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De todas as Línguas

Barbara F. Grimes

Barbara F. Grimes é membro da Wycliffe Bible Translators (Tradutores Bíblicos da Wycliffe) desde 1951. Ela
trabalhou com seu marido entre os índios Huichol do México, onde produziram o Novo Testamento em Huichol
e outras literaturas. Foi editora do Ethnologue: Languages of the World de 1971 a 2000. Desde 1988, ela
e o marido traduzem as Escrituras com falantes do Pidgin havaiano para essa língua. Texto adaptado de
“‘Reached’ Without Scripture?” International Journal of Frontier Missions, 7:2, pp. 41-47. Diagrama adaptado
da Bible Translation Update, Wycliffe Bible Translators 12:2. Utilizado com permissão da IJFM e do autor.

Depois disso olhei, e diante de mim estava uma grande multidão que ninguém podia contar, de todas as
nações, tribos, povos e línguas, de pé, diante do trono e do Cordeiro.
—Apocalipse 7:9

Fomos ordenados a fazer discípulos de todos os povos. Para isso, todo comunicador
do evangelho — evangelista, professor, obreiro de desenvolvimento ou plantador de
igreja — faz escolhas sobre qual idioma usará para o ministério. Muitas vezes a escolha
de qual idioma usar é feita com base no que é mais fácil para o comunicador em vez do
que comunica melhor aos ouvintes.

Realizar um ministério na língua materna dos ouvintes é obviamente mais eficaz.


Mas para o ministério que realmente a�nge povos não alcançados, o ministério na
língua materna não é apenas valioso, é crucial. A necessidade do ministério e uso das
Escrituras na língua materna torna-se clara ao olhar para o �po de discípulos e igrejas
que gostaríamos de ver.

Fazendo discípulos na língua materna


Muito do que um discípulo é ordenado a fazer envolve o idioma. Ser um discípulo de
Jesus Cristo envolve conhecê-Lo pessoalmente. Isso requer compreensão adequada das
boas novas e da Palavra de Deus. A compreensão e o conhecimento são repe�damente
enfa�zados em toda Escritura. O Apóstolo Paulo disse que era sua responsabilidade
tornar a mensagem clara (Cl 4:4).

Mas ser discípulo envolve mais do que compreensão passiva. Um discípulo recebe a
ordem de testemunhar sua fé, encorajar outros cristãos, exortar aqueles que precisam,
orar, louvar, agradecer, cantar, memorizar a Palavra de Deus, ensinar seus próprios
filhos, ensinar os mais jovens, instruir uns aos outros e meditar. Os discípulos exercitam
dons do Espírito que envolvem comportamento verbal como comunicar sabedoria,
transmi�r conhecimento, profecia, interpretação de línguas, cumprir as funções de
Artigo – De todas as Línguas

mensageiros nomeados, e ser evangelistas, pastores e mestres. Espera-se que algumas


pessoas leiam as Escrituras publicamente, ensinem, preguem e interpretem qualquer
língua estrangeira usada na igreja.

A língua materna é a língua que as pessoas aprendem primeiro no colo de sua mãe, na
qual aprendem a pensar e falar sobre o mundo ao seu redor, interagir com as pessoas
mais próximas, adquirir e expressar seus valores. É a linguagem que se torna parte
de sua personalidade e iden�dade, e que expressa sua etnicidade e solidariedade
a seu povo. As pessoas podem lidar com as habilidades verbais necessárias para a
compreensão adequada das boas novas e para atuar como um discípulo em sua língua
materna; a questão é se eles conseguem ou não fazer essas coisas em uma segunda
língua.

Plantando Igrejas que Duram


É possível plantar igrejas sem a clareza da língua materna, mas é quase nunca
desejável. Sem as Escrituras na língua materna, as igrejas não são capazes de sustentar
a profundidade espiritual nas gerações seguintes. Elas têm dificuldade em responder
a falsos ensinamentos, travar uma batalha espiritual e evitar o sincre�smo. Muitos
dentro ou fora da igreja falham em reconhecer que o Deus cristão é o Deus universal
a quem todos devem responder. Não é di�cil ver por que as igrejas sem isso não são
apenas impedidas de alcançar os outros em sua própria comunidade, elas muitas vezes
não têm uma visão para obedecer ao chamado missionário de Deus para ir a outro
lugar.

Duas abordagens muitas vezes �ram a atenção dos comunicadores do evangelho de


fazerem o trabalho mais di�cil e duradouro para fazer discípulos na língua materna
local: primeiro, em situações mul�língues há uma percebível possibilidade de transmi�r
as boas novas adequadamente em uma segunda língua, e em segundo lugar, há muitas
vezes uma esperança de que os intérpretes bilíngues locais levem a mensagem para os
outros dentro de sua comunidade.

Populações Mul�língues
Um estudo cuidadoso de como diferentes línguas são usadas em sociedades mul�língues
tem fornecido compreensão importante aos socio-linguistas nas úl�mas décadas.
Pessoas mul�língues usam cada uma de suas línguas em diferentes circunstâncias com
pessoas diferentes para falar sobre diferentes assuntos. Isso é feito com diferentes
graus de sucesso na fala, compreensão e com diferentes conotações psicológicas. É
importante para aqueles que querem comunicar a mensagem mais importante do
mundo que estejam cientes desses fatores, para que ambos comunicadores e suas
mensagens não sejam mal interpretados ou rejeitados.

A segunda língua é aprendida em determinadas situações e depende da quan�dade e


�po de contato que um indivíduo tem com ela, seu desejo e necessidade de aprendê-

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la. Assim, há diferenças de fluência em uma população. Não é possível julgar a


proficiência bilíngue de uma população olhando apenas para uma pequena amostra da
população. É necessário inves�gar como grupos de diferentes idades, sexos, regiões e
níveis educacionais usam seus idiomas e estudar quaisquer outros fatores que possam
influenciar o contato com a segunda língua nessa cultura. A importância de alcançar a
todos para Cristo, incluindo mulheres, idosos, pessoas sem estudo e em áreas remotas,
jus�fica o tempo e o esforço necessários para conduzir uma inves�gação confiável
dessas diferenças.

Trabalhando com intérpretes bilíngues locais


Muitas vezes, os esforços missionários ansiosos buscam uma comunicação rápida,
transmi�ndo a mensagem através de uma pessoa bilíngue. Essa abordagem, usada
extensivamente em missões com resultados duvidosos, tem sido chamada de “modelo
intérprete”. Nesse modelo, uma pessoa bilíngue ouve a mensagem ou lê as Escrituras
em sua segunda língua e, em seguida, espera-se que transfira o significado para sua
língua materna em bene�cio daqueles que não entendem a outra língua. Infelizmente,
poucas pessoas são capazes de fazer esse �po de transferência sem um extensivo
treinamento e experiência nessa habilidade. A maioria dos falantes bilíngues de línguas
minoritárias aprendeu sua segunda língua através do contato oral direto fora de uma
sala de aula e não tem treinamento em transferência de idiomas.

As Escrituras estão frequentemente disponíveis para essas igrejas apenas em uma


segunda língua. Esse modelo evita ter que traduzir as Escrituras para a primeira língua,
mas supõe que as paráfrases espontâneas das Escrituras são adequadas. Não há
garan�a de que tais paráfrases improvisadas feitas repe�damente por vários falantes
em diferentes situações sejam de todo corretas. O modelo intérprete muitas vezes
resulta em uma elite bilíngue na igreja sendo os únicos elegíveis para se tornarem
líderes. Outros a quem Deus possa ter dado os dons do ensino, pregação e outros dons
que envolvem o uso da linguagem podem ser dificultados pela falta de proficiência
bilíngue suficiente para atuar na segunda língua.

De todas as línguas
Os sábios comunicadores das boas novas trabalharão para resultados duradouros.
Eles farão o trabalho desafiador de avaliação linguís�ca e tradução bíblica. Eles farão
esse trabalho di�cil com as pessoas em mente e com o resultado em vista. Eles se
esforçarão para levar o evangelho a cada povo em um idioma que eles não apenas
entendem, mas que o povo usará para se tornar discípulos maduros, edificar a igreja,
espalhar as boas novas e adorar a Deus de maneiras significa�vas para seu próprio
povo. Não basta algumas pessoas entenderem parte da mensagem. Para Deus ouvir
Seu louvor falado por igrejas pujantes “de todas as línguas”, Seus comunicadores
devem realizar a importante obra de trazer a palavra de Deus de uma maneira que fale
aos seus corações e lares em todas as línguas.

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Tradução da Bíblia: Quantas línguas faltam?


Em 1951, o Etnologue foi criado para tentar descobrir onde as traduções da Bíblia ainda
eram necessárias. Em 1974, a pesquisa progrediu para que todas as línguas conhecidas
do mundo fossem incluídas.

Quantas línguas ainda precisam de tradução da Bíblia em 2008? Pesquisas linguís�cas


ainda são necessárias em aproximadamente 2.500 idiomas para poder responder a
essa pergunta. As pesquisas frequentemente descobrem línguas adicionais que não
foram reconhecidas ou incluídas anteriormente. Experiências passadas mostram que
cerca de 5 em cada 6 pesquisadas precisam de tradução da Bíblia.

Não basta que as pessoas tenham apenas um livro das Escrituras para se tornarem
discípulos maduros. Com mais de 5.000 idiomas sem uma Bíblia ou Novo Testamento
em uma língua que fala claramente com eles, ainda há uma enorme tarefa de tradução
diante de nós para dar a cada povo acesso à Palavra de Deus.

Idiomas com acesso às Escrituras


Bíblias completas
Apenas Novos Testamentos
Apenas Partes
Línguas sem qualquer porção da Bíblia

Traduções das Escrituras concluídas através da história


Um ou mais Livros Inteiros Publicados
Bíblias ou Novos Testamentos Publicados

Fontes: Acesso às Escrituras – Wycliffe Bible Translators, Office of Language Information Systems Scripture
Translations Completed Through History - International. Lupas, Liana, e Erroll F. Rhodes, eds. 1996. Scriptures
of the World. Reading, England: United Bible Societies. Atualizado da United Bible Society 2004 Scripture
Language Report

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