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VANGUARDAS EUROPEIAS

Cena do filme Tempos modernos (1936)


de Charles Chaplin.

DO TEXTO PARA A TEORIA

O italiano Giacomo Balla foi um dos maiores artistas plásticos do início do século
XX. Assim como outros nomes de sua geração, ele era um defensor da vida moderna
e das conquistas tecnológicas do período, como a invenção da luz elétrica e do
automóvel. Chaplin, por outro lado, apresenta uma compreensão negativa do processo
de industrialização, concentrando-se na desumanização do homem. A contradição é
parte integrante do que foi o despontar da modernidade em meados de 1900.
Representando um período que se caracteriza por um modo diferente de
compreender o mundo, a partir do Iluminismo e de todos os seus avanços, a
modernidade é a modificação, a superação do velho e a implementação do novo, e,
por isso, a própria industrialização lhe é condição necessária. Os seguintes eventos
contribuíram para o desenvolvimento da ideia de modernidade.

Linha de montagem da Ford, 1913.

▪ A intensificação das descobertas científicas.


▪ A aceleração dos processos de invenção técnica.
▪ O desenvolvimento do capitalismo.

▪ A urbanização das grandes cidades e a consequente explosão demográfica.

▪ O desenvolvimento, em larga escala, dos sistemas de comunicação, como o


telefone.

▪ A criação de tecnologias, como rádio e o cinema.

▪ A invenção e a popularização do automóvel.

Vanguardas europeias – a palavra vanguarda significa aquilo que está na dianteira,


na linha de frente dos acontecimentos.
As vanguardas europeias foram os primeiros movimentos a apreenderem o espírito
moderno no início do século XX, instaurando uma nova forma de produzir arte.
Despontando em diferentes cidades europeias, como Paris, Berlim e Zurique, as
vanguardas influenciaram o desenvolvimento modernista em todo mundo ocidental a
partir de suas ideias inovadoras e técnicas artísticas originais. Foram cinco os
principais movimentos de vanguarda: Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo
e Surrealismo.

FUTURISMO
Criado pelo italiano Filippo Tommaso Marinetti, o Futurismo foi um movimento
artístico e literário que surgiu oficialmente em 20 de fevereiro de 1909, com a
publicação do Manifesto futurista, no jornal francês Le Figaro. O Futurismo prega a
liberdade total na criação artística, não só no domínio dos temas mas na própria
estrutura gramatical dos textos poéticos, observada na ausência de pontuação, na
quebra da sintaxe e no desprezo pelas maiúsculas. Os adeptos do movimento
rejeitavam o passado e os seus símbolos, como o museu e a biblioteca, e os conceitos
moralistas. Suas obras baseavam-se principalmente na velocidade, na força, na
energia e nos desenvolvimentos tecnológicos do final do século XIX e do começo do
século XX, configurando o dinamismo da arte, exigido pelas condições de uma nova
era.
Leia, a seguir, o trecho inicial do Manifesto futurista.
1. Nós queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia, a rebelião serão elementos essenciais de nossa poesia.
3. A literatura exaltou até hoje a imobilidade pensativa, o êxtase, o sono. Nós
queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, o passado de corrida, o
salto mortal, o bofetão e o soco.
4. Nós afirmamos que a magnificência do mundo se enriqueceu de uma beleza nova:
a beleza da velocidade. Um automóvel de corrida com o seu cofre enfeitado com tubos
grossos, semelhantes a serpentes de hálito explosivo... um automóvel rugidor, que
parece correr sobre a metralha, é mais bonito que a Vitória de Samotrácia.
Escultura grega, também conhecida como Nice de Samotrácia, cujos pedaços
foram descobertos em 1863 nas ruínas do Santuário dos grandes deuses de Samotrácia. Localização:
Museu do Louvre. 190 a.C.
Nas artes plásticas, a valorização da velocidade foi materializada por nomes como
Giacomo Balla e Umberto Boccioni. Observe que esses artistas conseguem imprimir
movimento à tela.

Em A velocidade de uma motocicleta, de Balla, as espirais no centro do quadro e os


arcos se ampliam impõem movimento ao olho humano.

Já na obra Carro e caça à


raposa, de Boccioni, acompanha-se em perspectiva uma cena de velocidade. Trata-se
de uma caçada em que o automóvel ganha mais destaque que todos os outros
elementos.

Álvaro de Campos foi uma das personalidades poéticas da língua portuguesa que
melhor incorporou os preceitos futuristas. A seguir, o poema “Ode triunfal”, atentando
para a materialização das ideias futiristas.
Ode triunfal
À dolorosa luz das grandes lâmpadas elétricas da fábrica
Tenho febre e escrevo.
Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto,
Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos.
Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r- eterno!
Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria!
Em fúria fora e dentro de mim,
Por todos os meus nervos dissecados fora,
Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto!
Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos,
De vos ouvir demasiadamente de perto,
Canto, e canto o presente, e também o passado e o futuro,
Porque o presente é todo o passado e todo o futuro
[...]
PESSOA, Fernando. Ode triunfal. In:___. Obra Poética.6.ed.Rio de Janeiro: Nova Aguilar,2005.

▪ A sensação de euforia com o progresso ganhou reflexos na literatura produzida


no período. Esse é um exemplo do Modernismo português de exaltação da
máquina, símbolo da industrialização.
▪ O eu lírico afirma que a beleza do poema futurista é desconhecida para os
antigos, definindo sua posição de vanguarda.
▪ O uso inusitado da letra r, no quinto verso, trata-se de uma referência ao
barulho do maquinário.

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