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ARTIGO ARTICLE 923

Uma abordagem hermenêutica


da relação saúde-doença

An hermeneutic approach
to health-disease relationship

Andrea Caprara 1

1 Departamento de Saúde Abstract This work aims to contribute to the current discussion on the relationship between
Pública, Centro de Ciências
health and disease, taking a hermeneutic perspective on the issue. The first section, referring to
da Saúde, Universidade
Estadual do Ceará. the discussion among the hermeneutic, phenomenological, and existential lines of philosophy,
Av. Paranjana 1700, analyzes the work of two philosophers, Kierkegaard and Heidegger, who profoundly influenced
Fortaleza, CE
contemporary hermeneutics. The article discusses the concept of anguish, which for Kierkegaard
60740-000, Brasil.
a.caprara@flashnet.it (contrary to the biomedical approach) is a constitutive component of human beings: for
Kierkegaard, as subsequently for Heidegger, anxiety is not a pathological symptom but a state
that allows for privileged access to self-knowledge. In the second section, we approach how
hermeneutics, and especially the work of Gadamer, developed the concepts of health, illness, and
suffering; we also analyze how in recent years this perspective has influenced the social sciences
(and particularly medical anthropology) in their approach to health problems. The third and fi-
nal section discusses the implications of hermeneutics for clinical training and practice, demon-
strating the applicability of Heidegger’s and Gadamer’s thinking for work by physicians and
nurses.
Key words Medical Philosophy; Medical Antropology; Health-Disease Process

Resumo Este trabalho pretende contribuir para a discussão presente sobre a relação entre a
saúde e a doença, abordando a problemática por meio da perspectiva hermenêutica. Na primei-
ra parte, retomando a discussão que foi se desenvolvendo dentro das linhas filosóficas herme-
nêutica, fenomenológica e existencial, será analisada a obra de dois filósofos, Kierkegaard e Hei-
degger, que influenciaram profundamente a hermenêutica contemporânea. Será apresentado o
conceito de angústia que, ao contrário da abordagem biomédica, para Kierkegaard é um compo-
nente constitutivo dos seres humanos: para este autor, assim como sucessivamente para Heideg-
ger, a ansiedade não é um sintoma patológico mas um estado que permite um acesso privilegia-
do de autoconhecimento. Na segunda parte, tentaremos abordar como, na hermenêutica, e prin-
cipalmente na obra de Gadamer, foram sendo desenvolvidos os conceitos de saúde, doença, sofri-
mento; analisaremos também como esta perspectiva influenciou, nos últimos anos, as ciências
sociais que abordam os problemas de saúde, em particular a antropologia médica. Na terceira e
última parte, apresentaremos as implicações da hermenêutica na formação e prática clínica,
mostrando a aplicabilidade do pensamento de Heidegger e Gadamer no trabalho de médicos e
enfermeiros.
Palavras-chave Filosofia Médica; Antropologia Médica; Processo Saúde-Doença

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Introdução comportamento de maneira diversa nas dife-


rentes sociedades (Bibeau, 1981; Good, 1994;
Em muitos países ocidentais e da América La- Kleinman, 1988). A cultura produz estruturas
tina, apesar de um processo de crescimento simbólicas, metáforas e outras figuras ligadas
econômico, estamos assistindo a situações em à doença. Assim como colocado por Birman
que as desigualdades sociais e em saúde per- (1991), em todas as sociedades o real é trans-
sistem, até aumentam, mostrando uma real in- formado em uma rede simbólica de significa-
capacidade da sociedade ocidental em elimi- dos, base fundamental de todo processo expe-
nar a pobreza. A crise do modelo econômico riencial. Tal abordagem interpretativa procura
ocidental foi, nos anos 70 e 80, objeto de análi- entender o significado dos comportamentos,
se de diferentes estudos: para Ricoeur (1994), das ações dos indivíduos influenciados por au-
por exemplo, a crise é uma condição perma- tores pertencentes à tradição hermenêutica
nente e estrutural de nossa sociedade que se re- como Gadamer (1997) e Paul Ricoeur (1994). A
flete nos estudos humanísticos, na filosofia, na experiência do indivíduo coloca-se no primei-
história, nas ciências sociais, na antropologia. ro plano da produção dos discursos científicos,
Na saúde pública, desde a metade do sécu- dentro de uma perspectiva que procura o sig-
lo XX, diferentes autores como McKeown (1979), nificado das ações na relação entre interpre-
demostraram que, se a pobreza não é causa di- tante e interpretado, tentando superar a distin-
reta da doença é o principal determinante. Es- ção entre sujeito e objeto na pesquisa científi-
ta abordagem que mostra que as condições de ca (Geanellos, 2000).
saúde estão ligadas a fatores macroeconômi- Este trabalho pretende contribuir para a
cos e sociais não é idéia do século XX. Rudolph discussão presente sobre a relação entre a saú-
Virchow, na metade do século XIX, afirmava a de e a doença (Almeida Filho, 2001), abordan-
necessidade de lutar contra as desigualdades do a problemática por meio da perspectiva
sociais, origem principal das doenças, assim co- hermenêutica. Com essa finalidade, propõe-se
mo Villermé na França demonstrava em 1820- explorar o conceito de saúde segundo três su-
1830 as diferenças das taxas de mortalidade cessivos desdobramentos: (1) na primeira par-
entre as classes ricas e pobres (Virchow, 1985). te, retomando a discussão que foi se desenvol-
A influência dos fatores macrossociais e do vendo dentro das linhas filosóficas hermenêu-
contexto político-econômico sobre as condi- tica, fenomenológica e existencial, será anali-
ções de saúde da população e da própria práti- sada a obra de dois filósofos, Kierkegaard e
ca médica, foi objeto nos anos 60-70, das abor- Heidegger, que influenciaram profundamente
dagens marxistas da medicina social (Navarro, a hermenêutica contemporânea. No campo da
1983). Nos mesmos anos e com uma perspecti- saúde, a obra destes autores é importante pela
va similar desenvolveram-se a epidemiologia diferente forma de abordar os problemas em
crítica, chamada também epidemiologia social comparação com a perspectiva biomédica. Por
(Breilh & Granda, 1989), os estudos sobre o im- exemplo será apresentado o conceito de an-
pacto da estrutura de classe na organização gústia que, ao contrário da abordagem biomé-
dos serviços de saúde (Laurell, 1989), a antro- dica, para Kierkegaard (1952, 1991), é um com-
pologia médica crítica (Frankenberg, 1988). Es- ponente constitutivo dos seres humanos: para
sas perspectivas críticas da ideologia médica, este autor, assim como sucessivamente para
tiveram a influência dos pensadores marxistas, Heidegger (1976), a ansiedade não é um sinto-
assim como de autores como Foucault (1977), ma patológico mas um estado que permite um
e da própria Escola de Frankfurt (Benjamin et acesso privilegiado de autoconhecimento. Na
al., 1983), colocando uma atenção particular a perspectiva hermenêutica contemporânea, o
conceitos relativos ao poder, à hegemonia, à estado de ansiedade revela a procura de um
resistência, à prática da medicina moderna e novo significado de vida; trata-se de um pro-
ao desenvolvimento de tecnologias. blema existencial, não somente de um proble-
Sem negar a importância desta abordagem, ma biológico ou comportamental, e permite
a saúde nas ciências sociais e na antropologia abordar a relação saúde-doença por meio de
em particular, não é vista somente como con- um novo olhar. Nesse sentido, acreditamos que
seqüência de fatores sociais e econômicos. Uma o conceito de ansiedade, angst, merece hoje um
tradição importante interpreta a doença como renovado interesse, seja de um ponto de vista
um produto culturalmente determinado. Nesta médico ou filosófico. Acaba-se colocando, na
perspectiva, a cultura, entendida como conjun- interseção entre saúde e doença, nos limites
to de idéias, conceitos regras, comportamen- das definições, constituindo um espaço de re-
tos compartilhados em um determinado grupo flexão filosófica com importantes implicações
cultural, organiza a experiência da doença e do no campo da prática médica. (2) Na segunda

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parte, tentaremos abordar como, na hermenêu- nêutica na pesquisa qualitativa na área da saú-
tica, e principalmente na obra de Gadamer, fo- de. Apesar da presença de numerosos métodos
ram sendo desenvolvidos os conceitos de saú- existentes, as premissas filosóficas comuns de
de, doença, sofrimento; o trabalho de Gada- Ricoeur e Gadamer constituem a base de dife-
mer, filósofo alemão, considerado hoje pai da rentes abordagens na análise das narrativas
hermenêutica contemporânea, foi influencia- (Geanellos, 2000; Robertson-Malt, 1999; Todres
do por Kierkegaard e por Heidegger (Schleibel, & Wheeler, 2001).
2000). A saúde, segundo Gadamer (1994), fica
escondida por boa parte do tempo, revelando-
se através do bem-estar. Nesse estado, esque- A terceira margem da saúde:
cemos de nós e somente nos momentos de can- a angústia em Kierkegaard e Heidegger
saço, de esforço, de fadiga, lembramos de novo
do nosso estado. Nesse sentido, para Gadamer O termo hermenêutica na filosofia grega ex-
(1994), a saúde coincide com o ser no mundo, pressa a arte de interpretar. Com o passar do
com a satisfação de ter uma vida ativa. A pers- tempo adquiriu um significado mais amplo, in-
pectiva hermenêutica permite uma nova cons- dicando, no âmbito filosófico, diversas formas
trução de modelos de saúde-doença, que recu- de teoria da interpretação, entre as quais o exis-
peram a dimensão experiencial, assim como tencialismo, a fenomenologia e a própria her-
aquela psicossocial. (3) Na terceira e última menêutica, que constituem diversas formas de
parte, apresentaremos as implicações da teoria expressão da filosofia continental. Os filósofos
interpretativa na formação e prática clínica, que pertencem a esta linha de pensamento se
mostrando a aplicabilidade do pensamento de ocupam da existência humana, não do ponto
Heidegger e Gadamer no trabalho de médicos de vista da observação, mas da reflexão filosó-
e enfermeiros (Dreyfus & Zimmerman, 1991; fica. Nessa perspectiva, o homem é considerado
Svenaeus, 1999; Wiklund et al., 2002). A abor- não somente enquanto organismo biológico,
dagem hermenêutica da medicina nos permite mas algo mais, assim como a medicina é consi-
explorar a experiência humana da doença, en- derada algo mais do que a ciência natural.
tender como os pacientes lidam com suas ex- Para esclarecer melhor a abordagem her-
periências específicas frente aos médicos, em menêutica em relação à saúde e à doença, co-
relação à saúde, à doença e ao sofrimento (Ro- meçaremos com um exemplo que se refere ao
bertson-Malt, 1999). Os pacientes, tradicionais conceito de angústia (angst), tal como desen-
“objetos” da prática médica, são na verdade volvido por Kierkegaard (1813-1855) e Heideg-
indivíduos que vivem, refletem e que, juntos ger (1889-1976). Para estes autores, a angústia
com o médico, transformam o encontro clínico deve ser considerada como elemento constitu-
(Evans & Sweeney, 1999). Nos últimos anos foi tivo dos seres humanos; em particular, para
se desenvolvendo uma grande área de reflexão Kierkegaard (1952), a angústia constitui um es-
e pensamento denominada “humanidades mé- tado fundamental da existência humana. Os
dicas”, que pretende explorar como a experiên- seres humanos que não conhecem a melanco-
cia humana lida com outras experiências de lia têm um espírito que não conhece a meta-
pacientes, médicos, saúde, doença e sofrimen- morfose (Kierkegaard, 1952, 1972). Ao mesmo
to. Na formação em medicina, a abordagem tempo, para Heidegger, a ansiedade não é um
das humanidades médicas prevê a incorpora- sintoma patológico, mas um estado que permi-
ção de elementos das ciências humanas (filo- te um acesso privilegiado de autoconhecimen-
sofia, psicologia, antropologia, literatura) nos to (Heidegger, 1976).
cursos de graduação e de especialização. Nesta Um caso clínico, citado por Wulff et al.
concepção integrada das humanidades médi- (1995:152), ilustra com clareza este tema: “Uma
cas, a medicina é entendida como forma de au- mulher de 45 anos, aproximadamente, procura
to-exploração, reconhecendo que os compo- um especialista por problemas nervosos. Trata-
nentes material e experiencial são fundidos en- se de uma dona de casa, divorciada, que não
tre eles (Evans & Sweeney, 1999). As humanida- consegue dar finalidade à sua própria existên-
des médicas pretendem não somente melhorar cia. Os filhos são adultos, deixaram a casa, ela
a relação médico-paciente, as capacidades co- perdeu os amigos e não consegue sair de casa so-
municacionais dos médicos, mas também apro- zinha. Na maior parte do tempo encontra-se em
fundar a narrativa do paciente e procurar novas um estado de ansiedade permanente. O psi-
formas de promoção do bem-estar, reduzindo quiatra escuta a história e em função de sua
o impacto da doença e do sofrimento (More, concepção de doença mental, caso ele siga a
1976; Widdershoven, 1999). Enfim, temos de perspectiva biologista, poderá seguir uma tera-
considerar a utilização da abordagem herme- pia comportamental ou prescrever um ansiolí-

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tico”. Para a perspectiva hermenêutica, ao con- Heidegger (1976), em Ser e Tempo, aborda o
trário da abordagem biomédica, o estado de problema da angústia, concordando com Kier-
ansiedade da paciente revela a procura de um kegaard de que se trata de um estado funda-
novo significado de vida; trata-se de um pro- mental, mas afirma também que está vincula-
blema existencial, não somente de um proble- da à nossa compreensão e interpretação do uni-
ma biológico ou comportamental. Para os filó- verso. Para Heidegger a compreensão não é um
sofos existencialistas, fenomenológicos e her- fenômeno psicológico, mas um estado consti-
menêuticos o interesse se dirige aos problemas tutivo dos seres humanos como a angústia.
existenciais, interpretando as ações humanas. O homem, para Heidegger, continuamente
Colocaremos a questão principalmente em re- procura compreender/interpretar o significa-
ferência às angústias persistentes e que esti- do de mundo. Quem não se coloca no mundo
mulam a procurar uma nova finalidade da exis- como ser interpretante perde a própria subjeti-
tência. vidade (Wulff et al., 1995). A angústia nos indi-
As concepções de Kierkegaard sobre o ho- ca que os significados do mundo mudaram e
mem são constitutivas para o desenvolvimento que os contatos com os outros seres humanos
das idéias de filósofos existencialistas como perderam seu próprio significado (Wulff et al.,
Heidegger e Jean Paul Sartre. Heidegger (1977), 1995). É neste sentido que para Heidegger a an-
afirma na obra Sein und Zeit, que Kierkegaard gústia permite o acesso à autoreflexão. Para a
foi muito importante no desenvolvimento do perspectiva hermenêutica, as pessoas que vi-
conceito de angústia, angst Para Kierkegaard vem um estado de ansiedade não somente têm
(1991), a angústia é um componente constitu- de ser diagnosticadas de um ponto de vista clí-
tivo dos seres humanos; quem não conhece a nico, mas é necessário que comecem um pro-
angústia não é um ser humano. Como afirma o cesso de reflexão sobre sua própria existência.
mesmo Heidegger (1976), Kierkegaard aborda Essa pessoa é livre para escolher, mesmo se de-
o conceito de uma perspectiva cristã enquanto cide não enfrentar esses problemas e utilizar
que Heidegger faz isso desde uma perspectiva somente ansiolíticos, mas nesse caso dificil-
secular (Dreyfus, 1991). Para Heidegger a an- mente poderá dar uma solução a seus proble-
gústia serve como um transtorno que revela a mas existenciais. Uma abordagem biomédica
natureza do Dasein, que poderíamos traduzir permite controlar a depressão, ou a ansiedade,
como: “existência humana cotidiana”, de ser no ou a angústia por meio da utilização de psico-
mundo (Dreyfus, 1991). fármacos eliminando ou reduzindo a sintoma-
Somente por meio de uma processo de re- tologia, mas a perspectiva hermenêutica colo-
flexão filosófica é possível, para os filósofos da ca-se de forma crítica frente a este modo de
tradição hermenêutica, aprofundar nossos co- abordar os problemas. A utilização dos psico-
nhecimentos sobre as características constitu- fármacos é aceita somente naquelas formas,
tivas dos seres humanos. Também os estudos tais como as psicoses maníaco-depressivas ou
empíricos sobre os seres humanos permitem a esquizofrenia, em que a utilização de medi-
descrever o funcionamento e as ações huma- camentos é indiscutivelmente necessária.
nas, mas estes dados têm de ser interpretados Para os empiristas as conclusões da abor-
sucessivamente por meio da abordagem her- dagem hermenêutica não podem ser demons-
menêutica. No livro A Doença Mortal, Kierke- tradas cientificamente, e não sendo considera-
gaard (1952) enfatiza como os seres humanos das nem verdadeiras nem falsas, são simples-
se relacionam com si mesmos e se percebem mente sem sentido. Por outro lado, os herme-
como seres que atuam livremente. Nesse senti- neutas afirmam que os empiristas colocam mal
do, os seres humanos podem ser considerados a questão porque também os resultados cientí-
como uma conjunção entre dimensão biológi- ficos têm de ser interpretados e que a maneira
ca e psicossocial, em um processo de autore- com a qual se aborda um problema tem uma
flexão, de liberdade. Por isso, para Kierkegaard influência sobre o método que será escolhido.
a angústia é a realidade da liberdade (Dreyfus, É impossível utilizar sempre o mesmo método
1991). Nessa concepção, a angústia humana científico em diferentes áreas. Segundo Wulff
constitui um estado fundamental vinculado et al. (1995:162-163): “a análise hermenêutica é
estritamente à capacidade de autoreflexão, de um processo inicial indispensável porque não
atuar livremente, identificando as possibilida- tem sentido um estudo empírico das proprieda-
des da liberdade (Dreyfus, 1991). Esta dimen- des de uma pessoa sem se ter analisado o con-
são deve ser separada da esfera mental em que ceito de pessoa. Por esta razão, a ciência natural
se manifestam os sentimentos como o medo, é subordinada à reflexão hermenêutica”.
que são reações comuns e presentes também
nos seres animais.

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Os conceitos de saúde e doença tido, a medicina baseada em evidências não é


na obra de Gadamer e suas influências suficiente. Para Gadamer (1994), a diferença
nas ciências sociais em saúde entre conhecimentos gerais e sua aplicabilida-
de é objeto de discussão e de estudo na herme-
Estudos recentes mostram que não existe con- nêutica. Os conhecimentos são adquiridos por
senso entre os diferentes campos de saber sobre meio do estudo, enquanto que sua aplicabili-
o conceito de saúde, doença, “normal” e pato- dade pode ser adquirida somente por intermé-
lógico (Almeida Filho, 2001; Czeresnia, 1999). A dio de um longo processo experiencial.
incapacidade da epidemiologia, por exemplo, Na concepção gadameriana, a saúde tem
de tratar a categoria saúde, seria, segundo Al- de ser entendida como equilíbrio; esta visão se
meida Filho (2001), indicador desta crise. Uma aproxima da saúde entendida pelos utilizado-
reflexão teórica importante sobre os conceitos res das diferentes formas de medicinas alter-
de saúde e doença, e que gostaríamos de resga- nativas, medicinas das quais Gadamer mesmo
tar neste trabalho, tem sido desenvolvida den- é grande utilizador e seguidor. Ele valoriza con-
tro das linhas filosóficas da hermenêutica, do ceitos típicos dessas formas de medicina como
existencialismo e da fenomenologia. Em parti- equilíbrio, harmonia, diálogo, globalidade. Ter
cular, Gadamer (1994), na coletânea de ensaios cuidado com a própria saúde significa evitar os
Uber die Verborgenheit der Gesundheit (na tra- excessos, prevenindo o uso de medicamentos
dução em italiano: Dove si Nasconde la Salute), ou de exames de laboratório desnecessários.
indica que, enquanto a doença chama nossa Para Gadamer, a saúde constitui o ritmo da vi-
atenção pela sua presença, a saúde não desper- da, o processo pelo qual se produz o equilíbrio
ta nosso interesse, ficando escondida. da respiração, do sono, do estar acordado etc.
Nessa situação, para o grande pensador ale- Nessa visão, Gadamer afirma que nós somos
mão, a ciência médica teria de ser reposta co- natureza e a natureza que está em nós ajuda a
mo ciência da doença, porque é o estado de conservar esse equilíbrio. A saúde para Gada-
doença que, aparecendo, produz um senti- mer não pode ser mensurada porque está liga-
mento de perigo e estimula uma resposta tera- da ao estado de ser de cada indivíduo; é por is-
pêutica. A prática médica, nesse sentido, ten- so que tem sentido perguntar às pessoas se elas
tando modificar o percurso da natureza, domi- se sentem doentes (Gadamer, 1994).
nando suas manifestações patológicas, ao mes- Procurando estabelecer uma comunicação
mo tempo deixa de lado um interesse sobre a entre medicina e filosofia ocidental, Gadamer
concepção de saúde e, em parte, a prevenção (1994) afirma que a arte da cura tem aspectos
das doenças (Gadamer, 1994). A medicina ten- que vão além da dimensão biológica, caracte-
tou estabelecer normas, valores que teriam de rística da abordagem médica, aspectos que não
ser utilizados de forma universal, parâmetros podem ser reduzidos à posição da ciência mé-
que constituem uma convenção por meio da dica. Nessa abordagem ele não critica a medi-
qual procura-se aproximar a realidade. cina científica, mas tenta uma aprofundada
A medicina ocidental é considerada como análise dos conceitos chave que fundamentam
área pertencente às ciências naturais e, nesse o discurso médico: doença, cura, morte, rela-
sentido, os seres humanos são analisados de ção médico-paciente. Ele propõe uma nova me-
um ponto de vista biológico; para a perspectiva dicina “humanista” que utiliza os instrumentos
hermenêutica (arte da interpretação), ao con- técnicos e diagnósticos mas que ao mesmo
trário, os indivíduos, além de seres biológicos, tempo analisa o ser humano na sua totalidade,
têm de ser considerados como sujeitos que re- o seu ser no mundo.
fletem e vivenciam uma experiência subjetiva Estas idéias influenciaram a dimensão so-
da doença. Para abordar esta questão, Gada- cioantropológica, principalmente em autores
mer (1994) coloca o problema de como um in- como Clifford Geertz (1983), Arthur Kleinman
divíduo tem de se orientar na vida em relação à (1988) e Byron Good (1994), nos Estados Uni-
saúde e à doença. Este autor coloca a diferença dos; Gilles Bibeau (1992) e Ellen Corin (1992),
entre ciência médica e arte da cura, que corres- no Canadá e diferentes autores da antropolo-
ponde à relação entre conhecimento e sua apli- gia médica européia: lembramos por exemplo
cabilidade. Por exemplo, para cada caso de pa- Angel Martínez-Hernáez (1998), na Espanha e
tologia, como a esclerose múltipla, existem co- Mariella Pandolfi, na Itália (1990).
nhecimentos científicos baseados na evidência
que sugerem esquemas de tratamento e de con-
duta; mas cada paciente é único e o médico
tem de levar em conta isso, porque cada pacien-
te vive a doença de forma diferente. Nesse sen-

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Teoria interpretativa e teoria crítica Com a referência de três autores, Bourdieu


no campo da saúde: rumo para uma (1980), Geertz (1983) e Tambiah (1985), que ana-
nova abordagem teórica? lisaram o papel da prática cotidiana nos pro-
cessos de conhecimento, Bibeau (1992) enfati-
Para os autores críticos, as culturas não são so- za o papel chave que a experiência comum tem
mente sistemas de significados, mas ideologias na construção dos saberes: o sentido comum
que mascaram iniqüidades políticas e econô- apresenta um caráter prático e coincide larga-
micas. Para Mishler (1984), por exemplo, que mente com o que poderíamos chamar de sabe-
aplica a Teoria da Ação Comunicativa de Ha- doria popular. Para Geertz (1983), é a análise
bermas (Habermas, 1984), no estudo da relação das ações cotidianas que vai permitir definir os
médico-paciente, a abordagem médica frag- códigos que estruturam o pensamento e con-
menta e dificulta a expressão da voz dos pa- ferem um significado ao mundo: para Geertz,
cientes (Barry et al., 2001). As influências da as ações cotidianas formam aqui o que ele de-
Escola de Frankfurt e de Jurgen Habermas são fine como o senso comum que permite uma
evidentes e refletem discussões similares de- leitura direta da realidade.
senvolvidas no campo filosófico (Habermas, Com base nessas considerações, Corin et al.
1976). Habermas afirma que as descrições do (1993) desenvolveram um modelo semântico-
processo hermenêutico de Gadamer não ofere- pragmático que objetiva conjugar as perspecti-
cem garantias suficientes e que há uma com- vas hermenêutica e crítica (Bibeau, 1994). Esta
preensão distorcida devido às pré-compreen- abordagem tenta analisar a problemática por
sões falsas. A sociedade está caracterizada por meio de três níveis de análise: (a) um estudo do
estruturas de poder, interesses que influenciam saber, focalizando a atenção sobre os discursos,
a compreensão de nós mesmos e dos outros. A as narrativas dos membros da comunidade –
consciência histórica não é suficiente para pre- este primeiro nível procura identificar a semio-
venir distorções ideológicas. A ideologia é vista logia, os signos, os sinais, os indicadores com
como uma teoria a serviço de interesses de gru- base nos quais os diferentes aspectos de saúde
pos particulares, que contribui na consolida- e doença são percebidos na comunidade; (b)
ção dos equilíbrios existentes. As ideologias for- uma análise do sistema de interpretação; (c)
necem, portanto, uma visão distorcida da rea- um terceiro nível de análise, chamado sistema
lidade (Habermas, 1976). de ação, visa a entender as respostas, as rea-
Como afirma Corin (1995), poucos são os ções para procurar respostas aos problemas.
estudos no campo da saúde que hoje tentam Mas para superar os perigos de uma análise do
combinar a perspectiva interpretativa, influen- sujeito, da microrealidade, é necessário, segun-
ciada pela tradição hermenêutica, com a teoria do Bibeau (1994), considerar também os fato-
crítica e, apesar das diferenças existentes, elas res macrossociais, situando-nos em uma di-
têm uma série de elementos em comum: ambas mensão do coletivo; a reconstrução de casos
analisam a cultura como uma realidade “per- individuais terá de ser complementada por
vading”, uma dimensão dinâmica, que não po- uma análise do espaço social, em uma análise
de ser expressada como simples variável a ser da interação entre histórias e casos individuais
estudada com variáveis estatísticas. O segundo e processos coletivos. Bibeau sugere nesse sen-
elemento em comum entre essas perspectivas tido uma abordagem em dois níveis: (a) uma
é a abordagem transcultural; segundo Corin as primeira análise das “condições estruturantes”
perspectivas transculturais são as únicas que que se referem ao desenvolvimento econômi-
nos permitem descobrir a relatividade de nos- co, político e social e das condições cotidianas
sos conceitos e teorias, e ajudam a “ampliar” de vida; (b) uma segunda que explora as expe-
nosso conceito de realidade (Corin, 1995). riências organizadoras coletivas, os elementos
Gilles Bibeau (1992), no seu ensaio Entre sociosimbólicos de um grupo, seu próprio sis-
Sens et Sens Commun, nos convida a refletir, co- tema de valores. Este processo tem como obje-
mo ponto de partida, sobre os elementos me- tivo identificar os fatores negativos que fragili-
tafóricos e empíricos do pensamento humano. zam um grupo, assim como os fatores proteto-
Este autor enfatiza que é necessário articular o res: precisa identificar as estratégias coletivas
saber e o significado: “A procura do significado de proteção, paralelamente a uma análise dos
e a atribuição do sentido constituem o percurso fatores de risco e de fragilização.
fundamental que carateriza as culturas huma- Uma perspectiva teórica similar, que tenta
nas, percurso que inscreve o sentido até o centro combinar as duas perspectivas, foi desenvol-
das classificações e do estabelecimento da or- vida por Good (1994), no seu livro Medicine
dem empírica do mundo operada pelo senso co- Rationality and Experience. Good enfrenta
mum” (Bibeau, 1992:89). uma série de problemas cruciais de antropolo-

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gia médica por meio de uma abordagem inter- zes. Mas o problema está ligado ao fato de que
pretativa que, como ele mesmo afirma: “man- o texto médico se expressa por meio de uma
tém uma conversa aberta com a teoria crítica” linguagem simples, neutra, que pretende evitar
(Good, 1994:63). as emoções. As frases dos artigos científicos são
constituídas por sujeitos impessoais, sem in-
credulidade, sem dor, sem paixão. É por isso
As implicações da teoria interpretativa que a ansiedade médica frente ao sofrimento, à
na formação e prática clínica morte, à doença, procura o texto literário, a fic-
ção, a poesia como formas de expressão. A co-
Esta perspectiva nos convida a repensar não municação médico-paciente pode ser aprendi-
somente a prática médica mas também a for- da como técnica, mas certamente a obra literá-
mação em medicina, quase sempre ancorada a ria permite construir um contexto ético no qual
uma visão biomédica e tecnicista da doença; a relação vai se desenvolvendo. O médico tem
cada encontro com o paciente tem uma dimen- de entender o paciente de um ponto de vista
são técnica mas também experiencial e ética. A científico, utilizando os instrumentos e os co-
hermenêutica abre novos caminhos na forma- nhecimentos da literatura de maneira que ele
ção e na prática médica, modificando seus ob- possa tomar as melhores decisões no processo
jetivos e suas finalidades, colocando a necessi- diagnóstico e terapêutico. Estas ações, toma-
dade de uma nova compreensão da dimensão das valendo-se da medicina baseada nas evi-
experiencial e do sofrimento do paciente. Este dências, são necessárias mas não suficientes. O
segundo caminho incorpora a dimensão sub- médico tem de adequar sua intervenção clíni-
jetiva do paciente, assim como a dimensão so- ca considerando o paciente enquanto sujeito,
cial, elementos importantes em diferentes as- tomando em conta a experiência da doença, as
pectos da prática clínica como no encontro mé- percepções do paciente, adquirindo uma sen-
dico-paciente (Skultans, 1998). Como apresen- sibilidade e uma capacidade de escuta que vão
tamos em um artigo publicado: “Gadamer con- além da dimensão biológica. Estes aspectos po-
duz a reflexão sobre a humanização da medici- dem ser desenvolvidos somente por intermé-
na, em particular da relação do médico com o dio de um processo de formação mais abran-
paciente, para o reconhecimento da necessidade gente, que incorpore elementos das ciências hu-
de uma maior sensibilidade diante do sofri- manas no desenvolvimento educacional (Simp-
mento do paciente. Esta proposta, em relação a son et al., 1991).
qual várias outras convergem, aspira pelo nas- Nas doenças crônicas (nas quais a biome-
cimento de uma nova imagem profissional, res- dicina oferece somente respostas parciais), a
ponsável pela efetiva promoção da saúde, ao medicina clínica pode responder melhor aos
considerar o paciente em sua integridade física, pacientes, incorporando no tratamento uma
psíquica e social, e não somente de um ponto de análise da experiência do sujeito. Isso poderia
vista biológico” (Caprara & Franco, 1999:648). ajudar a evitar prescrições inadequadas e ex-
Um primeiro aspecto se refere à ética da cessivas de medicamentos. Uma visão restrita
profissão, à atitude de respeito frente aos cole- dos fatores causais, focalizada exclusivamente
gas e aos pacientes, às qualidades morais que nos aspectos biológicos, é inadequada para
o médico precisa ter. Segundo Dawnie et al. compreender o papel dos fatores psicossociais
(2000), essas qualidades podem ser aprendidas na etiologia e como estes se integram às causas
em um processo de formação por meio de qua- físicas.
tro formas diferentes: (1) A leitura e discussão Uma compreensão mais integrada pode
de textos de filosofia moral; (2) A discussão de produzir benefícios na parte diagnóstica tam-
casos que introduzem na discussão aspectos bém. Mesmos se estes benefícios são plausíveis,
éticos; (3) A utilização de um diário de campo, têm de ser demostrados e neste campo ainda
por parte dos médicos, para registrar casos “par- muito tem de ser feito. As evidências também
ticulares” que enfrentam na atividade de con- têm de ser adequadas a uma nova e mais rica
sultório; (4) A utilização da arte, principalmen- concepção de que tipo de evidências são perti-
te da literatura e de peças teatrais. nentes na avaliação clínica. Trata-se de um cam-
As obras literárias permitem abordar as- po que precisa de investigações e elaborações
pectos da vida humana, como o fato de saber conceituais e empíricas. A medicina tem de sa-
lidar com as emoções, que são elementos cons- ber lidar com personalidades, com expectati-
titutivos importantes especialmente na relação vas, medos, ansiedades – além da dimensão bio-
médico-paciente. Como afirma Scliar (1996), a lógica do funcionamento do corpo humano.
relação médico-paciente é inevitavelmente co-
lorida pela emoção, pela angústia muitas ve-

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930 CAPRARA, A.

Agradecimentos

Gostaria de agradecer a Naomar de Almeida Filho pe-


la leitura atenta e crítica de uma primeira versão des-
te texto. Meu reconhecimento também a Ana Angela
Farias pela ajuda na edição deste artigo. Enfim, aos
alunos do curso de Antropologia da Saúde do Institu-
to de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Ba-
hia, do Mestrado em Saúde Comunitária da Universi-
dade Federal do Ceará e do Mestrado em Saúde Pú-
blica da Universidade Estadual do Ceará pela discus-
são aberta e construtiva de diferentes idéias expres-
sas neste texto, mesmo afirmando que as considera-
ções aqui apresentadas são de minha exclusiva res-
ponsabilidade.

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