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O que estudamos na aula anterior?

Vanguardas culturais européias:


Modernismo em Portugal
Um agitado início
No início do século XX, a Europa se encontrava em intensa turbulência.
Problemas de natureza política e conflitos entre países vizinhos deram início a
desentendimentos locais que acabaram provocando, em 1914, a Primeira Guerra
Mundial.
Ao lado da instabilidade política, as pessoas tinham também de construir um
novo olhar para a vida, agora transformada pelo impacto das descobertas
tecnológicas que começavam a causar espanto. Considerado a era da
eletricidade, o século XX viu surgir o telefone, o telégrafo sem fio, o aparelho de
raios X, o cinema, o automóvel, o avião, invenções que ampliaram o domínio
humano sobre o espaço e o tempo.
A ciência descobriu mundos invisíveis com o auxílio do microscópio: vírus,
bactérias, seres minúsculos passaram a ser identificados como inimigos muitas
vezes mortais. A teoria da relatividade abalou as certezas centenárias e provocou
uma verdadeira revolução na Física. Quando Einstein afirmou a relatividade do
tempo e da distância, transformou o modo como as pessoas percebiam a
realidade e avaliavam o universo. Nada mais era definitivo, nada era certo.
Houve também o aumento das populações nas cidades; cresceram as
atividades comerciais e industriais; jornais, rádios e cinemas ganhavam um
público cada vez maior; máquinas sofisticadas aceleravam o tráfego e ruídos
dissonantes de engrenagens e motores alardeavam os tempos modernos.
Nesse contexto, o cenário artístico também vivia um momento de grande
agitação. Diferentes movimentos artísticos, denominados vanguardas, surgiram
propondo novas referências para a pintura, a literatura, a música e a escultura.
O termo vanguarda aparece no século XII, associado a uma posição avançada de
ataque, por oposição a retaguarda. No século XVIII, aparecem os primeiros registros de
emprego metafórico da palavra para indicar aquilo que está “em primeiro lugar”. A partir
da Primeira Guerra Mundial, o termo voltou a ser usado para designar, nas letras
francesas, a parte mais radical dos movimentos literários e estéticos, as propostas mais
inovadoras.
O novo século precisava criar as próprias referências estéticas. É nesse contexto
histórico-cultural que nascem os vários “ismos”: Futurismo, Cubismo, Expressionismo,
Dadaísmo e Surrealismo.
Praticamente todas as vanguardas lançaram manifestos. Esses manifestos eram
textos que divulgavam as propostas das novas formas de expressão artística e definiam
estratégias formais para alcançá-las.
Contexto de produção e de circulação
Nos últimos anos do século XIX, Paris é a capital cultural da Europa e pulsa
com a agitação característica da Belle Époque. É nesse contexto de produção
que nascem as vanguardas. Diferentes grupos se organizam em torno de líderes
que assumem o papel de propor e divulgar novos caminhos para a arte.
Surgem os manifestos com circulação nos jornais.
Futurismo
1. Queremos cantar o amor ao perigo, o hábito da energia e da temeridade.
2. A coragem, a audácia e a revolta serão os elementos essenciais da nossa poesia.
3. Até agora a literatura refletiu a imobilidade melancólica, o êxtase e o sono. Nós
queremos exaltar o movimento agressivo, a insônia febril, a corrida, o salto mortal,
o soco e o tapa.
4. Declaramos que o esplendor do mundo se enriqueceu de uma nova beleza: a
beleza da velocidade. Um automóvel de corrida cuja carroceria é adornada por
grandes tubulações como serpentes de alento explosivo… um automóvel que ruge,
que parece correr acima da metralha, é mais belo do que a Vitória de Samotrácia.
5. Queremos cantar o homem ao volante, cuja lança ideal atravessa a Terra, ela
própria lançada no circuito de sua órbita.
6. É preciso que o poeta se consuma de ardor, esplendor e prodigalidade, a fim de
aumentar o fervor entusiástico dos elementos primordiais.
7. Só há beleza na luta. Não existe obra-mestra sem um caráter agressivo. A poesia
deve ser um ataque violento contra as forças desconhecidas, para fazer com que se
prostrem diante do homem.
8. Nós estamos sobre o promontório extremo dos séculos!… De que vale olhar para
trás, no momento em que nos cabe arrebentar os portais misteriosos do Impossível? O
Tempo e o Espaço morreram ontem. Agora vivemos no absoluto, pois já criamos a
velocidade eterna e onipresente.
9. Queremos glorificar a guerra – a única higiene do mundo –, o militarismo, o
patriotismo, o gesto destruidor dos anarquistas, as belas ideias pelas quais se morre, e
o desprezo pela mulher.
10. Queremos demolir os museus, as bibliotecas, combater o moralismo, o feminismo e
todas as covardias oportunistas e utilitárias.
11. Cantaremos as grandes multidões agitadas pelo trabalho, o prazer ou a revolta;
as multicoloridas e polifônicas marés revolucionárias nas capitais modernas; a
vibração noturna dos arsenais e dos estaleiros incendiados por violentas luas
elétricas; as estações ferroviárias vorazes devorando serpentes que fumam; as
fábricas suspensas nas nuvens pelos fios de suas fumaças; as pontes lançadas,
como saltos de ginastas, sobre rios ensolarados que brilham como uma cutelaria
diabólica; os paquetes aventureiros farejando o horizonte; as locomotivas de peito
largo, que batem as patas nos trilhos, como enormes cavalos de aço embridados
por longos tubos; e o voo deslizante dos aeroplanos, cujas hélices estalam ao vento
como bandeiras e aplaudem como uma multidão entusiasta.
[...]

Manifesto Futurista- Filippo Tommaso Marinetti | 1909


Em 1909, a Europa é surpreendida por uma nova vanguarda: o Futurismo. O
Futurismo é divulgado através de um manifesto assinado pelo seu líder, italiano
Fillipo Marinetti.
O grande estardalhaço do Futurismo é provocado pela figura de Marinetti, que
lança mais de 30 manifestos definindo diversos aspectos da nova vanguarda. Em
todos, a mesma proposta violenta de destruição total do passado; o mesmo
fascínio pela guerra que promove a aniquilação dos símbolos do passado; a
mesma exaltação pelas formas do mundo moderno: automóveis, aviões, em um
eterno culto à velocidade.
Adotando uma perspectiva violenta, agressiva e iconoclasta, os futuristas exaltam
a “bofetada e o soco” como meio de despertar o público da passividade em que
se encontra.
Na literatura
Quanto à literatura, Marinetti recomenda: a destruição da sintaxe e a disposição
das “palavras em liberdade;” o uso dos verbos no infinitivo, com vistas à
substantivação da linguagem; abolição dos adjetivos e dos advérbios; abolição da
pontuação, que seria substituída por sinais da matemática e pelos sinais musicais.
O objetivo é sempre o mesmo: impedir que a literatura continue a exaltar a
“imobilidade pensativa”.
Nem todas essas propostas se firmaram na literatura. Contudo, o verso livre ficou
como uma das suas mais importantes contribuições.
Muitos poetas foram influenciados por tais propostas, como o poeta português
Fernando Pessoa e os poetas brasileiros Mário de Andrade e Oswald de Andrade.
Dadaísmo

Obras: “A roda de bicicleta” e "A Fonte"


de Marcel Duchamp
Por que Dadá?
Há várias histórias que explicam a origem do nome desse “-ismo” europeu. Uma
delas conta que a palavra dadá teria surgido o acaso quando alguns artistas do
grupo procuravam um apelido para uma cantora do Cabaret Voltaire. Consultando
um dicionário francês-alemão, eles se depararam com o verbete dadá, que,
segundo o principal idealizador do movimento, Tristan Tzara, não significa nada.
O romeno afirmou que a maior preocupação do grupo foi “criar uma palavra
expressiva que, mediante sua magia, fechasse todas as portas à compreensão e
não fosse um ‘-ismo’ a mais”.
O Dadaísmo foi um movimento que surgiu no início do século XX dentro de um cabaré em
Zurique, Suíça no ano de 1916. Ele foi idealizado por anarquistas intelectuais germânicos que
queriam desconstruir a arte, contrariando a sociedade, a religião, a ciência e a filosofia. Com a
destruição deixada pela Primeira Guerra Mundial, parte desses artistas fugiram para a Suíça
tentando se proteger. Entre eles um dos principais organizadores do movimento, Tzara Tristan
(1896-1963), eles pregaram o Dadaísmo como uma conduta irracional, ilógica e desordenada.

No entanto, para que esse movimento desse certo, os fundadores do Dadaísmo sabiam
que eles não podiam lançar suas ideias de forma aleatória. Sobretudo, eles precisavam
encontrar apoio dentro do mundo artístico. Dessa forma, os dadaístas se inspiraram no
Futurismo e lançaram o primeiro manifesto, que foi lido na própria cidade (Zurique) por Hugo
Ball (1886-1927), que foi um poeta, escritor e filósofo alemão e um dos principais artistas do
Dadaísmo.
Manifesto Dadaísta
“Dadá é uma nova tendência da arte. Percebe-se que o é porque, sendo até
agora desconhecido, amanhã toda a Zurique vai falar dele. Dadá vem do
dicionário. É bestialmente simples. Em francês quer dizer "cavalo de pau". Em
alemão: "Não me chateies, faz favor, adeus, até à próxima!" Em romeno:
"Certamente, claro, tem toda a razão, assim é. Sim, senhor, realmente. Já
tratamos disso." E assim por diante. Uma palavra internacional. Apenas uma
palavra e uma palavra como movimento”
Receita para um poema dadaísta (Tristan Tzara)
“Pegue um jornal. Pegue a tesoura. Escolha no jornal um artigo do tamanho que
você deseja dar a seu poema. Recorte o artigo. Recorte em seguida com atenção
algumas palavras que formam esse artigo e meta-as num saco. Agite
suavemente. Tire em seguida cada pedaço um após o outro. Copie
conscienciosamente na ordem em que elas são tiradas do saco. O poema se
parecerá com você. E ei-lo um escritor infinitamente original e de uma
sensibilidade graciosa, ainda que incompreendido do público.”
Atividade
Vamos seguir a receita
dadaísta e criar um poema.
O que estudamos na aula anterior?
Expressionismo
A primeira vez que o termo surgiu foi em 1911, na revista Der Sturm (A Tempestade).
O periódico alemão era o veículo de comunicação mais importante do movimento.

Outro grupo com grandes tendências expressionistas foi o Der Blaue Reiter (O
cavaleiro azul), formado em 1911 por Franz Marc (1880-1916) e Wassily Kandinsky
(1866-1944).

Edvard Munch é considerado o precursor do Expressionismo, tendo influenciado


essa corrente artística com suas obras impactantes e cheias de carga emocional.

Sua obra mais importante é O Grito (1893). Ela representa uma das telas mais
emblemáticas do movimento expressionista.
Características do Expressionismo
Com uma visão trágica do ser humano, muito por conta do contexto histórico da
Primeira Guerra Mundial, o Expressionismo, como o próprio nome sugere, busca ser
uma expressão dos sentimentos e das emoções.

Assim, os artistas exageram e distorcem os temas em seu processo de catarse,


revelando, sobretudo, o lado pessimista da vida. Portanto, as principais características
são:
● contraste e intensidade cromática;
● valorização do universo psicológico, sobretudo de sentimentos densos, como a angústia
e solidão;
● dinamismo e vigor;
● técnica abrupta e "violenta" na pintura, com grossas camadas de tinta;
● valorização de temas sombrios, trágicos.
Cubismo
O Painel Guernica tem grandes proporções, foi pintado em 1937 pelo espanhol
Pablo Picasso (1881-1973). Ele Foi produzido a partir das impressões do pintor
sobre o intenso bombardeio que arrasou a cidade basca de Guernica, em 26 de
abril de 1937, durante a guerra civil espanhola.
O primeiro movimento de vanguarda surge em 1907, com o quadro Les demoiselles
d’Avignon (As senhoras de Avignon), de Pablo Picasso. O espírito inovador das
vanguardas é confirmado pela reação, de modo geral, horrorizada do público diante
de tal obra, que mostra cinco mulheres nuas, com o rosto e o corpo definidos por
formas geométricas. A deformação dá ao observador a impressão de que foram
talhadas a golpes de machado. Os braços são disformes, pontiagudos, acentuando os
ângulos. Corpos e cabeças mostram simultaneamente o rosto e as costas.

Assim, o quadro revela um modo revolucionário de representar a realidade, rompendo


com os conceitos tradicionais de harmonia, proporção, beleza e perspectiva. Com
essa obra nasce a pintura cubista, e o seu criador, Pablo Picasso, será o grande
mestre do Cubismo, ao lado de outros, como Georges Braque e Juan Gris.
De forma geral, os cubistas propunham novas experiências com a perspectiva,
decompondo os objetos, representando-os em diferentes planos geométricos e
ângulos retos, em espaços múltiplos e descontínuos, de tal modo que o
espectador pudesse ter uma visão do todo, de face e de perfil, como se tivesse
dado uma volta em torno deles.

Essa forma de representação artística criou muita polêmica entre os apreciadores


de arte, acostumados com a ideia tradicional de que a pintura deveria imitar a
realidade. De maneira original, os quadros cubistas exigem que o espectador
saiba isolar e reunir os elementos constitutivos da imagem para usufruir de sua
beleza inusitada. E, mais que isso, levam o observador a questionar a realidade,
não aceitando uma interpretação única, linear.
A literatura cubista

É na poesia que a literatura cubista ganha forma. Exploram o humor, a


fragmentação da realidade, a simultaneidade de planos como, por exemplo, a
reunião de assuntos aparentemente sem nexo, mistura de assuntos, espaços e
tempos diferentes. É possível perceber a influência dessa vanguarda na obra dos
primeiros modernistas brasileiros. Observe como ela está presente no poema a
seguir, de Oswald de Andrade:
hípica

Saltos records
Cavalos da Penha
Correm jóqueis de Higienópolis
Os magnatas
As meninas
E a orquestra toca
Chá
Na sala de cocktails
A composição do poema é claramente cubista. Para retratar o ambiente de uma
corrida de cavalos na hípica, o eu lírico promove uma “sobreposição” de imagens
que deslocam o olhar do leitor da pista, onde estão cavalos e jóqueis, para o
público entretido pela orquestra. O resultado é uma imagem multifacetada,
composta de fragmentos de diferentes planos da realidade.
Surrealismo

Página 29 livro didático.

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