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ACÓRDÃO
N.o 427/95 (1)
Processo: n.º 245/95.
1ª Secção
Relatora: Conselheira Maria Fernanda Palma.
Acordam na 1.ª Secção do Tribunal
Constitucional:
I — Relatório
1 — Em processo comum, o Ministério Público deduziu acusa
contra A., SA, B., C., Lda., e D..
O Ministério Público imputou a cada
dos arguidos pessoas singulares a
prática de um crime previsto e puní
nos termos do artigo 24.º, n.º 1, alínea
a), com referência ao artigo 8
n.º 2, alínea a), I, ambos do
Decreto-Lei n.º 28/84, de 20 de Janeiro, e
Portaria n.º 833/89, de 22 de
Setembro, e a cada uma das socieda
arguidas a prática da mesma infracção,
punível ainda, quanto a elas,
termos dos artigos 3.º e 7.º do citado
decreto-lei.
2 — Após a notificação da acusação, apresentaram as arguidas
Lda., e D. requerimento para a abertura de instrução, no qual alegaram
inconstitucionalidade do artigo 4.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 192/89, d
de
Junho, e, consequencialmente, da Portaria n.º 833/89, de 22
Setembro, por
violação do artigo 115.º, n.º 5, da Constituição. Alegar
também a inconstitucionalidade (orgânica) desta portaria
por si mesm
por violação do artigo 168.º, n.º 1, alínea c), da Constituição.
3 — Após o debate instrutório, o juiz de instrução proferiu, em 9
Março de 1993, despacho de não pronúncia e ordenou o arquivame
dos autos,
por ter julgado inconstitucional o artigo 4.º, n.º 1, do Decre
Lei n.º 192/89
e a Portaria n.º 833/89.
Quanto a esta matéria, o juiz de instrução fundamentou a decisão
seguinte modo:
O Decreto-Lei n.º 192/89, de 8 de Junho, vem regular a
«utilização
aditivos nos géneros alimentícios», referindo no seu artigo 4.º,
n.
que «os aditivos alimentares admissíveis nos géneros alimentícios
respectivos critérios de pureza e as condições da sua utiliza
constarão de
portaria conjunta…».
Tal Portaria consiste precisamente na n.º 833/89, de 22 de
Setemb
invocando-se no seu preâmbulo que se utilizou tal forma «porqu
constante evolução dos conhecimentos técnico-científicos ne
domínio, o
eventual aparecimento de novos aditivos e a necessida
de harmonização com a
legislação comunitária impõem u
disciplina legal que permita uma maior
flexibilidade…».
Sem embargo de se considerar que as razões invocadas se
mostr
plausíveis e perseguidoras do objectivo celeridade
desburocratização
na procura de soluções, crê-se que o modo usa
actos legislativos — que não os referidos no artigo 115.º, n.º 1,
Constituição — ou conferir a actos de outra natureza o poder de, c
eficácia
externa, mormente, integrar qualquer dos precei
componentes da mesma lei.
Ora, assim sendo, crê-se que o artigo 4.º, n.º 1, do
Decreto-Lei
192/89, de 8 de Junho, enferma de inconstitucionalidade.
Com efeito, ao estabelecer, clara e inequivocamente, que um
acto n
legislativo — pois não consta do elenco mencionado no artigo 11
n.º 1, da Constituição — como uma Portaria vem integrar uma nor
ínsita numa
modalidade de acto legislativo, vem de modo direct
frontal violar uma norma
constitucionalmente consagrada.
4 — Desta decisão foi interposto, pelo Ministério Público, o prese
recurso (obrigatório) para o Tribunal Constitucional, ao abrigo
artigos
70.º, n.º 1, alínea a), e 72.º, n.º
3, da Lei do Tribunal Constitucion
em virtude de o tribunal a quo ter recusado a aplicação da nor
constante do n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 192/89, de 8 de Jun
por
violação do artigo 115.º, n.º 5, da Constituição, e, consequentemen
da
Portaria n.º 833/89, de 22 de Setembro.
5 — Remetidos os autos ao Tribunal Constitucional, o Magistrado
Ministério Público apresentou alegações, em que começou por delimi
o objecto
do recurso, considerando que este consiste na «questão
inconstitucionalidade
da norma do n.º 1 do artigo 4.º do Decreto-Lei
192/89, de 8 de Junho,
enquanto estabelece que aditivos alimenta
admissíveis nos géneros alimentícios
constarão de portaria e, consequ
temente, das normas dos artigos 1.º e 2.º da
Portaria n.º 833/89, de 22
Setembro».
Pronunciou-se então pela não inconstitucionalidade da norma
apreço,
partindo da ideia — apoiada na doutrina e na jurisprudên
constitucionais —
de que o artigo 115.º, n.º 5, da Constituição não pro
os reenvios
normativos, em que a lei remete para a administraçã
edição de normas
regulamentares executivas ou complementares
disciplina por ela estabelecida,
excluindo apenas os regulamen
integrativos, que regem praeter legem. Defendeu, em
seguida, que
caso das normas questionadas neste processo não se verifica
integraç
tendo a Portaria n.º 833/89 mera natureza de regulamento de
execu
ou complementar do Decreto-Lei n.º 192/89.
Sustentou ainda que a questão da invocada inconstitucionalidade
Portaria n.º 833/89, por violação do artigo 168.º, n.º 1, alínea c),
Constituição, se encontrava
ultrapassada, uma vez que a deci
recorrida não mencionou tal questão e
considerou
inconstitucionalidade das normas da Portaria n.º 833/89 co
meramente consequencial.
E concluiu nestes termos:
1.º A norma do n.º 1 do artigo
4.º do Decreto-Lei n.º 192/89, de 8
Junho, enquanto estabelece que os
aditivos alimenta
admissíveis nos géneros alimentícios constarão de
portaria, nã
inconstitucional, pois não viola qualquer princípio ou prece
constitucional, designadamente o artigo 115.º, n.º 5,
C i i ã
6 — Por sua vez, as recorridas C.,
Lda., e D. apresentaram alegaç
no sentido da inconstitucionalidade
originária do artigo 4.º, n.º 1,
Decreto-Lei n.º 192/89 e da inconstitucionalidade
consequencial
Portaria n.º 833/89, ante o disposto no artigo 115.º, n.º 5,
da Constituiç
por considerarem a portaria regulamento integrativo.
Também os recorridos A., SA,
e B. apresentaram alegações, em q
concluíram deste modo que o artigo 4.º, n.º 1, do Decreto-Lei n.º 192/8
inconstitucional:
— O artigo 24.º do Decreto-Lei n.º 28/84 prevê um abundante
núm
de práticas proibidas que têm por objecto aditivos alimenta
anormais
não considerados susceptíveis de criar perigo para a vi
saúde e integridade
física alheia.
— O mesmo artigo 24.º não define quais os aditivos nes
circunstâncias.
— O artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 192/89 dispõe que, por
porta
serão estabelecidos quais os produtos cuja utilização faz actua
norma incriminadora do Decreto-Lei n.º 28/84.
— Há, assim, uma punição que assenta na utilização de um
prod
que vem previsto numa portaria.
— A portaria não é um acto legislativo — artigo 115.º, n.º
1, da CRP.
— Não é, portanto, uma fonte apta a preencher a exigência
do art
29.º, n.º 1, da CRP.
— Mesmo que se entenda que é um regulamento de execução,
n
assim se consegue superar o espírito do artigo 29.º, que exig
presença
em lei formal — artigo 115.º, n.º 1, da CRP — de todos
elementos que possam
contribuir para a punição.
— O artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 192/89, de 8 de Junho
inconstitucional por violação do artigo 29.º, n.º 1, da CRP.