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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO SERIDÓ


CAMPUS DE CAICÓ – DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA DO CERES
ESPECIALIZAÇÃO EM HISTÓRIA E CULTURA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA

RODSON SIDNEY DE SOUZA

FAMÍLIA DE SANTO:
RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NA CIDADE DE OURO BRANCO/RN

CAICÓ
2016

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RODSON SIDNEY DE SOUZA

FAMÍLIA DE SANTO:
RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NA CIDADE DE OURO BRANCO/RN

Trabalho de Conclusão de Curso, na


modalidade Artigo, apresentado ao Curso de
Especialização em História e Cultura Africana
e Afro-Brasileira, da Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Centro de Ensino
Superior do Seridó, Campus de Caicó,
Departamento de História, como requisito
parcial para obtenção do grau de Especialista,
sob orientação do Prof. Dr. Helder Alexandre
Medeiros de Macedo.

CAICÓ
2016
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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 05
2 ORIGEM DA UMBANDA ................................................................................................... 06
3 AS PRÁTICAS DA UMBANDA EM OURO BRANCO-RN ............................................. 08
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 16
FONTES ................................................................................................................................... 17
REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 18

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FAMÍLIA DE SANTO:
RELIGIÃO AFRO-BRASILEIRA NA CIDADE DE OURO BRANCO/RN

Rodson Sidney de Souza*


Helder Alexandre Medeiros de Macedo – Orientador†

RESUMO:
O trabalho faz uma análise do terreiro Tenda Umbandista Preto Velho de pai Tadeu na cidade
de Ouro Branco RN. Pai Tadeu, assim como é chamado pelos fiéis do terreiro, está na religião
umbandista há mais de 15 anos. Partindo desse pressuposto fomos impelidos a iniciar as
entrevistas com as pessoas que fazem parte do terreiro, um total de 3 entrevistas. Para que o
trabalho possua respaldo nos debruçamos na leitura de Roger Bastide, Vagner Gonçalves e da
bibliografia que aborda o assunto. Com as entrevistas detectamos que o público do terreiro é
diversificado e fiel no que se refere ao seu regresso no terreiro.
PALAVRAS-CHAVE: Religião afro-abrasileira, Ouro Branco, Terreiro, umbanda.

ABSTRACT
The work makes a yard analysis Umbanda Tent Black father Old Tadeu in the city of Ouro
Branco RN . Father Thaddeus, as it is called by the yard of the faithful , is the Umbanda religion
for over 15 years. Based on this assumption we were compelled to start the interviews with the
people who are part of the yard , a total of three interviews. For the work we have worked
through support in reading Roger Bastide , Vagner Gonçalves and the literature that addresses
the issue. With interviews detected that the public's yard is diverse and faithful in regard to their
return in the yard .
KEY WORDS: African-Brazilian religion, Ouro Branco, Yard, umbanda.

*
Discente do Curso de Especialização em História e Cultura Africana e Afro-Brasileira – Universidade Federal
do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó (CERES), Campus de Caicó, Departamento
de História (DHC). Graduado em Pedagogia pela UFRN, CERES, Campus de Caicó. Professor da Rede Municipal
de Ensino na Escola Municipal José Nunes de Figueiredo (Ouro Branco-RN), onde é Pedagogo. E-mail:
rodsonsidney@bol.com.br.

Professor do DHC, CERES, UFRN. E-mail: heldermacedox@gmail.com.
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1 - INTRODUÇÃO

A ocupação do Rio Grande do Norte, na época da colonização do Brasil, aconteceu de


maneira gradativa, partindo do litoral para o sertão, os colonizadores brancos enfrentando a
resistência dos nativos e impondo os seus costumes, religião e modo de vida aos que já estavam
por aqui. Assim percebe-se que a religiosidade do povo nordestino é marcante nos espaços
seridoenses. Com isso, Ouro Branco é um município bem encravado no Seridó segundo Lucena
(2015), tendo em vista que o processo de povoamento se deu como de todo o Seridó, a partir
da criação de gado vacum (bovino) apesar das condições não muito favoráveis para a pecuária
devido aos períodos de seca.
As práticas religiosas católicas são intrínsecas a este povo, onde observa-se que de com
Azevedo (2005) a religião Católica era predominante.

Dentro das residências era comum a existência de oratórios, um lugar sagrado


e onde se orava, faziam-se preces, o que aproximava o homem dos Santos e
Santos, dos milagres, de Deus. A presença de representantes da Igreja Católica
era fundamental para a aproximação dos fiéis. (AZEVEDO, 2005, p.20).

O cotidiano do sertanejo era marcado pelas práticas de religiosidade, dentro de suas


residências estavam presentes imagens, oratórios e o que fazia com que o homem mantivesse
uma ligação com Deus.
Assim esta pesquisa abordará a temática da inserção das religiões afro-brasileiras no
território ourobranquense, procurando estudar quanto tempo faz que estas práticas se fazem
presentes nesta localidade e quando e como surgiu a Tenda Umbandista Preto Velho, tendo em
vista que este é um trabalho até o momento único para a historiografia local, servindo
posteriormente como fonte de pesquisa. Objetivando com isso, historicizar o surgimento da
Umbanda em Ouro Branco-RN e discutir as práticas cotidianas em meio a uma sociedade
majoritariamente católica desde seus primórdios.
Portanto a pesquisa será desenvolvida por meio de um breve estudo da bibliografia
existente e através de entrevista informal com alguns participantes da umbanda da cidade de
Ouro Branco RN, e pesquisa in loco.

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2 - ORIGEM DA UMBANDA

Nesta trajetória os grupos étnicos que formaram o Brasil se misturavam entre os brancos
(portugueses e europeus), nativos (índios) e negros (escravizados), porém a predominância da
religião dos brancos era intensa. Ficando os demais povos e raças proibidos de praticar as suas
religiões nativas.

Os escravos africanos eram proibidos de praticar suas várias religiões nativas.


A Igreja Católica Romana deu ordens para que os escravos fossem batizados
e eles deveriam participar da missa e dos sacramentos. Apesar das instituições
escravagistas e da Igreja Católica Romana, entretanto, foi possível aos
escravos comunicar, transmitir e desenvolver sua cultura e tradições
religiosas. (JENSEN, 2001)

Desde os primórdios havia o preconceito e a proibição com as práticas de religiões


diversas das cristãs-católica. Porém Jensen (2001) mostra que apesar das descontinuidades,
houveram fatos que contribuíram com esta continuidade: os vários grupos étnicos continuaram
com sua língua materna; havia um certo número de líderes religiosos entre eles; e os laços com
a África eram mantidos pela chegada constante de novos escravos.
Quanto ao surgimento das religiões afro-brasileiras, as mesmas constituem um
fenômeno relativamente recente na história religiosa do Brasil. Tendo em vista que o primeiro
terreiro de Candomblé, é localizado no Nordeste, na Bahia, remente-se ao ano de 1830. Jensen
(2001) afirma que estas novas religiões apareceram primeiro na periferia urbana brasileira, onde
os escravos tinham maior liberdade de movimento e eram capazes de se organizar em nações.
Daí eles se espalharam por todo o país.

Reafricanização ou não, as religiões afro-brasileiras ainda carregam os efeitos


de sua interação com outras tradições religiosas, especialmente do
Catolicismo. Os Voduns e Orixás foram justapostos com os santos católicos e
o interior dos terreiros possuía numerosos elementos católicos, incluindo e
estátuas de santos, enquanto os objetos religiosos africanos eram escondidos.
As religiões afro-brasileiras eram proibidas, e os terreiros eram
freqüentemente visitados pela polícia. Por isso seus praticantes deviam
sempre buscar caminhos para fortalecer a aparência católica dos Orixás e dos
terreiros. (JENSEN, p. 03, 2001)
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Entre as diversas discussões Nascimento (2012) apresenta a questão do surgimento da
Umbanda como religião, e prática de um ritual organizado e praticado por negros fugitivos que
se instalavam em lugares longe de centros urbanos e de difícil acesso, ou seja, os chamados
Quilombos. Estes escravos negros criaram essa vertente da religião católica para se aproximar
de sua religião de origem, o Candomblé.
As práticas das religiões afro-brasileiras são interligadas a alguns elementos católicos.
Como qualquer outra religião, a Umbanda tem suas principais entidades, que norteiam as
crenças e o modo de vivência do homem. Cada uma delas tem seu nome correspondente na
religião Católica tal fato justifica sua forte relação com a mesma conforme quadro abaixo:

RELIGIÃO CATÓLICA RELIGIÃO UMBANDA


SÃO JORGE OGUM
NOSSA SENHORA DOS NAVEGANTES IEMANJÁ
NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO OXUM
SANTA BÁRBARA IANSÃ
SÃO JERÔNIMO XANGÔ

Quadro 1: Relação das entidades da Umbanda com as da religião católica.

Dessa forma, Rosendahl (1996) entende que o espaço sagrado é onde o homem sente-
se mais próximo de sua crença, ou seja, em contato com a divindade a qual acredita. O homem
não apenas cria novos espaços sagrados, mas também materializa as imagens e objetos
referentes à sua entidade. No caso da religião umbanda este espaço sagrado se refere às casas
ou centros, onde são realizados os cultos e ritos envolvendo a fé. O espaço profano circunda o
sagrado. É o espaço sagrado que o delimita e o possibilita.
O sagrado circunda o profano e tece as relações entre homens e Deus ou deuses, dentre
as muitas entidades que são recebidas pelos médiuns das correntes nos inúmeros terreiros de
Umbanda, citam-se como exemplos os Caboclos e Pretos Velhos que são considerados as
entidades mais cheias de luz espiritual e sabedoria. Diante disso, pode-se dizer que é através
dessas entidades que a Umbanda se caracteriza por ser uma religião com forte relação com o
meio natural (água, terra, mata entre outros), seguindo muitos ensinamentos ligados a natureza.

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3 - AS PRÁTICAS DA UMBANDA EM OURO BRANCO-RN

Inicialmente os resultados parciais da pesquisa permitem inferir que em Ouro Branco-


RN se faz presente um pequeno número de centros de cultos ligados à religião Umbanda. Pode-
se dizer que são dois situados na zona urbana e um na zona rural do Município. As práticas
nestes terreiros atuais são desenvolvidas por pessoas que aderiram a religião há pouco mais de
uma década. Porém o pai de santo afirma que a umbanda já é antiga no município:

“(...) A umbanda tá aqui em Ouro Branco há muito tempo. Meu tio que era
irmão do meu avô já tinha um terreiro aqui, depois ele foi pra Santos interior
de São Paulo, e quem tomou conta das práticas foi de Maria de Gerim. Mas
não só tinha ele aqui em Ouro Branco não! Essa mediunidade é de família”.
(PAI TADEU, 2016)

A família de santo, é uma organização social do terreiro com vínculos baseados em laços
de parentesco religioso. E dentro desta família estão os personagens principais que são a mãe-
de-santo ou o pai-de-santo.

A Mãe ou o Pai de Santo, são e serão sempre a maior referência dentro de um


Templo de Umbanda, não somente para seus Filhos e seguidores, mas para
toda espiritualidade, eles são posicionados a frente do Congá, e é a partir deste
Congá que a Espiritualidade de Luz e seus braços espirituais que iniciaram
toda esta empreitada, os alimentam com sua energia, traduzida de diferentes
formas sob a orientação dos emissários de Oxalá, dos Orixás e todas as linhas
que representam as Entidades em suas mais diversificadas formas de
manifestação, sempre ligadas às forças e elementos em seu meio natural e na
essência do espírito em seu efeito sobre a matéria que rege, seu corpo físico.
(http://www.caboclopenaverde.com.br/index.php/tema-da-semana/348-o-
significado-de-uma-mae-e-pai-de-santo-para-a-espiritualidade-e-para-a-
umbanda-e-o-que-deve-significar-para-seus-filhos-de-santo-e-seguidores.
Acesso em 11 de Junho de 2016 as 18h34)

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O terreiro de Umbanda, que foi objeto de análise, é o liderado pelo Jovem Senhor Tadeu
Moreira da Silva, pai de santo da casa, que residente no Estado do Rio Grande do Norte,
Mesorregião Central Potiguar, e Microrregião do Seridó Oriental, figuras ilustrativas abaixo.

Figura 1: Mapa da Mesorregião Central Potiguar e Microrregião do Seridó Oriental

Fonte: http://www.sites-do-brasil.com/diretorio/index.php?cat_id=964.
(Acesso em 11 de junho de 2016)

Figura 2: Mapa do Rio Grande do Norte e destaque na cidade de Ouro Branco-RN

Fonte:http://lenilsonazevedo.blog.br/wp-
content/uploads/mapa_politico_administrativo_rn_2007.png (Acesso em junho de 2016)

Os trabalhos são realizados na casa próximo aonde a família do Pai de santo reside,
localizada na Rua Senhor Cirilo s/n, Centro de Ouro Branco-RN, favorecendo as artes e práticas

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desenvolvidas no local. A figura abaixo apresenta o Jovem Senhor Pai de Santo de um dos
terreiros de Ouro Branco-RN.

Figura 3 - Senhor Tadeu Moreira da Silva – Pai de santo

Fonte: acervo do autor.

Nas religiões dos orixás, cada terreiro tem plena autonomia administrativa, ritual e
doutrinária, e tudo depende das decisões pessoais da mãe ou pai-de-santo. O controle social
exercido entre terreiros, no conjunto geral do chamado povo-de-santo, se faz por redes
informais de comunicação, em que a fofoca ocupa lugar privilegiado (Braga, 1998), sem que a
independência do sacerdote-chefe de terreiro, contudo, sofra realmente qualquer limitação
eficaz. É costume se dizer que no candomblé "nada pode e tudo pode" e que tabus são para ser
quebrados (Augras, 1987).
Assim, cada comunidade de culto é livre para experimentar inovações ou retornar a
formas anteriores, incorporando práticas que para outros da mesma religião podem não fazer o
menor sentido. Cada terreiro exerce o direito de copiar e incorporar novidades, mas costuma
dotá-las de outros significados. Pode mudar, afirmando que se mantém na rígida tradição.
Terreiros nascem uns dos outros, mas não há dois iguais, mesmo quando se observam os
terreiros mais antigos, surgidos da mesma matriz fundante.
A pluralidade dos rituais abordados pelo pai de santo o Senhor Tadeu é significativa na
memória coletiva da população de Ouro Branco, tendo em vista que os rituais atraía a atenção
e a frequência de adultos e jovens da comunidade. São rituais envolvendo músicas, toques, e
momentos de adivinhações que despertam a curiosidade das pessoas, principalmente dos mais
jovens.
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A partir do que foi exposto, passamos a querer analisar, mais de perto as interações entre
o pai de santo e os fiéis/clientes que o procuravam para solucionar vários problemas, quer sejam
de ordem amorosa, espiritual ou financeira. Observamos que muitos não se importavam com
os olhares curiosos que os rodeavam quando iam em busca de ajuda, dispensando maiores
conversas.
É o caso do Entrevistado 02, que nos concedeu entrevista onde discorreu sobre o
seguinte:
Muitas pessoas procuram sim o terreiro, a maioria delas procuram melhoras
para sua vida em várias situações como problemas enfrentados no amor,
trabalho, família, etc. (MARIVALDO, 2016).

Pode-se perceber na fala do entrevistado que esta é uma prática comum, uma busca
constante pela resolução de problemas em todos os aspectos. No caso do pai de santo Tadeu, o
mesmo relata um pouco da sua trajetória na religião Umbanda.

Faço parte da religião umbanda e tenho o meu rito como jurema, sou
“juremeiro”. Minha religião foi denominada desde os meus 9 anos, quando
tive uma dengue hemorrágica muito forte e por intermediação dos “guias” da
minha tia Maria de Lourdes, mais conhecida como Maria de Gerinha, mora
em Ouro Branco também. Eu fui curado e eles falaram que eu tenho uma
grande missão. Então eu iniciei os trabalhos aos 10 anos de idade. Já faz 15
anos que eu trabalho. Tenho minha casa aberta, meu terreiro, faz 15 anos. Aqui
mesmo em Ouro Branco. (PAI TADEU, 2016)

Estamos falando sobre mais um capítulo da escrita dessa história dos ourobranquenses
habitantes de Ouro Branco que precisa ser reconstruída, pois, em pouca medida, aparece nos
livros de história local, onde o protagonismo católico é colocado como uma marca importante
do passado, apresentando os traços da cultura e religiosidade africana presentes na memória e
pratica do povo.
O nome do terreiro do senhor Tadeu é Tenda Umbandista Preto Velho, foi batizado com
este nome pelo Velho pai Câmbinda de Angola. Em entrevista pai Tadeu explica: “(...) Quem
denominou o nome tenda de umbanda preto Velho, foi o preto Velho da casa, ou seja, o meu
preto velho Pai Câmbida de Angola.” Pode-se perceber a interação das famílias de santo e das
entidades festejadas e incorporadas pelo pai de santo, passando ensinamentos de “Pai para

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filho”. Assim, cita em entrevista: “(...) Ser Pai de santo, ou mãe de santo, é ser uma pessoa que
seja um professor pra quem for desenvolver suas correntes, ou seja, ajuda no desenvolvimento
das atividades espiritual do filho”.
Essa instituição (terreiro) é reconhecida na cidade e possui uma licença do estado do
Rio Grande do Norte, onde nela está escrito o que se pode ou não fazer no terreiro. Com seu
registro, a Tenda Umbandista Preto Velho desempenha sua função religiosa na cidade há quase
uma década. Conforme palavras do Pai Tadeu:

“(...) Eu sou da Umbanda desde que nasci, mas só comecei a trabalhar no dia
27 de setembro de 2008, quando fui tomar banho que acordei estava na casa
de maria de Gerim, aí ela fez um trabalho e falou que eu tinha que trabalhar
também”. (PAI TADEU,2016)

Os que ali chegam são recebidos e acolhidos pelo senhor Tadeu, que na figura abaixo
está caracterizado para uma procissão de São Jorge, onde os umbandistas saíram do terreiro ,
passaram por algumas ruas da cidade e foram até a sede do bando, aonde o mesmo fez uma
Gira aberta, no dia 23 de abril de 2012 (ver Figura 4).

Figura 4 – Procissão de São Jorge – Pai de santo (Sr. Tadeu)

Fonte: acervo do autor.

Pai Tadeu possui uma aparência jovem, com 25 anos, assim como a própria idade lhe
confere e é possível observar na Figura 4. Há 8 anos coordenando o Terreiro de Umbanda, Pai
Tadeu recebe a todos com gratidão e cordialidade. Ao ser indagado sobre o preconceito sobre
a religião e sua idade como fator preponderante, o mesmo informou que:

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“(...) Falando sobre o preconceito, no início eu fui vítima de preconceito por
parte de pessoas de outras religiões, fui muito perseguido. Não só eu, mas os
meus discípulos também. Outras pessoas também nos perseguiam, aqueles
que não tinham religião. Hoje, graças a Deus isso mudou”. (PAI TADEU,
2016)

Os outros dois entrevistados também falam um pouco do preconceito com relação a sua
religião:
“(...) Pura Ignorância. As pessoas que muitas vezes não tem sequer uma
religião definida julgam as pessoas sem o conhecimento de que ela precisa de
ajuda espiritual. O maior percalço foi na minha família predominantemente
católica que não gostava muito que eu frequentasse a umbanda.”
(MARIVALDO,2016)

Assim as análises e escrita da história dos fiéis do Terreiro de Pai Tadeu, como é
chamado, foi possível, a partir do momento em que os adeptos da religião falaram sobre sua
crença sem o medo do preconceito vigente na sociedade.

“(...) No meu caso sofri preconceito na religião católica, quando fui batizar a
minha filha e o padre não fez o batizado porque frequentávamos outra religião.
Achei essa atitude preconceituosa. Mas consegui batizar minha filha na cidade
vizinha”. (FLORA, 2016)

A frequência destes relatos e desta mistura de religiões é bem presente entre os


entrevistados que frequentam a umbanda, pois em sua maioria, devido a predominância de fé
católica no Município e Seridó, os mesmos são “católicos” que foram batizados, receberam
outros sacramentos e frequentam também os rituais da umbanda. É um pluralismo de religiões,
segundo eles, buscando o que é melhor para cada um.
Com isso, percebe-se que o terreiro Tenda Umbandista Preto Velho é frequentado pela
sociedade ourobranquense de todas as religiões. Não tem uma linha que estabeleça limite para
aqueles que chegam. Se a necessidade existe, as pessoas buscam ajuda. O preconceito é
conhecido por aqueles que frequentam o terreiro, mas não é fator bloqueador para que os
adeptos deixem de ir até o Pai Tadeu.

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Quando as festas do terreiro do senhor Tadeu iniciam, os festejos aos caboclos, pretos
velhos, Pombagiras e Exús são marcados por mesas fartas, com uma variedade de frutas,
cuscuz, café mungunzá, filhós, feijão preto, rapadura, entre outros. Em conversa com nossa
pesquisa, o pai de Santo, o senhor Tadeu apresenta um calendário das festividades realizadas
durante o ano.
As principais festas são: no mês de janeiro tocamos pra caboclos que é o mês
de São Sebastião, o rei dos caboclos – Oxossi. Fevereiro tocamos pra
Marinheiro. Março tocamos pra oxum que foi sincretizada a Nossa Senhora
da Conceição. Abril tocamos pra Ogum, que é São Jorge. Maio tocamos pra
nossos amados Pretos Velhos. Junho tocamos pra Xango que é sincretizada
São João Batista. Junho tocamos pra Umulu ou abalaue que é sincretizada em
São Roque. No mês de Agosto é o mês de Exu e as lebaras. Setembro é o mês
de Cosme e Damião, os nossos eres. Outubro festejamos Iansâ, que é
sincronizada por Santa Bárbara. Novembro é o mês de festejarmos Zé Pilintra.
Dezembro os festejos vão pra Iemanjá e Oxalá. (PAI TADEU, 2016)

A partir destas festividades, pode-se observar a ligação com os Santos Católicos como
apresentamos no quadro 1, citado no início deste trabalho. Esta era uma forma de “fuga” ou
“camuflagem” por parte dos escravos negros para poderem cultuar suas entidades, manterem
seus costumes e vivenciarem a sua fé em tempos da grande predominância da fé católica
imposta pelos “brancos”. Costume este que perdura até hoje na umbanda, quando as entidades
da umbanda são festejados como santos católicos.
Na figura 5, o ritual de festejo aos Pretos velhos na Tenda Umbandista Preto Velho.

Figura 5: Festa do Preto Velho

Fonte: acervo do autor

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As festividades pra os Pretos Velhos acontecem no maio e o pai Tadeu explicou um
pouco das oferendas no ritual:“(...) No trabalho dos Pretos Velhos são ofertados todo tipo de
comidas deles como: café, mugunzá, feijão preto, pé de muleque, filhós, rapadura, cuscuz
com coco...”

O terreiro de Pai Tadeu é procurado por pessoas da comunidade, como também por
indivíduos de cidades vizinhas. Uma das entrevistadas deu o seguinte depoimento:

“(...) Sempre que estou preocupada com alguma coisa, procuro o terreiro pra
amenizar meu sofrimento, se estou doente, ou com problemas amorosos, ou
financeiros, procuro conselhos e soluções pra minha vida” (FLORA, 2016).

Devido a demanda de procuras pra consultas e trabalhos, as rezas e curas, questionamos


ao pai de santo se os “trabalhos” realizados eram feitos gratuitamente, ou se cobrava algo pelo
“serviço”. “(...) Olha, se for trabalho de caridade eu não cobro, ou seja, caso de doença, se
precisar de uma cura eu faço, mais dependendo pra outros tipos de trabalho eu cobro sim!”.
Pode-se perceber que o terreiro é tido como um ambiente de trabalho, de prestação de serviços,
aonde o pai de santo também ganha subsídios pra sua sobrevivência.

A satisfação de fazer parte do Terreiro fica explícita nas palavras do pai de santo
afirmando ser ali “o seu tudo”:

“(...) O terreiro pra mim é minha casa de axé, a minha família espiritual, é meu
refúgio, meu descansar desse mundo, ali é meu pai, mãe, amigo e quiser filhos
também, ali estou seguro, sinto abraçado por todos que moram lá dentro, ali é
meu cantinho, é meu tudo!” (PAI TADEU, 2016).

Portanto, observa-se o apego e envolvimento com a cultura e as religiões afro-brasileiras


fazendo parte da construção das vivências e costumes numa sociedade inter-cultural onde a
identidade é questão de livre escolha. A identificação com a religião afro-brasileira agora parece
englobar desde a busca de primitivismo de brasileiros brancos até as raízes culturais e as
exigências de consciência racial de brasileiros negros.

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Conclusão

As manifestações culturais envolvendo a religião umbanda no município de Ouro


Branco-RN estão crescendo, porém ainda são práticas sutis e “secretas”, pois os membros ainda
enfrentam preconceito e as religiões cristãs são predominantes na comunidade. Porém isso não
faz com que a procura pelos centros de umbanda cresça, o que ocasiona uma maior difusão da
religião na unidade territorial em questão. O contato cordial com a população ourobranquense
auxiliou ao pai Tadeu no que se refere a angariar novos membros para a Tenda do Preto Velho.
Como outras religiões, a Umbanda não se furta ao preconceito. “Ser umbandista é
enfrentar o preconceito e viver a crença na Umbanda de forma plena, eu amo minha religião”;
essas são as palavras do senhor Tadeu (2016) quando falamos sobre a Umbanda.
Portanto, faz-se necessário, ainda, levar em consideração que o conteúdo cultural exerce
influência manifesta sobre as formas de organização social, por exemplo, o conteúdo da fé,
protestante ou católica, que influi na organização adotada pelas igrejas.
No entanto, não se pode deduzir que do conteúdo ou dos valores religiosos surgem as
relações reais dos homens em sociedade. Sociologicamente, as religiões são da ordem da
cultura, portanto conhecimento adquirido, aprendido, transmitido e, assim, são condicionadas
pelas relações existentes entre os homens em seus grupos sociais, de acordo com interesses
dominantes, políticos, econômicos e biológicos.

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FONTES
01 - Tadeu Lucena da Silva, 25 anos, Pai de santo, Avenida José da Penha, s/n - Ouro Branco-
RN. (Entrevista realizada em Maio de 2016).
02 - Marivaldo da Costa Guimarães, 40 anos, Guarda Municipal, Avenida José da Penha S/N,
Ouro Branco-RN. (Entrevista realizada em Maio de 2016).
03 - Flora Matinal da Silva, 25 anos, do lar, Rua Senhor Cirilo S/N, Ouro Branco-RN.
(Entrevista realizada em Maio de 2016).

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REFERÊNCIAS

AUGRAS, Monique. "Quizilas e preceitos: transgressão, reparação e organização


dinâmica do mundo". Em MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de (org.). Candomblé
desvendando identidades. São Paulo, EMW, 1987.
AZEVEDO, Lenilson Silva. A (Re) Invenção da Festa da Colheita em Ouro Branco-RN.
Monografia apresentada no Curso de História, SEDIS, UFRN. Caicó, 2005.
BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. São Paulo, Pioneira, 1989.
BRAGA, Júlio. Fuxico de candomblé: estudos afro-brasileiros. Feira de Santana,
Universidade Estadual de Feira de Santana, 1998.
DE LUCENA, José Fabrício. Ouro Branco: de 1722 a 1954. Editora Gráfica IDEAL LTDA.
Patos-PB, 2015.
NASCIMENTO, Taiane Flores do; SACCOL, Paloma Tavares; BEZZI, Meri Lourdes. AS
MANIFESTAÇÕES CULTURAIS DA UMBANDA NO MUNICÍPIO DE SANTA
MARIA – RS¹ 2012.
ROSENDAHL, Zeny. Espaço e religião: uma abordagem geográfica. Rio de janeiro:
EdUERJ /NEPEC, 1996.
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content/uploads/2010/11/A-Religi%C3%A3o-e-as-religi%C3%B5es-africanas-no-Brasil1.pdf.
Acesso em 11 de junho de 2016 as 20h30.
http://www.caboclopenaverde.com.br/index.php/tema-da-semana/348-o-significado-de-uma-
mae-e-pai-de-santo-para-a-espiritualidade-e-para-a-umbanda-e-o-que-deve-significar-para-
seus-filhos-de-santo-e-seguidores. Acesso em 11 de junho de 2016 as 18h34.
http://www.palmares.gov.br/wp-content/uploads/2010/11/A-Religi%C3%A3o-e-as-
religi%C3%B5es-africanas-no-Brasil1.pdf. Acesso em 11 de junho de 2016 as 20h30

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