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Ficha Técnica

Dimensões da Sustentabilidade no Contexto da Itaipu Binacional


Módulo 03 - Edição 01 - Outubro de 2019

Equipe Técnica do Projeto


Angela Barbara Tischner
Geovana Maria Gasparoto Silva
Milena Cornelio Olivi
Poliana Cristina Correa
Vacy Álvaro Pedrosa Junior

Gerente do Projeto
Rolf Massao Satake Gugisch
Núcleo de Inteligência Territorial - NIT
Parque Tecnológico Itaipu - PTI

Coordenador Técnico do Projeto


Kleber Vanolli
Departamento de Proteção Ambiental
Superintendência de Gestão Ambiental
Diretoria de Coordenação - CD
Itaipu Binacional

Redação e Revisão
Angela Barbara Tischner
Cássia Santana Ribeiro
Cristiane Fracaro Penzin
Geovana Maria Gasparoto Silva
Leilane Dalla Benetta
Kleber Vanolli
Mariana Smanhotto Schuchovski Gaziri
Milena Cornelio Olivi
Poliana Cristina Correa
Vacy Álvaro Pedrosa Junior
Vanessa Bordin
Vanessa Weber Leite

Validação Técnica
Ariel Scheffer da Silva
Kleber Vanolli
Silvana Vitorassi

Realização
Escola Internacional para Sustentabilidade
Núcleo de Inteligência Territorial - NIT
Parque Tecnológico Itaipu – PTI

Superintendência de Gestão Ambiental


Diretoria de Coordenação - CD
Itaipu Binacional

Projeto Educacional e Projeto Gráfico


VG Educacional
GESTÃO TRANSPARENTE

A Itaipu é uma Entidade Binacional criada e regida, em igualdade de direitos


e obrigações, pelo Tratado assinado em 26 de abril de 1973, entre a República
Federativa do Brasil e a República do Paraguai. A empresa busca atuar em
consonância com os padrões internacionais, brasileiros e paraguaios em
matéria de transparência, mediante deliberações consensuais que envolvem
brasileiros e paraguaios.

A Itaipu tem políticas, diretrizes e objetivos que prevêem a gestão


transparente e o acesso à informação, destacando-se as seguintes inciativas:
o Código de Ética da Itaipu e o respectivo Comitê de Ética Binacional; a
aderência à Lei Sarbanes-Oxley (SOX); a implantação do Portal de Compras
Eletrônicas; o Código de Conduta para os fornecedores, a adoção de um
Sistema Integrado de Gestão Empresarial (Enterprise Resource Planning
-ERP), da empresa SAP; a Ouvidoria; o Canal de Denúncias Externo; e o
menu de Acesso à Informação, contendo informações como os documentos
oficiais da entidade, informações sobre os Recursos Humanos, informações
institucionais, Relatórios Financeiros, Anuais e de Sustentabilidade, diretrizes
do Planejamento Estratégico e perguntas frequentes.

Código de Ética

O Código de Ética da Itaipu visa explicitar o conjunto de valores, os princípios


éticos e os padrões de conduta que devem nortear o relacionamento entre
os conselheiros, diretores, empregados da Itaipu e toda sua cadeia de valor,
com intuito de gerar e manter um compromisso recíproco na adoção de uma
postura transparente que envolva a valorização da ética, contribuindo para a
credibilidade da Itaipu perante a sociedade. O Comitê de Ética da Itaipu tem
como atribuição – com base no Código de Ética e nos demais instrumentos
normativos da Entidade – analisar os casos evidenciados, detectados ou
submetidos à consideração do Colegiado e emitir parecer sobre eles para
apreciação e providências das autoridades da Itaipu.
Sumário
Dimensões da Sustentabilidade no Contexto da Itaipu Binacional

INTRODUÇÃO..................................................................................................................................... 9

SUSTENTABILIDADE: VALORES, PRINCÍPIOS E METAS....................................................... 10

Desenvolvimento Sustentável ou Sustentabilidade?.......................................................... 10

As dimensões da Sustentabilidade............................................................................................ 11

Antecedentes da Sustentabilidade............................................................................................ 13

Evolução da Sustentabilidade..................................................................................................... 15

GLOBAL x LOCAL x GLOBAL......................................................................................................... 24

Mudanças do Clima......................................................................................................................... 24

Os Limites Planetários.................................................................................................................... 28

A Itaipu Binacional e sua Relação Global x Local x Global................................................ 29

MODELO DE GOVERNANÇA DA ITAIPU NO SEU TERRITÓRIO DE INFLUÊNCIA......... 35

Governança Participativa e Território....................................................................................... 37

Itaipu Binacional - Modelo de Governança Participativa na Gestão por Bacia

Hidrográfica....................................................................................................................................... 38

DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL SUSTENTÁVEL.............................................................. 44

A Diferença entre Desenvolvimento e Crescimento........................................................... 44

Desenvolvimento e Autonomia do Meio Rural...................................................................... 45

Multidimensionalidade do Território......................................................................................... 52

Programa Desenvolvimento Rural Sustentável ................................................................... 53

REFERÊNCIAS.................................................................................................................................... 73
Dimensões da
Sustentabilidade
no Contexto da Itaipu
Binacional
Módulo 03
OBJETIVOS DO
MÓDULO

Compreender o verdadeiro significado de sustentabilidade e de desenvolvi-


mento sustentável;

Analisar antecedentes históricos e entender a evolução da sustentabilidade,


por meio de eventos globais e documentos planetários;

Compreender a relação da Itaipu Binacional com os Objetivos de


Desenvolvimento Sustentável (ODS) e verificar suas ações consonantes com
os ODS;

Entender os impactos e consequências das mudanças climáticas;

Compreender a importância da definição dos limites planetários e como a


Itaipu Binacional os considera em suas ações;

Entender a atuação da Itaipu Binacional em sua relação global x local x global;

Conhecer o modelo de governança participativa adotado pela Itaipu Binacional;

Compreender o conceito de desenvolvimento territorial sustentável e conhecer


os programas de incentivo da Itaipu Binacional;

Observar a aplicação do desenvolvimento territorial sustentável aplicado ao


meio rural, por meio de cooperativas e associações no oeste do Paraná, área de
abrangência da Itaipu Binacional.
INTRODUÇÃO

Vamos falar sobre sustentabilidade?

Você certamente já escutou esse termo em diversos lugares, mas, com

tantos usos diferentes para essa palavra, é necessário entender melhor o seu

verdadeiro conceito.

Para compreender a origem desse termo e a sua definição, vamos começar

com alguns conceitos, partir para algumas histórias, seguir para algumas

relações global x local x global e contextualizar essa temática junto às

iniciativas e ações da Itaipu Binacional no seu território de influência.

9
SUSTENTABILIDADE: VALORES,
PRINCÍPIOS E METAS

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
OU SUSTENTABILIDADE?
A sustentabilidade de uma sociedade pode ser determinada pela sua

capacidade de incluir e garantir os meios necessários para uma vida de

qualidade, assegurando a oportunidade das próximas gerações também

interagirem e conviverem com a mesma qualidade. No entanto, existem duas

vertentes que têm se destacado e se diferenciam na prática:

1) Desenvolvimento sustentável: apresentado pela ONU na Rio-92, está mais

vinculado às questões de economia e relações internacionais, com foco na

proteção de recursos naturais, garantindo a sustentabilidade da economia

mundial e a capacidade de garantir a qualidade de vida das sociedades desta

e das futuras gerações;

2) Sustentabilidade: que permite repensar valores e comportamentos

cotidianos para gerar uma cultura da sustentabilidade, mais voltada à garantia

da qualidade de vida, com valorização das dimensões culturais, sociais,

espirituais, ecológicas e também econômicas, em que os princípios da Carta

da Terra e as premissas do Tratado de Educação Ambiental para Sociedades

Sustentáveis e Responsabilidade Global norteiem tomadas de decisão e

garantam a diversidade, o respeito a todas as formas de vida e a cultura da paz.

Você verá mais sobre a Rio-92, a Carta da Terra e o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global ainda

neste módulo!

10
Fonte: Rawpixel / 123RF.

AS DIMENSÕES
DA SUSTENTABILIDADE

Ignacy Sachs (1993) evidencia a necessidade de uma visão holística dos

problemas da sociedade, não concentrando as ações somente na gestão

dos recursos naturais. Para tanto, propôs que todo o planejamento de

desenvolvimento precisa considerar, simultaneamente, as seguintes

dimensões de sustentabilidade, ou “ecodesenvolvimento”: social, econômica,

ecológica, espacial e cultural.

11
Mais recentemente, Sachs (2002) passou a considerar oito dimensões da

sustentabilidade, inserindo também as dimensões ambiental, política

nacional e política internacional.

Para Carlos Rodrigues Brandão (2008, p. 136), a sustentabilidade:

[...] significa uma nova maneira igualitária, livre, justa, inclusiva e

solidária de as pessoas se unirem para construírem os seus mundos

de vida social, ao mesmo tempo em que lidam, manejam ou

transformam sustentavelmente os ambientes naturais onde vivem e

de que dependem para viver e conviver.

O modelo atual de produção almeja níveis de acumulação cada vez maiores

e “aceita” todos os tipos de tecnologias que podem comprometer o equilíbrio

dos ecossistemas, entre tantos outros danos. A solução demanda uma

coalizão de forças mundiais ao redor de uma nova sensibilidade ética, novos

valores, outras formas de relacionamento com a natureza e novos padrões de

produção e consumo (BOFF, 2012).

12
Segundo Cintra (2011), muitas empresas já desenvolvem ações e tomadas de

decisão que demonstram um alinhamento com a tendência da busca pela

sustentabilidade, incentivando uma mudança nos processos de produção e

consumo sustentáveis, como é o caso da Itaipu Binacional, que você conhecerá

melhor posteriormente, no contexto da gestão para sustentabilidade

territorial.

ANTECEDENTES DA
SUSTENTABILIDADE
A intensificação das atividades industriais e o aumento do ritmo do

desenvolvimento econômico mundial tiveram como consequência grandes

acidentes e desastres ao longo da história recente.

Na década de 1930, por exemplo, um fenômeno climático extremo, com fortes

tempestades de poeira devastaram a região atingida pela seca das Planícies

do Sul, nos Estados Unidos, e acarretaram a morte de pessoas e animais. Este

fenômeno ficou conhecido como Dust Bowl, que significa bacia de poeira.

Em 1956, o mundo assistiu a uma tragédia humana conhecida como o Desastre

de Minamata, quando, na baía de Minamata, no sul do Japão, centenas de

pessoas morreram ou sofreram de debilidade mental devido ao despejo de

toneladas de mercúrio no meio ambiente.

13
Descarte inadequado de resíduos contendo mercúrio, que ocasionou o Desastre de Minamata
Fonte: Case... (on-line).

Em 1984, outro grande desastre chamou a atenção do mundo, matando

quatro vezes mais do que Chernobyl: o vazamento de gás em Bhopal, na Índia.

Segundo estimativas, em apenas um dia aproximadamente 25 mil pessoas

morreram em decorrência da inalação do gás (AH, 2019). Os impactos se

estenderam além das regiões onde ocorreram e seus entornos, não só sob o

ponto de vista do meio ambiente e da sociedade, mas também nos aspectos

econômicos, culturais, políticos, de saúde, entre outros.

Essas e outras tragédias levaram a crises que fizeram a sociedade compreender

a necessidade da busca de um novo modelo de desenvolvimento econômico,

que levasse em consideração todos os possíveis impactos - negativos e positivos

- das atividades humanas.

Assim, sob o ponto de vista ambiental, o desenvolvimento sustentável iniciou

com ações isoladas, com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU),

e levou à organização de grandes encontros internacionais e à tomada de

decisões para seguir em um novo modelo de desenvolvimento econômico e

cultural em nível mundial.

14
EVOLUÇÃO DA
SUSTENTABILIDADE
A partir da Revolução Industrial, houve a necessidade de aumentar a produção

e aquecer a economia. Com foco no crescimento econômico, a sociedade

passou a ser estimulada a satisfazer seus desejos e a consumir em massa.

Entretanto, esse ritmo acelerado de produção e consumo não permite que o

meio ambiente tenha o tempo necessário para se regenerar com relação ao

consumo dos seus recursos e à intensa geração de resíduos de todos os tipos.

Fonte: Roman Mikhailiuk / 123RF.

A noção de sustentabilidade sobre a constatação da finitude dos recursos

naturais e do seu gradativo esgotamento possui duas origens:

1. A primeira vem da Biologia, por meio da Ecologia, e refere-se à capacidade

de recuperação e de reprodução dos ecossistemas em face de agressões

do ser humano, como o consumo desenfreado dos recursos naturais;

2. A segunda partiu da Economia e define o desenvolvimento em face da

percepção de que o padrão de produção e consumo em expansão no

mundo, sobretudo no último quarto do século XX, não pode persistir

(NASCIMENTO, 2012).

15
Um dos grandes marcos do movimento ambientalista foi o lançamento do livro de

Rachel Carson, “Primavera silenciosa”, em 1962. A obra constitui um importante

alerta para os perigos do uso indiscriminado de pesticidas e inseticidas, em especial

o diclorodifeniltricloroetano, mais conhecido como DDT. Menos de dois anos

depois do lançamento do livro, iniciou-se uma série de eventos que culminaram na

proibição da utilização do DDT e na criação de um movimento popular que passou

a exigir a proteção do meio ambiente por meio de regras e leis.

Nesse contexto, considerando os acontecimentos trágicos já mencionados,

as Guerras Mundiais e as crises econômicas, iniciaram-se as conferências e os

encontros ambientalistas ao redor do mundo, bem como a criação de normas

e leis para garantir o respeito à natureza e ao meio ambiente.

Principais Eventos Globais no Contexto da Sustentabilidade

1950
Aconteceu a Convenção de Genebra, que entrou em vigor em 21 de outubro

de 1950 e destinou-se a elaborar uma série de convenções internacionais para

a proteção das vítimas da guerra. Foi estabelecida a proibição do emprego

de métodos ou meios de combate que pudessem causar danos ao meio

ambiente natural.

1968
Em 1968, foi promovido um encontro para discutir o futuro das condições

humanas no planeta, além de avaliar questões de ordem política, econômica

e social relacionadas ao meio ambiente. A primeira reunião aconteceu em

uma pequena vila em Roma, dando origem ao Clube de Roma.

16
1972
A mais relevante contribuição do Clube de Roma se deu em 1972, com a

publicação do relatório “Os Limites do Crescimento”. O estudo utilizou

sistemas de simulação da interação entre o homem e o meio ambiente,

levando em consideração o aumento populacional e industrial, insuficiência

da produção de alimentos e o esgotamento dos recursos naturais. Dentre

os diversos aspectos identificados, a conclusão principal foi que se a

humanidade continuasse a consumir os recursos naturais como na época,

eles se esgotariam em menos de 100 anos. A declaração teve grande

repercussão, entre muitas críticas vindas da política mundial alegando que

o Clube de Roma tinha intenção de frear o crescimento econômico.

A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente Humano, realizada

em Estocolmo em 1972 (Conferência de Estocolmo), foi um dos marcos

mais importantes para o debate mundial sobre meio ambiente. A Declaração

resultante do encontro contém 19 princípios que representam um manifesto

ambiental para os tempos atuais, estabelecendo as bases para a nova Agenda

Ambiental do Sistema da ONU.

Da Declaração de Estocolmo, em 1972, ressalta-se o seguinte trecho:

Chegamos a um ponto na História em que devemos moldar nossas

ações em todo o mundo, com maior atenção para as consequências

ambientais. Através da ignorância ou da indiferença podemos causar

danos maciços e irreversíveis ao meio ambiente, do qual nossa vida e

bem-estar dependem. Por outro lado, através do maior conhecimento

e de ações mais sábias, podemos conquistar uma vida melhor para

nós e para a posteridade, com um meio ambiente em sintonia com as

necessidades e esperanças humanas (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES

UNIDAS BRASIL, s/d, on-line).

17
1987
A Conferência de Estocolmo foi a precursora de diversas e importantes ações,

das quais ressalta-se a criação da Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU).

Presidida por Gro Harlem Brundtland, ex-primeira-ministra da Noruega, a

Comissão recomendou a criação de uma nova declaração universal sobre a

proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. Surge, então, o conceito

do desenvolvimento sustentável, definido no Relatório Brundtland (“Nosso

Futuro Comum”), em 1987, como: “o desenvolvimento que encontra [satisfaz]

as necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações

de atender suas próprias necessidades” (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES

UNIDAS BRASIL, 2019).

1992

Em 1992, ocorreu no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas sobre

Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio 92, ou Eco 92. A Cúpula da Terra,

como também ficou conhecida, apresentou ao mundo um novo paradigma

de desenvolvimento, visando à sustentabilidade.

Nos embates ocorridos nas conferências internacionais de Estocolmo (1972) e

Rio de Janeiro (1992), nasceu a noção de que o desenvolvimento envolve, além

das abordagens econômica e ambiental, o social. Nesse aspecto, é inerente o

princípio de que pobreza é provocadora de agressões ambientais e, por isso,

a sustentabilidade deve contemplar a equidade social e a qualidade de

vida dessa geração e das próximas, introduzindo, de forma transversal, a

dimensão ética (NASCIMENTO, 2012).

18
Principais Documentos e Princípios Planetários

• Agenda 21

Esse documento consiste em um plano mundial para o século XXI para a proteção

do nosso planeta e seu desenvolvimento sustentável (ORGANIZAÇÃO DAS

NAÇÕES UNIDAS BRASIL, 2019). A Agenda 21 fundamentou a necessidade de

comprometimento de todos os países em refletir, tanto global quanto localmente,

considerando a cooperação de todos os setores da sociedade (governos, empresas,

organizações não governamentais e outros atores) na busca de soluções para os

problemas socioambientais.

Aqui, destacamos o capítulo 18 da Agenda 21, o qual trata sobre a “Proteção da

qualidade e do abastecimento dos recursos hídricos: aplicação de critérios

integrados no desenvolvimento, manejo e uso dos recursos hídricos”. Esse,

em especial o item 18.9, aborda a necessidade de que o manejo integrado dos

recursos hídricos, inclusive a integração de aspectos relacionados à terra e à água,

deve ser feito ao nível de bacia ou sub-bacia de captação (BRASIL, 1992, on-line).

• Tratado de Educação Ambiental

Paralelamente à Rio 92, ocorreu o Fórum Global das ONGs, em que foi

oficializado, junto à participação e mobilização social, o Tratado de Educação

Ambiental para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.

O documento de nível planetário é norteador da Política Nacional de Meio

Ambiente e da Política Nacional de Educação Ambiental, ambas brasileiras,

as quais deram origem a diversas políticas de mobilização e ao fortalecimento

de Coletivos Educadores, Comitês Gestores, Redes e Comitês.

• A Carta da Terra

A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção

de uma sociedade global mais ética, justa, sustentável e equitativa no século XXI.

19
A Carta da Terra é um importante norteador para o desenvolvimento

sustentável no contexto global. A Itaipu Binacional também alinhou as ações,

especialmente as de seus programas socioambientais no âmbito regional,

com os princípios apresentados pelo documento. E em meados dos anos 2000,

Itaipu iniciou um amplo trabalho de divulgação desse documento planetário,

buscando seguir seus princípios nos processos de mobilização social para a

gestão integrada por bacias hidrográficas da sua área de influência.

• Os Objetivos do Desenvolvimento do Milênio - ODM

Ainda durante a Rio 92, foi articulada uma estratégia global para o

desenvolvimento sustentável, mas somente em setembro de 2000, em novo

encontro organizado pela ONU - a Cúpula do Milênio, em Nova York - foi

estabelecida, quando 191 nações se comprometeram com a Declaração do

Milênio da ONU. Foram criados oito objetivos globais que guiaram a agenda

sustentável do planeta até o ano de 2015.

Os 8 Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM)

O Brasil foi um dos países que mais avançou no cumprimento das metas dos

ODM. Entre os resultados significativos estão, por exemplo, a redução em 55%

da mortalidade materna. As conquistas são decorrentes da implantação de

20
políticas públicas e do engajamento de diferentes atores públicos, privados e

da sociedade civil.

• Os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

Uma nova agenda global de desenvolvimento foi aprovada em setembro de

2015, após consultas abertas e pesquisa global da qual participaram mais de

1,4 milhão de pessoas de mais de 190 países, entre governos, sociedade civil,

setor privado, universidade e instituições de pesquisa.

Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Esse levantamento resultou nos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

(ODS), divididos em 169 metas, que têm a intenção de enfrentar os principais

problemas que afetam a humanidade, como as mudanças climáticas, a fome,

a miséria, a contaminação dos ecossistemas e o esgotamento das fontes de

água potável. Eles foram construídos com base no êxito alcançado com os ODM,

dando continuidade com um novo conjunto de objetivos e metas voltadas para

o desenvolvimento sustentável na contemporaneidade.

Os ODS podem ser divididos em 5 grandes áreas: Pessoas, Prosperidade,

Paz, Parcerias e Planeta, conforme pode ser visto na Figura 4.

21
As cinco grandes áreas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
Fonte: Agenda 2030 (on-line).

Principais Diferenças entre os ODM e os ODS

ODM ODS

No um bilhão de pessoas Na população mundial;

vivendo na pobreza absoluta; Escala global;

FOCO Nos países em Desenvolvidos: liderança

desenvolvimento e na mudança de padrões

países com menor insustentáveis de produção e

desenvolvimento relativo. consumo.

Maior importância

MEIOS DE Ajuda, dinheiro público, de recursos privados;

IMPLEMENTAÇÃO filantropia (doações)


Tecnologia; incentivos

tributários, investimento direto.

22
CONSTRUÇÃO De cima pra baixo Colaborativa

Governos, com papel muito Governos, setor privado e


ATUAÇÃO
limitado do setor privado sociedade

Principais diferenças entre os ODM e os ODS


Fonte: Adaptado de PNUD (2015).

A Relação da Itaipu Binacional com os ODS


A ONU reconhece a importância do papel das empresas no alcance dos ODS,

uma vez que, além de serem a força motriz do sistema econômico, possuem

estratégias de negócios que impactam diretamente o ambiente social e

ambiental em que operam. Na Itaipu Binacional, o planejamento das ações é

fundamentado nas diretrizes do Governo Federal e documentos planetários.

Por isso, desde 2005, o planejamento estratégico da hidrelétrica vem sendo

orientado inicialmente pelos ODM e, atualmente, pelos ODS.

Comprometida como agente indutor do


desenvolvimento do seu território de
abrangência e em sua própria missão,
a Itaipu desenvolve boa parte de suas
iniciativas em consonância com os ODS,
orientadas, especialmente, para a proteção
da água - matéria-prima da geração de
energia -, e para a melhoria da qualidade de
vida da população de sua área de influência
no Brasil e no Paraguai.

O curso que você está fazendo, pela proposta da Escola Internacional para

a Sustentabilidade, é mais uma prática da Itaipu voltada à implantação dos

ODS. Em especial, o ODS 17, que trata sobre as parcerias para a implementação

da Agenda Global e dos ODS, propondo um caminho para o crescimento

sustentado e para o desenvolvimento sustentável das nações.

23
GLOBAL X LOCAL X GLOBAL

MUDANÇAS
DO CLIMA
Um dos temas mais atuais no que tange à sustentabilidade é o das mudanças

do clima. Os impactos desses eventos climáticos extremos influenciam

diretamente a segurança alimentar e nutricional da humanidade, e podem

causar impedimentos para superar a pobreza e alcançar o desenvolvimento

sustentável, dificultando cumprir as metas dos Objetivos do Desenvolvimento

Sustentável (FAO, 2017).

No âmbito local, em 2015, um tornado ocorreu no município paranaense

de Marechal Cândido Rondon que faz parte da BP3. Segundo o Sistema

Meteorológico do Paraná (Simepar), foram registrados ventos com mais de

115 km/h (quilômetros por hora).

24
Tornado no município de Marechal Cândido Rondon - PR
Fonte: Memória Rondonense (2015).

Tornado no município de Francisco Beltrão - PR


Fonte: Blog Central (2018).

Naquele ano, foram registrados mais dois tornados na região com

intensidades similares ao mencionado anteriormente: um em Francisco

Beltrão e outro em Cafelândia.

25
Esses e tantos outros eventos climáticos extremos presenciados localmente

deixam ainda mais evidente a necessidade urgente de ações de mitigação e

de adaptação a essas mudanças, no contexto local e global. Um desequilíbrio

hídrico, por exemplo, pode vir a desencadear outras crises, inclusive energética.

Nesse contexto, no território de influência da Itaipu Binacional, várias medidas

têm sido tomadas para garantir segurança hídrica e energética, que você

conhecerá nos próximos módulos.

No âmbito internacional, foram adotadas duas decisões importantes:

1. A criação do IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças

Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change), em 1988, com o

objetivo de avaliar as informações científicas, técnicas e socioeconômicas

relevantes para a compreensão dos riscos das mudanças climáticas de

origem antrópicas;

2. A adoção da UNFCCC, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre

Mudança do Clima (United Nations Framework for Climate Change),

criada durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e

Desenvolvimento, a Rio 92.

O relatório de 2018, do IPCC, evidencia que o cenário de aumento de 2°C

na temperatura global terá consequências devastadoras, que envolvem

a perda de habitats naturais e de biodiversidade, a diminuição de calotas

polares e o aumento do nível do mar - impactando na saúde das populações,

nos meios de subsistência, na segurança humana e no crescimento

econômico (IPCC, 2018, tradução livre).

26
Fonte: INFOGRAPHIC... (on-line).

Em 1997, na COP 3, realizada em Kyoto, no Japão, foi criado um tratado

complementar à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do

Clima, chamado de Protocolo de Kyoto.

Em 2015, na COP 21, em Paris, na França, adotou-se um novo compromisso -

o chamado Acordo de Paris, com o objetivo de fortalecer a resposta global à

ameaça da mudança do clima, além de reforçar a capacidade dos países para

mitigar e se adaptar aos impactos decorrentes dessas alterações. O acordo foi

aprovado por 195 países da UNFCCC para reduzir emissões de gases de efeito

estufa no contexto do desenvolvimento sustentável.

O Brasil, até então, tem seguido o Acordo de Paris e dispõe de uma Política

Nacional sobre Mudança do Clima (PNMC) desde 2009, oficializando o

seu compromisso voluntário junto à Convenção-Quadro das UNFCCC

para a redução de emissões de gases de efeito estufa entre 36,1% e 38,9%

das emissões projetadas até 2020. Essa política foi instituída pela Lei n.º

12.187/2009 e regulamentada pelo Decreto n.º 7.390/2010.

27
OS LIMITES
PLANETÁRIOS
Com o rápido crescimento da industrialização e com a manutenção do uso de

combustíveis fósseis, as atividades humanas atingiram níveis que podem

ser irreversíveis e, em alguns casos, causar mudanças ambientais abruptas.

Em outras palavras, para se alcançar a sustentabilidade ambiental, é

necessário definir limites para a produção e o consumo sustentáveis.

O conceito de “Limites Planetários” trata de uma abordagem estratégica

para os limites da manutenção da vida humana no planeta.

Os nove limites planetários


Fonte: Adaptado de University of Cambridge Institute for Sustainability Leadership (2014)

28
A Itaipu Binacional tem assumido seu compromisso local e global com

relação à gestão integrada e sustentável do território de abrangência de sua

bacia hidrográfica, especialmente com o uso responsável da água, o que vai

ao encontro desses conceitos e limites planetários também. A hidrelétrica

direciona ações considerando não somente o aspecto da segurança hídrica

para prover a sustentabilidade econômica na geração de energia elétrica,

mas também para o abastecimento humano, a agricultura e pecuária, o

lazer e turismo, além de outros usos que representam as dimensões sociais e

ambientais do desenvolvimento sustentável.

A ITAIPU BINACIONAL E SUA


RELAÇÃO GLOBAL X LOCAL X GLOBAL

O foco da Itaipu, de acordo com sua missão, é garantir bons resultados

econômicos ao mesmo tempo em que contribui para o desenvolvimento

social, respeitando os limites de capacidade de carga do planeta, criando

uma cultura de sustentabilidade na sua área de influência.

29
Com a ampliação da área de abrangência da hidrelétrica dos 16 municípios

lindeiros para os 29 que compõem a BP3 e, na sequência, abrangendo 55

municípios (oeste do Paraná e Mundo Novo - MS), a Itaipu desenvolve

programas voltados à conservação ambiental, melhorias na infraestrutura,

saúde pública, geração de renda, educação, proteção e respeito aos direitos

humanos, que contribuem para a constante melhoria da qualidade de vida

na região.

A Itaipu tem atuado nesta região com o mesmo conceito: pensar

globalmente e agir localmente, promovendo iniciativas em parceria com os

municípios, órgãos do governo, proprietários rurais, cooperativas agrícolas

e outros atores.

Os impactos da atividade agrícola intensa, o mau uso do solo, a produção

de proteína animal sem adequado tratamento de resíduos gerados, a pesca

predatória, os resíduos urbanos, a caça em áreas de conservação e o turismo

não regulamentado exercem grande influência sobre as bacias hidrográficas

e questões hídricas. Embora à primeira vista não pareçam pertinentes à

demanda da Itaipu Binacional, que é gerar energia com qualidade, essas

atividades afetam diretamente a quantidade e qualidade da água.

O agronegócio é referência nesta região, com grandes propriedades

produtoras de grãos, e é caracterizada por pequenas propriedades rurais que

utilizam-se da agricultura moderna na produção de grãos e mão de obra com

caráter predominantemente familiar.

Devido a essa característica de propriedades menores, a produção pecuária

utilizando-se de confinamento é comum.

30
Uma das consequências dessa atividade é a alta concentração de animais

em um pequeno espaço de área, com a consequente concentração de

biomassa residual, ou seja, dejetos animais. Um dos problemas provocados

por esses dejetos animais, quando armazenados em esterqueiras, é a sua

decomposição, que produz o gás metano - um dos gases causadores do

efeito estufa e 21 vezes mais prejudicial que o gás carbônico.

Suinocultura em sistema de confinamento


Fonte: Kiko Sierich / Parque Tecnológico Itaipu.

Assim, a Itaipu sugere ações que garantem a mitigação de passivos

ambientais locais, além da geração de renda extra para o produtor rural.

Um exemplo concreto é o caso do biogás/biometano, que surge como uma

medida de saneamento rural e, ao mesmo tempo, transforma um passivo

ambiental em ativo, ou seja, transforma os dejetos da produção pecuária,

antes considerados um problema para a propriedade e meio ambiente, em

combustível, como uma nova fonte de matéria-prima, que pode ser utilizado

pelo próprio produtor, diminuindo custos financeiros e garantindo processos

de sustentabilidade na propriedade.

31
A grande demanda de água para prover as granjas de aves e suínos demonstra

a estreita relação existente no nexo água-energia-alimento enquanto um

dos maiores desafios da atualidade, já que a interação entre esses elementos

nem sempre é apropriadamente compreendida e gerida no Brasil.

Veja nos Quadros 2 e 3 a seguir as diversas informações sobre os rebanhos de

aves e suínos na Bacia do Paraná 3 (BP3), no oeste do estado do Paraná, como:

produção total (unidades), distribuição geográfica, ranking dos municípios de

acordo com o tamanho do rebanho e, principalmente, a demanda de água

para atender a produção.

Distribuição de rebanhos de aves na região de influência da Itaipu Binacional


Fonte: Itaipu Binacional (2019).

32
Distribuição de rebanhos de suínos na região de influência da Itaipu Binacional
Fonte: Itaipu Binacional (2019).

O município de Toledo-PR, por exemplo, ocupa o primeiro lugar no ranking da

produção de aves e de suínos. Juntamente aos produtores dos demais municípios,

essas atividades influenciam sobremaneira os arranjos produtivos locais.

Realizar a gestão do território de modo sistêmico e sustentável, seguindo

a legislação ambiental é um desafio para uma região altamente produtiva

como a da Itaipu. Na prática, a Itaipu Binacional atua localmente, aplicando o

conceito de Gestão Integrada por Bacias Hidrográficas, além de intensificar

as suas ações de responsabilidade socioambiental.

A Itaipu Binacional preocupou-se em levar a sustentabilidade para o seu

interior, não apenas com a conscientização, mas também em iniciativas com

os colaboradores em temas como qualidade de vida, educação financeira,

incentivo ao voluntariado e equidade de gênero, com uma nova forma de

governança, por meio da sustentabilidade empresarial e por sua Política

Binacional de Sustentabilidade.

33
Política Binacional de Sustentabilidade

Em 2014, foi aprovada a Política Binacional de Sustentabilidade, com a

finalidade de estabelecer os princípios e valores referentes à sustentabilidade

no Paraguai e no Brasil para o bem comum e um futuro melhor.

Os princípios e valores de sustentabilidade a serem observados estão

definidos em quatro dimensões: corporativa, meio ambiente, desenvolvimento

socioeconômico e cultural, que orientam de forma equilibrada a atuação dos

programas do Plano Operacional da entidade.

A atuação local da Itaipu, por meio da sua Política Binacional de

Sustentabilidade e dos seus vários programas e práticas socioambientais,

possui um profundo alinhamento com o nexo água-energia-alimento,

definido não somente na missão da usina, mas também no seu planejamento

estratégico, que se desencadeia em um trabalho comprometido com o

território de sua influência. Todas essas ações são norteadas pela educação

ambiental e pelos principais documentos planetários mencionados

anteriormente, rendendo inúmeras premiações à Itaipu.

Noppadol Thammatorn / 123RF.

34
MODELO DE GOVERNANÇA DA
ITAIPU NO SEU TERRITÓRIO DE
INFLUÊNCIA

O modelo de governança adotado pela Itaipu na gestão do território é

participativo, democrático e envolve parcerias com diversos atores civis,

públicos e de instituições locais, sempre de forma transparente e respeitosa.

Os resultados desse mecanismo são evidenciados na gestão compartilhada

da responsabilidade pelo território.

Fonte: magicpictures / 123RF.

35
SAIBA MAIS

Governança é o sistema responsável pela direção, monitoramento e


incentivos que envolvem os relacionamentos entre os dirigentes das
organizações e seus executores – ou agentes - e as demais partes
interessadas, para o alcance de resultados.

Nas organizações empresariais, esse processo é conhecido como


Governança Corporativa.

O Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) define


Governança como “o sistema pelo qual as empresas e demais
organizações são dirigidas, monitoradas e incentivadas, envolvendo
relacionamento entre sócios, conselho de administração, diretoria,
órgãos de fiscalização e controle e demais partes interessadas”.

Aqui, você pode aprofundar seus conhecimentos sobre os Princípios de


Governança do IBGC.

Você quer saber como funciona a Governança da Itaipu Binacional?


Acesse a seguir:

Governança compartilhada

Gestão transparente

Relatórios de sustentabilidade

36
GOVERNANÇA
PARTICIPATIVA E TERRITÓRIO
Os principais atributos e processos que caracterizam a boa governança

incluem a participação das partes interessadas, transparência na tomada de

decisões, responsabilidade dos atores, estado de direito e previsibilidade.

Segundo Franklin de Paula Júnior (2014, p. 41):

A compreensão de que o espaço de uma bacia hidrográfica corresponde

a uma tipologia territorial e que ‘um mesmo espaço é palco de vários

territórios’ (FERRARO, 2007), ou seja, ‘são territorialidades em disputa,

que expressam diferenças de poder, de perspectiva, de desejo e de

projeto’ (idem), ajuda-nos a dimensionar a complexidade da governança

e os desafios da cooperação hídrica numa perspectiva integradora,

democrática, inclusiva, plural, participativa e sustentável da água.

A dimensão pública e participativa da governança hídrica no Brasil, um dos

principais avanços inscritos no marco legal e institucional para as águas, se

traduz no reconhecimento da bacia hidrográfica como o espaço territorial

para o planejamento e a gestão hídrica, na definição da água como um

bem público de uso comum do povo e na promoção da participação das

comunidades, dos usuários e do poder público no processo de gestão.

37
Os princípios do Ordenamento Territorial estão elencados no Quadro 4.

DIÁLOGO

Um diálogo que permite que todos os grupos envolvidos expressem seus interesses e

cheguem a um acordo justo sobre os futuros usos da terra, das pescas e das florestas.

PROCESSOS INCLUSIVOS

Representação de todos os grupos interessados, incluindo: usuários locais diretos e

indiretos, autoridades públicas, organizações não governamentais (ONGs), entre outros.

COMPROMISSO CIVIL

Todas as partes interessadas relevantes devem ser incluídas e participar ativamente de

todo o processo de planejamento do uso da terra, incluindo a preparação de propostas.

Princípios do ordenamento territorial


Fonte: FAO (2017).

ITAIPU BINACIONAL - MODELO DE GOVERNANÇA


PARTICIPATIVA NA GESTÃO POR BACIA
HIDROGRÁFICA
Utilizar a bacia hidrográfica como instrumento de gestão possibilita a análise

de variáveis que interferem em uma determinada área de captação natural

da água da chuva, a qual escoa para um único ponto de saída (com destino

ao reservatório da usina), permitindo a avaliação dos processos que ocorrem

naquele território e que influenciam na qualidade de sua água.

Conforme afirma Vitorassi (2017, p. 243):

A Itaipu Binacional desenvolve na sua área de influência (Bacia

Hidrográfica do Paraná 3 (BP3) – e Mundo Novo (MS) que são lindeiros

38
ao Reservatório) programas socioambientais com foco na segurança

hídrica e desenvolvimento territorial sustentável, tendo a bacia

hidrográfica como modelo de gestão, a educação ambiental como

tema transversal e os ODS como metas orientadoras.

Assim, a Educação Ambiental assegura o diálogo permanente entre as partes

interessadas e ainda colabora na criação de parcerias e na manutenção dos

comitês, projetos sociais e outras participações da empresa nas comunidades

dos municípios de atuação. No modelo de governança participativa e

descentralizada, promovido pela Itaipu, essa participação é atuante e

organizada para a gestão integrada do território (VITORASSI, 2017).

Na gestão integrada por bacias hidrográficas, as abordagens comunitárias

são usadas no planejamento, implementação e monitoramento de

atividades de campo. As comunidades das microbacias selecionadas para

participarem do programa de gestão integrada por bacias hidrográficas da

Itaipu Binacional participam de todas as etapas deste processo e recebem

assistência técnica dos órgãos públicos competentes.

CURIOSIDADES

A área de atuação da Itaipu compreende atualmente um território

de 23.619 km², o que corresponde a pouco mais da metade da

extensão territorial da Holanda (pouco mais de 42 mil km²) e a 11,85%

do estado do Paraná (199.315 km²).

A exemplo dos Comitês Gestores Municipais, dos Comitês Temáticos e

do Coletivo Educador da BP3, as instâncias de participação envolvem as

instituições regionais e demais atores sociais no planejamento, execução

39
e avaliação de ações socioambientais, promovendo maior consistência e

sinergia nas atividades, resultados com maior impacto e comprometimento

regional (VITORASSI, 2017).

As instâncias de participação se configuram como importantes mecanismos

para o entendimento da responsabilidade compartilhada e a quebra de

paradigmas e de resistências.

SAIBA MAIS

Organização em Redes

Redes podem ser definidas como um conjunto de relações


relativamente estáveis de natureza não hierárquica e interdependente,
que ligam diversos atores que compartilham interesses e trocam
recursos, reconhecendo que a cooperação é a melhor maneira de
alcançar objetivos comuns (BÖRZEL, 1998).

O Coletivo Educador Bacia do Paraná 3 e o Comitê da Bacia Hidrográfica


do Paraná 3 são exemplos de formação em rede, em que pessoas
e lideranças dos diversos setores da sociedade se organizam para
ampliar o resultado das atividades na busca dos objetivos comuns dos
programas.

Na criação dessas redes, a característica descentralizada era a sua


maior expressão. Com o amadurecimento das ações e alinhamento
estratégico da Itaipu, essas redes passaram a ser centralizadas.

Conforme vimos até aqui, esse modo de governança participativa na gestão

integrada por bacias hidrográficas, em que diversos atores e interesses em

torno da água se manifestam, assegura que os recursos sejam utilizados de

forma mais sustentável no território.

40
A gestão das águas estimula a responsabilidade compartilhada dos demais

atores locais, dos governos municipais e da sociedade civil organizada para

assumirem suas responsabilidades e, juntos, promoverem o desenvolvimento

territorial sustentável.

Reunião de comitê gestor


Fonte: Acervo Itaipu Binacional

SAIBA MAIS

Responsabilidade Compartilhada

Todos somos responsáveis pelo desenvolvimento sustentável do


território e pela sustentabilidade do planeta.

Objetivo 17 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS),


da ONU, ressalta exatamente a importância das parcerias: fortalecer
os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável. Os ODS só serão alcançados se houver
uma robusta parceria global revitalizada. (ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES
UNIDAS BRASIL, on-line).

41
Na Prática!

As “oficinas do futuro” eram atividades promovidas para a comunidade


com o objetivo de definir as ações corretivas dos problemas
identificados por eles mesmos, de forma coletiva e participativa. A
iniciativa contemplava diversas ações socioambientais relacionadas
com a segurança hídrica da região em que Itaipu está inserida,
com a conservação dos recursos naturais e da biodiversidade, e
com a promoção da qualidade de vida, representando, assim, a
responsabilidade compartilhada na área de influência da usina.

Apesar de Itaipu também participar do Comitê Gestor da Bacia do

Paraná 3, foi identificada uma demanda regional para iniciar um canal de

comunicação e participação mais efetivo junto à comunidade local.

A usina estimula a educação ambiental para a sustentabilidade no território

de influência, com o objetivo de promover mudanças de comportamento,

visando ao desenvolvimento sustentável do território e à manutenção da

qualidade e quantidade de água para geração de energia, por meio de

capacitações e de campanhas.

O planejamento por bacia hidrográfica sinaliza aderência com outros

processos e esferas de planejamento territorial e setorial, a exemplo dos

planos diretores municipais, planos de saneamento, de resíduos sólidos,

dentre outros instrumentos de gestão do território e de suas dinâmicas.

42
SAIBA MAIS

Gestão Socioambiental na Itaipu

A responsabilidade socioambiental é um compromisso incorporado


ao planejamento estratégico da Itaipu que se reflete no dia a dia da
empresa, bem como em diversas ações voltadas aos públicos interno e
externo.  

No Brasil, as ações socioambientais acontecem principalmente na


área de influência do reservatório e se estendem a diversos municípios
da região Oeste do estado do Paraná. No Paraguai, as iniciativas têm
abrangência nacional e estão presentes em todas as regiões do país.

Em 2005, a Itaipu criou a Coordenadoria de Responsabilidade


Socioambiental e o Comitê Gestor de Responsabilidade Socioambiental.
Em 2010, a Coordenadoria tornou-se a Assessoria de Responsabilidade
Social, sendo subordinada diretamente ao Diretor-Geral Brasileiro.

O Comitê Gestor de Responsabilidade Socioambiental foi responsável


pelo acompanhamento dos programas, a definição de políticas e o
direcionamento estratégico da responsabilidade socioambiental da
empresa.

Fonte: Gestão (on-line).

43
DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL
SUSTENTÁVEL

Segundo Scheunemann e Oosterbeek (2012), a concepção e o desen-

volvimento de grandes projetos precisam ocorrer em um ambiente

integrado ao território. As organizações devem ouvir os anseios de suas partes

interessadas e da sociedade como um todo, sendo necessário considerar as

características econômicas, sociais, culturais, ambientais e, sobretudo, as

vocações da região onde estão inseridas.

O grande desafio atualmente é englobar esse novo conceito de gestão

integrada do território, atuando sob uma perspectiva além das tradicionais

formas de desenvolvimento regional. Focado em entender e estimular a

potencialidade de cada agente local, o novo modelo também valoriza a

diversidade cultural (SCHEUNEMANN; OOSTERBEEK, 2012).

A DIFERENÇA ENTRE
DESENVOLVIMENTO E CRESCIMENTO
Sachs (2004) deixa claro que o desenvolvimento não pode ser confundido com

o crescimento econômico, que constitui apenas a sua condição necessária,

porém não suficiente. O desenvolvimento depende da cultura, já que implica

na invenção de um projeto, e não se limita a aspectos sociais e econômicos,

pois há complexas relações entre a sociedade humana e a evolução da biosfera.

A região oeste do Paraná, por exemplo, é composta por cidades que estão em

processo de evolução e constante crescimento e expansão. Diferentemente

de modelos de crescimento de cidades europeias, por exemplo, onde já não

há crescimento populacional ou expansão.

44
Assim, nos municípios do entorno do reservatório da Itaipu, observa-se não

somente o crescimento, mas, sobretudo, o desenvolvimento. A agricultura

tradicional e a familiar, por exemplo, pode ser considerada de fundamental

importância para o desenvolvimento local, assim como a cadeia produtiva

de proteína animal, sob o ponto de vista de crescimento econômico com

geração de trabalho e renda, e produção de alimentos.

Fonte: Luckybusiness / 123RF.

Tanto a agricultura familiar como o agronegócio desenvolvem-se paralela

e simultaneamente nessa região, organizados nas maiores cooperativas

agropecuárias do estado do Paraná e do Brasil.

DESENVOLVIMENTO E
AUTONOMIA DO MEIO RURAL
Segundo Schneider (2010), no Brasil, o foco das ações do desenvolvimento rural

deve ser o combate à pobreza e às múltiplas vulnerabilidades das populações

rurais. Criando oportunidades adequadas, os indivíduos podem optar pelas

melhores escolhas para o desenvolvimento de sua qualidade de vida.

45
De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA,

2018), fatores como a ciência, a tecnologia e a inovação em ambiente

promissor de disponibilidade de recursos naturais, e políticas públicas

brasileiras somadas à competência dos agricultores e a organização das

cadeias produtivas colocaram o Brasil no papel de grande protagonista na

produção e exportação de produtos agrícolas nas últimas cinco décadas.

Sob a ótica local, o desenvolvimento que promove liberdade aos processos

econômicos, sociais e culturais, por exemplo, fortalece a participação ativa do

indivíduo na sociedade e o seu papel na contribuição para o desenvolvimento

do território. Proporciona, também, a possibilidade de produzir e de

comercializar seus produtos com a certeza de um mercado garantido por

políticas públicas orientadas.

Segundo Schneider (2010), a criação do Programa Nacional de Fortalecimento

da Agricultura Familiar (PRONAF), em 1996, passou a ser a principal política

pública destinada aos pequenos agricultores no Brasil.

O Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa Nacional

de Aquisição de Alimentos (PAA) são políticas públicas que incentivam as

cadeias agroalimentares via programas institucionais, principalmente para a

merenda escolar nas escolas públicas da região. O programa Desenvolvimento

Rural Sustentável, da Itaipu, também promove a divulgação dos benefícios

da produção orgânica à população (ITAIPU, 2019).

No seu território de influência, a Itaipu busca apoiar e fortalecer a agricultura

familiar, incentivando a produção agropecuária sustentável. Assim, são

desenvolvidas diversas ações de assistência técnica e extensão rural gratuitas,

incentivando, inclusive, a conversão de propriedades agrícolas tradicionais

para a agricultura orgânica, certificada ou não, e a adoção de práticas

agroecológicas aos que desejam produzir de forma sustentável.

46
A Itaipu também impulsiona os movimentos de agregação e de geração

de renda com a implantação de agroindústrias e de circuitos curtos de

comercialização, nas formas de associações e cooperativas.

Bens e Serviços
No contexto do desenvolvimento, há a produção de bens e a prestação

de serviços, baseados na utilização de itens e aspectos do meio ambiente

(por meio de bens e serviços territorializados), que podem promover a

sustentabilidade ambiental e, portanto, o desenvolvimento do território

(RAMOS, 2015). Por isso, mais do que identificar os potenciais econômicos e

sociais, é preciso diálogo participativo entre instituições e comunidade local

para o planejamento de ações que concretizarão os resultados esperados

para um determinado setor.

É na BP3 que a produção de insumos básicos locais e serviços especializados

contam com o apoio dos processos de desenvolvimento. Isso porque

existem os municípios polo, onde verifica-se grande concentração de renda

e demanda por produtos e serviços, que fortalecem o desenvolvimento da

oferta e da demanda por esses produtos/serviços nos municípios do entorno.

Dessa forma, os ciclos de produção contribuem para a melhoria do processo

de governança da Itaipu no contexto de suas práticas sustentáveis.

Ciclo de Vida

O ciclo de vida de um produto e/ou serviço pode ser definido como o seu

padrão de desenvolvimento, conceito de grande valia para a projeção da

demanda de um produto/serviço. Assim, esse ciclo constitui-se em uma força

externa à empresa e pode provocar mudanças estratégicas dentro da própria

organização (SANTOS et al., 2011).

47
Fonte: Yokievok / 123RF.

Ao criar ou fomentar um determinado serviço, produto, programa ou projeto,

é preciso levar em consideração os impactos que podem ser gerados aos

recursos naturais e ao território. Fatores associados com esses princípios

devem ser considerados, como o ideal de prevenção e não geração de

resíduos, somados à adoção de padrões de consumo sustentável, visando

poupar os recursos naturais e conter o desperdício.

A construção da cultura da sustentabilidade envolve a forma como utilizamos

os recursos naturais para produzir bens e serviços, e a maneira como os

consumimos.

Assim, a economia circular é uma alternativa atraente e necessária, que

busca redefinir a noção de crescimento, com foco em benefícios para toda

a sociedade, dissociando a atividade econômica do consumo de recursos

finitos e eliminando os resíduos do sistema por princípio (ELLEN MCARTHUR

FOUNDATION, s/d, on-line).

A economia circular prolonga o ciclo de vida dos produtos, combatendo

a produção de resíduos e a obsolescência programada e precoce do

48
que é produzido para consumo humano, além de se preocupar com o

reaproveitamento de itens e sua correta destinação.

Arranjos Produtivos Locais x Cadeias Produtivas


Arranjos Produtivos Locais (APLs) são caracterizados como o conjunto de

empresas e empreendimentos, localizados em um mesmo território, que

apresentam especialização produtiva, algum tipo de governança, e mantêm

vínculos de articulação, interação, cooperação e aprendizagem entre si e

com outros atores locais. Essa união de forças e concentração de esforços

auxilia na competitividade dos negócios locais, impulsionam o crescimento e

aumentam a capacidade inovadora (BRASIL, 2018).

Na Bacia do Paraná 3, o Arranjo Produtivo Local conta com a forte influência

de grandes agroindústrias. Porém a organização em formato de pequenas

e grandes cooperativas e associações também possui destaque no modelo

de comercialização, produção e distribuição de produtos. Além disso, a

agricultura familiar mantém-se consolidada e com boa representatividade

no território.

Distribuição das Cadeias Produtivas


Referem-se às cadeias produtivas locais capazes de gerar desenvolvimento,

com a identificação das cadeias propulsivas para o fomento ao

desenvolvimento.

As cadeias propulsivas são aquelas que proporcionam o ingresso da renda

básica ou primária na região.

No oeste do Paraná, foram identificadas nove cadeias propulsivas: Proteína

Animal; Insumos Industriais para a Agricultura; Agroalimentar de Base Vegetal;

Madeira Mobiliário e Papel; Material de Transporte; Produção e Distribuição

49
de Energia Elétrica; Farmacêutica; Turismo e Lazer; e Administração Pública.

Além de mais seis cadeias mistas: Construção Civil; Serviços Públicos Básicos

de Educação e Saúde; Serviços Prestados às Empresas; Vestuário e Calçado; e

Transporte e Logística) (OESTE EM DESENVOLVIMENTO, 2016).

Nesse contexto, os produtores rurais familiares necessitam desenvolver

habilidades para buscar novos nichos de comercialização, de acordo com

novas tendências e os gostos dos consumidores.

Essa capacidade de inovação, de acordo com Schneider (2010), somada a sua

interação com instituições locais, é fundamental para que os agricultores

familiares possam ampliar a geração e agregação de valor, assim como

reduzir custos de transação e estimular economias de escopo.

Essa característica dos agricultores é responsável também pela diversificação

social e produtiva dos territórios em que vivem.

Comercialização

A Itaipu estabelece parcerias com as principais cooperativas para o

desenvolvimento de uma gestão integrada do território, considerando

as questões socioeconômicas, produtivas e ambientais da sua área de

influência.

Uma destas parcerias é o Índice de Qualidade Participativo (IQP), uma

metodologia que avalia o grau de qualidade de boas práticas agrícolas, com

foco no Sistema Plantio Direto (Você irá conhecer esta metodologia com

detalhes no módulo 07).

O esforço conjunto de instituições e órgãos de assistência e extensão rural

que fomentam o desenvolvimento rural sustentável tem como objetivo a

difusão de boas práticas agrícolas junto aos produtores rurais associados,

50
especialmente aqueles com atividades rurais no modelo de agricultura

familiar, para que possam contribuir com o desenvolvimento socioeconômico

ambiental da região.

O produtor rural economiza em insumos, ganha em qualidade do solo e da

água. Isso se reflete na melhoria do produto final, seja da agricultura ou da

pecuária. Nesse sentido, as cooperativas também ganham em qualidade dos

produtos. Considerando que boa parte da produção agropecuária da região

oeste segue como commodities de exportação, as cooperativas ganham

destaque no mercado internacional por desenvolver uma gestão mais

sustentável nos Arranjos Produtivos Locais. As principais cooperativas locais

são: Cvale, Coopavel, Copacol, Copagril, Frimesa, Lar, Primato e Cotriguaçu.

Commodities X Monocultura X Agricultura Extensiva

O termo inglês commodity tem como tradução literal “mercadoria”. Assim,

existem commodities de diversos tipos: agrícolas, financeiras, minerais e

outras.

Fonte: Hugo Alexander Ruiz Acevedo / 123RF.

51
No contexto da região da Bacia do Rio Paraná 3 (BP3), vamos tratar mais

especificamente sobre as commodities agrícolas (principalmente as

exportações de milho e soja produzidas pelas grandes cooperativas da região)

e da cadeia de proteína animal, em que dejetos animais podem se tornar

um passivo ambiental de contaminação dos recursos hídricos, assim como o

assoreamento de rios e lagos pelo manejo inadequado do solo.

A Itaipu mantém ações conjuntas de mitigação desses entraves, como as

diferentes iniciativas de transformação dos dejetos em geração de energia

elétrica, térmica e veicular por meio do biogás, e o fomento ao uso do Sistema

Plantio Direto e do terraceamento em áreas de produção agrícola como

formas de combate à erosão e suas consequências.

Por isso, é preciso buscar um conceito de desenvolvimento que contemple

todas as possibilidades e vocações do território, em uma abordagem de

gestão sustentável do território, compreendendo sua multifuncionalidade.

MULTIDIMENSIONALIDADE
DO TERRITÓRIO
[...] pensar o desenvolvimento local requer não somente olhar para

a eficiência econômica (agregação de valor), mas também procurar

contribuir para a melhoria da qualidade de vida das pessoas.

(SAQUET; SPOSITO, 2008, p. 22). [...] Isso envolve o poder exercido

democraticamente por meio das territorialidades cotidianas em

diferentes escalas, lugares e temporalidades, no intuito de se

conseguir justiça social numa gestão democrática do território e do

desenvolvimento (SAQUET, 2011, p. 12).

52
Sob o ponto de vista prático, a multidimensionalidade do território se

materializa nas diversas finalidades daquele espaço, tanto com os usos

múltiplos da paisagem como da terra e até da mão de obra. Sob o ponto de

vista da preservação no contexto global ou manutenção da população rural,

por exemplo, dos recursos e dos territórios rurais, a multifuncionalidade do

território também possui estreita relação com o desenvolvimento sustentável,

o que torna necessária uma visão sistêmica que possa abranger suas várias

dimensões (SABOURIN, 2005).

Considerar o espaço como unidade e multiplicidade implica em olhar para

os atores sociais que nele exercem ação. A participação da população é

fundamental para a gestão democrática de comunidades, municípios, do

rural e do urbano, enfim, municipal e territorial. É um processo de partilha que

implica em um reordenamento do território local com vistas à melhoria da

qualidade de vida para todos a partir da recuperação e preservação ambiental,

da valorização dos saberes e das identidades, entre outros (SAQUET, 2011).

A Itaipu Binacional, em um processo contínuo de gestão integrada por

microbacias, tem desenvolvido tal conceito em um sistema de governança

participativa que, por meio de estratégias específicas de mobilização e

incentivo de participação popular, garante parcerias para o desenvolvimento

de ações e práticas para o desenvolvimento territorial sustentável.

PROGRAMA DESENVOLVIMENTO
RURAL SUSTENTÁVEL

Segundo Schneider (2010), no Brasil, assim como em outros países

subdesenvolvidos, especialmente a partir da década de 80, no oeste do

Paraná, há uma diferença polarizada entre a agricultura familiar e a agricultura

patronal‑empresarial,

53
[...] cuja distinção estaria no fato de uma ser destinada mais para

produção de produtos de consumo local ou para o mercado interno

e a outra produziria commodities, sobretudo para exportação.

Estas diferenças promovem disputas políticas e ideológicas entre

agronegócio e as demais formas de produção, em geral agrupadas

em torno da agricultura familiar e do desenvolvimento rural,

especialmente no contexto ambiental e do tema sustentabilidade

(SCHNEIDER, 2010, p. 517).

Diante desse contexto nacional, histórico e político, a Itaipu Binacional iniciou o

Programa de Desenvolvimento Rural Sustentável, em consonância com sua nova

política de sustentabilidade. A margem brasileira do reservatório da usina de

Itaipu está junto a um dos principais polos agrícolas do país, no oeste do Paraná.

Desenvolvimento Rural Sustentável


Fonte: Acervo Itaipu Binacional.

54
Considerando alguns dos resultados desse programa apresentados na

Figura 11, destacamos que o associativismo e o cooperativismo são formas

importantes de fomentar os bens e serviços no Arranjo Produtivo Local por

meio de suas instituições, tanto na dimensão econômica como também na

ambiental e social da sustentabilidade.

Trata-se de um modelo econômico importante para se alcançar o

desenvolvimento territorial com a gestão integrada por bacias, sob o conceito

da gestão sustentável do território.

• Planejamento de ações para desenvolvimento territorial pela Itaipu

Binacional

Para fortalecer os Arranjos Produtivos Locais, o Programa Desenvolvimento

Rural Sustentável incentiva pequenos produtores com assistência técnica

e extensão rural gratuita, o que promove a divulgação de um modelo de

desenvolvimento rural com menos passivos ambientais no entorno do

reservatório da usina e com maior possibilidade de inclusão, permeando

diretrizes nacionais e políticas públicas tais como Pronaf, entre outras.

Nesse programa, o planejamento do território foi construído de forma

integrada e participativa, envolvendo a sociedade, instituições públicas

e privadas, empresas, universidades e centros de pesquisa, entre vários

outros atores. Tal programa teve como objetivo organizar o território

de modo a atender às necessidades de municípios integrantes de uma

mesma microrregião, evidenciando tanto as potencialidades como as

aptidões existentes, que poderão compartilhar de um fator propulsor de

desenvolvimento, identificando e trabalhando em conjunto com as lideranças

locais (OESTE EM DESENVOLVIMENTO, 2016).

55
Embora esse programa não esteja mais ativo, configura uma importante

ferramenta metodológica de desenvolvimento territorial e gestão sustentável

do território.

Economia Solidária e Colaborativa

Para Singer (2002), Economia Solidária é um sistema socioeconômico aberto,

amparado nos valores da cooperação e da solidariedade, no intuito de atender

às necessidades e desejos materiais e de convivência, mediante mecanismos

de democracia participativa e de autogestão, visando à emancipação e ao

bem-estar individual, comunitário, social e ambiental.

Fonte: Acervo Itaipu Binacional.

A Economia Solidária surgiu como uma forma autônoma de gerir os recursos

humanos e/ou naturais de maneira que sejam reduzidas as desigualdades

sociais em médio e longo prazo. Nela, os trabalhadores se organizam

coletivamente em associações e grupos de produtores; cooperativas de

agricultura familiar; entre outras, em diversas iniciativas econômicas, no

campo ou em cidades (BRASIL, 2015).

56
Segundo a Secretaria do Trabalho (BRASIL, 2015), os princípios da Economia

Solidária são:

No Brasil, Economia Solidária é um fenômeno que sempre aconteceu,

principalmente no formato de pequenas cooperativas e associações ao longo

dos diversos períodos do País. É um setor que promove desenvolvimento,

tendo uma base comunitária, local, pautada na conservação ambiental para

as futuras gerações, e que não gera acúmulos de riqueza em seus processos.

O incentivo para o desenvolvimento de cooperativas e associações por parte

da Itaipu Binacional se alinha com a Agenda 2030 da ONU, em especial com

o ODS 8 “Trabalho decente e crescimento econômico”.

Tanto o cooperativismo quanto o associativismo fomentam o desenvolvimento

territorial sustentável como expressão da Economia Solidária.

Você Sabe o que é Associativismo?

O associativismo é uma forma de organização que tem como finalidade

conseguir benefícios comuns para seus associados por meio de ações

coletivas e de formas democráticas.

57
A associação é uma pessoa jurídica de direito privado e se configura como

uma união de pessoas que se organizem para fins não econômicos.

• Associativismo na área de influência da Itaipu Binacional

O associativismo no oeste do Paraná é muito forte e influenciado pela

cultura trazida desde os primeiros imigrantes europeus no estado de viver

em comunidades, onde todos se esforçam em prol de um ideal comum.

Essa prática possibilita vencer grandes obstáculos ou crises desde que os

associados estejam comprometidos e bem organizados.

E o Cooperativismo?

Tudo começa quando pessoas se juntam em torno de um mesmo objetivo

em uma organização onde todos são donos do próprio negócio, e continua

com um ciclo que traz ganhos para as pessoas, para o país e para o planeta.

(ORGANIZAÇÃO DAS COOPERATIVAS BRASILEIRAS, 2019).

O cooperativismo nasceu em um contexto de industrialização e seu marco

inicial aconteceu na Inglaterra, no ano de 1844, onde 28 operários, tecelões em

sua maioria, buscaram meios para melhorar suas condições sociais, criando

um armazém, organizado e regido por um estatuto. A ideia do armazém era

comprar grandes quantidades de alimentos por preços melhores. E tudo que

fosse adquirido seria compartilhado de maneira igualitária entre o grupo

(SALES, 2010).

58
Fonte: Somsak Khamkula / 123RF.

No estado do Paraná, em função das terras férteis e clima favorável,

especialmente para o cultivo da erva mate e do café, as cooperativas já se

destacavam na década de 40, como forma de aumentar a competitividade

do agricultor e da agroindústria como fonte de renda e desenvolvimento

local, agregando valor aos seus associados.

• Cooperativismo na área de influência da Itaipu Binacional

A característica principal das atividades agropecuárias da Região

Oeste do Paraná, no seu início, foi o predomínio da pequena

propriedade trabalhada com mão-de-obra familiar e com a produção

dirigida para o mercado, constituindo-se de alimentos e matérias

primas. (...) E foi exatamente essa conotação mercantil da produção

que fez com que o produtor regional fosse logo compelido a se unir

em associações, denominadas cooperativas, como forma de atuação

mais vantajosa na aquisição de insumos e na comercialização de

seu produto. Essas cooperativas deram origem a maior parte das

agroindústrias existentes atualmente na Região (PERIS, s/d, p. 68).

59
A Itaipu Binacional apoia o cooperativismo na sua área de influência,

considerando também que o cooperativismo é um modelo econômico

importante para se alcançar o desenvolvimento territorial com a gestão

integrada por bacias, sob o conceito da gestão sustentável do território.

O impacto da atuação das cooperativas na economia do oeste do Paraná

transformou o perfil do desenvolvimento e contribuiu para a mudança dos

indicadores econômicos pela geração de empregos, postos de trabalho,

geração e circulação de renda e pela diversificação de iniciativas empresariais

(CREMONESE; SCHALLENBERGER, 2005).

No sistema cooperativista, fazem parte das grandes cooperativas produtores

de insumos, pesquisadores e as jovens e criativas mentes por trás de startups.

Juntamente desse grupo, identificamos os pequenos produtores familiares

que constituem as sólidas cooperativas menores e todos aqueles ligados aos

processos de colheita, armazenamento, transporte e distribuição dos frutos

da terra aos consumidores do Brasil e do exterior.

Essa relação no território da Itaipu é essencial para os produtores que ali vivem

e desenvolvem suas atividades, garantindo renda e geração de empregos nas

atividades rurais da região.

A Importância das Grandes e Pequenas Cooperativas do


oeste do Paraná

No Paraná, o cooperativismo vem sendo desenvolvido desde cedo. Com a

modernização do agronegócio e a industrialização da produção, diversas

cooperativas do estado ganharam espaço para crescerem e se destacarem

como grandes empresas em nível nacional.

60
Apesar do sucesso das grandes cooperativas, as pequenas cooperativas

da região também se destacam pela qualidade dos produtos oferecidos

ao consumidor. Em cooperativas menores, é possível acompanhar todo

o processo produtivo, desde a inserção da matéria-prima no campo

até sua comercialização, garantindo um maior cuidado na produção e,

consequentemente, qualidade, fortalecendo a geração de emprego e renda,

e a qualidade de vida no campo para os produtores.

Agricultura na Bacia do Rio Paraná 3


Fonte: Acervo Parque Tecnológico Itaipu.

Ambos os modelos de cooperativas, da grande à pequena, possuem

espaço para seu desenvolvimento, já que a região oeste do Paraná é

potencialmente agrícola com solos férteis e clima favorável, produzindo boas

safras nos produtos oferecidos. Esse sistema que agrega desde a produção

de alimentos orgânicos e da agricultura familiar até produtos oriundos do

61
sistema convencional de cultivo no qual o agronegócio e as commodities

estão inseridos exibe um modelo alternativo e mais sustentável de negócio,

em que todos compartilham dos mesmos ideais, princípios e valores. Além

disso, oportuniza mercado consumidor a todos os cooperados, beneficiando

produtos regionais que atendem compradores de classes econômicas

distintas e com diferentes exigências na qualidade.

• As grandes cooperativas na área de abrangência da Itaipu Binacional

Segundo informações do jornal Alerta Paraná (2018), onze cooperativas do

Paraná estão entre as 50 maiores empresas do agronegócio no País, de

acordo com a lista publicada, pela primeira vez, pela Forbes Brasil, uma das

publicações mais conceituadas em negócios e economia.

Segundo o Sistema OCEPAR, em relatório “Cenário consolidado

cooperativismo paranaense entre 2008-2018”, publicado em 2019, o

cooperativismo no estado do Paraná é representado por 215 cooperativas,

1.768.253 cooperados e 101.228 colaboradores. Esses números são

resultados dos setores: agropecuária, infraestrutura, transporte, educação,

crédito e habitação e saúde.

Das grandes cooperativas brasileiras, quatro estão estabelecidas na região

oeste do Paraná, considerada o principal berço do agronegócio paranaense e

brasileiro (Copacol, com sede em Cafelândia; C. Vale, com sede em Palotina;

Lar, com sede em Medianeira; Frimesa, com sede em Medianeira).

62
Na Figura a seguir, observa-se a distribuição das principais cooperativas na

região oeste do Paraná.

Distribuição das principais cooperativas na região oeste do Paraná


Fonte: Centro Internacional de Hidroinformática - CIH.

Essas cooperativas seguem os princípios cooperativistas na sua relação com

os cooperados, ao passo que seguem estratégias de gestão alinhadas com

o mercado. O bom desempenho atribuído a essas grandes cooperativas

regionais deve-se aos projetos de diversificação da produção com a

agroindustrialização, os quais, incorporados às demandas do mercado,

proporcionam auxílio na produção com assistência técnica, elevando a

comercialização e até mesmo a industrialização, e agregando valor ao

produto agropecuário, o que garante uma boa receita.

63
• As pequenas cooperativas na área de abrangência de Itaipu Binacional

Diante da expressiva presença das grandes cooperativas na região e sua

importância para o desenvolvimento territorial, há uma grande oportunidade

para a organização de pequenos produtores locais em cooperativas menores.

Essas cooperativas menores podem participar da cadeia produtiva das

grandes cooperativas, em que, com mais autonomia, ingressam o cenário

econômico e projetam seus produtos e serviços para o mercado nacional

e internacional com potencial de competitividade pelo seu valor agregado

como diferencial competitivo.

As principais cooperativas e associações de pequeno porte da área de

influência da Itaipu são: COOPRAFA, COAFASO, APROSMI, COOFAMEL,

GRAND LAGO.

Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa


Oeste do Paraná - COOFAMEL
A Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa Oeste do

Paraná (COOFAMEL), sediada em Santa Helena, representa mais de 250

cooperados. Criada em 2006, é formada por apicultores de 54 municípios do

Oeste e do Sudoeste paranaense. Atua na assistência técnica, na compra do

mel produzido e no fornecimento de insumos e equipamentos.

Sob o ponto de vista da manutenção da biodiversidade, importante

componente do eixo ambiental da sustentabilidade, a COOFAMEL atua

tanto com a criação de abelhas exóticas (Apis melífera, as africanas, bastante

adaptadas à produção de mel no Brasil) como também das abelhas nativas,

ou abelhas indígenas sem ferrão (Tetragonisca angustula ou “jataí”, “irapuã”,

“tataíra”, “uruçu” e tantas outras), já que o clima no nosso país é propício a

inúmeras espécies/variedades. (PALUMBO, 2015).

64
Em 2018, a produção da cooperativa ultrapassou 150 mil toneladas,

as quais foram comercializadas em alguns pontos do Brasil e Paraná,

principalmente.

O suporte da binacional também promoveu capacitações para os

cooperados em temas como novas tecnologias e aperfeiçoamento da

produção. Em 2017, a COOFAMEL conquistou o reconhecimento de

Indicação Geográfica (IF) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial

(INPI), importante certificação que representa a ligação do produto com o

território e permite um aumento da competitividade.

VOCÊ SABIA?

• A atividade da polinização é a mais importante das funções

exercidas pelas abelhas, pois é pela polinização que as espécies

vegetais se perpetuam.

• Das mais de 300 espécies de abelhas existentes no mundo, cerca

de 100 encontram-se em risco de extinção, devido a diversas

causas.

• As abelhas indígenas sem ferrão podem ser criadas com diversas

finalidades: lazer, ensino, pesquisa, interesse na comercialização

de produtos da colmeia, atividade de polinização, preservação de

espécies nativas.

65
]

Fonte: Arquivo Parque Tecnológico Itaipu.

66
Cooperativa de Produtores da Agricultura Familiar
(COOPRAFA)

A COOPRAFA foi fundada no dia 25 de julho de 2010 pela união das

Associações de Pequenos Produtores dos Municípios de Matelândia, a

ASPRAMAT, e Céu Azul, a APROCEU. Essa cooperativa foi fundada pela

necessidade de legalização da comercialização de produtos da agricultura

familiar dos dois municípios (Céu Azul e Matelândia) junto ao público

consumidor por meio do Portal Colonial em Matelândia e da Feira do

Pequeno Produtor de Céu Azul, com a merenda escolar desses municípios.

A ideia surgiu pela união dos esforços dos pequenos agricultores juntamente

com suas associações, bem como pelo apoio da Itaipu Binacional, além das

parcerias com Instituto Emater, Sindicato Rural de Matelândia, prefeituras

municipais de Matelândia e Céu Azul.

Merenda escolar com alimentos adquiridos da cooperativa em escola pública, via PNAE
Fonte: Arquivo Itaipu Binacional.

Além da venda a varejo, atende vários convênios, dentre os quais o de

promover a distribuição de produtos de merenda escolar por meio do

67
Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). Iniciativa essa de atender

à merenda escolar com produtos da agricultura familiar utilizando técnicas

mais “limpas” de produção, ou seja, com menor uso possível de agrotóxicos,

que é um dos focos do eixo Desenvolvimento Rural Sustentável da Itaipu

Binacional.

Manuais de orientação para agricultura familiar na alimentação escolar


e caderno de receitas saudáveis das cozinheiras da BP3
Fonte: Geovana Gasparoto / Parque Tecnológico Itaipu.

Cooperativa da Agricultura Familiar e Solidária do Oeste do


Paraná – COAFASO
A COAFASO foi criada em 2011. Ela abrange os municípios de Medianeira,

Missal, São Miguel do Iguaçu, Santa Terezinha de Itaipu, Itaipulândia,

Serranópolis do Iguaçu e, nas necessidades operacionais, pode ainda admitir

associados de outros municípios.

A missão da cooperativa é congregar e capacitar produtores rurais de

economia familiar e solidária que participam direta ou indiretamente da

produção, transformação e consumo de alimentos, artesanato e turismo rural

na agricultura familiar, para que possam alcançar melhor qualidade de vida,

68
por meio de programas, conceitos, princípios e instrumentos destinados às

políticas direcionadas à agricultura familiar e empreendimentos familiares.

A cooperativa tem pontos de venda direta ao consumidor em Foz do Iguaçu,

Santa Terezinha de Itaipu, Medianeira e Missal. Também comercializa para

a merenda escolar desses municípios por meio do Programa Nacional de

Alimentação Escolar (PNAE) municipal e estadual, além de fornecer alimentos

para hotéis e restaurantes de Foz do Iguaçu e contar com vendas no atacado

e varejo na CEASA (Centrais Estaduais de Abastecimento) da mesma cidade.

Associação dos Produtores de Agricultura e Pecuária


Orgânica de São Miguel do Iguaçu (APROSMI)

Fundada em 2002 por um grupo de 17 famílias, a APROSMI tem como missão:

Promover a viabilidade econômica, social e ambiental de pequenos

agricultores, apicultores, melipicultores e artesãos familiares,

fortalecendo o associativismo e buscando a melhoria da qualidade

de vida dos produtores e consumidores por meio da produção

agropecuária ou em conversão.

Atualmente, a entidade envolve 260 associados que produzem 36 toneladas

de hortaliças, frutas e legumes. Seus membros também estão cadastrados

no Programa Nacional de Agricultura Familiar - PRONAF.

69
Cooperativa Gran Lago de Fitoterápicos

Gran Lago Fitoterápicos


Fonte: Geovana Gasparoto / Parque Tecnológico Itaipu.

Em 2009, foi criada a Gran Lago de Fitoterápicos, cooperativa de produtos

orgânicos do município de Vera Cruz do Oeste, formada por 24 cooperados.

Alguns produtos fitoterápicos são orgânicos e esses são comercializados

entre a vizinhança, em feiras e no mercado local.

A cooperativa é responsável pela produção e secagem da matéria-prima

(plantas medicinais) e distribuição para o Laboratório Yanten e Sustentec,

com capacidade de processamento de 96 toneladas de extrato por mês. A

cooperativa Gran Lago é parceira do programa Plantas Medicinais da Itaipu,

o que garante a assistência técnica, além de apoio para instalações.

70
Manipulação de fitoterápicos
Fonte: Arquivo Itaipu Binacional.

Sobre as cooperativas, ainda vale destacar que:

No território de abrangência da usina, predomina o cooperativismo situado

no meio rural, representando a importância que tais cooperativas, grandes

e pequenas, têm no desenvolvimento territorial, de forma geral, e no setor

econômico, frente aos arranjos produtivos locais.

As cooperativas buscam estimular a atividade agropecuária com bases

dinâmicas e inovadoras capazes de manter o produtor rural na atividade,

conscientes de que isso somente será possível com a expansão de uma

economia moderna, que possibilite a agregação de valores à produção,

dando maior retorno aos agricultores, possibilitando seu reinvestimento no

processo produtivo e garantindo que recursos naturais estejam protegidos,

no contexto da sustentabilidade.

Além disso, o sistema cooperativo permite o desenvolvimento de um território

sustentável por meio dos seus princípios, que incluem o compromisso com

o desenvolvimento de sua região, o respeito das peculiaridades sociais

e a vocação econômica do local, desenvolvendo soluções de negócios e

71
apoiando ações humanitárias e socioambientalmente sustentáveis, voltadas

ao desenvolvimento das comunidades onde estão instaladas.

Nesse sentido, as práticas de gestão integrada por microbacias, desenvolvidas

pela Itaipu Binacional, favorecem esse cuidado com o meio ambiente e

os recursos naturais, fomentando a economia local mediante subsídios e

parcerias.

72
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