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I.

seria éticosocialmente neutros ao abrigo de uma lei de emergência cujos


pressupostos já não se verificam seria, em qualquer caso, inconstitucional por
violação do princípio da necessidade da pena (art. 18.º, n.º 2 da CRP). A esta luz,
sendo certo que o governo não pode definir os crimes, nem criminalizando, nem
descriminalizando, sem autorização da AR, e que esta autorização não existiu, no
caso, certo é também que a situação de seca extrema atinha já cessado em
fevereiro de 2018, tendo, por isso, já caducado a Lei n.º X/17. Portanto,
independentemente do juízo de (in)constitucionalidade que se pudesse fazer sobre
o Decreto-lei Z/18, ninguém poderia ser punido ao abrigo da Lei n.º X/17 em
fevereiro de 2018.
II. LEI PENAL INCONSTITUCIONAL: Aplicação da norma repristinada
(artigo 282.º/1 CRP), por se entender que a questão da validade das normas
precede lógica e valorativamente a da aplicação da lei mais favorável e que os
tribunais estão impedidos de aplicar normas inconstitucionais (artigo 204º CRP).
Sendo a lei penal inconstitucional nula, nunca produziu quaisquer efeitos, pelo que
não pode ser aplicado a Adélia a solução descriminalizadora. Não se pode
empregar, neste caso, o regime do erro (não censurável) sobre a proibição (artigo
17.º/1 CP) – o qual é invocado por parte da doutrina (Rui Pereira) em situações em
que se reconhece a necessidade de tutelar as legítimas expectativas dos agentes
de aplicação da lei mais favorável – uma vez que a lei inconstitucional não estava
em vigor no momento da prática do facto. Não existindo, de acordo com a
informação disponibilizada no enunciado, caso julgado, não há lugar à ressalva
expressamente prevista no artigo 282.º/3, 1.ª p., CRP. Aplicação da lei
inconstitucional mais favorável ao agente, considerando-se, com Taipa de
Carvalho, que o artigo 29.º/4 CRP pode incluir leis penais inconstitucionais,
prevalecendo então estas, se forem de conteúdo mais favorável ao arguido.
Aplicação da contraordenação, ou seja, da lei inconstitucional mais favorável ao
agente, em razão (i) do princípio da igualdade, por referência ao teor do artigo
282.º, n.º 3, da Constituição, que salvaguarda a intangibilidade do caso julgado, no
caso de aplicação da lei inconstitucional mais favorável e (ii) por força da
prevalência do princípio do Estado de Direito (artigo 2.º CRP) sobre as
consequências da declaração de inconstitucionalidade em geral, assente em
razões de necessidade da lei penal e da confiança objetiva gerada pelas
manifestações legislativas do Estado, cfr. MARIA FERNANDA PALMA, Direito
Penal Idem, pp. 177-178. Haveria assim uma lacuna na regulamentação do artigo
282.º da CRP, no que diz respeito à situação da lei inconstitucional mais favorável,
a qual deveria ser integrada, segundo os princípios relevantes nesta matéria,
dando-se prevalência a essa mesma lei mais favorável.
III. DESCRIMINALIZAÇAO: Neste caso, existem duas interpretações
possíveis: a) houve descriminalização total do consumo de estupefacientes,
quaisquer que sejam as doses detidas exclusivamente para consumo próprio, pelo
que o disposto no n.º 2 do artigo 2.º da lei n.º 30/2000 deve ser interpretado em
conformidade, não sendo tal interpretação contrária ao princípio da legalidade
(artigo 29.º, n.º 1, da CRP) pois o n.º 1 do mesmo artigo claramente inclui o
consumo (todo) no conceito típico de contraordenação punível;
IV. b) apenas ocorreu uma descriminalização parcial do consumo, quando as doses
possuídas para consumo não excedam os 10 dias, pelo que, havendo lacuna no
que toca ao enquadramento da posse de estupefacientes em doses superiores aos
10 dias, deverá fazer-se interpretação restritiva (rectius: redução teleológica) do
artigo 28.º da lei n.º 30/2000, mantendo-se em vigor o disposto no antigo artigo
40.º/2 do Decreto-lei nº 15/93 no que respeita à criminalização do consumo (a
opção alternativa de enquadramento do consumo na lei contraordenacional fica

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