulo – SP, a respeito de
ventilação e iluminação naturais, associados às condições de conforto e
sustentabilidade, verificou-se que, no projeto dos apartamentos foram pensados
conceitos sustentáveis, pois apartamentos dos andares superiores possuem boa
ventilação natural e boa iluminação, dispensando-se assim, o uso de ventilação forçada
e iluminação artificial durante o dia, pois esses são fatores que consomem energia
elétrica desnecessária. Porém, verificou-se também que os apartamentos dos primeiros
andares dos 4 prédios onde foram realizadas as pesquisas, não apresentam as mesmas
boas condições dos demais apartamentos. Nesses dos primeiros andares, verificou-se
que 6 de 8 apartamentos utilizam ventilação forçada e seus moradores informam que o
ambiente possui maior irradiação térmica solar no verão, além do apartamento passar
boa parte do dia sem receber iluminação natural, o que favorece o aumento da umidade
nos apartamentos dos primeiros andares e o crescimento de mofo. Dessa forma, conclui-
se que, embora tenham projetado os prédios para ficarem bem posicionados quanto à
incidência da luz do sol e do vento, os apartamentos dos primeiros andares estão numa
condição desfavorável do ponto de vista de conforto e sustentabilidade.

Referências

AULICINO, Patrícia, “Análise de métodos de avaliação de sustentabilidade do


ambiente construído: o caso dos conjuntos habitacionais”, dissertação de mestrado,
novembro de 2008 - (http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3146/tde-09022009-
185405/pt-br.php), acessado em 09/05/2013

ASSIS, Eleonora Sad de, PEREIRA, Elizabeth Marques Duarte, SOUZA, Roberta
Vieira Gonçalvez de, DINIZ, Antônia Sônia Alves Cardoso, “Habitação social e
eficiência energética: um protótipo para o clima de Belo Horizonte”, II Congresso
Brasileiro de Eficiência Energética - IICBEE. Todos os direitos reservados ABEE.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. “NBR6123: Forças devido


ao vento em edificações.” Rio de Janeiro: ABNT, 1988.

MEDVEDOVSKI, Nirce Saffer, CHIARELLI, Ligia Maria de Ávil, TILLMANN,


Patrícia, QUANDT, Michelle Muller, “Gestão habitacional para uma arquitetura
sustentável”, Ambiente Construído, Porto Alegre, v. 5, n. 3, p. 49-61, jul./set. 2005.
(http://seer.ufrgs.br/index.php/ambienteconstruido/article/view/3649/www.ufrgs.br) ),
acessado em 09/05/2013

NANTES JUNIOR, Mario Roberto, MARTINS, Gabriel Borelli, JABARDO, Paulo


José Saiz, NADER, Gilder, “Análise de ventilação natural em habitação
popular”, Artigo submetido ao CiiS - Congresso Internacional de Inovação e
Sustentabilidade 2013.
Apêndice A
Neste apêndice são apresentados resumos das entrevistas realizadas com os moradores
dos 24 apartamentos de 4 prédios (ver Figura 1 para identificar o posicionamento dos
prédios)

Prédio 1

No prédio número 1 o resultado obtido da entrevista aos moradores de dois


apartamentos do quarto andar foi semelhante: não costumam utilizar iluminação
artificial durante o dia, consideram a cozinha e o apartamento, como um todo, bem
ventilados e não foram detectaram pontos de umidade. Em outros aspectos houve
algumas divergências, em um apartamento foi informado que a direção predominante de
incidência de vento é do nordeste, já o outro do sudeste, em um se utiliza ventilador
(mais durante o verão) o outro não, o que utiliza ventilador queixou-se de excesso de
calor no verão e muito frio no inverno, o outro considera de modo geral o ambiente
confortável nas duas estações.

No terceiro andar, a pesquisa foi realizada em apenas um apartamento. O resultado


obtido foi o seguinte: a percepção da incidência do vento foi da direção leste, não utiliza
iluminação artificial durante o dia, o apartamento é bem ventilado somente na região
dos quartos (lado virado para a rua) mas na cozinhas e demais cômodos internos (para o
lado do condomínio) não recebem ventilação, na cozinha a ventilação é insatisfatória e
há pontos de umidade. No verão considera o ambiente desconfortável, por outro lado,
no inverno é confortável. O apartamento recebe iluminação natural no período da
manhã.

No segundo andar, a pesquisa foi realizada em apenas um apartamento que possui


cinco habitantes, o morador percebe uma predominância de ventilação da direção
nordeste, utiliza ventilador diariamente durante 3 h. Considera o ambiente muito quente
no verão e muito frio no inverno, há pontos de umidade na parede e no teto do banheiro.

No primeiro andar, houve mais divergências entre os resultados da entrevista dos dois
apartamentos escolhidos do que no resultado das entrevistas do quarto andar. E um dos
apartamentos foi dito que a ventilação predominante é do sudeste, no outro do oeste, em
um o morador utiliza iluminação artificial durante o dia por 8 horas e o outro não
utiliza. Um utiliza ventilador o dia todo, o outro não. Um apartamento foi considerado
muito quente no verão e ameno no inverno, e o outro ameno no verão e muito frio no
inverno, em um há pontos de umidade no banheiro (no teto), no outro nem um ponto de
umidade excessiva foi detectado, em um foi dito que não há percepção de clima e
ventilação anormais, no outro foi dito que provavelmente pelo fato de o apartamento
estar no térreo e haver paredes ao redor há o impedimento de ventilação.

Prédio 2

No quarto andar, as respostas à entrevista aos moradores dos dois apartamentos


escolhidos foram muito semelhantes, ambos consideraram o ambiente bem ventilado de
modo geral. Afirmaram que no verão o ambiente fica com temperatura elevada
(desconfortável) e que no inverno é ameno, disseram que nos dias frios o sol de inverno
faz com que o clima interno fique agradável, porém no verão as telhas não retêm a
insolação e faz com que entre muito calor no apartamento. Os moradores divergiram em
poucos aspectos, um disse perceber a incidência de vento do leste, o outro do sudeste.

No terceiro andar, a percepção do morador quanto à maior incidência de vento foi do


norte. Informou que a cozinha e o ambiente como um todo é bem ventilado e que no
inverno o clima interno é ameno mas no verão é muito quente.

No segundo andar houve percepção de que a maior incidência de vento é do sudeste,


foi informado que há a utilização de iluminação artificial durante o dia, principalmente
nos quartos e sala. Quanto à ventilação, foi dito que é boa em todos os ambientes e que
no inverno o ambiente fica com temperatura amena porém no verão se torna muito
quente (desconfortável).

No primeiro andar, o resultado das entrevistas aos moradores de dois apartamentos foi
contrastante em alguns aspectos, um considerou o ambiente bem ventilado, o outro não.
Um considera o clima ameno tanto nos dias frios como nos dias quentes, o outro
considera calor excessivo nos dias quentes e frio excessivo nos dias frios. Um informou
a ocorrência de umidade elevada nas paredes dos quartos, o outro informou não haver
este problema. Um informou que a direção de maior incidência de vento é do leste, já o
outro não soube passar esta informação. Uma informação que coincidiu entre os dois
moradores é que ambos fazem uso de ventilador em torno de duas horas por dia.
Prédio 3

No quarto andar foram entrevistados moradores de dois apartamentos. Ambos tiveram


a percepção de que o vento predominante é do sudeste, classificaram a ventilação como
um todo no ambiente como boa, porém um informou que na cozinha não ventila muito,
disseram também que a predominância de iluminação natural ocorre no final da tarde.
Houve outros aspectos bastante divergentes, pois um utiliza iluminação artificial
durante o dia, o outro não. Um informou haver umidade excessiva e mofo no teto dos
quartos, o outro não, um considerou o ambiente mais desconfortável no verão, com
calor excessivo, já o outro informou que no inverno o clima torna-se muito frio.

No terceiro andar, a percepção do morador quanto à maior incidência de vento foi do


sudeste. Não utiliza iluminação artificial durante o dia, pois o apartamento recebe
iluminação natural durante o dia todo. Classificou a ventilação no ambiente como boa
assim como na cozinha. Considerou o clima ameno tanto nos dias quentes como nos
dias frios. Afirmou que utiliza ventilador somente nos dias quentes.

No segundo andar, foi informado que a direção predominante de incidência de vento é


do sudeste. Classifica a ventilação da cozinha e do ambiente como um todo como boa.
Utiliza mais de um ventilador e considera ameno o clima no interior do apartamento,
tanto nos dias quentes como nos dias frios. De modo geral não houve muitas queixas
quanto ao conforto ambiental ou uso demasiado de energia elétrica.

No primeiro andar, as respostas dos moradores dos dois apartamentos escolhidos não
foram muito uniformes, um teve a percepção de que a direção de maior incidência de
vento é do leste, o outro do sudeste. Ambos os moradores consideram a ventilação do
ambiente ruim e quanto à cozinha, um informou que não há ventilação e o outro
classificou como média. Um utiliza o ventilador durante o dia todo e o outro somente
vinte minutos por dia. Ambos afirmaram haver pontos de umidade elevada e formação
de mofo e que nos dias quentes o clima interno fica muito quente, já nos dias frios, um
considerou o clima ameno e o outro, muito frio, um informou que o apartamento recebe
iluminação natural no final da tarde, o outro afirmou não receber iluminação natural em
nenhum momento do dia.
Prédio 4

No quarto andar houve bastante semelhança entre as respostas dos moradores dos dois
apartamentos escolhidos para as entrevistas. Ambos os moradores afirmaram que a
direção do vento predominante é o sudoeste, consideraram a ventilação do ambiente
como um todo e inclusive da cozinha como boa, não utilizam ventilador, não utilizam
iluminação artificial durante o dia, informaram que os apartamentos recebem
iluminação natural no final da tarde, afirmaram não haver pontos de umidade excessiva
e nem de mofo no ambiente, consideram que nos dias quentes o clima interno torna-se
muito quente, mas nos dias frios um considera o clima muito frio já o outro, ameno.

No terceiro andar, o morador informou que a direção do vento predominante é do


sudoeste, utiliza lâmpadas incandescentes, considera a ventilação da cozinha e todo o
ambiente como boa, utiliza ventilador por volta de três horas por dia, considera o
ambiente interno nos dias quentes muito quente e nos dias frios muito frio, afirmou a
ocorrência de umidade excessiva e mofo nas paredes dos quartos e afirmou que o
apartamento recebe iluminação natural por volta de meio dia.

No segundo andar a percepção de maior incidência de vento do morador foi do


sudeste, a consideração do mesmo quanto à ventilação da cozinha é média, mas do
ambiente como um todo considerou como boa, o morador utiliza ventilador durante a
noite, não utiliza iluminação artificial durante o dia, nos dias quentes considera o clima
muito quente, nos dias frios classifica como muito frio, afirmou que o apartamento
recebe mais iluminação natural por volta de meio dia e, de modo geral, no inverno o
clima interno é mais agradável que no verão.

No primeiro andar algumas das respostas mais relevantes dos moradores dos dois
apartamentos escolhidos foram bastante distintas, um informou que a direção de maior
incidência de vento é do sudoeste e afirmou que a cozinha e o ambiente como um todo
são bem ventilados, já o outro afirmou não perceber ventilação no apartamento de
nenhuma direção. Ambos classificaram o clima interno nos dias frios como ameno, já
nos dias quentes, um classificou como muito quente e o outro como ameno, ambos
afirmaram ocorrência de pontos de umidade excessiva e mofo nos apartamentos. De
modo geral um se mostrou mais desconfortável que o outro morador.
Mini-currículo dos autores:

(*)Suelem Maurício Fontes Macena – Autor principal – É estudante de graduação de


Tecnologia de Construção de Edifícios na FATEC Tatuapé. Atualmente realiza Estágio
no Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. (IPT). E-mail:
suelem.macena@fatec.sp.gov.br

Sasquia Hizuru Obata – Possui graduação em Engenharia Civil pela Fundação Armando
Álvares Penteado, graduação em nível Superior de Formação de Professores de
Disciplinas pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná, mestrado em Engenharia
Civil pela Universidade de São Paulo e doutorado em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Mackenzie. Atualmente é professora da Fundação Armando Álvares
Penteado- FAAP, e da Fatec Tatuapé. Atua academicamente na área de Engenharia Civil
e Arquitetura, com ênfase em Estruturas de Concreto, Materiais e Tecnologias
Construtivas e Sustentabilidades. Coordena o curso de Lato-Sensu em Construções
Sustentáveis. Desenvolve e coordena projetos em sustentabilidades das construções,
estando na direção de sustentabilidades da RTKSP. E-mail: sasquia.obata@gmail.com

Daniel de Andrade Moura – Possui graduação em Física (2006) pelo IFSP, é especialista
em Engenharia de Sistemas (2008) e Mestre em Energia (2009) pela Universidade
Federal do ABC. Atualmente é professor da FATEC Tatuapé coordenando o grupo de
Energia. E-mail: ascencao@hotmail.com

Gilder Nader - É físico e mestre em ciências pelo Instituto de Física da UFF e doutor em
engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na
Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento e é professor na FATEC
Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos & científicos e relatórios
técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de dispersão de contaminantes,
projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para
determinação de curvas de desempenho, características de conforto térmico e
carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.
Política urbana e sustentabilidade: subsídios ao processo de revisão do plano
diretor de Franca

Mauro Ferreira*1

Resumo

O trabalho discute os resultados do processo de implementação do Plano Diretor de Franca -


PD, cidade média do interior de SP, aprovado em 2003 já sob a égide do Estatuto da Cidade, a
partir das propostas e práticas concretas desenvolvidas pela Prefeitura Municipal no espaço
urbano. O trabalho parte de dois eixos principais de pesquisa e análise: a política de
desenvolvimento urbano efetivamente realizada pela municipalidade e as propostas previstas
na lei para a implantação do Plano Diretor, levando em consideração as críticas presentes na
literatura sobre a ineficácia do PD como instrumento de transformação real das cidades
brasileiras.
Verificou-se que o diagnóstico elaborado, longe de ser irreal, levava em conta as condições
urbanas locais, estabelecendo compromissos do governo municipal para a expansão e o
controle do espaço urbano e o planejamento democrático da cidade, tendo como pano de fundo
a ideia que o PD de Franca poderia ser um contraponto à crítica recorrente de autores como
VILLAÇA (1999) e MARICATO (2011) sobre o PD ser um “plano-discurso”, mas pouco
utilizado como instrumento real para obtenção de alterações e melhorias urbanas significativas.
As pesquisas realizadas, no entanto, apontam o descompromisso do governo local com a
continuidade de um processo de planejamento democrático vinculado à sustentabilidade
urbana, evidenciado pelo baixo índice de realização de ações concretas visando dar efetividade
às propostas do PD capazes de enfrentar os desafios da expansão urbana de baixa densidade
característica de Franca e da não aplicação dos principais instrumentos urbanísticos e fiscais
presentes na lei do PD.
Abstract

Urban policy and sustainability: the grants of master plan review process of Franca
The paper discusses the results of the implementation of the Master Plan Franca - PD, mean
inner city SP, already approved in 2003 under the auspices of the City Statute, from proposals
and practices developed by the Municipality in urban space. The paper presents two main lines
of research and analysis: the urban development policy actually adopted by the municipality
and the proposals set out in the law for the implementation of the Master Plan, taking into
account the criticisms in the literature on the ineffectiveness of PD as a tool for real
transformation of Brazilian cities.

1Professor e pesquisador do LabDES – UNESP – Franca, bolsista pós-doc FAPESP. Formado em Arquitetura e
Urbanismo, cursou mestrado e doutorado no IAU-SC da USP, foi secretário de Planejamento do Município de
Franca (1997-2004), autor dos livros “Franca, itinerário urbano” (1983) e “Arquitetura e Urbanismo Modernos em
Franca” (2007).
e-mail mauroferreira52@yahoo.com.br
It was found that the diagnosis given, far from being unrealistic, took into account the local
urban conditions, establishing commitments municipal government for the expansion and
control of urban space and democratic planning of the city, having as background the idea that
PD Franca could be a counterpoint to the recurring criticism of authors like Villaça (1999) and
Maricato (2011) on the PD be a "plan-speech", but little used as a real instrument for obtaining
urban significant changes and improvements.
The surveys, however, indicate a lack of commitment from local government to the continuity
of a democratic planning process linked to urban sustainability, evidenced by the low rate of
implementation of concrete actions aimed at giving effect to the proposed PD able to meet the
challenges of expansion urban low density characteristic of Franca and non-application of the
main urban instruments and tax law present in the PD.

1. Plano Diretor, rede urbana e sustentabilidade

Com uma taxa de urbanização que já atingiu 98,23 % e uma população de 318.369
habitantes, segundo o censo do IBGE realizado em 2010, a cidade de Franca está
situada no extremo nordeste paulista e se inclui no universo de cidades de porte médio
ou intermediário que não passaram por um processo de metropolização. Seu
surgimento está vinculado ao movimento de “torna-viagem” dos mineiros no final do
século XVIII, quando fugindo dos impostos da Coroa Portuguesa, foram ocupando o
oeste de Minas até a rota do Anhanguera, o chamado “Caminho dos Goyazes”, a velha
estrada entre o porto de Santos e as províncias de Goiás e Mato Grosso.

Sua economia tem forte presença industrial do ramo coureiro-calçadista. No início


do século XX, a possibilidade de escoamento das mercadorias pela ferrovia ensejou o
surgimento da indústria calçadista, a partir da base de produção já instalada, decorrente
da fabricação de produtos de couros para tropeiros e para as próprias fazendas, como
arreios, selas, botinas, e outros objetos úteis confeccionados em couro. A primeira
experiência de maquinização, realizada a partir de 1921, pela fábrica de calçados
Jaguar, ainda que fracassada (a empresa foi à falência em 1924) propiciou a formação
de mão de obra especializada e tornou visíveis as amplas possibilidades de expansão
industrial decorrentes da produção seriada. Embora até o final da II Guerra esta
atividade ainda fosse pouco expressiva para a economia local, a produção de calçados
foi o ponto de partida para a industrialização (Ferreira, 1989).
O polo industrial de Franca abriga 449 indústrias e 265 prestadoras de serviços
especializados para o segmento calçadista, além de 283 empresas fornecedoras de
insumos e matérias-primas. Em 2010 sua produção foi de 25,9 milhões de pares de
calçados pares (cerca de 3,2% da produção nacional), sendo 3,5 milhões destinados à
exportação. Os valores de exportação do polo alcançaram US$ 95,74 milhões – 6,43%
do faturamento total das exportações brasileiras de calçados no ano em questão. Em
2010 o polo empregou 32.300 trabalhadores, o que equivale a 8% da mão-de-obra
empregada neste segmento no país (Sindifranca, 2010).
Sua localização geográfica, porém, deixou-a fora de qualquer processo de
metropolização, enquadrando-a no universo das cidades pólo de médio porte da rede
urbana paulista. A rede urbana brasileira, como afirma Feldman (2002), vem passando
por mudanças significativas nas últimas duas décadas, ocorrendo uma redução da
tendência à concentração nos grandes centros urbanos e ampliando a expansão das
cidades de médio porte, com o desenrolar de um processo de desconcentração
industrial e de crescimento da população nas cidades do interior, em detrimento das
metrópoles. Segundo Veiga (2005), a forte interiorização do crescimento econômico no
interior paulista também foi acompanhada de significativa descentralização do seu
crescimento, impactando suas cidades com taxas de crescimento populacional acima da
média brasileira.
No contexto da urbanização paulista, cidades entre 100 e 500 mil habitantes podem
ser incluídas na categoria de cidades de porte médio ou intermediário. O conceito de
cidade média ou intermediária é bastante difuso e difícil de precisar numa perspectiva
de análise que envolva situações muito diferenciadas, mas no universo circunscrito ao
estado de São Paulo e considerando não apenas o porte das cidades, mas também o
papel que estas desempenham em seus territórios mais imediatos, a influência ou
relação que mantêm com estes, e as relações que geram com o exterior, optamos por
sua utilização, ainda que sujeita a revisão.
A população do estado de São Paulo é de 44.262.199 habitantes (Censo IBGE 2010)
e conta com 645 municípios, dos quais 64 desses possuem de 100 mil a 500 mil
moradores, o que significa que cidades deste porte somam 29,05% da população total
do estado de São Paulo.
Os resultados do Censo do IBGE de 2010 mostram a diminuição cada vez maior no
ritmo de crescimento da população de forma generalizada no Brasil. Entre 2000 e 2010
a média anual de crescimento demográfico foi de 1,17%, menor que os 1,64% da
década anterior (1991-2000). Nos 11 municípios mais populosos do Brasil, a mesma
taxa nesta década foi bem menor: 4,61%. Já nas cidades com número de habitantes
entre 100 mil e 500 mil o crescimento populacional, no mesmo período, foi de 2,05%
ao ano (Unesp Ciência, 2012:22).
Segundo Barbosa (2006:101), há inúmeros exemplos de cidades que se destacaram
na nova ordem globalizada por explorar sua vocação econômica como estratégia para
seu desenvolvimento, ao reforçar o que sabe fazer melhor e ampliar sua
competitividade, o que requere um incremento de estudos sobre a eficiência econômica
das cidades que possuem aglomerações industriais e dos arranjos produtivos locais.
Para Llop e Bellet (2003) as cidades médias, em quase todo o mundo, são centros de
interação social, econômica e cultural, que oferecem variada gama de serviços mais ou
menos especializados, para os habitantes do próprio município e de outros próximos,
sobre os quais exerce influência, suas redes de infraestrutura se conectam com redes
regionais e nacionais, e algumas até globais, e que alojam níveis de administração local
e regional, através dos quais se canalizam demandas e necessidades da sua população.

Franca pode ser considerada uma cidade média em condições bastante diferenciadas
em termos ambientais diante da realidade da América Latina, pois dispõe em toda a
malha urbana de redes de abastecimento de água e de coleta e tratamento de esgotos,
bem como serviços de coleta, tratamento e disposição final de resíduos domésticos e
industriais em aterros licenciados, além de serviços de coleta seletiva de resíduos
sólidos recicláveis em toda zona urbana. No entanto, o território urbano do município,
por sua forma de ocupação espacial, resultou num processo de ocupação predatório,
extensivo e de baixas densidades, fenômeno conhecido como “sprawling” pelos
urbanistas norte-americanos e presente em dezenas de cidades brasileiras e latino-
americanas, como afirmam Polidoro, Lollo e Pereira Neto (2011:4),
“No Brasil, é habitual a utilização da expansão das zonas urbanas
para direcionar habitações de interesse social e conjuntos
habitacionais de média e baixa renda para localidades distantes do
centro consolidado. Dessa forma, a infraestrutura já instalada em
determinadas regiões servem como subsídio de valorização da terra
enquanto as periferias sofrem com a falta desta ou a má qualidade,
além da dificuldade de se locomoverem pelo precário transporte
público até as regiões que concentram a empregabilidade. Todas
estas características, fundamentadas principalmente na forma de
ocupação urbana, caracterizam o que muitos pesquisadores norte-
americanos (especialmente os urbanistas) denominam de sprawling
urbano, ou pode-se dizer, um espraiamento (entendido como uma
diluição física do espaço urbano) urbano, que ocorre de forma
descontínua sobre o espaço acirrando a segregação social e gerando
inúmeros impactos ao meio ambiente.”
Este modelo insustentável de espraiamento urbano foi o modelo urbanístico com
que a cidade de Franca se expandiu, notadamente nas décadas de 1960 e 1970. Como
parte do processo de transformações em sua economia, ocorreu outro fenômeno sem
precedentes, o de urbanização e de abertura de novos espaços para loteamentos: entre
1965 e 1975, surgiram 41 novos loteamentos privados (Chiquito, 2006:153), com uma
área loteada de aproximadamente 707 hectares, quase duplicando a área da cidade
então existente. A partir da década de 1970, sua urbanização continuou acelerada,
inserindo-a no universo das cidades médias do país, cujo processo de urbanização
sempre crescente coloca a temática das cidades como uma das prioridades das políticas
públicas do país. Ainda segundo Chiquito (2006:87),
“considerando não apenas o porte, mas também o papel que as
cidades desempenham na rede urbana, as chamadas cidades médias
têm características bastante diferenciadas entre si, mesmo se
tratando do universo circunscrito ao Estado de São Paulo. A
pesquisa “Caracterização e tendências da rede urbana do Brasil”,
coordenada pelo IPEA e desenvolvida pelo IBGE e pelo NESUR –
IE/UNICAMP, mostra que as cidades que nos anos 1970 foram
denominadas cidades médias passam a ser qualificadas como
centros urbanos regionais, sub-regionais ou isolados, dependendo
do nível de centralidade, podendo integrar aglomerações
metropolitanas ou não.(...) Das 54 cidades paulistas de porte médio
identificadas em 2000, 23 integram as aglomerações urbanas
metropolitanas de Campinas e São Paulo, e 31 municípios se
caracterizam como não-metropolitanos”.
O município possui área total de 605,68 km2 e a zona urbana legalmente instituída
pela Lei do Plano Diretor está em torno de 83 km2 em 2012, conforme levantamento do
autor a partir da descrição perimétrica inserida como Anexos I-A e I-B da referida lei
(Franca, 2013). Atualmente, esta mesma zona urbana definida pelo Plano Diretor
possui, segundo dados preliminares levantados pelo autor, cerca de 1800 hectares de
glebas não parceladas, em sua maioria situadas nas franjas oeste e sul da região
urbanizada. Além deste estoque de terras ainda não urbanizadas e de uma área de
expansão urbana de 2600 hectares, existem 34.293 mil lotes vazios dotados de
infraestrutura (água, esgoto, pavimentação, energia elétrica, iluminação e drenagem)
resultantes de parcelamentos legalizados dentro da zona urbana e de expansão urbana
definida legalmente pelo Plano Diretor, que representam 22,64% dos imóveis
cadastrados na Prefeitura (num universo total de 151.502 mil imóveis cadastrados em
2012, segundo o Cadastro Físico da Prefeitura), onerando a infraestrutura urbana e os
serviços públicos em geral com sua baixa utilização.
Outro aspecto preocupante da atual ocupação urbana é o número de domicílios
vagos constatados pelo Censo do IBGE em 2010: do total de domicílios recenseados
(112.673 unidades), havia 14.742 domicílios particulares não ocupados,
correspondentes a 13,08% do universo pesquisado. Neste sentido, dar concretude ao
cumprimento da função social da propriedade urbana, nos termos constitucionais,
requer alterações importantes na política urbana, que propicie uma ocupação e uso do
solo que supere os desafios necessários a um desenvolvimento sustentável.
Considerando que a população urbana de Franca, segundo o Censo do IBGE de
2010 é de 313.046 habitantes para uma área urbana de 83 km2, resulta que a densidade
demográfica bruta da atual zona urbana é bastante baixa, da ordem de apenas 37,62
habitantes/hectare, enquanto há cidades brasileiras onde as densidades estão entre 250 e
450 habitantes/hectare (Holanda, 2006).
O relatório da ONU-Habitat (2012:34) afirma que
“Las ciudades de America Latina y del Caribe son actualmente
medianamente densas comparadas a las de otras areas urbanas del
mundo. Datos del ano 2000 indicaban que la densidad urbana
promedio en la region – calculada sobre una base de 25
aglomeraciones elegidas al azar– era de 70 personas por hectarea.
Las ciudades de la region presentaban una densidad similar a la
observada en Europa y en Africa; eran mucho mas densas que las
principales ciudades norteamericanas (menos de 25 hab/ha) y
mucho menos que las grandes ciudades asiáticas (200 a 400
hab/ha).”
A concepção de que uma cidade, para ser sustentável, deve ser mais compacta, está
cada vez mais presente na literatura. Para Mascaró e Yoshinaga (2005), os custos das
redes de infraestrutura serão menores na medida em que for maior a densidade de uma
área, pois os custos de pavimentação e drenagem de águas pluviais significam em torno
de 55% do custo total das redes de infraestrutura, corroborando a ideia geral de que o
espraiamento da cidade gera desperdício e despesas excessivas para a manutenção ou
melhoria do atual padrão de qualidade e sustentabilidade da vida urbana. Para Rogers
(2001:166), “comunidades compactas de uso misto devem ser agrupadas em torno de
núcleos de transporte público, com a comunidade planejada em torno de distâncias
capazes de serem vencidas a pé ou de bicicleta”, portanto, no caminho oposto ao
contínuo processo de espraiamento que ocorre na cidade de Franca.
Com um orçamento previsto para 2013 de R$ 592 milhões, a Prefeitura enfrenta
dificuldades para manter e ampliar os serviços públicos essenciais e realizar os
investimentos necessários orientados pelo Plano Diretor vigente para ampliar os
padrões de qualidade de vida em patamares superiores aos do Índice de
Desenvolvimento Humano - IDH, da ordem de 0,820 (IDH-M de 2000), considerado de
alto desenvolvimento humano segundo a classificação adotada pelo Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento - PNUD. Levantamentos preliminares do autor
sobre a execução orçamentária do município mostram que a média de investimentos da
Prefeitura não ultrapassou a média de 4% do orçamento anual nos últimos dez anos, ou
seja, os gastos para manter a máquina pública em funcionamento consomem quase
todos os recursos disponíveis, tornando o município cada vez mais refém de recursos
dos governos federal e estadual para realizar novas obras e investimentos em sua
infraestrutura urbana.
Passados dez anos da aprovação do Plano atual, a previsão legal de revisão do Plano
Diretor a cada dez anos no máximo, determinada pelo Estatuto da Cidade, exige do
poder público e da sociedade civil em 2013, a adoção das medidas legais e
administrativas obrigatoriamente necessárias à discussão e revisão de um novo Plano
Diretor, sintonizado com as condições atuais e com as novas necessidades e realidade
da vida e estruturas urbanas.

2. A gestão urbana local e o enfrentamento dos problemas urbanísticos

A elaboração do Plano Diretor vigente no município de Franca iniciou-se em 1997,


cujos trabalhos foram desenvolvidos pela Secretaria Municipal de Planejamento do
Território e Meio Ambiente, com o apoio de consultoria do Departamento de
Arquitetura e Urbanismo da Escola de Engenharia de São Carlos (hoje Instituto de
Arquitetura e Urbanismo– IAUSC), unidade da Universidade de São Paulo.
Este Plano viria substituir o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado do
Município - PDDI, elaborado durante o regime militar nos anos 1960, o primeiro que a
cidade teve, dentro dos princípios definidos pelo Serviço Federal de Habitação e
Urbanismo – SERFHAU, que estimulou e financiou a elaboração de centenas de planos
diretores municipais naquela década. Segundo Quinto Jr. (2008:56),
“o questionamento levantado neste período era relativo aos limites
dos instrumentais urbanísticos e da legislação urbanística utilizados
na elaboração destes planos urbanos. Existe um consenso na teoria
relativo a este período de que estes planos diretores acabaram
assumindo um caráter burocrático e tecnocrático, pois acabaram
funcionando como um relatório técnico de como organizar a cidade
de forma ideal sem levar em consideração os problemas urbanos
concretos, como especulação imobiliária, problemas habitacionais e
de expansão urbana que não foi aplicado na maioria das cidades”.
De fato, a metodologia preconizada pelo SERFHAU privilegiava um diagnóstico
dos problemas urbanos e uma pretensa racionalidade na elaboração do Plano, cujos
efeitos sobre o espaço urbano foram muito criticados por sua escassa eficácia, apontada
por significativo número de trabalhos, tais como de Maricato (2011), Ribeiro e
Cardoso (1974), e Villaça (2005). Nestes estudos, realizados sobre as grandes
metrópoles brasileiras, verifica-se que as críticas se concentram em aspectos que, em
maior ou menor grau, são recorrentes nos autores citados, como a centralização de
poder no Executivo; a ausência de participação da sociedade e dos usuários dos
serviços públicos na definição dos investimentos e das políticas públicas; a ineficácia
de um planejamento urbano considerado tecnocrático, baseado num diagnóstico
excessivo, irreal, que se espelhava numa legislação elitista e na burocracia, incapaz de
enxergar e diferenciar a cidade real daquela dos mapas. Os autores apontam ainda
outros aspectos, como a deterioração das condições de vida urbana e ambientais; a
execução de grandes obras que interessavam mais às empreiteiras que às cidades; a
priorização do transporte individual em detrimento do coletivo, principalmente através
da construção de obras viárias para o automóvel particular. Em função destes
elementos, o planejamento urbano do período seria apenas retórico, sem qualquer
desdobramento efetivo na cidade real.

No entanto, através de investigações específicas no espaço urbano de uma cidade


média como Franca, diferentemente do que a literatura apresenta em geral, verificou-se
a realização de intervenções físicas e obras cujos efeitos estão claramente presentes no
território, intervenções contidas nos estudos e nas propostas do Plano Diretor de
Desenvolvimento Integrado de Franca, tais como a criação do Distrito Industrial; a
pedestrianização do centro; a implantação de um extenso e moderno sistema viário; a
transformação de voçorocas em áreas verdes, de lazer e parques urbanos (Ferreira,
2007).

Somente em 1997 começou-se a desenvolver de fato uma alteração significativa em


relação ao modelo de Plano Diretor do município. A nova administração municipal
(eleita no ano anterior e que seria reeleita posteriormente para um novo mandato até
2004) tinha como compromisso político assumido durante a campanha eleitoral na área
de planejamento urbano a elaboração de um novo Plano Diretor, a partir do diagnóstico
do esgotamento do Plano e da necessidade de sua revisão. A diretriz política colocada
pelos novos governantes da cidade à época (identificados à esquerda do espectro
político local) era elaborar um novo Plano Diretor que superasse os limites do PDDI e
incorporasse propostas comprometidas com a nova ordem democrática e constitucional
em vigor a partir de 1988, vinculadas às ideias do movimento pela Reforma Urbana,
antes mesmo da aprovação do Estatuto da Cidade, como instrumento para inverter as
prioridades de investimentos públicos, democratizar o acesso à cidade e a gestão urbana
(Ferreira, 2007).
A tarefa de elaborar o Plano ficou a cargo da Secretaria de Planejamento do
Território, com a participação dos demais organismos da administração direta e indireta.
O diagnóstico dos principais problemas a serem enfrentados pelo novo Plano Diretor
abordava os seguintes aspectos: proliferação de voçorocas causadas pela ocupação de
áreas sujeitas à erosão; crescimento descontrolado da área urbana, inclusive em áreas de
proteção aos mananciais; 35 mil terrenos vazios (num universo de 115 mil imóveis
cadastrados) em bairros que dispunham de serviços públicos; gestão compartimentada
da administração municipal e frágil articulação com administrações de municípios
vizinhos e com outras esferas de governo (Franca, 1998).
Ao mesmo tempo em que se discutia o novo Plano Diretor, foi elaborado o primeiro
Plano Municipal de Habitação, transformado em lei em 1997 e que articulava a política
habitacional à política urbana, a ser desenvolvida pela empresa pública municipal
responsável pelo setor, a PROHAB.
Observação empírica dos dados atuais disponíveis e da atuação da administração
municipal durante os anos de 2003 a 2012 mostram que a situação permanece
basicamente a mesma identificada em 1998 em relação à frágil articulação regional (não
foi criado nenhum consórcio intermunicipal ou ações integradas pelos municípios da
Região Administrativa de Franca nestes anos), ao número de terrenos urbanizados e
glebas vazias, bem como ao contínuo crescimento da área urbana e de expansão urbana
com baixa densidade. A alteração mais significativa e digna de nota nestes anos é que os
riscos ambientais e sociais causados pelas erosões e voçorocas foram reduzidos na área
urbana pela realização de obras de recuperação previstas no Plano Diretor e pelo não
surgimento de novas voçorocas.
Pode-se afirmar, com base nos estudos realizados por Godoi (2006), que um dos
motivos do não surgimento de novas voçorocas e erosões no espaço urbano foi o notável
incremento e aplicação das exigências de cumprimento das normas técnicas de
preservação ambiental nos projetos de novos empreendimentos, exigidos pela Prefeitura
a partir do decreto municipal n. 7439, de 8 de outubro de 1997, que disciplinou a fixação
de diretrizes e aprovação prévia de novos loteamentos, fruto dos estudos técnicos iniciais
para o Plano Diretor, demonstrando a eficácia dos instrumentos previstos e
implementados na prevenção de novas ocorrências erosivas, notadamente nos
empreendimentos efetuados após a edição do citado decreto e da aprovação da lei do
Plano Diretor.

3. As Propostas do Plano Diretor de Franca de 2003

O novo Plano Diretor de Franca foi elaborado entre 1997 e 1998. Havia, no entanto,
forte oposição de grupos do setor imobiliário à proposta (discutida em dezenas de
audiências públicas), sob a alegação que o novo Plano iria reduzir investimentos em
novos loteamentos, abrindo brechas à formação de favelas na cidade e que alguns
dispositivos previstos no projeto de lei não estavam ainda regulamentados pelo
Congresso Nacional (o Estatuto da Cidade somente foi promulgado em 2001). Por este
motivo, o Plano terminou sendo rechaçado pela Câmara em duas tentativas do Poder
Executivo (Ferreira, 2007).

A lei do Plano Diretor - PD foi finalmente aprovada pela Câmara Municipal na


terceira tentativa, no final de 2002 e promulgada em janeiro de 2003. Segundo o
dispositivo criado pelo Plano na Seção II – Da Edificação ou parcelamento e
edificação compulsória, artigos 54 a 62, os terrenos vazios situados na Macrozona de
Ocupação Preferencial teriam um prazo para serem ocupados. Caso este prazo não fosse
cumprido, a proposta previa a aplicação do IPTU progressivo, sendo excluídos os
imóveis com área até 300 m2, que sejam única propriedade do titular. Porém, tal
instrumento somente poderia ser utilizado se fosse regulamentado por lei específica,
conforme determina o Estatuto da Cidade, o que não ocorreu dez anos após a aprovação
do PD, pois o Executivo não tomou qualquer iniciativa neste sentido.

Outro aspecto importante do PD era a criação de um sistema de informações para o


planejamento urbano local. Tratava-se de construir uma ferramenta de acompanhamento
e gestão das políticas públicas de desenvolvimento urbano, e também contribuir na
construção de um Sistema de Informações para o Planejamento municipal, em
atendimento ao preconizado pela Lei Federal que estabeleceu o Estatuto da Cidade e
pela Lei do Plano Diretor do Município que, em seu capítulo IV, seção IV, artigo 47,
determina que:
“O sistema de informações para o planejamento do Município terá, no mínimo, as
seguintes informações básicas:
I. geo-ambientais, compreendendo o solo, o subsolo, relevo,
hidrografia e cobertura vegetal;
II. cadastros urbanos, em especial equipamentos sociais,
equipamentos urbanos públicos, cadastro imobiliário, áreas vazias,
sistema viário e rede de transporte público de passageiros,
arruamento, infra-estrutura d'água, esgoto, energia elétrica e
telefonia, estabelecimentos industriais, de comércio e serviços;
III. legislações urbanísticas, em especial uso e ocupação do solo,
zoneamento, parcelamento, código de obras, postura e tributação e
áreas especiais de atividades econômicas, preservação ambiental,
histórica e cultural;
IV. sócio-econômicas, em especial demografia, emprego e renda e
zoneamento fiscal imobiliário;
V. operações de serviços públicos, em especial transporte público de
passageiros, saúde, educação, segurança, habitação, cultura,
esportes e lazer.”

Infelizmente, esse dispositivo não foi implantado pela municipalidade, pois o


sistema de informações para o planejamento nunca foi institucionalizado. Os cadastros,
dados e informações das atividades do setor público municipal, quando existentes,
permanecem dispersos em diversos organismos e setores da Prefeitura e não estão
sistematizados ou disponíveis para consultas. Sintoma da ausência de preocupação da
Prefeitura de Franca com a disponibilidade de informação de suas ações aos cidadãos é
que, mesmo com a aprovação e entrada em vigor há mais de um ano da Lei Federal de
Acesso à Informação, a Prefeitura de Franca ainda a descumpre, como constatado pela
reportagem do jornal Folha de São Paulo (Stivali, 2013), dificultando acesso a dados
elementares e não sigilosos do serviço público. A única informação relativa ao Plano
Diretor no site da Prefeitura é um link para o texto da lei, mas não inclui os mapas que o
compõem. Ou seja, o planejamento urbano democrático está ausente da agenda
municipal.

O PD considerou que a ocupação dos vazios deveria ser prioridade da política de


uso e ocupação do solo urbano, fundamentada na forma que o processo de crescimento
da cidade foi diagnosticado e na busca do desenvolvimento sustentável: uma ocupação
extensiva da área urbana e alta incidência de lotes não edificados em áreas dotadas de
infraestrutura e serviços públicos, portanto subutilizados ou não utilizados. No entanto,
como verificamos, optou-se pela continuidade da expansão dos limites da área urbana,
sem qualquer preocupação com a ocupação racional da cidade já existente e dotada de
infraestrutura e serviços públicos.

4. Conclusões

A partir de 2005, o novo governo municipal assumiu com perfil bastante diferente
do anterior, decidindo pelo não prosseguimento do conjunto de programas e projetos
previstos pelo Plano Diretor. Os planos de gestão integrada previstos pelo PD como
instrumentos de ação do poder público, embora previstos no orçamento municipal por
força de lei, apenas registravam rubricas, mas as ações efetivadas de acordo com a
execução orçamentária não se traduziram coordenadamente nos projetos previstos no
Plano Diretor.

Um elemento emblemático deste descompromisso com as diretrizes e propostas do


Plano Diretor de 2003 é que, embora ele tenha diagnosticado corretamente e expresso
claramente a necessidade de conter o espraiamento da malha urbana por sua
insustentabilidade, a Prefeitura encaminhou projeto de lei em 2008, aprovado pela
Câmara Municipal em 2009, que ampliou ainda mais os limites da área de expansão
urbana em aberta contradição com as diretrizes expressas no capítulo I (Da Política
Urbana) da Lei do Plano Diretor, onde ficava claro o objetivo de garantir o direito a
uma cidade sustentável e ao planejamento do desenvolvimento, de modo a evitar e
corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio
ambiente.
A área urbana definida pela Lei do Plano Diretor em 2003 possuía 8359 hectares e
mais 2680 hectares como área de expansão urbana. A alteração aprovada através da lei
complementar nº 140, de 09 de abril de 2009, que alterou o Anexo I-B da Lei
Complementar nº 050, de 17 de janeiro de 2003 (a lei do Plano Diretor), estabelecendo
uma nova descrição perimétrica da área de expansão urbana no Município de Franca,
ampliou a área de expansão urbana em mais 1.380 hectares, um incremento de mais de
12% da área que pode ser legalmente parcelada em relação a 2003.

Figura 1: Mapa das áreas urbana e de expansão urbana previstas pelo Plano Diretor de Franca em
2003 e alterações promovidas em 2009. Fonte: Prefeitura de Franca e Mauro Ferreira.
Grosso modo, a considerar levantamento preliminar do autor sobre o
aproveitamento médio comercial obtido pelos parcelamentos do solo na cidade, situado
em torno de 55% da área total das glebas parceladas (considerando as exigências
mínimas da legislação municipal vigente em termos de previsão de percentuais de
reserva de áreas públicas obrigatoriamente destinadas a praças, parques, áreas verdes,
áreas institucionais e circulação), a área de expansão poderá abrigar mais 86.200 lotes
comercializáveis em torno de 250 m2 cada um.

Considerando que na área urbana ainda persistem vazios envolvidos pela malha
urbanizada e dotada de toda a infraestrutura, que a área de expansão urbana da lei de
2003 ainda não foi totalmente ocupada, que há milhares de edificações inseridas na
malha urbana não aproveitadas, o espraiamento da cidade como uma política deliberada
do poder público é evidenciado, dificultando a adoção de medidas que tornem a cidade
mais sustentável, em função da continuidade da rarefação de sua densidade
demográfica.
Embora o artigo 79 do PD exigisse a elaboração de uma nova legislação sobre uso,
ocupação, parcelamento do solo e edificações em até cento e oitenta dias após a
promulgação do PD, isso não ocorreu. A lei de parcelamento do solo elaborada pela
administração 1997-2004 foi rejeitada pela Câmara e a nova administração somente
reencaminhou o projeto de lei à Câmara, como alterações pontuais, em 2009, após
receber cobranças do Ministério Público. O Código de Edificações, embora com a
minuta elaborada pela administração 1997-2004, não foi objeto de providências pela
nova administração e segue sem ser modernizado desde 1968.
A revisão do plano existente e criação do Plano Local de Habitação de Interesse
Social – PLHIS, exigência da legislação federal que criou o Fundo Nacional de
Habitação de Interesse Social - FNHIS, não foi adiante. Até o momento o PLHIS não
foi elaborado, impedindo o município de ter acesso aos recursos federais disponíveis
para novos empreendimentos habitacionais financiados pelo FNHIS, desarticulando a
política pública de habitação de baixa renda.
Ou seja, pode-se inferir, portanto, que a não implementação das diretrizes do PD de
Franca é mais um elemento que dá motivos concretos para a crítica concebida por
Villaça (2005), que considera os Planos Diretores como “planos-discurso” que não
encontram respaldo nas práticas efetivas de sua implementação no espaço urbano real,
fazendo com que a disciplina do planejamento urbano siga desprestigiada e também
persista a forte desigualdade social no território e falta de controle de uso e ocupação
do solo, piorando as condições gerais, sociais, ambientais e de vida nas cidades, como
afirma Maricato (2011).

5. Agradecimentos

À FAPESP, pelo apoio.

Referências

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São Paulo: FUPAM e EDUSP.
Túnel de Vento: uma importante ferramenta a serviço de tecnologias
sustentáveis

Gabriel Borelli Martins, Alessandro Alberto de Lima, Paulo José Saiz Jabardo,
Gilder Nader (*)

Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – Rua Prof. Almeida Prado,
532 – Butantã – São Paulo – SP, CEP: 05508-901
Resumo
Tecnologias sustentáveis envolvendo questões sociais, energéticas e ambientais, como,
edificações verdes, energia eólica, poluição e agricultura podem fazer uso de túnel de vento, que
simula as principais características do vento natural em ambientes urbanos e rurais,
possibilitando melhorar análise de projetos sustentáveis, tornando-os ainda mais eficientes.
Neste artigo são apresentadas algumas das aplicações que do túnel de vento do (IPT), como por
exemplo, seu uso para avaliação do potencial eólico de um terreno ou de trechos urbanos, e para
determinação da configuração mais otimizada para instalação dos aerogeradores, evitando
interferência das esteiras a montante e a jusante destes. Ensaios em túnel de vento também são
realizados para otimização de edificações sustentáveis, onde buscam-se condições mais
eficientes de ventilação natural para reduzir o uso de ventilação forçada. No túnel de vento são
simuladas dispersão de contaminantes urbanos, ou odores, emitidos por instalações industriais
ou por emissões veiculares. Nesses estudos de poluição ambiental, são verificadas alterações de
rotas de veículos urbanos, ou uso de barreiras naturais ou artificiais, que melhorem a dispersão
de contaminantes, e assim sejam evitadas patologias respiratórias, entre outras doenças, nos
habitantes. Dispositivos passivos podem mudar a turbulência do vento na agricultura,
melhorando a qualidade dos frutos e produtividade. Portanto, como se pode notar, as aplicações
de um túnel de vento como elemento de análise de tecnologia sustentável possui inúmeras
aplicações, e todas visam trazer um melhor benefício para a sociedade e maior eficiência dos
empreendimentos sustentáveis.

Abstract
Sustainable technologies involving social and environmental issues such as green buildings,
wind energy, pollution and agriculture profit from tools that improve design. The wind tunnel is
one such tool that makes it possible to simulate the most significant characteristics of natural
wind in urban or rural environments and how these characteristics improve or worsens the
performance of sustainable systems. This article presents some applications of the IPT’s wind
tunnel who can be used to improve estimates of wind potential of a terrain or even urban areas.
It can also be used to study the effect of interference between wind turbines and their wakes so
that the number and layout of wind turbines is optimal. Wind tunnel testing is also used to
analyze and improve sustainable buildings where natural ventilation is optimized to reduce the
need of forced ventilation to a minimum. The dispersion of urban contaminants or odors emitted
by industrial plants and vehicles are modeled in the wind tunnel so that better alternative
vehicular routes can be proposed and natural or artificial barriers used to improve air quality and
avoid respiratory pathologies and other related diseases common in large urban centers. Wind
can induce erosion and blow dust and other impurities to urban centers. Wind fences can reduce
such problems and its aerodynamic characteristics can be studied in the wind tunnel. Passive
aerodynamic devices can changes wind turbulence on agriculture and improve quality and
productivity. Wind affects most natural and human processes and its accurate modeling is an
important part of any efficient design of sustainable technology. Wind tunnel testing is, still
today, the most accurate tool when modeling complex phenomena involving natural wind.
1. Introdução

Desde a década de 70 a interação homem/meio ambiente vem sendo discutida entre


representantes de diversas nações do mundo em conferências como a Rio+20. Percebeu-
se que o uso indiscriminado dos recursos naturais, embora traga fartura e progresso, é
extremamente prejudicial, comprometendo o desenvolvimento de gerações futuras.
Desde então, busca-se, em diversas áreas, encontrar soluções que promovam o
desenvolvimento necessário para o presente, sem comprometer o futuro. Tal
desenvolvimento sustentável é, em parte, alcançado com o progresso científico.
Passou-se a estudar mais profundamente questões como conforto ambiental,
dispersão de contaminantes em grandes centros urbanos, aperfeiçoamento de processos
produtivos, desenvolvimento de tecnologias que aproveitem energias renováveis,
otimização de estruturas e redução de consumo de combustível em veículos. Neste
contexto, os túneis de vento são ferramentas que despertam grande interesse devido aos
resultados apresentados além da facilidade e segurança na implementação de soluções.
Este artigo visa explorar os diversos trabalhos realizados nos túneis de vento do
Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo S.A. – IPT, mostrando seus
resultados, e como estes são aliados importantes na busca constante de tecnologias
sustentáveis.
2. Túnel de vento

Os túneis de vento são projetados de acordo com sua aplicação, mas, no geral,
podem ser classificados em dois tipos: túneis de vento de circuito aberto e túneis de
vento de circuito fechado.
Dentre as vantagens de um túnel de vento de circuito aberto, em comparação a um
túnel de vento de circuito fechado, pode-se citar o menor custo de construção e a
inexistência do problema de purga de fumaça oriunda de ensaios de visualização ou
ensaios com motores a combustão, uma vez que as duas extremidades do túnel são
ligadas à atmosfera. Já em um túnel de vento de circuito fechado a energia requerida
para funcionamento é menor. Ademais, túneis de vento de circuito fechado produzem
menos ruído que túneis de vento de circuito aberto (Barlow, 1999).
O Laboratório de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento do IPT possui dois
túneis de vento, sendo um aerodinâmico (figura 1) e outro de camada limite atmosférica
(figura 2). O túnel aerodinâmico é de circuito aberto e possui seção de testes de 500 mm
x 500 mm, podendo atingir velocidade máxima de 45 m/s. Este túnel de vento é bastante
utilizado na calibração de sensores de velocidade do ar. O túnel de vento de camada
limite atmosférica também é de circuito aberto, com seção de testes de 3 m de largura
por 2 m de altura, e demais dimensões apresentadas na planta e elevação da figura 3. A
velocidade máxima de projeto é de 25 m/s.

Figura 1 – Túnel aerodinâmico do IPT

Figura 2 – Túnel de vento de camada limite atmosférica do IPT


Figura 3 – Planta e elevação do túnel de vento de camada limite atmosférica do IPT

Este túnel de vento possui duas seções de testes: uma aerodinâmica e outra de
modelagem do vento natural. A primeira seção de testes está alocada logo após a
contração é aerodinâmica (figura 4), pois apresenta perfil de velocidades uniforme e
intensidade de turbulência menor que 1%. Nela podem ser realizados, por exemplo,
ensaios de aerogeradores, aeromodelos e modelos reduzidos de automóveis. A segunda
é a seção turbulenta onde se simula o vento natural, pois nela são posicionados modelos
de construções sujeitas à camada limite atmosférica, como edifícios, instalações
industriais, plataformas de petróleo, plantações e pontes. O comprimento de 28 metros
entre o início da primeira seção de testes e o final da segunda seção de testes advém da
necessidade do desenvolvimento da camada limite até a seção atmosférica, o que, de
acordo com vento natural que se deseja simular, é auxiliado pela instalação, no interior
do túnel de vento, de uma barreira castelada, geradores de vórtices e elementos rugosos
distribuídos ao longo do piso do túnel (ver figura 5).
Figura 4 – Identificação das duas seções do túnel de vento

Figura 5 – Barreira castelada, geradores de vórtices e elementos rugosos

3. Camada limite atmosférica


O perfil de velocidades da camada limite atmosférica é representado pela lei
logarítmica dada por:
U 1 z
= . ln ⁡
u❑ κ ( )
z0
. (1)

O primeiro termo da equação acima é a razão entre a velocidade U na altura z e a


velocidade de atrito u❑ definida como √ τ / ρ , onde τ é a tensão de cisalhamento
do vento agindo no piso e ρ é a massa específica do ar. Já no segundo termo, κ é a
constante de von Karman e z 0 é o comprimento de rugosidade, parâmetro que define
cinco categorias de terreno na norma brasileira NBR 6123:1988 e que é utilizado na
determinação da altura e disposição dos elementos rugosos no túnel de vento.
Na figura 6 é possível identificar o efeito do comprimento de rugosidade no perfil
de velocidades. A norma brasileira NBR 6123:1988 prevê cinco categorias de terrenos
que vão de superfícies lisas de grandes dimensões, como mar calmo, (categoria I) a
terrenos cobertos por obstáculos numerosos, altos, grandes e pouco espaçados, como
centros de grandes cidades (categoria V).

Figura 6 – Influência do z 0 de diferentes categorias de terreno no perfil de


velocidades
O perfil de velocidades no túnel de vento é medido utilizando-se um tubo de Pitot.
Mede-se também, com auxílio de um anemômetro a fio quente, a intensidade de
turbulência em cada altura, definida por:

σ
I = ́U , (2)
U
sendo ́
U a velocidade média na altura z de medição e σU o desvio padrão da
velocidade para esta altura.
A figura 7 mostra um perfil de velocidades e de intensidade de turbulência, para
terreno da categoria V, medidos em túnel de vento, com velocidades e alturas
adimensionalizadas.

Figura 7 – Terreno de categoria V pela NBR 6123:1988, escala 1:200

4. Instrumentação

A seguir, estão elencados os instrumentos disponíveis para a realização dos diversos


tipos de ensaio realizados no túnel de vento do IPT.
• Stereo PIV (Particle Image Velocimetry) LaVision;

• 2D LDV (Laser Doppler Velocimetry) DANTEC;

• 3 células de carga com 6 graus de liberdade (RUAG, Kystler e ATI);


• FID (Flame Ionization Detector) Cambustion;

• Transdutores de pressão Scanivalve – 48 tomadas de pressão;

• Transdutores de pressão Pressure Systems – 512 tomadas de pressão;

• Acelerômetros Kystler;

• Sensores ópticos de deslocamento Micro Epson ();

• Tubo de Pitot de 5 furos com alta resposta em frequência Aeroprobe;

• Tubo de Pitot de 12 furos Aeroprobe;

• Tubos de Pitot e anemômetros a fio quente CTA 1D, 2D e 3D;

• Robô cartesiano utilizado para posicionamento das sondas de medição; e

• Torquímetros.

Além dos equipamentos citados acima, o túnel de vento contará, em breve, com
uma mesa de testes automatizada que permite variar o ângulo de incidência do vento em
edificações; e variar calado, adernamento, trim e aproamento de embarcações.
5. Capacitação do túnel de vento

Nessa seção serão abordados os trabalhos realizados no Laboratório de


Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento do IPT.

5.1. Plataformas de petróleo: forças, turbulência e Contaminantes

Ensaios de plataformas de petróleo off-shore são os mais completos e exemplificam


muitos dos problemas e soluções relacionados à ação do vento tanto em características
que afetam o meio ambiente como na parte estrutural da embarcação.
Nos ensaios de embarcações buscam-se determinar os coeficientes aerodinâmicos
de força e momento por meio de uma célula de carga instalada no modelo em escala
reduzida da embarcação. Esses ensaios têm como finalidade a realização de projetos
eficientes e seguros do ponto de vista da estrutura da embarcação, assim como do
arranjo de seu top-side.
Pelo fato de plataformas de petróleo off-shore estarem dezenas de quilômetros
distantes umas da outras, há a preocupação com o projeto e posicionamento do
heliponto (IPT Notícias, 2010), para que haja segurança no pouso e decolagem de
helicópteros (CAA, 2008).
Os projetos seguros são obtidos simulando em túnel de vento as características de
turbulência do vento e elevação de temperatura de plumas das chaminés das turbinas, na
região do heliponto. De acordo com os resultados obtidos, o projeto pode ser aprovado,
ou podem ser sugeridas alterações para maior conforto, segurança e eficiência do
sistema de pouso e decolagem de helicópteros. A figura 8 mostra o modelo em escala
reduzida durante a medição com PIV, bem como alguns resultados de modelos
numéricos e de experimentos (De Carvalho, 2010, Jabardo, 2012).

Figura 8 – Ensaio para determinação de velocidade e turbulência em helipontos –


modelo de plataforma em escala reduzida 1:200.

Uma plataforma de petróleo é uma planta industrial que gera sua própria energia.
Para isso, ela possui turbinas que queimam combustível fóssil e emitem gases quentes
para a atmosfera. O estudo da disposição das chaminés das turbinas, cujas plumas
atingem temperaturas superiores de 400°C, é fundamental para verificar se esses gases
quentes estarão acima da altura segura de pouso e decolagem de helicópteros. Essas
medições são realizadas com o FID e os resultados mostrados na figura 9.
Figura 9 – Ensaio de elevação de plumas em modelo de plataforma utilizando FID –
escala 1:200.

Qualidade do ar em plataformas off-shore e nas cidades


Esses mesmos dispositivos, PIV e FID são utilizados também para verificar
condições de qualidade de vida dos trabalhadores, como por exemplo, são avaliadas
como os gases das tubulações se dispersariam na planta da plataforma de petróleo caso
houvesse um vazamento. Pois, é indesejável que trabalhadores respirem esses gases e
estejam sujeitos a patologias respiratórias, outros tipos de doenças e até mesmo
fatalidades. Assim, o conhecimento das rotas dos gases e verificação de pontos de
acúmulo de contaminantes, faz com que se definam rotas de fuga de certos locais de
trabalho da plataforma, para que se evitem maiores complicações ambientais. Essas
análises também são realizadas visando evitar contaminação do sistema de ar
condicionado dos alojamentos e de locais fechados, pelos gases do ambiente externo da
plataforma de petróleo.
Esses resultados propiciam melhorias no pré-projeto de uma plataforma de petróleo
off-shore. E, como se pode notar, as mesmas tecnologias podem ser utilizadas em
cidades ou plantas industriais, para que se proponham soluções para evitar
contaminações ambientais pelas emissões veiculares e por indústrias.

5.2. Calibração de sensores de velocidade de fluidos


As calibrações de sensores de velocidades de ar e água são realizadas no túnel de
vento aerodinâmico do IPT, figura 1. Dentre os equipamentos calibrados pode-se citar o
anemômetro de copos da figura 10 e o tubo de Pitot do tipo Cole, ambos empregados
em eficiência energética e redução de perdas.
Anemômetro de Copos para parques eólicos
Anemômetros de copos (figura 11) são utilizados em parques eólicos, visando a
determinação da eficiência energética dessa instalação (Nader, 2011). Essas calibrações
são realizadas na faixa de 4 até 16 m/s (NBR 61400, 2012), onde se deve obter uma
excelente linearidade (coeficiente de correlação superior a 0,99995). Pois, é a
medicação da velocidade pelo anemômetros que informa ao governo federal o quanto
aquele parque está gerando de energia elétrica.

Figura 10 – Calibração de anemômetro de copos.

Tubos de Pitot do tipo Cole para redução de perda de água tratada


As calibrações de tubos de Pitot do tipo Cole também estão relacionadas a uma
economia sustentável. Atualmente no Brasil, a de perda de água tratada está na faixa de
37% a 42% (Agência Brasil 2011), porém, alguns anos atrás essa perda chegava a mais
de 60%. A SABESP é um exemplo a ser seguido, pois atualmente a perda de água
tratada é de 26% e pretende-se atingir 13% em 2019 (UOL Notícias, 2010). Essa menor
perda de água tratada da SABESP se dá devido a um grande investimento na tecnologia
de monitoração e medição de vazão de água. Um dos instrumentos utilizados nessas
medições é o tubo de Pitot do tipo Cole, calibrado no IPT e com incertezas expandidas
de calibração na faixa de 1%.
5.3. Wind fences para controle de dispersão de particulados
Wind fences são barreiras empregadas para proteção contra o vento. Empresas que
manipulam, por exemplo, minério de ferro e carvão, utilizam tais barreiras como forma
de proteger o meio ambiente contra particulados destes materiais.
A figura 11 mostra um porto com pilhas de particulados e a posição onde pode ser
construída uma wind fence (faixa branca) para que os particulados não sejam arrastados
pelo vento em direção ás residências vizinhas. Nota-se nessa figura 11 que também há
um cinturão verde utilizado como barreira eólica. Os cinturões verdes são mais
eficientes, não custam caro, e são ecologicamente melhores. Porém, são necessários
muitos anos até que as arvores atinjam a altura e configuração prefeita entre elas, para
que funcionem como barreira do vento. Dessa forma, a implementação de wind fences
se faz necessária até que o cinturão verde esteja na configuração natural correta.
Nos ensaios no túnel de vento do IPT, foi modelada camada limite do entorno e
foram testados modelos reduzidos de wind fences com 15 m de altura construídos com
materiais com 5 permeabilidades diferentes. Foi medido o perfil de velocidades a
jusante da barreira e a diversas distâncias da mesma (2,5 m a 60 m) com um
anemômetro a fio quente, como mostra a montagem da figura 12. Observa-se pelos
resultados mostrados, que a velocidade do vento sobre a pilha de carvão foi atenuada
em até 7 vezes.

Barreiras naturais e artificiais na agricultura

Para a agricultura também são estudadas barreiras naturais e artificiais que têm
como objetivo alterar a característica do vento atmosférico, como por exemplo,
elevando a turbulência e dessa forma melhorando a qualidade do fruto e sua
produtividade (Cataldo, 2012).
Figura 11 – Indicação do posicionamento da wind fence. Imagem obtida do Google
Earth em agosto de 2012

Figura 12 – Montagem e resultados para testes com wind fences.

5.4. Construção civil


Ao realizar os projetos da construção civil no Brasil, os engenheiros estruturais se
baseiam na norma brasileira NBR 6123:1988 para determinação das cargas de vento.
Entretanto, a norma fornece dados para determinação do carregamento em estruturas de
geometria simples, que são bastante estudadas, possuindo, assim, um grande banco de
dados. A criatividade dos arquitetos, aliada à necessidade de otimização dos projetos
para redução dos custos e do desperdício de matéria prima, bem como ao
desenvolvimento de novos materiais e técnicas de construção, tornam as construções
modernas cada vez mais imponentes, arrojadas e complexas.
O uso mais racional da matéria prima, com a otimização das estruturas civis, prevê
coeficientes de segurança menores do que aqueles empregados no passado. Nesse
sentido, tanto simulações numéricas quanto ensaios em túnel de vento, são ferramentas
essenciais para os engenheiros estruturais.
5.4.1. Ensaios estáticos para determinação do carregamento devido ao vento
A determinação da carga devida ao vento em uma estrutura é importante para
validar os cálculos prévios realizados pelo engenheiro estrutural. Em estruturas muito
complexas costuma-se adotar coeficientes de segurança maiores nos cálculos, o que
ocasiona em uso elevado de concreto, estruturas metálicas etc., que podem ser
interpretados como desperdício de material e energia na sua construção. Dessa forma, os
ensaios em túnel de vento podem mostrar quando uma estrutura está
superdimensionada, indicando que é possível economizar em alguns elementos. Por
outro lado, também mostram quando elementos da construção estão aquém dos níveis
de segurança pré-estabelecidos.
Nos ensaios de carregamento estático do vento, preocupa-se em reproduzir as
características geométricas do protótipo em modelo em escala reduzida, o qual deve ser
o mais rígido possível, de forma a evitar vibrações. Medem-se a pressão nas superfícies
externas e internas do modelo ou instrumenta-se o modelo com células de carga.
A figura 13 mostra os resultados obtidos no túnel de vento de camada limite
atmosférica do IPT para um edifício com quinas e cantos vivos. Nela é possível
verificar as regiões de sobrepressão na fachada a barlavento e de sucção na fachada a
sotavento. Resultados como esses, indicam que nas partes mais altas da edificação, há
uma maior sobrepressão numa face, enquanto na face oposta há uma maior sucção,
ocasionando numa oscilação do edifício. Ensaios em túnel de vento são fundamentais
para verificação desse comportamento oscilatório, para verificar se o projeto original
poderá sofrer dano estrutural ou causar desconforto dinâmico nos moradores.
Figura 13 – Resultado de ensaio estático obtido em edifício para incidência do vento
na direção y.

Projetos importantes de grandes arquitetos do Brasil e do exterior, e estádios de


futebol, alguns com conceitos sustentáveis e tecnologia verde, foram testados no túnel
de vento do IPT, e outros com objetivo a otimizar a estrutura, como descritos a seguir.

Santiago Calatrava – Museu do Amanhã


Para realização dos ensaios do Museu do Amanhã (Téchne, 2011, IPT Notícias,
2011), a ser construído no Rio de Janeiro, foi construído um modelo na escala 1:200
(figura 14). O projeto do edifício tem conceitos sustentáveis e tecnologia verde. Como
exemplo, as aletas mostradas em detalhes na figura 15, não são fixas. Nelas serão
instalados células fotovoltaicas, e as aletas se moverão de acordo com o posicionamento
do sol, com o objetivo de aproveitamento máximo da energia solar.
Figura 14 – Modelo do Museu do Amanhã

Esse projeto também possui um conceito de aproveitamento de ventilação natural, e


medições de pressão interna na edificação foram realizadas para analisa-la.
Figura 15 – Detalhe das aletas do Museu do Amanhã

Oscar Niemeyer – Torre da TV digital de Brasília


A torre da TV Digital de Brasília, projeto de Oscar Niemeyer, possui 182 m de
altura por 10 m de diâmetro em sua base. Essa é uma estrutura muito alta e esbelta.
Projetos desse tipo podem necessitar de fundações muito bem estruturadas para evitar a
queda da construção devido à ação do vento. Um ensaio em túnel de vento (figura 16) é
fundamental para dimensionar corretamente a estrutura e evitar gasto desnecessário de
material e energia.

Figura 16 – Modelo em escala de 1:150 da torre de TV digital de Brasília

Dos resultados obtidos no túnel de vento, foi verificado que os esforços causados
pelo vento eram cerca de 4 vezes menores que os calculados pelos projetistas, baseado
em normas. Porém, nesse caso, a fundação da torre foi construída com os valores
maiores, calculados previamente, pois, segundo Mario Terra, projetista estrutural (Pini
Web, artigo211608-1):

"Comparando com os coeficientes de


arrasto que eu havia considerado,
estávamos com valores acima [do
apontado pelo ensaio]. Porém, temos
sempre que considerar que o modelo tem
um acabamento na superfície que difere do
acabamento real, com irregularidades do
concreto etc. Então, essa margem de folga
foi necessária".

Arena Pantanal – Arena MT


A Arena Pantanal, Cuiabá-MT (figura 17), é um projeto premiado e busca
certificação Leadership in Energy and Environmental Design (LEED) [IPT Notícias
2012-2] que faz uso, por exemplo, de ventilação cruzada, para propiciar maior conforto
térmico dos espectadores.
Figura 17 – Arena Pantanal – montagem no túnel de vento e mapa de coeficientes de
pressão para incidência do vento indicada na figura – escala 1:200

Estádio Cícero Pompeu de Toledo (Morumbi)


Parte da modernização do estádio do São Paulo F.C. inclui além da construção da
cobertura, uma arena de shows coberta e com fechamento acústico. Detalhes do modelo
ensaiado e alguns resultados dos coeficientes de pressão são mostrados na figura 18.
Esse estádio foi ensaiado considerando a arena de shows aberta e fechada (IPT
Notícias, 2012-3), pois esses resultados são fundamentais para se dimensionar o
material acústico a ser utilizado no fechamento da arena.

Figura 18 – Modelo do Estádio do Morumbi e sua vizinhança no túnel de vento –


escala 1:200 e Piores casos de ∆ C P para situações de sucção
5.4.2. Ensaios dinâmicos
Os edifícios atuais são cada vez mais altos e esbeltos, e a tendência a construir
pontes estaiadas, utilizando materiais mais leves em sua construção, exige que sejam
realizados ensaios dinâmicos dessas estruturas. A NBR 6123:1988 afirma que
edificações cujas frequências naturais estão abaixo de 1 Hz, particularmente aquelas
fracamente amortecidas, podem apresentar importante resposta flutuante na direção do
vento médio. As técnicas mais utilizadas nesses ensaios são a High Frequency Pressure
Integration (HFPI), para a qual é utilizado um modelo estático, e a medição do
comportamento dinâmico das estruturas, onde são utilizados modelos aeroelásticos.
Na figura 19 é mostrado o ensaio de um modelo seccional da ponte estaiada da
Cidade Constantine – Argélia (IPT Notícias, 2010-2), local sujeito a cargas sísmicas da
ordem de 35% e que possui um projeto ousado e utilizando materiais modernos.

Figura 19 – Modelo aeroelástico seccional de ponte (com e sem tráfego)

5.4.3. Conforto térmico e dispersão de contaminantes


O túnel de vento pode ser utilizado como ferramenta de apoio na elaboração de
políticas pública e do plano diretor de uma cidade. Pois, por meio de ensaios em túnel
de vento, determina-se como a verticalização de alguns bairros, ou a rota de carros,
ônibus e caminhões influenciam na qualidade de vida da população. Além disso, as
medições de velocidade podem auxiliar no estudo do conforto térmico.

Estudo de conforto de pedestres e dispersão de contaminantes


O crescimento desordenado das cidades contribui para agravar problemas de
circulação de ar nas mesmas, o que, juntamente ao problema de poluição atmosférica,
pode agravar problemas de saúde, principalmente de caráter respiratório, em moradores.
O túnel de vento pode ser utilizado para prever áreas de baixa circulação de ar e,
dessa forma, soluções podem ser pensadas para estas áreas especificamente. Uma das
técnicas usuais é a de saltação de areia, que consiste na distribuição de forma discreta de
areia sobre a superfície do modelo da cidade, com o ensaio sendo realizado a diversas
velocidades. Dessa forma, verifica-se para quais velocidades do vento há erosão da areia
sobre o modelo, e são detectadas as condições de conforto do pedestre.
Neste trabalho é mostrado o resultado obtido de uma região da cidade de Santos_SP
(identificada no mapa da figura 20), onde um paredão de prédios na orla prejudica a
circulação do ar a jusante. Nos resultados mostrados na figura 20 (PRATA
SHIMOMURA, 2009), observa-se uma região branca, indicando que naquele ponto não
há circulação do ar, mesmo para ventos mais fortes (350 rpm equivalem a 3 m/s a 2 m
de altura). Isso ocasiona em acúmulo de poluentes e elevação de temperatura local
(Globo Mogi, 2010).
Figura 20 – Identificação da região modelada e resultados

Estudo de ventilação natural interna em apartamento típico de habitação popular

Para estudar a ventilação interna de um apartamento típico de habitação popular, foi


construído um modelo em escala reduzida na escala 1:15 (figura 21). Foram realizadas
visualizações do escoamento, mapeamento de velocidades em cada cômodo (figura 22)
e medições de pressões internas. No ensaio deste modelo de apartamento, foi detectada
uma boa ventilação natural nos quartos, sala e cozinha. No entanto, notou-se que no
banheiro não havia renovação do ar.
Figura 21 – Visualização do escoamento interno em modelo de apartamento

Figura 22 – Medição com PIV em um dos cômodos

Conforto térmico no Castelão


O conforto térmico baseia-se no balanço térmico, no fluxo de calor do centro do
corpo para a superfície da pele e no fluxo de calor da superfície da pele para a superfície
externa da roupa. Por meio da medição da velocidade do vento no modelo reduzido, e
utilizando o índice PET, foram obtidos os resultados mostrados nas figuras 23 e 24. Pelo
fato de em Fortaleza-CE, a temperatura ser aproximadamente 30 ºC durante o ano
inteiro e de acordo com os índices PET encontrados foi verificado que o estádio estará
termicamente mais agradável a partir do final da tarde.
Figura 23 – Índice PET para solstício de inverno às 15h

Figura 24 – Índice PET para solstício de inverno entre 17h e 18h

5.5. Energia eólica

A crescente demanda de energia elétrica levou o homem a desenvolver tecnologias


de aproveitamento de energias renováveis. Entre elas está a energia eólica. No túnel de
vento são ensaiadas a aerodinâmica de pás, determinados o potencial eólico de um
terreno, a otimização da distribuição de aerogeradores para evitar interferência entre
eles e o desempenho de aerogeradores. Além disso, são determinados também os
esforços estáticos e dinâmicos nas torres e pás dos aerogeradores, realizando-se
medições similares às descritas nas seções 5.4.1 e 5.4.2.
Na figura 25 são mostrados dois aerogeradores ensaiados na seção aerodinâmica do
túnel de vento do IPT, o primeiro é um aerogerador comercial utilizado em postes e
similares e o segundo é um modelo reduzido de um projeto inovador (Balloon, 2010).
Ambos aerogeradores estão em uso nos dias atuais apresentando bons desempenhos.

Figura 25 – Aerogeradores montado na seção de testes aerodinâmica

6. Conclusão
Neste artigo foram mostrados vários tipos de ensaios realizados nos túneis de vento
do IPT que estão relacionados com eficiência energética, conforto ambiental, dispersão
de contaminantes, melhor qualidade da produção agrícola etc. Os ensaios demonstram
que túnel de vento é uma importante tecnologia à disposição de uma economia
sustentável.

Agradecimentos
Os autores agradecem à todos que contribuíram com o desenvolvimento desses
trabalhos, que foram a equipe técnica anterior e atual do CMF/IPT, CNaval/IPT, CT-
Obras/IPT, alunos e professores da POLI/USP, FAU/USP, UNICAMP, FEI e MAUÁ,
IMFIA/Uruguai, LACLYFA/Argentina, aos fomentos de PETROBRAS, FAPESP e
CNPq, e às parcerias com equipes técnicas da PETROBRAS e diversos outros
engenheiros civis, navais e construtoras.

Referências
AGÊNCIA BRASIL, “Índice de perda de água tratada no Brasil é elevado”
(http://agenciabrasil.ebc.com.br/noticia/2011-09-11/indice-de-perda-de-agua-tratada-no-
brasil-e-elevado), acessado em 04 de maio de 2013.
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201875,,0), acessado em 04 de maio de 2013
Mini-currículo dos autores:
Gabriel Borelli Martins – É engenheiro mecânico formado pela FEI. Atualmente
trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas
principais publicações são relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para
determinação de características de conforto térmico e carregamento do vento, como por
exemplo, ensaio do Estádio Castelão, do Estádio Arena Cuiabá, do Estádio do
Morumbi, entre outras edificações. E-mail: gborelli@ipt.br
Alessandro Alberto de Lima - Possui graduação e doutorado em Engenharia
Mecatrônica pela Escola Politécnica da USP. É especialista em modelagem numérica
computacional do escoamento ao redor de estruturas. Atualmente atua na área de
pesquisa e desenvolvimento em engenharia do vento, realizando modelagens numéricas
da interação fluido-estrutura e ensaios experimentais em túnel de vento no Instituto de
Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). E-mail: aalima@ipt.br
Paulo José Saiz Jabardo – É engenheiro mecânico, mestre em ciências e doutor em
engenharia pela Escola Politécnica da USP. Atualmente trabalha no IPT na Área de
Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento. Suas principais publicações são artigos
técnicos & científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para
determinação de dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de
petróleo off-shore, ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de
desempenho, características de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail:
pjabardo@ipt.br
(*) Gilder Nader – Autor principal – É físico e mestre em ciências pelo Instututo de
Física da UFF e doutor em engenharia mecânica pela Escola Politécnica da USP.
Atualmente trabalha no IPT na Área de Aerodinâmica Industrial e Engenharia do Vento
e é professor na FATEC Tatuapé. Suas principais publicações são artigos técnicos &
científicos e relatórios técnicos de ensaios em túnel de vento para determinação de
dispersão de contaminantes, projetos seguros de plataformas de petróleo off-shore,
ensaios de aerogeradores para determinação de curvas de desempenho, características
de conforto térmico e carregamento do vento. E-mail: gnader@ipt.br
Viabilidade para implantação de edifícios de balanço energético zero no Brasil

Roberto Oranje *

Este trabalho analisa a viabilidade de se implantar edifícios de balanço energético zero no


Brasil. São edifícios altamente eficientes do ponto de vista energético, e capazes de produzir, numa
base anual, pelo menos a mesma quantidade de energia que consumiram. Combinam estratégias de
redução de consumo com aumento de eficiência energética, e geração de energia a partir de fontes
renováveis. Analisamos definições, premissas e alguns exemplos de edifícios de balanço zero, para
avaliar a viabilidade técnica e econômica deste conceito no Brasil. Este conceito coloca um objetivo
claro e puro de eficiência, que pode ser atingido através da integração nos processos de de projeto,
obra e operação do edifícios. É importante, no entanto, que sejam computados na análise também a
energia incorporada nos materiais, bem como a energia consumida no transporte dos mesmos e dos
usuários do edifício, esta majoritariamente de fontes fósseis.

This paper analyzes the feasibility to build net zero energy buildings in Brazil. These are
highly energy efficient buildings, capable of producing at least as much energy as they use on a yearly
basis. They combine strategies to reduce consumption with increase of energy efficiency, and use of
renewable energy sources. We analyzed definitions, assumptions and examples of net zero energy
buildings to evaluate the technical feasibility and economical viability of this concept in Brazil. This
concept puts a clear and pure efficiency goal, which can be achieved through an integrated design,
build an operation process. It is important, though, that energy embedded in materials, as well as
energy used for transportation of materials and building users, which use mainly fossil fuels, be
accounted for.

* Consultor em sustentabilidade e certificação LEED AP. Arquiteto formado pela FAU


- USP, com especialização em Gestão e Tecnologias Ambientais, pelo PECE /POLI - USP.
Mais de 25 anos de experiência em projetos e gerenciamento de obras na área corporativa,
tanto no Brasil como na Holanda. Gestor do projeto de implantação do primeiro edifício
certificado pelo LEED no Brasil, a agência Granja Viana do Banco Real, em Cotia, São Paulo.
Energia é um vetor fundamental para o desenvolvimento humano. Desde a pré-
história, com a descoberta do fogo, o homem utiliza energia de outras fontes que sua própria
força muscular, para diversas finalidades, permitindo uma evolução ímpar da espécie. O fogo
propiciou aquecimento, proteção, luz, e permitiu cozinhar os alimentos. O recurso – madeira –
era abundante e, se escasseasse, os povos eram obrigados a migrar, ou desapareciam. Depois,
o homem passou a utilizar outras fontes de energia, com a domesticação de animais para uso
no transporte e lavoura, além do aproveitamento do vento e das quedas d'água.. Na revolução
industrial, o carvão forneceu não só a energia térmica para aquecer as casas, mas também a
energia mecânica das máquinas a vapor. De lá para cá, com os avanços tecnológicos vieram
ainda a exploração de outros recursos, como o petróleo, gás, e a eletricidade.

Chegamos, no entanto, num ponto na nossa história, em que a exploração cada vez
maior destes recursos coloca em risco seu suprimento futuro, além de colocar em risco nosso
desenvolvimento e das gerações vindouras, devido aos impactos ambientais causados por sua
transformação e utilização como energia. Há limites para este modelo de crescimento. Mesmo
superando o desafio tecnológico de viabilizar novas fontes de energia renováveis em
condições de escala e economia adequadas, não podemos deixar de lado o aspecto da
conservação de energia, da redução do seu consumo. Se queremos continuar nos
desenvolvendo, temos de utilizar recursos e energia com mais eficiência.

Há quem argumente que as leis de mercado são suficientes para incentivar a economia
de um recurso quando se torna escasso. Assim, as variações entre procura e oferta se traduzem
em alterações de preço, que regularizam o mercado. Uma linha de economistas ambientais
acredita que é possível internalizar o valor destes recursos naturais dentro dos cálculos de
custo de produção, e que é possível substituir um recurso natural por um produzido.

Outra linha, de economistas ecológicos, alerta para a fragilidade deste raciocínio.


Entendem que a variação de preços por si só não impedirá que o recurso seja explorado à
exaustão. Prova disso é a crise do petróleo, de 1973/74. Houve um desequilíbrio brutal de
preços, mas finda a crise continuamos a praticar o mesmo modelo de consumo energético. Se
houve ganho em eficiência, também expandiu o consumo de maneira geral, ou seja: um anula
o outro.

O economista inglês Stanley Jevons, apontou em 1864 que as iniciativas para


economizar carvão, através do aumento na eficiência do seu uso, acabaram tornando a energia
a vapor mais barata do que a humana ou animal, estimulando um consumo ainda maior de
carvão. Nos tempos atuais o mesmo acontece com diversos itens do nosso dia a dia, como
lâmpadas, eletro eletrônicos, geladeiras, automóveis: o aumento da eficiência vem
acompanhado do aumento de consumo (Manno, 2002).

Ou seja, para atingir um resultado sustentável, é preciso combinar conservação de


energia com eficiência energética. Neste artigo abordaremos este tema com foco no projeto,
construção e operação de edifícios. Especificamente, avaliando a viabilidade técnica e
econômica de implantar edifícios de balanço energético zero no Brasil, ou seja: edifícios que
produzem, no mínimo, a mesma quantidade de energia que consomem.

Edifícios de Balanço Energético Zero

Num sentido amplo, para um edifício atingir um balanço energético zero, ou nulo, é
preciso que ele seja projetado, construído ou reformado, e operado para funcionar com uma
necessidade reduzida de consumo de energia, suprindo a demanda que ainda houver com
energia de fontes renováveis. Ou seja, é um edifício altamente eficiente do ponto de vista
energético, e capaz de produzir, numa base anual, pelo menos a mesma quantidade de energia
que consumiu.

Tanto a eficiência no consumo, como a utilização de fontes renováveis para a geração


de energia, perseguem o mesmo objetivo: eliminar ou compensar os impactos ambientais
causados pela demanda de energia nos edifícios. Estes impactos ocorrem ao longo de todas as
etapas do fluxo energético, englobando desde a extração dos recursos, a geração de energia
primária, sua distribuição, até seu uso final, e são comparáveis através da emissão de CO 2
equivalente em cada uma das etapas, de acordo com cada tipo de fonte.

Mesmo fontes renováveis geram impactos ambientais: a implantação de uma


hidrelétrica ocasiona a emissão de gases da decomposição da biomassa alagada na criação do
reservatório, alteração de ecossistemas, deslocamentos populacionais, etc... A combustão do
álcool ou biodiesel também gera emissões, além dos impactos associados ao plantio - até
positivos, pois a planta captura CO2. A questão é saber se estes recursos serão
indefinidamente renováveis.

Um estudo sobre segurança energética no Brasil indica que haverá queda na oferta de
energia devido ao cenário de mudanças climáticas; a vulnerabilidade será maior exatamente
nas energias de fontes renováveis, principalmente a hidreletricidade (Schaeffer, 2008).
A diferença de abordagem, na conceituação de um edifício de balanço zero em relação
a outras ações de eficiência energética em edifícios, consiste em:

• Estabelecer uma meta absoluta ao invés de uma meta relativa; em outras


abordagens, a eficiência energética é expressa como uma meta de redução percentual de
consumo de energia em relação a padrões habituais, mínimos ou pré-estabelecidos para
edifícios existentes. Em outros termos, para ser zero, não basta ser menos ruim, precisa ser
bom.

• Estabelecer uma meta agressiva, difícil de atingir e muito mais de superar, o


ótimo em termos de eficiência energética. É uma meta formulada de maneira quase filosófica,
ao utilizar o conceito do “zero”.

Premissas

Para alcançar a meta do balanço zero, é necessário:

• Comprometimento, conhecimento e mudança cultural

• Delimitação do escopo

• Processo de projeto colaborativo, integrativo e com foco claro

• Abordagem escalonada

• Monitoração e medição

Por ser uma abordagem nova, é fundamental o comprometimento de todos os


envolvidos para atingir os objetivos propostos. Implica em uma mudança cultural, tanto por
parte dos profissionais como do proprietário. A equipe responsável pelo projeto terá de ser
muito assertiva na comunicação durante todo o processo, para que este objetivo não se perca
no meio do caminho.

Para tornar o resultado mensurável, é necessário delimitar o escopo a ser atendido.


Existe hoje uma diversidade de conceitos sobre o que engloba um edifício de balanço zero.
Nesta discussão, busca-se um consenso sobre:

• Como adequar o conceito a climas e tipologias de edifícios diferentes


• O que deve ser computado: incluir (ou não) a etapa de construção e demolição, o
consumo de eletrodomésticos e equipamentos eletrônicos, entre outros itens.

• A relação entre consumo, eficiência e geração de energia.

No processo de projeto, a integração da equipe é mais crítica para o desenvolvimento


de um edifício de balanço zero do que a aplicação de qualquer nova tecnologia. Na verdade,
há oportunidades incríveis de eficiência que podem ser obtidas mesmo com tecnologias
atuais. Num projeto integrativo, participam desde a primeira conceituação profissionais como
arquitetos, engenheiros elétricos e mecânicos, estruturais, paisagistas, etc... se possível até os
responsáveis pela construção e manutenção do edifício, e, claro, especialistas em modelagem
energética. Não existe uma sequência linear, em que um passa a informação pronta para o
próximo, mas uma participação simultânea de todos, para maior sinergia e resultado. Pontos
importantes:

• Abordagem multidisciplinar.

• Definição de objetivos no início do projeto.

• Colaboração e confiança mútua

Em seu livro “The Architecture of the Well Tempered Environment”, Reyner Banham
relata o impacto do desenvolvimento das instalações mecânicas e elétricas na arquitetura
moderna. Ele foi um dos primeiros a notar que com o advento de novas tecnologias, como o
ar condicionado, a forma e a construção do edifício deixaram de exercer a função de
moderadores do clima externo em relação ao ambiente interno. Em muitas situações passaram
até a acentuar as características climáticas locais, como edifícios com fachadas de vidro em
climas muito quentes ou muito frios. Essa dicotomia entre arte e técnica levou a uma
arquitetura extremamente dependente do aporte de energia para seu conforto e habitabilidade,
aplicada de forma igual nos 4 cantos do mundo (Banham, 1984).

Hoje em dia, com o cenário de mudanças climáticas, esta abordagem entrou em xeque.
Cada vez mais projetos voltam a enfocar a forma e a construção do edifício como uma
estratégia primordial para o conforto e bem estar dos usuários, e para a eficiência energética
do edifício. Isto não implica necessariamente no retorno a técnicas e modos tradicionais de
construção, mas sim na reinterpretação deste conhecimento com base em tecnologias atuais.
Como a forma e a construção do edifício têm um grande potencial para reduzir a
demanda de energia, sem grandes impactos no custo da obra (muitas vezes nenhum),
recomenda-se começar a análise das estratégias de eficiência energética por este aspecto. São
os ganhos fáceis, ou “low hanging fruit” em inglês. A partir daí seguir para análise em outros
níveis, daí o termo abordagem escalonada. Essa abordagem visa o aproveitamento máximo
dos recursos de menor custo (ou menor custo incremental), antes de buscar recursos de custo
médio ou alto em relação ao benefício.

• O primeiro nível da abordagem escalonada identifica as oportunidades de


redução de consumo de energia, e concentra-se na arquitetura do edifício; avalia a forma,
orientação, fenestração, materiais de construção, isolamento, sombreamento, cor,
estanqueidade e paisagismo. Decisões erradas neste nível podem acarretar a duplicação da
capacidade e consumo dos equipamentos mecânicos. 60% do potencial de redução de
consumo de energia está neste nível (Lechner, 2009).

• O segundo nível aborda o uso de energia natural, através de técnicas passivas,


como aproveitamento de luz natural, ventilação de conforto e noturna, acumulação de calor e
aquecimento solar passivo. Este nível representa um potencial de mais 20% de redução de
consumo.

• O terceiro nível abrange a geração de energia, e a eficiência dos equipamentos


mecânicos instalados, como aquecimento solar ativo, sistemas fotovoltaicos, energia eólica, ar
condicionado, iluminação, motores e caldeiras. O potencial de redução aqui é de 8%

Apesar de escalonada, esta abordagem não pressupõe linearidade mas sim a


reavaliação circular das estratégias em cada nível. Segundo Colin Rohlfing (em palestra na
conferência Greenbuilding Brasil 2011), é necessário romper a barreira da curva de custo
inicial, ou de implantação do edifício, para obter sucesso nesta estratégia. À medida que
aumenta a eficiência em termos de redução percentual no consumo de energia, aumenta
também o tempo de retorno do capital investido, em anos. Muitos enxergam num aumento de
eficiência de 50% um limite, uma barreira para a viabilidade financeira do empreendimento.
Uma redução de 70%, por exemplo, terá um retorno apenas após 14 anos. Mas, a partir de
80% de redução, a possibilidade de suprimir sistemas mecânicos em função do desempenho
bioclimático da própria arquitetura, reduz drasticamente o custo de implantação, permitindo
trazer o retorno financeiro de volta para 6 anos.
Para algumas certificações ambientais de edifícios, a eficiência energética estimada é
suficiente para comprovar o nível de eficiência pretendido pelo sistema de certificação. No
caso de edifícios de balanço zero não é suficiente. É necessário monitorar e medir o
desempenho real do edifício, que pode variar em relação ao desempenho estimado em projeto
por 3 fatores:

• Operação e manutenção dos sistemas e das soluções adotadas na edificação –


principalmente a operação incorreta por falta de conhecimento e treinamento do usuário.

• Eficiência de eletrodomésticos, computadores, e outros equipamentos ligados à


tomada – normalmente apenas estimados por média no projeto, e adquiridos a posteriori.

• Comportamento dos usuários do edifício – muito variável, mas pode ser


influenciado por campanhas motivacionais e conscientização.

Em muitos casos, o desempenho medido fica aquém do estimado. O New Building


Institute analisou o desempenho de 121 edifícios certificados pelo sistema LEED nos EUA.
Mais da metade deles apresentou desvios superiores a 25% na intensidade de energia medida
em relação aos valores estimados / modelados em projeto. 30% tiveram um desempenho
significativamente superior, mas 25% tiveram um desempenho medido significativamente
inferior ao projetado (NBI, 2008).

Analisamos 3 exemplos de edifícios de balanço zero. Eles estão localizados em


diferentes continentes, buscam objetivos específicos, mas têm uma abordagem e estratégias
em comum.

Beddington Zero Energy Development, ou BEDZED, é um ecobairro localizado no


distrito de Sutton, a sudeste de Londres. Conta com 82 residências, além de espaço para
comércio, escritórios, serviços e um centro comunitário, com área total de 16.500m². Foi
implantado em 2002 e tem hoje 220 moradores.

BEDZED é um empreendimento carbono neutro, que visa demonstrar a viabilidade de


reduzir a pegada ecológica atual da Inglaterra de 3 planetas para 1,7 planeta. Para isso, aborda
não só construção, como também transporte, estilo de vida, etc... (Bioregional, 2003 e
Bioregional, 2009).

O Research Support Facility é um edifício de escritórios horizontal, e faz parte do


campus do NREL (National Renewable Energy Laboratory) do Departamento de Energia dos
EUA (U.S. DOE), em Golden, Colorado, EUA. O Research Support Facility tem uma
ocupação de cerca de 800 usuários, além de contar com um CPD, totalizando uma área de
20.438m². Sua construção foi concluída em 2010.

O edifício serve de modelo para viabilizar mudança nos paradigmas de edifícios


comerciais nos EUA. É também um laboratório vivo para novas tecnologias, proporcionando
dados em tempo real que permitem aos pesquisadores descobrir oportunidades de melhor
desempenho (NREL, 2012)

O Pearl River Tower é um arranha-céu de 71 andares, com 310m de altura, em


Guangzhou, China. É um edifício de escritórios, com um anexo para conferências, e 5
subsolos, com uma área total de 214.100 m². Sua construção iniciou em 2006 e foi concluída
em 2012 (Frechette;Gilchrist, 2008). Os objetivos que nortearam este empreendimento são:

• Espelhar o comprometimento ambiental do proprietário, e criar um marco


arquitetônico capaz de atrair locadores de alto nível;

• Não gerar impacto no nível atual de geração de energia da cidade

• Ser o arranha céu mais eficiente do ponto de vista energético no mundo.

Os três edifícios têm em comum o comprometimento de seus idealizadores e


empreendedores com os objetivos de balanço zero. Têm em comum também uma abordagem
escalonada por meio de um processo de projeto integrado.

Apesar de situados em regiões de climas diferentes, todos abordaram estratégias de


ganho solar passivo, aproveitamento de iluminação natural e ventilação; avaliaram a
orientação do edifício e o desempenho dos materiais, visando redução de consumo de energia.

Em BEDZED houve uma preocupação maior com o inventário de impactos devido aos
materiais, em termos de distâncias percorridas até o canteiro, utilização de conteúdo reciclado,
reutilização, etc...

No caso do Research Support Facility foi feito um levantamento minucioso dos


equipamentos ligados à tomada existentes na ocupação anterior, havendo diminuição da
quantidade de impressoras, troca do sistema de telefonia, e substituição de desktops por
notebooks quando da mudança para o novo edifício.
No Pearl River Tower, a supressão e substituição de um sistema convencional de ar
condicionado por um sistema de teto radiante permitiu, além da eficiência energética, ganho
de área locável. Por um lado, a eliminação de dutos no entreforro possibilitou a diminuição
do pé direito, com ganho de 5 andares na altura total do edifício. Por outro lado, a eliminação
de casas de máquinas possibilitou ganho de área útil nos andares. A incorporação de turbinas
eólicas no corpo do edifício permitiu economia na estrutura metálica, uma vez que o edifício
passa a aproveitar ao invés de resistir às cargas de ventos.

Foi o único exemplo que adotou geração de energia eólica. A geração fotovoltaica está
presente nos 3 casos.

Viabilidade Técnica e Financeira no Brasil

Espera-se que dobre o consumo da eletricidade utilizada em edifícios no Brasil até


2030. É previsto também um crescimento da geração de eletricidade de fontes fósseis, o que
torna mais relevante a economia de energia do ponto de vista de emissões de CO2.

Por isso, o tema de edifícios de balanço zero é relevante para o contexto brasileiro,
contanto que abordado de forma holística, englobando não só a operação do edifício, mas
também a energia incorporada nos materias, bem como seu transporte e o perfil de consumo
de seus usuários, que é onde a utilização de energia de fontes fósseis é maior.

Em relação ao processo de projeto, existe hoje o conhecimento necessário no Brasil


para desenvolver projetos de edifícios de balanço zero, bem como profissionais que já
trabalham em processos de projeto integrado, como:

• Siegbert Zanettini - CENPES Petrobrás, na Ilha do Fundão

• Eduardo de Almeida e Shundi Iwamisu - SAP Labs, em São Leopoldo

• Sidônio Porto - sede Petrobrás, em Vitória

Ao coordenar o projeto de implantação da agência Granja Viana, do Banco Real, em


2006, também optamos pela abordagem integrada. Não só os arquitetos e engenheiros, como
também o responsável pela manutenção, consultor de materiais, consultor da certificação
LEED, entre outros, participaram desde o início do processo, cooperando na busca das
soluções para uma demanda inovadora. Foi uma estratégia fundamental para obter a primeira
certificação como green building LEED na América do Sul. Isoladamente, o conhecimento de
cada um não produziria o resultado alcançado.

A despeito destas iniciativas pioneiras, os novos profissionais ainda não são


preparados para uma abordagem integrada na formação atual. Falta também familiaridade
com o uso de normas de desempenho quanto à eficiência energética. A mensuração da
eficiência do edifício, através da etiquetagem PROCEL Edifica, somente será obrigatória para
edifícios públicos em 10 anos, comerciais e serviços em 15 anos e residenciais em 20 anos
(MME, 2011: pág.75). Não há níveis mínimos de eficiência energética exigidos em edifícios
hoje no Brasil.

Outra dificuldade advem da relativa novidade que é o uso de métodos de simulação


energética computacional no Brasil. Poucos profissionais atuam hoje neste mercado, voltado
para documentar processos de certificação de edifícios. A simulação como ferramenta de
projeto, para orientar o partido e estratégias a serem seguidas, não é aproveitada, até pelo alto
custo do serviço.

Em relação à construção em si, podemos ver nos exemplos analisados que as


tecnologias utilizadas num edifício de balanço zero são, via de regra, conhecidas e de uso
comum. Neste sentido, são tecnologias disponíveis também no Brasil. Nem todas, no entanto,
são produzidas no Brasil, e recorrem, em maior ou menor gráu, à importação de materiais,
itens e sistemas.

A energia solar fotovoltaica se encaixa neste caso. Apesar do Brasil ter um potencial
solar grande, superior ao de países que exploram mais intensamente este recurso, a geração
fotovoltaica ainda é muito pequena. Sequer é mencionada no Balanço Energético Nacional.
Segundo um estudo sobre a inserção da geração solar na Matriz Energética Brasileira da EPE
(Empresa de Pesquisa Energética), vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), o
Brasil tem hoje uma capacidade instalada de 20 MW, destinada na sua quase totalidade ao
atendimento de sistemas isolados e remotos, onde não há rede elétrica (EPE, 2012).

Algumas universidades e institutos, como o laboratório solar do LABEEE UFSC, o


IEE da USP, entre outros, desenvolvem pesquisa nesta área, e dispõem de instalações
experimentais ou projetos de demonstração. Recentemente, a Ekó house, casa experimental
autossuficiente energeticamente, recebeu a premiação de terceiro lugar na prova de
Sustentabilidade da Solar Decathlon Europe 2012, que se encerrou no dia 30 de setembro, em
Madri.
Dois eventos podem ajudar a viabilização do uso da energia fotovoltaica: foi
sancionado o artigo da Lei n 12.783 que trata da venda de energia excedente pelos
consumidores livres. Isto permitirá dimensionar sistemas fotovoltaicos sem necessidade de
um banco de baterias para armazenar energia, reduzindo o custo do sistema como um todo. O
outro evento é a copa do mundo, em 2014, no Brasil. Todos os estádios receberão uma
cobertura solar fotovoltaica, tornando-se uma vitrine nacional e internacional para este tipo de
energia.

Em relação à etapa de obra, três aspectos são preocupantes para a viabilidade técnica
da execução de um edifício de balanço zero no Brasil:

• Desperdício e resíduos

• Regionalismo e transporte

• Informalidade e falta de normatização

Não só o material ou produto deve ser levado em conta, mas também o processo em
que ele se insere. Por exemplo, a preparação de concreto na obra, a partir de cimento ensacado
e agregados a granel, apresenta um desperdício em torno de 50% para todos os materiais. O
concreto usinado um despercício de 10% (Souza, 1998). Quer dizer, se foi definido no escopo
computar os impactos da fase de construção de um edifício de balanço zero, a compensação
deste impacto será 5 vezes maior para um concreto preparado na obra.

As características regionais e de transporte deverão ser levadas em conta, através da


análise de ciclo de vida dos materiais. A madeira da Amazônia anda 1.700 km em média, de
transporte rodoviário, até chegar ao destino (Agopyan; John, 2011: pág. 49). O quão
sustentável é esta opção? Ligando um tema ao outro, se especificarmos um pré-moldado de
concreto (laje alveolar, por exemplo), consumo menos material para cumprir a mesma função,
e não consumo madeira para escoramento, fôrmas, que teria de utilizar numa concretagem in
loco (mesmo que o concreto fosse usinado).

Apesar do aumento de produtividade e formalidade no setor, mais de 60% da força de


trabalho na construção civil ainda é informal. Há informalidade também na fabricação de
materiais, principalmente nos básicos, como areia, tijolo, blocos. Ao lado da informalidade, a
falta de normatização não permite aferir a qualidade do que estamos utilizando.
Não são obstáculos intransponíveis, mas que exigem uma ênfase maior no
planejamento da obra.

Analisando a viabilização econômica dos exemplos abordados, temos: no caso do


BEDZED, a BioRegional conseguiu um financiamento junto ao WWF para desenvolvimento
do conceito inicial. O distrito de Sutton vendeu o terreno abaixo do preço de mercado para
incorporação. Tanto o sistema fotovoltaico, como a mini usina de energia e calor receberam
subsídios governamentais. As unidades foram vendidas a preço de mercado. Segundo
avaliação feita pela corretora Savills, em 2003, os imóveis tem um valor de revenda atual 15%
superior à média dos imóveis da região (Bioregional, 2003).

No Research Support Facility o custo se manteve dentro da média para edifícios


convencionais do mesmo tipo, como uma estratégia para demonstra a viabilidade e incentivar
a construção de edifícios de alta eficiência energética nos EUA. O proprietário, que é a área
que cuida de eficiência energética e energias renováveis no departamento de energia norte-
americano, sentiu-se na obrigação de dar o exemplo.

O sistema fotovoltaico,no entanto, não faz parte deste custo. Preocupados com o alto
custo inicial de aquisição, e agravado pelo fato do proprietário não poder se beneficiar de
incentivos fiscais por ser uma agência ligada ao governo, buscou-se uma outra solução para
implantação. Foi feito então um contrato entre o proprietário, uma empresa de
desenvolvimento de sistemas fotovoltaicos (Sun Edison), e uma concessionária de energia
(Xcel Energy). O proprietário evita o custo inicial e paga pelo serviço, ou o “aluguel” das
placas. A empresa instala e mantem as placas, podendo usufruir dos incentivos fiscais
correntes nos EUA para este tipo de instalação. A concessionária também se beneficia, pois o
arranjo contribui para sua meta legal de atingir 30% de geração de energia a partir de fontes
renováveis até 2020. É um arranjo que pode ser interessante também do ponto de vista
tecnológico, viabilizando a troca de placas fotovoltaicas por modelos de maior eficiência
(hoje está em torno de 15%, o que é baixo).

No caso do Pearl River Tower, calculou-se um pay back para o projeto de 4,8 anos,
baseado nas seguintes premissas:

• Redução de 58% no consumo de energia para operação do edifício, devido às


medidas de eficiência energética

• Incremento na renda pelo aluguel dos 5 andares adicionais obtidos com a


redução do pé direito

• Incremento na renda pelo aluguel dos andares, devido ao aumento de área útil
obtido com a redução dos espaços técnicos

Fica claro aqui que não só a redução na despesa de operação, mas também o
incremento na renda obtida com aluguel são imprescindíveis para o retorno financeiro.

E no Brasil? Como fica a viabilidade econômica dos projetos de edifícios de balanço


zero?

Isoladamente, o item de maior impacto é o sistema fotovoltaico. Ainda é uma solução


cara, que muitas vezes não se paga. EPE (2012) avaliou tanto a geração distribuída como a
geração concentrada de energia fotovoltaica no Brasil. Esta última é tida como inviável, pois
o preço da geração solar em R$/kwH é 4 vezes mais cara do que o custo da geração
hidráulica. Já na geração distribuída, em que cada usuário tem seu próprio sistema
fotovoltaico, podemos comparar o preço da geração solar com o preço que pagamos pela
energia da concessionária, que vem acrescida de todos os impostos e taxas. Dependendo da
tarifa, torna-se competitivo.

Mesmo em outros países, onde o preço das placas fotovoltaicas vem caindo
continuamente faz anos, o subsídio em suas diversas formas é o ingrediente que permite este
mercado crescer. Na Alemanha, a participação da energia fotovoltaica já atingiu 6% da matriz
energética em 2012, e vem crescendo. No Brasil, esta tecnologia não tem valor estratégico,
porque nossa matriz já é majoritariamente renovável. Sem este tipo de apoio, fica
comprometida a viabilidade financeira de edifícios de balanço zero no Brasil em relação ao
uso de energia fotovoltaica.

Um item de eficiência energética que vem crescendo rapidamente no Brasil é a


iluminação com LED. Apesar de não constar dos exemplos que examinamos, hoje em dia é
uma opção que certamente deve ser analisada. No aspecto de consumo de energia, chega a
obter economia de 50% em relação a soluções convencionais com lâmpadas fluorescentes. O
LED tem ainda uma vida útil 4 vezes mais longa, em média, do que uma lâmpada
fluorescente. Além disso, não tem mercúrio, o que elimina o processo complexo e caro de
descarte correto no final da vida útil da lâmpada fluorescente. Para se ter uma ideia da
logística, só há 8 empresas no Brasil que fazem a retirada e recuperação do mercúrio,
localizadas todas no Sul e Sudeste (Polanco, 2007).
Na elaboração de estimativas de custo e orçamentos para edifícios de balanço zero, é
preciso uma mudança de enfoque para viabilizar o projeto (Twinn, 2003). Normalmente, a
sustentabilidade e a tecnologia são vistas como adendos, ou seja, custo adicional indesejável
para a maioria dos investidores e incorporadores. Por exemplo, recuperação de calor
adicionada a instalações mecânicas convencionais, que economizam energia mas não custos
iniciais. Ou adicionar coletores solares mas ainda precisar do sistema convencional de
caldeira como contingência. Apenas a supressão, ou substituição de sistemas trará economia
de fato. Por isso, novamente a importância de um processo de projeto integrado, também para
a viabilização financeira de edifícios de balanço zero.

Conclusões

Pensando na viabilidade deste conceito para o Brasil, fazemos as seguintes


recomendações, no sentido de contribuir para uma discussão mais ampla deste tema:

• O edifício de balanço zero deve ser urbano. A densidade contribui para hábitos
mais sustentáveis de transporte, e otimiza a infra estrutura das cidades. Neste sentido, os
indicadores devem ser expressos per capita, e não mais por área

• O edifício de balanço zero deve levar em conta os impactos devidos à


produção, transporte e aplicação de materiais, uma vez que têm uma proporção maior de
energia de fontes fósseis incorporada.

• O edifício de balanço zero deve considerar também os impactos devido a seus


usuários. O uso pode mudar o desempenho do edifício, e deve ser monitorado sempre.

• O edifício de balanço zero deve avaliar ainda outros impactos do edifício,


como toxicidade dos materiais, aspectos sociais, de vizinhança, históricos, etc...

Ao colocarmos um objetivo absoluto e não relativo, temos a chance de fazer algo bom,
e não simplesmente menos ruim. A eficiência incremental tem sua importância, mas pode ser
insuficiente para fazer frente às mudanças climáticas. Um edifício não deveria ser menos ruim
do que outro, deveria ser bom: não causar impactos negativos que não possa remediar, mas
apresentar impactos positivos, tanto energéticos como ambientais.

O objetivo deve ser um horizonte, para não acharmos que só o primeiro passo já é
suficiente. Muitas vezes é onde paramos: uma intervenção mais simples, com rápido retorno
do investimento. O zero é um objetivo puro que coloca claramente onde queremos chegar.

Ao colocarmos um objetivo absoluto e não relativo, incentivamos a multiplicidade de


abordagens para alcançá-lo. Algumas certificações ambientais de edifícios e estratégias de
eficiência energética têm foco em itens ou produtos, possibilitando que se faça uma colcha de
retalhos, uma coleção de estratégias desconexas. O foco de um edifício de balanço zero está
nos processos:

• Processo integrado de projeto, que aborda holisticamente o edifício, a interação


e a interdependência entre os diversos sistemas.

• Processo integrado de obra, que controla os impactos causados por esta


atividade, garante a qualidade, e proporciona um ambiente digno para se trabalhar.

• Processo integrado de operação e manutenção, que garante o desempenho do


edifício conforme planejado, e atua positivamente na conscientização de seus usuários.

Concluímos que o tema é relevante para nossa realidade, e que é viável a implantação
de edifícios de balanço zero no Brasil. É desejável inclusive: o Brasil tem como meta para a
próxima década tornar obrigatória a etiquetagem energética de edifícios, e precisamos definir
que níveis de desempenho queremos atingir, com olhos no crescimento da demanda de
energia e na vulnerabilidade das fontes de que dispomos. Precisamos ainda desenvolver para
isso uma visão holística de custos, que permita que este conceito saia da esfera experimental
para uma nova realidade de mercado.
Referências

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TWINN, C. BedZED, in the Arup Journal 1/2003. Disponível em


http://www.arup.com/_assets/_download/download68.pdf Acesso em 17/02/2013
Capítulo 4: Consumo Sustentável
A²E – SISTEMA DE T-COMMERCE (COMÉRCIO ELETRÔNICO
PELA TV)

Alex da Rocha Alves e Elievan Freitas Paulino1

Maceió

2013

1Co – Autor: Alex da Rocha Alves Profissão: Técnico em Informática na empresa CRM - CASA DAS
REGISTRADORAS. Endereço: Rua são Luiz, nº 40. Bairro: Ponta Grossa CEP: 57014-12 Cidade:
Maceió. Estado: AL Contato: alexrochaalves@gmail.com Facebook:
http://www.facebook.com/alex.maceio10?fref=ts

Autor: Elievan Freitas Paulino Profissões: Analista de Suporte na empresa CRM - CASA DAS
REGISTRADORAS. Endereço: Rua das Flores, nº. 710 A. Bairro: Ponta Grossa CEP: 570146-00
Cidade: Maceió. Estado: AL Contato: contato.elievan@gmail.com Facebook:
http://www.facebook.com/elie van.freitaspaulino Ambos graduando em Análise e Desenvolvimento
na FAT- AL 2013. Site da Faculdade: http://www.fat-al.edu.br
Problemática

Atualmente temos três formas de compras:

1. Presencial - Onde o Cliente se desloca até o ponto de venda e ele pode comprar a dinheiro,
cartão de credito , cheque pré-datado ou crediário.

2. Pelo telefone – O Cliente ao ver uma oferta por meio de um canal de informação ele pode
adquirir o produto com um simples telefonema. Onde o produto irá chegar a sua residência e
lá ele define a forma de pagamento.

3. Pela Web – A web proporcionou um grande avanço na área de vendas, surgindo então o E-
Commerce (Comercio pela Internet), onde proporcionou aos clientes (Usuários) uma extensa
área de produtos e ofertas, agilizando o processo de busca por produtos de acordo com a sua
necessidade no momento .

Todas estas formas de compras são bem aplicadas na TV, através de canais como shopping
time, polishop, mega TV, TV shop, entre outros.

Onde queremos chegar com isso?

Este trabalho aborda a necessidade da aplicação de um software voltado na área da TV Digital


baseado no t-commerce (comércio eletrônico pela TV), onde através do controle remoto
podem ser feitas operações de compra de produtos anunciados na TV de forma prática e fácil.
Partindo do princípio de que a TV digital no momento é uma área em ascensão e que os
consumidores querem mais praticidade e confiabilidade em adquirir produtos de boa
qualidade, foi visto que duas áreas distintas (comércio eletrônico e TV) poderiam fundir-se
surgindo num novo meio de se fazer comércio (t-commerce). O mesmo aborda a
interatividade do telespectador com produtos anunciados na propaganda, no qual o cliente
pode visualizar descrição, valor, e caso o mesmo queira adquirir o produto, com um simples
botão, ele será direcionado ao site no qual o produto está sendo ofertado. Levando em conta
que a internet pode não se limitar somente a pc’s, tablets e notebooks, a mesma pode ser usada
para fins de interatividade mediante a TV digital, como já existe aplicações similares
funcionando, um exemplo disso é a Sky, que utiliza de um software onde o telespectador pode
interagir com a TV, mediante a quiz, enquetes, etc., a globo também se utiliza de
interatividade, para àqueles que possuem televisão com sinal digital, a mesma já dispõe a
programação do dia, expondo os horários de seus programas, bem como quiz e enquetes em
eventos especiais, como futebol, entre outros.
Funcionalidade

No momento que estiver passando um comercial qualquer, em sua TV Digital e aparecer


ao lado direito esse símbolo de CONTEÚDO INTERATIVO quer lhe informar
detalhadamente sobre esse produto e que é possível efetuar uma compra, já se possuir o
símbolo no lado esquerdo é PROMOÇÃO, que irá variar estre os 50 ou 100 primeiros
telespectadores que comprarem o produto pela TV.

Tela de Interatividade

Ao clicar com o botão verde de seu controle remoto você aciona o nosso sistema A²E TV
Digital que é um Sistema de T-Commerce.
Tela Menu

Nosso Sistema é bem simples de utilizar, basta apenas cadastra-se uma única vez onde irá
fornecer seus dados, como nome completo, CPF, endereço, telefones, E-mail, e forma de
pagamento semelhante ao de um site de E-Commerce.
Mas como cadastrar com um controle remoto?

Tela 02 Cadastro

Aparecerá em seu monitor de TV uma imagem como essa, onde Você disponibilizará de
um TECLADO DIGITAL, assim pode manusear seu controle remoto, comando de voz ou por
meios de movimentos. Assim será possível cadastrar através das letras do alfabeto Brasileiro.

Já com seu cadastro é possível participar de qualquer promoção relâmpago, que venha
acontecer durante sua programação de TV.

O A²E, tem como um dos objetivos alcançar diversos públicos, entre eles os que não têm
comodidade com os meios de vendas tradicionais. Exemplo: Deficientes Motores e Idosos.
Tela 04 produto

Como aparece no exemplo acima, detalhamos o produto e trabalharemos assim com é


feito hoje no E-COMMERCE (Comercio Eletrônico), apenas iremos direcionar o produto do
site da loja para TV.

Atualmente ainda é um pouco limitado o uso do T-Commerce, pois são poucos os provedores
de TV a cabo e por satélite que configuraram suas redes para permitir a utilização destes
novos recursos de comércio. O T-Commerce também permite exibir anúncios segmentados,
através do uso de um software intuitivo que avalia quais são os produtos que provavelmente
interessem ao telespectador, com base em seus programas assistidos, o que torna este
comércio altamente promissor.
Quem hoje compra em casa através da internet são os futuros consumidores do T-
Commerce. As empresas só estão esperando a base de clientes aumentarem para investir mais
pesado nessa tecnologia.
Concluído a funcionalidade do A²E, qualquer duvidas ou problemas relacionado ao
sistema é possível encontra ou resolve-lo pela sua TV, através de nosso CONTATO que pode
ser encontrado no menu inicial do próprio sistema.
REFERÊNCIAS

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em:<http://www.anatel.gov.br> Acesso em: 15 de Outubro de 2006.

AFUAH, Allan; TUCCI, Christopher. Internet business models and strategies. New
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Markets, v. VIII,
n.2, p. 3-8, apr. 1998.
A importância do descarte adequado do lixo eletrônico na
Universidade de São Paulo
Henry Julio Kupty, Natalia Ramos De Carvalho, Suelen Bicciatto Garcia Ferreira 1
RESUMO

Essa pesquisa é voltada à identificação de um dos maiores desafios da sociedade moderna


brasileira: como fazer o descarte adequado de equipamentos eletroeletrônicos, a fim de evitar os
impactos ambientais ocasionados por seu descarte mal conduzido. Para tanto, este artigo
apresentará a iniciativa praticada pelo Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática
(CEDIR), da Universidade de São Paulo (USP), quanto ao tratamento e descarte sustentável de
lixo eletrônico.
O assunto a ser tratado por essa pesquisa tem alcançado cada vez mais espaço na mídia, que
aborda com relevância as questões relacionadas à sustentabilidade. Para uma gestão eficiente na
área de TI, ações voltadas ao descarte adequado do lixo eletrônico e ao reaproveitamento de
desktops e notebooks em desuso, estão em alinhamento às boas práticas de preservação do meio
ambiente e ao desenvolvimento sustentável.

Palavras-chave: descarte, lixo eletrônico e reaproveitamento.

ABSTRACT

This research is focused on the identification of one of the greatest challenges of Brazilian
modern’s society: How to make proper electronic equipment’s disposal in order to avoid
environmental impacts caused by a misguided process. Therefore, this paper will present the
initiative practiced by the Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR),
Universidade de São Paulo (USP), with regarding to sustainable treatment and disposal of
electronic waste.
The topic to be addressed by this research has achieved increasing attention in the media, which
addresses relevant issues related sustainability. For efficient management in IT area, activities
related to proper electronic waste disposal and obsolete equipment’s reuse are in alignment with
best practises in environmental conservation and sustainable development.

Keywords: disposal, electronic waste and recycling.

1 Henry Julio Kupty – Mestre – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de Vasconcelos, 1222 São
Paulo – SP – henry@fiap.com.br
Natalia Ramos de Carvalho – Especialista – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de
Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP natycarvalho@gmail.com
Suelen Bicciatto Garcia Ferreira – Especialista – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de
Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP suelenbgarcia@gmail.com
Introdução

A constante busca por informações em tempo real vem motivando avanços em tecnologias
que proporcionem mais recursos e benefícios, dado o dinamismo em que o mundo globalizado se
encontra (OGUNSEITAN; OLADELE, 2009, p. 671-679).
Estudos divulgados pelo Comitê Econômico e Social Europeu revelam que a União Europeia
comercializa anualmente 10,3 milhões de toneladas de novos equipamentos eletroeletrônicos. A
previsão é que até o final de 2020, a quantidade de resíduos eletrônicos lançados ao meio ambiente
cresça anualmente entre 2,5% e 2,7%, atingindo aproximadamente 13 (treze) toneladas.
O Brasil também contribui com o excessivo volume de lixo eletrônico, se destacando pelo
consumo compulsivo de eletroeletrônicos, o país produz cerca de 150 mil toneladas de lixo por
ano. Com base nessas estatísticas, essa pesquisa tem por objetivo revelar a importância do descarte
adequado do lixo eletrônico e diferentes iniciativas de tratamento de resíduos eletroeletrônicos,
com ênfase para a que é conduzida pela Universidade de São Paulo.
Os procedimentos metodológicos adotados para desenvolver este artigo se baseiam em
estudo de casos, analisados de forma dedutiva e comparativa, a partir do caso que relata a criação
do Centro de Descarte e Reuso de Resíduos de Informática (CEDIR) pela Universidade de São
Paulo e práticas adotadas por outros países no tratamento do lixo eletrônico, utilizando como
instrumento a análise sistemática dos dados. Para analisar a importância do descarte adequado do
lixo eletrônico, circunscrito à área de Tecnologia da Informação, a presente pesquisa se organizou
em torno de quatro tópicos. O primeiro item apresenta a ameaça que o lixo eletrônico representa
ao mundo, por meio de uma avaliação do processo de produção de equipamentos eletroeletrônicos
e apresentação das iniciativas adotadas pelo Japão para o tratamento desta ameaça, assim como a
campanha desenvolvida pelo Greenpeace para mobilizar as grandes organizações sobre a
responsabilidade pelos produtos desde a fabricação de eletrônicos mais sustentáveis até o seu
descarte. O segundo tópico tem por objetivo relatar a realidade do lixo eletrônico no Brasil, as
legislações específicas voltadas à gestão de resíduos eletrônicos e o que vem sendo feito para
conscientizar a população sobre a relevância do tema na sociedade. Em seguida, é apresentado o
caso do projeto CEDIR, regido pela Universidade de São Paulo no tratamento adequado do lixo
eletrônico e a importância do estabelecimento de um processo de logística reversa na sociedade
brasileira. Por fim, é apresentado o resultado obtido com a análise dos dados, comprovando a
importância do descarte adequado do lixo eletrônico através da iniciativa conduzida pela
Universidade de São Paulo, visto que se permite a disseminação de uma cultura sustentável junto à
população, procurando evitar prejuízos ao meio ambiente, e podendo servir como exemplo para
uma mudança comportamental da sociedade brasileira.

1. A ameaça do lixo eletrônico no mundo

O lixo eletrônico vem se demonstrando uma ameaça mundial que cresce a cada dia,
principalmente pela velocidade com a qual equipamentos como computadores e celulares se
tornam obsoletos antes mesmo de serem vendidos. Isto acontece porque a sociedade atual faz parte
de um sistema de produção linear baseado na extração de recursos naturais, na produção e
distribuição demasiada de equipamentos de baixo custo que são criados para ser descartados,
estimulando a continuidade da cadeia produtiva (THE STORY OF STUFF PROJECT, 2008).
De acordo com Ana Lucia Bonassina (2006, p. 5), a confecção de um único computador
exige a disponibilização de 240 quilos de combustível, 22 quilos de produtos químicos e 1,5
toneladas de água. Do ponto de vista ambiental, esses dados demonstram as duas importantes
vertentes a serem consideradas: a grande quantidade de resíduos utilizados na fabricação dos
produtos e a destinação final dos equipamentos eletroeletrônicos após o término de sua vida útil.
Com base nesse ciclo de consumo, é notória a necessidade de adoção de práticas
sustentáveis que reduzam o impacto de resíduos eletrônicos no meio ambiente. Os tópicos
apresentados a seguir relatam algumas práticas que se demonstram mundialmente eficazes na
gestão desses resíduos. Conforme Baroni (1992), a definição de desenvolvimento sustentável é
muito ampla e genérica. Nesse contexto apresentado no estudo a seguir, o conceito de
desenvolvimento sustentável alinha-se mais à estratégia de conservação mundial, através da
conservação de recursos.

1.1. As práticas de tratamento do lixo eletrônico adotadas no Japão

Um dos maiores desafios enfrentados pela humanidade é resultante do consumo crescente


de equipamentos eletroeletrônicos e pela inconsciência dos consumidores que se preocupam
basicamente com a satisfação de suas necessidades imediatas. Dado o cenário, os japoneses de
Akihabara, distrito central de Tóquio, desenvolveram um método de descarte de lixo eletrônico
que se demonstra uma excelente iniciativa de sustentabilidade ambiental.
O método consiste em orientar os consumidores, desde a infância nas escolas e até mesmo
nas lojas revendedoras, sobre a importância do processo de reciclagem e da devolução dos
equipamentos eletroeletrônicos em centros de descarte espalhados pela cidade. Esses centros são
responsáveis por coletar os equipamentos e encaminhá-los a empresas responsáveis pela separação
de componentes, que por sua vez, identificam os elementos que podem ser reaproveitados.
Dentre os elementos reaproveitados encontram-se carregadores, baterias, CDs de
instalação de programas, copiadoras, impressoras e principalmente, os metais preciosos presentes
nos mais de cinquenta mil celulares que são descartados quinzenalmente (KOVALICK;
ROBERTO, 2010). Os principais metais encontrados são ouro, prata, cobre e platina, elementos de
alto valor agregado presentes em placas de circuito impresso de equipamentos eletroeletrônicos
(SANTOS; FABIO, SOUZA, CARLOS, 2010, p. 12).
Em continuidade ao processo de transformação do lixo eletrônico, Roberto Kovalick
(2010) relata que:
[...] Após a separação dos metais preciosos, o que resta dos equipamentos é colocado num
recipiente e cozido por doze horas a uma temperatura de 500ºC, resultando um plástico
negro que é transformado em óleo combustível, amplamente utilizado pelas fábricas da
região.

Grande parte dos metais preciosos extraídos do lixo eletrônico é utilizada na fabricação de
joias de prata e ouro, que podem ser facilmente encontrados nas lojas de Tóquio. Em Fukui,
província localizada na região oeste do Japão, cerca de 24% da produção de ouro é proveniente do
lixo eletrônico, que, após transformação, é disponibilizado à venda para consumidores finais e
empresas de equipamentos eletroeletrônicos, que voltam a utilizá-lo na fabricação de seus
produtos. É importante ressaltar que os japoneses não recebem reembolso pela devolução dos
equipamentos e nem desconto na aquisição de novos modelos, apenas contribuem com o descarte
adequado de eletrônicos porque eles são conscientizados tanto na infância, através de campanhas
nas escolas, como no ato da compra sobre a importância da reciclagem.

1.2. O comportamento das indústrias verdes

A cada ano, centenas de milhares de computadores e celulares ajudam a compor os 5% de


todo o lixo sólido mundial, quase que o mesmo montante de plástico lançado ao meio ambiente
(Greenpeace, 2012). Com base nessa estatística, o Greenpeace lançou em 2006 a campanha
Empresas Eletronicamente Verde (Greener Eletronics Ranking), a qual tem por objetivo elencar as
empresas que atendem os padrões de sustentabilidade ambiental na fabricação de seus
equipamentos. As exigências estabelecidas no padrão vão desde a redução da emissão de gases na
atmosfera, fabricação de produtos livres de substâncias tóxicas até a construção de um processo de
logística reversa, o que está em total alinhamento com o que rege o novo conceito de
sustentabilidade denominado de “Química Verde” 2.
A campanha é dividida em três grandes temas, sendo eles: Energia & Clima, Produtos mais
verdes e Operações Sustentáveis, dentre os quais levam vantagem os fabricantes que
demonstrarem que seus produtos não possuem substâncias prejudiciais à saúde humana e que
comprovarem redução na emissão de carbono na atmosfera.
O ranking é atualmente composto pelas 15 maiores empresas de equipamentos eletrônicos
do mundo, tendo a Hewlett Packard (HP), Dell e Nokia como as três primeiras colocadas. A HP
lidera o ranking destacando-se pela exclusão de fornecedores de papel ligados ao desmatamento, a
Dell (vice-campeã) destaca-se pela criação de política de reciclagem em países que não possuem
uma legislação específica e a Nokia pela estratégia de redução de consumo de energia dos
equipamentos.
De acordo com a publicação do Jornal Oficial da União Europeia (2009), o Comitê
Econômico e Social Europeu estabelece como diretriz que:
[...] Os fabricantes devem ser motivados a produzir equipamentos eletroeletrônicos mais
eficientes do ponto de vista ambiental, considerando todo o ciclo de vida dos produtos,
desde reparos, desmontagem até a utilização dos materiais descartados. Os fabricantes são
igualmente responsáveis por recolher e reciclar os equipamentos produzidos.

Iniciativas como esta adotada pela União Europeia demonstram a importância da


existência de políticas públicas que incentivem as organizações a se responsabilizarem pelos seus
produtos desde o momento da fabricação até o descarte adequado dos resíduos eletrônicos.

2. O tratamento do lixo eletrônico no Brasil

O mercado brasileiro de informática cresce em um ritmo acelerado, superior a 20% ao ano,


acima da média mundial. Segundo a Companhia de Dados Internacionais (IDC), no primeiro

2 Química Verde é um novo conceito que engloba a utilização de produtos químicos para redução ou
eliminação de substâncias perigosas em equipamentos eletroeletrônicos (IUPAC, 2012).
trimestre de 2011, o Brasil comercializou um número superior a 3,6 milhões de computadores,
sendo que destes 50,5% eram notebooks e 49,5% eram desktops.
Um estudo realizado pela Organização das Nações Unidas (ONU) apontou o Brasil como o
maior produtor per capita de resíduos eletrônicos entre os países emergentes (0.5 kg/cap. ano).
Outro ponto destacado foi a falta de informações e estudos sobre a produção e o destino dado aos
eletroeletrônicos no país. Ainda há poucos trabalhos científicos publicados que tratam sobre essa
questão de sustentabilidade, que é o descarte adequado do lixo eletrônico.
No que tange à legislação, a Lei 12305/2010 (Política Nacional de Resíduos Sólidos) tem
como principal alvo as empresas responsáveis pela produção, importação, distribuição e venda de
resíduos sólidos, cujo acúmulo no meio ambiente possa prejudicá-lo. Em seu artigo 47, proíbe a
destinação inadequada dos resíduos em recursos hídricos e a céu aberto.
1.
2.

2.1. Eventos e Conscientização

Nota-se a presença de algumas iniciativas voltadas à conscientização da população quanto


ao descarte adequado de eletroeletrônicos, porém ainda não promovem a disseminação de
conhecimento a todas as regiões do país.
Em São Paulo foi conduzido pela primeira vez em 2011 um evento chamado de Virada
Sustentável, o qual contemplou entre as suas atividades a coleta de lixo eletrônico. Em apenas oito
pontos da cidade foram coletadas 27 toneladas de equipamentos. Outra iniciativa, também em São
Paulo, que será detalhadamente abordada nesse artigo, é a criação do CEDIR pela Universidade de
São Paulo.

3. Projeto CEDIR – uma solução sustentável ao lixo eletrônico

A Universidade de São Paulo inaugurou em dezembro de 2009 o CEDIR. Trata-se de um


projeto que visa à implantação das práticas de reaproveitamento e descarte adequado de
equipamentos eletroeletrônicos como desktops, notebooks e celulares obsoletos.
O projeto teve seu início por meio de uma coleta de equipamentos eletroeletrônicos em
desuso no Centro de Computação Eletrônica (CCE), feita pelos seus próprios funcionários. Esta
ação foi praticada em junho de 2008 e ficou conhecida como “Operação Descarte Legal”.
Aproximadamente 200 funcionários do Centro também levaram o lixo eletrônico de suas
residências e, como resultado, aproximadamente 5,2 toneladas de materiais foram coletadas.
Todo o material recolhido com essa iniciativa foi avaliado pelas empresas de reciclagem
em apenas R$1.200,00. Pelo volume do material, esperava-se um valor superior ao oferecido.
Sendo assim, para apoiar no entendimento do problema enfrentado, cinco pesquisadores do
Massachusetts Institute of Technology (MIT) vieram ao país no início de 2009. Segundo Tereza
Cristina M. B. Carvalho (2010), ex-diretora do CCE, concluiu-se que, como as empresas de
reciclagem trabalhavam focadas em um único material, o preço pago pelas peças era calculado
sobre a presença daquele material no equipamento e, não necessariamente, em todo o conjunto.
Diante de tais circunstâncias, tomou-se a decisão de criar o Centro de Descarte e Reuso de
Lixo Eletrônico, como uma alternativa para a desmontagem dos equipamentos eletroeletrônicos,
separação e destino adequado dos materiais para empresas especializadas por sua reciclagem.
A iniciativa partiu de um investimento de R$250 mil, alocação de cinco funcionários e a
preparação um galpão de 400m2, o qual tem acesso para carga e descarga de equipamentos
eletroeletrônicos, além de uma área para classificação e separação do lixo eletrônico. A partir de
abril de 2010, o descarte que antes se limitava aos eletroeletrônicos da universidade foi expandido
e o CEDIR passou a receber aparelhos da população. Esta, por sua vez, passou a ter proximidade
com a iniciativa e a ser estimulada pela mídia ao descarte adequado de seus aparelhos.
Conforme a divulgação do CEDIR (2012), três são as etapas pelas quais está estruturada a
sua atuação:
1.
2.
3.
a) Coleta e Triagem: num primeiro momento, os equipamentos são recolhidos e,
através de uma triagem, identifica-se àqueles que podem ser reaproveitados. Os
computadores remanufaturados são direcionados a projetos sociais como
empréstimo, já que se espera o retorno desses aparelhos objetivando o seu destino
sustentável.
b) Categorização: nessa etapa são pesados e desmontados os equipamentos que não
puderam ser reaproveitados na etapa anterior. Os materiais são separados por tipo e
compactados. Dos computadores são separados diferentes tipos de cabos, carcaça
plástica e metais, que podem ser preciosos.
c) Reciclagem: por fim, os materiais categorizados permanecem armazenados até o
recolhimento das empresas de reciclagem, sendo posteriormente reutilizados em
novos processos industriais, caracterizando, desta forma, num ciclo de produção
fechado.

O projeto do CEDIR é o pioneiro no âmbito de iniciativas conduzidas por órgãos públicos.


Alinhado com as melhores práticas sustentáveis, o CEDIR promove o descarte adequado de
equipamentos eletroeletrônicos evitando que estes materiais prejudiquem solos e rios, contribui
com a redução na extração de matéria prima do meio ambiente para a produção de novos
equipamentos, estimula a inclusão digital através da destinação de computadores remanufaturados
a projetos sociais e fomenta a ampliação de mercado para as empresas de reciclagem. Entre tantos
benefícios, vale ressaltar a influência que o projeto exerce junto à população ao disseminar uma
cultura sustentável e servir como referência para uma mudança comportamental da sociedade
brasileira.

4. Resultados da pesquisa

A Universidade de São Paulo, eleita a melhor universidade da América Latina conforme


ranking divulgado pelo QS Top Universities3 (2012) é uma instituição de ensino que tem
visibilidade e a capacidade de estimular mudanças comportamentais no meio ao qual está inserida.
Ao promover novas experiências à população, por meio da condução de uma iniciativa
sustentável, como a que foi detalhada – Projeto CEDIR, a USP propaga conhecimento, permite
que os indivíduos adquiram novas opiniões e mudem de atitude. Em reforço à questão, Meuriane
Aparecida Bento Ferreira (2010) afirma que:
[...] A escola tem essa habilidade de produzir e de disseminar informações com conteúdos
relevantes para a conscientização e mobilização da sociedade em prol do
desenvolvimento sustentável. Há um longo caminho a ser percorrido para que o homem
tenha total consciência do seu papel no mundo moderno, contribuindo para a construção
de um modo de vida sustentável em sua plenitude.

3 QS Top Universities é o órgão responsável pela avaliação de instituições educacionais e pela


divulgação dos rankings das melhores universidades e cursos de graduação e pós-graduação disponíveis ao
redor do mundo.
A iniciativa do CEDIR, sendo a pioneira no setor público e amplamente divulgada pela
mídia, é tratada como referência e pode ser considerada como um estímulo a novos projetos
voltados ao tratamento do lixo eletrônico.
Os resultados positivos do projeto vão além da conscientização sobre a necessidade de
práticas sustentáveis, os ganhos estão diretamente relacionados à redução de aparelhos
eletroeletrônicos indevidamente descartados no meio ambiente.
Conclusão

Com base nos prejuízos causados ao meio-ambiente provocados pelo destino impróprio de
aparelhos eletroeletrônicos e a necessidade de mudança comportamental da sociedade quanto a
esta questão, o objetivo geral da pesquisa foi o de demonstrar a importância do descarte adequado
do lixo eletrônico através de iniciativas como a do CEDIR, projeto este conduzido pela USP, o
qual trata com relevância não apenas à reciclagem dos materiais envolvidos, mas também a
conscientização da população. A pesquisa permitiu identificar que a velocidade com a qual os
equipamentos se tornam obsoletos e o estímulo da indústria para o consumismo demasiado são
fatores impulsionadores dessa ameaça representada pelo lixo eletrônico. Os custos reduzidos dos
equipamentos e o lançamento constante de novas versões dos aparelhos contribuem com o volume
excessivo de materiais descartados sem qualquer tipo de reaproveitamento.
Constatou-se durante a pesquisa uma grande dificuldade na identificação de fontes
atualizadas e o número reduzido de trabalhos científicos publicados que aborde a produção e
destino dado aos eletroeletrônicos no país, dificuldade esta também apontada em estudo divulgado
pela ONU. É importante ressaltar que a reciclagem de equipamentos não é suficiente enquanto a
população não se sensibilizar quanto ao consumo consciente de seus equipamentos. Novos
conceitos de conscientização estão surgindo, tanto por estímulo da indústria, quanto por
instituições não governamentais como Greenpeace, que estimula a fabricação de equipamentos
livres de elementos químicos nocivos à saúde humana através de campanhas ambientais.
Semelhantemente ao CEDIR, a iniciativa dos japoneses de Akihabara, que consiste na
orientação dos consumidores desde a infância sobre a importância do descarte e coleta do lixo
eletrônico, esta também objetiva o destino adequado de aparelhos eletroeletrônicos e contribui
para essa nova tendência voltada à conscientização ambiental.
Os resultados da pesquisa estão em concordância com os trabalhos publicados e
apresentados no referencial teórico, visto que abordam a necessidade de mudança comportamental
da sociedade no que tange ao consumismo demasiado de aparelhos eletroeletrônicos e a
necessidade de iniciativas que promovam a conscientização e descarte adequado dos
equipamentos. O projeto do CEDIR é tratado por todo o material como uma prática sustentável de
sucesso.
Entende-se que o desenvolvimento sustentável é aquele que harmoniza o desenvolvimento
econômico e a conservação ambiental. Sendo assim, é possível introduzir a TI num contexto em
que se busca a continuidade dos recursos disponíveis, por meio de ações voltadas ao tratamento do
lixo eletrônico, ao reaproveitamento de desktops e notebooks em desuso, e por fim, a
responsabilidade dos fabricantes pelo ciclo de vida dos produtos, desde o processo de fabricação
até seu descarte adequado. Práticas estas que estão em alinhamento ao conceito de
desenvolvimento que não esgota os recursos.

Referências

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Consumo sustentável
Um estudo analítico da evolução do consumo verde

Roberto José Almeida de Pontes*

RESUMO

A crescente perspectiva das possibilidades de exaustão dos Recursos Naturais do planeta têm
levado indivíduos e a sociedade responsável a repensar, de forma objetiva, seus estilos, níveis e
tipos de consumo. O abandono de práticas de determinação do status do indivíduo a partir da
avaliação de como este adquire os produtos desejados, a ética, o quê e em quais quantidades este se
apropria dos recursos, levando de forma individual ou coletivamente, a recriar novos padrões e
níveis de consumo. A partir da conscientização do indivíduo, de sua interação com o meio social,
da sua absorção de novos saberes, oriundos da educação ambiental, a prática de mudanças de
hábitos, da forma como os bens são utilizados e são devolvidos à natureza, causando impactos de
menor ou maior dimensão, fez nascer o consumidor consciente de práticas voltadas para o consumo
verde, na pós-modernidade, a utopia do consumo sustentável. Um ideal a ser construído, não tão-
somente pela vontade de um só, mas, do desejo coletivo, egresso de uma conscientização
ambiental. Proporcionadora do ciclo aprender, praticar, analisar, aprender e, voltar a praticar,
incessantemente. De forma, reguladora, disciplinadora e coercitiva o poder público, que por
intermédio de suas leis e normas, invocou para a construção do consumo sustentável, o setor
privado, a sociedade em geral, chamados a participar da construção deste novo futuro, nascido da
união do desenvolvimento com o meio ambiente sustentável, locus de equilíbrio, justiça e acesso
equânime aos recursos naturais para todos. O presente estudo analisa as vertentes evolutivas do
Consumo Sustentável. Visando estabelecer como caminho único de um futuro próximo,
equilibrado da relação homem-natureza. Tomando como base a Educação Ambiental, formadora de
uma espiral ascendente nascida da percepção do desastre ecológico, ascendendo para uma
conscientização da necessidade de promoção de novas práticas de produção e consumo; do mitigar
ações consumistas em favor do suficiente e necessário; da preocupação com o economicamente
equilibrado e o socialmente justo. Assim, o presente trabalho reafirma a necessidade de se
promover ações com contornos de autogestão das ações dos cidadãos, que objetivem a prática
comum do Consumo Sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: Consumo, desenvolvimento sustentável, educação ambiental,


ética, responsabilidade.

INTRODUÇÃO

No Brasil, nasce-se com a ideia que este é um país de recursos naturais infinitos, e
para alguns, inesgotáveis. Tamanhas são suas potencialidades que em suas terras
“plantando tudo dá”, conforme os escritos de Pero Vaz de Caminha em carta ao rei dom
Manuel de Portugal em 1º de maio de 1500, expressão que nos leva a entender a qualidade

*
Roberto José Almeida de Pontes, doutorando em Desenvolvimento e Meio Ambiente –
PRODEMA Universidade Federal do Ceará (UFC), bolsista CAPES/DS. E-mail: roberto-
pontes@hotmail.com.
exuberante de sua natureza, de sua diversidade, e assim, tem sido a máxima de geração a
geração.
Para os brasileiros desinformados, a temática de esgotamento, exaustão e limites
dos recursos naturais, soam como algo sem maiores significâncias ou, no máximo, uma
ideia estranha, difusa ou irreal. Notadamente, quando se considera os dados apresentados
pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), sobre a produção de
grãos no período de 1960 a 2010, aponta que no ano base produzíamos 17,2t e no final do
período 150,8t representando um aumento de aproximadamente 774%. (MAPA, 2011).
Para outros países, a utilização dos Recursos Naturais do planeta apresenta uma
diversidade em termos de concepções, p. ex., na agricultura orgânica - sistema holístico de
gestão da produção que fomenta e melhora a qualidade do agroecossistema, a
biodiversidade, ciclos biológicos e atividade biológica do solo. (FAO e OMS, 1999).
Os produtos oriundos da agricultura orgânica proporcionam um consumo
biodegradável. Segundo SÖL - Survey (2001) em vários continentes: Oceania, Europa e
América Latina a opção por esta agricultura é reflexo do “aumento dos custos da
agricultura convencional, à degradação do meio ambiente e à crescente exigência dos
consumidores por produtos isentos de agrotóxicos”.
Segundo (WILLER; YUSSEFI, 2001) a lista decrescente de países com áreas de
produção orgânica/ha (PO/ha) e área total de terras agricultáveis nos anos de 1998 a 2000
por continente eram: Oceania: Austrália 1,62%, 7,6 milhões de área de (PO/ha); Europa:
Áustria 8,43%, 287.900 (PO/ha); e, América Latina: Argentina 1,77%, 3.000.000 (PO/ha).
Entretanto, países como os Estados Unidos possuíam a época referida, apenas 0,22% de
área agrícola destinada à produção orgânica.
De resto, boa parte da humanidade, de uma forma ou de outra, a questão do uso, do
descarte, e em linha direta, aspectos de limites e responsabilidades dos Recursos Naturais
do planeta representam questões distantes ou para serem tratadas em outro momento.
Embora, de forma insipiente, o mundo representado por países desenvolvidos e em
desenvolvimento e parcela da comunidade científica, percebia a questão ambiental de
forma discreta nos anos de 1950s. Porém, com o advento da crise ambiental, o problema
começou a adquirir contornos mais fortes com os acontecimentos provindos de
desequilíbrios ambientais, noticiados pelos desastres ocorridos durante a década de 1960 e
início da seguinte.
Araújo (2008) aponta que, os anos 1960s deram o inicio efetivo a abordagem de
assuntos ligados ao meio ambiente como materiais tóxicos, proteção à camada de ozônio,
biodiversidade, reparos de danos ambientais etc.
A “Primavera Silenciosa”, 1962, de autoria da ecologista Rachel Louise Carson,
marco inicial para a conscientização da necessidade de proteção ao meio ambiente, fez
surgir leis direcionadas para o enfrentamento, e contraponto ao desenvolvimento industrial
inconsequente tido como agente causador de agressões ao meio ambiente.
Avançou a conscientização, com a Conferência da ONU para o Meio Ambiente
Humano, intitulada Conferência de Estocolmo-Suécia, 1972, configurando-se na primeira
reunião de envergadura mundial, dirigida às questões Ambientais, reconhecida como
marco histórico, geradora de diversas Políticas de Gerenciamento Ambiental no mundo
todo.
A Conferência de Estocolmo trouxe à luz, de forma definitiva, questões relativas à
sobrevivência do planeta, como: o incentivo às políticas de desenvolvimento não
agressivas ao meio ambiente; conscientização de mandatários sobre a responsabilidade de
preservação das riquezas naturais de seus países; o dever do homem de proteger o meio
ambiente para a sua geração e as vindouras; declaração de que a fauna e a flora devem ser
preservadas para a sobrevivência da vida no planeta elegendo-as como patrimônio da
humanidade, dentre outras.
Naqueles tempos, a crise ambiental tinha como principal ator e causador, o
crescimento demográfico dos países em desenvolvimento, a partir das grandes demandas
sobre os recursos naturais do planeta. Entretanto, os maiores poluidores e degradadores do
planeta, dado os seus modelos de produção, eram os capitalistas do Norte, os grandes
consumidores de energias e recursos da natureza sendo, ainda, os mais poluidores.
A junção entre, o consumo e a produção, e do outro, o governo e políticas
ambientais no âmbito interno ou externo, trouxe uma chamada de atenção para os padrões
de produção, notadamente, para os países do grupo norte-ocidental. O cenário passou a ser
delineado pelas nações ditas industrializadas. Frise-se que diversos países com este status,
a exemplo dos E.U.A. e Austrália não contemplam em suas agendas governamentais
políticas claras de desenvolvimento ambientalmente sustentável, prevalecendo à margem
de responsabilidades registradas pelo protocolo de Kyoto, 1997, p. ex.
Em 1992, o Rio de Janeiro palco da II Conferência da ONU sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento Humano, maior fórum mundial ocorrido, teve como principal tema: O
Desenvolvimento Sustentável e como reverter o processo de degradação ambiental, além
dos eventos, a reunião de chefes de Estado, Cúpula da Terra e o Fórum Global.
A RIO92 produziu documentos importantes - a Declaração do Rio, o Tratado das
ONGs, em especial, a Agenda 21 que comprometia as nações signatárias a adotar métodos
de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Em termos práticos, criou-se
o Fundo para o Meio Ambiente, Global Global Environmental Facility (GEF) objetivando
ser o suporte financeiro das metas fixadas e principal recebedor de aportes do Banco
Mundial, das nações desenvolvidas, liberando recursos para fundos e programas
ambientais.
Porém, após quase dez anos, out/2001, em atividade o GEF não tinha aplicado
sequer um terço de sua meta mínima de US$ 15 bilhões estabelecidos na RIO92 em
projetos de preservação e combate à degradação do planeta.

Do foco na produção para foco em estilos de consumo –

Passou-se a apontar, para a responsabilidade e estilos de consumo das populações,


em particular, dos grandes demandadores de energia e recursos naturais, implicando em
reflexos nas mudanças na estrutura com foco na produção para o foco em estilos.
Responsabilidades e ética no consumo como prováveis culpados pelas agressões sofridas
pelo meio ambiente mundial, implicando que os sistemas de produção focassem em
produtos ecologicamente sustentáveis.
Segundo Santos (1999), a burguesia e seu estilo de vida, mais a mais, o do
proletariado voltado para o desempenho no trabalho, o lazer e o consumo passaram a
desempenhar atividades principais de níveis e tipos de consumo como identificação de
cultura, status e participação nos acontecimentos e atividades da sociedade.
As ópticas visualizadas transcendem aos estudiosos das ciências voltados para o
Meio Ambiente e propostas de políticas ambientais, não se pode deixar ao largo as que
encapsulam o consumo, segundo o que nos ensina Marphy (2001).
Na pós-modernidade, a Internet - World Wide Web (www), possuidora de ilimitada
capacidade de disseminações de informações, de forma inequívoca, tem provocado
mudanças nas relações e prioridades entre as pessoas, coletividade e instituições, públicas e
privadas, desde então.
Assim, as questões envolvendo a vulnerabilidade ambiental, a necessidade de se
adotar novas posturas educacionais de responsabilidade e respeito à natureza, aos biomas, a
ética, a politização dos usos e descartes dos recursos naturais, passaram a ter relevância
fundamental nas agendas de todos, do setor público ao privado, atingindo o cidadão
comum com suas práticas de consumo. Provocando, via produção, os ofertadores de bens.
Então, se faz necessária a busca de resposta para a questão: Como se chegar as boas
práticas de um Consumo Sustentável?
Assim sendo, o tema “Consumo Sustentável” deste artigo apresenta-se como um
ensaio teórico que objetiva investigar os estilos de consumo, o papel dos consumidores
conscientes - enquanto modificadores dos padrões éticos de utilização e descartes dos
recursos naturais, além de formatadores dos modelos de produção de bens e serviços,
notadamente a partir do que se convencionou chamar de Consumo Verde.
Utilizando-se de uma metodologia exploratória e revisional, realizou-se uma ampla
pesquisa documental e bibliográfica abordando diversos aspectos do Consumo Sustentável,
impactos no meio ambiente, incorporação de padrões éticos, responsabilidades de todos a
partir de conscientizações da Educação Ambiental inserida nas políticas públicas em todos
os níveis, incorporando indivíduos, comunidade e setor produtivo a partir do entendimento
das expectativas geradas de conscientizações, percepções éticas de consumo e produção
ecologicamente sustentáveis.

REFERENCIAL TEÓRICO

A sociedade contemporânea tem identificado seus cidadãos, em grande parte, a


partir do que é consumido, o quanto e quando consome, levando a reflexos nas relações
interpessoais e grupais, além de afetar o nível da atividade econômica. Conduz-se o
entendimento de tal avaliação, a elementos que extrapolam as necessidades básicas, indo
além, atinge o desnecessário, o supérfluo e o esbanjador. Suas repercussões são bastante
conhecidas: a degradação ambiental, a exaustão de recursos não renováveis etc.
O ideal almejado é um consumo suficiente para a satisfação de necessidades,
favorecimento do desenvolvimento local, melhoria da qualidade de vida, redução das
injustiças sociais e o alcance do ponto ótimo do Consumo Sustentável.
Antes, o que é considerado “sustentável”? Segundo Sachs (2002) é o que possui
viabilidade econômica – condições econômicas para manter-se ao longo do tempo
alcançando os objetivos estabelecidos; o que promove a igualdade social; o que se
desenvolve a partir do trabalho digno, e que possui responsabilidade ambiental.
O cerne da questão é o deslocamento para a questão das significâncias do ‘como’ se
consome, com inclusões que permeiem impactos, individual e coletivo, no meio ambiente,
valoração das práticas e posturas de consumo. Nesta perspectiva, a entidade
governamental, também, se insere com suas políticas ambientais e, com ela, o mercado -
demandador de recursos naturais.
Uma questão de ordem se apresenta aos agentes econômicos, grupos ambientalistas,
os motivados por interesses particulares, matizes políticas e nos domínios do poder etc.,
uma articulação visando, atrair para os ditames ambientais às suas obediências e
obrigatoriedades na busca de um consumo consciente, responsável e ecologicamente
correto. Naves (2004).
Ainda, as questões de justiça são necessárias para conciliar os direitos de acesso de
todos aos recursos naturais, num contexto de igualdade de direitos em uma sociedade
desigual, mais a mais, aglutinar ambições materiais dos mais favorecidos com os desejos
dos menos afortunados em um contexto maior de sobrevivência e qualidade de vida e bem
estar (RAWLS, 1971).
A análise dos contextos da ética e responsabilidade, pilares da formação do
consumidor comprometido com a realidade presente e proposta futura, tendo em uma
perspectiva pragmática dos problemas socioambientais, ética na relação do homem com
seu habitat a busca de recursos que necessita para viver.
“A ordem ética presente, não como realidade visível, mas como um apelo
previdente que pede calma, prudência e equilíbrio”. Jonas (1992) propõe o Princípio
Responsabilidade ao homem e sociedade a partir da politização de hábitos de consumo,
postura de luta frente aos impactos sofridos pelo meio ambiente, levando o homem a
conscientização da fragilidade do meio ambiente.
Assim, tal princípio, de forma individual, transforma o consumidor responsável em
agente influenciador de outros sujeitos ativos como modificadores do perfil do consumo
inconsequente, para o consumo responsável; ético e sustentável. Portilho (2005).
Consumo Sustentável –

Mas, afinal o que vem a ser Consumo Sustentável? São as iniciativas visando o
atendimento das demandas originadas, tidas como: conscientes, responsáveis e éticas que
ensejam em novas relações com o Meio Ambiente, quer de uso, descarte e eventuais
impactos.
A gênesis do Consumo Sustentável surgiu a partir do que se chamava nos anos de
1970s de “consumo verde” nascido no berço do ambientalismo público, antecessora da
ambientalização do setor privado nos anos 80 e, finalmente, com as preocupações
emergentes originadas a partir dos impactos ambientais provocados pelos estilos de vida e
padrões de consumo das sociedades da década de 1990.

O Consumidor Verde

Configurado como o indivíduo consciente a partir da sua observação, na menor


atitude simples de seus hábitos de compra, necessidades de avaliações detalhadas em suas
escolhas, onde e como estas poderiam impactar o meio ambiente.
Descobriu-se, no consumidor simples, atributo de quem tem atitudes simples, opta
por produtos naturais, sem sofisticações de preparos, em oposição a outro consumidor que
prefere produtos mais elaborados com maior consumo de recursos em sua preparação,
regra de vezes, causando maiores impactos ao meio ambiente.
A partir do consumidor simples surgiu o Consumidor Verde voltado para questões
muito além da relação custo X benefício ou custo X qualidade, outras questões que diziam
respeito a vertente ambiental.
Murphy (2001) aponta a nova posição de opção de compra exercida pelo
Consumidor Verde, o aumento nos preços dos produtos através da absorção do custo
ambiental dos bens produzidos nas empresas ofertadoras, assim produtos antes alcançados
por uma camada de consumidores, deixaram de serem atingidos, transformando o perfil de
consumo em status elitista.
Assim, o Consumidor Verde assumiu o seu poder decisório entre opções de
consumos, tal atitude e posicionamento levaram-no a aglutinar consumidores optantes por
produtos não agressores ao meio ambiente.
Poderes sobre decisões de consumo, quando exercidos individualmente,
comumente, nenhum impacto causam nas matrizes de produção, tecnologias, e matérias
primas nas empresas. Entretanto, o que se viu, foi uma conscientização coletiva,
provocando real percepção das indústrias sobre a mudança em curso na demanda de seus
consumidores.
Na verdade, a conscientização coletiva ocorre a partir de novos arranjos sociais, um
novo modelo que segundo Boltanski, 2004, “não pretende oferecer uma imagem do mundo
tal qual ele é, mas representar a base normativa dos nossos julgamentos”. Assim, a nova
postura coletiva é fruto de como se passou a se enxergar a questão do consumo e da
produção.
“Trata-se de apreender como, na prática, a legitimidade é construída, e como um
universo caótico com seus fortes e seus fracos são substituídos por um mundo mais
ordenado, compreendendo os grandes e os pequenos” (Boltanski; Chiapello, 1999, p. 628).
Portanto, a partir da Educação Ambiental adquirem-se elementos de conscientização do
que se consume, de forma progressiva e ampliada, tal perfil de consumo e suas
consequências nos setores produtivos de oferta de produtos ecologicamente corretos.
Entretanto, o cenário apontava para o Consumidor Verde como responsável pelo
Meio Ambiente, deixando de fora o setor produtivo e o Governo.
Apesar de eficiente, os novos consumidores, foram transportados para o outro lado
da equação, embora, longe de ser uma solução satisfatória. Uma visão aproximada da
realidade mostrou que, o embate com a tecnologia não seria a resposta do impasse. Nessa
altura, outras parcelas da equação passaram a ser vistas como fundamentais: a distribuição
dos produtos, antes, os processos de produção de bens nas empresas.
As relações dos Consumidores Verdes passaram a apresentar deficiências de
solução para o problema da agressão ao meio ambiente, não bastavam atacar os tipos de
utilização, dos modos como os recursos naturais estavam sendo absorvidos, mas, agregar
as vertentes do quantum e níveis de acesso a bens ambientais, sua distribuição e justiça
social.

O novo Consumidor e seu Consumo Sustentável –

O deslocamento das responsabilidades e éticas de consumo trouxe para a cena


principal, o poder regulatório governamental, interferindo e dando acesso aos que estavam
alijados do direito de consumir. Estavam criadas as condições para o surgimento do novo
Consumidor e seu consumo.
Mas, como desatar o nó criado pelo desenvolvimento e o meio ambiente? Conciliar
os interesses curtidos pelas correntes políticas, sociais e econômicas da sociedade, a partir
do consumo e produção? A resposta poderá estar nas lições de Guimarães (2001) que
afirma que a ocorrência do desenvolvimento dar-se-á em uma perspectiva além da
acumulação de riquezas, gerando o nascimento de transformações na qualidade de vida das
pessoas compreendido entre vertentes socioculturais e espirituais.
O promotor dessa sustentabilidade materializa-se a partir de um consumo
consciente, ações que objetivem iniciativas mais justas com a sociedade. Sua tese é ativada
pela percepção de valor, pela relação entre o coletivo e o individual, do presente e sua
relação direta com o futuro, em um cenário onde o consumo é sua ferramenta de
transformação, em consonância com os dizeres de Dinato (1998).
Entretanto, uma sociedade possuidora de uma consciência que possibilite uma
qualidade de vida sustentável parece ter, ainda, características de sonhos, até porque ainda
não engendrou um consumo que não fosse atrelado a consequências nas relações sociais do
indivíduo e impactos ao meio ambiente.
De qualquer forma, o Consumidor Consciente ao adquirir seus bens provocará
absorção de recurso natural, e ao descartá-lo estará causando alteração no meio ambiente,
causando Externalidades - quando um indivíduo influência o bem-estar de outra sem que
pague ou receba qualquer compensação por aquele feito. Mankiw (2006).
Ocorre Externalidades quando se altera o interesse da sociedade nos resultados de
um mercado, incluindo bem-estar das pessoas e o estado natural ambiental.

Porque os compradores e produtores negligenciam os efeitos externos de


suas ações quando decidem quanto demandar ou ofertar, o equilíbrio
falha em maximizar o benefício total da sociedade como um todo.
(MANKIW, 2006).

O Consumidor Consciente tem a possibilidade de optar quanto consumirá o que


deseja; de quem adquirirá; e, como se descartará após uso. Assim, tem sobre si as
responsabilidades e consequências, provocando externalidades positivas quando benéficas
ou negativas quando nefastas. Exercendo livremente as possibilidades de contribuir para as
condições socioambientais e de desenvolvimento de acordo com sua consciência.
Embora se possa pensar que o consumo consciente conduza à sustentabilidade -
iniciativas que busquem atender as necessidades atuais, sem comprometer o futuro das
próximas gerações, e ainda, estejam relacionadas ao desenvolvimento econômico e
material, não agressivas ao meio ambiente, usando os recursos naturais de forma racional
favorecendo suas existências no futuro.
A projeção do consumo individual sobre o coletivo, embora não se contraponha
como visto nos novos arranjos sociais, lembrando (BOLTANSKI, 2004), apenas, pode-se
inferir que toda sustentabilidade seja consciente abrangendo responsabilidades de todos.
Críticas de diversos autores sustentam tais afirmações, na medida em que,
sustentam que tal conscientização poderia motivar indivíduos a, de forma consciente,
excederem em seus consumos, levando-os a caminhos irresponsáveis sócios-
ambientalmente. Mais a mais, uma leitura da equidade entre consumidores e produtores
poderiam ensejar a questões de distribuição, justiça e acesso aos recursos naturais
disponíveis. Feldman e Crespo (2003).
Embora se reconheça a importância das iniciativas do conjunto de consumidores
em prol do meio ambiente, vale lembrar a importância das ações públicas governamentais,
políticas ambientais e impactos, p. ex. as aplicadas em infraestrutura: estradas e metrôs
resultando em menores custos e degradações do meio ambiente.
O Consumo Sustentável para ser compreendido e identificado deve encapsular toda
a gama de produtos e serviços produzidos e consumidos, desde as variáveis de produção e
estilos de consumos, comprometidos com os valores econômico-ambientais de
sustentabilidade, assim, o antes consumo verde cede lugar ao consumo sustentável.
Vale iluminar os elos que ligam a cidadania ao consumo, segundo o pensamento de
Canclini (2006): a primeira enlaça-se nos estilos de vida dos cidadãos, onde já não é
possível estigmatizá-lo com as marcas da inocência ou ignorância. Quanto à segunda, as
necessidades e interesses gerados pela sociedade constroem os perfis de seus consumos.
O Consumo Sustentável é um processo que permeia atitudes de quem se vê
cidadão, após um ensino-aprendizado das questões ambientais e aspectos econômicos
autossustentáveis, em um processo de absorção e posterior produção empírica do
conhecimento.
As interações do meio ambiente com a economia passam pela Educação Ambiental,
rompendo com os paradigmas impostos por retóricas sem práticas transformadoras de
padrões de consumo.
Neste tocante, Freire (1996), ensina no modelo da Educação Ambiental critica, seus
discípulos são expostos a uma recorrência entre o campo teórico das ideias e o das ações,
retornando ao primeiro e de volta ao segundo num movimento de espiral ascendente e
incessante de construção e reflexão, vieses de sensibilidades afetivas e capacidades
cognitivas, no que colabora os pensares de Carvalho (2004).
Percebe-se na proposta da Educação Ambiental, a criação do grupo social de
praticantes de um consumo sustentável. Uma tentativa de compreensão do impacto do
consumo no meio ambiente, e daí, buscar caminhos de transformação visionária do mundo
que se pretende criar.
Nesta perspectiva, o grupo necessita autogestar, para a promoção da equidade
social, existindo, um vetor político atuante em seu meio, cujo objetivo final é o de intervir
e modificar a realidade social. Demo (2000).
Vale dizer que autogestão é a administração por meio de um grupo de indivíduos,
engloba aspectos relevantes do cooperativismo, semanticamente, permeia a
democratização das práticas sociais que estejam comprometidos com algum projeto,
empreendimento, com fins previamente determinados e objetivos claramente definidos.
Albuquerque (2003).
A autogestão demanda, outra direção social e política, como fruto do próprio
processo de auto-organização, complementam Faria, Dagnino e Novaes (2008).
Segundo Freire (1996) quanto ao formando de saberes, “(...) se convença
definitivamente de que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades
para a sua produção ou sua construção”.
Ainda, Freire (2007), “(...) ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os
homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”, assim, a troca de saberes e
experiências, leva-os a se identificarem uns com outros, de forma, a conduzir-se a
objetivos comuns, metas iguais, e daí, através da união do conhecimento, reunirem forças
visando o bem-comum, ao Consumo Sustentável.
O consumidor deve-se perceber cidadão participante, cônscio do dever e papel de
exercer direitos sócio-políticos adquiridos, práxis formadas a partir de uma Educação
Ambiental norteada por políticas públicas que apontem para uma convivência harmônica
com o meio ambiente, ou seja, ecológica e economicamente sustentável.
Apoia tal participação o Relatório da Rede Interamericana para a Democracia:

Participar es ser parte, tener parte, tomar parte, y esto implica três condiciones
básicas: involucramiento, compromiso y sentido de identidad. La participación
tiene como fin influir, pero influir en los procesos de toma de decisiones que de
alguna manera se vinculan con los intereses de los participantes y los recursos
que la sociedad dispone para ello (RID, 2005).

Além disso, as práticas de Produção, Consumo e Preservação Ambiental têm na


Capacidade de Suporte suas fronteiras de sustentabilidade, que diz respeito ao nível de
população e consumo que pode ser sustentado pela base de recursos naturais disponíveis.
Harris (2006).
Por outro lado, Holling (2001) se posiciona, semanticamente, com a resiliência –
capacidade (física, biológica, política, social e psicológica) para enfrentar, vencer e ser
fortalecida ou transformada por experiências de adversidade dos sistemas naturais em
coevolução com os sistemas socioeconômicos. Grotberg citado por Melillo; Ojeda (2005).
O Consumo Sustentável deverá ser empreendido pelo consumo responsável, ético,
visando à preservação dos mananciais hídricos, das terras, paisagem, ar, para a garantia da
atual e futuras gerações que deverão cobrar da atual, a natureza que herdarão, fauna e flora,
inclusive.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Norteado pela evolução dos hábitos de consumo, suas motivações, percepções


éticas de responsabilidades e estilo de vida, verificou-se a viabilidade, mais ainda, a
necessidade de garantir a vida do planeta e a sobrevivência do ser humano, a partir da
absorção dos fundamentos da Educação Ambiental como forma de conscientização das
urgências de se abandonar estilos de consumos baseados no supérfluo, do excessivo e do
desnecessário, causador de agressões ao Meio Ambiente, originado do aumento do
consumo, nem sempre consciente e necessário.
Incorporam-se às necessidades, motivações e percepções antes apontadas, o
consumo de produtos reciclados e, ou oriundos de uma geração de energias limpas e
renováveis de forma contundente a se poupar e preservar os recursos naturais disponíveis.
A partir do arcabouço teórico-metodológico evolutivo apresentou-se um estudo
teórico das mudanças nos estilos e conscientizações, de forma a reformatar o modelo do
consumo presente em outro que contemplasse as questões de ordem preservativa do meio
ambiente.
O presente trabalho realizou análises da evolução dos pensares sobre o estilo de
consumo do indivíduo e da sociedade pós-moderna, como usa, como descarta os recursos
naturais utilizados nos padrões de hoje.
Verificou-se a necessidade da presença do Estado como agente disciplinador e
ordenador do direito de cada um, de indivíduos, de empresas e do próprio governo na
busca consciente, socialmente responsável, tanto do ponto de vista do consumo produção.
Avaliou-se que, já não é mais possível a omissão, o desleixo com as questões
estudadas, de forma a se levar a crer que os recursos não são escassos, como se nada
tivesse a haver, tratando-se, de forma superficial a gravidade presente. Urge que se cuide
dos estandes naturais atuais, de forma responsável, crítica, ética, e, sobretudo,
consequentes.
A partir do que se vê hoje, dos hábitos dos consumidores, do Consumo Sustentável,
das mudanças nos modelos de produção, alcançando, modos eco ambientais, via Educação
Ambiental é que, aprendendo com os fatos já ocorridos nas catástrofes, desastres, do
compartilhamento de dados, informações é que se poderá antever o futuro da humanidade.
O artigo mostrou que a partir da evolução da conscientização, acesso aos meios de
estudos, Educação Ambiental, da relação interativa entre o indivíduo e a sociedade
organizada que é possível tornar realidade as boas práticas de um Consumo Sustentável.

ABSTRACT

The prospect of increasing possibilities of exhaustion of the planet's natural resources have led
individuals and society responsible to rethink, objectively, their styles, levels and types of
consumption. The abandonment of practices for determining the status of the individual from the
evaluation of how it acquires the desired products, ethics, what and in what quantities this
appropriates resources, leading individually or collectively, to recreate new standards and levels of
consumption. From the individual's awareness of their interaction with the social environment, the
absorption of new knowledge, coming from environmental education, the practice of changing
habits, the way the goods are used and are returned to nature, causing impacts smaller or larger,
birthed the conscious consumer practices for green consumption in postmodernity, the utopia of
sustainable consumption. An ideal to be built, not merely by the will of one, but the collective
desire, an egress environmental awareness. Imparting cycle learn, practice, analyze, learn, and get
back to practicing incessantly. So, regulatory, disciplinary and coercive public power, which
through its laws and regulations, invoked to build sustainable consumption, the private sector,
society in general, called to participate in the construction of this new future, born of the union
development with sustainable environment, locus of balance, fairness and equal access to natural
resources for everyone. This study analyzes the evolutionary aspects of sustainable consumption,
namely the environmental, the economic and the social. To establish as a single path near future,
balanced relationship between man and nature. Based on Environmental Education, forming an
upward spiral of perception born of ecological disaster, amounting to an awareness of the need to
promote new means of production and consumption, the mitigating actions in favor of consumerist
sufficient and necessary; concern for the economically balanced and socially just. Thus, this study
reaffirms the need to promote actions contoured self-management of citizens' actions, aimed at the
common practice of sustainable consumption.
KEYWORDS: Consumption, sustainable development, environmental education, ethics,
responsibility.

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Eventos Lixo Zero

José M. Furtado 1

Resumo

Os resíduos sólidos urbanos são reconhecidamente causa de grande impacto ambiental, econômico e social.
A realização de eventos traz novos negócios e investimentos para a cidade mas ao mesmo tempo gera um
impacto de curta duração, significativo e localizado. O desperdício na indústria de eventos é grande, desde o
material usado na montagem de stands aos resíduos gerados pelo consumo dos visitantes. O modelo Lixo
Zero propõe o uso de conceitos já bem conhecidos como o consumo consciente e a economia solidária,
além do estrito atendimento à legislação dos resíduos sólidos. Este artigo comenta esta legislação,
apresenta os conceitos Lixo Zero e Evento Lixo Zero, concluindo com um estudo de caso.

Abstract

Urban solid waste is known by the environmental, economic and social impact it causes. Public events bring
new business and capital to the venue but at the same time generate a significant concentrated impact. The
event industry is a wasting one, from the infrastructure assembly and dis-assembly to the garbage visitors
throw away. Zero Waste purposes the use of known concepts like responsible consumption, social business
and strict adhere to the legislation. This article comments the recent Brazilian solid waste legislation and
presents the Zero Waste, Zero Waste Event concepts, closing with a case study.

Introdução

“A gente tem que romper esse paradigma de que reciclar é coisa de pobre.
Reciclar é coisa de gente inteligente” (Santos, 2012)

O adequado gerenciamento dos resíduos sólidos tem cada vez mais se tornado um importante
instrumento de preservação do meio ambiente e da qualidade de vida do meio urbano, sendo que a
recente aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), define a
responsabilidade de cada cidadão gerador dos resíduos, pela sua correta destinação.
Encontrar um destino sustentável para o lixo tem se mostrado um desafio. Separar os
recicláveis é uma das formas mais divulgadas de participação, mas é preciso fazer mais. Os resíduos
orgânicos também podem ser reciclados e reaproveitados como adubo ou para geração de energia.
Eventos públicos são grandes geradores de resíduos. Desde seus preparativos, passando pela
instalação física, durante o evento propriamente dito, até o desmonte e trabalhos pós-evento, por
todas estas etapas há geração de resíduos cujo perfil varia conforme a etapa, indo desde os
perigosos, Classe I (ABNT, 2004), até um simples papel de bala.

1 José Mendonça Furtado – Engenheiro, especialista em Sustentabilidade e Responsabilidade Social pela UNICAMP, 2009, é
consultor em destinação de resíduos e compostagem. Gerencia projetos socioambientais. Prêmio RAC-SANASA de
Responsabilidade Ambiental, 2010, é sócio fundador da Novaterra Ambiental. josefurtado@novaterraambiental.com.br
A preocupação com os resíduos não é, entretanto, a única que devemos ter quando visamos
tornar um evento sustentável. A intervenção do evento no meio social deve ser considerada e
avaliada de forma que os benefícios sejam maximizados.
Este trabalho apresenta um breve comentário sobre a legislação brasileira para os resíduos
sólidos, seguem-se as definições dos conceitos Lixo Zero, e de Evento Lixo Zero, concluindo com a
apresentação de um relato sobre um Evento Lixo Zero realizado em fevereiro de 2013.

A Legislação Brasileira
O modelo capitalista de produção que adotamos é linear (extração-produção-consumo-
descarte) e se sustenta a partir da exploração sem limites dos recursos naturais, para fabricação em
massa de bens muitas vezes desnecessários, cujo consumo é induzido por maciças doses de
propaganda. O estágio final deste sistema é a geração de um volume incontrolável de uma enorme
diversidade de tipos de resíduos, que tornam a correta destinação de cada um deles numa tarefa
próxima ao impossível. Embora este modelo linear esteja em xeque, a mudança para um modelo
circular no qual resíduos sejam continuamente reusados como insumos, não tem sido de fácil
implantação.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010), Lei 12.305/2010, é um instrumento
que entre outras finalidades, visa induzir os agentes econômicos a adotar práticas que privilegiem o
reaproveitamento dos resíduos. Ela estabelece metas e diretrizes para estados, municípios, empresas
e cidadãos definindo uma hierarquia de responsabilidades. Trata-se de um instrumento legal
inovador e desafiador com grande potencial de alterar, para melhor, o atual cenário dos resíduos no
País. Além da PNRS, o arcabouço legal da área começa pela Política Nacional de Saneamento
Básico (Lei 11.445/2007), e se completa com as Políticas Estaduais de Resíduos Sólidos, e as
legislações e os planos municipais.
A PNRS é inovadora em alguns importantes aspectos: pelo reconhecimento dos resíduos
como “bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania”; pela
introdução do conceito de “responsabilidade compartilhada”, que define o gerador do resíduo como
co-responsável pela sua correta destinação final; e pela definição da “logística reversa”.
A Logística Reversa é um instrumento criado para viabilizar “a restituição dos resíduos
sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos...”
(PNRS, 2010). Trata-se de uma excelente ferramenta de incentivo ao mercado da reciclagem, e
indutora do reaproveitamento de matérias-primas que ainda hoje são descartadas em aterros. Até o
momento foram criadas algumas Câmaras Setoriais (pneus, lâmpadas, embalagens de agrotóxicos,
etc) para definir os meios e as responsabilidades de cada ator no processo de coleta, transporte e
aproveitamento dos materiais, outras deverão ser criadas.
A Política Nacional de Resíduos Sólidos em momento nenhum se refere a “lixo”, e define
dois termos para tratar dos materiais descartados: “resíduo sólido” e “rejeito”. Resumidamente,
resíduos são os materiais descartados resultantes de atividades humanas, e os rejeitos são resíduos
que “depois de esgotadas todas as possibilidades de tratamento e recuperação … não apresentem
outra possibilidade que não a disposição final ambientalmente adequada.” (PNRS, 2010).

O Que é Lixo Zero?


“Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma” (Lavoisier).

A natureza não gera lixo. O lixo é uma criação do homem. O sistema linear de extração,
produção, consumo e descarte levado a extremos numa sociedade consumista e acumuladora,
provoca efeitos danosos ao ambiente e à qualidade de vida da própria sociedade. A adoção do
modelo Lixo Zero é uma entre muitas medidas que podem potencialmente alterar esta lógica,
estabelecendo um modelo que mimetize o comportamento circular da natureza, onde não há rejeito
e o resíduo de um determinado processo é insumo para outros.
Lixo Zero é a prevenção da geração de rejeitos através de ações que possibilitem o reuso,
sempre que possível, dos produtos e materiais, e o reaproveitamento ou reciclagem daquilo que
chegue ao fim de vida. Do ponto de vista estritamente econômico, trata-se de reduzir (no limite,
zerar) despesas com envio de resíduos para aterros, aplicando, de outra forma, recursos no
reaproveitamento de produtos e materiais. Transformando problemas e riscos, em soluções cujo
impacto positivo se reflita não apenas no orçamento do Evento como também na Sociedade como
um todo.
A denominação “Lixo Zero” é muitas vezes questionada, por dois motivos: “lixo” é palavra
banida de toda a legislação brasileira que define os resíduos e os rejeitos; e “zero”, por que seria
uma utopia, uma vez que qualquer atividade humana gera resíduos. Sem discordar deste
argumentos, fazemos uso do termo “lixo” porque estamos nos referindo à somatória dos resíduos e
rejeitos gerados em um evento, além do que, este é um termo de uso comum e causa maior impacto
ao leitor. O termo “zero” é usado por estabelecer uma meta que sempre estará desafiando a
Sociedade em busca de melhores resultados.
Adotar o conceito Lixo Zero exige efetiva mudança de comportamento dos envolvidos, sendo
que a principal alteração é abandonar o hábito de “jogar lixo fora” conscientizando-se de que, na
melhor das hipóteses, o material termina por ser depositado em um aterro. Sua adoção exige um
trabalho coordenado de revisão de conceitos e processos que venha propiciar o máximo
reaproveitamento de todos produtos e materiais não mais servíveis. Lixo Zero tem um forte
fundamento ético, no respeito à natureza, no compromisso com a qualidade de vida da Sociedade, e
na criação de trabalho e renda dignos, sendo ainda um contraponto à cultura do “descartável”.
Estabelecer a meta lixo zero é como definir zero acidentes em um ambiente de trabalho, ou
zero falhas numa linha de produção. Tratam-se de metas de longo prazo que dependem de
criatividade, inovação e persistência para serem alcançadas. Além dos esperados benefícios
ambientais é de se esperar que importantes ganhos econômicos tangíveis sejam alcançados através
da redução do consumo, do reuso e reciclagem de materiais, assim como ganhos intangíveis pela
divulgação na mídia, reconhecimento de consumidores, etc. Melhorias sociais são igualmente
alcançaveis, como o envolvimento e a sensibilização de pessoas, e a geração de trabalho digno e de
renda.
É importante que sejam conhecidas as implicações que a adoção do conceito Lixo Zero trará
ao Negócio, ao posicioná-lo numa cadeia de valor na qual consumir material usado proveniente de
outros processos e fornecedores, torna-se tão importante quanto cuidar dos seus próprios resíduos.
O incentivo ao reuso e reaproveitamento deve se dar nas duas pontas do processo, fomentando um
mercado para o material reusado/reciclado.
O conceito Lixo Zero não necessariamente faz uso da norma ABNT ISO 20121 (ABNT,
2012), não devendo com ela ser confundido. Este conceito, embora o nome possa sugerir, não se
limita a dar correta destinação final a todos os resíduos e rejeitos gerados pelo evento, visa também
implantar práticas sociais voltadas ao conceito de sustentabilidade, como por exemplo, o consumo
consciente, a redução do desperdício de materiais, e a geração de trabalho e renda, pelo uso de uma
visão holística do contexto que considera toda a complexidade social, econômica, ambiental e
cultural.

Evento Lixo Zero

Do ponto de vista ambiental, um Evento Lixo Zero tem por meta o reaproveitamento total dos
produtos e materiais não usados (resíduos) com a consequente drástica redução de rejeitos,
garantindo que tanto resíduos como rejeitos tenham destinação correta. Do ponto de vista social,
devem ser buscadas alternativas que produzam os melhores impactos possíveis. Envolver catadores
de baixa renda no trabalho de coleta e destinação e/ou doar produtos e materiais para entidades
assistenciais, são algumas opções. Como exemplo específico podemos citar a indução da
participação do público em evitar que o material seja jogado no chão, o envolvimento de
cooperativa de catadores na separação e destinação dos resíduos, incentivando a geração de renda e
emprego digno a cidadãos de baixa renda. Já os rejeitos devem ser encaminhados para parceiros que
uma vez executados os serviços emitam certificado.
Um efeito colateral positivo de programas lixo zero é a redução do desperdício de materiais,
graças ao fato de as pessoas uma vez conscientizadas ficarem atentas aos excessos, propiciando
desta forma a redução de novas aquisições, uma vez que a sobra do material não usado fica patente.
O impacto econômico positivo do conceito Lixo Zero, começa pela redução dos gastos com a
aquisição de produtos e materiais, e passa pelo seu uso consciente. A reutilização ou reciclagem
leva a mais economia pela redução do gasto com o envio de resíduos para aterros. Estes resultados
podem ser alcançados por melhor gestão de recursos, auditorias e pela implantação na gestão do
evento, de programa de sensibilização de todos os envolvidos ou intervenientes no evento
(stakeholders2).
Embora não estritamente necessário, eventos Lixo Zero podem se diferenciar no mercado e
obter melhores resultados pela utilização em sua gestão, da norma ABNT ISO 20121. Por ser de
aceita internacionalmente seu uso acresce ao evento a possibilidade de reconhecimento pela adoção
de melhores práticas que não se limitam à gestão dos resíduos. O Anexo I, apresenta um sucinto
relato da norma ABNT ISO 20121:2012.
Com respeito especificamente à gestão dos resíduos e rejeitos gerados, é conveniente que as
etapas que listamos a seguir, sejam executadas:
Definição do escopo – é fundamental definir qual o escopo do trabalho a ser executado. Se
será dedicado aos dias da realização do evento propriamente dito, ou se serão também considerados
os resíduos gerados nas fases de planejamento, preparação e pós-evento;
Diagnóstico inicial – conhecer o perfil dos resíduos e estimar o volume e tipologia a ser
gerada. Caso já tenha havido uma versão anterior do evento, deve-se consultar sua documentação
para obter dados comparativos;
Definição de metas e indicadores – estabelecer o que se pretende alcançar com o projeto Lixo
Zero e como o trabalho será mensurado e avaliado. Manter um histórico que possibilite avaliar
gastos atuais contra os de anos anteriores é fundamental para o processo de melhoria contínua;
Envolvimento das pessoas – criar uma atmosfera positiva na qual todos entendam as metas
estabelecidas e se sintam participantes do esforço comum;
Treinamento e comunicação – são importantes para aprofundar a dedicação dos envolvidos
(stakeholders) e mantê-los a par do que ainda está pela frente e do que já foi alcançado;
Desenvolvimento do Projeto – definir o que será feito e como será a execução durante o
evento. Deverão ser tomadas decisões sobre, mas não limitadas a: redução de compras; reuso de
materiais de eventos anteriores; destinação de embalagens de fornecedores (logística reversa);
definição de quantidade, tipo e localização dos recipientes no evento; destinação a ser dada a cada
tipo de reciclável e aos rejeitos;

2 O termo é comumente usado para designar todos aqueles que de alguma forma interagem ou participam direta ou
indiretamente do evento, sejam empregados, terceirizados, fornecedores, público-alvo, vizinhos, orgãos públicos,
etc.
Divulgação e comunicação – fazer os frequentadores, expositores, patrocinadores conhecerem
e entenderem o que irá ocorrer e como devem proceder durante o evento. Identificar claramente os
locais de disposição dos resíduos, demonstrar o que será feito com o material recolhido;
Mensurar e documentar – medir indicadores, anotar suas observações e as sugestões de
outros, os elogios e as críticas. Documentar e comunicar os resultados finais.
A participação e envolvimento de todos os stakeholders é fundamental para o sucesso de um
Evento Lixo Zero. Para isso, é conveniente desenvolver comunicação e divulgação específicas para
cada grupo informando claramente as ações esperadas e os objetivos finais a serem alcançados. Os
frequentadores são um grupo ao qual deve-se dedicar um trabalho de sensibilização específico. Sem
seu envolvimento todo o trabalho anterior e posterior serão prejudicados. Programas de
sensibilização realizados durante o evento podem produzir bons resultados. Ao fim do evento,
patrocinadores devem ter acesso aos números para que percebam o valor agregado à sua própria
imagem por terem se associado ao evento.
Eventos Lixo Zero são agentes transformadores do meio social, agregam valor à imagem de
organizadores, patrocinadores e da localidade onde é realizado. O processo de sensibilização que
lhe é inerente, tem o poder de induzir alterações no comportamento daqueles diretamente
envolvidos na sua realização e, principalmente, do público-alvo frequentador. A solução dada à
destinação dos resíduos pode transformar vidas ao dar suporte a entidades ou gerar renda para
cooperativados, por exemplo.

O Evento Carnaval Barão Limpão3

Este Projeto, foi levado a efeito em fevereiro de 2013, no distrito de Barão Geraldo, em
Campinas, SP. O distrito tem cerca de 60.000 moradores e uma significativa população flutuante
composta por estudantes, funcionários e professores da UNICAMP (Universidade Estadual de
Campinas). Nos 05 dias de carnaval há desfiles de blocos e bandas pelas ruas do bairro central, o
que tradicionalmente deixa as ruas sujas incomodando moradores e o comércio local, uma vez que a
limpeza só é feita na manhã seguinte pela empresa responsável pela coleta urbana.
Foi constituído um Grupo Gestor composto pelo Autor, um representante dos Blocos e dois
voluntários. Um estudo para o diagnóstico inicial mostrou que o perfil do material irregularmente
jogado nas ruas é quase totalmente composto por latas de alumínio e garrafas de PET, além de
filmes plásticos e papelão de embalagens. Há uma quantidade marginal de garrafas de vidro cuja
comercialização é proibida nestes dias. Todo este material, embora seja 100% reciclável, caso

3 - A denominação Carnaval do Barão Limpão, se refere a um personagem imaginário que comanda


o carnaval de Barão Geraldo. O mais limpo que já se teve notícia, como o próprio Barão define.
jogado no chão é recolhido por varrição das ruas e uma vez contaminado por outros materiais,
termina por ser destinado ao aterro sanitário. O mesmo estudo mostrou que uma reivindicação
recorrente dos organizadores da festividade junto a Prefeitura, e que não vem sendo atendida, é a
colocação de recipiente coletores em quantidade suficiente.
Já era do conhecimento do grupo gestor que a cooperativa de reciclagem localizada no distrito
(Cooperativa de Reciclagem Barão Geraldo – CooperBarão 4) estava circunstancialmente desativada
há meses por falta de local adequado para a triagem dos materiais, sendo que alguns de seus
membros estavam sem trabalho.
A definição da meta para o Projeto passou por discussões sobre a capacidade operacional do
grupo gestor, o tempo (apenas 15 dias) e os recursos disponíveis. Foram definidas como metas
principais a redução a zero do material recolhido por varrição, contando com a participação da
CooperBarão na coleta e destinação dos recicláveis, como forma de apoiá-la expondo à sociedade
sua situação e gerando renda no curto prazo. Como indicadores foram eleitos: 1) quantidade de
plástico, papelão e latas de alumínio recolhidas e encaminhadas para reciclagem, 2) quantidade de
material recolhido por varrição, e 3) melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores da
CooperBarão.
Para os voluntários do grupo gestor do Projeto, seus esforços iam além de evitar que os
resíduos fossem parar no aterro, trabalhavam com o propósito de que o Projeto fosse um indutor da
transformação:
 da consciência socioambiental e da participação cidadã dos frequentadores do evento;
 da realidade do lixo espalhado no chão durante o evento e que a seguir precisa ser catado por
um trabalhador marginalizado, ou ser varrido no dia seguinte;
 da realidade subserviente do indivíduo “catador de latinhas”;
 da realidade da CooperBarão, momentaneamente sem local para trabalhar.

O planejamento do Evento passou pelo levantamento dos stakeholders e seu envolvimento,


descritos a seguir:
Vendedores ambulantes de bebidas – acompanham o desfile dos blocos, descartam sacos de
gelo, filmes plásticos e papelão de embalagens das bebidas, deixando um rastro de material jogado
ao chão;
Vendedores de alimentos – são mais organizados, estão sujeitos a fiscalização, e mantêm
4 A CooperBarão é uma das 14 cooperativas de reciclagem existentes em Campinas. Fundada em 2002 com o objetivo
de através do reaproveitamento do material advindo da coleta seletiva municipal, propiciar trabalho digno para
pessoas de baixa renda moradoras do Distrito de Barão Geraldo. Sua realidade não foge das congêneres a nível
nacional, carecendo de apoio institucional para a aquisição de equipamentos e profissionalização da gestão. A
Prefeitura pagava o aluguel do barracão que foi requisitado pelo proprietário. Há 18 meses encontra-se sem local
para trabalhar. Desde janeiro, 2013, contam com apoio de uma Comissão de Moradores locais que negocia com o
poder público e empresas uma solução definitiva.
coletores de lixo nas proximidades;
Frequentadores – mesmo quando há recipientes coletores disponíveis em quantidade
adequada, muitos ainda insistem em descartar latas e garrafas pelo chão;
Blocos – responsáveis pela festa, são o foco das atenções dos frequentadores;
Catadores avulsos – pessoas não inseridas no mercado formal que num evento público
coletam latas de alumínio, não se interessando por outros resíduos de menor valor de mercado. Sua
presença é esporádica e incontrolável em um evento público em local aberto;
Cooperativa de reciclagem – composta por catadores formalmente organizados (cooperados) e
que têm capacidade de coletar e comercializar todos os tipos de materiais recicláveis;
Patrocinadores – empresários locais apoiando o evento com materiais, camisetas e lanches;
Poder público municipal – responsável pela infraestrutura geral do evento. Quanto à limpeza
contrata recipientes coletores extras, banheiros químicos, além da varrição e coleta;
Empresa de limpeza urbana – responsável por varrer as ruas e recolher este material e o
depositado nos coletores, destinando-os para aterro;
Voluntários do Projeto Lixo Zero – grupo responsável por fazer a gestão do todo.
Identificados os stakeholders e definidas as metas, foram definidas ações a serem executadas
durante os desfiles de rua, os eventos propriamente ditos. Dois stakeholders foram identificados
como alvos estratégicos das ações de sensibilização e educação: os frequentadores, aqueles que seja
pela falta de recipientes ou outros motivos, acabam por jogar lixo no chão; e, os cooperados,
aqueles que por costume circulam “invisíveis” pelo evento abaixando-se para catar os recicláveis
jogados pelo chão.
A partir desta visão foram definidos os preparativos para os eventos.
Ações nos Eventos Preparativos
Sensibilização dos frequentadores Blocos preparam músicas sobre o tema;
 músicas sobre lixo e limpeza; Fabricar “boneco de Olinda” (Fig 2);
 brincadeiras carnavalescas; Sensibilização e preparação dos cooperados para
 sensibilização feita pelos cooperados. interagir com frequentadores.
Sensibilização dos vendedores Preparar argumentos e material de apoio
 diálogo antes e durante o evento
Posicionamento de grandes recipientes Preparar equipamentos, cartazes, faixas (Fig 3);
coletores em pontos estratégicos, tendo dois Camisetas para identificar os cooperados;
cooperados por perto para interagir com os Solicitar a Prefeitura recipientes coletores;
frequentadores. Sensibilização dos cooperados para a coleta.
Divulgação da situação da CooperBarão Preparar cooperados para explicar o momento por
junto aos frequentadores. que passam e pedir apoio para uma solução;
Definir um local para armazenar provisoriamente o
material coletado.
A figura 1, mostra o cenário do Projeto, os stakeholders (caixas retangulares), suas inter-
relações, assim como o caminho percorrido pelos resíduos. Setas vermelhas se referem a processos
de sensibilização/conscientização, as azuis mostram as interações entre o gestor e alguns dos
stakeholders, e as pretas indicam o caminho dos resíduos.

Figura 1 – Cenário do Projeto Carnaval Barão Limpão

Na fase de preparação do evento foram realizadas reuniões com os cooperados nas quais
dialogamos sobre uma nova postura profissional, diferenciada daquela do catador que anda por
entre as pessoas se abaixando para limpar os dejetos alheios jogados no chão. Argumentamos que
esta relação socialmente anacrônica precisa ser alterada, e trará avanços tanto nas relações sociais
quanto para o meio ambiente.
Ao negociar com a Prefeitura, ficou claro que a questão do falta de recipientes coletores não
se resolveria a tempo para este evento. Foram comprados big bags, sacos de 1 metro cúbico, para os
pontos de coleta da CooperBarão. Os cooperativados receberam camisetas de fácil identificação e
os pontos de coleta também foram claramente identificados.
O Grupo Gestor fez o trabalho de divulgação do Projeto junto a comerciantes da região,
solicitando colaboração para o evento ao mesmo tempo em que explicava a situação da
CooperBarão, com o intuito de obter comprometimento futuro destes grandes geradores de resíduos
com sua destinação para a Cooperativa.
Considerando o estilo do evento, as intervenções junto ao frequentador foram planejadas para
trabalhar de forma lúdica a questão da disposição correta dos resíduos nos locais designados. Foi
criado o Barão Limpão, um “boneco de Olinda” que interagiu com o público infantil e adulto nos
diversos desfiles, incentivando todos a depositar os resíduos nos locais corretos. Os blocos foram
desafiados a criar músicas ou paródias que incentivassem o folião.
Desta forma, durante os desfiles foram realizadas intervenções junto aos frequentadores por
um voluntário trajando o Barão Limpão; Nos intervalos as bandas faziam chamadas convidando
todos a colaborar levando o material para os pontos de coleta, e nos pontos de coleta os cooperados
conversavam com os foliões que se aproximavam para depositar as latas ou garrafas.
Nas manhãs seguintes aos desfiles um voluntário documentava o material varrido nas ruas
antes que fosse recolhido pela empresa de limpeza (Fig 4). A medição destes foi por estimativa de
volume uma vez que não havia como pesar. O material acumulado nos pontos de coleta foi
recolhido e documentado pelos próprios cooperados (Fig 5).
Os resultados relativos ao indicadores estabelecidos inicialmente, foram:
Indicador Total
Alumínio, plástico e papelão para reciclagem 520 Kg ou 13 m3
Quantidade de material recolhido por varrição Em torno de 25 m3
Melhoria da qualidade de vida dos cooperados Boa*
*avaliação subjetiva feita pelos cooperados entre 5 opções: nada, pouca, média, boa e excelente

Os resultados para um Evento Lixo Zero poderiam ser taxados de pífios, já que em termos de
volume apenas 1/3 foi coletado e encaminhado para reciclagem, sendo o restante ainda destinado
para aterro. Entretanto, considerando-se o curtíssimo prazo para seu planejamento e a consequente
falta de suporte mais efetivo por parte da Prefeitura, deve-se inverter a ótica e considerar que 13m 3
de resíduos não foram para aterro, como em edições anteriores do Evento. A medida da qualidade
de vida dos cooperados ficou polarizada pelo resultado financeiro da venda do material, que gerou
em 5 dias o equivalente a 1/3 da retirada mensal de cada um dos 6 participantes. Infelizmente, trata-
se de uma melhora pontual uma vez que passados 3 meses do evento a cooperativa permanece à
espera da definição de um local de trabalho.

Conclusão
Este trabalho comentou a atual legislação brasileira para os resíduos sólidos, apresentou o
conceito Lixo Zero e como este se relaciona com a norma ABNT ISO 20121. Detalhou a aplicação
do conceito Evento Lixo Zero no Distrito de Barão Geraldo, em Campinas, São Paulo, durante as
festividades de carnaval em 2013. Os resultados foram positivos, embora haja muito a melhorar, e
incluem geração de renda para a Cooperativa Barão Geraldo pela coleta e venda do material
recolhido, a consequente redução dos resíduos destinados ao aterro da cidade, e o envolvimento de
comerciantes, de frequentadores dos desfiles, dos blocos carnavalescos e da prefeitura, unidos pela
causa comum do Lixo Zero.
A aplicação do conceito Lixo Zero e/ou da norma ABNT-ISO 20121 na gestão do evento,
pode potencialmente trazer ganhos financeiros e benefícios para os stakeholders, sendo uma ação
tipicamente ganha-ganha. O conceito Lixo Zero pode ser aplicado em eventos de qualquer escala,
sendo inclusive aplicável ao contexto de comunidades, bairros e cidades através de planejamento
adequado e envolvimento da cadeia de interessados.

Figura 2 – O Barão Limpão Figura 3 – Ponto de coleta

Figura 4 – Parte do material varrido Figura 5 – Parte do material coletado

Anexo I - O que é a norma ABNT-ISO 20121 (ABNT, 2012)

Hospedar conferências, festivais ou eventos esportivos, traz benefícios sociais e econômicos,


ao mesmo tempo que gera responsabilidades para a indústria de eventos por possíveis impactos
negativos ao meio ambiente ou à vizinhança. Em anos recentes a preocupação com este impacto
tem aumentado, sendo as Olimpíadas de Londres, 2012, um claro exemplo. Uma década antes de
sua realização, o Reino Unido iniciou um trabalho de normatização com vistas a Eventos
Sustentáveis, que gerou a norma britânica BS 8901. Em 2012 a ABNT, ao mesmo tempo em que era
lançada a norma internacional ISO, publicou a norma NBR ISO 20121, que tomou por base o texto
britânico.
Esta norma define requisitos para o Sistema de Gestão 5 para Sustentabilidade identificando
problemas, impactos, riscos e oportunidades de forma a aumentar as chances de sucesso em
alcançar as metas definidas para o evento. Nela o conceito de sustentabilidade é definido como a
capacidade do sistema de gestão em atender às necessidades do presente sem comprometer as
futuras gerações quanto ao atendimento de suas próprias necessidades. Alguns requisitos citados na
norma: acessibilidade, transparência, integridade, adequação à legislação local, legado, impacto,
etc.
A realização dos grandes eventos internacionais já programados para o País nos próximos
anos, cuja gestão se baseia nesta norma, traz consigo a expectativa de que sua adoção em eventos de
todos os tipos e tamanhos se propague rapidamente. É importante notar que a norma se aplica ao
Sistema de Gestão usado no evento, não ao evento propriamente, e por se tratar de uma referência
internacional, seu uso agrega valor à imagem de organizadores, fornecedores e patrocinadores e ao
Evento como um todo, por reconhecer o comprometimento com o desenvolvimento sustentável.

Referências

ABNT (2004). ABNT NBR ISO 10004-2004-Resíduos sólidos–Classificação. Rio de Janeiro,


ABNT.

ABNT (2012). “ABNT NBR ISO 20121-2012 - Sistemas de Gestão para Sustentabilidade de
Eventos — Requisitos com orientações de uso”. www.abntcatalogo.com.br/norma.aspx?ID=91542
(consultado em 16/11/2012)

PNRS (2010). “Política Nacional de Resíduos Sólidos , Lei nº 12.305, de 2 de agosto de 2010”.
www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2010/Lei/L12305.htm (consultado em 16/11/2012)

Santos, Sebastião (2012), “Reciclagem é Coisa de Gente Inteligente”. http://migre.me/esAGx


(consultado em 14/02/2013)

5 Um Sistema de Gestão é um conjunto de políticas, procedimentos e processos documentados e revisados


periodicamente, visando a melhora contínua dos resultados esperados.
Sustentabilidade:
Reaproveitamento de Resíduos da Indústria do Vestuário

Rutiele Harlos1

RESUMO

A indústria e o comércio do vestuário geram graves impactos ambientais, procurar meios de produção
mais sustentáveis, diminuição da utilização dos recursos naturais, do descarte e reaproveitamento dos
resíduos gerados, tornou-se uma necessidade. Esse estudo procurou identificar os danos causados pela
indústria da moda e apresentar uma nova visão sobre o reaproveitamento de resíduos e gestão
sustentável, buscando contribuir na conscientização ambiental da sociedade como um todo.

Palavras-Chave: Ambiental, Reaproveitamento, Resíduos, Conscientização.

ABSTRACT

Industry and trade clothing generate serious environmental impacts, seek more sustainable
means of production, reducing the use of natural resources and disposal and reuse of waste generated,
it became a necessity. This study sought to identify the damage caused by the fashion industry and
provide new insight into the reuse of waste management and sustainable development, seeking to
contribute to the environmental consciousness of society as a whole.

Keywords: Environmental, Reuse, Waste, Awareness.

1
Designer de Moda, graduada pela Instituição União Dinâmica das Cataratas (UDC), pós graduanda em Gestão e
Desenvolvimento Sustentável pela Cesumar. rutiharlos@hotmail.com
SUMÁRIO
SUMÁRIO..................................................................................................................................3
1.INTRODUÇÃO.......................................................................................................................4
1.REFERENCIAL TEÓRICO....................................................................................................5
1.1SURGIMENTO CONCEITO SUSTENTÁVEL...............................................................5
1.2SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA ECO MODA..........................................................7
1.3IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA INDÚSTRIA DO VESTUÁRIO..8
1.3.1Poluição do Ar............................................................................................................8
1.3.2Poluição da Água e Solo.............................................................................................9
1.3.3Resíduos Sólidos.......................................................................................................10
1.4RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS...............................10
1.4.1Gestão Ambiental: Novo Cenário.............................................................................11
1.5CONCEITO UPCYCLE..................................................................................................12
1.6CONSUMIDORES CONSCIENTES..............................................................................13
2.CONSIDERAÇÕES FINAIS.................................................................................................15
1. INTRODUÇÃO

Sendo sustentabilidade um dos temas mais comentados do século XXI, pretende-se


neste artigo discorrer sobre o reaproveitamento de resíduos da indústria do vestuário como
forma de apresentar novas alternativas de economia financeira e preservação da natureza,
além de comprovar a importância econômica e ecológica de se procurar caminhos alternativos
para o que antes era considerado “lixo”.
Analisando a transformação de sobras de tecidos em novas peças de vestuário,
observou-se primeiramente a falta de informação e conhecimento sobre o impacto desses
resíduos na natureza.
O público em foco é um público consumista e apesar da consciência ambiental
crescente entre eles, ainda não é possível determinar a aceitação deste tipo de conceito, pois
muitos ainda consideram peças desenvolvidas a partir do reaproveitamento de matéria prima
como inferiores as demais.
Desta forma, deve haver uma preocupação latente com os aspectos de design, visto
que o referido consumidor apresenta uma desconfiança derivada do pré-conceito aos produtos
alternativos e sustentáveis.
Sabe-se que atualmente se vive em uma sociedade capitalista, que consome muito e
inutiliza rapidamente os produtos. O projeto tem o intuito de cultivar o reaproveitamento de
materiais da indústria da moda, reduzindo o montante eliminado e a poluição e colaborar na
conscientização sobre o consumo consciente e o desperdício em todos os setores, inclusive em
casa.
1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 SURGIMENTO CONCEITO SUSTENTÁVEL


Em geral a sustentabilidade é considerada um conceito recente e de fato a
sustentabilidade como conhecemos, é. Porém esse tema tão discutido teve seus primeiros
vestígios a partir da silvicultura (manejo de florestas) ainda na Idade Moderna, quando a
madeira era muito utilizada na construção de casas, móveis, aparelhos agrícolas e para o
aquecimento dos lares, as florestas começavam a escassear, especialmente em Portugal e na
Alemanha o que levou a surgir em 1560 na Província da Saxônia a preocupação com a
utilização desses recursos de forma que fosse possível o seu regeneramento, o que recebeu o
nome de “Nachhaltingkeit” traduzindo-se Sustentabilidade.
Na mesma região em 1713, o Capitão Hans Carl Von Carlowitz, insatisfeito com a
exploração das florestas, escreveu um livro chamado “Nachhaltig wirtschaften: organizar de
forma sustentável”, propondo enfaticamente o uso sustentável da madeira, o que levou os
poderes locais a incentivar o replantio de árvores. Carl Georg Ludwig Harting foi outro autor
de um importante livro sobre o assunto “Indicações para a avaliação e descrição das florestas”
propondo o uso dos recursos de forma que as gerações futuras também pudessem conhecer
suas belezas e usufruir de seus benefícios. Na época escolas de Silvicultura surgiram na
Saxônia e na Prússia mantendo o conceito vivo, mas sem grandes avanços.
As discussões foram retomadas com mais afinco na década de 50 com a introdução da
lei do Ar Puro na Inglaterra, onde foram estabelecidos limites para a emissão de poluentes e
os níveis aceitáveis de qualidade do ar, devido à poluição provocada pela Revolução
industrial.
Na década de 60 o ambientalismo ganhou espaço entre a sociedade com o movimento
hippie, tornando-se cada vez mais forte com discussões no cenário governamental como: o
Limits to Growth Report. e a Conferência de Estocolmo, além da criação do Greenpeace.
O primeiro país a perceber a necessidade e a urgência do poder público em intervir nas
questões ambientais, foi os Estados Unidos, com a criação da “Avaliação dos Impactos
Ambientais” exigindo que empreendimentos com potencial impactante identificassem os
possíveis danos ao meio ambiente, utilização de recursos naturais e definissem a manutenção
ou melhoria de padrões à longo prazo. Esse foi considerado um dos marcos para o início da
conscientização ambiental, especialmente entre os governos.
No Brasil, apesar da criação da Sema (Secretaria Especial do Meio ambiente) na
década de setenta, foi apenas em 1981 que criou-se uma lei, estabelecendo objetivos e
instrumentos para a política nacional do meio ambiente. Assunto alavancado pelas
Conferências mundiais sobre meio ambiente, Rio’92, Rio+10, responsáveis por documentos
como: a Agenda 21, Mecanismo de Desenvolvimento Limpo e o Protocolo de Kyoto, até hoje
presentes nas discussões mundiais sobre sustentabilidade e recentemente complementados
pela Rio+20.

1.2 SURGIMENTO E EVOLUÇÃO DA ECO MODA


Não existe data específica ou algum evento que marque o início do desenvolvimento
de moda sustentável, além de serem poucas as publicações sobre o assunto. Porém o que se
pode afirmar é que foi através do movimento hippie, do final da década de 60 e início de 70,
que questões ambientais passaram a fazer parte da vida de um grupo, o que refletiu-se
diretamente no estilo de se vestir dessas pessoas, até hoje lembrados por tingimentos como o
tie-dye, trabalhos manuais presentes não só nas roupas como nas bijuterias e o uso de
sementes de árvores na composição das peças, pois a moda antes de tudo é o reflexo dos
hábitos e idéias das pessoas de uma determinada época.
Aos poucos a moda ecologicamente correta deixou de ser assunto apenas de grupos
alternativos e difundiu-se entre os demais. O avanço da tecnologia contribuiu muito neste
setor, criando novos tecidos menos poluentes no momento da produção e do descarte e mídias
rápidas como a internet, o interesse de grandes marcas no assunto também contribuiu para
maior difusão da idéia, um exemplo foi a marca Adidas com seu tênis feito de cânhamo, a
mesma planta da maconha (Figura 1), que por outro lado também causou muita polêmica,
pela produção da planta ser proibida em países como o Brasil e os EUA.

Figura 1: Tênis feito de fibra cânhamo, marca Adidas.


Fonte: lilianpacce.com.br, acesso em: 06 out.2012

A Goóc é outro exemplo de marca que investiu desde o seu início em 1986 em
produtos de reaproveitamento, levando o conceito sustentável para cada produto seu, na
grande maioria feitos a partir de pneus velhos. Fora do “mundo da moda” temos a Ford, a
primeira indústria brasileira a cumprir as metas do Protocolo de Kyoto e a cumprir as regras
do ISO 14000 (que explicaremos mais a frente), utilizando práticas sustentáveis no interior da
indústria e estudando materiais mais leves e diminuição da utilização de recursos naturais.
Atualmente seja por modismo ou por real preocupação com o meio-ambiente, o
assunto encontra-se presente nas mais variadas mídias e eventos, muitas marcas sustentáveis
surgiram e já existem meios de produção mais limpos, porém ainda muito caros e pouco
conhecidos.
Além de sustentabilidade na produção do produto e nos materiais de sua composição,
existem empresas que procuram criar projetos sustentáveis, o que auxilia no marketing verde
da empresa. Nesse caso tem-se o exemplo da marca Ypê, que desde 2007 em conjunto com a
ONG SOS Mata Atlântica, planta mais de 350 mil mudas por ano de plantas nativas em áreas
degradadas, apresentando relatórios anuais em seu site, como podemos ver na imagem a
seguir.
Figura 2: Projeto Florestas Ipê

Fonte: florestasype.com.br, acesso em: 20 set.2012


Ações como estas citadas acima ajudam o meio ambiente e as comunidades, mas
também criam uma imagem confiável da empresa, podendo ser usadas como estratégias de
marketing para atrair mais clientes, por isso relatórios e dados que registrem as ações são
importantes para a comprovação dos atos.

1.3 IMPACTOS AMBIENTAIS PROVOCADOS PELA INDÚSTRIA DO


VESTUÁRIO
Considerando todo o processo produtivo de artigos de vestuário, até a chegada do
produto nas lojas, é produzida uma infinita variedade de resíduos que poluem o ar, a água e o
solo.

1.3.1 Poluição do Ar
As casas de caldeira onde se queima óleo e lenha, para o funcionamento das fábricas,
depositam no ar grandes quantidades de dióxido de enxofre e CO 2, colaboradores na formação
de chuva ácida e do efeito estufa. Na Grã-Bretanha, por exemplo, que coloca a venda 900 mil
toneladas de roupas por ano, cerca de oito milhões de toneladas de CO2 são gerados.
No Brasil, segundo dados da FBDS 2007 (Fundação Brasileira para o
Desenvolvimento Sustentável) a indústria têxtil é responsável por 0,9% das emissões anuais
de carbono. Além da geração de CO2, existem os aerodispersóides, nome dado às partículas
de gases, vapores ou sólidos presentes no ar, no qual a fuligem de tecidos e algodão gerados
pela indústria têxtil no momento da fiação do algodão, produção de tecidos e corte das peças
são incluídas, responsáveis por diferentes doenças respiratórias e alergias.

1.3.2 Poluição da Água e Solo


A água é outro recurso natural bastante utilizado nas indústrias têxteis, em contexto
mundial o setor consome cerca de 15% da água existente, especialmente nas etapas de
beneficiamento do tecido, o que integra alvejamento, tingimento, acabamento e estamparia.
Nesses processos utilizam-se: amido, proteínas, substâncias gordurosas, surfactantes,
fosfatos, metais pesados, corantes e diferentes outras substâncias, para tingir, fixar ou amaciar
o tecido ou a peça. O maior responsável pela poluição da água nesse contexto é o processo de
lavagem de jeans, além de ser também o mais comum.
Caso a empresa não possua uma estação de tratamento desse líquido utilizado, o que é
bastante frequente, essas águas voltam para suas nascentes repletas destas substâncias,
contaminam a água, os peixes e também o solo a sua volta.
Um bom exemplo nesse caso é a empresa Hering Têxtil S.A, que entre outras ações
sustentáveis, possui uma estação de tratamento que consegue devolver a água captada mais
límpida do que quando foi retirada e do lodo adquirido no tratamento fornecê-lo como insumo
a empresas de cerâmicas, para produção de lajotas e pisos de segunda mão, utilizados em
casas populares.

Figura 3: Estação de Tratamento de água Hering Têxtil S.A.

Fonte: ciahering.com.br, acesso em: 21 set.2012

1.3.3 Resíduos Sólidos


Além dessas substâncias químicas jogadas no ar, na água e no solo, existem os
resíduos sólidos, como são chamados os retalhos produzidos no momento do
desenvolvimento da peça. Segundo a Abit, Associação Brasileira da Indústria Têxtil, no Brasil
são produzidos 170 mil toneladas de retalhos anualmente, 90% deles seguindo diretamente
para o lixo, sendo que em 2011 o Brasil importou 13.477 toneladas de retalhos, para a
produção de barbantes, forros de carros, cobertores e feltro, dependendo do tecido e
composição esses retalhos demoram de 100 a 400 anos para se decompor. O grande problema
é que a maioria das empresas sem instrução, não sabe o que fazer com esses resíduos e acaba
descartando-os inadequadamente.
Nesse contexto também entram todos os outros resíduos gerados pela indústria, desde
linhas, aviamentos, agulhas, até as embalagens, que devem ser pensadas de forma que possam
ser reaproveitadas, reutilizadas ou mesmo biodegradáveis.
1.4 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DAS EMPRESAS
Conforme Moema Viezzer e Tereza Moreira, (2006) a responsabilidade
socioambiental ancora-se no princípio de que tão importante quanto o lucro é desenvolver a
ética (conjunto de valores morais e princípios que norteiam a conduta da empresa com as
partes interessadas) e o respeito com funcionários, clientes, parceiros, fornecedores,
concorrentes, comunidade, governo e meio ambiente.
Durante muito tempo as empresas foram vistas apenas como agentes de geração de
bens de consumo ou serviço e lucros, sendo sua única função social a geração de empregos,
visão compartilhada por Friedman (2003) e muitas pessoas ainda nos dias de hoje. Porém o
fato é que a responsabilidade de uma empresa vai muito além desses fatores, essas
organizações promovem inúmeras trocas com a população regional e partes envolvidas, o que
as leva a uma carga de responsabilidade bem maior do que a percebida pela maioria delas.
Empresas que exercem responsabilidade socioambiental procuram ouvir e negociar
mais com seus parceiros internos e externos, democratizando as relações de trabalho,
simultaneamente também procuram usar de forma mais eficaz os recursos naturais e trabalhar
em prol da comunidade local, o que recebe o nome de Teoria dos Stakeholders. Stakeholders
são todos os grupos que tenham interesse na organização, como: clientes, funcionários,
fornecedores e outros.
O crescimento dessa percepção entre as empresas levou grandes organizações a se
mobilizarem, pois quanto maior o poder, maior a responsabilidade e a pressão, Garriga e
Mellé (2004). Mas no universo corporativo a responsabilidade socioambiental pode ter
diferentes entendimentos, desde apoio e doação de donativos a eventos a incorporação dessas
questões ao meio organizacional, o que de fato caracteriza uma empresa consciente.

1.4.1 Gestão Ambiental: Novo Cenário


A gestão ambiental inclui a reavaliação dos processos produtivos e impactos gerados
pela indústria ao meio ambiente, a medida de transformação ou mesmo construção de uma
nova empresa exige estudo sobre todo o processo produtivo, problemas, variáveis ambientais,
impactos e recursos necessários, para que se possa formular um Sistema de Gestão Ambiental
(SGA), com o objetivo de diminuir os danos causados pela indústria.
O custo para essa reformulação é bastante alto, inclui: planejamento, controle, defini-
ção de objetivos, maquinário diferenciado, matéria-prima menos poluente, entre outros itens,
porém aliar a gestão ambiental ao design de produto se torna um diferencial no mercado e
desperta facilmente o interesse do consumidor, mesmo os menos conscientes.
Com o objetivo de padronizar esse processo existem modelos de gestão ambiental
como o ISO 14000, um conjunto de diretrizes que abrange desde o escritório até a produção,
para possuí-lo é necessário que a empresa cumpra cada uma das etapas estabelecidas no ciclo
PDCA- implantar o sistema de gestão ambiental, avaliar o desempenho ambiental, analisar o
ciclo de vida do produto, realizar auditorias ambientais e a melhoria do desenvolvimento am-
biental e comunicar as metas alcançadas aos “stakeholders”.
Para implantar o ISO 14000 a empresa deve providenciar a aplicação de políticas am-
bientais, treinamento dos funcionários, diagnóstico de problemas e diminuição dos danos am-
bientais por elas provocados. Essa série de normas tem como objetivos: Promover uma abor-
dagem comum a nível internacional no que diz respeito à gestão ambiental dos produtos, au-
mentar a capacidade das empresas de alcançarem um desempenho ambiental e a medição de
seus efeitos e facilitar o comércio, eliminando as barreiras dos imperativos ecológicos, poden-
do ser instituída em empresas privadas ou públicas de diferentes ramos. A rigidez das normas
e custo de implantação tornam o sistema geralmente inviável para empresas de médio e pe-
queno porte.
Já o modelo de Produção Mais Limpa, definido pelo PNUMA, Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente, monitora e controla o desempenho ambiental dos sistemas de
produção, sendo bem menos complexo que o ISO 14000 e mais economicamente viável a
empresas menores.
E só então o Eco Design, talvez o conceito mais conhecido entre os designers, tem
como objetivo o desenvolvimento de produtos e serviços de melhor qualidade, funcionalidade
e desempenho, considerando aspectos como extração da matéria-prima, transporte e
distribuição, ciclo de vida do produto, reutilização e reciclagem dos resíduos.

1.5 CONCEITO UPCYCLE


Conforme as autoras Annika Sanders e Kerry Seager (2009), Upcycle ou Upcycling
significa transformar algo que já está no fim de sua vida útil em algo útil novamente sem que
precise passar pelos processos de reciclagem. O conceito também traz em seu DNA um estilo
de vida baseado na diminuição do consumo, valorização do que está a sua volta e respeito ao
próximo, assim como outro conceito do mundo da moda, a Moda Ética.
O Upcycle surgiu a cerca de dez anos na Europa e hoje já pode ser considerado uma
tendência apesar de não ser muito difundido em território brasileiro. A sua composição, como
dito anteriormente, está totalmente interligada a outro conceito também internacional, a Moda
ética, composta pelas seguintes diretrizes:
• Comércio justo (Fair Trade): Parceria comercial, baseada em diálogo,
transparência e respeito, que promove o preço justo e a garantia dos direitos dos trabalhadores
e clientes;
• Desenvolvimento social: Desenvolvimento da comunidade local, através da
inserção da comunidade aos projetos da empresa;
• Uso de matéria-prima ecologicamente correta: Matérias-primas de preferência
renováveis, obtidas de maneira sustentável, possíveis de ser recicladas, biodegradáveis ou não
prejudiciais ao meio ambiente;
• Valorização da identidade cultural local: Incentivo a produção local e sua
cultura, evitando o excesso de deslocamentos e poluição, além de proporcionar trabalho a
comunidade.
• Processo produtivo limpo: Estratégia que visa aumentar a eficiência no uso de
matérias-primas, água e energia, através da não-geração, minimização ou reciclagem de
resíduos gerados, além da diminuição na quantidade e periculosidade da emissão de
poluentes.
• Serviços que aumentam o ciclo de vida do produto: Formas de evitar o rápido
descarte e compra de novos produtos, exemplo: produtos atemporais.
• Projeção de um estilo de vida sustentável: Incentivo a um estilo de vida menos
poluente, mais consciente e mais humano.
• Produtos de qualidade: Produtos de ótima qualidade e por consequência mais
duráveis, que garantam a satisfação do consumidor.
Esses dois conceitos são amplamente explorados por estilistas europeus da Esthética,
salão de moda ética integrado a semana de moda de Londres, que incentiva a produção de
moda sustentável e comércio justo e já se tornou referência neste nicho. Os estilistas procuram
produzir suas peças nas proximidades evitando o deslocamento e poluição, oferecendo
trabalho a comunidade, também é comum a criação de peças atemporais, prolongando o ciclo
de vida do produto e o uso de materiais e fibras alternativas, menos poluentes.
No Brasil o upcycle tem poucos representantes como empresa propriamente dita. A
mais conhecida dessas empresas é a americana Terracycle instalada no país já há alguns anos,
que reaproveita embalagens de sucos, salgadinhos e semelhantes para fazer mochilas, estojos
e bolsas. A empresa conta com “brigadas” que lhes enviam essas embalagens, tendo um
programa chamado Lixo Patrocinado, onde indústrias que injetam as embalagens no mercado
como: Unilever, Nestlè, Pepsico, Kimberly Clark e Johnson Johnson pagam-lhe para que
gerencie a logística reversa, reaproveitando suas embalagens e ainda recebem royalties, já que
suas marcas ficam aparentes nos produtos.

1.6 CONSUMIDORES CONSCIENTES

São considerados consumidores ecologicamente corretos “aqueles que buscam


conscientemente produzir, através do seu comportamento de consumo, um efeito nulo ou
favorável sobre o meio ambiente e a sociedade como um todo” (LAGES & NETO, 2002).
Hoje é facilmente perceptível a crescente valorização de produtos considerados
“verdes”, apelos como “light” ou “diet” tidos antes como diferenciais perderam espaço para
produtos ou empresas ecologicamente corretas. Porém uma pesquisa recente feita pelo
Instituto Akatu, organização não-governamental, que visa educar para o consumo consciente,
provou que essa mudança de pensamento ainda não afetou de forma significativa o
comportamento de compra do consumidor, que ainda não compreendeu a importância de seus
atos de consumo, tanto no que se refere a poluição, como no poder de interferir ou induzir a
mudança das empresas.
Segundo pesquisas, esses consumidores se revelam bastante céticos a anúncios com
apelos ambientais, por isso é necessário à construção de uma imagem séria e responsável,
para que haja realmente efeito sobre esse consumidor. Outros fatores importantes para que
produtos considerados verdes sejam adquiridos com maior frequência é o aumento da
facilidade de compra, aumento da oferta e em geral preços iguais ou menores aos produtos
habituais. Caso isso não ocorra, muitos optam por atitudes como: utilizar o máximo possível,
reaproveitar, transformar e trocar, itens que devem ser aliados à compra consciente.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A indústria do vestuário é responsável por diferentes impactos ambientais,


provocados desde o momento da produção até o descarte do produto. Tradicionalmente as
empresas não têm preocupação com esses impactos e apresentam dificuldades na mudança de
hábitos, seja por falta de conhecimento, inércia ou dificuldades em definir estratégias para
incorporação da gestão ambiental ao negócio.
Porém com a sustentabilidade em alta e o crescimento da consciência ambiental,
como é possível identificar no aumento de ações em prol do meio ambiente, no crescimento
de blogs e sites especializados no assunto e nos diversos debates sobre o tema, que apontam
nas mídias televisivas e virtuais, os paradigmas começam a ser quebrados e o pensamento
transformado, até mesmo como forma de atrair um maior número de clientes.
A reutilização dos resíduos gerados pela indústria da moda, nesse caso as sobras de
tecidos, conhecidos popularmente como retalhos, é uma alternativa sustentável que provou ser
economicamente viável e de grande benefício ao meio ambiente, pois retira esses resíduos da
natureza, evitando a sua decomposição e por consequência a poluição, além de permitir a
criação de novos produtos com conceito e menor utilização de matéria-prima virgem.
Tendo em mente a sua grande carga de responsabilidade, as empresas podem
contribuir de diferentes formas para o crescimento da consciência sustentável e preservação
dos recursos naturais, trazendo para si a credibilidade diante do consumidor, menor
desperdício de matéria prima e melhores resultados.
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http://www.clicrbs.com.br/especial/rs/donna/19,206,2983871,Produtores-e-grifes-de-moda-
apostam-em-conceitos-sustentaveis.html. Consultado em: 01 set. 2012. 19:30h
Capítulo 5: Ecopolítica
Política de resíduos sólidos do Japão: um modelo a ser seguido pelo Brasil?

Tiago Trentinella∗

Resumo: O Japão tem, há mais de um século, políticas públicas de gestão de resíduos.


Primeiramente, tratou-se de questões sanitárias e do combate à poluição. Hoje, o país objetiva
promover a reciclagem. Os resultados tem se mostrado positivos uma vez que a quantidade de
resíduos vem diminuindo e os índices de reciclagem, aumentando. O Brasil poderia se espelhar
em alguns aspectos da experiência japonesa para elaborar ou avaliar suas própias políticas
públicas sobre o tema. Dentre eles, o planejamento e gestão de longo prazo, o apoio do governo
central aos municípios para implementar tal planejamento, além da criação de um amplo banco
de dados nacional sobre resíduos.
Palavras-chave: Gestão de Resíduos. Política Pública. Estatísticas. Legislação. Japão. Brasil.

Abstract: Japan has been evolving its public policies on waste management for more than one
century. Firstly focused on sanitary issues and pollution control, Japan nowadays targets on
fostering recycling. The results have been proving positive since the amount of waste has been
diminishing and the recycling rates are increasing. Brazil could take some aspects of the
Japanese experience as a model as to elaborate or evaluate its own public policies on such
matter. Among them, the long run planning and management, the central government support
for the municipalities aiming at implementing such planning, and the development of a broad
national database on residues.
Keywords: Waste Management. Public Policy. Statistics. Legislation. Japan. Brazil.

Introdução

A aprovação da Política Nacional de Resíduos Sólidos em 2010 chamou a

atenção para o tratamento que damos aos resíduos sólidos no Brasil. Para avaliarmos em

que ponto estamos e aonde queremos chegar é útil levarmos em consideração o exemplo

de outros países.

 Tiago Trentinella (tiagotrentinella@gmail.com).

Mestre e doutorando em direito pela Universidade de Osaka (Japão). Especialista em Direito Ambiental pela Universidade de São Paulo. Autor de
“Constitution and Perspectives of the Brazilian Waste Policy Law: the Japanese Home Electrical Appliances Recycling Law as a reference” (Osaka Law
Review, No. 282 (Março, 2013) pp. 205 - 233).
No Japão, a dimensão territorial e o adensamento populacional dificultam a

instalação de aterros, que demandam muito espaço. Esses fatores, aliados à carência de

recursos naturais, levaram à criação de um quadro institucional que privilegia a redução,

o reuso e a reciclagem dos resíduos. Esse quadro não se constituiu da noite para o dia.

Foi, de fato, fruto de mais de um século de evolução de políticas públicas.

Este artigo descreverá, em linhas gerais, os três períodos históricos da

legislação de resíduos no Japão. Ainda, serão apresentados os resultados da gestão dos

resíduos comuns e da reciclagem de eletrodomésticos. Finalmente, será demonstrado em

que medida o Brasil poderá se espelhar no modelo japonês para formular suas próprias

políticas públicas sobre o tema.

1. Evolução Legislativa das Políticas de Resíduos Sólidos

Pode-se dividir a história sobre a gestão de resíduos no Japão em três períodos,

de acordo com o objetivo primordial adotado em cada época.

O primeiro período vai de 1900 a 1969. Nesse momento, o foco da gestão é

eminentemente sanitarista. O segundo período vai de 1970 a 1990. Aqui, visa-se

combater a poluição. O terceiro período começa em 1991 e vai até os dias de hoje. É

nesse período que o Japão se volta para a reciclagem (Tanaka, 1999:11).

1.1 Período sanitarista

Com a abertura dos portos japoneses em 1854 (Sautter, 1978:43), o país passou

a expandir o intercâmbio com outras nações. A este fato se atribuíram os surtos de

doenças infecciosas como cólera e peste bubônica no fim do século XIX (Ministério do

Meio Ambiente do Japão, 2001). Estas calamidades alertaram o país para a importância
de modernizar a gestão dos resíduos.

Nesse contexto, foi sancionada a primeira lei de resíduos do Japão: a “Lei de

Eliminação da Sujeira”, de 7 de março de 1900, que entrou em vigor em 1° de abril do

mesmo ano.

A principal mudança trazida pela lei foi converter a gestão de resíduos em um

serviço público, cujo responsável passou a ser o município 1. Inicialmente, o aterramento

direto era o principal tratamento dado aos resíduos (Mizoiri, 2012:128). Em 1930, a

incineração passou a ser obrigatória. No entanto, antes mesmo dessa nova regra, a

incineração, que já era feita em campo aberto, passou a ser realizada em locais próprios.

Um marco desse período foi a instalação da primeira planta de incineração de resíduos

em Tóquio no ano de 1924 (Tokyo23, 2010:45).

A modernização da gestão de resíduos teve que ser reiniciada do zero após a

Segunda Guerra Mundial (Ministério do Meio Ambiente do Japão, 2001).

Com a recuperação do pós-guerra, o desenvolvimento econômico e a

urbanização resultaram também no aumento da geração de resíduos. Como os

incineradores da época não eram suficientes para atender à demanda, descartes no mar

ou no solo se tornaram comuns. Os dejetos oriundos dessa prática atraíram vetores,

como moscas e mosquitos, que ameaçavam a saúde dos japoneses (Ministério da Saúde

do Japão, 1971; Tokyo23, 2010; Ministério do Meio Ambiente do Japão, 2001).

Assim, em 22 de abril de 1954, foi promulgada a “Lei de Limpeza Pública”. O

objetivo primordial da nova lei era promover a saúde pública. Embora os municípios 2,

1 No Japão, o conceito de “município” engloba, via de regra, três entidades administrativas diferentes: cidade ( 市), distrito (町) e vila (村). A lei de

1900 outorgou apenas às cidades como Tóquio e a alguns distritos especiais a responsabilidade pela gestão de resíduos. Ou seja, inicialmente, seu
alcance era limitado (Ministério do Meio Ambiente do Japão, 2006: documento de referência 1).

2 Com a lei de 1954, todos os municípios (cidades, distritos e vilas) do país passaram a ser responsáveis pela gestão dos resíduos sólidos. Esta lei

dispôs, inclusive, sobre a formação de zonas intermunicipais para racionalizar a coleta e o tratamento de lixo. (Ministério do Meio Ambiente do Japão,
2006: documento de referência 1).
continuassem responsáveis pela gestão dos resíduos, naquele momento eles passaram a

poder exigir que grandes volumes de resíduos ou resíduos especiais, tipicamente

oriundos de atividades econômicas, fossem descartados pelos próprios geradores. Esta

foi a primeira vez que se diferenciou o resíduo industrial do resíduo domiciliar comum3.

Na década de 60, a economia japonesa iniciou um ciclo de crescimento

acelerado. O consequente aumento exponencial da geração de resíduos, tanto comum

como industrial, fizeram com que as estações de tratamento, incineradores e aterros

municipais operassem no limite (Ministério da Saúde do Japão, 1971).

Foi nesse contexto que o governo central passou a atuar mais diretamente na

organização da gestão de resíduos, promulgando, em 24 de dezembro de 1963, a “Lei de

Medidas Emergenciais para a Adequação da Infraestrutura Sanitária”. Com base nela, o

Ministério da Saúde elaborou o primeiro Plano Quinquenal que orientou a instalação,

dentre outros, de novas plantas de incineração nos municípios japoneses 4 (Ministério do

Meio Ambiente do Japão, 2001). Fundos dos governos central e provinciais foram

mobilizados para financiar o incremento da infraestrutura sanitária (Ministério da Saúde

do Japão, 1963).

Os planos quinquenais ajudaram a consolidar a incineração como principal

método de tratamento de resíduos no país. Além de sanitariamente adequada, era uma

forma de diminuir o volume final do material a ser aterrado.

3 Em 1970, o Japão estabelece os conceitos legais de resíduo industrial e resíduo comum. Em linhas gerais, o resíduo industrial é aquele tipicamente

oriundo de atividades econômicas, como óleos, plásticos e cinzas. Já o resíduo comum é todo aquele que não seja considerado resíduo industrial, tal
como o lixo domiciliar (Lei de Gestão de Resíduos de 1970, art. 2°). É este o conceito adotado neste artigo quando os termos resíduo industrial e resíduo
comum forem utilizados.

4 Outras leis emergenciais e planos quinquenais para adequação da infraestrutura de gerenciamento de resíduos foram editados posteriormente até, pelo

menos, a década de 90 (Ministério do Meio Ambiente do Japão, 2006: documento de referência 1).
1.2 Combate à poluição

O acelerado crescimento econômico da década de 60 não acarretou apenas o

aumento da quantidade de resíduos. As características dos dejetos também mudaram.

Borra ácida, plástico, material contaminado com mercúrio e cádmio, por exemplo,

traziam um novo desafio para o gerenciamento de resíduos (Ministério da Saúde do

Japão, 1971).

Raros eram os municípios que tinham know-how para lidar com essa nova

gama de substâncias5. Embora fosse possível obrigar os geradores a dar destino

adequado aos seus dejetos, admite-se que não se sabe como um milhão de toneladas/dia

de resíduos industriais gerados à época foram descartados (Ministério da Saúde do

Japão, 1971).

A nova realidade industrial do Japão deu à questão dos resíduos uma nova

dimensão. Destinados de forma inadequada, os resíduos industriais podem espalhar

substâncias tóxicas não apenas à humanidade, mas a todas as formas de vida. Se antes a

manuteção da saúde pública era o principal objetivo da gestão de resíduos, conter a

poluição ambiental passa a ser o foco primordial.

Assim, em 1970, o parlamento japonês aprovou e alterou inúmeras leis com

claro objetivo de combater a poluição6. O tema dos resíduos sólidos também foi objeto

da revisão legislativa.

A “Lei de Limpeza Pública” deu lugar à “Lei de Gestão de Resíduos”, de 25 de

5 A partir da segunda metade do século XX, a humanidade passou a produzir e utilizar substâncias químicas artificiais em grande quantidade. Estima-se

que de um total de 20 milhões, apenas 100 mil dessas substâncias têm aplicação prática para a fabricação de itens de nosso dia a dia, como
medicamentos e embalagens plásticas. Essa diversidade de compostos não assimiláveis pela natureza figuraria dentre uma das principais causas dos
problemas ambientais modernos (Hata, 2004:508).

6 Ao todo, 14 leis foram promulgadas ou alteradas com vistas a combater a poluição (Minami et al., 2006:7). Dentre elas, estão a Lei Geral de Combate

à Poluição, a Lei de Prevenção de Contaminação das Águas e do Solo, a Lei de Controle de Poluentes Atmosféricos, a Lei de Crimes de Poluição, além
da Lei de Gestão de Resíduos (Otsuka, 2007:11).
dezembro de 1970. Esta lei não deixou de visar à promoção da saúde pública, mas, ao

mesmo tempo, teve por objetivo a preservação do meio ambiente.

A grande novidade desta regulamentação está na divisão de atribuições. Os

resíduos comuns permaneceram sob a gestão dos municípios. Entretanto, a disposição

adequada de rejeitos industriais passou a ser de responsabilidade dos seus geradores.

Cristalizava-se, assim, a aplicação do princípio do poluidor-pagador na questão dos

resíduos sólidos.

A lei de 1970 regulamentou ainda o transporte de resíduos e a instalação de

incineradores e aterros. Ademais, estabeleceu sanções para ofensas aos seus

dispositivos. A disposição ilegal de resíduos, por exemplo, passou a ser crime apenado

com cinco anos de reclusão e trabalhos forçados, além de multa de até 10 milhões de

ienes (cerca de US$ 100 mil). Sendo o infrator pessoa jurídica, essa multa chega a até

300 milhões de ienes (US$ 3 milhões).

A Lei de Gestão de Resíduos impulsionou avanços técnicos e gerenciais. No

entanto, foi insuficiente para diminuir a quantidade de resíduos. Ao contrário, a geração

de resíduos, tanto comuns como industriais, continuou crescendo.

Com relação aos resíduos comuns, cujos geradores não são diretamente

responsáveis pela sua disposição final, não houve, de fato, qualquer movimento para sua

diminuição. Por outro lado, ao adotar o princípio do poluidor-pagador, o novo sistema

de gestão de resíduos deveria incentivar o setor produtivo a reduzir seus rejeitos. Não

foi o que aconteceu7.

7 Com relação aos resíduos industriais, em 1980, foi registrado um total de 292 milhões t/ano (Ministério da Saúde do Japão, 1985). Em 1985, esse

número subiu para 312 milhões t/ano (Ministério da Saúde do Japão, 1996). A partir da década de 90, o índice se manteve relativamente estável por
volta de 400 milhões t/ano, com pico de 426 milhões em 1996 e mínima de 386 milhões em 2010 (Ministério do Meio Ambiente do Japão, 2010).
1.3 A era da reciclagem

Por mais eficiente que seja a infraestrutura de disposição final de resíduos, sua

capacidade será sempre limitada. Caso a quantidade de resíduos não diminua, haverá

uma constante busca por locais adequados para a instalação de incineradores e aterros,

implicando crescentes gastos ao erário público. Ademais, existem riscos ambientais

inerentes ao próprio tratamento e à disposição final de resíduos. Exemplo típico disso

são as dioxinas oriundas da incineração e o chorume dos aterros.

Com base nisso, a partir da década de 90, a política de resíduos dá mais um

passo. Mais que priorizar uma disposição final adequada, o foco passou a ser evitar que

a disposição final acontecesse. Começa assim a era da reciclagem. Em linhas gerais, o

sistema legal de reciclagem opera com base em leis gerais orientadoras do sistema, além

de leis específicas para um tipo de resíduo.

Assim, em 26 de abril de 1991 foi sancionada a “Lei de Promoção do Uso de

Material Reciclado”8 que, basicamente, orienta o setor industrial na elaboração de

planos para o uso eficiente dos recursos naturais. Em 16 de junho de 1995, a “Lei de

Reciclagem de Embalagens” foi a primeira a estabelecer obrigações específicas para

reciclar um determinado resíduo, além de discriminar o papel de consumidores,

produtores e do poder público para tal. Em 5 de junho de 1998, o Japão aprovou a “Lei

de Reciclagem de Eletrodomésticos”, primeira do gênero no mundo.

No ano 2000, a produção legislativa referente à reciclagem foi intensa. Em 2 de

junho, a “Lei de Constituição da Sociedade da Reciclagem” estabeleceu os princípios da

nova fase da gestão de resíduos. Foram ainda publicadas em 31 de maio do mesmo ano

a “Lei de Reciclagem de Materiais de Construção” e a “Lei de Promoção de Compras

Públicas Sustentáveis”. E em 7 de junho, a “Lei de Reaproveitamento de Alimentos” foi

8 Profundamente alterada no ano 2000, essa lei passou a se denominar “Lei do Uso Racional de Recursos Naturais”.
editada.

Em 12 de julho de 2002, foi sancionada a “Lei de Reciclagem de Automóveis”.

E, finalmente, em 10 de agosto de 2012, a “Lei de Reciclagem de Equipamentos

Eletroeletrônicos de Pequeno Porte” completou o quadro legislativo da reciclagem no

Japão.

Os regramentos sobre alimentos e materiais de construção envolvem resíduos

oriundos de atividades econômicas, ou seja, resíduos industriais. Aqui continua sendo

aplicado o princípio do poluidor-pagador. As leis relativas a embalagens,

eletrodomésticos, automóveis e pequenos eletroeletrônicos tratam de resíduos gerados

pelo consumidor final, considerados resíduos comuns. Nestes casos, exceto para os

pequenos eletroeletrônicos, aplica-se o princípio da responsabilidade estendida do

produtor (“EPR”)9.

Segundo este princípio, os produtores são responsáveis pelos seus produtos até

a destinação final. Com isso, espera-se que, desde a fase de escolha da matéria prima,

haja um incentivo para que sejam desenvolvidos produtos cada vez mais fáceis de serem

reciclados. Ademais, alivia-se o encargo dos municípios, já que deles fica afastada a

responsabilidade por resíduos cujo tratamento e disposição final exigiriam orçamento e

capacitação técnica adequada dos quais os municípios muitas vezes não dispõem

(OCDE, 2001:18).

Assim, ao determinar que os produtores de eletrodomésticos e automóveis,

bem como aqueles que utilizam embalagens, são obrigados a promover a reciclagem

desses itens, pode-se dizer que a lei japonesa se utilizou de uma abordagem EPR.

9 O termo “responsabilidade estendida do produtor” foi usado e definido pela primeira vez por Thomas Lindhqvist em 1990 (Lindhqvist et al.,

2006:1). Advogado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE como estratégia de política pública ambiental,
tornou-se conhecido pela sua terminologia em inglês Extended Producer Responsability –EPR. Neste artigo, a abreviatura em inglês foi adotada para
se referir a este princípio.
Entretanto, a Lei de Reciclagem de Equipamentos Eletroeletrônicos de

Pequeno Porte não seguiu essa tendência. Ou seja, os fabricantes não são obrigados nem

a reciclar, nem ao menos a receber de volta seus produtos já usados. A organização do

sistema de reciclagem desses itens ficou a cargo dos municípios.

O Ministro do Meio Ambiente do Japão à época, Koji Hosono, quando

perguntado sobre a necessidade da aplicação da responsabilidade estendida do produtor

aos pequenos eletroeletrônicos, afirmou que esperava a cooperação do setor produtivo.

No entanto, não descartaria considerar novas alternativas no futuro caso o sistema atual

não funcionasse bem (Amaike, 2012:55). O que se infere é que o governo não teve força

para impor à indústria mais um ônus.

2. Resultados da Gestão de Resíduos

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico - OCDE

estabelece uma clara relação entre desenvolvimento econômico e a geração de resíduos

(OCDE, 2001:15). De fato, no Japão, a produção de resíduos aumentou acompanhando

o crescimento do país.

Logo após a Segunda Guerra Mundial, o município de Quioto, por exemplo,

registrava uma produção per capita de resíduos de 37,5g/dia. Na década de 70, já

iniciado o ciclo de acelerado crescimento econômico, esse índice oscilava em torno de

1.000g/dia (Takatsuki, 2006:3).

Da mesma forma, no país como um todo, a geração de resíduos comuns veio

crescendo já a partir da década de 60. A tendência de alta constante foi alterada a partir

da década de 90, quando as políticas de reciclagem passaram a ser implementadas. No

caso dos resíduos comuns, houve queda da geração.


A seguir será demonstrado em que momento se deu esse declínio da geração de

resíduos comuns e suas consequências imediatas. Ademais, também serão expostos os

resultados de mais de 10 anos de implementação da primeira lei do mundo sobre

reciclagem de eletrodomésticos.

2.1 Resíduos Comuns

De acordo com o governo japonês (Ministério do Meio Ambiente do Japão (a),

2011), a geração global de resíduos comuns apresentava um crescimento acelerado até

1991. Durante toda a década de 90, o índice continuou avançando, mas em ritmo menos

intenso. O pico ocorreu no ano 2000, com 54,8 milhões t/ano. A partir daí, a geração de

resíduos comuns apresentou uma queda acentuada até 2010. Em 2011, foi registrada

uma geração de 45,3 t/ano, índice similar ao verificado em 1987 (45,5 t/ano).

A geração per capita de resíduos comuns acompanhou o mesmo ritmo. Com

pico no ano 2000 (1.185g/habitante/dia), o índice veio caindo durante a primeira década

do século XXI. Em 2011, foi registrada uma geração 975 g/habitante/dia, número esse

igual ao verificado em 1986.

No período compreendido entre 2002 e 2011, enquanto a geração de resíduos

comuns seguia sua tendência de queda, a reciclagem aumentou. Em 2002, foi registrado

um índice de 15,9% em relação ao material descartado. Em 2011, esse número

aumentou para 20,4%, com pico de 20,8% em 2010.

Com a redução da geração de resíduos e o aumento da reciclagem, a vida útil

dos aterros tende a se estender. Os dados do Ministério do Meio Ambiente evidenciam

essa realidade. Em 2002, estimava-se que a vida útil dos aterros japoneses fosse de 13,8

anos. Em 2011, esse número subiu para 19,4 anos. Note-se que a capacidade dos aterros
não aumentou no mesmo período. Pelo contrário, diminuiu. Assim, os 153 milhões m 3

registrados em 2002 caem para 114 milhões m3 em 2011.

Destaque-se que apenas 1,4% dos resíduos é despejado diretamente em aterros.

Os 98,6% restantes passam, primeiramente, por tratamentos intermediários para redução

da quantidade ou do volume a ser aterrado. A incineração direta responde por 79,3% do

total dos resíduos descartados e os outros 19,3% correspondem à compostagem,

reciclagem, queima como combustível etc.

A queda na geração de resíduos pode ser explicada por muitos fatores.

Certamente, um deles é a mudança de orientação da política de resíduos iniciada na

década de 90. Afinal, foi a partir dessa época que o ritmo de geração de resíduos começa

a desacelerar até passar a cair acentuadamente. Ademais, o crescente índice de

reciclagem mostra que a nova política tem surtido efeito.

2.2 Eletrodomésticos

Sancionada em 1998, a Lei de Reciclagem de Eletrodomésticos entrou em

vigor em abril de 2001.

Em linhas gerais, o sistema por ela criado funciona da seguinte maneira: os

consumidores, ao descartarem certos eletrodomésticos, devem entregá-los a um

varejista que lide com tais produtos. Este, por sua vez, repassa ao fabricante, que é

obrigado a reciclar as unidades que manufaturou. Apenas quatro tipos de

eletrodomésticos são objeto desta lei: geladeira/freezer, televisão, ar-condicionado e

lavadora/secadora. Ademais, o consumidor deve pagar pelos custos de transporte e

reciclagem no momento do descarte.

De acordo com dados do setor de eletrodomésticos (AEHA, 2011), desde 2001,


o número de equipamentos entregues10 para reciclagem vinha crescendo seguindo uma

tendência de alta moderada até 2008. Nesse período, houve um aumento global de

50,8%. No entanto, entre 2008 e 2010, foi verificada uma forte alta de 114,8%.

O que teria provocado essa variação brusca? A Association for Electric Home

Appliances - AEHA atribui esse fenômeno ao fim da transmissão de sinal analógico de

televisão em julho de 2011. Os consumidores teriam aproveitado o fim do ano de 2010

para trocar seus aparelhos. De fato, do total de 27 milhões de unidades entregues para a

reciclagem nesse ano, 17 milhões eram de televisores de tubos de raios catódicos (“Tv

CRT”). Em 2011, todos os eletrodomésticos entregues para reciclagem somaram cerca

de 16,8 milhões de unidades.

Os produtores têm metas de reciclagem. Eles devem reinserir no ciclo

produtivo certa porção das unidades que lhes são entregues. Por exemplo, pelo menos

70% da massa de um ar-condicionado deve ser reciclada. O restante poderia, por

exemplo, ser incinerada. As metas para os demais produtos são: lavadora/secadora –

65%; geladeira/freezer – 60%; Tv CRT – 55%; televisão de plasma ou de cristal líquido

– 50%.

Desde 2001, a indústria vem superando as metas estabelecidas em lei. Em

2011, foram registrados os seguintes índices de reciclagem: ar-condicionado - 89%;

lavadora/secadora – 87%; geladeira/freezer – 79%; Tv CRT – 79%; televisão de plasma

ou de cristal líquido – 83%.

No entanto, essa lei parece ter um efeito colateral. Desde que entrou em vigor

em 2001, os casos de disposição ilegal de eletrodomésticos aumentaram. Tomando o

ano de 2000 como base, os casos registrados em 2001 tiveram alta de 13%. O pico se

deu em 2003, chegando a 44%. Desde então, o descartes ilegais vinham caindo ano após

10 Os números desta sessão se referem apenas às quatro categorias de eletrodomésticos objeto da lei.
ano até 2008. Entre 2009 e 2011, o índice volta a subir. Em 2011, o número de casos

ainda era 32% maior que em 2000 (Ministério do Meio Ambiente do Japão (b), 2011:2).

O aumento do número de casos de disposição ilegal de eletrodomésticos está

relacionado ao fato de se ter que pagar pela reciclagem no momento do descarte

(Aizawa et al., 2008:1406). Assim, para evitar dessa despesa adicional, o consumidor

acaba por fugir do sistema de coleta estabelecido, abandonando eletrodomésticos em

lugares isolados, como bosques e montanhas.

3. Lições para o Brasil

Em vista da experiência secular na gestão de resíduos e dos resultados

positivos, o modelo japonês pode servir como um paradigma segundo o qual o Brasil

poderá elaborar, alterar e avaliar as suas próprias políticas públicas sobre o tema.

Muitos temas poderiam ser objeto de análise comparativa entre ambos modelos

japonês e brasileiro. Como primeiro passo, três aspectos basilares merecem ser

destacados.

Primeiramente, é importante ressaltar que o Japão passou por momentos

difíceis na gestão de seus resíduos. Principalmente a partir da década de 60, faltavam

locais adequados para a disposição final adequada de resíduos tanto comuns quanto

industriais. Foram necessárias décadas de reformulações legais e planejamento

administrativo para contornar esses problemas.

Assim como o Japão da década de 60, o Brasil de hoje apresenta deficiências

na gestão de resíduos. Segundo o IBGE, em 2008, 50,8% dos municípios brasileiros

ainda despejavam seus resíduos em lixões, 22,5% em aterros controlados e 27,7% em

aterros sanitários (IBGE, 2008:60)11.

11 A gestão deficiente dos resíduos sólidos no Brasil também se reflete na prolongada ausência de uma legislação federal específica. Apesar do
Verificados esses dados e comparando com o que ocorreu no Japão, parece

pouco provável que o Brasil possa eliminar os lixões em apenas 4 anos, ou seja, até

201412. Mudar o quadro de disposição de resíduos no Brasil demandará tanto

planejamento como gestão de longo prazo.

Outro ponto a se destacar foi a atuação direta do governo central japonês na

gestão de resíduos. Com as leis emergenciais e os planos quinquenais, os municípios

tiveram suporte institucional e financeiro para instalar aterros e incineradores. De forma

geral, as leis específicas de reciclagem afastaram dos municípios alguns resíduos de

difícil tratamento e disposição final, como os eletrodomésticos.

No Brasil, a União poderia ter a mesma atuação. Isso porque, até o momento, a

gestão estritamente municipal dos resíduos comuns não vem apresentando resultados

satisfatórios, haja vista a proporção de lixões e aterros controlados utilizados no país.

Finalmente, deve-se destacar a abundância e a disponibilidade de informações

sobre gestão de resíduos no Japão. Estatísticas sobre a disposição de resíduos comuns e

reciclagem, por exemplo, são atualizadas anualmente em um banco de dados unificado e

disponibilizadas no site do Ministério do Meio Ambiente japonês.

Não são raras as críticas feitas ao Brasil pela falta de dados sobre a gestão de

resíduos13. Um caso emblemático foi protagonizado pelo Programa das Nações Unidas

problema dos resíduos sólidos ter sido agravado com a urbanização brasileira dos anos 40 a 70 (Philippi Jr. et al., 2005), as normas federais existentes à
época “não passaram de declaração de princípios” (Machado, 1976: 31). Tratava-se da Lei 2.312, de 3 de setembro de 1954, sobre a defesa e proteção da
saúde. Em seu artigo 12 prescrevia que “a coleta, o transporte e o destino final do lixo deverão processar-se em condições que não tragam inconveniente
à saúde e ao bem estar público, nos têrmos da regulamentação a ser baixada”. Machado (1976) já ressaltava que a legislação federal deveria ser mais
incisiva, proibindo, por exemplo, a disposição de lixo a céu aberto. Apenas em 2010, uma lei específica sobre resíduos sólidos foi editada: a Política
Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305, de 02 de agosto de 2010).
12 A Política Nacional de Resíduos Sólidos de 2010 prescreve: “Art. 54. A disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos, observado o disposto

no § 1° do art. 9°, deverá ser implantada em até 4 (quatro) anos após a data de publicação desta Lei”.

13 Com referência à falta de informações acerca da gestão de resíduos sólidos em geral, Guimarães de Araújo et al. (2006:116) afirma que os “dados

existentes sobre o assunto são escassos, falhos e conflitantes”. Especificamente sobre a reciclagem de resíduos eletrônicos, Araújo et al. (2012:272)
frizou que “in general, reliable information is scarce and based on assumptions”. Assim, indicando que 70% das cidades brasileiras despejam seus
resíduos em locais inadequados, Fiorillo (2010:178) assume que o “lixo tecnológico” também é descartado de maneira inapropriada. Machado (1976:30)
para o Meio Ambiente - PNUMA. Em relatório de 2009 sobre a questão dos resíduos

eletrônicos em países em desenvolvimento, a entidade destacou claramente que a falta

de dados oficiais sobre o destino final de equipamentos eletroeletrônicos no Brasil

poderia ser um obstáculo para a regulamentação da matéria (PNUMA, 2009:65).

Dispor de informações é fundamental para diagnosticar situações e planejar

soluções em sede de políticas públicas. Espera-se que o Sistema Nacional de

Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos - SINIR 14 venha a cumprir o papel de

fomentar, centralizar e difundir relatórios e estatísticas sobre o tema no país.

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destaca que os “resíduos sólidos tem sido negligenciados tanto pelo público como pelos legisladores e administradores”. Freitas (2006:35) acrescenta
que o tema é pouco estudado pelo Direito Ambiental no Brasil.

14 Um dos instrumentos da Lei de Política Nacional de Resíduos Sólidos, o Sinir deve ser organizado e mantido conjuntamente pela União, Estados,

Distrito Federal e Municípios (Lei 12.305/2010, art. 8°, inciso XI e art. 12 ). Uma de suas finalidades é disponibilizar estatísticas que auxiliem no
gerenciamento dos resíduos sólidos (Decreto 7.404/2010, art. 71, inciso IV).
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Capítulo 6: Educação e Ensino a Distância
Arquitetura escolar e sustentabilidade: uma abordagem considerando o
Autoritarismo Educacional - Disciplinamento (Panóptico) e a Educação Libertária

Silvia Kimo Costa*, Milton Ferreira da Silva Junior**

RESUMO
O presente artigo aborda a relação entre Arquitetura Escolar e Sustentabilidade, tanto na concepção do
projeto como na construção da edificação, considerando dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo
Educacional e uma “Educação Libertária”. Verifica-se que a Arquitetura Disciplinar destinada a atender
o Autoritarismo Educacional, corrobora os indícios do Panoptismo, como a vigilância hierárquica e o
disciplinamento do corpo no contexto (neo) liberal. A rigidez estrutural inviabiliza práticas de ensino e
aprendizagem que se baseiem na construção do conhecimento conjunto (professor + aluno). Em
contrapartida, observa-se a fluidez e plasticidade das edificações projetadas para escolas que se propõem
a práticas de ensino e aprendizagem mais “libertárias”, em contraposição ao ensino tradicional. Aliada
ao conceito de sustentabilidade, as edificações projetadas para as Escolas Libertárias explicitamente
postulam uma concepção completamente diversificada e interada não só com o ambiente natural, mas
também com a cultura e história do local onde estão inseridas.

Palavras-chave: Arquitetura Escolar, Autoritarismo Educacional, Escola Libertária, Sustentabilidade.

ABSTRACT
This paper discusses the relationship between Architecture and Sustainability School, both in the design
and the construction of the building, considering two poles teaching: Authoritarianism Education and
“Educational Libertarian”. It appears that Architecture Discipline designed to meet the educational
Authoritarianism, corroborates the evidence of panopticism as hierarchical surveillance and disciplining
of the body in the context of (neo) liberalism. The structural rigidity prevents learning and teaching
practices that are based on knowledge construction set (teacher + student). In contrast, there are fluidity
and plasticity buildings designed for schools that intend to practice in teaching and learning more
“libertarian” as opposed to traditional teaching. Allied to the concept of sustainability, buildings
designed for the Libertarian Schools explicitly have a completely diverse and interactive concept not
only with the natural environment, but also with the culture and history of the place they were built.

Key-words: School Architecture, Authoritarianism Educational, Libertarian School, Sustainability.

*
Doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UESC, BA) - Bolsista FAPESB; Mestre em
Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA); graduada em Arquitetura e Urbanismo (UFV, MG).
Professora do Instituto Federal da Bahia (IFBA). E-mail: skcosta@hotmail.com
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Soft System Methodology. Diálogos & Ciência (Online), v. 8, p. 77-90, 2010
**
Doutor em Educação (UFBA); Mestre em Sociologia Rural (UFRGS); especializado em Desenvolvimento e
Gestão Ambiental pela Gesellschaft Fur Technische Zusammenarbeit, GTZ, Alemanha; graduado em Engenharia
Agronômica (UFPE). Professor do Departamento de Ciências Agrárias e Ambientais e do Programa de Pós-
Graduação em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente (UESC, BA). E-mail: notlimf@gmail.com
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Introdução

Este artigo objetiva abordar a relação entre Arquitetura Escolar, Sustentabilidade e o


caráter das Práticas de Ensino e Aprendizagem, considerando que o “edifício escolar deve ser
analisado como resultado da expressão cultural de uma comunidade, por refletir e expressar
aspectos que vão além da materialidade” (KOWALTOWSKI, 2011, p. 1) e que vem sendo
projetado em função de dois pólos pedagógicos: o Autoritarismo Educacional que corrobora
indícios do Disciplinamento – Panoptismo (FOUCAULT, 2011) e as Práticas de Ensino e
Aprendizagem que seguem abordagens Humanistas (NEIL, 1963); Cognitivo-interacionistas
(BRUNER, 1969); Socioculturais (VYGOTSKY, 1984; FREIRE, 2011), aqui consideradas de
cunho “libertárias”.
O texto está organizado em 3 partes: a primeira caracteriza a estrutura arquitetônica do
Panóptico, e os indícios da vigilância hierárquica e do disciplinamento que se materializam nas
estruturas arquitetônicas das escolas; a segunda trata das concepções arquitetônicas das escolas
cujas práticas de ensino e aprendizagem contrapõem o ensino tradicional; e a terceira aborda a
relação entre as práticas de ensino e aprendizagem da escola não tradicional e a
sustentabilidade presente não só nas estratégias bioclimáticas, construtivas e uso de materiais,
mas também na concepção do partido arquitetônico (forma) da edificação escolar.

1 O Panóptico e os indícios da vigilância hierárquica e do disciplinamento que se


materializam na arquitetura escolar
O Panoptismo foi criado por Jeremy Bentham, no século XIX, e objetivava uma
observação total, e uma integração absoluta do poder disciplinador na vida de um indivíduo.
Segundo Foucault (2011, p. 189), o começo do século XIX foi marcado pelo surgimento
de uma série de Instituições tais como: o asilo psiquiátrico, a penitenciária, a casa de correção,
o estabelecimento da educação vigiada, hospitais. Tratava-se da “técnica de poder própria do
quadriculamento disciplinar”. De “projetar recortes finos da disciplina sobre o espaço confuso
do internamento, trabalhá-lo com os métodos de repartição analítica do poder, individualizar os
excluídos, mas utilizar processos de individualização para marcar exclusões” no contexto de
emergência do capitalismo (neo) liberal.
Havia (ainda há) a necessidade de submeter o indivíduo a uma divisão constante entre o
normal e o anormal. Mas o que é “normal”? Segundo Canguilhem (1995), na sua crítica a
acepção usual do termo, principalmente no âmbito das ciências da saúde, é aquilo que é
conforme a regra regular; que é como deve ser, algo determinado e que pode ser medido
constituindo um modelo padrão, ao qual todos devem se adequar.
Dessa forma, ainda de acordo com Foucault (2011), foram criados conjuntos de técnicas e
de Instituições que deveriam medir, controlar e corrigir os “anormais”. Ou seja, dispositivos 1
disciplinares para marcar e modificar o “anormal”.
Nesse contexto surgiu o Panóptico (figuras 1, 2 e 3) – dispositivo do disciplinamento –
uma estrutura arquitetônica composta por uma construção em anel na periferia e, no centro,
uma torre vazada por janelas que se abrem sobre a face interna do anel. O anel periférico era
dividido em celas. Cada cela tinha apenas duas janelas: uma na parede externa do anel
dimensionada, para permitir a entrada da luz do sol e a outra, na parede interna do anel voltada
para a torre no centro.

Figura 1: Panóptico Hexagonal Figura 2: Desenho projetivo de um


Fonte:http://therioblog.blogspot.com.br/2012/02/o Panóptico.
s-panopticos-de-jeremy-bentham as.html Fonte:http://therioblog.blogspot.com.br/2
012/02/os panopticos-de-jeremy-bentham
as.html

Figura 3: Panóptico Retangular


Fonte:http://therioblog.blogspot.com.br/2012/02/os-
panopticos-de-jeremy-bentham as.html

1
(...) um conjunto decididamente heterogêneo que engloba discursos, instituições, organizações arquitetônicas,
decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, enunciados científicos, proposições filosóficas, morais,
filantrópicas. Em suma, o dito e o não dito são os elementos do dispositivo. O dispositivo é a rede que se pode
estabelecer entre estes elementos (FOUCAULT, 2012, p. 244).
Sendo assim, bastava colocar apenas um vigia na torre central e trancar individualmente,
em cada cela do anel periférico: loucos, pessoas doentes, criminosos e até mesmo trabalhadores
ou estudantes.

O dispositivo Panóptico organiza unidades espaciais que permitem ver sem parar e
reconhecer imediatamente. Em suma, o princípio da masmorra é invertido; ou antes,
de suas três funções – trancar, privar da luz e esconder – só se conserva a primeira e se
suprimem as outras duas. A plena luz e o olhar de um vigia captam melhor que a
sombra, que finalmente protegia. A visibilidade é uma armadilha (FOUCAULT, 2011,
p. 190).

O Panoptismo representa a “disciplina-mecanismo” – “dispositivo funcional que deve


melhorar o exercício do poder tornando-o mais rápido, mais leve, mais eficaz, um desenho das
coerções sutis para uma sociedade que está por vir” (FOUCAULT, 2011, p. 198). “Está por
vir”: sociedade do século XIX, XX e atual.
Cada um está em seu devido lugar, visto apenas pelo vigia, e sem contato com o “colega”
que está na cela ao lado. O que está na cela é visto, mas não vê. Sendo assim, através do
princípio do Panóptico (o que não implica necessariamente na estrutura arquitetônica em si) era
possível induzir detentos, loucos, operários, estudantes a “um estado consciente e permanente
de visibilidade que assegura o funcionamento automático do poder” (FOUCAULT, 2011, p.
191). Nas escolas, o objetivo do princípio Panóptico – disciplina/mecanismo - era fortalecer a
criança, torná-la apta ao trabalho mecânico no futuro; fabricar indivíduos úteis. A sociedade do
século XIX, XX e atual, mesmo nos aspectos de um “capitalismo tardio” e periférico, é
marcada pela Disciplina.

Um tipo de poder, uma modalidade para exercê-lo, que comporta todo um conjunto de
instrumentos, de técnicas, de procedimentos, de níveis de aplicação, de alvos; ela é
uma “física” ou uma “anatomia” do poder, uma tecnologia. E pode ficar a cargo seja
de instituições “especializadas” (as penitenciárias, ou as casas de correção do século
XIX), seja de instituições que dela se servem como instrumento essencial para um fim
determinado (as casas de educação, os hospitais), seja de instâncias preexistentes que
nela encontram maneira de reforçar ou de reorganizar seus mecanismos internos de
poder; seja de aparelhos que fizeram da disciplina seu princípio de funcionamento
interior; seja enfim de aparelhos estatais que têm por função não exclusiva, mas
principalmente, fazer reinar a disciplina na escala de uma sociedade (a polícia)
(FOUCAULT, 2011, p. 203-204).

E, segundo Foucault (2011), produz sujeitos heterônomos, economicamente produtivos e


politicamente dóceis.
O Panóptico está presente em várias Instituições até os dias de hoje. Não se trata do
partido arquitetônico em si (o anel periférico com celas e a torre central), mas do princípio da
vigilância hierárquica; do esquadrinhamento do corpo; do moldar/ normalizar o “sujeito
anormal”; da Disciplina como fabricação de sujeitos apropriados ao sistema vigente. Trata-se
de uma arquitetura que permite o controle interior, que torna visível àquele que nela se
encontra, “uma arquitetura que seria o operador para a transformação dos indivíduos”
(FOUCAULT, 2011, p. 166), que age sobre o indivíduo, domina seu comportamento, oferece o
conhecimento e o modifica, torna-o dócil e o reconduz a uma outra identidade pelos efeitos
coercitivos e ou sedutores, sujeitados pelos macro (governamentalidade 2) e micropoderes
(técnicas disciplinares3).
Numa escola, o Panóptico – disciplina/mecanismo - está implícito na disposição
individualizadora dos ambientes; na configuração “militar” das salas de aula (alunos olhando as
costas um do outro), ao invés de ver os rostos de cada um, em situação de semi – círculos; na
organização do mobiliário; nos mecanismos de segurança (figuras 4, 5, 6 e 7).

Figura 4: Carteiras dispostas em fileira de frente para o Figura 5: Distribuição das salas de aula ao longo de
professor (década atual). um extenso corredor de circulação.
Fonte:http://folhasdecampomaior.blogspot.com.br/201 Fonte:http://www.escola.sed.sc.gov.br/eebastrogildood
1/04/o-professor.html on/estrutura/

2
“Conjunto constituído pelas instituições, procedimentos, análises e reflexões, cálculos e táticas que permitem
exercer esta forma bastante específica e complexa de poder, que tem por alvo a população, por forma principal de
saber a economia política e por instrumentos técnicos essenciais os dispositivos de segurança” (FOUCAULT,
2012, p. 409).
3
Tratam-se: da vigilância hierárquica, pois o “exercício da disciplina supõe um dispositivo que obrigue pelo jogo
do olhar: um aparelho onde as técnicas que permitem ver induzam a efeitos de poder, e onde, em troca, os meios
de coerção tornem claramente visíveis aqueles sobre quem se aplicam”; da sanção normalizadora: as disciplinas
“estabelecem uma “infrapenalidade”, quadriculam um espaço deixado vazio pelas leis; qualificam e reprimem um
conjunto de comportamentos”; e do exame: “um controle normalizante, uma vigilância que permite qualificar,
classificar e punir” (FOUCAULT, 2011, p. 165-177).
Figura 6: Carteiras dispostas em fileira de frente para Figura 7: Câmeras de vigilância.
o professor (meados do século XX). Fonte:http://dispositivodevisibilidade.blogspot.com.
Fonte:http://educador.brasilescola.com/estrategias- br/2008_08_01_archive.html
ensino/uso-filmes-na-aula-historia.htm

Segundo Tragtenberg (1985, p. 262), a disposição das carteiras dentro da sala de aula
reproduz as relações de poder; “o estrado que o professor utiliza acima dos ouvintes, estes
sentados em cadeiras linearmente definidas próximas a uma linha de montagem industrial,
configura a relação “saber/ poder” e “dominante/ dominado”.
Assim como a disposição modular das salas de aula à direita ou à esquerda de um extenso
corredor, que desemboca em uma das extremidades em alguma secretaria ou coordenação e na
outra ou na mesma em banheiros (feminino e masculino).
Dentro dos banheiros a disposição dos boxes para vasos sanitários possuem meias-portas,
para que seja possível ver os pés dos usuários. As portas das salas de aulas apresentam visor,
para que o coordenador ou diretor possa observar o professor e os alunos sem que estes
percebam que estão sendo observados. As janelas, na maioria das vezes, possuem um sistema
de esquadrias basculantes subdividas, com vidros pouco translúcidos, de maneira que ao abri-la
o aluno não se distraia com o exterior, mas que permita que possam ser observados pelo lado de
fora.
Configurados para o disciplinamento, os ambientes escolares viabilizam uma abordagem
em que o ensino é centrado no professor e em disciplinas previamente estabelecidas, sendo o
estudante um receptor passivo que deve armazenar o maior número de informações possível
(ELALI, 2002). A utilização de práticas pedagógicas que seguem abordagens em que o ensino
deixa de estar centralizado no professor e o aluno deixa de ser um receptor passivo, passando a
ser um colaborador, que deve buscar/ criar conhecimento junto ao professor, tornam-se
restringidas ou inviabilizadas diante da rigidez da arquitetura disciplinar.
2 A arquitetura das escolas que contrapõem o Ensino Tradicional (Disciplinar)
As escolas que contrapõem o Ensino Tradicional são aquelas em que há o discurso 4 ou
práticas discursivas5 educacionais libertárias; uma “Pedagogia Libertária”, que segundo
Machado (2004), objetiva preparar indivíduos para superar as condições de exploração e
dominação que sustentam a sociedade, através do desenvolvimento da responsabilidade,
autonomia, respeito, solidariedade, cooperação e criatividade.
De acordo com Mafra da Silva (2008, p. 2),

A pedagogia libertária se expressa pelo questionamento de qualquer relação de poder


estabelecida no processo educativo e das estruturas que possibilitam as condições para
que estas relações se reproduzam no cotidiano das instituições escolares. Não há
desenvolvimento da autonomia do educando em um ambiente onde prevaleça o
autoritarismo do educador. A pedagogia libertária se caracteriza por eliminar as
relações autoritárias presentes no modelo educacional tradicional e por permitir alterar
os caminhos do processo de ensino e aprendizagem, quando estes se mostrarem
insuficientes ou quando estes caminhos evidenciarem resultados inimagináveis.

A escola que contrapõe o Ensino Tradicional segue princípios pedagógicos cujas bases
residem principalmente em teóricos tais como: Dewey e Kilpatrick (Escola Nova –
Instrumentalismo); Decroly (a sala de aula não deve ser limitada por paredes); Montessori
(substituição do ensino verbal pela manipulação de materiais na escrita, na aritmética e nas
ciências; livre escolha das atividades; auto-silêncio para maior controle da mente e do corpo;
exercícios de vida prática; valorização da ginástica; educação dos sentidos e pelos sentidos);
Rudolf Steiner (baseou-se no fundamento Antroposófico – valoriza o aluno como um todo
preparando-o para o trabalho, atividades domésticas, cultivo de hortas, vida social; exige
intensa participação dos pais tanto na escola como em casa); Vigotsky (alertou que o controle
consciente do comportamento e a ação voluntária são fruto da carga genética e historicamente
definidos à partir da relação homem-mundo); Freinet (Método Natural, onde a aprendizagem
se dá pela vida, pela intuição, afetividade e pela troca que o sujeito faz na sua vida social e
meio escolar, progredindo de acordo com suas condições individuais); Jean Piaget (definiu os
quatro estágios do percurso evolutivo do desenvolvimento humano, e preocupou-se com a
estrutura da cognição e desenvolvimento moral do homem); Paulo Freire (defendeu o
engajamento social e político como base para a sua educação; além disso, criou e difundiu um

4
“Um conjunto de enunciados, na medida em que se apóie na mesma formação discursiva; ele não forma uma
unidade retórica ou formal, indefinidamente repetível e cujo aparecimento ou utilização poderíamos assinalar (e
explicar, se for o caso) na história; é constituído de um número limitado de enunciados para os quais podemos
definir um conjunto de condições de existência” (FOUCAULT, 2012, p.143).
5
“Um conjunto de regras anônimas, históricas, sempre determinadas no tempo e no espaço, que definiram, em
uma dada época e para uma determinada área social, econômica, geográfica ou lingüística, as condições de
exercício da função enunciativa” (FOUCAULT, 2012, p. 144).
método para alfabetização de adultos que emprega recursos áudios-visuais); Bruner (retomou
as ideias de Vigotsky e Piaget); Gardner (a educação não deve privilegiar apenas as
habilidades mais evidentes no indivíduo, mas estimular suas outras capacidades através da
realização de atividades que tenham enfoques múltiplos); Feuerstein (partiu de conhecimentos
montessorianos e desenvolveu uma seqüência de experiências cujo objetivo é ensinar a pensar)
(ELALI, 2002, p. 75-82).
A Arquitetura da Escola Libertária está além da padronização da forma, da modulação da
estrutura, do layout interno dos ambientes, do tipo de mobiliário, materiais e cores (figuras 8, 9,
10, 11, 12, 13, 14, 15, 16 e 17).

Figura 8: Sala de aula com mobiliário flexível (carteiras


móveis)
te:http://www.arquiteturaescolar.com.br/site/lima-castro-
arquitetura-escolar-242.html

Figura 9: Escola Aadharshila Vatika em Delhi, India - Ideia Geral


Fonte:http://www.designshare.com/index.php/projects/adharshilavatika/images@5032
Figura 10: Escola Aadharshila Vatika em Delhi, India - Ideia Geral
Fonte:http://www.designshare.com/index.php/projects/adharshilavatika/images@5032

Figura 12: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa, Japão


Fonte: http://www.bbc.co.uk/news/business-14975270
Figura 11: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa, Japão
- Planta baixa geral
Fonte:http://www.bbc.co.uk/news/business-14975270

Figura 13: Escola Fugi Kindergarten, Tachikawa, Japão – sala


de aula.
Fonte:http://www.bbc.co.uk/news/business-14975270
Figura 14: Escola Anaba, Florianópolis, SC. PedagogiaFigura 15: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia
Waldorf – Maquete eletrônica Waldorf – Maquete eletrônica
Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educacio Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educac
nal_anaba.html ional_anaba.html

Figura 16: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia Figura 17: Escola Anaba, Florianópolis, SC. Pedagogia
Waldorf – Maquete eletrônica Waldorf – Maquete eletrônica
Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educacio Fonte:http://www.kantarq.com.br/projetos_servicos_educacio
nal_anaba.html nal_anaba.html

Quanto mais flexível for a construção do conhecimento (conjunta: professor + aluno),


mais plástico será o partido arquitetônico. Tudo é possível! As mais diversas formas, as cores, a
flexibilidade dos espaços, do layout dos ambientes e até dos mobiliários!

3 A Escola Libertária e a Sustentabilidade das edificações


Coelho (2009) expõe que a Arquitetura Sustentável resulta da evolução da Arquitetura
em função da proteção do meio ambiente; uma reflexão e conscientização acerca dos impactos
ambientais da construção (estratégias construtivas e materiais) no ambiente natural ocupado
pelo homem.
Segundo Brunetta e Anjos (2003), o termo “Arquitetura Sustentável” envolve a
elaboração e construção de edificações que considerem não só menor impacto ambiental e
fatores/ estratégias bioclimáticas, mas também as características culturais do local onde serão
inseridas.
Corbella e Yannas (2009, p. 19), afirmam que a Arquitetura Sustentável:

É a continuidade mais natural da Bioclimática, considerando também a integração do


edifício à totalidade do meio ambiente, de forma a torná-lo parte de um conjunto
maior. É a arquitetura que quer criar prédios objetivando o aumento da qualidade de
vida do ser humano no ambiente construído e no seu entorno, integrando com as
características da vida e do clima locais, consumindo a menor quantidade de energia
compatível com o conforto ambiental, para legar um mundo menos poluído para as
futuras gerações.

Quando se trata da sustentabilidade aplicada à elaboração de projetos arquitetônicos e


construção de escolas, Kowaltowski (2011. p. 190), afirma que a Arquitetura Sustentável é uma
das chaves para projetos de alto padrão de desempenho e “que deve ser explorada como uma
ferramenta de ensino sobre a importância dessa prática para o planeta”. A autora cita alguns
aspectos gerais que devem ser considerados:

Uma abordagem que minimize os impactos da construção nas características naturais


do terreno; os recursos energéticos da terra; utilizar materiais recicláveis que não
causem problemas de saúde pela emissão de vapores tóxicos; minimizar o consumo de
água do edifício, capturando e reutilizando água da chuva, reduzindo assim as erosões
no terreno (KOWALTOWSKI, 2011, p. 190-191).

Ainda de acordo com a autora, no Brasil a sustentabilidade do ambiente construído se


apóia na arquitetura bioclimática.
Sendo assim, as edificações escolares que adotam uma concepção sustentável procuram
fazer uso de estratégias tais como: construção utilizando processos e materiais sustentáveis,
passando pela gestão de resíduos; uso racional de água e de energia elétrica; adoção de sistemas
alternativos como captação e reaproveitamento da água das chuvas e aquecimento solar da
água; telhado verde; partido arquitetônico (forma da edificação), dimensionamento e locação
das aberturas que permitam ventilação cruzada, contribuindo para moderar o microclima dos
ambientes internos.
O Colégio Estadual Erich Walter Heine, em Santa Cruz, Rio de Janeiro (figuras 18 e 19),
inaugurado em maio de 2011, é um exemplo de edificação projetada e construída, no Brasil,
segundo tais estratégias bioclimáticas e foi considerada a 1ª escola Ecológica do país. A
edificação possui o selo Leed (Leadership in Energy and Envorimental Design), sendo uma das
120 escolas reconhecidas pelo Green Building Council, entidade regulamentadora da
certificação. A escola trabalha os conceitos e práticas de sustentabilidade aliadas às disciplinas
profissionalizantes (o ensino se dá de maneira tradicional).

Figura 18: C E. Erich Walter Heine, em Santa Cruz, Figura 19: C E. Erich Walter Heine, em Santa Cruz, RJ
RJ – Maquete eletrônica – 1ª escola Ecológica do – Telhado verde – 1ª escola Ecológica do Brasil
Brasil Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de-janeiro-
Fonte:http://www.araujosam.net/2011/05/rio-de- inaugura-primeira-escola-ecologica-do-pais/
janeiro-inaugura-primeira-escola-ecologica-do-pais/

Mas a sustentabilidade das edificações escolares vai além da aplicação de estratégias


bioclimáticas na concepção do projeto arquitetônico e construção. Em alguns lugares há uma
nítida relação entre sustentabilidade, arquitetura, cultura local e práticas de ensino e
aprendizagem numa abordagem Libertária. A Green School em Bali, Indonésia e a METI
School localizada no vilarejo rural de Rudrapur, em Bangladesh são alguns exemplos.
A Green School6, localizada em Bali, Indonésia (figuras 20, 21, 22, 23 e 24), foi
construída com um material local, natural e renovável: o bambu. O partido arquitetônico (forma
da edificação) considerou a fluidez e a interatividade com seu entorno natural imediato e a
diversidade cultural da população da Ilha. A estrutura é aberta com pouquíssimos elementos de
vedação (paredes). Todas as edificações que compõem a escola são alimentadas por algumas
fontes de energia alternativas, incluindo água quente e serradura de bambu sistema de
cozimento, um gerador de vórtex hidro-motorizado e painéis solares.

6
A escola foi desenha pelos Ambientalistas e designers John e Cynthia Hardy.
Figura 20: The Green School, Bali, Indonésia. Construída em Bambu
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-bamboo-construction-in-
indonesia/

Figura 21: The Green School, Bali, Indonésia. Construída Figura 22: The Green School, Bali, Indonésia. Construída em
em Bambu Bambu - arena
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases- Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-
bamboo-construction-in-indonesia/ bamboo-construction-in-indonesia/

A escola possui uma estrutura curricular que enfatiza a educação verde e a Ecologia.
Trabalha práticas da agricultura sustentável, irrigação tradicional, análise da pegada de
carbono, estudos da água, agricultura biológica e jardinagem. O conhecimento é construído
juntamente com o professor e segue os processos pedagógicos desenvolvidos por Rudolf
Steiner, também conhecidos como Pedagogia Waldorf.
No cotidiano da escola, a cada aluno é atribuída uma horta e cada classe tem seu jardim
de flores cujo design é elaborado pelos próprios estudantes. Os estudantes colhem, preparam e
se alimentam do que plantam. As práticas e estudos com enfoque em sustentabilidade são
associados às matérias acadêmicas tradicionais como: matemática, Inglês, ciências, juntamente
com as artes criativas.
Figura 23: The Green School, Bali, Indonésia. Construída Figura 24: The Green School, Bali, Indonésia.
em Bambu – sala de aula Construída em Bambu – Planta de implantação
Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases- Fonte:http://inhabitat.com/the-green-school-showcases-
bamboo-construction-in-indonesia/ bamboo-construction-in-indonesia/

Em Bangladesh, no vilarejo rural de Rudrapur, foi construída uma escola (figuras 25, 26,
27 e 28) pela própria comunidade local formada por artesãos, professores, pais e alunos.
A METI School (Modern Education as Training Institute) 7 foi projetada numa abordagem
sustentável tanto no partido arquitetônico e construtivo da edificação quanto nos objetivos
pedagógicos (práticas interativas; de construção do conhecimento e desenvolvimento da
criatividade). A edificação foi construída utilizando em torno de 400 toneladas de barro e
bambu, que são recursos abundantes na região e representam menor impacto ao ambiente local.

Figura 25: Escola construída pela comunidade utilizando terra


e bambu, Rudrapur, Bangladesh.
Fonte: http://africaedicoes.com/blog/novos-formatos-de-
escolas-parques-e-bibliotecas/
Figura 26: Escola construída pela comunidade utilizando terra
e bambu, Rudrapur, Bangladesh – sala de aula
Fonte: http://africaedicoes.com/blog/novos-formatos-de-
escolas-parques-e-bibliotecas/

7
A escola foi projetada pelos arquitetos Anna Heringer e Eike Roswa.
Figura 27: Escola construída pela comunidade utilizando Figura 28: Escola construída pela comunidade utilizando
terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – sala de aula no 1º terra e bambu, Rudrapur, Bangladesh – espaço para
pavimento. brincadeiras e leitura.
Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola-sustentavel- Fonte:http://style.greenvana.com/2012/escola-sustentavel-
feita-totalmente-a-mao/ feita-totalmente-a-mao/

O que se observa em ambas as edificações é que a sustentabilidade engloba não só a


utilização de estratégias bioclimáticas e prima pela utilização de materiais naturais abundantes
(renováveis) em cada local, objetivando a redução do impacto ambiental, do custo de
construção e interação com o entorno natural, mas também considera aspectos culturais e
privilegia a fluidez, plasticidade, flexibilidade espacial e o lúdico no partido arquitetônico,
permitindo dessa forma, abordagens pedagógicas que se caracterizam pela construção do
conhecimento conjunto (professor + aluno).

Considerações Finais
O disciplinamento está presente na sociedade desde o final do século XVIII objetivando
preparar sujeitos altamente produtivos, especializados e dóceis, imprescindíveis para atender à
demanda do sistema econômico vigente. As práticas pedagógicas que vão de encontro ao
disciplinamento, defendem que o sujeito deve desenvolver autonomia, capacidade
empreendedora, criatividade e um pensamento livre, (in) dependente das forças econômicas e
imposições do Estado (governo) para que dessa forma ele se torne não só produtivo
economicamente, mas consciente ambientalmente e politicamente ativo.
O pólo pedagógico seja o Autoritarismo Educacional (Disciplinar) seja a Educação
Libertária se refletem na Arquitetura das escolas. No primeiro, os partidos arquitetônicos,
mesmo aqueles mais elaborados, apresentam resquícios do Panoptismo (FOUCAULT, 2011),
como a vigilância hierárquica, a fragmentação dos ambientes internos em “celas”, baseados
num programa de necessidades e fluxogramas setorizados. As salas de aula são projetadas para
que o professor seja o transmissor absoluto do conhecimento e os alunos os receptores
passivos. Algumas edificações apresentam estruturas tão rígidas que o docente fica
impossibilitado de realizar atividades que não demandem o layout tradicional.
Nessas edificações, a sustentabilidade pode ser constatada através de: processos
construtivos e uso de materiais alternativos objetivando redução do impacto ambiental; gestão
dos resíduos sólidos originados da construção; uso racional da água e da energia elétrica;
adoção de sistemas alternativos como captação e reaproveitamento da água das chuvas;
captação de energia através da instalação de painéis fotovoltaicos; concepção do partido
arquitetônico considerando o estudo bioclimático do local onde serão inseridas.
Já no segundo pólo pedagógico, os partidos arquitetônicos exploram a máxima
flexibilidade dos ambientes e em alguns casos não há qualquer elemento de vedação (paredes).
Os espaços são projetados para a descoberta e atividades que induzam à criatividade,
autonomia e construção do conhecimento junto ao professor.
Aliada ao conceito de Sustentabilidade, a Arquitetura da Escola Libertária “desmonta/
desestabiliza” a rigidez da Arquitetura Disciplinar e o tradicionalismo construtivo; aplica não
só estratégias bioclimáticas em suas concepções, mas resgata a cultura, história, e utiliza
materiais abundantes, renováveis do local onde será inserida. Seu partido arquitetônico parece
nascer daquela terra e moldar-se ao material e ao entorno natural imediato. E em alguns casos,
convida literalmente a comunidade a (re)construí-la contínuamente. Afinal se todo processo de
ensino-aprendizagem é um fluxo, cabe praticá-lo como algo definido, mas jamais definitivo.

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MAFRA DA SILVA, A. V. “Experiências Educacionais Libertárias no Brasil - autonomia,


solidariedade e liberdade: ingredientes para uma ação educativa eficaz”. Rio de Janeiro:
UNIRIO, 2008. Disponível: WWW.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/...saybXsQd.doc.
Consultado em: 10.02.2013.

TRAGTENBERG, M. “Educação e Sociedade”. In: GADOTTI, M. História das Ideias


Pedagógicas. São Paulo: Ática, 1993. p.p. 261-263.

VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1984.


PROJETO

CURSOS A DISTÂNCIA PARA

INCLUSÃO DIGITAL E SOCIAL

SEU MUNDO SUSTENTÁVEL

“Transformando Cidadãos”
“O MUNDO CONTEMPORÂNEO - Tecnologia, Comunicação e

Marketing 3.0, como Educação na Sustentabilidade”.

VAL SÁTIRO

www.seumundosustentavel.com.br
“Transformando Cidadãos”
“O MUNDO CONTEMPORÂNEO - Tecnologia, Comunicação e
Marketing 3.0, como Educação na Sustentabilidade”.

*Val Sátiro
Diretora executiva e fundadora do Seu Mundo Sustentável,
www.seumundosustentavel.com.br onde nossa proposta é comunicar, dialogar, incentivar e
fomentar atitudes, conscientização, educação em prol do desenvolvimento sustentável,
econômico e sociocultural. Ministro Cursos e Palestras em Marketing Estratégico,
Marketing de Relacionamento/ CRM e Serviços, Técnicas de Vendas, Planejamento
Estratégico, Marketing Digital, Redes Sociais, Marketing 3.0, Gestão e Liderança
Sustentável e Empreendedorismo Social. Voluntária em ONG`s Comunicação,
Eventos, Inclusão Social e Digital e Marketing Digital.

Alguns artigos publicados:


 http://seumundosustentavel.com.br/2013/01/sustentabilidade-como-inovacao-no-
modelo-de-negocios-das-empresas/
 http://mundodomarketing.com.br/artigos/valdirene-satiro
 http://www.administradores.com.br/informe-se/artigos/geracao-a-marketing-digital-
midias-e-redes-sociais/60766/www.calltocall.com.br
 http://www.mastermanager.com.br/manager/ongs-e-o-marketing-societal/
 http://www.callcenter.inf.br/artigos/25038/processo-de-marketing-
personalizado/imprimir.aspx
 http://confrariasustentavel.ning.com/profile/ValdireneSatiro
 http://www.callcenter.inf.br/artigos/24745/etapas-para-implantacao-de-
crm/imprimir.aspx
 http://revistasustentabilidade.com.br/educacao-na-sustentabilidade
 http://www.administradores.com.br/artigos/marketing/desafios-dos-projetos-em-
sustentabilidade-corporativa/63714/

 Apresentação

“Diante do mundo globalizado em que vivemos onde a tecnologia a cada dia se transforma, a
inclusão digital é fundamental.” (Autor desconhecido)

Esta proposta é direcionada para capacitação de adolescentes e jovens, principalmente


provindos de comunidades de baixa renda incluindo-os na sociedade através, da cultura,
cidadania, consciência socioambiental, educação aberta e ensino à distância, com o objetivo
de transformá-los em cidadãos responsáveis.

Atuo como parceira e voluntária desde 2009, em Comunicação, Marketing


Sustentabilidade em uma ONG fundada em 1998, chamada Mensageiros da
Esperança, na região da Vila Brasilândia (associação sem fins lucrativos em vias
de obter OSIP) que foi criada com o intuito de tirar crianças e adolescentes das ruas
utilizando a arte-educação como principal ferramenta de apoio, tornando-os aptos a
exercerem seus direitos e deveres como cidadãos.

A instituição atua há mais de 10 anos, com crianças e adolescentes, sempre focando


a transformação social de comunidades com grande vulnerabilidade social, que
necessitam de direcionamento e oportunidades para um crescimento real.
Em 2006 os Mensageiros da Esperança passou a atender semanalmente cerca de 80
crianças e adolescentes de 7 a 18 anos, promovendo atividades tais como: trabalhos
manuais (focando a reciclagem e a consciência ambiental), Pintura, Capoeira,
Música, Cidadania, Informática, dobrando assim o número de crianças atendidas em
anos anteriores, atendendo anualmente hoje mais de 680 educandos. Muitas destas
crianças vêem de famílias desestruturadas física e psicologicamente devido a
vulnerabilidade social da região da Brasilândia, por conta desse quadro passou-se a
oferecer à comunidade atividades de colocação e capacitação profissional, através
dos projetos sócio-culturais.

O objetivo é zelar, capacitar e transformar cada educando, de forma que eles venham
a desenvolver seus talentos adequadamente e tenham a noção dos seus direitos,
valores e deveres dentro do contexto social, desenvolvendo corpo, mente e alma,
tornando-os seres integrados ao planeta.

 Sumário Executivo

Através dessa ONG, criei este projeto específico, que foi elaborado com o intuito de
capacitar e estimular jovens, utilizando entre outros os Conceitos de
SUSTENTABILIDADE para aperfeiçoar suas técnicas, criar visão crítica, entre
outras habilidades e direcioná-los para a Inclusão Digital, Social e Geração de
Renda, mudando o cenário social de vulnerabilidade do qual se encontram, através
de metodologias bem embasadas que permitem estruturar as atividades de modo que
haja um grande aproveitamento e que tenham-se alunos capacitados para já atuarem
no mercado de trabalho, logo após o termino da capacitação, para atender a ONG
Mensageiros e outras que tenham esta iniciativa.
 Objetivo Geral

Promover a qualificação profissional de jovens e adolescentes, desenvolvendo suas


habilidades e talentos, tornando-os capazes de ingressar na Sociedade de forma Digna,
através da profissionalização com mais segurança e determinação nas áreas promissoras
com temas diversos ligados à gestão, empreendedorismo, design, redes, parcerias,
marketing, vendas, finanças, formalização, sustentabilidade, associativismo e
cooperativismo.

 Objetivos Específicos

 Preparar jovens e adolescentes para o mercado de trabalho, estimulando o


exercício da cidadania e o protagonismo juvenil;
 Aumentar o índice de jovens concluindo o ensino médio e com visão para
faculdade/ universidade e especializações;
 Reduzir o envolvimento dos jovens com as drogas e outros tipos ilícitos de
sobrevivência;
 Elevação de Informação, Conhecimento/ Cultura, Auto-Estima, inclusão
Social e Digital, e Informações Diversas.

 Público-Alvo

Estudantes da rede pública de ensino, prioritariamente de regiões carentes e com


baixo Índice de Desenvolvimento Humano, adolescentes e jovens de 14 a 18
anos e pessoas com deficiência, de acordo por demanda, atendidos por
Instituições do Terceiro Setor.

 Justificativa
A exclusão digital e social tira de milhões de brasileiros a oportunidade de
romper fronteiras e sonhar com o futuro, já que a informação e conhecimento são as
moedas de troca mais valorizadas atualmente em todo o mundo. A exclusão digital
também ofusca a democracia, a economia, o desenvolvimento e o bem-estar público,
traduzindo-se em questões de natureza global, tais como a indústria das drogas e a
crescente violência. Devido a essa situação de vulnerabilidade, crianças e jovens se
perdem diante das ofertas do tráfico de drogas, ficando a mercê da marginalidade e do
crime. A região estudada da ONG, que realizo o apoio no bairro da Brasilândia, zona
norte de São Paulo, é muito alarmante, pois se concentra um alto índice de criminalidade
e pobreza, falta de infraestrutura e saneamento básico, falta de educação, cultura, valores
sociais e morais. Tornando assim os jovens dessa região os maiores prejudicados, por
não terem perspectivas de um futuro melhor. Segundo dados do Seade, a taxa de
mortalidade por homicídio da população masculina dessa região é de 65%, entre os
jovens de 15 a 19 anos em uma escala de 0 à 100, fazendo que muitos jovens não
cheguem aos 25 anos de idade.

Sendo, a região da Brasilândia, um dos exemplos de bairro com todas essas


dificuldades, faz com que os jovens fiquem à margem da sociedade, tendo dificuldades
de entrar no mercado do trabalho por falta de capacitação profissional, inclusão digital,
má qualidade do ensino e até informação.

Conforme índice do IDEB (Índice de desenvolvimento da Educação Básica)


2005, 2007 pode constatar que a qualidade do ensino no Brasil está abaixo do que é
considerado satisfatório, porque a meta para escolas públicas é de 4,0 e o atingido em
2007 foi de 3,1 e na Brasilândia esses dados são críticos a meta era em 2007 de 4,1 e
terminou em 3,3. Fonte: Prova Brasil e Censo Escolar.

Analisando esses dados, percebemos que se torna de suma importância a


realização de projetos que insiram esses jovens ao mercado de trabalho, pois ter
conhecimento em informática e comunicação é imprescindível, pois segundo a área de
TI da FGV, 79% da população mundial se encontra excluída digitalmente,
tornando essas tecnologias fundamentais para o desenvolvimento sustentável.
“A inclusão digital não se resume apenas a dispor da tecnologia, como também
ter a capacitação para uso efetivo de todos os recursos tecnológicos. Uma ação de
inclusão digital estimula o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação,
contribuindo para o desenvolvimento social, intelectual, econômico e político da
população. O benefício é coletivo e a melhoria da qualidade de vida é sensível de modo
imediato no dia a dia.” (www.diariodobrasil.extrablog.net)

Com isso a capacitação de jovens se faz necessária e urgente, podendo transformá-


los em jovens promissores e com melhores perspectivas de vida, além de ajudar na
sustentabilidade da instituição, mantendo ativa a copiadora experimental, que já
funciona e trás bons resultados, tanto interno como para a comunidade do entorno, e que
ainda atua em pequena escala e fomenta a cultura gerando sustentabilidade.

 Metodologia

Estaremos direcionando os Jovens através de Capacitações por EAD (Ensino a distância)


e como principal função estimular talentos e aumentar a capacidade de atuação de cada
educando, utilizando por base a Proposta, que objetiva a promoção da cidadania,
utilizando cursos de capacitação e para qualificação profissional em diversas áreas
como: informática, a sustentabilidade, administração, comunicação e outros
conforme as habilidades dos alunos, para fomentar a formação de cidadãos críticos,
a igualdade de oportunidades e a democracia com aprendizados.

Contemplamos alguns passos, que fomentam a inclusão social, são eles:


- Leitura de Mundo (Mergulho na Comunidade), que os alunos devem registrar,
com fotos, filmagens, ou pesquisas;
- Problematização (discussão do que foi visto);
- Plano de ação, após a discussão e decisões sobre o que mais impactou, criar uma
estratégia para ser trabalhada;
- Implementação (a ação propriamente dita);

Sobre os Cursos de Capacitações, EAD (Ensino à Distância)

Os cursos oferecidos são de conteúdos desenvolvidos por professores e profissionais


capacitados e atuantes em suas áreas e no decorrer do projeto que além de terem um
caráter profissionalizante, trarão os princípios da cidadania e inclusão digital e social
formando jovens cidadãos.

 Palestras: Através das diversas parcerias, traremos profissionais das


áreas co-relacionadas, para realizarem palestras e bate-papos com os educandos, no
intuito de relatarem suas experiências e estimularem a reflexão sobre os cursos e os
mais diversos assuntos abordados.

Oportunidades: para os alunos colocarem em prática todo o aprendizado,


estabeleceremos parcerias para inclusão dos educados, em projetos como aprendizes
ou estagiários, através de nossos parceiros e/ ou patrocinadores para o projeto. Os
alunos que mais se destacarem farão parte do núcleo de comunicação da
instituição, prestando serviços para todos os comércios e empreendedores da
região, criando a geração de renda.

Nota: A exigência para que os adolescentes possam participar das aulas é que
estejam estudando na rede publica, sendo comprovado com uma declaração da
própria escola, que apresentem boas notas e que tenham uma renda máxima de até
3 salários mínimos.

 Metas
Capacitar jovens (de ambos os sexos) moradores das comunidades carentes do
entorno das empresas ou ONG´s, por EAD (ensino a distância).

Duração Projeto: 12 (doze) meses, conforme critérios estabelecidos com as ONG`s,


os alunos poderão se cadastrar em até 03 cursos, de acordo com suas aptidões e
habilidades.

 Sustentabilidade
Somos uma empresa com foco em Educação, Cultura e Soluções na
Sustentabilidade, envolvendo toda a parte de ações para Impactos socioambientais e
econômico, e nosso objetivo além da educação e cultura, para através dos cursos e
aprendizados e de outros projetos das ONG´s, trarão a sustentabilidade necessária
para a continuidade e ampliação no número de beneficiários das instituições e para
proporcionar a busca para auto-sustentação dos atendidos, melhorando sua
autoestima, visão crítica e habilidades.

 Avaliação

Indicadores
Atividades Indicadores qualitativos
quantitativos

Divulgação do Projeto ONG, parceiros, site,


Redes Sociais e canais
Capacitação Cursos EAD Freqüência nas
atividades Relatório Individual de avaliação
On line
Palestras e debates co-
relacionados Freqüência nas Relatório de atividades e avaliação
ao projeto atividades de aproveitamento;

Na prática Assiduidade, Avaliação dos serviços executados e


(estágio dos Jovens pontualidade e de atendimento;
praticando as diversas absenteísmo nos
modalidades) parceiros
Entrega de certificado Presencial ou digital Presencial ou digital

Planejamento de execução das atividades e Realizador desse projeto

 SEU MUNDO SUSTENTÁVEL

Idealizador, fomentador e parceiros em consultoria para apoio na elaboração e


implementação estratégica do projeto, divulgação geral, busca de parcerias,
ministrar treinamentos em comunicação e marketing presencial, e cursos pela
plataforma EAD. Ensino a distância www.seumundosustentavel.com.br

Parceiro Apoiador

 CLICKSUSTENTABILIDADE

Plataforma, para interação do público com ações efetivas de sustentabilidade,


onde o internauta, parceiro usuário, escolhe um entre os projetos oferecidos pelo
site, recebe-o gratuitamente em sua casa, para aplicar ao seu dia a dia. Quando
um projeto se esgota, há novas disponibilidades de projetos inovadores e
conscientes, www.clicksustentabilidade.com.br
LOGÍSTICA REVERSA

Brasil e sua Logística Reversa

Arthur Lamblet Vaz*

*Graduando em engenharia de produção do Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca do Rio de Janeiro,
arthurvaz05@gmail.com – Publicações recentes: ESTUDO SOBRE GÊNERO NA PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DO BRASIL EM ÁREAS
SELECIONADAS, orientadora: Cristina Gomes de Souza
SUMÁRIO

LOGÍSTICA DE PÓS-VENDA........................................................................................... 9
LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGEM.........................................................................9
IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA.........................................................................10
LOGÍSTICA REVERSA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA.......................................................11
3

RESUMO

A logística sempre foi um tema que possuiu inúmeros trabalhos publicados no decorrer do tempo por
ser um tema bastante flexível para diversas áreas. Com isso, a área de logística obteve um grande avanço
tecnológico com o fim de trazer melhores resultados financeiros no final do ano ou mês paras as empresas.

A velocidade de adaptação de instrumentos concorrenciais, principalmente referente aos aspectos


logísticos, obriga as organizações a estarem atentas a tais mudanças, bem como desenvolver ferramentas
modernas que garantam sua sobrevivência ou sua primazia no mercado mundial. Fleury (2007, p. A8)
corrobora e esclarece que “o mundo presenciou uma revolução nos conceitos, práticas e tecnologias
logísticas, que contribuem decisivamente para o acelerado avanço da globalização”.

Neste contexto, vamos abordar um segmento da logística com fim de mostrar qual o seu papel no
atual cenário e como ele atua. Tendo em vista que o planeta Terra vem passando por mudanças climáticas,
levando o ser humano realizar um estudo mais aprofundado em alternativas para combater o aquecimento
global. Logo, podemos afirmar que a sustentabilidade vem se tornando um tema de grande importância para
todas as empresas e país.

HISTÓRIA DA LOGÍSTICA
A logística que conhecemos hoje é uma das praticas mais antigas realizadas pelo ser
humano. No começo da existência da vida humana a logística era utilizada por tribos nômades que
tinham que se locomover em busca de abrigo e alimentos ou por motivos de fatores climáticos, tipo
de predador ou outra ameaça. Posteriormente vieram a utilizar a logística em estratégia de guerras,
como exemplo do “Alexandre O Grande”. Segundo José Augusto Cerqueira (2009, p.2) “O grande
incentivador do uso da Logística para fins militares foi Alexandre O Grande, seu império alcançou
diversos países, incluindo Grécia, Pérsia e Índia.”. Não apenas logística no campo de batalha, mas
também uma logística de suprimento que o Alexandre o Grande utilizou com isso, conseguiu o
título do portador da tropa que percorreu mais quilômetros na história.
4

Com o decorrer do tempo, inúmeros fatores históricos conhecidos atualmente tiveram a


utilização da logística em alguma parte da sua história, porém, apenas na década de 60 as industrias
perceberam que poderiam adotá-la também e com isso surgiu a logística industrial.

LOGÍSTICA REVERSA
Para definir o que é logística reversa precisamos entender primeiramente o que é logística de
um modo geral, segundo o dicionário a definição do termo logística é: O ramo da ciência militar
que lida com a obtenção, manutenção e transporte de material, pessoal e instalações. Mas essa
definição que é encontrada em dicionários é num contexto militar e a logística tem inúmeras
definições, desde primeiro livro-texto a sugerir os benefícios da gestão coordenada da logística em
1961 (SMYKAY et al, 1961), surgiram várias definições e posteriormente vertentes. Com isso,
conceituamos logística adotando uma definição mais atual sugerida por Council of Supply Chain
Management Professionals apud Novaes (2001) “Logística é o processo de planejar, implementar e
controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços e
informações associados, cobrindo desde o ponto de origem até o ponto de consumo, com o objetivo
de atender aos requisitos do consumidor” (2001, p.36). O gráfico abaixo consegue ilustrar como é
um exemplo de um fluxograma do processo logístico do processamento do produto até o pedido.
5

Fonte: http://www.ilos.com.br/web/index.php?option=com_content&task=view&id=1068&Itemid=74

Agora iremos abortar uma vertente da logística, que se chama, nela analisamos o processo
do ponto final ao retorno de origem. O seu surgimento se deu pela preocupação com meio ambiente
devido ao acelerado crescimento populacional e da economia mundial (ou economia autodestrutiva,
segundo Lester Brown). Com esses empasses, veio uma nova economia chamada eco-economia,
que segundo Lester Brown:
“A economia global atual foi formada por forças de mercado e não por
princípios de ecologia. Infelizmente, ao deixar de refletir os custos totais dos
bens e serviços, o mercado presta informações enganosas aos tomadores de
decisões econômicas, em todos os níveis. Isso criou uma economia
distorcida, fora de sincronia com os ecossistemas da Terra - uma economia
que está destruindo seus sistemas naturais de suporte.” (Lester R. Brown,
2003, p.84)

Uma das formas de praticar essa nova economia é a utilização da logística reversa, que é
uma área/função bastante ampla que envolve todas as operações relacionadas com a reutilização de
produtos e materiais como as atividades logísticas de coletar, desmonte e processo de produtos e/ou
materiais e peças usadas a fim de assegurar uma recuperação sustentável dos mesmos e que não
6

prejudiquem o meio ambiente (REVLOG, 2005). Segue abaixo a Figura 2 ilustrando o


funcionamento do processo logístico reverso.

Fonte: LACERDA, Leonardo. Logística Reversa Uma visão sobre os conceitos básicos e as práticas operacionais, p. A4

LOGÍSTICA DE PÓS-CONSUMO
A produção de lixo anual no mundo inteiro está em crescimento acelerado por diversos
fatores: crescimento populacional, avanço tecnológico (que ajuda na diminuição da vida útil dos
produtos e assim tornando-os obsoletos). E no Brasil não é diferente, em São Paulo produzia-se em
1985, 4.450 toneladas de lixo por dia, este número subiu para 16.000 toneladas por dia em 2000.

A figura 3 retrata o descaso dos governos brasileiros em relação ao lixo, pois mais do que a metade
do lixo produzido, cerca de 76%, se destina ao lixões onde não recebem o tratamento adequado.
7

Figura 3 – Fonte: Fichas técnicas do CEMPRE

Pode-se observar do gráfico acima que a população brasileira e os governos não estão
adeptos ainda a práticas de reciclagem, compostagem e incineração, que seriam as mais adequadas.

Figura 4 – Fonte: Fichas técnicas do CEMPRE

A figura 4 mostra a média Nacional de reciclagem dividido por tipos de materiais e podemos
concluir que o material que se mais recicla no Brasil é o alumínio. E segundo o gráfico abaixo
somos líderes desse tipo de reciclagem.
8

Figura 5 – Índice mundial de reciclagem de alumínio.

A visão e a preocupação com a reciclagem estão mudando não só no Brasil, mas em todo
mundo, e segundo Carla Fernanda Mueller (2005, p.2) “O perfil do novo consumidor é de
preocupação com o meio-ambiente, pois ele tem consciência dos danos que dejetos podem causar
em um futuro próximo. A falta de aterros sanitários e o constante aumento de emissões de
poluentes, inclusive nos países mais desenvolvidos, geram polemicas discussões em âmbito
mundial. Esta preocupação se reflete nas empresas e indústrias, que são responsabilizadas pelo
aumento destes resíduos. E é pensando nestes fatores que surgem políticas de processos que
contribuam para um desenvolvimento sustentável. A Logística Reversa de pós-consumo vem
trazendo o conceito de se administrar não somente a entrega do produto ao cliente, mas também o
seu retorno, direcionando-o para ser descartado ou reutilizado”.
Portanto, a logística de pós-consumo basicamente é a utilização de um produto após o seu
estágio final com ou sem funcionamento.
“Um bem é chamado de pós-consumo quando é descartado pela sociedade.
O momento do descarte pode variar de alguns dias a vários anos. As
diferentes formas de processamento e comercialização, desde sua coleta até
a integração ao ciclo produtivo como matéria-prima secundária, são
chamados canais de distribuição reversos de pós-consumo." (RESENDE,
2004, p. 23)
9

Figura 6 – Fluxograma de pós-consumo.


Fonte: Leite consultorias

Este canal de distribuição reversa tem sido utilizado há bastante tempo por fabricantes de
bebidas, que precisam retornar suas embalagens, a fim de reutilizá-las. Siderúrgicas já usam parte
da sucata produzida por seus clientes com insumo de produção. O retorno de latas de alumínio se
torna cada vez mais um negócio rentável, e as indústrias procuram inovar os métodos de proceder
com o retorno destas embalagens.
Outro canal de logística reversa de pós-consumo tem se tornado necessário: o retorno de
produtos altamente nocivos ao meio ambiente. Embalagens de agrotóxicos, pilhas, baterias assim
como produtos utilizados em pesquisas laboratoriais. Estes produtos contêm compostos químicos
tóxicos e compostos químicos radioativos, e nestes casos o perigo, na falta de uma cadeia reversa de
recolhimento, é iminente. O retorno de equipamentos tecnológicos tem se mostrado um novo e
lucrativo setor. Peças e equipamentos podem ser reutilizados, dentre outras coisas se encontram
minérios de alto valor agregado, como cobre, prata e ouro.
Existem duas vertentes de logística reversa pós-consumo:
• Ciclo aberto: consiste no retorno do material usado e não do produto em si para
fabricação da matéria-prima. Podem-se citar como exemplo os eletrodomésticos
descartados, de onde são extraídos diversos componentes, sendo um deles material
10

ferroso que será reintegrado como matéria prima secundaria na fabricação de chapa
de aços, vigas entre outros;
• Ciclo fechado: consiste no aproveitamento do material de um determinado produto
escolhido seletivamente para a fabricação de um produto similar o de origem. Como
exemplo, temos a baterias de carro, que dela pode-se extrair a liga de chumbo e a
carcaça de plástico para a reutilização em uma nova bateria.

LOGÍSTICA DE PÓS-VENDA
Leite (2003) denomina “Logística Reversa de pós-venda” a área específica da logística que
se ocupa do equacionamento e da operacionalização do fluxo físico e das informações logísticas
correspondentes aos bens de pós-venda sem uso ou com pouco, isso, que por diferentes motivos,
retornam aos diversos elos da cadeia de distribuição direta.
O fim do ciclo de vida não termina mais ao chegar ao consumidor final. Parte dos produtos
necessita retornar aos fornecedores por razões comerciais, garantias dadas pelos fabricantes, erros
no processamento de pedidos e falhas de funcionamento. Tem-se um Código do Consumidor
bastante rigoroso que permite ao consumidor desistir e retornar sua compra num prazo de sete dias.
Várias empresas, por razões competitivas, estão adotando políticas mais liberais de devolução de
produtos.
Empresas que não possuem um fluxo logístico reverso perdem clientes por não possuírem
uma solução eficiente para lidar com pedidos de devolução e substituição de produtos. A ação de
preparar a empresa para atender estas exigências minimiza futuros desgastes com clientes ou
parceiros. A logística reversa de pós-venda segue o propósito da criação deste determinado setor,
agregando valor ao produto e garantindo um diferencial competitivo. A confiança entre os dois
extremos da cadeia de distribuição pode se tornar o ponto chave para a próxima venda.
Podemos citar como exemplo empresas automobilísticas que pedem para fazer o “recall” de
algum determinado veiculo por causa de um defeito de alguma peça na fabricação, também
11

encontramos essa atividade em sites como “eBay” e “Mercado Livre”, que tem como função servir
de meio para compradores e vendedores de mercadorias novas ou usadas.

Figura 7 – Fluxograma de pós-venda.


Fonte: Leite consultorias / *Cadeia Logística de Pós-Consumo
12

LOGÍSTICA REVERSA DE EMBALAGEM


Apesar de se enquadrar na logística reversa de pós venda ou pós consumo, queremos subdividir o
conceito de logística reversa de embalagem pela sua importância.
Com a concentração da produção, verifica-se o atendimento de distribuição a mercados cada
vez mais afastados. Consequentemente há um aumento da distância média de transporte e o retorno
dos caminhões vazios (unicamente com as embalagens de transporte) que implica em um
incremento dos gastos e repercute no custo final do produto.
Com a finalidade de reduzir o impacto negativo das embalagens, alguns medidas poderão
ser adotadas para a redução de resíduos deste material: (Diretiva 94/62 adotada pela Comunidade
Europeia):
- reduzir os resíduos na origem dos mesmos;
- utilizar materiais recicláveis;
- reutilizar os materiais, maximizando o nível de rotação;
- implementar sistemas de recuperação;
- reciclar.
Existe uma tendência mundial em utilizar embalagens retornáveis, reutilizáveis ou de
múltiplas viagens, tendo em vista que o total de resíduos aumenta a cada ano, causando impacto
negativo ao meio ambiente.

IMPORTÂNCIA DA LOGÍSTICA REVERSA


Reaproveitamento e remoção de refugo que fazem parte diretamente da logística reversa
estuda e gerencia o modo como os subprodutos do processo produtivo serão descartados ou
reintegrados ao processo. Devido a legislações ambientais cada vez mais rígidas, a responsabilidade
do fabricante sobre o produto está se ampliando. Além do refugo gerado em seu próprio processo
produtivo, o fabricante está sendo responsabilizado pelo produto até o final de sua vida útil. Isto tem
ampliado uma atividade que até então era restrita a suas premissas. Normalmente, os fabricantes
não se sentem responsáveis por seus produtos após o consumo e com isso aumenta a chance de
consideráveis danos ao meio ambiente.
Atualmente, legislações mais rígidas e a maior consciência do consumidor/empresário sobre
danos ao meio ambiente estão levando as empresas a repensarem sua responsabilidade sobre seus
13

produtos após o uso. A Europa, particularmente a Alemanha, é pioneira na legislação sobre o


descarte de produtos consumidos. (Rogers & Tibben-Lembke, 1999). Administração de devoluções
(que é chamada de Logística Reversa por Lambert) envolve o retorno dos produtos à empresa
vendedora por motivo de defeito, excesso, recebimento de itens incorretos ou outras razões, assim
diz (Lambert, 1998). O maior problema apontado por Caldwell (1999) é a falta de sistemas
informatizados que permitam a integração da Logística Reversa ao fluxo normal de distribuição.
Por esta razão, muitas empresas desenvolvem seus próprios sistemas ou terceirizam este setor para
firmas especializadas, mais capacitadas a lidar com o processo.
Segue abaixo uma figura que ilustra a quantidade de anos necessários para um determinado
produto, descartado de forma errada na natureza, leva para se decompor.

Figura 8 - Fonte http://ecomeninas.blogspot.com.br/2010/10/eco-dicas.html


14

LOGÍSTICA REVERSA NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA


Com o passar do tempo à preocupação pelo meio ambiente se tornou indispensável na
legislação da maioria dos países. No Brasil, não foi diferente, os órgãos responsáveis como Sistema
Nacional do Meio Ambiente (Sisnama), do Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS), do
Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária (Suasa) e do Sistema Nacional de
Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial (Sinmetro) são responsáveis de regularizar e
implementar leis de proteção ao meio ambiente. Em 2010 a política Nacional de resíduos sofreu
alteração em vista da urgência e a importância sobre esse assunto aumentou gradativamente, LEI Nº
12.305, DE 2 DE AGOSTO DE 2010 que alterou a Lei no 9.605, de 12 de fevereiro de 1998 prevê,
vale ressaltar o parágrafo XII que trata especificamente sobre a logística reversa;
“XII - logística reversa: instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um
conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos
resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos
produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada;“

CONCLUSÃO
Apesar de muitas empresas saberem da importância que o fluxo reverso tem, a maioria delas
tem dificuldades ou desinteresse em implementar o gerenciamento da Logística Reversa. A falta de
sistemas informatizados que se integrem ao sistema existente de logística tradicional (Caldwell,
1999), a dificuldade em medir o impacto dos retornos de produtos e materiais, com o consequente
desconhecimento da necessidade de controlá-lo (Rogers & Tibben-Lembke, 1999), o fato de que o
fluxo reverso não representa receitas, mas custos e como tal recebem pouca ou nenhuma prioridade
nas empresas (Quinn, 2001), são algumas das razões apontadas para a não implementação da
Logística Reversa nas empresas.
Lambert (1998) aponta à logística desempenhando importante papel no Planejamento
Estratégico e como arma de Marketing nas organizações. Empresas com um bom sistema logístico
conseguiram uma grande vantagem competitiva sobre aquelas que não o possuem. Sua grande
15

contribuição é na ampliação do serviço ao cliente, satisfazendo exigências e expectativas. Os


autores pesquisados afirmam colocar a Logística Reversa como parte fundamental do sistema
logístico das empresas. O que se percebe é que é apenas uma questão de tempo até que a Logística
Reversa ocupe posição de destaque nas empresas. As empresas que forem mais rápidas terão uma
maior vantagem competitiva sobre as que demorarem a implementar o gerenciamento do fluxo
reverso, vantagem que pode ser traduzida em custos menores ou melhora no serviço ao consumidor.
Uma integração da cadeia de suprimentos também se fará necessária. O fluxo reverso de produtos
deverá ser considerado na coordenação logística entre as empresas.

BIBLIOGRAFIA
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Projeto Layout de Casa Ecológica Auto Sustentável para fins
didáticos
Fábio Rubio , Nilson YukihiroTamashiro1

Resumo
Este trabalho foi desenvolvido por alunos da FTT – Faculdade de Tecnologia
Termomecanica sob supervisão do Prof. Nilson, e teve como objetivo inicial a criação de um
projeto de layout de uma casa popular ecológica autossustentável no que diz respeito a
aquecimento, iluminação, reaproveitamento da água e materiais que seriam utilizados na
construção da mesma.
Um segundo passo seria a construção de uma maquete em madeira balsa para fins
ilustrativos e didáticos dos princípios de funcionamento dos sistemas de captação, coleta e
transformação de energia a serem utilizadas na casa.
O terceiro passo seria a construção, propriamente dita, utilizando o layout e o material
de pesquisa desenvolvido pelos alunos que servirá de referencia para a escolha e construção dos
sistemas ecológicos da casa. Após a construção esta casa servirá de sala de aula para que os
alunos observem e aprendam formas alternativas de geração de energia e a importância da
ecologia na sobrevivência do planeta.

Abstract
This work was developed by students from the FTT - Faculdade de Tecnologia
Termomecanica under the supervision of Prof. Nilson, and aimed to start creating a layout
design of a self-sustaining ecological house popular with regard to heating, lighting, water and
reuse of materials that would be used in the construction of this house.
A second step would be to build a model balsa wood for illustrative purposes and
teaching the principles of operation of systems for capturing, collecting and processing energy
to be used in the house.
The third step would be the construction itself, using the layout and research material
developed by students who will serve as reference for the selection and construction of the
ecological systems of the house. After building this house will serve as a classroom for students
to observe and learn alternative forms of energy generation and the importance of ecology in the
survival of the planet.

1*Nilson YukihiroTamashiro - Professor na área de Mecatrônica Industrial da FTT – Faculdade de Tecnologia


Termomecanica; - Mestrando em Engenharia Biomédica-UMC; - MBA em Gestão Empresarial-FGV; - Pós-
Graduado em Administração de Empresas para Engenheiros-UNIFEI; - Pós-Graduado em Processos de
Conformação de Mecânica de Materiais Metálicos – USP; - Pós-Graduado em Gestão Empresarial-UNIFEI. Email:
nyt@ig.com.br.

**Fábio Rubio - Professor na área de Mecatrônica Industrial da FTT – Faculdade de Tecnologia Termomecanica; -
Mestre em Engenharia Biomédica-UMC; - Pós-Graduado em Processos de Conformação de Mecânica de Materiais
Metálicos – USP;

- Pós-Graduado em Administração da Produção - UNIFEI; Email: fabio.rubio@terra.com.br.


1. INTRODUÇÃO

Atualmente uma das grandes preocupações mundiais, está relacionada com os


cuidados que devemos ter com o meio ambiente e ao alto consumo de água e energia
elétrica.
Ao longo de 2010, o consumo médio mensal de energia elétrica do Sistema
Interligado Nacional (SIN) foi de 56.577 megawatts (MW), um crescimento de 8,3%
em relação aos 52.223 MW médios consumidos em 2009. Essa foi a maior carga já
demandada do SIN na história do país. [6]
Em relação ao consumo de água, o brasileiro também deixa a desejar poiso
mesmo gasta mais água que a média mundial, segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS). De acordo com a entidade, para higiene e consumo geral, uma pessoa precisa de
cerca de 110 litros de água por dia. No entanto, no Brasil, se gasta o dobro, 220 litros
por dia, ou mais. [7]
Os fatores que mais causam preocupações estão ligados à poluição das águas, a
destruição das matas, o uso de componentes químicos nos diversos setores, a
preservação da fauna e flora e o grande volume de lixo produzido mundialmente que
acaba se tornando um inconveniente, devido ao seu armazenamento e aterros sanitários,
muitas vezes irregulares, gerando inúmeros problemas. [7]

O lixo pode ser reaproveitado. As diferenças na quantidade e no tipo dos


resíduos dependem de vários fatores como poder aquisitivo, grau de urbanização,
consumo e distribuição de bens, entre outros. [7]
Estudos e documentos ambientais ressaltam que é muito mais fácil gerenciar o
lixo quanto menos lixo houver, assim os procedimentos conhecidos como os 3 “Rs” são
fundamentais neste processo. [7]
Os “Rs” se referem à Redução no consumo (a fonte geradora), a Reutilização
direta dos produtos e a Reciclagem de materiais.
A reciclagem nada mais é do que a recuperação de materiais por meio de
processamento industrial, para a produção de um bem, que pode ou não ser do mesmo
tipo ou ter a mesma função que o original.
Neste projeto a reciclagem entra como peça chave para o processo de melhoria
no gerenciamento do lixo produzido. E a educação ecológica das novas gerações é de
fundamental importância para que haja futuro do planeta e da humanidade, portanto,
não importa a área do conhecimento, todos indistintamente têm de participar de forma
efetiva na disseminação da evolução do conhecimento, das tecnologias e do progresso
mas de forma ecológica.

2. OBJETIVO

Este projeto NUPE (Núcleo de Pesquisa) realizado pelos alunos do Curso de


Mecatrônica Industrial da FTT – Faculdade de Tecnologia Termomecanica tem como
objetivo proporcionar a iniciação científica dos alunos do ensino superior em buscar
todas as formas sustentáveis atuais para se projetar e construir uma casa ecológica, que
posteriormente servirá como sala de aula para mostrar e conscientizar outros discentes
de diversos ciclos da real importância da sustentabilidade do planeta.
Não só no Brasil como também no mundo as maiores preocupações estão voltadas
quanto ao mau uso dos bens da natureza, água, ar, solo, etc. Sem se esquecer do lixo que
pode ter destinos mais proveitosos que o aterro sanitário.
A proposta da casa ecológica tem como objetivos gerais:
1. Criar um espaço para demonstrar procedimentos adequados na construção
de uma casa ambiental e abrigar atividades relacionadas à educação.
2. Desenvolver critérios para sustentabilidade, racionalização de água e
energia, conforto dos usuários e viabilidade econômica com mínimo
impacto ambiental.
3. Servir como laboratório demonstrativo e informativo de procedimentos
ecologicamente corretos atendendo o público interno, comunidade e
Associações relacionadas ao Meio Ambiente.
Sendo que os Objetivos específicos são:
1. Materiais construtores renováveis: madeiras, cerâmicas,
reaproveitamento de materiais básicos como civis, elétricos e hidráulicos,
utilização de materiais fabricados a partir da fibra de PET.
2. Aproveitamento de condicionantes ambientais: ventilação cruzada,
iluminação natural, sombreamento com adoção de beirais.
3. Sistema energético: aquecimento solar, energia fotovoltaica, eólica, etc...
4. Tratamento de esgoto e aproveitamento da água no vaso sanitário e
jardins, captação da água de chuva.
5. Paisagismo: Plantio de mudas frutíferas, agricultura orgânica e
compostagem.

3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Dentre muitos estudos sobre fontes alternativas de energia, as que se encontram


em estágio mais avançado são a eólica e a solar. Porém existem outras duas fontes
alternativas muito promissoras: a geotérmica e a piezo eletricidade.

3.1. ENERGIA EÓLICA

A energia eólica consiste resumidamente em utilizar-se da força dos ventos para


gerar energia elétrica. Ela é considerada atualmente a fonte de energia mais limpa do
planeta.
Hoje em dia é vista como uma das mais promissoras fontes de energia
renováveis e já é um elemento habitual nas paisagens do EUA e nos países da Europa.
Desenvolveu-se principalmente na Califórnia, com a massiva instalação de
parques eólicos na década de 80.
Figura1 – Aero geradores.

3.1.1. ENERGIA EÓLICA NO BRASIL E NO MUNDO


Em nível mundial, a energia eólica vem evoluindo de forma assinalável. Para ter
uma idéia dessa taxa de crescimento, observa-se que uma das bases de dados mais
conhecidas, registava no dia 4 de Março de 1998 e no dia 25 de Março de 2009 os
valores de 7.322 MW (megawatts) e 120.475 MW, respectivamente.
Nesses 11 anos, foram instalados no mundo mais 110 GW (gigawatts ou 110.000
megawatts) de potência eólica, a esmagadora maioria dos quais na Europa (cerca de 65
GW), com especial destaque ao caso da Alemanha, vice-líder mundial de potência
eólica instalada (líder até 2007, cedendo seu lugar para os Estados Unidos, que só em
2008, instalou cerca de 8 GW), com mais de 24 GW.
O Brasil é um dos países com maiores potenciais eólicos do mundo. Nos
municípios em que se foi estudado o seu potencial de vento, os resultados foram
bastante favoráveis. Exemplos são os municípios de Tainha e Prainha no Ceará onde
suas usinas eólicas possuem capacidade de produzir mais de 15 MW por ano.
A capacidade de geração de energia eólica no Brasil aumentou 77,7% em 2009,
em relação ao ano anterior, mais que o dobro do crescimento da média mundial: 31%.
Com isso, o país passou a ter uma capacidade instalada de 606 MW, contra 341 MW de
2008.
O crescimento brasileiro foi maior, por exemplo, que do EUA que possuiu um
aumento de 39%, o da Índia (13%), o da Europa (16%), porém menor em relação a
China cuja a capacidade de sua geração aumentou em 107%.
O Brasil representa apenas 0,38% da capacidade instalada do total mundial, mas
responde por metade da total da América Latina.
Segundo o diretor-executivo da Associação Brasileira de Energia Eólica
(ABEEólica), Pedro Perrelli, o desenvolvimento do parque eólico do país só não é
maior porque o Brasil tem muita capacidade hidrelétrica instalada e potencial, mas que
apesar disso, tem ainda muito terreno para crescer na energia eólica.Um exemplo de um
sistema eólico é apresentado na figura 2

Figura 2 – Exemplo de uma instalação eólica


Fonte: ABEEólica

Um sistema eólico constitui-se por vários componentes que devem trabalhar em


harmonia de forma a propiciar um maior rendimento final. Para efeito de estudo global
da conversão eólica devem ser considerados os seguintes componentes: (ABEEólica)
Vento: disponibilidade energética do local destinado à instalação do sistema
eólico.
Rotor: responsável por transformar a energia cinética do vento em energia
mecânica de rotação.
Transmissão e caixa multiplicadora: responsável por transmitir a energia
mecânica entregue pelo eixo do rotor até a carga. Alguns geradores não utilizam
estecomponente; neste caso, o eixo do rotor é acoplado diretamente à carga.
Gerador elétrico: responsável pela conversão da energia mecânica em energia
elétrica.
Mecanismo de Controle: responsável pela orientação do rotor controle de
velocidade, controle de carga, etc.
Torre: responsável por sustentar e posicionar o rotor na altura conveniente.
Sistema de Armazenamento: responsável por armazenar a energia para produção
de energia firme a partir de uma fonte intermitente.
Transformador: responsável pelo acoplamento elétrico entre o aerogerador e a
rede elétrica.
O rendimento global do sistema eólico relaciona a potência disponível do vento
com a potênciafinal que é entregue pelo sistema. Os rotores eólicos ao extraírem a
energia do vento reduzem a sua velocidade; ou seja, a velocidade do vento frontal ao
rotor (velocidade não perturbada) é maior do que a velocidade do vento atrás do rotor
(na esteira do rotor). Uma redução muito grande da velocidade do vento faz com que o
ar circule emvolta dorotor, aoinvés de passar através dele. 59,3% da energia contida no
fluxo de ar pode serteoricamente extraídapor uma turbina eólica. Na prática, entretanto,
o rendimento aerodinâmico das pás reduz ainda mais este valor. Para um sistema eólico,
existem ainda outras perdas, relacionadas com cada componente (rotor, transmissão,
caixa multiplicadora e gerador). Além disso, o fato do rotor eólico funcionar em uma
faixa limitada de velocidade de vento também irá contribuir para reduzir a energia por
ele captada. (ABEEólica)

3.1.2. PROTÓTIPO AEROGERADOR UTILIZANDO UMA


VENTOINHA
É possível gerar energia através de uma bobina de uma ventoinha ( cooler de
computador). Para tal efeito, faz-se necessário girar a hélice de tal ventoinha a ponto de
gerar altas rotações. Porém a bobina deverá ser capaz de gerar uma grande quantidade
de diferença de potencial, caso contrário mesmo a altíssimas rotações a bobina desse
motor gerará d.d.p. ao nível de milivolts. (ABEEólica)
3.2. ENERGIA SOLAR
A energia solar consiste resumidamente em transformar energia luminosa em
energia elétrica.
Em São Paulo está em vigor a aplicação da lei municipal no 14.459 de 3 de julho
de 2007 ou lei da energia solar que prevê a instalação de sistemas de aquecimento solar
para novas edificações. Estima-se que a médio prazo haverá uma economia de até 40%
no consumo de energia elétrica. (ASBC – Aquecedor Solar de Baixo Custo – Sociedade
do Sol).[10]

Fig. 3- Painel Solar


ASBC – Aquecedor Solar de Baixo Custo – Sociedade do Sol).

3.3. ENERGIA GEOTÉRMICA

Figura 4 – bomba de calor geotermica


3.4. PIEZOELETRICIDADE
Segundo CASIMIRO a piezoeletricidade consiste resumidamente em converter a
energia mecânica gerada por um fluxo de pessoas ou de carros em um determinado local
e convertê-la em energia elétrica por meio de um cristal: o cristal piezoelétrico.
O efeito-piezoelétrico foi descoberto pelosirmãos Pierre e Jacques Currie há
mais de 130 anos na França. A primeira publicação sobre esse assunto, que ocorreu em
1880, só tratava do efeito piezoelétrico classificado como direto. Posteriormente, em
1881, Lippman reportou o efeito piezoelétrico inverso.

3.4.1. EFEITOS DA PIEZOELETRICIDADE


O efeito direto é caracterizado pela obtenção de energia elétrica através da
compressão mecânica de materiais com propriedades piezoelétricas. Já o efeito inverso
ocorre quando um campo eletrostático gerado por uma corrente elétrica faz com que os
átomos do material se movimentem, como por exemplo em ressonadores magnéticos.

3.4.2. CRISTAIS PIEZOELÉTRICOS


Os cristais piezoelétricos apresentam estrutura cristalina cúbica com simetria
tetragonal onde os dipolos positivo e negativo não se coincidem conforme a Figura 1 –
Cristal Piezoelétrico.

Figura 5. Cristal Piezoelétrico

Esta estrutura dipolar faz com que o cristal gere eletricidade durante uma
compressão mecânica (efeito direto) e se deforme na presença de um campo elétrico
(efeito inverso).
3.4.3. APLICAÇÕES
Após a sua descoberta, a piezoeletricidade vem sendo utilizada em diversas
aplicações comerciais como, por exemplo, máquinas de ultra-som, relógios de quartzo,
sensores e isqueiros. Além das aplicações citadas, os materiais piezoelétricos estão
sendo utilizados em pisos onde há um grande movimento de pessoas e carros com o
objetivo de gerar eletricidade limpa.

3.4.4. PISOS PIEZOELÉTRICOS


Os pisos utilizam o efeito piezoelétrico direto na geração de energia. Conforme a
movimentação de pedestres e automóveis, o piso sofre compressão gerando energia
elétrica, como demonstrado na Figura6. A energia gerada então é armazenada em
acumuladores de energia para posteriormente ser utilizada em sistemas e circuitos
elétricos. (UNESP).

Figura 6. O Efeito
Fonte: revista da UNESP

Em 2008, uma empresa japonesa chamada Soundpower efetuou testes com o


piso gerador de energia em estações de trens de Tóquio, onde circulam cerca 2,5
milhões de pessoas por semana. Na Europa, duas casas noturnas implantaram pistas de
dança com a tecnologia piezoelétrica aproveitando a animação dos clientes para
iluminar as pistas. Segundo informações da Soundpower, um único passo de um adulto
de 60 quilos no chão gerador de energia gera em média 0,1 watt.(SOUNDPOWER)

3.4.5. PROTÓTIPO
O mecanismo de geração elétrica é composto por um sistema de oscilação
vertical controlado que é composto por cilindro, haste e mola. Este conjunto garante um
movimento vertical uniforme, limitando o grau de oscilação e suportando o peso de
quem caminha sobre a superfície sem lhes gerar incômodo.
Figura 7. Mecanismo
Fonte: SOUNDPOWER

Para se obter mais energia é necessário que os geradores sejam sobrepostos e


que a oscilação resultante da compressão dure o maior tempo possível, como
demonstrado na Figura 7.

4. MATERIAIS ECOLÓGICOS

4.1. MADEIRA ECOLÓGICA


A madeira ecológica consiste de uma madeira sintética, fabricada a partir de
materiais recicláveis. Dentre esses materiais recicláveis pode-se destacar os tubos de
dentifrício, garrafas plásticas, fraldas descartáveis e embalagens Tetra-pack.
A madeira ecológica possui uma ótima vantagem em relação a madeira: ela não
se desgasta em exposição ao sol ou a ambientes úmidos. Além disso, utilizando madeira
ecológica deixa-se de gastar a madeira comum, evitando desmatamentos.
A madeira ecológica está sendo utilizada atualmente como objetos de decoração.

4.1.1. PRODUÇÃO DE MADEIRA ECOLÓGICA


A produção consiste em juntar tais materiais recicláveis juntamente com fibras
vegetais, tais como: serragem, fibra de côco, bagaço de cana, borra de café, bambu,
sabugo de milho,casca de arroz, raspas de couro, algodão, folhas, entre outros. O
resultado é obtido através de um processo que combina termodinâmica com alta
pressão, segundo o presidente da Ecowood, Marcelo Queiroga.(ECOWOOD)
4.2. TIJOLOS ECOLÓGICOS
Foi verificado em pesquisa na internet várias empresas que fabricam tijolos
ecológicos. Dentre elas pode-se mencionar a empresa Lapin fabricante de tijolos
ecológicos. Segundo eles, a produção do tijolo ecológico é feita através de uma técnica
chamada de solo-cimento, que consiste em misturar solo natural apropriado para tal
finalidade junto ao cimento Portland.

5. ILUMINAÇÃO NATURAL

5.1. ILUMINAÇÃO UTILIZANDO GARRAFAS PET

Devido a necessidade da população da cidade de Uberaba-MG de economizar


energia elétrica em uma época de riscos de apagão, um mecânico de nome Alfredo
Moser teve uma grande idéia. Esse mecânico utilizou garrafas PET de 2 litros cheios de
água como meio de iluminação, e o resultado foi muito satisfatório. Muitos moradores
da cidade adotaram a idéia.
Ao serem realizados testes de indicação de luminosidade dessas lâmpadas foi
verificado que elas são equivalentes a lâmpadas convencionais de 40W.

5.2. CONSTRUÇÃO DA LÂMPADA DE GARRAFA PET


Sua construção é simples: enche-se a garrafa de água, coloca-se por volta de
20ml de água sanitária (para evitar proliferação de bactérias na garrafa), tampa-se e por
fim coloca-se um envoltório para proteger a tampa dos raios solares. Para instalá-la em
uma casa, necessita-se furar o telhado para que a garrafa receba os raios solares. (vide
fig. 8).

5.2.1. FUNCIONAMENTO
Ao ser instalado em uma casa, em dias de Sol, os raios solares quando incidirem
sobre a água das garrafas sofreu um efeito conhecido por reflexão, e esse efeito
multiplica seu efeito luminoso no interior do cômodo. (Hartmann, 2011).
A grande vantagem dessa lâmpada é o fato de não consumir energia elétrica, não
há necessidade de apagá-la. Porém não é capaz de usá-la em dias sem Sol, ou de noite.
Figura 8– Esquema de funcionamento da lâmpada.
fonte: FAU_MACKENZIE, 2008

6. VENTILAÇÃO NATURAL

Para soluções de ventilação natural, recomendam-se paredes altas com furos


devidamente localizados e com angulação apropriada.

7. AQUECIMENTO NATURAL

7.1. PROTÓTIPO DE UM AQUECEDOR SOLAR COM GARRAFAS PET


O princípio de funcionamento deste protótipo é simples: a água fria localizada
na caixa d’água, que deve estar necessariamente em uma posição acima do aquecedor,
vai em direção ao aquecedor solar de garrafas PET, neste local a água é aquecida e por
Termo-sifão a água retorna à caixa d’água. Este processo será repetido seguidamente
enquanto houver radiação solar. (SEMA - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos
Hídricos do Estado do Paraná)

Fig.9 – Aquecimento
Fonte : www.sema.org.br
7.1.1. A CIRCULAÇÃO POR TERMO-SIFÃO
Termo-sifão pode ser explicado com as correntes de convecção naturais dos
fluidos. Um fluído, como a água, quando está em temperatura mais elevada tende a
diminuir a sua densidade e diminuindo sua densidade logo tenderá a subir para o topo
do sistema. Já que no sistema do aquecedor solar de garrafas PET o topo é a caixa
d’água, a água mais quente circulará até lá e a mais fria circulará a posição mais baixa,
pois sua densidade é menor. Termo-sifão também é conhecido por sistema de circulação
natural. (SEMA - Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do Estado do
Paraná)

8. APROVEITAMENTO DA ÁGUA

8.1. APROVEITAMENTO DA ÁGUA DE USO RESIDENCIAL


A água usada para atividades domésticas como lavar a louça, lavar a roupa, lavar
a mão ou tomar banho pode ser reaproveitada como água de descarga. A saída dos canos
dessas torneiras deve levar essa água já usada para uma caixa d’água dedicada somente
a esta água, e sua saída deverão ser ligadas aos registros das descargas dos banheiros.

8.2. APROVEITAMENTO DA ÁGUA DA CHUVA

8.2.1. RESERVATÓRIO DE ÁGUA DO TELHADO


A água da chuva normalmente é levada através de calhas e canos do telhado da
casa para a rua, porém a água deste telhado também pode ser aproveitada como água de
descarga. Canos no telhado podem captar a água da chuva e ao invés de ser jogada na
rua, ser levada à uma caixa d’água (a mesma em que serão levadas as águas de uso
residencial), assim podendo ser aproveitada para descarga.

8.2.2. CISTERNAS
Cisternas são reservatórios de água da chuva, que podem ser instaladas nos
fundos de uma casa. São uma ótima alternativa para melhor aproveitamento da água. As
cisternas são muito utilizadas no Nordeste brasileiro.
9. APROVEITAMENTO DO LIXO

O lixo pode ser reaproveitado de várias formas, como por exemplo, as latas de
alumínio podem ser recicladas a fim de gerar novas latas.
A coleta seletiva é essencial para organização e aproveitamento do lixo. Existe
uma padronização mundial das cores das latas de lixo para organizá-lo, que encontra-se
na figura abaixo:

Figura 9 – Reciclagem do Lixo

De acordo com a figura pode-se ver que para vidros a cor da lata é verde; metal-
amarelo; plástico-vermelho; papel-azul; e para não recicláveis utiliza-se a lata branca.

10. ECONOMIA DE ENERGIA

10.1. LÂMPADAS ECONÕMICAS


O tipo mais comum de lâmpada existente no mercado brasileiro é a
incandescente que, apesar de barata converte apenas 5% da energia elétrica gasta em
energia luminosa, o que é um grande desperdício. Muitas pesquisas são feitas para se
produzir lâmpadas que economizem energia, entre elas duas também estão no mercado:
a fluorescente e a LED. (Silveira)

10.2. LÂMPADAS FLUORESCENTES


As lâmpadas fluorescente surgiram como uma alternativa para redução dos
gastos sem necessidade de energia da lâmpada incandescente. Inicialmente possui um
preço alto porém hoje em dia com o avanço dessa tecnologia é possível encontrar
lâmpadas fluorescentes com preços acessíveis a toda população. Atualmente é a melhor
opção com relação a custo/economia de energia – economiza até 90% em relação a uma
lâmpada incandescente. (Silveira).

10.3. LÂMPADAS LED


As lâmpadas LED são as maiores novidades no mercado de lâmpadas. Por ser
uma tecnologia mais nova ela ainda possui um preço alto, porém é capaz de economizar
mais que uma lâmpada fluorescente.

Figura. 10 – tabela comparativa entre as lâmpadas do mercado atual.


Fonte : SILVEIRA

10.4. CHUVEIROS À GÁS


Os chuveiros à gás também são uma opção para economia de energia elétrica. O
site gazlux fez um comparativo entre o consumo de um chuveiro à gás e um elétrico
durante um mês no Rio Janeiro no ano de 2008 onde foi considerado:
• Preço 1 kWh - R$ 0,47 - valor energia residencial fornecida pela Light Serviços
de Eletricidade S.A-RiodeJaneiro–RJ.
• Preço 1 kg G.L. P - R$ 2,31 (considerado 1 botijão 13 kg).
• Consumo chuveiro elétrico de pequeno porte: 19,20 kWh/mês (marca e
equipamento largamente vendidos no mercado).
• Considerados, 30 banhos de 8 min cada, perfazendo um total de 4 horas/mês).
Consumo chuveiro a gás : 0,29 kg/h.
• Custo final do chuveiro elétrico durante 1 hora de funcionamento:
(19,20/4) x 0,47 = R$ 2,26.
• Custo final do chuveiro a gás durante 1 hora de funcionamento: 0,29 x 2,31 = R$
0,67, ou seja, economia de 70% em questões financeiras além de economizar
energia elétrica.

11. PROPOSTA DA CASA SUSTENTÁVEL

11.1. MAQUETE
A maquete foi projetada para uma casa de dimensões populares (60 a 100 m²) e
conterá algumas das propostas escritas nessa revisão. Foi projetada e dimensionada
através de um software de CAD. Como uma proposta futura pode-se fabricar uma
maquete física com o uso da madeira balsa, utilizando os próprios alunos. Esta maquete
irá ser instalada no foye da futura casa ecológica com fins didáticos e ilustrativos em
área da FTT a ser definida pela alta direção.

11.2. VISTAS DA MAQUETE


Vista do sistema eólico, coleta seletiva e caixa dágua com água aquecida.

Vista isométrica da casa mostrando sistema de coleta de água da chuva e


aquecimento solar, abertura lateral para melhor ventilação, telhado com Lâmpadas de
PET, forro do telhado feito de folhas de embalagens TetraPak, sistema de aquecimento
de água utilizando embalagens PET e tubos de PVC, paredes feitas de blocos de
concreto ecológico e estrutura do telhado feitas de madeira ecológica.

12. CONCLUSÃO

Através da pesquisa de várias soluções criativas e de baixo custo, este trabalho


coletou uma grande quantidade de informações de domínio público, que irão possibilitar
a construção de uma casa ecológica autossustentável didática, que por sua vez, irá ser
utilizada como um laboratório no auxilio as aulas das diversas áreas do conhecimento
no que diz respeito à geração alternativa de novas formas de energia e reciclagem. Os
alunos poderão aprender in loco os conceitos teóricos ministrados pelos professores, tais
como desenvolvimento de novos materiais a partir de reciclados e geração alternativa de
energia.
Pode-se dizer que, as aulas ministradas neste ambiente no qual os recursos
energéticos são gerados de forma limpa, além do mobiliário e das paredes que são feitas
de material reciclado, servirão de exemplo e inspiração para as futuras gerações, o que
multiplicará exponencialmente a quantidade de avanços tecnológicos para o
desenvolvimento de pesquisas e soluções, que permitirão o progresso industrial da raça
humana sem que haja a destruição de seus meios naturais.

13. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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[6] http://www.santanafm.com.br/historia-de-vida/1680-consumo-medio-mensal-de-
energia-eletrica-bate-recorde-em-2010
[7] http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL883018-5598,00.html
[8] http://www.entreparticulares.com.br/artigos/2008110790/casa-ecologica/madeira-
ecologica-agitando-no-ramo-decoracao.
[9] http://www.fazfacil.com.br/reforma_construcao/cisternas.html
[10]http://www.sema.pr.gov.br/ Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos do
Estado do Paraná – SEMA
[10] http://www.sociedadedosol.org.br/home.htm.
Responsabilidade Social: a ISO 26.000 aplicada ao Ensino Superior

*Helena Maria Gomes Queiroz1

RESUMO: Este artigo é fruto da tese de doutorado em educação da pesquisadora e tem como objetivo
apresentar uma proposta de diretrizes de responsabilidade social para as Instituições de Ensino
Superior (IES), que contemplem não somente as ações que elas praticam com sua comunidade, via
extensão ou não, mas como também, todas as atividades que praticam com os outros públicos que se
relaciona, como os alunos, os fornecedores, os funcionários administrativos e técnicos, os professores
e o governo. É fundamental destacar que as universidades devem permanecer na busca do
cumprimento de seu papel enquanto promotoras do desenvolvimento de competências técnicas e
humanas, despertando nos alunos a consciência da cidadania.

ABSTRACT: This article is the result of the doctoral thesis in education researcher and aims to
present a proposal for social responsibility guidelines for College Education Institutions (CEIs), which
encompass not only the actions they engage with their community, via extension or not, but also, all
activities that they practice with other audiences that they relate, such as students, suppliers,
administrative and technical staff, teachers and the government. It is important to emphasize that
universities must remain in search of fulfilling their role as promoters of the development of technical
skills and human awakening in students an awareness of citizenship.

1. INTRODUÇÃO

Muitas organizações têm optado pela responsabilidade social como um dos possíveis
caminhos de resposta para alguns dos vários desafios políticos, econômicos, sociais e
ambientais que cruzam o cenário de nosso país. A evolução da responsabilidade social no
Brasil não deixa dúvida de que é uma filosofia que está penetrando nos modelos de gestão, o
que não depende do tamanho ou tipo de organização.
Neste contexto, a responsabilidade social assume relevância estratégica na lacuna da
formação de profissionais que vão projetar o futuro de nosso país. As Instituições de Ensino
Superior (IES) devem permanecer na busca do cumprimento de seu papel de promotoras do
desenvolvimento de competências técnicas e humanas, despertando nos alunos a consciência
da cidadania. As IES são, assim, potencialmente capazes de articular ensino, pesquisa e
1

* Doutora em Educação pela Universidad de la Empresa – Uruguay; Mestre em Administração pela


Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais; Pós-Graduada em Metodologia do Ensino Superior pelo
CEPEMG-Newton Paiva; Pós-Graduada em MBA Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio
Vargas/Universidade de Ohio; Graduada em Administração pela Newton Paiva; Consultora da Trilha – Soluções
em Responsabilidade Social Ltda.; Professora do Curso de Pós-Graduação em RH do IEC Contagem e Praça da
Liberdade; Professora do Curso de Pós-Graduação em Poder Legislativo e Políticas Públicas da Escola do
Legislativo de Minas Gerais; Professora da Fundação Dom Cabral; Professora do IETEC – Instituto de Educação
Tecnológica; Presidente da ONG Espaço Especial; Pesquisadora do NUPEGS – Núcleo de Pesquisa em Ética e
Gestão Social; Autora de diversos artigos.
extensão, tripé fundamental para que a produção intelectual ultrapasse as paredes das classes,
e de prover a efetiva participação da sociedade no processo de construção do conhecimento.
As IES tem sido espaço de promoção de debates de várias ideias e propostas que
buscam superar a crise contemporânea. Entre estas ideias podemos citar: a defesa de formas
solidárias e populares de organização da vida econômica, a valorização da diversidade
cultural, a busca de formas democráticas de gestão, dentre outros. Estas ideias tem sido
discutidas a partir da interdisciplinaridade e da transdisciplinaridade, como perspectivas
indispensáveis para a construção do conhecimento no mundo contemporâneo.
Em agosto de 2004, a discussão da responsabilidade social nas Instituições de Ensino
Superior (IES), ganha relevância, com a operacionalização do Sistema Nacional de Avaliação
da Educação Superior (SINAES), instituído pela Lei nº 10.861 de 14.04.2004 e
regulamentado pela Portaria nº 2.051 de 09.07.2004. A referida Lei estabelece dez dimensões
de avaliação das IES, são elas: a missão e o PDI – Plano de Desenvolvimento Institucional; a
política para o ensino, pesquisa, pós graduação e extensão; responsabilidade social da
instituição; a comunicação com a sociedade; as políticas de pessoas; a organização e a gestão
da instituição; infraestrutura física; planejamento e avaliação; política de atenção ao
estudante; sustentabilidade financeira.
Do ponto de vista das atuais autoridades educacionais do país, o conceito de
responsabilidade social pouco tem a ver com as definições dos diversos autores apresentados
neste estudo. Considera-se responsabilidade social das Instituições de Ensino Superior como a
construção de um caminho pautado pela ética e coerência que as instituições necessitam ter
com todos os públicos com os quais elas se relacionam: alunos, professores, empregados,
fornecedores, comunidade e governo.
As hipóteses deste estudo são duas: A responsabilidade social das Instituições de
Ensino Superior é percebida por meio dos projetos de extensão com as comunidades; Os
critérios de avaliação adotados no SINAES são insuficientes para analisar a responsabilidade
social das Instituições de Ensino Superior.
Nesse sentido, o objetivo geral é pesquisar a responsabilidade social no Curso de
Administração, de três Instituições de Ensino Superior, em Belo Horizonte – Minas Gerais.
Os objetivos específicos são: Mapear o perfil dos alunos e professores do Curso de
Administração; Analisar se alunos e professores do Curso de Administração das IES objeto de
estudo, conhecem e participam da avaliação do SINAES; Investigar se o ensino e a pesquisa
contemplam a responsabilidade social nas IES, especificamente no Curso de Administração;
Pesquisar se as ações de responsabilidade social exercidas pelas Instituições de Ensino
Superior estão vinculadas aos seus programas de extensão; Elaborar diretrizes de
responsabilidade social para o ensino superior.
Esta investigação tem sentido pois, pelo fato de que a temática tem adquirido cada vez
mais grande importância no campo das Ciências Sociais e Humanas em geral, são poucos os
estudos realizados com rigor científico no país. Os resultados desta pesquisa são de grande
utilidade, não somente para as próprias instituições investigadas, interessadas que são na
consolidação de seu projeto de responsabilidade social, mas também para o movimento
organizacional crescente nesta direção.

2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Marco Teórico

O maior desafio do ensino superior é caminhar para uma educação de qualidade que
segundo Moran (2000) “integre todas as dimensões do ser humano”. Para isso, faz-se
necessário, pessoas que façam “integração em si mesmas do sensorial, o intelectual, o
emocional, o ético e o tecnológico e que transitem de forma fácil entre o pessoal e o social”.
Considerando a homogenização de todas as Instituições de Ensino Superior privadas
na categoria de empresas educacionais, independentemente da finalidade de seus lucros, deve-
se destacar que pautar as estratégias de marketing em torno da questão da responsabilidade
social, é também a tendência do momento no mercado de ensino superior. Nesse sentido,
Calderón (2005) constata que, em relação à atuação das IES no mercado: cada vez mais
adotam em suas estratégias de marketing o discurso da responsabilidade social, não sendo
reflexo necessariamente de uma prática institucional real.
Assim, as instituições de Ensino Superior apresentam um espaço fundamental para que
a Responsabilidade Social possa consolidar-se como área de conhecimento, além de
subvencionar a formação de profissionais mais conscientes de seus papéis de cidadãos e
agentes da transformação social que buscam escrever um final diferente para a historia dos
dilemas sociais de nosso país.
O conceito de educação superior, de acordo com Carvalho (2005), aproxima-se de
uma relação de dignidade com seus aliados, à medida que prioriza estratégias pedagógicas
que valorizem atributos durante a formação de seus alunos, tais como: autonomia,
participação, solidariedade, produção, empreendedorismo, responsabilidade com a vida
comunitária, sensibilidade a demandas e necessidades de grupos específicos, capacidade de
criação e adaptação a novas situações, desenvolvimento de habilidades de auto-aprendizagem,
utilização ética de novas tecnologias e possibilidade de colaboração na melhoria da qualidade
de vida global da comunidade.
Rosler e Ortigara (2005), contribuem dizendo que a responsabilidade pela educação de
qualidade é de todos, ou seja, família, sociedade e Estado. Na opinião de Rocha Neto (2005),
há distinção entre ensino, como transmissão do saber, ou treinamento de práticas
profissionais, e educação, como formação e libertação dos indivíduos – como transformação
pessoal e coletiva, pela apropriação de conhecimentos.
Predominantemente público até a década de 60, o ensino superior teve sua política
modificada e deu espaço ao crescimento do setor privado (CASTRO; TIEZZI, 2005). De
acordo com o Censo do Ensino Superior, faz-se necessário a diversificação e flexibilização do
ensino, tanto público quanto privado, para receber um grande número de alunos, que formam
no ensino médio e pleiteam um ensino superior.
Santos (2004) diz que a legitimidade da universidade só será cumprida quando as
atividades, hoje ditas de extensão, se aprofundem tanto que desapareçam enquanto tais e
passem a ser parte integrante das atividades de investigação e de ensino.
Calderón (2005) complementa dizendo que os projetos de extensão não podem ser
implantados em estruturas afastadas do ensino e da pesquisa, como por exemplo em ONG’s,
dentro da própria universidade. Somente terão sentido, enquanto prática acadêmica, quando
forem apropriadas e executadas pelos próprios cursos de graduação e pós-graduação.
O trabalho de extensão só se justifica à medida que o aluno atenda à população carente
como parte de seu aprendizado prático e no exercício profissional. A responsabilidade social
das instituições de ensino superior está em tudo o que cerca a formação dos alunos e a
produção de conhecimento. (TODOROV, 2005)
A produção de conhecimentos é uma das tarefas fulcrais da universidade, fato que não
deve ser ignorado. Entretanto, a destinação social desse conhecimento merece uma reflexão.
“Para quem e para que se produz o saber?” Acredita-se que a contribuição da universidade
não deve limitar-se somente a prover a sociedade de recursos humanos adequadamente
qualificados para o desenvolvimento sócio econômico. (VOLPI, 1996, p. 17)
Dessa maneira, para melhor cumprir sua função social, é imprescindível que a
universidade não se descuide da formação integral dos acadêmicos, uma formação que, como
destaca Mosquera (1990), vá mais além da competência técnica, resgatando o compromisso
com o humano, na busca da síntese do profissional com o ser humano que há nele, numa
perspectiva de educação de valores, capaz de propiciar-lhe um posicionamento ético para
assumir seu papel numa sociedade em constante mudança.
“A falta de fraternidade, de solidariedade (...) é uma prova de que ainda estamos em
uma escala atrasada do desenvolvimento do homem, do desenvolvimento social e
econômico.” Este desenvolvimento, de acordo com Escotet (1990, p. 212), deve ocorrer por
“via da liberdade, da democracia, da participação e da equidade”.
A universidade, para Macedo (2005), deve proporcionar uma educação que prepare
para o pleno exercício da cidadania e que sua atividade de pesquisa esteja voltada para a
resolução de problemas e de demandas da comunidade na qual está inserida. Privada ou
pública, somente a universidade de qualidade, com autonomia e compromisso social, será
capaz de promover: a produção do conhecimento, a inovação tecnológica, associação do
universal às peculiaridades regionais e a formação do profissional cidadão.
Alguns poderão assegurar que os alunos aprendem responsabilidade social quando se
envolvem em atividades de extensão promovidas pela Instituição. O autor contesta essa visão,
pois considera que a responsabilidade social permeia todo o processo educacional que vai
além da extensão. Formar com responsabilidade social é condição indispensável para
provocar o despertar da consciência dos estudantes para esse tema. (SORDI, 2005)
O Projeto Pedagógico Institucional deve estar comprometido com a responsabilidade
social, exigindo respeito aos princípios do coletivo, da liberdade comunicativa, do exercício
co-responsável e da vivência em comum. Sordi (2005), enfatiza que ensinar com
responsabilidade social implica viver e praticar responsavelmente o ofício de educador,
assumindo nossa cidadania na instituição educativa em que atuamos sem “dicotomizar nossa
porção profissional da porção pessoal”.
É possível afirmar que a grande responsabilidade social de uma IES seja formar
cidadãos socialmente responsáveis. Outro elemento importante no processo de afirmação da
identidade socialmente responsável das IES é a criação de espaços de diálogo entre os
diversos segmentos de aliados. A IES, como todo lugar onde se faz educação, é um espaço de
encontro de vivências presentes, de formulação e expressão de expectativas e de construção
coletiva de um futuro necessariamente melhor e mais justo (CARVALHO, 2005). Durham
(2005) faz uma crítica neste sentido quando diz que a educação superior, pública ou privada,
“parece ter assumido a função de salvar o país”.
Além do trabalho criterioso, sério e comprometido com seu estudante, faz parte da
vocação das Instituições de Ensino Superior, buscar soluções para o bem comum da
sociedade, em seu trabalho cotidiano. Essas organizações não só transmitem conhecimento e
investigam a realidade como também devem formar profissionais sensíveis às demandas
sociais. (FURLANI, 2005)
O aperfeiçoamento docente, conforme Hernández (1989, p. 307) é uma das formas que
a universidade cumpre, efetivamente, com sua responsabilidade social. A valorização do
aperfeiçoamento psicopedagógico do corpo docente da universidade implica, “maior nível de
organização, de motivação, de comunicação humana e de reflexão sobre os objetivos
educativos”, podendo vir a constituir-se em um caminho para potenciar a renovação educativa
da universidade.
Volpi (1996) ressalta a necessidade que os gestores das instituições de ensino superior
sentem de referenciais teóricos e práticos para o exercício da gestão no que se refere aos
desafios colocados pelo SINAES. Pelo fato de não existirem, no âmbito da gestão
universitária, fórmulas prontas e acabadas, usam a criatividade para tentar atingir as metas
institucionais de forma eficiente e inteligente.
Nesse sentido, de acordo com Vallaeys (2006), ganha importância a contínua
observância do chamado “currículo oculto”. De que adianta ensinar defesa do meio ambiente
se a IES não possui estratégia de reciclagem do lixo produzido? De que adianta ensinar
democracia e participação se muitas vezes não há espaços de participação, não somente para
alunos, mas também para professores? Ou ensinar a importância da luta contra o racismo, se
há resistências veladas para a contratação de docentes negros? Ou ainda pregar o respeito aos
idosos, se a IES não possui uma política institucional de respeito e valorização de seus
professores e funcionários idosos?
A questão da responsabilidade social das Instituições de Ensino Superior, ganha
grande relevância, com a operacionalização do Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior, instituído pela Lei nº 10.861 de 14.04.2004 e regulamentado pela Portaria nº 2.051
de 09.07.2004. (MEC, 2004)

2.2 Metodologia

Este estudo, quanto ao tipo, apresenta uma pesquisa exploratória e descritiva, com
abordagem qualitativa e quantitativa. A técnica de pesquisa utilizada foi o estudo de casos
múltiplos. Foram pesquisadas três Instituições de Ensino Superior, localizadas em Belo
Horizonte, Minas Gerais, doravante denominadas Instituição “A” (Universidade Filantrópica),
Instituição “B” (Centro Universitário Privado) e Instituição “C” (Universidade Pública).
Nas três Instituições pesquisadas, escolheu-se o curso de Administração como recorte
na pesquisa. Os instrumentos de coleta de dados para o estudo em questão foram: entrevista
em profundidade semi-estruturada, questionário fechado tratado com ferramenta estatística e
análise documental. Foram realizadas três entrevistas semi-estruturadas com os coordenadores
do curso de Administração das três instituições de ensino.
A população total do Curso de Administração das três Instituições é de 2.364 (dois
mil, trezentos e sessenta e quatro) alunos. Destes, conseguimos uma amostra de 63,87%,
totalizando 1.510 (hum mil, quinhentos e dez) alunos. A população de professores do Curso
de Administração das três instituições pesquisadas somam 151 (cento e cinquenta e um).
Destes, obteve-se uma amostra de 39,07%, totalizando 59 (cinquenta e nove) professores.
Nesse estudo, foram analisados documentos como: Plano de Desenvolvimento
Institucional (PDI), projeto pedagógico do Curso de Administração, matriz curricular do curso
de Administração, ementas das disciplinas do Curso de Administração, websites das
institucionais com históricos, jornais, boletins e outros tipos de publicações internas das
instituições pesquisadas.
Foi realizada uma análise de conteúdo para os dados coletados nas entrevistas com os
coordenadores e análise estatística, utilizando o Programa SPSS, para os dados coletados nos
questionários com os alunos e professores.

2.3 Análise dos Dados

Após os dados coletados nas entrevistas e questionários, com relação à


responsabilidade social e ensino, conclui-se que a maioria dos professores e alunos
entrevistados sabe o que significa responsabilidade social. Não existe esta disciplina nas
matrizes curriculares dos cursos de administração nas três instituições, apenas é oferecida
como disciplina optativa na Instituição “C”.
A maioria dos professores diz discutir a responsabilidade social em suas respectivas
disciplinas. Entretanto, a análise das ementas das disciplinas não contempla essa temática,
com exceção da disciplina de Ética e Negócios, na Instituição “A” e a disciplina de
Sociologia, na Instituição “B”. Além disso, raramente a responsabilidade social é tema de
Seminários e Semanas Gerenciais. A maioria dos professores e alunos entrevistados
consideram importante a discussão do tema e principalmente a discussão do tema para
formação do futuro administrador. No que diz respeito à instituição ser socialmente
responsável com professores, alunos e funcionários administrativos, tanto professores, quanto
alunos, apresentaram opiniões bem divididas.
No que diz respeito à responsabilidade social e extensão, pode-se concluir que a maior
parte dos professores e alunos entrevistados das Instituições “A” e “C” apoiam os projetos
sociais das instituições. Este apoio é bem menor para os professores e alunos da Instituição
“B”. Percebe-se que as instituições filantrópicas e públicas se preocupam mais com os
projetos de extensão. Além do apoio aos projetos sociais da Instituição, esse raciocínio
também aplica-se às questões pesquisadas sobre ao conhecimento destes projetos sociais.
As opiniões apresentaram-se bem divididas entre os professores sobre estimular os
alunos a participarem de projetos sociais ou intervenções em organizações sociais. Os alunos
consideram que são pouco estimulados pelos professores e, como consequência, apresentaram
opiniões divididas sobre a importância dessa intervenção para eles. Se os alunos não são
estimulados pelos professores e pela Instituição, não têm a oportunidade de vivenciar
experiências em projetos sociais e constatar a importância desta atuação para sua vida pessoal
e profissional.
A participação de professores e alunos nas pesquisas científicas promovidas pela
Instituição é pequena, com exceção da participação dos professores da Instituição “C”
(instituição de ensino superior pública). A responsabilidade social, praticamente, não é tema
abordado pelas pesquisas científicas realizadas nas três instituições. Conforme coordenadores,
professores e alunos do Curso de Administração, a pesquisa científica da Instituição não está
voltada para os problemas sociais da região em que está inserida.
Conclui-se que tanto professores, quanto alunos, das três instituições pesquisadas,
consideram importante avaliarem a instituição que trabalham e estudam. Entretanto, com
exceção da Instituição “B” (privada), há baixa participação na avaliação institucional. A
maior parte dos professores entrevistados conhecem os critérios de avaliação utilizados pelo
SINAES. Por outro lado, a maior parte dos alunos entrevistados, desconhecem os critérios do
SINAES.
Na opinião da maioria dos professores, a instituição orienta sobre a importância da
avaliação institucional. Porém, com exceção da Instituição “B”, esta orientação não é feita de
forma adequada aos alunos. Da mesma forma, grande parte dos professores oferecem
sugestões para melhoria da instituição. Ao contrário, poucos alunos participam oferecendo
sugestões. Cabe lembrar aqui que o processo de avaliação institucional é uma oportunidade de
gestão participativa.
As opiniões ficaram bem divididas entre professores e alunos das três instituições
quando a questão é a melhoria do desempenho da Instituição, a partir do que foi proposto e
sugerido na avaliação institucional. Por fim, a maioria dos professores e alunos não
conhecem os critérios que o SINAES utiliza para avaliar a responsabilidade social da
Instituição.

2.4 Diretrizes de Responsabilidade Social para o Ensino Superior

Este estudo apresenta o conceito de responsabilidade social adotado pela ISO 26.000,
como sendo a responsabilidade de uma organização pelos impactos de suas decisões e
atividades na sociedade e no meio ambiente, por meio de um comportamento ético e
transparente que contribua para o desenvolvimento sustentável, inclusive a saúde e bem-estar
da sociedade, leve em consideração a expectativa das partes interessadas, esteja em
conformidade com a legislação aplicável e seja consistente com as normas internacionais de
comportamento, esteja integrada em toda a organização e seja praticada em suas relações.
No caso das Instituições de Ensino Superior, as partes interessadas ou públicos de
relacionamento são: governo, comunidade, funcionários (docentes e administrativos), alunos,
fornecedores, concorrentes e outros, que, de forma direta ou indiretamente, impactam a gestão
da instituição.
Para que a Instituição de Ensino Superior tenha uma gestão responsável, integrada
com todos os públicos de relacionamento, esta proposta baseia-se nas diretrizes para a
responsabilidade social, apresentadas pela ISO 26.000, norma internacional de
responsabilidade social, lançada em 2010, que visa ser útil para todos os tipos de organizações
nos setores privado, público e sem fins lucrativos, independente do seu porte. Embora nem
todas as partes desta norma tenha a mesma utilidade para todos os tipos de organizações,
todos os temas centrais são relevantes para as Instituições do Ensino Superior.
Como a norma internacional não tem caráter de certificação, outros países no mundo
estão desenvolvendo suas próprias normas nacionais com propósito de certificação à luz da
ISO 26.000. No Brasil, a NBR 16.001, foi lançada em agosto de 2012 e, num futuro breve,
certificará as organizações que pretendem ser socialmente responsáveis.
Para melhor entendimento, este capítulo apresenta, por meio de quadros, algumas das
possibilidades de aplicação das questões e temas estipulados pela ISO 26.000, na realidade
das Instituições de Ensino Superior. As diretrizes para a gestão responsável das Instituições de
Ensino Superior, apresentam-se agrupadas conforme Figura 1, abaixo:
Figura 1 – Gestão Responsável

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

Para cada tema central, a ISO 26.000 apresenta várias questões, ações e expectativas
para auxiliar as organizações na aplicabilidade da norma. A Figura 2, a seguir dá uma
dimensão global sobre os temas e questões aqui abordados.
Figura 2 – Matriz da Gestão Responsável
Gestão
Responsável

Governança Direitos Práticas Meio Envolvimento E


PráticasLeaisDe QuestõesRelativas
Desenvolvimento
Organizacional Humanos De Trabalho Ambiente Operação ao Consumidor
DaComunidade

Processose Due Emprego e relações Prevenção da Práticas Ensino Extensão


Estruturas de
Diligence de trabalho poluição anticorrupção Responsável Responsável
decisão

Situaçõesde Risco Condiçõesde Marketing


Uso sustentável de Envolvimento Pesquisa Envolvimento da
paraos Direitos Trabalho e
recursos político responsável Responsável Leal Comunidade
Humanos Proteção Social

Mitigação e
Diálogo Concorrência Proteção a saúde e Educação e
Evitar adaptação às
segurançado
cumplicidade Social mudanças Leal Cultura
consumidor
climáticas

Proteção do meio Geração de


Resolução de Saúdee segurança Consumo
ambientee Promoção da RS Emprego e
queixas no trabalho Sustentável
biodiversidade na cadeiade valor capacitação

Desenv. Humano e Atendimento e


Respeito ao direito Desenvolvimento
Treinamento no suporteao
de propriedade Tecnológico
local de trabalho consumidor

Proteção e
privacidadedos Geração de riqueza
dados do e renda
consumidor

Acesso a serviços
Saúde
essenciais

Educação e Investimento
conscientização Social

Fonte: elaborado pela autora a partir da ISO 26.000


2.1 Governança Organizacional

Independente da Instituição de Ensino Superior ser caracterizada como Faculdade,


Centro Universitário ou Universidade, ou uma Instituição pública, particular ou filantrópica, o
processo decisório deve ser pautado por um sistema de governança que integre a
responsabilidade social em toda a instituição e em seus relacionamentos.
Assim, o Quadro 1, abaixo, apresenta a questão relativa a governança organizacional,
bem como a aplicação dela no ensino superior.

Quadro 1 – Governança Organizacional

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.2 Direitos Humanos

Este tema aborda, como um dos aspectos centrais, a importância da Instituição do


Ensino Superior respeitar os direitos humanos de seus funcionários, professores e alunos.
Além disso, a instituição pode promover uma educação em direitos humanos, conscientizando
seus fornecedores, governo e comunidade local.
Os Quadros 2 e 3, a seguir, separados por uma questão de layout, apresentam as
questões relativas aos Direitos Humanos, como a Due Diligence, Situações de Risco para os
Direitos Humanos, Evitar Cumplicidade e Resolução de Queixas. A terceira coluna apresenta
exemplos aplicados para as Instituições de Ensino Superior.

Quadro 2 – Direitos Humanos

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

Ainda sobre o tema de Direitos Humanos, o Quadro a seguir, apresenta as questões


relativas à Discriminação e Grupos Vulneráveis, Direitos civis e políticos, Direitos
econômicos, sociais e culturais e Princípios e direitos fundamentais no trabalho. A terceira
coluna apresenta alguns exemplos aplicados para as Instituições de Ensino Superior.
Quadro 3 – Direitos Humanos

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.3 Práticas de Trabalho

As práticas de trabalho nas Instituições de Ensino Superior dizem respeito, dentre


outros aspectos, às relações com os funcionários administrativos, professores e funcionários
terceirizados. Dentre as diversas abordagens das relações de trabalho, destacam-se o
recrutamento e a seleção, demissão, treinamento e capacitação, saúde e segurança no trabalho,
benefícios, remuneração, jornada de trabalho e outros.
Este e outros temas abordam uma questão importante sobre a discriminação. É
proibido qualquer tipo de atitude discriminatória dentro e fora da instituição. O Quadro 4, a
seguir, apresenta as questões que compõem a temática das Práticas de Trabalho e seus
exemplos de aplicação em Instituições de Ensino Superior.
Quadro 4 – Práticas de Trabalho

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.4 Meio Ambiente

As atividades exercidas por uma instituição de ensino superior, impactam


consideravelmente no meio ambiente. Energia e água são a base para o simples
funcionamento destas atividades. Além disso, a cada dia, são produzidos lixos na Instituição,
que, se não for dada a devida importância na forma de descarte, podem prejudicar o meio
ambiente.
O Quadro 5, abaixo, apresenta as questões relativas ao Meio Ambiente, bem como
exemplos de como a Instituição de Ensino pode atuar.
Quadro 5 – Meio Ambiente

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.5 Práticas Leais de Operação

Dentre os diversos aspectos centrais, este tema aborda práticas que a Instituição de
Ensino Superior deve adotar ao se relacionar com seus fornecedores ou com órgãos públicos.
A melhor proposta não deve ser selecionada pelo menor preço. Outros fatores devem impactar
a decisão de compra de materiais de consumo ou bens patrimoniais, como por exemplo,
iniciativas sócio ambientais adotadas pelas empresas fornecedoras.
O Quadro 6, a seguir, apresenta as questões relativas à temática das Práticas Leais de
Operação, bem como exemplos de como a Instituição de Ensino pode atuar.
Quadro 6 – Práticas Leais de Operação

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

2.6 Questões Relativas ao Consumidor

Este tema apresenta as questões voltadas para os alunos, considerados os


consumidores dos serviços oferecidos pela Instituição de Ensino Superior. Este tópico divide-
se em duas partes. Na primeira parte, destacam-se as questões colocadas pela ISO 26.000 no
que diz respeito ao relacionamento ético e transparente que a Instituição deve ter com o seu
principal stakeholder, o aluno, bem como exemplos de como a Instituição de Ensino Superior
pode atuar.
Quadro 7 – Questões Relativas ao Consumidor

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000

A segunda parte deste tópico apresenta as duas dimensões do ensino superior - ensino
responsável e pesquisa responsável. As dimensões do ensino responsável e da pesquisa
responsável, estão agrupadas dentro do tema “Questões Relativas do Consumidor”, por
estarem diretamente relacionadas com os alunos, e a dimensão da extensão responsável está
colocada dentro do tema “Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade”, por estar
diretamente relacionada com a comunidade.
O Quadro 8, abaixo, apresenta as contribuições da pesquisadora para que as
Instituições de Ensino Superior tenham um ensino e uma pesquisa responsável.

Quadro 8 – Questões Relativas ao Consumidor

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000


2.7 Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Esta dimensão aborda o relacionamento da Instituição com a comunidade que está


inserida. Todas as ações sociais das Instituições de Ensino Superior voltadas para a
comunidade, geralmente são caracterizadas como projetos e programas de extensão, como
vimos no decorrer deste estudo.

Quadro 9 – Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Fonte: adaptado pela autora a partir da ISO 26.000


O Quadro 10, abaixo, apresenta as contribuições da pesquisadora para que as
Instituições de Ensino Superior tenham uma extensão responsável.

Quadro 10 – Envolvimento e Desenvolvimento da Comunidade

Fonte: elaborado pela autora

3. CONCLUSÃO

O objetivo geral do presente artigo foi apresentar uma proposta de diretrizes de


responsabilidade social para as Instituições de Ensino Superior, que contemple não somente
as ações que as Instituições de Ensino Superior praticam com sua comunidade, via extensão
ou não, como também, todas as atividades que elas praticam com os outros públicos que se
relaciona, como alunos, fornecedores, funcionários administrativos, professores e o governo.
O presente estudo não pretende esgotar as discussões sobre a importância da
Responsabilidade Social no ensino superior no Brasil, mas apenas despertar a reflexão sobre
alguns conceitos relevantes, oportunidades e desafios que marcam o tema. É importante
destacar a constatação, amparada pelos autores e pesquisa citados anteriormente, que estamos
vivendo um momento de mudanças profundas na percepção do social, em sua mais ampla
expressão. Esse caminho tem sido marcado pela superação do caráter meramente
assistencialista e pela consolidação da dimensão estratégica que o tema pode representar para
o ambiente organizacional.
É fundamental destacar ainda que as universidades devem permanecer na busca do
cumprimento de seu papel enquanto promotoras do desenvolvimento de competências
técnicas e humanas, despertando nos alunos a consciência da cidadania.
Sugere-se para futuras pesquisas que a proposta aqui apresentada seja validada em
Instituições de Ensino Superior, públicas, privadas e filantrópicas, por meio de estudo de
casos.
Os desafios para o desenvolvimento da Responsabilidade Social no âmbito educacional
são muitos, mas as perspectivas, por outro lado, são inúmeras. Além de todas as questões já
pontuadas, o tema tem um caráter estratégico significativo. Os resultados para uma instituição
de ensino que opte por essa proposta passam pela configuração de estratégias de
relacionamento com todos os stakeholders, de marketing institucional, de inserção social e
desenvolvimento da comunidade, de promoção da cidadania individual e coletiva e
finalmente, de valorização da universidade frente a entidades fiscalizadoras, alunos e
prospects.
Finalmente, a principal contribuição esperada em relação ao presente estudo é a
abertura para a reflexão de que a universidade apresenta um espaço fundamental para que a
Responsabilidade Social possa se consolidar enquanto área de conhecimento, além de
subsidiar a formação de profissionais mais conscientes de seus papéis enquanto agentes de
transformação social que procuram escrever um final diferente para a história de nosso país.

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TEORIA DA RESPEITABILIDADE

Maria Aparecida Munin de Sá, Henry Julio Kupty1

RESUMO

Não há dúvida de que nos dias atuais, a Dignidade da Pessoa Humana é considerada
atributo intrínseco de todo ser humano, e que dele não pode ser separado, por isso a
importância do respeito pelo outro. O presente estudo tem como escopo estudar o fenômeno
denominado violência psicológica em suas especificidades nas relações trabalhistas, nas
escolas e na vida doméstica. Concluiu-se que é extremamente pertinente uma pesquisa de
acompanhamento dos envolvidos – vítima, agressores e expectadores na sua vida,
identificando quais são as suas dificuldades, medos, se há alguma conseqüência no seu
trabalho e/ou vida atual. Isso serviria como alerta para que tanto nas escolas, no trabalho, na
vida doméstica, as dê maior atenção e prioridade ao combate e prevenção da violência onde
atua.

Palavras-chave: bullying, violência doméstica, assédio moral

ABSTRACT

There is no doubt that nowadays, the Dignity of Human Person is considered an


intrinsic attribute of every human being, and that it can not be separated, so the importance of
respect for others. The present study has the objective to study the phenomenon called
psychological violence in their specific labor relations in schools and home life. It was
concluded that it is an extremely pertinent follow-up survey of those involved - victims,
perpetrators and spectators in your life, identifying what are their problems, fears, if there is
any consequence in their work and / or present life. This would serve as a warning to both
schools, at work, home life, the more attention and give priority to combating and preventing
violence in which it operates

Keywords: bullying, domestic violence

1 Maria Aparecida Munin de Sá – Mestre – Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU – Rua Iguatemi, 306 Itaim, Bibi
São Paulo – SP – profbia@uol.com.br

2) Henry Julio Kupty – Mestre – Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU – Rua Iguatemi, 306 Itaim, Bibi São Paulo –
SP – henry.kupty@fmu.br
Introdução

Na última década do século XX e o início do século XXI se caracterizam pela notável


influência da violência psicológica e os estragos causados na saúde emocional e no desfrute
de um ambiente saudável na sociedade, na comunidade e nos lugares de estudo e de trabalho.
Tem sido e segue sendo um período intensamente violento, já não somente do ponto de vista
psicológico como também pela violência física produzida por ataques às pessoas, maus-tratos
no trabalho, inclusive até assassinato, com causas variadas como são as adicionadas
(alcoolismo, dependência de drogas, etc.), que têm demandado a atenção dos legisladores, dos
investigadores, dos tribunais e dos próprios afetados e seus representantes a fim de precisar as
causas que motivam estes feitos e conseguir a solução dos conflitos que se apresentam.
Em relação ao que denominamos a Teoria da Respeitabilidade, vemos que a grande
desigualdade social, a grande exclusão, o grande cerceamento que impera dentro desse
sistema vem provocando no meio social um clamor por justiça. Justiça essa que renuncia
muitas vezes aos seus verdadeiros sentido, que é o de servir a todos de maneira igual, em
nome de uma minoria que vive à custa do povo.
O conceito de dignidade humana abrange um universo de valores irrestritos,
positivados ou não, e que atuam no intuito de tutelar os direitos individuais do homem, sendo
essência de uma série de direitos, liberdades e garantias, de assuntos que referem à vida
humana em suas diferentes esferas.
A sociedade esta em constante mutação. Das mudanças observáveis, as práticas da
violência entre jovens, nos seus vários espaços de atuação na família, na escola e na rua têm
obtido um maior espaço na mídia, gerando interesse dos governantes na busca de resoluções
desses conflitos. Etimologicamente, violência vem do latim violentia, e significa todo ato de
força contra a espontaneidade, a vontade e a liberdade do outro, de violação da natureza de
alguém ou de alguma coisa valorizada positivamente por uma sociedade; de transgressão
contra aquelas coisas e ações que alguém ou uma sociedade define como justas ou como um
direito, conseqüentemente é um ato de brutalidade, sevícia e abuso físico e/ou psíquico contra
alguém e caracteriza relações intersubjetivas e sociais definidas pela opressão, intimidação,
pelo e pelo terror (Chauí, 1995).
A violência entre pares desde os primórdios da civilização, mas é na escola que ela
assume seu aspecto mais preocupante, uma vez que a esta instituição confiamos o papel de
agente de mudanças e a formação dos futuros cidadãos de nossa sociedade. È na escola, e em
particular na sala de aula, que há um espaço social repleto de interações sociais e uma grande
diversidade de comportamentos e personalidades distintas.
Para que a violência na escola seja estudada e analisada faz-se necessária a
compreensão do espaço escolar, das práticas de interação nela estabelecida e saber sobre as
culturas e valores que os alunos trazem de suas famílias, pois esses podem contribuir no
aumento das dificuldades de interação e adaptação dos alunos no estabelecimento
educacional.
Para Hamze2, dentro do ambiente de trabalho muitas pessoas estão sujeitas ao estresse,
além de outros fatores psicológicos, os quais acabam oprimindo a pessoa, levando-a ao estado
de desinteresse e doença. De acordo Faber (1991, apud CARLOTTO 2002), nesses casos cita-
se a fadiga, distúrbios do sono, desânimo, depressão, alcoolismo e a Síndrome de Burnout.
Para que se tenha uma atuação eficiente e eficaz sob a violência psicológica, é
necessário saber "identificar, distinguir e diagnosticar o fenômeno, bem como conhecer as
respectivas estratégias de intervenção e de prevenção hoje disponíveis." (FANTE, 2005, p.92).
A Teoria da Respeitabilidade parte do principio de que se o século XX trouxe uma
nova modalidade sistemática de crimes que aderiu como objetivo não somente o controle de
todos os homens, mas sim, a manutenção de um sistema em que todos os homens sejam
descartáveis, facilmente substituídos, é dever de todos observá-lo minuciosamente para evitar
novos colapsos mundiais futuros.
Assim, é objetivo geral da presente pesquisa estudar o fenômeno denominado
violência psicológica em suas especificidades nas relações trabalhistas, nas escolas e na vida
doméstica Como objetivos específicos, estudar, seus elementos caracterizadores, origens,
perfil dos envolvidos, bem como conhecer a magnitude das conseqüências que pode gerar na
saúde de quem sofre a violência e rever a legislação atual pertinente ao tema.
As expressões direitos humanos, direitos fundamentais, direitos morais, liberdades
públicas, direitos do homem ou ainda direitos naturais estão presentes mundialmente
em boa parte das normativas internacionais, ordenamentos jurídicos e Constituições
dos Estados que se consideram democráticos, englobando a idéia de respeito e
tutela das exigências relativas ao ser humano, fundamentais para seu
desenvolvimento e vida em sociedade. (MORAIS, 2007, p. 29 – grifo nosso).

Para que tais objetivos possam ser atingidos, a metodologia aplicada foi a revisão de
literatura onde, após seleção de textos, passou-se à elaboração. Essa pesquisa é definida como
uma pesquisa bibliográfica, exploratória e descritiva. A segunda parte da pesquisa é de caráter
exploratório e descritivo.

2 http://www.educador.brasilescola.com/politica-educacional/problema-social.html
Segundo Barros (2002, p. 44) “é desenvolvida a partir de material já elaborado,
constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos
seja exigido algum tipo de trabalho desta natureza, há pesquisas desenvolvidas
exclusivamente a partir fontes bibliográficas”.
Conforme descreve Martins (2001, p. 44):
Trata-se de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros,
revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo que foi escrito sobre determinado assunto,
com o objetivo de permitir ao cientista o reforço paralelo na análise de suas
pesquisas ou manipulação de suas informações.

Barros (2002, p.65) dispõe em sua obra conforme descrito, “Procura explicar um
problema a partir de referencias teóricas publicadas em documentos. Pode ser realizada
independentemente ou como parte da pesquisa descritiva ou experimental para favorecer ao
pesquisador conhecer e analisar as contribuições culturais ou cientificas do passado,
existentes sobre determinado assunto, tema ou problema”.
Conforme Andrade (2003, p. 124), a pesquisa exploratória é o primeiro passo de todo
trabalho científico. São finalidades de uma pesquisa exploratória, sobretudo quando
bibliográfica, proporcionar maiores informações sobre determinado assunto, facilitar a
delimitação do estudo e a definição de objetivos ou formulação de hipóteses. Portanto,
“através da pesquisa exploratória avaliou-se a possibilidade de desenvolver uma boa pesquisa
sobre determinado assunto”.
Podemos caracterizar a pesquisa como exploratória, pois esta será desenvolvida
baseada nas informações coletadas dentro do ambiente da própria empresa.
A respeito da pesquisa exploratória Barros (2002, p. 41) descreve, “estas pesquisas
têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo
mais explicito ou a constituir hipóteses”. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo
principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições.
Conforme Martins (2001, p. 66) a pesquisa descritiva, “observa registra, analisa e
correlaciona fatos ou fenômenos (variáveis) sem manipulá-los. Procura descobrir, com a
precisão possível, a freqüência com que um fenômeno ocorre, sua relação e conexão com
outros, sua natureza e características.
Quanto à natureza da pesquisa pode-se classificá-la como trabalho científico,
fundamentado em trabalhos mais avançados, interpretação dos fatos e idéias. Quanto à
natureza dos dados, a pesquisa terá a finalidade de contribuir com novas análises sobre o
tema, a partir de análise e pressupostos de autores.
1. Bullying

Bullying é um fenômeno bem antigo, embora tal palavra não seja encontrada nos
dicionários da língua portuguesa, pois se tornou muito falado em todo cenário brasileiro,
principalmente no contexto educacional no final da década de 90.
A construção da palavra Bullying segue-se da seguinte forma: "Bull", que significa
touro em inglês, a mesma dinamizou-se criando um sentido corrompido, estilo jargão, ou seja,
"Bully" ou "Bullie", que ganhou conotação agressiva. Poderíamos chamar de Bullying,
qualquer ato de agressão em repetição a uma ou mais pessoas dentro de um mesmo cenário,
ou não; insultar, zoar, apelidar de forma pejorativa, bater, empurrar, chutar, tomar sempre da
vítima, irritar, humilhar, excluir, ignorar, desprezar, discriminar, chantagear, perseguir, abusar,
assediar, e etc., mas a industrialização nacionalista adotou da Inglaterra o termo verbalizado
Bullying, talvez por ser linguisticamente mais estético. (MICHAELIS, 1998)
De acordo com Rebelo Jr. (2007), o Bullying começou a ser pesquisado cerca de vinte
anos atrás na Europa, quando se descobriu o que estava por trás de muitas tentativas de
suicídio entre adolescentes. Sem receber a atenção da escola ou dos pais, que geralmente
achavam as ofensas bobas demais para terem maiores conseqüências, o jovem recorria a uma
medida desesperada. Porém, descobriu-se que Bullying é um fenômeno mundial tão antigo
quanto a própria escola. Apesar dos educadores terem consciência da problemática existente
entre agressor e vítima, poucos esforços foram despendidos para o seu estudo sistemático até
princípios da década de 80. Um dado alarmante, é que este mal vem se disseminando
largamente nos últimos anos, atingindo faixas etárias cada vez mais baixas, como crianças dos
primeiros anos de escolarização.
Para ilustrarmos melhor o fenômeno em discussão citar-se-á Carneiro (2010, P. 153),
em seu livro LDB Fácil, que explica:
Os primeiros estudos do fenômeno surgiram na década de 70, em países nórdicos,
especialmente na Suécia e Noruega. Daí, as pesquisas se estenderam a toda a
Europa. No fim da década de 90, o Brasil se deu conta de que o problema da
violência psicológica e da brutalidade física entre alunos assumia aspectos
dramáticos. A escola tinha mais um grave problema a enfrentar cuja configuração se
encorpava". (CARNEIRO, 2010, p.153).

Segundo pesquisas, o efeito Bullying avança freneticamente por todos os ambientes da


sociedade, mas principalmente nos Níveis e Modalidades do Ensino. Como processo
embrionário, o Bullying substancia-se cada vez mais, através da sistematização educacional,
não a limites, pelo contrário, o que se percebe é uma perenidade, tanto para o agredido, caso
ele não seja destruído literalmente no âmbito físico e cognitivo, como para o agressor, que até
mesmo pode se tornar uma futura vítima pela lei do mais forte.
O fenômeno Bullying consegue contaminar todos os contextos da sociedade, o que o
torna astronomicamente preocupante.
O fenômeno Bullying não escolhe classe social ou econômica, nas escolas públicas
ou privadas, ensino fundamental ou médio, área rural ou urbana. Está presente em
grupos de crianças e de jovens, em escolas de países e culturas diferentes".
(CHALITA, 2008, p.81).

Percebe-se o grau de intensidade do efeito Bullying na sociedade quando o analisamos


dentro da perspectiva em foco. O indivíduo desde a tenra idade passa a ser agredido, sendo
condicionado por toda a fase infantil, até chegar à adolescência e juventude, levando-o a se
tornar um cidadão com sérios traumas, que se não forem tratados o levará a problemas dos
mais variados que se possa imaginar, desde uma pequena cefaléia até a ação suicida. A médica
Ana Beatriz Barbosa Silva (2010) em seu livro, Bullying, Mentes Perigosas na Escola, faz uma
relação de onze doenças geradas:
a)Sintomas Psicossomáticos
b)Transtorno do pânico
c)Fobia escolar
d)Fobia Social (Transtorno de Ansiedade Social – TAS
e)Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG)
f)Depressão
g)Anorexia e Bulimia
h)Transtornos Obsessivo-Compulsivo (TOC)
i)Transtorna do Estresse Pós-Traumático (TEPT)
j)Esquizofrenia
k)Suicídio e homicídio
É de suma importância mencionar que Bullying à semelhança de outros
comportamentos agressivos é identificado pela capacidade de magoar alguém e que a vitima é
alvo do ato agressivo de forma constante.
Três fatores que normalmente o identificam como praticantes do Bullying são:
a) O mal causado a vitima não resultou somente de uma provocação, mais várias
ações que se identificam como provocações.
b) As intimidações e a vitimização de outro são com regularidade.
c) Geralmente os agressores são mais fortes fisicamente, acaba que as vitimas
geralmente não estão em posição de defesa.
Sendo Assim, são classificados cinco tipos de Bullying.
1. Físico - Recurso à violência física.
2. Verbal - Recurso à violência verbal.
3. Relacional/Racial - Exclusão de grupos sociais / Racismo.
4. Sexual - Utilização de comentários sexuais e até mesmo contatos sexuais.
5. CyberBullying: Difamação pelos recursos eletrônicos. (Orkut, MSN, MY
SPACE...).
O Bullying é uma prática de violência física e psíquica, usamos aqui o conceito de
violência utilizado por Teles e Melo (2002, p.15), que diz.
[...] Violência, em seu significado mais freqüente, quer dizer uso da força física,
psicológica ou intelectual para obrigar a outra pessoa a fazer algo que não está com
vontade; é constranger, é tolher a liberdade, é incomodar, é impedir a outra pessoa
de manifestar seu desejo e sua vontade, sob pena de viver gravemente ameaçado ou
até mesmo ser espancada, lesionada ou morta. É um meio de coagir, de submeter
outrem em seu domínio, é uma violação dos direitos essenciais do ser humano.

Vendo por esta ótica, a violência pode ser compreendida como uma forma de restringir
a liberdade de uma pessoa, reprimindo e ofendendo física ou moralmente. "Violência
interpessoal é o termo empregado para indicar a pratica da violência entre pessoas que se
conhecem". (TELES e MELO, 2002, p.22).
A violência é uma das responsáveis pelo Bullying, pois este fenômeno esta
relacionado com as dificuldades emocionais de cada agressor. No quadro familiar dos
agressores há sempre uma história de violência associada, ou seja, a criança com
comportamentos agressivos convive com a violência de perto. (DIOGO e VILA, 2009, p.3).
Pelo constante quadro de violência em casa, ela é a única forma que os agressores
conhecem como dialogo. Estes indivíduos não têm acompanhamento familiar necessário que
agreguem valores para conseguirem lidar com adversidades e outros tipos de problemas.
Geralmente existem três tipos de pessoas envolvidas nessa situação: O espectador, a vítima e
o agressor. As vítimas do Bullying podem desenvolver duas formas as perseguições:
resiliência e baixa auto-estima. Tratar-se-á aqui somente a questão da resiliência, que significa
"a capacidade concreta de retornar ao estado natural de excelência, superando uma situação
critica". (GRAPEIA, 2011). Silva (2010, p. 91) chama esse processo de "Efeito Elástico", que
seria o indivíduo a comprimir-se pelo efeito de todas as babáreis bulistas até se soltar, com
toda a força, toda energia, como um elástico.
A autora cita personagens famosos como, por exemplo, Michael Phelps, nadador
norte-americano, Kate Winslet, atriz britânica, Tom Cruise, ator norte-americano, Madonna,
cantora norte-americana, David Beckham, Jogador de futebol, Steven Spielberg, produtor e
diretor de cinema norte-americano e Bill Clinton, ex-presidente dos Estados Unidos da
América. Todos esses grandes personagens passaram pelas torturas bulistas, mas conseguiram
vencer todas as adversidades que lhes foram impostas e, se tornaram pessoas de grande
destaque internacional. (SILVA, 2010, p.91). Percebe-se através dos relatos acima que o ser
humano tem condições de superação estupendas, mas deve-se observar também o contexto
social em que, por exemplo, essas personalidades encontravam-se; a Família, Escola,
Governo, os níveis: Econômico, Político e Social.

2. Violência doméstica

A violência doméstica é um problema social que atinge grande parte das mulheres, e
em razão disso as famílias no todo. Além de um desrespeito aos direitos humanos, princípio
constitucional, trata-se de um problema de saúde pública, pois as vitimas dessa violência
sofrem com problemas psicológicos graves, causados pelo medo e ansiedade, sem se falar nas
feridas do corpo.
Entende-se a violência como sendo o uso da força física, psicológica ou intelectual
para obrigar outra pessoa a fazer algo que não está com vontade; é constranger; é
impedir a liberdade e a outra pessoa de manifestar sua vontade, sob pena de viver
ameaçado, espancado ou até mesmo morto. (MELO; TELES 2003, p. 15).

Desse entendimento compartilha Cavalcanti:


O conceito de violência é uma ação momentânea ou uma série de atos praticados de
modo progressivo com o intuito de forçar o outro a abandonar o seu espaço
constituído e a preservação da sua identidade como sujeito das relações econômicas,
políticas, éticas, religiosas e eróticas. No ato de violência, há um sujeito que atua
para abolir, definitivamente, os suportes dessa identidade, para eliminar no outro os
movimentos de desejo, da autonomia e da liberdade (2006, p. 25).

Maria Amélia de Almeida Teles, coordenadora do Núcleo de Pesquisas do IBCCRIM,


ao tratar do assunto define violência como sendo “práticas de determinados grupos ou
segmentos que forçam outros à submissão com o fim manifestação da vontade e da autonomia
por parte dos que estão ou são dominados.” (TELES, 2010, p. 382)
Já por violência doméstica entende-se, toda ação ou omissão que prejudique o bem-
estar, a integridade física, psicológica ou a liberdade e o direito ao pleno desenvolvimento de
um membro da família. Pode ser cometida dentro e fora de casa, por qualquer integrante da
família que esteja em relação de poder com a pessoa agredida. (VASCONCELOS, 2006, p.
33)
A “Convenção Interamericana para Prevenir, Punir, e Erradicar a Violência contra a
Mulher”, conhecida como a Convenção de Belém do Pará definiu violência doméstica como
sendo:
Qualquer ato de violência baseada na diferença de gênero, que resulte em sofrimento
e danos físicos, sexuais e psicológicos da mulher, inclusive ameaças de tais atos,
coerção e privação da liberdade seja na vida pública ou privada. (MELO, 2003, p.
23)
Inúmeras mulheres vivenciam situações que se enquadram nessa definição, no
entanto, por muito tempo não foi tratado como um problema pela sociedade, afinal
era considerado um problema individual, que não refletia na sociedade, pois
aconteciam na esfera privada. (ANDRADE 2003, p.83)

Desse entendimento compartilha Melo e Teles:


O conceito de violência de gênero é um problema mundial ligado ao poder,
privilégios e controle masculinos. Demonstra que os papéis impostos às mulheres e
aos homens, consolidados ao longo da história e reforçados pelo patriarcado e sua
ideologia, resultam em relações violentas entre os sexos e aponta que a prática desse
tipo de violência não é resposta da natureza, mas sim do processo de socialização
das pessoas. ( 2003, p. 18)

No mesmo entendimento Dias (2008, p.17):


Ao homem sempre coube o espaço público e a mulher foi confinada nos limites da
família e do lar, o que enseja a formação de dois mundos: um de dominação,
externo, produtor; o outro de submissão, interno e reprodutor. Ambos os universos,
ativo e passivo, criam pólos de dominação e submissão.

Por se tratar de pratica comum em milhares de lares, a violência contra as mulheres é


tratada como um fenômeno natural, pois se trata da primeira violência vivenciada pelo ser
humano, uma vez que mesmo antes de nascerem, muitas crianças presenciam esse tipo de
violência, sejam com a própria mãe, tias, irmãs ou primas. (TELES, 2010, p. 383)
A vítima da violência doméstica tem, freqüentemente, baixa auto-estima, depende
financeira ou emocionalmente do agressor, sofre de culpa e de vergonha por ser culpabilizada
pelas agressões que sofre e sente-se traída, quando há promessa de que aquele comportamento
não vai mais ocorrer e acaba se repetindo.
A Lei 11.340/06, além de elencar, conceituou as formas de violência contra a mulher, a
saber, violência física, psicológica, sexual, patrimonial e moral, por ser tema de grande
relevância.

3. Assédio moral no ambiente de trabalho

O assédio moral, uma das formas mais poderosas de violência sutil, caracteriza- se
pela exposição a situações humilhantes, de forma repetida e com longa duração, que atenta
contra a dignidade e integridade psíquica ou física do ser humano. Rufino (2006) apresenta o
assédio moral como um fato social que ocorre em diversas áreas, expressando-se na maneira
de importunar ou efetuar propostas, geralmente de forma indireta, cercando a vítima a ponto
de deixá-la seduzida e conduzi-la a agir de forma diversa daquela que adotaria
espontaneamente.
O assédio moral do trabalho pode ser considerado tão antigo quanto a própria
existência do trabalho, a mudança está na intensificação, gravidade, amplitude e banalização
do fenômeno existente antes e agora.
Leymann (2002, p.180), conceitua o assédio moral no trabalho como:
A deliberada degradação das condições de trabalho através do estabelecimento de
comunicações não éticas (abusivas), que se caracterizam pela repetição, por longo
tempo, de um comportamento hostil de um superior ou colega (s) contra um
indivíduo que apresenta como reação um quadro de miséria física, psicológica e
social duradoura.

Segundo Barreto (2006), assédio moral, no âmbito trabalhista, é a exposição dos


trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas durante a
jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações
hierárquicas autoritárias e assimétricas, em que predominam condutas negativas, relações
desumanas e não éticas de longa duração, de um ou mais chefes dirigida a um ou mais
subordinados, desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a
organização, forçando-o até mesmo a desistir do emprego, constituindo uma experiência
subjetiva que acarreta prejuízos práticos e emocionais para o trabalhador e a organização.
Como forma de violência vista no ambiente de trabalho, também se encontra o assédio
moral, caracterizado como todo comportamento abusivo que atenta contra a dignidade ou
integridade psíquica ou física de uma pessoa, sendo feito de modo constante (HIRIGOYEN,
2005)
O assédio moral é destrutivo, tendo como principal fonte as relações interpessoais que
ocorrem no ambiente profissional, causando intenso sofrimento ao trabalhador, aumentando o
absenteísmo e acidentes de trabalho. O assédio moral acomete as vítimas com sintomas tais
como busca do isolamento, angústia e ansiedade, entre outros sintomas que comprometem o
bem-estar dos trabalhadores (HIRIGOYEN, 2005).

Considerações Finais

Com todo o levantamento deste estudo, podemos perceber que é de extrema


importância que em relação a Teoria da Respeitabilidade, tanto os educadores quanto a
sociedade processo procurem viabilizar o planejamento de normas e condutas sociais
aplicadas em valores morais e éticos, onde assim permitirá principalmente os que ocupam o
papel de vítima da violência psicológica desenvolver suas habilidades e principalmente que
aprenda a defender-se no contexto em que ele está inserido, sendo principalmente capaz de se
tornar um cidadão consciente de seus direitos e deveres, transformando assim o seu espaço de
convivência e principalmente as suas relações.
Nos estudos sobre o aumento da violência e agressividade dos adolescentes, notamos
que eles passam por várias nuances que seria ter os pais como modelo e como educadores, ou
não. Em primeiro lugar vem a dissolução das famílias, que seria a falência da função paterna
(ou materno), a busca pelo prazer consumista, que resulta em um exacerbada número de
jovens sem rédeas, que os limitem.
Diante do exposto, a violência contra as mulheres está longe de chegar ao fim, pois as
soluções até hoje encontradas passam pelo Direito Penal que de longe, não é o meio adequado
para solucionar o problema. Ou seja, ainda há um longo caminho a percorrer para valorização
e inserção da mulher na sociedade, com direito a uma vida sem violência.
Outro ponto que se deve ainda observar neste estudo, são as humilhações constantes,
exposição do trabalhador ao ridículo, supervisão excessiva, críticas cegas, empobrecimento de
tarefas, perseguições, ressoam inteiramente na produtividade e na ocorrência de acidentes de
trabalho.
É extremamente pertinente uma pesquisa de acompanhamento dos envolvidos –
vítima, agressores e expectadores na sua vida, identificando quais são as suas dificuldades,
medos, se há alguma conseqüência no seu trabalho e/ou vida atual. Isso serviria como alerta
para que tanto nas escolas, no trabalho, na vida doméstica, as dê maior atenção e prioridade ao
combate e prevenção da violência onde atua.
A Sociedade Civil foca-se mais na participação do que na qualidade e quantidade
destas. No que se refere ao aspecto político da sociedade, ela fica centrada na participação
dando menos importância à qualidade e quantidade.
Os responsáveis do processo político devem desenvolver alternativas de consultas,
negociações e estudos, na busca de soluções pacificas aos interesses conflituosos. Se todos
concordarem, a solução será mais rápida nas reivindicações que são de vital importância a
cidadania.
Em contra partida as políticas econômico-sociais necessitam de mecanismos
institucionais para garantir aos cidadãos sua participação efetiva, na execução das mesmas.
Na compreensão de Kinoshita (2003, p. 36) a autonomia da cidadania pressupõe um
indivíduo-cidadão dotado de dignidade e tolerância fundada em uma idéia de responsabilidade
solidária entre os seres humanos que implica uma forma de vida compartilhada.
Espera-se que este trabalho possa ter contribuído para maior aprofundamento sobre o
fenômeno da violência psicológica, uma vez que não há muita bibliografia disponível sobre
este tema no Brasil.

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Capítulo 7: Empreendedorismo e Inovações Tecnológicas Sustentáveis
Acessibilidade em parques ambientais: proposta de veiculo
utilizando materiais renováveis.

J. G. S. de Souza*, L. D. de Carvalho, N. Santos


Travessa Enéas Pinheiro, 2626
Belém, PA, Brasil
Guilherme_souza02@hotmail.com

Universidade Estadual do Pará – CCNT/DEPROMA

Resumo

O uso de materiais sustentáveis aplicados a produção industrial tem crescido


exponencialmente no mundo inteiro. Um dos setores que tem que mais aproveitado esta
relação e o setor automotivo, principalmente em países europeus, por causa de normas
ecológicas mais severas para minimizar os impactos gerados pelo descarte de partes de
automóveis, feitos em sua maior parte de polímeros a base de petróleo. A pesquisa visa
a aplicação de compósito usando a fibras naturais, ao invés da utilização da fibra de
vidro, substituindo parcialmente estas, e minimizando os impactos ambientais
relacionados ao descarte. As fibras utilizadas são extraídas de plantas naturais da
Amazônia, como a fibra de curaua e a fibra de juta, entre outras. As pecas são aplicadas
a uma proposta de transporte para facilitar a acessibilidade em parques ambientais,
sendo uma opção a lei estadual no, 7.236, de 18 de dezembro de 2008, a qual obriga
lugares de afluência popular, como parques turísticos abertos a visitação publica, a
disponibilizar cadeiras de rodas de tração manual e elétrica, para facilitar o
deslocamento de pessoas portadoras de necessidades especiais e a idosos com
dificuldades de locomoção. Os compósitos, os quais utilizam as supracitadas fibras,
tiveram suas propriedades mecânicas, térmicas e seus métodos de fabricação analisados.
Apos esta etapa, foram aplicados a proposta de transporte ecológico, através dos
projetos conceitual, preliminar e detalhado. Pesquisas preliminares identificaram a
melhor opção para o projeto a fibra de curaua, por suas propriedades que oferecem
vantagens sobre a fibra de vidro, por tratar-se de um material biodegradável, resolvendo
o problema exposto acima. Outros pontos positivos são: seu custo no mercado que
chega a ser dez vezes menor que o de outros compostos e seu valor social, pois sua
produção agregara valor a produção na região amazônica, levando evolução tecnológica
e econômica as regiões produtoras que, em sua maioria, carecem de recursos. Outro
ponto importante da pesquisa identificou que nos parques ambientais, apesar da lei
estadual já citada, há uma dificuldade em torno do ambiente que é pouco propicio a
acessibilidade por conta de características naturais tais como solo irregular causando
certa limitação para cadeirantes e idosos, tanto de tração manual quanto de tração
elétrica. Demonstra-se, portanto, através desta pesquisa, o potencial econômico e social
dos compósitos de fibra natural, em especial, o de fibra de curaua, tentando atingir
assim a chamada tríplice sustentabilidade: social, econômica e ambiental.

Palavras-chave: sustentabilidade, acessibilidade, compósitos, design

1. INTRODUÇÃO

Visando um direito garantido por lei a todos a acessibilidade em qualquer espaço


público é um problema atual e muito presente na vida de pessoas com dificuldade de
mobilidade. Pensando nessa necessidade, a proposta deste projeto é de criar um veículo
conceito capaz de auxiliar qualquer um com limitação física a visitar e transitar pelos
parques ambientais da cidade de Belém do Pará. Por se tratar de um veículo para
parques ambientais, a questão da sustentabilidade foi focada através da utilização de um
material compósito feito com fibra de curauá. Observando os problemas ambientais
gerados pelo descarte de autopeças e automóveis sempre foi um grande problema não só
para a economia, mas também para o meio ambiente. Uma alternativa seria a utilização
de fibras naturais em peças do automóvel. O uso de fibras vegetais já é uma realidade
industrial e é a promessa de um futuro sustentável. O objetivo é desenvolver o projeto
conceitual de um transporte que permita a acessibilidade de pessoas com limitações no
Bosque Rodrigues Alves, em Belém, capital do Pará, utilizando compósito de resina
polimérica e fibra de curauá

2. ECO-MATERIAIS NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

A indústria automotiva desde o seu nascimento tem presenteado a humanidade


com alguns benefícios como praticidade e comodidade, porém trouxe também alguns
empecilhos de cunho ambiental provocados em maior parte por seus componentes
altamente nocivos ao meio ambiente. Diante deste paradigma ambiental diagnosticado
no final do século XX as empresas vêm sendo intimadas a reduzirem os impactos sobre
o meio ambiente em toda sua cadeia produtiva. Hoje é certo que o futuro do automóvel
e de sua indústria passa, necessariamente, pela capacidade dos fabricantes de reduzir
seus efeitos danosos sobre o ambiente, desde a fabricação de materiais até a reciclagem
de peças e de veículos em fim de vida. A relação entre o automóvel e o meio ambiente
passou a ser monitorada e gerenciada de forma contínua nos anos 90, em busca dos
certificados ambientais ISO 14000, inspirados nas normas de qualidade ISO 9000 (1). A
preocupação com o meio ambiente e o cuidado com a qualidade neste início de século
foi sinal de respeito ao consumidor, A indústria automobilística vem enfrentando este
desafio com inovações tecnológicas amplas que têm alterado o conceito do automóvel e
de sua produção. Os novos modelos dos nos 90 já incorporaram, em toda sua cadeia
produtiva, materiais e processos de menor impacto ambiental.
A busca pela sustentabilidade da indústria automotiva passa, portanto, pelo
replanejamento de toda a sua cadeia produtiva em bases sustentáveis, com ênfase na
produção de materiais menos nocivos ao meio ambiente (1).

3. FIBRAS VEGETAIS UTILIZADAS NA INDÚSTRIA AUTOMOTIVA

O uso de fibras vegetais já é uma realidade industrial e é a promessa de um


futuro sustentável. Fibras como curauá, sisal e de côco, já são estudadas e utilizadas há
anos por indústrias automotivas, como a Mercedes-Benz, trazendo desenvolvimento
tanto econômico quanto social, como é o caso de Santarém, no estado do Pará, aonde
mais de 350 hectares foram plantados para suprir uma demanda de 300 toneladas anuais
para a indústria automotiva (2).
Com incentivo de instituições como a Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (EMBRAPA), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) o estudo destas
fibras tem se amplificado permitindo a aplicação industrial em larga escala e em
diferentes setores, por seu baixo custo de produção e suas características que permitem
menor impacto ambiental e renovação do ciclo ecológico (2).

3.1. Curauá

A fibra do curauá, de nome científico Ananás Erectifolius, é uma bromeliácea


originária da Amazônia paraense, que pode crescer em solo pouco fértil e arenoso.
Desenvolve-se apenas em clima quente e úmido (2).
Pertencente a família do abacaxi, desenvolve 10.000 plantas por hectar e cada
uma dá de 50 a 60 folhas por ano, e cada folha tem aproximadamente de 1 a 1,5m de
comprimento, de 4 a 5 cm de largura e cerca de 5 milímetros de espessura. Sua
resistência à tração chega a ser de 5 a 9 vezes maior do que outras fibras naturais, como
o sisal e a juta (3).
Sua aplicação “estorou” no início desta década com o uso desta para a fabricação
de peças de carro e compostos de vigas resistentes a terremoto. Segundo a EMBRAPA,
apenas o estado do Pará conta com 800 hectares plantados e produção de 20 toneladas
por mês, mas precisaria de cerca de 5 mil hectares para suprir a demanda de mil
toneladas por mês apenas das indústrias automobilística e têxtil (4).

4. ACESSIBILIDADE PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E MOBILIDADE


REDUZIDA

Segundo a Secretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa com


Deficiência – SNPD, a acessibilidade é essencial, intrínseco ao ambiente, garantindo a
melhoria da qualidade de vida dos usuários. Contribui para a inclusão social,
possibilitando que pessoas com deficiência vivam de forma independente e participem
plenamente de todos os aspectos da vida. Para isso é indispensável ações
governamentais, políticas públicas e programas que promovam mudanças culturais e
atitudinais, permitindo a inclusão de pessoas com limitações (5).
A acessibilidade é um problema atual e muito presente na vida de pessoas com
dificuldade de mobilidade. Medidas como a Lei Estadual no 7.236, de 18 de dezembro
de 2008, a qual obriga lugares de afluência popular, como parques turisticos abertos a
visitação pública, a disponibilizar cadeiras de rodas de tração manual e elétrica, e o
programa Viver Sem Limite – Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência
(5), recentemente lançado pelo Governo Federal, que trata-se de uma série de políticas
públicas estruturadas em quatro eixos, entre estes a acessibilidade. O Decreto Nº 5.296
de 2 de dezembro de 2004, determina:

I - pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16 de


junho de 2003, a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade
e se enquadra nas seguintes categorias:
a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos do
corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a
forma de paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia,
triplegia, triparesia, hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de
membro, paralisia cerebral, nanismo, membros com deformidade congênita ou
adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não produzam dificuldades para o
desempenho de funções;
b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um
decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas freqüências de 500Hz, 1.000Hz,
2.000Hz e 3.000Hz;
c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que
0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa
acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos
nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou
menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores;
d) deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à
média, com manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais
áreas de habilidades adaptativas, tais como:

1. comunicação;
2. cuidado pessoal;
3. habilidades sociais;
4. utilização dos recursos da comunidade;
5. saúde e segurança;
6. habilidades acadêmicas;
7. lazer; e
8. trabalho;
e) deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências; e
II - pessoa com mobilidade reduzida, aquela que, não se enquadrando no conceito
de pessoa portadora de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de
movimentar-se, permanente ou temporariamente, gerando redução efetiva da
mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e percepção.

5. DESENVOLVIMENTO DA PROPOSTA

5.1. Materiais

Foram analisados estudos preliminares feitos com fibra de curauá reforçando


uma matriz polimérica, no caso, a resina de poliéster. Segundo estudos de Silva (6), as
mantas do compósito sofrem muita influência nos resultados dos ensaios mecânicos
com diferentes preparos e comprimentos das fibras. Os resultados de tração mostram
que as fibras lavadas e secas em estufa tem uma leve vantagem em relação as apenas
secas e as in natura. O mesmo acontece em relação ao comprimento: a manta com fibras
de 50mm tem vantagem sobre as de 10, 20, 30 e 40mm, vide as Figura 1 abaixo.

Fig. 1 – (a) demonstra a influência do preparo das fibras e seu (b) comprimento no
resultado do ensaios de resistência à tração. Fonte: Silva,2010

Estes resultados mostram-se condizentes com a necessidade do projeto. A


intenção é usar o material para fabricar a carcaça, visto que tem resistência mecânica e
tem facilidade de ser fabricado.
Outro material a ser aplicado é o alumínio, mas na sustentação do carro,
formando uma espécie de esqueleto por dentro.

5.2. Projeto Conceito

O conceito foi projetado tendo em vista os fatores expostos acima, sendo a


acessibilidade o ponto principal a ser pensado, pois se trata de um transporte para
pessoas com deficiência ou com mobilidade reduzida, ou seja, o espaço interno foi
pensado de maneira que o usuário possa entrar com uma cadeira de rodas comum, de
proporções definidas pela Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT através
da NBR 9050 de Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos
Urbanos (7). Nas Figuras 2 e 3 abaixo mostra-se as dimensões médias e o módulo de
referência de uma cadeiras de rodas de acionamento manual ou motorizada.
Fig. 2 – Dimensões de uma cadeira de rodas manual ou motorizada

Fig. 3 – Módulo de referência de uma cadeira de rodas

Cases de sucesso, como o caso do carro urbano para cadeirantes Kenguru, foram
analisados. Usando conceitos de sustentabilidade e acessibilidade, os projetistas fizeram
um carro “verde”, ou seja, livre de emissões, utilizando um motor elétrico. Na verdade,
não trata-se, segundo as leis britânicas, de um carro. Trata-se de uma scooter (como
mostra a Figuras 4), pois não tem características de um carro, por exemplo, tem um
guidão no lugar de um volante. Com isso, os usuários não precisarão de habilitação para
carros mas, apenas, para scooters (8).

Fig. 4 – (a) frente do Kenguru e (b) usuário entrando no automóvel. Fonte: site da
fabricante

Foram desenvolvidos sketches (Figura 5) para o desenvolvimento de uma


modelagem (Figura 6) do transporte. Foi adicionada uma cobertura a este, porém não
cobrindo as laterais, para que a experiência do usuário não ficasse limitada. Foram
utilizados conceitos de Desenho Universal e Usabilidade (9).
Fig. 5 –sketches de (a) vista frontal, (b) vista lateral e (c) perspectiva.

Fig. 6 – Vetorização do transporte.

6. DISCUSSÕES

O projeto levantou algumas dúvidas sobre o material utilizado. O compósito de


fibra de curauá com resina de poliéster não é reciclável, porém as fibras vegetais tem
propriedades mecânicas, em comparação a fibra de vidro, que são muito eficientes e
podem ser obtidas utilizando-se 80% menos energia (3). Já o alumínio, apesar de
utilizar muita energia para ser produzido, sua reciclagem é ciclíca, ou seja, é possível,
após o descarte, que o alumínio volte ao mercado, porém não é um processo barato e
acessível.
Outro ponto pertinente é quanto a durabilidade do compósito, porém ao analisar
a tarefa do transporte e comparar com a resistência mecânica, percebeu-se que, se
armazenado de maneira correta, não o deixando ao ar livre à mercê do tempo, pode
durar de maneira satisfatória.

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo revelou que é possível, hoje, projetar um transporte pensando em
materiais inovadores. Materiais compósitos utilizando fibras vegetais podem ser o
futuro da indústria automobilística como uma alternativa no quesito sustentabilidade.
Outro ponto revelado foi a falta de preparo nos parques públicos na questão da
acessibilidade. Observou-se a falta de cadeiras de rodas disponíveis, como consta na lei.
Constatou-se também a falta de rampas de acesso a locais dentro dos parques. É
necessário e urgente que o Estado se equipe para que as pessoas com deficiencia ou com
dificuldade de mobilidade possam acessar locais públicos como qualquer outro cidadão
e se façam incluídos ativamente na sociedade.

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Mestranda em Design e Expressão Gráfica / PósDesign UFSC- FUMDES 1
* FIGUEIREDO, Luiz Fernando Gonçalves de
Doutor / Programa de Pós-Graduação em Design e Expressão Gráfica –
PósDesign UFSC

Resumo

No contexto das comunidades criativas como “Mulheres do Mirassol” emergem de uma


necessidade econômica, que após trabalharem como coletores seletivos de material reciclável
passaram a aproveitar resíduos têxteis para confecção de estopas. Esse fato, certamente,
demostra potencialidades numa organização-comunidade para desenvolver-se como produtora.
A gestão de design compreende como possibilidades do reconhecimento de inovação de uma
organização e, no caso de comunidades como “Mulheres do Mirassol” é possível destacar como
inovação o seu vínculo com a sustentabilidade. Este estudo pretende por meio de abordagem
indutiva identificar as potencialidades e as fragilidades a fim de prospectar novas ações que
contribuam com o fortalecimento do empreendiemento, como a integração com outras áreas
para que assim possam capacitar a comunidade para a produção de produtos vinculados aos
conceitos da Inovação social.

Palavras chaves: Gestão do Design. Inovação social. Sustentabilidade.

Abstract

Application of design management in the solidary Enterprise "Mirassol Women"

"Mirassol Women" emerge from the economic need in the context of creative communities that
after working as selective collectors of recyclable material use waste textiles for making tow.
This fact certainly demonstrates the potential for the organization-community to develop as a
producer. Design management understands the possibilities of the recognition of innovation in
an organization and, in the case of communities such as "Mirassol Women" can highlight
innovation as its link to sustainability. This study aims to identify strengths and weaknesses
through inductive approach in order to prospect new measures that contribute to strengthening
the enterprise such as integration with other areas so that they can empower the community to
produce products linked to the concepts of social innovation.

Keywords: Design Management. Social innovation. Sustainability.

1 Instituição fomentadora - Programa do Fundo de Apoio à Manutenção e ao Desenvolvimento


da Educação Superior – FUMDES
Inovação

A inovação para a organização justifica a ação da gestão do design. Segundo


Mozota (2003, p.3), a importância do design no processo de inovação não pode ser visto
como um projeto isolado sem levar em conta os diversos atores. A idéia de encarar as
organizações como culturas – sistemas de visão ou significado compartilhado – é um
fenômeno relativamente recente, segundo Ferreira (2012) nenhuma pessoa isolada
poderia por si só, alimentar a complexidade de um design avançado. Para Manzini
(2008, p.81) os designers podem exercer a tarefa de procurar nas pessoas idéias,
iniciativas, soluções, [...] que se configurem como inovações sociais.
A importância do design como ferramenta de coordenação no processo de
inovação é destacado por Mozota (2003), por meio da identificação do núcleo de
competências. As ligações interfuncionais tendem a mudar a infraestrutura de inovação,
tais como: gerenciamento de projetos com equipes multidisciplinares, [...] (MOZOTA,
2003, p.3). O design participa num processo de gestão identificando o conhecimento
tácito da organização, estruturando por meio da definição dos processos que envolvem o
“fazer”, como identificando na estrutura as potencialidades da organização.
Autores como Krucken, (2008) e Manzini (2008) consideram a inovação pela
atuação da gestão do design como possibilidade de transpor a partir de uma visão de
competitividade organizacional (centrada nos recursos e nos resultados) para a visão da
competitividade sistêmica (cadeia de valor, rede e nação). A gestão do design tem a
capacidade de identificar e promover a inovação, e no caso de núcleos produtivos onde
o valor destaca-se por ações em que a economia contribui não somente pela geração de
lucro, mas pelo ganho em benefício social e ambiental; que no caso de núcleos
produtivos o reconhecimento do valor social pode ser considerado como um caso de
inovação social. Manzini (2008, p. 14) salienta a importância em “desenvolver a
capacidade de reconhecer o valor de um caso de inovação social sustentável quanto
fomentar a habilidade dos designers em projetar um conjunto de soluções capaz de
aperfeiçoá-lo e de reproduzi-lo em diversos contextos”. Segundo Krucken (2009) o
reconhecimento de valor de um núcleo produtivo é uma ação necessária para
compreender o espaço onde nasce o produto, sua história e suas qualidades associadas
ao território e a comunidade de origem.

Na gestão de design de acordo com o que propõe Manzini (2008, p.29) em


mudar a perspectiva, dessa forma ao invés de um design para o produto, passa a focar na
cadeia, no processo. No caso de núcleos produtivos onde a produção emerge de uma
necessidade econômica, nem sempre os atores envolvidos têm a real dimensão da
atividade como um valor social. A gestão do design como processo de integração na
cadeia de valor da empresa (MOZOTA, 2011, p.64) tem a competência para
contextualizar e articular o capital humano e os recursos técnicos e materiais em uma
organização promovendo e fortalecendo o valor organizacional como fator de
diferenciação. Krucken (2009) diz que para fortalecer o empreendimento é necessário
ativar as competências de diversos atores, por meio de uma visão compartilhada aliando
conhecimentos sobre práticas de manejo sustentável, avaliação do impacto
socioeconômico, gestão dos negócios, desenvolvimento de processos industriais, design
e desenvolvimento de produtos.
Segundo Mazini (2008, p.30) pensar em termos de soluções promove uma
abordagem sistêmica, onde não somente o produto, mas o processo e os atores
envolvidos devem estar alinhados com base na sustentabilidade, levando em conta o uso
e descarte dos materiais utilizados para a produção.

Mulheres do Mirassol

Tomando com base uma comunidade que busca no trabalho de coleta de


recicláveis como alternativa para sair da condição de pobreza, aos poucos começa a
adquirir dignidade e ser conhecida quando passa a aproveitar resíduos têxteis e
transformá-los em recursos para a confecção de produtos.

"A comunidade do Mirassol está assentada numa pequena faixa de terra em


forma retangular, localizada no Balneário Rincão – Içara (SC), que se
constituiu partir de uma ocupação irregular. A leste, norte e sul, seus
moradores estão limitados pela presença de veranistas. A oeste por enormes
dunas” (PLÁCIDO et al., 2012).

A partir da iniciativa da ação do Curso de Economia da Universidade do


Extremo Sul Catarinense (UNESC) em parceria com a Associação Beneficente
Mulheres Voluntárias do Mirassol (ABMVM), houve a implantação de um
empreendimento comunitário de acordo com os princípios de Economia Solidária,
voltado à produção de estopas2 (PLÁCIDO, 2012).

O Empreendimento Econômico Solidário “Mulheres do Mirassol” tem


preocupação de ajudar na elevação da renda das pessoas nele diretamente
envolvidas, bem como iniciá-las na compreensão das causas que as
colocaram na presente situação e dos mecanismos para sua superação pelos
princípios de economia solidária. É assim que se compreende um processo
emancipatório de cidadania. (PLÁCIDO et. al, 2012, p.12)

Baseado em um posicionamento estratégico, podem ser realizadas ações a fim de


impulsionar o desenvolvimento local. “[...] gerar uma nova ideia, adaptar e gerenciar
criativamente existente, ou simplesmente participar ativamente de uma iniciativa em
andamento, exige um grande comprometimento” (MANZINI, 2008, p.84).
A fabricação de estopas na comunidade “Mulheres do Mirassol” não é
representativo enquanto produto, porém destaca-se pelo processo de produção, uma vez
que aproveita resíduos têxteis e ainda gera emprego e renda para uma comunidade
carente. Neste sentido podemos considerar o empreendimento associado a uma
economia com base em princípios sustentáveis.
Segundo Ferreira; Rodrigues (2010, p.54), o eco desenvolvimento desde a sua
idealização, tem sido visto com um subproduto do desenvolvimento sustentável, cujo
processo somente seria possível pelo equacionamento do trinômio formado pela
eficiência econômica, equidade social e equilíbrio ecológico; definido por Sachs (2002)
como o ‘tripe da sustentabilidade’. O caráter emancipatório da atividade sustenta a ideia
de uma economia com base em inovação social, no caso da comunidade “Mulheres do
Mirassol” caracterizada com um núcleo produtivo com base na Economia Solidária, que
segundo o MTE (2011) é definido como:

[...] um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso


para viver. Sem explorar os outros, sem querer levar vantagem, sem destruir
o ambiente. Cooperando, fortalecendo o grupo, cada um pensando no bem de
todos e no próprio bem. Nesse sentido, compreende-se por economia
solidária o conjunto de atividades econômicas de produção, distribuição,
consumo, poupança e crédito, organizados sob a forma de autogestão. (MTE,
2011).

Design e a sustentabilidade

Tomando como base sustentabilidade para o desenvolvimento de estratégias de


inovação social, levemos em conta o que propõe Vezzoli (2010) considerando que é

2 Produto elaborado através da costura de resíduos têxteis usado para limpezas de graxos e resíduos
químicos em geral, tendo como principal clientela oficinas de automóveis.
necessário promover e facilitar novas configurações por meio de interações e parcerias
entre os diversos atores, buscando a convergência de interesses ambientais e
econômicos. No caso da comunidade “Mulheres do Mirassol” esse caráter destaca-se,
levando em conta a socialização de pessoas que se encontravam a marginalizadas
literalmente, considerando a localidade como distante do centro urbano e ainda a falta
de capacitação profissional, consequência da condição de pobreza e dificuldade de
acesso ao ensino.

Metodologia

Levando em conta as ações já emplementadas e a comunidade como uma


organização. O estudo parte de uma abordagem indutiva, por meio de uma entrevista
semiestruturada aplicada ao gestor da comunidade onde o estudo busca-se conhecer a na
perspectiva do gestor: as parcerias, as potencialidades, as fragilidades, o processo
produtivo e de comercialização. Segundo Lima (2008) a relação tende a ser estreita
entre pequenas empresas, tendo um conhecimento direto e íntimo com todo o processo,
e no caso do Empreendimento “Mulheres do Mirassol” o gestor não só administra como
decide todas as ações. Considerando esse estudo como a primeira entrada no campo de
pesquisa, os dados e análise tem o objetivo de registrar o sistema-empreendimento a fim
de configurar um mapa estratégico que possa servir de orientação para futuras ações de
design e gestão de design por meio da inovação social.
Tomando como base o modelo proposto por Kaplan e Norton (2004, p.139) onde
para definição de um mapa estratégico parte do processo de inovação para a
identificação das necessidades de um determinado contexto organizacional (ver fig.1).
Sem deixar de lado a perspectiva financeira, que estaria relacionada ao resultado
econômico para uma organização e a perspectiva do cliente que compreende o
reconhecimento do valor organizacional.
Figura : Processos da gestão da inovação
Fonte: Adaptada de Kaplan & Norton (2004, p.139)

O processo de design é visto como uma representação mental de um modelo de


gestão que organiza a engenharia simultânea e paralela de inovação (CLARK, K. e
FUJIMOTO, T., 1991 apud MOZOTA, 93) por meio da informação explicitada, gerando
valor comunicativo por meio de modelos, desenhos, ou qualquer visualização de
conceito (HISE, et al 1989;. SCHENK, P., 1991; LEONARD-BARTON, D., 1991;
DROZ, D., 1992 apud MOZOTA, 93).
A partir desse modelo o estudo parte para a investigação em campo buscando
encontrar de acordo com o modelo a identificação na organização-empreendimento, as
estruturas e relações a fim de que possam ser identificadas as potencialidades, as
fragilidades, do processo produtivo e de comercialização; a representação do sistema a
fim de possibilitar a analise do produto e processo; e como o capital humano participa
neste contexto.

Descrição da entrevista

Entrando no campo da pesquisa foi apresentado à entrevistada um termo de


consentimento livre e esclarecido onde foram expostos os objetivos do estudo. O local
da entrevista aconteceu numa feira de economia solidária organizada pela universidade
UNESC3 onde o empreendimento “Mulheres do Mirassol” é representado na feira. No
espaço estavam expostos os trabalhos realizados pelas mulheres representados por:
panos de copa, tapetes, cortinas de fuxico, e roupas para cães. Para a realização da
entrevista foi elaborado um roteiro que seguiu de acordo com as seguintes questões:

3 UNESC – Universidade do Extremo Sul Catarinense-Criciúma-SC


Quem são os atores diretos? Quem toma as decisões? Quem são os atores indiretos? As
instituições? Quais as potencialidades? Quais as fragilidades?
De acordo com essas questões o dialogo ocorreu de forma em que o entrevistado
pode expressar- se livremente, e as respostas também serviram para questionamentos
que não estavam previstos no roteiro.

Procedimentos Metodológicos

Após as transcrições realizou-se a análise dos dados e assim foi possível elaborar
um mapeamento conforme figura (fig.2) abaixo:

Figura : Mapeamento comunidade “Mulheres do Mirassol”


Elaborado pelos autores, 2013

O mapa representado identifica as estruturas principais da comunidade.


Seguindo no sentido linear o mapa relaciona a seguinte estrutura: recursos, produto,
processo e comercialização. É possível diagnosticar o fluxo de entrada e saída, onde se
apresenta um sistema em que se inicia a partir dos recursos - nessa etapa se configura
um ponto chave na comunidade, pois o que era considerado descarte passa a ser recurso
e torna-se matéria-prima para a composição dos produtos.
A comunidade “Mulheres do Mirassol” está representada na sua relação como os
agentes que fazem parte do que para Kaplan e Norton (2004) chama de capital humano
numa organização, fazendo parte outras quatro comunidades que contribuem com o
processo produtivo na prestação de serviço para o Núcleo central “Mulheres do
Mirassol”.
Na relação com o produto, estão os artefatos que definem o processo produtivo,
pois a partir do produto que é definido a classificação de matéria-prima, uma vez que de
acordo com o tipo e tamanho do tecido será destinado para os processos posteriores.
A comercialização seguindo o mapa é o processo final no sistema tem como
clientes um supermercado, feiras e exposições.
Além do mapeamento do sistema, durante a análise dos dados foi possível
identificar fragilidades no processo e as potencialidades, conforme demonstra o quadro
abaixo (Quadro 1):
Fragilidades/necessidades Potencialidades/pontos fortes
Item nº1 #..para melhorar a qualidade hoje
estamos com uma professora voluntária que
ensinou as mulheres a combinar melhor os
tecidos e ensinou a técnica do patchwork.

Item nº2 #..Angeloni...é o nosso principal


cliente mas é muito exigente e paga pouco,
recusou um grande número de toalhas que
estamos tentando vender aqui na feira..

Item nº3 # “..hoje o que precisamos e de


máquina, temos somente 3
Item nº4 #...precisamos alavancar as vendas,
mas para isso precisamos de mais máquinas
Item nº5 #...a comunidade ajuda muita
gente,..contribui com o sustento de 636
famílias

Quadro : Fragilidades e potencialidades


Elaborado pelos autores, 2013

Resultados

Relacionando o quadro acima é possível observar como ponto forte destaca-se o


a capacitação por parte de professores voluntários, isso certamente torna o
empreendimento competente como produtor. Porém de acordo com o item nº 2 a
respondente menciona que o cliente recusou um grande número de toalhas, esse fato
ocorreu por um problema de qualidade no processo produtivo. Essa informação não
desqualifica o trabalho de capacitação, mas evidencia a necessidade de um maior
investimento nesse campo, uma vez que foi a capacitação que possibilitou o
desenvolvimento de novos produtos no empreendimento. Apesar de a gestora mencionar
como necessidade o investimento em máquinas de costura em função da necessidade de
aumento de produção, não significa que seja uma ação prioritária. Cabe a gestão de
design avaliar no processo o que pode estar aliado a inovação social e o que pode
comprometer. No caso de um aumento em produtividade poderia de forma imediata
representar aumento de lucro, porém não representa aumento de valor, principalmente
numa economia vinculada a sustentabilidade.

Considerações Finais

Levando em conta o que propõe Krucken (2009, p.101) “Os designers tem a
habilidade de projetar um conjunto de soluções capaz de aperfeiçoá-lo e de reproduzi-lo
em diversos contextos”. Assim a partir da identificação do problema o design e a gestão
do design por meio da metodologia projetual são capazes de propor inovações e nesse
caso como um núcleo produtivo vinculado a sustentabilidade, é importante reconhecer
as habilidades e potencialidades da comunidade, considerando não somente a inovação
no produto, mas o que fez com que a comunidade fosse reconhecida como um caso de
inovação social. Um deles certamente é marcado pelo produto estopa que apesar de não
ser representativo esteticamente foi o produto que marcou a história da comunidade não
pelo valor em produto, mas como valor em processo.
Considerando as dificuldades ainda existentes e as muitas ações ainda
necessárias para fortalecer o empreendimento, o design e a gestão do design tornam-se
fundamentais em todo o sistema, a gestão do design por meio de uma abordagem
sistêmica aqui representada pelo mapeamento da cadeia produtiva, e o design
participando do processo produtivo na capacitação e aplicação de melhorias desde a
entrada dos recursos, como também no processo e fundamentalmente na
comercialização como comunicação do valor social do empreendimento. Embora
algumas ações já tenham sido implantadas como a comunicação visual das etiquetas,
muito ainda pode ser feito para o reconhecimento da comunidade como um caso de
inovação social.
Referências Bibliográficas

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TAYLOR, S.J. e BOGDAN, R. (1984). Introducción a los Métodos cualitativos de


Investigación: La busqueda de significados, Trad. Jorge Piatigorsky, Barcelona: Ed. Paidón,
Argamassa Polimérica Para Assentamento de Alvenaria
Santos, Michael J. A*

A necessidade de racionalização de insumos e processos na construção civil aumentou


os níveis de inovação, estimulando a criação de novas metodologias para se produzir alvenaria.
Outro fator contribuinte às inovações tecnológicas está relacionado ao melhor uso dos recursos
ambientais e redução na geração de resíduos. A produção de alvenaria é um dos principais
gargalos no sistema de construção de edificações e tem sido alvo de várias iniciativas de
otimização e racionalização em seus processos.
Deste modo, surgiram novas argamassas no mercado, com diferentes propriedades e
características de desempenho, de modo a melhorar a produtividade, contribuir para que haja
melhor uso dos recursos naturais. Entre elas, estão as argamassas poliméricas. Essas argamassas
são conhecidas como “argamassas não-cimentícias”, e têm a grande vantagem de serem
fornecidas em embalagens "prontas para usar", sem a necessidade sequer de adição de água ou
qualquer mistura antes da aplicação.
O objetivo do estudo foi analisar e comparar a resistência à compressão de vários tipos
de prismas e paredes, construídos com argamassa polimérica e junta horizontal que varia de 1 a
3 mm, com argamassa de cimento e cal tradicional de 10 mm de espessura. Os blocos incluídos
no estudo foram: blocos de cerâmica estruturais, blocos de concreto estruturais, tijolos maciços
em solo-cimento e tijolos de vedação. O estudo avaliou a resistência característica à
compressão, módulo de elasticidade e o tipo de ruptura de cada prisma ou parede de alvenaria.
Os estudos contemplam ainda ensaios de resistência à tração na flexão, ensaios de corpo mole,
corpo duro, estanqueidade, carga suspensa, arrancamento e durabilidade, feitos em diversos
compenentes, inclusive em blocos de vedação, sem função estrutural. A análise estatística foi
realizada para comparar as diferenças entre os resultados para cada tipo de argamassa.
A junta fina de argamassa não-cimentícia apresentou resistência à compressão axial maior do
que a junta de argamassa convencional com espessura de 10 mm. Os resultados referentes aos
ensaios de arrancamento também apresentaram desempenho superior se comparados às
argamasssas com matriz cimentícia. No que diz respeito às avaliações do módulo elástícidade e
à proliferação de microorganismos os ensaios demonstraram compatibilidade entre os
componentes conforme exigências das normas brasileiras.
Quanto aos requisitos de sustentabilidade e racionalização, ficou compravado que o
redimento da argamassa polimérica estudada é 20 vezes superior ao uso da mistura tradicional
cimento + cal + areia. Além disso, a análise mineralógica da argamassa polimérica demonstra
que não há adição de cimento e areia à formulação. Uma vez que o processo de produção do
cimento gera em cada quilograma do mesmo, entre 600 e 800 gramas de CO² emitidos na
atmosfera e a maior parte das argamassas cimentícias convencionais são compostas de areia
extraída dos rios, mananciais e lençois freáticos. Outro dado de suma importancia é o fato de a
argamassa polimérica estudada gerar 0% de COV (Composto Orgânico Volátil).
Os estudos devem ser continuados, a fim de analisar as diferenças em amostras reais de
paredes, que podem apresentar resultados diferentes do que foi observado nas análises feitas em
laboratório.

Palavras chave: argamassa polimérica, desempenho, alvenaria


Polymeric Mortar to lay bricks and blocks

The way to produce masonry has been changes recently through rationalization
of inputs and processes in construction and increasing of levels of innovation,
stimulating the creation of new methodologies. Another factor which contributes to
technological innovations is related to the better use of environmental resources and
reducing waste. The production of masonry is one of the main bottlenecks in the system
of the building industry and has been the target of several optimizations.
Thus, new mortars on the market, with different properties and performance
characteristics, in order to improve productivity, contribute to make better use of natural
resources. Among them is the polymeric mortar. These mortars are known as "non-
cement mortar" and have the great advantage of being supplied in packs "ready to use",
without adding water or any mixture prior to application.
The aim of the study was to examine and compare the compressive strength of
various types of prisms and walls built with mortar and horizontal joint polymer ranging
from 1 mm to 3 mm mortar with cement and lime traditional 10 mm thick. The blocks
included in the study were structural ceramic blocks, concrete block structural, solid
bricks in soil-cement and non-structural bricks. The study evaluated the characteristic
compressive strength, modulus of rupture and type of each prism or masonry wall. The
studies also include tests of tensile strength in bending tests, tightness, suspended load,
pullout and durability, made in several prisms, including block seal without structural
function.
Statistical analysis was performed to compare the differences between the
polymeric mortar and the traditional cement mortar.
The gasket thin non-cement mortar had compressive strength higher than the
conventional mortar joint with a thickness of 10 mm. The results for the pullout tests
also showed superior performance compared to mortars with cement. Regarding the
sustainability requirements and rationalization, that was shown mortar polymer studied
is 20 times the use of traditional mix cement + lime + sand.
Furthermore, the mineralogical analysis shows that the polymer mortar there is
added to the sand and cement formulation. Once the cement production process
generates the same for each kilogram, between 600 and 800 grams of CO ² emitted into
the atmosphere and most of conventional cement mortars are composed of sand from
rivers, water sources and groundwater. Another fact of great importance is the fact that
the studied polymeric mortar generates 0% VOC (Volatile Organic Compound).
Studies should be continued in order to analyze the differences in real samples of
walls, which can present different results to what was observed in the analyzes made in
the laboratory.

Keywords: polymeric mortar, performance, masonry


*Michael Jackson Alves dos Santos

Profissional com mais de 15 anos de experiência nas áreas comerciais e técnica


na Construção Civil, principalmente em materiais de construção. Amplos
conhecimentos em gestão de negócios e avaliação técnica de novas tecnologias
construtivas. Responsável pela implantação de novos sistemas construtivos em projetos
a nível nacional. Experiência profissional desenvolvida em grandes empresas como
Votorantim, Grupo Legrand, Amanco e Grupo Fcc. Possui graduação em Administração
de Empresas pela Faculdade Internacional de Ciências Empresariais (2005),
Especialização em Marketing pelo IBMEC e é mestrando em Habitação - Novas
Tecnologias para Edificações pelo IPT (conclusão prevista para 2014). É ainda
professor no curso de engenharia da FMU, onde leciona a disciplina Materiais de
Construção.

SANTOS, M. J. A. Inovação Tecnológica nas Edificações. 2012. (Apresentação de


Trabalho/Conferência ou palestra)
SANTOS, M. J. A. ; CONTEL, C. S. ; GRAVE, W. J. . Formação de promotores de
vendas para Home Centers. 2012. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra)
SANTOS, M. J. A. Massa DunDun. 2012. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou
palestra)
SANTOS, M. J. A. Massa DunDun. 2012. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou
palestra)
SANTOS, M. J. A. Argamassa Polimérica para Assentamento de Blocos ou Tijolos.
2012. (Apresentação de Trabalho/Outra)
SANTOS, M. J. A. Argamassa Polimérica. 2011. (Apresentação de
Trabalho/Conferência ou palestra)
SANTOS, M. J. A. ; MAZZINI, L. C. . Desempenho de alvenarias executadas com
Argamassa Polimérica. 2011. (Apresentação de Trabalho/Conferência ou palestra)
Introdução

Os primeiros registros de emprego de argamassa como material de construção


aconteceram a cerca de 11.000 anos, sendo principalmente utilizada para montar
paredes e muros, revestimento de paredes e pavimentos. Inicialmente o homem utilizou
o barro tal como o encontrava na natureza, posteriormente misturou-o com fibras
vegetais e palha, para lhe conferir maior consistência (ISAIA et al., 2007). Em 1812
VICAT (Louis J.) determinou a composição dos cimentos naturais e encontrou o meio
de fabricar cimentos artificiais. Aproximadamente um século mais tarde, a indústria da
Construção Civil começou a incorporar os polímeros na matriz cimentícia e na década
de 80 o Grupo FCC começou a desenvolver uma argamassa sem a adição de cimento.
O objeto de estudo desse artigo aborda uma argamassa polimérica inovadora com
o emprego de nanotecnologia desenvolvida para o assentamento de tijolos ou blocos na
construção de alvenarias sem função estrutural. Comercialmente o produto objeto de
estudo é denominado Massa DunDun. Os estudos se restringem apenas a amostras do
fabricante Grupo FCC, detentor da marca DunDun, pois na última década surgiu vários
outros fabricantes, na maioria presentes na região sul do país, principalmente no estado
do Paraná.
Não houve avaliação desses outros produtos que se dizem similares à Massa
DunDun, pois se trata de uma nova categoria e a única empresa de porte participante
desse mercado é o Grupo FCC. Esses outros participantes do mercado, costumam ser
empresas de pequeno porte, muitas vezes de fundo de quintal, cujos processos de
produção não apresentam níveis mínimos de controle de qualidade e/ou conhecimento
técnico/científico sobre o comportamento da aplicação de argamassa polimérica no
assentamento de alvenaria. Esse problema será minimizado quando houver uma diretriz
SiNAT (Sistema Nacional de Avaliação Técnica) ou um DATEC (Documento Técnico)
emitido por uma ITA (Instituição Técnica Avaliadora). Existe um empenho grande de
algumas instituições técnicas avaliadores, como o IPT (Instituto de Pesquisas
Tecnológicas do Estado de São Paulo), o Instituto Falcão Bauer e o LACTEC (Instituto
de Tecnologia para o Desenvolvimento), no intuito de criar os requisitos e critérios
necessários para a avaliação de desempenho e comportamento de alvenarias executadas
dentro desse conceito de juntas horizontais com apenas 1 ou 2mm.
A solução proporciona uma alternativa econômica, prática, de fácil utilização e
sustentável no assentamento de alvenarias de vedação com determinados tipos de blocos
e sistemas construtivos. O produto apresenta diversas vantagens em relação às
argamassas cimentícias convencionais, desde o desempenho técnico, aumento da
produtividade até a redução do custo total do m2 assentado.

Figura 1 – (a) aplicação do produto direto da própria embalagem; (b) obra com tijolos.
cerâmicos com furos horizontais; (c) obra com blocos de cimento.

Argamassas de assentamento

Assim como os blocos exercem uma função de grande importância no


desempenho da alvenaria, também a junta de assentamento tem uma participação
decisiva, principalmente nos casos em que a parede é externa, ficando exposta às.
intempéries e aos agentes agressivos.
As juntas de argamassa de assentamento possuem como função básica a
distribuição uniforme das cargas atuantes na parede por toda a área resistente dos
componentes da alvenaria, bem como proporciona união entre blocos e auxilia no
assentamento por meio da acomodação dos próprios blocos às suas amarrações.
Também, tem como função compensar as irregularidades geométricas, absorver as
deformações por movimentações de origem térmica, higroscópica e possíveis recalques.
Numa visão macro da alvenaria, a argamassa proporciona monoliticidade ao conjunto
do elemento, e contribui na estanqueidade e durabilidade da estrutura.
Para que a argamassa tenha capacidade de prover as funções citadas ela deve
apresentar as seguintes características:
• Ter trabalhabilidade (consistência, plasticidade e coesão) suficiente para que o
pedreiro produza com rendimento otimizado um trabalho satisfatório, rápido e
econômico.
• Ter capacidade de retenção de água suficiente para que uma elevada sucção do
bloco não prejudique as suas funções primárias.
• Adquirir rapidamente alguma resistência após assentada para resistir a esforços
que possam atuar durante a construção.
• Desenvolver resistência adequada para não comprometer a alvenaria de que faz
parte. Não deve, no entanto, ser mais resistência que os blocos que ela une.
• Ter adequada aderência aos blocos a fim de que a interface possa resistir a
esforços cisalhantes e de tração e prover a alvenaria de juntas estanques à água
de chuva.
• Ser durável e não afetar a durabilidade de outros materiais ou da construção
como um todo.
• Ter suficiente resistência (baixo módulo de deformação) de maneira a acomodar
as deformações intrínsecas (retração na secagem e de origem térmica) e as
decorrentes de movimentos estruturais de pequena amplitude da parede de
alvenaria, sem fissurar.
A quantificação destas características é fortemente dependente não só do tipo e
composição da argamassa, mas também das características dos elementos de alvenaria
que ela irá unir. De maneira geral não existe parametrização limitante para estas
características.
THOMAZ (2001) ressalta que ao se comprimir uma alvenaria constituída por
componentes maciços, a argamassa de assentamento sofre deformações transversais
mais acentuadas que os tijolos, introduzindo nos mesmos um estado triaxial de
tensões: compressão vertical e tração nas duas direções do plano horizontal;
nessa condições a argamassa fica portanto submetida a um estado triaxial de
tensões de compressão. Ultrapassada a resistência à tração dos tijolos, começam a
ocorrer fissuras verticais no corpo da parede. No caso das alvenarias constituídas por
blocos vazados, outras tensões importantes juntar-se-ão às precedentes; para blocos com
furos retangulares dispostos verticalmente, as tensões tangenciais normalmente
provocam ruptura dos septos ou nervuras transversais dos blocos levando a ruptura da
parede.
Atualmente tem sido muito empregado, com objetivo de ganho de
produtividade, o assentamento de componentes de alvenarias sem ou uso de argamassa
nas juntas verticais. É importante ressaltar que esse procedimento pode reduzir o
desempenho da alvenaria diante de esforços cisalhantes (função contraventante da
parede) e de cargas laterais (vento, impactos etc.), prejudicando também a
isolação acústica da parede e eventualmente seu desempenho diante da ação do
fogo. Além disso, nas argamassas de revestimento (principalmente no caso de
fachadas) podem surgir manchas de umidificação diferenciada ("fotografando" os
blocos), ficando ainda induzidas fissuras de retração na argamassa de revestimento, as
regiões das juntas verticais (problema que poderá vir a manifestar-se ao longo da
vida da construção, pela sobreposição de ações higrotérmicas). Obviamente que o
assunto requer ainda muitos estudos, não se podendo generalizar conclusões; em
outras palavras, a não aplicação de argamassa nas juntas verticais terá maior ou
menor repercussão em função de uma série enorme de outros fatores, tais como:
dimensão do painel de alvenaria, espessura da parede, tipo de bloco (material,
geometria), presença de aberturas na parede, flexibilidade da estrutura, tipo de
revestimento da parede etc. Além disso a argamassa polimérica aqui avaliada apresenta
desempenho muito de colagem ou aderência muito superior as argamassa cimentícias,
pois o processo de cura é químico, conhecido como coalescência e não mecânico como
acontece com as argamassas convencionais.
THOMAZ (2001) também ressalta que diversos fatores interveem na resistência
final de uma parede a esforços axiais de compressão: resistência mecânica dos
componentes de alvenaria e da argamassa de assentamento, módulos de
deformação longitudinal e transversal dos componentes de alvenaria e da argamassa de
assentamento, rugosidade superficial e porosidade dos componentes de alvenaria; poder
de aderência, retenção de água, elasticidade e retração da argamassa, espessura,
regularidade e tipo de junta de assentamento e, finalmente, esbeltez da parede
produzida. Com relação à espessura ideal das juntas de assentamento (horizontais e
verticais) alguns autores consideram que se situa em torno de 10 mm; juntas de
assentamento com espessura de 15 mm podem reduzir à metade a resistência à
compressão da parede. É importante ressaltar que o principal fator que influi na
resistência a compressão da parede é a resistência à compressão do bloco ou do tijolo; a
influência da resistência da argamassa de assentamento é pouco significativa.

O desenvolvimento da inovação
A motivação deste desenvolvimento teve origem na constatação de alguns
problemas existentes nos métodos construtivos atuais que utilizam argamassas
convencionais. O principal destes problemas diz respeito à baixa produtividade e
relativa escassez da mão-de-obra qualificada. Objetivou-se buscar alguma solução que
aumentasse a produtividade da mão-de-obra, permitindo a execução de um mesmo
trabalho em menos tempo ou com menos trabalhadores. Outro objetivo do
desenvolvimento foi a criação de um produto não-cimentício que reduzisse a utilização
de cimento Portland e de areia na construção civil devido aos seus altos passivos
ambientais.
A Edição 1025 da revista Exame do mês outubro de 2012 publicou matéria sobre
a produtividade no Brasil. Um estudo da Consultoria BCG aponta que um único
trabalhador americano produz o mesmo que 5 brasileiros. A mesma reportagem mostra
que uma dupla de funcionários da construção civil constrói 17 m2 por dia no sistema de
alvenaria. Com a Massa DunDu, uma dupla executa em média 45 m² de parede por dia,
além de eliminar aproximadamente 30% da mão de obra que estaria envolvida na
logística, dosagem e mistura dos insumos necessários no método convencional de
preparação da argamassa.
De acordo com dados do CDIAC (Carbon Dioxide Information Analysis Center),
a fabricação de cada 1 kg de cimento emite entre 600 e 800 gramas de CO2 na atmosfera
(JOHN, 2000). Estas emissões se dão devido ao processo de descarbonificação das
matérias primas, assim como ao consumo de energia necessário para atingir
temperaturas de até 1450ºC necessárias ao processo de fabricação (ISAIA et al., 2007).
O Sindicato Nacional da Indústria do Cimento aponta que a mesma em todo o mundo
responde por aproximadamente 5% do total de CO 2 emitido pelo homem, representando
um dos 5 maiores poluidores da atmosfera.
A retirada de areia dos leitos de rios para a mistura das argamassas
convencionais também resulta em sérios problemas ambientais por prejudicar estes
frágeis ecossistemas. A argamassa polimérica é produzida com agregados minerais
provenientes de rochas calcárias e reduz entre 90 e 95% a quantidade deste insumo se
comparado às argamassas industrializadas com matriz cimentícia.
O conceito de assentamento de alvenaria com junta fina (entre 0,5 e 3 mm)
iniciou-se na Alemanha através de produtos à base de PU (Poliuretanos). Entre eles
citamos o Mason Bond da multinacional ITW e Dryfix da Wienerberger. Entretanto
essas soluções tecnológicas mostraram-se comercialmente inviáveis.
Outra solução alternativa ao cimento para assentamento de alvenaria é a cola
PVA, a qual pode ser usada para produção de paredes em tijolos de solo-cimento. Neste
caso, as dificuldades se deram devido à falta de credibilidade junto aos consumidores,
uma vez que a cola PVA não apresenta características mecânicas comparáveis às
apresentadas pelas argamassas cimentícias.
O Desenvolvimento da inovação se deu através da evolução de um adesivo para
revestimentos cerâmicos desenvolvido na década de 80 com o apoio tecnológico de
parceiros na Alemanha. Com o aquecimento da construção civil nos últimos 10 anos a
empresa identificou que o principal gargalo na produtividade das edificações era a
produção de alvenaria, responsável pela maior parcela de tempo necessário para
execução de uma obra predial. Somando-se a isso verificou uma escassez crescente na
mão de obra necessária para a execução desse tipo de tarefa.

Indicações de uso do sistema

Os dois sistemas construtivos mais comuns no Brasil são: Alvenaria Estrutural e


Concreto Armado (também conhecido como Alvenaria de Vedação ou Alvenaria de
Fechamento). Dados da Booz Allen Hamilton apontam que 77% das unidades
habitacionais produzidas no Brasil são em regime de autogestão, ou seja, não passa por
construtoras. Sendo que a totalidade das construções autogeridas são executadas no
sistema de Concreto Armado. É sabido ainda que um percentual superior a 30% do
restante das construções adotam também o sistema de alvenaria de vedação. O produto
descrito neste documento é recomendado para este tipo de sistema construtivo, onde
existe uma armação e a alvenaria serve apenas para vedar os espaços.
A argamassa polimérica de assentamento pode ser aplicada em sistemas de
vedação vertical com blocos de concreto, tijolos e blocos cerâmicos, blocos de concreto
celular auto clavado, vedação de peças pré-moldadas, blocos sílico-calcário e tijolos de
solo-cimento (ecológico), cuja função principal do elemento não seja estrutural ou
refratária.
Figura 2 - aplicação do produto em (a) blocos de concreto; (b) tijolos cerâmicos com furos horizontais;
(c) tijolos de solo-cimento

O produto se tornou a solução preferida pelo sistema de alvenaria autoportante


que utiliza blocos em solo-cimento, devido à sua característica de fluidez comparada às
colas, pois este sistema exige junta inferior a 3mm, uma vez que a uniformidade das
peças é grande, se encaixam com perfeição e a solução anterior era a cola PVA, cujas
propriedades não atendiam ao sistema.
Um ponto importante da solução construtiva é a contribuição quanto à exigência
de componentes cerâmicos e de concreto de qualidade. As normas NBR 6136 e NBR
7171, bloco de concreto e cerâmico respectivamente determinam que, não deve haver
uma diferença no dimensionamento superior a 3mm, entre uma peça e outra. Como a
junta horizontal formada pela argamassa polimérica é inferior a 3mm, o seu uso permite
apenas pequenas correções em possível desnivelamentos entre os componentes.
Portanto é recomendado o uso de blocos e tijolos que possuam o selo de qualidade
ABCP ou PSQ.

Processo de aplicação

Os tijolos/blocos devem estar limpos, livres de areia, graxa, óleos ou pó para não
comprometer a aderência. A aplicação do produto em peças levemente úmidas
aumentará o tempo de cura necessário, mas não afetará negativamente a adesão do
produto após sua cura. Não é recomendada aplicação do produto em peças
completamente molhadas (saturadas), pois isso poderá prejudicar a adesão final. É
necessário que a base esteja bem nivelada e no prumo antes da utilização do produto.
Por esta razão, é recomendável que a primeira fiada seja sempre assentada com
argamassa convencional, já que está permite que se faça uma junta com espessura
superior a 3 mm facilitando, assim a correção de quaisquer desníveis existentes no piso.
A argamassa polimérica já vem pronta para o uso, não necessitando nem mesmo
de água. Não se deve adicionar cimento, cal ou qualquer outra substância ao produto. A
aplicação deverá ser realizada depositando-se dois filetes de argamassa com
aproximadamente 1cm de diâmetro cada, os quais devem ser aplicados sobre uma das
superfícies a ser unida a outro bloco/tijolo. Para melhor aplicação e desempenho é
recomendada a utilização de um dos aplicadores fornecidos pelo próprio fabricante da
massa.
O rendimento desse tipo de argamassa é de 1,5kg de massa por m² em tijolos ou
blocos com altura de 19 cm. Dependendo da altura do tijolo o rendimento pode vir a ser
maior ou menor. O rendimento também varia significativamente conforme a prática e
atenção do pedreiro, bem como conforme o tipo de ferramenta usada na aplicação. O
tempo de cura total da Massa Dun Dun é de 72hrs em clima seco e quente, podendo
variar conforme as condições climáticas (mais lento em climas frios ou úmidos). Em
casos de umidade intensa, a cura do produto apenas iniciará após os blocos assentados
secarem completamente. Após aberta a embalagem plástica, se bem vedada, o produto
pode ser utilizado por um período de até 30 dias.
Resultados quantitativos

A seguir um comparativo de custos com o sistema convencional, no qual é


possível verificar que a economia no custo total final do m 2 assentando é em média
30%, cujos dados foram coletados no mercado e/ou fornecidas pelo Sinduscon-SP. Esta
ferramenta para avaliação de competitividade está disponível no seguinte endereço
eletrônico:
http://www.massadundun.com.br/comparativo.php
Estudos de desempenho

Devido à falta de normas técnicas prescritivas para a avaliação do produto


descrito neste documento, foram realizados ensaios com base nas normas de
desempenho, quando disponíveis, pensando-se no sistema da alvenaria como um todo.
Na ausência de normatização com requisitos mínimos de desempenho, foram realizados
ensaios comparativos entre a argamassa polimérica e a argamassa tradicional. Em certos
casos, houve a necessidade de adaptações para a execução dos ensaios. Resumos dos
principais ensaios realizados são apresentados a seguir.

Ensaios realizados no Instituto Falcão Bauer em Outubro de 2011


Figura 3 – (a) visualização da câmera de estanqueidade e (b) parede de bloco de concreto em ensaio de
compressão.

A ABNT NBR 15961 (2011) permite a consideração da resistência à tração da alvenaria


sob flexão, segundo os valores característicos definidos na tabela 1, válida para
argamassas de cimento, cal e areia sem aditivos e adições e juntas verticais preenchidas.
Os valores são relativos à área bruta dos prismas.

Tabela 1
Fonte: ABNT NBR 15961 (2011)
Determinação da resistência à flexão de prismas de 5 blocos cerâmicos:

Figura 4 – Tração na flexão - visualização da carga suportada (a) - pela Massa DunDun e (b) – pela
argamassa convencional

A ruptura dos corpos de prova assentados com a argamassa polimérica ocorreu no


bloco, enquanto a ruptura dos corpos de prova assentados com argamassa convencional
ocorreram na argamassa.

Ensaios realizados na Universidade Federal de São Carlos em Setembro de


2012
Figura 5 – (a) ensaio de prisma com blocos cerâmicos estrutural e Massa DunDun e (b) medição do
módulo de elasticidade em prisma com blocos de concreto e argamassa convencional.
Prismas ADD – Prismas ocos moldados com argamassa DunDun ; Prismas AT – Prismas ocos moldados
com argamassa tradicional.
Figura 6 – Comparativo dos resultados de resistência à compressão axial dos prismas com argamassa
tradicional x argamassa polimérica.
Observa-se que os prismas construídos com Massa DunDun apresentaram
resistência à compressão similar (com a maioria dos blocos ensaiados, até superior) do
que prismas construídos com argamassa convencional.

Prismas ADD – Prismas ocos moldados com argamassa DunDun ; Prismas AT – Prismas ocos moldados
com argamassa tradicional.
Figura 7: gráfico comparativo de módulos de elasticidade prismas com argamassa tradicional x Massa
DunDun

Observa-se que o tipo de bloco utilizado tem um impacto muito maior no módulo
de elasticidade dos prismas ensaiados do que o tipo de argamassa (tradicional ou
DunDun). Desta forma, os resultados não mostram indício de que a diferença em
módulo de elasticidade da argamassa DunDun em relação à argamassa tradicional venha
a ter um impacto significativo no desempenho da alvenaria.

Estudos realizados no IPT em Fevereiro de 2013


O escopo completo de trabalho previu a realização de ensaios de caracterização e
de avaliação de desempenho com objetivo de compara o desempenho da amostra
LMCC 924/12 (Massa DunDun) com o desempenho de uma argamassa inorgânica de
uso corrente utilizada no assentamento de componentes de alvenaria, após ambas serem
submetidas às mesmas condições de ensaios. Nesse trabalho, a avaliação se restringiu
basicamente à determinação da resistência de aderência à tração, que apesar de ser uma
característica de fundamental importância no comportamento da parede como um todo,
para as paredes cuja função é exclusivamente de vedação, sua avaliação quantitativa
tem ocupado um plano secundário. Os critérios de desempenho estabelecidos não a
consideram diretamente, estando implícita nos critérios de Resistência à compressão,
estanqueidade, e durabilidade.
Entretanto, percebe-se que a resistência de aderência deve ser um parâmetro
fundamental para a escolha de argamassas de assentamento. Esse fato é corroborado
com metodologia baseada em normalização internacional que estabelece a confecção de
prismas de alvenaria com cerca de 1,0 m de altura (cinco blocos de 20,0 cm), os quais
devem ser submetidos a ensaio de tração na flexão, avaliando-se, com isso, a resistência
de aderência à tração na flexão.
Os ciclos de umedecimento e secagem consistiram da imersão de cada protótipo
em água até a completa saturação, e posterior secagem ao ar ou em estufa ventilada a
uma temperatura de ± 40ºC até obtenção de massa constante.
Os protótipos foram preparados com segmentos de blocos de concreto e/ou
blocos cerâmicos assentados sobre blocos de mesma espécie, utilizando-se a Massa
DunDun (LMCC 924/12). As fotos 1 a 4 mostram os protótipos utilizados para a
determinação da resistência de aderência a tração.
Os resultados médios dos ensaios de determinação da resistência de aderência
realizados nos sistemas estão apresentados na tabela 2.
Tabela 2

Figura 8 – Desempenho da amostra LMCC 924/12 sobre blocos cerâmicos para as quatro condições de
cura.
Figura 9 – Desempenho da amostra LMCC 924/12 sobre bloco de concreto para as quatro condições de
cura.

Conclusões

Por definição a avaliação de desempenho busca analisar a adequação ao uso de


um sistema ou de um processo construtivo destinado a cumprir uma função,
independentemente da solução técnica adotada e para atingir esta finalidade, na
avaliação de desempenho é realizada uma investigação sistemática baseada em métodos
consistentes capazes de produzir uma interpretação objetiva sobre o comportamento
esperado do sistema nas condições de uso definidas (ABNT 15.575 -1:2008).
A alvenaria de vedação assentada com argamassa polimérica atende aos
parâmetros da NBR 15575-4/08 com relação aos ensaios de impacto de corpo mole,
estanqueidade, cargas suspensas e impacto de corpo mole e corpo duro, bem como não
influenciou diretamente na resistência à compressão das paredes. Além disso possui na
maioria resistência a compressão e resistência às aderências superiores e menor módulo
de elasticidade proporcionando melhor absorção de cargas e distribuição de tensões nas
edificações.
Para a sua utilização em paredes para alvenaria estrutural deve ser fundamentada
em análises realizadas pelo engenheiro responsável pelo projeto estrutural, uma vez que
as normas técnicas de alvenaria estrutural especificam somente o assentamento dos
blocos com argamassa de base cimentícia e o preenchimento das juntas verticais.
Entretanto, há indícios evidentes de que pode ser usada para edificações autoportantes
de até dois pavimentos, desde que os componentes possuam resistência superior a 4,5
Mpa.
A utilização da argamassa polimérica na prática em obras de variados tamanhos
confirmou as vantagens esperadas uma vez que a mão-de-obra foi devidamente
capacitada para o seu uso. As principais vantagens constatadas na prática foram: (a)
Resistência à compressão e aderência superiores às argamassas convencionais; (b)
aumento da produtividade em até 3 vezes; (c) obra limpa e mais ecológica; (d) redução
no desperdício de materiais; (e) eliminação da variabilidade no traço da argamassa; (f)
economia de argamassa no reboco; (g) melhor desempenho da alvenaria na absorção de
esforços, cargas e tensões; (h) aumento da trabalhabilidade devido à alta fluidez; (i)
redução do esforço físico dos operários; (j) redução no custo total do metro quadrado.

Referências Bibliográficas

ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 15961-2: 2011 – Alvenaria


estrutural- blocos de concreto – Parte 2: Execução e controle de obras, Rio de Janeiro:
ABNT, 2011
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR15812-2: 2010 – Alvenaria
estrutural- blocos cerâmicos – Parte 2: Execução e controle de obras, Rio de Janeiro:
ABNT, 2010.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 12118: Blocos vazados de
concreto simples para alvenaria - Método de ensaio, Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 13279: Argamassa para
assentamento e revestimento de paredes e tetos - Determinação da resistência à tração
na flexão e à compressão, Rio de Janeiro: ABNT 2005.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR- 15270-3: Blocos cerâmicos
para alvenaria estrutural e de vedação – Métodos de Ensaio, Rio de Janeiro: ABNT,
2005.
ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 15575: Edifícios
habitacionais até cinco pavimentos – Desempenho – Sistemas de vedações verticais
externas e internas. Rio de Janeiro: ABNT, 2010.
EDITORA ABRIL (Ed.). Porque Somos Tão Improdutivos. Revista Exame, São Paulo,
n. 1025, p.35-50, 03 out. 2012. Quinzenal.
JOHN, Vanderley M. Reciclagem de resíduos na construção civil – contribuição à
metodologia de pesquisa e desenvolvimento. 2000. 113 f. Tese (Doutorado) - Escola
Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.
GRUPO FCC (Brasil) (Ed.). Comparativo de Custos. Disponível em:
<http://www.massadundun.com.br/comparativo.php>. Acesso em: 10 mai. 2013.
ISAIA, Geraldo C. et al.. Materiais de Construção Civil e Princípios de Ciência e
Engenharia de Materiais. 2.v. São Paulo: Ibracon, 2007.
THOMAZ, E. Trincas em edifícios. Causas, prevenção e recuperação. Escola
Politécnica de São Paulo. Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo.
São Paulo: Pini, 1989. 194p
Dialogando sobre a Interface da Geoinformação em processos de Educação para
Sustentabilidade
Patrícia Garcia da Silva Carvalho*1 – patricia.nativasocioambiental@gmail.com.br
Valéria Crivelaro Casale2 – valeria.nativasocioambiental@gmail.com.br
Felipe Souza Marques3 – felipe.nativasocioambiental@gmail.com.br

RESUMO

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e o Programa de Formação de


Educadores Ambientais (ProFEA) baseiam-se no Tratado de Educação Ambiental de 1999, do
qual o Brasil é signatário. O ProNEA tem como princípios a educação mobilizadora, crítica,
participativa e pautada na formação de coletivos educadores. A proposta metodológica está
alicerçada na Pesquisa-Ação-Participante e a formação dos educadores ambientais se dá pela
mediação das tecnologias sociais e pela estruturação de redes colaborativas, na qual o indivíduo
aprende participando das ações socioambientais desenvolvidas pelo coletivo.
Neste sentido, a ferramenta da geoinformação agrega valor aos programas de Educação
Ambiental por possibilitar análise de processos e resultados, dentro da mesma lógica educativa,
pois os processos vinculados à geoinformação aplicada partem de formatos colaborativos e
participativos de gestão de dados territoriais. O processo de construção da plataforma de gestão
de dados e interface com o usuário devem ser reflexo da construção colaborativa do coletivo
educador, de determinada comunidade, município, associação, ou corporação.
A geoinformação ao integrar dados territoriais, socioambientais e de gestão (programas)
possibilita a interação do saber dos diferentes atores sociais agregados no coletivo educador,
permitindo análises técnicas e orientando à tomada de decisão relativa aos processos e
resultados do programa de educação ambiental. Esta ferramenta permite ainda a partir da
vivência do coletivo educador a identificação das necessidades de formação e aprimoramento
do indivíduo e do coletivo, com o objetivo de aprimorar a leitura e interpretação da realidade
socioambiental e dos processos de mobilização social dando maior agilidade e consistência ao
programa de EA, seja na gestão, ou no acompanhamento das atividades desenvolvidas pelas
comunidades de aprendizagem.
A participação social se dá desde a coleta de dados até a construção dos requisitos da
plataforma de dados. A construção da geoinformação de forma colaborativa garante a qualidade
dos dados do território, com impacto muito positivo na construção de informação para tomada
de decisão. A comunidade agrega importante conhecimento territorial, pois permite que
relacionamentos muito particulares sejam destacados e principalmente, considerados para a
tomada de decisão. Na mesma logica, a forma de apresentar os dados territoriais deve estar
conectada com a realidade local.
Considera-se que o uso da informação territorial é importante tecnologia na construção
de sociedade sustentável, desde que associada aos processos de educação socioambiental

1 Graduada em Ciência Biológicas (UFGM), Especialista em Ciências do Ambiente (PUC-Minas) e Mestre em


Geografia e Análise Ambiental (UFMG). Instituição: Nativa Socioambiental.

2 Graduada em Ciências Biológicas (Unioeste), Especialização em Gestão e Educação Ambiental (Unioeste).


Instituição: Nativa Socioambiental.

3 Graduado em Engenharia Ambiental (Uniamérica), Especialista em Gestão Ambiental em Municípios (UTFPR) e


Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento (UEL). Instituição: Nativa Socioambiental.
NATIVA SOCIOAMBIENTAL - Endereço: Av. Tancredo Neves, 6731. Parque Tecnológico Itaipu. Bloco 05. Sala 10.
Foz do Iguaçu-PR.
(participativa, mobilizadora e crítica). Trata-se do uso integrado de geotecnologias e tecnologias
sociais.
Dialoguing about GeoInformation Interface with Processes of Education for
Sustainability

The Brazilian National Program of Environmental Education (ProNEA) and the


Training Program of Environmental Educators (ProFEA) are based on the Treaty of
Environmental Education of 1999, of which Brazil is a signatory. The ProNEA has as its
principles the mobilizing education, critical, participatory and based in the formation of
educator collectives. The methodology proposal is based on Research-Action-Participant and
the training of environmental educators occurs through the mediation of social technologies and
the structuring of collaborative networks, in which the individual learns by participating in
environmental initiatives undertaken by the collective.
In this regard, the tool of GeoInformation adds value to Environmental Education
programs by enabling the analysis of processes and outcomes within the same educational logic,
because the processes related to applied GeoInformation depart from collaborative and
participatory formats of management of territorial data. The process of building the platform of
data management and user interface should be a reflection of the collaborative construction of
educator collectives, from a particular community, municipality, association, or corporation.
The GeoInformation when integrates territorial, social-environmental and management
(programs) data enables the interaction of knowledge from different social actors members of
the educator collective, allowing technical analysis and guiding to decision making regarding
processes and outcomes of the environmental education program. This tool also allows from the
educator collective experience to identify needs of training and improvement of the individual
and the collective, with the goal of improving the reading and interpretation of social-
environmental and the mobilization processes reality giving greater agility and consistency to
the EE program, either in management or monitoring of the activities developed by learning
communities.
Social participation occurs from data collection to the construction of the data platform
requirements. The construction of GeoInformation in a collaboratively way ensures data quality
of the territory, with very positive impact on the construction of information for decision
making. The community adds important territorial knowledge, because it allows that very
specific relationships are highlighted and mainly considered for decision making. Therefore, the
way to present the territorial data must be connected with the local reality.
It is considered that the use of territorial information is an important technology in
constructing a sustainable society, since it is associated to the social-environmental education
processes (participatory, mobilizing and critical). It is about the integrated use of
geotechnologies and social technologies.
Introdução

O Programa Nacional de Educação Ambiental (ProNEA) e o Programa


de Formação de Educadores Ambientais (ProFEA) baseiam-se no Tratado de Educação
Ambiental de 1999, do qual o Brasil é signatário. O ProNEA tem como princípios a
educação mobilizadora, crítica, participativa e pautada na formação de coletivos
educadores. A proposta metodológica está alicerçada na Pesquisa-Ação-Participante e a
formação dos educadores ambientais se dá pela mediação das tecnologias sociais e pela
estruturação de redes colaborativas, na qual o indivíduo aprende participando das ações
socioambientais desenvolvidas pelo coletivo.
Os Programas de Educação Ambiental disseminados pelo Brasil adotam como
premissa a busca da sustentabilidade econômica, física, social, ecológica, biológica,
cultural, política e institucional nos territórios envolvidos nas ações de Educ-Ação
Ambiental, sob a perspectiva de que a aprendizagem é transformadora e ocorre por meio
das ações socioambientais, e que cada membro das populações mobilizadas deve
exercitar a cidadania e atuar como ecoeducadore(a).
Neste contexto a EA é implementada com formação permanente e continuada,
fundamentada na Ética do Cuidado, na Carta da Terra, no diálogo entre os atores sociais,
na mediação de conflitos socioambientais, na educação política e promotora da
cidadania e na visão de que o processo de empoderamento do indivíduo e da
coletividade é fundamental para que a sociedade passe a exercer o seu papel de
protagonista das transformações socioambientais que promovam melhorias na qualidade
de vidas das comunidades.
Este artigo retrata, sobretudo, a experiência de uma equipe multidisciplinar que
há cerca de 10 anos vem atuando como braço executivo do Programa de Educação
Ambiental da Itaipu Binacional, na bacia do Paraná 3, envolvendo 29 municípios,
dentro do escopo do Programa Cultivando Água Boa (CAB). Em 2003, a partir da
revisão da missão institucional da Itaipu Binacional que reforçou o compromisso de
contribuir para o desenvolvimento sustentável da região, surge o CAB que adota a bacia
hidrográfica como modelo de gestão territorial através de 20 programas e 63 projetos de
responsabilidade socioambiental. Importa referir que a EA atua como eixo articulador e
integrador dos 20 programas, essa estratégia tem assegurado a articulação sistêmica de
ideias, pessoas e recursos, e construído de forma democrática processos educativos e de
intervenção socioambiental. Além dos programas de educação corporativa para a
sustentabilidade, desenvolvidos em médias e grandes empresas.
As estratégias adotadas nas ações de EA envolvem: uma pedagogia inspirada em
Paulo Freire, o rompimento com o esquema centralizador e uniforme das políticas
públicas de EA,a adoção de metodologias participativas e tecnologias sociais focadas
nas características regionais, a formação mediante processos de Educação Ambiental
Popular e a criação de estruturas e espaços que promovam a continuidade dos processos
educativos, e assegurem o enraizamento da política de educação ambiental no território.

Geoinformação

O território onde as pessoas moram, trabalham e exercem as mais diversas


atividades pode ser entendido com o grande palco, onde as principais interações
socioambientais ocorrem. O território limita, o território condiciona, o território
pressiona, o território é utilizado. Porém, quando se analisam os aspectos sociais de uma
determinada situação, em poucos casos se utiliza o aspecto espacial. E ainda, quando se
usa, não se utiliza da forma sistematizada. O território é real não só porque é material,
mas porque as relações sociais lhe dão sentido (SANTOS, 2006) (RIBEIRO & LIMA,
2011).
A geoinformação é construída através do processamento de geodados, de forma
sistematizada e de relacionamento. Todos passam a construir informações, neste caso,
com relação espacial. Desta forma mais dados podem ser agregados ao processo
construtivo da informação, possibilitando maior robustez ao resultado. Esse resultado de
informação precisa com qualidade, provoca tomada de decisão mais assertiva.

Figura - Construção de Informação


A principal diferença entre informação e geoinformação é a amarração territorial. A
informação é um conjunto de dados organizados de forma a ter sentido, a esta
organização dá-se o nome de processo. No caso da Geoinformação, são geodados,
organizados por um geoprocesso, para a construção de geoinformação.

Figura - Construção de Geoinformação

Uma importante metodologia para mapeamento, bastante moderna, é o


mapeamento participativo. Neste caso, cada pessoa tem a possibilidade de, de forma
voluntária, inserir dados e geodados para a construção de geoinformação. Trate-se de
um método colaborativo e participativo de construção de informação. Decisões em
gestão de territórios coletivos devem partir do entendimento do coletivo sobre o
território.
O “Mapa de Participação Cidadã”, de São Paulo-SP, é um bom exemplo de
modelo de mapa colaborativo, onde cada cidadão cadastra a organização em que atua,
como associação de bairro, conselhos municipais, ONGs, entre outras. No site
http://www.mapadaparticipacao.org.br/# cada cidadão entra, sem burocracia ou
limitação de horário e faz sua contribuição. Neste caso se constrói a informação de
quem são as organizações com atuação no município, região e bairro do município. Essa
informação pode auxiliar tanto decisões dos moradores, como de investidores sociais,
bem como da própria prefeitura municipal. A organização deixa de ser uma linha escrita
e passa a ser uma posição no território.
Figura - Interface do Mapa da Participação Cidadã

O caminho percorrido: os processos formativos, o empoderamento e as ações de


intervenção socioambientais
A Educação Ambiental é de fato uma das mais importantes exigências
educacionais em todos os níveis e modalidades porque possui um conteúdo
emancipatório que implica em mudanças individuais e coletivas em prol do meio
ambiente e qualidade de vida das pessoas. Para tal, as ações de EA devem ser realizadas
nas escolas, parques, reservas ecológicas, associações de bairro, sindicatos,
universidades, meios de comunicação, ou seja, em todos os níveis e espaços de relações
sociais, pois cada um destes possui suas características e especificidades.
A metodologia adotada no programa de EA de Itaipu é a Pesquisa-Ação-
Participante ou Pessoas que Aprendem Participando (PAP) devido ao seu caráter
coletivo, dinâmico, participativo, complexo e contínuo. E a estratégia de mobilização e
articulação das pessoas no sentido de formar um coletivo educador visando o efetivo
envolvimento dos atores e controle social na tomada de decisões para a resolução de
problemas.
Por meio da criação de uma Sala Verde ou Centro de Educação Ambiental como
espaço educador, projetos, ações e programas educacionais voltados à questão
socioambiental, poderão ser realizados a partir de atividades dinamizadoras de
articulação e integração da própria comunidade, conservando e fortalecendo assim a
identidade local. Utilizando o espaço educador, a comunidade de modo geral será capaz
de demonstrar alternativas viáveis para a sustentabilidade, estimulando mais e mais
pessoas a desejarem realizar ações a favor do meio ambiente e qualidade de vida.
Dentre as estratégias de mobilização e envolvimento dos atores sociais a
empresa atua em consonância com o Programa de Formação de Educadores Ambientais
(PROFEA) descritas a seguir:

1. Formação de Educadores Ambientais – são processos formativos oferecidos


por parceiros locais ou regionais, que possibilitem a formação de um número
cada vez maior de educadores ambientais, cuja função primordial é editar o
conhecimento construído durante o seu processo de aprendizagem apropriando-o
para o seu contexto e atuando na formação de centros educadores/editores,
viabilizando a capilaridade e o enraizamento do processo. Os ministérios
colaboradores do programa poderão oferecer, diretamente ou através de
parceiros chancelados, cursos e apoio técnico para o desenvolvimento das ações.
2. Educomunicação Ambiental – são estratégias interativas e participativas de
comunicação com finalidade educacional e de tomada de decisão, envolvendo a
produção e a divulgação de materiais educacionais, campanhas de educação
ambiental e o uso de meios de curto, médio e largo alcance.
3. Escolas e outras Estruturas e Ações Educadoras – são estruturas dos
municípios, nas quais, ou, a partir das quais, acontecem ações e/ou projetos
voltados à sustentabilidade, que devem ter por objetivo não só a transformação
da qualidade de vida do município, mas também, a definição e implementação
de seu papel educador. A definição de planos, projetos, programas, legislação e
políticas de meio ambiente, educação, saúde, transportes, para a educação
ambiental, também faz parte deste item.
4. Instâncias e Processos Participativos – são os conselhos, colegiados, redes e
coletivos que se propõem a realizar projetos e ações em prol da sustentabilidade
e, ao mesmo tempo, discutir valores, métodos e objetivos de ação, a fim de
educar e de se auto-educarem para a sustentabilidade.
As ações de mobilização e formação dos coletivos educadores, dos comitês
gestores são sinérgicas e buscam otomizar os recursos humanos, tecnológicos, materiais
e financeiros alocados pelas instituições públicas, privadas e grupos da sociedade sicil
organizada. Ao longo do tempo, os cardápios de aprendizagem definidos de forma
participativa propiciam o exercício da cidadania, o empoderamento social coletivo
através das ações de intervenção no território, a favor da melhoria da qualidade
ambiental e de vida. O aprendizado do fazer em conjunto, dos encontros de saberes e
das redes colaborativas de aprendizagem fortalece a construção social do conhecimento
e o enraizamento dos processos educativos.

Figura - Interfaces da Educação Ambiental

Nas empresas a educação para a gestão ambiental baseia-se na visão de que as


mudanças de processos e de procedimentos devem fazer sentido e dar significado ao
colaborador interno da instituição, pois dessa forma haverá a compreensão da
necessidade das mudanças e o envolvimento ativo com as mesmas. De forma geral no
Brasil, as empresas investiram recursos financeiros em mudanças tecnológicas, em
aquisição de novos equipamentos e estruturas, mas esqueceram-se de que para ativar e
atuar a favor dessas transformações existe a necessidade do desenvolvimento humano,
que vai além da capacitação e treinamento em função. É sob está ótica que a empresa
desenvolve os programas de educação para a gestão ambiental e para a sustentabilidade
empresarial. As figuras 4 e 5 representam a lógica adotada nos processos formativos nas
empresas.
Figura - Gestão Estratégica com Educação Ambiental

A adoção de um modelo de aprendizagem colaborativo, participativo voltado


para o desenvolvimento humano e para a construção social do conhecimento vem
demonstrando ser fator catalisador dos processos de educação ambiental em ambientes
empresariais e comunitários. Para tal a definição de indicadores de processo e de
resultados se faz necessária e deve ser constantemente refletida e aprimorada.

O desafio: definir e desenvolver novos Indicadores

Ao longo dos anos, o processo reflexivo e crítico da equipe ao avaliar os


programas de educação ambiental implementados trouxe a necessidade de se enfrentar
alguns desafios relativos os indicadores, era necessário ter uma leitura mais imediata e
territorial da abrangência das ações e dos resultados alcançados, os indicadores de
processo (número de palestras realizadas/ano, número de pessoas mobilizadas,/ano
número de intervenções socioambientais realizadas/ano, etc) já não atendiam às
expectativas de avaliação de desempenho.
Neste contexto que surge a interface com a geoinformação, pois esta ferramenta
possibilita integrar dados territoriais, socioambientais e de gestão (programas),
viabilizando a interação do saber dos diferentes atores sociais agregados no coletivo
educador, permitindo análises técnicas e orientando à tomada de decisão relativa aos
processos e resultados do programa de educação ambiental. Esta ferramenta permite
ainda a partir da vivência do coletivo educador a identificação das necessidades de
formação e aprimoramento do indivíduo e do coletivo, com o objetivo de aprimorar a
leitura e interpretação da realidade socioambiental e dos processos de mobilização
social dando maior agilidade e consistência ao programa de EA, seja na gestão, ou no
acompanhamento das atividades desenvolvidas pelas comunidades de aprendizagem.
A geoinformação parte da construção coletiva, bem como a educação ambiental,
possibilitando a consolidação de novos indicadores. Os atores envolvidos nos
aprendizados e nas mudanças são os protagonistas desta construção.
Assim, a partir de 2012 foram investidos recursos no delineamento
metodológico da integração da geoinformação aos programas de educação ambiental da
empresa. Desta forma, foram definidos 3 grandes eixos de indicadores de resultados que
passaram a ser estruturados em banco de dados que possibilitassem a migração para os
sistemas de geoinformação. Um grande investimento inicial foi feito na estruturação das
fichas de cadastro dos participantes e na coleta de dados em campo que pudessem
possibilitar o cruzamento do perfil do educador ambiental com os resultados alcançados
pelo coletivo educador.
O primeiro eixo de indicadores refere-se à participação, o segundo a qualidade
ambiental e o terceiro a qualidade de vida, descritos em sequência.
Participação – como as pessoas, instituições, grupos, projetos e estruturas estão
atuando em educação ambiental; como a Educação emerge nos mecanismos de
participação social nas políticas públicas (orçamento participativo, plano diretor
participativo, conselhos municipais, etc.); qual o nível de representatividade por
segmento social (relação entre pessoas/instituições); se há equidade de participação dos
segmentos sociais; se o educador ambiental ao empoderar-se toma a decisão de adentrar
nas estruturas políticas municipais, como vereador, por exemplo; se o participante do
FEA ao vislumbrar a oportunidade de desenvolvimento pessoal que o processo permite,
alavanca processos de educação básica e superior.
Qualidade ambiental – como a cobertura vegetal foi regenerada ou é
conservada/preservada (matas nativas, matas ciliares, reservas legais e arborização
urbana nos espaços públicos); qualidade dos serviços de saneamento (quantos
domicílios ou habitantes têm acesso aos serviços prestados; regularidade e qualidade
destes serviços, nível de satisfação dos usuários, etc.); como está sendo tratada a questão
da poluição ambiental (emissões atmosféricas, contaminação do solo pela existência de
lixões a céu aberto ou outras fontes, lançamento de esgoto in natura, ocorrência de
inundações/alagamentos, etc.), do volume e qualidade dos corpos hídricos e da
preservação do patrimônio histórico-cultural; do controle de endemias e zoonoses; como
se dá a conservação dos solos; quais as ações voltadas para a gestão de recursos
hídricos.
Qualidade de vida – existência de programas de educação que previnam doenças
de veiculação hídrica ou resultantes de outras formas de contaminação ambiental; como
se dá as relações de trabalho existência de Eco-trabalho e de cooperativas de catadores,
respeito à questão de gênero, ações voltadas à erradicação do trabalho infanto-juvenil; a
oferta de equipamentos e serviços públicos é suficiente e considera o tipo de habitação e
a capacidade de pagamento dos usuários (ligação domiciliar/tarifas/taxas); programas de
capacitação que contribuam para o fortalecimento da identidade, auto estima, cidadania
e grau de satisfação com a vida cotidiana, taxa de alfabetização e de escolarização;
como a geração de renda, a agricultura familiar e o turismo rural.

Bibliografia

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EMPREENDEDORISMO, RESPONSABILIDADE SOCIAL E SUSTENTABILIDADE
EMPRESARIAL: O CASO DO MUSEU DO MARCENEIRO

1
Mestre Maria Luísa Silva e Prof.ª Doutora Fátima Jorge

RESUMO

A partir da análise teórica do conceito de empreendedorismo, responsabilidade social (RS) e


sustentabilidade empresarial é destacada a relação entre práticas de responsabilidade social e a sua
ligação à sustentabilidade empresarial e que resultem de atitudes empreendedoras. Analisámos
também de que modo é que as práticas de RS e o empreendedorismo podem ir ao encontro da
sustentabilidade empresarial, acreditando ser essencial uma atitude de cooperação interinstitucional
entre Estado, empresas e organizações da sociedade civil, para uma efectiva promoção da RS das
Empresas e do Empreendedorismo.
Procurámos conhecer o tipo de estratégia de RS daquela empresa, utilizando o modelo
conceptual desenhado pelos autores do estudo RS nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006).

PALAVRAS-CHAVE: Empreendedorismo; Responsabilidade Social; e Sustentabilidade Empresarial.

ENTREPRENEURSHIP, CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY AND


SUSTAINABILITY: THE CASE OF JOINER’S MUSEUM
ABSTRACT
From the theoretical analysis of the concept of entrepreneurship, social responsibility (SR) and
corporate sustainability is highlighted the relationship between social responsibility practices and their
link to corporate sustainability and entrepreneurial attitudes that result. We have also analyzed how is
that SR practices and entrepreneurship can to meet corporate sustainability, believing it to be an
essential attitude of interinstitutional cooperation between state, business and civil society
organizations for effective promotion of RS Enterprise and Entrepreneurship. We sought to know the
kind of strategy that RS now using the conceptual model designed by the study authors RS SMEs -
Cases in Portugal (Santos et al., 2006).

KEYWORDS: Entrepreneurship, Social Responsibility, and Corporate Sustainability.

1. Introdução
O processo de globalização que tem vindo a exigir por parte das organizações
elevados níveis de competitividade, em muito tem potenciado a implementação de actividades
que nem sempre são compatíveis com as necessidades das comunidades locais e regionais e
com o próprio ambiente, assistindo-se por vezes à secundarização de interesses sociais e
ambientais em prol de interesses exclusivamente económicos. Quando isto acontece é porque

1
Mestre Maria Luísa Silva (mlfcsilva@gmail.com) e Prof.ª Doutora Fátima Jorge (mfj@uevora.pt) –
Universidade de Évora; Artigo escrito tendo como base a Dissertação intitulada “Do Desenvolvimento
Sustentável à Sustentabilidade Empresarial: Um estudo regional multi-casos” para obtenção do grau de Mestre
em Gestão – Recursos Humanos, da autoria de Maria Luísa F. de C. e Silva, em Fevereiro de 2012.
algo não está contemplado, isto é, há pelo menos um princípio que não é verdadeiramente
considerado.
Numa altura em que a pobreza e a exclusão social teimam em persistir, embora as
empresas se sintam incapazes de resolver por si só tais problemas, têm, no entanto, mais
consciência de que o seu empenho pode revelar-se muito positivo no quadro de influências
que também podem exercer, se falarmos na criação de emprego, e da elevação do nível de
bem-estar, satisfação social e conhecimento, pela educação e formação.
A relação directa entre empreendedorismo e sustentabilidade empresarial tem sido
estudada, apresentando-se como uma evidência, sendo já inúmeros os investigadores que
concluem que na base da sustentabilidade das organizações estão inovações promovidas por
empreendedores que contribuem também para o desenvolvimento sustentável das
comunidades em que se inserem.
Com o intuito de analisar a prática de RS que constitui a criação do Museu do
Marceneiro, propriedade da empresa Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª, verificamos de
que forma é que esta iniciativa pode ser considerada empreendedora.

2. Empreendedorismo, Responsabilidade Social e Sustentabilidade Empresarial

No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão


incorporar novos conceitos e valores, nomeadamente práticas de RS e Sustentabilidade que
podem consistir também em atitudes empreendedoras.

2.1 Empreendedorismo
“O empreendedorismo é um fenómeno que assume diversas formas e aparece em
pequenas e grandes empresas, nas empresas estabelecidas e na criação de novas empresas, na
economia formal e na informal, em actividades legais e ilegais, nas ocupações inovadoras e
tradicionais, nas empresas de alto risco e nas de baixo risco, e em todos os sectores
económicos (OCDE, 1998 apud Nijkamp, 2009, 2009, p. 854)”.
Não há uma única definição para empreendedorismo. Ao que parece a palavra
empreendedorismo deriva do francês e deve-se a Richard Cantillon economista francês do
século XVIII, o aparecimento desta noção.
O Global Entrepreneurship Monitor (GEM) descreve o Empreendedorismo como
“uma forma de pensar e agir, obcecada pelas oportunidades, com uma abordagem holística e
equilibrada em termos de liderança, com o objectivo de criar riqueza”. Mas “qualquer
tentativa de criação de um novo negócio ou uma nova iniciativa, tal como o emprego próprio,
uma nova organização empresarial ou a expansão de um negócio existente, por um indivíduo,
equipa de indivíduos, ou negócios estabelecidos” é, no entender do GEM também
empreendedorismo (apud Sarkar, p. 31)
A OCDE (1998, p. 42-44, apud Nijkamp, 2009, p.855) identifica três importantes
características do empreendedorismo. “Em primeiro lugar, o empreendedorismo envolve um
processo dinâmico com empresas em várias situações: as novas empresas que se estão a
iniciar, as empresas já existentes que estão a crescer e as empresas que não tiveram sucesso e
que estão a ser reestruturadas ou a fechar. Uma segunda característica do empreendedorismo é
que – na medida em que implica o controlo do processo pelo empresário-proprietário – ele
tende a ser identificado com a pequena empresa onde o proprietário(s) e gerente(s) são os
mesmos. Finalmente, o espírito empresarial implica inovação”. Para Joseph Schumpeter
(1936) (apud Sarkar, p. 53), o empreendedoriso aparece ligado à inovação, defendendo que
empreendedor é aquele que aplica uma inovação no contexto dos negócios, que por sua vez
pode tomar várias formas: introdução de um novo produto; introdução de um novo método de
produção; abertura de um novo mercado; a aquisição de uma nova fonte de oferta de materiais
e a criação de uma nova empresa.
“O desenvolvimento do sector das PME desempenha um papel crucial na dinâmica
espacial, pois muitas formas criativas de empreendedorismo encontram-se neste sector”
(Nijkamp, 2009, p. 857). E, “o ambiente local (incluindo a cultura, os conhecimentos e as
atitudes das empresas) parece funcionar como um factor de sucesso crucial para novas formas
de empreendedorismo (Camagni, 1991, apud Nijkamp, 2009, p. 865).
Para Sarkar (p.32), empreendedorismo “é o processo de criação e/ou expansão de
negócios que são inovadores ou que nascem a partir de oportunidades identificadas”.
As opiniões não são unanimes, portanto. E principalmente se pensarmos nas
inúmeras formas de empreendedorismo (por necessidade, por oportunidade, electrónico,
familiar, comunitário, municipal, social, etc, etc.), não perdendo de vista também o intra-
empreendedorismo, em que os intra-empreendedores são vistos como empreendedores com
acções bem-sucedidas dentro de uma organização estabelecida ou em parceria com outros
indivíduos, também eles empreendedores, que têm características diferentes,
complementando-se portanto, entre si.
“Os empreendedores são pessoas que reagem às alterações das economias,
funcionando como agentes económicos que transformam a procura em oferta” (Adam Smith,
1776, apud Sarkar, p. 27). Para John Stuart Mill (1848, apud Sarkar, p. 27), o
empreendedorismo “é a base da empresa privada; o empreendedor é aquele que corre riscos e
toma decisões, que gere recursos limitados para o lançamento de novos negócios”. “O
empreendedor é aquele que transforma recursos em produtos e serviços úteis, criando
oportunidades para fomentar o crescimento industrial” (Carl Menger, 1871, apud Sarkar, p.
27).
“O empreendedor é agente que transfere recursos económicos de um sector de
produtividade mais baixa para um sector de produtividade mais elevada e de maior
rendimento” dizia Jean Baptiste Say (1803, apud Sarkar, p. 27)).
Ainda que não se nasça empreendedor, “ser-se empreendedor não é nem inato nem
hereditário, embora existam diferentes combinações de características pessoais, de liderança,
de motivação e comportamentais que podem indicar a vocação empreendedora, há alguns
traços de personalidade e algumas características que os empreendedores bem-sucedidos
tipicamente partilham” (Ferreira, M.P. et al, p. 55).
Apontamos um conjunto de características aos empreendedores, detalhando assim o
seu perfil comportamental: são normalmente considerados indivíduos com iniciativa, visão,
coragem, firmeza, decisão, resilientes, com atitude de respeito humano e com grande
capacidade de liderança e organização.

2.2 Responsabilidade Social


O conceito de RS das empresas refere-se à responsabilidade que estas deverão
assumir na gestão das suas organizações, olhando muito para além do lucro imediato e dos
tradicionais rácios económicos.
Ao longo do século XX e já neste século, a RS das organizações tem sido objecto de
inúmeras investigações académicas e com elas têm surgido várias definições. Mesmo na
década de 50, a RS, associada ao tema da ética, já integrava a gestão no contexto empresarial
das empresas americanas, como Carroll veio sintetizar através da sua pirâmide com quatro
níveis, em que destaca a Responsabilidade Económica como base que sustenta as outras e que
surgem sequencialmente. Pressupõe assim que, para se tornar socialmente responsável, a
empresa tem que passar por várias etapas, tendo-se, de baixo para cima, o seguinte (1979,
1999 apud Almeida, 2010, p. 63): Responsabilidades económicas; Responsabilidades legais;
Responsabilidades éticas; Responsabilidades filantrópicas.
É a Freeman (1984) que se atribui a origem da teoria dos stakeholders, quando este
autor publica o primeiro livro sobre a função que o envolvimento com os stakeholders
deverá ter na estratégia empresarial. O âmago da questão reside no facto de a direcção das
empresas não se dever cingir apenas aos interesses dos accionistas/ proprietários – mas
também aos interesses de outros stakeholders (partes interessadas), nomeadamente os
empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os fornecedores.
Elaborado pela Comissão Europeia, com o objectivo de debater o conceito de RS da
empresa, incentivar o desenvolvimento de práticas inovadoras e promover parcerias para a sua
concretização, o “Livro Verde: Promover um Quadro Europeu para a RS das Empresas”, veio,
em 2001, reforçar a estratégia europeia para a responsabilidade empresarial. Nele se descreve
a RS das empresas como “um conceito segundo o qual as empresas decidem, numa base
voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um ambiente mais limpo.” Em
Julho de 2002, a Comissão Europeia apresenta um outro documento de referência – a
comunicação “RS das Empresas: um contributo das empresas para o desenvolvimento
sustentável”, definindo aí que “cabe às organizações a adopção de uma atitude de RS, no
quadro de uma dinâmica de integração entre todos os agentes envolvidos nas suas
actividades” (Comissão Europeia, 2002, p. 347).
Seguindo Santos et al. (2005, p. 31), a dimensão social integra as acções orientadas
para a gestão do elemento humano que compõe a sua matriz social (componente interna) e as
acções orientadas para a comunidade envolvente (componente externa). A dimensão social
interna inclui acções relativas ao local de trabalho e é essencial para os bons resultados da
empresa, dado que a produtividade, a inovação e a qualidade dependem dos níveis de
motivação e satisfação dos trabalhadores da empresa. Nesta dimensão podem incluir-se
práticas de RS ligadas a: Gestão de Recursos Humanos; Informação e Comunicação; Serviços
Sociais; Gestão da Mudança Organizacional; Empregabilidade; e Saúde, Segurança e Higiene
do Trabalho. Na dimensão social externa integram-se práticas destinadas aos agentes externos
da empresa, incluindo a comunidade local. Na dimensão económica as empresas relacionam-
se com três tipos de parceiros: clientes, fornecedores e investidores ou accionistas. “A
responsabilidade ambiental das empresas passa pela integração das questões ambientais na
gestão estratégica, atribuindo-lhes a devida importância, a par das questões de carácter
económico e social” (Santos et al., 2005, p. 51). “A componente interna da responsabilidade
ambiental das empresas refere-se, de uma forma geral, à adopção das políticas e
procedimentos internos que conduzem a uma melhoria contínua do desempenho ambiental e à
sua introdução no quotidiano da actividade das empresas” (Santos et al., 2005, p. 52). Por sua
vez, a componente externa está ligada “à interacção das empresas com os seus parceiros
externos, nomeadamente fornecedores, clientes, comunidade em geral, organizações não-
governamentais de ambiente, entre outros” (Santos et al., 2005, p. 53).
2.3 Sustentabilidade Empresarial
Organizações governamentais e não-governamentais, empresas públicas e privadas e,
de um modo geral, toda a sociedade, têm vindo a assumir o conceito de desenvolvimento
sustentável. As empresas têm vindo, continuamente, e de um modo crescente, a
movimentarem-se no sentido da sustentabilidade empresarial, muito devido aos novos
requisitos legais que implicam custos financeiros, mas também à consciência de que a
integração de variáveis ambientais e sociais pode potenciar a criação de oportunidades de
negócio, com consequências positivas na criação de valor económico.
Certo é que as empresas têm um papel de destaque no crescimento económico e no
emprego, assumindo lugar cimeiro na inovação e no desenvolvimento tecnológico. Importante
é também o papel do sector privado como fonte de capital para os países em desenvolvimento
pois, em termos globais, os investimentos do sector privado perfazem mais de 85% do fluxo
financeiro (Convenção Quadro da ONU, 2007).
Sustentabilidade empresarial significa a capacidade de gestão de uma actividade
empresarial e a criação de valor de longo prazo, simultaneamente à criação de benefícios
sociais e ambientais para os seus stakeholders. Parafraseando, Porter e Kramer (2002, p. 68),
“não há nenhuma contradição entre melhorar o contexto competitivo e denotar um sério
empenho no melhoramento da sociedade.”
Ao integrarem a gestão de riscos e oportunidades dos domínios ambiente e social, as
empresas terão capacidade de antecipar estes factores, com resultados no seu desempenho
económico. Através da gestão integrada da responsabilidade social será possível a criação de
valor. Por outro lado, é possível transformar riscos em oportunidades, quando a existência de
falhas de mercado associados ao surgimento de problemas ambientais e sociais tem impacto
no sector privado. A sustentabilidade empresarial traduzir-se-á na transformação desses
problemas em novas oportunidades de negócio, a que se associam benefícios económicos,
capacidade produtiva, criação de emprego qualificado e boas condições de trabalho.
De forma mais sustentável, as empresas terão maior possibilidade de acrescentar valor
aos negócios se, para além do diálogo com os stakeholders, conseguirem envolver todos os
departamentos que a compõem, integrando a sustentabilidade num modelo de gestão em que
seja permitido inovar para ir ao encontro das necessidades dos seus clientes e, em simultâneo,
apresentar produtos e serviços ambiental e socialmente responsáveis.
A orientação para a sustentabilidade de uma unidade empresarial, bem como a
implementação e manutenção de determinados princípios, dão hoje indicações claras
relativamente à sua capacidade de gestão, onde se incluem valores intangíveis, tais como, a
liderança, a execução estratégica, as marcas, o capital humano e o desempenho operacional.
Embora possam variar de empresa para empresa, dependendo do sector de actividade a
que pertencem, os factores de criação de valor, associados à implementação de políticas e
práticas de sustentabilidade, podem apresentar-se e medir-se conforme descrito pelo Grupo
GEMI EVI Work Group (Quadro 7).

Quadro 1 – Factores de criação de valor


Valores Intangíveis Descrição
Os clientes Capacidade para desenvolver relacionamentos, satisfação e lealdade com os clientes.

A liderança e a Capacidade de gestão, experiência e capacidade de visão de futuro da liderança.


estratégia
A transparência Comunicação honesta feita de forma aberta e segura.
O valor da marca Força da posição no mercado. A capacidade para expandir no mercado. A qualidade do produto/ serviço
percebida pelo cliente e a confiança dos investidores.
A reputação Como é globalmente considerada a organização no que respeita aos temas ambientais, aos temas
ambiental e social comunitários, às questões regulamentares, etc.
As alianças e redes Relacionamentos na cadeia de fornecedores, alianças estratégicas e parcerias.
de contactos
A tecnologia e os Execução estratégica, capacidades em tecnologias de informação, gestão de stocks, tempos de rotação de
processos stocks, flexibilidade, reengenharia, qualidade e transparência interna.
O capital humano Atracção de talentos, retenção da força de trabalho, relacionamento com os colaboradores, sistema
remuneratório, etc.
A inovação Eficácia do sistema de desenvolvimento de novos produtos, cadeia de R&D, patentes, conhecimento e
segredos comerciais.
A gestão do risco A capacidade para gerir eficazmente o equilíbrio entre potenciais ameaças e potenciais oportunidades.
Fonte: GEMI (2004), “Clear advantahge: building shareholder value”, em Global Rnvinmental Management Initiative,
Washington, p. 5, apud Santos et al., 2005, p. 64.

4. Metodologia
A metodologia utilizada para a elaboração deste artigo, assentou na pesquisa
bibliográfica como ponto de partida, seguindo-se a pesquisa descritiva, assumindo-se depois
uma abordagem exploratória, a que se seguiu o estudo de caso, privilegiando-se a natureza
qualitativa dos dados.
Para obtenção de dados referentes às Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª, e
muito concretamente, ao Museu do Marceneiro, procurou-se aplicar um questionário e
complementar os dados assim conseguidos com a realização de uma entrevista semi-
estruturada. Refira-se ainda que foi utilizado o modelo conceptual desenhado para o estudo
RS nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006) (Quadro 2).
Para complementar os dados obtidos através do questionário foi realizada uma
entrevista semi-estruturada com questões abertas ao dirigente indicado pela empresa, que
incidiram sobre questões relacionadas com Empreendedorismo e a criação do Museu.
A documentação sobre a empresa, recolhida antes da entrevista, bem como aquela
que foi fornecida aquando da visita para a realização da mesma, possibilitou uma análise mais
rigorosa da informação.

Quadro 2 – Modelo de análise dos tipos de estratégias de RS


VOLUNTÁRIA PREVENÇÃO
Estratégia: Inovação Estratégia: Diferenciação
Stakeholders: Associações, Universidades e Empresas Stakeholders: Sindicatos e Comunidade
Atitude perante a RS Atitude perante a RS
a) Motivações: Criação de Valor a) Motivações: Ético-sociais
b) Benefícios: Organizacionais b) Benefícios: Comunicação
c) Obstáculos: Cooperação (capital social) c) Obstáculos: Informativos e de Conhecimentos
d) Tipos de Apoio: Conhecimento d) Tipos de Apoio: Técnicos
e) Periodicidade das práticas: Regular, e) Periodicidade das práticas: Ocasional,
integrada na estratégia. integrada na estratégia
Estratégia: Custo Estratégia: Focalização
Stakeholders: Sócios e Entidades Públicas Stakeholders: Trabalhadores, clientes e fornecedores
Atitude perante a RS Atitude perante a RS
a) Motivações: Lucro a) Motivações: Pressões de grupos
b) Benefícios: Económico - financeiros b) Benefícios: Comerciais
c) Obstáculos: Financeiros c) Obstáculos: Temporais
d) Tipos de Apoio: Financeiros d) Tipos de Apoio: Informação
e) Periodicidade das práticas: Ocasional, não e) Periodicidade das práticas: Regular, não
integrada na estratégia integrada na estratégia
OBRIGAÇÃO REACÇÃO
Fonte: Santos et al., 2006, p. 61.

As estratégias de negócios (Quadro 3), a relação com os stakeholders (Quadro 4) e a


atitude perante a RS (Quadro 5) são considerados os principais factores que influenciam este
tipo de práticas nas empresas. “Os tipos de estratégias de RS das PME resultam da análise dos
três vectores considerados anteriormente” (Santos et al., 2006, p.63), que se materializam
num quadro de referência para classificar as estratégias desenvolvidas pelas empresas
(Quadro 6).
A partir da sistematização de variáveis e práticas de RS (Santos et al., 2006, p. 66),
foi construído o inquérito às práticas de RS (Santos et al., 2006, p. 250), que serviu de
instrumento de tratamento da informação, facilitando a sua análise. O inquérito permitiu
identificar: práticas de RS das empresas no âmbito das três dimensões em análise (económica,
social e ambiental); estratégias adoptadas; factores, motivações, benefícios e obstáculos que
condicionam a adopção de práticas de RS.
5. Apresentação da empresa Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª
5.1 Caracterização
A empresa eborense Galerias de Móveis São Francisco, Ld.ª (GMSF), especializada
na manufactura de móveis tradicionais alentejanos, foi fundada em 1975 pelo marceneiro
eborense Manuel Sebastião Silva e seus filhos. Esta sociedade por quotas com 9
trabalhadores, é por isso mesmo uma micro empresa. Mas nem sempre foi assim. Tempos
houve em que esta empresa chegou a empregar 30 colaboradores.
As GMSF procuraram desde sempre reviver a velha tradição do móvel rústico
alentejano, que reencontrou na sua fábrica a continuidade e a qualidade que
momentaneamente se vinham perdendo nesta região. Contrapondo-se ao móvel pintado de
características populares, as GMSF comercializam ainda hoje o que de mais genuíno recheava
as senhoriais casas alentejanas. Ao comemorar quase quarenta anos de actividade, as GMSF
apostam agora na produção de novos modelos de mobiliário, bem como em novas formas de
comunicação com o público. As GMSF produzem, comercializam e restauram artigos de
mobiliário que pela sua especificidade, considerando aspectos artísticos, artesanais, de
antiguidade, de raridade e de qualidade/ preço são requisitos de maior atractividade.

5.2 O Museu do Marceneiro


Para as GMSF o dia 19 de Novembro de 2011 ficou na sua história, ao inaugurarem
o Museu do Marceneiro. Sendo um projecto para chegar a um público muito variado, o
Museu do Marceneiro mais não é o do que a conjugação da criatividade e tradição, cujo
resultado é inovação que vem do empreendedorismo do seu fundador e filhos, por assumirem
a responsabilidade de partilhar uma arte centenária.
O Museu do Marceneiro, localizado na Rua da República em Évora, nasceu da
vontade de criar e manter um cenário de trabalho ligado à arte de trabalhar a madeira, a partir
de uma colecção de antigas ferramentas, mais ou menos gastas pelo uso, ou substituídas por
equipamento eléctrico na execução dos mais variados trabalhos. É um espaço de exposição
que preserva e partilha a história de uma empresa familiar, mas também saberes e tradições,
contribuindo desta forma para a história da comunidade.
A partir do Museu do Marceneiro, as GMSF pretendem alcançar dois objectivos:
primeiro, coleccionar e preservar ferramentas utilizadas no passado e, em segundo lugar,
pesquisar e expor essas ferramentas para transmitir às gerações futuras o espírito e as atitudes
dos tradicionais marceneiros e carpinteiros, em particular, no Alentejo.
Associadas ao Museu do Marceneiro, para além da actual actividade comercial e
industrial, as GMSF têm em funcionamento desde o último Sábado de Janeiro de 2012 um
conjunto de Oficinas, com actividades ludico didáticas completamente gratuitas, destinadas a
crianças e jovens, mas também idosos, procurando promover a intergeracionalidade e a
aprendizagem de técnicas ligadas à marcenaria. A afluência à iniciativa tem sido muito
superior ao esperado, levando a empresa a realizar duas edições de cada uma das Oficinas
previstas.
De salientar que, “o Museu do Marceneiro e tudo o que tem sido realizado à sua
volta, só foi possível, com empenho, dedicação e cooperação com outras empresas e
organizações locais e nacionais que se têm vindo a juntar a todas as iniciativas, desde a sua
concepção”, sublinhou um dos proprietários das GMSF.
As iniciativas do Museu do Marceneiro vão além do inicialmente previsto. A oferta
de ferramentas que chegam de todo o país tem sido uma constante. Contam-se as visitas de
escolas da região, de lares de idosos, de associações de solidariedade social e de muitos
turistas, as parcerias com os media locais e nacionais, das quais resultaram várias reportagens,
para além de instituições locais como a Direcção Regional de Cultura do Alentejo e a Câmara
Municipal de Évora. Por último, há ainda a salientar uma parceria com o Museu do Relógio,
da qual resultou o lançamento conjunto do relógio de parede Modelo 24 horas.
O ambiente vivenciado pelos participantes nas Oficinas do Museu do Marceneiro
proporcionou, recentemente, a organização de uma iniciativa solidária que envolveu os cerca
de seis dezenas de participantes nas oficinas, bem como todos aqueles que quiseram aderir à
acção de angariação, recolha e entrega de peças que vieram a integrar a Quermesse que a Liga
Portuguesa Contra o Cancro realizou na edição de 2012 da Feira de São João, em Évora.

6. Discussão de resultados
A empresa GMSF afirma seguir, nos últimos três anos, uma estratégia de inovação,
assente na introdução de novos produtos e serviços. Predomina ali uma estratégia de RS
voluntária, considerando o seu posicionamento em termos de estratégia de negócio (inovação
– introdução no mercado de novos produtos e serviços), relação com stakeholders
(universidades, associações e empresas), motivações (com base na criação de valor),
benefícios (organizacional), tipos de apoio (conhecimento) e periodicidade das práticas
(regulares e integradas na estratégia). É comum verificar-se, principalmente nas grandes
empresas, que o carácter regular das práticas de RS está ligado à sua estratégia. Já no que
concerne às pequenas e médias empresas, os estudos de referência mencionam o facto de estas
integrarem informalmente a RS. No entanto, nas GMSF as suas actividades regulares nesta
área estão ligadas à estratégia de negócios. Há muito que para esta entidade o exercício da
prática de RS deixou de se ligar apenas a patrocínios ou doações, integrando a sua estratégia
de sustentabilidade empresarial.
As GMSF têm preocupações ao nível das três dimensões: económica, social e
ambiental. A “articulação da comunidade onde a empresa se insere” é uma das áreas da RS
considerada mais importante, agora ainda mais notória a partir da criação do Museu do
Marceneiro. Ao mesmo nível a preocupação com o ambiente é realçada. Como pode observar-
se, as práticas de RS desta organização vão muito além do seu carácter interno, sendo em
grande número as práticas relacionadas com a dimensão social externa e com a ambiental.
Numa boa parte das vezes vai ao encontro da comunidade, com quem se articula, mas também
de clientes, fornecedores, parceiros comerciais, produtos e serviços e da valorização do
ambiente, excedendo o cumprimento da legislação.
Ao analisar a satisfação indicada pelos dirigentes no que se refere à avaliação dos
resultados das práticas de RS que a empresa desenvolve, poderemos deduzir que há ainda um
longo caminho a percorrer. Vejamos: foram apenas referidos resultados bastante satisfatórios
ao nível de “Clientes”, “Produtos e Serviços”, “Informação e Comunicação” e “Comunidade”.
Poder-se-á dizer que esta empresa está ainda assim satisfeita com o resultado das práticas de
RS ao nível de dimensão económica, social interna e externa. Embora com grande número de
práticas ambientais, ao analisar em pormenor as respostas ao inquérito, é a esse nível que os
dirigentes estão pouco satisfeitos ao reflectirem sobre os resultados das suas práticas de RS,
havendo aí mais espaço para melhoria de resultados a par da dimensão social interna (gestão
de recursos humanos, serviços sociais e formação).
No domínio económico, a empresa analisada apresenta práticas que interagem com
três tipos de parceiros estratégicos: os clientes, os fornecedores ou parceiros comerciais e os
seus sócios. Partindo da síntese de Carroll (1979) através da sua pirâmide, acrescente-se ainda
que notamos preocupações desta empresa ao nível das várias etapas apresentadas, destacando-
se, na base, as responsabilidades económicas, pois esta empresa tem de gerar riqueza, pelo
que terá que responder às necessidades de consumo da sociedade. Considerando as práticas de
RS orientadas para os trabalhadores das empresas ao nível da dimensão social interna,
estamos perante uma unidade empresarial com práticas integradas em diversas áreas: gestão
de recursos humanos, informação e comunicação, serviços sociais, gestão da mudança
organizacional, empregabilidade, bem como saúde, segurança e higiene no trabalho. Quanto à
participação, sistemas de apoio, adaptação à mudança, formação e desenvolvimento, serviços
de saúde e segurança as GMSF fazem alusão a várias práticas.
Indo ao encontro da teoria dos stakeholders, proposta por Freeman (1984), deduz-se
sobre a importância que as GMSF dão, não só aos interesses dos proprietários, mas também
aos interesses de outras partes interessadas, nomeadamente os empregados, os gestores, a
comunidade local, os clientes e os fornecedores. Se para Keith Davis (1973), se pode deduzir
que a RS das empresas começa quando a lei acaba, nesta empresa estamos efectivamente
perante práticas de RS. Entendendo por motivações, tudo o que impulsiona o
desenvolvimento de práticas de RS, surge como mais frequente nesta empresa a criação de
valor e a questão ético social, a que corresponde, respectivamente, a “fidelização de
consumidores e de clientes”, a “melhoria da imagem institucional” e os “princípios éticos e
cívicos”, para além do “aumento da satisfação dos trabalhadores/as”. Para as GMSF, a
pressão da comunidade e dos poderes públicos não exercem influência sobre as práticas de
RS.
Curioso é perceber quais são as principais dificuldades associadas à dinamização de
práticas de RS nesta empresa, isto é, os principais obstáculos. São apenas referidos os
aspectos “financeiros” (insuficiência de recursos financeiros, falta de apoio público). Como
aspectos relevantes para promover a RS, as GMSF referem a “partilha de experiências/
formas de implementar com empresas semelhantes”, para além de “partilhar experiências/
formas de implementar com empresas semelhantes”, “conhecimento de boas práticas”,
“programas de formação”, fazendo também alusão à necessidade de outros: apoios financeiros
(apoios públicos e incentivos fiscais). Existe portanto um balanceamento entre a necessidade
de informação/ formação e de intervenção do Estado.
Ao verificar a tipologia de estratégias de RS apresentada na metodologia, depois de
analisada a estratégia de negócio, a periodicidade das práticas, a relação com os stakeholders,
as motivações, os benefícios, os obstáculos e os tipos de apoio, podemos aferir o padrão de
comportamento desta entidade. Constata-se a não aplicação do modelo no seu estado puro, ou
seja, as GMSF não apresenta para todas as dimensões uma estratégia tal qual a proposta no
modelo de análise dos tipos de estratégias de RS, existindo no entanto características
dominantes. No que respeita aos obstáculos, as GMSF apresenta uma estratégia de obrigação
(traduzida na insuficiência de recursos financeiros e na falta de apoio público).
Aproveitando um conjunto de ferramentas armazenadas, sem qualquer utilidade do
ponto de vista da sua utilização actual na fabricação de produtos, as GMSF procuram
valorizá-las, integrando-as num único espaço museológico, devidamente organizado para
mostrar à juventude e gerações vindouras formas de trabalho por estes desconhecidos. Ao
valorizar este espólio, o próprio estabelecimento comercial ganha também novas vidas. Para
além dos jovens, são os amantes destas artes e antigos marceneiros e carpinteiros que ali se
cruzam e partilham as suas experiências. Muito próximo de uma das atracções turísticas mais
importantes da cidade Património da Humanidade, o espaço comercial onde, diariamente
poucos clientes entravam para apreciar ou comprar mobiliário e peças decorativas (devido a
uma elevada quebra do poder de compra, ao aparecimento de bens substituíveis - alguns quase
descartáveis, mas a preços muito baixos, e à reduzida dimensão do espaço, comparativamente
a outros que o consumidor se habituou a frequentar), viu-se transformado. Com a inauguração
do Museu do Marceneiro, o mesmo espaço é hoje visitado diariamente por dezenas de turistas
que conhecem um pouco da história da carpintaria e da marcenaria da região e aproveitam
para levar consigo pequenas lembranças que ali se comercializam agora, para além da
memória das imagens de mobiliário antigo e tradicional do Alentejo ali expostos. A estratégia
de sustentabilidade empresarial, de que faz parte integrante o Museu do Marceneiro das
GMSF, ao enquadrar acções de RS, cruza-se com a estratégia definida para a região, ao
integrar principalmente os sectores tradicionais, explorando recursos endógenos disponíveis,
(naturais, ambientais, patrimoniais, e culturais).
Por outro lado, num mundo cada vez mais competitivo, os proprietários das GMSF,
ao criarem o Museu do Marceneiro foram eles próprios agentes de mudança, procurando
elevar o seu desempenho, ao enfrentar externalidades, com pró actividade, criando iniciativas,
procurando inovar, sendo por isso empreendedores. Na entrevista realizada foi visível o
elevado nível de motivação pessoal, o gosto pela assunção do risco, a criatividade, para além
da recompensa desejada, que vai muito além da financeira, e que em muito passa pela
realização pessoal e profissional da criação de algo que também lhe pertence. Estamos sem
dúvida perante um caso de intra-empreendedorismo, como estratégia de ganhar flexibilidade e
capacidade de adaptação e inovação. Não será também por acaso que na liderança do Museu
do Marceneiro está um indivíduo empreendedor, pertencente ao quadro desta empresa.

7. Considerações finais
Poder-se-á afirmar que, de acordo com o modelo utilizado, predomina a estratégia de
RS voluntária nas GMSF. “A partir de uma perspectiva espacial [o empresário] tem que atingir a
excelência em termos do enraizamento local e global, na orientação, na exploração das vantagens da
proximidade, na utilização de princípios de clusters e de redes, e no acesso a circuitos avançados de
conhecimento” (Nijkamp, 2009, p. 868). É isto que está a acontecer com o Museu do Marceneiro, uma
iniciativa das GMSF. É disso exemplo o espírito empreendedor do seu líder, que também é
proprietário da empresa.

Referências bibliográficas
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Sarkar, S., 2009. Empreendedorismo e Inovação. Escolar Editora. Lisboa.


Equipamentos Eletroeletrônicos: Logística Reversa, Elementos Químicos
Adequados e os Benefícios para o Meio Ambiente

Eliane M. Grigoletto, Moacir Pereira*, Marco Antônio Silveira**

Professora doutora- UNISAL- Av. Almeida Garret, 267, Campinas-SP, Brazil


eliagrigoletto@gmail.com
*Professor Doutor- UNISAL – Campinas-SP, Brazil
moacir.pereira@sj.unisal.br
**Pesquisador Doutor - Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer-CTI,
Rodovia D. Pedro I, Km 143,6, Bairro Amarais, Campinas-SP, Brazil
marco.silveira@cti.gov.br

Abstract:

Science has enabled progress and technological innovation in manufacturing processes. The
wide industrial production and the unlimited use of the natural resources may lead to the human
being extinction, considering the environment impact of its production activities. Social and
political aspects have significantly influenced the business sector. New ideas allow joining what
is good for society, in general, to elements traditionally important for industrial production, such
as capital, raw material, human resources, social aspects, including the use of natural resources
such as air and water, the labor composition and the evaluation of the pollution produced. The
huge demand for electronic products and their quick obsolescence contribute for the pollution
increase. This paper shows the improvements that happened in the industry of electronic
products, it describes the evolution in materials and processes adopted worldwide, and also
discuss concepts of reverse logistics as one of the solutions to reduce the residues in production
and the disposal of electronic waste in Brazil.

Keywords: electronic products, environment impact, electronic waste, reverse logistic.

Resumo:
A ciência tem permitido o progresso e a inovação tecnológica em processos fabris. A grande
produção industrial e o uso sem limites dos recursos naturais podem levar provavelmente à
extinção do ser humano, considerando o impacto ambiental de suas atividades produtivas. Os
aspectos sociais e políticos têm influenciado significantemente o ambiente dos negócios. Novas
ideias estão permitindo a união do que é bom para a sociedade de forma geral, a fatores
tradicionalmente importantes para a produção industrial como o capital, a matéria-prima, os
recursos humanos, os aspectos sociais, incluindo o uso dos recursos naturais como ar e água, a
composição da mão-de-obra e a avaliação da poluição produzida. A grande demanda de
produtos eletroeletrônicos e a sua rápida obsolescência contribuem para o aumento da poluição.
Este trabalho apresenta as melhorias realizadas na indústria produtora de eletroeletrônicos,
descreve os avanços em materiais e processos adotados mundialmente, e discute conceitos da
logística reversa como uma das soluções para a diminuição dos resíduos da produção e o
descarte de lixo eletrônico no Brasil.

Palavras chave: produtos eletrônicos, impacto ambiental, resíduo eletrônico, logística reversa.
1. Introdução

A indústria de eletroeletrônicos tem se beneficiado com a miniaturização dos


componentes utilizados para a montagem de equipamentos, o que proporciona o
desenvolvimento de projetos que ocupam menor volume, e oferecendo mais recursos e
flexibilidade nos serviços disponíveis aos usuários (HARPER, 2003; OLIVEIRA &
LIMA, 2004).
A importante evolução na tecnologia de montagem de componentes eletrônicos
ocorreu quando da migração da montagem de componentes apenas do tipo PTH
(Plated Through Hole) para componentes SMC (Surface Mounted Components). A
técnica de soldagem inicialmente usada em componentes PTH, consiste na inserção dos
componentes nos furos metalizados existentes na placa de circuito impresso,
diferentemente da tecnologia SMT em que o componente é apenas colocado sobre uma
placa contendo trilhas metálicas e ilhas onde os componentes são assentados sobre uma
pasta de solda. Uma placa de circuito impresso pode possuir componentes PTH e SMT,
possibilitando a mistura das tecnologias disponíveis na indústria montadora.
As vantagens da tecnologia de montagem de componentes sobre superfície são o
aumento da densidade do circuito, o decréscimo do tamanho dos componentes, o
decréscimo do tamanho da placa de circuito impresso, a redução de peso, a redução das
trilhas metalizadas, menores interconexões, facilidade de automação, menores custos no
volume da produção (GRIGOLETTO, 2003).
A tendência mercadológica tem demonstrado a aceitabilidade de novos produtos
eletrônicos com um aumento de funcionalidades, com simplicidade, baixo custo e maior
facilidade de operação, o que incentiva a inovação tecnológica diminuindo o ciclo de
vida do produto. O aumento inevitável da poluição ambiental se torna crítico, sendo
importante que a manufatura e o descarte dos produtos não agridam o meio ambiente.

(HWANG, 2004).

As ligas de estanho-chumbo convencionais têm sido utilizadas na soldagem de


componentes eletrônicos boas características de condutividade e baixo custo, porém o
chumbo pode contaminar o meio ambiente e esta liga foi substituída em equipamentos
que não requerem elevada confiabilidade conforme diretrizes europeias pelas ligas de
estanho-prata-cobre (GRIGOLETTO, 2003).
A indústria de eletrônicos tem desenvolvido produtos que causem menor
impacto na natureza, sendo um dos objetivos a diminuição do uso de materiais
perigosos, a redução da produção de resíduos, o aumento de processos de reciclagem, a
redução do uso de energia (HWANG, 2004).
As operações de soldagem expõem os trabalhadores a materiais que prejudicam
a saúde como solventes e partículas de metais de solda que após o aquecimento da liga
são emitidos para o ar. A estratégia básica para um desenvolvimento econômico
sustentável nos processos de soldagem de componentes eletrônicos está direcionada
para a reorientação dos padrões de produção e consumo atuais, pela adoção de medidas
para a prevenção da poluição. A reciclagem dos materiais ocorre longe da área do
processo e o tratamento e descarte dos resíduos gerados na indústria não são
consideradas atividades de prevenção, embora beneficiem e reduzam os efeitos dos
resíduos no meio ambiente.
A maioria dos componentes eletrônicos era tradicionalmente soldada com as
ligas de chumbo, elemento que possui elevada toxicidade e seus resíduos, produzidos
durante a sua obtenção e reciclagem das ligas, podem contaminar a água, o ar e o solo.
A intoxicação de trabalhadores expostos ao chumbo pode ocorrer em longo prazo na
indústria e é chamada de saturnismo (GRIGOLETTO et al., 2003).
A necessidade de substituir as ligas de estanho-chumbo para ligas sem chumbo
na soldagem de componentes eletrônicos em equipamentos que não requerem elevada
confiabilidade foi incentivada por organizações mundiais. A Comunidade Européia
elaborou as diretrizes para a eliminação do chumbo a exemplo da WEEE - Waste
Electrical and Electronic Equipment e a RoHS - Restriction of Use of Hazardous
Substances (GRIGOLETTO, 2003).
A indústria produtora de eletroeletrônicos atendendo a requisitos das normas
RoHS e WEEE, atualmente mudou a liga de Sn-Pb pela liga SAC (estanho-prata-cobre),
eliminando os problemas que poderiam advir do uso do chumbo para o meio ambiente e
para os seres humanos na fabricação e descarte dos equipamentos.
Juntamente com esta iniciativa, o uso da logística reversa vem beneficiando o
setor, incluindo o enquadramento à legislação imposta pela PNRS (Política Nacional de
Resíduos Sólidos).
2. O chumbo, obtenção, ligas e consequências de seu uso para o meio ambiente

O minério de chumbo extraído das minas é processado para a obtenção do chumbo


refinado. Este chumbo recém refinado é chamado chumbo primário.
O chumbo secundário é o metal obtido pela reciclagem de resíduos que contém
chumbo proveniente das mais diversas fontes.
Independentemente da fonte, o chumbo pode ser utilizado na forma de ligas ou
compostos. As ligas de chumbo tem grande importância para a indústria de
eletroeletrônicos.
O chumbo em sua forma elementar raramente existe na natureza. É encontrado na
forma de minério. A maior ocorrência contendo chumbo é chamada de galena. Além da
galena, o chumbo elementar pode também ser obtido à partir de outros dois minérios,
chamados cerusita e anglesita. Estes três minerais apresentam características próprias e
são classificados de acordo com a sua composição.
A galena é o principal minério de chumbo. É formado por sulfeto de chumbo (PbS),
cerusita é formada por carbonato de chumbo (PbCO3), e a anglesita é formada por
sulfato de chumbo (PbSO4) (Industrial Pollution Control Handbook, 1971)
Os processos de soldagem de componentes SMT sobre placas de circuito impresso
geram diversos resíduos como a pasta de solda que sobra de deposições errôneas, a liga
de solda sólida em placas de circuito impresso que não puderam ser recuperadas.
A liga sólida e as placas montadas podem ser incineradas e o chumbo é emitido
para o ambiente como material particulado.
No processo de soldagem por refusão a pasta de solda é descartada em pequena
quantidade, os sucateiros podem levar o material para ser incinerado ou descartar em
aterros especiais ou em aterros comuns. Quando houver incineração novamente ocorrerá
a emissão de óxido de chumbo.
Os equipamentos eletrônicos possuíam grandes quantidades de chumbo e
iniciativas permitem que estes sejam reciclados ou descartados adequadamente. O
refugo desta indústria é de elevado volume e é importante o descarte utilizando a
logística reversa. Encontrar alternativas de materiais que possam ser reciclados
totalmente e a substituição da liga de estanho/chumbo pela liga sem chumbo amenizou a
poluição ambiental que antes era causada pelo uso apenas de chumbo.
Metais pesados em geral são altamente tóxicos. No caso do chumbo, cabe
salientar que por substituir o cálcio dentro do organismo animal, as consequências de
um envenenamento são graves. A intoxicação grave, causada por pequeno tempo de
exposição raramente ocorre, se concentrando em crianças que manipulam materiais e
produtos domésticos à base de chumbo. A intoxicação grave, causada por um longo
tempo de exposição a pequenas quantidades do metal, ocorre com mais frequência e
está restrita atividades industriais que manipulam chumbo. Exatamente por ocorrer no
ambiente de trabalho o controle deste poluente para preservar os trabalhadores é de
grande importância

3. Empreendedores, aspecto social e preservação ambiental

A manutenção do ambiente natural que o planeta oferece à humanidade tem sido


um desafio, e para isto o homem necessita melhorar as condições de sua existência e a
qualidade de vida da população que o habita (DIAS, 2006).
A conscientização dos pequenos e grandes empreendedores e dos trabalhadores
que desempenham tarefas no setor produtivo, bem como de todos que habitam o espaço
globalizado quanto ao uso dos recursos com parcimônia, certamente deverá ajudar a
minimizar a intervenção atrópica na natureza e os impactos ambientais.
Os aspectos sociais e políticos têm influenciado significantemente o ambiente
dos negócios e a tomada de decisão dos administradores e melhorias vem sendo feitas
para considerar o que é bom para a sociedade de forma geral criando uma reformulação
das ideias antes conservadoras.
A empresa nos moldes antigos levava em consideração os aspectos econômicos
como os insumos: capital, matéria-prima e recursos humanos, e como o final de
produção eram apenas os bens e serviços, os salários e renda, os juros e dividendos. A
alteração nas atividades das organizações atuais incluiu além dos fatos descritos, os
aspectos sociais, como o uso dos recursos naturais como ar e água, composição da mão-
de-obra e qualidade da mão-de-obra e como aspecto que interessa à sociedade, a
avaliação da poluição produzida que pode prejudicar o meio ambiente (TRIGUEIRO,
2003).
A grande demanda e a rápida obsolescência dos produtos eletroeletrônicos são
considerados os principais fatores que contribuem para o aumento da poluição. Em
adição aos avanços tecnológicos e à competitividade das indústrias, estas tem se
dedicado a produzir equipamentos utilizando elementos químicos que não agridem o
meio ambiente e diminuem o impacto na saúde do ser humano.
A logística reversa utiliza fundamentalmente o conceito de ciclo de vida do
produto, que significa gerenciar materiais usados para o seu desenvolvimento até seu
destino final, por descarte, reparo ou reaproveitamento (DONAIRE, 2010).

4. Logística reversa

A logística reversa concentra-se no fluxo que flui no sentido inverso da cadeia


produtiva direta, e atua a partir de produtos descartados como pós-consumo ou
equipamentos que necessitam conserto quando danificados ou ainda, equipamentos que
precisam ser descartados após o final de sua vida útil.

Conforme Leite (2003) “A logística reversa é a área da logística empresarial que


planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno
dos bens de pós-venda e de pós-consumo ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo,
por meios de canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas
naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros”.
A figura 1 ilustra de forma esquemática o fluxo logístico reverso.

Figura 1 – Esquema do fluxo logístico reverso

Fonte: Pereira (2013)

Para Trigueiro (2003) a logística reversa considera o ciclo de vida do produto


desde sua formação até seu destino final, seja por descarte, reparo ou aproveitamento.

A logística reversa (LR) impõe-se pela complexidade sistêmica, pois envolve


operações, procedimentos e meios para viabilizar todo o ciclo de descarte, coleta,
desconstrução ou desmontagem (no caso de aparelhos e equipamentos),
reaproveitamento e reciclagem de componentes. Entende-se por reciclagem o processo
em que peças e componentes de produtos já usados sofrem transformação de maneira
que a matéria prima neles contida possa ser reincorporada à fabricação de novos
produtos.

Observa-se no mercado de eletroeletrônicos que a dificuldade na destinação do


produto pós-consumo está relacionada à falta de instalações para trabalhar com este
resíduo. A logística então está se tornando um dos maiores entraves para as empresas do
setor, porque as unidades de processamento de resíduos estão concentradas nas regiões
metropolitanas e a matéria-prima advinda de resíduos e de equipamentos de descarte
encontra-se espalhada por todo o país.

5. Legislação aplicada aos resíduos sólidos e suas implicações para as


empresas produtoras de eletroeletrônicos
Dentre as diversas normas referentes ao tratamento de resíduos sólidos, ganham
relevância internacional aquelas voltadas ao descarte ambientalmente correto dos
REEEs (Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos). Esse destaque se dá em função
da intensificação de sua produção e consumo, além do alto nível de periculosidade
desses resíduos se não destinados e tratados corretamente.

A disseminação e urgência dessas discussões levaram a Comunidade Europeia, no


ano de 2006, a implementar regulações específicas, a mencionada diretiva WEEE e a
diretiva RoHS (Restriction of the use of certain Hazardous Substances in electrical and
electronic equipment) .

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), promulgada em 2010, é


regida pelo princípio da responsabilidade compartilhada, diferente daquele pelo qual a
diretiva Européia WEEE (Waste of Electro-Eletronic Equipaments) que é regida, pela
responsabilidade do produtor, sendo que ambas atribuem responsabilidades aos
fabricantes de produtos eletroeletrônicos pelo descarte correto de seus produtos (Mazon
et al., 2011).

As principais exigências da PNRS são:

a) informar à sociedade a respeito dos componentes e materiais usados nos produtos;

b) assegurar que os REEE sejam entregues sem encargos pelo consumidor, instalando
sistemas de coleta individuais ou coletivos;
c) criar sistemas para tratar os REEEs utilizando as melhores técnicas de tratamento,
valorização e reciclagem;

d) identificar soluções compartilhadas com outros geradores de resíduos;

e) fabricar embalagens com materiais que propiciem a reutilização ou a reciclagem.

Processos de inovação nas indústrias são benéficos e podem ser enumeradas as


compensações econômicas a exemplo da maior eficiência produtiva, a economia de
materiais e de energia, a diminuição no número de paralisações devido ao aumento de
atividades de monitoramento e manutenção, o aproveitamento de subprodutos e
resíduos, a redução do desperdício e de custos de manuseio e armazenamento, o
aumento na segurança, melhorias no produto com possibilidade de sobrepreço e atuação
em novos mercados (ANSANELLI, 2008).

6. Conclusão

Foram apresentados fatores que contribuem para o aumento da poluição


ambiental pela elevada produção e pelo pequeno ciclo de vida de produtos
eletroeletrônicos, incluindo as iniciativas da indústria deste setor para a diminuição dos
impactos ambientais causados pelo uso de produtos químicos perigosos usados na
fabricação destes e que podem causar problemas à saúde dos trabalhadores e da
população.
A obtenção de soluções encontradas pela indústria, as melhorias realizadas na
indústria produtora de eletroeletrônicos, considerando avanços em materiais e
processos, como a substituição das ligas de estanho-chumbo pelo uso das ligas sem
chumbo são mudanças positivas que podem minimizar o impacto ambiental.
Os conceitos da engenharia reversa e os exemplos de sua aplicação evidencia ser
esta uma boa prática para a diminuição dos resíduos da produção e para o descarte de
lixo eletrônico no Brasil.
Referências

ANSANELLI, S. Os impactos das exigências ambientais européias para equipamentos


eletroeletrônicos sobre o Brasil (Tese de doutorado). Universidade de Campinas,
Campinas, SP., 2008.

DIAS, R., Gestão Ambiental – Responsabilidade Social e Sustentabilidade. São Paulo,


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Cobre com as Ligas Sn63-Pb37, Sn62-Pb36-Ag2 e Sn42-Bi58. Tese de doutorado,
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cap 14.1, 14.19, 25.39

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regulações ambientais de resíduos eletroeletrônicos: da cadeia produtiva ao
consumidor final no setor de equipamentos eletromédicos. III Congreso Internacional
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Medellín, 11 y 12 Oct/2012, Anais do Congreso - p.400-412.

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Soldagem em Superfície na Indústria Eletrônica. Proceedings of XXX CONSOLDA,
RJ, setembro, 2004, CD ROM.

TRIGUEIRO,F.G.R. Logística reversa – a gestão do ciclo de vida do produto. 2003


Disponível em http://www.guialog.com.br/artigos-log.htm: Acesso em 21/09/2012.
Inovação, Tecnologia E Sustentabilidade
Rachel Machado de Sousa1

A competitividade e os avanços tecnológicos fazem parte do cotidiano das


pessoas.
O grande desafio da sociedade é conviver nesse ambiente no qual a inovação se
faz necessária já que, através dela, torna-se possível rever pontos e valores, positivos ou
negativos, para se atingir um mundo ambientalmente sustentável e melhor.
Afinal, o que vem a ser inovação? Define-se inovação de várias formas: elemento gerador
de mudanças, como fazer coisas novas, pensar em algo novo, deixar o pensamento
flutuar na fantástica intersecção entre a imaginação de algo e a realidade e efetividade
do pensamento, ou seja, na ideia de transformação de um produto ou serviço
sustentável de forma que gere e agregue valor ao cliente e seja sustentável.
Entende-se que qualidade sustentável é a interação entre desenvolvimento econômico,
responsabilidade social e preservação ambiental.
A política da sustentabilidade, provida através da implantação de metodologias eco-
inteligentes, da educação ecológica, de incentivos fiscais para produção “verde” e de
legislação ambiental rigorosa, incentiva a inovação tecnológica e abre novos mercados.
Desta forma a qualidade sustentável, agregada à geração de valor socioeconômica
ambiental resulta no comprometimento consciente
A beleza, o útil, o bom e o justo e a criação de novas fontes de provisão de matérias-
primas renováveis são fatores apreciados pelos consumidores.
Há empresas que têm o comprometimento de inovar sem impactar o meio ambiente,
pode-se afirmar que são poucas as que se preocupam com as questões socioambientais.
No Sul de Minas Gerais, umas melhores regiões produtoras de café de qualidade do
Brasil , devido às condições climáticas e à sua altitude, existe uma empresa que desde
1895 produz, sustentavelmente, cafés de qualidade: a CAFÉ BOM DIA LTDA.
A Café Bom Dia Ltda é conhecida mundialmente pela qualidade de seus produtos e a
constante preocupação com os aspectos socioambientais do nosso planeta. Como prova
desse comprometimento, desenvolveu uma tecnologia que substituiu o óleo diesel nas
fornalhas pela biomassa. Cujas emissões atmosféricas atingem no máximo 1/3 do limite
máximo estabelecido pela legislação (DELIBERAÇÃO....., 011/86) Copam.

1
Autor do projeto de inovação e Tecnologia dos maquinários: Luiz Alberto Motta Osório – Diretor Industrial Café
Bom Dia Ltda
Autora do artigo: Rachel Machado de Sousa – Engenheira Química, Pós Graduada em Gerenciamento de Micro e
Pequenas Empresas, MBA em Gestão Executivo Empresarial e Pós Graduanda em Gestão Ambiental. Cursando
Direito
Rachel Machado de Sousa Trabalha na Empresa Café Bom Dia Ltda
Revisores: Alex D. Rosário e Sarah Aparecida da Silva
A empresa utiliza 100% de energia renovável e opera de acordo com a norma da
ABNT ISO14001: 2004. Durante seu processo de torração, utiliza eucalipto proveniente
de florestas cultivadas especialmente para esta finalidade e credenciadas pelo Instituto
Estadual de Floresta (IEF). As cinzas, cascas e outros subprodutos obtidos desse
processo são destinados para compostagem de adubo orgânico e revertidos para a
lavoura cafeeira.
Em relação ao Custo-Benefício (RCB) da implantação desse projeto, a Café Bom Dia
passou a ter uma economia de R$ 71,02 (setenta e um reais e dois centavos) por
tonelada de café torrado. Nesse ritmo a empresa obteve o retorno do capital investido
em dois anos e meio conforme fig1.

Fonte: Fig1 – AÇÕES IMPLEMENTADAS

MEDIDA
IMPLEMENTADA

Troca dos torradores


permitindo a
substituição do óleo Com a utilização
diesel por biomassa da biomassa –
REDUÇÃO
(madeira de eucalipto madeira, o OBTIDA DE
oriunda de Consumo é de 74% DE
reflorestamento. 0,63m3 de ECONOMIA
madeira de
( O Consumo era eucalipto por
de 64 litros de óleo tonelada de café
diesel por tonelada de torrado
café torrado )

Esta inovação trouxe consigo vários benefícios ambientais tais como: Suspensão da
utilização de recursos não-renováveis (petróleo), redução do volume de emissão de
material particulado (MP) e de dióxido de enxofre (SO2), eliminação do risco de
contaminação do solo.
Um dos grandes objetivos foi inovar de modo sustentável, e como toda inovação
requer investimento, este projeto de melhoria continua do processo foi de R$,
2.021.600,00. Um pequeno valor perto da manutenção e da preservação da qualidade
de vida das gerações presentes e futuras.
Desta forma, a empresa em seu processo, conclui-se uma parte do ciclo da
sustentabilidade.
Fonte: Teconologia da Informação Verde. DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

O conceito da empresa é trabalhar o ciclo completo, por isso, buscou parceiros


para destinação dos resíduos gerados nos processos.
Pensando assim, formou-se parceiras que reaproveitam os resíduos de
embalagem e os utilizam para outros fins, tais como: casinhas de cachorro,
divisórias, quadro de avisos e outros bens a sociedade.
Em toda parceria há desafios de inovação e de tecnologia que aliados à
sustentabilidade à complexidade, às incertezas e às contradições fazem com que a idéia
saia do papel e se torne realidade.
Percebe-se que simples ações, mas grandiosas na sua essência são capazes de
transformar realidades.
Uma vez que ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade,
com as pessoas deste tempo-espaço e com aquelas que ainda estão por vir.

REFERÊNCIAS
TECNOLOGIA da Informação verde. Sustentabilidade.2010. Disponível em
http://greentechbr.blogspot.com.br/2010/03/sustentabilidade.html, acesso em
11/03/2013.

DELIBERAÇÃO Normativa Copam 011/1986. Disponível em


http://www.siam.mg.gov.br/sla/download.pdf?idNorma=92, acesso em 08/03/2013.

Disponível em http://www.abnt.org.br/, acesso em 08/03/2013.


O uso do fosfogesso como material alternativo de construção: uma solução
sustentável.

João Ailton Brondino, Almir Sales1

RESUMO

O fosfogesso é um sulfato de cálcio (gesso químico), gerado como resíduo na produção


industrial do ácido fosfórico, principal matéria-prima para a produção de fertilizantes
fosfatados. É gerado em grande escala, sendo que para produzir uma tonelada de ácido fosfórico
são gerados de 4 a 6 toneladas de fosfogesso. No Brasil são geradas anualmente quase 12
milhões de toneladas e estima-se que já exista mais de 150 milhões de toneladas dispostas em
aterros, sem destino adequado para o volume gerado, o que representa um grande passivo
ambiental. O objetivo dessa pesquisa foi desenvolver procedimentos para a produção de
elementos construtivos utilizando como matéria-prima o fosfogesso. Para tanto, foram adotadas
as recomendações normativas brasileiras para blocos de concreto e blocos cerâmicos. Os
resultados obtidos permitem afirmar que é possível utilizar o fosfogesso na produção de
elementos construtivos, alcançando altas resistências mecânicas e baixa absorção de água. A
contribuição científica deste trabalho é importante, não só para a construção civil, mas também
para a sustentabilidade do planeta, pois um resíduo industrial que é gerado em grande
quantidade, poderá se tornar matéria-prima para a construção de edificações, além de evitar a
necessidade de novos aterros controlados para a disposição.

Palavras-chave: fosfogesso, ácido fosfórico, material alternativo de construção, alvenaria de


vedação, alvenaria estrutural.

ABSTRACT

The phosphogypsum is a calcium sulfate (chemical gypsum ), generated as waste in industrial


production of phosphoric acid, the main raw material for the production of phosphate fertilizers.
Is generated on a large scale, and to produce one ton of phosphoric acid are generated from 4 to
6 tons of phosphogypsum. In Brazil are generated annually nearly 12 million tons and it is
estimated that there is already more than 150 million tons disposed of in landfills without proper
destination for the generated volume, which represents a major environmental liability. The
objective of this research was to develop procedures for the production of building elements
using phosphogypsum as raw material. Thus, we adopted the standard recommendations for
Brazilian concrete blocks and ceramic blocks. The results allow us to affirm that it is possible to
use phosphogypsum in production of construction elements, achieving high mechanical strength
and low water absorption. The scientific contribution of this work is important, not only for
construction but also for the sustainability of the planet, because a industrial waste generated in
large quantities, will can become raw material for the construction of buildings, and avoid need
for new landfills for disposal.

1 João Ailton Brondino -Programa de Pós-Graduação em Eng. Civil – Universidade Federal de São

Carlos –jabrondino@hotmail.com; Almir Sales - Departamento de Engenharia Civil –


Universidade Federal de São Carlos – almir@ufscar.br
Keywords: phosphogypsum, phosphoric acid, alternative material of construction, closing
masonry, structural masonry.

1. INTRODUÇÃO
O Fósforo (P), um dos principais macronutrientes utilizados na agricultura, é
encontrado nos fertilizantes fosfatados, onde o ácido fosfórico é a principal matéria-
prima para a composição destes fertilizantes. Entretanto, para cada tonelada de ácido
fosfórico produzido são gerados de 4 a 6 toneladas de fosfogesso, dependendo da
composição da rocha fosfática (BECKER, 1983) e (BARTL e ALBUQUERQUE,1992),
hoje um grande passivo ambiental.
Anualmente são geradas mais de 150 milhões de toneladas de fosfogesso no
Planeta, sendo aproximadamente 12 milhões de toneladas geradas no Brasil
(MAZZILLI et al, 2000). Estima-se que no Brasil haja mais de 160 milhões de
toneladas de fosfogesso dispostas em aterros a céu aberto, não possuindo uma
destinação adequada e compatível ao volume gerado.
Os procedimentos utilizados para o descarte do fosfogesso têm sido a disposição
em pilhas, em áreas próximas às empresas geradoras (Figura 1), ou através do
bombeamento para lagos, rios e oceanos (FREITAS, 1992).
As rochas fosfáticas predominantes no Brasil são de origens magmáticas
(ígneas), e o fosfogesso gerado não apresenta riscos de contaminação por radioatividade
para os construtores e seus usuários (CANUT, 2006 e COSTA, 2011).
O fosfogesso quando gerado é composto basicamente por sulfato de cálcio di-
hidratado (CaSO₄.2H₂O), contendo também outros componentes tais como: fluoretos,
fosfatos, matéria orgânica e minerais como Alumínio e Ferro, que o diferencia do gesso
mineral (RABELO et al, 2001).
O objetivo dessa pesquisa foi desenvolver procedimentos para a produção de
elementos construtivos utilizando como matéria-prima o fosfogesso, e para isso foi
necessário desidratá-lo, convertendo sua forma original di-hidrato (CaSO₄.2H₂O), com
duas moléculas de água, para a forma hemidrato (CaSO₄.½H₂O), para depois, através
da estequiometria, utilizar a quantidade de água necessária para reidratá-lo na produção
de componentes construtivos com alta resistência mecânica, tanto à compressão quanto
à flexão.
Encontrar uma aplicação para o fosfogesso é de extrema importância,
principalmente porque a produção de ácido fosfórico é proporcional ao aumento da
população mundial, e, segundo o Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA), a
população do Planeta em 2050 será de aproximadamente 9,3 bilhões e ultrapassará 15
bilhões em 2100, sendo necessário um aumento significativo na produção de alimentos
e também de fertilizantes fosfatados, e, consequentemente, numa geração progressiva de
fosfogesso, portanto é fundamental buscarmos aplicações para esse grande passivo
ambiental.

Figura 1: Montanha de fosfogesso em Uberaba, MG.

(c)
(a)
(b)

2. MATERIAIS E MÉTODOS
As amostras analisadas nessa pesquisa foram fornecidas pela empresa Vale
Fertilizantes S.A. de Uberaba, MG, e coletadas em aterro próximo à empresa (Figura 1).
2.1. Análises Químicas da composição do fosfogesso
2.1.1. Composição química do fosfogesso
Nesta pesquisa foi adotada como referência a composição química do fosfogesso
determinada por (CANUT, 2006), descrita na Tabela 1.

2.1.2. Determinação do pH das amostras de fosfogesso


Foram analisadas as amostras do fosfogesso “in natura”, do fosfogesso
hemidratado e do gesso mineral para servir de referência.
Para cada amostra foi pesado 1g de material e adicionado 8 ml de água
deionizada, em seguida as amostras foram homogeneizadas, centrifugadas e aferidas
(Figura 2).
Foi analisado também o pH da água deionizada, usada na pesquisa, para garantir
a exatidão das análises, uma vez que a água deionizada em contato com o CO₂
atmosférico equilibra-se formando ácido carbônico (H₂CO₃), deixando o pH da água
deionizada entre 5,5 e 6,5.
Os resultados da análise de pH estão apresentados na Tabela 2.

Figura 2: (a) amostras preparadas para análise; (b) análise das amostras.
(a)
(b)

2.2. Análises de Temperatura e Tempo de Calcinação


A Equação (1) foi o ponto de partida para se determinar a massa de água
necessária, a ser reduzida, para a conversão do di-hidrato de cálcio (CaSO₄ . 2H₂O) em
hemidrato de cálcio (CaSO₄ . ⅟₂H₂O), bem como para determinar a temperatura e o
tempo ideais para o processo de calcinação.

CaSO₄ . 2H₂O + Calor → CaSO₄ . ⅟₂H₂O + 3⅟₂H₂O (1)

A Figura 3 ilustra o processo de conversão, do fosfogesso “in natura”, di-


hidratado, para o pó de fosfogesso hemidratado.

Figura 3: (a) di-hidratado; (b) fosfogesso após calcinação; (c) hemidratado.


(a)
(b)
(c)

2.3. Preparação dos Corpos de Prova


Para a moldagem dos corpos de prova, na prensa hidráulica, foi fixada a pressão
de 40 kgf/cm², conforme demonstrada na Figura 4 (a), para garantir que todos os corpos
de prova fossem submetidos à mesma pressão. As massas de fosfogesso hemidratado e
de água para reidratação também foram iguais, cada corpo de prova foi preparado com
40g de fosfogesso e 18,6% em peso de água, 7,44g, que corresponde,
estequiometricamente, a quantidade de água necessária para a reidratação do fosfogesso.
Apenas a temperatura e o tempo de calcinação foram diferentes, pois um dos objetivos
foi analisar a interferência dessas variáveis na resistência mecânica do fosfogesso.

Figura 4: (a) Pressão fixada em 40 kgf/cm²; (b) Corpos de Prova preparados.


(a)
(b)

2.4. Análise de Resistência Mecânica (Flexão e Compressão)


Os corpos de prova foram submetidos aos ensaios de resistência mecânica à
flexão e à compressão, como mostrado na Figura 5.

Figura 5: (a) Equipamento utilizado; (b) Ensaio de Flexão; (c) Ensaio de Compressão.
(c)
(a)
(b)

2.5. Análise de Absorção de Água


Para a análise de absorção de água foram adotadas as recomendações normativas
brasileiras para blocos de concreto e blocos cerâmicos.
A absorção de água foi determinada seguindo os procedimentos da norma NBR
12118/08 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Métodos
de ensaio. Optou-se por saturar os corpos de prova ao invés do procedimento de fervura.
Os valores obtidos foram comparados com os limites estabelecidos na norma
NBR 6136/08 – Blocos vazados de concreto simples para alvenaria – Requisitos, e na
norma NBR 15270-2/05 – Componentes cerâmicos Parte 2: Blocos cerâmicos para
alvenaria estrutural – Terminologia e Requisitos.
A Figura 6 mostra a sequência do procedimento adotado para obter os índices de
absorção de água, e na Tabela 4 estão os resultados obtidos.

Figura 6: (a) inicio do teste; (b) após 24 horas submersos; (c) prontos para análise.

(c)
(a)
(b)

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

3.1. Análises Químicas da composição do fosfogesso

3.1.1. Composição do fosfogesso


Conforme se observa na Tabela 1, o fosfogesso hemidratado e o gesso mineral
são quase idênticos, e com níveis de sulfato de cálcio bem próximos, exceto pelo fato do
fosfogesso possuir outros componentes em baixa quantidade que, conforme relatado por
RABELO et al (2001), dependendo da rocha fosfática, o fosfogesso pode conter
fluoretos, fosfatos, matéria orgânica e minerais como Alumínio e Ferro.

Tabela 1: Análise da composição química do fosfogesso (CANUT, 2006).


Fosfogesso Gesso
Elemento hemidratado Mineral
s (%) (%)
O 31,50 32,64
Si 0,78 -
P 1,33 -
S 29,11 29,21
Ca 37,48 38,16
Total 100% 100%

3.1.2. Determinação do pH das amostras de fosfogesso


O resultados da análise do pH podem ser visualizados na Tabela 2.
Pode-se observar que o pH médio do gesso mineral é praticamente 7, neutro,
enquanto que nas amostras do fosfogesso “in natura” ou do hemidratado, já beneficiado,
o pH é bem ácido, resultado do contato com o ácido fosfórico (H₃PO₄) e com o ácido
fluorídrico (HF), no processo definido através da Equação (2).

Ca₁₀(PO₄)₆F₂ + 10H₂SO₄ + 20H₂O → 6H₃PO₄ +10CaSO₄.2(H₂O) + 2HF (2)


O pH médio da água deionizada usada na pesquisa foi 6,04 e, como era previsto,
ficou entre 5,5 e 6,5, garantindo assim a qualidade dos resultados da análise de pH.
Um dos problemas com a acidez do fosfogesso é que, em meio ácido, existe uma
maior facilidade para a proliferação de fungos e, segundo ÂNGULO et al (2001), no
passado foi testado o uso do fosfogesso, no entanto, os produtos apresentaram enorme
tendência ao desenvolvimento de fungos na fase de uso e a tecnologia da época foi
abandonada.
Os corpos de prova, mesmo depois das analises de absorção de água, não houve
proliferação de fungos.

Tabela 2: pH das amostras analisadas.


pH
Medida Medida
Amostra 1 2 Média
Gesso mineral 7,03 6,86 6,95
Fosfogesso "in
natura" 2,52 2,68 2,60
Fosfogesso
hemidratado 2,69 2,86 2,78
Água deionizada 6,35 5,73 6,04

3.2. Análise de Resistência Mecânica (Flexão e Compressão)


Em CANUT (2006), a maior resistência mecânica alcançada para corpos de
prova com 100% fosfogesso foi de 1,01 MPa, após 28 dias, enquanto que nessa
pesquisa a menor resistência à compressão foi 11,76 MPa e a maior foi 17,46 MPa, após
24 horas, como pode ser observado na Tabela 3.
A resistência mecânica à flexão alcançada neste trabalho foi superior ao dos
concretos convencionais..
Habitualmente um concreto convencional é dosado para uma resistência à flexão
entre 4 e 5 MPa, e um concreto de alto desempenho apresenta resistências à flexão
superiores a 5,5 MPa ( CERVO, 2004). O resultado do CP 11 obteve 14,56 MPa de
resistência mecânica à flexão, também após 24 horas, resistência superior a 3 vezes ao
dos concretos convencionais, como pode ser observado na Tabela 3.
Na Tabela 3, o CP 1 corresponde ao corpo de prova em gesso mineral, que foi
utilizado como parâmetro, e que também foi produzido nas mesmas condições que os
demais corpos de prova com fosfogesso, respeitando as massas de pó e de água.
Observando a Figura 7, nota-se que as resistências à flexão e compressão estão
bem próximas, em torno de 13 MPa, enquanto que para o fosfogesso, observa-se que o
aumento da temperatura e do tempo de calcinação interferiu apenas na resistência à
flexão. Vale ressaltar que o gesso mineral é calcinado a temperaturas próximas a 180 °C,
razão pela qual o sua resistência à flexão também ficou acima de 8 MPa.

Tabela 3: Análise da resistência mecânica à flexão e compressão.


Resist. à Resist. à
t Flexão Compressã
CP T (°C) (min) (MPa) o (MPa)
1 0 0 12,71 13,10
2 37 0 3,61 12,95
3 120 60 3,82 16,91
4 130 60 4,50 12,89
5 135 60 4,27 13,53
6 140 60 4,37 11,76
7 145 60 5,57 13,11
8 150 60 5,64 14,46
9 170 60 5,70 12,57
10 180 60 7,25 17,46
11 160 120 14,56 14,31
12 150 150 13,44 14,07

Figura 7: Resistência mecânica à flexão e compressão.

3.3. Análise de Absorção de Água


Segundo a NBR 6136/08, que se refere ao material concreto, o corpo de prova
deve apresentar uma absorção de água menor ou igual a 13%, para valor médio, e
menor ou igual a 16% para valores individuais.
A NBR 15270-2/05, que se refere ao material cerâmico, preconiza que esse
índice não deve ser inferior a 8% nem superior a 22%.
Observando a Tabela 4, onde estão apresentados os índices de absorção de água,
pode-se verificar que todos os índices atenderiam a NBR 6136/08, para o material
concreto, e apenas os CP 1, produzido com gesso mineral, e o CP 2, que é basicamente
o fosfogesso di-hidratado, não atendem a NBR 15270-2/05, para o material cerâmico,
enquanto que todos os outros corpos de prova também atenderiam tal norma.

Tabela 4: Análise da absorção de água.

t ABSORÇ
CP T (°C) (min) ÃO (%)
1 0 0 5,93
2 37 0 13,91
3 120 60 12,24
4 130 60 11,25
5 135 60 11,49
6 140 60 11,35
7 145 60 10,87
8 150 60 11,85
9 170 60 12,42
10 180 60 12,99
11 160 120 9,47
12 150 150 12,17

Figura 8: Absorção de água pelos corpos de prova.

3.4. Fosfogesso e Radioatividade


Segundo CANUT (2006), a radioatividade medida no fosfogesso possui a
mesma magnitude das observadas nos fertilizantes fosfatados, tornando viável o seu
reaproveitamento como matéria-prima para a construção de edificações.
O fosfogesso foi classificado como Classe IIA - Não Perigoso, Não Inerte, Não
Corrosivo e Não Reativo (JACOMINO et al, 2009).
Quanto à exalação de radônio, ²²²Rn, para o fosfogesso de todas as procedências
analisadas, as doses efetivas anuais para um individuo ficaram abaixo de 1 mSv∙a-1,
limite estabelecido pela Comissão Internacional de Proteção Radiológica, (COSTA,
2011).
Foi publicada a resolução da CNEN Nº 113 (2011) que dispõe sobre o nível de
isenção para o uso do fosfogesso na agricultura ou na indústria cimenteira,
estabelecendo que o nível de isenção de controle regulatório para tais usos é de 1000 Bq
kg-1 para os radionuclídeos ²²⁶Ra ou ²²⁸Ra.

4. CONCLUSÕES
A temperatura e o tempo de calcinação interferiram apenas na resistência
mecânica à flexão, enquanto que o processo de adicionar ao fosfogesso hemidratado a
quantidade de água, determinada estequiometricamente, para a reidratação do
fosfogesso, e em seguida submeter à pressão de 40 Kgf/cm², impactou na elevada
resistência mecânica à compressão, além de ser ecologicamente correto por utilizar a
água de forma racional, sem desperdício.
Quanto à absorção de água, o processo para beneficiar o fosfogesso e preparar os
corpos de prova atenderam as normas brasileiras para os materiais cerâmicos e de
concreto.
A contribuição científica deste trabalho é importante, não só para a construção civil,
mas também para a sustentabilidade do planeta, pois um resíduo industrial que é gerado
em grande quantidade, poderá se tornar matéria-prima para a construção de edificações,
além de evitar a necessidade de novos aterros controlados para a sua disposição.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Processo Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região: Inovação Tecnológica,
Eficiência e Sustentabilidade

Daniela Garcia Giacobbo

Resumo: A partir das reformas processuais introduzidas no ordenamento jurídico


brasileiro, foi concebido o Processo Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região,
denominado de e-Proc, objetivando dar maior celeridade ao processamento das
demandas judiciais, a fim de imprimir maior eficiência na prestação jurisdicional, o
que será analisado nos Capítulos 2 e 3. Será demonstrado que a inovação
tecnológica trouxe em seu bojo outras transformações, como os novos modelos de
administração da Justiça frente à atual realidade, além de mudanças nas relações
com os agentes que operam e utilizam o sistema, relativamente à acessibilidade e,
principalmente, uma grande economia de insumos, o que inaugurou uma nova era
de uma prática jurisdicional sustentável, econômica e comprometida com o meio
ambiente, tema de análise dos Capítulos 4, 5 e 6.
Palavras-chave: processo eletrônico, Justiça Federal da 4ª Região, prestação
jurisdicional, inovação tecnológica, celeridade, eficiência, meio ambiente.

Abstract: From the procedural reforms introduced in the Brazilian legal system, it
was created the Electronic Process of the Federal Court of the 4th Region, called e-
Proc, aiming to give more rapid processing of litigation, in order to give greater
efficiency in lawsuits, that will be discussed in Chapters 2 and 3. It will be
demonstrated that technological innovation has brought in its wake other changes,
such as new models of administration of justice in consequence of the current
reality, and changes in relationships with agents who operate and use the system in
relation to accessibility, and especially a great economy of inputs, which ushered in
a new era of sustainable practice court, and committed to the economic
environment, theme analysis of Chapters 4, 5 and 6.
Key words: electronic process, the Federal Court of the 4th Region, lawsuits,
technological innovation, celerity, efficiency, environment.

1 Introdução

O presente trabalho tem por objetivo fazer uma breve incursão sobre a
criação do Processo Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região, o e-Proc, que
implantou uma nova forma de realização dos atos processuais judiciais, uma
reforma que se estendeu para todo o Poder Judiciário Brasileiro.
Serão examinados alguns dispositivos da Lei do Processo Judicial
Eletrônico (Lei n.º 11.419/06), bem como da Resolução n.º 17/10, que regulamenta
o processo judicial eletrônico – e-ProcV2 (nova versão) no âmbito da Justiça
Federal da 4ª Região, abordando-se o alcance da inovação tecnológica
relativamente à racionalidade e à celeridade dos atos processuais, eliminando as
chamadas “etapas mortas do processo”. Igualmente será abordada a questão da
maior eficiência e efetividade na prestação jurisdicional, advinda da facilidade de
acesso, como também as consequências geradas no meio ambiente de trabalho e
nas relações com os usuários do sistema.
Por fim, será analisada a questão dos benefícios trazidos ao meio ambiente
natural, com a eliminação dos autos de papel, inaugurando uma nova era de uma
prática jurisdicional sustentável, econômica e comprometida com o meio ambiente.

2 Histórico: Das reformas processuais promovidas no Direito Brasileiro à


implantação do Processo Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região

O advento da Constituição Federal de 1988, que ampliou os direitos sociais,


retratou a crescente preocupação da sociedade, por meio dos seus constituintes,
com o acesso à Justiça, razão pela qual foi incluído na Carta Magna o princípio do
livre acesso ao Poder Judiciário (art. 5º, XXXV, CF/1988). Tal preocupação resultou
no debate sobre os meios de possibilitar uma resposta mais rápida ao
jurisdicionado, surgindo, assim, o princípio constitucional da razoável duração do
processo, insculpido no art. 5º, inc. LXXVIII, da CF/1988.
No mesmo período, houve transformações na vida em sociedade, com o
crescimento da informática, que modificou padrões de vida e relações de trabalho,
facilitando o acesso de muitas camadas da população à tecnologia da informação
e a todo tipo de informação por ela veiculada. Esse novo “instrumento” ou meio de
comunicação, que agrega escrita, imagem, som e rapidez na comunicação, em
poucos anos se transformou em uma ferramenta dominante da organização do
trabalho.
Com o acesso às novas ferramentas e inovações tecnológicas, era
previsível que a informática fosse ser utilizada como principal instrumento de
trabalho no Poder Judiciário Brasileiro, para, então, facilitar e propiciar uma melhor
prestação jurisdicional.
A busca pela redução do tempo de tramitação de um processo somente com
a Emenda Constitucional n.º 45, de 8 de dezembro de 2004, elevou-se à categoria
de direito fundamental - o direito à razoável duração do processo e aos meios que
garantam a celeridade de sua tramitação, nos termos do art. 5º, LXXVIII, da
Constituição Federal de 1988.
Ao analisar a EC n.º 45/2004 e o direito processado pelo meio eletrônico,
José Carlos de Almeida Filho, assim referiu:

A informatização do processo faz parte do denominado Pacote


Republicano, de reformas infraconstitucionais do processo, com o fim de
garantir celeridade no conflito de interesses entre as partes. Com a
Emenda Constitucional n.º 45, o inciso LXXVIII passou a vigorar com a
seguinte redação: “a todos no âmbito judicial e administrativo são
assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam
a celeridade de sua tramitação”.

No plano infraconstitucional, no que se refere à adoção de meios


alternativos no âmbito do direito processual, foi editada, em 1999, a Lei do Fax (Lei
n.º 9.800), a qual não contribuiu efetivamente para a celeridade do processo, uma
vez que adicionou mais cinco dias de prazo, em razão da necessidade de
protocolo original dos documentos. Além disso, em muito concorreu para o
aumento de volume dos autos físicos, tendo em vista a duplicidade de protocolo
das petições, inicialmente como cópia fac-símile e, após, com a juntada dos
documentos originais.
Quanto ao e-mail, já não houve a mesma receptividade que o “fax” teve para
a prática dos atos processuais, sofrendo restrições por parte da jurisprudência, não
obstante ambos sejam meios de transmissão eletrônica de dados.
Nesse contexto, advieram muitas das reformas processuais no ordenamento
jurídico brasileiro, principalmente no Direito Processual Civil, e todas objetivando
dar maior celeridade à tramitação dos feitos, em especial, a admissão da prática de
atos processuais pela via eletrônica, prevista na Lei n.º 10.259/2001, a qual
instituiu os Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal.
A Lei n.º 10.259, de 12 de julho de 2001, dispôs sobre a instituição dos
Juizados Especiais Cíveis e Criminais no âmbito da Justiça Federal, admitindo a
prática de atos processuais pela via eletrônica, em seu artigo 8º, parágrafo 2º, in
verbis:
Art. 8º (omissis)
§ 2º. Os tribunais poderão organizar serviço de intimação das partes e
recepção de petições por meio eletrônico.

Ao seu turno, a Lei n.º 11.419, de 19 de dezembro de 2006, que dispõe


sobre a informatização do processo judicial, completou o ciclo de reformas
jurídicas voltadas para a institucionalização do processo judicial virtual, ou
eletrônico, no Brasil. Na visão dos processualistas Teresa Arruda Alvim Wambier,
Luiz Rodrigues Wambier e José Miguel Garcia Medina

[...] durante a tramitação do projeto de lei do ano de 2001, que resultou


no diploma legal em questão, foi expressamente consignado que o
objetivo primordial dessa lei seria o de “permitir o uso do meio eletrônico
na comunicação de atos e na transmissão de peças processuais, tais
como petições, recursos, cartas precatórias, etc”, sendo que o projeto
seria importante para a “informatização do Poder Judiciário Brasileiro”, o
que implicaria em “elevação da qualidade” e em celeridade da prestação
jurisdicional. Buscou-se, assim, atribuir maior celeridade e eficiência ao
processo civil brasileiro, modernizando-o por meio da utilização da
tecnologia da informação.

No âmbito da Justiça Federal da 4ª Região, esse processo de transformação


iniciou-se com a Resolução n.º 13, de 11 de março de 2003, que implantou e
estabeleceu normas para o funcionamento do Processo Eletrônico nos Juizados
Especiais Federais, na 4ª Região (e-Proc v1). Posteriormente, adveio a Lei Federal
n.º 11.419, de 19 de dezembro de 2006, que dispõe sobre a informatização do
processo judicial, estabelecendo a nova norma para todo o país.
Inovando uma vez mais, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por meio
da Resolução n.º 64, de 17 de novembro de 2009, implementou o processo judicial
eletrônico no âmbito da Justiça Federal de 1º e 2º Graus, complementada pela
Resolução n.º 17, de 26 de março de 2010, que regulamentou o processo judicial
eletrônico (e-Proc v2) em toda a Justiça Federal da 4ª Região, ou seja, nos Estados
do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina.
3 Inovação tecnológica: agilidade na prática dos atos processuais e facilidade
no acesso à jurisdição

Em seu prólogo, a Resolução n.º 17, de 26/03/2010, fundamenta-se em


cinco objetivos principais, razão pela qual veio a ser expedida, quais sejam:

1. As disposições da Lei n.º 11.419, de 19 de dezembro de 2006,


que dispõe sobre a informatização do processo judicial, altera o Código
de Processo Civil e dá outras providências;
2. A necessidade de regulamentar o processo eletrônico implantado
pela Resolução n.º 64/2009, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região;
3. A necessidade de consolidar os procedimentos do processo
eletrônico no âmbito da Justiça Federal da 4ª Região;
4. A necessidade de trabalhar de forma integrada entre os dois
graus de jurisdição;
5. A necessidade de otimizar a gestão documental, eliminando o
arquivamento permanente de documentos de papel, resolve:

O artigo 1º do normativo em questão regulamenta o uso do meio eletrônico


na tramitação de processos judiciais, comunicação de atos e transmissão de peças
processuais na Justiça Federal da 4ª Região, dispondo, em seu parágrafo único,
sobre as nomenclaturas a serem adotadas, a saber:

Parágrafo único. Para o disposto nesta resolução, considera-se:


I- e-Proc: o sistema de processo eletrônico da Justiça Federal da 4ª
Região;
II – meio eletrônico: qualquer forma de armazenamento ou tráfego de
documentos e arquivos digitais;
III – autos eletrônicos: o conjunto de documentos e eventos produzidos
e registrados no e-proc;
IV- transmissão eletrônica: toda forma de comunicação à distância de
documentos ou arquivos digitais com a utilização preferencialmente da
rede mundial de computadores – Internet;
V- assinatura eletrônica: as seguintes formas de identificação inequívoca
do signatário.
assinatura digital baseada em certificado digital emitido por autoridade
certificadora credenciada na forma de lei específica;
mediante cadastro de usuário do Poder Judiciário, conforme disciplinado
nesta resolução.

O artigo 2º da mencionada resolução eliminou qualquer possibilidade de


ajuizamento de demandas pelo meio tradicional (papel), como se vê:

Art. 2º. A partir da implantação do e-Proc em cada unidade judiciária,


somente será permitido o ajuizamento dos processos judiciais por este
sistema, regulado pela Lei n.º 11.419, de 19 de dezembro de 2006, pela
Resolução nº 64, de 17 de novembro de 2009, da Presidência do
Tribunal regional Federal da 4ª Região, e pelo disposto nesta Resolução.

Excepcionalidade à regra do dispositivo constante no artigo 2º da


Resolução nº 17/2010 é a prevista no seu próprio parágrafo primeiro, que arrola as
hipóteses em que a petição ainda poderá ser recebida em papel, todavia, devendo
migrar posteriormente para o sistema eletrônico, à ordem do juízo da distribuição:

§ 1º Nenhuma petição será recebida em meio físico, exceto habeas


corpus impetrado por pessoa física, não advogado, hipótese em que o
juízo a que for distribuído providenciará a inserção no e-Proc.

Por sua vez, o artigo 12 da Resolução em comento também torna imperativa


a juntada eletrônica dos documentos indispensáveis à demanda:

Art. 12. Os documentos indispensáveis à propositura da ação, bem como


todas as petições destinadas aos autos do e-Proc, deverão ser juntados
na forma eletrônica e adequadamente classificados, conforme tabela
atualizada pela Justiça Federal da 4ª Região.

Todavia, o normativo também previa excepcionalidades ao uso


exclusivamente eletrônico em seus parágrafos segundo, terceiro, quarto e quinto,
hipóteses nas quais referidos documentos em papel ficavam em poder da
secretaria do juízo até o trânsito em julgado da sentença.
Assim, o Tribunal da 4ª Região passou, progressivamente, a não mais
receber documentos em papel, tanto os referentes a procedimentos de sua
competência originária como aos recursos e incidentes cujos processos ainda
tramitavam em papel no Primeiro Grau de jurisdição. Essa é a redação do § 2º do
art. 2º da Resolução n.º 17/2010:

§ 2º As petições iniciais de ações, recursos, incidentes e demais


processos originários do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, cujo
processo na origem tramita em meio físico, serão ajuizados no e-Proc,
devendo o signatário digitalizar e anexar as demais peças.

Os artigos 3º ao 6º ocuparam-se em detalhar o acesso ao e-Proc:

Art. 3º. O e-Proc será acessado pela Internet, nos endereços eletrônicos
indicados pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Parágrafo único. Os documentos e atos praticados pelos usuários serão
assinados e certificados nos termos da Lei n.º 11.419, de 19 de
dezembro de 2006.
Art. 4º. O Tribunal Regional Federal da 4ª Região e todas as Subseções
Judiciárias, diretamente ou mediante convênio, manterão em suas
dependências equipamentos de digitalização (escaneamento) de
documentos e acessos à Internet para distribuição, consulta e
movimentação processual, à disposição dos interessados.
Art. 5º. Em cada unidade judiciária haverá servidores especializados para
dar orientação e sanar dúvidas de usuários internos e externos do e-
Proc.
Art. 6º. O acesso ao e-Proc pra consulta ou movimentação processual
será disponibilizado ininterruptamente.

A previsão contida no art. 6º, no sentido da realização da consulta e da


movimentação processual ininterrupta é, por certo, o dispositivo mais importante da
Resolução, no tocante à celeridade processual, marcando, assim, uma nova era do
sistema processual. Esse foi o marco entre o modo tradicional de realização dos
atos processuais, escritos em papel, e a sua nova prática pelo meio eletrônico.
Também no art. 6º foram previstas algumas medidas a serem tomadas em
caso de indisponibilidade do e-Proc, como eventual prorrogação de prazos pelo
juiz da causa, sendo que no § 6º do referido artigo, há a hipótese de, em caso de
indisponibilidade absoluta do sistema, a petição inicial ser protocolada em meio
físico para distribuição manual por quem for designado pelo Presidente do Tribunal
ou pelo Diretor do Foro, com posterior digitalização e inserção no sistema pelo
Juízo a que for distribuída, para o fim de evitar o perecimento de direito ou ofensa à
liberdade de locomoção.
Indubitavelmente, tais questões de ordem técnica podem vir a trazer algum
comprometimento ao sistema, mas, como ocorre com qualquer inovação
tecnológica, será necessário o seu contínuo aprimoramento, bem como o
treinamento dos seus operadores e usuários.
Inicialmente, a título de orientação aos advogados, foi veiculada no site do
TRF da 4ª Região informação a respeito da nova sistemática de protocolo
exclusivamente digital, dispensando-se a duplicidade de peças, bem como de
qualquer forma de recebimento de documentos por meio físico, por e-mail ou fac-
simile.
Posteriormente, houve o cadastramento dos advogados, com o devido
treinamento por meio de cursos de capacitação, graças a convênio com a Ordem
dos Advogados do Brasil, Seccional do Rio Grande do Sul, entidade que também
criou uma comissão especial sobre a implantação do processo judicial eletrônico,
a partir da Portaria nº. 304/2011. Igualmente, foram criados mecanismos de
cooperação para o manejo do processo e para capacitar a interagirem na
plataforma do e-Proc os representantes dos demais agentes que atuam no
processo judicial, como o Ministério Público Federal, a Advocacia-Geral da União,
a Fazenda Nacional, o Instituto Nacional do Seguro Social, a Caixa Econômica
Federal, entre outros, por meio de whorkshops, com a colaboração dos usuários
para a aprimoração constante dessa ferramenta de trabalho. Existe, ainda, a
possibilidade de cadastramento dos advogados à distância, depois de feita a sua
certificação digital.
Importante ressaltar que o sistema de certificação digital, na Administração
Pública Brasileira, é baseado no sistema de Infra-estrutura de Chaves Públicas
Brasileira (ICP-Brasil), sediado no Instituto Nacional de Tecnologia da Informação
(ITI), em Brasília. A ICP-Brasil foi instituída com a publicação da Medida Provisória
2.200-2, de 24 de agosto de 2001, e visa garantir a autenticidade, a integridade e a
validade jurídica de documentos em forma eletrônica que utilizem certificados
digitais, bem como a realização de transações eletrônicas seguras.
Atualmente, todos os atos processuais são realizados por meio digital, a
partir da distribuição automática, desde a petição inicial até o arquivamento do
feito.
O processo eletrônico trouxe a racionalização e a otimização da forma de
realização dos atos processuais, que podem ser desenvolvidos no horário das
vinte e quatro horas, uma vez que a disponibilidade do sistema é ininterrupta,
conforme visto no teor do art. 6º da Resolução nº 17/2010, do TRF da 4ª Região,
caracterizado está o plantão eletrônico. Não obstante eventual indisponibilidade
do sistema, essa previsão contida no art. 6º agiliza os procedimentos ao eliminar
“etapas mortas” do processo, isso é, o tempo em que os atos processuais
aguardavam para ser publicados e outros decursos de prazo, bem como o período
em que se encontrava em carga com os procuradores das partes.
O ajuizamento de uma demanda, com a sua distribuição a uma unidade
judiciária, o exame de admissibilidade da petição inicial, a qual já nasce juntada
ao processo, o despacho determinando a citação do réu e a publicação de todos
esses atos judiciais, tudo acontece de forma automática. Todas as comunicações
são eletrônicas. A inspeção também passa a ser automática, uma vez que o
processo, estando disponível, não precisa ser retirado da vara ou da secretaria e/
ou cartório para ser consultado.
Sendo o acesso disponibilizado via internet, de forma ininterrupta, os autos
podem ser consultados simultaneamente por todos os agentes da relação
processual, quais sejam, o autor e o réu e seus advogados, bem como terceiros
interessados, implicando em agilidade na tramitação do processo. A título de
exemplificação, a intimação de um despacho ou decisão proferida no processo
poderá ocorrer quase que simultaneamente à sua publicação eletrônica, bastando
que os procuradores das partes, já devidamente cadastrados no sistema, acessem
e consultem o andamento do feito, mesmo aqueles que não têm procuração nos
autos, desde que a demanda não tramite em segredo de justiça.
O tempo de realização dos atos processuais na demanda eletrônica é a
própria revolução do novo sistema, possibilitando a prática de vários atos em
poucos instantes e simultaneamente, sistemática inconcebível no processo
tradicional.
Registre-se que o programa utiliza apenas software livre, com linguagem
PHP, sistema operacional Lynux, banco de dados MySQL, que permitem a
i n te g ra çã o co m a s p l a ta fo rma s d o s tri b u n a i s su p e ri o re s, se n d o a
interoperabilidade do sistema outro importante ponto a destacar, em termos de
inovação tecnológica. O sistema foi desenvolvido por servidores da Tecnologia da
Informação do TRF-4 e da Justiça Federal do RS, de SC e do PR, com baixo custo
para a Administração Pública, sem a necessidade de pagamento de royalties.
Importante ressaltar a parceria com todos os agentes que interagem no sistema, ou
seja, instituições como a Caixa Econômica Federal, a Advocacia-Geral da União, a
Fazenda Nacional, o Ministério Público Federal, Ordem dos Advogados do Brasil,
entre outros.
Em fevereiro de 2013, a Justiça Federal da 4ª Região ultrapassou a marca
de um milhão e quinhentos mil processos eletrônicos distribuídos por meio do e-
Proc v2, implantado em 2009 nas várias Seções e Subseções Judiciárias do Rio
Grande do Sul, de Santa Catarina, do Paraná, no TRF-4 e também nos Juizados
Especiais Federais, Juizados Especiais Avançados e Unidades de Atendimento
Avançadas. O controle do número de ações pode ser consultado no Portal da
Justiça Federal da 4ª Região, por um contador que atualiza online o número de
processos que chegam à Justiça Federal nos três estados da Região Sul. O
sistema anterior, chamado de e-Proc v1, recebia somente as ações dos Juizados
Especiais Federais. Ressalte-se, ainda, que, desde a implantação do processo
eletrônico em 2003, somando os sistemas v1 e v2, a Justiça Federal da 4ª Região
possui quase quatro milhões de ações eletrônicas distribuídas (dados
contabilizados até março de 2013).
O e-Proc V2 não é um sistema único, mas vários sistemas interligados,
dentre os quais se destacam o sistema de gestão de documentos processuais e de
sessões de julgamento (GEDPRO), o sistema de expedição de cartas e mandados
judiciais (VPost), o sistema de acompanhamento de penas (SIAPE), o serviço de
mandados e informações automáticas para o banco nacional de mandados de
prisão (SMWeb) e o sistema de videoconferência, integrante do Projeto XXI, o que
também caracteriza a interoperabilidade do sistema.
Importante também destacar a implantação do sistema nacional de
audiências por videoconferência em processos criminais no âmbito da Justiça
Federal. O Conselho da Justiça Federal (CJF) tomou a decisão de adotar o sistema
em todo o país depois que uma comissão formada por juízes federais e servidores
conheceu o projeto-piloto realizado na Justiça Federal do RS (JFRS). Para
viabilizar a iniciativa, os Tribunais Regionais Federais (TRFs) do país deverão
desenvolver um plano de ação para definir o cronograma de implantação efetiva
do sistema. Entre as adequações previstas no texto estão a instalação de salas de
videoconferência e a aquisição dos equipamentos necessários para todas as
subseções judiciárias. As salas de videoconferência deverão ser reservadas por
meio de agendamento no sistema eletrônico, que será implantado pelo CJF e
pelos TRFs. Esse sistema deverá ser nacional e contemplar as cinco regiões do
Judiciário Federal. O Ministério Público Federal, a Ordem dos Advogados do Brasil
e a Defensoria Pública da União poderão integrar suas salas de videoconferência
ao sistema nacional da Justiça Federal.
O Projeto XXI, desenvolvido dentro do planejamento estratégico da Justiça
Federal da 4ª Região, foi utilizado inicialmente na 1ª Vara Federal Criminal de
Porto Alegre. De acordo com o juiz titular da vara, José Paulo Baltazar Junior, o
sistema de videoconferência está sendo utilizado nas varas criminais das três
capitais da Região Sul e de Foz do Iguaçu (PR), que não recebem mais cartas
precatórias para tomadas de depoimentos de testemunhas e partes em processos
que tramitam em outras subseções judiciárias. Entre os benefícios do uso da
tecnologia, está a eliminação da expedição de cartas precatórias de inquirição de
partes e testemunhas, o que confere maior agilidade e efetividade ao andamento
processual. Com o procedimento, a qualidade da prova também aumenta, pois o
magistrado que realiza a audiência é o mesmo que julgará o processo. Assim,
mais uma vez, destaca-se a agilidade na tramitação do processo, com a
concentração dos atos processuais em uma só audiência, em benefício do
jurisdicionado, evitando-se a prescrição.
Mesmo com a implantação definitiva do e-Proc em 2010, em todas as
matérias e graus de jurisdição, ainda eram permitidas algumas exceções, como o
recebimento de documentos em papel, inquéritos, procedimentos investigatórios
do Ministério Público, representações criminais e cartas  precatórias, por exemplo.
Contudo, a partir de março de 2013, todos estes feitos também devem
tramitar eletronicamente. Por meio da Resolução nº 34, de 7 de março de 2013, a
Presidência do TRF da 4ª Região determinou o fechamento do sistema SIAPRO. O
Sistema de Acompanhamento Processual do TRF4 funcionava desde 1998 e
permitia o processamento de algumas classes processuais em papel. O que ainda
era distribuído por meio físico no primeiro grau em toda a 4ª Região, a partir da
referida Resolução não será mais aceito. Isto significa que, a partir desta data, só
serão processadas ações judiciais por meio eletrônico, ou seja, via e-Proc.
Por fim, existe, ainda, o Sistema Eletrônico de Informações - SEI, também
criado e desenvolvido pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, mas que trata
de processos administrativos e é cedido sem custos para outras instituições
administrativas do Brasil. Ele também permite transferir a gestão de documentos e
processos eletrônicos administrativos para um ambiente virtual. Com esse sistema,
a tramitação de expedientes, desde a criação, edição, assinatura, até o
armazenamento, é totalmente realizada por meio eletrônico. Atualmente, 17 órgãos
utilizam a plataforma no país, como Prefeitura Municipal de Porto Alegre; o Instituto
Nacional do Seguro Social – INSS; Tribunais de Justiça do Espírito Santo e do
Tocantins; Tribunais de Justiça Militar do Rio Grande do Sul, São Paulo e Minas
Gerais; Defensoria Pública Geral da União (DPU); Ordem dos Advogados do Brasil
Seccional do Rio Grande do Sul, Ministério Público do Estado do Amazonas;
Ministério Público do Estado do Tocantins, além de outros Tribunais Regionais
Federais.
Concebida para agilizar e dar maior celeridade ao processamento das
demandas judiciais a fim de imprimir maior eficiência na prestação jurisdicional, a
inovação tecnológica criada com o processo judicial eletrônico (e-Proc) trouxe em
seu bojo outras transformações, como os novos modelos de administração da
Justiça frente à nova realidade, além de mudanças nas relações com os agentes
que operam e utilizam o sistema, relativamente à acessibilidade e, principalmente,
uma grande economia de insumos.
A questão do sistema frente à sustentabilidade será objeto de tópico
específico, a ser posteriormente analisado.
4 Eficiência operacional e saúde dos usuários: o que muda na gestão e na
organização do trabalho, a partir do processo judicial eletrônico

A previsão legal de eficiência no serviço público adveio da promulgação da


Emenda Constitucional n.º 19, de 4 de junho de 1998, que acrescentou o vocábulo
nos princípios da Administração Pública, arrolados no caput do artigo 37 da
Constituição Federal de 1988. Também o art. 93, inciso XV, da CF/88 teve nova
redação dada pela EC n.º 45/2004, o qual prevê que “a distribuição dos processos
será imediata, em todos os graus de jurisdição”.
A excessiva demanda de processos, o número quase sempre insuficiente de
servidores para atendê-la e a inexistência de métodos e rotinas de trabalho estão
entre as principais causas de morosidade na tramitação de processos no Brasil
que motivou a criação, em 2011, pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) do
Projeto Eficiência que, somado a outras iniciativas, vem conferindo maior
celeridade e qualidade na prestação do serviço jurisdicional. Também o programa
“Justiça em Números”, instituído a partir das Resoluções n.º 4, de 16 de agosto de
2005, n.º 15, de 20 de abril de 2006, e n.º 76, de 12 de maio de 2009, as quais
criaram e regulamentaram o sistema de estatísticas do Poder Judiciário, permite a
avaliação dos tribunais brasileiros em termos de eficiência.
Isso significa um compromisso do Poder Judiciário para com o
jurisdicionado, que é aquele que pede e recebe a prestação jurisdicional, no
sentido de ter atendida a sua demanda de modo mais célere e mais eficiente.
Com o processo judicial eletrônico, a instantaneidade do sistema virtual
i mp ri mi u u ma ma i o r ra p i d e z n a tra mi ta çã o d o s p ro ce sso s, q u e se
autopropulsionam.
De acordo com dados estatísticos divulgados pelo TRF da 4ª Região, no
Seminário Atualidade e Futuro da Administração Pública, promovido pela Justiça
Federal da 4ª Região e o Instituto Brasileiro de Administração do Sistema
Judiciário – IBRAJUS, realizado nos dias 11 e 12 de março de 2013, em Porto
Alegre/RS, e que abordou a nova realidade da Justiça frente ao processo
eletrônico, com representantes de tribunais brasileiros, houve significativo
decréscimo no tempo médio de tramitação de um recurso processual. Ou seja,
diminuiu o tempo médio entre a distribuição e a pauta de julgamentos nas
diferentes classes processuais. Exemplificando, o tempo médio de tramitação de
uma Apelação Cível por meio eletrônico caiu 77,21% (setenta e sete vírgula vinte e
um por cento) se comparado ao processamento por meio físico, em autos de papel,
passando de 272 (duzentos e setenta e dois) dias para 62 (sessenta e dois) dias.
Durante o referido evento, o Ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal
Federal, destacou que

Buscar a eficiência administrativa na atividade judiciária é uma


responsabilidade que devemos honrar. Encarar esse desafio é
fundamental para que possamos garantir e defender os direitos
fundamentais da população.

O ministro, ao debater sobre as mudanças advindas da implantação do


processo judicial eletrônico, referiu, ainda, que, no momento atual “garantir a
celeridade do processo, que é o instrumento básico do nosso trabalho, é um dever
constitucional, mas também é um direito de máxima importância para o cidadão.”
Com o processo eletrônico, muitas tarefas burocráticas executadas por
técnicos foram substituídas por sistemas, como por exemplo, a juntada de
documentos ao processo. Ao mesmo tempo, como os processos passaram a
tramitar mais rápido, houve a necessidade de mais especialistas para auxiliar os
magistrados na análise das ações, o que melhora a prestação jurisdicional,
trazendo uma resposta mais rápida e com mais qualidade do Poder Judiciário ao
jurisdicionado.
Isso tudo resultou em uma necessidade de maior agilidade por parte dos
servidores públicos. Exemplificando: antes, a petição inicial era protocolada,
depois distribuída e, a seguir, encaminhada por meio da atividade de diversos
servidores para a análise pelo juiz, que proferia o despacho, o qual era, então,
enviado para outro servidor providenciar a sua publicação no Diário Oficial,
apondo a competente certidão nos autos. Com o processo judicial eletrônico, um
servidor analisa e encaminha para o juiz despachar, sendo que o próprio servidor
providencia a sua publicação diretamente no e-Proc. Assim, aumentaram os
despachos proferidos e os servidores necessitaram se capacitar para
desempenhar um serviço mais ágil. Com a diminuição dos serviços cartorários e
maior fluxo de trabalho nos setores da área judiciária, que é a área-fim do Poder
Judiciário, servidores com formação jurídica que desempenhavam atividades
burocráticas e outros tipos de atividades nas áreas-meio foram deslocados para a
área-fim.
A eliminação dos autos físicos e a transformação da tramitação pela via
eletrônica trouxe um remanejamento dos servidores mais especialistas, que
estavam lotados nos cartórios e secretarias para os gabinetes das Varas e Turmas,
para auxiliar os magistrados na análise das ações, o que vai ao encontro do que é
exigido pela própria sociedade e, também, pelo Conselho Nacional de Justiça
(CNJ).
De acordo com o estudo “Justiça em números”, do CNJ, a Justiça Federal da
4ª Região é a mais informatizada do país e, conforme o Relatório de 2012 do
Conselho Nacional de Justiça, o TRF da 4ª Região foi o tribunal que mais investiu
em tecnologia da informação, dentre os cinco tribunais regionais federais.
Registre-se, ainda, que segundo avaliação do Instituto Brasiliense de Direito
Público – IDP, o TRF da 4ª Região tem também o melhor índice de desempenho da
Justiça, o IDJus.
Mas o que efetivamente muda no trabalho da Justiça com o fim do papel e a
implantação do processo eletrônico? Como esta nova realidade altera o trabalho, o
perfil e a saúde dos servidores? Quais os modelos de administração judiciária
adequados para cumprir metas e dar uma resposta mais rápida ao cidadão que
espera o julgamento de um processo? A partir do momento em que o processo
judicial no formato eletrônico estiver pronto para julgar, o que garantirá que a
demanda eletrônica seja mais célere do que a do papel será a qualidade de
trabalho desempenhado pelos magistrados e pelos servidores públicos que os
auxiliam.
Por outro lado, a facilidade de acesso e a rapidez nas etapas de
processamento trouxeram, inexoravelmente, um crescimento na demanda judicial,
com a superação da marca dos 1,5 milhão de processos eletrônicos distribuídos só
pelo sistema e-ProcV2, e uma nova realidade com aumento do número de metas
de produção, o que pode redundar em um maior estresse dos servidores e
magistrados.
Os efeitos do uso do processo eletrônico sobre os usuários também é uma
preocupação. As condições de saúde, segurança e qualidade de vida no trabalho
sempre foram uma preocupação constante das administrações que se sucederam
na Justiça Federal da 4ª Região, mas com a implantação do processamento
eletrônico de dados judiciais essa proteção se tornou mais intensa, considerando
os seus efeitos sobre a organização do trabalho e sobre a saúde dos seus
usuários. O TRF4 tem uma Comissão de Saúde, integrada por magistrados,
servidores, representantes de entidades sindicais e profissionais da saúde, para
debater alternativas e novas formas de trabalho com o uso da nova tecnologia. O
objetivo é garantir a saúde e a qualidade de trabalho, uma vez que o aumento da
produtividade não pode implicar em perda de motivação ou doença dos usuários
do sistema.
Exemplo disso foi a criação do Departamento de Ergometria, o qual estuda e
disponibiliza equipamentos e mobiliários que possibilitem maior conforto nos
locais e estações de trabalho, sendo avaliadas e monitoradas constantemente
essas condições, inclusive no que diz com o uso de software e hardware
colocados à disposição, ferramentas que passaram a ser o próprio instrumento de
trabalho. Foram criadas estações de trabalho personalizadas, de modo a melhorar
a visualização do processo judicial eletrônico.
E além da preocupação com as condições de ambiência, mobiliário,
hardware e software, a Administração do TRF4 também monitora a adequação de
um sistema de pausas no trabalho, o qual foi regulamentado pela Resolução n.º
122, de 16 de dezembro de 2012.
No seu prólogo, a referida Resolução considera que as pausas na jornada
laboral são essenciais à recuperação da saúde física e mental, nos termos do que
dispõem os artigos 6º, 7º, inciso XXII, e 39, § 3º, da Constituição Federal, assim
como nos termos da Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), assim resolvendo:

Art. 1º. Recomendar uma pausa de 10 minutos para cada 50 minutos


trabalhados, não deduzidos da jornada normal de trabalho.
Art. 2º. Recomendar a aplicação da Norma Regulamentadora n.º 17 –
MTE e a difusão de estudos, casos de uso e boas práticas de proteção
à saúde e à segurança no trabalho.

Complementando esse rol de medidas, também são oferecidos aos


servidores da Justiça Federal da 4ª Região terapias, como ginástica laboral, e
outros eventos de integração, visando, sobretudo, a humanização das relações de
trabalho nos seus diversos níveis.

5 Novas fronteiras: o ambiente virtual e a possibilidade do trabalho à distância

No seu artigo 225, caput, a Constituição Federal definiu o meio ambiente


enquanto bem essencial à vida, nos seguintes termos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de
defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Não obstante o art. 225 da CF/88 não o referir expressamente, o meio


ambiente do trabalho deve ser compreendido na proteção do meio ambiente como
um todo, consoante definição dada pela Lei n.º 6.938/81 (a Lei que instituiu a
Política Nacional do Meio Ambiente), a qual, em seu art. 3º, inc. I, assim caracteriza:

Conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,


química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas
formas.

Propriamente quanto ao meio ambiente do trabalho, o autor Antônio Silveira


dos Santos assim o conceitua: “O conjunto de fatores físicos, climáticos ou
qualquer outro que, interligados ou não, estão presentes e envolvem o local de
trabalho da pessoa.”
Conforme o referido autor, a doutrina passou a entender que meio ambiente
comporta a seguinte divisão:

a) meio ambiente físico ou natural: constituído pela flora, fauna, solo,


água, atmosfera, etc, incluindo ecossistemas (art. 225, § 1º, I, VII);
b) maio ambiente cultural: constituído pelo patrimônio cultural, artístico,
arqueológico, paisagístico, manifestações culturais, populares, etc. (art.
215 §1º e § 2º);
c) meio ambiente artificial: conjunto de edificações particulares ou
públicas, principalmente urbanas (art. 182, art. 21, XX, e art. 5º, XXIII) e
d) meio ambiente do trabalho: conjunto de condições existentes no local
de trabalho relativos à qualidade de vida do trabalhador (art. 7º, XXII e
art. 200, VIII).

Já na lição de Guilherme José Purvin de Figueiredo,

Falar de qualidade do meio ambiente, portanto, não é apenas pensar na


poluição química, física ou biológica nas indústrias, nos hospitais ou na
agricultura, mas também na qualidade de vida dos que trabalham em
escritórios ou mesmo em casa. Há que se adotar uma visão holística do
ser humano que é parte integrante de um todo organizacional, com
múltiplas dimensões em sua vida social.

Também nesse aspecto o processo eletrônico atende a previsão


constitucional, consistente na busca de um meio ambiente de trabalho mais
saudável para os que dele dependem.
A propósito, assim dispõe o artigo 7º, XXII, da Constituição Federal de 1988:

Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros
que visem à melhoria de sua condição social:
[...]
Inc. XXII: redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas
de saúde, higiene e segurança.

Contudo, com o advento do processo judicial eletrônico começaram a


aparecer profundas alterações no meio ambiente de trabalho e na Administração
da Justiça.
Todos os agentes que atuam no processo, juízes e desembargadores,
advogados, procuradores federais, membros do Ministério Público Federal, da
Advocacia da União, Defensoria Pública, Fazenda Nacional, enfim, todos os
usuários do e-Proc tiveram de se adaptar a uma nova realidade virtual. Trabalhar
pode não mais significar estar em um ambiente pequeno e fechado, mas, sim,
conectado a um ambiente virtual.
As vantagens do processo eletrônico também chegam à rotina dos
servidores da Justiça Federal e do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, que
graças ao sistema, poderão acessá-lo à distância. Como resultado desta nova
realidade, o trabalho poderá ser exercido em casa ou no ambiente de trabalho da
instituição, mas sempre pautado por metas de produtividade pré-estabelecidas,
trazendo maior equidade quanto ao modo de prestação de serviço. Cada servidor
poderá organizar o seu horário e o seu tempo como melhor lhe aprouver, desde
que observados os critérios de produtividade estipulados pelo CNJ e pela própria
Justiça Federal da 4ª Região.
No setor público, no âmbito da Justiça Federal da 4ª Região, ainda não há
uma regulamentação do trabalho à distância, ou o “teletrabalho” como já
denominado por algumas instituições, mas isso poderá acontecer em um futuro
próximo.
O Tribunal Superior do Trabalho – TST, por seu turno, editou a Resolução
n.º 1.499, em 4 de março de 2013, que disciplina o “teletrabalho” no âmbito dessa
justiça especializada.
Anteriormente, a Lei Federal n.º 12.551/2011 alterou o artigo 6º da
Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, ao introduzir no seu caput a palavra
“distância” e ao acrescentar no parágrafo único a expressão “por meios telemáticos
e informatizados”, para caracterizar o vínculo trabalhista na esfera privada. Nas
relações de trabalho no setor público, as quais são regidas pelo regime estatutário,
disciplinado pela Lei n.º 8.112/1990, ainda não há essa previsão legal, apenas
projetos pilotos inspirados em experiência já vivenciada pelos servidores públicos
do Tribunal de Contas da União – TCU. De qualquer forma, tanto na relação de
trabalho celetista como na do regime estatutário, não será apenas o ambiente que
caracterizará essa nova modalidade de trabalho, mas o uso de equipamentos de
informática ou ferramentas da tecnologia da informática, com os mesmos
pressupostos trabalhistas, tais como a subordinação hierárquica que continua,
mesmo à distância.
Certamente, com o tempo e mediante implementação gradual, a nova
tecnologia fará com que as pessoas, trabalhando inclusive em casa, fiquem mais
próximas às suas famílias, gerando mais bem estar e qualidade de vida,
principalmente sem os transtornos do deslocamento casa-trabalho, entre outros
fatores que podem trazer estresse na execução do trabalho ou serviço.
Ainda, há o desafio de criar-se um ambiente de trabalho em casa compatível
com o tipo de trabalho desempenhado na instituição, com as garantias
ergonômicas (mobiliário, luminosidade, alturas ajustáveis das estações de
trabalho) que se possibilitam nas empresas, assim como o desafio na gestão de
pessoal, uma vez que nem todos os trabalhadores podem ter o perfil que se adapte
ao trabalho em casa ou à distância.
Ademais, há que se atentar para certos fatores que podem atrapalhar e
causar dispersão no trabalho desenvolvido em casa, como a questão do
envolvimento emocional e familiar e também a da poluição sonora que, embora
não se acumule no meio ambiente como outros tipos de poluição, causa vários
danos ao corpo e à qualidade de vida dos trabalhadores.
No ambiente doméstico e residencial, o ruído é o maior responsável pela
poluição sonora e pode ser provocado por sons que fazem parte do cotidiano,
como eletrodomésticos, instrumentos musicais, televisores e aparelhos de som, os
quais precisam ser utilizados de forma adequada. Também em ambientes
próximos, a poluição sonora pode acontecer, como o som excessivo das ruas,
canteiros de obras, meios de transporte, áreas de recreação, entre outros, gerando
efeitos negativos para o sistema auditivo, além de provocar alterações
comportamentais e orgânicas, atrapalhando a atividade desempenhada.
No caso dos trabalhadores que moram sozinhos, há também o problema do
isolamento social, com a falta de contato com os colegas de trabalho e superiores
hierárquicos, e, no caso dos que moram com familiares, também o excesso de
convivência pode, com o tempo, vir a trazer a desagregação da família.
Todas essas questões devem ser levadas em conta e discutidas
previamente antes de ser decidida a opção pelo trabalho em casa ou fora da
instituição, desde que não impliquem em perda da motivação ou doença do
servidor, lembrando-se, ainda, que as metas de produtividade é que regulam essa
modalidade de trabalho.

6 O processo judicial eletrônico sob a ótica da sustentabilidade

Com a implementação definitiva do processo judicial eletrônico haverá


benefícios incalculáveis ao meio ambiente natural, com a eliminação dos autos de
papel, inaugurando uma nova era de uma prática jurisdicional sustentável,
econômica e comprometida com o meio ambiente.
A economia diz principalmente com a redução dos insumos, consistentes
não só na eliminação do papel, mas também de tintas para impressoras, toners,
entre outros. Sabe-se que, para produzir-se 50 kg (cinquenta quilogramas) de
papel é preciso derrubar uma árvore, e que, nas etapas de produção do papel,
desde a celulose bruta até sua formatação final, com o branqueamento, inúmeros
dejetos são despejados nos rios e no ar, subprodutos da referida atividade
industrial. Então, é inegável a proteção ao meio ambiental natural.
O Tribunal Regional Federal da 4ª Região é uma instituição sintonizada com
a sociedade que pratica uma administração sustentável. A atuação se dá por meio
de um projeto construído no dia a dia, que desenvolve ações importantes de
responsabilidade social e gestão ambiental e, também, no exercício de uma
jurisdição socioambiental qualificada.
Desde 2005, o TRF4 desenvolve o Projeto Memória para selecionar e
preservar processos judiciais históricos e eliminar os processos antigos, que têm o
papel destinado à reciclagem. O TRF da Região Sul promoveu a primeira
eliminação de processos judiciais na história da Justiça Federal brasileira, em
iniciativa conjunta com o Conselho da Justiça Federal. A medida libera área física
nos prédios públicos, reduz os gastos com aluguel de imóveis destinados a manter
esse acervo e preserva a memória institucional. Além disso, incentiva a reciclagem
para a preservação do meio ambiente, gerando renda para as comunidades
carentes.
O e-Proc é uma aposta da gestão sustentável do TRF4, porque não utiliza
papel, tintas e outros insumos, colaborando com a economia dos recursos naturais
do planeta. De outubro de 2000 até maio de 2012, mais de 253 (duzentas e
cinquenta e três) toneladas de papel utilizado no TRF4 foram encaminhadas para
reciclagem. Com isso, 5.574 (cinco mil, quinhentas e setenta e quatro) árvores
foram poupadas e 24,8 (vinte e quatro vírgula oito) milhões de litros de água e
633,4 (seiscentas e trinta e três vírgula quatro) MW/h de energia elétrica foram
economizados.
Em termos financeiros, calcula-se uma economia de insumos (papel e tinta
de impressoras) na ordem de R$ 113.000.000,00 (cento e treze milhões de reais)
com a distribuição dos 3.794.000 (três milhões, setecentos e noventa e quatro mil)
processos, de 2003 a 2012, ou seja, desde que o processo judicial eletrônico foi
implantado no âmbito da Justiça Federal da 4ª Região.
Há também a questão da economia no transporte dos processos de primeiro
grau até a Corte de apelação, e destes até os tribunais superiores, Superior
Tribunal de Justiça – STJ e Supremo Tribunal Federal – STF, questão de impacto
direto no meio ambiente, uma vez que não há mais remessa e retorno de
processos, sem que haja queima de combustível fóssil para viabilizar o referido
transporte, com emissão de grandes quantidades de monóxido e dióxido de
carbono na atmosfera, os gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento
global.
Mas, no futuro, com o trabalho à distância, pode-se prever uma redução de
gastos maior ainda, com a diminuição do deslocamento dos servidores e demais
agentes que atuam no processo, assim considerando a distância entre a
residência do servidor e do demandante e, também, com relação ao deslocamento
deste ao escritório do seu procurador legal.

7 Conclusões

É do conhecimento geral que a única forma de atender às necessidades dos


cidadãos por uma Justiça eficiente e eficaz, garantindo-se o direito reclamado, é
oferecer uma resposta rápida pelo próprio Poder Judiciário.
Com uma forma de processamento inédito em todo o Poder Judiciário e
atendendo a todos os graus de jurisdição, nasceu em 2003 o e-Proc, inicialmente
nas Varas dos Juizados Especiais, e estendendo-se, a partir de 2009, à Subseção
Judiciária de Rio Grande/RS. Após, em 2010, a Justiça Federal da 4ª Região
estava totalmente informatizada.
Celeridade, facilidade de acesso e funcionalidade, características que
garantem a efetividade buscada, tornaram o e-Proc uma verdadeira inovação
tecnológica que, também devido à sua interoperabilidade, a qual permite uma
interação com os tribunais superiores e entre os diversos agentes ou usuários,
representa um marco na prática jurisdicional sustentável, econômica e
comprometida com o meio ambiente.
O processo judicial eletrônico é uma realidade implantada e consagrada
pelos resultados e estatísticas do Conselho Nacional de Justiça, órgão que foi
criado para auxiliar a justiça brasileira, e que desenvolve ações, programas e
projetos de controle administrativo e processual, nos termos do artigo 103-B da
Constituição Federal de 1988.
Além do mais, se analisado sob a ótica do futuro da Administração da
Justiça, o e-Proc representa a possibilidade de trabalho à distância para o servidor
público, ou fora do meio ambiente tradicional de trabalho, garantindo, também sob
esse enfoque, uma acessibilidade total ao sistema e uma melhor qualidade de
trabalho e de vida daqueles que dele dependem.
Assim, sob todos os aspectos, é indubitável que o Processo Judicial
Eletrônico da Justiça Federal da 4ª Região, o e-Proc, que serviu de modelo para
uma série de outros sistemas judiciais eletrônicos, representa, por todos os
benefícios aqui destacados, uma verdadeira revolução no modo da prestação
jurisdicional no Brasil.
Referências

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REPRESENTANTES de tribunais brasileiros avaliam a nova realidade da Justiça


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SEMINÁRIO aborda importância da memória do Judiciário para sociedade.


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TRF4 dá passo definitivo para tornar eletrônicos todos os processos na 4ª Região


Disponível em: <http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?
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VIDEOAUDIÊNCIAS: projeto da Justiça Federal do RS será adotado em todo o país


Disponível em: <http://www2.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?
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WAMBIER, Luiz Rodrigues. WAMBIER ,Teresa Arruda Alvim. MEDINA, José Miguel
Garcia. Breves comentários à nova sistemática processual civil 3. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2007.
Produção de biodiesel no ensino de química: uma proposta sustentável

Anderson de Oliveira Lima, Arthur Ruola Coiado, Melina Kayoko Itokazu Hara*
Faculdade de Tecnologia Victor Civita - Tatuapé

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo propor um experimento de Química envolvendo a produção do
biodiesel a partir do óleo de soja e álcool na presença de um catalisador. Esta abordagem
procura motivar a discussão em sala de aula sobre a utilização de novas fontes renováveis de
energia, uma vez que o biodiesel é obtido de fontes limpas e renováveis e não emite compostos
sulfurados, responsáveis pelas chuvas ácidas, além de ser biodegradável. Essa temática é
fundamental para que os alunos compreendam os aspectos tecnológicos da produção do
biodiesel, além de conteúdos de química, como por exemplo, termoquímica, cinética e química
orgânica.

1. INTRODUÇÃO

A busca por energias alternativas tem sido estimulada devido à crescente


necessidade de substituição do uso de combustíveis derivados do petróleo, uma fonte
finita e não renovável. Além disso, as mudanças climáticas associadas ao aumento de
emissão de gases provenientes da queima de combustíveis fósseis é outro fator
determinante na busca por energias alternativas e sustentáveis.
Neste contexto, uma alternativa que vem ganhando destaque é o uso de
biodiesel, uma vez que ele é obtido de fontes limpas e renováveis, não emite compostos
sulfurados, responsáveis pelas chuvas ácidas e é biodegradável (PALOMINO-
ROMERO et al., 2012). A combustão do biodiesel, quando comparada com a do diesel,
apresenta uma redução significativa de emissão de material particulado e do gás dióxido
de carbono, CO2, um dos responsáveis pelo efeito estufa.
O objetivo deste trabalho é propor um roteiro experimental, para aulas práticas
de Química, de produção do biodiesel a partir do óleo de soja e álcool na presença de
um catalisador. A introdução desta temática é fundamental nas aulas dessa disciplina
para que os alunos compreendam os aspectos tecnológicos da produção do biodiesel
relacionados a essa fonte alternativa de energia, além de abordar vários conteúdos de
Química, como por exemplo, termoquímica, cinética e química orgânica. Este trabalho
busca ainda estimular professores e alunos, tanto do ensino médio como do ensino
superior, a preparar o biodiesel nas aulas experimentais de Química, com intuito de
discutir a importância de se produzir combustíveis sustentáveis. Esta atividade poderá
ser aplicada nas aulas práticas da disciplina de Química Aplicada, ministrada na FATEC
Tatuapé, para os estudantes ingressantes dos Cursos de Tecnologia em Controle de
Obras e Construção de Edifícios. O experimento piloto, no qual envolveu o
procedimento de preparo, purificação e caracterização do biodiesel, foi feito por dois
alunos de iniciação científica, coautores do trabalho.
O biodiesel é obtido através da transesterificação dos triglicerídeos de óleos e
gorduras de origem vegetal com um álcool de cadeia curta, metanol ou etanol, na
presença do catalisador básico, produzindo uma mistura de ésteres de ácidos graxos e
glicerol, Figura 1 (SHUCHRDT et al., 1998; OLIVEIRA et al., 2008). Entre os óleos
vegetais utilizados mais comuns estão a soja, milho, amendoim, algodão, babaçu,
girassol, palma, entre outros. (SANTOS e PINTO, 2009; PINTO et al., 2005). No
Brasil, o uso de etanol anidro pode ser considerado mais vantajoso, uma vez que ele é
produzido em larga escala para ser misturado à gasolina, além de ser um produto obtido
através de biomassa (SHUCHRDT et al., 1988). A glicerina produzida como subproduto
do biodiesel possui alto valor comercial após a sua purificação, cujos derivados são de
grande aplicação para diversas indústrias, principalmente na área de cosméticos e
fármacos (MENDES, VALDÉS SERRA, 2012). A síntese do biodiesel é considerada de
fácil preparação e os reagentes utilizados apresentaram um baixo custo.

Figura 1. Reação de transesterificação de triglicerídeos com álcool.


Fonte: SUAREZ et al., 2007

Vários procedimentos de produção do biodiesel descritos na literatura utilizam o


metanol ou o etanol com a adição de um catalisador básico (SANTOS E PINTO, 2009;
BATISTA et al., 2009; RINALDI et al., 2007). Geralmente o metanol é o álcool mais
utilizado por apresentar algumas vantagens, entre elas, a facilidade da separação das
duas fases formadas, biodiesel e glicerol, na etapa final do processo (PINTO et al.,
2005). Já a utilização de etanol leva geralmente à formação de uma emulsão estável
entre o glicerol e biodiesel, dificultando assim, o processo de separação dos produtos
finais, biodiesel e glicerol. Segundo Batista et al. (2009), o etanol possui características
higroscópicas e forma um azeótropo com a água, produzindo ao final da reação sabão e
glicerol, devido à presença de água no sistema reacional, provocada pelo favorecimento
da reação de hidrólise do triglicerídeo (reação de saponificação) em presença de base,
Figura 2.

Figura 2. Reação de hidrólise de triglicerídeos (reação de saponificação).


Fonte: SANTOS e PINTO, 2009

Uma solução para contornar o problema da separação de fases do biodiesel e


glicerol ao final da reação é a adição de glicerol ao sistema reacional. Esta etapa, na
síntese do biodiesel, provoca a separação do restante do glicerol formado por efeito de
quebra da emulsão, porém, representa uma etapa a mais no processo de produção do
biodiesel (SANTOS e PINTO, 2009).
Neste trabalho é apresentada uma proposta de roteiro experimental que servirá
como procedimento para as aulas práticas de Química, envolvendo duas rotas de síntese,
uma via etanólica e outra via metanólica. O objetivo desta abordagem é discutir
principalmente a diferença entre as duas rotas de síntese, bem como a formação de
fases, a formação de emulsão e os conceitos químicos envolvidos durante o processo de
conversão do óleo vegetal em biodiesel. A seguir, apresenta-se o roteiro experimental,
no qual os alunos deverão trabalhar em grupos. A atividade experimental foi planejada
com objetivo de ser conduzida em uma aula prática de 4 horas para a síntese do
biodiesel e 2 horas de aula teórica para discussão dos resultados obtidos.
2. PARTE EXPERIMENTAL

2.1. Materiais e Reagentes

2.1.1. Materiais

Erlenmeyer, funil de separação (250 mL), pipeta volumétrica (10 mL), proveta,
centrífuga (Centribio, mod. 80-2B).

2.1.2. Reagentes

Óleo de soja (óleo de cozinha); Álcool etílico absoluto P.A. (CAAL – Casa Americana)
99,9°; Álcool metílico (CAAL – Casa Americana); Hidróxido de sódio (CAAL – Casa
Americana); Cloreto de sódio (SYNTH).

2.2. Procedimento experimental

2.2.1. Síntese do biodiesel por via metanólica

Em um erlenmeyer de 250 mL adicione 50 mL de metanol e, em seguida, 1 g do


catalisador NaOH ( hidróxido de sódio). Insira a barra magnética no erlenmeyer e inicie
a agitação utilizando o agitador magnético. Após a completa dissolução do NaOH no
etanol, adicione 100 mL de óleo de soja e continue a agitação por aproximadamente 40
minutos. Anote as suas observações. Faça a transferência da amostra fluida para um
funil de separação e acompanhe a separação de fases por 1 hora. Após a separação de
fases separe a fase superior e adicione pequenas porções de solução saturada de NaCl,
agitando levemente e aguarde novamente a separação de fases. Reserve a parte superior.
2.2.2. Síntese do biodiesel por via etanólica
Em um erlenmeyer de 250 mL adicione 50 mL de etanol e, em seguida, 1 g do
catalisador NaOH ( hidróxido de sódio). Insira a barra magnética no erlenmeyer e inicie
a agitação utilizando o agitador magnético. Após a completa dissolução do NaOH no
etanol, adicione 100 mL de óleo de soja e continue a agitação por aproximadamente 40
minutos. Anote as suas observações. Faça a transferência da amostra fluida para um
funil de separação e acompanhe a separação de fases por 1 hora. Caso a separação de
fases não ocorra, utilize a centrífuga a fim de se promover a separação dos componentes
via sedimentação dos líquidos imiscíveis de diferentes densidades. Após a separação de
fases separe a fase superior e adicione pequenas porções de solução saturada de NaCl,
agitando levemente e aguarde novamente a separação de fases. Reserve a parte superior.

2.2.1. Caracterização do biodiesel através da viscosidade

A viscosidade é a resistência que todo fluido real oferece ao movimento relativo


de qualquer de suas partes. As viscosidades relativas à água são determinadas pela razão
entre os tempos médios de escoamento do biodiesel e do óleo de soja em relação ao
tempo médio de escoamento da água.
Coloque o biodiesel em uma pipeta de 10 mL e marque o tempo de escoamento
do biodiesel. Repita o mesmo procedimento para o óleo vegetal e para a água. Esse
experimento deve ser repetido pelo menos três vezes.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na síntese do biodiesel por via metanólica, o aparecimento das duas fases se deu
logo após o término da reação, Figura 3. No funil de separação observamos na fase
superior, a fase menos densa, o biodiesel e na fase inferior: o glicerol, sabões, excesso de base e
metanol. Já na síntese por via etanólica, após 2 horas, não houve a separação de fases.
Assim, ao final da síntese, utilizou-se a centrífuga a fim de promover a separação dos
componentes via sedimentação dos líquidos imiscíveis de diferentes densidades,
provocando assim, a formação de duas fases.
Figura 3. Processo de separação do biodiesel em duas fases.

Na produção do biodiesel catalisada por base, além da reação de


transesterificação, pode ocorrer a reação de hidrólise do triglicerídeo (reação de
saponificação), provocada pela presença de água. Essa reação ocorre, na síntese por via
etanólica, pois o etanol por ser higroscópico absorve água, formando o azeótropo,
provocando a formação de sabão no sistema reacional. O sabão formado leva ao
consumo da base utilizada na catálise da transesterificação do óleo com álcool, além de
provocar a formação de uma emulsão estável, biodiesel + glicerol, dificultando a
separação de fases após o término da reação. Neste trabalho, utilizou-se a centrífuga
para a separação das fases, como procedimento alternativo, ao invés da adição de
glicerol, sugerido por alguns artigos já reportados na literatura (SANTOS e PINTO,
2009; BATISTA et al., 2009). O uso do glicerol na etapa final da reação provoca a
separação do restante do glicerol formado por efeito de quebra da emulsão, porém
representa uma etapa a mais no processo de produção do biodiesel.
A caracterização do biodiesel foi feita por meio da determinação das
viscosidades relativas de biodiesel e óleo de soja com relação à água a 25°C. Os
resultados estão apresentados na Tabela 1 e foram comparados com dados já reportados
na literatura.
Tabela 1. Valores estimados das viscosidades relativas à água a 25º C
Fluido Viscosidade Referência
relativa à agua a
25oC
Óleo de soja 3,2 Este trabalho

Biodiesel via rota etanólica 1,2 Este trabalho

Biodiesel via rota etanólica (99,3° INPM) 1,2 Santos et al., 2009

Biodiesel via rota metanólica 1,1 Este trabalho

Biodiesel via rota metanólica (1,0% KOH) 1,2 Rinaldi et al., 2007

Água 8 Este trabalho

Conforme os dados apresentados na Tabela 1, as viscosidades obtidas neste


trabalho, pelas duas rotas de síntese, via metanólica e via etanólica, apresentam valores
iguais aos da literatura, comprovando assim a identidade do produto.
A viscosidade indica a resistência do fluido ao escoamento, assim o controle
dessa propriedade no biodiesel é importante, pois controla o funcionamento adequado
dos sistemas de injeção e bombas de combustível, além de influenciar no processo de
combustão, cuja eficiência depende da potência máxima desenvolvida pelo motor.
Quanto maior a viscosidade, menor a eficiência do sistema de injeção de combustível,
inibindo a evaporação do combustível, favorecendo assim, a queima incompleta do
combustível (HEYWOOD citado por ZUNIGA, 1988).

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O metanol é geralmente o álcool mais utilizado como agente transesterificante


na produção do biodiesel, pois o seu uso facilita a separação do biodiesel e do glicerol
na etapa final da reação. O etanol, por outro lado, por apresentar menor toxicidade e ser
mais disponível, principalmente no Brasil, apresenta vantagens no seu uso, mesmo
formando emulsões mais estáveis, pois esse problema pode ser contornado pelo uso da
centrífuga para a separação de fases. O procedimento experimental proposto neste
trabalho permite a discussão da importância de diferentes rotas de síntese na produção
tecnológica do biodiesel, de conceitos químicos importantes, do uso e vantagens de
fontes alternativas de energia renovável.
5. REFERÊNCIAS

BATISTA, T. N.; MAYNART, M. C.; SUFFREDINI, H. B. Separação eficiente de


glicerol e biodiesel através da utilização de blends de metanol e etanol. II Simpósio de
Iniciação Científica da Universidade Federal do ABC, p.173, 2009.

HEYWOOD, J. B. Internal combustion engine fundamentals New York: McGraw-Hill


Science, 1988.

LÔBO, I. P.; FERREIRA, S. L.; CRUZ, R. S. Biodiesel: parâmetros de qualidade e


métodos analíticos Química Nova v. 32, n. 6, p. 1596-1608, 2009.

MENDES, D. B.; VALDÉS SERRA, J.C. Glicerina: uma abordagem sobre a produção e
o tratamento Revista Liberato, v. 13, n. 20, p. 59-67, 2012.

OLIVEIRA, F. C. C.; SUAREZ, P. A. Z.; SANTOS, W. L. P. Biodiesel: Possibilidades e


Desafios Química Nova na Escola, n. 28, 2008.

PALOMINO-ROMERO, J. A.; LEITE, O. M.; EGUILUZ, K. I. B.; SALAZAR-


BANDA, G. R.; SILVA, D. CAVALCANTI, E. B. Tratamentos dos efluentes gerados na
produção de biodiesel Química Nova v. 35, n.2, p. 367, 2012.

PINTO, A. C.; GUARIEIRO, L. L. N.; REZENDE, M. J. C.; RIBEIRO, N. M.;


TORRES, E. A.; LOPES, W. A.; PEREIRA, P. A. P.; de ANDRADE, J. B. Biodiesel: An
Overview J. Braz. Chem. Soc.v. 16, n. 6B, p. 1313-1330, 2005,

RINALDI, R.; GARCIA C., MARCINIUK, L. L.; ROSSI, A. V.; SCHUCHARDT, U.


Síntese de biodiesel: uma proposta contextualizada de experimento para laboratório de
química geral Química Nova, v. 30, n. 5, p. 1374-1380, 2007.

SANTOS, A. P. B.; PINTO, A. C. Biodiesel: Uma Alternativa de Combustível Limpo


Química Nova Na Escola, v. 31, n. 1, 2009.

SHUCHRDT, U.; SERCHELI, R.; VARGAS, M. Transesterification of Vegetable Oils:


a Review Journal. Brazilian Chemistry Society, v. 9., n. 1, p. 299-210, 1998.

SUAREZ, P. A. Z.; MENEGHETTI, S. M. P.; MENEGHETTI, S. M. R; WOLF, C.R.


Transformação de triglicerídeos em combustíveis, materiais poliméricos e insumos
químicos: algumas aplicações da catálise na oleoquímica Química Nova, v. 30, n. 3, p.
667-676, 2007.
ZUNIGA, A. D. G; PAULA. M. M.; COIMBRA, J. R. S.; MARTINS, E. C. A.; SILVA,
D. X.; TELIS-ROMERO, J. Revisão: Propriedades Físico-Químicas Do Biodiesel
Pesticidas: Revista de Ecotoxicologia e Meio Ambiente, v. 21, p. 55-72, 2011.

* Melina Kayoko Itokazu Hara


Faculdade de Tecnologia Victor Civita – Tatuapé – e-mail: melina.hara@fatec.sp.gov.br
Possui Licenciatura pela Universidade de São Paulo, Bacharelado em Química pela
Universidade Federal de São Carlos, Mestrado e Doutorado em Química Inorgânica pela
Universidade de São Paulo. Atualmente é professora associada da Faculdade de Tecnologia
Victor Civita e professor Instrutor da Universidade Guarulhos. Atua principalmente nas
seguintes áreas: conversão de energia e desenvolvimento de dispositivos moleculares (células
solares e fotointerruptores).
Sustentabilidade: Comparativa Dos Modelos
Energéticos Brasileiro E Espanhol

Xavier Miro Fuentes,1

Introdução:

A Sustentabilidade se pode interpretar de muitas formas, porem a mais


destacável a nível material e a Sustentabilidade Energética, a também
chamada de Autogeração. Esta, tanto pode ser a nível industrial, como os
grandes parques eólicos, ou hidráulicas, ou por ondas do mar; porem existe
uma autogeração a nível comunitário. Esta pode ser realizada por energias
térmicas (solares ou de temperatura do solo), mini eólicas, e de painéis
solares. Neste artigo nos centraremos nestes últimos, todo aportando as
diferencias de um modelo econômico rentável e sustentável, como é o
modelo Espanhol, e compararemos o modelo Brasileiro para ver as
possibilidades de crescimento.

Palavras chave: sustentabilidade, econômico, legislação, solar, mini eólica,


Brasil, Espanha

A sustentabilidade a nível Nacional

A matriz energética global e a forma de resumir as formas quais o ser


humano obtém energia do seu entorno. E tem a energia que se extraem do
gás, do carvão, do petróleo, do água (hidráulica), do sol, do vento,
etecetera. Como todos sabemos, a energia mais utilizada no planeta todo e
a Térmica extraída do carvão e a térmica e veicular extraída do Petróleo,
com um 22% (1).

1Doutorando Energias Renováveis, Universidade de Navarra, UNAV


(Espanha)
FOSIL 2007 2012
gas 1,0%
importaçao 7,9% 6,7%
petroleo 0,28% 0,6%
carvao 1,3% 2,2%
gas natural 3,6% 11,08%
nuclear 2,5% 1,7%
Total 16,6% 22,3%

RENOVAVEIS 2007 2012


Biomassa 3,50% 8,38%
Eolica 0,16%
Hidraulica 77,30% 69,22%
Total 80,80% 77,76%

Consumo 45,2TWh 130,7TWh

O crescimento de população no planeta nas ultimas décadas, seguem a


melhora em conhecimentos médicos, alimentares, e de infraestruturas, que
este aumento da população necessite maiores quantias de energia.,
passando de 45,2TWh no 2007 até os 130TWh no 2012 (1).

O modelo tecnológico de hoje em dia, junto com os hábitos de consumo,


esta aumentando o nível de consumo energético de cada um de nós; com o
qual gastamos mais energia por pessoa que nossos pais ou avoes.

Estas variáveis fazem que o consumo da energia cresceu muito mais do que
a oferta, dai a constante subida dos preços da energia. Se bem e fato as
crescidas do petróleo, como energia dominante, a energia elétrica tem
também acompanhando este crescimento no Brasil, seguem o preço da
energia (2).

Este fator econômico que tem feito que cobre maior imagem o conceito de
‘Sustentabilidade’, tanto para procurar um equilíbrio em geração como
também para ter maior proteção no meio ambiente. Este e um conceito que
esta cobrando importância no mundo inteiro, porem curiosamente
impulsionado pelo fator econômico.

Dai os governos iniciaram planos de ‘diversificação da matriz energética’, e


minimizar o poder que tem o petróleo e carvão (dois produtos que a maioria
são de importação); e se priorizaram presas hidráulicas, e também novas
formas de energia, como são ciclos combinados PCH (incineradoras que
podem utilizar carvão, gás, ou outros combustíveis), usinas eólicas, usinas
de biomassa (bagaço e outros excedentes agrícolas), energias solares.

Dai que se criaram no Brasil a legislação que permitiu isso, como também o
Ministério de Energia iniciou no ano 2004 a traves do Decreto nº 5.025, o
Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica, o também
chamado PROINFA (3).

Dai que o crescimento destas politicas conseguiram que em 2012 se tivera


um 0,16% de energia eólica e solar, e somado ao 69% da hidráulica, temos
um 70% da energia de caráter sustentável e não poluente no Brasil (4).

O modelo Espanhol não foi diferente, porem ao ser iniciado este modelo
com maior antecipação, a energia sustentável na Espanha tem de média um
25,9% em energia eólica, e dependendo das épocas de seca ou vento, a
energia sustentável e não poluente pode chegar ao 95% na Espanha (5).

A sustentabilidade a nível local

O grande sucesso das politicas de energia na Espanha teve uma


consequência econômica para o conjunto do país, e uma grande redução de
preço do custo da energia para os grandes fornecedores nacionais.
Desafortunadamente, isso não tive uma consequência no preço da energia
para os usuários, ainda tiveram o crescimento do preço da energia
progressivo e acompanhando o IPCA.

A sociedade viu como ainda existindo tecnologia para descer preços, estes
não caíram. Dai que empresas privadas iniciaram o processo de
autogerarão, com objetivo de investir em uma tecnologia que a médio e
largo prazo renderia muito mais que colocar o dinheiro no banco.

Para ter uma comparativa, um projeto de 300.000 Euros em tecnologia solar


instalada no teto de uma empresa privada, comparado com o preço da
energia do fornecedor crescendo anualmente junto ao IPCA, e multiplicado
pelo consumo energético dessa empresa privada; facilmente se poderia
recuperar o investimento em 3 ou 4 anos. E todo lembrando que uma
infraestrutura deste tipo, com sua correta manutenção, tem uma esperança
de vida de mínimo 20 anos.

Foram estas contas que ajudaram a grandes e pequenas empresas


espalhadas pela Espanha de investir em energias de autogeração, como as
solares, mini eólicas, térmicas-solares, térmicas de terra, intercambiadores
de calor, pequenos geradores de PCH, minihridraulicas, etecetera,
etecetera, etecetera.

Nesse ponto, e visto que este fator econômico para as empresas se foi
espalhado, foram acompanhando o crescimento tanto fabricantes de
componentes como empresas fornecedoras de serviços, como de
engenharias.

O volumem de negocio cresceu tanto que o Ministério de Industria


Espanhola, iniciou um plano totalmente revolucionário: a partir do ano 2007
no Real Decreto 47/2007, sobre eficiência energética nos prédios novos. Isso
significava que em toda construção nova (indústria, predial... todos)
deveria ter mínimo 10% da energia sustentável e ecológica (6).

Além desta exigência legal para os construtores, também existiam planos


de incentivo para a instalação destes equipamentos, como empréstimos
gerados pelo governo para facilitar este processo (7).

O fatídico do caso e que chegou um fator externo que quebrou totalmente


este crescimento: a crise mundial de 2008.

Esta atingiu a Espanha com grande força, especialmente no setor da


construção, o qual já tenha um processo inflacionista elevadíssimo no efeito
de ‘Bola de Neve’ imobiliária. O impacto foi tão forte que ate hoje em dia
continuam suas consequências. Para encerrar, só indicar que o conceito de
‘sustentabilidade nas casas’ e a ‘autogerarão’ parou na Espanha.

Sustentabilidade e Autogeração no Brasil

No Brasil, o conceito de autogeração e sustentabilidade se deu de forma


pontual em diversas cidades no Nordeste, em especial Fortaleza, com a
utilização de minieolica em pequenas empresas e prédios de nova
construção na cidade.

Esta atitude, com objetivo de aproveitar a tecnologia para reduzir o preço


da energia, junto com o alto nível de consumo de energia no Nordeste
(especialmente motivado pelo clima subtropical e as altas temperaturas,
motivando o uso intensivo dos ar-condicionado) fez que apareceram
fabricantes e empresas de serviços nestas regiões.

Sem uma politica que regulara ou incentivara estas tecnologias, o


crescimento esta sendo pontual.

A nível estadual, os estados do Ceara e após Rio Grande do Norte, geraram


politicas de desenvolvimento. Eles trabalharam em várias frentes: por um
lado, criaram um mercado de subfornecedores de energia (mercado livre)
para que as grandes industrias legalmente não dependeram exclusivamente
dos distribuidores de energia.

Estas leis, ainda foram federais, tiveram mais aplicabilidade no Nordeste,


onde o chamado ‘Mercado Libre’ facilitou a chegada de empresas em zonas
onde os fornecedores de energia não tenham infraestrutura pronta (exemplo
lei nº 9.427 (8)).
Por outro lado, criaram politicas de desenvolvimento em aquelas energias
que PROINFA não incentivou como é o caso da energia solar fotovoltaica.

Para citar um exemplo falaremos do Decreto 30.230 do Estado do Ceara, de


17 de junho de 2010, que institui o Fundo de Incentivo à Energia Solar do
Estado do Ceará – FIES. Este fundo, que teve sucesso em incentivar usinas
solares fotovoltaicas no interior do estado, como também facilitou a
chegada de vários fabricantes deste tipo de tecnologia no estado (9)

Conclusões

Sim a sustentabilidade cresceu no mundo não foi por uma maior


sensibilidade ao meio-ambiente, ou pela mobilização dela cidadania: foi pela
economia e a junção de interesses.

Aproveitando este novo ponto de vista, se podem aproveitar as sinergias


geradas pelas legislações vigentes para fazer mudanças na economia tanto
dos usuários, como dos municípios.

Os grandes problemas de infraestruturas no Brasil, e no especial no


Nordeste, desfavorece ao crescimento e limita as possibilidades de
sustentabilidade do território.

Aproveitando este marco jurídico, modestos investimentos podem fazer a


diferencia, gerando energia para situar empresas, economizar o consumo
energético das prefeituras, facilitar a chegada de água tratada a zonas de
difícil acesso, facilitar o cultivo em zonas carentes, ajudar no
desenvolvimento da sua própria casa ou de sua região......

Lembremos que hoje em dia existe uma causa/efeito muito claro: energia =
tecnologia = desenvolvimento.

Sem energia não faremos nada, e hoje a tecnologia esta pronta. Os


fabricantes cada e em maior numero estão chegando no Brasil. Tem
estados que facilitam o investimento, porem também tem associações ou
empresas que já podem iniciar este processo sem precisar do estado, se
financiando com recursos próprios.

Referencias

(1) Comparativa Matriz Energética Brasileira 2008 - 2012

http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoCapacidadeBr
asil.asp
http://geoalb.blogspot.com.br/2011/08/imagem-e-graficos-da-matriz-
energetica.html

(2) Canal Energia: Preço da Energia (gráfica atualizada diariamente)

http://www.canalenergia.com.br/zpublisher/secoes/home.asp

(3) Site do Ministério de Energia: PROINFA

http://www.mme.gov.br/programas/proinfa/

(4) Matriz Energética Brasileira 2012: porcentagem eólica é hidráulica

http://www.aneel.gov.br/aplicacoes/capacidadebrasil/OperacaoCapacidadeBr
asil.asp

(5) Rendimento energia eólica Espanha

http://www.minetur.gob.es/es-
es/gabineteprensa/notasprensa/documents/npbalanceenergetico280311.pdf

(6) Ministério Industria Espanhol: Real Decreto 47/2007 sobre eficiência


energética para novas construções.

http://www.boe.es/boe/dias/2007/01/31/pdfs/A04499-04507.pdf

(7) Ministério Industria Espanhol: energia solar

http://www.minetur.gob.es/energia/electricidad/regimenespecial/instalacione
s/paginas/fotovoltaica.aspx

(8) Ministério de Indústria Brasileiro: lei nº 9.427, de 26 de dezembro de


1996, para promover a geração e o consumo de energia de fontes
renováveis.

http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?
idProposicao=408664

(9) Governo Ceara: (FIES) Incentiva energia solar fotovoltaica.

http://www.cede.ce.gov.br/leis-e-decretos-fdi/DECRETO%2030.205%20de
%2028%20de%20maio%20de%202010.pdf
Tecnologia e sistemas de processamento de resíduos: um estudo de empresas de
Mato Grosso do Sul

Engº. Agrº. Pablo Terra de Moraes Luizaga*


Msc. Admª. Claudia Moreira Borges*

Resumo
A pesquisa em questão tem como objetivo analisar sistemas de logística reversa de óleos
vegetais residuais e lubrificantes de forma a contribuir com a criação de modelos de negócio,
práticas de coleta e criação de novos produtos no processo de destinação de resíduos. Resíduos
de óleos usados descartados inadequadamente acarretam danos ambientais e encarecimento nos
processos de processamento de água nas unidades de tratamento. Neste contexto surge a coleta
seletiva que possui como propósito a reintegração de materiais junto a cadeia produtiva,
contribuindo com a melhor destinação dos resíduos. O trabalho de coleta inclui diversas ações
paralelas entre realização de parcerias com empresas, prefeituras e a mobilização e
conscientização da sociedade, para engajamento do cidadão no processo, através de educação
ambiental e logística reversa. Ainda que em fase inicial de execução, já é possível encontrar
casos e resultados de empresas em alguns municípios em Mato Grosso do Sul (MS). Para
realização desta pesquisa será aplicado um estudo multi caso, utilizando como unidade de
análise os sistemas criados pelas empresas Biocar, Eucalyptus Agroflorestal e Girux Ambiental
para coleta, processamento, mobilização e conscientização, por meio de dados qualitativos e
quantitativos coletados junto aos seus dirigentes (entrevista e análise de relatórios e
documentos). Foram analisadas estratégias utilizadas, formas de implementação, atores
envolvidos e resultados gerados de forma a comparar os diferentes ambientes e implicações para
as regiões atendidas e influenciadas pelos empreendimentos. Essas empresas possuem uma rede
de relacionamentos que conta com agentes de mobilização para educação e conscientização
ambiental, prefeituras, empresas e entidades do terceiro setor. Embora tenham algumas
distinções entre si, devido a escala e públicos diferenciados, suas iniciativas contribuem para
formação de cidadãos preocupados com o meio em que vivem, promovem a inclusão social por
meio da geração de empregos, renda e abertura de novos mercados para exploração em suas
regiões de atuação. As empresas Biocar e Girux Ambiental possuem uma planta para
processamento dos resíduos: a primeira trabalha especificamente com biodiesel e conta
diretamente com a parceria da Eucalyptus Agroflorestal e indiretamente com seus agentes
mobilizadores para manter constante o fluxo de matéria-prima para produção de biodiesel; e a
segunda, Girux Ambiental, trabalha com a coleta dos resíduos de óleo vegetal, óleo lubrificante,

**Engenheiro Agrônomo Pela Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul(UEMS), Bolsista de


Extensão Pelo CNPq. LUIZAGA, Pablo Terra de Moraes ; BORGES, Cláudia Moreira (2012). Parcerias e
Mobilização para Conscientização Ambiental: Estudo de Caso de uma Empresa de Amambai, Mato
Grosso do Sul. http://sustentabilidade.cchs.ufms.br/wp-content/uploads/2012/10/ES022.pdf E-mail:
ali.pablo.luizaga@gmail.com

**Bacharel em Administração pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) e Mestre pela
Universidade de São Paulo (USP), Diretora Executiva da Empresa Verde Azul - Sustentabilidade e
Inovação e Bolsista de Extensão pelo CNPq BORGES, Claudia Moreira ; MARTINELLI, Dante,
Pinheiro. Análise do Programa dos Minidistritos: novos enfoques na avaliação de políticas públicas.
Cadernos Gestão Pública e Cidadania, v. 14, p. 129-148, 2009. MANTOVANI, Daniele Lucena da Silva ;
BORGES, Claudia Moreira . Comportamento Empreendedor e Práticas de Orientação para o Mercado no
Contexto das Pequenas e Médias Empresas. RPA Brasil (Maringá), v. 3, p. 59/70, 2006. E-mail:
orientadora.claudia.borges@gmail.com
embalagens plásticas, venda de lubrificantes e graxas nas linhas industrial, automotiva e
agrícola. Como empresa pioneira no ramo, utiliza como estratégia certificado para comprovar
que o resíduo está recebendo o destino adequado. Nota-se que a atuação das empresas Biocar e
Girux são pioneiras na coleta de óleo residual em MS. Ambas possuem atuação nacional
produzindo com níveis de qualidade aceitável em diversos mercados, além de apresentarem
estratégias e resultados envolvendo mobilização, educação ambiental e diminuição do impacto
ambiental.

Palavras Chaves: Modelo de Negócios, Sustentabilidade, Resíduos, Empreendedorismo


Socioambiental

Abstract
This research project aims to analyze reverse logistics systems for waste vegetable oils and
lubricants, in order to contribute to the creation of business models, collection practices and the
creation of new products in the process of waste disposal. Waste oils improperly discarded cause
environmental damage and increased costs in the processes of water treatment. In this context,
there is the selective collection, which has as its purpose the reintegration of materials along the
supply chain, contributing to a better waste disposal. The collection work includes several
parallel actions, such as partnerships with businesses, municipalities and mobilization and
awareness of society for citizen engagement in the process, through environmental education,
and reverse logistics. Although in the initial stage of implementation, it is possible to find results
in companies at some municipalities of Mato Grosso do Sul (MS). For this research it will be
applied a multi case study, using as unit of analysis the systems created by the companies
Biocar, Eucalyptus Agroflorestal and Girux Ambiental for collecting, processing, mobilization
and awareness, through qualitative and quantitative data collected from their leaders (interview
and analysis of reports and documents). Strategies used, ways of implementation, stakeholders
and results generated were analyzed in order to compare the different environments and
implications for the regions served and influenced by these enterprises. These companies have a
network of relationships that includes mobilization agents for environmental education and
awareness, municipalities, businesses and third sector entities. Although there are some
distinctions between them, due to different scale and audiences, their efforts contribute to the
formation of citizens concerned about the environment they live in, and promote social
inclusion through the creation of jobs, income and the opening of new markets for exploitation
in their areas of expertise. The companies Biocar and Girux Ambiental have a plant for
processing waste: the first works specifically with biodiesel and counts on the direct partnership
of Eucalyptus Agroflorestal and indirectly on their mobilizing agents to maintain a constant
flow of raw material for biodiesel production; and the second works with the collection of waste
vegetable oil, lubricating oil, plastic packaging and in the sale of lubricants and greases in
industrial, automotive and agricultural lines. As a pioneer in the business, it uses as a strategy a
certificate to prove that the residue is receiving the appropriate destination. Note that the
performance of companies Biocar and Girux is a pioneer in the collection of waste oil in MS.
Both have national reach, producing with acceptable levels of quality in various markets, and
offer strategies and results involving mobilization, environmental education and reduction of
environmental impact.

Keywords: business model; sustainability; waste; environmental entrepreneurship

Introdução
O século XX foi marcado pela industrialização e migração da população da área
rural para os centros urbanos, que possibilitou o desenvolvimento tecnológico e o
aumento de renda baseado no consumo além do necessário à satisfação das necessidades
humanas.
Dados apontados por Neto e Moreira (2010) mostram que são gerados
aproximadamente 2 milhões de toneladas de resíduos sólidos diariamente no planeta,
alcançando uma marca de 720 milhões anuais. Diante deste panorama, houve a
necessidade de repensar o descarte dos resíduos sólidos em áreas urbanas, uma vez que
a qualidade de vida está diretamente ligada ao meio em que se vive (SILVA;
GONÇALVES, 2012).
Após 61 anos do primeiro alerta público 1 do risco deste modelo de
desenvolvimento baseado na Revolução Industrial, foi possível concluir que ele era
inviável, sob aspectos ambientais e posteriormente econômicos, uma vez que a
utilização exagerada de determinado recurso finito tende a torná-lo mais caro (GROSSI,
2012).
Abramovay (2012) revela que na recuperação da economia mundial frente à crise
de 2007/2008 foi observado um aumento da intensidade da utilização do carbono. Em
2011, foi constatado um aumento de 41% na extração de materiais da superfície
terrestre, seguido por um aumento de 39% nas emissões de gases do efeito estufa.
Este mesmo autor apresentou ainda um cálculo realizado por uma empresa de
consultoria conhecida mundialmente no qual foi atribuído um valor econômico ao
impacto do uso predatório destes recursos, que, se fosse levado em consideração no
lucro das três mil maiores empresas globais de capital aberto, este cairia pela metade.
Desde a década de 90 a Organização das Nações Unidas (ONU) iniciou medidas
para atenuar a interferência antrópica na atmosfera terrestre visando promover a
estabilização da concentração de gases causadores do efeito estufa.O objetivo maior
era fazer com que os 38 países mais industrializados do mundo reduzissem sua emissão
em 5,2% entre os anos de 2008 a 20122.
Na esteira destes acontecimentos, no Brasil foi concebido um novo marco
regulatório para o problema da destinação adequada dos resíduos sólidos, que,
idealizado no início dos anos 90, foi aprovado 20 anos depois, sob o nome de Política

11 Primavera Silenciosa, ou Silent Spring, de Rachel Louise Carson, de 1962, deu origem ao movimento
ambientalista que ecoa até os dias atuais. A última movimentação deste grupo culminou com a realização
da Conferência de Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro, em 2012.

22 Conferência das Nações Unidas realizada em 1997 na cidade de Kyoto onde seu resultado foi a
criação do Protocolo de Kyoto.
Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) – Lei n. 12.305/2010, aprovada em dezembro
daquele ano.
Em Mato Grosso do Sul é possível observar algumas iniciativas que contribuem
para a execução da PNRS, através de projetos de pesquisa que testam a presença de
resíduos de borracha em produtos da construção civil, produção de biodiesel através de
óleos residuais e criação de novos produtos a partir de resíduos de rochas ornamentais.
Todavia, três empresas que dão destino a óleos residuais merecem destaque por sua
atuação, devido ao empreendedorismo socioambiental e a iniciativas em rede que
fomentam a criação de um novo modelo de negócio convergindo para a geração de
valor sustentável.
Diante do exposto, pretende-se analisar os sistemas de processamento de óleos
residuais e suas tecnologias bem como a geração de valor sustentável de seus modelos
de negócios. Para isso será realizado um estudo multicaso de empresas do estado de
Mato Grosso do Sul visualizando o potencial de negócio utilizando como insumo óleos
residuais.

Referencial Teórico
Com o intuito de identificar benefícios da logística reversa para a cadeia de valor
de uma empresa, entende-se que a adoção desta prática pode representar redução de
custo e geração de novo valor aos clientes e que embora nem todos resíduos sejam
passíveis de reaproveitamento, devido sua viabilidade econômica e a características
intrínsecas, em algum momento podem tornar as empresas mais competitivas (Souza e
Fonseca, 2008).
Siqueira (2013), examinando os dispositivos legais do Plano Nacional dos
Resíduos Sólidos (PNRS), ressalta que a responsabilidade dos resíduos gerados deve ser
compartilhada entre fabricantes, importadores, distribuidores , comerciantes, dos
consumidores e dos titulares dos serviços públicos de limpeza urbana e de manejo dos
resíduos sólidos. Nesta mesma linha de pensamento Santos et. al, (2011) evidencia que
a PNRS formalizou um novo mercado, contribuindo para inclusão social, uma vez que
as empresas necessitarão incluir em seus negócios a destinação adequada de resíduos
sólidos.
No ambiente empresarial, ainda há muitas ressalvas em conciliar o
desenvolvimento sustentável com a geração de valor para as partes interessadas. Neste
sentido, Figueiredo (2011) analisando a correlação entre resultado operacional e
programas ambientais de 52 firmas entre os anos de 1999 e 2007, encontrou resultados
positivos, porém com o adendo de que este não foi alcançado no curto prazo. Talvez a
pressão por resultados de curto prazo interfira na tomada de decisão dos gestores a
investimento dessa natureza.
Embora muitos demorem a perceber que a sustentabilidade pode representar
oportunidades estratégicas de negócios, observa-se alguns avanços; grandes empresas
como Chevron, Dow e 3M reduziram suas emissões de carbono e consequentemente sua
utilização de matéria-prima, através de programas de combate à poluição (HART e
MILSTEIN, 2003).
Em uma perspectiva crítica, Donaire (1994) afirma que a presença da questão
ambiental na estrutura organizacional das empresas será cada vez mais exigida dos
empresários, e, com isso, um posicionamento responsável, ético e especializado.
A sustentabilidade não pode ser identificada como custo e sim como um marco
para toda a inovação. Empresas que pautam suas ações e estratégias nesta vertente,
inovação e sustentabilidade, estão garantindo sua vantagem competitiva. Isso significa
repensar modelos de negócio, bem como produtos, tecnologias e processos. Tornar-se
“sustentável” envolve estágios e processos de evolução; e cada um possui o seu próprio
desafio em termos de gestão.
Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2005) afirmam que uma empresa para
inovar com o foco na sustentabilidade, precisa passar por algumas etapas que
caracterizam o seu modelo de negócio e sua forma de identificar oportunidades de se
organizar. Entre as etapas estão: a) normas regulatórias como oportunidades; b) criação
de cadeias de valor; c) produção de produtos sustentáveis; d) desenvolver novos
modelos e captação de receita, de forma a desafiar o mercado; e) inovação que
questione o modelo de negócio atual. Todas estas fases incluem uma evolução gradual
do envolvimento e do comprometimento das empresas com a sustentabilidade.
Os primeiros passos para trilhar os caminhos da sustentabilidade surgem a partir
da lei. Os regulamentos servem como base para as organizações, mas o nível de
complexidade varia dependendo do local onde se está atuando. Além disso, existem
normas ou códigos que as empresas se sentem pressionadas a cumprir voluntariamente.
Após o cumprimento das normas, as empresas tornam-se mais proativas e passam
a concentrar-se na redução do consumo de recursos renováveis e não renováveis. A
eficiência nas operações acontece desde suas instalações até o processo de fabricação de
seus produtos. O objetivo é criar uma imagem e ao mesmo tempo reduzir custos e gerar
novos negócios.
No terceiro estágio, a preocupação maior é desenvolver produtos com baixo
impacto social e ambiental. Substituição de componentes sintéticos por componentes
naturais, ou de recursos não renováveis por recursos renováveis, assim por diante. Neste
contexto, realizar parcerias com outras empresas, organizações e institutos de pesquisa
pode ser uma estratégia adotada para o desenvolvimento de novos produtos.
No penúltimo estágio, algumas empresas têm desenvolvido novos modelos
simplesmente perguntando, em momentos diferentes, o que seu negócio deve ser.
A maioria dos executivos assumem que a criação de um modelo de negócio
sustentável implica simplesmente repensar a proposição de valor para o cliente e
descobrir como entregar um novo modelo. No entanto, modelos de sucesso incluem
novas formas de captura de receitas e prestação de serviços em conjunto com outras
empresas.
Etapas e processos bem geridos auxiliam na geração de receitas adicionais a partir
de melhores produtos ou permitem que as empresas criem novos negócios. Empresas
preparadas e com preocupação em investir nestas duas áreas tratam a sustentabilidade
como fronteira para outra inovação (Nidumolu, Prahalad e Rangaswami, 2005).
No último estágio, as práticas empresariais mudam os paradigmas existentes,
questionando os métodos e premissas atuais.
No II Simpósio de Gestão Empresarial e Sustentabilidade realizado pela
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul no ano de 2012, constatou-se a
manifestação de esforços pioneiros de empresas e pesquisadores em dar destinação
adequada de resíduos dos segmentos automobilístico, da construção civil e dos óleos
residuais, conforme apresentado a seguir:
Pereira, Borges e Garcez (2012) discorreram a respeito da reutilização de resíduos
de rochas ornamentais utilizadas na construção civil e verificaram que estes possuem
potencial de aproveitamento total para tintas e revestimentos imobiliários, garantindo
que parte dos resíduos de construção civil não sejam diariamente despejados nos aterros
sanitários de Campo Grande (MS).
Ferreira e Borges, (2012) discorreram a respeito da formulação de estratégias
inovadoras para uma empresa que utiliza chips de borracha, oriundos de pneus
inservíveis, na alimentação de caldeiras industriais. Os autores concluem que esta
iniciativa diminui o impacto ambiental na sociedade e ainda possui potencial de
aproveitamento não explorado, sendo necessário o fomento de projetos de pesquisa
com este intuito.
Levando em consideração o descrito anteriormente, Bertocini e Carneiro (2012)
avaliaram as propriedades físicas de blocos de concreto vazados simples para alvenaria
estrutural com adição de borracha triturada, comparando-os com as exigências da
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Os autores verificaram que o bloco
resultante atende as exigências da norma brasileira 6136 3.
Luizaga e Borges (2012) relataram o caso da empresa Eucalyptus Agroflorestal
que iniciou um trabalho no município de Amambai e região para evitar o descarte de
óleo vegetal na rede de esgoto através de parcerias para conscientização ambiental da
população e da região.
No tocante à destinação adequada dos óleos residuais, no âmbito de Mato Grosso
do Sul, foi possível perceber um modelo de negócio socioambiental inovador, em que
três empresas iniciavam um processo de logística reversa deste resíduo, valendo-se do
surgimento de políticas públicas como a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS)
e o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPUB).
Esta iniciativa avança em um processo de captação de novos valores e
desenvolvimento de coprodutos que culmina com uma nova cadeia produtiva dentro da
visão de Hart e Milstein (2003) quanto ao modelo de desenvolvimento baseado no three
bottom line, o qual tem de ser socialmente justo, sustentável do ponto de vista ambiental
e economicamente viável.

Procedimentos metodológicos
A abordagem utilizada para a pesquisa foi a exploratória, a qual é utilizada quando
se pretende conhecer mais sobre algum assunto (HAIR et al., 2005). Utilizou-se essa
abordagem devido ao fato de o presente artigo descrever o surgimento e o impacto dos
novos modelos de negócios socioambientais no estado de Mato Grosso do Sul. Foram
utilizadas recomendações conforme Yin (2000) que incluíram: clareamento do problema
a ser investigado; estrutura de coleta de dados; analises e comparações com teorias e
modelos; conclusões e limitações.
O intuito deste artigo é descrever a prática de logística reversa de óleos vegetais
residuais e lubrificantes usados pelas empresas Eucalyptus Agroflorestal, Biocar e Girux

3 NBR 6136 Dispõe de parâmetros desejados para Blocos Vazados Simples para Alvenaria Estrutural.
Ambiental, localizadas no estado de Mato Grosso do Sul. Para isso será realizada
análise de estratégias utilizadas, formas de implementação, atores envolvidos e
resultados gerados de forma a comparar os diferentes ambientes e implicações para as
regiões atendidas e influenciadas pelos empreendimentos.
Na Seção 1 deste artigo, buscou-se contextualizar o leitor a respeito da
problemática e apresentar os objetivos da pesquisa; na Seção 2, foi apresentado o
arcabouço teórico que sustenta este estudo, bem como as iniciativas que estão em
andamento no estado de Mato Grosso do Sul; na Seção 3, foi demonstrado o método
utilizado para realização do presente estudo; na Seção 4, apresentou-se análise dos casos
e algumas comparações com outros trabalhos, na Seção 5 as conclusões e considerações
a respeito deste estudo.

Análise dos Casos


A empresa Biocar foi fundada em 2006, com inicio das operações em 2009, no
município de Dourados. A indústria está habilitada a produzir biodiesel utilizando
gorduras animais, óleo residual de fritura e de vários vegetais oleaginosos como a soja,
o girassol e o algodão. A planta possui capacidade de produção de 1 milhão/litro/mês,
sendo que hoje utiliza metade desta capacidade.
Com relação ao óleo saturado, principal matéria-prima, a coleta é realizada em
diversas regiões do país (SP, RJ, ES, PR e MS), e seu processamento resulta na
fabricação do biocombustível. A iniciativa é vista pela empresa como uma questão de
responsabilidade social e ambiental, que inclui a diminuição do impacto ambiental e a
realização de parcerias com empresas, prefeituras e organizações para coleta e
realização de projetos de educação ambiental.
Desde sua fundação, a empresa construiu uma rede que facilita o acesso à matéria-
prima essencial à produção do biodiesel. Tendo como atividade fim a produção do
combustível, a empresa percebeu que o sucesso do empreendimento envolveria dois
grandes fatores: contrato firmado com empresa compradora (Petrobras); e criação de
rede de fornecimento contínua. Desta forma, desde o inicio a empresa incentivou e
auxiliou empresários e profissionais locais que pudessem realizar o trabalho de
mobilização, conscientização e recolhimento do óleo para venda à empresa. Ao todo
foram criadas 5 empresas, localizadas em diversos estados do Brasil com mais de 100
eco-pontos localizados estrategicamente para o recolhimento. Uma das empresas
incentivadas pela Biocar é a Biosul, empresa participante do grupo Eucalyptus
Agroflorestal.
O grupo empresarial Eucalyptus Agroflorestal, fundado em 2011 em Amambai,
que atua com plantio, compra e venda de eucalipto, enxergou uma oportunidade de
negócio com a coleta de óleo residual para fornecimento à Biocar. Para o
aproveitamento desta oportunidade a empresa fundou uma subsidiária que chamou de
Biosul.
A estratégia utilizada inclui planos de conscientização e educação ambiental com
raio de atuação em toda região Sul do estado. Para melhor aproveitamento das palestras
de sensibilização, a empresa adotou uma prática inovadora de oferecer um benefício
em troca do óleo residual.
A iniciativa já possui ações desenvolvidas na região fronteiriça do estado de Mato
Grosso do Sul, nas cidades de Amambai, Ponta Porã, Mundo Novo, Tacuru, Paranhos e
Coronel Sapucaia, que captam o total de 10.400 litros de óleo residual por mês. No
momento a empresa busca parcerias para o desenvolvimento de ações em Caarapó,
Naviraí e Juti.
A empresa Biosul possui uma rede de parceiros, que está em constante expansão,
envolvendo prefeituras dos municípios supracitados, ONG's, empresas do segmento
alimentício e avança para uma parceria com uma grande cooperativa de grãos.
Recentemente a empresa aderiu ao Programa Agentes Locais de Inovação -
Parceria SEBRAE/CNPq/FUNDECT - de acordo com o qual a empresa busca inserir
soluções inovadoras em seu contexto, visando potencializar sua capacidade de atuação.
Na visão de Jacobi (2003), o trabalho desempenhado pelas empresas acima
permite a população atingida inicie uma reflexão acerca das práticas sociais que
degradam o meio ambiente, para que com isso ocorra uma transformação de poluidores
potenciais para um cidadão que tem a plena consciência que o maior responsável pela
degradação do meio ambiente é o próprio homem.
A capilaridade da rede criada pela empresa Biocar permite que a empresa capte
resíduo de 5 estados, garantindo um fluxo considerável de óleo usado para sua produção
de biodiesel. Neste sentido Costa, Oliveira e Henriques (2003), estudando a viabilidade
econômica da produção de biodiesel a partir de diversos insumos, verificaram que o
combustível resultante de óleos residuais possui um custo de produção menor quando
comparado ao originado de óleos virgens como o de babaçu, mamona e soja.
Tais observações evidenciam que a indústria transformadora possui um amplo
leque de opções para captação de matéria-prima para produção do combustível, seja
através da agricultura familiar, por meio de programas governamentais de apoio, ou da
utilização de óleos vegetais residuais captados junto à população.
A Girux Ambiental, fundada em 2006 na cidade de Campo Grande, além da coleta
do óleo vegetal, trabalha com embalagens de lubrificantes usadas, óleos lubrificantes
usados, embalagens plásticas, lubrificantes e graxas nas linhas industrial, automotiva e
agrícola. Empresa pioneira no ramo, a Girux foi recentemente adquirida pela Empresa
Química ProluMinas. Dentre os estados atendidos pela coleta, destacam-se Mato Grosso
do Sul, Mato Grosso, Goiás, Paraná, Rondônia, São Paulo e Pará. Os volumes de coleta
mensais na soma destas regiões, alcançam a casa de aproximadamente 750.000 litros
por mês de óleo lubrificante e 20 mil litros por mês de outros resíduos.
A própria empresa faz a coleta e o processamento de resíduos, sendo que alguns
são processados em Campo Grande e outros enviados para a fábrica em Cuiabá(MT).
Em regime de comodato, a empresa disponibiliza bombas para armazenamento do óleo
lubrificante. Entre os principais locais para efetuar as coletas das embalagens usadas,
destacam-se: Postos Abastecimento e Serviços; Oficinas mecânicas; Super Trocas;
Grandes Consumidores (Frotas Automotivas); Concessionárias de automóveis e
motocicletas; Atacadistas (Revendas distribuidoras de produtos lubrificantes).
Além da coleta, a empresa faz o processamento para geração de outros produtos.
No processo de descontaminação das embalagens são gerados volumes de óleo
lubrificante e graxa que são enviados à refinaria de Cuiabá (MT) para processo de refino
e reutilização como óleo lubrificante. Nos casos em que não há necessidade de refino, o
material é enviado à fábrica de Campo Grande e utilizado como espessante na
fabricação de graxas chassi.
Analisando os três casos em questão, nota-se que ambas as empresas nasceram da
oportunidade incentivada/criada pelo surgimento de normas ambientais regulatórias.
Isto acontece por que investir em ações relacionadas à logística reversa interna mostra-
se custoso, demandando tempo, pesquisa e ações direcionadas, sendo mais benéfico
terceirizar para empresas a coleta e o destino adequado.
As empresas Biocar e Girux percorreram as etapas de criação de valor
posicionando-se na fase 3, de criação de produtos sustentáveis. São empresas que estão
investindo em parcerias para melhoramento dos produtos e/ou ampliação de seu
portfólio; enquanto que a empresa Eucalyptus Agroflorestal, até por ter menos tempo de
mercado, encontra-se na fase 2, criando redes e buscando diminuir custos logísticos.

Conclusão

O intuito do artigo foi identificar casos de empresas que utilizam o


processamento de resíduos sólidos, especificamente óleo residual e lubrificantes, como
fonte de oportunidade de negócio para geração e agregação de valor ao modelo de
negócio.
Analisando os casos das empresas Biocar, Eucalyptus Agroflorestal e Girux,
pôde-se identificar diferentes estratégias para a implementação de ações de coleta,
processamento e criação de produtos com o objetivo de reaproveitar resíduos de
diferentes cadeias produtivas. Essas empresas aproveitaram a oportunidade para utilizar
ações educacionais e de mobilização no que se refere à coleta de resíduos. É feito todo
um trabalho de conscientização para que os parceiros e clientes atuais possam ter de
forma clara os benefícios que provêm deste trabalho. Porém, todos mencionaram que
uma das maiores dificuldades é a mudança de comportamento, mesmo levando em
consideração a necessidade de cumprir normas e leis.
Identificando as fases de evolução em termos de estratégia e modelo de
negócios, de acordo com o trabalho de Nidumolu, Prahalad e Rangaswami (2005), as
empresas Biocar e Girux estão preocupadas em oferecer produtos mais ambientalmente
corretos, e a busca por parcerias e alternativas de desenvolvimento parece estar
presente, diferentemente da Eucalyptus Agroflorestal, que está na fase de consolidação
da cadeia de valor. É importante lembrar que esta é a única entre as empresas que não
atua no processamento do óleo residual coletado e, sim, na mobilização e coleta para
comercialização para a empresa Biocar. Apesar disso, é a única a participar de um
programa cujo propósito é incentivar a inovação (Programa dos Agentes Locais de
Inovação).
Esta pesquisa contém algumas limitações, quais sejam: na coleta dos dados,
mesmo utilizando procedimentos específicos, nem todas as empresas possuíam dados
concretos e consolidados dos resultados alcançados. Na realização de parcerias,
mobilizações e impactos gerados com relação à analise dos aspectos de processamento e
tecnologia, ainda existem ações a serem implementadas para redução dos impactos
ambientais, na busca por um produto/serviço mais ecofriendly.
Que outros casos sejam levantados para disseminar boas práticas de
empreendedorismo socioambiental e analisados em diferentes momentos para
identificar mudanças no modelo de negócio.
Como sugestão para futuras pesquisas, recomenda-se que este caso seja
acompanhado de perto para posterior disseminação de práticas de sucesso que possam
colaborar para o cumprimento das legislações relacionadas ao meio ambiente.

Agradecimentos

Ao CNPq e SEBRAE-MS por apoiar realização de pesquisas na área de inovação.


As empresas Biocar, Girux Ambiental e Eucalyptus Agroflorestal LTDA por fornecer os
dados para a realização deste estudo.

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Site: http://www.joseramalho.eu/ desenvolvimento sustentável, neste momento, é a
Email: ramalho1@gmail.com
consultor@joseramalho.eu questão prática de fazer acontecer a transição para
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Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias em Portugal. 2012a:5).

A questão da participação e envolvimento das pessoas na definição e implementação de


processos de transição para a sustentabilidade tem vindo a tornar-se um tema de grande
relevância, tanto para a investigação académica como para as instituições nacionais e
internacionais (e.g. Nações Unidas, União Europeia). Devido à sua relação de
proximidade com as pessoas e ao facto de, pela sua legitimidade, se constituir como um
agente fundamental na adoção de novos paradigmas de desenvolvimento, o papel da
administração local ganha renovada relevância, particularmente e na mobilização das
comunidades para as mudanças a efetuar. A própria Constituição da República
Portuguesa, nos seus Princípios fundamentais, concretamente no Artigo 2.º - Estado de
direito democrático -, visa “…a realização da democracia económica, social e cultural e
o aprofundamento da democracia participativa...” nomeadamente através do poder local,
Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia, que são os órgãos do Estado que estão mais
próximos das populações.

Mas o que mostram os dados empíricos é que as práticas participativas na administração


local são muito ineficientes, conforme atestam os resultados do questionário que
exploraremos neste trabalho e que foi aplicado às Freguesias do Distrito de Lisboa. Na
realidade, os mecanismos de participação que existem na administração local são, por
várias razões, ineficazes e obsoletos e não atingem os alvos que deveriam atingir,
afastando as pessoas dos processos participativos.

Neste trabalho, pretende-se dar um contributo para a identificação de aspetos positivos e


negativos sobre a implementação de “boas práticas” de sustentabilidade numa autarquia
local, numa perspetiva assente em cinco dimensões – Governança, Economia,
Cidadania, Social e Ambiente – inspiradas na ENDS (Estratégia Nacional para o
Desenvolvimento Sustentável), com enfoque nas vantagens da interligação e
participação dos atores institucionais e individuais das esferas social, económica,
cultural e política.

Palavras-chave: Gestão, Autarquia, Desenvolvimento Sustentável, Participação.

1
Este trabalho é parte integrante da tese de mestrado em Gestão Autárquica defendida pelo primeiro
autor, em Janeiro deste ano, no ISEC (Instituto Superior de Educação e Ciências).
Introdução:

A promoção e a implementação de processos participativos têm colocado vários


desafios às instituições da administração pública, nomeadamente no que respeita à
necessidade de construir novas formas de interatividade que promovam e facilitem a
participação das pessoas e que resultem na institucionalização de procedimentos
sistematizados de apoio à decisão e à formulação de políticas públicas.

A responsabilidade de conseguir uma forma de vida sustentável é universal, envolve


cada cidadão e requer que toda a sociedade aceite e intervenha nesse esforço de
mudança (Castells 2004). A defesa dos interesses comuns, presentes na riqueza natural e
social de uma comunidade, deve ser o mote para a partilha das responsabilidades e a
razão para a implementação de medidas operacionais de transição para a
sustentabilidade (Costa 2012), ou seja, para uma melhor qualidade de vida dos atuais e
futuros cidadãos.

Na perspetiva do aperfeiçoamento económico local, ao valorizar o papel das cidades


como motores fundamentais de desenvolvimento e internacionalização, tornando-as
mais atrativas e sustentáveis, de modo a reforçar o papel do sistema urbano nacional
como dinamizador do conjunto do território (Lopes 2011). Países, concelhos e cidades
passam por períodos prolongados de debilidade económica: desequilíbrio comercial,
dívidas cada vez maiores, inflação elevada e desemprego. As fraquezas económicas
geralmente medidas pela perda de população, pelo alto índice de desemprego, pela
queda de receitas e dos investimentos, estão ligados à sorte das indústrias, dos recursos
e produtos do local.

Por razões diversas, de que se destacam crises sucessivas, económicas e de poder, o


direito de participação e o dever de cidadania têm sido arredados do consciente de cada
um, embora exista um sentimento comum para a procura de um novo modo de
governação, uma pretensão muito discutida e ensaiada em vários pontos do mundo. Este
desejo está exemplarmente expresso na Declaração do Milénio das Nações Unidas e do
Consenso de Monterrey, onde se destaca a importância da governança para o
desenvolvimento sustentável. Neste contexto entendemos que qualquer medida de
sustentabilidade, para ser implementada, terá de acontecer sempre num qualquer local e,
por isso, as intervenções que envolvam um conjunto significativo de parceiros públicos
e privados, numa lógica de mobilização de atores diversos em torno de um projeto de
cidade, são propostas em que a questão do Governo Local ganha uma importância
acrescida.

Vários desafios se têm vindo a colocar às instituições públicas, nomeadamente quanto à


necessidade de definir novos modelos de interatividade com o cidadão que permitam
aprofundar e compreender uma relação, por vezes complexa (Mozzicafreddo 2007). A
implementação da sistematização regulada de procedimentos numa organização
assume-se como um projeto de validação dos atos administrativos praticados pelos
órgãos autárquicos, o que se verifica ser insuficiente. As organizações não podem ficar
apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia
para o cidadão, sob pena de se perder o fio condutor da compreensão de um
relacionamento complexo.

Perceciona-se a necessidade de encontrar respostas para as necessidades dos cidadãos e


das organizações da sociedade civil e das instituições públicas do aparelho do Estado.
Torna-se imperativo pensar em cultura de qualidade como vetor chave da modernização
administrativa e como forma de maximizar a probabilidade de sucesso dos
compromissos assumidos, para que a organização se habilite a aprender e a adaptar-se
ao meio ambiente com ética e transparência. (Azevedo 2007).

Nesta nova era em que a administração local ganha renovada relevância, ouvir e
interpretar as pretensões dos cidadãos e criar mecanismos de cidadania participativa,
formais e informais, numa administração pública mais transparente, facilitadora do
acesso dos cidadãos e do tecido económico aos serviços públicos é uma via
indispensável ao cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento
sustentável definidos, de-cima-para-baixo, nomeadamente pela União Europeia e pelos
seus estados membros. (Abreu 2002, Costa 2012).

Assim, poderemos concluir que, de facto, são necessários novos modelos de


sustentabilidade territorial. É, igualmente, relevante, quando se pensa em novos
modelos de desenvolvimento local sustentável, lembrar que a Democracia é, no seu
fundamento, a relação entre cidadãos e a efetiva relação de comunicação com o seu
representante eleito.
O trabalho empírico:
Com o objetivo de analisar as políticas e modelos de gestão das autarquias no Distrito
de Lisboa, deu-se especial atenção à forma de interação com a população. Foram
enviados 226 questionários para as caixas de correio eletrónico oficiais das Freguesias
constantes na listagem da Delegação Distrital de Lisboa da ANAFRE.

Metodologia:
A EDS (Estratégia para o Desenvolvimentos Sustentável) institui, por um lado, o
funcionamento em rede e, por outro, sugere uma linguagem de comunicação adequada à
promoção e envolvimento de cidadãos e de agentes de desenvolvimento local, numa
lógica de economia solidária e de democracia global, considerados comummente como
essenciais para a satisfação das necessidades públicas e de promoção da liberdade de
escolha dos cidadãos.

De forma a tornar percetível uma leitura do global para o local e, ao mesmo tempo,
permitir uma leitura sobre o estado de ‘Sustentabilidade’ do território político-
administrativo, no conspecto de uma autarquia local, sugere-se a interpretação a seguir
descrita (quadro 1), como forma de relacionar as medidas propostas na ENDS com a sua
aplicação na instituição que rege a sua ação, com base na satisfação dos interesses da
comunidade que representa.
Quadro 1 – as cinco dimensões inspiradas na ENDS
Governança Monitorizar a consistência entre políticas e o desempenho da autarquia.
Economia Monitorizar a Execução Orçamental.
Social Monitorizar as dinâmicas de concretização para a coesão social.
Ambiente Monitorizar a pegada ecológica da comunidade
Cidadania Monitorizar a dinâmica organizada dos cidadãos
(Gonçalves 2013)

Para desenhar uma ferramenta que ajudasse a avaliar a sustentabilidade das


organizações autárquicas, foi feita uma pesquisa ao existente e, em Portugal, não
conseguimos detetar nenhuma ferramenta adequada aos objetivos propostos para este
trabalho.

Assim, de acordo com as premissas acima, elaborou-se um inquérito com o objetivo de


auscultar a opinião dos autarcas de freguesia do distrito de Lisboa. Optou-se pela
construção de uma ferramenta com o formato de inquérito, procurando compreender,
qual a importância da participação no desenvolvimento sustentável das comunidades,
partindo dos seguintes objetivos:

Objetivo 1 - Caracterizar os objetivos de gestão, com enfoque principal nos mecanismos


de interatividade com a população; qual o número de presenças de cidadãos nas sessões
públicas organizadas pela freguesia; que mecanismos de controlo, sobre a gestão e sobre
medidas orientadas para a sustentabilidade, estão implementados nas freguesias do
Distrito de Lisboa.

Objetivo 2 – Caracterizar necessidades, sentidas pelos autarcas, de mecanismos


geradores de envolvimento do cidadão. Para tal, deixou-se uma questão, de espaço
aberto, para sugestão de propostas de criação de estruturas (formais e informais) de
interatividade com a população.

Partiu-se, também, do pressuposto de que sustentabilidade corresponde a medir e


revelar a responsabilidade perante as partes interessadas, internas e externas (cidadãos e
organizações da sociedade civil, fornecedores e colaboradores), “bem como da análise
intra e intergerações das diversas componentes que integram o projecto de
desenvolvimento participado” (Bilhim 2004). Esta definição está refletida no “Relatório
Brundtland” que apresenta duas componentes essenciais: (1) satisfação das
necessidades sociais, económicas e ambientais da geração atual; (2) garantir que a
qualidade de vida da atual geração não pode comprometer o bem-estar das gerações
futuras.

Resultados:
De seguida apresentam-se os resultados relativos a cada uma das componentes
referenciadas na metodologia.

Objetivo 1 – Para análise dos objetivos de gestão, considerou-se necessário perceber


quais os sistemas informatizados existentes, para controlo do desempenho da
organização. Desenhou-se uma bateria de possíveis: POCAL - Contas de gerência;
Tratamento de reclamações; Gestão Documental; e Gestão de obras. Por outro lado,
deixou-se espaço em aberto, para outros eventuais em uso nas freguesias. Colocou-se,
ainda, a questão da existência de mecanismos de participação para os funcionários
apresentarem sugestões de trabalho. No gráfico 1, a seguir, são explanados os resultados
obtidos.
Gráfico 1: Recursos informáticos existentes para controlo do desempenho da autarquia

(Gonçalves 2013)

O controlo é informatizado (Gráfico 1), basicamente realizado de acordo com as


diretrizes determinadas pelo POCAL (Plano Oficial de Contabilidade para as Autarquias
Locais), embora um número significativo de autarquias já tenha implementado outros
sistemas, nomeadamente de gestão documental e tratamento de reclamações. Apenas
7% dos inquiridos disseram ter ferramentas de gestão de obras. Quanto à pergunta sobre
se existem mecanismos de participação para os funcionários poderem apresentar
sugestões de trabalho, apenas quatro dos inquiridos respondeu afirmativamente.

(1) Na questão seguinte pretendia-se saber qual o número de presenças de pessoas em


sessões públicas de Junta e de Assembleia de Freguesia, sabendo que anualmente
são obrigatórias doze sessões públicas de Junta de Freguesia (conforme nº 1 do art.º
30º do Decreto-Lei nº 169/99, de 18 de setembro, Alterado) e quatro sessões
ordinárias para as de Assembleia de Freguesia (conforme o nº 1, do art.º 13º da
mesma Lei nº 169/99).

A partir dos dados constantes nos inquéritos recebidos, recolhemos informação


referente aos três últimos anos (2009 a 2011), para perceber qual a média de presenças
de cidadãos (Gráfico 2) em sessões públicas de Reuniões de Junta e de Assembleia de
Freguesia.

Gráfico 2- Média anual, de presenças de pessoas, em sessões formais da autarquia (2009-2011)


(Gonçalves 2013)

Do seu resumo concluiu-se que participam em média anual 17 pessoas. De onde se pode
extrair que, tendo em conta as dezasseis Sessões públicas anuais obrigatórias, apenas
está presente, em média, uma pessoa por sessão.

Não foi validado o ano de 2008, embora constasse no questionário, porque o número de
respostas referentes a este ano foi de apenas cinco, do total de 29 inquiridos.

(2) Pretendia-se, na questão seguinte, saber se as autarquias realizavam outro tipo de


sessões não formais (e.g. fóruns) que envolvessem a participação de cidadãos e,
caso afirmativo, quais e qual o número de presenças por sessão/ano. Neste
propósito, as freguesias inquiridas indicaram as ações de comunicação diretas,
através de reuniões presenciais com cidadãos, balizadas em quatro tipologias de
encontros: (a) Projetos de execução no espaço público; (b) Movimento associativo;
(c) Fóruns de esclarecimento; (d) Plenários da Rede Social Local.

A maioria das freguesias não sabe ou não responde, apenas 28% das inquiridas
respondeu e, ao mesmo tempo, registou o número de presenças de cidadãos em cada dos
três últimos anos (2009-2011). No Gráfico a seguir regista-se a média anual, de
presenças correspondentes às freguesias respondentes (28%).

Gráfico 3 - Média anual, de presenças de pessoas, em sessões públicas informais

(Gonçalves 2013)
Conforme Gráfico 3, acima, a média anual, de presença de pessoas em sessões
informais é de 108 pessoas por ano. Apesar do número reduzido de respondentes face
ao universo, entendeu-se explanar os dados recolhidos, pelo significativo número de
presenças de cidadãos registados nestas iniciativas. Embora não permita chegar a
conclusões seguras, mostram a linha de tendência favorável para a presença de pessoas
em sessões informais. Trabalho que, no futuro, poderá merecer um estudo mais
aprofundado.

(3) Pretendia-se saber se informa regularmente o público sobre


ações/decisões/intervenções na freguesia e se sim, quais os meios utilizados e os
seus custos associados.

As autarquias informam a população das suas atividades e decisões, sobretudo, através


de Editais e comunicados, expostos em lugar do costume (painéis informativos). Para
além deste procedimento comum, têm outros meios para comunicar com a população
que, de acordo com o mencionado nas respostas, se dividem em três grupos principais,
conforme gráfico a seguir: Boletins informativos ou jornais institucionais; Página
internet oficial; e Página facebook.

Gráfico 4 – Meios de comunicação, mais regulares, com o público

(Gonçalves 2013)

A maioria das freguesias (83%) tem página internet própria, 62% edita boletins ou
jornais informativos e 21% das freguesias inquiridas utilizam a rede social facebook
para comunicar com a população.

Sobre os custos associados, responderam 34% dos inquiridos, registando um valor


médio anual de despesas é de €10.997,20/ano, para informar o público das
ações/atividades/intervenções nas freguesias.
(1) Outra questão fundamental, para o desenvolvimento deste trabalho, era perceber se
existia alguma bateria de indicadores para avaliação/monitorização de políticas de
desenvolvimento sustentável. Em caso afirmativo solicitava-se que indicassem se
correspondiam às cinco dimensões apresentadas; Ambiente; Social; economia;
Cidadania; e Governança.

Nenhum dos inquiridos respondeu a esta questão. Nenhuma das autarquias definiu
indicadores e não realiza qualquer controlo sobre medidas de transição para a
sustentabilidade de implementação no terreno.

(2) Perante esta possibilidade achou-se pertinente perguntar, se não existindo


mecanismos de controlo, tinham implementado no terreno, medidas orientadas para
a sustentabilidade e quais. Esta questão foi respondida e está registada conforme o
gráfico 4, a seguir, demonstra.

Gráfico 4: Medidas, implementadas no terreno, orientadas para a sustentabilidade

(Gonçalves 2013)

A recolha seletiva (69%) e consumos de água (52%) são indicados, como merecendo a
maior atenção por parte das autarquias. Na generalidade, as freguesias, têm
implementado medidas de transição para a sustentabilidade, sobretudo em ações
direcionadas para a poupança de água, eficiência energética e recolha seletiva de
resíduos. Do resultado, salienta-se, ainda, os 10% das freguesias inquiridas que já
implementaram o ‘Orçamento Participativo’ (Gráfico 4).

Objetivo 2 - Com esta questão pretendia-se desafiar o autarca a opinar sobre a


necessidade ou não de estruturas de interatividade com a população, e, em caso
afirmativo, que modelo de mecanismos, formais ou informais, sugeriam para gerar
maior envolvimento dos cidadãos na vida das freguesias. Esta questão deixada em
campo aberto, permitiu recolher uma diversidade de contributos, que se resume a seguir:

Para além dos encontros formais, a manter ou incrementar regras diferentes que
proporcionassem uma maior participação nas reuniões de Junta e Assembleias dos
cidadãos, de acordo com as opiniões inscritas nos questionários respondidos pelas
freguesias do distrito de Lisboa, deveria, também, existir outro tipo de encontros não
formais, envolvendo a sociedade civil local.

Consideram estes encontros informais, como positivos e essenciais para a gestão


autárquica “Promover sessões/discussões e outro tipo de ações fora das instalações da
Junta, ou seja, tentar o contacto direto com a população na rua ou nas instituições e
coletividades” (Gonçalves, 2013) e, por isso, procuram responder de forma positiva,
tendo sempre em linha de conta as reclamações ou sugestões que lhes são dirigidas. Um
maior envolvimento da população nos assuntos da autarquia produzirá o
“melhoramento da imagem das autarquias e respetivos órgãos” (Gonçalves, 2013).

Sentem a mesma necessidade da promoção de encontros entre freguesias contíguas, para


debater, partilhar experiências e encontrar soluções e sinergias, entre autarquias de
características similares e vizinhas.

Discussão, conclusões e futuras linhas de investigação

É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição
das necessidades verdadeiramente importantes para as comunidades da eficiente
implementação das suas próprias decisões. Neste sentido, o aproveitamento desses
contributos permite às autarquias trabalhar de forma mais eficiente e objetiva, poupando
recursos ao estado. Constata-se, porém, que a pouca participação das pessoas na gestão
da ‘coisa pública’ se transforma numa limitação com custos elevados para todos pois, ao
não participarem, as pessoas permitem que a ‘máquina do estado’ seja adulterada em
favor de certos grupos de interesse. Com efeito, o que se verifica é que a participação
mais comum por parte dos cidadãos é centrada no indivíduo e nos seus próprios
problemas e não nos problemas comuns a toda a comunidade, o que se traduz na
transformação da participação orientada para o bem comum numa prática de
reclamação, o vulgo ‘queixa’. Este tipo de comportamentos é resultante não só das
pessoas, mas também da forma como as instituições funcionam ou suportam esses
mesmos comportamentos no dia-a-dia.

Os grandes desafios do século XXI pedem novas estruturas de participação que sejam
mais ‘user friendly’, mais diversas e cosmopolitas que facilitem o envolvimento de
todos os segmentos da sociedade (Gonçalves e Costa, 2013). A criação de condições de
facilitação dos processos participativos é da maior importância pois só com a
participação dos próprios destinatários das políticas públicas é possível ter um estado
mais capaz de responder aos desafios da transição para a sustentabilidade.

A preocupação com a sustentabilidade e qualidade de vida dos cidadãos tem vindo a


assumir importância, tanto no contexto mundial como no europeu. Esta ideia está
sustentada no primeiro princípio da “Declaração do Rio”, aprovada na Conferência
realizada no Rio de Janeiro (Brasil) em 1992: “os seres humanos estão no centro das
preocupações do desenvolvimento sustentável. Eles têm direito a uma vida saudável e
produtiva em harmonia com a natureza”, (http://www.un.org/). O relatório da “Visão
20502” (em português), datado de Fevereiro de 2010, publicado pelo World Business
Council for Sustainable Development (WBCSD), “É um apelo à continuação do
diálogo e um apelo à acção. Vai ser precisa colaboração, convicção e coragem, para
visualizar e implementar as mudanças radicais necessárias”. Este apelo é dirigido aos
governos e sociedade civil de todo o mundo, para que se envolvam com uma, ainda,
maior proximidade, em direção à sustentabilidade.

Em Portugal, inspirado nos princípios subjacentes à Agenda 21 Local, o Projeto


ECOXXI, procura reconhecer as boas práticas de sustentabilidade desenvolvidas ao
nível de autarquia, valorizando um conjunto de aspetos considerados fundamentais à
construção do Desenvolvimento Sustentável, alicerçados em dois pilares: A educação
no sentido da sustentabilidade e a qualidade ambiental. Desta forma, a ECOXXI,
procura motivar as autarquias, para a importância do seu papel enquanto parceiros e
agentes do processo para promoção do desenvolvimento sustentável.

Na última edição do ECOXXI 20123, participaram 29 dos 308 municípios existentes em


Portugal. Relativamente aos municípios envolvidos e tendo por base de aferição os
indicadores constantes do Projeto que compõem um índice global de sustentabilidade,

2
http://www.wbcsd.org/pages/adm/download.aspx?id=5895&objecttypeid=7 (acedido em 23.07.2012)
3
http://www.abae.pt/ECOXXI/index.php?p=municipios&s=participantes&u=2012. Acedido em 05.maio.2013.
decidiu a Comissão Nacional atribuir 28 bandeiras verdes (a todos os municípios com
pontuação superior a 50%). Destacaram-se como os municípios mais pontuados em
2012: Loulé, Vila Nova de Gaia e Águeda.

É neste contexto que a administração local ganha renovada relevância, particularmente


devido à sua relação de proximidade com as pessoas. Por outro lado, a necessidade de
mudança e de cumprimento de estratégias, planos e políticas de desenvolvimento
sustentável desenhadas a nível nacional e regional, nomeadamente pela União Europeia
e pelos seus estados membros, torna indispensável ouvir e interpretar as pretensões dos
cidadãos e criar mecanismos de participação, formais e informais, mais transparentes e
facilitadores do acesso das pessoas e do tecido económico e social aos serviços públicos
e vice-versa, destes às pessoas e ao tecido económico e social nacional e internacional
(Abreu 2002, Costa 2012). Francisco Costa objetiva que “mais do que uma discussão
em torno da ideia de desenvolvimento sustentável, neste momento, é a questão prática
de fazer acontecer a transição para a sustentabilidade que está na ordem do dia”
(Costa 2012:5).

Ao caracterizar as autarquias do distrito de Lisboa, percebe-se que o trabalho de uma


autarquia é, sobretudo, gerir processos e mediar conflitos entre cidadãos e entre
organizações locais; percebe-se que na sua maioria, as autarquias estão estruturadas para
a “solução” imediata do problema e não para a análise de causas que lhe estão
associadas. A gestão é realizada numa ótica da prestação de serviços e o sistema de
controlo informatizado é, basicamente, realizado de acordo com as diretrizes
determinadas pelo POCAL. O mecanismo mais usual é o portal internet, onde são
disponibilizados serviços online. O recurso de interatividade mais comum é o correio
eletrónico, normalmente direcionado para o responsável de área, onde o cidadão pode
apresentar reclamações, sugestões e solicitar serviços da autarquia. Presumindo-se
daqui, mais uma vez, que as autarquias estão estruturadas para a solução imediata do
problema e não para a análise de causas que lhe estão associados.

As autarquias registam uma fraca afluência de população, quer em sessões públicas de


executivo, quer de Assembleias deliberativas (média de 17 pessoas por ano). Na sua
maioria, não existe qualquer outro tipo, mesmo informal, de encontros/reuniões
coletivas com os cidadãos, com exceção de sessões de esclarecimento sobre projetos de
intervenção no espaço público, na rua ou bairro onde pretendam realizar obras de
beneficiação/interesse para a população ali residente. Perceciona-se que mesmo quando
há recetividade e investimento ao nível institucional, torna-se difícil promover a
participação das pessoas. Razão para sugerir um estudo aprofundado sobre as
motivações das pessoas, modelos de gestão em funcionamento nas autarquias, quer para
os equipamentos coletivos, quer para as praças públicas, de forma a perceber a relação
entre os esforços e alocação de recursos das autarquias e a utilização dos mesmos.

Na ótica das autarquias, a falta de informação e o facto de não contribuírem para a


elaboração dos planos de ação nacionais e internacionais, é apontada como a causa para
a não existência de medidas de sustentabilidade implementadas no terreno. Depreende-
se uma necessidade do planeamento concertado à escala local, importante para os
cidadãos e atores das comunidades, por razões de reforço da apropriação e aumento da
resiliência, num planeamento direcionado para a empregabilidade, economia
social/solidária, espaço público, eficiência energética, poupança de água e preservação
dos recursos naturais, ou seja, na promoção do desenvolvimento local sustentável.

Esta análise conduz à convicção de que as estratégias de desenvolvimento nas


autarquias, terão de evoluir no sentido de aproveitar e explorar os aspetos favoráveis
que os processos de globalização, económica, cultural e política, vão introduzindo,
procurando criar condições para que essa globalização considere as prerrogativas do
desenvolvimento local sustentável e possa ser uma resposta inovadora e capaz de
contribuir, por um lado, para criação de novos modelos de desenvolvimento local
sustentável e, por outro lado e concomitantemente, para dar resposta aos desafios da
globalização contribuindo para o aumento da sustentabilidade e qualidade de vida local.

Na mesma linha de raciocínio, pode-se concluir que as organizações não podem ficar
apenas remetidas para uma comunicação unívoca, ou seja, num só sentido, da autarquia
para o cidadão. A avaliação dos compromissos assumidos será a forma de aferir a
estabilidade e desempenho da autarquia, não apenas com recurso a mecanismos de
participação virtuais, mas incluindo outras dinâmicas formais e informais de
comunicação (e.g. fóruns de deliberação para a construção de consensos), num exercício
prático de democracia participativa.

Da própria experiência autárquica retém-se que nas freguesias prevalece a necessidade


de inovar, de encontrar novos princípios orientadores para a gestão pública. Estes
poderiam classificar-se em dois desafios distintos: a relação do custo/benefício da
decisão política, que teria de passar por um controle ativo entre o investimento e o
retorno; deveria ser seguido um modelo de gestão de cariz mais holístico, em que
houvesse corresponsabilização entre todos os intervenientes e em que a ética e a criação
de valor estivessem presentes. Desafio que se deixa para consolidar no futuro.

Há questões que decorrem da produção legislativa e da falta de coordenação operacional


sobre o território e que obrigam a uma ponderada reflexão. As razões assentam,
sobretudo, na desconfiança do Estado sobre as pessoas e destas sobre o Estado. Nesta
problemática está uma das ‘chaves’ para resolver, ou pelo menos minimizar, a
controversa estrutura administrativa portuguesa; a outra, é a forma como cada um ‘olha’
(Governo, Autarcas e cidadãos), para as questões do ‘interesse comum’ e dos ‘bens
comuns’. É sobre este conjunto de reflexões, que merecerá desenvolver um estudo
aprofundado, se se quiser maximizar o relacionamento entre eleito e eleitor.

É comumente aceite que os contributos dos cidadãos são importantes para a definição
das necessidades sentidas e das prioridades a implementar. O aproveitamento desses
contributos permitiria à autarquia trabalhar de forma mais objetiva e em consonância
com o espírito e missão de uma autarquia local.

O desenvolvimento sustentável revela-se como um modelo de desenvolvimento com


possibilidades de garantir não só a qualidade de vida presente, como igualmente,
permitir às gerações futuras a possibilidade de também elas, poderem organizar o seu
próprio futuro. Contudo, este tipo de desenvolvimento implica mudanças profundas de
carácter político, económico, social e cultural, sendo previsível que estas mudanças só
sejam viáveis quando se conjugarem as ações individuais e coletivas incorporando as
escalas local, regional, nacional e mundial.

Assim, é importante desenvolver um sistema estruturado de comunicação que permita


um diálogo continuado e interativo com o cidadão e agentes de desenvolvimento local.
Não apenas com recurso a mecanismos de participação virtuais mas incluindo, também,
outras dinâmicas formais e informais de comunicação. Um dos mais elevados valores
destas estruturas da administração local é a proximidade ao cidadão! Então, por que
razão é desprezado este potencial? Por que não instituir e promover novos mecanismos
de participação na administração local que verdadeiramente envolvam as pessoas?
A categorização de uma tipologia de mecanismos de participação que sirva de
orientação para a formulação de políticas públicas adequadas, sobretudo pela
dificuldade de identificar, com rigor, fontes fidedignas que permitam aferir que práticas
de participação estão a ser desenvolvidas nas diversas autarquias, seria de todo o
interesse desenvolver em novos estudos que mostrassem (1) quais são atualmente as
práticas participativas desenvolvidas pelas autarquias; (2) os seus custos associados (de
participação e não-participação); (3) os seus resultados em termos de participação
efetiva na gestão da ‘coisa pública’ e; (4) definir formas de instituir novos mecanismos
de participação que sejam verdadeiramente inclusivos e que respondam eficazmente aos
desafios da sustentabilidade.

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http://www.abae.pt/ECOXXI/index.php?p=programaecoxxi&s=testemunhos. Acedido
em 05.maio.2013.

Curriculum Vitae:
− José Fidalgo Gonçalves, Mestre em Gestão Autárquica pelo ISEC – Instituto Superior de
Educação e Ciências, Lisboa, presidiu à Junta de Freguesia de Vila Franca de Xira de 2000
até 2011, foi Coordenador da Delegação Distrital da ANAFRE de 2005 até 2011 e presidiu
à Associação das Vilas Francas da Europa de 2004 até 2011. Atualmente é docente no
ISEC, onde leciona a cadeira de Sistemas de Informação Municipal.

− José Elias Ferreira Ramalho, mestrando em Gestão ISG (Instituto Superior de Gestão), pós-
graduado em Gestão Pública pelo ISG e é licenciado em Gestão pela Universidade
Internacional. Quadro superior do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP).
Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão técnica 164:
Responsabilidade Social e na Comissão Técnica 165: Ética. Membro da Comissão Nacional
do Projeto ECOXXI. Certificado em Neuro Marketing com Neuro Map pela Sales Brain.
Consultor nas temáticas da Sustentabilidade, Responsabilidade Social, Comunicação, Redes
Sociais, Administração Publica e Qualidade. Enquanto eleito, com o pelouro da
Responsabilidade Social, integra o Executivo da Junta de Freguesia de Bobadela. Presidente
da Associação Agentes Activos da Mudança.
Benefícios Percebidos Pela Adoção Dos Sistemas De Colaboração

Marcos Alexandre dos Reis Cardillo, Márcia A. Vieira Silva , Luiz Daniel Matsumato

RESUMO

Este estudo procurou identificar os resultados decorrentes da adoção de sistemas


colaborativos, tais como: o VMI, ECR e CPFR na cadeia de suprimentos e entender o
quanto estas ferramentas têm utilidade estratégica para a obtenção de vantagens
competitivas. O artigo faz um resgate dos conceitos sobre colaboração, tecnologia de
informação, sistemas de colaboração, estratégia e vantagem competitiva. A pesquisa
realizada teve cunho qualitativo exploratório, envolvendo entrevistas em profundidade
com gestores de empresas de grande porte e segmentos distintos no setor de tecnologia,
varejo e, por fim, indústria que adotaram o modelo colaborativo eletrônico. Para a
análise dos dados coletados nessas entrevistas, foi aplicada a análise de conteúdo,
seguindo os procedimentos recomendados por Bardin (2007). Dentre outros, a
investigação da pesquisa indicou que estes sistemas de colaboração promovem
melhorias em processos, no gerenciamento de estoque, diminuição de custos e melhor
acesso e compartilhamento de informações.

Palavras-chave: Colaboração, estratégia, tecnologia de informação e vantagem


competitiva.

ABSTRACT

This study sought to identify the results from the adoption of collaborative systems such
as VMI, ECR and CPFR in the supply chain and understand how these tools are useful
to obtain strategic advantages. The article makes a rescue of the concepts of
collaboration, information technology, collaboration systems, strategy and competitive
advantage. The research was exploratory qualitative, involving interviews with
managers of companies large and distinct segments in the technology sector, retail, and
finally industry that have adopted electronic collaborative model. For the analysis of
data collected in these interviews, we applied the content analysis, following the
procedures recommended by Bardin (2007). Among others, research has indicated that
the collaboration systems provide process improvements, inventory management
improvement, it reduces costs and provides better access and sharing information.

Keywords: Collaboration, strategy, information technology and competitive


advantage
1 INTRODUÇÃO

A ininterrupta busca pela competitividade faz com que toda organização trace
estratégias para sobreviver e se desenvolver no mercado em que atua. Para ser pioneiro
no mercado, segundo Porter (1997), faz-se necessária a adoção de estratégias das quais
a empresa consiga diferenciar-se da concorrência e possa ser identificada como única,
de modo que possibilite a conquista de vantagens competitivas em relação aos
concorrentes.

O valor que uma empresa consegue gerar para seus clientes pode ser obtido por
atividades exercidas pela própria empresa, desde o desenvolvimento de um novo
produto ou serviço, como um novo processo tecnológico em produção, ou até a entrega
do mesmo ao consumidor. Porter (2004) propõe ainda mais duas estratégias que podem
gerar vantagem competitiva: (a) diferenciação de produto e (b) liderança em custo,
ressaltando que o enfoque e a decisão de quais estratégias a serem adotadas cabem a
cada empresa.

Por outro lado, a abordagem RBV (resource-based-view), defendida por Barney


(1991), considera que a vantagem competitiva é assegurada pelos recursos da
organização, ou o conjunto deles, e que tais recursos precisam ser valiosos, raros,
insubstituíveis e difíceis de imitar. De acordo com Barney (1991), Squire et al (2009)
complementam esta definição com a extensão da RBV e argumentam que recursos
internos e externos são importantes para o desempenho organizacional. A colaboração é
ressaltada pelos autores como um importante recurso externo para o aumento do
desempenho no departamento de compras da empresa, onde a troca de dados por meio
de um sistema colaborativo facilitam o gerenciamento do estoque, previsão de compras
e redução de custos.

As iniciativas de colaboração têm seu foco no planejamento tático/operacional


na cadeia de suprimentos, tendo como objetivo os benefícios sobre um trabalho em
conjunto entre os elos da cadeia, que não seriam possíveis individualmente. Observa-se
no Brasil que todos os atores envolvidos diretamente em informações que possam
propiciar valor para os consumidores finais, tratam a sua logística de forma
individualizada.

Outro aspecto a ser considerado é observado por Gonçalves (2009), que defende
uma nova conceituação de logística, com base em inovações estratégicas mais
colaborativas, que pode ser pressuposta com base na avaliação do arquétipo de quatro
níveis hierarquizados, os quais ajudam a entender a complexidade e interdependência
estrutural na construção de diferenciais competitivos. Estes níveis compreendem (1)
recursos de infraestrutura, (2) fluxos de informação e decisão, (3) organizações e
mecanismos de regulação, contratos, acordos e regras operacionais de arbitragem de
conflitos de interesse, além de (4) princípios e modelos de negócios universalmente
aceitos (GONÇALVES, 2009).

Com base no segundo nível proposto no arquétipo apresentado por Gonçalves


(2011), os sistemas colaborativos como o EDI, ECR e o CPFR podem orientar a decisão
ao organizar prioridades no fluxo de informação correspondente aos sistemas de
indústrias, comércio e serviços. Segundo Gonçalves (2009), as informações norteiam
decisões que dão a lógica as ações operacionais, por meio de informações viáveis que
são elementos logísticos fundamentais nos processos que envolvem uma maior
complexidade de forma integrada às operações internacionais.

Sendo assim, saber como implementar ferramentas de colaboração eletrônica


para que gerem resultados positivos é de suma importância, porém pode não ser
suficiente. Cada empresa tem a sua forma de agir e quando os parceiros não investem
em tecnologia a dificuldade pode ser ainda pior. O mercado estimula as empresas
investirem em TI e otimizar os processos de troca, mesmo que os ganhos a princípio,
não sejam almejáveis.

Nesse contexto, a questão de pesquisa explorada neste trabalho é: Quais são os


resultados obtidos pela adoção dos sistemas de colaboração?

Este estudo tem por objetivo analisar os resultados decorrentes do processo de


colaboração entre empresas do setor industrial, varejista e de tecnologia. Com base no
referencial teórico, foram investigados dois principais aspectos: relatar como o sistema
adotado afeta seus vários usuários na cadeia de suprimentos e Identificar possíveis
mudanças de processos após a adoção do sistema.

De forma complementar, propõe-se descobrir novos parâmetros e inovações


tecnológicas por softwares mais utilizados no Brasil, que são recursos importantes como
elos de integração rápida de informações, na relação entre produtores e fornecedores.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Aspectos da colaboração na cadeia de suprimentos

Quando o termo colaboração entre empresas é utilizado, uma vasta opção de


significados pode ser atribuída dependendo de autores e contextos diferentes. Para se
diferenciar estes termos, nesta etapa da pesquisa, foi feita a revisão de vários textos
sobre o assunto, com foco nos principais termos referentes à colaboração, como alianças
estratégicas e cooperação de acordo com Moran, Souza, Boaventura, Marinho e
Fischman (2010).

Segundo Das e Teng (1998), Alianças Estratégicas são acordos de cooperação


com o intuito de atingir objetivos estratégicos dos parceiros. Estas alianças,
essencialmente, envolvem 2 ou mais parceiros para buscar objetivos compartilhados,
sendo a cooperação vital para o sucesso da aliança. Das e Teng (1998) consideram a
incerteza e a cooperação como os principais fatores que distinguem a aliança estratégica
de outro tipo de estratégia individual.

Nesta visão, a cooperação aparece como uma parte do que é chamado de aliança
estratégica. Assim, Das e Teng (1998) definem, especificamente, a cooperação de
parceria como a vontade de uma empresa parceira em buscar interesses mutuamente
compatíveis em uma aliança, ao invés de agir de forma oportunista. Sendo o
oportunismo exemplificado como trapacear, distorcer informações, esquivar-se de
atividades, enganar parceiros, suprir com produtos/serviços abaixo do padrão, e
apropriar-se de recursos críticos do parceiro. Já a cooperação de parceria é caracterizada
por negociações honestas, comprometimento, fair play, e agir de acordo com os
contratos.
Os autores citados também destacam a característica paradoxal da cooperação,
pois através desta espera-se que as empresas busquem seus próprios interesses, mas
simultaneamente elas precisam restringir esta busca natural, de modo que a aliança
funcione. Assim, é proposto que sucesso da aliança seja encontrado através de equilíbrio
entre competição e cooperação.

Diferente da cooperação, a colaboração é definida pelos autores Coughlan,


Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) como o processo de tomada
de decisão entre organizações independentes envolvendo posse conjunta das decisões e
responsabilidades pelos resultados. Este processo é baseado na criação relações de
longo-prazo, desenvolvimento de capacidades complementares, engajamento em
planejamento conjunto e compartilhamento de informações. Desta colaboração são
destacados os benefícios de acessar novos mercados, novas tecnologias e habilidades,
para a redução de tempo e custos operacionais para o mercado, e otimizar a
performance geral da cadeia de suprimentos.

Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) reforçam


que o sucesso da colaboração depende da habilidade e desejo dos gestores para construir
relacionamentos reais, criar confiança, e desistir de seu individualismo em favor de uma
parceria mais colaborativa. Em resumo, a colaboração é potencialmente benéfica, mas é
um relacionamento interorganizacional complexo.

Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) seguem a mesma linha de Coughlan,


Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) e apontam o grande
crescimento da colaboração, pois companhias, em uma ampla variedade de indústrias,
estão executando quase todas as etapas do processo de produção, da descoberta à
distribuição, através de alguma forma de colaboração. Estes autores também se referem
à colaboração como um tipo de aliança e que pode aparecer de diversas formas,
variando de parcerias em P & D a Joint Ventures, a manufatura colaborativa, a
complexos planos de comarketing. Este mesmo ponto de vista é compartilhado por
Austin 2001.

Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) ainda ressaltam que as razões para o


crescimento na colaboração envolvem um pouco da combinação de compartilhamento
de riscos, obtenção de acesso a novos mercados e tecnologias, velocidade de produtos
para o mercado, e agrupamento de habilidades complementares. Como barreiras à
efetiva colaboração são citados a falta de confiança entre as partes, dificuldade de
compartilhar o controle, a complexidade de um projeto conjunto e diferentes habilidades
para aprender novas técnicas.

Reforçando o ponto de vista de Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan,


McNichols e Nolan (2003), Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) afirmam que motivos
como adquirir recursos e habilidades, que individualmente não são atingíveis, são
motivos para recorrer a colaboração.

Como Coughlan, Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003), e


Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) destacaram a complexidade e as barreiras à
colaboração, respectivamente, assim como outros autores também o fazem. Corsten e
Kumar (2005) afirmam que, apesar de relações colaborativas através de esforço
conjunto dos parceiros criar valor único que nenhum deles sozinhos pode criar, existe
uma tensão entre maximizar tal valor e distribuí-lo entre os parceiros. Isso torna os
relacionamentos colaborativos desafiadores para serem implementados na prática,
principalmente se envolverem participantes poderosos.

Hamel (1991) também demonstra as dificuldades da colaboração. Através de


entrevistas, faz uma comparação entre a colaboração e uma corrida pelo aprendizado,
pois ambas as empresas que trabalham em colaboração querem pegar o máximo de
conhecimento que seu parceiro tem a oferecer, e quem consegue pegar o máximo mais
rápido torna o outro parceiro desnecessário, pois este não é mais atrativo para trocar
conhecimento.

Uma sugestão de entendimento, proposto por Hamel (1991), de que parceiros em


uma aliança competitiva podem, às vezes, tenderem a enxergar a colaboração como uma
corrida/competição para inovarem primeiro, ao invés de um verdadeiro esforço de
cooperação para realizarem juntos. Novamente, isso mostra evidencias de uma mistura
não óbvia entre objetivos competitivos e colaboração.

Corbett, Blackburn e Van Wassenhove (1999) destacam como dificuldade o


histórico do relacionamento, pois eles citam o caso das empresas que, depois de anos
explorando os fornecedores, através da criação de competição entre eles, encontram
muita dificuldade para estabelecer parcerias.

Deste modo, este artigo utiliza a definição de colaboração segundo Coughlan,


Coughlan, Lombard, Brennan, McNichols e Nolan (2003) onde a colaboração é um
processo de decisão conjunta e de compartilhamento de resultados entre os parceiros e
leva em consideração possíveis dificuldades de implementação destacadas pelos outros
autores.

2.2 A busca pela vantagem competitiva

Existem algumas correntes explicativas sobre vantagem competitiva na


literatura, como Barney (1997), que defende a teoria dos recursos, onde a fonte de
vantagem competitiva se encontra, primariamente, nos recursos e nas competências
desenvolvidas e controladas pelas empresas e, secundariamente, na estrutura das
indústrias nas quais elas se posicionam. Para Barney (1997), as explorações desses
recursos e capacidades precisam ser valiosos, raros, de difícil substituição e custosos de
imitar. Esta teoria possui a estratégia orientada para o desenvolvimento e exploração dos
recursos existentes. Em 1984, Wernerfelt publicou um artigo seminal sobre a teoria
baseada em recursos. E o autor propôs que as empresas são feixes de recursos, que
podem ser empregados para influenciar o desempenho.

Enquanto Hamel e Prahalad (2002) defendem que a vantagem competitiva é


obtida por meio de capacidades dinâmicas, onde rotinas e processos organizacionais são
capazes de regenerar a base de recursos da empresa. Ainda segundo os autores, a
concepção é extraída sobre o conjunto evolutivo dos recursos, competências e
capacidades. A estratégia está direcionada para o processo e a interação entre
competências e oportunidades de mercado.

E de acordo com Lynch et al (2000), os autores concluíram que muitos estudos


de recursos têm-se centrado na área de fabricação, mas a logística pode ser um novo
frontier. Os autores citam o Wal-Mart como um excelente exemplo de uma empresa
com várias capacidades distintas que não podem ser facilmente copiadas e, para eles,
tais capacidades reduzem significativamente os custos, por meio de altos níveis de
eficiência. Para Lynch et al (2000), a redução de custos beneficia uma empresa
financeiramente. Além disso, por que o sistema do Wal-Mart é difícil, se não
impossível, de imitar? Os autores ressaltam que a empresa mantém, assim, uma
vantagem competitiva no mercado. Não obstante, o Wal-Mart se esforça para ser um
líder de custo como parte de sua estratégia de negócios, e sua vantagem competitiva é
reforçada por meio da sua capacidade de logística distintiva.

A vantagem competitiva em Porter (1997) é ressaltada pela busca do


posicionamento ideal da organização na estrutura industrial, tendo como resultado a
capacidade da empresa em atuar de forma eficiente em diversas atividades. O conjunto
dessas atividades propicia uma base para a diferenciação, que pode surgir por meio de
aquisição de matérias-primas a um custo mais baixo que o dos concorrentes, ou de
relacionar essas atividades de uma forma singular, capaz de gerar um valor diferenciado
aos compradores.

Seguindo com Porter (2004), a vantagem competitiva surge fundamentalmente


do valor que uma empresa consegue criar para seus compradores em comparação com
seus concorrentes. O valor se dá por meio de estratégias de baixo custo ou diferenciação
do produto, e é aquilo que os compradores estão dispostos a pagar. O valor superior
provém da oferta de preços mais baixos que os da concorrência, por benefícios
equivalentes, ou do fornecimento de benefícios singulares que mais do que compensam
um preço mais alto.

Porter (2004), tendo como objetivo o desempenho acima da média, destaca três
tipos básicos de estratégias genéricas:

(a) liderança em custo: vantagem por liderança no custo, ocorre quando uma
empresa parte para ser o produtor de baixo custo de sua indústria, atuando em um
escopo amplo, onde as fontes de vantagem de custo variam e dependem da indústria, a
qual trabalha com preços equivalentes ou mais baixos do que seus rivais e mantém a
posição de baixo custo, traduzindo-se em retornos mais altos.

(b) diferenciação: no caso da diferenciação, uma empresa procura ser única em


seu mercado, ao longo de algumas dimensões amplamente valorizadas pelos
compradores. Ela seleciona um ou mais atributos que muitos compradores na indústria
que consideram importantes, posicionando-se singularmente para satisfazer essas
necessidades.

(c) enfoque: já no enfoque, esta estratégia é bem diferente das outras, porque
está baseada na escolha de um ambiente competitivo estreito dentro de uma indústria. O
elemento em foco seleciona um segmento, ou um grupo de segmentos, na indústria e
adapta sua estratégia para atendê-los, excluindo os outros. Assim, procura obter
vantagem competitiva em seus segmentos-alvo, embora não possua uma vantagem
competitiva geral.

Entretanto, além de obter vantagem competitiva, também se faz necessário


sustentá-la. Isso, sem dúvida, acrescenta novas complicações aos cenários dos negócios.
Por isso, verifica-se a força da relação entre estratégia e vantagem competitiva
sustentável, pois, segundo Varadarajan e Jayachandran (1999), estratégia abrange as
decisões que permitem a um negócio atingir e sustentar uma vantagem competitiva e
manter ou melhorar sua performance.

2.3 A adoção da estratégia

Com a finalidade de entender os pensamentos estratégicos, Mintzberg, Ahlstrand


e Lampel (2000), dividem os pensamentos sobre a formulação de estratégias em dez
escolas, onde cada qual apresenta modelos básicos de planejamento estratégico, com
base no pensamento estratégico de cada.

O intuito desta avaliação é revelar, sobre o ponto de vista estratégico, a


complexidade organizacional para implementar o conceito de colaboração, onde
geralmente os modelos mais eficazes em gestão competitiva são aqueles onde as
estratégias devem emergir, à medida que a organização se adapte ou aprenda com
a situação atual.

Conforme Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000), o estudo do pensamento


estratégico deu origem às principais escolas do planejamento estratégico, as quais se
apresentam divididas em três grupos, como seguem nas tabelas abaixo:

ESCOLAS PRESCRITIVAS
Escola Descrição
Escola do design Formulação de estratégia como um
processo de concepção
Escola do planejamento Formulação de estratégia como um
processo formal
Escola do posicionamento Formulação de estratégia como um
processo analítico

Tabela 1: Escolas Prescritivas


Fonte: Elaborado pelos autores

ESCOLAS INTEGRATIVAS
Escola Descrição
Escola de configuração Formulação de estratégia como um
processo de transformação

Tabela 2: Escolas Integrativas


Fonte: Elaborado pelos autores
ESCOLAS DESCRITIVAS
Escola Descrição
Escola empreendedora Formulação de estratégia como um
processo de visionário
Escola cognitiva Formulação de estratégia como um
processo mental
Escola de aprendizado Formulação de estratégia como um
processo emergente
Escola do poder Formulação de estratégia como um
processo de negociação
Escola cultural Formulação de estratégia como um
processo coletivo
Escola ambiental Formulação de estratégia como um
processo reativo

Tabela 3: Escolas Descritivas


Fonte: Elaborado pelos autores

Com estas ressalvas, Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000) inferiram que o


planejamento estratégico pode ser subdividido em três escolas de planejamento
estratégico. As escolas prescritivas são mais preocupadas com a descrição do processo
de formulação das estratégias, portanto, consideram os aspectos específicos do
processo. As escolas descritivas entendem a formulação das estratégias pela ótica de
um processo emergente de aprendizado.

Portanto é notório que a formulação da estratégia poderá variar com base na


interface conceitual dos objetivos estratégicos por tipo de repartição, corporação ou
setor. À medida que se processam de forma contínua informações em cadeias, os
diversos atores demonstram objetivos ou pensamentos estratégicos integrados por
ferramentas de Tecnologia de Informação.

Os estudos de Balakrishnan et al., (2008)sobre The Continuum Engagement


Strategies inferem que há diversos tipos de engajamento que merecem mais atenção
perante os stakeholders.

Transacional Transicional Transformacional

Figura 01: As Estratégias de Engajamentos Contínuos. Bowen et al., (2008)


Fonte: Adaptado pelos autores

Para análise da estratégia, é necessário esclarecer os tipos de engajamentos com


stakeholders ao negócio:
Figura 02: Análise Estratégica
Fonte: Adaptado pelos autores

A estratégia de envolvimento das partes interessadas pode ser definida como


atividades interativas iniciadas por uma organização e seus stakeholders.

A organização, tipicamente, tem muitas partes interessadas, e é a própria


organização em si "um ator dentro da comunidade" (ISO 26000). Portanto, existem
numerosas oportunidades para realizar envolvimento das partes interessadas, e muitas
formas de iniciar um diálogo.

Para elaborar uma estratégia de envolvimento com seus colaboradores, uma


organização deve ponderar cuidadosamente sobre as relações que precisa construir e
identificar todas as partes interessadas que possam ser afetadas por novos projetos ou
negócios, os quais serão expostos de forma mais integrada ao conceito de sistemas de
colaboração.

Por exemplo, uma organização alinhando os objetivos estratégicos por meio do


envolvimento das partes interessadas, pode agregar valor ao serviço, com base em
recursos compartilhados além de criar suporte para suas ações estratégicas na cadeia.

Ou seja, interagir por informações significa dizer que uma organização pode
identificar e solucionar suas preocupações de forma proativa entre as partes
interessadas. Neste entendimento, desde que ocorra colaboração, haverá maior acurácia
dos riscos envolvidos com ou sem recursos tecnológicos, bem como os riscos
resultantes de puro mal-entendidos, que são oriundos de ações não tecnológicas.

2.4 A Adoção da colaboração em tecnologia da informação

Segundo Gonçalves (2009), a utilização de softwares para dar suporte às


atividades logísticas teve grande aceitação nas mais diferenciadas áreas e atividades.
Algumas destas áreas destacaram-se por ter de 90% a 100% das atividades controladas
por estas ferramentas de TI, sendo as de maior destaque: (1) processamento de pedido,
(2) sistema de administração fornecedor, (3) programação de compras, e (4) previsão de
vendas. A grande colaboração de Tecnologia de Informação, doravante denominada
como TI, inicia-se a partir da necessidade de atender o mercado varejista por meio de
integração de informações diretas obtidas do mercado-alvo.

A informação estratégica é o insumo da qualidade do conceito do processo


colaborativo para incrementar melhorias por meio de aferição operacional dos
resultados comparativos decorrente da comunicação direta com o campo, permitindo, a
exemplo do mercado varejista, ações mais rápidas a partir do check-out da loja.

Novas ferramentas de TI, quando integradas, corroboram com este conceito, o


controle por meio do RFID – Radio Frequency Indicator Digital possibilitou, por meio
do código de barras, o controle concorrente por meio do registro automático de
transações em diversos setores, tornando a produção mais sustentável à medida que é
possível produzir sabendo o que o consumidor está levando no momento da compra.
Entretanto, existem forças e resiliências às inovações em TI, o que impede maior
colaboração. Para evitar tais barreiras, é necessário identificar a estratégia de
participação dos stakeholders, antes de iniciar um processo de engajamento no CPFR.

Isto pode significar maior transparência das metas por meio dos gestores, que
devem considerar o tipo de relacionamento das partes interessadas, bem como o nível de
envolvimento dos stakeholders nos resultados do negócio.

O valor Baseado em Recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de


gestão colaborativa
RESILIÊNCIAS INOVAÇÕES
Evitar transparência de KPIs na cadeia de Maximizar a rentabilidade
suprimentos
Minimizar o compromisso com Aumentar o giro e reduzir os excessos de
planejamento conjunto estoque
Os relacionamentos sao frequentemente Propor algoritmos de reposição
contraditorios inteligentes
Evitar baixos niveis de serviço/Redução Aumentar a visibilidade dos seus produtos
de Estoques no ponto de venda

Tabela 5: O valor baseado em recursos de TI na análise de forças atuantes em processos de


gestão colaborativa
Fonte: Elaborado pelos autores

O entendimento de processos de inovações é extremamente importante ao negócio


conforme o tipo de estratégia e mercado-alvo. Em práticas de atendimento varejista,
possibilita controlar o inventário por meio dos sistemas de colaboração ao conciliar a
informação da gôndola para o armazém, o que agrega valor com a redução de rupturas,
ou evita-se de perdas de estoques nas lojas.

2.5 O histórico dos sistemas de colaboração

Segundo Chen e Paulraj (2004) o termo Supply Chain Management (SCM) tem
sido utilizado para explicar o planejamento e controle de materiais e o fluxo de
informações, bem como as atividades logísticas, não somente internas a empresa, mas
também externas. O SCM descreve assuntos estratégicos, interorganizacionais e
também é utilizado para discutir alternativas para integração vertical, identificar e
descrever relacionamentos desenvolvidos por uma empresa com seus fornecedores e
lidar com a perspectiva de suprimentos e compras.

Relacionadas ao SCM, existem diversas estratégias sobre o relacionamento entre


uma empresa e seus fornecedores, que estão relacionadas à colaboração. A seguir, serão
revisadas algumas das principais como QR - Quick Response, ECR – Eficient
Consumer Response, VMI – Vendor Management Invetory e CPFR- Collaborative
Planing Forecasting and Replenishment.
Segundo Harris, Swatman e Kurnia (1999), em meados de 1980 o conceito de
manufatura JIT – Just in Time foi aplicado para a indústria têxtil e de equipamentos nos
Estados Unidos, como uma forma de proteção a indústrias estrangeiras. O conceito Just
in time (JIT) simplesmente envolvia entregar a matéria-prima na quantidade exata e no
momento exato em que este fosse demandado. O JIT na indústria têxtil recebeu o nome
de QR, e este conceito também inclui o compartilhamento de informações dos pontos de
venda para as manufaturas, com o objetivo de melhorarem o fluxo de produção.

O varejo percebeu o sucesso da abordagem do QR para gerenciar as informações


da cadeia de suprimentos e propôs um sistema de reabastecimento de estoque
semelhante, chamado ECR. Este tem origem em 1992, quando os supermercados
começaram a estudar formas para conseguir sobreviver a novas concorrências. Como
resultado, em 1993 foi criado o ECR, sendo introduzido no "US Food Marketing
Institute Conference” em Janeiro de 1993. Esta estratégia considera transformar a
cadeia de suprimentos do varejo de empurrada para puxada. Nela os parceiros formam
novas alianças de relacionamento e o reabastecimento das lojas é baseado nas
informações dos pontos de venda ou POS - Point of Sale (Harris; Swatman; Kurnia,
1999).

O ECR requer um fluxo de informações em tempo adequado, acurado e sem papel,


baseando-se fortemente na troca eletrônica de informações Eletronic Data Interchange -
EDI e alianças entre os membros da cadeia. O objetivo do ECR é retirar da cadeia os
custos que não adicionam valor ao consumidor, para isso busca a eficiência nas 4
principais área de negócios: (1) Loja Eficiente, (2) Reabastecimento Eficiente, (3)
Promoções Eficientes, e (4) Eficiente Introdução de Produtos. Dentre destas, a principal
é o (2) Reabastecimento Eficiente, que representa mais da metade das economias
projetadas para uma implementação de ECR. Para estas implementações é considerado
necessário uma abordagem com CRP – Continuos Replenish Program (Harris;
Swatman; Kurnia, 1999).

Diferente do proposto por Harris, Swatman e Kurnia (1999), Corsten e Kumar


(2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração
manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento e
(3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto.
Estes autores definem ECR como uma estratégia colaborativa de criação de valor, onde
varejista e manufatura implementam práticas de negócio colaborativas com o último
propósito de atender em conjunto, melhor, mais rápido e com menos custos, os desejos
dos clientes.

Corsten e Kumar (2005) ainda ressaltam dificuldades, pois apesar do entusiasmo


inicial, uma década depois da origem do ECR um sinal de ceticismo começou a
aparecer. Os fornecedores acreditam que os varejistas têm sido os principais
beneficiados com o ECR. Assim, foi espalhado um sentimento de que o ECR é
conveniente para os grandes e poderosos varejistas acharem formas de transferirem os
custos de volta para os fornecedores.

Outra estratégia sobre relacionamento comprador-fornecedor é o VMI este é


definido por Disney e Towill (2003) como uma estratégia de cadeia de suprimentos
onde o vendedor/fornecedor recebe a responsabilidade de gerenciar o estoque do cliente.
Diferente de outros autores, estes consideram que todas as outras estratégias são
variantes do VMI, por exemplo, QR, SCR – Synchronized Consumer Response, CR –
Continuos Replenishment, ECR, RR – Rapid Replenishment, CPFR e CIM –
Centralised Inventory Management.

Com relação aos objetivos do VMI, Marques, Thierry, Lamothe e Gourc (2010)
acrescentam que, para o cliente, o objetivo é de assegurar alto nível de serviço ao
consumidor com baixos custos de inventário. Já para o fornecedor, o objetivo é a
redução nos custos de produção, estoques e transportes. É possível observar objetivos
compartilhados, o que permite a criação de uma melhor colaboração entre parceiros e
desta forma, conquistar os principais objetivos, fortalecendo os principais fluxos,
agilizando a cadeia de suprimentos e reduzindo o efeito chicote. Estes autores afirmam
que existe um consenso entre todos os autores sobre a essência do VMI, a qual é a
transferência da responsabilidade do gerenciamento do estoque do cliente para o
fornecedor.

QR, ECR, JIT e CPFR são referenciados por Fiorito, Gable e Conseur (2010)
como estratégias de gerenciamento do reabastecimento do inventário. Estes autores
destacam o aspecto semelhante entre estas estratégias, em que eles afirmam que todas
elas requerem integração adequada e colaboração entre compradores e vendedores com
o objetivo de assegurar o sucesso da estratégia.

O CPFR como outra importante estratégia é definida por Fiorito, Gable e


Conseur (2010) com o objetivo de melhorar a precisão na previsão e atendimento das
necessidades dos clientes, bem como uma tentativa, baseada na web, de coordenar
varias atividades incluindo produção, planejamento de compras, previsão da demanda e
reabastecimento do inventário entre parceiros comerciais na cadeia de suprimentos.

3 O ÂMBITO DE ESTUDO - EMPRESAS DO SETOR INDUSTRIAL,


VAREJISTA E DE TECNOLOGIA.

A indústria brasileira, segundo o Portal Brasil 2012, desde o início de suas


atividades foi muito importante para a economia brasileira. Com relação às fases deste
setor no Brasil, houve um processo de forte industrialização iniciado na década de 1950.
Outro período de crescimento do setor foi entre, 1967 e 1973, chamado de “milagre
econômico”, quando a produção industrial cresceu 13% e o PIB 12%. Posteriormente, a
indústria passou por crise na década de 1980 devido à instabilidade da moeda nacional,
entre outros fatores, como outros setores da economia. Na década de 1990, existe uma
recuperação do setor industrial e o País dá continuidade ao processo de
abertura comercial com redução de tarifas de importação e reformulação dos incentivos
às exportações. A partir de 2000, o comércio exterior aumentou em um ritmo mais forte.
O crescimento econômico mundial, o aumento dos preços internacionais de produtos
básicos, a diversificação dos mercados importadores e a maior produtividade de
produtos básicos são os fatores que favoreceram a indústria nesta década. Por exemplo,
em 2007, segundo indica dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), a produção industrial subiu 6%, o melhor resultado desde 2004, quando a
produção atingiu 8,3%.

De forma semelhante, o setor de varejo também passou por diversas fases nas
últimas décadas. Conforme Freitas (2011), o setor do mercado de varejo, sobretudo na
última década, vem assumindo uma importância crescente no panorama empresarial do
Brasil e do mundo. Os varejistas têm ampliado sua participação no mercado brasileiro
através de novas técnicas de gestão, assim, a competição tem se acirrado e estão sendo
selecionados aqueles que conseguirão se permanecer no mercado.

O setor passou por diversas fases da sociedade brasileira, como inflação,


mudança de impostos, desenvolvimento da indústria de alimentos, urbanização e
planos de estabilização. Assim, este é um setor que vem se modernizando e atualmente
vem passando por um acelerado ritmo de consolidações. (FREITAS, 2011)

O setor de softwares é mais jovem e, segundo Saccol e Antonini (2011), no


Brasil este setor é considerado estratégico para o desenvolvimento nacional, pois em
uma economia baseada no conhecimento, a importância da indústria de software é
significativa, pois ela viabiliza a incorporação do conhecimento em produtos, serviços e
sistemas, sendo importante também para a difusão de tecnologias de informação e
telecomunicação entre organizações, instituições e a população. Assim, os setores de
software e serviços cresceram quase 24% no Brasil em 2010 e o Brasil alcançou a 11ª
posição no ranking mundial, tendo movimentado 19,04 bilhões de dólares, equivalente a
1,0% do PIB brasileiro.

A amostra para realização deste trabalho constituiu-se de três empresas


segmentadas no setor varejista, industrial e de tecnologia, nas quais duas são
multinacionais e uma é nacional. O quadro a seguir apresenta as empresas pesquisadas e
aspectos da pesquisa. Em todas as organizações, objetivou-se coletar dados referentes
aos resultados no compartilhamento de informações por meio de utilização de sistemas,
à luz do processo de colaboração.

Empresa País / Nome dos Função na Ramo de Data da


Estado Entrevistados instituição atividade entrevista
deOrigem (Iniciais)
Empresa 1 Brasil-SP RD Diretor de Varejo 07/06/2012
compras
Empresa 2 Brasil-SP AV Diretor Indústria 13/06/2012
Comercial
Empresa 3 Brasil-SP BC Head delivery TI 09/06/2012

Quadro 1: Composição da Amostra Qualitativa


Fonte: Elaborado pelos autores

A primeira empresa é uma companhia global com faturamento anual superior a


R$ 23,4 bilhões de reais. Atua no mercado brasileiro há 17 (dezessete) anos, tendo como
clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com aproximadamente 81,5
mil colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas operações em práticas do
mercado varejista.
A segunda é uma subsidiária brasileira de uma empresa global com foco de
atuação na América Latina. A empresa possui faturamento superior a R$ 4,6 bilhões de
reais ao ano, atuando no Brasil por 19 (dezenove) anos. Atende desde clientes de
pequeno porte até grandes corporações varejistas. O seu quadro de funcionários conta
com cerca de 9.000 pessoas, e a sua principal atividade é a fabricação de produtos
alimentícios.
A última empresa pesquisada é uma companhia global com faturamento anual
superior a R$ 1 bilhão de reais. Atua no mercado brasileiro há 22 (vinte e dois) anos,
tendo como clientes empresas de grande porte no setor industrial. Conta com
aproximadamente 7.300 colaboradores. Cabe destacar que a empresa enfatiza suas
operações em consultoria, gestão de serviços de tecnologia e outsorcing.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 Método Qualitativo

O método de pesquisa qualitativo pode ser definido como uma técnica que não
utiliza meios estatísticos como base do processo de análise do problema estudado. Na
pesquisa qualitativa, a preocupação não está em numerar ou medir variáveis, mas sim,
em identificar tais variáveis (RICHARDSON, 1999).

A pesquisa qualitativa procura avaliar a representatividade de um conjunto de


atores que participará da pesquisa e geralmente não se preocupa com a quantificação e
aleatoriedade da amostra estudada, sendo de real importância a obtenção de contatos
com os potenciais participantes (TRIVIÑOS, 1987). Richardson (1999) considera que a
opção pela pesquisa qualitativa se justifica quando se pretende entender um fenômeno
social, descrever a complexidade de determinado problema, compreender e classificar o
processo.

4.2 Qualificação da Pesquisa

Em Gil (2002), os estudos exploratórios têm como finalidade a formulação de


um problema para realização de uma pesquisa mais precisa ou para a elaboração de
hipóteses, que além destes aspectos, também possam possibilitar ao pesquisador a
realização de um levantamento provisório do fenômeno que deseja estudar de forma
mais detalhada e estruturada posteriormente (OLIVEIRA, 1999). Para Kochë (1997), a
pesquisa descritiva estuda as relações entre duas ou mais variáveis de um fenômeno sem
manipulá-las. Pelo exposto anteriormente, verifica-se que os estudos descritivos
procuram medir relações entre variáveis com precisão, enquanto os estudos
exploratórios fundamentalmente são aplicados para a identiticação e descoberta de
variáveis.

4.3 Processo Analítico

Para o desenvolvimento deste estudo, efetuaram-se entrevistas em profundidade,


utilizando-se um roteiro previamente definido. Para o tratamento e análise dos dados
qualitativos obtidos durante as entrevistas e a realização dos objetivos da pesquisa,
empregou-se a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin (2007).

5 RESULTADOS E DISCUSSÃO

O desenvolvimento da análise de conteúdo foi dividido em cinco etapas, que


estão descritas a seguir.
5.1 Etapa da Análise de Conteúdo – Identificação de Pontos-chave

A identificação dos pontos-chave foi realizada após a leitura criteriosa do


material resultante das transcrições das entrevistas. As transcrições foram os únicos
documentos analisados, como parte da pré-análise. Nesta primeira etapa, efetuou-se a
contagem das palavras e expressões mais utilizadas nas entrevistas, conforme quadro 2:

Palavra/Expressão Empr1 Empr2 Empr3 Total


Diminuição de Custos 4 6 4 19
Otimização de tempo e resultados 6 5 6 20
Aumento de produtividade 3 5 7 17
Minimização de riscos 5 6 8 23
Mudança de cultura organizacional 3 4 6 18
Acesso a novas tecnologias 2 3 1 07
Fluidez e agilidade na 5 6 8 23
comunicação
Maior interação com fornecedores 3 4 6 18
Fácil manuseio do sistema 2 3 1 07

Quadro 2: Palavras e expressões mais citadas nas entrevistas


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

Os dados apontados no quadro 2 indicam as principais mensagens e pontos


abordados pelos entrevistados, uma vez, que lhes foram direcionadas perguntas abertas,
de modo que pudessem responder a elas abertamente. Observa-se que os respondentes
enfatizaram a questão da redução no tempo de execução no processo, alto desempenho,
redução de custos, acesso a novas tecnologias, gerenciamento do estoque, entre outros.

Na sequência, elaborou-se uma matriz de pontos-chave versus perguntas. Essa


matriz pode ser entendida como uma matriz de elementos básicos de análise. Para a sua
elaboração, procurou-se observar as regras de exaustividade ou não seletividade do
material lido (transcrições das entrevistas), conforme recomendado por Bardin (2007).

5.2 Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Unidades de Significado

Identificaram-se, nesta etapa, os elementos intermediários de análise,


denominados unidades de significado, a partir da matriz de pontos-chave. Para a criação
dessa matriz foram agrupadas nela as principais ideias transmitidas pelos entrevistados.
Efetuou-se o agrupamento, primeiramente por ordem de pergunta, depois por
similaridade das respostas dadas em vários pontos da entrevista. Nomearam-se, então,
as unidades de significado em função da similaridade das abordagens efetuadas pelos
entrevistados.

A codificação dessa matriz também teve como base a presença ou ausência de


certos elementos e a frequência com que eles foram identificados (RICHARDSON,
1999). No total, foram obtidas 10 (dez) unidades de significados localizadas na matriz
de unidades de significado, conforme indicado no quadro 3.

Unidade de Significado Nome

US1 Aumento de desempenho


US2 Diminuição de custos com transporte
US3 Aumento no controle do estoque
US4 Acesso rápido às informações
US5 Controle efetivo dos processos de abastecimento
US6 Maior produtividade
US7 Reposição automática do estoque
US8 Satisfação nos resultados
US9 Redução de tempo
US10 Demonstração de resultados

Quadro 3: Unidades de Significado Identificadas nas entrevistas


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

5.3. Etapa da Análise de Conteúdo – Formação das Categorias

Nesta etapa, agruparam-se as unidades de significados, com o objetivo de se


criar uma matriz de Categorias. Essa etapa é conhecida, na literatura, como
categorização. As categorias são rubricas, ou classes, que reúnem um grupo de
elementos (unidades de registro) sob um título genérico, em função das características
comuns desses elementos (BARDIN, 2007). Para a definição das categorias, procurou-
se fazer o agrupamento utilizando-se critérios semânticos, sintáticos, léxicos e
expressivos recomendados por (RICHARDSON, 1999). Obteve-se, então, um total de 4
(quatro) categorias, conforme o quadro 4:

Categoria Unidade de Significado

C1 – Melhorias em Processos US1 – Aumento de desempenho


(Melhorias decorrentes da adoção de US5 – Controle efetivo dos processos
sistemas de colaboração) US6 – Maior produtividade

C2- Gerenciamento do estoque US3- aumento no controle do estoque


(Maior visibilidade do estoque) US7- Reposição automática do estoque
US11- Maior controle sobre excesso/falta
de produtos

C3 – Diminuição em custos US8 – Satisfação nos resultados


(Redução de tempo e de custos) US10 – Demonstrações de resultados
US9 – Redução de tempo
US2 – Diminuição de custos com transporte
C4 – Acesso e compartilhamento de US4 – Acesso rápido às informações
Informações
(Acesso à informação)

Quadro4: Categorias Identificadas nas entrevistas


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

5.4 Etapa da Análise de Conteúdo - Análise dos resultados

Nesta etapa, a análise deu-se pelo confronto entre os elementos formados pelas
categorias apresentadas no quadro 4(quatro) e a presença ou ausência dos elementos
identificados no referencial teórico estudado. Segue-se, então, a apresentação e análise
das 4 (quatro) categorias formadas na 3ª etapa da análise de conteúdo.

A categoria C1 – Melhorias em Processos foi formada a partir do agrupamento


das seguintes unidades de significado:
• US1 – Aumento de desempenho
• US5 – Controle efetivo dos processos
• US6 – Maior produtividade

Essa categoria sintetiza a melhoria em processos, como os principais resultados


obtidos por uma organização, em função da adoção de um sistema de colaboração, o
que está em linha com o fato relatado por Coughlan et al (2003). Os entrevistados
apontaram os resultados obtidos pelo processo de colaboração em suas instituições, nas
seguintes observações:

Empresa 1: Com os sistemas de colaboração é possível integrar os estoques dos


centros de distribuição com os nossos fornecedores, mesclando competências distintas
por meio de parcerias, evitando falta de produtos nas lojas.

Empresa 2: A gestão colaborativa promove fusão tecnológica com os nossos


clientes e fornecedores, trazendo flexibilidade, agilidade e benefícios para o
consumidor final.

Empresa 3: Com a implementação do sistema ECR, conseguimos reduzir tempo


e custos.

A categoria C2 – Gerenciamento do estoque foi definida a partir do agrupamento


das seguintes unidades de significado:

• US3- aumento no controle do estoque


• US7- Reposição automática do estoque
• US11- Maior controle sobre excesso/falta de produtos
Essa categoria identifica as características ou atributos percebidos de uso de um
sistema de colaboração que mais contribuem para a sua adoção. Os autores Corsten e
Kumar (2005) classificam as atividades do ECR em 3 grandes áreas da colaboração
manufatura-varejo: (1) Gerenciamento da demanda, (2) Gerenciamento do Suprimento,
e (3) Integradores e ferramentas que permitam atividades de relacionamento conjunto. A
percepção do uso ficou evidenciada em:

Empresa 1: Os detalhes de negociação são planejados em reuniões pontuais e


por meio do software interligado com os fornecedores e as lojas, a reposição dos
estoques dos centros de distribuição é feita automaticamente.

Empresa 2: O processo antes do sistema era todo físico, como por exemplo, o
vendedor tinha visitas semanais nos clientes e tirava pedidos, o que consumia muito
tempo com deslocamento e reuniões... Com a implantação, o vendedor passou a ser um
consultor de negócios, gerenciando a conta para que não falte produtos no estoque de
nossos clientes... Atualmente, a satisfação dos clientes aumentou consideravelmente.

Empresa 3: Com a utilização do software é possível integrar o departamento


comercial com o de produção numa empresa, e ainda interligar com o de compras dos
clientes que ela possui, com isso as empresas conseguem manter uma projeção de
vendas de forma mais efetiva, através do gerenciamento dos estoques de seus clientes.
Os resultados são muito positivos, pois conseguem compartilhar benefícios.

A categoria C3 – Diminuição em Custos está relacionada à estratégia da empresa


em obter vantagem competitiva por liderança em custo, conforme enfatizado por Porter
(2004).

• US8 – Satisfação nos resultados


• US10 – Demonstrações de resultados
• US9 – Redução de tempo
• US2 – Diminuição de custos com transporte

Empresa 1: A estratégia de negócios da empresa é manter preço baixo dos


produtos todos os dias.

Empresa 2: Com a utilização de um software criado para auxiliar na demanda


dos produtos, conseguimos agir de uma forma rápida, flexível e com menos custos de
transporte nas entregas.

Empresa 3: A demonstração dos resultados é percebida na diminuição de


custos e despesas na produção, transporte e deslocamento de vendedores,
possibilitando melhores margens nas negociações entre os parceiros.

A categoria C4 – US4 – Acesso rápido e compartilhamento de informações estão


relacionados à necessidade de suporte às atividades de logística estratégica, que
precisam fornecer informação certa para um planejamento estratégico, conforme
enfatizado por Gonçalves (2011).
Empresa 1: O controle do processo é todo automatizado, aumentando a
credibilidade das informações na hora de tomar decisões.

Empresa 2: Acompanhar de perto a necessidade dos nossos clientes, além do


acréscimo na produtividade faz com que aumente também o relacionamento com os
nossos fornecedores, com demandas programadas.

Empresa 3: O maior benefício dos softwares de colaboração é o acesso rápido


e o compartilhamento das Informações via sistema.

5.5. Etapa da Análise de Conteúdo - Interpretação dos resultados

Na etapa final da análise de conteúdo, com base na interpretação dos resultados,


optou-se pela proposição de uma sistematização de categorias que fosse capaz de
sintetizar os principais resultados obtidos.

A sistematização apresenta as categorias identificadas, que impactam a


demonstração dos benefícios percebidos pelo processo de colaboração e que podem ser
utilizados em pesquisas posteriores, como visualizadas na Figura 3. Observa-se que,
além das características percebidas no uso dos sistemas colaborativos, estas categorias
também dão suporte para obtenção de vantagem competitiva por meio da estratégia de
liderança em custos.

Figura 03: Sistematização de categorias decorrente da pesquisa


Fonte: Elaborado pelos autores (2012)

6 Conclusão

Esta pesquisa teve como propósito responder ao seguinte problema: Quais os


benefícios percebidos pela a adoção de sistemas de colaboração?

Após a realização das entrevistas e a posterior análise feita a partir das


transcrições destas, constatou-se o ênfase dado às percepções de uso dos sistemas de
colaboração, bem como a melhoria em processos, gerenciamento de estoques e
diminuição de custos. Tais constatações evidenciam que os respondentes identificam
que alguns aspectos relacionados à própria colaboração devem ser considerados em sua
adoção, conforme sugerido por Powell, Koput e Smith-Doerr (1996) e Coughlan et al.
(2003).

Com resultado da pesquisa ressaltam-se melhorias obtidas no processo. Deste


modo, é fato que as novas tecnologias e processos propiciem as empresas estruturarem-
se de modo a compartilhar informações para além de seus ambientes organizacionais,
obtendo vantagens em custos, flexibilidade, acesso a novas tecnologias e redução de
tempo para realizarem inovações.

Observou-se também, na pesquisa aliada à redução de tempo e custos, que é


importante para as empresas adotantes do processo de colaboração também sentirem
confiança no acompanhamento e gerenciamento do processo. A questão da confiança é
muito relevante em ambientes que integram tecnologias e estratégias advindas de
alianças e/ou parcerias.

O conceito é aplicado estrategicamente em gestão de negócios para obter


vantagem competitiva por meio da colaboração de stakeholders para um determinado
processo em rede em desenvolvimento de uma logística empresarial.

A implementação estratégica das ferramentas colaborativas depende de como as


organizações podem pensar, aprender e agir nos processos por meio de stakeholders em
rede de colaboração, considera-se assim o que muitos pesquisadores acreditam, ou seja,
que cada empresa integrada ao negócio tem vontade própria.

Desta forma, entende-se que a distinção do pensamento estratégico setorial é


importante na análise da implantação de um sistema colaborativo. Se por um lado, no
mercado varejista busca-se o foco no aumento do giro e redução das rupturas nas
gôndolas dos mercados. Em indústrias as atividades em sistemas de colaboração são
essenciais para descobrir até que ponto estes sistemas tem utilidade estratégica para
analisar desempenhos em processos de produção, com ou sem utilização otimizada de
recursos. O risco deste processo analítico envolve dar legitimidade de poder ao
fornecedor de forma estratégica por pró-atividade, na qual pode ser controlada com base
em novas ações e responsabilidade que vão desde o compartilhamento de recursos
tecnológicos para transações comerciais on-line até o problema físico, como, por
exemplo, o abastecimento direto para balanceamento dos estoques a cada ponto de
venda em cadeia no mercado varejista.

Esta pesquisa foi realizada com apenas três instituições de segmentos diferentes;
por conseguinte, a mesma representa a realidade destas instituições, não permitindo
generalizações. Fica, então, a recomendação para futuras pesquisas, com um número
maior de instituições; com instituições localizadas em outras regiões do país, bem como
pesquisas de natureza quantitativa, que permitam maiores possibilidades de
generalizações, ou validação da sistematização de categorias apresentado na Figura 3.

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1

Gestão Socioambiental: avaliação das práticas para a sustentabilidade na


indústria

Henrique Martins Galvão1

Resumo
A regulação pode ser um caminho para as empresas adequarem suas práticas de gestão. No
entanto, empresas com processos mais maduros tendem a adotar uma postura proativa e
preferir antecipar as regulamentações. Tais medidas podem ocorrer por meio das práticas de
gestão socioambientais que contribuam para obtenção de desempenho superior em seus
processos, produtos e na melhoria dos relacionamentos com seus stakeholders direcionados
para a sustentabilidade nos negócios. Sob este enfoque, o presente estudo buscou no
referencial teórico as bases conceituais para a elaboração de modelo aplicado em três
indústrias. Os resultados indicaram que as empresas estão compromissadas com as práticas de
responsabilidade social, mas ainda demandam esforços para avançar em direção a
sustentabilidade empresarial.
Palavras-chaves: Responsabilidade Social Empresarial; Gestão Socioambiental; Estratégia;
Triple Bottom Line; Aprendizagem.

Abstract
The setting can be a way for companies adapt their management practices. However,
companies with more mature processes tend to adopt a proactive stance and prefer to
anticipate the regulations. Such measures may occur through environmental management
practices that contribute to superior performance in its products, processes and improving
relationships with its stakeholders targeted to business sustainability. Under this approach, the
present study aimed at the theoretical bases for the elaboration of conceptual model applied in
three industries. The results indicated that companies are committed to the practice of social
responsibility but still require efforts to move toward sustainability.
Keywords: Corporate Social Responsibility, Environmental Management, Strategy, Triple
Bottom Line; Learning.

1. INTRODUÇÃO

Para enfrentar as ameaças e restrições ambientais, as empresas procuram adequar suas


práticas de gestão com objetivos socioambientais em sintonia com os interesses dos
stakeholders. Muitas empresas vão além do cumprimento das regulamentações ambientais,
atuando na prevenção dos impactos ambientias, incorporam projetos sociais e aderem
voluntáriamente aos programas, normas e principios socioambientais. Logo, as questões
socioambientais (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008) demandarão medidas e ignorar o
comportamento dos clientes e consumidores, as pressões das relações comerciais, as políticas

1hengal@ig.com.br / hmgalvao@usp.br
Bacharel em Administração e Mestre em Administração (PUC-SP), doutorando em Administração pela FEA-USP, professor
e coordenador de Administração da FATEA – Salesianas.
2

ambientais e a fiscalização dos órgãos governamentais podem ocasionar pesado ônus sobre as
organizações.
Nota-se que a pressão ocorre nos dois lados, de um lado tem a pressão social e de
outro o processo de regulamentação ambiental do governo. Apesar disso, as empresas não são
responsáveis por todos os problemas (PORTER e KRAMER, 2006) e nem têm todos os
recursos necessários para resolvê-los. Porém, qualquer empresa pode identificar algum
problema social e ambiental para melhor se preparar e propor solução, para o qual pode ser
uma oportunidade para obter vantagem competitiva. Moura (2008) sugere que a empresa
deve, antes de tudo, analisar como atender seus clientes e assegurar que a melhoria do seu
desempenho, principalmente, ambiental manterá seu negócio no longo prazo. A questão é
saber como uma organização pode criar diferenciais socioambientais competitivos por meio
das práticas de gestão para a sustentabilidade?
Diante disso, este estudo aborda as bases de diferenciação competitiva, considerando
relevantes as práticas de gestão para a sustentabilidade que contribuam para as empresas
alcançarem resultados econômicos, sociais e ambientais. Como limitação de estudo, destaca-
se que não existem soluções fáceis, o ambiente organizacional é complexo, dinâmico e as
mudanças são rápidas, os quais implicam em práticas de gestão não menos complexa com
inúmeras interfaces internas e externas.

2.REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. Responsabilidade Socioambiental como Estratégica Competitiva

O desenvolvimento sustentável manifesta-se como alternativa consistente e que atende


as necessidades presentes sem comprometer que as gerações futuras possam satisfazer as suas
e evoluir normalmente (BARBIERI, 1997). Deste modo, a sustentabilidade empresarial
remete ao equilíbrio das dimensões econômica, ambiental e social. De acordo com Instituto
Brasileiro de Governança Corporativa – IBGC (apud LOUETTE, 2007), o conceito de
sustentabilidade representa uma nova concepção de se fazer negócios, visando sustentar a
viabilidade econômico-financeira dos empreendimentos, além de retornar para a empresa
reconhecimento dos stakeholders e melhoria da imagem.
Na definição do Instituto Ethos (2007), a sustentabilidade empresarial consiste em
garantir o sucesso do negócio no longo prazo, e ao mesmo tempo contribuir para o
desenvolvimento econômico e social da comunidade, sem se esquecer do aspecto ambiental.
O conceito do Triple Bottom Line é útil para a empresa criar uma agenda que considere não
3

somente o valor econômico, bem como esteja centrada no valor ambiental e social. Conforme
Elkington (2004), as empresas necessitam de uma agenda que conduza a sustentabilidade
como, por exemplo, análises das condições do mercado e os fatores de instabilidade e o
gerenciamento do ciclo de vida dos produtos e tecnologias, interligando sua cadeia de
suprimentos e distribuição.
O fato é que as estratégias de responsabilidade social não devem ser vista separadas da
organização e da sua cadeia de valor. Os resultados afetam toda a cadeia e os objetivos
econômicos, sociais e ambientais devem ser partilhados conjuntamente, visando maximizar os
resultados para as organizações e a sociedade (ETHOS, 2007). A ligação da responsabilidade
social com a cadeia de valor permite que as organizações obtenham vantagem competitiva e o
engajamento dos parceiros para práticas socioambientais possibilitam melhoria do
desempenho financeiro. Entretanto, isso não ocorre somente por boas práticas, conduta ética
ou porque reduz os custos de transação.
Husted e Allen (2001) adotam abordagem integrada partindo de uma estratégia de
negócio para uma estratégia social, considerando os relacionamentos com estrutura da
indústria, com os recursos internos da organização, com os seus valores e ideologias e com os
stakeholders. Nesta direção, a relação entre a Responsabilidade Social Empresarial com a
estratégia e vantagem competitiva é apresentada por Porter e Kramer (2006). A partir do
modelo tradicional da cadeia de valor e do diamante, os autores desenvolveram o
“mapeamento do impacto social da cadeia de valor” e a “influencia social sobre a
competitividade”.
A abordagem de Porter e Kramer (2006) consiste, principalmente, em contribuir com o
avanço da responsabilidade social empresarial visando entender amplamente a inter-relação
entre a organização e a sociedade e simultaneamente atrair estratégias e atividades das
empresas, ou seja, as influências que ocorrem de “dentro para fora” e de “fora para dentro”.
Além disso, os autores destacam a importância do engajamento dos gerentes, elo entre o nível
estratégico e o operacional. A liderança exercida pelos gerentes é crucial para criar sinergia
entre as atividades da cadeia de valor, bem como conectando com as das outras organizações.
Mirvis e Googins (2006), afirmam que a liderança (CEO) da organização é um fator
crucial para o desenvolvimento de uma empresa cidadã, os líderes estão cada vez mais
envolvidos. Os executivos do topo se tornam visionário e de transformação do processo de
tornar as organizações modelos de práticas sustentáveis. Além disso, os executivos dos
departamentos de assuntos ligados à comunidade, de gestão ambiental e de comunicação
4

empresarial se uniram para conectar a gerência sênior e os comitês funcionais cruzados, além
das chefias que estabeleceram conexões com a comunidade.
Conforme Barbieri et al (2010), a sustentabilidade econômica pode ser alcançada pela
inovação em produtos, processos e modificações no modelo de negócio, que proporcionem
maior produtividade. O alcance da sustentabilidade social pode resultar dos programas que
proporcionem melhorias da qualidade de vida dos funcionários, da comunidade do entorno da
empresa. Em relação a sustentabilidade ambiental, as inovações estão relacionadas, por
exemplo, com a redução ou eliminação dos gases de efeitos estufa e uso dos combustíveis
fósseis.
Embora, a promoção da sustentabilidade nos negócios seja desafiante, a intersecção
entre negócios e ambiente é cada vez mais crítica. Aspectos da estratégia empresarial, os
planos de ação e políticas que valorizem os princípios da sustentabilidade são necessários para
nortear as ações em todos os níveis organizacionais. Entretanto, a organização deve ser dotada
de competências e capacidades que propiciem práticas de gestão socioambientais eficientes.

2.2 – Desempenhos das Práticas Socioambientais

A sustentabilidade empresarial pode ser viabilizada mediante as certificações de


padrões de qualidade ou socioambientais. As certificações ou normas são ferramentas muito
utilizadas para avaliação do desempenho das práticas ambientais inovadoras. De modo geral,
as empresas estão mais suscetíveis às normas certificadoras da Série ISO 9000 e ISO 14000.
As certificações sociais, por exemplo, a OHSAS 18001 e a SA 8000, podem estimular as
empresas a adotarem práticas socialmente responsáveis, bem como a ISO 26000, que foca
temas centrais da responsabilidade social empresarial (ALIGLERI, ALIGLERI e
KRUGLIANSKAS, 2009). Existem várias metodologias para uso de indicadores com o
objetivo de medir e relatar as práticas de sustentabilidade empresarial social, ambiental e
econômica, tais como, os Indicadores Ethos de Responsabilidade Empresarial e o Global
Reporting Initiative – GRI (LOUETTE, 2007).
Os Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial foram desenvolvidos
pelo Instituto Ethos, organização não governamental, e servem como ferramenta de uso
essencialmente interno e permite auto-avaliação da gestão quanto às práticas de
responsabilidade social. Os indicadores de desempenho abrangem sete temas ou dimensões: 1)
Valores, Transparência e Governança; 2) Público Interno; 3) Meio Ambiente; 4)
Fornecedores; 5) Consumidores e Clientes; 6) Comunidade; e 7) Governo e Sociedade. O
5

relatório permite que a empresa assinale um dos quatros estágios: (1) básico, (2) intermediário,
(3) avançado e (4) proativa.
A Global Reporting Initiative – GRI é uma organização internacional com sede em
Amsterdã, na Holanda, criada em 1997, como iniciativa do Programa das Nações Unidas para
o Meio Ambiente – PNUMA e da Coalizão por Economias Ambientalmente Responsáveis -
CERES. O GRI tem como objetivo estabelecer um padrão mundial de relatório econômico,
social e ambiental. O relatório da GRI compõe os seguintes princípios: materialidade, inclusão
dos stakeholders, contexto da sustentabilidade, abrangência, equilíbrio, comparabilidade,
exatidão, periodicidade, clareza e confiabilidade (DIAS, 2012).
As várias metodologias e critérios adotados são decorrentes da finalidade da
mensuração da sustentabilidade, do campo de estudo e da organização ou instituição, cada
qual utiliza a mais conveniente ou faz adaptação de algo existente para os moldes necessários
a cada situação. É provável que as variedades de metodologias encontradas sejam decorrentes
do conceito de sustentabilidade não ser único e ter abordagens diversas em diferentes setores
produtivos e em diferentes países. Encontramos na literatura várias tipologias empregadas
para avaliação das práticas para a sustentabilidade. Os modelos visam avaliar o grau de
maturidade em que as empresas se encontram em diferentes estágios da prática da
responsabilidade socioambiental. Alguns modelos são instrumentos de medição do
desempenho econômico social e ambiental. Sendo assim, os modelos são iniciativas que
possibilitam quantificar, medir e comparar resultados para a tomada de decisões.
O modelo do nível de maturidade da sustentabilidade proposto por Nidumolu, Prahalad
e Rangaswami (2009) associam as práticas empresariais com inovações para a
sustentabilidade. A competitividade das empresas está, portanto, relacionada com as
competências organizacionais capazes de promover inovações sustentáveis. O modelo propõe
cinco estágios de maturidade.
• estágio 1: observa-se o compromisso da empresa com as questões socioambientais, adesão
dos códigos de conduta voluntários e normas de conformidade socioambientais;
• estágio 2: a empresa adota práticas que incluem as atividades da cadeia de valor,
envolvendo os colaboradores internos e parceiros da cadeia de suprimentos, para assegurar
compromisso para tornar operações sustentáveis;
• estágio 3: as práticas são orientadas para o redesenho de produtos e serviços
ambientalmente amigáveis, explorando e priorizando o uso de competências e ferramentas
para inovações nos produtos em conjunto com os parceiros da cadeia;
6

• estágio 4: a empresa tende a explorar novas alternativas no modo como os negócios são
realizados através do desenvolvimento de um novo modelo de negócio que proporcionem a
entrega de valor superior com critérios de sustentabilidade;
• estágio 5: neste estágio, as práticas para a sustentabilidade expandem de um novo produto
ou processos, seja na forma de novos métodos de fabricação ou de distribuição para
capturar as oportunidades do mercado por meio da integração de soluções inovadoras.

Figura 1: Visão dos Níveis de Maturidade da Sustentabilidade (adaptado pelo autor)


Fonte: NIDUMOLU, Ram; PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. (2009)

Conforme Mirvis e Googins (2006) não há um modelo de avaliação da


responsabilidade social que melhor se encaixe a todas as empresas, cada empresa deve
identificar os valores e práticas que asseguram a estratégia e o gerenciamento apropriado de
acordo seu histórico e especificidades dinâmicas do setor e dos stakeholders. No modelo
proposto pelos autores o engajamento da empresa nas práticas de responsailidade social pode
variar para cada uma das sete dimensões entre cinco estágios, os quais irão determinar o grau
de engajamento em termos de: elementar, engajada, inovativa, integrada e transformadora. As
dimensões das práticas de responsabilidade social são classificadas em: conceito de cidadania,
intenção estratégica, liderança, estrutura, gerenciamento de resultados, relacionamento com
stakeholders e transparência. O modelo contribuir para medir o desempenho ambiental e
social das empresas, bem como ajudá-las a melhorar e comunicar seus esforços de atuação
responsável.

Figura 2: Modelo de Avaliação da Responsabilidade Social Empresarial (adaptado pelo autor)


Fonte: MIRVIS, Philip e GOOGINS, Bradley K. (2006)
Os modelos e instrumentos ilustram o elevado interesse que envolve a questão da
sustentabilidade, abrangendo não somente o nível organizacional como também todos os
stakeholders que se relacionam com a empresa. O uso dos instrumentos de avaliação de
maturidade e dos indicadores proporciona benchmarking poderoso e permite que as empresas
7

avaliem seu desempenho econômico, social e ambiental, além de contribuir para identificar as
novas maneiras e práticas gerenciais que estimulem as empresas na melhoria e inovação dos
seus processos, operações e produtos, bem como estabelecer estratégias para o
posicionamento futuro.

3. METODOLOGIA DA PESQUISA

Para atender os objetivos deste estudo de natureza descritiva e qualitativa, utilizou-se o


método de estudo de caso. Conforme Yin (2001: 20) o estudo de caso como sendo um modo
inigualável que possibilita a compreensão dos fenômenos individuais, organizacionais e
gerenciais, sociais e políticos. O estudo de caso é uma estratégia utilizada quando se focaliza
acontecimentos contemporâneos, os quais podem ser normalmente encontrados na psicologia,
na sociologia, na ciência política, na administração, no trabalho social, no planejamento e na
economia. Em relação à economia, o estudo de caso pode abranger determinada indústria,
cidade ou região. Nesse contexto, esse estudo busca encontrar resposta às questões do tipo
“como”, por exemplo, como as organizações adotam práticas de gestão para a
sustentabilidade? Face à relevância do tema de estudo, os dados primários foram coletados
mediante a identificação de três empresas do setor industrial. Para a coleta dos dados
primários, foi utilizado um questionário estruturado com perguntas fechadas embasadas no
modelo conceitual proposto, visando a obtenção dos resultados para atender os objetivos do
estudo. O questionário foi encaminhado por e-mail para os diretores e gerentes das áreas
administrativas e de operações, todos com mais de cinco anos de atuação nas empresas.

3.1 Modelo Conceitual da Pesquisa

O modelo conceitual utilizado neste estudo tem como base o referencial teórico para
avaliar como as práticas de gestão para a sustentabilidade contribuem para o desempenho
superior nas dimensões econômicas, sociais e ambientais. O processo parte da formulação da
estratégia, cuja implementação também depende dos recursos e capacidades organizacionais
para promover mudanças e construção de relacionamentos internos e externos. Nesta
perspectiva, o modelo considera a capacidade de aprendizagem organizacional e sua
influência para realizar inovações e melhorias socioambientais em seus processos e produtos
de acordo com as expectativas dos stakeholders e em atendimento às leis e regulamentações
governamentais. Segue abaixo a representação gráfica do modelo:
8

Figura 3: Concepção do Modelo de Avaliação das Práticas de Gestão para a Sustentabilidade

Fonte: elaborado pelo autor


O modelo permite analisar as práticas realizadas na organização e inferir sobre as
práticas de gestão para a sustentabilidade. O modelo está subdividido em oito dimensões:
estratégia, ambiental, social, fornecedores, processos e produtos, mercado, organização e
aprendizagem, conforme descrito a seguir:

Tabela 1: Dimensões das Práticas de Gestão

Fonte: Elaborado pelo autor


9

Para cada dimensão foram selecionadas seis afirmações relacionadas às práticas


realizadas na organização, para quais permitam atribuir respostas do tipo: “Concordo
Plenamente”; “Concordo Parcialmente”; “Não Concordo Nem Discordo”; “Discordo
Parcialmente” e “Discordo Plenamente” e correspondendo, respectivamente, a escala de
pontos entre 1 (um) e 5 (cinco).

4. Análise dos Resultados

As empresas foram classificação em “A”, “B” e “C”, sendo duas (“A” e “B”) de médio
porte, das quais uma tem estrutura de capital 100% nacional. A empresa “C” é de grande
porte e de capital estrangeiro. Todas as empresas declararam possuir em sua estrutura
organizacional um departamento de Meio Ambiente, Saúde e Segurança no Trabalho -
MASST. Além disso, os resultados permitiram verificar que as empresas “A” e “B” têm em
sua estrutura organizacional um departamento de P&D ou Laboratório de Pesquisa. Em
relação à adoção das normas de certificação, as empresas “A” e “B” declararam ter
implantado as Normas ISO 9001 e ISO 14001 e somente a empresa “B” possui a norma SA
8000 e nenhuma possui certificação OHSAS 18001. Segue abaixo quadro demonstrativo:

Tabela 2: Características das Empresas

Empresa Porte Setor Capital MASST P&D/L.P. Certificações


ISO 9001 e
“A” Médio Químico Nacional Sim Sim ISO 14001
“B” ISO 9001, ISO 14001 e
Médio Metalúrgico Multi Sim Sim SA 8000
“C” Grande Metalúrgico Multi Sim Não ISO 9001

Fonte: Dados da Pesquisa

A seguir é apresentado os resultados das pontuações recebidas pelas empresas em cada


dimensão. A síntese das pontuações foi obtida, por meio dos pontos atribuídos em cada uma
das oito dimensões, conforme representadas Tabela 1. Os resultados permitiram inferir sobre
as práticas empresariais de gestão para a inovação da sustentabilidade. Além disso, foi
possível analisar a relação da aprendizagem organizacional e sua influencia para a adoção de
melhorias e inovação em processos e produtos.
10

Tabela 3: Resultados das Práticas de Gestão para Inovação

Dimensões A B C

Estratégia 4,8 4,7 4,7


Fornecedores 2,2 2,5 3,3
Ambiental 4,7 4 4,5
Social 3 4,5 4
Mercado 4,3 3 4
Processos 4,3 4 3,3
Organização 4,2 4,2 4,2
Aprendizagem 4,5 4,7 3,7

Fonte: Dados da Pesquisa

O gráfico a seguir demonstra de modo ilustrativo o desempenho das práticas


organizacionais em cada uma das oito dimensões analisadas. Quanto mais próximo de 5
(cinco), mais as práticas empresarias estarão alinhadas com a sustentabilidade:

Gráfico 1: Desempenho Inovador das Empresas


Fonte: Dados da Pesquisa

Empresa A: Setor Químico


Verificou-se que na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza normas e planos
relacionando-os à estratégia e práticas para a sustentabilidade. A visão, missão, princípios e
11

códigos de conduta são declarados e considerados relevantes para o desempenho econômico,


social e ambiental. Entretanto, existe espaço para avançar na comunicação da estratégia com
stakeholders, bem como em estimular ações socioambientais externas nos diferentes níveis
organizacionais. A empresa estabelece metas de desempenho e avalia constantemente os
riscos e os impactos das suas atividades.
Na dimensão “ambiental”, a empresa adota políticas e programas de redução do uso de
recursos naturais e dos danos ambientais pela geração de resíduos. Por se tratar de empresa do
setor químico, as suas práticas ambientais estão alinhadas com as regulamentações e
legislações ambientais. Observou-se, contudo, que a substituição ou redução dos recursos não
renováveis dependem de avanços nas inovações tecnológicas assim como, nas práticas de
monitoramento da geração dos gases de efeito estufa.
Na dimensão “social”, verificou a existência de espaços significativos para a empresa
avançar nas práticas de comunicação e relacionamentos socialmente responsáveis
compartilhadas com públicos internos e parceiros da cadeia de suprimentos. De forma
semelhante, a dimensão “fornecedores” exige empenho para o desenvolvimento de práticas
socioambientais integradas com parceiros. No entanto, a empresa adota política de compra
que privilegia fornecedores com certificação socioambiental.
No tocante a dimensão “processos e produtos”, a empresa declara que seus processos
são apropriados e existe flexibilidade organizacional para o desenvolvimento de projetos de
melhoria e inovação do desempenho ambiental. Também faz uso dos indicadores ambientais.
A empresa apresenta fragilidade em estabelecer relações de cooperação com universidades e
centros de pesquisa. Apesar disso, a empresa investe em P&D e através do laboratório de
pesquisa interno.
Na dimensão “mercado”, constatou-se que a empresa compreende bem seu papel,
buscando soluções para os problemas dos clientes e adota práticas que asseguram o uso e
manuseio dos produtos, além de investigar as ocorrências que causam danos ambientais. Mas,
merecem ações de melhoria no que se refere ao uso dos indicadores socioambientais dos
parceiros, que podem ser úteis como forma de benchmarking para adoção de práticas
inovadoras.
Quanto a dimensão “organização”, a empresa adota práticas de treinamento e de
desenvolvimento dos seus colaboradores e, em sua estrutura a comunicação flui e atende
razoavelmente os objetivos e metas ambientais estabelecidas. As competências e capacidades
da organização são estimuladas parcialmente para a busca de soluções socioambientais nos
diferentes níveis, bem como clima de apoio para novas ideias, visando a melhoria e inovações
12

em processos e produtos. Esses aspectos corroboram om os resultados da dimensão


“aprendizagem”, constatando que existe razoável comprometimento da organização para
promover a aprendizagem organizacional.

Empresa B: Metalúrgico
Na dimensão “estratégia”, a empresa prioriza estratégias em termos de programas,
normas e planos de curto e médio prazo visando práticas para a sustentabilidade. Nos seus
objetivos e metas, a empresa declara incluir todos os stakeholders. Além disso, tem como
prática avaliar implicações econômicas e financeiras devido aos impactos ambientais das suas
atividades. Contudo, a visão, a missão, códigos de conduta e princípios internos para o
desempenho sustentável foram declaramos como parcialmente relevantes e as estratégias para
inovação não são expressas de maneira clara.
Em relação à dimensão “ambiental”, a empresa adota postura proativa, declarando a
existência de programas estruturados para redução do consumo de recursos naturais não
renováveis em todas as suas atividades, bem como tem por prática monitorar a geração de
resíduos sólidos e líquidos. A empresa não possui certificação ISO 14001 e não afirmou a
prática do monitoramento da geração dos gases de efeito estufa. No entanto, foi declarado que
atendem plenamente a legislação e regulamentação ambiental, buscando prevenção e redução
dos impactos ambientais.
Os dados permitiram analisar que na dimensão “social”, as práticas são declaradas
como parcialmente realizadas tais como, projeto sociais com a comunidade, ações em
conjunto com governos e terceiro setor, limitando a formação de parcerias e outros tipos de
apoio. Apesar disso, adota práticas de prevenção da segurança e saúde dos colaboradores.
Na dimensão “fornecedores”, o aspecto mais relevante está relacionado com o trabalho
em conjunto com fornecedores, visando o desenvolvimento de materiais que causem menor
impacto ambiental. A empresa apresenta limitações quanto às práticas de acompanhamento
dos indicadores socioambientais e ações conjuntas de mitigação. Mas, tem por prática
políticas de compras que priorizam certificações socioambientais dos seus parceiros.
Em relação a dimensão “processos e produtos”, foi declarado que o envolvimento das
áreas internas para o desenvolvimento de novos produtos e processos são parcialmente
assegurados, bem como o uso dos indicadores para avaliação do desempenho econômico,
social e ambiental. Tais aspectos estão relacionados a não confirmação da existência de
processos apropriados para o gerenciamento de um novo produto quanto aos quesitos
13

ambientais assim como, pesquisa e desenvolvimento, denotando fraca flexibilidade inovadora


para a sustentabilidade.
Na dimensão “mercado” foi verificado boas práticas para a solução das demandas dos
clientes. Também foi declarada que a empresa tem como meta a análise do ciclo de vida dos
seus produtos visando reduzir os impactos ambientais. Entretanto, a empresa tem limitações
quanto às práticas de engajamento dos stakeholders para a promoção de comunicação e
avaliação orientadas para a redução dos impactos ambientais.
No tocante a dimensão “organização”, foi constatada que a comunicação
organizacional é parcialmente eficaz. Este aspecto corrobora para a não confirmação do clima
de apoio para novas ideias. No entanto, a empresa busca manter uma política transparente e
atuar em ações que procuram estimular as pessoas para práticas socioambientais entre os
diferentes níveis. Desta forma, o processo de aprendizagem é influenciado parcialmente pelas
oportunidades de melhoria e pelos programas de treinamento e desenvolvimento, exigindo
ações mais concretas para elevar a flexibilidade organizacional para a inovação.

Empresa C: Metalúrgico
Em relação à dimensão “estratégia”, foi constatado que a empresa adota estratégias
que expressam a visão, missão, valores e princípios, bem como prioriza objetivos e metas para
a sustentabilidade. Na dimensão “ambiental”, a empresa tem por prática a adoção de
programas que visam reduzir o consumo de recursos naturais não renováveis em todas as
atividades, incluindo o monitoramento da geração de resíduos sólidos e líquidos, visando sua
redução. A empresa também atua em sintonia com a legislação e regulamentação ambientais,
mas não vai além das determinações legais.
Para a dimensão “social”, foi verificado desempenho significativo da empresa no
tocante à conduta ética. Quanto às formas de comunicação, relacionamentos e práticas
socioambiental responsáveis com os stakeholders a empresa demonstra desempenho parcial.
Na dimensão “fornecedor”, foi verificado que a empresa não tem como prática
acompanhar indicadores socioambientais dos seus parceiros, bem como baixo incentivo em
compartilhar riscos dos impactos socioambientais compartilhados. Também foi constatando
baixa integração com fornecedores das práticas de cooperação objetivando melhorias e/ou
inovações que atendam os quesitos para a sustentabilidade.
Em relação a dimensão “processos e produtos”, constatou que a empresa tem
processos apropriados para gerenciar o desenvolvimento de um novo produto que atendam
quesitos ambientais. No entanto, foi declarado práticas parciais nos investimentos continuados
14

para pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e processos de visam a melhoria dos


aspectos socioambientais.
Na dimensão “mercado”, a análise dos dados evidenciou baixo desempenho em
relação às práticas de comunicação, relacionamento e engajamento dos clientes. Na dimensão
“organização”, os dados demonstraram que a empresa adota práticas de apoio para novas
ideias. Também foi verificado práticas parciais relacionadas às formas de comunicação
através da organização e práticas de estimulo dos colaboradores internos para as ações
compartilhadas entre os diferentes níveis da organização. Constatou-se exigência parcial que
privilegia parceiros da cadeia de suprimentos certificados pelas normas socioambientais.
Em relação a aprendizagem, constatou-se forte atuação no que se refere às políticas e
às práticas de estímulo à aprendizagem organizacional orientada para a busca de soluções
sustentáveis. Verificou-se que a empresa tem flexibilidade para atuar em conjunto
universidade e centros de pesquisa para ajudar a desenvolver e inovar produtos ecoeficientes e
socialmente corretos. Outro aspecto relevante está relacionado às práticas de promoção de
treinamentos e desenvolvimentos dos colaboradores

4.1. Estágios da Gestão das Práticas para a Sustentabilidade

Gráfico 2: Estágios das Empresas na Gestão das Práticas para a Sustentabilidade


Fonte: Dados da Pesquisa
15

Estratégia:
Com base nos resultados, verifica-se que as três empresas alcançaram excelente desempenho,
fixam estratégias direcionadas para a sustentabilidade, estabelecendo direcionamento para
princípios e objetivos socioambientais.
Fornecedores: As práticas inovadoras a partir da relação com os stakeholders se mostrou
limitada nas três empresas analisadas.
Ambiental: A pressão das políticas regulatórias contribui para que as empresas inovem nas
tecnologias de tratamento dos resíduos industriais, bem como pelos fatores de pressão da
demanda. Exceto para as empresas “A” e “B”, constatou que a empresa “C” tem limitações na
gestão ambiental restringe práticas ambientais.
Sociais: As práticas empresariais relacionadas com os aspectos sociais foram mais percebidas
na empresa “B” e menos da empresa “C”. A empresa “A” declarou possuir a certificação SA
8000, evidenciando o relacionamento que a empresa mantém com a comunidade no seu
entorno.
Mercado: Na relação com o mercado, ficou evidenciado práticas empresariais direcionadas
para o atendimento das reclamações dos clientes e menos com o engajamento para as questões
socioambientais.
Processos: O uso das tecnologias ambientais de “fim-de-tubo” são evidenciadas,
corroborando para o cumprimento da legislação. Na empresa “A” existe maior preocupação
para a adoção das tecnologias ambientais de prevenção, denotando que a empresa reduz uso
das emissões diretamente na fonte, bem como adota prática de melhorias ou inovações
significativas nos processos e produtos.
Organização: Constatou-se que o bom desempenho das empresas na dimensão
“organizacional” reflete a flexibilidade da comunicação entre os departamentos, com
potencial para estimular e engajar os colaboradores a compartilhar ações de melhorias e
inovação para a sustentabilidade.
Aprendizagem Organizacional: Na análise da aprendizagem organizacional, constatou-se,
exceto a empresa “C”, que as empresas “A” e “B” desenvolvem práticas que podem assegurar
mudanças e adequar a empresa efetivamente às inovações para a sustentabilidade.

Considerações Finais
Este estudo procurou analisar as práticas de gestão no contexto da sustentabilidade
empresarial. O modelo proposto de análise evidenciou a abordagem integradora das práticas
organizacionais para a análise das práticas de gestão.
16

A partir dos resultados, é possível considerar que as empresas enfrentam grande


desafio para promover práticas de gestão de forma integradora. As ações de cumprimento das
legislações ambientais são mais percebidas por meio da adoção das tecnologias controle e
menos pela adoção das inovações tecnológicas ambientais de prevenção. Constatou-se que a
visão integradora das práticas de gestão para a sustentabilidade ainda são fragmentadas, que
também dificultam explorar o potencial de aprendizado com os stakeholders, principalmente
com os parceiros da cadeia de suprimentos e centros de pesquisa. Cabe destacar, conforme
visto no referencial bibliográfico, que as empresas precisam compor a agenda das práticas
organizacionais. Nesse sentido, as estratégias e os objetivos almejados fortalecem a aquisição
de conhecimento e tornar o aprendizado organizacional constante para promover práticas de
gestão que proporcionem desempenho socioambiental superior.
Assim, considerando as limitações do estudo, face à dificuldade de acesso às
informações e restrita ao número de empresas, o modelo permite considerar que sua utilização
ou de outras ferramentas de análise auxiliam na identificação do desempenho das empresas
para a participação efetiva na questão da sustentabilidade, com vistas a identificar o perfil das
empresas. O estudo também permitiu identificar as oportunidades de melhoria necessária,
bem como possibilita priorizar implementação das atividades com foco nas práticas
socioambientais. Diante do exposto, espera-se o presente estudo possa contribuir para reflexão
e visando a melhoria do desempenho socioambiental das empresas, bem como contribuir para
outros e aplicações práticas de estudo.

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responsabilidade e sustentabilidade do negócio. São Paulo: Atlas, 2009.
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adm. empresa. vol.50 no.2 São Paulo Abr./Jun 2010. Acesso em: 09/02/12. Disponível em:
http://www.scielo.br
BARBIERI, J. C. Desenvolvimento e Meio Ambiente: as estratégias de mudanças da agenda
21. 3ª. Ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1997.
DIAS, Reinaldo. Responsabilidade Social: fundamentos e gestão. São Paulo: Atlas, 2012.
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Disponível em: http://www.johnelkington.com/TBL-elkington-chapter.pdf
17

ETHOS, Instituto. Indicadores Ethos de Responsabilidade Social Empresarial 2007.


[Coordenação: Ana Lucia de Melo Custódio e Renato Moya]. São Paulo: Instituto Ethos,
2007.
HUSTED, Bryan W. e ALLEN, David B. Toward a model of corporate social strateg
formulation. 2001. Acesso em: 15/06/2011. Disponível em:
http://egade.sistema.itesm.mx/investigacion/documentos/documentos/18egade_husted.pdf

LOUETTE, A. (org.). Gestão do Conhecimento: compêndio para a sustentabilidade:


ferramenta de gestão de responsabilidade socioambiental. 2ª. ed. São Paulo: Antakarana
Cultura Arte e Ciência, 2007.
MIRVIS, P.; GOOGINS, B. K. Stages of Corporate Citizenship: a development framework.
The Center for Corporate Citizenship at Boston College. 2006.
Acesso em: 31 de maio de 2011. Disponível em: http://www.bc.edu/corporatecitizenship.
MOURA, Luiz A. A.de. Qualidade e Gestão Ambiental: sustentabilidade e implantação da
ISO 14001. 5ª. ed. São Paulo: Editora Juarez de Oliveira, 2008.
NIDUMOLU, R. PRAHALAD, C. K.; RANGASWAMI, M. R. Why Sustainability Is Now
the Key Driver of Innovation. Harvard Business Review, September 2009, pp 57-64).
PORTER, M. E.; KRAMER, M. R. Strategy and Society: the link between competitive
advantage and corporate social responsibility. Harvard Business Review, dec. 2006.
TACHIZAWA, T.; ANDRADE, R. O. B. de. Gestão Socioambiental: estratégias na nova era
da sustentabilidade. Rio de Janeiro, Elsevier, 2008.
YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2ª. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.
Subjetivação e Novos Indicadores de Perfonmance: Contibuições para
uma nova Ferramenta de Monitoramento em Sistema Integrado de
Gestão (2Q’s)

Karla Rocha Carvalho Gresik1


Milton Ferreira da Silva Júnior2
RESUMO
Para minimizar ou eliminar os riscos aceitáveis ao meio ambiente e ao trabalhador, muitas
organizações desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde
ocupacional e ambiental. A tecnologia da informação tem sido vista como uma importante
ferramenta no controle e monitoramento destes riscos. No entanto, a grande maioria dessas
ferramentas além de não considerar o monitoramento das ações de forma integrada, não
considera as subjetividades dos funcionários como agentes de transformação e controle. Este
estudo se propõe a discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da informação, a que
mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de performance qualitativos. Para
isso, traz uma discussão teórica e metodológica como instrumentos facilitadores para a
formatação desses novos indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação.

Palavras-Chaves: Sistemas Integrados de Gestão, Tecnologia da Informação, Subjetivação.

1. Introdução

A contribuição tecnológica e o neoliberalismo configurado pela globalização


econômica vêm sendo fatores de preocupação aos trabalhadores, que pelo medo do
desemprego acabam aceitando condições insalubres e desrespeitosas de trabalho,
desconsiderando os seus direitos à vida e à saúde.
Além disso, Araujo (2006) nos adverte que perdas, injúrias, danos à propriedade
eventualmente causados pelas atividades, produtos e serviços de uma organização,
1 Universidade Estadual de Santa Cruz.
CARVALHO, K. R., Fiamengue, Elis Cristina. Representações Sociais de Marisqueiras acerca da
Problemática Ambiental: Uma Questão de Política Pública. Cadernos CERU (USP). Vol. 22.1, 2011.
CARVALHO, K. R., LAGO, E. S., MEIRA, E. C. A influência da Universidade Estadual do Sudoeste da
Bahia no viver e envelhecer dos estudantes/integrantes. Textos sobre Envelhecimento (UERJ). Vol. 06,
2003.
E-mail: karlagresik@hotmail.com

2 Universidade Estadual de Santa Cruz.


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Tomate do Distrito de Nova Matrona, Salinas, Minas Gerais. Caminhos de Geografia (Ufu), Vol. 12,
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COSTA, Silvia Kimo ; SILVA JUNIOR, M. F. ; RANGEL, M. C . O processo de intervenção em espaços
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(UFU), v. 22, 2010.
E-mail: notlimf@gmail.com
constituem problemas muitas vezes não previstos e que podem acarretar prejuízos
através de várias formas, tais como processos de responsabilidade civil pelo fato do
produto ou serviço oferecer riscos ao meio ambiente e aos trabalhadores, com altos
índices de absenteísmo e afastamento de trabalho devido a acidentes.
Mediante esses fatores, as empresas devem ser capazes de prever o máximo
possível os riscos aceitáveis de danos ao meio ambiente e aos seus funcionários, bem
como garantir o bem estar físico, mental, e social dos trabalhadores e partes
interessadas. Para minimizar ou eliminar tais prejuízos, muitas organizações
desenvolvem e implementam sistemas de gestão voltados para a segurança, saúde
ocupacional e ambiental – EHS (Environmental, Health and Safety) a partir de sistemas
de informação que possam realizar um monitoramento contínuo de suas ações no intuito
de direcionar as tomadas de decisão.
No entanto admite-se a idéia de que não adianta as organizações implantarem
práticas de gestão em EHS sem, contudo, levar em consideração as subjetividades dos
funcionários para com a colaboração no gerenciamento de riscos. Baseado nestas
discussões supracitadas o estudo apresenta como principal questão norteadora a ser
discutida: De que forma novos indicadores de performance no monitoramento das
práticas gestionárias em meio ambiente, saúde e segurança no trabalho podem ser
subsidiados e integrados numa nova ferramenta de monitoramento do SIG?

Este estudo pretende discutir dentre as diversas ferramentas da tecnologia da


informação, a que mais se destaca para a incorporação de novos indicadores de
performance qualitativos. Além disso, se propõe a trazer uma discussão teórico e
metodológica como instrumentos facilitadores para a formatação desses novos
indicadores qualitativos a partir dos processos de subjetivação.

2. Organização do trabalho e a empresa que aprende

É sabido que o desenvolvimento da atividade produtiva trouxe e traz grandes


benefícios para o homem, como aumento da oferta de produtos e oportunidades
empregatícias. Por outro lado, a exigência por melhores desempenhos produtivos gera
no meio ambientes e nos próprios trabalhadores da empresa problemas ambientais,
sociais e humanos que impactam significativamente a qualidade de todos que estão
diretamente e indiretamente envolvidos com o processo produtivo.
Desde os primórdios e, sobretudo, após a Revolução industrial as condições de
trabalho comprometeram o meio ambiente, a vida e a saúde de inúmeros trabalhadores.
O desenvolvimento econômico ao mesmo tempo em que oportunizou novas
oportunidades empregatícias e uma nova forma de viver em sociedade foi responsável
por inúmeras epidemias nas cidades, devido ao consumo exacerbado e a falta de manejo
adequado do lixo.
Nesse momento, o progresso econômico que ora preconizava o acúmulo de
riquezas desconsiderava totalmente o trabalhador e o meio ambiente por acreditarem
que os recursos naturais e fontes de energia/matéria-prima eram inesgotáveis.
Atualmente, esses dois fatores passaram a ser a maior preocupação das organizações ao
entenderem que não pode haver produção sem o trabalhador e o meio ambiente
saudável.
Assim, a preocupação com o ser humano e com o meio ambiente passou a
influenciar diretamente a imagem da empresa como uma organização socialmente
responsável, o que de certa forma, acaba agregando valor também aos seus produtos.
Além disso, consumidores valorizam empresas responsáveis com seus funcionários e
que respeitam a natureza. Dessa forma, os valores, objetivos e metas organizacionais,
bem como seus modos de produção, devem estar alinhados nesse sentido.
Como as teorias administrativas vêm evoluindo com o tempo à medida que
novas preocupações vão surgindo, novos enfrentamentos também vêm reorientando as
tomadas de decisões. Ou seja, quando o problema da produção estava voltado à
eficiência econômica, a ênfase estava sobre as tarefas. Em seguida o problema voltou-se
para a questão das lideranças, logo a ênfase caiu sobre a estrutura das organizações e
sua hierarquia. À medida que problemas de ordem social começaram a existir devido à
falta de condições de trabalho aos funcionários, surge a democratização das
organizações com a ênfase sobre o ser humano. Em seguida, aparece a problemática
ambiental, e as organizações para se manterem no mercado não podem deixar de levar
em consideração o ambiente externo. Atualmente, a inovação tecnológica e de
conhecimento, além de serem ferramentas cruciais na área científica, atuam como fonte
de vantagem competitiva nas organizações e a administração das empresas deve
acompanhar tal tendência (CHIAVENATO, 1987).
Assim como a Gestão da Qualidade Total – TQM (Total Quality Management),
que na década de 80, trouxe uma filosofia de administração motivada pela constante
satisfação do cliente mediante o aprimoramento contínuo de todos os seus processos
organizacionais, a reengenharia trouxe na década de 90 novos modos de pensar ao
reconsiderar como o trabalho seria desenvolvido e como a organização teria se
estruturado caso estivessem recomeçando. Atualmente, mais especificamente no século
XX, a Organização que Aprende (Learning Organization) faz com que os gerentes
procurem novas maneiras para responder com sucesso a um mundo de interdependência
e mudanças (ROBBINS, 2000).

Assim, o conhecimento inovador como ferramenta necessária ao processo de


aprendizagem necessita de um conjunto de condições capacitadoras, de intenção e
integração com a organização para que o processo de aprendizagem de natureza
construtivista seja capaz de gerar aprendizado e soluções novas (MIGUEL e
TEIXEIRA, 2009).
Para Miguel e Teixeira (2009: 20), ao estimular a gestão participativa, a empresa
garante o compromisso do empregado com as metas produtivas e aos processos de
conversão do conhecimento, refletindo também na co-gestão dos riscos que, porventura,
possam estar expostos dentro do processo de trabalho.

as empresas percebidas pelos empregados respondentes como aquelas


que oferecem estímulos para enfrentarem desafios e participarem de
processos decisórios são também as que oferecem possibilidade de
agir com independência, valorizando competência, qualidade de vida
no trabalho e relacionamento com a comunidade.

Essas são características essenciais que revelam uma mudança na cultura


organizacional.

3. Indicadores de performance em EHS e ferramentas de monitoramento

A complexidade que envolve os novos modos de produção exige das


organizações novas técnicas, novos sistemas, novas tecnologias de produção e novas
responsabilidades frente às interações entre indivíduos, máquinas, ambientes e produtos.
A implementação do sistema de gestão integrado tem auxiliado as organizações
a melhorarem seus desempenhos em EHS e qualidade de seus produtos/processos
através da identificação e avaliação preliminar de riscos, e implantação de controles
mais eficazes nas suas operações. Segundo Araújo (2002) o princípio básico de um
sistema de gestão integrado baseado em aspectos normativos, envolve a necessidade de
determinar parâmetros de avaliação que incorporem não só os aspectos operacionais,
mas também a política, o gerenciamento e o comprometimento da alta direção com o
processo de mudança e melhoria contínua das condições de segurança, saúde dos
trabalhadores e das condições do meio ambiente.
Como todo sistema de gestão integrado funciona baseado em aspectos
normativos, desde 1946 vinte e cinco países uniram forças em Londres para criar uma
nova organização com o objetivo de fornecer uma estrutura de referência entre
fornecedores e consumidores, facilitando o comércio e a transferência de tecnologia.
Dessa forma, a Organização Internacional para Normalização (International
Organization for Standardization - ISO) facilitou o processo de globalização,
fornecendo para os governos uma base técnica para a elaboração da legislação de
segurança, saúde e meio ambiente.
Alguns indicadores são passíveis de serem monitorados a fim de garantir a
qualidade e a segurança dos processos de produção, evitando assim, situações de risco
ao trabalhador e ao meio ambiente, além de desperdícios de produtos, os quais
configuram custos à organização, caso não sejam previstos em seus planejamentos.
Neste sentido, em 1996, a British Standard, publicou a norma BS 8800
(Occupational health and safety management systems Guide) sobre Sistema de Gestão
de Segurança e Saúde no Trabalho (SGSST), sendo adotada nos mais diversos setores
industriais em razão da possibilidade de minimizar os riscos para os trabalhadores e
para outras partes afetadas. Porém, a BS 8800 é composta por um conjunto de
orientações e recomendações, não estabelecendo requisitos objetivamente auditáveis, ou
seja, não permite que as empresas obtenham a certificação de seus Sistemas de Gestão
de SST. Por essa razão, em 1999, foi formado um grupo coordenado pela British
Standards Institution (BSI) que desenvolveu e aprovou a norma BSI - OHSAS 18001 -
Occupational Health and Safety Assessment Serie (Série de Avaliação da Segurança e
Saúde Ocupacional), substituindo as demais normas e guias desenvolvidos previamente
pelas entidades participantes e passando a ser utilizada em nível mundial.
“A organização deve estabelecer e manter procedimentos para a identificação
contínua dos perigos, a avaliação de riscos e a implementação das medidas de controle
necessárias” OSHAS 18001 (1999:13). Para isso é necessário que a organização defina
dentro do escopo de sua política de saúde e segurança no trabalho: classificação de
riscos e a identificação daqueles que devem ser controlados ou eliminados;
estabelecimento dos responsáveis técnicos e o momento certo para agir assegurando
atitudes proativas; fornecimento de subsídios para a determinação de requisitos de
instalação, necessidades de treinamento e controles operacionais, além de assegurar o
monitoramento das ações requeridas. Para tanto, alguns indicadores podem ser
utilizados para tal tarefa:
• Medições qualitativas e quantitativas quanto às necessidades dos funcionários da
organização: índice de satisfação, motivação, stress; treinamentos; auditorias;
alimentação/ Lazer.
• Medidas proativas de desempenho quanto à conformidade com os requisitos da
gestão em SST, critérios operacionais e legislação e regulamentos aplicáveis:
assistência médica; exames periódicos; comissão Interna de Prevenção de
Acidentes – CIPA, equipamentos de Proteção Individual - EPI’s.
• Medidas reativas de desempenho para monitorar: acidentes, doenças
ocupacionais, incidentes (quase acidentes): freqüência; gravidade, custo,
afastamentos.
• Ações corretivas e preventivas: ergonomia; ginástica laboral, estímulo a
atividade física.

Já em relação à segurança do meio ambiente, de modo a garantir um Sistema de


Gestão Ambiental eficaz a ISO 14001 (2004), tem por objetivo prover as organizações
de elementos que possam integrá-los a outros requisitos de gestão e auxiliá-los a
alcançar seus objetivos ambientais e econômicos. A norma dispõe de requisitos
específicos para que um SGA capacite uma organização a desenvolver e implementar
políticas e objetivos que levem em consideração os aspectos ambientais, sobretudo, o
equilíbrio entre a proteção ambiental e a prevenção de poluição com as necessidades
socioeconômicas.
Os aspectos ambientais quando interagem com o meio ambiente podem gerar
impactos ambientais a partir das atividades, produtos ou serviços. Estes também podem
ser monitorados a partir de indicadores referentes ao controle operacional:
• Controle das Emissões atmosféricas (Identificação de fontes -
caracterização das emissões; Dimensionamento das quantidades - concentração
de poluentes; Equipamentos - manutenção, calibragens;
• Efluentes líquidos: Caracterização dos elementos constituintes -
parâmentros da entrada e saída da Estação de Tratamento de Efluentes – ETE;
Dimensionamento - Concentrações, vazões e periodicidade; Sistemas de
drenagem - adequação de redes; Impactos associados
• Resíduos: Classificação/ tratamento; Coleta/manuseio; Estocagem
provisória/ transporte; Destinação final; Reutilização/ reciclagem
• Consumo de água e energia: Estabelecimento de metas; Campanhas de
conscientização; Oportunidades e otimização do consumo
• Gerenciamento de aspectos significativos: Ruído/ vibração; Temperatura;
Odor/ radiação

A responsabilidade social deve ser um compromisso voluntário das empresas. E


como subsídio ao monitoramento de indicadores qualitativos, o compromisso da
empresa em contribuir para o desenvolvimento intelectual de seus funcionários, a partir
do estímulo à produção de subjetividades, contribui para o fortalecimento da identidade
da classe trabalhadora, e, portanto, mediadora da qualidade de vida, do desenvolvimento
da sociedade e da preservação do meio ambiente. Assim, o desenvolvimento do capital
intelectual da empresa é observado desde sua composição social, hierárquica, porém
integrada, a um comportamento responsável para com o meio ambiente e os grupos
sociais aos quais se integram.
Neste contexto, Borba (2007) sugere que avaliar o nível de satisfação dos
funcionários a partir de indicadores sociais: nº de empregados, razão de pagamento, taxa
de pagamento, tempo de afastamento, nº de projetos comunitários, nº de
projetos/parcerias com universidades, investimentos em desenvolvimento sustentável,
investimentos em proteção ambiental, reclamações específicas de consumidores e
comunidade no entorno, nº de contratos perdidos, investimento em capacitação de
funcionários, melhorias sugeridas pelos funcionários, fatores desmotivantes à co-gestão,
etc., pode representar indicadores mais complexos, reflexos dos efeitos sociais e
impactos no ciclo da vida produtiva.
O Scorecard trata-se de uma ferramenta de gestão estratégica e avaliação de
desempenho. Seu conceito foi ampliado metodologicamente, sendo útil em diferentes
contextos. A partir de vários estudos, foi adaptado numa matriz de resultados de
desempenho nos domínios da saúde e segurança do trabalho nas organizações. Porém,
chegaram à conclusão que devido à complexidade subjacente à SST as medidas
associadas à sinistralidade por si não eram suficientes para atender às especificidades do
SGSST (GALLAGHER, 2001; MEARNS et al, 2003; MARSDEN et al, 2004 apud
VELOSO NETO, 2007).
Neste sentido, a combinação de diversos domínios de desempenho, os quais
envolvem indicadores ativos, reativos e proativos, quantitativos e qualitativos, de
sinistralidade e custos/investimentos, reflete no interesse das diferentes partes e na
operacionalização das ações em EHS. Assim, a abordagem proposta por Kaplan e
Norton (VELOSO NETO, 2007) parte da lacuna e dos pilares críticos de sucesso
apontados:

1. Perspectiva de negócio organizacional e financeiro: Redução de queixas,


incidentes, gravidade e custos;
2. Perspectiva das partes interessadas: necessidades dos trabalhadores,
motivação, cumprimento dos requisitos legais, auditorias, vigilância e promoção
da saúde;
3. Perspectiva interna do processo de negócio: avaliação e controle dos
riscos ocupacionais, integração do sistema integrado no sistema geral da gestão,
avaliação do envolvimento dos trabalhadores no gerenciamento de riscos,
4. Perspectiva de aprendizagem e crescimento: treinamento e comunicação
interna, atendimento às especificações do SIG e à melhoria contínua.

Outro modelo de medição e monitoramento de desempenho é o Health and


Safety Performance Index criado em 2004 seguindo recomendações da Health & Safety
Executive (HSE). Este modelo segue a estruturação tradicional do Balanced Scorcard,
contudo, sem perder o enfoque da performance (MARSDEN et al, 2004, apud
VELOSO NETO, 2007). Também voltado exclusivamente para o monitoramento das
ações em SST, opera segundo indicadores quantitativos. Porém, a novidade deste
modelo incide sobre a introdução de variáveis qualitativas e do foco numa análise mais
crítica e ampla dos domínios operacionais da SST.
Assim, os indicadores qualitativos surgem sob o formato (SIM/NÃO) a partir
das declarações acerca do compromisso da organização sobre o controle dos riscos
operacionais; declarações referentes ao cumprimento dos requisitos legais ao SGSST e
declarações relativas à investigação em curso ou atualizações de organismos
reguladores. Já os indicadores quantitativos recebem uma nota de zero a dez relativa ao
elemento chave, onde a soma ponderada determinará um coeficiente de importância e
permitirá a atribuição de um índice global de desempenho (op cit, 2007). Dentre os
elementos chaves passíveis de avaliação quantitativa são:

1. Gestão da Saúde e Segurança;


2. Taxa de Lesões;
3. Gestão de riscos para saúde ocupacional;
4. Ausências por doenças;
5. Riscos de grandes incidentes.

Embora este não seja o modelo ideal a ser seguido pelas organizações, devido a
falta de clareza aos aspectos metodológicos e opções técnicas, o mesmo representa uma
alternativa de perspectivar a construção e utilização de matrizes de desempenho a partir
do Balanced Scorecard.
Por fim, a última metodologia conhecida até então: o Benchmarking. Esta
procura vantagem competitiva a partir de boas práticas ou pontos de referência passíveis
de serem adotados ou adaptados, acrescentando-lhes valor – prática à estratégica
organizacional. Segundo Camp (1995) apud Coloauto, Beuren & Sant’ana (2005:23) o
Benchmarking é
Uma metodologia de pesquisa contínua e sistemática para realizar
comparações de processos e práticas de uma empresa com outras
portadoras das melhores práticas administrativas e para avaliar bens,
serviços e métodos de trabalho no sentido do aprimoramento
organizacional e da superioridade competitiva.

A metodologia gera um conjunto de informações que permitem às organizações


identificar problemas semelhantes e aperfeiçoar os seus processos de trabalho com o
objetivo de melhoria contínua. Essa visão estratégica foi desenvolvida em 1979 pela
Xerox Corporation, e foi evoluindo com o tempo e aperfeiçoada até ser estruturada.
Segundo Veloso Neto (2007) após várias gerações, a última versão parte da avaliação
contínua das alternativas e de estratégias recolhidas com parceiros de aliança
empresarial com foco na satisfação das partes interessadas, na necessidade de se gerar
conhecimento e inovação, e delimitar moldes de desempenho que se enquadram na era
da globalização, da sociedade e do conhecimento.
E como tal, ao fixar novos padrões de desempenho de acordo com as melhores
práticas de gestão em EHS, alcança vantagens competitivas. Porém, em uma análise
mais metodológica, configura: uma abordagem, na medida em que se visa melhoria
contínua organizacional a partir do nível de produtos e processos; um processo de
pesquisa contínua e sistemática, fortemente alicerçada em mecanismos de apropriação,
adaptação, otimização e desenvolvimento e uma técnica de coleta de dados e geração de
informações e conhecimento (op cit, 2007).
Esse modelo é o que mais se adapta à ferramenta digital proposta pelo estudo
por permitir enquanto abordagem a identificação das práticas gestionárias em EHS (o
que se pretende melhorar), enquanto processo a investigação das oportunidades de
melhoria e enquanto técnica de coleta de dados o monitoramento dos processos de
aprendizagem, mediante a adaptação das melhores práticas e inovação dos produtos ou
automação laboral, através da criação e implementação de novos ideais (cultura
organizacional) e mecanismos de atuação (aprendizagem organizacional).
No entanto, cabe ao presente estudo utilizar-se desse importante conceito teórico
e estratégias metodológicas de captação dessas subjetividades para consubstanciar essa
nova ferramenta, que aqui a nomeamos preliminarmente por 2Q’s, por contar com
indicadores quantitativos (a partir dos sistemas normativos) e indicadores qualitativos
(a partir dos processos subjetivos) que possam dimensionar os resultados das práticas de
gestão em EHS, além de dimensionar o grau de participação do funcionário para com a
co-gestão no gerenciamento de risco. Essas informações juntas oportunizarão maior
visibilidade à gestão quanto ao funcionamento do SIG, delineando os processos
decisórios, a partir do monitoramento de suas práticas usuais em EHS.
E para se formatar os indicadores qualitativos, o estudo propõe utilizar-se do
método cartográfico, partindo da compreensão de que o campo psicossocial não pode
ser explicado apenas por suas influências, contradições, interesses ou pressões, mas
emerge como um efeito heterogêneo de agenciamentos entre o homem e o meio
ambiente em que interage.
No entanto, para fazermos uso dessa metodologia é necessário apropriar-se da
tradução, ou seja, singularizar o que cada ator faz da rede e na rede (ROSA, s/d). Dessa
forma, a multiplicidade das traduções pode demonstrar controvérsias que possam
traduzir em falhas no gerenciamento de risco. Assim, essas traduções podem contribuir
tanto na caracterização das situações de perigo ao trabalhador e ao meio ambiente, como
nas próprias sugestões de controle de modo a facilitar o processo de aprendizagem
organizacional, através da resolução de problemas.
A modificação do meio social é outro fator que possibilita novas produções
subjetivas, pois à medida que mudanças se processam no meio ambiente, também são
processadas nos próprios sujeitos que compõem a rede - novas produções de si. Por
isso, a cartografia produz ao mesmo tempo análise e intervenção (PASSOS et al, 2010).
O método cartográfico MERHY (2011), não tem a intenção de produzir um
passo a passo definido, ao contrário, vai fotografando os acontecimento, acompanhando
os movimentos, as retrações, os processos de invenção e de captura que se expandem e
se desdobram desterritorializando-se e reterritorializando-se à medida que o mapa é
projetado. Esse mapa representa as linhas de força que vão se delineando a partir dos
processos relacionais da rede e a partir das relações de poder que ali se estabelecem,
dentro de um sistema hierárquico, porém integrado e socializado.
Para Ferreira (2008) ao produzir esse mapa, estaríamos no plano da invenção e
não mais da representação, ou seja, é sempre algo novo. Assim, cartografar é estar
atento às maneiras que o desejo/opinião/ação encontram afetuar-se no campo social à
medida que surgem novos agenciamentos. Ou seja, diante desses novos agenciamentos,
ou novas situações, os colaboradores promovem ações proativas, reativas ou corretivas?
E o quanto seus corpos conseguem suportar cada situação.
Portanto, o método da cartografia permite delinear entre as controvérsias novas
formas de cognição, de interação, de ação social, de ativismo político, de geração e
difusão de conhecimento que se pretende perscrutar para a formatação de novos
indicadores de performance. Sendo que essas novas formas de subjetivação são
importantes para o desenvolvimento de uma organização que se encontra em constante
aprendizado e devem compor o sistema de monitoramento das ações em EHS.
Nesse sentido, para compreender as subjetividades de cada ator, em relação aos
seus desejos e indagações e em relação ao comportamento seguro no gerenciamento de
riscos, é necessário mapear os processos de construção do conhecimento à medida que
suas motivações/ desmotivações se mesclam com os movimentos constituintes da
própria rede, sendo algo dinâmico e não estático. Por esse motivo, os indicadores
qualitativos são possíveis de serem formatados, a partir da metodologia da cartografia, e
necessários o seu monitoramento.
Portanto, a formatação de indicadores quanti-qualitativos socioambientais para o
monitoramento das ações do SIG seria de grande valor para a vigilância ambiental e à
saúde. A construção destes indicadores a partir dos sistemas normativos e dos processos
de subjetivação dos funcionários, irá aperfeiçoar o Sistema de Informação da empresa
que aprende a partir da utilização dessa nova ferramenta digital de monitoramento 2Q’s.
Além disso,a mesma subsidiará a identificação em tempo hábil e, consequentemente,
um maior controle das fontes poluentes e dos fatores de riscos ao meio ambiente e ao
trabalhador sob a ótica de quem vivencia na prática tais exposições. Esta nova
ferramenta deverá estar norteada por algumas características tais como: corresponder à
realidade local, ter sustentabilidade científica, ser de fácil aplicação e, principalmente,
compor uma matriz global no sistema de informação.

5. Considerações finais:

A contribuição científica do estudo parte do reconhecimento de que a produção, a


socialização e o uso de conhecimentos e informações, assim como a transformação
destes em inovações tecnológicas constituem processos socioculturais passíveis de
serem aprendidos e que tais práticas e relações contribuem para o comportamento
seguro e o gerenciamento de risco nas organizações.
Para tanto, a ferramenta 2Q’s aqui proposta se constitui um pilar para que esses
processos venham ser desenvolvidos, monitorados e rentabilizados na forma de
vantagem competitiva. Ou seja, a confluência do conhecimento técnico e normativo
junto ao conhecimento tácito dos colaboradores sublinha fonte de inovação e
competitividade e interações na produção e na difusão desses conhecimentos.
Destarte, o conhecimento tácito dos funcionários (capital intelectual de uma
organização) implica em um instrumento importante no processo produtivo desde que
suas subjetivações não passem desapercebidas. Trata-se de acompanhá-lo em seu
dinamismo, nas suas múltiplas faces, em sua atuação como instrumentos de
subjetivação e ferramentas de poder.

Assim, as empresas que ainda buscam se auto-sustentar no mercado estão cada


dia percebendo que ao investir em seus funcionários, ou seja, em seu capital intelectual,
oferecendo-lhes benefícios, treinamento e acima de tudo a oportunidade de serem
ouvidas, colherá resultados positivos frutos dessa gestão participativa, principalmente
ao estimular nos seus funcionários o que a psicanálise de Foucault descreve como
estética da existência.

A ética do cuidado de si concerne à maneira pela qual cada indivíduo


constitui a si mesmo como sujeito de sua própria conduta, estando
intimamente relacionada com os seus atos e suas ações para consigo e
para com os outros (VENTURA, 2008: 2).

Dessa forma, quando o funcionário se auto-referencia como colaborador das


práticas gestionárias em EHS, demonstra uma ética do cuidado de si, que se afetua em
atos e ações para consigo, para com os outros e para o meio ambiente, visualizadas
diretamente pelas novas formas de subjetivação. Assim, ao dialogar com Foucault sobre
a ética da existência e técnicas de si nos faz pensar nas atuais condições de trabalho
impostas ao operário industrial como possibilidade para auto-afirmação de se fazer
sujeito responsável pelos modos/estilo de vida saudáveis. Portanto, ao admitir as
subjetividades como processos em movimento e em constante transformação, fortalece
a identidade social da classe trabalhadora não só como colaboradores no processo
produtivo, mas também, como co-responsáveis no gerenciamento de riscos e,
consequentemente, na efetivação do SIG.

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Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas

Andrea Goldschmidt*1

Resumo
Muitas empresas vêm desenvolvendo programas de voluntariado empresarial, como forma de estimular
seus funcionários a participar da solução de problemas socioambientais existentes nas comunidades onde
vivem e trabalham. O que a maioria delas ainda não está conseguindo fazer é avaliar adequadamente a
contribuição de tais programas para o desenvolvimento de importantes competências humanas para as
pessoas que participam destas ações. Desta forma, as empresas perdem uma grande oportunidade de casar
duas necessidades internas: de desenvolvimento humano e de participação social.

O objetivo deste artigo é mostrar que o programa de voluntariado pode ser uma interessante ferramenta de
desenvolvimento de competências, além, é claro, de ser uma excelente ferramenta de engajamento e
criação de senso de cidadania.

Para que o programa de fato traga estes benefícios, no entanto, ele precisa ser estruturado de maneira
estratégica, com a criação de oportunidades de atuação em consonância com as áreas de conhecimento da
empresa e das pessoas envolvidas, ao mesmo tempo que enderece uma necessidade real da comunidade.
Neste sentido, faz-se necessária a avaliação completa da estratégia do programa, com um olhar sobre
questões como seu foco, sua relação com outras atividades de investimento social da empresa, a estrutura
oferecida pela empresa para sua gestão, as formas de mobilização e motivação de pessoas para
participação, bem como as estratégias para envolvimento das lideranças internas da empresa.

O olhar para o voluntariado empresarial como uma ferramenta de capacitação pessoal e profissional ainda
é muito novo no Brasil, mas já está mais evoluído em outros países.

Acreditando que as empresas brasileiras podem aumentar o retorno deste tipo de ação tanto para os
negócios quanto para as pessoas envolvidas (sejam elas os próprios funcionários/voluntários ou os
beneficiários nas comunidades escolhidas para desenvolvimento das ações), o presente artigo visa mostrar
que este mesmo objetivo pode ser alcançado de diferentes maneira e, por meio de dois exemplos atuais,
ilustra opções de estrutura de programas de voluntariado que se adaptam a 2 realidades diferentes, mas
levam ao mesmo tipo de resultado esperado, que é o desenvolvimento de competências humanas
desejadas pela empresa nos funcionários participantes do programa de voluntariado empresarial.

O artigo visa ressaltar a importância da etapa de planejamento do programa, quando serão definidas a
forma de atuação dos voluntários e as maneiras como a empresa poderá evidenciar o desenvolvimento das
competências humanas entre os participantes e os ganhos socioambientais para a sociedade.

1 Andrea Goldschmidt – Administradora de empresas, com especialização em Marketing, ambos pela Fundação Getúlio Vargas
de São Paulo. Professora de Responsabilidade Socioambiental nos cursos de graduação e pós graduação da ESPM – Escola
Superior de Propaganda e Marketing e de Branding e Marketing na Economia Sustentável no MBA da FGV – Fundação Getúlio
Vargas. Organizadora e co-autora do livro “Gestão dos Stakeholders – como gerenciar o relacionamento e a comunicação entre a
empresa e seus públicos de interesse” publicado pela Editora Saraiva. Tem 20 anos de experiência em gestão de Marketing,
Responsabilidade Social e Sustentabilidade, atuando desde 2003 como Consultora da APOENA Sustentável na implantação de
programas para empresas de diversas áreas e portes – andrea@apoenasustentavel.com.br
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Corporate volunteering as a tool for developing human skills

Abstract

Many companies have been developing volunteering programs as a means to encourage their employees
to participate in the solution of socio-environmental problems in the communities where they live and
work. What most of them have been unable to do yet is evaluate adequately the contribution of these
volunteering programs to the development of human skills for the participants. So companies are missing
on the opportunity to match two internal needs: corporate citizenship and human development.

The objective of this article is to show that a company’s volunteering program can be an interesting tool
for developing employee skills in addition to being an excellent tool for creating engagement and a sense
of citizenship.

In order for the program to effectively produce these benefits, however, it needs to be structured in a
strategic manner that creates opportunities for actions that are aligned to the areas of knowledge of the
company and the people involved while, at the same time, addressing a real need of the community.
Accordingly, it is necessary to make a thorough evaluation of the program strategy, with an eye to issues
such as its focus, its relation to other social investment activities of the company, the structure provided
by the company for the program management, ways to mobilize and motivate employee participation, as
well as strategies for involvement of company leaders.

Viewing corporate volunteerism as a tool for human skills development is still very new in Brasil, but it is
more evolved in other countries.

Believing that brazilian companies can increase the return on this type of action for both the business and
the people involved (whether their own employees / volunteers or beneficiaries in the communities
chosen for the development of the actions), this article aims to show that this same goal can be achieved
in different ways and through two recent examples, illustrates options for the volunteer programs
structure that adapt to two different realities, but lead to the same kind of expected result, which is the
development of human skills desired by the company from its employees participating in the corporate
volunteer program.

The article aims to highlight the importance of the planning of the program, when the actions of the
volunteers will be defined and when the company will determine how she will demonstrate the
development of human skills among participants and the environmental gains to society.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
1. Voluntariado

Segundo o Conselho da Comunidade Solidária, o voluntário é o cidadão que, motivado


pelos valores de participação e solidariedade, doa seu tempo, trabalho e talento, de maneira
espontânea e não remunerada, para causas de interesse social e comunitário.

A pesquisa Projeto Voluntariado Brasil 2011, realizada pela Rede Brasil Voluntário e
pelo Ibope Inteligência, concluiu que 25% da população brasileira fazem ou já fizeram algum
tipo de serviço voluntário. Há, neste grupo, uma leve predominância de mulheres (53% do
total dos voluntários versus 47% de homens), de pessoas que trabalham (67% dos voluntários
trabalham fora de casa, sendo 51% em período integral e 16% em período parcial) e que têm
filhos (62%, sendo a média de 2,5 filhos). Em média, estas pessoas dedicam pouco mais de 4
horas mensais a trabalhos voluntários, realizados principalmente em instituições religiosas
(49%) e organizações de assistência social (25%).

“Ser solidário e ajudar” é a motivação mais comumente mencionada pelas pessoas que
atuam como voluntárias (67% dos respondentes), seguida de “fazer a diferença e melhorar o
mundo” (resposta dada por 32% dos voluntários). Apesar de que os voluntários possuem
habilidades e competências que agregam valor ao serviço voluntário (38% têm ensino médio
completo / superior incompleto e 20% têm nível superior completo), as motivações de
“Adquirir experiência / praticar o que aprendeu” e “desenvolver novas habilidades”
aparecem com índice pequeno de respostas (6% e 3% respectivamente).

Seguindo a linha de raciocínio de que os brasileiros veem o voluntariado como ações


de filantropia e assistência social e não como uma oportunidade de colocar seu talento e
conhecimento em prol de uma causa, talvez as empresas também não estejam ainda
enxergando o voluntariado como uma oportunidade de desenvolver competências em seus
colaboradores.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
2. Voluntariado empresarial

Algumas empresas, movidas pelo desejo de aumentar o engajamento e ampliar o senso


de cidadania2 entre seus funcionários, começaram a organizar ações que ficaram conhecidas
como voluntariado empresarial. Pode-se conceituar voluntariado empresarial como “um
conjunto de ações realizadas por empresas para incentivar e apoiar o envolvimento dos seus
funcionários em atividades voluntárias na comunidade” (GOLDBERG, 2001, p.22). Ao
fomentar a participação de seus funcionários em atividades voluntárias, as empresas
estimulam os indivíduos a conhecer e, sempre que possível, intervir nos negócios públicos,
seja por meio de sua participação ativa em ações geridas diretamente por órgãos do Estado,
seja por meio de sua participação em ONGs que contribuem com o Estado para a realização
de suas funções sociais. Além disso, as ações de voluntariado ajudam a trazer foco para “o
outro lado do Direito” dos cidadãos, que são os seus “Deveres”, mostrando que é possível
contribuir para a garantia dos direitos de uma coletividade a partir do cumprimento dos seus
deveres individuais como cidadão.

As ações voluntárias podem ser realizadas com voluntários ligados direta ou


indiretamente a uma empresa (funcionários efetivos, terceirizados, familiares, ex-
funcionários e aposentados). Como as empresas são locais com grande concentração de
pessoas e já dedicam parte de sua receita a ações de investimento social privado (ISP), foi
natural que passassem a buscar maneiras de envolver os funcionários em atividades similares,
de forma que eles também pudessem contribuir para o desenvolvimento social local, de
forma isolada ou complementar às atividades de ISP da empresa.

Segundo a pesquisa “Perfil do Voluntariado Empresarial no Brasil III”. (CBVE (2012)


- Rio de Janeiro: CBVE), “as empresas privadas são as maiores promotoras de voluntariado
no Brasil”. As empresas de grande porte (acima de 500 funcionários) representam pouco
mais de 50% dos programas existentes, seguidas das empresas de pequeno porte (cerca de

2 Cidadania (do latim, civitas, "cidade") - segundo a Wikipedia é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está
sujeito em relação à sociedade em que vive. O conceito de cidadania sempre esteve fortemente "ligado" à noção de direitos,
especialmente os direitos políticos, que permitem ao indivíduo intervir na direção dos negócios públicos do Estado, participando
de modo direto ou indireto na formação do governo e na sua administração, seja ao votar (indireto), seja ao concorrer a um cargo
público (direto). No entanto, dentro de uma democracia, a própria definição de Direito, pressupõe a contrapartida de deveres,
uma vez que em uma coletividade os direitos de um indivíduo são garantidos a partir do cumprimento dos deveres dos demais
componentes da sociedade

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40% dos programas). A maior concentração de programas (82,7%) estão na região sudeste e
na região sul (17,3%) e 69,6% deles existem há mais de 5 anos.

A pesquisa concluiu que “as ações voluntárias empresariais ainda têm um longo
caminho a percorrer até que se tornem de fato relevantes para as empresas que as praticam”.
No entanto, os investimentos (de dinheiro e tempo) realizados pelas empresas são bastante
significativos - 21,8% das empresas pesquisadas têm orçamento superior a R$ 200.000
anuais para o programa, sendo 17,4% superior a R$ 500.000 e com uma tendência de
ascensão. Além disso, “71% dos entrevistados disseram que têm permissão para encaixar as
ações de voluntariado dentro do horário de trabalho” (apesar de que a maioria dos
funcionários não utilizem essas horas!).

O significativo investimento de dinheiro e tempo realizado certamente começa (ou


começará) a gerar uma pressão nas empresas para demonstrar o resultado concreto destes
programas para os negócios.

Neste sentido, é interessante destacar o crescimento do objetivo de “ampliar


competências e habilidades dos colaboradores” quando as empresas são perguntadas sobre as
razões pela quais estruturam programas de voluntariado e incentivam os colaboradores a
realizar ações voluntárias. Comparando os dados coletados pela pesquisa em edições
anteriores, nota-se que “de 2007 para 2012, o aumento (neste item) foi de quase 21 pontos
percentuais, atingindo 28,99% das respostas” o que, apesar de bastante significativo, ainda
demonstra um grande potencial de crescimento.

A ideia de que a relação entre voluntariado e desenvolvimento de competências pode


ter uma correlação positiva não é nova: em 1995, a empresa de Correios do Reino
Unido,acreditando que as competências de seus quase 200.000 empregados poderiam ser
mais bem aproveitadas, resolveu conduzir um estudo com 2 objetivos principais: 1) coletar
informações sobre a relação entre o envolvimento comunitário e a contribuição das pessoas
para os resultados do negócio e 2) recomendar ferramentas práticas que pudessem ser usadas
para monitorar e avaliar o desenvolvimento profissional e a motivação dos funcionários por
meio do envolvimento comunitário, a fim de otimizar sua contribuição para os objetivos
estratégicos da área de recursos humanos da empresa.

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Em 2009, uma pesquisa realizada pelo Carroll School of Management do Boston
College, com a participação de 203 das 500 maiores empresas dos Estados Unidos, listadas
pela Revista Fortune, mostrou que 19% das empresas incentivavam diretamente a
participação dos funcionários em atividades voluntárias em função de planos e metas de RH.

Infelizmente a pesquisa brasileira citada acima, “Perfil do Voluntariado Empresarial


no Brasil III”. (CBVE (2012) - Rio de Janeiro: CBVE), não pergunta às empresas se existe
algum tipo de articulação entre os programas de voluntariado empresarial e as políticas de
desenvolvimento de competências humanas e, como apenas 10,9% dos programas são
conduzidos pela área de recursos humanos, é de se imaginar que esta articulação ainda não
seja feita formalmente na maioria dos casos.

Outro dado que chama a atenção na pesquisa do CBVE é que apenas 32% das
empresas valorizam a experiência voluntária dos candidatos em processos de seleção e, em
2010, 59% disseram não levar em consideração esta experiência para promoções e aumentos
salariais. Conclui-se, com isso, que a área de Recursos Humanos das companhias, em geral,
pode não estar percebendo os benefícios potenciais das ações de voluntariado para as pessoas
e para os negócios e, pode até ser que os programa atuais, com ações mais assistencialistas do
que transformadoras, de fato não gerem grande contribuição para o desenvolvimento de
competências. Mesmo neste caso, a área de Recursos Humanos poderia ter participação
importante na reformulação dos programas, de forma que se tornem capazes de gerar este
benefício para os negócios e para as pessoas envolvidas.

3. Desenvolvimento de competências humanas

A economia do conhecimento desenvolve-se num contexto em que a base de


conhecimento das organizações é intensamente mobilizada e ampliada para a formação de
novas capacitações e competências (ZANGISKI, 2009 APUD SANCHEZ, 1997; SAVAGE,
1996).

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Para ZANGISKI (2009) APUD FERNANDES (1998), “há um conjunto de premissas
que precisam ser consideradas para a compreensão da aprendizagem organizacional, que
inclui:

• A aprendizagem geralmente tem consequências positivas (mesmo quando os


resultados das ações são negativos, pois o produto deste processo está na
compreensão das relações de causa-efeito

• Mesmo que o aprendizado centre-se no indivíduo, as empresas também podem


aprender, pois pode-se estabelecer uma apresentação social ao processo de
aprendizagem organizacional

• A aprendizagem ocorre através de todas as atividades da empresa, em


diferentes processos e em diferentes níveis”

Pela definição do senso comum, competência é a qualificação para realizar algo, mas
no mundo dos negócios este conceito é bem mais abrangente e profundo e aborda
características pessoais, como conhecimento, habilidades e atitudes (CHA) e também a
capacidade de ter um bom desempenho associado às atividades realizadas.
Entre os profissionais de RH, a definição mais comumente utilizada é o conjunto de
conhecimentos, habilidades e atitudes que afetam a maior parte do trabalho e que se
relacionam com o desempenho no trabalho; a competência pode ser mensurada, quando
comparada com padrões estabelecidos e desenvolvida por meio de treinamentos (FLEURY;
FLEURY, 2001).
Segundo Fleury e Fleury (2004), no contexto organizacional, a competência é vista da
perspectiva individual como uma característica pessoal que possibilita desempenho superior
na realização das tarefas, ou frente a situações adversas. Mas, ao mesmo tempo, a somatória
das competências individuais, formam as competências organizacionais que são percebidas
pelos seus públicos de interesse.

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Figura 1: Comportamentos ligados a competências
Fonte: FLEURY, FLEURY, 2004 p. 30

Segundo HERRERA (2007), em seu artigo Desenvolvimento de Competências,


“Por desenvolvimento de competências entende-se a estruturação
do conjunto de saberes necessários a qualquer indivíduo ou grupamento
humano que promovam-no a um degrau superior no desempenho de suas
funções. Este conjunto de saberes é estruturado no conhecimento, nas
habilidades e atitudes exigidas na execução das atividades que se espere
um desempenho maior em qualquer campo do conhecimento humano.
Por agrupamento humano entende-se indivíduos com vínculos culturais
peculiares (idioma, religião, condição social, geográfica ou política, etc.),
cuja dimensão vai desde um continente até uma simples comunidade”
Se as competências humanas são o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes,
sendo o conhecimento o “saber”, a habilidade o “saber fazer” e a atitude o “querer fazer”,
logo, elas podem ser desenvolvidas nas pessoas, por meio de vivências e treinamentos.

O desenvolvimento de competências pode acontecer por meio de diferentes trilhas de


aprendizagem, sendo que as pessoas podem chegar à mesma competência desejada por meio
de diferentes atividades, conforme mostra a figura 2 abaixo:

Figura 2: Trilhas de aprendizagem

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Fonte: QUEIROZ (2008)

O que o presente artigo visa mostrar, é que o voluntariado empresarial pode ser uma
destas possíveis trilhas a serem seguidas e que tem potencial para gerar resultados bastante
significativos em diversas situações.

Segundo QUEIROZ (2008), as principais competências humanas são: comunicação


escrita, comunicação falada, criatividade/inovação, empreendedorismo, gestão da
informação, gestão da mudança, liderança, negociação, orientação ao cliente, orientação ao
resultado, relacionamento interpessoal, relacionamento intrapessoal, tomada de decisão,
trabalho em equipe, visão estratégica e visão sistêmica.

Muitas destas competências demonstram forte relação com atividades de voluntariado,


como por exemplo, liderança, negociação, trabalho em equipe, comunicação, etc. E,
conforme o tipo de ação que se propuser aos voluntários, estas competências poderão ser
desenvolvidas em maior ou menor grau.

Segundo pesquisa realizada pelo CANADIAN CENTER OF PHILANTROPY (2004),


as competências mais desenvolvidas pelos voluntários são habilidades interpessoais,
habilidades intrapessoais (a compreensão melhor das pessoas), liderança (motivar os outros),
e gestão da mudança (lidar com situações difíceis), sendo que 79% dos voluntários disseram
que suas atividades como voluntários ajudaram-nos com estas competências. 68% dos
voluntários disseram que o voluntariado ajudou a desenvolver melhores habilidades de
comunicação.

A porcentagem de voluntários que relataram ganhos de habilidades específicas como


resultado das ações de voluntariado aumentou de forma constante com o número de horas
que eles contribuíram. Por exemplo, mais de três quartos (78%) dos voluntários que
contribuíram com 188 ou mais horas (no ano 2000) relataram ganhos nas habilidades de
comunicação, em comparação com pouco mais de metade (52%) daqueles que contribuíram
19 horas ou menos. Semelhante, mas menos pronunciado, este padrão é visto em outras
competências avaliadas.

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Da mesma maneira, a pequisa demonstra ganhos diferentes de competências em
grupos de diferentes faixas etárias. Por exemplo, os voluntários com idades entre 15 e 24
anos eram mais propensos do que os voluntários mais velhos a relatar ganhos nas
competências de comunicação (82%) e relacionamento interpessoais (77%) decorrentes das
suas atividades de voluntariado.
Se estas são importantes competências a serem desenvolvidas em um grupo de
funcionários, é natural que a empresa procure criar oportunidades que de fato ajudem a trazer
intencionalidade para esta prática, ou seja, que criem oportunidades de trabalho voluntário
que sejam de fato uma opção de desenvolvimento de competências específicas para seus
funcionários.
Segundo Kenn Allen, “há alguns anos, a lógica clássica de que o voluntariado
corporativo ‘é bom para a comunidade, é bom para os funcionários e bom para a empresa’
mostrava-se como uma vantagem não intencional, mas hoje, estes benefícios não são mais
colaterais, mas sim buscados ativamente pelas empresas”.

Mas, conforme alerta Kenn Allen, “As empresas devem tomar um cuidado especial
com os possíveis conflitos entre os benfícios de desenvolver competências e habilidades que
a própria empresa e seus funcionários procuram e a realidade das ONGs parceiras. Por
exemplo, as empresas não podem esperar que as ONGs desviem outros recursos para realizar
suas expectativas”, ao contrário, devem ter em mente que é um trabalho dos gestores do
programa construir parcerias que sejam realmente vantajosas para as ONGs parceiras e, neste
sentido, o desafio está em conseguir propor a realização de ações que ajudem a desenvolver
competências, a partir da premissa de que o objetivo principal deve ser ajudar a resolver
problemas reais que as organizações parceiras e as comunidades beneficiadas têm.

Segundo o artigo The Promise Employee Skill-Based Volunteering Holds for Employee
Skills and Nonprofit Partner Effectiveness: A Review of Current Knowledge produzido pela
POINTS OF LIGHT FOUNDATION, em 2007, as empresas americanas estão abraçando o
chamado voluntariado baseado em competências de forma acelerada. Elas acreditam que este
tipo de voluntariado é uma forma mais efetiva do que outras existentes, justamente porque
contribui com causas sociais ao mesmo tempo que ajuda a desenvolver pessoas para o
mercado de trabalho. Esta situação ganha-ganha torna este tipo de ação de voluntariado
Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
especialmente interessante para as empresas e, ainda mais, para aquelas que têm ações de
investimento social privado e sofrem pressões para torná-los mais efetivos interna e
externamente. Desta forma, o voluntariado poderia ser uma ferramenta de desenvolvimento
pessoal e, ao mesmo tempo, contribuir para a solução de problemas reais.

Ao tornar o programa de voluntariado algo mais estratégico dentro da empresa, ele


poderá deixar de ser uma ação dirigida apenas às pessoas que têm mais tempo livre ou que
têm maior desejo de participar de atividades comunitárias, para ser uma oportunidade para
que as pessoas que compõem a força de trabalho desenvolvam competências.

4. Casos reais

A metodologia sugerida pelos Correios do Reino Unido (1995) recomenda que a área
de Recursos Humanos da empresa identifique quais são as principais competências que se
deseja desenvolver nos funcionários e, a partir delas, identifique opções de atividades que
tenham o poder de desenvolvê-las ou, ao contrário, que se listem as atividades disponíveis e
as competências desejáveis para verificar as sinergias entre elas, conforme demonstra a figura
3 abaixo:

Atividades
Participação Desafio Voluntariado
Mentoria Tutoria individuais
Oportunidades em Conselho Voluntário genérico
direcionadas
Competências
Empreendedorismo x x
Habilidade de inovar x x
Resolução de problemas x x x x x x
Habilidade de negociação x x x
Trabalho em equipe x x x
Relacionamento interpessoal x x x x x x
Tomada de decisões x x
Orientação para a ação x x x x
Habilidade de análise x x x
Figura 3: Matriz de desenvolvimento
Fonte: Adaptado pela autora a partir de quadro apresentados em Employees and the
community (1995)

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A partir desta premissa, dois casos brasileiros vêm sendo conduzidos pela Apoena
Sustentável (consultoria especializada em voluntariado). Como os projetos ainda não foram
finalizados, optou-se por manter em sigilo os nomes das empresas que os estão conduzindo.
Ambas são empresas de grande porte, com atuação em todo o território nacional e com
programas de voluntariado já estruturados há alguns anos.

Em ambos os casos, o processo iniciou-se com uma reavaliação completa da estratégia


do programa, com um olhar sobre questões como seu foco e sua relação com outras
atividades de investimento social da empresa. O objetivo era garantir que o programa não
seria descaracterizado ao buscar fazer a relação das ações com o desenvolvimento de
competências humanas desejado.

No primeiro caso, a empresa tem uma série de opções de ações estruturadas. Os


funcionários que desejam ser voluntários são treinados para a reprodução das metodologias
propostas e, em seguida, encaminhados para organizações sociais para a aplicação prática dos
conteúdos aprendidos.

No final de 2012, alguns voluntários foram solicitados a preencher um formulário de


avaliação do programa, por meio do qual se perguntou quais das competências estratégicas
para a empresa cada um deles acreditava ter desenvolvido mais durante a realização das
atividades voluntárias - a auto avaliação é, segundo a metodologia dos Correios do Reino
Unido, o formato de mais fácil implantação. O resultado foi bastante interessante, porque
ficou claro que os funcionários são capazes de estabelecer esta relação (o que é bastante
importante, considerando-se que estas competências desejadas são a base para as avaliações
anuais de desempenho de todos os funcionários desta empresa). Ainda assim, ficou evidente
que os resultados poderiam ser ainda melhores se eles tivessem sido estimulados desde o
princípio a intencionalmente buscar atuar de maneira a ampliar a relação entre as ações
voluntárias e as competências a serem desenvolvidas.

Sendo assim, no início do ano seguinte, as características de cada uma das opções de
ações voluntárias disponibilizadas foram avaliadas e estas informações foram cruzadas com
as competências desejadas pela área de Recursos Humanos para verificar sua
compatibilidade com o formato atual do programa.

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Ao realizar este cruzamento, ficou claro que as competências desejadas estavam mais
relacionadas à forma de conduzir as atividades do que às atividades realizadas (foram
identificadas fortes sinergias com 5 das 10 competências desejáveis) e, por este motivo,
sugeriu-se manter as opções de atividades voluntárias disponíveis para os funcionários, mas
modificar a maneira como estas ações são avaliadas ao final de um ano de programa. O
objetivo, portanto, será modificar os critérios para reconhecimento das ações, de forma que
se possa dar mais destaque (nas ações de reconhecimento, por exemplo) às pessoas que
tiverem, notadamente, desenvolvido as ações voluntárias utilizando as competências que o
RH deseja desenvolver.

Foram criados então novos formulários de avaliação das ações, em que os voluntários
são solicitados a dar informações sobre a maneira como as atividades foram desenvolvidas e,
por meio da análise destas respostas, será possível verificar quais das competências listadas
foram mais trabalhadas pelo conjunto dos voluntários.

Com isso, será possível mapear mais detalhadamente que contribuições o programa de
fato traz para os objetivos da área de Recursos Humanos e Educação Corporativa.

O próximo desafio será ampliar esta avaliação para gestores e colegas de trabalho
(dentro do conceito de avaliação 360º), de maneira que se possa começar a evidenciar de
forma mais abrangente os benefícios existentes. Atualmente, por meio da auto avaliação, já é
possível fazer com que o funcionário-voluntário compreenda seus aprendizados, mas o
desafio mais interessante será, no futuro, conseguir mostrar para os gestores a existência
desta correlação, já que isso provavelmente os motivará a incentivar a participação de outros
funcionários no programa.

Da mesma maneira, este tipo de avaliação poderá ajudar os gestores a, no futuro,


orientar os funcionários da sua equipe na identificação de ações de voluntariado de que
possam participar com o objetivo de vivenciar situações em que determinadas competências
possam ser desenvolvidas. Assim, a empresa contribui para o desenvolvimento profissional
do voluntário, ao mesmo tempo em que se estimula a participação cidadã e o engajamento
dos funcionários com questões importantes para o desenvolvimento da comunidade onde a
empresa atua.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
O que ficou evidente neste caso, é que é possível estimular o desenvolvimento das
competências desejadas, mantendo as ações de voluntariado atuais e dando breves
orientações sobre maneiras ligeiramente diferentes de conduzi-las (em relação ao que foi
feito anteriormente pelos funcionários). Consegue-se, com isso, manter a identidade e o
alinhamento do programa com o investimento social e adicionar um componente de
avaliação que pode trazer uma relevância estratégica bastante importante para o programa
internamente.

No segundo caso estudado, a estrutura do programa é bastante aberta, com algumas


diretrizes gerais de atuação, que ajudam os voluntários a definir o que fazer e onde atuar, mas
dando a eles liberdade de analisar a situação de cada organização social escolhida para ser
parceira na ação voluntária a ser desenvolvida. Quando o programa foi criado, o objetivo
principal era incentivar a participação cidadã e, como a equipe gestora do programa é enxuta
e os funcionários estão espalhados por muitos municípios brasileiros, optou-se por ter um
formato estruturado, mas que, ao mesmo tempo, desse ao voluntário autonomia para atuar
individualmente ou em grupos da forma que eles julgassem mais conveniente.

Os voluntários mostraram-se sempre muito envolvidos e grandes parceiros das


organizações escolhidas, realizando, anualmente, uma grande quantidade de ações
voluntárias. Entretanto, a maioria das ações realizadas tinha cunho assistencialista e pouco
transformador e, com o passar do tempo, surgiu o desafio de qualificar as ações dos
voluntários e aproximá-las das estratégias de atuação social da empresa.

A opção aqui foi por estimular os voluntários a realizar um número menor de


atividades, mas, ao mesmo tempo, concentrar-se em atividades que gerem retornos de mais
longo prazo para os beneficiados.

Ao mesmo tempo, começou-se a olhar para os aprendizados do próprio voluntário, já


que realizar ações assistencialistas requer muito poder de mobilização, mas ajuda pouco no
desenvolvimento de outras competências relevantes.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Neste segundo caso, a partir da lista de 12 competências de treinamento identificadas
pela empresa, foram selecionadas as 6 que foram consideradas mais pertinentes para a
criação de oportunidades de ações para os voluntários.

Historicamente, ao iniciar o programa, os funcionários da empresa recebem um


manual orientador, por meio do qual são sugeridas algumas atividades a serem realizadas por
eles. A partir da ideia de enfatizar o desenvolvimento de competências, optou-se por
concentrara as atividades dos voluntários em ações mais transformadoras e consideradas
mais relevantes para o desenvolvimento das competências desejadas e para a sociedade.

O manual, então, passa a ser complementado por algumas sugestões de ações


transformadoras, detalhadas com uma sugestão de passo a passo para implantação,
destacando a sua relação com o desenvolvimento da competência a que se refere.

Cada grupo de voluntários deverá escolher uma única ação para implantação ao longo
do ano. As ações implantadas serão avaliadas comparando-as com aquelas que pretendem
desenvolver a mesma competência, formando, portanto, 6 categorias diferentes para as
atividades de reconhecimento. No final do ano, desta maneira, serão selecionadas para
divulgação e reconhecimento as ações mais interessantes e que tiverem demonstrado maior
desenvolvimento comunitário e de competências dos integrantes do grupo de voluntários.

Neste caso, portanto, cada grupo de voluntários será estimulado a desenvolver, de


forma mais profunda, uma única competência, escolhida por ele ou por identificação com o
tema, ou por reconhecer a sua importância.

Os dois casos apresentados acima ilustram claramente que há diferentes maneiras de


conduzir um processo de inserção do objetivo de desenvolvimento de competências em um
programa de voluntariado empresarial, de forma que se mantenham características
anteriormente existentes e a identidade do programa. A figura 4, abaixo, é um quadro resumo
da comparação destas duas situações.

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Quesitos comparados caso 1 caso 2
Ações estruturadas Ações não estruturadas
Voluntários atuam em grupos ou Voluntários atuam em grupos ou
Formato do programa individualmente individualmente
Escolha de uma ação dentro de uma
Escolha de uma ação entre 9 alternativas lista de sugestões dadas ou a partir de
possíveis suas próprias ideias e motivações
Novas ações, propostas aos voluntários
As mesmas que já existiam dentro de uma lista de possibilidades
anteriormente, propostas aos voluntários alinhadas às competências estratégicas
Tipos de ações possíveis dentro de uma lista de possibilidades para a empresa
Competências Até 5 competências em cada ação Uma única competência para cada ação
desenvolvidas realizada realizada
Definição da competência a Conforme a maneira como a ação for Conforme a ação escolhida pelos
ser desenvolvida implantada pelos voluntários voluntários
No processo de planejamento e
No processo de implantação da ação implantação da ação (relacionada aos
Desenvolvimento da (relacionado à forma de realização de resultados obtidos por meio da ação
competência qualquer atividade escolhida) escolhida)
Auto avaliação do voluntário
Avaliação (pela área gestora do Avaliação (pela área gestora do
Formas de avaliação (por programa) do processo de implantação programa) dos resultados alcançados
meio de relatórios) das ações, com base nas evidências de para cada ação / competência
desenvolvimento das 5 competências
desejadas
Mapeamento de evidências de Mapeamento de evidências de
desenvolvimento das competências pelo desenvolvimento da competência
Contribuições do programa conjunto das ações realizadas pelos associada a cada uma das ações
para os objetivos de RH voluntários propostas
Figura 4: Quadro comparativo de atributos dos dois casos apresentados
Fonte: Desenvolvido pela autora

Em ambos os casos, ao definir que o desenvolvimento destas competências passa a ser


um objetivo da empresa, a estrutura para gestão do programa, as formas de mobilização e
motivação de pessoas para participar, bem como as estratégias para envolvimento das
lideranças internas da empresa precisam ser revisadas. Ao assumir as competências como
premissa do programa, a fase de planejamento deve levar isso em consideração. Isto é
especialmente relevante nos casos de programas já existentes e que, muitas vezes, precisam
sofrer modificações significativas na estrutura de gestão para garantir uma organização de
informações que permita a adequada avaliação dos resultados alcançados.

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5. Conclusões

A demonstração de que o voluntariado é bom para o desenvolvimento pessoal e


profissional do voluntário pode ser um forte impulso para o aumento de adesão aos
programas já existentes. Isto pode acontecer tanto por meio de um desejo de maior
participação dos voluntários atuais (aumento da frequencia das ações), como pelo aumento
do número de pessoas participando (seja por iniciativa própria ou por um maior estímulo de
seus gestores diretos).

Além disso, a maior vinculação das ações de voluntariado empresarial propostas aos
funcionários de uma empresa à sua estratégia de negócios, ou à sua estratégia de
desenvolvimento de recursos humanos, ou ainda, à sua estratégia de investimento social (ou
às 3, se possível), ajuda a garantir uma motivação de longo prazo para a empresa e,
consequentemente, xxxx

Realmente, há temores justificáveis de que agregar recompensas a ações altruistas


poderá minar a motivação e distorcer os valores que movem os voluntários. Falar de
"consequências" nos encoraja a pensar no voluntariado como a causa de algum resultado
posterior esperado. Indubitavelmente, estas recompensas poderiam ter sido obtidas a partir de
um vasto leque de atividades que não impliquem ajudar os outros, mas, justamente aí reside o
grande diferencial proposto: conseguir dois objetivos com uma única ação também pode ser
um fator motivador da participação dos funcionários.

Como as empresas têm investido valores consideráveis no desenvolvimento de


programas de voluntariado corporativo e como, muitas vezes, contribuem ainda com a cessão
de horas de trabalho de seus funcionários, é natural (e desejável) que busquem, com isso,
benefícios que extrapolam a boa cidadania corporativa.

Ao mesmo tempo, ainda há muito trabalho a ser feito na pesquisa da relação entre o
trabalho voluntário e o desenvolvimento de habilidades e competências humanas e, em
especial, como estas experiências podem trazer benefícios para a empresa e para o
voluntário. As experiências citadas acima ainda são muito recentes e, certamente, passarão

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
por modificações e melhorias à medida que as empresas que as aplicam forem evoluindo
nesta prática. Sua contribuição, neste momento, reside na reflexão da importancia de planejar
adequadamente como esta vinculação será proposta aos voluntários e como os resultados
alcançados serão mensurados antes que o programa de fato se inicie.

Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
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Voluntariado empresarial como ferramenta de desenvolvimento de competências humanas - Andrea Goldschmidt – maio 2013
Capítulo 9: RSE e Sustentabilidade: Desafio Local, Desafio Global
Assimetrias, Oportunidades E Cooperação No Contexto Da
Responsabilidade Social Globalizada
José Quintal e José Ramalho1

1. Introdução

No mundo actual assistimos à emergência de uma sociedade global cujas fronteiras


se esbatem cada vez mais, devido à facilidade com que os seres humanos comunicam
entre si, sobretudo por via das tecnologias de informação e comunicação.
Por outro lado, também a assistimos a uma crise generalizada e sem precedentes no
domínio da economia internacional e de inúmeras economias locais – esta crise conduz
a assimetrias cada vez maiores que se multiplicam numa espiral recessiva e que
impedem um desenvolvimento verdadeiramente sustentável em termos económicos,
sociais e ambientais.
No nosso entendimento, as teorias e paradigmas dominantes em torno da
Responsabilidade Social e da Sustentabilidade colocam, normalmente, o enfoque nas
organizações, relegando o indivíduo para a periferia de uma abordagem que se pretende
eminentemente sociológica.
Neste trabalho, propomo-nos reflectir sobre as dinâmicas de causalidade que
relacionam o actor social enquanto entidade individual e diferenciada com os

1José António Pontes Quintal Mestre em Sociologia Económica e das Organizações


Instituto Superior de Economia e Gestão - Publicações –
Dissertação em Sociologia Económica e das Organizações Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social
no Sector dos Transportes Públicos
Proposta de Intervenção: Grupo Transtejo
Membro da primeira comissão para elaboração do Relatório de Sustentabilidade do Grupo Transtejo.
Quadro Superior do Grupo Transtejo – Responsável pelo Núcleod e Apoio Social do Grupo Transtejo.
jpquintal@transtejo.pt

José Elias Ferreira Ramalho Mestrando em Gestão – Instituto Superior de Gestão


Pós-graduado em Gestão Pública pelo ISG - Licenciado em Gestão pela Universidade Internacional. Representante
do Instituto de Emprego e Formação Profissional na ComissãoTtécnica 164: Responsabilidade Social
Representante do Instituto de Emprego e Formação Profissional na Comissão Técnica 165: Ética; Instituto de
Desenvolvimento e Inovação Social (I.D.I.S MAIS) – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias;
Assessor de Vereação da Câmara Municipal de Loures. Integra o Órgão Executivo da Junta de Freguesia de
Bobadela com o pelouro da Responsabilidade Social. Quadro Superior do Instituto de Emprego e Formação
Profissional. Certificado em Neuro Marketing pela Sails Braind
Membro da Comissão Nacional do Projecto ECOXXI. Presidente da Associação Agentes Activos da Mudança.
Associado Individual da Associação Portuguesa de Ética Empresarial. ramalho1@gmail.com
mecanismos socialmente agregadores que conformam as comunidades e integram os
indivíduos enquanto elementos interactivos e produtores de coesão.
Sugerimos que essas dinâmicas potenciam e enriquecem o exercício de actividades
de utilidade colectiva realizadas em rede.
Propomos como hipótese de trabalho que as organizações empresariais de pequena
dimensão2 (muito mais do que os gigantes organizacionais que se têm apoderado da
economia global e até da soberania dos Estados cuja estrutura económica e politica se
afigura mais frágil), são o rosto das economias locais e garantem a liberdade de
expressão, a liberdade de escolha e a plena realização individual e colectiva.
Acrescentamos, no âmbito desta hipótese de trabalho, que as organizações de
pequena dimensão3, uma vez ligadas entre si através de uma rede consistente que aqui
nos propomos designar como Malha de Coesão Cooperativa (MCC), obtêm a robustez
necessária para prosperar nos circuitos onde se movimentam e se digladiam entre si os
gigantes empresariais e organizacionais.
De modo a ancorar a MCC em termos conceptuais, propomos, desde logo, um
conjunto de dimensões elencadas de acordo com uma primeira sensibilidade,
relacionando os conceitos de Responsabilidade Social e de Cooperação:

• Realização individual em torno de um projecto colectivo


• Percepção de liberdade
• Percepção satisfação pessoal
• Motivação para colaborar em prol do bem comum.
• Interiorização/incorporação do conceito de responsabilidade individual.
• Interiorização/ incorporação do conceito de parte interessada (Stakeholder).
• Consciencialização individual e utilização colectiva dos mecanismos
democráticos numa dinâmica participativa.

A ultima destas dimensões foi inspirada na própria Constituição da República


Portuguesa, designadamente no que respeita ao artigo nº 2 - A República Portuguesa é
2 De acordo com recomendação 2003/361/CE da Comissão, de 6 de Maio de 2003, relativa à definição
de micro, pequenas e médias empresas [Jornal Oficial L 124 de 20.05.2003].
3 A Estratégia Europeia de Responsabilidade Social prevê para as pequenas e médias empresas a adopção
políticas de contenção fiscal considerando, precisamente, a fragilidade inerente às grandes assimetrias que
se verificam entre estas organizações empresariais e a grandes empresas. - A Estratégia Europeia de
Responsabilidade Social E United Nations Global - http://docs.apee.pt/docs/ce-estrategia-rs/ce-rs-
estrategia.pdf
um Estado de direito democrático, baseado na soberania popular, no pluralismo de
expressão e organização política democráticas, no respeito e na garantia de
efectivação dos direitos e liberdades fundamentais e na separação e interdependência
de poderes, visando a realização da democracia económica, social e cultural e o
aprofundamento da democracia participativa4.

2. O indivíduo no centro da MCC e no âmbito da análise estratégica

Para uma melhor compreensão do conceito de Malha de Coesão Cooperativa


consideramos indispensável incorporar o conceito de responsabilidade individual no
âmbito conceptual da Responsabilidade Social e no contexto alargado, complexo e
contingente das organizações. Não se trata de uma abordagem interpretativa de índole
ética ou moral mas, antes, de um mecanismo de compreensão indutivo, que nos
permitiria interpretar os fenómenos organizacionais a partir da sua composição atómica,
sendo que a partícula supostamente indivisível dessa composição seria, deste modo, o
próprio indivíduo.
Numa primeira análise, sustentamos que a análise estratégica proposta por Michel
Crozier fornece um modelo que permite, em certa medida, compreender as motivações e
estratégias do indivíduo face à inevitável inclusão num projecto com as vicissitudes das
dinâmicas grupais.
O conceito geral de estratégia está associado aos conceitos de incerteza, exercício do
poder e racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em processos de
mudança estrutural, (Crozier e Friedberg, 1977).
Segundo este conceito, o actor social não incorpora, de uma forma geral, no seu
quotidiano, objectivos claros e projectos verdadeiramente coerentes tendendo a
organizar a respectiva agenda com múltiplos objectivos, por vezes ambíguos e
contraditórios, independentemente dos capitais social, cultural e económico que detém.
Por outro lado, o comportamento do actor social é invariavelmente activo apesar de
se encontrar mais ou menos constrangido, sendo que esse constrangimento, mesmo que
conduza à passividade representa, em última análise, uma opção.
Com efeito, o comportamento do actor social é sempre racional e, ainda que possa

4 http://www.parlamento.pt/Legislacao/Paginas/ConstituicaoRepublicaPortuguesa.aspx
não o ser em relação aos objectivos, é seguramente racional em relação às
oportunidades e, através das oportunidades, racionaliza o contexto em que se insere.
No âmbito desta racionalidade há a considerar os comportamento ofensivos e
defensivos adoptados pelo actor social através dos quais este tende a manter,
respectivamente, a margem de liberdade e a iludir o constrangimento que lhe é imposto.
Nesta óptica, propõe-se três princípios fundamentais, o princípio da simplicidade, o
princípio da autonomia e o princípio do governo pela cultura, (Crozier, 1994:38).
O princípio da simplicidade, propõe que a simplicidade da estrutura organizacional
deve ser inversamente proporcional à complexidade do meio. Trata-se de uma
abordagem complexa, racional, inteligente e integradora no seio de uma organização
simplificada em que os procedimentos complexos e rígidos, bem como a falta de
autonomia, dão lugar à “liberdade e responsabilidade de agir (Crozier, 1994: 38).
Ora a responsabilidade e liberdade de acção exige que a organização assuma o
princípio da autonomia de modo a assegurar uma maior eficácia em contextos mais
complexos promotores de um ambiente económico, social e ambiental potencialmente
instável.
Finalmente as organizações simples que integram actores autónomos incorporam
cada vez menos procedimentos padronizados, com estruturas hierárquicas pouco
expressivas, e valorizam a cultura dos actores sociais na disciplina gestionária e
comportamental, adoptando, desta forma, uma atitude socialmente responsável.

3. Cooperação e descentralização

Para a constituição formal e funcional de uma malha robusta e coesa de cooperação


ou, se preferirmos, Malha de Coesão Cooperativa entre indivíduos e pequenas
organizações, será preciso incorporar ainda, a par da responsabilidade individual e
social, conceitos tangíveis de descentralização, de paz e de prosperidade.
Um dos significados contidos na perspectiva kyusai consiste na ideia de cooperação
e de descentralização da organização empresarial expressa no terceiro estádio proposto
por Ryuzaburo Kaku, onde se preconiza a cooperação com entidades exteriores à
empresa, tendo em vista o progresso da paz e da prosperidade, incorporando a lógica do
cluster e esbatendo-se a lógica do lucro como objectivo primordial e quase exclusivo.
Com efeito, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro
(Kang,1995), vai mais longe, remetendo para a ideia de que as empresas devem sentir-
se obrigadas a cumprir suas responsabilidades sociais antes mesmo de tentarem
maximizar seus lucros, constituindo esta obrigação um meio eficiente e efectivo de
controle social e uma base para a confiança nas relações humanas e organizacionais.
O estudo de Kang (1995) sugere o conceito de desempenho social do stakeholder,
(stakeholder social performance – SSP), cruzando este conceito com o de desempenho
social da empresa (corporate social performance – CSP), como duas de entre várias
categorias de desempenho que contribuem para operacionalizar a visão sistémica de
redes de stakeholders, (Kang, 1995).
O autor propõe que os benefícios e responsabilidades devem ser distribuídos com justiça
entre os stakeholders. Assim, a discussão em torno da empresa perde sentido a favor de
uma visão mais centrada na ideia de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang,
1995).
É nesta perspectiva que se impõe a adopção dos conceitos de consumo ético e de
comércio ético, cuja responsabilidade está a cargo, respectivamente, de consumidores e
demais stakeholders (Zadek, 1998).

4. Modelos de integração

Estes modelos baseiam-se na ideia de que as empresas só existem porque estão


inseridas numa sociedade que as reconhece como necessárias e legítimas. Assim, as
empresas devem integrar nas respectivas orientações estratégicas e considerar, nos
fluxos de decisão ao nível do topo organizacional, os diferentes apelos e solicitações no
âmbito social que chegam, com mais ou menos frequência, das comunidades em que se
inserem.
É de referir que a norma ISO 26000 oferece orientação sobre o comportamento
socialmente responsável e acções possíveis de integrar no âmbito da actividade
correspondente, no entanto não contém requisitos e, portanto, em contraste com os
padrões de sistema de gestão ISO, não é certificável. Integra, no entanto, várias
recomendações em matéria de Responsabilidade Social destinado às pequenas
empresas, precisamente nos aspectos inerentes ao domínio da integração e dos impactes
produzidos.
Por outro lado, Portugal dando seguimento às recomendações da ISO 26000 editou a
NP 4469-1 relativa a “Sistemas de gestão da responsabilidade social. Parte 1: Requisitos
e linhas de orientação para a sua utilização”, elaborada pela Comissão Técnica 164
“Responsabilidade Social” e coordenada pelo ONS (organismo de Normalização
Sectorial) APEE – Associação Portuguesa de Ética Empresarial. Na sequência desta
publicação veio a editar a parte dois5 que se constitui como um guia para aplicação da
Norma.
Tal como nas teorias políticas e instrumentais, existem diferentes abordagens no que
respeita às teorias integrativas que envolvem, neste caso, quatro ideias centrais; a gestão
dos assuntos sociais e a responsabilidade pública e, ainda, a gestão dos stakeholders e o
desempenho social das empresas.
Podemos considerar, em primeiro lugar, a gestão dos assuntos sociais que consiste,
resumidamente, na ideia de que a empresa deve considerar as expectativas das
comunidades envolventes, analisar essas expectativas e procurar responder em
conformidade.
O ponto de partida desta abordagem consiste, portanto, em reconhecer a diferença
entre o desempenho efectivo da empresa e o desempenho expectável (do ponto de vista
da sociedade), sendo que a aplicação da Norma Portuguesa nº 4469 procura minimizar o
desfasamento dado que orienta e recomenda um conjunto de princípios a aplicar no
âmbito da Responsabilidade Social.
Depois de conhecidos os aspectos relevantes que caracterizam essa diferença, a
empresa deve procurar isolar e resolver as questões problemáticas que interfiram directa
ou indirectamente com as políticas da empresa, adoptando “uma atenção gestionária”
em relação a essas questões, (Mahaon e Waddock : 1992).
Ainda no âmbito das teorias integrativas, há a considerar a abordagem que se
designa por Desempenho Social da Empresa e que se caracteriza por reconhecer que
uma empresa é socialmente responsável quando cumpre responsabilidades económicas,
legais, éticas e filantrópicas (Carroll, 1991).
Com efeito, na base da pirâmide proposta por Carroll, estão as responsabilidades
económicas, sem a assunção das quais a organização não tem condições para realizar a
respectiva actividade empresarial. Depois, seguem-se as responsabilidades legais que
podem condicionar o desenvolvimento da actividade económica da empresa mas que

5 NP4469-2: 2010: Sistema de gestão de responsabilidade social Parte 2: guia de orientação para a implementação.Disponíveis
no site do Instituto Português da Qualidade
são indispensáveis ao desenvolvimento pacífico e fluente da dinâmica empresarial,
constituindo, por isso, um requisito incontornável para que uma empresa se enquadre no
universo da cidadania empresarial.
No entanto, para merecer o rótulo de empresa socialmente responsável, espera-se
que o topo estratégico da organização empresarial sustente preocupações de carácter
ético que vão além das responsabilidades requeridas no domínio estritamente legal,
considerando que essas preocupações influenciam as condutas de todos os
intervenientes, tanto os que estão vinculados à organização como os que apenas
interagem sem vínculo formal, (stakeholders internos e externos).
Finalmente, segundo este autor, seria desejável que as organizações, na senda da
cidadania empresarial, assumissem, voluntariamente, responsabilidades filantrópicas de
carácter discricionário.
Segundo Porter e Kramer (2002), a maioria das acções que encerram,
supostamente, a ideia de filantropia estratégica6, na maioria dos casos não são
efectivamente estratégicas. Na realidade, a filantropia é cada vez mais utilizada ao
serviço das relações públicas ou do marketing, sendo que a maioria das acções
filantrópicas tem muito mais o objectivo de aumentar a visibilidade da empresa do que
produzir impacto social.
Por outro lado, as doações só são realmente estratégicas se forem concretizadas na
senda de objectivos simultaneamente sociais e económicos. Para isso é necessário que a
empresa opte por fazer doações em contexto competitivo, considerando que detém
activos e competências únicos que podem servir ambos os interesses. De facto, não se
espera que todas as despesas da empresa produzam benefícios sociais nem se espera,
tampouco, que o incremento de todos os benefícios sociais seja susceptível de aumentar
a competitividade.
Apostar na filantropia só tem interesse quando as despesas correspondentes
produzem ganhos sociais e económicos, considerando sempre os interesses dos
respectivos stakeholders.

6 É interessante observar, a este propósito da filantropia estratégica, a informação que a Delta Cafés, em
Portugal, destina aos visitantes do respectivo site: A Delta Cafés ambiciona fomentar a capacitação dos
trabalhadores locais, incentivar práticas ambientalmente responsáveis, nomeadamente, a conservação
dos solos, a gestão sustentada da plantação, a poupança de água e o recurso às energias renováveis, de
modo a não condicionar o futuro das gerações vindouras. Para tal, tem desenvolvido várias acções junto
das comunidades produtoras - http://www.delta-cafes.pt/#/pt/sustentabilidade/cadeia-de-valor/origens
É no contexto competitivo que a estratégia empresarial se realiza, considerando-
se, nesta lógica, um conjunto variáveis contextuais que influenciam a capacidade
competitiva das empresas:
 Trabalhadores dotados e motivados
 Infra-estruturas locais eficientes, incluindo estradas e telecomunicações;
 Dimensão e sofisticação do mercado local;
 Regulamentos governamentais adequados ao contexto empresarial,

Segundo Porter e Kramer (2002), a capacidade competitiva da empresa é


condicionada por quatro factores que potenciam ou inibem a respectiva produtividade:
 Condições dos factores, ou recursos disponíveis para a produção;
 Condições da procura;
 O contexto estratégico e de rivalidade empresariais;
 Indústrias relacionadas e de suporte.

Quaisquer fragilidades que se observem nestes quatro domínios podem


comprometer a competitividade de uma nação, de uma região, de uma empresa ou,
simplesmente, de um negócio. Porter e Kramer (2002) consideram que os investimentos
filantrópicos realizados pelos membros de um cluster, podem potenciar fortemente a
competitividade e o desempenho de todas as empresas que o constituem.
Nesta perspectiva, a filantropia pode ser a forma mais eficiente de alavancar a
capacidade produtiva e a eficiência empresarial, sendo necessário analisar, para este
efeito, as diferentes variáveis que integram o contexto competitivo.
Dessa forma, é possível identificar as áreas de investimento que proporcionam,
por um lado, mais valor social e económico e que melhoram, por outro lado, a
competitividade da empresa na área de negócio em que está inserida.
Seja como for concluímos que os modelos ou teorias integrativas dominantes,
remetem para as organizações a responsabilidade de conduzir os processos de
desenvolvimento, subvalorizando o indivíduo enquanto elemento fundamental e
estratégico no processo de coesão e de cooperação organizacional.

5. Abordagem Ética
Sem prejuízo de uma perspective organizacional e sociológica que devolva o
indivíduo ao centro da análise, é indispensável que nos coloquemos as seguintes
questões: (1) Que princípios éticos as empresas devem seguir? (2) O que é correcto que
façam para o bem da sociedade?
Tal como as restantes teorias, também as teorias éticas encerram abordagens
diferentes que passaremos a discutir pela seguinte ordem: teoria normativa dos
stakeholders, direitos universais, desenvolvimento sustentável e, finalmente, o bem
comum.
No âmbito da teoria normativa dos stakeholders, parte-se do princípio que todas as
partes interessadas na dinâmica empresarial sustentam interesses legítimos aos quais a
empresa deve dar resposta na medida do possível, mesmo que essa resposta não
implique ou não concorra para melhorar a dimensão económica da organização e não
favoreça, por conseguinte, os respectivos proprietários ou accionistas (Evan &
Freeman, 1993).
Para esse efeito, é necessário que se observem alguns princípios a estabelecer na
forma como o topo estratégico se relaciona com os stakeholders, designadamente nos
domínios da justiça, cooperação, benefício mútuo e sacrifício (Philips, 1997).
Considerando a segunda abordagem das teorias éticas designada por Direitos
Universais, a Declaração Universal dos Direitos do Homem adoptada pelas Nações
Unidas em 1948, bem como outras declarações internacionais nos domínios dos
recursos humanos, direitos laborais e protecção ambiental, devem constituir-se como
guias a seguir pela empresa que pretende ser socialmente responsável. A norma SA
8000 (Responsabilidade Social) é o resultado mais visível e exemplar desta abordagem
e surgiu em 1997 por intermédio da Social Accountability International (SAI), em
colaboração com outras organizações internacionais.
Esta norma baseia-se em 12 convenções da Organização Internacional do Trabalho
(OIT), na Declaração Universal dos Direitos do Homem e na Convenção das Nações
Unidas dos Direitos das Crianças. A correspondente certificação remete para o
cumprimento da legislação laboral em vigor, através do cumprimento de requisitos a
observar em vários domínios.
O princípio do desenvolvimento sustentável neste domínio das teorias éticas,
reflecte a preocupação com a escassez de recursos que remete para a ideia de que as
gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas necessidades sem
comprometer os recursos das gerações futuras (World Commission on Environment and
Development, 1987).
Embora se observe alguma ambiguidade na definição deste conceito (Fergus &
Rowney, 2005), parece evidente que a satisfação das gerações actuais é,
fundamentalmente, da responsabilidade dos diferentes agentes económicos que operam,
actualmente, nas múltiplas áreas de negócio em desenvolvimento.
O relatório “Nosso Futuro Comum”, também conhecido como "Relatório
Brundtland", já referido neste trabalho, veio sublinhar a necessidade de um novo tipo de
desenvolvimento capaz de manter o progresso a nível mundial e a longo prazo. Este
novo conceito de desenvolvimento destina-se aos países em desenvolvimento e aos
desenvolvidos.
Foi nos termos do World Business Council Sustainable Development, (WHCSD,
2000:2) que o conceito de desenvolvimento sustentável passou a integrar considerações
sociais, ambientais e culturais (Rego, 2007: 169,170).
Nesta perspectiva, a pobreza está, por um lado, na origem dos problemas
ambientais mas também potencia, por outro lado, esses mesmos problemas. Assim,
critica-se o modelo de desenvolvimento adoptado pelos países desenvolvidos, não só
por ser insustentável, dado que tende a esgotar rapidamente os recursos naturais, mas,
também, por não estar ao alcance dos países em desenvolvimento.
A perspectiva de que as gerações actuais devem procurar satisfazer as respectivas
necessidades sem comprometer os recursos das gerações futuras passa a introduzir,
desta forma, duas noções: (1) a noção de necessidade que encerra os conceitos de
equidade e de carências fundamentais no universo da pobreza e a (2) noção de limitação
associada aos condicionalismos que o desenvolvimento tecnológico e a dinâmica social
impõem ao meio ambiente.
Considerando esta segunda noção, as necessidades humanas são determinadas
social e culturalmente (Fergus & Rowney, 2005), pelo que é necessária a promoção de
novos valores para que o consumo humano não ultrapasse os limites de regeneração que
a natureza suporta em termos ecológicos.
Resumindo, o desenvolvimento sustentável exige equilíbrio entre o crescimento
económico, as estruturas sociais e a qualidade ambiental. No entanto, permanece a
polémica em torno da responsabilidade que cabe aos diferentes intervenientes neste
processo. Com efeito existe alguma controvérsia que opõe o sector público ao sector
privado, quanto à assunção da responsabilidade social indispensável ao
desenvolvimento sustentável. (Rego, 2007: 170)..
Não obstante a ideia de Responsabilidade Social Empresarial, associada ao
conceito de Desenvolvimento Sustentável, há quem defenda a perspectiva de que a
responsabilidade pelos desequilíbrios gerados pelo mercado é dos governos, a quem
compete a correcção dos desvios que comprometem o equilíbrio ambiental, social e
económico (The Economist, 2005:15).

6. O Bem Comum
Neste modelo de análise em que nos propomos valorizar a dinâmica individual,
devemos sublinhar que o Bem Comum persiste como conceito indissociável. De facto, a
empresa empenhada em assumir-se como socialmente responsável deve reconhecer-se,
de modo inequívoco como membro da sociedade em que está inserida, investindo, não
só nos objectivos que conduzem ao lucro mas também no bem comum e na melhoria da
componente social, (Kok et al. 2001: 287).
Com efeito, a ideia consiste na criação de riqueza de modo justo e eficiente, no
respeito pelos direitos e dignidade dos cidadãos em prol de quem as empresas devem
promover o bem-estar e garantir, em última análise, a harmonia social, (Argandoña,
1997). Podemos observar alguma analogia entre esta perspectiva e a as abordagens
propostas no âmbito da teoria normativa dos stakeholders e do Desenvolvimento
Sustentável.
Mas, segundo Arménio Rego, esta abordagem do Bem Comum tem a vantagem de
não enveredar pelo relativismo moral/cultural característico da abordagem dos
stakeholders e do desenvolvimento sustentável, não obstante algumas similitudes que
ligam estas diferentes linhas de pensamento.(Rego, 2007: 174).
Por outro lado, integra também a perspectiva japonesa Kyosei (Goodpaster, 1999)
que consiste, justamente, em actuar estrategicamente, vivendo e trabalhando em
conjunto com vista ao bem comum. Trata-se de uma perspectiva que esteve na origem
de The Caux Roundtable Principles for Business e que foi adoptada por um grupo de
líderes, constituído por executivos dos EUA, do Japão e da Europa, preocupados com as
ameaças que já se faziam sentir no anos 80 à paz e à estabilidade do mundo em geral .
(Rego, 2007: 174).
Este grupo reuniu-se pela primeira vez em 1986 na Suíça, em Caux, e desenvolveu
um conjunto de iniciativas cujos esforços culminaram em 1994 com a promulgação dos
princípios de Caux (“Comportamento empresarial para um mundo melhor”) .(Rego,
2007: 175).7
Os princípios de Caux, (Caux Round Table, 2009) integram sete conceitos centrais
que consistem, muito resumidamente, na (1) responsabilidade e no (2) impacto
económico e social das empresas, na (3) transparência, no (4) respeito pelas regras, no
(5) apoio ao Comércio Multilateral, no (6) respeito pelo meio ambiente e na (7)
condenação de operações Ilícitas.
Tal como se referiu na introdução a esta abordagem do bem comum, uma das
perspectivas em que se baseiam os sete princípios de Caux, consiste na lógica Kyosei
que em japonês significa “espírito de cooperação” e que, resumidamente, sugere a
necessidade das empresas se assumirem em prol do bem comum.
A outra perspectiva basilar remete para o conceito de dignidade humana. De
acordo com este conceito, o ser humano não é simplesmente um meio para que alguns
atinjam determinados fins nem sequer, considerando os direitos humanos básicos, por
preceito maioritário. A pessoa humana deve ser respeitada e dignificada, quaisquer que
sejam os objectivos empresariais e a dimensão das organizações em causa.
Quanto ao conceito Kyosei, é de referir que foi introduzido pela primeira vez no
mundo empresarial em 1987, pelo então presidente da Canon, Ryuzaburo Kaku, que
identificou três grandes questões que impunham a necessidade de adoptar uma nova
atitude empresarial.(Rego, 2007: 176).
Em primeiro lugar, o grande desequilíbrio nas relações comerciais entre países –
oposição de enormes deficits comerciais dos países mais pobres ao superavit dos mais
ricos. Em segundo lugar o grande desnível de rendimentos entre os países mais ricos e
os mais pobres o que explica as migrações ilegais, as guerras civis e étnicas, os fluxos
de refugiados políticos e económicos; sendo que todos estes cenários têm como pano de
fundo a pobreza extrema.
Finalmente, o consumo excessivo e alarmante de recursos naturais que
comprometerá os recursos disponíveis de forma dramática, num futuro muito próximo,

7 Há cinco ideias centrais em que se baseiam os sete princípios que constituem este documento; (1) o
facto dos negócios serem progressivamente mais globais devido à mobilidade do emprego, do capital, dos
produtos e da tecnologia, (2) a falta de regulação que discipline a lei e as forças de mercado, (3) a
necessidade de responsabilizar as políticas e acções das empresas, (4) a necessidade de partilhar valores e
prosperidade e, finalmente, (5) o facto das empresas encerrarem em si mesmas um potencial de mudança
social positiva.
sendo altamente provável que, a este ritmo, as próximas gerações herdem o planeta em
estado de “ruína ambiental”. (Kaku, 1997).
Partindo deste princípio, Ryuzaburo Kaku defende cinco ideias centrais; (1) As
grandes multinacionais e transnacionais têm poder para resolver parte substantiva dos
problemas relacionados com a pobreza e com o ambiente; (2) Se não o fizerem não têm
futuro; (3) O conceito-chave para o desenvolvimento destas acções de melhoria consiste
na prática Kyosei; (4) O Kyosei significa “espírito de cooperação” com vista ao bem
comum e implica a promoção de harmonia entre a empresa, as partes interessadas, os
governos e o ambiente. (5) Se a prática Kyosei for adoptada por um conjunto alargado
de empresas, o potencial de resolução dos problemas identificados nos domínios social,
político e económico é enorme.
Face a estes pressupostos, e embora este conceito possa ser considerado
impraticável em termos ideais, a verdade é que, a Canon procurou percorrer os cinco
estádios propostos por Ryazaburo Kaku para incorporar a dinâmica Kyosei, (Rego,
2007: 178)

7. Nota conclusiva

Tal como referimos na introdução, assistimos a um paradoxo, em termos globais.


Com efeito, (no mesmo espaço e no mesmo tempo) coexistem dois mundos muito
diferentes – Um deles cada vez mais ligado e mais pequeno, fundamentalmente por
intermédio das tecnologias de informação e comunicação, e o outro cada vez mais
fragmentado e assimétrico.
A preocupação em torno dos recursos ambientais é, deste ponto de vista e no nosso
entendimento, precisamente a grande oportunidade do ser humano na senda de uma
sociedade com menos assimetrias e ancorada nos parâmetros que definem, de forma
consensual, o conceito de desenvolvimento sustentável.
O indispensável desenvolvimento das economias locais exige que nos centremos nas
pequenas unidades de produção com elevados níveis de exigência em termos de
autonomia e de compromisso ambiental.
No entanto não é possível ignorar as grandes organizações empresariais,
designadamente as mais poderosas com estrutura transnacional, sendo esse o motivo
pelo qual é indispensável o estabelecimento de uma rede apertada e coesa de
cooperação que envolva os indivíduos responsáveis pelos pequenos empreendimentos
(MCC).
Essa ligação deverá desenvolver-se a partir de uma estratégia local e inter-regional,
que pode ser estabelecida com maior facilidade porque existe, nas várias áreas de
produção, um conhecimento profundo e multidisciplinar que pode ser partilhado e
divulgado através das novas tecnologias de informação e de comunicação.
No centro dessa estratégia estaria a sobrevivência e autonomia dos indivíduos e das
populações em detrimento do lucro enquanto objectivo central.
Este trabalho constitui, portanto, uma ponte de reflexão que pretende situar o
exercício da Responsabilidade Social e do Desenvolvimento Sustentável ao nível do ser
humano, individualmente considerado. Sugere-se que o actor social pode recuperar a
sua individualidade e aspirar à sua realização pessoal sem comprometer a coesão das
organizações. Propomos, aliás, que é a partir da realização individual que o actor social
reúne condições necessárias e suficientes para que os projectos colectivos,
organizacionais e institucionais que integra se realizem de forma consequente. O
enfoque no indivíduo e na economia local exige, no nosso entendimento, uma análise
prévia estratégica que permita compreender as motivações e as dinâmicas que animam
os diferentes intervenientes não só em termos colectivos mas sobretudo numa óptica
individual.
O Conceito Geral de Estratégia, sublinha, precisamente, a importância da incerteza,
do exercício do poder e da racionalidade dos actores sociais no seio de organizações em
processos de mudança estrutural. O princípio da simplicidade, o princípio da autonomia
e o princípio do governo pela cultura, (Ibid, 1994:38), são três princípios que integram o
conceito de gestão socialmente responsável, sem dispensar as múltiplas
responsabilidades individuais, condição que considerámos necessária ao
desenvolvimento de um projecto empresarial apostado no Desenvolvimento
Sustentável.

Retomando o conceito de Responsabilidade Social interessa reflectir numa


perspectiva integrativa e ética, sendo que há a considerar a Gestão dos Assuntos Sociais
que encerra, como vimos, duas vertentes; por um lado o objectivo do lucro que embora
permaneça, passa a coexistir com a consciência de que existe um contrato social
indissociável da missão da organização reconhecendo, portanto, a importância
intrínseca da sociedade envolvente. Por outro lado, a inclusão de uma componente de
princípios éticos que vai além dos normativos legais
Há a considerar, a este propósito, a ideia de cooperação e de descentralização da
organização empresarial que remete para a cooperação com os stakolders (Kaku, 1997),
almejando a paz e a prosperidade em detrimento da lógica do lucro como objectivo
central da organização.
De facto, o conceito de responsabilidade social empresarial pré-lucro
(Kang,1995), incorpora a ideia de que o cumprimento da Responsabilidade Social é
indispensável à formação de lucro valorizando-se, sobretudo, a confiança nas relações
humanas e organizacionais, de tal forma que o enfoque na empresa se esbate
valorizando-se o conceito de redes de relacionamento entre stakeholders, (Kang, 1995).
Propomos, assim, como hipótese de trabalho a desenvolver oportunamente, que
as organizações empresariais de pequena dimensão são o verdadeiro rosto das
economias locais e o garante efectivo da liberdade de expressão, da liberdade de escolha
e da plena realização individual e colectiva. Uma vez ligadas entre si através da Malha
de Coesão Cooperativa (MCC), as organizações de pequena e média dimensão obtêm a
robustez necessária para prosperar localmente, embora com uma visão global.
A MCC relaciona causalmente os conceitos de Responsabilidade Social e de
Cooperação através de um conjunto de percepções que sugerimos no âmbito do conceito
de sustentabilidade em matéria de economia local, designadamente a realização
individual em torno de projectos comuns, a percepção de liberdade e de satisfação
pessoal, interiorização dos conceitos de Responsabilidade Social e de Parte Interessada
e, não menos importante, a Consciencialização individual e utilização colectiva dos
mecanismos democráticos numa dinâmica participativa incluindo.
Com esta última percepção, no contexto da Responsabilidade Social destinada à
Economia Local em rede, além das dimensões económica, social e ambiental, também
há a considerar a dimensão política através do aprofundamento da democracia
participativa, conceito este consagrado na Constituição da República Portuguesa, tal
como referimos na introdução deste trabalho.
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INCLUSÃO SOCIAL CORPORATIVA

Henry Julio Kupty, Marta Hiromi Mendes1


RESUMO
O presente artigo tem por finalidade desenvolver uma análise sobre as condições de
trabalho dos portadores de necessidades especiais e a consequente adaptação e adequação dos
processos organizacionais, devido à implantação da Lei de Cotas. São abordados temas
relacionados à deficiência e ao mercado de trabalho no contexto da Responsabilidade Social.
A partir da análise do conjunto desses fatores, pode-se inferir que não somente as empresas
devem promover vagas para os portadores de necessidades especiais por causa da Lei, mas
também gerar a inclusão social dentro do ambiente organizacional, melhorando o ambiente de
trabalho, minimizando o preconceito e incentivando o senso de responsabilidade social para
esse público.
Também, o presente trabalho levanta a reflexão se as empresas adotam as medidas
legais, ou seja, o cumprimento da Lei de Cotas, apenas como forma de evitar a punição legal
através de aplicação de multas, ou se os gestores podem ser sensíveis às causas sociais e
aceitam colaborar para um mundo mais igualitário, e se a inclusão social é praticada apenas
em empresas onde os gestores e os tomadores de decisão das empresas vivenciam situações
similares em seu âmbito familiar ou se de fato sensibilizam-se às causas sociais.

Palavras-chave: Inclusão Social, Portadores de Necessidades Especiais, Processos


Organizacionais.

ABSTRACT
This article aims to develop an analysis of the working conditions of people with
special needs and the consequent adaptation and adjustment of organizational processes, due
to the implementation of the Lei de Cotas. For the theoretical background will be discussed
topics related to disability and the labor market, as well as social inclusion in the context of
the Social Responsibility. It can be inferred that companies should not only promote spaces
1 Henry Julio Kupty – Mestre – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de Vasconcelos, 1222
São Paulo – SP – henry@fiap.com.br

2) Marta Hiromi Mendes – Especialista – Faculdade de Informática e Administração Paulista – Av. Lins de
Vasconcelos, 1222 São Paulo – SP – martahiromi@gmail.com.br
2

for the people with special needs only because of the law, but also generate social inclusion
within the organizational environment, improving the working environment, minimizing
prejudice and fostering a sense of social responsibility to this public.
In addition, this study causes the reflection if companies adopt legal measures, in other
words, the Law enforcement, just as a way to avoid legal punishment through fines, or if
managers can be sensitive to social causes to accept and cooperate for a more equitable world,
and social inclusion is practiced only in companies where managers and decision makers of
companies experiencing similar situations in their family context or if indeed sensitize
themselves to social causes.

Keywords: Social Inclusion, People with special needs, organizational processes


LISTA DE SIGLAS

AACD – Associação de Assistência à Criança Deficiente


ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas
AIPPD – Ano Internacional das Pessoas Portadoras de Deficiência
ASSIDEF – Associação de Integração de Deficientes
AVAPE – Associação para Valorização de Pessoas com Deficiência
CID – Classificação Internacional de Doença
CIF – Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde
CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
CPA – Comissão Permanente de Acessibilidade
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ICEP – Instituto Cultural, Educacional e Profissionalizante de Pessoas com Deficiência do
Brasil
MPT – Ministério Público do Trabalho
MTE – Ministério do Trabalho e Emprego
OIT – Organização Internacional de Trabalho
OMS – Organização Mundial da Saúde
ONGS – Organizações não governamentais
ONU – Organização das Nações Unidas
PGE – Procuradoria Geral do Estado de São Paulo
PNE – Portador de Necessidades Especiais
PPDs – Pessoas Portadoras de Deficiências
SACI – Solidariedade, Apoio, Comunicação e Informação
SERTE-SP – Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo
SINE – Sistema Nacional de Emprego
SIT – Secretaria de Inspeção do Trabalho
SRT – Superintendência Regional do Trabalho
UNESCO – United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization
4

Importância, Contexto e Finalidade do Estudo

O ambiente empresarial está passando por mudanças significativas no


comportamento social. É pelo contato com as pessoas, pelas situações, exigências e
experiências que percebemos do que somos capazes e como podemos evoluir. Este
ambiente reflete a maneira como nos comportamos perante a sociedade e como lidamos
com as dificuldades superando limites. Um exemplo de situação que está mudando o
cenário empresarial é a implantação da Lei de Cotas nº 8.213/91 para pessoas com
deficiência, criada em 1991 com o objetivo de fazer com que as empresas tivessem em
seu quadro de funcionários um número mínimo de PNE (Portador de Necessidades
Especiais – termo utilizado atualmente). Tendo em vista a contratação dessas pessoas, é
necessário preparar e adequar o ambiente e, ao mesmo tempo, qualificá-las para os
postos de trabalho, assim como qualquer outra pessoa.
Além de assegurar o direito ao emprego a essas pessoas, a lei também defende a
Inclusão Social Corporativa, tema atual e recorrente como responsabilidade social e
objeto de pesquisa deste estudo. O processo de contratação de PNE dentro das empresas
não proporciona as mesmas facilidades apresentadas normalmente. Para contratar
pessoas com necessidades especiais, as empresas precisam recorrer a outras que prestam
esse serviço, juntamente com ONGs e associações, pois o contato com essas pessoas é
diferenciado no mercado de trabalho.

Objetivos

Este estudo procura identificar soluções para que as empresas consigam adequar
seus processos organizacionais de forma ética, tranquila e satisfatória a fim de receber
os portadores de necessidades especiais. Analisar o ambiente empresarial como um todo
e propor modelos de adaptação às empresas que necessitam adequar seu ambiente para
receber os portadores de necessidades especiais; verificar o processo de contratação dos
PNE, a fim de buscar melhorias; e a consequência do alcance dos objetivos citados
acima é a promoção da Inclusão Social e a percepção natural de Responsabilidade
Empresarial.
5

Justificativa e Contribuições

“Não se trata apenas de integrar essas pessoas à sociedade, requer-se da sociedade uma adaptação para
incluir minorias, entre elas, as pessoas com deficiência.”
Romeu Kazumi Sassaki, 2003.

Algumas leis e artigos na Constituição Brasileira tratam do tema da inclusão de


pessoas com deficiência. Os principais são: Lei nº. 7.853 de 1989; Artigo 93 da Lei nº.
8.213 de 1991; Decreto nº. 3.298 de 1999 e Decreto nº. 5.296 de 2004.
A Lei 8.213/91 prevê que as empresas contratem pessoas portadoras de
deficiências físicas, mentais, auditivas e visuais, como também profissionais
reabilitados. A Lei implantada em 1991 estabelece cotas de profissionais deficientes
para a empresa conforme o número de funcionários em seu quadro. As empresas que
não cumprirem a Lei deverão pagar a multa correspondente.
O Artigo 93 define que as empresas com cem ou mais empregados estão
obrigadas a preencher de 2% (dois por cento) a 5% (cinco por cento) dos seus cargos
com beneficiários reabilitados ou pessoas portadoras de deficiência, habilitadas, na
seguinte proporção:
I – de 100 a 200 empregados – 2%
II – de 201 a 500 – 3%
III – de 501 a 1.000 – 4%
IV – de 1.001 em diante – 5%

O quadro abaixo define qual o regime de contratação do PNE, quais órgãos


fiscalizam o cumprimento da citada lei e caso as empresas não possuam a cota mínima
de PNE definida, o valor estimado das multas.
Regime de Contratação CLT
Ministério Público do Trabalho – MPT (prazos negociados)
Superintendência Regional do Trabalho – SRT concede um
Quem Fiscaliza
prazo para orientar a empresa para o inicio da fiscalização. O
prazo é de 2 meses podendo ser prorrogado para mais 2 meses.
Mínimo: R$ 1.195,72
Valor das Multas
Máximo: R$ 119.573,00
Quadro 1 – Fiscalização
Fonte: Adaptado de Plura Consultoria, [200..]; Administradores, 2008
6

Para integrar a lei é preciso de um Laudo Médico. Esse laudo pode ser emitido
pelo médico da empresa a qual o PNE pertencer, ou por outro médico que possua os
exames comprobatórios em mãos. Outro meio de conseguir a comprovação é por meio
do laudo emitido pelo INSS, que certifica a reabilitação profissional. O médico
responsável pelo laudo deve atestar que a pessoa se enquadre em algumas das condições
supracitadas para integrar a cota, como definida pela Convenção nº. 159 da OIT, Parte I,
art.1; Decreto nº. 5.296/04. O Laudo deve especificar a espécie, o grau ou nível da
deficiência e para ter validade deve ser autorizada a sua utilização na empresa por parte
do empregado, o que torna sua condição pública.
O MTE tem fiscalizado as empresas para verificar se o cumprimento da lei está
sendo aplicado corretamente. As empresas que não cumprirem as determinações legais
estão sujeitas a multas que variam de R$ 1.254,89 a R$ 125.487,95. A penalidade está
prevista no artigo 133 da citada Lei 8.213/91. O Decreto 3.258/99 também definiu em
5% a reserva legal de cargos e empregos públicos. De acordo com dados da Secretaria
de Inspeção do Trabalho em 2004, quatro estados obtiveram resultado zero em relação à
inserção de pessoas com deficiência no mercado de trabalho. Em 2006 apenas um
estado não obteve resultado positivo. Em 2007 todos os estados alcançaram resultados
positivos. E finalmente, de 2005 até hoje 61,9 mil pessoas com deficiência foram
incluídas no mercado de trabalho sob a ação fiscal do MTE.

Portadores de Necessidades Especiais

O entendimento do que é pessoa com deficiência vem evoluindo e sendo


acompanhado principalmente desde a década de 60, quando se formulou pela primeira
vez o conceito de deficiência, que reflete:
“a estreita relação existente entre as limitações que experimentam as pessoas
portadoras de deficiências, a concepção e a estrutura do meio ambiente e a
atitude da população em geral com relação à questão” (Portal da Saúde -
Governo de São Paulo apud Coordenadoria para Integração da Pessoa
Portadora de Deficiência – Corde – do Ministério da Justiça, 1996, p.12).

Após anos de luta por igualdade, esse conceito tem sido discutido e incorporado
em diversos segmentos e sua utilização correta ainda é passível de discussões. No
decorrer deste artigo será utilizada a sigla PNE, mais atualizada, para indicar os
Portadores de Necessidades Especiais. Poderão aparecer siglas como PPD (pessoa
7

portadora de deficiência) ou PCD (pessoa com deficiência), que estavam presentes em


textos mais antigos utilizados nas pesquisas.
Gugel (2006) define deficiência como:
“Toda perda ou anormalidade de estrutura ou função psicológica, fisiológica
ou anatômica de incapacidade ou capacidade parcial (aqui entendida como a
impossibilidade ou possibilidade parcial) para desempenho de atividade,
dentro do padrão considerado normal para o ser humano, levando-se em
conta que a incapacidade é restrita a determinada atividade (andar, ver, ouvir,
falar, desempenho intelectual), que não significa incapacidade genérica.”

A OMS, por meio da Classificação Internacional de Funcionalidade,


Incapacidade e Saúde (CIF), define deficiência como “problema nas funções ou nas
estruturas do corpo, como um desvio significativo ou uma perda” (p. 21, 2003).
A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006),
incorporada à Constituição Brasileira (2008), é composta por cinquenta artigos. Nela
encontram-se normas sobre os direitos civis, políticos, econômicos, sociais e culturais
das pessoas com deficiência, definidas em seu artigo 1º como:
“aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem
obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de
condições com as demais pessoas”.

Ainda segundo a ONU (Organizações das Nações Unidas) e de acordo com a Lei
n° 2.542/75:
“termo pessoa portadora de deficiências, identifica aquele indivíduo que,
devido a seus “déficits” físicos ou mentais, não está em pleno gozo da
capacidade de satisfazer, por si mesmo, de forma total ou parcial, suas
necessidades vitais sociais, como faria um ser humano normal”.

O Censo do IBGE (2010) mostra que 45,6 milhões de brasileiros apresentam


algum tipo de deficiência, ou seja, essa parcela representa quase 24% da população
brasileira2. O Censo apontava que a proporção de pessoas portadoras de deficiência
aumenta com a idade, passando de 4,3% nas crianças de até 14 anos para 54% das
pessoas com mais de 65 anos. Os homens predominavam nas deficiências mental, física
e auditiva, enquanto as mulheres tinham predominância nas deficiências motoras (como
subir escadas) e visuais (mulheres acima de 60 anos). Das 45,6 milhões de pessoas que

2 O último Censo realizado com os dados referentes aos portadores de necessidades especiais foi no ano
de 2000, que mostrava um total de 24,6 milhões de brasileiros com alguma deficiência – 14,5% da
população. O Censo 2010 obteve esses dados por amostragem.
8

se declararam deficientes no Censo de 2010, 38,4 milhões estavam nas zonas urbanas,
enquanto 7,1 milhões estavam nas zonas rurais (IBGE, 20103).
No Brasil a Política Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência define por meio do Decreto Federal nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999,
regulamentando a Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989.
“toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica,
fisiológica ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de
atividade, dentro do padrão considerado normal para o ser humano; sendo
permanente aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um período de
tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se
altere, apesar de novos tratamentos; e é considerada incapacidade - uma
redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social, com
necessidade de equipamentos, adaptações, meios ou recursos especiais para
que a pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir
informações necessárias ao seu bem-estar pessoal e ao desempenho de função
ou atividade a ser exercida”.

São considerados PPDs (Pessoa Portadora de Deficiência) não somente aqueles


que nascem com deficiência, mas também aqueles que a adquirem ao longo da vida. No
Brasil cerca de 500 pessoas tornam-se deficientes todos os dias, devido a inúmeras
causas como a violência urbana, acidentes ou outros riscos que estamos expostos (ONU,
2006). O termo pessoas portadoras de deficiência foi usado de 1988 até 1993. Líderes
organizacionais passaram a contestar seu uso, pois achavam que indicava que a pessoa
inteira era deficiente, o que não era verdade. Para solucionar o impasse, nos anos 90
criou-se o termo portador de necessidades especiais, que substitui o termo deficiência.
(SACI, 2003).
A inclusão de PNE se efetivou a partir da Declaração de Salamanca (1994) 4, que
está respaldada pela Convenção dos Direitos das Crianças (1988) 5 e da Declaração
sobre Educação a todos (1990)6. No dia 11 de outubro é comemorado o Dia do
Deficiente Físico. Esta data é de suma importância para milhões de cidadãos brasileiros
e seus familiares. Muitas organizações, como a AACD promovem eventos para
conscientização e prevenção de acidentes, enfatizando a importância da inclusão social.
3 Censo 2010: Resultados Gerais da Amostra, divulgados no site do IBGE.

4 Declaração de Salamanca: elaborada em 1994 defende os princípios, políticas e práticas na área das
necessidades educativas especiais. Em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf

5 Convenção dos Direitos das Crianças: elaborada em 1988 com a finalidade de consagrar o princípio do
reconhecimento da dignidade inerente a todos os membros da família humana e de seus direitos
inalienáveis, de igualdade e liberdade, proclamados na Carta das Nações Unidas (1945). Em:
http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/direitos/tratado11.htm

6 Declaração sobre Educação a todos: elaborada em 1990. Em:


http://unesdoc.unesco.org/images/0008/000862/086291por.pdf
9

Tipos de deficiência

Existem diversos tipos de deficiências definidas por diferentes autores e também


terminologias utilizadas convencionalmente. Serão utilizadas algumas delas:
Deficiência Física, Deficiência Auditiva, Deficiência Visual, Deficiência Mental e
Deficiência Múltipla, sendo que cada uma dessas deficiências possui uma série de
características e níveis (Oliveira, 2006; DEFICIENTE ONLINE, 2004).
De acordo com pesquisas realizadas, é possível perceber que o número de
pessoas portadoras de necessidades especiais residentes nos principais polos e em idade
de trabalhar é uma parcela significativa da população. Depois de anos o mercado de
trabalho está dando valor a esse profissional, que vem buscando seu espaço.
Alguns dos problemas enfrentados pelas empresas no momento de preencher
essas vagas são a falta de qualificação dos profissionais ou o desconhecimento do que é
ser deficiente. Para amenizar essa situação, Ministério do Trabalho propõe ações nas
quais a empresa tem uma ajuda de custo que varia de R$1.101,75 a R$110.174,67.
(PFDC, 2006).
Segundo o Mauro Ribeiro, do INSTITUTO MVC [199..], existem quatro razões
para que as empresas brasileiras optem por recrutar pessoas PNE:
1. Legal: respaldada pela Lei 8.213 /91 que determina que as empresas
reservem cota de vagas para pessoas portadoras de deficiência conforme o
Art. 93. É nítido que poucas empresas estão cumprindo a legislação e muitas
explicam que não aderiram à lei por falta de profissionais qualificados e
também por perceberem que não houve muita adesão por parte de outras
empresas.
2. Funcional: precisará apenas adaptar-se fisicamente às necessidades de
locomoção dos PNE como rampas de acesso, banheiros, estacionamento, e
outras.
3. Responsabilidade Social: as empresas estão cada vez mais assentindo a esse
termo do momento, pois perceberam que consequentemente há uma melhora
em sua imagem, além de ser uma ferramenta de marketing. Também há o
sentimento de exercer a cidadania junto à sociedade.
10

4. Emocional: empresas analisaram que quando se tem como colega de trabalho


um PNE ocorre uma melhora no clima interno, pois as pessoas começam a
valorizar mais o ser humano, ocasionando o aumento da solidariedade entre
os colegas, além dos profissionais se sentirem satisfeitos em trabalhar na
empresa.

O SINE7 disponibiliza em sua página na Internet uma cartilha e dados sobre a


Inclusão de Pessoas com Deficiência no Mercado de Trabalho. As informações são
também para as empresas, além de tirar dúvidas sobre a Lei de Cotas e Deficiência,
aborda tema como a Contratação de Pessoa com Deficiência. Além da cartilha, o site
também coloca a disposição estudos e indicadores sobre pessoas com deficiência no
mercado de trabalho. Nos resultados de 2011, foi possível observar que em todos os
meses há a elevação no número de pessoas com deficiência contratadas. A região
Sudeste apresentou o maior número de contratações, sendo o estado de São Paulo o
local com maior movimentação entre pessoas admitidas e desligadas. Entre as pessoas
contratadas, mais da metade são homens, entretanto comparando-se o saldo de
contratações, o de mulheres foi bem superior no ano de 2011.
Conforme dados do SINE, em 2007 foram disponibilizadas no Brasil 36.837
vagas, sendo que somente 7.206 (20%) foram preenchidas. No estado de São Paulo
apenas 2.122 (11%) das 19.104 vagas foram preenchidas.
Dados divulgados pelo SERTE – SP mostram que em 2009 100 mil PNE
trabalharam em São Paulo, representando 2 % dos deficientes empregados.
Um dos desafios para o ICEP em 2010 foi o de aumentar as contratações de
cadeirantes, segundo o seu presidente, Sueide Miranda:
“O cadeirante ainda sofre certa dificuldade para entrar no mercado de
trabalho por conta da falta de cadeiras de rodas com qualidade, acessibilidade
e de uma maior conscientização do potencial desses trabalhadores por parte
dos empresários”.

A reserva de cotas para deficiente está presente na maioria dos países. Na França
as empresas com mais de 20 empregados reservam 6% de suas vagas e nos EUA e
Reino Unido o judiciário pode fixar cotas quando a empresa não tem mão de obra
disponível (DEFICIENTE EFICIENTE, [200..]).

7 Os dados são disponibilizados pelo Observatório do Mercado de Trabalho Nacional, que é um órgão de
assessoramento do MTE (Ministério do trabalho e Emprego).
11

Inclusão Social

"Ratificar a inclusão das pessoas com deficiência numa sociedade com menos pobreza e com mais
igualdade na diversidade, onde os instrumentos de coesão sejam também ferramentas para a conquista
da cidadania, da autonomia e da inserção social”.
Naziberto Lopes e Lilian Treff, 2008.

Nossa cultura ainda nos mostra uma história muito recente com relação à
Inclusão Social. Pessoas ainda criticam a igualdade de direitos e não é sempre que se
encontram pessoas e empresas dispostas a cooperar com aqueles considerados fora dos
padrões de normalidade estabelecidos por um grupo considerado como maioria.
Entretanto, quando essas pessoas são aceitas, essas diferenças raramente se destacam ou
as impedem de realizar alguma tarefa (dentro de cada possibilidade), e podem
acrescentar muito nos valores morais, éticos e de respeito ao próximo, como todos
recebendo os mesmos direitos e oportunidades. (Adaptado de: BARROS, Jussara.
BRASILESCOLA, 2012.).
Em 1981 a ONU decretou “O Ano Internacional das Pessoas Portadoras de
Deficiência (AIPPD)”. Nessa época percebeu-se que os PNE mereciam os mesmos
direitos que qualquer pessoa. Começam a ser vistas as necessidades de adaptação,
criando-se rampas para promover a “liberdade” de locomoção. O mundo foi se
adaptando para dar as pessoas PNE oportunidades (BRASILESCOLA, 2002).
Conforme pesquisas realizadas em diversas empresas do ramo como o Portal da
Empresa, Instituto do Emprego e Formação Profissional, ONGs e Associações e
principalmente no MTE, que disponibiliza uma cartilha para sanar as dúvidas com
relação à contratação de profissionais PNE.
A ASSIDEF (1998), em contrapartida do que muitas pessoas pensam em relação
a um profissional portador de necessidades especiais, defende que este pode ser alocado
em diversos setores de uma empresa.
Experiências comprovam que em alguns casos, o profissional PNE é capaz de
produzir mais do que um profissional sem deficiência. Isso ocorre pela necessidade que
eles têm de superação, tornando-os assíduos, pontuais e fazendo-os vestir a camisa.
Anualmente ocorre em São Paulo uma feira de tecnologia voltada ao público
portador de necessidades especiais. Nessa feira, chamada REATECH, vários expositores
demonstram as novidades no mercado em relação a produtos e serviços que atendem
12

especificamente esse público alvo. É possível encontrar serviços como o de empresas


que armazenam em seu banco de dados os currículos das pessoas interessadas em entrar
no mercado de trabalho.

Mapeamento do Ambiente de Trabalho

Pessoas com mobilidades reduzidas geralmente se locomovem com ajuda de


alguns equipamentos, como bengalas, muletas, andadores, cadeiras de rodas, ajuda de
cães treinados, no caso de pessoas com deficiência visual. Para incluir essas pessoas no
ambiente de trabalho, é necessário levar em consideração o espaço de circulação,
juntamente com os equipamentos que os acompanham, conforme orientações elaboradas
pela CPA, órgão ligado à Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e Mobilidade
Reduzida da Prefeitura de São Paulo e normas da ABNT NBR (2004) referentes à
acessibilidade.
Para que um ambiente seja adaptado corretamente, não basta apenas colocar à
disposição os equipamentos necessários ou no caso dos cadeirantes, de deixar apenas o
espaço necessário de passagem. Existem padrões e normas a serem seguidas,
estabelecidas por órgãos competentes e que devem ser consultados pela empresa para a
adaptação do ambiente.

Mercado

Aproximadamente 24% da população brasileira possui algum tipo de


deficiência. Segundo uma pesquisa da AACD, dessa população, 81,9% dos lesados
medulares (paraplégicos e tetraplégicos) foram vítimas de algum tipo de acidente
(trauma) enquanto que os demais correspondem a lesões não traumáticas, provocadas
por algum tipo de doença.
Dentre o universo pesquisado, 62,7% vivem na cidade de São Paulo e Região
Metropolitana, 31,6% no interior paulista e os demais em outros estados. Com a Lei de
Cotas cada vez mais fiscalizada e implementada nas empresas gradualmente, o aumento
da demanda de mão de obra qualificada para atender esse mercado é cada vez mais
13

evidente, assim como a necessidade das empresas de se adaptarem para receber


adequadamente essas pessoas.

Histórico e dimensionamento do mercado

Somente na década de 80 houve uma grande movimentação para a inclusão


social. Os anos 80 foram conhecidos mundialmente com a Década Internacional das
Pessoas Deficientes e durante os quais muitos direitos foram conquistados, como o
direito de ingresso ao mercado de trabalho conforme as definições da Convenção 159 da
OIT em 19838 (CHIACCHIO et al., 2007).
O Brasil foi um dos países que ratificaram a Convenção 159 e se
comprometeram a promover ações para admissão e manutenção dos empregos para
pessoas com necessidades especiais.
Em comparação com outros tipos de mercado, este é um segmento do qual não
se têm muitos dados e as estatísticas são recentes. Apenas em 2000 o Ministério de
Trabalho e Emprego passou a fiscalizar a Lei 8.231/91 e efetivar sua aplicação (Virada
Paulista, 2009).
No mês de janeiro de 2010 houve um aumento considerável nas contratações.
Das 153 vagas disponibilizadas no ICEP (Instituto de Capacitação Ensino
Profissionalizante), 83 pessoas foram contratadas. As empresas que se enquadraram
receberam redução da carga tributária incidente sobre os encargos trabalhistas referentes
aos portadores de deficiência física.
Em estudos realizados no Estado de São Paulo em 2010, foi constatado que mais
de 40% das empresas não cumprem a lei de cota para deficientes. 6.682 empresas foram
fiscalizadas em todo o estado de São Paulo nos últimos cinco anos. O número total de
empresas que deveriam cumprir a cota determinada em lei no Estado é de 11.951.
Nessas empresas a previsão de vagas que deveriam ser destinadas a deficientes é de
221.068 e somente 107.324 estão empregados (DEFICIENTEONLINE, 2004 apud
Folha Online, 2010).
Em agosto de 2012, percebe-se ainda que muitas empresas, sem conseguir
cumprir a Lei, estão encontrando alternativas para poupar-se da multa. Em Minas

8 Convenção 159 da OIT em 1983: contém artigos referentes à necessidade de assegurar a igualdade de
oportunidade e tratamento a todas as categorias de pessoas deficientes no que se refere a emprego e
integração na comunidade. Em: www.vereadoramaragabrilli.com.br/files/leis/convencao_oit.pdf
14

Gerais, uma empresa de manutenção de equipamentos, após negociar com o MPT,


encontrou uma maneira inusitada para cumprir a lei. A companhia atua com manutenção
e montagens de máquinas de mineradoras, e por conta dos perigos da sua atividade, não
tinha como contratar os 25 deficientes estipulados pela norma. A solução encontrada foi
deixar de terceirizar a produção de uniformes e criar uma confecção própria, que desde
janeiro emprega 16 deficientes. (Valor Econômico, 2012).
Podemos observar que existem muitas oportunidades no mercado de
Recrutamento & Seleção para pessoas com deficiência e poucas empresas
especializadas em trabalhar as vagas existentes. O grande desafio que enfrentamos
atualmente é mudar a percepção dos empresários para que a contratação de pessoas
deficientes não seja por obrigação da lei, consolo moral ou filantropia.

Conclusão

O desenvolvimento deste artigo envolveu um trabalho de pesquisa e


conhecimento acerca das condições dos portadores de necessidades especiais e das
condições atuais do mercado de trabalho, já que o tema de Inclusão Social nunca esteve
tão em voga como nos dias de hoje. A motivação para este texto está vinculada à
percepção da necessidade de adaptação das empresas à Lei de Cotas, tendo assim,
conformidade com as leis e a sociedade, sua integridade, e também oportunidades de
crescimento, ganho de imagem, o desenvolvimento da responsabilidade social, além de
dar aos PNE condições de competitividade e acesso ao mercado de trabalho, não
apresentando idéias assistencialistas.
Foi possível observar, depois de realizar pesquisas em diferentes fontes, que o
processo de inclusão social dos PNE se inicia na maioria das vezes com a obrigação do
cumprimento da lei, devido ao pagamento de multas por parte das empresas. Assim
como muitas medidas adotadas em nosso país, os resultados só aparecem quando há o
envolvimento da parte financeira. Nesse processo, foram detectadas diversas
dificuldades enfrentadas pelos PNE, como a má qualificação devido à falta de cursos e
recursos; falta de acessibilidade das empresas (são necessários investimentos em
infraestrutura para proporcionar ganho de mobilidade e autonomia), além da falta de
preparo dos funcionários já empregados, os quais precisam receber treinamento para
que a inserção dos PNE não seja traumática para nenhuma das partes. A competitividade
15

existente no mundo corporativo atual e as dificuldades citadas acima fazem com que a
maioria das vagas disponíveis seja para os cargos mais baixos e com menores salários.
Outro fator importante a ser ressaltado é que as empresas precisam observar se as
pessoas contratadas estão exercendo atividades compatíveis com sua qualificação e que
a deficiência não as impeça de realizar suas funções.
Como foi constatado, hoje já existem no mercado soluções de adaptação na
infraestrutura e tecnologia suficiente para que a empresa possa modernizar suas
instalações, tendo assim maior custo benefício. Foram identificados como oportunidade
no mercado para empresas que desejam atuar na área de consultoria nesse segmento,
alguns fatores como: a falta de preparo das empresas no recebimento e adequação às
novas situações, e também a falta de preparo dos candidatos, a falta de qualificação e a
inexistência de cursos de aperfeiçoamento, a escassez de vagas para PNE e os custos
que as empresas têm para realizar tais adaptações.
O desafio está em adequar a Responsabilidade Social aos princípios que regem a
organização, sem deixar de cumprir a Lei e realizando a Inclusão Social daqueles que
também estão à procura de oportunidades. Também, para superar as dificuldades e
desenvolver o sentido de inclusão é necessário o envolvimento da sociedade, pois
existem barreiras a serem quebradas, tanto nas empresas como entre os próprios
portadores de necessidades especiais e seus familiares. É necessário que haja uma
sociedade justa e uma educação de qualidade na qual as pessoas, independente de suas
limitações ou diferenças, possam ter as mesmas oportunidades de estudo, educação e
trabalho.

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O Tráfico Internacional de Animais Silvestres Brasileiros: uma análise
dos prejuízos ambientais e sociais desta atividade

Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira, Priscila Mara Ribeiro, Renata Rodrigues


Teixeira, Renata Giovanoni Di Mauro1

Resumo. O presente artigo trata do tráfico internacional de animais silvestres e suas respectivas
rotas e prejuízos. Analisa a legislação vigente ao direito da fauna e o proceder dos órgãos
responsáveis pela fiscalização, controle das fronteiras e proteção da fauna brasileira. Por meio
deste estudo pretende-se revelar esta atividade, uma vez que existem pouco estudos publicados
pertinentes ao assunto, afim de criar uma consciência social das questões éticas, morais,
sustentáveis e ambientais envolvidas.
Palavras-chaves: tráfico internacional de animais, rotas e prejuízos ambientais.

Abstract. This article deals with international traffic of wild animals and their respective routes
and losses. It analyzes the current legislation related to fauna rights and the procedures of the
organizations responsible for surveillance, control of the border and protection of the Brazilian
fauna. This article aims at showing such an activity, whereas there are just a few published
studies related to this subject, to create social awareness of ethical, moral, sustainable and
environmental issues involved.
Keys-words: international traffic, routes and environmental damage.

1 Introdução

Este artigo tem como objetivo evidenciar o tráfico internacional de animais silvestres
brasileiros bem como seus respectivos prejuízos ambientais a fim de fornecer essas
informações para conhecimento e conscientização da sociedade. Esta pesquisa foi
elaborada com base em levantamento bibliográfico, pesquisa exploratória de abordagem
qualitativa, com o uso de questionário com perguntas fechadas ao órgão competente
pela proteção da fauna brasileira e entrevistas com perguntas abertas, roteiro baseado no
questionário anterior, com IBAMA.

O tráfico internacional de animais silvestres é a terceira maior atividade ilícita no


mundo, ficando atrás apenas do tráfico de drogas e armas, respectivamente. No Brasil, ele é
responsável por abastecer de 10 % à 15% deste mercado (PAE, 2012), em que 60% dos animais

1 Lucivânia Pereira Teixeira de Oliveira- Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC


lucivania.pto@gmail.com; Priscila Mara Ribeiro - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC
pricilaribeiromaia@gmail.com; Renata Rodrigues Teixeira - Discente de Tecnologia em Comércio Exterior/ FATEC
renata.rodrteixei@gmail.com; Renata Giovanoni Di Mauro - Prof. Dra. / Orientadora- FATEC
giovanoniadv@ig.com.br.

1
comercializados são destinado ao mercado doméstico e 40% ao mercado internacional
( DUARTE, 2010) , tendo como principais destinos a Europa, Ásia e a América do Norte. Em
sua maioria, é utilizado o transporte terrestre, mas também podendo acontecer por meio de
transporte aéreo para cruzar as fronteiras brasileiras. Sendo que, de cada dez animais traficados
apenas um sobrevive.
Existem leis que dispõem sobre a proteção à fauna e prevê as punições para esta
atividade. No entanto, as penas aplicadas não são rigorosas, atingindo, no máximo, dois anos de
prisão ao traficante.
Esta atividade resulta em prejuízos ambientais que abrangem desde a crueldade aos
animais (na captura e manejo), biodiversidade, perda com patentes (biopirataria), bem como os
prejuízos financeiros.

2 O Brasil e o Tráfico de animais

Mundialmente o Brasil assume uma posição de destaque quando o assunto é o


tráfico internacional de animais silvestres, que consiste na retirada destes animais, de
seu habitat natural para serem comercializados para diferentes fins. Esta atividade
representa a terceira maior atividade ilícita no mundo, perde somente para o tráfico de
drogas e de armas respectivamente. Isso ocorre, pois, o Brasil é o país com a maior
biodiversidade biológica do mundo (LAVACA, 2000). Todavia, devido a este fato, o
país também é um dos primeiros em relação ao número de espécies em extinção. De
acordo com dados da ONG Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais
(RENCTAS), pelo menos 38 milhões de animais são retirados de seu habitat natural
anualmente (RENCTAS, 2001). Esta situação causa um desfalque à fauna brasileira e
consequentemente, prejuízos ao país, que por muitas vezes são irreversíveis.
O tráfico internacional de animais silvestres brasileiros é uma atividade ilícita
que vem crescendo em grande proporção e sem nenhum tipo de controle, não é possível
obter um valor exato dos lucros provindos desta prática, porém com base em
informações da ONU, estima-se que são movimentados cerca de 15 bilhões de dólares
por ano, com participação do Brasil de 5 a 15% deste valor aproximadamente, mesmo
que 60% do tráfico seja voltados para abastecimento do mercado interno do próprio
país. Devido à grande biodiversidade de animais que o país oferece e lucros tão altos
com esta atividade ilegal, traficantes de outras áreas têm migrado para o tráfico de
animais por ser a terceira atividade ilegal mais lucrativa de todo o mundo. Segundo
informações da ONG Renctas, existem no Brasil aproximadamente 500 quadrilhas

2
voltadas para o tráfico de animais silvestres e as chamadas “mulas” que fazem o
transporte de drogas, agora estão migrando para esta área, pois o lucro obtido é o
mesmo e os riscos apresentados são menores ( FOLHA DE SÃO PAULO, 2005).
Além do lucro obtido pelo tráfico, outro fator que contribui com o crescimento
desta atividade, é a facilidade com que estas operações ilegais ocorrem, muitas vezes
por falha na fiscalização, falta de punição rigorosa ou até mesmo por traficantes que
estão infiltrados nos próprios órgãos públicos com a intenção de aliciar as autoridades
responsáveis. Os traficantes utilizam de subornos, fraudes, falsificam documentos e a
prática de sonegação fiscal, todos estes fatores contribuem com a dificuldade que as
autoridades tem em administrar e punir tais redes criminosas (IBAMA, 2012)
Outros fatores que contribuem com o tráfico, são os avanços nos meios de
transporte que permitem com que áreas antes inacessíveis, agora sejam alcançadas
rapidamente e também a facilidade de comunicação promovida pela tecnologia, através
de celulares e via internet, os traficantes podem realizar cotação, compras, vendas e
obter informações referentes as rotas mais seguras, bem como saber quais são os
animais mais procurados (RENCTAS, 2001).
De acordo com Calheiros (2011) um plano estratégico poderia reforçar o
trabalho do reduzido quadro de fiscais e policiais que são especializados nesta área de
combate ao tráfico que se intensifica cada vez mais e esta afirmação é ratificada pelo
próprio presidente da ONG SOS Fauna, Marcelo Pavlenco Rocha ( ECO
REPORTAGENS, 2011), quando diz que “falta inteligência policial na repressão ao
tráfico de animais”, pois ele alega que a fiscalização e a polícia, poderiam levar em
conta as épocas e locais onde a captura dos animais ocorre com maior intensidade e
frequência, para que desta maneira realizem plantões nestas aéreas evitando assim, a
chegada dos traficantes até as conhecidas “feiras do rolo” onde os animais são
comercializados. Segundo o 1º Relatório da RENCTAS (2001), a existência das feiras
livres ou “feira do rolo”, é outro fator que encoraja os traficantes a continuarem a
praticar o comércio ilegal, pois elas permanecem mesmo que as autoridades tenham
conhecimento de sua existência, desta maneira, sem intervenção, os traficantes gozam
de impunidade.

3 Legislação Aplicável

A primeira lei que dispõe sobre a proteção de animais silvestres no Brasil é a

3
LEI Nº 5.197/67 que em seu Art. 1º estabelece que os animais que vivem na natureza ,
quaisquer que seja a sua espécie , pertence ao Estado, e proibe a caça, distribuição e
apanha destas espécies, devido aos maus tratos e prejuízos ambientais causados
(ROCHA, 1995). Posteriormente alguns artigos desta Lei sofreram alteração pela LEI
Nº 7.653, DE 12 DE FEVEREIRO DE 1988.

A LEI 9.605/98 prevê sanções penais e administrativas derivadas de condutas e


atividades lesivas ao meio ambiente nos artigos 25 ao 69 e os crimes deixaram de ser
inafiançáveis, onde as penas podem até serem substituídas por prestações de serviço a
comunidade (GARCIA, 2008).

4 Finalidade do Tráfico de Animais Silvestres

Há quatro finalidades que alimentam o tráfico de animais silvestres:


colecionadores e zoológicos, fins cientificos (biopirataria), pet shops e animais
comercializados para produtos e subprodutos (DESTRO, 2012).

Os colecionadores dão preferência para animais que estão ameaçados à extinção,


já que são mais valiosos, como as araras azuis, mico-leão-dourado, flamingo,
jaguatirica. Eles são destinados aos países da America do Norte, Europa e Ásia
(RENCTAS, 2001).

As espécies que produzem substâncias químicas, que podem ser utilizadas para o
desenvolvimento de remédios, fazem parte desta atividade ilícita, pois há grande
interesse por parte de pesquisadores em buscar novos animais para remover substâncias
valiozas, que podem valer até US$ 5 mil, como é o caso da surucucu-pico-de-jaca viva,
sendo que o valor de uma grama da substância deste animal extraída, vale por volta de
US$ 3,200 mil ( MAGALHÃES, 2002; RENCTAS, 2001).

Os animais destinados aos pets shops são os mais procurados no território


nacional, mas também são enviados para os pets shops no exterior, como os sagui-da-
cara-branca, meiro, araçari, arara-vermelha, tartaruga, jibóia. O preço destes animais
pode variar entre US$ 500 à US$ 5 mil no mercado internacional (RENCTAS, 2001).

Os produtos retirados dos animais: como peles, dentes, couros, penas, entre
outros, são utilizados na produção de sapatos, bolsas, joias, artesanatos para turistas

4
(RENCTAS, 2001).

5 Prejuízos Ambientais

A prática ilegal de comercializar animais silvestres existe desde a época da


colonização do Brasil. No entanto, os animais que eram pegos na natureza pertenciam
a quem os pegou. No ano de 1934 com a publicação do DECRETO Nº 24.645 ,
entraram em vigor algumas medidas de proteção aos animais, onde não era mais
permitida a negociação e transporte dos mesmos (ROCHA, 1995).

Dentre os prejuízos ambientais, encontra-se o ecológico, no qual esta atividade


faz com que diversas espécies sejam tiradas da natureza todos os anos, o que pode
ocasionar a extinção, e quando acontece o fato, há uma perda relevante de toda a sua
história e a sua genética, e também, pode ocasionar o desequilíbrio do ecossistema , pois
a fauna e a flora são dependents. Podemos exemplificar, utilizando o caso dos pássaros
que muitos dispersam sementes , que por sua vez são importantes para a germinação de
muitas espécies de plantas; e também, os animais que são interdependentes para manter
o equilíbrio da fauna e não ocorrer a superpopulação de uma única espécie.
(FIORILLO, 2010; Renctas, 2001).

Outro prejuízo que é causado por esta atividade é o econômico, pois ele
movimenta uma quantia ilícita em dinheiro muito alta, o que não gera tributos para os
governos arrecadarem, ocasinando prejuízos para os cofres públicos. A fauna também é
importante para o turismo ecológico do país, devido a sua biodiversidade que é
responsável por atrair turistas do mundo inteiro, o que gera receita para o Estado
(RENCTAS, 2001).

Há também o prejuízo patrimonial no qual subprodutos desses animais são


comercializados, principalmete no exterior, para laboratórios (NASCIMENTO, 2010).

Uma vez que um produto é utilizado numa pesquisa e sofre uma pequena
alteração genética, é considerado uma inovação. Assim, faz com que a biodiversidade
brasileira aumente a cobiça, principalmente, de pesquisadores de países desenvolvidos,
alimentando o tráfico de animais, por meio da biopirataria onde retiram do país
substâncias ricas e as patenteiam. (NASCIMENTO, 2010).
5
Outro prejuízo que a atividade pode causar são as doenças. Em muitos casos, as
pessoas que compram ilegalmente estes animais, não sabem sobre a sua saúde ou até
mesmo sobre as doenças que a espécie pode transmitir. Isto pode ocasionar problemas
sanitários graves ao país. Como por exemplo, os primatas que podem transmitir raiva,
febre amarela, hepatite A, toxoplasmose; os quelônios: salmonelose e doença
enterobacteriana e os psitácideos : toxoplasmose e psitacose. São conhecidas mais de
180 doenças que são transmitidas dos animais aos seres humanos , muitas delas podem
causar o óbito se não forem tradadas da maneira devida (RENCTAS, 2001).

6 A Rota do Tráfico Internacional de Animais Silvestres

Traçar com exatidão a rota do tráfico internacional de animais silvestres


brasileiros, assim como os números gerados nesta atividade é uma tarefa praticamente
impossível por conta da ilegalidade e a escassez de documentos e registros sobre o
assunto. Sendo que, quase que a totalidade dos trabalhos publicados referentes ao
assunto tratam das situações nacionais, pois esta representa maior parte desta atividade.
Estima-se que 60% dos animais silvestres brasileiros traficados sejam comercializados
no mercado doméstico e 40% tenha como destino o comércio internacional (PEA,
2013).

O Brasil não é o único país responsável por abastecer este mercado, esta é uma
realidade comum à países subdesenvolvidos. Segundo RENCTAS ( 2001 apud Henley e
Fuller, 1994) são responsáveis por abastecer este mercado países como: Peru,
Argentina, Guiana, Venezuela, Paraguai, Bolívia, Colômbia, África do Sul, Zaire,
Tanzânia, Kenya, Senegal, Camarões, Madagascar, Índia, Vietnã, Malásia, Indonésia,
China e Rússia os quais são responsáveis por abastecer países desenvolvidos, tais
como: EUA, Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Inglaterra, Suíça, Grécia, Bulgária,
Arábia Saudita e Japão (RENCTAS, 2001).

No que corresponde ao cenário nacional, o início da rota do tráfico de animais


silvestres brasileiros acontece em sua maioria nas regiões norte, nordeste e centro-oeste,
com a captura dos animais em seus habitats naturais e que ali serão comercializados ou
então, em sua maioria transportados para a comercialização na região sudeste (São
Paulo e Rio de Janeiro) que é considerado o grande mercado consumidor do país pois, é

6
nesta região que os animais serão vendidos em feiras livres ou exportados para os países
consumidores, podendo esses países serem ou não signatários da Convenção sobre o
Comércio Internacional da Espécies da Flora e Fauna Selvagens em Perigo de Extinção
– CITES.

Os métodos de transporte clandestino destes animais visam despistar os agentes


de fiscalização aduaneira, negligenciando assim as condições as quais os animais são
movimentados e transportados durante o trajeto e que sempre serão situações precárias e
cruéis sem qualquer cuidado com a segurança, bem como a questões sanitárias
envolvidas, resultando na morte de mais de 80% destes animais (DIALOGO, 2010).
Perdas absurdas pois, mais da metade dos animais traficado morem antes de chegar ao
destino, e ainda, durante o percurso os animais são expostos a altíssimo grau de estresse.
Para driblarem a angústia e agitação dos animais são praticados todo tipo de tortura e
crueldade, como mutilação, cegueira e administração de calmantes e bebidas alcoólicas
(PEA, 2010).

Embora os números de morte dos animais sejam absurdamente alto tal prática é
compensada pelo lucro obtido e falta de aplicabilidade da lei e penalizações resultantes
da mesma, desta forma, evidencia-se o desrespeito claro a vida e dignidade dos animais
assegurados pela Declaração Universal do Direitos dos Animais de 1978 (da qual o
Brasil é país signatário) e que dispõe sobre os princípios a serem estabelecidos em
relação ao direitos dos animais, a vida e o proceder dos homens e, visa criar parâmetros
jurídicos para os países membros da Organização das Nações Unidas. O escoamento
dos animais acontece quase que em totalidade através do modal rodoviário (carros e
caminhões), correspondendo a cerca de 90% , 5% aéreo e 5% embarcações
( RENCTAS, 2001) .

Esta prática está estruturada em uma cadeia social que corresponde a três etapas:
fornecimento primário, intermediário e consumidores. O fornecimento primário consiste
na captura do animal na natureza nas regiões de maior incidência por parte de
populações carente e de baixa renda, como por exemplo, populações ribeirinhas e índios
(que são impulsionados pela falta de opções econômicas, desconhecimento da
esgotabilidade destes recursos faunísticos bem como o desejo de lucro rápido). Já o
fornecimento intermediário consiste na venda dos animais por parte de traficante
intermediário para a população local que tenha interesse em adquirir um destes animais,
além do transporte e movimentação em território nacional para a venda dos animais

7
nos grandes centros comerciais da região Sudeste, bem como negociação e
fornecimento para os grandes traficantes que serão responsáveis por abastecer o
mercado internacional (RENCTAS, 2001). Por fim, os consumidores, que poderão ser
classificados como domésticos ou internacionais, estes por sua vez localizados nos mais
diferentes países.

7 A sociedade e o Tráfico de Animais

Antigamente a sociedade se esforçava para ter um relacionamento harmônico


com o meio ambiente, porém devido ao crescimento da sociedade, do avanço
tecnológico e desenvolvimento industrial, esta relação harmônica aos poucos começou a
desaparecer e perder espaço para a poluição, desmatamento, morte dos rios e animais
(DIBLASI FILHO, 2007). Estes grandes avanços alcançados pela sociedade poderiam
ser utilizados a favor do meio ambiente e na realidade hoje em dia estes meios são
utilizados, pois levam informações com o intuito de conscientizar a população sobre a
importância da proteção ao meio ambiente, porém ocorre que a própria sociedade em
sua maioria, não dá a devida atenção a um assunto que por muitas vezes ouvimos falar,
a sustentabilidade; e utilizam destes meios como facilitadores para as operações do
tráfico.
O tráfico de animais silvestres pode ser considerado como uma questão social,
pois está diretamente ligado a questões de pobreza e miséria, desinformação e
ignorância da população de onde estes animais são retirados, e também, o desejo de
satisfação pessoal dos consumidores ao se adquirir um animal silvestre como animal de
estimação, pois estas características alimentam este mercado (RENCTAS, 2001).
Apesar das dificuldades em levar informações com intuito de conscientizar tanto
a população de regiões fornecedoras como consumidoras, ainda existem muitas
informações vinculadas à internet e demais meios de comunicação, bem como o esforço
de alguns grupos que lutam pela proteção ao meio ambiente e em alguns casos mais
específicos, pela proteção dos animais, a sociedade ainda persiste em querer ter um
domínio sobre a natureza, agindo com cobiça, ganância ou até por necessidade, e desta
forma tornam-se “predadores” de animais através da caça com a intenção de lucrar à
custa da natureza, como se ela a eles pertencesse (DIBLASI FILHO, 2007).

8
8 Conclusão

Diante do exposto é possível notar que os animais silvestres capturados são


provindos das Regiões Norte e Nordeste do país devido à grande diversidade de
espécies existentes. Estas características são responsáveis por atrair o interesse de
pessoas residentes em vários países para diversos fins, eles são transportados para a
Região Sudeste, onde há a maior concentração de feiras clandestinas para a venda local
e internacional (RENCTAS, 2001).

Conclui-se que as rotas utilizadas possuem ou não fiscalização rigorosa, ou em


alguns casos há o aliciamento de agentes responsáveis por este controle, facilitando e
impulsionando a prática desta atividade que acarreta uma série de prejuízos ambientais
(IBAMA, 2012). Desta forma, uma fiscalização mais rigorosa nas rotas e até mesmo
fiscalização rigorosa dos agentes responsáveis, teria como consequência a inibição do
tráfico.

Outra forma de inibir o tráfico é a aplicação de políticas públicas e o


investimento para mudar o pensamento e a cultura da sociedade, pois se não houvesse a
caça de animais e o desejo de se apropriar destes para criação própria ou para outros
fins, não haveria o tráfico de animais e o risco de extinção de muitas espécies
(DIBLASI FILHO, 2007). Nota-se que enquanto os cidadãos comuns, não se
conscientizarem e voltarem à atenção na busca de um mundo sustentável, o tráfico de
animais persistirá. Não basta somente a intervenção das autoridades e fiscalização, é
necessário um esforço coletivo para acabar com a prática destas atividades ilegais e este
estudo se encontra entre um dos poucos existentes e pertinentes ao assunto a fim de
criar uma consciência social das questões éticas, morais e ambientais envolvidas.

REFERÊNCIAS

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dá outras providências”. Presidência da Republica Casa Civil
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9
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33 e 34 da Lei nº 5.197, de 3 de janeiro de 1967, que dispõe sobre a proteção à fauna, e
dá outras providências”. Presidência da Republica Casa Civil
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7653.htm (consultado em 07/07/2013).

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GARCIA, Wander (2008) . Direito Ambiental. São Paulo: Premier Máxima.

10
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Relatório Nacional sobre o Tráfico de Fauna Silvestre”. http://www.renctas.org.br
(consultado em 15/03/2013).

11
Responsabilidade Social Corporativa e Responsabilidade Socioambiental:
um estudo de caso da COEPAD.

Adriana Regina Espíndola1 Rosane Cristina Jacques2 Susany Perardt3

RESUMO
Neste trabalho relata-se o processo de criação e funcionamento da Cooperativa Social de Pais, Amigos
e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na cidade de Florianópolis em Santa Catarina.
Trata-se de uma organização originada pela iniciativa de um grupo de pais, ao se deparar com a
necessidade de dar continuidade à educação e formação de seus filhos com deficiência intelectual. Ao
processo de criação e funcionamento da entidade, atribuem-se características inerentes às práticas de
responsabilidade social corporativa, responsabilidade socioambiental e inclusão social. À luz da
literatura, a fundamentação teórica destes conceitos foi elucidada. A análise desses conceitos versus a
caracterização do processo de criação e funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca,
especialmente, da responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental,
por meio do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de
pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho. As ações práticas desenvolvidas pela
COEPAD demonstram o quão importante é a iniciativa e a atitude de cidadãos frente aos desafios que
se apresentam, sem aguardar ou reclamar por ações do governo, contribuindo para o desenvolvimento
sustentável da sociedade brasileira. Os dados de referência para a realização deste estudo foram
coletados por meio da entrevista semi-estruturada e da pesquisa documental. O método utilizado foi o
estudo de caso, de caráter qualitativo e orientação descritiva. Como resultado deste trabalho verificou-
se que as atividades desenvolvidas pela Cooperativa contribuem de forma direta para a consolidação
da responsabilidade socioambiental, através do seu papel estratégico e construtivo para a sociedade
brasileira.
Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa. Responsabilidade Socioambiental. Inclusão
Social.

ABSTRACT
In this work reports the process of the creation and operation of Cooperativa Social de Pais, Amigos e
Portadores de Deficiências (COEPAD) established in Florianópolis/ SC. It treats about an
organization, originated by a group of parents, It started when they realized about the need of giving a
1
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU)/ Universidade Federal de
Santa Catarina (UFSC). Especialista em Gestão de Pessoas nas Organizações/UFSC. Graduada em Engenharia
Sanitária Ambiental/UFSC. E-mail: centroanandi@gmail.com.
2
Mestranda em Mestrado Profissional Administração Universitária – PPGAU/Universidade Federal de Santa
Catarina - UFSC, Especialista em Gestão de Projetos Financeiros – MBA – CESUSC. Publicação no XXII
ENBRA/ VIII Congresso Mundial de Administração. E-mail: rosanejacques@gmail.com
3
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Administração Universitária (PPGAU) da Universidade Federal
de Santa Catarina (UFSC). Especialista em Controle da Gestão Pública Municipal (UFSC). Graduada em
Administração pela Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina. Publicação no XXII ENBRA/ VIII Congresso
Mundial de Administração. E-mail: susany.perardt@ufsc.br

1
continue education and formation of their children with intellectual disabilities. The process of
establishing and operating the entity, attribute to the inherent characteristics of the practices of
corporate social responsibility, environmental responsibility and social inclusion. In light of the
literature, the theoretical foundation of these concepts has been elucidated. The analysis of these
concepts versus the characterization of the process of creation and functioning of the Cooperative
refers to conclusions about, especially the social responsibility as daily practice in environmental
sustainability actions, through the work of recycling paper for making their products, and inclusion of
people with intellectual disabilities in the labor market. Practical actions undertaken by COEPAD
demonstrate how important is the attitude of citizens initiative and the challenges that present
themselves, without waiting or claim by government actions, contributing to the sustainable
development of Brazilian society. The reference data for this study were collected through semi-
structured interviews and documentary research. The method used was the case study, qualitative and
descriptive orientation. As a result of this work it was found that the activities of the Cooperative
directly contribute to the consolidation of environmental responsibility through its strategic role and
constructive for Brazilian society.
Keywords: Corporate Social Responsibility. Environmental Responsibility. Social Inclusion.

1 INTRODUÇÃO

A vida em sociedade tem exigido mudanças de valores que interfiram positivamente


no pensamento e nas relações humanas na direção de um comportamento mais equilibrado e
igualitário diante das discrepâncias que envolvem o ser humano e norteiam organizações. A
valorização do indivíduo e a sua identificação como parceiro das organizações fundamentam
temas como a responsabilidade social, que têm sido alvo de discussões e debates que apontam
na direção de inovar nas formas de se organizar.
Nessa temática encontra-se o movimento de grupos organizados dentre outros
formatos, em associações, em cooperativas, que demonstram claramente a prática de projetos
que vem apresentando resultados efetivos nessas áreas nos últimos anos. É o caso da
Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD), com sede na
cidade de Florianópolis em Santa Catarina.

A COEPAD ao ser criada para propiciar um caminho, e quiçá solução, para as


dificuldades enfrentadas na vida cotidiana de famílias com deficientes intelectuais, se coloca
num patamar de inovação, oferecendo uma nova visão nas formas de organização e utilização
da técnica, a que se refere Santos (2006), e sobretudo aventando a possibilidade de pessoas
desenvolverem suas potencialidades ou capacidades substantivas (SEN,1999), qualquer seja
sua condição intelectual.

Sua atuação na área de reciclagem de papel contribui diretamente para a tônica da


sustentabilidade de recursos naturais, que, ao longo das últimas décadas tem sido alvo de
discussões em nível mundial.
2
Dessa forma, o objetivo do presente estudo consiste na análise da atuação da
COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no
âmbito do cooperativismo.

A análise desses conceitos versus a caracterização do processo de criação e


funcionamento da Cooperativa remete a conclusões a cerca, especialmente, da
responsabilidade social como prática diária nas ações de sustentabilidade ambiental, por meio
do trabalho da reciclagem de papel para a confecção de seus produtos, e na inclusão de
pessoas com deficiência intelectual no mercado de trabalho.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

2.1 A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

A prática da responsabilidade social corporativa está ainda em desenvolvimento no


Brasil e com grande quantidade de significados em conceitos como de responsabilidade
social, sustentabilidade, voluntariado, ética nos negócios e questões ambientais (MORETTI;
CAMPANÁRIO, 2009). Aliado ao fato de existir diferentes termos que remetem a ideia de
responsabilidade social, ela ainda não possui uma definição unanimemente aceita, porém, de
acordo com Spers e Siqueira (2010, p. 17), baseados no Business Social Responsability
Resource Center, de forma ampla, “[...] a expressão se refere a decisões de negócios tomadas
com base em valores éticos que incorporam as dimensões legais, o respeito pelas pessoas,
comunidades e meio ambiente”.
A responsabilidade social corporativa é a obrigação que uma organização assume
perante a sociedade na qual está inserida, maximizando os seus efeitos positivos e
minimizando os seus efeitos negativos. (BATEMAN; SNELL, 2010).
Para Estender e Siqueira (2007, p.17) as organizações que incorporam os princípios
da responsabilidade social e pratica-os “de forma ética e responsável, perceberão resultados
positivos, como a valorização da sua imagem institucional e de sua marca, fidelização do
cliente, maior capacidade de recrutar e manter talentos e sustentabilidade e longevidade”.
Os principais vetores da responsabilidade social na visão de Ponchirolli (2010) são: o
apoio ao desenvolvimento sustentável da comunidade e região local; a preservação do meio
ambiente; o investimento no bem-estar dos funcionários; as comunicações transparentes; o
3
retorno aos acionistas; a sinergia com os parceiros e a satisfação dos clientes e/ou
consumidores.
A responsabilidade social tem sido disseminada nos últimos anos também devido a
sua ligação com a questão ambiental. Segundo Maximiano (2009, p. 305), “desde os últimos
25 anos do século XX, tem havido um crescente interesse no meio ambiente. Em todo o
mundo existe a consciência de que o ambiente é uma questão sistêmica, que envolve todas as
nações e o comportamento de cada pessoa”. Nesse contexto, organizações das mais diversas
naturezas devem considerar em seu âmbito administrativo a questão ambiental, o que nos
remete à responsabilidade socioambiental.

2.2 RESPONSABILIDADE SOCIOAMBIENTAL

Sobre a problemática ambiental, econômica e social, Dowbor (1999) alerta para a


dimensão da capacidade destruidora do sistema capitalista, que atua como péssimo
distribuidor e precário empregador. De acordo com o autor, poderosas tecnologias de
exploração dos recursos naturais têm levado a um impasse planetário.
No contexto da sustentabilidade dos recursos naturais, os resíduos sólidos gerados
diariamente pelas mais diversas atuações do homem em sociedade, têm provocado grandes
estragos, desde a sua geração, devido ao estímulo a um consumo exacerbado de bens e
serviços, passando por seu precário manuseio e destino final em vazadouros a céu aberto ou
lixões. De acordo com a Pesquisa Nacional em Saneamento Básico realizada pelo IBGE em
2008, 50,8% dos municípios brasileiros ainda encaminham resíduos sólidos para lixões a céu
aberto. Trata-se de uma situação que configura um cenário de destinação reconhecidamente
inadequado (IBGE, 2013).
Há de se destacar, porém, que ações concretas vêm sendo implementadas nos últimos
anos. No Brasil, em 1989, foram registrados 58 programas de reciclagem, e em 2008, este
número subiu para 994 (IBGE, 2013). Em Florianópolis são coletados, enfardados e
comercializados uma média de 50 toneladas/mês de resíduos recicláveis (SMHSA, 2013). A
implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS, 2010) demonstra e
reconhece a importância da gestão de resíduos nesse contexto de degradação ambiental, ao
coresponsabilizar a sociedade civil pelo tratamento adequado desde a sua geração, manuseio
até destinação final.

4
Nesse contexto de mudanças de comportamento, com o objetivo de se implementar
uma nova visão de mundo para um desenvolvimento sustentável, o meio ambiente e outros
temas que o cercam em sido alvo de discussão (GIESTA, 2012). Para a autora,

com essa preocupação, também no contexto organizacional, há trabalhos


implementando ações inovadoras, como: reestruturação de processos, práticas de
responsabilidade social, direcionamento de esforços na educação de funcionários e
consumidores, quando se dedicam a trabalhar com a perspectiva do Desenvolvimento
Sustentável. (GIESTA, 2012, p. 768).

A ação como processo, dotado de propósito, no qual um agente mudando alguma


coisa, muda a si mesmo (MORGENSTERN, 1960, p. 34, apud SANTOS, 2006), fica
evidenciada no processo de criação e implementação de ações de organizações voltadas para
questões socioambientais. Preocupando-se com o meio ambiente em seus processos
produtivos, aplicando conceitos e pressupostos de desenvolvimento sustentável, as
organizações podem inovar (GIESTA, 2012). A responsabilidade socioambiental vem se
consolidando, oportunizando mudanças para a sociedade contemporânea.
Há de considerar, contudo, as dificuldades inerentes às mudanças de hábitos e
comportamentos individuais e sociais. Para Joerges (2006 apud SANTOS, 2006), as
anomalias organizacionais, reverse salients, resultam da elaboração ou evolução desigual de
um conjunto de tal maneira que quando uma parcela progride outra se atrasa. E nesse sentido,
Santos (2006) refere-se ao termo rugosidade para assinalar a “inércia dinâmica”, o que nos
parece ser uma aceitação passiva de heranças de formas históricas de organização.
Novas alternativas, portando, para diferenciar o processo histórico da humanidade,
como sujeito e não como objeto (Santos, 1998), onde o todo possa evoluir e participar, de
acordo com suas potencialidades, devem ser evidenciadas. Para Santos (1998, p. 78) “é
fundamental, [...], ultrapassar a reconstrução solitária do individuo e transformá-la em ação
social solidária”.
É nesse sentido que a responsabilidade socioambiental dever ser considerada,
implementando-se ações que tragam sentido e significado a indivíduos e grupos. Sen (2000),
ao abordar o desenvolvimento como liberdade, aborda com clareza a cerca da liberdade
substantiva, o que significa assegurar ao indivíduo seu direito de desenvolver suas
capacidades. Para Santos (1998) numa “sociedade verdadeiramente humana [...] as
individualidades florescem plenamente” (SANTOS, 1998, p.78). Para este autor não há

5
liberdade solitária, ou seja, o estar em grupo é fundamental para o desenvolvimento de
qualidades e potencialidades.
Dessa forma, ao se construir um novo olhar para o desenvolvimento sustentável deve-
se considerar propriamente o desenvolvimento do ser humano. Neste sentido é mister o pensar
e a prática de formas de inclusão de indivíduos à margem da sociedade.

2.3 A INCLUSÃO SOCIAL POR MEIO DO COOPERATIVISMO

A inclusão social de acordo com Amaral Jr. e Burity (2006) é uma questão de abertura
e de gestão. A abertura entende-se como a sensibilidade para identificar e coletar
manifestações de insatisfação e dissenso sociais para distinguir a diversidade social e cultural.
Pela gestão percebe-se como crença no caráter quantificável, operacionalizável, de tais
demandas e indagações administráveis através de técnicas gerenciais e da alocação de
recursos em projetos e programas (políticas públicas).
A construção da inclusão social implica diversas formas, de um lado tornou-se parte
do que se propôs alcançar por meio de reformas políticas e econômicas ou com oposição a
tais reformas. De outro lado, os aspectos culturais e identitários tornam-se emblemáticos da
multi-dimensionalidade da dinâmica social, que deriva da importância e da crise dos padrões
tradicionais da ação estatal, ação coletiva anti-status quo, de classificação das relações
sociais, de regulação da economia e de análise sócio-política desses diversos processos
(AMARAL JR.; BURITY, 2006).
Segundo Amaral Jr. e Burity (2006) no caso do Brasil a preleção da inclusão social
quer ser uma expressão de mudança de paradigma – na direção do reconhecimento da
pluralidade das diferenças como elemento das circunstâncias de eliminação vigentes e das
soluções para elas – mas aspira a inscrever tal alteração na conjuntura da generosidade da
cultura brasileira com o outro indivíduo, fazendo acreditar que o problema é essencialmente
econômico e seu enfrentamento será apenas facilitado pelo recrutamento político da cultura.
No contexto da inclusão social cabe salientar as disposições sociais oriundas do
terceiro setor que vem crescendo no Brasil. Esses organismos em sua concepção organizam e
representam a sociedade e substituem o Estado em diversas funções, ao desempenhar
inúmeras atividades, oferecem amplitude à participação social e capacitam os indivíduos para
estarem inclusos como agentes ativos desse processo (DELLA GIUSTINA, 2008).

6
Na medida em que as organizações do terceiro setor não estiverem permeadas pela
lógica instrumental e baseadas em modelos gerenciais, parece possível trabalhar a partir de
outro olhar e com um novo modo de pensar, no qual estas organizações são concebidas e
orientadas na perspectiva social. Outro modelo de organização que também pode atuar nesse
sentido são as cooperativas, que nos remete a apologia da inclusão social em casos como o da
COEPAD.
Segundo Benato (1994, p. 21) “o cooperativismo é uma economia que se baseia na
cooperação e que opera como um sistema reformista da sociedade que quer obter o justo
preço através do trabalho a da ajuda mútua”. É definido pela Lei 5.764/1971, Política
Nacional do Cooperativismo. É uma sociedade de pessoas, com formato e natureza jurídica
própria, e de direito privado. Como tal, devem obedecer a procedimentos legais, normas e
legislação específica (BENATO, 1994).
Cabe ressaltar que entre os ramos que compõem o cooperativismo, destaca-se o ramo
especial fundamentado por meio da Lei 9.867/99. Tal ramo é constituído de cooperativas
formadas por indivíduos menos favorecidos na sociedade, contribuindo para sua inserção no
mercado de trabalho, geração de renda e a conquista da sua cidadania (OCB, 2013).
Dessa forma, o cooperativismo funciona como um instrumento de inclusão social e de
busca de melhorias na vida das pessoas, além de ter a capacidade impar de integrá-las ao
mercado de trabalho e à própria sociedade, operado através de processo de deliberação
coletiva.

3 METODOLOGIA

Para consecução do objetivo deste artigo, o qual consiste na análise da atuação da


COEPAD sob a perspectiva da responsabilidade social e da sustentabilidade ambiental, no
âmbito do cooperativismo, foi necessário percorrer um caminho metodológico que
viabilizasse este estudo.
Neste caso, utilizou-se a taxionomia apresentada por Vergara (2007) que classifica os
tipos de pesquisa quanto aos fins e quanto aos meios.
Quanto aos fins, esta pesquisa caracterizou-se como descritiva, porque expõe as
características de determinado fenômeno, neste caso as ações desempenhadas pela COEPAD
que contribuem para o crescimento eficiente e socialmente responsável e de modo sustentável
perante a sociedade na qual está inserida.

7
Quanto aos meios, a pesquisa foi bibliográfica, documental e estudo de caso.
Bibliográfica, uma vez que a fundamentação teórica e metodológica foram delineadas e
exemplificadas com base na literatura existente, e documental porque foram consultados
documentos institucionais e internos à Cooperativa estudada, como por exemplo o Estatuto
Social, site, documentos, entre outros. Caracterizou-se também como um estudo de caso, pois
se concentrou no exame profundo de uma unidade de pesquisa, no caso específico, a
COEPAD.
Os dados obtidos para atingir o objetivo desta pesquisa foram classificados em
primários e secundários. Os dados secundários são aqueles que já foram coletados, ordenados
e tabulados e, neste caso foram obtidos em documentos institucionais e internos da própria
Cooperativa. Os dados primários são aqueles coletados com o propósito de atender as
necessidades desta pesquisa, e segundo Mattar (1999, p. 188), o método da comunicação
“consiste no questionamento verbal ou escrito, dos respondentes, para obtenção dos dados
desejados”. Assim, o instrumento utilizado para viabilizar a coleta dos dados primários foi à
entrevista semi-estruturada, de caráter não disfarçado e com questões abertas, aplicada junto
aos responsáveis pela gestão e produção de materiais em março de 2013, além da observação
em campo das pesquisadoras na visita à organização durante o expediente de trabalho da
cooperativa.
A análise dos dados primários e secundários levantados na pesquisa serviu de base
para a compreensão deste estudo e para o alcance do objetivo geral proposto pelo artigo. Para
Richardson (1999, p. 79), a abordagem qualitativa é uma “[...] forma adequada para entender
a natureza de um fenômeno social”. Assim quanto à abordagem, esta pesquisa é qualitativa,
na medida em que os dados coletados foram interpretados e compreendidos pelas
pesquisadoras.

4 RESULTADOS DA PESQUISA

4.1 CARACTERIZAÇÃO DA COEPAD

A Cooperativa Social de Pais, Amigos e Portadores de Deficiência (COEPAD) é uma


entidade social que foi fundada oficialmente no ano de 1999, e conforme seu Estatuto Social
enquadra-se na categoria de cooperativa Especial, sendo pioneira no Brasil no modelo
“Cooperativa Social”, criada pela Lei n° 9.867/99. Além de ser regida particularmente por

8
esta lei, a COEPAD também rege-se pela lei n° 5.764/71 que dispõe sobre a criação e
funcionamento das cooperativas sociais (COEPAD, 2012b).
A ideia de criação da Cooperativa surgiu no final do ano de 1998 com o término de
um projeto do Colégio Coração de Jesus (CCJ) que abrigava um grupo de jovens com
deficiência nas salas de educação especial. Ao se deparar com esta situação, um grupo de pais
e amigos de portadores de deficiência intelectual reuniu-se com o intuito de buscar soluções
para proporcionar ocupação aos jovens que frequentavam aquelas salas. Após algumas
reuniões na qual foram discutidas algumas alternativas, decidiu-se então pela cooperativa
devido à facilidade de se iniciar um trabalho com poucos recursos e mantido pelos pais
(COEPAD, 2012c).
As atividades se iniciaram com a instalação de duas oficinas: a de papel artesanal que
reciclava papel recebido em doação da comunidade, e a de fralda descartável, sendo esta
última desativada devido ao seu alto custo (COEPAD, 2012c). Na sequência, devido ao
crescimento, passou a utilizar o papel artesanal para confecção de outros produtos como
blocos, caixas, cartões, envelopes, entre outros produtos (COEPAD, 2012a). Além da oficina
de papel artesanal foram criadas outras oficinas: a da cartonagem, de acabamento gráfico, de
serigrafia e a de corte e costura (COEPAD, 2012c).
Atualmente, a COEPAD possui 43 cooperados (não incluindo pais, amigos e
voluntários), está sediada em um novo espaço, localizado no bairro Estreito em
Florianópolis/SC e possui uma nova identidade visual. O trabalho da Cooperativa continua no
“atendimento a novos cooperados e familiares, no aumento de sua produção e na conquista de
sua sustentabilidade como organização”. (COEPAD, 2012a).
O alvo principal da COEPAD são as pessoas com deficiência intelectual, sendo que
os seus cooperados são classificados em três grupos de associados (COEPAD, 2012c).Para ser
um cooperado da categoria de deficientes, é necessário que a pessoa tenha uma deficiência
intelectual, tenha mais de 18 anos, ou seja, a idade mínima para pertencer à entidade, quanto à
idade máxima não se trata de um critério exigido. O candidato a ser um cooperado
primeiramente é entrevistado junto com seus pais pelos profissionais da COEPAD, mediante
o aceite do mesmo, este deve passar por um período de adaptação, em torno de três meses,
onde é avaliado as reais condições de executar as tarefas solicitadas. Também e por parte da
família desse deficiente, a indicação de uma pessoa para trabalhar como voluntária. O tempo
de permanência no quadro de cooperados não é limitado, isto é designado pela adequação e
motivação dos mesmos.
9
O objetivo maior da COEPAD consiste no direito de ser e estar feliz, aprender,
trabalhar e fazer parte da sociedade. É um espaço para proporcionar capacitação e trabalho às
pessoas com deficiência intelectual, resgatando a sua autoestima, o exercício da cidadania e a
conscientização da sustentabilidade. (COEPAD, 2012c).

4.2 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES COLETADAS

A COEPAD é uma entidade social que não visa o lucro. Os recursos provenientes da
venda dos seus produtos são revertidos para a manutenção da Cooperativa, aquisição de
matérias-primas e para o pagamento de um salário simbólico aos cooperados pertencentes à
primeira categoria, ou seja, os deficientes intelectuais. Cabe destacar que esta entidade recebe
anualmente encomendas de aproximadamente trinta empresas em sua maioria catarinense,
entre elas: Attitude Promo Eventos, Badesc, Bela Calha, Colégio Catarinense, Escola do
Legislativo, Fecomércio, Floripamanha, Guga Kuerten Participações, Hippo Supermercados,
ICOM – Instituto Comunitário da Grande Florianópolis, IGK – Instituto Guga Kuerten,
Natubrás, OCESC – Sindicato e Organização das Cooperativas do Estado de Santa Catarina,
Grupo ORCALI, PROSUL – Projetos, Supervisão e Planejamento Ltda., entre outras.
De acordo com os entrevistados, a COEPAD utiliza resíduos sólidos em duas frentes
de trabalho. A primeira é definida como a linha de produção do papel artesanal (Oficina do
Papel Artesanal), recebe papel A4, listas telefônicas, revistas, rolinhos de papel higiênico e de
papel-toalha da comunidade em geral e de empresas como, por exemplo, Prosul, Previsc,
Instituto Guga Kuerten. A reciclagem de papel é realizada na Cooperativa é um processo
contínuo na medida em que a Oficina de Papel Artesanal produz o papel diariamente, são
produzidos em média 100 folhas de papel reciclado por dia.
Os resíduos são selecionados na Oficina de Papel Artesanal (são retirados clips,
grampos, plásticos, entre outros) e levados para o depósito. O processo de reciclagem nesta
Oficina inclui a trituração do material, a obtenção da massa, a tintura, até chegar à tela e à
secagem do papel reciclado artesanalmente. Após esse processo o material é enviado a
Oficina de Cartonagem que produz produtos como blocos, cadernos, agendas, porta-
rascunhos, cardápios, pastas de eventos, embalagens, etc.
Quanto segunda a linha é a de produção de sacolas ecológicas (Oficina de Corte e
Costura), recebe retalhos e lonas de propaganda, doados pela Dudalina, Imobiliária Brognolli
e Busch & Cia., dentre outros, e também os tecidos e demais assessórios são comprados pela
10
COEPAD com os recursos oriundos das vendas de seus produtos. Nessa oficina são
produzidas sacolas, bolsas e embalagens ecológicas por meio de materiais: tecido não tecido
(TNT) ou em lona de algodão, desenvolvem produtos personalizados e sob encomenda. A
personalização desses produtos é finalizada na Oficina de Serigrafia.
Convém enfatizar que os resíduos sólidos são doados à Cooperativa pelas famílias e
amigos dos cooperados, por algumas empresas, por pessoas que tomam conhecimento da
COEPAD e procuram contribuir e pela comunidade em geral. O recebimento deste material é
praticamente de modo diário. A instituição ainda não possui condições físicas e humanas para
a coleta dos resíduos sólidos, então, eles são levados diretamente pelas pessoas.
Mediante a explanação do modo de produção da COEPAD, relata-se que tal
Cooperativa possui um portfólio diverso de produtos, além dos já citados, também
confecciona canudos de formatura para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC),
instituição que apóia e divulga o trabalho da COEPAD, haja vista, o principal ponto de venda
é uma loja no Centro de Cultura e Eventos da UFSC. Além disso, os produtos da COEPAD
podem ser adquiridos na sua própria sede, em feiras e exposições, o qual a Cooperativa
participa, como por exemplo, a Feira da Esperança, evento anual em Florianópolis.
De acordo com a entrevista, as práticas de sustentabilidade são inerentes no processo
de reciclagem de papel, principal ação da COEPAD, pois tem influenciado, de acordo com os
entrevistados, outras efetivas ações para a preservação de recursos naturais. As ações de
conscientização e educação realizadas pela diretoria aos cooperados no uso racional de água e
energia elétrica são diárias e, além disso, conforme relatou os entrevistados, estas ações
influenciam na adoção de novos hábitos no ambiente familiar dos cooperados e
consequentemente é disseminado para outras pessoas. Cabe destacar que a conscientização
sobre práticas de reciclagem levam a minimização da poluição do meio ambiente e a
diminuição da quantidade de lixo que é encaminhada aos aterros sanitários, ocasionando a
prática da sustentabilidade. Inserido nesse compromisso de conscientização do meio
ambiente, têm-se o resultado de ações que visam à conservação ambiental, como é o caso da
confecção do papel-semente. Durante a fabricação do papel são colocadas sementes, como
por exemplo, de rúcula, salsa, cravo e da flor boca-de-leão. O papel-semente é inserido em
artigos de papelaria e o adquirente do produto pode destacar esta folha e plantar as sementes.
A reciclagem do papel tem chamado atenção, não apenas pela racionalização desse
recurso, mas pela criatividade e otimização dos produtos que são ofertados a uma crescente
clientela que preza pela qualidade, e reconhece o trabalho social realizado.
11
Em sua forma de operacionalizar o fluxo de atividades produtivas e comercialização
de seus produtos, a COEPAD demonstra a real possibilidade de manter o foco em indicadores
qualitativos e quantitativos, sustentando, portanto, não somente o aspecto estratégico, mas
acima de tudo o aspecto social e ambiental de modo sustentável.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pessoas que possuem deficiência intelectual são em geral discriminadas,


permanecendo às margens da sociedade. Para suas famílias, são comuns as dificuldades, tanto
no âmbito emocional, como no trato da vida cotidiana. Neste contexto, considera-se como
originalidade neste artigo a fundação no Brasil da COEPAD como primeira cooperativa social
do ramo especial voltada para a inclusão de deficientes intelectuais. Tal o caráter social da
COEPAD reside justamente no fato de acolher pessoas com este tipo de deficiência num
ambiente de trabalho, fazendo-as sentirem-se parte constitutiva do processo produtivo,
inerente à vida em sociedade, e propiciando aos familiares, amparo e sentido de vida em
comunidade, onde um aporte é encontrado.
Aliado a essa temática, a COEPAD ao alicerçar o seu processo produtivo na
reciclagem de papel, contribui para a racionalização de recursos naturais e, tão importante,
quanto, para a conscientização na direção de ações que visam à sustentabilidade. Esta
contribuição é constatada na mudança de hábitos de seus cooperados, da comunidade e de
organizações ao tomarem conhecimento da sua prática social e ambiental.
O trabalho desenvolvido pelos cooperados deficientes lhes resgata a autoestima, e
contribui para um nível de autonomia e independência. À pessoa com deficiência é oferecido
um espaço para o autodesenvolvimento e ampliação de suas potencialidades, permitindo-lhes
o contato com outras pessoas, inclusive sem deficiência, o que gera nos cooperados um
sentimento de equidade com as demais pessoas.
Deste modo é inerente a conclusão de que o processo de implementação e
funcionamento da COEPAD contribui diretamente para a sustentabilidade ambiental. Seu
trabalho na área de gestão de resíduos sólidos consolida uma atuação co-responsável. Além
do acolhimento de deficientes intelectuais ao colocar a reciclagem de papel como processo
produtivo, sua contribuição vai mais além de mudanças individuais, abrangendo de modo
substantivo e instrumental a sociedade civil onde está inserida. A contribuição substantiva

12
leva a mudanças de comportamento e valores, e a instrumental, corrobora para
sustentabilidade de recursos naturais.
De forma mais ampla, é disseminada a conscientização e a transformação de hábitos,
como a separação de resíduos, a racionalização da água e de energia elétrica nas residências
de familiares dos integrantes da cooperativa, e no próprio ambiente interno de trabalho. A
partir de comportamentos diferenciados a sensibilização pode ocorrer em rede, beneficiando
amplamente a sociedade.
A COEPAD é um exemplo vivo da união de pessoas “diferentes” para o alcance de
um objetivo em comum, que sozinhas certamente não alcançariam. Práticas como esta
evidenciam a importância da participação efetiva dos diversos atores sociais e apresentam
como resultado a emancipação do deficiente intelectual, integrando-o à sociedade.
Como conclusão final, constata-se que a iniciativa do grupo de pais, ao implementar a
COEPAD se apresenta como uma prática da consolidação dos conceitos de responsabilidade
social, sustentabilidade e inclusão social. Demonstra o desenrolar de um processo criativo de
busca de soluções inerente ao potencial humano.

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14
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15
Responsabilidade Social E Sustentabilidade Empresarial Para O
Desenvolvimento Regional – O Caso Da Edia, S.A.

Mestre Maria Luísa Silva e Prof.ª Doutora Fátima Jorge 1

RESUMO

A partir da análise teórica dos conceitos de desenvolvimento sustentável,


responsabilidade social e sustentabilidade empresarial, é destacada a relação entre
desenvolvimento regional e estratégias de sustentabilidade empresarial que integrem práticas de
responsabilidade social.
Abordadas à luz da estratégia de desenvolvimento regional Alentejo 2015 reflectimos
sobre as práticas de responsabilidade social adoptadas pela EDIA, S.A., uma sociedade anónima
de capitais exclusivamente públicos. Procurámos identificar o tipo de estratégia de
Responsabilidade Social desta organização e concluímos que, alinhada com a estratégia, a
Responsabilidade Social pode constituir um forte motor de crescimento que conduz à
sustentabilidade empresarial e desenvolvimento sustentável.

PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento Sustentável, Responsabilidade Social,


Sustentabilidade Empresarial.

CORPORATE SOCIAL RESPONSIBILITY AND SUSTAINABILITY FOR


REGIONAL DEVELOPMENT - THE CASE OF EDIA, SA
ABSTRACT
From the theoretical analysis of the concepts of sustainable development, social responsibility
and corporate sustainability is highlighted the relationship between regional development and
sustainability strategies that integrate corporate social responsibility practices.
Addressed in the light of regional development strategy in 2015 Alentejo reflect on the practices
of social responsibility adopted by edia, SA, a limited company wholly publicly owned. We
sought to identify the type of Social Responsibility strategy and conclude that this organization,
aligned with the strategy, social responsibility can be a strong driver of growth that leads to
corporate sustainability and sustainable development.

KEYWORDS: Sustainable Development, Social Responsibility, Corporate Sustainability.

1. Introdução
O processo de globalização que tem vindo a exigir por parte das organizações
elevados níveis de competitividade, em muito tem potenciado a implementação de
actividades que nem sempre são compatíveis com as necessidades das comunidades
locais e regionais e com o próprio ambiente, assistindo-se por vezes à secundarização de

1
Mestre Maria Luísa Silva (mlfcsilva@gmail.com) e Prof.ª Doutora Fátima Jorge (mfj@uevora.pt) –
Universidade de Évora; Artigo escrito tendo como base a Dissertação intitulada “Do Desenvolvimento
Sustentável à Sustentabilidade Empresarial: Um estudo regional multi-casos” para obtenção do grau de
Mestre em Gestão – Recursos Humanos, da autoria de Maria Luísa F. de C. e Silva, em Fevereiro de
2012.
interesses sociais e ambientais em prol de interesses exclusivamente económicos.
Quando isto acontece é porque algo não está contemplado, isto é, há pelo menos um
princípio que não é verdadeiramente considerado.
Numa altura em que a pobreza e a exclusão social teimam em persistir, embora
as empresas se sintam incapazes de resolver por si só tais problemas, têm, no entanto,
mais consciência de que o seu empenho pode revelar-se muito positivo no quadro de
influências que também podem exercer, se falarmos na criação de emprego, e da
elevação do nível de bem-estar, satisfação social e conhecimento, pela educação e
formação. Parece, pois, óbvio, que uma empresa assuma o compromisso do
desenvolvimento sustentável, numa abordagem que considere todas as partes
interessadas, desviando-se, assim, do objectivo único da obtenção do lucro.
Com o intuito de analisar práticas de responsabilidade social em organizações
do Alentejo, ao verificar de que forma é que estas podem constituir ferramentas de
desenvolvimento sustentável, impõe-se também a sua abordagem, ainda que muito
breve, à luz da estratégia Alentejo 2015, já que se acredita ser essencial uma atitude de
cooperação interinstitucional entre Estado, empresas e organizações da sociedade civil,
para uma efectiva promoção da responsabilidade social empresarial.

2. Do Desenvolvimento Sustentável à Sustentabilidade Empresarial


No final deste ponto iremos compreender como é que as empresas poderão
incorporar novos conceitos e valores, que passam pelo respeito pelo ser humano,
ambiente e interligação com a comunidade envolvente em que se integram, potenciando
assim não só a sua sustentabilidade mas concorrendo também para um desenvolvimento
local e regionais sustentáveis.

2.1 O CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL


A sustentabilidade, tema tão actual em pleno século XXI, já há muito que é
uma preocupação, mas é no século XX que os temas associados ao ambiente começam a
integrar a teoria económica. Se em 1980 a World Conservation Strategy refere que
“para o desenvolvimento ser sustentável tem que ter em consideração os factores sociais
e ecológicos, bem como os económicos, os recursos vivos e não vivos bem como as
vantagens de longo e curto prazo de uma acção alternativa”, o Relatório Brundtland
(1987), refere-se ao desenvolvimento sustentável como aquele que “garante a satisfação
das necessidades do presente, sem comprometer a capacidade das gerações futuras em
satisfazer as suas próprias necessidades”. É também em Brundtland que se faz
referência à importância que a tecnologia e o comportamento humano exercem na
alteração do padrão de crescimento, através da mudança dos hábitos de consumo,
defendendo que os agentes económicos “que são mais influentes deveriam adoptar
estilos de vida adequados aos limites ecológicos do planeta”.
Só em 2002, na Cimeira Mundial para o desenvolvimento sustentável, em
Joanesburgo (Nações Unidas, 2002), que pretendia promover a contenção da
degradação ambiental e o combate à pobreza, foi declarada a necessidade de reforçar os
pilares do desenvolvimento sustentável – desenvolvimento económico,
desenvolvimento social e protecção ambiental, aos diferentes níveis: local, nacional,
regional e global.
Em 2001, a Comissão Europeia elabora o documento “Uma Europa sustentável
para um mundo melhor: uma estratégia da União Europeia para o desenvolvimento
sustentável”, que veio a ser aprovado no Conselho Europeu de Gotemburgo, traduzindo
a estratégia europeia para o desenvolvimento sustentável. Nessa estratégia podem ler-se
propostas, os principais objectivos, medidas específicas e de monitorização (Comissão
das Comunidades Europeias, 2001).

2.2 O Contexto da Responsabilidade Social das Empresas


O conceito de responsabilidade social das empresas refere-se à
responsabilidade que estas deverão assumir na gestão das suas organizações, olhando
muito para além do lucro imediato e dos tradicionais rácios económicos.
Ao longo do século XX e já neste século, a responsabilidade social das
organizações tem sido objecto de inúmeras investigações académicas e com elas têm
surgido várias definições. Mesmo na década de 50, a responsabilidade social, associada
ao tema da ética, já integrava a gestão no contexto empresarial das empresas
americanas, como Carroll veio sintetizar através da sua pirâmide com quatro níveis, em
que destaca a Responsabilidade Económica como base que sustenta as outras e que
surgem sequencialmente. Pressupõe assim que, para se tornar socialmente responsável,
a empresa tem que passar por várias etapas, tendo-se, de baixo para cima, o seguinte
(1979, 1999 apud Almeida, 2010, p. 63): Responsabilidades económicas;
Responsabilidades legais; Responsabilidades éticas; Responsabilidades filantrópicas.
É a Freeman (1984) que se atribui a origem da teoria dos stakeholders, quando
este autor publica o primeiro livro sobre a função que o envolvimento com os
stakeholders deverá ter na estratégia empresarial. O âmago da questão reside no facto
de a direcção das empresas não se dever cingir apenas aos interesses dos accionistas/
proprietários – mas também aos interesses de outros stakeholders (partes interessadas),
nomeadamente os empregados, os gestores, a comunidade local, os clientes e os
fornecedores.
Elaborado pela Comissão Europeia, com o objectivo de debater o conceito de
responsabilidade social da empresa, incentivar o desenvolvimento de práticas
inovadoras e promover parcerias para a sua concretização, o “Livro Verde: Promover
um Quadro Europeu para a Responsabilidade Social das Empresas”, veio, em 2001,
reforçar a estratégia europeia para a responsabilidade empresarial. Nele se descreve a
responsabilidade social das empresas como “um conceito segundo o qual as empresas
decidem, numa base voluntária, contribuir para uma sociedade mais justa e para um
ambiente mais limpo.” Em Julho de 2002, a Comissão Europeia apresenta um outro
documento de referência – a comunicação “Responsabilidade social das Empresas: um
contributo das empresas para o desenvolvimento sustentável”, definindo aí que “cabe às
organizações a adopção de uma atitude de responsabilidade social, no quadro de uma
dinâmica de integração entre todos os agentes envolvidos nas suas actividades”
(Comissão Europeia, 2002, p. 347).
Seguindo Santos et al. (2005, p. 31), a dimensão social integra as acções
orientadas para a gestão do elemento humano que compõe a sua matriz social
(componente interna) e as acções orientadas para a comunidade envolvente
(componente externa). A dimensão social interna inclui acções relativas ao local de
trabalho e é essencial para os bons resultados da empresa, dado que a produtividade, a
inovação e a qualidade dependem dos níveis de motivação e satisfação dos
trabalhadores da empresa. Nesta dimensão podem incluir-se práticas de
responsabilidade social ligadas a: Gestão de Recursos Humanos; Informação e
Comunicação; Serviços Sociais; Gestão da Mudança Organizacional; Empregabilidade;
e Saúde, Segurança e Higiene do Trabalho. Na dimensão social externa integram-se
práticas destinadas aos agentes externos da empresa, incluindo a comunidade local. Na
dimensão económica as empresas relacionam-se com três tipos de parceiros: clientes,
fornecedores e investidores ou accionistas. “A responsabilidade ambiental das empresas
passa pela integração das questões ambientais na gestão estratégica, atribuindo-lhes a
devida importância, a par das questões de carácter económico e social” (Santos et al.,
2005, p. 51). “A componente interna da responsabilidade ambiental das empresas
refere-se, de uma forma geral, à adopção das políticas e procedimentos internos que
conduzem a uma melhoria contínua do desempenho ambiental e à sua introdução no
quotidiano da actividade das empresas” (Santos et al., 2005, p. 52). Por sua vez, a
componente externa está ligada “à interacção das empresas com os seus parceiros
externos, nomeadamente fornecedores, clientes, comunidade em geral, organizações não
governamentais de ambiente, entre outros” (Santos et al., 2005, p. 53).

2.3 A Sustentabilidade Empresarial


Organizações governamentais e não governamentais, empresas públicas e
privadas e, de um modo geral, toda a sociedade, têm vindo a assumir o conceito de
desenvolvimento sustentável. As empresas têm vindo, continuamente, e de um modo
crescente, a movimentarem-se no sentido da sustentabilidade empresarial, muito devido
aos novos requisitos legais que implicam custos financeiros, mas também à consciência
de que a integração de variáveis ambientais e sociais pode potenciar a criação de
oportunidades de negócio, com consequências positivas na criação de valor económico.
Sustentabilidade empresarial significa a capacidade de gestão de uma actividade
empresarial e a criação de valor de longo prazo, simultaneamente à criação de
benefícios sociais e ambientais para os seus stakeholders. Parafraseando, Porter e
Kramer (2002, p. 68), “não há nenhuma contradição entre melhorar o contexto
competitivo e denotar um sério empenho no melhoramento da sociedade.”
Ao integrarem a gestão de riscos e oportunidades dos domínios ambiente e
social, as empresas terão capacidade de antecipar estes factores, com resultados no seu
desempenho económico. Através da gestão integrada da responsabilidade social será
possível a criação de valor. Por outro lado, é possível transformar riscos em
oportunidades, quando a existência de falhas de mercado associados ao surgimento de
problemas ambientais e sociais tem impacto no sector privado. A sustentabilidade
empresarial traduzir-se-á na transformação desses problemas em novas oportunidades
de negócio, a que se associam benefícios económicos, capacidade produtiva, criação de
emprego qualificado e boas condições de trabalho.
É agora evidente a importância de as empresas conseguirem antecipar riscos,
mas também as necessidades de todos quantos com ela se relacionam. Para isso será
necessário o diálogo com todos os stakeholders, inquirindo-os sobre as suas
expectativas e necessidades, para que, em conjunto, consigam analisar forças, fraquezas,
oportunidades e ameaças.
De um modo mais sustentável, as empresas terão maior possibilidade de
acrescentar valor aos negócios se, para além do diálogo com os stakeholders,
conseguirem envolver todos os departamentos que a compõem, integrando a
sustentabilidade num modelo de gestão em que seja permitido inovar para ir ao encontro
das necessidades dos seus clientes e, em simultâneo, apresentar produtos e serviços
ambiental e socialmente responsáveis.
A orientação para a sustentabilidade de uma unidade empresarial, bem como a
implementação e manutenção de determinados princípios, dão hoje indicações claras
relativamente à sua capacidade de gestão, onde se incluem valores intangíveis, tais
como, a liderança, a execução estratégica, as marcas, o capital humano e o desempenho
operacional. “Os intangíveis tais como a investigação e desenvolvimento, propriedade
intelectual, competências dos recursos humanos, redes de fornecedores e valor de marca
são actualmente catalisadores da eficácia organizacional, enquanto os activos físicos e
financeiros são cada vez mais considerados como simples mercadorias” (Eustace, 2000,
p.6).

Figura 1 – Exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre


o valor para o accionista

Inovação de produto e processo Aumento da rendibilidade


Melhor utilização do capital
Redução do desperdício e de emissões Valor para o
accionista
Utilização eficiente dos recursos Satisfação dos clientes
Capital intelectual
Segurança e saúde ocupacional Licenças de actividade
Reputação e imagem de
Envolvimento dos vários interessados marca
(stakeholders) Redução do risco

Satisfação dos colaboradores Protecção no meio ambiente


Qualidade de vida para a comunidade envolvente

Fonte: GEMI (2004), “Clear advantahge: building shareholder value”, em Global


Management Initiative, Washington, p. 5. apud Santos et al., 2005, p. 63.
Qualidade

O desenvolvimento sustentável e a responsabilidade empresarial são hoje uma


oportunidade importante, sendo do interesse de todos os stakeholders, para que as
empresas aumentem as suas capacidades, através da identificação e melhoria de
determinantes da criação de valor no que concerne a estes aspectos. Observe-se a figura
1 com exemplos da combinação de efeitos de políticas de sustentabilidade sobre o valor
para o accionista.
Na evolução da sustentabilidade desde os anos 70 até à actualidade, verifica-se
uma clara passagem do papel exclusivo do Estado na resolução de determinadas
questões, para progressivamente se considerar o papel crucial do sector privado. A nível
Europeu, a própria Comunidade tem tido uma posição firme para uma acção conjunta e
a várias dimensões para impulsionar a implementação de critérios de sustentabilidade
nas economias dos vários países membros.

3. Estratégia de desenvolvimento regional – Alentejo 2015


A definição da estratégia de desenvolvimento económico e social para a região
Alentejo – Alentejo 2015, integra orientações comunitárias e nacionais relativas a 2007-
2013, pois coincidiu genericamente com o ciclo de programação dos fundos
comunitários para este período. Assim, o Programa Operacional 2007-2013 poderá
funcionar como uma alavanca para a concretização dos objectivos estratégicos do
Alentejo 2015.
As ideias estruturantes desta estratégia podem retirar-se da própria visão
definida: “Alcançar um Alentejo que possa ser reconhecido, interna e externamente,
como uma região capaz de gerar pela sua dinâmica empresarial, riqueza e emprego; uma
região aberta ao exterior, com qualidade de vida global e exemplar no plano ambiental”
(CCDRA, 2007, p. 57). São três os eixos estratégicos que orientam o caminho que
poderá levar à concretização dos objectivos inerentes a tal estratégia, conforme podem
ler-se no Quadro 1:

Quadro 1 – Eixos estratégicos de intervenção – Alentejo 2015


1. Desenvolvimento empresarial, criação de riqueza e emprego
• Renovar as actividades económicas tradicionais, através da dinamização e
ampliação das cadeias de valor associadas aos recursos naturais e endógenos
(utilização da ciência e tecnologia, organização e conhecimento, capital
humano, marketing,...);
• Diversificar o perfil de especialização produtiva da região, potenciando
actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou maior
intensidade tecnológica (ambiente, aeronáutica, TIC, indústrias criativas, ...) e
contribuindo para a criação de empregos qualificados;
• Consolidar os investimentos associados ao triângulo Sines/Beja/Alqueva (porto
e plataforma industrial/logística de Sines, aeroporto de Beja, Empreendimento
de Fins Múltiplos de Alqueva), pelo seu papel dinamizador de um portfolio de
actividades económicas (agro-indústrias, logística, energias renováveis, turismo,
...);
• Dinamizar o sistema regional de inovação, onde se envolvam os “centros de
conhecimento” (ensino superior, centros tecnológicos, ...) e o tecido
empresarial, com o propósito de estimular a inovação na região, facilitar a
transferência de competências e cooperação entre diferentes actores;
• Melhorar a eficiência da governação, mediante uma maior eficácia da
Administração Pública com vista à redução dos “custos públicos de contexto” e
a uma melhor relação com o cidadão;
• Implementar um modelo de desenvolvimento sustentável da actividade turística
fortemente ancorado nos recursos naturais, paisagísticos e culturais (património
tangível e intangível), os quais deverão ser valorizados criativamente, em favor
da criação de riqueza e de uma fruição pública dos elementos identitários e
característicos da região.
2. Abertura da economia, sociedade e território ao exterior
• Captar actividades económicas associadas às vantagens logísticas da região,
resultantes quer da posição geográfica no eixo Lisboa/Madrid, da proximidade à
A.M. Lisboa, do porto de Sines, da futura ligação ferroviária Sines/Elvas, do
TGV, do aeroporto de Beja, das plataformas logísticas;
• Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região
maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias;
• Promover a integração da região em espaços e redes mais alargadas, através do
aprofundamento da cooperação territorial, da internacionalização da economia,
e das novas tecnologias ligadas à “sociedade do conhecimento”;
• Reforçar as redes de acessibilidades físicas e digitais que garantam à região
maior mobilidade no contexto das redes nacionais e transeuropeias;
3. Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental
• Reforçar a competitividade e atractividade das cidades como “motores”
económicos do território, associando-as de forma inovadora e eficaz à região
envolvente (complementaridade “urbano” + “rural”), como garante da coesão
social e territorial;
• Promover a obtenção de padrões de excelência ambiental, através de uma
gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua sustentabilidade,
bem como uma abordagem pró-activa na minimização dos efeitos das alterações
climáticas (seca, desertificação...) antecipando e minimizando os seus efeitos.
Fonte: CCDRA (2010)

4. Metodologia
A metodologia utilizada para a elaboração da dissertação que deu lugar a este
artigo assentou na pesquisa bibliográfica como ponto de partida, pretendendo-se
identificar os principais autores sobre o tema em análise. Depois veio a pesquisa
descritiva, assumindo-se uma abordagem exploratória, a que se seguiu o estudo de casos
múltiplos, privilegiando-se a natureza qualitativa dos dados referentes às quatro
organizações empresariais seleccionadas.
Para obtenção de dados referentes àquelas entidades procurou-se aplicar um
questionário e complementar os dados assim conseguidos com a realização de uma
entrevista semi-estruturada. Refira-se ainda que foi utilizado o modelo conceptual
desenhado para o estudo Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal
(Santos et al., 2006).
Como fonte de dados privilegiada teve-se o próprio campo de análise, o mesmo
é dizer, a própria empresa. Inicialmente procurou-se aplicar um questionário com um
conjunto de questões maioritariamente fechadas, dicotómicas, de opção múltipla ou com
resposta através de uma escala. As respostas de cada indivíduo foram analisadas com
vista a análises posteriores mais aprofundadas. Para complementar os dados obtidos
através do questionário, previu-se a realização de uma entrevista semi-estruturada com
questões abertas ao dirigente indicado pela empresa.
Para além do questionário e da entrevista semi-estruturada, a documentação
sobre a empresa, recolhida antes da entrevista, bem como aquela que foi fornecida
aquando da visita para a realização da mesma, possibilitou uma análise mais rigorosa
das informações das empresas, viabilizando, com maior rigor, trabalhar para os
objectivos do trabalho.
Utilizou-se o modelo conceptual desenhado pelos autores do estudo
Responsabilidade Social nas PME – Casos em Portugal (Santos et al., 2006). “A
necessidade de se compreender os factores que influenciam as práticas de
responsabilidade social em PME esteve na origem deste modelo (Quadro 2)” (Santos et
al., 2006, p. 57), que entendemos poder alargar o seu âmbito de aplicação a outro tipo
de organizações, como a que aqui é estudada.

Quadro 2 – Modelo de análise dos tipos de estratégias de Responsabilidade Social


VOLUNTÁRIA PREVENÇÃO
Estratégia: Inovação Estratégia: Diferenciação
Stakeholders: Associações, Universidades Stakeholders: Sindicatos e Comunidade
e Empresas Atitude perante a RS
Atitude perante a RS a) Motivações: Ético-sociais
a) Motivações: Criação de Valor b) Benefícios: Comunicação
b) Benefícios: Organizacionais c) Obstáculos: Informativos e de
c) Obstáculos: Cooperação (capital Conhecimentos
social) d) Tipos de Apoio: Técnicos
d) Tipos de Apoio: Conhecimento e) Periodicidade das práticas:
e) Periodicidade das práticas: Ocasional, integrada na estratégia
Regular, integrada na estratégia.
Estratégia: Custo Estratégia: Focalização
Stakeholders: Sócios e Entidades Stakeholders: Trabalhadores, clientes e
Públicas fornecedores
Atitude perante a RS Atitude perante a RS
a) Motivações: Lucro a) Motivações: Pressões de grupos
b) Benefícios: Económico - b) Benefícios: Comerciais
financeiros c) Obstáculos: Temporais
c) Obstáculos: Financeiros d) Tipos de Apoio: Informação
d) Tipos de Apoio: Financeiros e) Periodicidade das práticas:
e) Periodicidade das práticas: Regular, não integrada na
Ocasional, não integrada na estratégia
estratégia
OBRIGAÇÃO REACÇÃO
Fonte: Santos et al., 2006, p. 61.

As estratégias de negócios (Quadro 3), a relação com os stakeholders (Quadro


4) e a atitude perante a responsabilidade social (Quadro 5) são considerados os
principais factores que influenciam este tipo de práticas nas empresas. “Os tipos de
estratégias de responsabilidade social das PME resultam da análise dos três vectores
considerados anteriormente” (Santos et al., 2006, p.63), que se materializam num
quadro de referência para classificar as estratégias desenvolvidas pelas empresas
(Quadro 6).

Quadro 3 – Estratégia de negócios


Conceito Dimensões Sub-Dimensões
Estratégia de Negócio Actividades de Baixo
Custo
Custo
Actividades centradas em
Focalização
produtos/ serviços
Diferenciação Desenvolvimento de
produtos/ serviços de valor
acrescentado
Introdução de novos
Inovação
produtos/ serviços
Fonte: Santos et al., 2006, p. 59.

Quadro 4 – Relação com stakeholders


Conceito Dimensões Sub-Dimensões
Intensidade da relação
Stakeholders Influência
Tipologia das actividades
Fonte: Santos et al., 2006, p. 59.

Quadro 5 – Atitude perante a responsabilidade social


Conceito Dimensões Sub-Dimensões
Motivações
Atitude perante a Benefícios
Factores críticos Obstáculos
responsabilidade social Tipos de Apoios
Periodicidade das práticas
Fonte: Santos et al., 2006, p. 60.

Quadro 6 – Tipos de Estratégias de Responsabilidade Social


Estratégias
Obrigação Reacção Prevenção Voluntária
Variáveis
Estratégia de Negócio Custo Focalização Diferenciação Inovação
Sócios Trabalhadores Universidades
Relação com Sindicatos
Entidades Clientes Associações
Stakeholders Comunidade
Públicas Fornecedores Empresas
Atitude Pressões de Criação de
Motivações Lucro Ético-sociais
perant grupos Valor
e a RS Económico
Benefícios Comerciais Comunicação Organizacional
-financeiros
Informativos Cooperação
Obstáculos Financeiros Temporais e de (Capital
Conhecimento Social)
Tipos de
Financeiros Informação Técnicos Conhecimento
Apoio
Periodicidade Ocasionais, Regulares, Ocasionais, Regulares,
das Práticas não não integradas na integradas na
integrados
integradas na
de RS na estratégia estratégia
estratégia
estratégia
Fonte: Santos et a.l, 2006, p. 64.

A partir da sistematização de variáveis e práticas de responsabilidade social


(Santos et al., 2006, p. 66), foi construído o inquérito às práticas de responsabilidade
social (Santos et al., 2006, p. 250), que serviu de instrumento de tratamento da
informação, facilitando o seu tratamento e análise. O inquérito permitiu identificar:
práticas de responsabilidade social das empresas no âmbito das três dimensões em
análise (económica, social e ambiental); Estratégias adoptadas; Factores, motivações,
benefícios e obstáculos que condicionam a adopção de práticas de responsabilidade
social.

5. Apresentação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva,


S.A.

5.1.1 Breve caracterização2

Data de 1995 a criação da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do


Alqueva, S.A. (EDIA) para conceber, executar, construir e explorar o Empreendimento
de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA), contribuindo para a promoção do
desenvolvimento económico e social da sua área de intervenção, a que correspondem
total ou parcialmente 19 concelhos do Alto e Baixo Alentejo. Esta sociedade anónima
de capitais públicos, sediada em Beja, viu o seu campo de acção aumentado em 2001
para operar nos sectores hídrico público e industrial.

6. Discussão de resultados
As actividades de responsabilidade social da EDIA são descritas pela
própria empresa como regulares, mas não ligadas à sua estratégia de negócios.
Esta empresa apresenta preocupações ao nível das três dimensões:
económica, social e ambiental, reconhecendo-as muito importantes em matéria de
sustentabilidade empresarial ou de desenvolvimento sustentável. Para a EDIA a
“articulação da comunidade onde a empresa se insere” é a área da
responsabilidade social considerada mais importante. Como pode observar-se, as
2
Fonte: Adaptado de http://www.edia.pt/portal/page?_pageid=53,1&_dad=portal&_schema=PORTAL.
práticas de responsabilidade social desta organização vai muito além do seu
carácter interno. Numa boa parte das vezes vai ao encontro da comunidade, com quem
se articula, mas também de clientes, fornecedores, parceiros comerciais e produtos e
serviços e da enorme valorização do ambiente, excedendo o cumprimento da legislação.
A EDIA desenvolve ações em todas as áreas da Responsabilidade Social, sendo em
grande número as práticas relacionadas com a dimensão social externa e com a
ambiental.
Atendendo à tipologia de estratégia de responsabilidade social apresentada
na metodologia, constata-se a não aplicação do modelo no seu estado puro. Na
EDIA prevalece uma estratégia de reacção em termos de responsabilidade social,
excepto ao nível da estratégia de negócio (inovação), motivações (criação de valor)
e benefícios (organizacionais) em que se verifica uma estratégia voluntária. A
estratégia de reacção da EDIA caracteriza-se pelos obstáculos temporais, a informação
nos tipos de apoio, a periodicidade das práticas (regulares, não integradas na estratégia)
e pela preponderância da relação com os stakeholders trabalhadores e fornecedores.

Pretendendo contribuir para a promoção do desenvolvimento económico e


social da sua área de intervenção, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas
do Alqueva, S.A. vem alavancar não só os sectores tradicionais mas também os
sectores emergentes na região Alentejo, a partir do Alqueva: permitindo aumentar a
área de regadio, sendo a partir daí esperadas alterações nas explorações agrícolas que
trarão com elas novas tecnologias e produtos; potenciando um acréscimo de produtos
turísticos na região (p. e. Turismo de Lagos); aumentando a produção de energia a partir
de fontes renováveis.

Em síntese, e a partir da experiência desta organização, podemos


relacionar a sua estratégia de sustentabilidade empresarial com o desenvolvimento
regional sustentável. Também ao nível da dimensão social interna, ao nível da gestão
de recursos humanos, informação e comunicação, serviços sociais, gestão da mudança
organizacional, empregabilidade, bem como saúde, segurança e higiene no trabalho
podem identificar-se práticas que promovem melhorias ao nível da organização,
elevando o conhecimento e potenciando o desenvolvimento do capital humano.
Para “Diversificar o perfil de especialização produtiva da região,
potenciando actividades económicas emergentes de maior valor acrescentado e/ou
maior intensidade tecnológica” (conforme Estratégia Alentejo 2015), muito
contribuem as acções da Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva,
S.A., se pensarmos nas possibilidades de explorar a partir da área de regadio do EFMA
a produção de bio-combustíveis, ou na transformação de um produto como o café,
perseguindo sempre as necessidades dos clientes. Na EDIA observam-se práticas de
sustentabilidade empresarial enquadradas nas variáveis sistema ambiental, poluição e
resíduos da dimensão ambiente, que promovem a obtenção de padrões de excelência
ambiental, através de uma gestão mais eficiente dos recursos naturais, assegurando a sua
sustentabilidade.
O próprio território, bastante descongestionado, com baixa densidade
populacional, associado à história e aos seus recursos endógenos, de que se salientam as
áreas classificadas, o património histórico e natural, os recursos agro-florestais e agro-
alimentares, os modelos de povoamento, o sistema de montado, a água, os mármores e a
faixa litoral, comprometem a região Alentejo, que acaba por ser o resultado da
conjugação de todos esses factores. Conhecemos hoje uma região caracterizada pelos
sectores tradicionais (agricultura e recursos agro-alimentares, rochas ornamentais,
turismo, vitivinicultura, cortiça e economia do mar) e pelos sectores emergentes (TIC/
indústrias criativas, cluster automóvel, cluster aeronáutico, energias renováveis e
logística), conforme podemos sintetizar na visão estratégica, por regiões (Alto
Alentejo, Alentejo Central, Baixo Alentejo e Alentejo Litoral), na qual assentam os
três eixos de intervenção da Estratégia Alentejo 2015: Desenvolvimento
empresarial, criação de riqueza e emprego (Eixo 1); Abertura da economia,
sociedade e território ao exterior (Eixo 2); e Melhoria global da qualidade urbana,
rural e ambiental (Eixo 3).
No caso da EDIA, SA refira-se o aproveitamento das potencialidades da água como
recurso estratégico e elemento turístico, havendo aqui lugar à integração das actividades
da empresa não só nos sectores tradicionais mas também nos sectores emergentes. A
estratégia de sustentabilidade empresarial que enquadram acções de responsabilidade
social, cruzam-se grandemente com a estratégia definida para a região, integrando
principalmente os sectores tradicionais, explorando recursos endógenos disponíveis,
(naturais, ambientais, patrimoniais, e culturais). Também por isto poderemos concluir
que a empresa tem um papel essencial quando falamos de desenvolvimento
regional sustentável. Assim, não será de admirar que as empresas sejam consideradas
actores do desenvolvimento. São elas que geram emprego, criam riqueza, promovem a
inovação tecnológica e cumprem obrigações fiscais. Mas, quando nos referimos a
actividades e estratégias das empresas que as posicionem como actores de
desenvolvimento, referimo-nos àquelas que são coerentes com acções de
responsabilidade social e que trazem benefícios a terceiros, indo muito além dos
ligados somente às operações das empresas. Convém também lembrar que uma das
razões que levou à agenda da Responsabilidade Social foi o considerável protagonismo
das empresas, no que concerne não só à sua actividade económica, mas também às
repercussões ambientais e sociais, fundamentalmente através do emprego e da geração
de riqueza nos territórios em que actuam.
Do exposto conclui-se que a promoção do desenvolvimento regional deve
resultar da mobilização efectiva dos diferentes actores relevantes, através de
processos que deverão ser orientados pelos ou para os referidos actores,
chamando-os a intervir, no diagnóstico de problemas, em processos de decisão, no
lançamento, na participação, na integração e coordenação de iniciativas e na sua
implicação, também ao nível da avaliação de resultados e mensuração de impactos
sobre o ambiente e o bem-estar social.

7. Considerações finais
Poder-se-á afirmar que, de acordo com o modelo utilizado, predomina a
estratégia de responsabilidade social de reação na EDIA. Pela dinâmica da sua
actividade, a organização empresarial analisada é criadora de riqueza e emprego.
Abordar as suas práticas de responsabilidade social, à luz da estratégia de
desenvolvimento regional – Alentejo 2015, consistiu em compreender o seu
enquadramento nos eixos estratégicos de intervenção desenhados para este período
temporal. Identificamos práticas de responsabilidade social que vão ao encontro das
ideias estruturantes enquadradas no Eixo 1 - Desenvolvimento empresarial, criação de
riqueza e emprego e Eixo 3 - Melhoria global da qualidade urbana, rural e ambiental.
Será então compreensível como as práticas de sustentabilidade empresarial desta
organização, vai ao encontro da visão estratégica desenhada para o Alentejo,
concorrendo para o desenvolvimento sustentável de uma região.
Conclui-se que a sustentabilidade empresarial é um desafio para esta unidade
empresarial, uma vez que esta depende da sua competitividade, da relação com o meio
ambiente, bem como de acções, ao nível interno e externo, enquadráveis socialmente. A
sustentabilidade empresarial é também entendida e operada como um compromisso para
o desenvolvimento sustentável.
Referências bibliográficas
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edição. Principia, Cascais.

CCDRA - Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. 2010.


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wpd/edocs/WCS-004.pdf. Acesso em 11 de Dezembro de 2010.
Capítulo 10: Saúde Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano
A Integração Dos Setores Para Transformar O Lixo Numa Solução
Socioambiental

Letícia Vilela de Aquino1

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas organizações sociais focadas
na redução do desperdício de alimentos e na transformação dos resíduos orgânicos e secos.
Gerando economia para os cofres públicos, aumento da renda familiar para as pessoas que
trabalham com este reaproveitamento, combate à fome e geração de empregos em vários
setores da economia, o que desperta a sociedade para uma transformação socioambiental em
rede onde a iniciativa privada ligada as ONG’s e órgãos governamentais podem usar uma
estratégia brilhante de união de forças e integração dos três setores para juntos alcançarem os
melhores resultados para o país. Porém para uma integração perfeita entre os setores existem
vários obstáculos, como a falta de informação da população, falta interesse público em vários
municípios, poucas empresas tem tecnologia para utilização de matéria prima retornável e
ainda o desafio da erradicação da incineração dos resíduos que além de poluir a atmosfera
destroem milhares de toneladas de resíduos que poderiam ser reaproveitados. Assim o desafio
é mobilizar o maior número de pessoas possível para fortalecer os movimentos já existentes e
criar novos movimentos socioambientais publico-privados reduzindo assim a pobreza e
melhorando a qualidade de vida das pessoas no planeta.

Palavras-chave: Reaproveitamento de Resíduos. Integração dos Setores. Sustentabilidade


Socioambiental. Redução da Fome. Redução da Pobreza. Geração de Renda. Qualidade de
Vida. Tecnologias. Transformação de Resíduos. Governo. Iniciativa Privada. Reciclagem.

11Letícia Vilela de Aquino, Administradora com Habilitação em Marketing, Mediadora do PEI – Programa de
Enriquecimento Instrumental, Palestrante e Consultora de Empresas. Leticiaaquino10@yahoo.com.br
1 Introdução

Este texto aborda a integração dos setores para transformar o lixo numa solução
socioambiental, onde o recolhimento e reaproveitamento de resíduos feitos de uma forma
mais inteligente podem gerar maiores resultados para toda economia, além de resolver muitos
problemas ambientais que preocupam toda população.

2 Desenvolvimento

Quando falamos de sustentabilidade envolvemos uma infinidade de temas que podem ser
vistos como uma forma de solidariedade com as pessoas ou apenas como uma ferramenta de
Marketing, para conquistar mais e mais clientes.

Segundo SACHS, Ser sustentável pressupõe o uso contínuo da palavra solidariedade,


com as pessoas este tempo-espaço e com aquelas que ainda não vieram, mas que
dentro em breve aqui estarão exigindo seus direitos. (SACHS, 2000, p. 50-51).

Mas ainda existem várias organizações que pensam apenas nos seus próprios interesses,
ignorando o fato de que com um mínimo de esforço poderiam trazer melhor qualidade de vida
para a população de hoje e para a que ainda está por vir.

Campanhas no mundo todo têm despertado a atenção da população para os problemas que o
lixo acarreta para toda cadeia socioambiental e cada vez mais os municípios vêm encontrando
dificuldades para conseguir locais onde possam instalar aterros sanitários, que por sua vez
também não é a solução ideal para os resíduos, pois, como é sabido, o lixo que vai para os
aterros sanitários é depositado na terra em camadas (uma camada de lixo, uma de terra) até
completar o aterramento e no fundo deste aterro é feita uma selação com manta de PVC e
argila impermeabilizando o solo e impedindo que o chorume entre em contato com o lençol
freático, evitando, assim, que polua milhões de litros de água. Apesar de reduzir de forma
significativa os impactos ambientais, não resolve o problema de forma sistêmica, visto que os
resíduos ficam depositados no solo, sem serventia alguma para a sociedade, com alto custo de
manutenção, enquanto a indústria continua utilizando matéria prima virgem para produzir os
mesmos produtos que poderiam ser fabricados com a reutilização de materiais oriundos o
lixo.

Observe na figura 1 o funcionamento de um aterro sanitário.


Figura 1

Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a maior parte do lixo produzido no país tem
destinos inadequados, conforme se verifica na figura 2. Ou seja, além dos resíduos não serem
reciclados ainda atraem insetos como o mosquito transmissor da dengue, possibilita a
formação de criadouros de animais peçonhentos, o chorume polui o lençol freático e mais
uma série de consequências nocivas à comunidade local e ao meio ambiente.

Figura 2
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um ser humano no Brasil é
capaz de produzir em média cinco quilos de lixo semanalmente e em cidades acima de 200mil
habitantes os números são ainda mais assustadores chegando a 1,5 quilos diariamente e em
todo território produzir-se em média de 240 mil toneladas de lixo por dia das quais 76% são
descartadas sem nenhum controle e 60% destes resíduos é representado por lixo orgânico, a
quantidade de lixo orgânico produzida é muito elevada devido ao grande desperdício de
alimentos que acontece no Brasil.

Muitos alimentos são desperdiçados em restaurantes, onde as porções são servidas com
quantidade superior a necessária para alimentação. Residências de pessoas com maior poder
aquisitivo dificilmente reaproveitam alimentos ou cozinham apenas o necessário para
alimentação da família. Mercados municipais descartam uma quantidade significativa de
alimentos diariamente. Transporte inadequado de alimentos causa avarias nas cargas.
Supermercados que não promovem ações para venda rápida de produtos perecíveis. Com
essas e outras formas de desperdícios soma-se um terço dos alimentos do país que é jogado no
lixo, e, em contra partida, 870 milhões de pessoas passam fome no mundo.
Na figura 3 podemos observar o desperdício de alimentos e a mistura de resíduos orgânicos
com resíduo seco.

Figura 3

Figura 3 disponível em: http://catracalivre.com.br/wp-


content/uploads/2013/04/47.jpg, acesso em 05/05/13.

Iniciativas como a do projeto Satisfeito, ajuda e muito na redução de resíduos orgânicos e o


problema da fome, onde o projeto mobiliza vários restaurantes e pessoas para redução do
desperdício de alimentos, onde nos restaurantes participantes você tem o direito de pedir o
prato dentro do projeto satisfeito e a porção vêm dois terços do tamanho normal e o que o
restaurante economizar nessa redução de alimentos o dinheiro é repassado para o projeto, que
posteriormente será repassado para organizações que trabalham pela segurança alimentar de
crianças, combatendo assim a fome e a desnutrição infantil, a meta deste projeto é estar em
todos continentes até 2015, ajudando o maior número de pessoas possível.
Este exemplo mostra claramente que a mobilização de pessoas e o desenvolvimento de
projetos no formato “rede” podem trazer milhares de benefícios socioambientais, gerando
sustentabilidade e uma cadeia “viral” de força tarefa para o combate a pobreza, fome,
desmatamento e poluição, onde a própria população passa assumir maiores responsabilidades
a favor de causas nobres. A partir do momento que um grupo de pessoas se mobiliza, outras
pessoas vão aderindo à ideia, o que leva o crescimento natural e espontâneo de projetos neste
formato.

Mas diante de um cenário onde já existem pessoas se mobilizando para resolver as questões
socioambientais, por que não unir um número ainda maior de pessoas para outras iniciativas
onde a própria população tenha oportunidade de assumir uma maior responsabilidade pelo
planeta através de causas justas?

E da mesma forma que visualizamos a iniciativa do projeto “Satisfeito” podemos voltar os


olhos para reciclagem, sendo esta uma das melhores soluções para destinar os resíduos
orgânicos e secos, dos quais além de alimentar toda uma cadeia produtiva empregando
milhares de pessoas, possui um papel socioeconômico muito relevante.

2.1 Reaproveitamento de resíduos

Porém, a maioria da população ainda não foi treinada para separar e tratar corretamente o lixo,
como, por exemplo, fazer a tríplice lavagem antes do descarte, e as pessoas que têm este
conhecimento não o praticam porque sabem que será um trabalho inútil, visto que não há a
coleta seletiva em todos os lugares.

Esbarramos ainda na falta de conhecimento de boa parte da população adulta sobre a


reutilização dos materiais, em prefeituras com pouco interesse de trazer soluções sustentáveis
para o lixo, ONG’s com lideranças pouco capacitadas para desenvolver pessoas e projetos,
catadores isolados e sem acesso às noticias sobre o setor, o receio de lideranças públicas em
aumentar o custo com o recolhimento dos resíduos, poucas empresas especializadas no
reaproveitamento de materiais.

Nas escolas, muito se fala sobre coleta seletiva e os alunos são orientados a separarem o lixo
em suas residências e são passados conceitos como os de reduzir, reutilizar e reciclar,
desenvolvendo assim a consciência nas crianças e jovens. Algumas regiões brasileiras já
praticam conscientemente a reciclagem.

Estima-se que de cada 1000 brasileiros um é catador de lixo 30% desses gostariam de
continuar a cadeia produtiva da reciclagem, mesmo se tivessem alternativa de trabalho.

O trabalho dos catadores reduz em parte o impacto socioambiental, haja vista este meio
paliativo permite que milhares de pessoas tirem seu sustento dos recicláveis, as companhias
de limpeza urbana deixam de pagar pela coleta e ainda reduz a utilização de matéria prima
virgem.

Se olhar todo movimento de catadores no Brasil, depara-se com várias categorias, sendo:

Trecheiros: aqueles que andam de uma cidade à outra, catando lata para comprar comida e
suprir outras necessidades básicas.

Catadores do lixão: catam, diurnamente, fazendo horários “fixos” de trabalho e muitos


alimentam toda sua família com o que arrecadam dessa prática.

Catadores individuais: preferem trabalhar de forma independente, puxam carrinhos pelas


ruas coletando a vários resíduos encontrados durante sua trajetória.

Catadores organizados: São grupos onde todos são donos do empreendimento, legalizados
ou em fase de legalização como cooperativas e associações, ONGs, ou OSCPs.

Dentre os catadores organizados existem vários subgrupo dentre os quais podem descartar:

Grupos em organização: eles têm pouca ou nenhuma infraestrutura e necessitam de apoio,


muitas das vezes financeiro e de voluntários que lhes ensinem como trabalhar em grupo.

Catadores organizados auto - gerenciáveis: estes funcionam como cooperativas. As vendas


e os resultados são de todos, não havendo uma liderança única, todos os cooperados
representam o negócio como dono.

Redes de cooperativas auto - gestionários: a ideia é voltada para o desenvolvimento em


rede, onde os grupos se fortalecem buscando excelência na negociação e frequência no
fornecimento. Os grupos em rede podem vender os materiais pelo melhor preço e conseguem
maior infraestrutura para prensar e transportar os materiais coletados.
“Coopergatos”: são grupos não auto gestionários, que funciona como uma empresa privada,
onde todos coletam para um empresário, porém os trabalhadores não têm carteira assinada.

Cooperativas de Sucateiros: funciona como empresa privada, mas utiliza a fachada de


cooperativismo, onde os “proprietários” recebem vantagens junto ao governo, porém a relação
entre eles com os catadores é a de empregado e patrão.

E mesmo com este serviço prestado à sociedade, muitos catadores são tratados como se
fossem consequência do lixo, não como uma solução, o que atrapalha e muito a otimização e
o desenvolvimento tecnológico do setor.

No Brasil existem muitas pessoas que estão interessadas em promover uma destinação
adequada, mas esses encontram muitas dificuldades para a realização do trabalho, tais como a
exposição do corpo à doenças transmitidas por animais peçonhentos que são atraídos pela
decomposição do lixo, mau cheiro, descarte irregulares do lixo hospitalar, resíduos perfuro -
cortantes, resíduos químicos com alta periculosidade dentre outros riscos a integridade física
dos catadores.

Analisando-se com cuidado a maioria dos problemas, observa-se que são consequências da
não separação do lixo orgânico com o lixo seco que além de trazer riscos à saúde dos
trabalhadores, aumentam o custo para o processamento e limpeza do lixo, tornando, na
maioria das vezes, mais viável a utilização de matéria- prima virgem.

Como exemplo de lixo orgânico pode-se citar: restos de alimentos, vegetais, frutas, carnes,
ossos, sementes, que durante o processo de decomposição, é uma fonte poderosa de gás
metano e também atrai animais peçonhentos, favorece o aparecimento de fungos e bactérias, o
chorume (liquido escuro produzido principalmente por carnes em processo de putrefação)
contamina as águas, produz mau cheiro e, quando misturado ao lixo seco, atrapalha o
aproveitamento dos materiais e o trabalho dos catadores.

Uma alternativa para a utilização dos resíduos orgânicos que se faz presente no mundo todo,
porem em baixa escala, é a compostagem. Essa técnica além de tecnologicamente viável,
ainda pode ajudar outros projetos sociais com a utilização do adubo orgânico. Entre 2007 e
2010 mais de meio milhão de toneladas de resíduos orgânicos industriais foram enviados para
usinas de compostagem, onde os processos biológicos aeróbicos naturais em condições
controladas são utilizados para transforma-lo em fertilizante, conforme ilustrado na figura 4.

Figura 4.
Fonte da figura: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagem-
para-uma-industria-sustentavel/ Acesso 10/04/2013

Após o final do processo o adubo orgânico normalmente é destinado para utilização em


ecossistemas produtivos florestais, recuperação de áreas degradadas, adubação de áreas de
reflorestamento e para produção de alimentos.

A tecnologia da compostagem possibilita a redução do volume de resíduos, economia dos


recursos naturais, redução da dependência de adubos químicos, qualidade da nutrição, além de
possibilitar uma produção mais limpa de alimentos. Observe a figura 4 que mostra claramente
o ciclo correto dos resíduos para um processo de compostagem, onde a própria natureza é
encarregada do resultado final.

Figura 5:
Atualmente muitas residências já fazem a compostagem caseira e utilizam o adubo orgânico
para nutrição de plantas e jardins, o que evita que a matéria orgânica seja misturada ao lixo
seco, gerando ainda economia domestica por não haver a necessidade da compra de
fertilizantes químicos e dos próprios alimentos. Na figura 5 podemos observar um tomateiro
plantado no quintal de uma residência do qual utilizou o processo de compostagem para a
posterior adubação orgânica da planta, o que resultou em uma planta saudável e bem nutrida,
sem uma gota de defensivos e fertilizantes químicos.

Figura 6
Figura 6 Tomateiro orgânico, foto tirada 04/2013 por Aquino, Letícia Vilela de

O uso do adubo orgânico facilita o desenvolvimento de uma agricultura orgânica, na qual só é


possível quando cultivada sem a utilização de produtos químicos sintéticos, tais como
fertilizantes e pesticidas. Os alimentos orgânicos além de serem mais saudáveis, devido o
nível de pureza, não agridem o meio ambiente e podem ser cultivados tanto no quintal das
residências quanto em grande escala, o que gera uma ótima alternativa para a agricultura
familiar que já é habituada a utilizar esterco de gado ou de aves para fertilização do solo.
Pode-se ser estendida até mesmo para as lavouras não orgânicas, nas quais a adubação
orgânica também é de grande importância, por ter maior capacidade de retenção de água
chegando a reter de 4 a 6 vezes mais água do que seu próprio peso, reduzindo o risco de
erosão, além de minimizar a plasticidade e coesão, reduzindo os efeitos da pegajosidade dos
solos argilosos molhados.

O adubo orgânico favorece ainda o aparecimento de minhocas, fungos e bactérias benéficas à


agricultura, melhorando a vida macro biológica do solo e favorecendo a absorção de
nutrientes provenientes de outras fontes.

Como já vimos, o lixo orgânico só tem serventia para a sociedade se for separado
corretamente, tendo destinos distintos, o lixo seco vai para o tratamento em recicladores e o
lixo orgânico para usinas de compostagem. Observe na Figura 6 a simplicidade do processo
de separação domiciliar ou industrial dos resíduos.

Figura 7

Fonte da imagem: http://www.garibaldi.rs.gov.br/informacoes/coleta-de-lixo/

3 Considerações finais

São bilhões de reais perdidos diariamente em forma de lixo seco e orgânico, bilhões gastos
com a coleta do lixo e milhões de catadores passando dificuldades para sobreviver com o que
a sociedade descarta, muita falta de organização, muitos projetos sem visão sistêmica são
aprovados, gerando investimentos altíssimos, para resolver um problema que poderia ser visto
como parte da solução ambiental que se busca mundialmente.

Sendo assim é hora da sociedade olhar de forma mais sistêmica para o lixo, integrando um
pouco mais o 1º, 2º e 3º setores e trazendo soluções em rede para o lixo. Com esse olhar
poderíamos evitar se que o governo investisse anualmente na pseudo-gestão do lixo, ajudaria
as cooperativas que têm muita mão de obra disposta a trabalhar com o lixo, empresas privadas
que já utilizam estes resíduos como matéria prima em seus produtos, tratar os solos que se
desertificaram e a ampliação de uma agricultura orgânica que utiliza o adubo oriundo da
compostagem como nutriente para as plantas.

Essas soluções podem ser vistas facilmente quando se fala de divisão de responsabilidades,
através de uma proposta de terceirização com quem sabe o que fazer para destinar
corretamente o lixo.

Um exemplo disso seria as prefeituras apoiarem as cooperativas e ONGS a se organizarem


para que elas mesmas façam a coleta e separação do lixo, retirando atravessadores ou
processos desnecessários muitas vezes existentes no ciclo da reciclagem. Um exemplo de
processo desnecessário é o lixo ir para os lixões e lá serem recolhidos pelos trabalhadores,
onde muitos resíduos estão em contato direto com materiais em estado de putrefação o que
dificulta o trabalho, sendo que estes resíduos poderiam ser separados pelas residências,
coletados pelos cooperados e ONG,s e terem posteriormente o seu destino correto, o que
aumenta o percentual de reciclagem, agrega valor aos materiais, pois já sairão lavados das
residências e podem ser triturados antes de serem vendidos para as empresas compradoras de
materiais recicláveis.

Dessa forma os três setores teriam responsabilidade no processo.

O segundo setor (governo) apoiando as cooperativas, associações e ONG’s com processos de


aprendizagem, organização e infraestrutura de armazenagem e logística reversa, além de
montarem as estruturas de compostagem e aproveitamento do biogás.

O terceiro setor (ONG’s) responsabilizando pela preparação da população para efetuarem a


separação dos resíduos e coleta do lixo, de forma que todos os trabalhadores tenham um
trabalho bem organizado, com todos os equipamentos de segurança necessários, treinamentos,
orientações sobre o trabalho, segurança social e previdenciária, gerando renda para milhares
de pessoas e sendo os gestores do destino final dos resíduos.

O primeiro setor, comprando os materiais e executando todos os processos de beneficiamento,


tonando o lixo em produtos novamente, que por sua vez voltaram em médio prazo para o
consumidor que o transformará novamente em lixo.

Talvez a solução esteja realmente na integração dos setores exemplificada acima, onde o
governo reduziria seus gastos em milhões e parte do dinheiro gasto seria devolvido aos cofres
públicos com a utilização do biogás, as redes sociais formadas pelas pessoas através das
cooperativas, associações e ONG’s aumentariam suas rendas e melhorariam a qualidade de
vida e sua respeitabilidade social e surgiria uma infinidade de empresas privadas interessadas
no aproveitamento dos resíduos recicláveis, gerando riquezas e mais empregos a polução
crescente começaria entrar em declínio e o aproveitamento do adubo orgânico ampliaria a
agricultura orgânica e redução da pobreza.

INTEGRATION OF SECTORS TO TURN TRASH IN ENVIRONMENTAL


SOLUTION

Abstract:
This paper aims to present some social organizations focused on reducing food waste and
processing of organic waste and dry.

Generating savings to the public purse, increased family income for people who work with
this reuse, combating hunger and creating jobs in various sectors of the economy, which
awakens the society to social and environmental transformation in the private network where
the connected NGOs and government agencies can use a brilliant strategy of joining forces
and integration of the three sectors together to achieve the best results for the country.

But for a seamless integration between the sectors there are several obstacles, such as lack
of information of the population, lack public interest in various munícios, few companies have
the technology to raw material use returnable and still the challenge of eradicating waste
incineration that besides pollute the atmosphere destroy thousands of tons of waste that could
be reused. So the challenge is to mobilize as many people as possible to strengthen existing
movements and environmental movements create new public-private reducing poverty and
improving the quality of life on the planet.

Key words: Reuse of Waste. Integration of Sectors. Social and Environmental Sustainability.
Cut Hunger. Poverty Reduction. Income Generation. Quality of Life. Technology.
Transforming Waste. Government. Private Initiative. Recycling.

REFERENCIAS
Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Departamento de População e Indicadores Sociais,
Pesquisa Nacional de Saneamento Básico 2000.
Disponível em:
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/pnsb/lixo_coletado/lixo_c
oletado110.shtm , acesso em 18/03/2013.
Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/27032002pnsb.shtm,
acesso em 18/03/2013.
Disponível em: http://www.mncr.org.br, acesso em 18/03/2013.
Disponível em: http://www.rotadareciclagem.com.br/index.html, acesso em 18/03/2013.
Disponível em: http://www.lixo.com.br, acesso em 18/03/3013.
Disponível em: http://www.brasilescola.com/biologia/chorume.htm, acesso em 26/03/2013.
Disponível em: http://marcosbadra.com/2012/04/03/um-modelo-de-compostagem-para-uma-
industria-sustentavel/, acesso em 10/04/2013.
Disponível em: http://catracalivre.com.br/geral/cidadania/indicacao/movimento-quer-reduzir-
desperdicio-de-alimentos-e-combater-a-fome/, acesso em 05/05/2013.
Disponível em: http://www.satisfeito.com/#, acesso em 05/05/2013.
Disponível em: (2011, 11). A Importância Da Adubação Orgânica Para o Solo.
TrabalhosFeitos.com, acesso em 05/05/2013.
SACHS, Ignacy: Caminhos para o Desenvolvimento Sustentável. In: STROH, Paula Yone
(Org.). Rio de Janeiro: Garamond, 2000. 96 p.
Avaliação da qualidade da água residuária tratada por membrana cerâmica de
microfiltração

*Julyanna Damasceno Pessoa1, Cristiane Macedo Rodrigues1, Kepler Borges França1,


Taline Sonaly Sales dos Santos1

1
Universidade Federal de Campina Grande - Unidade Acadêmica de Engenharia Química - Campus
Campina Grande - Av. Aprígio Veloso, 882; Bodocongó, Campina Grande – PB.
*julyanna_pessoa18@yahoo.com.br

RESUMO – A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos ecossistemas.
Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos específicos, a utilização do
processo de separação por membrana passa a ser a opção de tratamento para a produção de água
potável. A unidade de filtração compreende de um reator piloto com capacidade de 10 litros e
uma membrana de material cerâmico, monotubular com 1 canal e diâmetro de poro de 0,20μm.
Este trabalho teve por objetivo estender a tecnologia de filtração com membranas para águas de
qualidade inferior, avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água antes e após um
tratamento de filtração com membranas cerâmicas de microfiltração recheadas por resinas
trocadoras iônicas. Foram testadas quatro pressões, de 1 a 3 bar. O sistema será avaliado em
função do fluxo de permeado, turbidez, extração de bactérias, cor (real e aparente), coliformes
totais, sólidos suspensos totais e sólidos dissolvidos totais sendo que. Os resultados alcançados
mostraram que a microfiltração tangencial, apresenta-se como uma alternativa eficaz para o
tratamento final de esgotos sanitários. A qualidade do efluente final torna possível a reutilização
desse tipo de efluente, seja no meio agrícola, seja no meio industrial.
Palavras-Chave: membrana cerâmica, tratamento de água, resina trocadora iônica

ABSTRACT - Water is a form of energy essential to life and the maintenance of ecosystems.
Due to the growing concern with specific microorganisms, the use of membrane separation
process becomes the treatment of choice for the production of drinking water. The filtration unit
comprises a pilot reactor with a capacity of 10 liters and a ceramic membrane, and monotubular
1 channel pore diameter of 0.20 micrometers. This study aimed to extend the technology
filtration membranes for water of inferior quality, evaluating the main parameters of drinking
water before and after treatment filtration with ceramic membrane microfiltration stuffed by ion
exchange resins. We tested four pressures from 1 to 3 bar. The system will be evaluated as a
function of permeate flow, turbidity, bacteria extract, color (actual and apparent), total coliform,
total suspended solids and total dissolved solids of which. The results obtained showed that the
crossflow microfiltration, presents itself as an effective alternative for the final treatment of
sewage. The quality of the final effluent makes it possible to reuse this type of wastewater, be it
in the agricultural, industrial or in the middle.
Keywords: ceramic membrane, water treatment, ion exchange resin

* Estudo da dissolução in vitro de fenóis totais a partir de grânulos do extrato de quebra-pedra (Phyllanthus niruri L.) recobertos em
leito de jorro; Estudo do efeito do recobrimento de grânulos do extrato de quebra-pedra em leito de jorro sobre a eficiência da
dissolução in vitro de flavonóides; Estudo da dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Estudos de recobrimento em leito de jorro
e dissolução in vitro de extratos fitoterápicos; Análise estatística dos efeitos das condições de granulação do extrato fitoterápico de
quebra-pedra (Phyllanthus niruni) sobre sua resistência mecânica em leito de jorro; Estudo da granulação por via úmida do extrato
fitoterápico de quebra-pedra (phyllanthus niruni); Evaluating the quality of treated wastewater for reuse by ceramic membrane
microfiltration with tangential flow.
1 Introdução

Microfiltração com membranas é um processo de relevância que vem atualmente


se destacando no vasto mercado da engenharia de processos. O processo requer o uso de
módulos filtrantes compostos por material cerâmico ou polimérico. Classifica-se como
Microfiltração a separação de partículas entre 0,01 – 0,2μm, que incluem contaminantes
microbiológicos como bactérias (VIDAL, 2001). Na indústria química o principal
processo de microfiltração é a purificação da água. Zemam & Zydney (1996) também
ressaltam o uso da Microfiltração com membranas para retenção microbiana nas áreas
de ciências biológicas, da saúde e alimentícias, pois há uma relação direta entre o
processo de Microfiltração com o objeto de estudos destas áreas, conhecidos por filtros
de líquidos esterilizados. Um filtro esterilizado é definido como um não libertador de
fibra que produzirá um efluente estéril quando contaminado com um microrganismo
específico em concentração mínima de 107 org/cm2 de área superficial da membrana. A
partir da filtração por membranas os regulamentos para a qualidade de água a partir de
aspectos químicos, físicos e biológico são mais bem alcançados. Possui elevada
estabilidade química, térmica e estrutural, maior resistência a produtos químicos
corrosivos e deterioração microbiana.
O presente trabalho teve por objetivo avaliar a eficiência da tecnologia de
filtração com membranas cerâmicas de Microfiltração para águas de qualidade inferior,
avaliando os principais parâmetros de potabilidade da água de um efluente bem como os
parâmetros físico-químicos, antes e após o tratamento com membrana, para fins de
reúso.

2 Fundamentação Teórica

2.1 Água

A água é uma forma de energia essencial à vida e à manutenção dos


ecossistemas. Em decorrência da crescente preocupação com microrganismos
específicos, a utilização do processo de separação por membrana passa a ser a opção de
tratamento para a produção de água potável.
A água torna-se um risco em potencial para a saúde da população quando nela
estiverem presentes agentes nocivos. Isto é, mesmo que visualmente ela não apresente
indicações de contaminação, não se pode assegurar sua qualidade física, química e
microbiológica.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde e Organização Panamericana
da Saúde (OMS/OPAS, 2001), cerca de um quarto dos 4,8 bilhões de pessoas dos países
em desenvolvimento continua sem acesso a fontes de água adequadas, enquanto metade
deste total não esta servida por serviços apropriados de saneamento.
A produção de água que atenda ao Padrão de Potabilidade requer, na maioria dos
casos, a filtração, pois somente nesta etapa e que são removidos, quase que em sua
totalidade, as partículas coloidais, suspensas e microrganismos em geral, de forma que a
desinfecção final seja efetiva (SPINELLI, 2001). O processo de filtração por membrana
cerâmica de microfiltração é uma técnica que vem ganhando importância no campo do
tratamento de esgotos, pois com o aumentando dos riscos de doenças de transmissão
hídrica com o transporte de microrganismos patogênicos pelas águas o processo se
mostra eficiente na remoção destes microrganismos. Os sistemas de tratamento de
esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível de redução de carga orgânica. No
entanto, somente tratamentos avançados levam a uma significativa redução
bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins mais nobres
(STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000).

2.2 Membrana Cerâmica de Microfiltração

O processo de microfiltração é uma técnica que vem ganhando uma maior


importância no campo do tratamento de esgotos. As membranas cerâmicas encontram
larga aplicação, principalmente em processos cujas temperaturas de trabalho são
superiores a 250 ºC, como também na separação de soluções em que o pH é
extremamente ácido, ou mesmo quando há solventes orgânicos no sistema. Em
contrapartida, as membranas cerâmicas apresentam a desvantagem de apresentar um
alto custo de fabricação, principalmente em relação às matérias-primas que são
geralmente sintéticas (zirconia, alumina, titânia e sílica). Atualmente, o principal foco
de preocupação no desenvolvimento destas membranas é otimizar os custos de
produção, encontrando matérias-primas naturais a preços mais competitivos, além de
processos de produção mais eficientes, como a extrusão. A produção de membranas por
extrusão permite sua utilização em processos de fluxo tangencial, possibilitando a sua
aplicação em microfiltração.
O reúso planejado de águas residuárias não é um conceito novo e já é praticado
há muitos anos (SCHNEIDER et al., 2001). Este comportamento deve ser cada vez mais
considerado, pois a recuperação da água reduz a demanda sobre os mananciais de água
bruta. Entre as alternativas existentes para viabilizar o reúso, o desenvolvimento das
técnicas de separação dos materiais por membranas ganha grande destaque. As técnicas
de separação por membranas apresentam as vantagens de serem operadas sem aditivos e
possibilitar separação seletiva de materiais (LAPOLLI, 1998; STEPHEENSON, 2000).
Um dos objetivos principais de utilizar a técnica de membranas é a separação de
substâncias de diferentes propriedades (tamanho, forma, difusibilidade, dentre outros).
Processo com membranas utiliza-se águas superficiais de boa qualidade, atualmente o
objetivo é estender para águas de qualidade inferior para a remoção de cor, sabor,
matéria orgânica dissolvida e produtos de desinfecção (GUIGUI et al., 2002). Segundo
Lemanski (2004), na filtração tangencial a solução de alimentação flui paralelamente à
membrana e ao fluxo de permeado, o que permite o escoamento de grandes volumes de
fluidos, pois esse tipo de escoamento, a altas velocidades, tem o efeito de arrastar os
sólidos que tendem a e acumular sobre a superfície da membrana.
Um mercado muito importante para membranas filtrantes em indústrias é a
produção de água de reúso a partir de esgoto bruto ou tratado. O esgotamento
progressivo das reservas de água potável e/ou os altos custos de mobilização de novos
mananciais, localizados a grandes distâncias dos centros consumidores, estão levando
muitas empresas de saneamento básico a considerar tecnologias de membranas filtrantes
para reciclar águas residuárias.

2.3 Esgotos Sanitários

Os esgotos domésticos e industriais contêm grande número de substâncias


contaminantes e que podem ser separadas em três categorias principais (ROQUES,
1980):
 As matérias dissolvidas, orgânicas ou minerais, biodegradáveis, ou não;
 As matérias coloidais e/ou emulsões (graxas, óleos solúveis, etc);
 As matérias em suspensão, orgânicas ou minerais.
Os teores desses diferentes tipos de contaminantes são extremamente variáveis
no tempo e dependem da origem dos esgotos. A determinação da natureza e da
quantidade de cada uma das substâncias presentes pode ser realizada, mas, na maioria
dos casos, aliada à longas e custosas análises. Desta forma, procura-se caracterizar os
esgotos através de testes tais como: DQO, DBO5, pH, temperatura, sólidos em
suspensão, entre outros.
As águas residuais contêm basicamente matéria orgânica e mineral em solução e
em suspensão, assim como alta quantidade de bactérias e outros organismos
patogênicos e não patogênicos.
O tratamento dos esgotos domésticos tem como objetivo, principalmente:
remover o material sólido; reduzir a demanda bioquímica de oxigênio; exterminar
micro-organismos patogênicos; reduzir as substâncias químicas indesejáveis.
Os sistemas de tratamento de esgoto sanitários, em geral, resultam em bom nível
de redução de carga orgânica. Tratamentos avançados levam a uma significativa
redução bacteriológica, e a remoção de contaminantes que permitem reúso para fins
mais nobres (STEPHEENSON, 2000; FANE et al., 2000).
A classificação da membrana de Microfiltração utilizada na área do saneamento
básico possui porosidade variando entre 0,1 μm – 0,2 μm e retém Protozoários,
bactérias, vírus (maioria), partículas.

2.4 Materiais das Membranas

Em função da aplicação a que se destina a membrana, estas podem apresentar


diversas texturas como:
a) textura física: densas ou porosas. Uma membrana densa se caracteriza pela ausência
de porosidade. Ela é fabricada a base de polímero de alta densidade e se apresenta sob a
forma de camadas finas de material cerâmico ou metálico. A transferência de moléculas
através da membrana se desenvolve segundo mecanismo de solução-difusão. Uma
membrana porosa deve possuir boa resistência mecânica, porem espessura fina que
permita vazão de permeação elevada (LAPOLLI, 1998).
b) textura de origem: natural ou artificial. As membranas sintéticas são produzidas a
partir de duas classes distintas de material: os polímeros orgânicos e as membranas de
material inorgânico. (RESEAU NOVELECT-INNOVATION ÉNERGÉTIQUE
ÉLECTRICITÉ, 1993).
A membrana Inorgânica tem como classe tradicional o material cerâmico.
Representam uma opção que permite aumentar limites de operação a temperaturas
elevadas (acima de 150ºC) e em meios quimicamente agressivos. São representantes
clássicos desta categoria a alumina, sílica, óxido de silício ou de alumínio, zircônio e
titânio. Sua importância maior reside no fato que permitem a fabricação de estruturas
microporosas bem variadas com um bom controle de distribuição de tamanho de poros,
caracterizadas por resistências térmicas e químicas elevadas e baixa plasticidade. As
membranas inorgânicas apresentam maior vida útil e permitem limpezas mais eficientes
em relação às orgânicas.
A Tabela 1 mostra uma comparação das propriedades das membranas
inorgânicas e orgânicas.
Tabela 1. Comparação das propriedades das membranas inorgânicas e orgânicas.

Propriedade Membrana inorgânica


Membrana orgânica

Aplicação MF,UF MF, UF, NF, RO


Acetato de Celulose <
Cerâmicas < 250°C 40°C
Resistência térmica Carvão/grafite < 180°C Polisulfona < 90°C
Aço < 400°C Aramida < 45°C
Poliacrolinitrila < 60°C
Polipropileno < 70°C
Maioria dos polímeros: 2-
Faixa de pH 12
0 - 14 Acetato de celulose:
4,5 < pH < 6,5
Média a ruim, necessitam
Resistência mecânica Boa
de suporte
Depende do polímero,
Tolerância a materiais tempo de contato e
oxidantes Boa concentração do oxidante
(a maioria dos polímeros
não resiste a ação de
oxidantes)
Fonte: CARDOT, 1999

As membranas de primeira geração eram membranas isotrópicas ou simétricas


com poros regulares, quase cilíndricos, que atravessavam toda a espessura da
membrana. Este tipo de membrana possuía varias limitações devido à pressão. São
pouco utilizadas em aplicações industriais, pois as perdas de carga são consideráveis.
Essas membranas são sensíveis aos ataques de microrganismos.
Dos principais inconvenientes são um fraco fluxo do permeado ligado às fortes
perdas de carga devido a grande espessura e de uma duração de vida relativamente
curta, devido a sua sensibilidade à hidrólise e aos ataques bacterianos (LACOSTE,
1992).
As membranas assimétricas ou anisotrópicas da segunda geração são
caracterizadas por um gradiente de porosidade interno onde uma fina película fica
situada sobre uma superfície mais grossa. Estas membranas são constituídas geralmente
de um único tipo de polímero. Apresentam boas propriedades mecânicas e
proporcionam um melhor fluxo de permeado, resistem bem aos ataques químicos e
bacterianos, não suportando, porém, altas temperaturas e valores extremos de pH. A
Figura 1 apresenta as morfologias mais comuns observadas em membranas.

Figura 1. Representação esquemática da morfologia das membranas (HABERT et al.,


1997).

Segundo Malack et al. (1996), a eficiência da filtração tangencial varia em


função dos parâmetros operacionais do sistema como são:
i. Velocidade tangencial;
ii. Pressão transmembrana;
iii. Temperatura;
iv. Tamanho do poro da membrana e
v. Características do liquido permeado.

2.5 Filtração Tangencial

Na filtração tangencial, também conhecida como "crossflow filtration", o fluxo


do permeado circula em sentido perpendicular enquanto o fluxo de circulação do
sistema permanece em sentido paralelo conforme mostra a Figura 2.
Figura 2. Esquema ilustrativo da filtração convencional e filtração tangencial
(HABERT et al., 1997).

Este fenômeno é possível devido ao um sistema de pressão que é aplicado ao


sistema, dividindo assim o fluxo no permeado e no recirculado.

2.6 Colmatação
O declínio no fluxo do permeado, o qual acontece devido à perda de
permeabilidade da membrana, tem sido foco de vários estudos.
O declino do fluxo do permeado é a maior limitação da microfiltração tangencial
nos sistemas de tratamento de águas residuais. Este fenômeno é atribuído à colmatação,
que é o fenômeno de deposição de solutos nos poros da membrana que causam uma
obstrução progressiva que reduz sua capacidade de filtração. Isto ocorre também na
filtração tangencial, porém, a uma menor escala do que na filtração convencional. A
intensidade da colmatação depende de diversos fatores como as características do
liquido filtrado, assim como das propriedades da membrana utilizada.

2.7 Permeabilidade

O material que atravessa a membrana pode ser medido pela sua permeabilidade.
O mecanismo de transporte é o do fluxo capilar convectivo, em que cada poro é
assimilado a um capilar e a soma de todos os escoamentos fornece o fluxo total
(DUCLERT, 1989).
A permeabilidade à água permite avaliar a porosidade superficial e da
subestrutura da membrana, fornecendo informações sobre as propriedades hidrofílicas-
hidrofóbicas, portanto, sendo fundamental para sua caracterização.
Não se encontra membranas com diâmetros de poros único, e sim, com uma
certa distribuição em torno de um diâmetro médio. O material que atravessa a
membrana é quantificado pela sua permeabilidade. O mecanismo de transporte é o do
fluxo capilar convectivo, em que cada poro é assimilado a um capilar e a soma de todos
os escoamentos fornece o fluxo total (DUCLERT, 1989). Para o caso de soluções que
apresentam diferentes tipos de macromoléculas e de massas moleculares variadas e
partículas em suspensão, devem-se levar em consideração as diversas resistências ao
fluxo do permeado. Dessa forma, tem-se:
J = P - / .(Rm+Rp+Rg+Rc) (1)
Em que:
J = fluxo do permeado (L/m2.s)
P = pressão aplicada (Pa)
 = pressão osmótica (Pa)
 = viscosidade da solução (Pa.s)
Rm = resistência da membrana (m-1)
Rp = resistência da zona de polarização (m-1)
Rg = resistência da camada de gel (m-1)
Rc = resistência devido à colmatação (m-1)
O fluxo do permeado, normalmente, no início da operação diminui rapidamente
até um valor determinado, ocasionado pela formação da camada crítica nas
proximidades da parede da membrana. Observa-se, ainda, mesmo com a circulação
tangencial, uma continuidade na redução do fluxo do permeado. Sua intensidade
depende das características da suspensão à filtrar, e também, das propriedades físicas
(tamanho dos poros, distribuição do tamanho dos poros, etc), e químicas (natureza) da
membrana porosa utilizada.
Diferentes hipóteses foram estabelecidas para justificar o fenômeno da
colmatação em membranas, cuja origem, de acordo com VISVANATHAN et al in
WISNIEWSKI (1996) é devido : a) acumulação de partículas sobre a membrana
formando uma camada de polarização por concentração e/ou uma camada de gel, cujas
propriedades podem evoluir ao longo da operação ; b) uma colmatagem por
bloqueamento dos poros ou adsorção de partículas na superfície externa ou no interior
dos poros da membrana, dificultando a passagem do permeado.
2.8 Vazão do Filtrado

A vazão no filtrado é calculada como mostrado a seguir:

Q( L )  Vol ( L) / t (h) (2)


h
QF (L / m2 .h)  Q(L / h) / AF (3)
Onde:
QF = Vazão de Filtrado (L/m2.h)

2.9 Condições de Operação (Petrus, 1997)

As condições de operação de uma membrana são muito importantes, tanto pelo


aspecto de amenizar os efeitos da colmatação, quanto pelo aspecto econômico. O
consumo de energia aumenta à medida que aumenta a pressão, a velocidade de
circulação e a temperatura.
De acordo com Persson, Gekas & Trägardh (1995), para altas pressões a
membrana e a camada de gel, normalmente, são compactadas e, também, ocorre uma
alteração na seletividade do sistema, de tal modo que a colmatação pode ser
intensificada.
Petrus (1997), concluiu que além de um certo limite, que é específico para cada
processo, o aumento da pressão pode não mais corresponder a um aumento de fluxo e,
até mesmo reduzi-lo, com conseqüências adversas para a integridade da membrana.
Normalmente, para os processos de microfiltração são utilizadas pressões entre
0,5 a 3,0 kgf/cm2.

3 Material e Método

O sistema compreende um reator com capacidade de 10 litros e uma membrana


cerâmica monotubular que deve ser preenchida, posteriormente ao tratamento da água
com Escherichia coli, com resina trocadora iônica, diâmetro de poro de 0,20μm, bomba
de alta pressão de 1/2hp com um suporte de PVC que mantém a membrana cerâmica no
seu interior, válvulas e manômetros na entrada e saída do concentrado e permeado, onde
será analisado a porcentagem de água do Boqueirão - PB que o sistema híbrido
consegue recuperar, avaliando o desempenho da membrana. Serão realizadas diferentes
bateladas à temperatura ambiente sob circulação tipo looping por duas horas para
diferentes gradientes de pressão (1,0kgf/cm2 ≤ ΔΡ ≤ 3,0kgf/cm2). Foram coletadas
amostras de águas do permeado e concentrado em intervalos de 5 minutos visando obter
as vazões em função do peso das amostras. Com os valores das vazões do concentrado e
do permeado calculou-se a recuperação do sistema.
A membrana utilizada foi a do tipo cerâmica composta de Argila Plástica e
Alumina (α-Al2O3) de forma tubular, monocanal com área filtrante de 0,005 m2 e de
porosidade média 0,2 µm. A representação esquemática do sistema para medida de
fluxo tangencial de membrana tubular pode ser representada na Figura 3.

Figura 3. Representação esquemática

Caracterização das Membranas

As membranas cerâmicas foram caracterizadas por ensaios de microscopia


eletrônica de varredura, porosimetria pelo método de intrusão de mercúrio e
permeabilidade por meio de fluxo tangencial.
Foram realizados ensaios de caracterização da membrana, sob pressão de 1, 2 e 3
bar. O tanque de alimentação foi alimentado com água deionizada para este processo de
filtração, coletando-se o permeado em Becker com seus respectivos intervalos em
tempos pré-determinados. A temperatura do tanque de alimentação foi controlada e
mantida a (27 ± 1) °C.
As amostras de permeado foram coletadas de cinco em cinco minutos em um
intervalo de tempo de duas horas para uma boa determinação da curva de fluxo de
permeado em função do tempo. Entre cada processo de filtração a membrana foi
trocada.
Para a análise bacteriológica será utilizada água contaminada com Escherichia
coli e não receberá nenhum tratamento prévio. O mesmo procedimento feito na
caracterização com água deionizada será feito no ensaio de filtração da água bruta.
Serão feitas análises bacteriológicas e físico-químicas, realizadas segundo
procedimento recomendado pelo Standard Methods (APHA, 1995).

4 Resultados e Discussão

Análises iniciais foram realizadas com água deionizada nas pressões de 1 a 3 bar
sob a temperatura de (27 ± 1) °C, sendo a densidade da água a essa temperatura, ρH2O
27ºC = 0,99654 kg/L e área do filtrante de 0,006 m2.
As bateladas foram realizadas em um intervalo de tempo de 2 horas e as coletas
realizadas a cada 5 minutos.
Na Tabela 2 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado em pontos
alternados de 25 em 25 minutos para uma pressão de entrada de 1 bar.
Tabela 2. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 1 bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 6,9 1194,9
30 6,2 1074,5
55 5,3 914,3
80 5,1 886,5
105 4,4 766,3
120 4,0 701,9
Média 5,4 939,5

A Figuras 4 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o


fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 1 bar.

Figura 4. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a


1 bar.
A média da vazão mássica transmembrana, à 1 bar, ficou acima daquelas
encontradas nas pressões de 2 e 3 bar.
As Tabelas de 2 a 4 apresentam os resultados das vazões transmembrana em
função do tempo para 120 minutos de processo.
A Figura 4 mostra valores de fluxo transmembrana mais estáveis, o que indica a
estabilização da camada de polarização, enquanto que na Figura 6, na maior pressão
transmembrana (3 bar), a vazão transmembrana sofre uma redução significativa a partir
do início do processo, estabilizando decorrido aproximadamente 80 minutos.
Na Tabela 3 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma
pressão de entrada de 2 bar.
Tabela 3. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 2 bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 8,6 1461,7
30 2,9 497,1
55 1,3 213,5
80 0,9 151,4
105 0,7 115,6
120 0,6 107,4
Média 2,0 344,9

A Figuras 5 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o


fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 2 bar.

Figura 5. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a


2 bar.
Nas Figuras 4 e 5, nas pressões de 1 e 2 bar, observa que o comportamento do
fluxo transmembrana manteve-se decrescente desde o início do experimento e com
valores de fluxo transmembrana médio variando entre 300 e 900 L/h.m2.
Na Tabela 4 encontram-se os dados de vazão e fluxo do permeado para uma
pressão de entrada de 3 bar.
Tabela 4. Vazão e Fluxo médios do permeado para uma pressão de entrada 3
bar.
t (minutos) Q (L/h) Fluxo (L/h.m²)
5 12,7 2169,6
30 9,7 1656,6
55 7,2 1218,7
80 5,3 910,2
105 3,6 616,6
120 3,1 519,5
Média 2,6 437,1

A Figuras 6 mostra a curva de caracterização da membrana cerâmica com o


fluxo do permeado pelo tempo na pressão de entrada de 3 bar.

Figura 6. Comportamento do Fluxo de Permeado pelo Tempo no Ensaio de Filtração a


3 bar.

Observa-se na Figura 6 que à maior pressão transmembrana (3 bar), a vazão


sofre uma redução significativa a partir do início do processo, e na maioria dos casos
mantendo os valores de Fluxo acima dos processos a 1 e 2 bar. As variações de Fluxo
ao longo do processo são atribuídas a não estabilização da camada de polarização.
O fluxo transmembrana à 3 bar reduziu significativamente até aproximadamente
60 minutos. Depois apresenta valores de fluxo transmembrana estáveis, o que significa
estabilização da camada de polarização.

5 Conclusões

Até o presente momento, baseado nos resultados obtidos, as bateladas iniciais


feitas com água deionizada em todos os ensaios de filtração realizados, para as pressões
de 1 a 3 bar, pode-se observar que a melhor vazão e fluxo de permeado é para a menor
pressão, 1 bar, obtendo um menor efeito da colmatação confirmando que esse fenômeno
ocorre em maior escala quanto maior a pressão. O tratamento mostrou-se de maneira
satisfatória, sendo de interesse econômico e qualitativo. O procedimento seguinte será a
caracterização da água residuária para avaliar sua qualidade após a filtração por
membrana cerâmica de microfiltração com o objetivo de obter água própria para o
consumo humano livre de todos os microrganismos e impurezas.

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Avaliação da vulnerabilidade familiar dos moradores do bairro de Mangabeira
na cidade de João Pessoa-PB

Mônica Maria Souto Maior1 Gesinaldo Ataíde Cândido**

Resumo

Este artigo trata de um estudo sobre a vulnerabilidade familiar, buscando estabelecer o índice de
risco que as famílias estão expostas em decorrência de sua situação socioeconômica, adaptando o
modelo IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar - que foi utilizado por Frei (2007) no município
de Assis no Estado de São Paulo, para o bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa. Para seu
desenvolvimento foi utilizada uma pesquisa bibliográfica sobre vulnerabilidade social e familiar,
seguido de um levantamento de dados para compor os indicadores no censo do IBGE (2010), nos
estudos feitos por Sposati (2010) - Topografia social da cidade de João Pessoa -, no Fórum do
Bairro de Mangabeira e dados originados da Secretaria de Desenvolvimento Humano de João
Pessoa. Obtendo como resultado que o bairro de mangabeira apresenta um índice baixo de
vulnerabilidade familiar (0,23), mas estar numa situação considerada crítica nas dimensões de
desenvolvimento infantil, educação e risco familiar, porque apresenta alguns indicadores com uma
percentagem acima de 25% e outros mais preocupantes acima de 50%, indicando a possibilidade de
um alto risco de desagregação familiar.

Palavras chave: Índice, indicadores, vulnerabilidade familiar.

Abstract
This article deals with a study on household vulnerability, seeking to establish the risk index that families are
exposed due to their socioeconomic status, adapting the model IVF - Vulnerability Index Family - which was
used by Frei (2007) in the municipality of Assis in São Paulo, for the mangabeira neighborhood in the city of
João Pessoa. For development we used a literature search on social vulnerability and family, followed by a
survey of data for the indicators composing the IBGE census (2010), in studies by Sposati (2010) - social
topography of the city of João Pessoa - Forum Neighborhood Mangabeira and data originating from the
Department of Human Development João Pessoa. The result being that the mangabeira neighborhood has a
low rate of household vulnerability (0.23), but being in a situation deemed critical dimensions of child
development, education and family risk, because it presents some indicators with a percentage above 25%
and more concern over 50%, indicating the possibility of a high risk of breakdown family.

Keywords: Index, indicators, household vulnerability

1 Possui graduação em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal da Paraíba (1989), mestrado em Engenharia de Produção
pela Universidade Federal da Paraíba (2002), atualmente está fazendo doutorado no Programa de Pós-graduação em Recursos
Naturais na Universidade Federal de Campina Grande. Em 1995 ingressou no Instituto Federal de Educação Ciência e Tecnologia da
Paraíba, onde permanece até o momento. Na área acadêmica tem lecionado e desenvolvido pesquisas em Arquitetura e urbanismo,
Engenharia de Produção e Recursos Naturais. Possui diversos artigos publicados em eventos nacionais e internacionais. E-mail:
mmsmaior@hotmail.com

* Professor Titular em Administração Geral da UFCG, Doutorado em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa
Catarina (2001), Mestrado em Administração pela Universidade Federal da Paraíba (1995. Professor permanente junto ao Programa
de Pós-graduação em Recursos Naturais da UFCG e professor permanente junto ao programa de pós-graduação em Engenharia de
Produção da UFPB. Líder do GEGIT (Grupo de Estudos em Gestão, Inovação e Tecnologia), cadastrado no diretório de grupos de
pesquisa do CNPq. É autor de vários artigos publicados em periódicos e apresentados em eventos. E-mail: gacandido@uol.com.br
1. INTRODUÇÃO
A exclusão social urbana estabelece uma relação de causa e efeito na estruturação das
famílias devido à instabilidade gerada pela negação dos direitos básicos que fornecem a qualidade
de vida humana, tais como: renda, educação, saúde, alimentação, água e moradia.
A estruturação familiar está associada a estes fatores porque, a negação desses direitos
muitas vezes gera em seu seio uma dinâmica de conflito que pode levar a desagregação familiar.
Assim observa-se que como todo organismo dinâmico, a família, sofre, ao longo do tempo,
influências dos fatores ambientais, socioeconômicos e culturais na qual se insere, acarretando
algumas vezes alterações no seu padrão tradicional de organização – pai, mãe e filhos –
modificando as ligações consangüíneas, cedendo lugar a novas articulações, tornando a família uma
construção mutável, permanecendo apenas aquilo, que segundo Amaral (2001), se chama
“sentimento familiar”.
Segundo Petrini (2003) A família encontra novas formas de estruturação que, de alguma
maneira, as reconstituem, sendo reconhecida como estrutura básica permanente da experiência
humana. No entanto, a articulação familiar, seja ela qual for, se caracteriza como grupo básico da
sociedade e tem como finalidade a proteção e a propagação da cultura, propiciando aportes afetivos
e materiais, necessários ao desenvolvimento e bem estar dos seus integrantes.
A família se caracteriza pela convivência entre seus membros implicando compartilhamento
do modo de vida no meio físico chamado de casa ou lar, no entanto, para a família pobre, segundo
Gomes (2005), marcada pela privação, a casa representa um espaço de instabilidade, de
esgarçamento de laços afetivos e da solidariedade, gerando conflitos que podem ter como
conseqüências sua desestruturação. A perda ou rompimento dos vínculos produz sofrimento e leva o
individuo a descrença de si mesmo, tornando-o frágil e com baixa auto-estima.
A família pobre brasileira, de um modo geral, está segregada em bairros periféricos, longe
dos centros urbanos, ou em favelas e invasões próximas a esses centros, no entanto, em ambos os
casos, sem um mínimo de condições mínimas de vida digna, pois além da falta da estrutura urbana
– escolas, trabalho, hospitais, transporte e lazer- ainda lhes faltam renda básica para sua manutenção
diária. Apesar do desenvolvimento econômico brasileiro, as desigualdades na distribuição de renda
e de direitos fundamentais ainda são gritantes, excluindo parte significativa da população ao acesso
as condições mínimas de vida, propiciando a uma vulnerabilidade familiar.
Segundo Masten & Garmezy (1985), a vulnerabilidade refere-se a uma predisposição a
apresentar resultados negativos ao desenvolvimento. Desta forma, o estudo de vulnerabilidade
familiar vem sendo desenvolvido ao longo destas duas últimas décadas para aprofundar as
consequências dos riscos para as famílias e para a sociedade.
As metodologias criadas partiram de estudos do desenvolvimento humano e social – IDH
(Índice de Desenvolvimento Humano), ICV (Índice de Condições de Vida) e IDHM (Índice de
Desenvolvimento Humano Municipal) – estes estudos geraram necessidades de aprimoramento,
fazendo surgir outros métodos de cunho mais significativos, concebidos não só como mecanismo de
conhecimento da vida, mas como ferramenta de transformação social, baseado nos direitos
constitucionais brasileiros. Podendo ser citados os seguintes autores: Barros et all (2003)-
desenvolveu o Índice de Desenvolvimento Familiar (IDF) -, Frei (2007) – que adaptou o Índice de
Vulnerabilidade Familiar (IVF) a partir do IDF, e Martins et all (2010) - que desenvolveu o Sistema
de Indicadores de Vulnerabilidade Familiar (SIVF).
As metodologias que estudam a vulnerabilidade familiar precisam estar atreladas a outros
tipos de vulnerabilidades que de uma forma indireta afeta a estrutura harmônica da família, tais
como: a econômica e a ambiental. Porque na contextualização familiar, a falta de percepção aos
riscos envolve uma incapacidade de se precaver aos danos. Assim a busca por indicadores devem
vir de fontes seguras e confiáveis, para que se possa construir um índice da vulnerabilidade familiar
correlacionado com essas outras dimensões.
A pesquisa de campo muitas vezes não consegue resultados satisfatórios, devido à limitação
temporal e espacial a qual está submetida, não conseguindo abarcar uma amostra populacional
representativa. Assim deve-se recorrer a dados secundários provindos de órgãos conceituados e
confiáveis.
A mensuração da vulnerabilidade familiar é de grande importância para a construção de
políticas públicas, porque trabalha com variáveis sociais que espelham a associação das condições
de vida com as doenças sociais, ocasionadas pelas inadequações de vida digna familiar. As
metodologias estão em fase de desenvolvimento e teste devido a sua recente criação, e precisam
ainda de muitas adaptações para ter um resultado representativo da vulnerabilidade familiar
brasileira, até agora os estudos desenvolvidos abarcam pontualmente alguns focos, que devem ser
expandidos para se ter um quadro mais abrangente de indicadores. Outro ponto critico, é que as
variáveis são de difícil tratamento, porque envolvem mensurações diferentes que não se encontram
padronizadas numa mesma medida, porém o estudo da vulnerabilidade familiar é de grande
importância e deve considerar as especificidades do local estudado, incluindo não só os fatores
sociais, mas outras dimensões, que para o contexto estudado, tem influência na desagregação das
famílias. Apresentar um índice de vulnerabilidade é de grande importância, porque identifica e
localiza as pessoas com maiores necessidades a fim de criar programas para incluí-las novamente na
sociedade.
Decorrendo desta visão, o bairro de mangabeira foi escolhido por apresentar alguns fatores
que o diferencia dos outros bairros pobres da cidade de João Pessoa. Este bairro apesar de ser
considerado o maior bairro do município, com proporções de cidades – tanto em população quanto
em dimensão – apresenta especificidades de bairro periférico que ainda atrapalham o
desenvolvimento das famílias – grande concentração de pobreza, violência elevada e falta de
equipamentos urbanos que atendam a totalidade da população residente. Alguns serviços urbanos
oferecidos ao bairro não considera o volume populacional que o utiliza. No entanto, sinaliza para
melhoria das condições sociais, numa perspectiva de geração de emprego, devido ao afloramento e
expansão do comércio, para atender não só a sua população, mas também as dos bairros vizinhos,
inclusive condomínios horizontais fechados voltados para a classe social média alta.
Assim este estudo busca responder quais os fatores que mais influenciam a vulnerabilidade
familiar em nível de microlocalização urbana, buscando identificar o risco de desagregação familiar
do bairro de mangabeira na cidade de João Pessoa-PB, partindo do índice de vulnerabilidade
familiar, através de indicadores da exclusão socioambientais estudados por Sposati (2010), IBGE
(2010) e Instituições públicas estabelecendo correlações entre a exclusão social e vulnerabilidade
familiar, a partir das quantificações de violência contra a mulher, gravidez de jovens, homicídios de
jovens e divórcios litigiosos.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Vulnerabilidade social X Vulnerabilidade familiar


Kaztman (1999) define vulnerabilidade social como a incapacidade de uma pessoa ou lugar,
para aproveitar as oportunidades disponíveis em distintos âmbitos socioeconômicos, para melhorar
sua situação de bem estar ou impedir sua deterioração.
Os índices de pobreza quantificam o grau da exclusão que fatores socioeconômicos impõem
em um determinado lugar a alguns grupos. Uma das formas de mensuração dessa exclusão é
baseada na satisfação das necessidades básicas que geram bem estar e que estão associadas aos
ativos pessoais e do amparo Institucional dos cidadãos pelo Estado. Segundo estudos do Ministério
do Trabalho e Emprego, (Brasil, 1997) o termo exclusão social que teve sua origem na França
durante as duas últimas décadas do século XX, deve abarcar situações mais extensas do que os
problemas gerados no mercado de trabalho. A estrutura de oportunidades não é linear para os
diferentes grupos sociais, a segregação de gênero, raça e condições financeiras aumentam a
discrepância de oportunidade para uma vida mais digna.
Pode-se constatar que os processos de exclusão social nas cidades têm gerado um aumento
constante e infindável de violência urbana e de degradação social. A família como célula base da
sociedade se torna expostas ao risco, porque as perspectivas de melhorias socioeconômicas se
tornam, a cada dia, mais intangíveis. Assim pode-se relacionar a vulnerabilidade familiar aos planos
econômicos capitalistas, que deixam os pobres ainda mais pobres, e os ricos cada vez mais ricos.
Neste contexto vulnerabilidade e risco social são sinônimos de pobreza, porém, um é conseqüência
do outro, uma vez que a vulnerabilidade é que coloca as pessoas em um risco social. Segundo
Moser (1998), vulnerabilidade é uma situação que precisa de pelo menos três componentes: 1)
exposição ao risco; 2) incapacidade de reação e 3) dificuldade de adaptação diante da
materialização do risco.
Diante do exposto existe dentro deste grupo social ligado a pobreza, um subgrupo que está
mais vulnerável, ligado a questão de gênero, que é a mulher, onde as relações desiguais de poder e
de prestigio são facilmente identificáveis.
Com a transformação da família ocorreu nos últimos tempos um crescimento da participação
da mulher como pessoa de referência da família, e muitas vezes como única provedora na base do
domicílio, a qual vem acumulando as funções de cuidado com os filhos, casa e trabalho, gerando
um risco de sobrecarga psicológica. No caso da mulher como única provedora, existe uma forte
tendência para a inserção de crianças em atividades remuneráveis, afastando-os das escolas, para
suprir a ausência da renda masculina e a desigualdade de remuneração existente entre gêneros no
mercado de trabalho brasileiro.
Outro aspecto a ser considerado é a mudança no comportamento reprodutivo das mulheres
que, cada vez mais, estão se tornando mães mais cedo. A gravidez precoce é muitas vezes
indesejada, seja por inexperiência, falta de informação, negligência da família ou por violência
sexual, obrigando a evasão escolar e a inserção precoce no mercado de trabalho, principalmente em
subempregos.
Nas diversas faces da pobreza, a fome se apresenta como um aspecto perverso, apesar da
alta produtividade de alimentos no país. O que se conclui que existe uma desigualdade de acesso
aos alimentos ou a seus meios de produção, e que não se pode ter harmonia e paz familiar quando se
tem fome ou quando se vê filhos chorando com fome sem ter os meios de suprir tais necessidades.
Na estrutura social encontrada hoje é esperado que as pessoas convivam com uma grande
variedade de riscos diferentes e contraditórios, pois instituições como a família não tem condições
de fornecer apoio contra tais ameaças, (BECK, 1997). Mesmo considerando os riscos como sendo
individuais – desemprego, trabalho precário e a própria dissolução conjugal - eles tem uma
conseqüência coletiva afetando todo o grupo familiar. Autores como Moser (1998), Vignoli (2000),
Camarano e Gahouri (1999), discutem a possibilidade de uma ciência multidisciplinar da
vulnerabilidade que possa abarcar diferentes formas de risco que a sociedade está exposta, onde as
conexões entre elas formam uma malha de causa e efeito uma sobre a outra, defendendo que não se
pode mais analisar a vulnerabilidade sobre um aspecto somente.
Segundo Dechamps (2009, p 11):

Em nível de famílias, a vulnerabilidade está vinculada à capacidade de


resposta e ajustes frente às condições adversas do meio, ou seja, a
capacidade que as famílias têm de mobilizar ativos, escassos ou não, para
enfrentar as adversidades. As famílias ou pessoas com pouco capital
humano, com ativos produtivos escassos, pouco acesso à informação e às
habilidades sociais básicas, com falta de relações pessoais e com pouca
capacidade para manejar seus recursos, estão em condições de
vulnerabilidade diante de qualquer mudança ocorrida em seu entorno
imediato.

Considerando o aspecto da vulnerabilidade familiar Therborn (2006) endossa a teoria de


Weber – da racionalidade em relação a valores - de que os interesses não econômicos como
sentimentos e afetos são de fundamental importância na definição de objetivos e na condução da
ação de enfrentar determinado risco e resolvê-lo, porque cria laços de união e objetivos comuns na
família. Por outro lado, a supervalorização de sentimentos em relação a racionalidade pode gerar
novos riscos, citando como exemplo, o evasão do trabalho feminino para cuidar dos filhos
pequenos, que gera dependência feminina ao marido provedor, diminuição da renda familiar e
consequentemente, a entrada tardia dos filhos em ambientes educacionais.
O encadeamento de ações e reações, no seio familiar, é complexo constatando-se que alguns
membros terão mais direitos e outras mais obrigações e nesta distribuição está contida a
determinação do poder de uns sobre os outros, gerando relações contraditórias de interdependência
com uma imensa carga conflitiva, nas quais, ao mesmo tempo em que oferecem proteção e
cuidados, são potencialmente violentas. (THERBORN, 2006). Pondo em risco a unidade familiar.

2.2 Índice de Vulnerabilidade Familiar - IVF


A elaboração de índice que possam retratar as condições socioeconômicas começou a ter
importância no Brasil nas décadas de 1990 a 2000 se destacando o Índice de Qualidade de Vida
Urbana (Nahas, 1995), Índice de Exclusão ̸ Inclusão Social (Sposati, 1996), Índice de
Desenvolvimento Familiar (Barros et all, 2003) e Índice de Vulnerabilidade Familiar (Frei 2007).
O IVF – Índice de Vulnerabilidade Familiar – foi desenvolvido por Frei (2007), que adaptou
o IDF (Índice de Desenvolvimento Familiar) de Barros (2003), modificando-o e ampliando o rol de
indicadores.
O Estudo de Barros (2003) busca aprimorar o IDH – Índice de Desenvolvimento Humano –
calculando no nível local, ao invés de global, o desenvolvimento de cada família, incluindo a
segregação por grupo demográfico tais como negro e mulheres chefe de família. Ele é composto por
seis dimensões: 1) ausência de vulnerabilidade; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho;
4) disponibilidade de recursos; 5) desenvolvimento infantil; 6) condições habitacionais. Cada
dimensão representa os meios necessários para a satisfação das necessidades efetivas. Utiliza vinte e
seis componentes, e quarenta e oito indicadores que são trabalhados através de perguntas, e
respondidos em forma de “sim ou não”, cada “sim” é computado como algo positivo e aumenta a
posição da família em direção a um maior nível de desenvolvimento humano.
No caso do IVF, Frei (2003) trabalhou adaptando as informações aos dados que poderiam
ser obtidos através de pesquisa de campo, adaptando as dimensões e os indicadores de modo a
analisar a vulnerabilidade ao invés do desenvolvimento. Assim trabalhou com sete dimensões: 1)
risco familiar; 2) acesso ao conhecimento; 3) acesso ao trabalho; 4) desenvolvimento infantil; 5)
carência habitacional; 6) condições de saúde; 7) recursos; e vinte e cinco indicadores, ao invés de
quarenta e oito, representativos das carências familiares abrangentes, que vão afetar de forma
indireta as condições das famílias da localidade estudada.
O Índice de Vulnerabilidade Familiar buscou estudar o reflexo da violência através das
desvantagens socioeconômicas e sua consequência na estrutura familiar, vista como um dos
sistemas sociais que estabelece padrões morais e de conduta. Um ponto positivo apresentado neste
método é o seu poder discriminatório, onde é possível identificar quais as dimensões que são mais
afetadas, o que permite aos gestores públicos uma atenção mais eficaz.
O IVF é um método simples e flexível que permite alterações, na inserção ou exclusão de
indicadores de forma que se adaptem melhor ao foco da pesquisa, no entanto, exige um escopo
técnico grande para aplicação da metodologia em campo, no caso de Frei (2007), foi de 60
monitores para aplicação dos questionários em 3 semanas.
Segundo Frei (2007, p. 124):

A metodologia necessita de ser revista em alguns pontos, entre eles se


destaca a ponderação para determinadas dimensões ou indicadores. A
criação de pesos pode ser efetuada através de metodologias estatísticas ou
de forma mais subjetiva, mas não menos importante, por consenso entre
especialista e sociedade. Fica evidente que a sensibilidade do IVF pode ser
ampliada levando-se em consideração o número de eventos em cada
indicador.

As limitações detectadas pelo autor não diminui a importância e a seriedade da metodologia


proposta, como o estudo da vulnerabilidade familiar está em fase de desenvolvimento, necessita de
várias aplicações para obter um feed-back, e assim, se conseguir aperfeiçoar não só este método,
mas vários outros empregados para esse tipo de estudo.

3. METODOLOGIA

3.1 Bairro de Mangabeira


Mangabeira localiza-se na região sul da cidade de João Pessoa (Coordenadas: 07° 10' S, 34°
50' O), foi fundado com o nome de conjunto habitacional Tarcísio de Miranda Burity em 23 de abril
de 1983 e foi construído para barrar conflitos sociais ligados aos movimentos populares pela
moradia. LAVIERI (1999).
É o bairro mais populoso da cidade, com cerca de 70 mil habitantes, tendo uma população
equivalente a um município. (IBGE 2010). O nome Mangabeira nasceu da fazenda que existia no
local, onde havia uma plantação da fruta.
O bairro é subdividido em oito partes, numeradas do I (um) ao VIII (oito). Ocupa uma área
de 1.079 hectares e os números conferem ao bairro grande importância política e econômica. É um
bairro vocacionalmente comercial para as classes médias B e C, ficando atrás apenas do centro da
cidade em quantidade de comércio e serviços. Possui distribuído em seus limites: duas creches, sete
escolas, um hospital e vinte e sete Postos de Saúde Familiar – PSF.

3.2 Levantamento e coleta de dados


Os indicadores selecionados foram coletados no levantamento estatístico do IBGE (2010),
Sposati (2010), órgãos da Prefeitura de João Pessoa – Secretaria do Desenvolvimento Social e
Secretaria da Mulher –, e Fórum Civil do Bairro de Mangabeira.

3.3 Indicadores Selecionados


O modelo adotado nesta pesquisa foi baseado no estudo desenvolvido por Frei (2007), que
utilizou para a cidade de Assis – SP, sete grandes áreas temáticas e 25 indicadores. Para este estudo
foram feitas algumas inclusões e ̸ ou exclusões de áreas temáticas, como também de indicadores –
havendo a exclusão da área temática da saúde, usada por Frei (2007) e incluindo a área temática da
degradação familiar - e 28 indicadores para uma melhor adaptação aos dados encontrados, tanto do
ponto de vista temporal, quanto territorial. Os indicadores trabalhados representam carências
familiares abrangentes, igual ao trabalho de referência.
Grande Área de Risco Familiar - Esta área indica a necessidade de recursos adicionais para
famílias vulneráveis em relação a uma família padrão, porque as quantidades de gestantes,
crianças, idosos e adolescentes aumentam o volume de recursos necessários para a satisfação
de suas necessidades básicas.

1. Indicadores de Risco Familiar


a. Presença de crianças (idade de 0 – 4 anos)
b. Presença de adolescente (idade de 5 – 14 anos)
c. Presença de adolescentes (idade de 15 – 19 anos)
d. Presença de idosos (60 anos ou mais)
e. Presença de mulher chefe de família
f. Presença de adolescente grávida
g. Presença de portadores de deficiência física

Grande Área de Acesso ao Conhecimento – Indica a baixa ou nenhuma escolaridade a qual


os componentes adultos responsáveis pela renda familiar estão vulneráveis por não terem um
nível de escolaridade que lhes dê oportunidade de trabalho, nas relações comunitárias e
compreensão de seus direitos.

2. Indicadores de Acesso ao Conhecimento


a. Chefe de família analfabeto
b. Presença de adulto analfabeto
c. Presença de adulto com 1° grau incompleto

Grande Área de Acesso a Trabalho – Indica a capacidade produtiva familiar e de


suprimento das necessidades básicas de vida, como renda e salário remunerado.

3. Indicadores de Acesso ao Trabalho


a. Presença de desempregados
b. Presença de ocupados no setor informal
̸ SM
c. Presença de famílias com renda per capita inferior a 14
̸ SM
d. Presença de famílias com renda per capita inferior a 12

Grande Área de Desenvolvimento Infantil – Indica o desenvolvimento infantil. O acesso a


educação como caminho de evitar o ingresso de Jovens a drogas, violência e reprodução em
idade infantil.

4. Indicadores de Desenvolvimento Infantil


a. Presença de crianças de 0 a 4 anos fora da creche
b. Presença de pessoas de 4 a 14 anos fora da escola
c. Presença de pessoa de 14 a 17 anos fora da escola

Grande Área de Carência Habitacional – Indica a carência na dimensão de condições de


vida em família, pouco espaço, falta de abastecimento de água tratada, falta de saneamento
básico e coleta de lixo, fatores que podem trazer precariedade da saúde dos moradores.
5. Indicadores de Carência Habitacional
a. Densidade domiciliar média
b. Domicílios não próprios
c. Domicílios não conectados com a rede de água
d. Domicílios com esgoto inadequado
e. Domicílios sem banheiro
f. Domicílios sem coleta de lixo

Grande Área de Degradação Familiar – Indica a vulnerabilidade familiar associada às


condições de violência gerada pela conjuntura sócio-econômica educacional.

6. Indicadores de Degradação Familiar


a. Porcentagem de usuárias dos Centros de Proteção à Mulher
b. Porcentagem de Homicídios de jovens
c. Porcentagem Separações e divórcios

Grande Área de Necessidades de Recursos – indica o nível de dependência econômica


relacionado a programas de governo, os quais dependem de políticas públicas e de
interesses de governantes, aparentando uma contribuição paliativa de renda.

7. Indicadores de Recursos
a. Porcentagem de Beneficiários do Programa Bolsa-Família
b. Porcentagem de Família que recebe Auxílio PETI - Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil
c. Porcentagem de Beneficiários do Benefício de Prestação Continuada

3.4 Ponderação
A ponderação do IVF se deu seguindo os estudos feitos por Frei (2007), o qual trabalhou de
forma inversa para cada grande área, desta forma, quanto menor o número de indicadores, maior foi
o peso desta mesma área. Neste estudo a ponderação segue que para todas as grandes áreas os pesos
são ponderados em relação ao total de indicadores, assim, nas áreas onde há menor número de
indicadores, maior é o peso desta mesma área .
3.5 Análise Estatística
A análise dos indicadores foi feita utilizando técnicas estatísticas descritivas utilizando o
intervalo de confiança de 95% com margem de erro de 3%.

4. RESULTADOS

4.1 Construção do índice


Na metodologia de Frei (2007), a construção do índice de vulnerabilidade familiar é feito
da seguinte forma: atribuindo o mesmo peso para todos os indicadores de cada componente de uma
mesma dimensão; a todos os componentes de uma mesma dimensão e a cada uma das sete áreas
temáticas que compõem o índice.
Neste estudo foi utilizada a equação abaixo, para definir a vulnerabilidade a partir dos
indicadores escolhidos:

[ (∑ ) ]
m n
1
V
f=
1 ∑n Bik
K k=1 k i=1

Onde k denota o número de áreas temáticas (k = 1,2,...,m sendo m=7).


Onde nk denota o número de indicadores em cada área temática K.
B ik denota o i-nésimo indicador da k área temática.

Quadro 1 – Caracterização e Quantificação dos Indicadores

DIMENSÕES INDICADORES VALORES TOTAL

Porcentagem de crianças 0,07


(idade de 0 – 4 anos)
Porcentagem de crianças 0,185
(idade de 5 – 14 anos)
Porcentagem de jovens 0,155
(idade de 15 – 19 anos)
[ (∑ )]
m n
1
Porcentagem de idosos 0,060 V
f=
1 ∑7 Bik
k =1 i=1
1.Risco Familiar (idade acima de 65 anos) 7

Porcentagem de mulher 0,375


chefe de família V rf =0,022
Porcentagem de 0,150
adolescente grávida (**)
Porcentagem de portadores 0,104
de deficiência física
Porcentagem de mulheres 0,275
chefes de famílias

[ (∑ )]
2. Acesso ao analfabetas m
1
n

Conhecimento Porcentagem de adultos 0,123 V


f=
1 ∑3 Bik
k =1 i=1
responsável pelo domicilio 7

com até 3 anos de estudo


Porcentagem de adultos 0,275 V ac =0,032
chefes de família com 1°
grau incompleto
Porcentagem de mulheres 0,060
sem rendimento

[ (∑ )]
Porcentagem de 0,055 m
1
n

responsáveis pelo domicilio V


f=
1 ∑4 Bik
k =1 i=1
3. Acesso ao sem rendimento 7

Trabalho Porcentagem de 0,170


responsáveis pelo domicilio V at=0,0194
com renda inferior a 1 SM
Porcentagem de 0,260
responsáveis pelo domicilio
com renda entre 1 SM e 2
SM

[ (∑ )]
Porcentagem de crianças de 0,800 m
1
n

0 a 4 anos fora da creche V


f=
1 ∑2 Bik
k =1 i=1
4.Desenvolvimento Porcentagem de criança de 0,440 7

Infantil 5 a 14 anos fora da escola V di=0.094

Porcentagem da densidade 0,039


domiciliar média
Porcentagem de domicílios 0,750
não próprios

[ (∑ )]
5. Carência Porcentagem de domicílios 0,001 m
1
n

Habitacional não conectados com a rede V


f=
1 ∑6 Bik
7 k =1 i=1
de água
Porcentagem de domicílios 0,250
com esgoto inadequado V ch=0,0254
Porcentagem de domicílios 0,0003
sem banheiro
Porcentagem de domicílios 0,012
sem coleta de lixo
Porcentagem de usuárias 0,056
dos Centros de Proteção à
6. Degradação Mulher
Porcentagem de 0,180
[ (∑ )]
Familiar Homicídios de jovens (**) m
1
n

Porcentagem Divórcios 0,270 V


f=
1 ∑3 Bik
k =1 i=1
Litigiosos (***) 7

V df =0,024

Porcentagem de 0,156
Beneficiários do Programa

[ (∑ )]
7. Recursos Bolsa-Família m
1
n

Porcentagem de 0,085 V
f=
1 ∑3 Bik
k =1 i=1
Beneficiários do Benefício 7

de Prestação Continuada
Porcentagem de Família 0,005 V r=0,014
que recebe Auxílio PETI -
Programa de Erradicação
do Trabalho Infantil

Índice da vulnerabilidade familiar de Mangabeira:


m
V f =∑ W k Bk =0,23
k=1

Onde: k denota o número de áreas temáticas (k=1, 2, 3.......7) e onde W k foi


considerado igual a 1, porque se considerou que quaisquer uns dos indicadores
trabalhados têm a mesma importância no processo de vulnerabilidade das famílias
estudadas.

Fonte: Sposatti (2010),** Secretaria do Desenvolvimento Humano (2010) e *** Fórum Civil do
bairro de Mangabeira (2010).

O IVF para o bairro de mangabeira é de 0,23. O que pode ser considerado baixo, no entanto,
pode-se verificar que as dimensões acesso ao conhecimento e desenvolvimento infantil são as que
apresentam valores mais altos, necessitando de maior atenção nas políticas públicas. Sobre outro
prisma, mostram que existe um relaxamento da atuação do governo nessas dimensões. Ver gráfico
1.

Gráfico 1 – Gráfico dos resultados das dimensões estudadas

Fonte: Elaboração própria


Considerando os conceitos apresentados neste estudo pode-se afirmar que todas as famílias
que possuem uma ou mais vulnerabilidade está em risco de degradação familiar, significando que
elas necessitam de atenção dos planos de gestão para amenizar ou minimizar seus problemas. A
violência urbana e domiciliar é um assunto corrente no bairro, apontando a desestruturação
harmônica no seio familiar e social. Essas famílias além de ter problemas econômicos decorrentes
das crises do capitalismo se deparam com os problemas de ordem social conseqüentes da exclusão
gerada pela sua condição de pobreza e periferização urbana, tais como serviços de saúde, educação
e segurança.
Apesar de o bairro ter uma boa estrutura comercial e de perspectiva de emprego – já que
abriga um setor comercial avançado para a classe média B e C – os equipamentos de saúde, que
apesar de estarem presentes no bairro não conseguem atender a demanda da superpopulação, porque
também prestam serviços a outros usuários de bairros periféricos próximos que não possuem este
tipo de equipamento, devendo ser ponto de observação dos gestores no planejamento urbano
municipal.
Outro aspecto que reflete na condição de perpetuação da pobreza é a defasagem de
equipamentos educacionais para suprir a demanda populacional de crianças e jovens que ficam sem
escola ou precisam se deslocar para outros bairros para ter acesso à educação. Esse fator acarreta
ainda uma evasão escolar alta, devido ao transtorno com gastos e tempo para o deslocamento, por
isso nos indicadores apresentados a porcentagem de crianças e jovens fora da escola se apresentou
tão altos.
A situação de vulnerabilidade familiar está diretamente associada aos índices de pobreza e
da privação gerada pela falta de políticas públicas que busquem solucionar tais problemas de forma
mais permanente e menos paliativa, que vislumbre a melhoria da qualidade de vida de forma mais
igualitária e mais humana. Desta maneira os riscos sociais geram a vulnerabilidade familiar sendo
muitas vezes a causa das separações e divórcios, que por sua vez agravam o risco a pobreza,
ocasionando um ciclo vicioso de causa e efeito. Em mangabeira, o indicador de divorcio litigioso
apresentou um valor elevado 27,5%, indicando uma grande desagregação familiar conflituosa.
Outro aspecto de agravamento da pobreza é o alto grau de membros dependentes
economicamente dentro do domicilio. O que faz do alto índice de reprodução um fator preocupante.
Pois se observa que, as políticas públicas contribuem para esse agravamento quando estabelece
apoio financeiro para famílias que tem crianças em idade escolar, fazendo da procriação um bom
negócio. Por outro lado, a bolsa família não consegue suprir as necessidades de manutenção que as
crianças necessitam de vida digna e alimentação e o aumento demográfico traz para a sociedade
outros males sociais.
Como solução ao problema da vulnerabilidade familiar, este estudo recomenda maior
atenção no planejamento estratégico municipal de forma a construir mais creches e escolas no
bairro para não criar um ciclo vicioso nas famílias com condições mínimas de oportunidades, pela
falta do nível de instrução, e também, permitindo que as mulheres chefes de família possam deixar
seus filhos seguros e alimentados quando forem trabalhar.
Outra necessidade urgente é a criação de políticas públicas de incentivo ao
empreendedorismo, porque o bairro já apresenta uma forte vocação ao comércio e serviço, o que
permitiria uma criação de mais oportunidade de emprego para jovens e adultos.

5. CONCLUSÕES
Esta pesquisa não encerra um diagnóstico preciso da vulnerabilidade familiar do bairro de
mangabeira, porque as informações trabalhadas enfocam apenas um lado objetivo de análise.
Sugere-se que a pesquisa possa continuar para a obtenção de dados que possam abarcar o lado
subjetivo da vulnerabilidade familiar como sentimentos e comportamentos dos grupos, ou seja, o
lado individual de análise dos membros constituintes da família na situação de risco social para
avaliar a resiliência familiar
No caso do bairro de Mangabeira, pode ser observado que os grupos familiares que
apresentam risco social são aqueles que estão mais vulneráveis a desestruturação. Para
complementação e maior segurança no diagnóstico carece uma pesquisa sobre os comportamentos
repetitivos dentro da família, que muitas vezes, remete a uma situação de vulnerabilidade, como uso
da bebida por algum membro, drogas, que são dados que só podem ser conseguidos na abordagem
direta, de casa em casa, e mesmo assim são escondidos, porque sua admissão resulta em vergonha.
Numa estrutura familiar onde o risco econômico é mínimo, observa-se que os conflitos estão
mais ligados aos fatores de incompatibilidade de sentimentos entre seus membros – marido e
mulher, filhos e padrastos ou madrastas, entre irmãos, dentre outros -, esse lado psicológico deve ser
levantado para se obter um diagnóstico mais preciso considerando as relações humanas no seio
familiar, que é tão importante quanto às relações econômicas, porque traz a harmonização e a busca
por objetivos comuns dentro da estrutura familiar. Segundo Vicente (1994), o fato de a família ser
um espaço privilegiado de convivência não significa que não haja conflitos nesta esfera. No entanto,
a forma como estes conflitos são trabalhados por seus componentes é que são determinantes para a
estruturação da família.
Apesar da não abordagem da subjetividade das famílias, o modelo usado nesta pesquisa o
IVF, trouxe um diagnóstico urbano-familiar do bairro indicando os aspectos onde a atuação das
políticas públicas se faz urgente. Assim este estudo cumpre com seu objetivo, apesar da limitação
de espaço e tempo para sua execução.

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<http://cee.lse.ac.uk/cee%20dps/ceedp60.pdf > acessado em 23 de janeiro de 2012.
Impact of the new national solid waste strategy on waste management in
Palmas, Brazil

Olivia Marques and Gareth Swift 1

Resumo
Neste artigo os autores apresentam um estudo de caso sobre a gestão de resíduos em Palmas –
TO, uma cidade de médio porte localizada na região Norte do Brasil. Características do
município e da atual logística de gestão de resíduos foram analisados e levados em
consideração para proposição de um modelo de gestão baseado na nova politica nacional de
resíduos sólidos. Os autores enfatizam a falta de profissionais qualificados que possam operar
sistemas complexos de tratamentos, o que levou à proposição de um modelo de gestão a partir
de tecnologias baseadas na mão de obra intensiva, já que a ausência de profissionais
especializados representa uma barreira para a aplicação de tecnologias mais eficientes e
complexas. Como conclusão do trabalho, os autores apresentam um modelo de tratamento
baseado em sistemas mecânicos e biológicos com inclusão social de catadores de recicláveis,
que é compatível com a recém aprovada Politica Nacional de Resíduos Sólidos.

Palavras-chave: Gerenciamento de Resíduos Sólidos Urbanos Reciclagem


Compostagem

Abstract
This paper presents a case study of a medium sized city located in northern Brazil, Palmas,
which is representative of the current Brazilian demographic trend. Through this case study,
factors influencing the successful implementation of the new national solid waste strategy are
considered and analysed. The authors emphasise the importance of an abundant, non-skilled
labour force that led to the proposal of management model based on labour intensive waste
treatment technologies, since the lack of a highly skilled workforce represents a significant
barrier to the development of more efficient, but significantly more complex treatment
options. At a conclusion it is presented a model of MBT with social inclusion that is
compatible with the new National Solid Wastes Policy – NSWP.

Keywords: Solid Waste Management, Recycling, Composting

1 Olivia Marque is Senior Consultant at CTE – Centro de Tecnologia em Edificação, e-mail:


omarques@cte.com.br; Gareth Swift - Civil Engineering Research Centre, University of Salford, Greater
Manchester, United Kingdom
1.0 Introduction
This paper considers the current waste management strategy in a medium
sized city, Palmas, in the state of Tocantins in Northern Brazil, and how this strategy
will be impacted by the new national policy on waste management. The Brazilian
Senate recently approved the National Solid Wastes Policy framework (Law No.
12,305/2010) that sets out new rules and regulations regarding solid waste
management and the control of open dumps. It provides guidelines on joint and
environmentally appropriate management of solid waste, and regulates issues such as
joint management, proper allocation and disposal, and shared responsibilities. The
main components of the NSWP are: social inclusion, reverse logistics and full
treatment of the wastes generated.
This case study location is considered a typical urban site of the new Brazilian
demographical trend: the migration from coastal areas to the inner agricultural areas
(MAD, 2011). According to IBGE (2010), Palmas represents most medium size cities
of the Northern frontier of development, such as high population growth rates due to
migration from Southern regions, great distances from São Paulo, the polarized centre
of Brazilian economy, and strong dependence of inter-regional trade flows between
North and South regions together with a low share in the Brazilian trade (Magalhães e
Domingues, 2009). This particular situation brings to light some of the issues and
barriers that need to be addressed in order to ensure effective implementation of the
new national solid residues strategy at local levels. We will describe the geographical
setting and current waste management system in order to propose a model for
compliance with the new regulation in the field of waste management.

2.0 CASE STUDY: Palmas as a model for medium size cities in Northern
Brazil
2.1 Geographical setting
Palmas is a planned city created in 1989 as the capital of the newest state of
the Brazilian Federation, Tocantins. The city comprises four divisions of the urban
centre and five expansions to the southern area. Because of geographic obstacles, the
city growth occurs to the southern and northern directions only. This creates a
problem to the administration of Palmas, since the extensive north-south dimension of
circa 36km makes it expensive to provide sanitation infrastructure such as waste and
water collection and treatment (Bazolli, 2007). Despite the fact that the central region
is completely urbanized it has a low population density, which for Carvalho & Braga
(2001), raises the per capita cost of infrastructure.
The population in 2007 was 178,386 with a density of 80.99 inhab/km2
distributed in urban areas (around 97.69%) and 2.31% in rural areas (IBGE, 2007;
IBGE 2000). Data from SEPLAN (Secretariat of Planning) shows that the city had the
highest growth rate among Brazilian municipalities with a growth rate of 28.7%
between 1991 and 1996 (Finco et al., 2006) and around 5.81%, between 2000/2007,
which is higher than the state population growth rate of 1.5% and the national growth
rate of 2.1%, but lower than in the previous decade (Rodrigues, 2008).
The Gross Domestic Product (GDP) per capita was US$22.10 in 2010. The
capital has low industrial development and most of its GDP arises from the
government sector of services which differs from Tocantins GDP in which industry,
agriculture and livestock have a similar share (IBGE, 2010). Since, the public services
are the main economic drivers of Palmas economy. A proposal for management of the
town services based on public-private partnerships such as recyclables collectors
associations and the municipality could introduce new sources of income and through
this diversify and strengthen the economy of Palmas.

2.2 Current waste management system


The waste management system is provided by the Secretaria Municipal de
Infra-Estrutura e Serviços Públicos through the operation of the MSW facilities and
managerial and technical support, and a private company has a contract for the
collection of MSW in the urban area. The urban MSW is landfilled without any pre-
treatment. The amount of waste collected is reported as 136t/day in 2009 an
equivalent of 0.784kg/inhabitant/day (ABRELPE, 2009). The generation of residues
in Palmas is similar to other capital cities of the North Brazil such as Porto Velho and
Rio Branco with an average of 1.051kg/head/day of waste collected per inhabitant,
typical of the North Region.
The composition of the household waste is shown in Figure 2. The residues
presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids which indicates a
high level of compostable/digestible material. Pereira (2001) presented a similar result
of composition of waste.
Figure 2: Palmas waste composition according to Naval and Gondim (2001).
The household waste of Palmas shows a high quantity of glass, plastic and
metal when compared to Brazilian waste. According to Santana (2008) this is due to
low recovery of materials that could be recycled. The low presence of paper and
cardboard results from the presence of recyclables collectors associations that are
specialized in this type of material (Santana, 2008). The organic fraction in Palmas is
similar to the standard Brazilian composition. According to Naval and Godim (2001),
the residues presented 35% of humidity and high concentration of volatile solids
which indicates a high level of compostable/digestible material.
The Palmas landfill is located in a rural area around 2km from the surrounding
communities (Figure 3). The distance between the landfill and the city centre is
around 26km. The landfill started operations in 2001 and receives roughly 130t/day of
unsorted MSW (Santana, 2008). All of the volume of waste produced and collected in
Palmas goes to this landfill. The residues do not pass through any pre-treatment or
selection processes prior to disposal (Finco et al., 2006).
Figure 3: Location of the landfill in the municipality of Palmas-TO (not to
scale)

According to the Municipality of Palmas, the landfill is a sanitary landfill.


This type of landfill uses engineering principles to store the waste with the minimum
volume as possible and covering it with soil at the end of each activity or within
shorter periods if necessary as defined by a regulation from Brazilian Standardization
Bureau (NBR 8.849 and NBR 8.419). Although the Palmas landfill is limited by
fences and it has an administrative building, control of waste at arrival since 2007,
engineered lining system, soil coverage, drainage and treatment of leachate on-site
and gas drainage, there is no gas recovery, no rainwater drainage system and no
recirculation of leachate, which are necessary conditions for a landfill operation
according to the regulation above. The residues are covered with topsoil weekly
although the regulation requires it to be done at shorter periods, at least daily. Finco et
al. (2006) observes that the landfill cannot be considered a sanitary landfill but a
controlled landfill where the residues are only covered with topsoil weekly, the
operations are hampered by a lack of resources and poorly maintained plant, and
workers are at risk of direct contact with hazardous health facilities residues.
Finco et al. (2006) state that the landfill could generate around 65.582 tons of
CO2 equivalent in ten years (period of 2005 to 2015), corresponding to 65.582 carbon
credits in the CDM - Clean Developed Mechanism of the Kyoto Protocol, by reducing
33.606 GgCH4 atmospheric emissions during ten years, and hence, reducing global
warming (Finco et al., 2006). The calculation was done following the methane
emission IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change) methodology revised
by Vieira & Silva (2002). In Brazil, this approach of using the CDM in landfills to
generate credits of carbon while decreasing the greenhouse gases emitted to the
atmosphere is not new. The Bandeirantes landfill that receives half of the waste
produced by São Paulo, the major Brazilian metropolis, collects the methane produced
and generated 20 MWh of electricity since 2003. The project was approved by the
Brazilian government in 2005, registered in the IPCC and in 2007 it sold the first part
of the credits of carbon (808.450 tons of carbon) to the Fortis Bank of Holland that
paid US$21.70 per ton of carbon. The revenue generated was around US$17.5 million
shared between the private company responsible for the project and the municipality
(Pereira & Gutierrez, 2009).
According to data from the National Information System of Sanitation (2007),
there are no scavengers in the landfill, but associations for the collection of
recyclables in the town have close relationships to the municipality. Currently there
are two groups that receive the municipality support for recycling activities, including
the location of sites to process the recyclables, training and trolleys: Cooperativa
Mista de Trabalho e Produção de Recicláveis Ltda. (COOPERAN) in the southern
region with 250 associates and the Associação de Catadores e Catadoras de Materiais
Recicláveis da Região Norte de Palmas (ASCAMPA) with almost 60 associates,
according to the Municipal Environmental Secretariat in 2010. The COOPERAN
shreds and compresses around 600kg of paper/day, but it does not operate at full
capacity due to a lack of materials.
The collection system is designed according to the city areas and the routes are
determined for groups of blocks (set of residential and commercial areas). The
collection service covers 100% of the population. The cost of collection of wastes in
Palmas was 87.93 US$/tonne in 2005 (National Information Sanitation System,
2007). Other municipalities such as Rio Branco, capital of Rondonia, that has a
similar index of waste collected per inhabitant as Palmas presents a cost of collection
of residual waste of US$/tonne 43.64 in 2005 (CEMPRE, 2008). This shows that the
cost of collection in Palmas is higher than the cost of other municipalities with similar
waste production and population size and this may be due to the urban layout with an
extended distance in the north/south direction, because of geographic obstacles.
The private company responsible for the residues collection has a five-year
concession since 2008. It should be emphasized that a period of 5 years for a company
to invest in public education and logistics in the waste collection is not sufficient for a
payback period. This may lead to a poor investment in these important areas of the
waste management, and consequently to difficulties in introducing new strategies at
household level. There is no guidance provided by the company for households
regarding separation or storage of wastes, and there are no recycling or recovery
facilities; waste is simply collected for disposal to landfill (Finco et al. 2006).

3.0 Proposed strategy for Palmas city


The waste management strategy proposed for Palmas emphasizes the
segregation between dry and wet residues that must occur at household level with
constant public education. There are two integrated different strategies: an MRF
model for the recyclables collectors associations to manage the dry residues and an
MBT model for the wet residues (Figure 4). It is important to emphasize that it
includes the main components of the new NSWP, which are:
a) the priority of recyclables collectors association to work in the
reverse logistics,
b) the inclusion of procedures to compost the organic fraction and
c) the influence of the reverse logistics in the market of the
recyclables.

a)

b)

c)

Figure 4: Flow chart of the household solid residues management proposed


for Palmas-TO.

This proposal would most probably occur as two separate services: the dry
fraction or the recyclables would be managed by recyclables collectors associations
with the support of the public sector; and the composting or treatment of the wet
fraction would be done via the owner of the public cleaning and waste management
services. Since Palmas is organized in small geographical areas, or neighbourhoods –
squares with about 500 to 1000 households - this could facilitate the action of
recyclables collectors associations, by organizing and dividing the collection areas
among these associations and hence preventing conflicts. In Brazil, in general,
recyclables collectors associations are responsible for diverting 560 tons of residues,
the majority being paper and cardboard, followed by metals from landfills. This
amount is minimum regarding the amount of domestic and public residues: in 2007,
around 163.473 tons of residues were landfilled, comprising 67.067 tons of
construction and demolition waste, 57.971 tons of domestic and public residues,
36,960 tons of green waste and 1.475 tons of hospital waste (National Information
System of Sanitation, 2007). In Palmas, around 5.797 tons could be potentially
recycled since Naval and Gondim (2001) accounts 10% of the residues as paper as
shown above.
The proposed recyclables collection would start with the selection of the
materials separated in door-to-door or dropped-in recycling points and further
compression for storage. The co-operation of the public is highly important since in
this process the willingness of the public is necessary to correctly separate the
residues or to move and drop it in the collection points. The materials collected are
glass, metal, plastic, some electronic products and predominantly paper. The products
are then sold to companies in industrialized regions such as Goiania-GO (around
900km away) and São Paulo-SP (around 1,800km away). These long distances have a
high influence on the cost of the recyclables and consequently in their attraction as a
tradable commodity (PR-TO, 2008).
Among the main obstacles, we would point that the recycling market in
Palmas is incipient for a range of reasons such as the population habits to deal with its
own waste, transport difficulties and cost-benefit of the recyclables. Monteiro et al.
(2001) states that the support of the municipal manager for the extraction of the
residues by the associations is important because of the public information which is
essential in a recycling programme. Door-to-door collection demands a degree of
waste segregation at household level which in turn demands environmental education
campaigns such as that in which, in the US, Captain Planet, an animated television
series, introduced kids to the phrase, “Reduce, reuse and recycle”. As we said above
the private company that runs the waste collection probably would not invest in such
campaigns because they are less profitable than the current collection based on waste
weight.
For Monteiro et al. (2001), the municipality should also provide administrative
and financial support which is connected with the ability of elaborating and co-
ordinating recycling programmes by the associations. The Palmas Secretariat of the
Environment declared its intention to support a recycling programme implemented by
the associations, although it has no intention to elaborate and co-ordinate such a
programme. This would provide an additional difficulty because there are few
associations in the municipality, but it could be circumvented by cooperation with
universities and research centres.
Of all these problems, the cost benefit of the recyclable product is offset by the
cost of transportation (Parry & Bento, 2001, Knemeyer et al., 2002) of the product
that in Brazil is mostly done by road. The storage of the recyclables helps to decrease
the cost of transportation although the diversification of transport would be beneficial.
The National Transport Logistics Plan aims to increase to up to 29% the share of
waterways which is the lowest cost of transportation in Brazil. The National Plan also
includes the North-South Railway and the Tocantins-Araguaia waterway as part of the
Central-Northern Multi-modal Transport Corridor that will benefit the city of Palmas
lowering the cost of transport of goods to other Brazilian regions.
On the other hand, the NSRP brings new rules to the waste management such
as the inclusion of the private sector initiating reverse logistics, and the prioritization
of the formalized recyclables collectors association to work in the loop cycle of the
waste management chain. Through this prioritization of recyclables collectors
association and the obligation of composting by the municipality or the owner of the
service, the NSRP clearly states its preference being a mechanical and biological
treatment without energy recovery. Since, Palmas would be in advantage when
applying for financial support for the investments needed.
The dry and wet segregation at household level represents the ideal share of
responsibilities among the various stakeholders according to Gage (1998) and
Monteiro et al. (2001), since it is better for the municipal manager to support a
recyclables collection programme instead of be responsible for its actions. Currently,
the recyclables collection is performed by scavengers or recyclables associations with
or without support of the public sector. The dry residues would be collected and go to
units similar to an MRF to be processed, the whole process being the responsibility of
the recyclables associations. The wet residues would be composted by the municipal
manager or the owner of the service in an MBT plant. Although the ‘mechanical
treatment’ is expected to have some mechanical equipment, most of the segregation is
likely to be done manually.
A dry and wet collection would encourage an aerobic composting that would
provide better quality compost product to be used in the agricultural industry within
the region. The viability of a composting practice in Palmas was pointed by Silva et
al. (2012) that showed that the composting process is faster than in other regions
because of the weather which is a point in favour to the aerobic process, according to
Silva et al. (2012). The climate in the Tocantins state comprises two definite seasons:
the wet season from October to April when almost 90% of the precipitation occurs
and the dry season from May to September with rare rain and low air humidity (ANA,
2006). The annual climate regime influences the composition of the waste
management both in humidity and total carbon content. The humidity of wastes is
slightly higher in the wet season and the total carbon doubles in the dry season
according to data from Naval and Gondim (2001). Generally, the higher the humidity
the faster is the digestion of compostable materials and generation of leachate. The
carbon content indicates the digestible part of the residue and potential for composting
or biogas production. As the distribution of rain is unpredictable, and possibly it is
influenced by global warming due to greenhouse effects, the management of
composting or biogas plants would be increasingly variable during the year. The
temperature varies from 24˚C to 35.4˚C, (SEAGRO, 2005 in Marques, 2006). The
standard evaporation is around 1,100mm to 1,700mm. The high environmental
temperatures increase the velocity of biological reactions and the digestion of
compostable materials.
It is worth commenting that the NSWP is not the only driver to push the
municipal manager to supervise directly or indirectly the solid residues management.
In fact, some municipalities have directed efforts for the correct management of
wastes before the NSWP was placed, and this should be a spontaneous action of a
government that aims towards the sustainability of its city, but this is not a rule in
Brazilian administration. For example, the Resolution CONAMA 307 from 2002,
regarding the management of construction residues, establishes that all construction
and demolition activities should prepare an Integrated Management Plan of
Construction Residues monitored by the Municipal Environmental Secretariat which
is required since 2004. These activities must follow the guidance of the municipal
integrated management plan which should had been done since 2004 and does not
exist in 2013 according to the Municipal Secretariat of the Environment and the
Municipal Secretariat of Infra-Structure of Palmas. Similarly, the National Solid
Residues Policy requires the elaboration of a municipal management plan of solid
residues which raises a question on the capability of the municipal managers to
produce this document since the Municipality was not able to follow the prescription
of Resolution CONAMA 307. Now there is high expectation regarding the new
municipal, state and national plans which can be the next step for an integrated waste
management of solid residues to be implemented in most of municipalities including
Palmas. These plans, together with other actions required by the NSWP will support
the strategy proposed for Palmas that is similar to strategies already in place in other
Brazilian municipalities. Nevertheless, while many Brazilians appreciate the
environmental benefits of recycling, this is not a major driver in Brazil. Instead, the
economics is the main driver of the policies and actions of governments and
organizations (Barlaz & Loughlin, 2003).

4.0 CONCLUSIONS
For the reasons stated above, especially the lack of skilled work for complex
treatment options, the lack of funds for expensive options and the abundance of low-
skilled workers, mechanical and biological treatment is recommended in Palmas,
utilising the human resources as collectors of the dry waste – in associations to
strengthen the social gains and to reduce poverty, and providing composting
techniques for the wet residue through public-private partnerships.
The Brazilian NSRP encourages composting and recycling by recyclables
collectors association and this is consonant with the concept of mechanical and
biological treatment. It is possible, therefore, to conclude that MBT is compatible with
the new National Solid Residues Policy – NSWP. However the procedures would
have to be considerably different to those treatment technologies applied in Europe.
Changes should be made throughout the waste management chain regarding
environmental education and the introduction of social and environmental
responsibility in the production sector, among others. The market, public willingness
and costs are disadvantageous in Palmas, even though they were managed by other
municipalities with recycling schemes in Brazil and hence this cannot be used as an
excuse.
ACKNOWLEDGEMENTS
The authors acknowledge the assistance and suggestions offered by Dr Paula
B. Morais.

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Responsabilidade Social Empresarial: estudo de caso do processo de
reciclagem do Pão de Açúcar

Camila Leite*
Julia Affonso**
Orientador: Marcos Bernardino de Carvalho

RESUMO
Com o advento da noção de Responsabilidade Social Empresarial frente as questões ambientais,
verifica-se que diversos segmentos empresariais se apropriam do termo como forma estratégica para
se promover e elevar-se no mercado, aumentando sua competitividade e atraindo stakeholders. Dessa
forma o presente trabalho busca averiguar o real comprometimento da rede de supermercados Pão de
Açúcar com a sociedade através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem,
assim como averiguar a política de transparência e de Responsabilidade da mesma.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Empresarial, Marketing, Transparência.

INTRODUÇÃO
A gravidade das questões ambientais mostra a necessidade de estudos que vise ao
estabelecimento de verdades a respeito do tema. A problemática relacionada à produção de
lixo é unânime no mundo e a existência de uma solução prática também. Entretanto,
especificamente no Brasil, é notável a falta de uma política pública eficaz para a reciclagem
de resíduos. Ao mesmo tempo observa-se um crescente movimento de empresas privadas
autodenominadas responsáveis que se apropriam dessa abstenção do Estado alegando resolver
o problema.
Uma das empresas que atuam nesse sentido é o Grupo Pão de Açúcar (GPA),
importante rede varejista que se coloca como empresa responsável social e ambientalmente.
Tendo a gestão ambiental como um dos pilares mais divulgado e conhecido, o GPA integrou a
sustentabilidade à gestão de negócio como eixo estratégico.
Dentre suas diversas ações está a coleta seletiva de lixo em algumas unidades das
redes de supermercados. Porém, poucas informações são disponibilizadas ao consumidor, que
confia na empresa e deposita ali seus resíduos acreditando ter solucionado o problema. Mas
até que ponto este problema tem sido de fato solucionado?

*Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo


camila.leite@usp.br
** Escola de Artes, Ciências e Humanidades – Universidade de São Paulo
julia.affonso@usp.br
Em um período em que se procura associar o modelo capitalista de desenvolvimento a
ações socioambientais que promovam e maximizem a imagem do empreendedor, é relevante
uma visão crítica e a verificação da efetivação de suas ações. Nesse contexto, a rede de
supermercados Pão de Açúcar é um exemplo de corporação que procura elevar-se no mercado
a partir da autodenominação como empresa sustentável e responsável sócio-ambientalmente.
Desse modo fez-se necessário averiguar o comprometimento desta com a sociedade
através da investigação e avaliação da efetividade do processo de reciclagem. Frente a isso,
estudantes de Gestão Ambiental da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade
de São Paulo (EACH/USP) se juntaram para investigar a questão através de um estudo de
caso. Utilizando o método PBL (Problem Based Learning - Aprendizado Baseado em
Problemas) partiu-se   da   seguinte   questão:   “Qual   a   efetividade   do   processo   de   reciclagem  
realizado  pela  rede  Pão  de  Açúcar  de  supermercados?”.  
Para tal, realizou-se levantamento bibliográfico, entrevistas e pesquisas de campo
investigativas. Em primeiro lugar procurou-se o Grupo Pão de Açúcar para obtenção de dados
e informações sobre o processo de reciclagem e em seguida realizou-se as pesquisas de campo
investigativas, eixo central norteador da pesquisa, onde se seguiu três caminhões de coleta
aleatoriamente. Esse método serviu como base de referência para o estabelecimento da
veracidade das informações disponibilizadas pela empresa.

DESENVOLVIMENTO

Responsabilidade Empresarial
Frente o quadro de intensa degradação ambiental deu início ao surgimento de um
conjunto coordenado de atividades e responsabilidades pelo governo, indústria e
consumidores, amplamente pressionados por setores da sociedade, no sentido de reduzir os
impactos gerados pelas atividades humanas. Com o passar do tempo, a questão ambiental foi
sendo cada vez mais inserida na gestão empresarial, como demonstra a evolução da postura
empresarial sobre a questão ambiental na Figura 1.
Fig.1: Evolução da postura empresarial sobre a questão ambiental. Nagan et al (2009).

O termo Responsabilidade Social Empresarial (RSE) surgiu no final da década de 90


com o advento da noção de desenvolvimento sustentável e consiste  na  “forma  de  gestão  que  
se define pela relação ética e transparente da empresa com todos os públicos com os quais ela
se relaciona e pelo estabelecimento de metas empresariais compatíveis com o
desenvolvimento sustentável da sociedade, preservando recursos ambientais e culturais para
gerações futuras, respeitando a diversidade e promovendo a redução das desigualdades
sociais”  (Instituto  Ethos, 2009).
Nesse sentindo, RSE tornou-se um fator de competitividade para os negócios, e muitas
empresas passaram a adotar a filosofia e práticas TBL (triple bottom line), que engloba as
questões sociais, econômicas e ambientais, já citadas dentro de RSE. No entanto, muitas vezes
a preocupação com a dimensão ambiental e com a sustentabilidade surge apenas em prol da
questão financeira e econômica.
De acordo com HART & MILSTEIN (2003), existem inúmeros fatores motivadores
da sustentabilidade empresarial. O principal deles é a crescente industrialização que tem
impactos em grande escala. Em seguida, se tem a proliferação e interligação dos stakeholders,
em que as empresas são pressionadas a atuar de forma transparente e responsável pelo
gerenciamento de produto pela integração da perspectiva dos stakeholders nos negócios. Por
fim, o intenso aumento populacional e a expansão da pobreza e das desigualdades sociais
tornam necessária a alteração do atual modelo de produção e consumo, de modo que todas as
necessidades sejam atendidas e a evitar um colapso do sistema natural.
No entanto, frente a tudo isso, as empresas aderem aos valores de sustentabilidade por
outros motivos, associados a objetivos internos, na medida em que se busca maximizar os
lucros e minimizar os riscos, e externos à empresa, ligado ao marketing empresarial.
As empresas também possuem fatores motivadores ligados a objetivos no curto e no
longo prazo. No curto prazo, busca–se adquirir reputação e legitimidade pelos clientes, assim
como a redução de custos e riscos. Já no longo prazo, busca-se o caminho para o crescimento,
inovação e reposicionamento no mercado.
De acordo com o Instituto Ethos (2009), OSCIP com foco na gestão de negócios
socialmente responsáveis, a competitividade das empresas não está mais somente nos preços e
na qualidade dos seus produtos e serviços. No atual cenário as empresas devem investir e
arcar com as responsabilidades e relações com seus fornecedores, acionistas, funcionários,
clientes e comunidade na qual estão inseridas.
Vender e/ou fabricar produtos e serviços que não degradem o meio ambiente,
promover projetos e ações sociais e incentivar o desenvolvimento da comunidade onde está
inserida são pontos essenciais na conquista de clientes e consumidores. Há uma melhora no
reconhecimento da empresa, maior competitividade no mercado, além de contribuição com o
desenvolvimento da sociedade. Dessa forma o fluxo rumo à Responsabilidade Empresarial
vem crescendo cada vez mais no Brasil (INSTITUTO ETHOS, 2003).
Para que uma empresa exerça a RSE faz-se necessário apropriar-se de alguns critérios
essenciais que são classificados em sete grandes áreas: direitos humanos, direitos das relações
de trabalho, proteção das relações de consumo, meio ambiente, ética e transparência, diálogo
e planejamento com stakeholders e governança corporativa.
Ao assumir uma postura comprometida com a RSE as empresas se tornam grandes
influenciadoras de uma mudança ou estagnação cultural, uma vez que contribuem para a
construção da sociedade de consumo atual.
Segundo   pesquisa   “Ação   Social   das   Empresas”   do   Instituto   de   Pesquisa   Econômica  
Aplicada (IPEA), aproximadamente 465 mil empresas no país agem de acordo com a RSE.
Dentre as empresas brasileiras que adotam tal postura e que também são associadas ao
Instituto Ethos estão algumas que contribuem com 20% do PIB brasileiro, como Abril S/A,
Petrobrás S/A e o Grupo Pão de Açúcar (TREVISAN, 2002).
O Grupo Pão de Açúcar (GPA), importante rede varejista, que “vem se destacando
cada vez mais no sentido de seguir as diretrizes da RSE, tendo a gestão ambiental como um
dos pilares mais divulgado e conhecido. A sustentabilidade foi integrada à gestão de negócio
do GPA como eixo estratégico, de modo a inserí-la em todas as definições de políticas e
linhas de ação através da compreensão dos impactos econômicos, sociais e ambientais sobre
seus stakeholders, além da adoção de programas, projetos, práticas e ações que permitam
garantir o equilíbrio desses três aspectos no presente e no futuro” (GRUPO PÃO DE
AÇÚCAR, 2010).

Markentig social e verde


Estratégia utilizada nas vendas, comunicação e desenvolvimento do negócio, o
marketing social e verde são duas ferramentas que contribuem para a divulgação e promoção
das empresas que atuam com a responsabilidade social e ambiental.
Enquanto o marketing social visa as ações no âmbito social, indo do desenvolvimento
local a questões de destaque global, o marketing verde tem como foco a sustentabilidade pela
adoção de práticas sustentáveis, como gestão de resíduos e inclusão de produtos de baixo
impacto ambiental no empreendimento, demonstrando para os clientes atuação consciente e
responsável por parte da empresa.
Sendo assim as empresas utilizam estas ferramentas para se diferenciarem no mercado
competitivo, estimulando suas vendas. Simultaneamente a imagem institucional também é
valorizada e a empresa obtêm maior reconhecimento.
Agregar valores e conceitos aos produtos e serviços tem sido a estratégia adotada pelo
setor empresarial para aumentar a competitividade e sua participação no mercado, com busca
a atrair os steakholders inseridos em uma sociedade que exige cada vez mais ações
sustentáveis e responsáveis.
Frente a isso torna-se indispensável verificar a precisão e a fidedignidade na adoção e
uso de tais ferramentas e averiguar o real comprometimento e responsabilidade das empresas
no que tange as questões socioambientais. Muitas empresas se utilizam do marketing social e
verde com o intuito de obter um diferencial competitivo e promover-se, podendo não existir
uma real preocupação e efetivação das ações, programas e projetos divulgados.
Grandes empresas têm um papel importante na sociedade, uma vez que direta ou
indiretamente suas decisões e ações possuem potencial impactante. É importante que estas
empresas tenham um aspecto ético envolvido em suas escolhas, levando em conta o que será
refletido na sociedade.
Para orientar as ações empresariais utiliza-se o Código de Ética como instrumento.
Esse é o caso do Grupo Pão de Açúcar, cujo Código de Ética possui um item especifico para
meio ambiente, onde é explicitada a responsabilidade com a questão.
Transparência
A transparência empresarial surgida há meio século é um fenômeno social que ganhou
força   nessa   última   década   e   se   tornou   essencial   às   organizações,   “uma   espécie   de   virtude  
inevitável, por decorrência dos costumes democráticos e das facilidades de acesso à
informação”  (CHAPARRO,  2000).
Uma organização transparente é aquela aberta ao diálogo e com bom relacionamento
com a sociedade, associados, acionistas, clientes, fornecedores e funcionários, que estabelece
canais de comunicação com estes, buscando se adaptar às novas demandas, rever ações e
estratégias  inadequadas  aos  seus  públicos  e  incorporar  sugestões  dos  mesmos.  “A  organização  
transparente prioriza o atendimento, favorece o contato e, sob nenhuma hipótese, manipula
dados ou informações, com o objetivo de conseguir vantagens. Ela pratica como diz o
mercado,  o  jogo  limpo”  (BUENO,  s/ ano).
As organizações que não estabelecem essa transparência e não se comunicam com os
grupos  de  interesse  ligados  a  ela,  “ou  tem  pouco  pra  contar  ou  tem  muito  pra  esconder.  Em  
qualquer um dos casos, ela estará em desvantagem  no  mercado”  (BUENO,  s/ ano).
Por   outro   lado,   ao   adotarem   a   transparência,   “devem   ter   cuidados   redobrados   com   a  
coerência. Coerência entre o dizer e o agir, entre o que anunciam e o que vendem, entre o que
fazem  hoje  e  o  que  fizeram  ontem,  entre  os  compromissos  públicos  e  as  ações  particulares”  
(CHAPARRO, 2000)
Nesse sentido, considerando o Grupo Pão de Açúcar, foco da presente pesquisa, o qual
afirma prezar pela transparência em todas as suas formas de negócio em respeito à sociedade
(GRUPO PÃO DE AÇUCAR 2010, p. 75), pecou em sua política de transparência quando
solicitadas informações sobre o processo de reciclagem realizado nos supermercados da rede
Pão de Açúcar.
Quando solicitada autorização ao Grupo Pão de Açúcar para a obtenção de dados e
informações pela BR+10, empresa terceirizada responsável pela gestão do lixo dos
supermercados da rede Pão de Açúcar, esta foi concedida, porém com certa resistência e
restrições a alguns itens.
Os itens solicitados foram:
1. Nomes, contatos e localizações das cooperativas parceiras
2. As lojas em que cada cooperativa atua
3. A quantidade de lixo recolhido diariamente ou mensalmente pelo Pão de Açúcar em
São Paulo e no Brasil
4. O tipo de material mais coletado pelo Pão de Açúcar em São Paulo e no Brasil
5. As lojas do município de São Paulo que recebem mais lixo, suas respectivas
quantidades e tipo de material predominante
6. O destino dado ao material após a reciclagem
As restrições não foram especificadas, no entanto, dentre as perguntas feitas, algumas
não foram respondidas, completa ou parcialmente.
Em resposta ao item 3, foi enviada uma tabela com os dados presente no anexo 1. O
item 4 foi respondido com o seguinte gráfico:

Fig.2: Gráfico com a classificação do tipo de material recebido pelas lojas Pão de
Açúcar. Fonte: BR+10

O item 6 não foi respondido enquanto o item 1 foi parcialmente respondido, apenas
com informações referentes aos nomes das cooperativas e seus respectivos responsáveis.
Quanto ao item 2 a resposta dada não acorda com o verificado posteriormente na pesquisa de
campo investigativa. De acordo com a BR+10 seria feito um rodízio contínuo de cooperativas
e lojas para evitar roubos e vícios de coleta, mas isso não ocorre nas lojas Cerro Corá e
Panamericana, onde a coleta é feita sempre e apenas pela Cooperativa Viva Bem. Esta por sua
vez só coleta lixo dessas duas lojas e de mais nenhuma. Portanto não foi verificado rodízio em
duas das três lojas estudadas, sendo que na terceira não foi identificada a cooperativa atuante.
Diante a discussão anterior fica evidente a falta de coerência do Grupo naquilo que
dizem e fazem. Ao restringir o acesso à informação o Grupo falhou em sua política de
transparência, o que nos leva a supor que possui coisas a esconder, as quais provavelmente
não condizem com sua auto-imagem de empresa sustentável, responsável social e
ambientalmente.

Perseguições e reflexão
No dia 4 de novembro chegou-se na loja Cerro Corá do Supermercado Pão de Açúcar,
na Rua Bairi, 435, Zona Oeste de São Paulo, por volta das 15 horas. No local havia três
funcionários da Cooperativa Viva Bem, identificáveis pelo uniforme, e dois deles terminavam
de fazer o carregamento em um caminhão do Departamento de Limpeza Urbana da Prefeitura
de São Paulo (Limpurb). Conversando com um dos funcionários descobriu-se que o lixo
seguiria direto para a cooperativa localizada na Marginal Tietê, onde todo o lixo seria de fato
reciclado, fato justificado pela grande quantidade de trabalhadores dedicados a essa função no
local. Terminado o carregamento, o caminhão seguiu caminho à Marginal Tietê e durante o
percurso perdeu-se o caminhão de vista. Isso ocorreu na Rua Botocudos localizada a 2 km da
cooperativa na Rua Embaixador Macedo Soares (Marginal Tietê) de acordo com o Google
Maps, o que leva a crer que o material estava tendo destinação correta.
No dia 5 de novembro foi-se ao Supermercado Brigadeiro Luis Antônio, localizado em
rua de mesmo nome e número 3172, também na Zona Oeste de São Paulo, às 11 horas,
horário em que o caminhão da Limburb deixava a loja, junto com dois funcionários também
da Limpurb identificados pelo uniforme. O caminhão seguiu para o Pão de Açúcar da Av.
Conselheiro Rodrigo Alvez onde permaneceu por uma hora fazendo o carregamento. Saindo
de lá, o caminhão seguiu para Avenida do Estado, 300 onde entrou em um grande
estabelecimento. Não se sabia o que era, mas viam-se diversos caminhões de lixo, tanto da
Limpurb quanto da Loga em fila para entrar e uma montanha de lixo no lado de dentro. Dois
funcionários na entrada do local forneceram a informação de que o local consistia em um
aterro e que o material reciclado passava por lá apenas para ser pesado e seguia para a
cooperativa. Mais tarde pesquisando na internet descobriu-se que o local tratava-se de uma
Estação   de   Transbordo   chamada   Ponte   Pequena,   “pontos   de   destinação   intermediária   dos  
resíduos coletados na cidade, criados em função da considerável distância entre a área de
coleta  e  o  aterro  sanitário”,  de  acordo  com  site  da  Prefeitura  de  São  Paulo.
No domingo dia 13 de novembro de 2011 chegou-se no Supermercado Pão de Açúcar
na Avenida Professor Alfonso Bovero, 1425 – Perdizes, Zona Oeste de São Paulo às 12h30
aproximadamente. Ao aproximar-se do ponto de coleta seletiva instalado no estacionamento
deste, havia um caminhão da empresa Limpurb sendo abastecido com os resíduos por três
funcionários, sendo um deles do próprio Pão de Açúcar e os outros dois da Limpurb,
identificáveis também através de seus uniformes.
Em conversa com estes três funcionários foi possível saber que realizavam este serviço
de terça e sábado e que este domingo era uma exceção e, antes desta parada neste mesmo dia
pela manhã haviam feito o mesmo trabalho (recolhimento de resíduos para reciclagem) no
Supermercado Pão de Açúcar da Praça Panamericana, 217 – Alto de Pinheiros, Zona Oeste de
São Paulo e ainda que levariam todo o resíduo recolhido para a Avenida do Estado.
Por volta das 13h00 já haviam carregado tudo para dentro do caminhão e os dois
funcionários da Limpurb seguiram com o seu caminho até a Avenida do Estado, como dito.
Em 40 minutos chegaram ao Transbordo Ponte Pequena.
Diante disso, ligou-se no Transbordo Ponte Pequena, cujo telefone é disponibilizado
no site da Prefeitura, para averiguar os fatos. Em primeira ligação perguntou-se somente se
todo o lixo que chegava ali ia para o aterro e a pessoa que atendeu o telefonema afirmou que
sim. Já em outra ligação buscou-se informações sobre o lixo reciclado que chegava ao local e
a pessoa disse que esse tipo de material só era pesado no local e seguia para as cooperativas
que faziam o trabalho de reciclagem.
Cabe aqui ressaltar que dentro do Transbordo Ponte Pequena também atua uma
Cooperativa chamada Coopere. No entanto de acordo com dados fornecidos tanto pela
empresa BR+10 (Anexo 2) quanto pela Cooperativa Coopere, essa empresa não recolhe lixo
das lojas da rede Pão de Açúcar.
Analisando as informações fornecidas pela BR+10 a respeito do processo de
reciclagem, o lixo deixa o ponto de coleta voluntária das lojas e, via logística de coleta, segue
para um ponto de triagem e, em seguida, para as indústrias recicladoras que correspondem ao
destino final (Figura 3).

Fig. 3: Ciclo do programa de reciclagem segundo a empresa BR+10 responsável por


essa gestão dentro dos Supermercados Pão de Açúcar
No entanto, segundo informações fornecidas por funcionário da BR+10, a coleta do
material é feita pelas próprias cooperativas, que levam o lixo para os centros de triagem
localizados dentro de suas cooperativas.
Veem-se então algumas informações contraditórias, pois obtive-se pessoalmente a
informação de que em três supermercados (Av. Alfonso Bovero, Pça. Panamericana e Av.
Brigadeiro Luis Antônio) quem estava fazendo a coleta do material era a Limpurb e não a
cooperativa. Além disso, esses resíduos foram encaminhados ao transbordo, ponto anterior do
encaminhamento para aterros, e não para as cooperativas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante dos fatos ficam evidentes contradições e divergências entre as informações
fornecidas e aquilo que se observou. A trajetória do trabalho foi marcada por grandes
inconsistências que não podem ser ignoradas, uma vez que a empresa Pão de Açúcar é um
supermercado de grande atuação em todo o Brasil e, portanto contribui e é influenciador do
comportamento e do consumo da sociedade atual.
Nesse contexto cabe um questionamento e reflexão sobre a atuação do Grupo Pão de
Açúcar (GPA) quanto à sua política de transparência e de responsabilidade sócio ambiental,
visto que a empresa busca se elevar no mercado a partir dessa autodenominação de empresa
responsável, o que traz aspectos positivos para sua imagem e na captação de clientes.
É de extrema importância que o GPA detenha todas as informações sobre o processo
de coleta seletiva mesmo que o serviço seja transferido às empresas terceirizadas (BR+10 e
cooperativas), afinal isso faz parte da responsabilidade do grupo para com seus clientes e a
sociedade na medida em que ele se apropria do processo, tendo como obrigação acompanhá-
lo até o fim. É preciso se apropriar do processo de forma efetiva e buscar pela concretização
deste, indo de encontro com o prometido e esperado pelos envolvidos.
Ressalta-se também a importância dos clientes e da sociedade envolvidos nesse
processo. Estes não devem simplesmente depositar lá os seus resíduos acreditando terem
solucionado o problema, e sim buscar informações sobre o caminho percorrido para
efetivação da reciclagem, acompanhando o processo até o fim, de forma a exercer
verdadeiramente sua postura de consumidor consciente.
REFERÊNCIAS
BUENO, Wilson da Costa. “A Transparência na Comunicação Empresarial”.
http://www.comunicacaoempresarial.com.br/comunicacaoempresarial/artigos/comunicacao_c
orporativa/artigo7.php (consultado em 07/11/11)

CHAPARRO, Manuel Carlos (2000). “Idéias sobre Comunicação Empresarial”. In: Revista
Comunicação Empresarial n. 16.

GRUPO PÃO DE AÇÚCAR (2010). Relatório Anual e de Sustentabilidade.

HART, S. L., MILSTEIN, M. B. (2003). “Creating sustainable value”. In: Academy of


Management Executive, Vol.17, No 2.

INSTITUTO ETHOS. Manual de incorporação dos critérios essenciais de Responsabilidade


Social Empresarial. São Paulo, 2009.

INSTITUTO ETHOS. Responsabilidade Social Empresarial para Empresas – Passo a Passo.


São Paulo, 2003.

NAGAN, M.S., MERLO, E.M., JUNIOR, S.S.B (2009). “Um estudo comparativo das
práticas de logística reversa no varejo de médio porte”. Revista da Micro e Pequena Empresa,
v.3, n.1.

TREVISAN, F. A (2002). “Balanço Social Como Instrumento De Marketing”. RAE-


eletrônica, Volume 1, Número 2.
Anexo 1: Volume médio mensal coletado por loja, cuja analise proporciona conhecimento das
lojas com maior e menor volume de materiais doados pelos clientes

Nº LOJA REGIONAL MÉDIA

1 PA 1218 304 / 305 Sul Brasília 1.568,1


2 PA 0310 516 Sul Brasília 2.991,9
3 PA 2384 Abílio Soares Norte Paulista 4.420,5
4 PA 2372 Águas Claras Brasília 2.327,3
5 PA 0006 Alfonso Bovero Oeste 9.734,3
6 PA 1222 Alphaville Jardins Morumbi 1.555,4
7 PA 2381 Alphaville Residencial Jardins Morumbi 1.796,0
8 PA 1017 Ana Rosa Norte Paulista 5.389,6
9 PA 122 Araçatuba Interior 2.799,2
10 PA 2450 Araujo Leite Interior 1.966,5
11 PA 2383 Baby Bassitt Interior 2.209,9
12 PA 2465 Barão de Itapura Campinas / Vale 4.461,2
13 PA 1293 Barão Geraldo Campinas / Vale 3.561,5
14 PA 1295 Barra da Tijuca Rio de Janeiro 1.830,5
15 PA 1758 Bartolomeu de Gusmão ABC - Litoral 2.080,5
16 PA 2370 Batel Paraná 1.741,1
17 PA 1284 Bessa Pe E Pb 603,2
18 PA 1201 Borba Gato Sul 15.362,4
19 PA 2481 Botucatu Interior 17.701,0
20 PA 0061 Brooklin Sul 9.101,5
21 PA 2374 Buena Vista Ceará 1.639,2
22 PA 0037 Cambuí Campinas / Vale 6.659,7
23 PA 1273 Campos do Jordão Campinas / Vale 3.349,1
24 PA 0150 Cardoso de Almeida Oeste 10.290,3
25 PA 2461 Carneiro da Cunha (Saúde) ABC - Litoral 4.994,5
26 PA 2318 Casa Verde Norte Paulista 9.950,7
27 PA 0026 Castelo Campinas / Vale 3.304,0
28 PA 2352 Cerro Corá Oeste 18.059,6
29 PA 2369 Champagnat Paraná 1.723,5
30 PA 1704 Clodomiro Amazonas Jardins Morumbi 16.848,1
31 PA 1253 Cocó Ceará 1.944,9
32 PA 2382 Dom Severino Teresina 1.838,5
33 PA 2464 Dr. César Norte Paulista 10.693,2
34 PA 143 Dr. Sattamini Rio de Janeiro 1.644,0
35 PA 1743 Epitácio Pessoa ABC - Litoral 6.482,5
36 PA 0255 Fatima Ceará 1.845,0
37 PA 2468 Figueiras ABC - Litoral 2.082,6
38 PA 1724 Fiúsa Interior 2.861,6
39 PA 1290 Granja Viana Jardins Morumbi 48.742,1
40 PA 1602 Guará I Brasília 2.887,9
41 PA 1768 Guatas Norte Paulista 10.919,4
42 PA 1205 Ibirapuera Sul 3.670,0
43 PA 1640 Ingá Rio de Janeiro 769,6
44 PA 1002 Itú Interior 3.776,9
45 PA 2336 Jabaquara ABC - Litoral 6.100,9
46 PA 2449 Jardim Estoril Interior 3.224,6
47 PA 0001 Jardim Paulista Jardins Morumbi 12.545,6
48 PA 0009 Jardim Paulistano Jardins Morumbi 15.491,7
49 PA 1269 Jardim Social Paraná 1.665,3
50 PA 1204 Joaquim Floriano Jardins Morumbi 13.669,1
51 PA 1252 Júlio Ventura Ceará 1.741,0
52 PA 1230 Lago Norte Brasília 3.203,3
53 PA 0304 Lago Sul Brasília 7.754,2
54 PA 2457 Lavandisca Sul 5.023,2
55 PA 2385 Loja Verde Indaiatuba Interior 8.336,0
56 PA 2435 Maracatins Sul 6.871,9
57 PA 0185 Maranhão Oeste 9.126,1
58 PA 2380 Maria Amália Norte Paulista 11.952,1
59 PA 2474 Marilia Interior 4.949,8
60 PA 1283 Miramar Pe E Pb 732,5
61 PA 1221 Moema Sul 12.514,9
62 PA 2333 Mons. Silva Barros Campinas / Vale 3.120,1
63 PA 1292 Morumbi Jardins Morumbi 38.074,2
64 PA 1257 Mucuripe Ceará 1.165,4
65 PA 1004 Náutico Ceará 1.496,4
66 PA 1291 Nova Cantareira Norte Paulista 18.591,9
67 PA 2332 Nova Santos ABC - Litoral 4.392,0
68 PA 2484 Ourinhos Interior 2.183,2
69 PA 0039 Pacaembu Oeste 7.530,3
70 PA 1770 Padre Antonio Sul 6.361,1
71 PA 1722 Panamby 3.138,8
72 PA 2377 Parnamirin Pe E Pb 2.068,7
73 PA 0146 Paróquia Rio De Janeiro 836,4
74 PA 1231 Pedroso Norte Paulista 4.690,3
75 PA 2329 Piracicaba Interior 3.835,9
76 PA 1216 Portal Jardins Morumbi 20.133,9
77 PA 1207 Praça Panamericana Oeste 23.304,3
78 PA 0189 Proença Campinas / Vale 4.027,7
79 PA 1299 Real Parque Jardins Morumbi 20.474,2
80 CB 0183 Rebouças Oeste 3.558,9
81 CB 1297 Rep. Argentina Paraná 2.049,1
Ribeirão Preto /
82 PA 1021
Independência
Interior 6.406,2
83 PA 1717 Ricardo Jafet ABC - Litoral 81.470,3
84 PA 1294 Rosa E Silva Pe E Pb 2.324,2
85 PA 1026 Rubem Berta Norte Paulista 5.786,4
86 PA 2462 Santa Filomena ABC - Litoral 7.016,9
87 PA 0116 Santana Norte Paulista 8.413,0
88 PA 0170 Santo Amaro Sul 13.711,8
89 PA 0018 Santos ABC - Litoral 4.062,0
90 PA 2469 São Caetano do Sul ABC - Litoral 8.258,2
91 PA 0225 São Cristovão Teresina 1.520,4
92 PA 2375 São Gerardo Ceará 1.014,5
93 PA 1220 São João Ceará 3.920,1
94 PA 2402 São Jose do Rio Preto Interior 2.364,8
95 PA 1774 São Sebastião ABC - Litoral 496,0
96 PA 205 São Vicente ABC - Litoral 1.406,8
97 PA 1214 Sócrates Sul 14.649,4
98 PA 1296 Sudoeste Brasília 5.903,3
99 PA 0062 Sumaré Oeste 6.270,8
100 PA 2378 T63 Pão de Açucar Brasília 1.282,8
101 PA 2379 Tamandaré Brasília 1.359,6
102 PA 1289 Tatuapé Norte Paulista 17.843,7
103 PA 0186 Taubaté Independência Campinas / Vale 3.572,5
104 PA 2354 Tejereba ABC - Litoral 3.315,0
105 PA 2349 Teodoro Oeste 19.488,3
106 PA 2053 Vila Clementino Sul 7.108,9
107 PA 2068 Vila Romana Oeste 4.468,3
108 PA 1298 Virgílio Távora Ceará 2.255,1
109 PA 1233 W3 Norte Brasília 3.204,6
110 PA 2409 Washington Luis Sul 36.649,6
111 PA 1668 Jd. Oceânico Rio de Janeiro 370,9
112 PA 1878 Souza Campinas 3.245,2
113 PA Augusto Tolli São Paulo 1.443,4

Anexo 2: Cooperativas beneficiadas com a gestão do lixo dos Supermercados Pão de Açúcar

NOME FANTASIA CONTATO CIDADE U.F.

ACREPON Silvia / Helena Araçatuba SP


ASCAJAN Liana Fortaleza CE
AVEMARE Isabel/Claudilene Santana de Parnaíba SP
COMAREI Dárcio Itú SP
COOPAGRES Maria José Recife PE
COOPAMARE Célia São Paulo SP
COOPCICLA Altanir ABC SP
COOPERAÇÃO Neilton São Paulo SP
COOPERBEN Marcelo ABC - Litoral SP
COOPERCAPS Sandra São Paulo SP
COOPERCIAL Verônica/Vânia São Vicente SP
COOPERLAGOS João São José do Rio Preto SP
COOPERLIMPA José Lacerda Diadema SP
COOPERMYRE Alberto São Paulo SP
COOPERNOES Alex Brasília DF
COOPERSUSS Sandra São Sebastião SP
COOTRACIL Ana Marília SP
COTRAMAT Caceília Bauru SP
DOE SEU LIXO Julio Rio de aneiro RJ
EMAÚS Antônio Teresina PI
GRANJA JULIETA Mara São Paulo SP
MÃO A MÃO Evanir Botucatu SP
MÃOS DADAS Eliane Ribeirão Preto SP
NOVA CONQUISTA Rose/Arami São Paulo SP
ONG CLARA NUNES Regina Osasco SP
RECICLA OURINHOS Matilde Ourinhos SP
RECICLO Jaqueline Brasília DF
RE-SI-CLANDO Solange Taubaté SP
SEM FRONTEIRAS Flavio Sã Paulo SP
UNIÃO ITAQUERA Roberto/Pedro São Paulo SP
VIVA BEM Telma/Tereza São Paulo SP

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