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Manutenção

Manutenção preventiva em
válvulas
de controle
Rogério Diaz Gimenez

A
s válvulas de controle exe- disso, é necessário realizar a instala- sos das flanges conectados à tubulação
cutam o controle físico de ção corretamente, além de manter um devem ser checados periodicamente
uma variável de processo. programa de manutenção efetivo. (pelo menos uma vez ao ano), para
Para realizar essa função avaliar a profundidade do desgaste
seguindo as especificações, é preciso sofrido e também outros eventos como
que as válvulas estejam sempre em PROGRAMA DE MANUTENÇÃO deterioração das roscas, dilatação, cor-
perfeitas condições, o que é possível EFETIVO rosão ou afrouxamento entre a flange e
somente através da manutenção pre- a porca. A substituição dos parafusos
ventiva constante. A ausência de um programa de deverá ser feita na seqüência correta
Muitos gerentes de plantas de pro- manutenção eficaz para válvulas de e eles devem ser comprimidos utili-
cesso direcionam todos os recursos controle, compromete toda a planta zando os valores de torque aconselha-
apenas aos sistemas de controle dis- industrial. Sem este cuidado, as para- dos pelo fabricante, conforme figura
tribuído e em melhorias para uma das indesejáveis serão cada vez mais 1. Não esqueça de utilizar o torquíme-
produção mais eficiente. Eles esque- freqüentes, além da ocorrência de aci- tro.
cem-se, muitas vezes, dos dispositivos dentes graves e até perdas irrepará-
que efetuam o controle propriamente veis. Veja, abaixo, como desenvolver
dito. Se as válvulas de controle não a manutenção das válvulas de controle
estiverem operando dentro das espe- em sua indústria.
cificações, nenhum sistema de con-
trole, por mais atual e sofisticado que
seja, corrigirá seus problemas. Dessa FLANGES
forma, uma fábrica não conseguirá
atingir altos rendimentos, boa quali- Em sistemas de alta temperatura,
dade em produtos, lucros satisfatórios, onde possa ocorrer arraste, é necessá-
nem tampouco economizar energia. rio que os parafusos das junções com
O funcionamento apropriado de as válvulas de controle sejam retira-
uma válvula de controle depende, prin- dos uma vez nas primeiras 200 horas
cipalmente, de especificá-la e dimen- de operação da planta ou da válvula
sioná-la corretamente, de acordo com de controle (o que ocorrer primeiro). F1. Seqüência correta de aperto dos
a tubulação onde será instalada. Além No decorrer da operação, os parafu- parafusos e porcas das flanges.

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Ao detectar qualquer vazamento CALIBRAÇÃO POSICIONADORES
entre as flanges e a tubulação, é pro-
vável que o parafuso da base tenha Pelo menos uma vez ao ano, a vál- No momento da inspeção da vál-
perdido compressão e não esteja de vula de controle e demais itens da vula de controle é preciso comparar
acordo com o torque recomendado. malha correspondente devem ser cali- criteriosamente a proporção do sinal
Um reaperto pode sanar o problema brados e certificados por peritos espe- de entrada do posicionador, seja ele
de vazamento, mas se não adiantar, cialistas. Antes da calibração, a parte pneumático, eletropneumático I/P ou
será necessário substituir a guarnição externa da válvula deve ser limpa e inteligente, com seu sinal de saída.
para que o vazamento seja eliminado. desmontada totalmente. Deve-se também verificar a propor-
Após a inspeção e limpeza dos ção do sinal de saída do posicionador
componentes, as gaxetas deverão ser com a proporção de abertura ou fecha-
GAXETAS DE VEDAÇÃO substituídas para garantir a vedação mento da válvula de controle, con-
correta da válvula. Caso seja necessá- forme a ação direta ou reversa do
A vedação deve ser feita com um rio substituir algum outro componente, atuador. Observe a figura 2.
material deformável, por exemplo, devem ser mantidas as especificações,
grafite em formato de anel bipartido. principalmente do material utilizado
Este sistema é comprimido e gera uma durante a fabricação. Finalizando as MANUTENÇÃO CORRETIVA EM
pressão de selagem entre o fluido na substituições necessárias, o equipa- VÁLVULAS DE CONTROLE
parte interna da válvula e a atmosfera. mento deverá ser remontado para ser
As válvulas podem ficar em operação iniciada a calibração. Alguns problemas podem ocorrer
por muitos meses sem vazamento no Em geral, a válvula de controle em mais freqüentemente em válvulas de
preme-gaxetas, ou seja, a parte interna operação deve sofrer inspeção visual controle, como cavitação, vazamen-
da válvula em contato com a atmos- a cada três meses, em todas as suas tos, ruídos, vibração e retardo na res-
fera. É muito importante montar os conexões. Devem ser verificadas todas posta de controle no movimento de
anéis de vedação com um pouco de as juntas entre o atuador, a haste e abertura e fechamento do obturador.
folga, pois eles se expandem e con- o posicionador. Caso seja necessário, Uma válvula de controle em boas
traem, uma vez que estão sujeitos a é conveniente aproveitar a oportuni- condições, estando totalmente aberta,
altas pressões e temperaturas. dade para inspecionar a alimentação deve executar seu movimento total
de ar comprimido. de fechamento em, no máximo, sete
segundos.
LUBRIFICAÇÃO A partir do diagnóstico sobre o
Nota do Autor
Cheque sempre a qualidade do que aconteceu, podemos traçar algu-
Outra questão importante no pro- sistema de alimentação de ar com- mas conseqüências de problemas em
cesso de manutenção, a lubrificação primido (porcentagem de água, válvulas de controle para o processo
deve ser realizada uma vez a cada três quantidade de óleo e qualidade industrial. Entre os possíveis efeitos, é
meses, levemente nas junções e espe- de lubrificação nas partes móveis possível ocorrer aumento do tempo de
cialmente na caixa de vedação. metálicas).
estabilização do controle da variável
em relação ao seu ponto de ajuste (set
point), desperdício de material (maté-

Atuador de Ação Direta


A válvula de controle tende a
fechar com o aumento da pressão
de ar na parte superior do dia-
fragma do atuador. Assume a posi-
ção totalmente aberta em caso de
falha de suprimento de ar.

Atuador de Ação Reversa


A válvula de controle abre com
o aumento da pressão de ar na
parte inferior do diafragma do atu-
ador. Assume a posição totalmente
fechada em caso de falha de supri-
mento de ar.
F2. Atuadores do tipo mola diafragma de ação direta e ação reversa.

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ria-prima, insumos, energia térmica, IDENTIFICANDO PROBLEMAS controle. Uma vez identificado o pro-
produto intermediário e produto final), blema, é necessário saná-lo o quanto
maior desgaste da tubulação e dos Problemas como cavitação, vaza- antes.
demais equipamentos instalados nela, mentos, ruídos, vibração e retardo, e No caso de pequenos vazamentos
como bombas, instrumentos e outros, outros já citados, podem ser identifi- ou retardo no movimento de abertura
além do crescimento de paradas inde- cados por qualquer pessoa que possua e/ou fechamento da válvula, a manu-
sejáveis. bons conhecimentos sobre válvulas de tenção deve ser prontamente iniciada.

Cinco maiores fontes de ruído e problemas para válvulas de controle


VIBRAÇÃO MECÂNICA RUÍDO HIDRODINÂMICO
Causa: vazão não constante e turbulenta. Causa: ruído resultante da cavitação.
Conseqüências: desgaste mecânico progressivo da haste Conseqüências: oxidação das paredes internas,
e guia da haste. erosão das paredes internas e dos componentes,
Freqüência do ruído: 50 a 1.500 Hz. além da perda total da válvula.
Nível de ruído: cerca de 80 dbA. Freqüência do ruído: 75 a 300 Hz.
Como eliminar: Procure manter a vazão constante e Nível de ruído: de 90 a 100 dBA.
aumentar o trecho reto da tubulação. Em último caso, Como eliminar: Minimize a cavitação.
instale condicionadores de fluxo antes da válvula.

INSTABILIDADE DOS INTERNOS


Causa: fluxo turbulento constante, que empurra o
VIBRAÇÃO RESSONANTE obturador na direção contrária de seu movimento
Causa: excitação ressonante dos internos. normal. Produz oscilações verticais no obturador
Conseqüências: quebra instantânea dos internos por numa freqüência em torno de 100 Hz.
aumento do aquecimento. Conseqüências: dificulta o movimento do obtura-
Freqüência do ruído: 2.000 a 8.000 Hz. dor, prejudicando o controle.
Nível de ruído: de 90 a 100 dBA. Freqüência do ruído: 90 a 95 Hz.
Como eliminar: Altere o diâmetro da haste da válvula Nível do ruído: de 40 a 60 dBA.
e aumente a massa do obturador. Outra solução consiste Como eliminar: Substitua o atuador por um outro
em inverter o sentido do fluxo. que possua mola mais rígida e diafragma de maior
capacidade. Ele deve atuar em um range de 6 a 30
PSI, com a mesma velocidade de atuadores meno-
res convencionais, conforme figura abaixo.
RUÍDO AERODINÂMICO
Causa: turbulência de gases e vapores que fluem pelo
orifício do corpo da válvula.
Conseqüências: danos nos componentes internos,
pequenas erosões nas paredes internas do corpo, e ainda
redução drástica da vida útil da válvula.
Freqüência do ruído: 1200 a 4800 Hz.
Nível do ruído: cerca de 120 dbA.
Como eliminar: Mantenha a tubulação na parte pre-
enchida por água. Em caso de aplicação de vapor de
nitrogênio ou do próprio gás, aumente a vazão gradati-
vamente. Após o início da operação, e já com a tubula-
ção preenchida, é preciso manter o set point do consumo
do gás ou vapor, sempre de acordo com a vazão de aber-
tura da válvula de controle. Havendo a necessidade de
aumento do consumo, o set point deverá ser aumentado
F4. Atuador com mola mais rígida e diafragma com
gradativamente até o valor desejado. maior capacidade: ideal para correção da instabili-
dade dos internos de válvulas de controle que operam
com vazões turbulentas.

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F3. Sistema bypass.

Um vazamento muitas vezes pode ser somente é sanado através da recupe-


solucionado apenas com o reaperto ração total da válvula. Esse procedi-
dos parafusos ou troca da guarnição mento demanda cerca de 15 dias e
da flange. Já o problema de retardo de geralmente é realizado por oficinas Anuncio 1/3
movimento da haste e do obturador, especializadas ou pelos próprios fabri-
dependendo de sua gravidade, poderá cantes da válvula de controle.
ser resolvido somente com um teste Os fenômenos de cavitação e vibra-
completo em bancada. Assim, a vál- ção produzem ruídos, porém em uma
vula deverá ser retirada da planta e intensidade e freqüência diferentes do
substituída pelo sistema de bypass, aerodinâmico ou da instabilidade dos
como pode ser visto na figura 3. internos. Desse modo, além de medi-
Como pôde ser observado na dores de decibéis e de vibração, é
figura, o sistema bypass permite que a preciso também que o técnico tenha
válvula seja retirada sem a parada da muito conhecimento para diagnosticar
linha. O bypass é constituído de uma a situação corretamente. Infelizmente,
tubulação paralela e uma tubulação nesses casos nenhum software pode
principal, onde está instalada a vál- colaborar efetivamente, uma vez que
vula de controle principal, duas vál- os existentes até o momento são volta-
vulas de bloqueio e uma válvula de dos para comunicação com o posicio-
bypass, que pode ser manual. Lembra- nador que, no conjunto total de uma
mos que utilizar uma válvula manual válvula de controle, é a parte que gera
pode acarretar transtornos, pois ela menos problemas.
deverá ser mantida até que a válvula Um plano de manutenção efetivo,
principal seja consertada. levando em conta todos os critérios
As ações corretivas que poderão mencionados neste artigo, com cer-
sanar o problema de retardo incluem teza aumentará consideravelmente a
a substituição e limpeza de compo- vida útil das válvulas de controle de
nentes internos, ajustes nas posições sua fábrica. Conseqüentemente haverá
do conjunto atuador-haste-obturador, diminuição dos desperdícios e das
tanto em repouso como na posição perdas de energia térmica, resultando
final. Dependendo da situação a que em grande economia e na eliminação
a válvula de controle é submetida, total das paradas indesejáveis.
o retardo do movimento da haste

Bibliografia
Consulte a bibliografia utilizada pelo autor em nosso site
www.mecatronicaatual.com.br/downloads.

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