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Ibirama, SC
2021
Ministério da Educação
Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Catarinense - Campus Ibirama
Ibirama, SC
2021
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Resumo
1 Introdução
Moda e design, muito embora tenham sido distanciadas no século XX, compartilham o
mesmo instante, no qual as fronteiras são diluídas e, cada vez mais, as áreas do conhecimento
relacionam-se através da interdisciplinaridade, compartilhando conhecimentos. Devido à
complexidade, mutação e difícil decodificação do cenário contemporâneo. De acordo com
Moraes (2008), áreas como o design surgem como alternativa para compreender os códigos
sociais, fazendo com o que esse se relacione mais com áreas do conhecimento que constituem
a esfera do comportamento humano, dos aspectos estésicos e psicológicos, de modo
transversal, atribuindo princípios humanitários, não valorizados até então na formação de
produtos industriais. Dessa forma, como versa o autor, a partir da segunda modernidade, o
design passou a se relacionar com áreas tais como a moda e a arte (MORAES, 2008). E em
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finais do século XIX e início do século XXI, percebe-se um estreitamento entre o design e o
artesanato, a partir do interesse de estudiosos como Adélia Borges (1951.-). Sendo o
artesanato também relacionado ao âmbito humano, porque considera valores culturais, no qual
é um fenômeno que se relaciona às demais áreas e que faz-se necessário conhecer e
compreender.
Nesse contexto, considerando que vivemos em uma sociedade, em que se predomina o
consumismo em virtude do capitalismo, pôde-se perceber que o homem foi percorrendo
longos caminhos em busca de desenvolvimento dentro do meio que habita. Porém,
esqueceu-se de preocupar com os rastros que deixava nessa estrada sedenta por ambições.
Isso gerou marcas registradas ao longo da história, como guerras, consumo exacerbado em
busca de disputas entre sociedades e nações, e destruição de grandes belezas naturais
importantíssimas para a nossa sobrevivência futura. Em troca, atualmente, se tem grandes
facilidades e um enorme avanço técnico-científico possibilitando o conhecimento e
inter-relações entre países. No entanto, percebe-se que muitos vêm-se questionando em
relação a essa busca sem precedentes que concebeu uma civilização altamente tecnicizada,
mas desigual. A qual tem demonstrado suas consequências, pois nos dias de hoje
pesquisadores têm se voltado para o desenvolvimento de métodos e recursos mais
socioambientais em prol da saúde do mundo, além de buscarem conscientizar a sociedade de
suas práticas relacionadas ao seu estilo de vida capitalista e ao seu consumo irremediável, e
atitudes irrefletidas entorno do lucro a qualquer custo. Isso é revelado pelo pensamento
recente disseminado pela renomada antropóloga Lilia Schwarcz (2020): "já havia muitos
sinais do desgaste da utopia tecnológica do século que agora termina. É mais do que óbvio o
quanto estávamos e ainda estamos abusando da natureza, e os desastres climáticos e
ambientais de proporções inéditas são prova disso” (SCHWARCZ, 2020, p.23). A referida
autora reforça ainda, que cientistas, ambientalistas e ativistas alertavam sobre as
consequências disso há bastante tempo.
Nesse sentido, Lipovetsky (2009) foi assertivo ao realizar um estudo contundente
acerca de nossa sociedade contemporânea, ao identificar sua ordem regida pela efemeridade e
sedução, característicos do sistema da moda. Afinal, rapidamente o “novo” é lançado e
dispersado pelas grandes mídias, com o intuito de seduzir o consumidor a adquirir essa ordem
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para ser parte do todo e aderir certo “prestígio e destaque”. Com isso, se estabelece o
consumo demasiado, porque absorve-se essa lógica de uma constante busca pelo que há de
vir. Conforme explicitou Svendsen (2010), a respeito do consumo, que possivelmente
consumimos para estabelecer uma identidade e não por necessidades somente. Tendo isso
posto, grandes marcas utilizam-se de artifícios de sedução e prestígio, entretanto, não se
valem de práticas éticas e responsáveis em relação à sociedade e ao meio ambiente, e
determinam o posicionamento das marcas menores que seguem seu percurso.
Ocorre que uma parcela da sociedade, movida por pensamentos críticos como os
expostos acima, tem reivindicado novas maneiras de consumo, um desses sendo profissionais
do design e de criação de produtos. Desse modo, o design atua juntamente com a moda para o
incentivo de novas formas de consumo, enquanto um processo de resolução de problema
criativo, baseado em métodos de pesquisa para isso. Como bem esclareceu Calvera (2006), ao
pensar sobre o design enquanto desenvolvedor de pesquisas, centrado, especialmente, em
elaborar conhecimento de design, considerando os aspectos que dizem respeito à necessidade,
com o intuito de produzir resultados de pesquisas em design, não considerando apenas um
projeto específico. Adotando uma abordagem interdisciplinar, através da cooperação de outras
áreas de conhecimento, a fim de conceder forma a esse conhecimento de design (FACCA,
2008). Dessa maneira, o estudo objetivou relacionar as áreas do design, da moda, do
artesanato e da arte, a fim de possibilitar um diálogo abrangente e profícuo, uma vez que são
áreas passíveis de se conectar.
Assim sendo, considerando o momento que vivemos, em que novos hábitos em
virtude da preservação ambiental e do desenvolvimento social tem sido visibilizadas, levando
em conta a urgente necessidade de mudanças que impeçam o colapso futuro da sociedade e
pensando em uma moda que intencione ressignificar o modo de consumo através de novas
práticas e pensamentos críticos, considerou-se conceder uma nova roupagem à identificação
dos indivíduos através de práticas conscientes e mais valorativas. Uma vez que, a habilidade
de comunicação simbólica é encontrada de forma mais expressiva e potente no vestuário que
em outros produtos utilizados para a comunicação pessoal. Portanto, essa capacidade é um
veículo que transmite o visual da roupa em si e o seu significado, profundamente, relacionado
ao usuário, dirigida por ela e transmitida através da moda em toda extensão do cotidiano em
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A história da autora com o artesanato e a moda teve início desde a sua tenra infância, iniciando na costura
manual, visto que sua família tem ligação com a área de moda, principalmente o seu pai, na elaboração de
calçados com boa parte do processo de forma manual. Desfrutando também do universo artístico desde cedo, no
que diz respeito à dança, à música, ao desenho e, principalmente, à poesia que fecundou no seu íntimo.
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área científica através da reflexão, a partir dos estudos já realizados na área e identificação
dos benefícios que o artesanato pode proporcionar na sociedade. Estudos estes, que apesar de
serem vários, percebe-se que há três segmentos principais, sendo uns relacionados ao tema
geral do artesanato interligado ao território brasileiro, outros conectados ao design e outros
ligados a culturas específicas, com destaque para a região nordeste. Todavia, há outros temas
que são minoria, como o estudo do tema - artesanato, moda e design ou, ainda, associado à
arte. Além disso, observa-se que os estudos já realizados na área, quando abordam a relação
do artesanato com outras áreas, tal como o design ou a moda, é demonstrado uma ligação
apenas para retirar os conhecimentos convenientes, para melhorar o artesanato ou para
melhorar os produtos acrescentando diferenciação, com o objetivo de ampliar a produção
desses no mercado.
Nesse contexto, considera-se esse assunto pertinente aos dias atuais, a fim de
despertar novas formas de reflexão, com intuito de criar produtos que transcendam o simples
fazer mercadológico, tocando, sensibilizando e transvestindo-se com conceitos, promovendo
criticidade e autonomia dos pensamentos comuns em relação ao consumo, no momento que o
artesanato se liga as áreas do design, da moda e da arte para atingir esse objetivo de
reverberação de novos conhecimentos.
2 Metodologia
ao referencial teórico, integrando a busca de referências acerca da área para compreensão dos
estudos já realizados. Isso contribuiu para a sustentação dos conhecimentos abordados no
estudo, que correspondem aos aspectos relacionados ao artesanato e ao bordado, às
características culturais, e aos estudos do design, da moda e da arte contextualizados nesse
segmento.
Na segunda etapa, ocupou-se da observação e da reflexão acerca do tema, com o
intuito relacionar e sistematizar os conteúdos, concedendo coesão à síntese. Assim, a etapa
diz respeito ao estudo do artesanato e à relação entre as áreas de moda, do design e da arte.
A terceira etapa foi destinada ao estudo da criatividade, seus aspectos e processos
criativos, considerando-o nas áreas citadas acima, e também referiu-se ao estudo da
metodologia de projeto. Visando compreender como ocorre esse processo criativo e
metodológico para desenvolver e aperfeiçoar a criação no projeto.
Já na quarta etapa, referiu-se a aplicação de um questionário parcialmente online, no
qual 14 entrevistados responderam virtualmente e 4 responderam no modo impresso, junto
aos artesãos associados da Economia Solidária de Itajaí. Sendo separado em dois momentos,
o primeiro referente à coleta de dados no mês de agosto de 2021 e o segundo momento
destinado à sua análise no mês de setembro de 2021, o qual obteve uma média de 18
participantes. Os dados obtidos foram considerados no momento de composição do processo
criativo e da geração de alternativas, juntamente com a descrição das técnicas utilizadas no
projeto.
E a quinta etapa, foi destinada ao desenvolvimento dos resultados, em que foi possível
visualizar a resolução atingida, permitindo traçar um panorama geral acerca do estudo,
estabelecendo e descrevendo as possíveis concretizações, e executando os ajustes finais.
Sendo assim, a seguir estão as cinco etapas citadas acima, organizadas em seções,
sendo elas: O artesanato e o bordado na cultura catarinense; Design, Moda e Arte: Relações e
possíveis contribuições para o artesanato; Os processos criativos do Artesanato, da Moda, do
Design e da Arte, com suas conexões; Coleta e Análise de Dados; Desenvolvimento da
Coleção.
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3 Fundamentação Teórica
3.1 O artesanato e o bordado na Cultura Catarinense
A cultura é uma área estudada pela antropologia, sendo um fator relevante na vida
social. Acredita-se que é a interação de indivíduos em uma determinada sociedade ou
localidade, através de crenças, hábitos, tradições, técnicas e saberes, permitindo que o
indivíduo se perceba enquanto um ser social, parte de um todo - o coletivo. Gerando, então, o
sentimento de pertencimento, de enraizamento, com os quais pode reconhecer sua identidade,
com isso, refere-se a caracterização de povos de uma região. Nesse sentido, o autor Laraia
(2008), expõe que Edward Tylor (1832-1917) sintetizou o termo inglês Culture no extenso
sentido etnográfico, como sendo todo complexo que abarca conhecimentos, crenças, arte,
moral, leis, costumes ou qualquer outra aptidão ou hábitos aprendidos pelo homem como
participante de uma sociedade.
Logo, compreende-se que a cultura é a maneira pela qual os indivíduos se reconhecem
enquanto seres pertencentes a um determinado local, visto que se permitem enquanto seres
gregários comunicar-se através de símbolos criados, com os quais conseguem perceber-se
como sujeitos participantes de um território, preservando-se os saberes ou os conhecimentos
ao transmiti-los no decorrer do tempo. Segundo a observação do autor Laraia (2008), no
pensamento de Turgot (1727-1781), o homem é detentor de uma riqueza de signos que tem a
capacidade de aumentar constantemente, tendo a habilidade de confirmar suas ideias,
comunicando-as para os seus descendentes como uma herança progressiva. Afirmando ainda
que, as civilizações se dispersaram e permaneceram apenas pela utilização dos símbolos, que
é a prática da competência de simbolização que origina a cultura, e se o homem não tivesse
essa faculdade seria apenas um animal e não um ser humano, pois seu comportamento é
simbólico (LARAIA, 2008).
Nesse contexto, o artesanato é considerado uma prática cultural, em que os
conhecimentos foram transmitidos através da tradição, promovendo identidade social e
partilhando saberes, e modos de um determinado fazer artesanal, sendo papel do Estado
preservar esse bem. Conforme as definições do Programa do Artesanato Brasileiro (PAB,
2012), o artesanato é toda produção derivada da transformação de matérias-primas por meio
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proporcionado pela interação. Além disso, para a autora, o conhecimento não significa
informação, porque possui intenção, propósito e uma utilidade.
Nesse sentido, compreende-se que, “design é toda atividade projetual efetiva de
criação e produção de objetos, sistema de objetos e ambientes organizados, realizada por
meio de processos racionalizados, com o objetivo de contribuir para melhorar a qualidade de
vida humana” (HSUAN-AN, 2016, p. 45). Sendo assim, pode-se dizer que, o design é uma
prática que se baseia em métodos atrelados à pesquisa, a fim de proporcionar conhecimentos
e sanar uma necessidade, por intermédio de um projeto que se concretiza em forma de
produto criativo, melhorando a vida em sociedade. Portanto, fazer objetos comuns para a vida
cotidiana de forma responsável, utilizando meios e ferramentas, está relacionado ao design
(CALVERA, 2006).
Moda e design são áreas complementares, estão inter-relacionadas e partilham o
mesmo instante da sociedade que estão inseridas, utilizando componentes culturais para
produzir saber, e não só elementos concretos, como áreas úteis ao capitalismo, necessários
para a compreensão e reflexão do momento que se inserem. Conforme descrito por Moura
(2008), “na contemporaneidade, passam a compor campos de conhecimento, ao lidar com
uma série infindável de informações e transformá-las não apenas em produtos, mas em
reflexos do cotidiano e portanto, da cultura” (MOURA, 2012, p. 01). Destarte, moda e design
articulam-se em sintonia atualmente, projetando a cultura e não apenas produtos.
Porquanto, a moda é um sistema complexo, que além de utilizar o vestuário como um
veículo de transmissão de seus conceitos, relaciona-se a várias áreas, como a psicologia, a
sociologia, a antropologia, a linguagem, a filosofia, dentre outras, adotando uma perspectiva
relacionada à essas áreas. Sendo mais aceitável pensar na moda como um mecanismo ou uma
ideologia, referente à maioria das áreas desenvolvidas no mundo moderno, desde o final da
Idade Média (SVENDSEN, 2010). Desse modo, é possível compreender a moda em um
sentido amplo, não só a partir do vestuário no momento que considera as roupas como um
organismo composto por significados culturais, que sustenta a parte material da moda
(BARTHES, 1983 apud SVENDSEN, 2010), mas também sob várias perspectivas que se
relacionam a moda e a ela conferem diversos significados, contribuindo para a sua formação
enquanto um fenômeno social que abarca vários conhecimentos.
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possui a função de instigar percepções e afetar, movendo-se por escritos sensíveis, que vão
além da comunicação e transmissão de conteúdos (SOARES; NEITZEL; CARVALHO,
2016). Porque a literatura reverbera, ultrapassando as fronteiras utilitárias, afetando e
transformando aquele que se permite partilhar o jogo proposto pelo autor, antes lê por puro
prazer, a fim de contemplar e ser.
Haja vista que, a literatura se manifesta por meio de variados gêneros e tipos textuais,
um deles é a poesia que, como definiu Moisés (1987), corresponde a um processo de
harmonia entre as palavras por meio de uma linguagem conotativa, que se manifesta através
do “eu” de quem expressa a mensagem, intimamente ligada ao seu ritmo. Portanto, uma
linguagem figurativa associada à utopia, ocupando-se do território das sensações mediante a
transmissão de expressões ou manifestações que revelam as profundezas da alma, do ser, com
uma beleza, por vezes, incompreensível, atreladas à sonoridade das palavras organizadas.
Nesse sentido, o poeta ao articulá-las na transmissão de uma composição ritmada, utiliza-se
de recursos linguísticos, a fim de provocar certo sentido, explorando sua realidade,
pretendendo adquirir efeitos especiais por meio dos sons e dos fonemas, e práticas de
metrificação que contribuem na constituição de uma porção de ritmos (CÂNDIDO, 1996).
Como descrito por Moisés (1987), os sons da linguagem também são da natureza particular
da palavra poética, que se origina o ritmo, elemento básico que constitui o fenômeno poético.
O qual é compreendido como uma exteriorização da movimentação circular constante do
universo interno/particular do poeta, como uma sucessão de sons, sentidos e sentimentos,
uma sucessão musical, semântica e emotiva, simultaneamente, e não uma necessidade de
recorrência de movimentos ou duração (MOISÉS, 1987). “Em resumo, todos os sons da
linguagem, vogais ou consoantes, podem assumir valores preciosos quando isto é
possibilitado pelo sentido da palavra em que ocorrem; se o sentido não for suscetível de os
realçar, permanecem inexpressivos” (CÂNDIDO, 1996, p. 32).
Desse modo, a poesia permite o conhecimento acerca de nós mesmos e dos outros,
nos sensibilizando, no momento em que nos permite ser outros, como expressado por Manoel
de Barros (1998) - “[...] Perdoai. Mas eu preciso ser Outros. Eu penso renovar o homem
usando borboletas”; ou como incitou Leminski (2013) - “Isso de querer ser exatamente aquilo
que a gente é ainda vai nos levar além”. Assim, ela reorganiza o nosso modo de ver e pensar o
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mundo, podendo nos reumanizar por meio da transferência de um novo olhar. Como afirmado
por Moisés (2019), “A poesia nos ensina a ver como se víssemos pela primeira vez.” p. 16).
Atrelada ao que se considera desnecessário e inutilizável em nossa sociedade moderna, a
poesia relaciona-se ao simples, e permite o acesso a grandiosidades carregadas de
significados, que chegam até nós por meio da linguagem artística, reverberante e
transformativa. Dessa maneira, a poesia como descrita por Tezza (2003), ao citar Eliot:
meio dela, acredita-se que conseguimos sentir de uma maneira distinta e singular, já que ela
nos permite adentrar territórios antes desconhecidos através do conhecimento e aceitação do
nosso corpo, promovendo autoconhecimento acerca de nós mesmos e do mundo. Assim, “a
dança pode trazer questionamentos sobre o meio ambiente ou sobre a urbanidade, fantasias,
tecnologias e muito mais.” (RENGEL; SCHAFFNER; OLIVEIRA, 2016, p. 09). Essa arte,
bem como as demais, divide-se em vários tipos, como dança clássica - ballet e a dança
contemporânea - que funde conhecimentos de outras áreas como a música, o teatro ou a
performance. Dessa forma, a dança sensibiliza e incita as faculdades mentais da criatividade,
para características estéticas e éticas, essenciais no desenvolvimento humano, fazendo refletir
acerca das diversidades, em oposição a uma competição devido a insegurança e ganância de
uma individualidade demasiada. Logo, a dança abrange o movimento, o espaço, o som e o
corpo (RENGEL; SCHAFFNER; OLIVEIRA, 2016).
Segundo Proença (2003), o homem cria para expressar seus sentimentos diante da
vida, externalizando principalmente seu ponto de vista acerca do momento que vive, e não
somente para suprimir uma necessidade cotidiana. Com isso, a pintura é uma arte que articula
e organiza as cores, com a finalidade de provocar os sentidos e questionar, suscitando
determinadas emoções, ou mesmo, despertar, superando o óbvio. Nesse sentido, “a arte
revitaliza a sensibilidade humana e contribui para a formação do homem, sendo um meio de
(re)humanizar o ser humano e projetar sua emancipação” (KUPIEC; NEITZEL;
CARVALHO, 2016, p. 29). A pintura, a mais reconhecida no campo enquanto arte, possui
uma variedade de estilos e movimentos registrados ao longo do tempo, desenvolvendo
conhecimentos acerca da perspectiva, proporção, e efeitos de profundidade e de impressão,
além de desenvolver técnicas com tintas, para resultar em uma determinada forma
organizada, a fim de despertar os sentidos e, consequentemente, a reflexão.
Desse modo, a arte adentra as sinuosidades humanas, transcende o real e ultrapassa o
senso comum, provoca mudança e estimula o pensamento crítico, tocando, sensibilizando e,
por vezes, move os sujeitos que dela anseiam, porque ela pode ser também combustível,
alívio e afeição.
Assim sendo, bem como a arte, o artesanato também pode nos tornar sujeitos
sensíveis, uma vez que projeta uma história, pode nos sensibilizar e nos tocar através da sua
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afetividade e composição para atingir um estado estético, mas ele também possui uma forma
criada a partir de uma técnica transmitida para a sociedade. Visto que “a identidade no
artesanato, ou seja, as características próprias e exclusivas inerentes ao produto artesanal, é
formada pelos seus aspectos formais e funcionais, pela sua técnica produtiva, e por valores e
fundamentos provenientes do histórico das comunidades produtoras” (FREITAS, 2017, p.
119-120), se relacionando desse jeito com o design. Além disso, é inevitável não compartilhar
o tempo imposto pela moda, aquela que impera na sociedade moderna definindo a ordem dos
produtos, conforme afirmou Lipovetsky (2009).
Nesse contexto, é possível o artesanato se conectar a arte para se transformar ao
mesmo tempo em uma prática subjetiva e reflexiva com o intuito de potencializar o encontro
no território das sensações, possibilitando a afetividade, que o artesanato atrelado ao bordado
estabelece, pois reverbera no sujeito que cria, quando este concede permissão para ser tocado,
e assim poder contagiar, revela os traços e as suas características, através das linhas
manuseadas para formar o traço da ideia que se pretende passar. Além do mais, o bordado
pode contar uma história por meio daquilo que se quer tratar, naqueles que se deixam
sensibilizar. Sendo possível também, relacionar a moda, uma área humana que abarca
distintos conhecimentos e com o design, enquanto uma área de projeto, pautada na pesquisa e
organização em métodos, objetivando alcançar bons resultados, obtendo artefatos criativos a
partir da junção e interdisciplinaridade dessas áreas citadas - arte, artesanato, moda e design.
Ademais, o que ambas as áreas mencionadas acima possuem em comum, é o fato de
possuírem uma linguagem que se comunica mediante signos linguísticos. Compostos,
basicamente, por significante (parte concreta - objeto) e significado (parte abstrata - ideia), no
qual transmitem conceitos e ideias por meio dos objetos construídos por essas áreas, que
possuem uma forma material, disseminando o seu significado na sociedade. Contudo, o que
as diferenciam é o tipo de linguagem e o tipo de recursos empregados para comunicar a
intenção que se projeta, podendo ser verbal no caso da literatura ou visual no caso da pintura,
com a utilização de recursos linguísticos organizados conforme a pretensão daquele que
deseja comunicar. Destarte, compreende-se que a linguagem, no sentido amplo do termo,
corresponde “a todo e qualquer sistema de comunicação, seja verbal (comunicação que se dá
através da palavra, oral ou escrita), seja a palavra, por exemplo, linguagem dos surdos,
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linguagem corporal, mímica, pintura, dança, gestos, código, morse, etc.)” (NEPOMUCENO;
BARBOSA, 2013 p. 11).
Nesse segmento, a linguagem insere-se em um meio social, é parte da cultura,
conforme afirma Laraia (2008), a linguagem humana é objeto da cultura, porém essa não
existiria se não houvesse a capacidade de desenvolver um sistema organizado de
comunicação oral. Assim, a cultura depende da linguagem para se manifestar, ao passo que, a
linguagem não pode existir fora de um meio social, já que essa permite a comunicação
através da interação entre os indivíduos. Porque “tudo o que se produz como linguagem
ocorre em sociedade, para ser comunicada, e, como tal, constitui uma realidade material que
se relaciona com o que é exterior, com o que existe independente da linguagem" (FIORIN,
2010, p. 11).
De acordo com Laraia (2008), o ser humano se constitui em âmbito cultural, no qual
foi socializado, sendo aquele que absorve e beneficia-se com os conhecimentos desenvolvidos
por várias gerações anteriores, e caso ocorra uma manipulação apropriada e criativa desse
patrimônio cultural, torna-se possível conceber inovações e invenções. Dessa maneira, o
design, a moda, a arte e o artesanato, enquanto geradores de conhecimentos culturais, podem
gerar humanização, caso ocorra uma mediação adequada desses conhecimentos para, então,
ampliar o crescimento do indivíduo em sua autonomia e em seu pensamento reflexivo, ao
dialogar com os diversos conhecimentos constituídos em uma cultura. Sendo assim, as quatro
áreas citadas fazem parte da cultura e contribuem para sua formação, cada qual com suas
diferenças, como exposto anteriormente, além de serem relacionadas à criatividade humana.
Seguindo o contexto acima, a seção subsequente apresentará de que forma a
criatividade está inserida nessas áreas - moda, design, arte e artesanato, e como elas se
relacionam no processo criativo.
atividades rotineiras, nas ciências, na arquitetura, entre outras. Logo, "criar é, basicamente,
formar. É poder dar uma forma a algo novo" (OSTROWER, 1977, p. 09).
Dessa forma, uma atitude criadora envolve a competência de entender, elencar,
organizar, formar e dar sentido ao que se compreendeu, contribuindo através dela não só para
o desenvolvimento do mundo, como também para desenvolvimento pessoal, alargando os
sentidos imaginativos, sensitivos e transformativos da vida humana.
Segundo Osborn (1996), a criatividade é manifestada na medida que se obtém um
esforço, uma vez que observa por meio de experiências ocorridas, que tanto o brilhantismo e
destaque de um sujeito no desenvolvimento de projetos se dá mais pelo esforço, do que um
talento inato. Desse modo, percebe-se que no momento em que o ser humano experiencia o
mundo e as possibilidades oferecidas, esse pode crescer enquanto ser pensante e criativo,
relacionando os seus conhecimentos, com o objetivo de ampliar os espaços e beneficiá-los,
permitindo a interação entre os sujeitos por intermédio da partilha de conhecimentos por ele
criados.
Sendo assim, o design, a moda, a arte e o artesanato são áreas de criação e que
possuem o propósito de exercer as capacidades inventivas. No entanto, diferem-se na forma
que criam. Na arte encontra-se o exemplo clássico de Leonardo da Vinci (1452-1519) para
criar, o qual é reconhecido como um distinto inventor, pois foi um profissional múltiplo, da
arte e das ciências, destacando suas características em suas obras, indissociáveis de sua
pessoa, como aspectos de perspectiva, proporção e forma do corpo humano. entre outros, com
isso, pôde se destacar enquanto um ser criador (PROENÇA, 2003). Encontra-se também,
Salvador Dalí (1904-1989), que em suas obras surrealistas, uniu conhecimentos psicanalíticos
e científicos na arte, tornando-as originais, consagrando-se na arte por meio do modo que seus
questionamentos eram retratados em suas obras (FARTHING, 2011). Nesse sentido,
percebe-se que a arte também agrega diversos conhecimentos, e baseia-se na natureza ou no
mundo, considerando o momento atual que o artista se insere para criar. Ademais,
relaciona-se à sua internalidade humana como faz a literatura com primazia, e sua palavra
poética como a poesia, com sua linguagem conotativa ou metafórica, principalmente, como
explicitado pelo autor Moisés (1987):
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[...]significa que a palavra poética pode reduzir-se a seus componentes primários (os
sons), a suas relações sinestésicas (a cor, o perfume, a musicalidade, a (forma), ou a
significações irracionais, mágicas, oníricas, delirantes, extravagantes, etc., ou pode,
concomitantemente ou não com essas reduções, ganhar “precisão” próxima da
linguagem filosófica. (MOISÉS, 1987, p. 87).
Dessa forma, a poesia nos move, nos provoca, nos convida a reflexão, nos instiga e
aproxima, nos relativiza através da concessão de novas perspectivas, permitindo que ela
adentre nas profundezas do ser. Com isso, a poesia revela nossas ignorâncias, toca-nos e
permite-nos perceber o mundo com um novo olhar, ressignificado, curioso, reflexivo e
despretensioso, alheio à preconceitos. Um exemplo de criações alinhadas a isso, é a que
encontramos em Manoel de Barros (1916-2014), que contrariou a ordem da modernidade
capitalista, se inconformou, se diferenciou e se superou ao valorizar os elementos
“desimportantes”. Visto que sua escrita poética estimula-nos a enxergar, escutar, tocar, em
suma, perceber/experienciar com base nas palavras. Expondo-nos provocações estéticas,
escapa à lógica racional e concede a comunicação com o sensível. Uma vez que, “as palavras
para o poeta são sempre amanhacentes, trazem novas percepções do mundo, ampliadas, e por
isso ele declara estar dentro delas há milhões de anos” (SOARES; NEITZEL; CARVALHO,
2016, p. 53).
Mas também, na arte da palavra, no que tange a poesia, encontra-se Leminski
(1944-1989), um dos representantes da poesia concreta, aquela que se relaciona às artes
visuais, associando palavras em movimento na composição de imagens. Logo, a poesia
concreta é composta por "ideias nuas que nos apresenta numa ordem visual" (CAMPOS;
PIGNATARI; CAMPOS, 1975, p. 21). E assim como a poesia concreta há também o poema
livre que não se restringe às normas de metrificação, dentre outros.
Já no artesanato, a observação de quem cria também está presente, porém, essa área
possui mais intimidade com a cultura local de um povo, colhendo informações relacionadas e
características a esse meio, mas também tem agregado conhecimentos de outras áreas para
manifestação da imaginação em ação, nos dias de hoje (PAB, 2012). Conhecimentos tais
como das áreas da moda, das artes e do design.
Já no design, a criatividade organiza-se por meio de métodos, que conforme Munari
(1998), não reduz em nada a capacidade criativa, antes o contrário, o método organizado
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através de pesquisa permite facilitar o processo criativo sem idealizá-lo, porque, segundo ele,
criatividade não é improvisação sem método.
A moda, também agrega conhecimentos de outras áreas e os conhecimentos de mundo
do criador, baseando-se bastante no passado para recriar o novo, revisitando a história e
inúmeras contribuições realizadas por estilistas através da qual encontra-se estilistas como
Chanel que inovou e que democratizou a moda, além de revolucionar o vestuário feminino
(CONTI, 2008), e Dior que reinventou a forma da silhueta, restabelecendo a moda parisiense
no pós guerra, sendo audacioso (STEVENSON, 2012).
Além disso, tanto o design como a moda, enquanto áreas relacionadas e
interdisciplinares que trocam conhecimentos, utilizam ferramentas para desenvolver o
processo criativo, tais como mapas mentais e conceituais, brainstorming (chuva de ideias),
storyboard (espaço sequencial), entre outros.
Tendo isso em vista, é possível notar o quão importante a criatividade é para a
humanidade, pois além dela aguçar as potências do conhecimento pessoal por meio do seu
exercício constante, ainda desenvolve a sociedade e constrói futuros, a partir de novas
criações, gerando conhecimento e sentido para vivenciar e experienciar o mundo, para de
alguma forma imprimir a digital humana e poder melhorar e ampliar o território que habita.
envolvendo a cultura ou entre os turistas e artesãos, e outro sugeriu parcerias com negócios
privados para exposição, tal como os shoppings. Desse modo, demonstraram e sugeriram
soluções práticas, úteis para potencializar o artesanato e colocá-lo em um lugar de destaque,
impedindo sua invisibilidade, por vezes furtiva.
Já a questão seguinte se referiu a que tipo de artesanato eles trabalham através da
questão: “Qual trabalho artesanal você desenvolve? E quais materiais utiliza para
elaborá-los?”. Houve o relato de diversos materiais como fitas, algodão, rendas, sedas;
cristais, pedras, lã, barbante; porcelanas, tintas, biscuit, com o objetivo de desenvolver laços
de cabelo, bonecas de pano, bichos de pelúcia, pintura, tricô, crochê, até artefatos do universo
geek ou semelhante, entre outros. Dentre os materiais e artefatos desenvolvidos, vale destacar
a utilização de materiais reciclados e sua restauração na construção de produtos, o papel
reciclado para encadernação artesanal, o material ecológico, o algodão crú ou 100%, bem
como fios e linhas para fazer patchwork e bordados, além de conchas, sementes e materiais do
mar para construir acessórios e biojoias. Percebe-se que há uma preocupação na escolha de
materiais para a elaboração de artefatos que sejam ambientalmente corretos, valores que a
economia solidária liga-se e transfere para a sociedade em forma de produtos e conhecimento,
demonstrando também a sua potência em ofertar os mais variados tipos de artesanatos.
Com isso, a questão que se seguiu foi: “Descreva abaixo como ocorre o seu processo
de desenvolvimento dos produtos artesanais:”, alguns descreveram que parte do processo é
realizada na máquina de costura ou com o auxílio de ferramentas, sendo a outra parte
complementada manualmente. Outros selecionam matérias-primas naturais ou materiais em
desuso/descarte, trabalhando de forma manual também. Outros ainda, relataram que estudam
e que separam o material, fazem pesquisas de tendências e de inspirações, e também disseram
organizarem o trabalho. Além disso, alguns mencionaram seguir sua intuição ou seu senso
estético. Consequentemente, as respostas demonstraram o prazer dos artesãos ao criarem os
produtos, em que muitos praticam por satisfação e bem estar, uma vez que pôde-se inferir que
alguns consideram isso como principal finalidade para além do benefício financeiro, o qual
boa parte se apoia.
Dessa forma, pôde-se relacionar os conceitos de design com a pergunta de múltipla
escolha: “Considerando sua descrição acima, você acredita que o processo é similar a: a) Um
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área de trabalho (se conhecer)”. A maioria identifica seu público em diversidade de gênero, de
faixa etária e de características, localizado na região e caracterizado por diferentes classes
sociais. Em que, vale ressaltar que boa parte do público são mulheres de 40 a 60 anos e
público infantil. Mas também há os turistas que caracterizam-se por se atraírem pelos aspectos
naturais e por ambientes como a praia, além disso, encontra-se o público jovem também,
dentre professores, estudantes e artistas, que possuem interesse pela cultura pop. Com isso,
demonstraram uma diversidade e atendimento a um público abrangente, de predominância
local.
Assim, o questionário finalizou-se com a questão: “De que forma você busca suas
inspirações de influência, para elaboração do seu artefato?”, que referiu-se às alternativas
apresentadas a seguir, na ordem das que foram mais assinaladas, já que puderam selecionar
mais de uma opção, demonstrando o nível de utilização considerado pelos artesãos. Sendo
que, o Pinterest recebeu 14 respostas, o Google obteve 10 resultados, seguidas pelo Facebook
com 9 e Instagram com 8 respostas, revelando estarem atualizados em relação às mídias
digitais, com o objetivo de facilitar o seu processo de criação. Mas também alguns
selecionaram a opção Revistas e/ou Jornais que teve 5 respostas, podendo ser específicas para
o tipo de artesanato que se desenvolve, demonstrando utilizarem modos de origem para criar
seus artefatos. A mesma quantidade de resultados foi atribuída a alternativa de Sites de
Tendências com 5 respostas, seguidas por Shoppings, Vitrines de lojas ou ruas com 4, e
Televisão com 2 respostas. Tendo isso em vista, foi possível identificar que existem várias
ferramentas que podem auxiliar no desenvolvimento de um bom produto, e que apesar do
avanço da tecnologia, algumas opções ainda estão em vigor, intencionando atingir esse
objetivo.
Nessa perspectiva, ao visualizar os resultados expostos acima, pôde-se ter um
panorama mais completo a respeito do trabalho artesanal desempenhado na região, incluindo
as percepções e conhecimentos dos artesãos, e também suas intenções acerca do artesanato no
mundo contemporâneo, como questões de atualização ou melhorias para uma melhor
ampliação ou desenvolvimento, até interações e conexões em plataformas digitais. O que cabe
ressaltar é que as questões suscitaram pensamentos pertinentes para a pesquisa, ao que diz
respeito à desvalorização do artesanato, ainda presente na sociedade, apesar de envolver
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5 Desenvolvimento da Coleção
5.1 Metodologia
Figura 2 - Brainstorming
● Subproblemas:
- Como as áreas - moda, design, arte e artesanato, estão relacionadas?
- Como cada uma dessas áreas podem contribuir de forma criativa para a valorização
do artesanato?
- De que forma utilizá-las, a fim de desenvolver uma coleção criativa?
- Como desenvolver produtos que agreguem valor na sociedade?
Produto: São roupas caracterizadas pela sensibilidade artística, pela qualidade desses
produtos e seu desenvolvimento, uma vez que boa parte desse processo é realizada
manualmente, tornando os produtos singulares, opostos aos produzidos em massa ou escala.
Adequa-se na categoria de produtos casuais, desde o simples ao mais sofisticado, possuindo
flexibilidade na utilização, com estilo criativo e romântico.
Desse modo, passa-se então para a fase de empatia, a qual visa uma imersão para
desvendar as características e obter informações e conhecimentos pertinentes ao público alvo.
Nesse sentido, a partir de pesquisas em meio virtual, observação e análise da região de Santa
Catarina, foi possível elaborar o esquema abaixo:
Essa fase liga-se a um dos momentos cruciais do projeto para elaboração da fase
posterior, em que utiliza-se da empatia para compreender a realidade do público, com o
propósito de obter informações a respeito de suas intenções e desejos, ultrapassando seus
aspectos físicos e psicológicos. Por isso, a pesquisa com os artesãos se entrelaça nesse
momento, devido a experiência como profissionais na área bem como a observação da sua
realidade e acompanhamento da mesma através de uma imersão no grupo do CEPESI. Com a
finalidade de obter informações acerca do seu trabalho e do seu público, que possui interesse
no artesanato, para traçar um paralelo com o público que a marca se destina, a fim de
possibilitar e cooperar no surgimento de ideias para o desenvolvimento da coleção. A partir
disso, seguiu-se para a fase de exploração e elaboração das ideias.
vista o problema e os subproblemas, com a intenção de gerar ideias iniciais e prosseguir para
os próximos desenvolvimentos, como pesquisa do tema de coleção, pesquisa de tendências,
de materiais e de modelagens. Demonstrados a seguir:
Figura 7 - Post-it
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do bordado local, com destaque para a tradição do bordado da Casa Meyer em Blumenau, da
cultura catarinense e suas belezas naturais, que caracterizam os povos dessa região de
tradição italiana, alemã e outras etnias como a indígena, que se identificam pelo sentimento
de orgulho de sua cultura. Aspectos culturais voltados à preservação das tartarugas em
Florianópolis, da história das baleias, das belezas litorâneas, eventos de pescadores como a
festa da Tainha, a Marejada - a maior festa do pescado, que possibilita a exposição de feiras
artesanais em Itajaí bem como a demonstração dessas em praças da cidade e Universidade.
Além de flores símbolos da região de Santa Catarina, como Laelia purpurata e árvores da
região como, araucárias, cedro entre outras. Há também a festa das flores em Joinville, a
maior e o mais tradicional evento, que ocorre no mês de novembro, e hobbies ao ar livre
como a trilha, caminhada, passeio de bicicleta e na praia.
Assim, juntamente com o tema principal, o artesanato e a técnica de bordado, o
presente estudo agregou conhecimentos da área de artes, a partir da presente metodologia de
projeto, que conduziu o processo de forma criativa. Elencando elementos do universo da
moda, como a combinação e harmonia das cores, tendências e formas, observando modelos
de moda renomados que envolveram o artesanato, para atentar-se para o que já foi
desenvolvido. Acrescentado técnicas utilizadas na arte para compor uma forma organizada
através de uma linguagem sensível, por intermédio da palavra poética, revelada na poesia.
Com base em técnicas de luz e sombra, perspectiva, movimento, harmonia, entre outras,
considerando o contexto contemporâneo, inerente a qualquer criação e ao modo daquele que
cria.
Seguindo essa lógica, fez-se uma pesquisa de tendências nas plataformas Catwalk e
UseFashion. Realizou-se também uma pesquisa dos materiais pretendidos, observando os
materiais já disponíveis, com o propósito de trabalhar com o aproveitamento e ressignificação
de materiais. Para posteriormente definir a modelagem dos produtos de vestuário com suas
formas e volumes. Demonstradas pelos painéis abaixo:
Após isso, passou-se para o próximo passo, no qual as ideias traçadas antes foram
filtradas, reduzidas ou mesmo reelaboradas, demonstradas através das escolhas definidas no
quadro a seguir:
uma vez que pode ser visualizado como magenta ou que se aproxima do vermelho, o verde
atrelado a ideia de renascimento, o azul a leveza e o rosa a docilidade e delicadeza. Mas não
se restringem a isso, podendo variar de acordo com a composição do look, permitindo a
inferência do leitor na interpretação. Portanto, a seguir apresentam-se as alternativas, seguidas
de suas respectivas poesias desenvolvidas pela autora, que permeiam a composição de cada
look, para melhor compreensão e visualização, sem necessidade de mais descrições,
objetivando que o leitor estabeleça e crie relações.
Figura 16 - Look 1
Figura 17 - Look 2
Figura 18 - Look 3
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Figura 19 - Look 4
Figura 20 - Look 5
Figura 21 - Look 6
Figura 22 - Look 7
Figura 23 - Look 8
Figura 24 - Look 9
Figura 25 - Look 10
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Figura 27 - Moulage
Nessa fase, ocorreu uma alteração na coleção para obtenção de melhorias através de
pequenas modificações nos bordados e na cor da calça. Houve também uma preocupação na
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escolha dos materiais e opção por utilizar materiais em desuso, sem utilidade ou que seriam
descartados.
Sendo assim, o look 1 (vestido) foi elaborado a partir da moulage e seu reajuste,
acompanhado pelo bordado e costura na máquina algumas vezes, mas também costura
manual na peça de cima que compõe o vestido, e teste. Já o look 2 (conjunto - calça e blazer),
a calça foi elaborada através do modo mais usual, com modelagem plana e costura em
máquina. Porém, com o blazer realizado de modo mais livre, uma vez que utiliza-se de
técnicas de upcycling e customização por meio de um blazer desgastado, e materiais em
desuso ou sem utilidade, com o propósito de propagar os conceitos elaborados na coleção.
Logo, nessa peça não foi realizada nenhuma modelagem, que foi executada através do senso
de criação da autora, com bordados e costura manual.
Figura 35 - Tag/Etiqueta
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6 Considerações Finais
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